Você está na página 1de 226

ASSOCIAÇÃO DE UNIVERSIDADES GRUPO MONTEVIDÉU

Núcleo Educação para Integração


Programa de Políticas Linguísticas

VI
ENCONTRO INTERNACIONAL
DE INVESTIGADORES DE POLÍTICAS
LINGUÍSTICAS

Nalú Farenzena
(Organizadora)

Porto Alegre, 23 a 25 de setembro de 2013


DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)

E56

Encontro Internacional de Investigadores de Políticas


Linguísticas (6. : 2013 nov. 23-25 : Porto Alegre,RS) / Nalú
Farenzena (organizadora) – Porto Alegre : UFRGS, 2013.

226 p.

ISBN: 978-85-66106-09-1

Bibliotecária: Ana Gabriela Clipes Ferreira CRB-10/1808

Editoração eletrônica: Aldo Jung

Capa: Kundry Lyra Klippel

Impressão financiada pelo Programa de Fomento à Pesquisa da Propesq/UFRGS


VI
ENCONTRO INTERNACIONAL
DE INVESTIGADORES DE POLÍTICAS LINGUÍSTICAS

Comitê Organizador Internacional

Luis E. Behares (UdelaR, Coordenador do NEPI/AUGM)


Nalú Farenzena (UFRGS, coordenadora do Programa de Políticas Educativas do NEPI/AUGM,
coordenadora geral do Encontro)
Alejandra Reguera (Representante da UNC no NEPI/AUGM)
Doris Pires Vargas Bolzan (Representante da UFSM no NEPI/AUGM)
Maria Cristina Rossi (Representante da UNER no NEPI/AUGM)

Comitê Acadêmico Local

Cléo Altenhoffen (Instituto de Letras, UFRGS)


Lodenir Karnopp (Faculdade de Educação, UFRGS)
Maria Aparecida Bergamaschi (Faculdade de Educação, UFRGS)
Maria Goreti Farias Machado (Faculdade de Educação, UFRGS)
Nalú Farenzena (Faculdade de Educação, UFRGS)

Comissão Científica
Alejandra Reguera (UNC)
Alicia W. de Camilloni (UBA)
Doris Pires Vargas Bolzan (UFSM)
Gerardo Kahan (UNR)
Luis E. Behares (UdelaR)
Maria Cristina Rossi (UNER)
Maria Waldenez de Oliveira (UFSCar)
Nalú Farenzena (UFRGS)
Nélida Barbach (UNL)
Regina Maria de Souza (Unicamp)

Secretaria

Caroline Cristiano Cardoso (Faculdade de Educação, UFRGS).

3
AUGM
Associação de Universidades Grupo Montevidéu

Universidades Membros

ARGENTINA

Universidad de Buenos Aires (UBA), Universidad Nacional de Córdoba (UNC), Universidad Nacional
de Cuyo (UNCuyo), Universidad Nacional de Entre Ríos (UNER), Universidad Nacional del Litoral
(UNL), Universidad Nacional de La Plata (UNLP), Universidad Nacional de Mar del Plata (UNMdP),
Universidad Nacional del Nordeste (UNNE), Universidad Nacional de Rosario (UNR), Universidad
Nacional del Sur (UNS), Universidad Nacional de Tucumán (UNT).

BOLIVIA

Universidad Mayor de San Andrés (UMSA), Universidad Mayor, Real y Pontificia de San Francisco
Xavier de Chuquisaca (UMRPSFXCH).

BRASIL

Universidade Federal de Goiás (UFG), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade
Federal do Paraná (UFPR), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal
de Santa Catarina (UFSC), Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Universidade Federal de
Santa Maria (UFSM), Universidade Estadual Paulista (UNESP), Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP), Universidade de São Paulo (USP).

CHILE

Universidad de Playa Ancha (UPLA), Universidad de Santiago de Chile (USACH)

PARAGUAY

Universidad Nacional de Asunción (UNA), Universidad Nacional del Este (UNE), Universidad Nacional
de Itapúa (UNI).

URUGUAY

Universidad de la República (UdelaR).

5
APRESENTAÇÃO

O VI Encontro Internacional de Investigadores de Políticas Linguísticas (VI EIIPL),


realizado em Porto Alegre, é organizado pelo Programa de Políticas Linguísticas (PPL)
do Núcleo Educação para a Integração (NEPI) da Associação de Universidades Grupo
Montevidéu (AUGM). O evento reúne pesquisadores de temáticas de políticas
linguísticas de universidades membros da AUGM. Dá continuidade ao intercâmbio ci-
entífico promovido por encontros similares anteriores, realizados em Curitiba (1995),
Montevidéu (1997), Córdoba (2007), Santa Maria (2009) e Montevidéu (2011).
São objetivos do VI EIIPL: reunir pesquisadores de temáticas de Políticas
Linguísticas das universidades da AUGM; possibilitar a difusão coletiva dos diversos
programas, projetos ou linhas de investigação em temáticas de Políticas Linguísticas
implementados pelos pesquisadores, fomentando o intercâmbio; estabelecer ou conso-
lidar conexões e vínculos para empreendimentos conjuntos entre pesquisadores e uni-
versidades, sobre a base de um planejamento de programa consensuado entre os partici-
pantes.
Este livro reúne trinta e três trabalhos de pesquisadores vinculados a grupos ins-
critos no Programa de Políticas Linguísticas do NEPI/AUGM, trabalhos esses que fo-
ram selecionados pelas universidades participantes, de acordo com critérios e procedi-
mentos próprios, sob supervisão do representante universitário no NEPI/AUGM. En-
contramos textos de participantes de grupos inscritos nas seguintes universidades da
AUGM: do Uruguai, Universidad de la República; da Argentina, Universidad Nacional
de Córdoba e Universidad Nacional de Rosario; do Brasil, Universidade Federal de
Santa Maria e Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Os trabalhos apresentados abrangem parte dos eixos temáticos do Programa de
Políticas Linguísticas. Os eixos do Programa são os seguintes:
a) Aspectos teóricos da investigação em Políticas Linguísticas, em relação à
interdisciplinaridade do campo e das tradições teóricas próprias das disciplinas
que o compõem.
b) Políticas Linguísticas em relação às línguas e variedade linguísticas minoritárias
e de minorias na região: línguas indígenas, línguas de sinais, línguas de imigra-
ções, variedades vernáculas e variedades regionais.
c) Processos sociolinguísticos e político-linguísticos fronteiriços, de contato e con-
flito de línguas e de integração linguística regional.
d) Processos de estandartização linguística.
e) Legislação e perspectivas supraestatais, nacionais e regionais, em relação a seus
antecedentes e seus efeitos na sociedade.

7
f) As relações entre o impulso neocolonial, o mercado cultural e as políticas
linguísticas da região.
g) A dimensão ideológica, representacional e discursiva das políticas linguísticas.
h) Direitos linguísticos, prejuízos e discriminação.
i) Políticas referentes à linguagem e às línguas nos âmbitos educativos.
j) Políticas Linguísticas referentes à educação: oferta curricular de línguas, ques-
tões de normas linguísticas e registros de ensino, formação docente etc.
k) Educação Bilíngue em situações de bilinguismo societário e em contexto de
comunidades culturais minoritárias.
l) Políticas linguísticas na educação superior nos países da região.
A publicação dos anais do VI EIIPL insere-se no esforço de consolidação dos
laços interinstitucionais, levado adiante pelo Núcleo Educação para a Integração. Em
nome dos comitês acadêmicos internacional e local, agradeço a todos aqueles que cola-
boraram com o acontecer do evento e desta publicação.

Nalú Farenzena
Organizadora

8
SUMÁRIO

REPRESENTACIONES LINGÜÍSTICAS E IDENTIDAD EN ROCHA


Pablo Albertoni................................................................................................................................. 13

RUMOS E PERSPECTIVAS DAS POLÍTICAS LINGUÍSTICAS PARA LÍNGUAS


MINORITÁRIAS NO BRASIL: ENTRE A PERDA E O INVENTÁRIO DE LÍNGUAS
Cléo V. Altenhofen, Rosângela Morello ............................................................................................ 19

ACERCA DEL PORTUGUÉS BRASILEÑO Y LA FORMACIÓN


DOCENTE EN PORTUGUÉS EN ARGENTINA
Luis Alejandro Ballesteros ................................................................................................................ 27

HABLANTES Y COMUNIDADES: CRÍTICA DE LA NOCIÓN


ESTÁNDAR DE DERECHOS LINGÜÍSTICOS
Luis E. Behares ................................................................................................................................. 33

EL TEXTO ACADÉMICO COMO OBJETO DE ENSEÑANZA EN EL ÁREA


SOCIAL Y HUMANÍSTICA DE LA UDELAR. UNA INDAGACIÓN DOCUMENTAL
Cecilia Blezio Ducret ........................................................................................................................ 41

CULTURA ESCRITA E FORMAÇÃO DOCENTE: SABERES


E FAZERES NAS PRÁTICAS DE ALFABETIZAÇÃO
Doris Pires Vargas Bolzan, Giovana Fracari Hautrive, Adriana Claudia Martins Fighera ........... 49

ALFABETIZACIÓN SEMIÓTICA EN LAS FRONTERAS


Ana Camblong .................................................................................................................................. 55

EDUCAÇÃO LINGUÍSTICA PARA AS ESCOLAS DE FRONTEIRA:


DESAFIOS E POSSÍVEIS GANHOS À LUZ DE REPRESENTAÇÕES
Greici Lenir Reginatto Cañete.......................................................................................................... 61

PLE CON FINES ESPECIFICOS: LECTO-COMPRENSION, UNA EXPERIENCIA


Susana María del Carmen Caribaux ................................................................................................ 69

ENTRE LA NORMATIVA Y LA PRÁCTICA: LA PERSPECTIVA PLURILINGÜE


E INTERCULTURAL EN LA ESCUELA SECUNDARIA ARGENTINA
Ana María Carullo, Silvana Marchiaro ........................................................................................... 73

PROXIMIDAD DISCURSIVA SOBRE LA DESIGUALDAD DE GÉNERO


EN LA SOCIEDAD ARGENTINA Y BRASILEÑA DE COMIENZOS DEL
SIGLO XX HASTA LA ACTUALIDAD
María Marcela Echenique ................................................................................................................ 81

9
APRENDER A ENSINAR EM UM INSTITUTO CULTURAL BRASILEIRO
NO EXTERIOR: IMPLICAÇÕES PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES
Everton Vargas da Costa, Margarete Schlatter ................................................................................ 89

VARIACIÓN SINTÁCTICA DE LA LENGUA DE SEÑAS URUGUAYA Y


SU VINCULACIÓN CON LOS PROCESOS DE ESTANDARIZACIÓN
Alejandro Fojo .................................................................................................................................. 93

ARGUMENTACIONES EN TORNO A LA SUPRESIÓN DE LA ENSEÑANZA


DEL ITALIANO EN LA EDUCACIÓN SECUNDARIA SUPERIOR URUGUAYA
(2006-2007). UN PRIMER RELEVAMIENTO Y ANÁLISIS DE LAS REACCIONES
PUBLICADAS EN PRENSA
Juan Manuel Fustes .......................................................................................................................... 99

O CEPI COMO AÇÃO DE POLÍTICA LINGUÍSTICA PARA O


INTERCÂMBIO ACADÊMICO
Hebe Gargiulo, Gabriela da Silva Bulla, Margarete Schlatter ...................................................... 107

SOBRE O PROJETO “EDUCAÇÃO CONTINUADA DA CULTURA


VESTFALIANA PARA PROFESSORES DO MUNICÍPIO DE WESTFÁLIA”
Aline Horst ...................................................................................................................................... 113

PRODUÇÕES CULTURAIS EM COMUNIDADES SURDAS


Lodenir Becker Karnopp ................................................................................................................ 123

LA PLANIFICACIÓN LINGÜÍSTICO-GRAMATICAL EN EL PRIMER CICLO


DE LA ENSEÑANZA SECUNDARIA EN LA PROVINCIA DE CÓRDOBA
Martín Tapia Kwiecien ................................................................................................................... 127

PROCESSOS DE REGISTRO E POLÍTICAS DE PATRIMONIALIZAÇÃO


DE LÍNGUA DE SINAIS
Tatiana Bolivar Lebedeff, Fabiano Souto Rosa .............................................................................. 133

A ELABORAÇÃO DE UM MANUAL COMO SUBSÍDIO PARA A FORMAÇÃO


DO PROFESSOR DE LÍNGUAS ADICIONAIS A DISTÂNCIA
Fernanda Cardoso de Lemos, Margarete Schlatter ....................................................................... 139

ORGANIZAÇÕES DE FALA-EM-INTERAÇÃO SOCIAL ESCOLAR


E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES
Marcela de Freitas Ribeiro Lopes .................................................................................................. 147

A CONSTITUIÇÃO DE UMA AÇÃO DE POLÍTICA LINGUÍSTICA


PARA UNIVERSITÁRIOS INDÍGENAS DA UFRGS
Bruna Morelo, Camila Dilli ........................................................................................................... 153

10
PERSPECTIVAS ACERCA DE LA ENSEÑANZA DE LA LENGUA EXTRANJERA
EN EL NIVEL SECUNDARIO DE LA PROVINCIA DE CÓRDOBA
Fabrizio Martín Oddo, Giuliano Nicolás Scocozza, Edith Carolina Vega .................................... 161

REFLEXÕES SOBRE POLÍTICAS DE (NÃO) VALORIZAÇÃO E


(NÃO) PROMOÇÃO DA LÍNGUA ITALIANA DOS IMIGRANTES
Juciane Ferigolo Parcianello ......................................................................................................... 167

UNA POLÍTICA LINGÜÍSTICA PARA LA ESCRITURA


ACADÉMICA EN LA UNIVERSIDAD
Liliana I. Pérez, Patricia G. Rogieri ............................................................................................... 173

¿QUÉ PIENSAN SOBRE LO QUE ESCRIBEN ESTUDIANTES HISPANOHABLANTES


DE PORTUGUÉS EN LA UNC?
Alejandra Reguera, Susana Prolo, Andrea Gambini...................................................................... 177

YO ESCRIBO. POLÍTICAS Y PRÁCTICAS DE ESCRITURA EN LA UNIVERSIDAD


Alejandra Reguera .......................................................................................................................... 183

LÍNGUA(S), ESPAÇO(S) NA ESCOLA E PLURILINGUISMO:


UM DESAFIO PARA ESTE MILÊNIO
Hugo Jesús Correa Retamar .......................................................................................................... 189

O FUNCIONAMENTO POLÍTICO DAS LÍNGUAS:


O PORTUGUÊS E O ALEMÃO SOB DIFERENTES OLHARES
Luciana Vargas Ronsani, Eliana Rosa Sturza ................................................................................ 195

O MBYÁ COMO PRINCÍPIO: O QUE É POSSÍVEL QUANDO SE DESCONHECE?


Viviane Silveira, Jerônimo Vera Tupã Franco ................................................................................ 199

AS POLÍTICAS LINGUÍSTICAS E A LINGUA PORTUGUESA:


UM PANORAMA DA COLONIZAÇÃO AO CELPE-BRAS
Daiana Marques Sobrosa, Eliana Rosa Sturza .............................................................................. 207

FORMAÇÃO DOCENTE: ARTICULAÇÃO DOS CONHECIMENTOS


DA ÁREA ESPECÍFICA E CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
Luana Rosalie Stahl, Doris Pires Vargas Bolzan, Silvia Maria de Aguiar Isaia ........................... 213

HISTÓRIAS PARA POVOAR AS MATAS: OS MBYÁ-GUARANI ENTRE VOZ E LETRA


Ana Lúcia Liberato Tettamanzy, Luciene Rivoire ........................................................................... 219

11
REPRESENTACIONES LINGÜÍSTICAS E IDENTIDAD EN ROCHA

Pablo Albertoni*
Universidad de la República

INTRODUCCIÓN Las ideologías lingüísticas vinculan a las len-


guas con temas de identidad grupal o individual,
Las representaciones sociales designan una moralidad o estética (Woolard y Schieffelin 1994).
forma de pensamiento social práctico orientado Esto ocurre porque el lenguaje es uno de los
a la comunicación, comprensión y dominio del marcadores de identidad más visibles para los
entorno social, material e ideal (Jodelet 1993). grupos (Barrios 2008a), a la vez que puede ser
Toda representación implica una evaluación, esto empleado como objeto de manipulación simbó-
es, un contenido normativo que la orienta hacia lica (Bourdieu 1985).
la valoración o estigmatización de un individuo El purismo lingüístico es una ideología que
o un grupo (Boyer 2003). proporciona “estrategias de ajuste” (Jernudd
Bourdieu (1985) sostiene que dado el carácter 1989: 3) para evitar que en una lengua se incorpo-
performativo de la representación se debe incluir ren elementos de otra lengua, además de procu-
en lo real la representación de lo real: rar el mantenimiento de normas que puedan perci-
birse como amenazadas. El trasfondo ideológico
“Captar a la vez lo que está instituido sin del purismo puede ser de naturaleza económica,
olvidar que se trata solamente de la resul- política o cultural (Neustupny 1989), por lo que
tante, en un momento dado del tiempo, de la
lucha por hacer existir o «inexistir» lo que
puede funcionar como un criterio de identidad
existe y las representaciones, enunciados grupal y ser objeto de representaciones mentales
performativos que pretenden el acaecimiento objetables en forma de cosas o actos (Bourdieu
de lo que enuncian.” (p. 92) 1985).
En el caso del departamento de Rocha (ubicado
Las representaciones lingüísticas son un tipo en el extremo sureste de Uruguay), su emplaza-
de representación social específica, cuyo objeto miento geográfico y sus características sociohistó-
son lenguas, dialectos o acentos, y son comparti- ricas lo convierten en un lugar de interés para
das por los miembros de una comunidad lingüís- estudiar cuestiones de purismo idiomático.
tica. Las representaciones lingüísticas son así una Rocha posee un tramo de frontera seca con
fuente importante para analizar las ideologías pre- Brasil, interrumpido por la Laguna Merín, mien-
sentes en determinada comunidad (Boyer 2003). tras que al sur tiene una extensa faja oceánica
Del Valle (2007) define las ideologías lingüís- que lo hace una importante atracción turística du-
ticas como: rante los meses de verano. Por su ubicación den-
tro del territorio uruguayo, se lo designa tradici-
“…sistemas de ideas que articulan nociones
del lenguaje, las lenguas, el habla y/o la
onalmente como el lugar “donde nace el sol de la
comunicación con formaciones culturales, patria”, frase que además está presente en el es-
políticas y/o sociales específicas. Aunque cudo departamental.
pertenecen al ámbito de las ideas y se pueden La zona sureste del Uruguay fue durante la
concebir como marcos cognitivos que ligan época colonial la “vaquería del mar”, una región
coherentemente el lenguaje con un orden
extralingüístico, naturalizándolo y normali-
casi despoblada pero donde abundaba el ganado
zándolo, también hay que señalar que se cimarrón. Los primeros asentamientos correspon-
producen y reproducen en el ámbito materi- dieron a construcciones fortificadas (Fuerte San
al de las prácticas lingüísticas y metalin- Miguel 1737 y Fortaleza Santa Teresa 1762)
güísticas, de entre las cuales presentan para erigidas por portugueses para marcar presencia
nosotros interés especial las que exhiben un
alto grado de institucionalización.” (p. 20)
en la zona ante España. La ciudad de Rocha fue

* Departamento de Psico- y Socio Lingüística, Instituto de Lingüística, Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educación

13
fundada por españoles luego de un proceso de de lo que denomina “defectos” en el uso del es-
planificación que transcurrió desde los primeros pañol en ámbitos donde esto no debería ocurrir.
informes de 1791 que recomendaban construir Sobre el final de la primera intervención Kor-
una población entre la Fortaleza de Santa Teresa zeniak sostiene:
(entonces en posesión de españoles) y Maldona-
do, hasta la finalización de las primeras casas y “En definitiva, la idea de hacer esta quijo-
llegada de los colonos en 1801 (Fajardo Terán tesca defensa del idioma español dentro de
las modalidades rioplatenses — y en nuestro
1955, Reyes Abadie y Vázquez Romero 1980). caso, rochense — se debe a que intento en-
La zona de Rocha fue escasamente poblada a tender que es deseable llevarla adelante.
ambos lados de la frontera a la vez que sufrió un Cuando niño, existía disposición, por parte
importante aislamiento. De acuerdo a Varese de las maestras de la escuela primaria, a evi-
(2001), las rutas de acceso (tanto desde Santa Vi- tar que se penetrara el idioma español por el
portugués en esa zona fronteriza y surgiera,
toria do Palmar hacia Chui como desde Rocha como una síntesis armónica, el “portuñol”.
hacia Chuy) fueron construidas ya entrado el siglo Se habrá notado que la gente de Rocha —
XX. Por su aislamiento y condición de zona pe- incluso los que viven en el Chuy del lado
riférica dentro del Uruguay, Rocha posee algunas uruguayo —, no habla “portuñol”. Creo que
características conservadoras en el habla. Un es la única zona fronteriza donde ello no exis-
te. Siento que podría retomarse ese camino.”
ejemplo en este sentido es el uso del tuteo verbal (8/11/2006)
y pronominal con el que se vinculan una serie de
representaciones puristas que analizaré a continu- Korzeniak construye la identidad lingüística
ación. de Rocha en oposición al portugués en general
(“evitar que se penetrara el idioma español por el
portugués”) y a la variedad de frontera en parti-
REPRESENTACIONES SOBRE EL cular (“la gente de Rocha […] no habla ‘portuñol’
HABLA DE ROCHA ”). El legislador atribuye a Rocha (especialmen-
te a la ciudad fronteriza de Chuy) una situación
En este trabajo propongo analizar las represen- sociolingüística particular al resto de la frontera,
taciones sobre el habla de rocha en cinco docu- en el sentido de que los rochenses lograron “evi-
mentos, tres de ellos corresponden a intervencio- tar” el contacto entre lenguas gracias a la interven-
nes de legisladores durante la hora previa al ini- ción del sistema educativo.
cio de las sesiones del parlamento, un espacio que La contundencia inicial del discurso purista
permite referirse a algún tema que no se encuentre del legislador (su “quijotesca defensa del idioma
en el orden del día. De éstos, dos pertenecen al español”) coexiste con cierta inseguridad a la hora
ex senador José Korzeniak (noviembre de 2006 de fundamentar los motivos de su exposición (“in-
y mayo de 2007) y el tercero a la ex diputada por tento entender que es deseable llevarla adelante”).
Rocha Mary Pacheco (julio de 2007), ambos El discurso purista de Korzeniak contrario a la
nacidos en Rocha. existencia de portuñol convive con un discurso
Los otros dos documentos son publicaciones más contemporáneo sobre la diversidad (el
del diario El Este, editado en Rocha: uno es un portuñol como “síntesis armónica” en lugar de
artículo periodístico de abril de 2011 (El Chuy- “mezcla”, habla “entreverada” o “atravesada”,
Chui: una frontera sin portuñol) y el otro una Barrios 2009a).
carta de un lector de setiembre de 2009 (Comen- Las palabras del legislador muestran cierta
tando un comentario) que hace referencia un ar- tensión entre un discurso purista de corte más tra-
tículo publicado en el periódico con anterioridad. dicional y otro más actual (Barrios 2008b) que
Las intervenciones de Korzeniak plantean una incorpora el tópico de lo políticamente correcto.
reflexión sobre el uso del español en los medios La importancia del sistema educativo en la
de comunicación, en estudiantes, profesionales conservación de ciertos rasgos de la variedad
universitarios y en los propios políticos. El legis- rochense que señala Korzeniak en la cita anteri-
lador llama la atención sobre la generalización or, es reforzada en la segunda intervención del
legislador, cinco meses después:

14
“Señor Presidente, voy a insistir en un tema Montevideo por motivos de estudio, esta-
probablemente porque tengo un recuerdo bleció un escenario a todas luces distinto,
casi obsesivo de la manera cómo, en Prima- poniendo a prueba el lenguaje cultivado des-
ria, las maestras que tuve en la escuela del de el siglo XIX hasta nuestros días. En los
Barrio Lavalleja en el departamento de Ro- últimos años se agregó un nuevo elemento:
cha se esforzaban — y creo que así ocurría la irrupción de los canales de televisión ar-
en todo el departamento — por defender el gentina a través del cable y su porteñismo.
uso del idioma español de la mejor manera La porteñería, en donde se aprecia una espe-
posible. Inclusive, ponían penitencias a quien cie de deliberada agresividad, una expresión
cedía a algunas tentaciones, como las de procaz, una forma de boca sucia gratuita. Esta
acentuar palabras y decir “sabés” en lugar influencia día a día en los hogares no resulta
de “sabes” o “vos” en lugar de “tú”. fácil de contrarrestar, incluso como una
Recuerdo todas mis maestras, desde Maruja dificultad superior al portuñol, producto del
Caballero en primer año, Sara Orrego en choque de los idiomas español y portugués
tercer año, Herminia Pereira en cuarto año, en la frontera con Brasil.” (El Este, 12/4/
Lita Croce después, Leda de Castro y María 2011)
Isabel Teibo. Todas ellas tenían un especial
cuidado, al punto tal que creo que habría En este fragmento se presenta con claridad la
alguna recomendación de lo que entonces era
el Ente Autónomo Consejo Nacional de
propiedad de arraigo de la lengua estándar
Enseñanza Primaria.” (2/5/2007) (Gallardo 1978), en la que se incorpora la
dimensión histórica donde afincar la variedad
En este fragmento se observa el lugar protagó- rochense (“un lenguaje cultivado desde el siglo
nico que le reconoce Korzeniak al sistema educa- XIX”) por oposición a las variedades de la
tivo en los usos lingüísticos. El legislador intensi- población flotante durante los meses de verano y
fica los acontecimientos que reseña: “insiste” en en especial por la influencia de los medios de
el tema, su recuerdo es “casi obsesivo”, las maes- comunicación. Este último aspecto, al difundirse
tras (además de nombrarlas una por una) “se en el ámbito privado de los hogares aparece como
esforzaban” y “defendían” el idioma “de la mejor una “dificultad superior al portuñol”.
manera posible” y con “especial cuidado”. El Resulta paradójica la presentación del español
empleo del voseo significaba una suerte de falta bonaerense como “una especie de deliberada
moral (“ceder a una tentación”) que merecía una agresividad” a la vez que se emplean términos
“penitencia”. En el discurso del legislador, la decididamente agresivos y despectivos para con
identidad lingüística rochense no solo se define ella: “la porteñería”, “una forma de boca sucia
en oposición al portugués, como vimos antes, sino gratuita”.
también en oposición a las variedades voseantes Finalmente interesa señalar la mención a los
de español, cuyo uso podría acarrear una sanción jóvenes rochenses (en particular los que estudian
social. Korzeniak se ubica así desde un marco en Montevideo) como uno de los grupos que
ideológico de la autenticidad, en el sentido de “pone a prueba” la variedad rochense. Los dis-
Woolard (2007), que reivindica el valor de la cursos puristas que tienen como objeto de crítica
variedad rochense como expresión del espíritu de el habla de los jóvenes han sido tratados en otros
la comunidad y en tanto vinculada a un territorio estudios y suelen no estar amparados en la “tute-
concreto. la de la diversidad” que se aplica a otras varieda-
La distancia que se marca entre el español des (Barrios 2009b).
rochense y otras variedades rioplatenses se men- El siguiente documento que presento es una
ciona en un artículo publicado en el diario El Este exposición escrita de la diputada por Rocha Mary
en abril del 20111 bajo el título El Chuy-Chui: Pacheco, en la sesión de la Cámara de Represen-
una frontera sin portuñol: tantes el 11 de julio de 2007. La exposición, que
trata “sobre la defensa de la identidad lingüísti-
“La corriente de visitantes durante el verano ca” del departamento de Rocha, incorpora más
e incluso el trasiego de jóvenes rochenses a claramente que las palabras de Korzeniak algunas

1
Buena parte de este artículo aparece textualmente en una nota publicada en el mismo diario en setiembre de 2009.

15
características de los discursos sobre el patrimo- producto natural de esas tierras, omitiendo la posi-
nio local en oposición a los procesos de globaliza- bilidad de que sea el resultado de una planifica-
ción. Luego de referirse a la enseñanza de portu- ción específica y priorizándolo frente a otras
gués e inglés en el sistema educativo, menciona posibles características de los rochenses como su
el “hablar de Rocha” como: amabilidad o solidaridad.
Los documentos analizados hasta ahora
“Ese rico patrimonio intangible, propio de incluyen cierta alarma frente a la pérdida de sus
la ‘república’ de Rocha sigue existiendo aún, rasgos característicos. Sus enunciadores actúan
aunque es cada vez más difícil mantener una
identidad pura ante los embates de la globali-
como “guardianes del lenguaje” que sustentan la
zación. […] Sin desmedro del dominio flui- “tradición de queja” en la que se asume la existen-
do de nuestra lengua, preservando los mejo- cia de formas correctas e incorrectas en el
res valores y la esencia de su pureza — so- lenguaje y la necesidad de promover las primeras
bre todo en los departamentos fronterizos — y reprimir las segundas (Milroy y Milroy 1985).
de los embates de los vecinos con modis-
mos propios de su cultura. En el caso del de-
Sin embargo, los discursos puristas pueden
partamento de Rocha, existe un valor agre- generar reacciones por parte de otros usuarios de
gado, — el bien hablar -, que debiera ser in- la lengua. Un ejemplo es la carta de un lector
corporado a todos los atractivos que tiene esa publicada en el diario El Este que hace referencia
tierra: sol, playa, sierras, humedales, palmera al artículo publicado el 9 de setiembre de 2009
butiá, reservas ecológicas, y demás. Aunque
los visitantes, no vendrán solamente por
que reproduce textualmente una parte del artícu-
nuestro bien hablar, posiblemente sea un lo El Chuy-Chui: una frontera sin portuñol co-
‘plus’, un sello de identidad solariega. De mentado más arriba:
ahí que para Rocha, la preservación del idi-
“Sin ánimo de polemizar, sino simplemente
oma — en tanto patrimonio intangible — sig-
emitir otra opinión, la nota del miércoles 9
nifica, sin dudas, añadir valor a la
pasado, en este diario, gira una vez más acer-
preservación de otros recursos.” (11/7/2007)
ca del famoso lenguaje oral de los habitan-
tes de esta ciudad.
Pacheco incorpora la cuestión de la globaliza- Como mérito fundamental se le asigna la
ción y plantea la preocupación por la pérdida de pureza e incontaminación con que se ha
la identidad lingüística rochense. Lo global se mantenido en el decurso del tiempo ajeno a
interpreta como amenaza a la identidad local, a nuevos modismos y palabras. Pero ¿es esto
realmente algo deseable? ¿No será un aspec-
la vez que se representa al habla rochense como
to más del hermetismo de esta sociedad
patrimonio intangible, como un “plus” para atraer monolítica de puertas cerradas que vive
visitantes. En este caso los visitantes no se ven (¿vive?) encadenada al pasado? Una socie-
como “amenaza”, a excepción de los “vecinos con dad que se opone a todo aquello que salga
modismos propios de su cultura”, en referencia a de su conservadorismo feroz escudándose en
la remanida expresión “eso no es para Rocha”
los brasileños (“sobre todo en los departamentos
[…] No tengamos miedo de lo nuevo, cele-
fronterizos“). brémoslo, no nos asustemos de los
La serie de atractivos turísticos locales que extranjerismos, ni de las malas palabras ya
menciona la diputada (“sol, playa, sierras, que todo el lenguaje vale porque lo enriquece.
humedales, palmera butiá, reservas ecológicas”) […] Tampoco nos asustemos del hablar de
los adolescentes, porque es un habla de ellos
a la que habría que agregar el “bien hablar”, no
que les da identidad y los contiene.” (Diario
solo ubica al habla junto a los paisajes que El Este, 22/9/2009)
describe, sino que incorpora la variedad rochense
como una cualidad de los hablantes que los iden- Quien escribe esta carta2 muestra un punto de
tifica con una conducta social admirable (el “bien vista radicalmente opuesto a los discursos analiza-
hablar”), vinculada a cuestiones morales (“pre- dos hasta ahora. El purismo lingüístico es cuestio-
servando los mejores valores”) y a un imaginario nado duramente y presentado aquí como “herme-
de nobleza (“sello de identidad solariega”). El tismo” de una sociedad “monolítica” y “de puertas
“bien hablar” rochense es presentado como un cerradas”, que se encuentra “anclada en el pasa-

2
La carta está firmada con la sigla V.B.S. y si bien no se puede deducir si es rochense, sí queda claro que vive en Rocha.

16
do” por su “conservadorismo feroz”. Esta idea es En este caso, la identidad lingüística local se
reforzada por la invitación a “no tener miedo de construye en oposición al resto de las variedades
lo nuevo” y a “no asustarse” por las consecuencias habladas en la región: el español voseante, el
del contacto. El vínculo que el autor de la carta portugués en general y los dialectos portugueses
establece entre la identidad lingüística y el com- presentes a lo largo de la frontera uruguayo-
portamiento de la comunidad frente a los cambios brasileña en particular.
evidencia la importancia que la lengua tiene en Las representaciones cumplen así el fin social
la definición de la identidad local y muestra has- práctico de resistir el contacto con el portugués,
ta qué punto los discursos sobre las lenguas refie- con los argentinos y con los uruguayos de otros
ren al contexto social en el que están inmersos. departamentos a los que están expuestos los ha-
blantes rochenses; también plantean un llamado
de atención ante el avance de la globalización que
CONSIDERACIONES FINALES propicia estos contactos.
Los discursos de mantenimiento de la variedad
Las representaciones lingüísticas sobre el es- local incorporan el tópico contemporáneo de la
pañol rochense se vinculan con un discurso que patrimonialización de lo local a la vez que mantie-
presenta a esta variedad como “pura”, asociada a nen el corte purista de los discursos tradicionales
cualidades morales y cierto carácter de nobleza. en torno al español rochense. Considerar al habla
El sistema educativo aparece como un fuerte pro- de Rocha como patrimonio muestra una
motor de este tipo de representaciones, al menos adaptación al contexto histórico para mantener
en el pasado, de acuerdo con las manifestaciones las características diferenciadoras de su habla.
de Korzeniak.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARRIOS, G. (2008a) Etnicidad y lenguaje. La ideologías del español. Madrid/Frankfurt: Iberoamericana/


aculturación sociolingüística de los inmigrantes italianos Vervuert. 31-56.
en Montevideo. Montevideo: CSIC/FHCE-UDELAR.
FAJARDO TERAN, F. (1955) Historia de la ciudad de
BARRIOS, G. (2008b) Discursos hegemónicos y Rocha. Montevideo, s/e.
representaciones lingüísticas sobre lenguas en contacto y
GALLARDO, A. (1978) Hacia una teoría del idioma
de contacto: español, portugués y portuñol fronterizos. En:
estándar. Revista de Lingüística Teórica y Aplicada: 16.
DA HORA, D. y R. Marques (comps.) Política lingüística
85-119.
na América Latina. Joao Pessoa: Idéia/ Editora
Universitaria. 79-103. JERNUDD, B. (1989) The texture of language purism: an
introduction. En: JERNUDD, B. y M. SHAPIRO (comp.)
BARRIOS, G. (2009a) Repertorios lingüísticos, estándares
The politics of language purism. Berlín/New York: Mouton
minoritarios y planificación: el purismo idiomático en
de Gruyter. 1-19.
situaciones de contacto lingüístico. En: Y.
HIPPERDINGER (comp.) Variedades y elecciones lingüís- JODELET, D. (1993) La representación social: fenómenos,
ticas. Bahía Blanca: Ediuns. 15-39. conceptos y teoría. En: S. MOSCOVICI (comp.) Psicología
social. Barcelona: Hurope. 469-494.
BARRIOS, G. (2009b) El tratamiento de la diversidad lin-
güística en el “Debate educativo”: paradigmas teóricos, MILROY, L. y J. MILROY (1985) Authority in language.
representaciones y políticas lingüísticas. En: Actas del IV Londres: Routledge.
Encontro Internacional de Pesquisadores de Políticas Lin- NEUSTUPNY, J.V. (1989) Language purism as a type of
güísticas. Santa María: Universidade Federal de Santa language correction. En: B.H. JERNUDD y M. J.
María / AUGM. 23-31. SHAPIRO (comps.) The politics of language purism.
BOURDIEU, P. (1985) ¿Qué significa hablar? Madrid: Berlín/ Nueva York: Mouton de Grutyer. 221-223.
Akal. REYES ABADIE, W. y A. VÁZQUEZ ROMERO (1980)
BOYER, H. (2003) L’autre côté du discours. Paris: Crónica general del Uruguay. Montevideo: Ediciones de
L’Harmattan. la Banda Oriental.
DEL VALLE, J. (2007) La lengua, patria común: la VARESE, J.A. (2001) Rocha, tierra de aventuras.
hispanofonía y el nacionalismo panhispánico. En: J. DEL Montevideo: Banda Oriental.
VALLE (comp.) La lengua, ¿patria común? Ideas e

17
WOOLARD, K. (2007) La autoridad lingüística del español Diario de Sesiones de la Cámara de Senadores. Legislatura
y las ideologías de la autenticidad y el anonimato. En: J. XLVI, Nº 149 Tomo 441. 2/5/2007. 425-426. Disponible en:
DEL VALLE (comp.) La lengua, ¿patria común? Ideas e http://www0.parlamento.gub.uy/htmlstat/sesiones/pdfs/se-
ideologías del español. Madrid/Frankfurt: Iberoamericana/ nado/20070502s0010.pdf
Vervuert. 129-142.
Diario de Sesiones de la Cámara de Representantes.
WOOLARD, K. y B. SCHIEFFELIN (1994) Language Legislatura XLVI, Nº 3432. 11/7/2007. 9-10. Disponible en:
Ideology, Annual Review of Anthropology, Vol. 23. 55-82. http://www0.parlamento.gub.uy/htmlstat/sesiones/pdfs/
camara/20070711d0033.pdf
Comentando un comentario. Diario El Este. 22/9/2009.
CORPUS Disponible en: http://www.diarioeleste.com/archivo/22-09-
Diario de Sesiones de la Cámara de Senadores. Legislatura 09/opinion.shtml
XLVI, Nº 126 Tomo 437. 8/11/2006. 236-237. Disponible en: El Chuy-Chui: una frontera sin portuñol. Diario El Este.
http://www0.parlamento.gub.uy/htmlstat/sesiones/pdfs/se- 12/4/2011. Disponible en: http://www.diarioeleste.com/
nado/20061108s0051.pdf archivo/12-04-11/noticias.shtml

18
RUMOS E PERSPECTIVAS DAS POLÍTICAS LINGUÍSTICAS
PARA LÍNGUAS MINORITÁRIAS NO BRASIL:
ENTRE A PERDA E O INVENTÁRIO DE LÍNGUAS

Cléo V. Altenhofen
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Rosângela Morello
Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Política Lingüística

PONTO DE PARTIDA gunta sobre as línguas indígenas. As demais


línguas dependem, hoje, de dados de pro-
Como ponto de partida para comprender as jetos de pesquisa em áreas e objetivos es-
políticas linguísticas para línguas minoritárias pecíficos. Altenhofen (2013 [no prelo]),
empreendidas nos últimos anos no Brasil (cf. p.ex., identifica, em seus levantamentos, 56
OLIVEIRA & ALTENHOFEN, 2011; ALTEN- línguas de imigração.
HOFEN, 2013 [no prelo]; Relatório do GTDL1 / c) Apesar do número elevado de línguas que
IPHAN 2010), vale destacar resumidamente os coloca o Brasil entre os “países mais multi-
seguintes aspectos centrais: língues do mundo”, a grande maioria das
1º) Apesar das perdas linguísticas irreparáveis, 275 línguas, ou seja 190 línguas (equiva-
registradas ou não ao longo da história do Brasil, lente a 69% do total) são línguas ameaçadas
persiste uma situação de multilinguismo sobre a de extinção, segundo a Unesco (Atlas of the
qual é preciso agir. De uma lista de cerca de 1.078 World’s Languages in Danger, cf. MOSE-
línguas indígenas estimada por Rodrigues (1993, LEY, 2010; v. também MOORE, 2007).
p. 23) para a época do “descobrimento do Bra-
sil“, restam hoje, segundo um levantamento do 2º) A política linguística para essas línguas mi-
IPOL2 realizado em 2008, 219 línguas indígenas, noritárias recebeu atenção, nos últimos anos, co-
às quais se somam mais de 51 línguas de imigra- mo pauta da pasta de Cultura, pela ótica do “pa-
ção (cf. SEIFFERT, 2009). Essa situação, no en- trimônio cultural imaterial“ adotada pelo IPHAN
tanto, sofre com os seguintes problemas: (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional). Três momentos marcantes inaugura-
a) Trata-se de uma diversidade linguística ram esse novo espaço de representação:
mantida por menos de 1% do total da po-
pulação brasileira. Sua visibilidade, voz e 1) Seminário de Criação do Livro de Regis-
espaços de representação junto à maioria tro das Línguas, promovido pelo IPHAN e
dominante ficam deste modo limitados. No IPOL em março de 2006, na Câmara dos
entanto, a singularidade de sua história, seu Deputados, em Brasília;
papel na formação da sociedade e a essên- 2) Audiência Pública da Diversidade Linguís-
cia do conhecimento que veicula lhe con- tica do Brasil, realizada em Brasília, em 13
ferem um significado especial na educação. de dezembro de 2009, em que o Grupo de
b) Carecemos de dados mais precisos sobre a Trabalho da Diversidade Linguística (GTDL)
territorialidade e o número de falantes de encaminhou propostas, entre as quais
cada uma dessas línguas. O censo do IBGE 3) Inventário Nacional da Diversidade Lin-
de 2010, contrariamente à expectativa de guística, que veio a ser instituído pelo De-
muitas comunidades, incluiu apenas a per- creto nº 7.387, de 9 de dezembro de 2010.

1
Cf. Relatório de Atividades (2006-2007) do Grupo de Trabalho da Diversidade Linguística do Brasil, do IPHAN. Dispo-
nível em: http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2007/12/grupo-de-trabalho-da-diversidade-linguistica-do-
brasil-relatorio.pdf. Acesso em: 28/02/2013.
2
Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Política Linguística.

19
Sucederam-se os primeiros projetos-piloto com desdobramentoes importantes, sobretudo em
para o Inventário (v. p.ex. MORELLO & programas de educação bi- ou plurilíngue
SEIFFERT, 2011). (MORELLO, 2012b)3.
3º) Buscando equacionar as diferenças e pon- Diante desse quadro, coloca-se a pergunta so-
tos em comum entre as diferentes comunidades bre os novos rumos e perspectivas para essas lín-
de fala minoritária, adotou-se uma categorização guas faladas por minorias e as decisões sobre seu
das línguas minoritárias no Brasil que inclui os lugar e papel na educação e na sociedade. O que
seguintes grupos de línguas: se tem cada vez mais evidente é que, uma vez
1) línguas indígenas; definido o “arcabouço técnico que orienta a polí-
2) variedades regionais da língua portuguesa; tica linguística para essas línguas minoritárias“,
3) línguas de imigração; tanto mais aumenta o papel das comunidades de
4) línguas de comunidades afro-brasileiras; fala e da educação no sentido de uma “pedagogia
5) línguas brasileiras de sinais; para o plurilinguismo“ que não apenas proteja o
6) línguas crioulas. multilinguismo (ou diversidade linguística) como
“coexistência de línguas e variedades na socie-
Esta categorização tem sido muito útil para dade”, mas também desenvolva o plurilinguismo
adequar as políticas linguísticas às especificidades (ou pluralidade linguística), como “postura [ou
de cada tipo de língua, além de dividir tarefas e habilidade do indivíduo] de se constituir plural
fomentar ações e trocas conjuntas. No fluxo des- [linguística e culturalmente]” – cf. Altenhofen &
sa visibilização, registraram-se alguns avanços, Broch (2011, p. 17). Nosso pressuposto para uma
sobretudo no âmbito das municipalidades e de pedagogia do plurilinguismo e para uma política
algumas comunidades de fala, em particular. de salvaguarda e promoção das línguas
4º) No fluxo dessas mudanças, ganha reper- minoritárias é de que é preciso avançar para além
cussão a política de cooficialização de línguas no das ações de manutenção e salvaguarda da diver-
âmbito de municipalidades, no Brasil. Temos hoje sidade linguística e incluir ações educativas que
nove línguas cooficiais distribuídas por doze fomentem a pluralidade linguística e a consciên-
municípios brasileiros, a saber: 1) Nheengatu, cia plural, tanto entre minorias quanto entre a
Baniwa e Tukano, em São Gabriel da Cachoeira, maioria.
no Amazonas; 2) Guarani, em Tacuru, no Mato
Grosso do Sul; 3) Akwê Xerente, em Tocantínia,
em Tocantins; 4) Pomerano, em Santa Maria de NOVOS RUMOS E PERSPECTIVAS:
Jetibá, Domingos Martins, Pancas, Laranja da ENTRE A PERDA E O INVENTÁRIO DE
Terra e Vila Pavão, no Espírito Santo, e em LÍNGUAS
Canguçu, no Rio Grande do Sul; 5) Talian, em
Serafina Corrêa, no Rio Grande do Sul; 6) Um tema recorrente com o qual se costuma
Hunsrückisch, em Antônio Carlos, Santa associar as línguas minoritárias é o que diz res-
Catarina; e 7) Alemão, em Pomerode, Santa peito à sua perda, mortandade ou morte, substi-
Catarina. Nove diferentes línguas em onze muni- tuição (language shift), extinção, linguicídio,
cípios compõem, em suma, o atual quadro das glotocídio, entre tantos qualificativos usados para
línguas cooficializadas por municípios brasilei- evocar a agonia de línguas menores perante um
ros. Há ainda tramitando processos para “mundo globalizado visto como impiedosamente
cooficialização do Guarani em Paranhos, Mato homogeneizador”. Esta preocupação muitas ve-
Grosso do Sul, e do Hunsrückisch em Santa Ma- zes fatalista (“ninguém mais fala”), ou ativista
ria do Herval, Rio Grande do Sul. A essa política (“é uma pena, tinha que ser feito algo”), por ve-
se vincula uma nova jurisprudência para o reco- zes conformista (“é difícil, com quem tu vai fa-
nhecimento dos direitos linguísticos no Brasil,

3
Ressaltemos,entre outros, o Programa de Educação Escolar Pomerana (PROEPO), no Espírito Santo (cf. http://
www.scp.rs.gov.br/upload/Painel_54_Sintia_Bausen_formatado.pdf) e a Licenciatura Intercultural Indígena: Políticas
Educacionais e Desenvolvimento Sustentável, que acontece nas línguas Tukano, Baniwa e Nheengatu, cooficiais do mu-
nicípio de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas (OLIVEIRA & FARIA, 2012).

20
lar?”), tem seu contraponto representado, na po- rentes realidades linguísticas dos municípios, e
lítica linguística, pela tarefa central de garantir ao mesmo tempo em que potencializa as iniciati-
ações de manutenção, ou preservação, resgate, vas locais, enfrenta desafios ligados à gestão das
salvaguarda e promoção, ou ainda de revita- línguas dentro de um quadro bi- ou plurilíngue.
lização de línguas ameaçadas de extinção. O ponto que aqui nos interessa destacar é que,
Sem dúvida, a perda de uma língua, como de ao se configurarem como importantes instrumen-
qualquer outro patrimônio cultural imaterial, re- tos jurídicos para a salvaguarda, promoção e va-
presenta um problema que diz respeito não ape- lorização das línguas minoritárias, estas duas po-
nas aos cidadãos que detêm ou que estão respon- líticas remexem no quadro de representações das
sáveis pela salvaguarda desse patrimônio, mas línguas brasileiras, exigindo iniciativas que se
também da sociedade majoritária, que perde contraponham ao pensamento e mecanismos de
nuances significativas da sua constituição, e do gestão de línguas gestados pela ideologia do
Estado democrático que se configura como “um monolinguismo. Na base desta mudança, está uma
Estado de todos”. Por se tratar de patrimônios transformação no papel do Estado e das comuni-
criados pela “engenhosidade humana” (DE dades: ao Estado cabe, primordialmente, flexi-
SWAAN, 2001, p. 2),4 sua perda estende-se para bilizar sua aparelhagem de modo a acolher os
além das fronteiras dos estados nacionais. Ela se novos agentes; às comunidades cabe atuar na
torna uma perda global, do conjunto das socieda- construção de instâncias de representação junto
des humanas, similar à perda da biodiversidade ao Estado para fazer valer a sua voz. Nesta mu-
(SKUTNABB-KANGAS & PHILLIPSON, dança de perspectiva se coloca, em nosso ponto
1996, p. 668).5 Daí, esta questão receber a aten- de vista, o maior desafio para que se forje, na
ção crescente de movimentos sociais e organiza- história do país, novos papeis para as línguas e
ções internacionais, tais como a UNESCO6, além seus falantes.
de instigar iniciativas de documentação linguís- Além dessa mudança, é preciso igualmente
tica, tais como as da Fundação Volkswagen7. passar do pensamento monolíngue homogêneo
Neste contexto é que surgem no Brasil políticas que historicamente deu o tom às políticas
de reconhecimento e promoção das línguas bra- linguísticas no Brasil para o pensamento pluri-
sileiras tais como o Inventário Nacional da Di- língue pressuposto por essas novas políticas. En-
versidade Linguística e a cooficialização de lín- tramos assim no campo de ações de promoção
guas por municípios. contínua e consistente de práticas e pedagogias,
O Decreto 7.387, de 09 de dezembro de 2010, voltadas para as línguas minoritárias, que condu-
que criou o INDL encontra-se em fase de regula- zam a novas formas de relações entre as línguas
mentação e implementação. Ao ser concebida e dos falantes com seus saberes. Nesta direção, a
como uma política pública nacional de conheci- medida de documentar línguas e manifestações
mento e reconhecimento das línguas brasileiras linguísticas (“antes que desapareçam”) não pode
como patrimônio cultural e imaterial do Estado, se limitar a um fim em si.8 Iniciativas como o
o INDL traz a novidade de abrir-se como espaço Inventário Nacional da Diversidade Linguística
de diálogo entre o Estado e as comunidades (INDL), conforme já se mencionou, constituem
linguísticas para que juntos definam ações que apenas o primeiro passo, a partir do qual se deve
melhor atendam as demandas dos falantes. A subsidiar ações de facto de salvaguarda e promo-
cooficialização, por seu turno, responde às dife- ção da diversidade linguística.9 Se for entendido
4
“[...] an equally amazing testimony to human ingenuity.“
5
“The perpetuation of linguistic diversity can, however, be seen as a recognition that all individuals and groups have basic
linguistic human rights, and as a necessity for the survival of the planet, in a similar way of biodiversity.”
6
Cf. Atlas of the World’s Languages in Danger (MOSELEY, 2010). Disponível em: http://www.unesco.org/ culture/
languages-atlas/index.php?hl=en&page=atlasmap. Acesso em: 19/05/2013.
7
Cf. o programa DOBES (Documentation of Endangered Languages - http://dobes.mpi.nl/). No Brasil, há projetos de
documentação em andamento das línguas indígenas Aikanã/Kwazá, em Rondônia (RO), e Kuikuro, Aweti e Trumai no
Mato Grosso, na área do Parque Indígena do Xingu.
8
Veja-se crítica do IPOL à documentação pela documentação, como argumento para a preservação. Disponível em http:/
/

21
apenas como documentação para reconhecimen- nome de Österreich (pronunciado como Eestreich
to, e visto da ótica dos membros de uma comuni- =Áustria). As inscrições nas sepulturas, contudo,
dade minoritária, estereotipadamente “escondi- apontam que devem ter sido imigrantes boêmios
da num fim de linha isolado”,10 o Inventário pode que colonizaram a localidade, quando a Boêmia
dar a impressão de um grande filtro, onde quem ainda fazia parte do Império Austro-Húngaro. Em
passa é contemplado com um ingresso no rol das português, a localidade chama-se hoje Linha Bra-
línguas que “têm direito“, isto é, farão “jus a ações sil. Alguns, segundo uma informante, também a
de valorização e promoção por parte do poder chamam de Linha Hungria. Passando por essa
público“ (art. 5º). Para tanto, segundo o art. 2º, linha, chega-se à localidade de Russland
“as línguas inventariadas deverão ter relevância (=Rússia, em português Santa Manoela). Apesar
para a memória, a história e a identidade dos gru- do topônimo, a comunidade não recebeu, tanto
pos que compõem a sociedade brasileira”. Esse quanto se sabe, imigrantes russos. O que mais
critério permite, de fato, organizar um recorte para chama a atenção, nessa localidade, é a presença
a gestão das línguas, garantindo, por exemplo, de uma pequena igreja com pinturas pouco co-
que se dê prioridade àquelas comunidades muns para um contexto rural. Fundada por jesuí-
linguísticas que foram politicamente silenciadas tas alemães, a igreja possui (ou possuía) inscri-
e com as quais o Estado brasileiro tem uma dívi- ções em alemão que, no entanto, foram encober-
da histórica e simbólica, e que diferem de grupos tas com tinta, provavelmente na época do Estado
recém instalados no país, os quais podem ter um Novo, em virtude da proibição do alemão. Aci-
caráter transitório. No entanto, quais critérios ma do altar, contudo, ainda se pode ler, semien-
devem orientar a seleção das línguas no Inventá- coberta por tinta branca, a palavra Jubiläumsjahr,
rio? Essa é uma questão central para a regula- ao lado da data 1925.
mentação e implementação dessa política. Do Exemplos de omissão da língua minoritária,
ponto de vista do linguista, pelo menos do neste caso de uma língua de imigração, registra-
“plurilinguista”, como chamamos aqui ao pesqui- mos também em outras comunidades, como no
sador do plurilinguismo, todas as línguas e mani- interior de Horizontina – RS, onde se cobriram
festações linguísticas de algum modo têm rele- com tinta inscrições em alemão em sepulturas de
vância, basta que haja usuários que as usem de livre um cemitério, sobrescrevendo à mão os nomes e
e espontânea vontade, para determinada função. expressões como Aqui jaz [em paz], em lugar da
Ao tocar nessas questões, a política do inven- forma original do alemão Hier ruht in Frieden.
tário torna-se complexa e exige que seja entendi- Como mostra esse tipo de omissão linguística, a
da para além do sentido comum de documenta- ação de inventariar não pode restringir-se ao es-
ção ou de patrimônio como congelamento ou fi- tado do que “ainda sobrevive“, mas deve adicio-
xação de um modelo de língua, dando lugar a uma nalmente reconstruir, resgatar, reavivar,
ressignificação da história e da memória das lín- revitalizar, “dar ouvidos“ – sem ressentiments –
guas, com toda a complexidade que marca essa ao que uma vez também esteve ali e que faz parte
sua dimensão. Essa complexidade se revela in- da história do país.
clusive na questão da nomeação, como mostram O desaparecimento de línguas, ou melhor di-
exemplos retirados das inúmeras saídas de cam- zendo, a redução do número de usuários de uma
po feitas pelo projeto ALMA (Atlas Linguístico- língua,11 até sua exclusão das práticas sociais, está
Contatual das Minorias Alemãs na Bacia do Pra- portanto longe de representar o único prejuízo e
ta). No interior de Paverama – RS, encontramos problema em jogo. A perda da língua pela língua
a comunidade conhecida em hunsriqueano pelo é apenas a ponta de um iceberg, sob o qual sub-

e-ipol.org/editoriais/da-documentacao-de-linguas-para-uma-politica-de-gestao-da-diversidade-linguistica/. Acesso em 31/


05/2013.
9
O mesmo vale para iniciativas de documentação linguística, tais como as da Fundação Volkswagen.
10
Fins de linha, onde a dialetologia tradicional garimpava vestígios de língua original. Hoje, contudo, se identificam
minorias urbanas, ou rurbanas, como p.ex. quilombolas (cf. Quilombo dos Alpes, em Porto Alegre), ou bairros imigrantes
(cf. CONSTANTINO [1991], o “italiano da esquina“, referindo-se aos calabreses em Porto Alegre).

22
merge uma série de outras perdas, igualmente sig- Esta afirmação nos leva a redefinir os objeti-
nificativas, que incluem, por exemplo, a perda vos e alcance das políticas linguísticas no que
de vantagens cognitivas do bilinguismo precoce concerne às decisões sobre os rumos e perspecti-
(BIALYSTOK, 2005), o subaproveitamento de vas das línguas minoritárias. A identificação de
potencialidades e facilidades de acesso à compe- um contínuo de modalidades de políticas linguís-
tência plurilíngue e à consciência metalinguística ticas para línguas minoritárias, proposto em mais
(GARCÍA, 2008; CENOZ, 2009, p. 168; HÉLOT, detalhes em artigo anterior12, serve para reforçar
2006). Registre-se, além disso, o conhecimento a dimensão política dos diferentes partícipes da
inerente à língua minoritária como capital sim- diversidade linguística, tanto de dentro da mino-
bólico que encerra em si uma cultura e uma his- ria, quanto de fora, pelo lado da maioria. Vale
tória particular e que é parte essencial da identi- destacar, nessa interface, o papel da conscientiza-
dade dos membros de um grupo social. ção linguística (language awareness) na gestão
Por esta razão, cabe também, como parte das da língua e, de outro lado, a contribuição do pro-
políticas linguísticas para as línguas minoritárias, fessor como gestor de primeira ordem no desen-
ou minorizadas, descrever a complexidade desse volvimento das competências plurilíngues e na
“iceberg”, incluindo aspectos que normalmente promoção de uma consciência plural.
permanecem submersos ou ocultos. Para tanto,
partimos do pressuposto de que as implicações
de uma política linguística das línguas minori- LÍNGUAS MINORITÁRIAS: DO
tárias se estendem necessariamente para os mem- SILENCIAMENTO À AFIRMAÇÃO POLÍ-
bros “de fora das minorias”, pertencentes à cultura TICA E SIMBÓLICA
e língua majoritárias (reiterando ALTENHOFEN,
2013 [no prelo]). Uma política linguística para Em Altenhofen (2013 [no prelo]), reconhecem-
as línguas minoritárias envolve necessariamente se dois eixos de “ação” pró e contra a diversida-
uma ação sobre a maioria, cujas “decisões e con- de e pluralidade linguísticas: 1) quanto à sua fi-
cepções sobre línguas ou assuntos de línguas” nalidade, favorecedora de [+monolinguismo] ou
afetam de diversos modos a situação (o “estado [+plurilinguismo], e 2) quanto ao modo de agir
de saúde”) e as iniciativas das minorias linguís- [+passivo] ou [+ativo] do Estado e da sociedade
ticas. Assim, p.ex., defender os direitos de quem em decisões sobre línguas. O quadro a seguir re-
é discriminado requer atenção igual aos deveres de produz as diferentes modalidades identificadas:
quem discrimina ou se mostra alheio à discriminação.

>PRQROJ@í + [plurilg]

[+ passivo] Silêncio Tolerância


(indiferença > omissão > antipatia) (simpatia > empatia)

assimilação pluralidade
discriminação > incriminação discurso retórico > participação

[+ativo] silenciamento Promoção


(opressão > proibição) (reconhecimento > ações)
Fig. 1 – Contínuo das modalidades de políticas linguísticas para línguas minoritárias

11
Porque línguas subsistem de algum modo na historicidade das sociedades, especialmente quando escritas. Veja-se o
caso do latim, tido como “língua morta“, porém com “sobrevida“ para se manter como documento histórico e elemento
constitutivo de eventos culturais específicos (p.ex. na música e na religião), além de permear as línguas, em diferentes
níveis, como o léxico-semântico. Outro exemplo são os “resquícios“ de línguas africanas, presentes no léxico do portugu-
ês e na música, mas sobretudo em ritos religiosos.
12
ALTENHOFEN, Cléo V. Bases para uma política linguística das línguas minoritárias no Brasil, encaminhado ao X
Congresso Brasileiro de Linguística Aplicada, promovido pela ALAB (Associação de Linguística Aplicada do Brasil), em
setembro de 2013.

23
Encontramos, no contexto brasileiro, exemplos mentos (OLIVEIRA, 2010), as línguas e os valo-
de cada modalidade de ação. De um passado em res a elas associados assumem novo papel. Do
que ainda era possível o silenciamento por meio lado do Estado, a necessidade de gestão mais de-
de leis proibitivas (política do Marquês de Pom- mocrática e respeitosa da diversidade e de uma
bal, no final do séc. XVIII, e política de naciona- atuação dinâmica na nova economia do conheci-
lização do ensino, durante o Estado Novo, dita- mento impele os governos a incluírem, em suas
dura de Getúlio Vargas [1937-1945]), evoluímos, agendas políticas e práticas jurídicas e adminis-
é bem verdade, para um estado de tolerância re- trativas, ações de proteção, promoção e difusão
lativa, com certa exaltação da diversidade, como das línguas, dando especial atenção às que se en-
reflexo dos discursos internacionais influencia- contram em perigo. Do lado das sociedades ci-
dos pela globalização, até medidas concretas de vis, as restrições sociais e punições jurídicas im-
reconhecimento de línguas. Mas, apesar dos avan- postas aos sujeitos individuais quando exercem
ços, ainda não superamos, pelo que apontam es- algum tipo de preconceito – étnico, geográfico,
tudos como os de Schneider (2007) e de Kersch econômico, cultural ou linguístico – abrem o de-
(2008), os estágios de indiferença, omissão, anti- bate sobre os processos de subjetivação (que são
patia, discriminação e, por vezes, até de incriminação. também ideológicos e políticos) que ancoram as
Diferentemente da língua oficial e majoritá- tradições e os vínculos sociais ou, como diz
ria, que tem a seu favor a gestão declarada do Michel de Certeau (1980), que estruturam as cren-
Estado, falta à língua minoritária via de regra o ças e adesões cotidianas. Faces de uma mesma
suporte institucional ou organizacional para sua moeda, as ações empunhadas numa ou noutra
promoção. Quem, afinal, fala em seu nome, se- destas frentes desenham mudanças sociais e po-
não o usuário em primeira instância? Esta per- líticas sem precedentes na história da humanida-
gunta justifica a relevância em estender o escopo de. No caso do Brasil, que aqui tomamos como
da política linguística para o âmbito tanto macro- foco, anunciam, igualmente, novos desafios para
quanto microssocial, incluindo aí as práticas so- as políticas linguisticas.
ciais e a conscientização linguística do papel das Entre esses desafios, destacamos aqueles li-
competências plurilíngues tanto por falantes gados à base monolinguista que estrutura o modo
quanto não-falantes da língua minoritária, indi- de funcionamento do Estado e instituições brasi-
víduos bilíngues quanto monolíngues, membros leiros e que determina fortemente os valores e
não apenas de comunidades minoritárias mas tam- estatutos que histórica e socialmente são atribuí-
bém da maioria linguística. dos às demais línguas. Vale lembrar que esses
valores e estatutos devem receber atenção em
políticas educacionais amplas, e que devemos
NOVOS LUGARES PARA AS LÍNGUAS, atentar para seus efeitos sobre o lugar e os papéis
NOVOS DESAFIOS das línguas nas atuais dinâmicas das redes de
conhecimentos.
Por pressão histórica de movimentos sociais e Apesar de constituir um dos oito países mais
instituições que os representam13 ou por deman- multilíngues do mundo, predomina no senso co-
da das atuais dinâmicas do mercado de conheci- mum dos brasileiros um “desconhecimento” em

13
Movimentos mundiais em defesa das minorias vicejaram a partir de finais de 1940, quando foi publicada a Declaração
Universal dos Direitos Humanos (1948), gerando importantes acordos e declarações para a garantia dos direitos culturais
e linguísticos. Citemos, além da referida a Declaração: o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto
Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966); a Declaração sobre os Direitos de pessoas pertencentes
a Minorias Nacionais ou Étnicas, Religiosas e Linguísticas (1992); a Carta Européia sobre as Línguas Regionais ou
Minoritárias (1992); a Declaração da Cúpula do Conselho da Europa sobre as Minorias Nacionais (1993); a Convenção-
Marco para a Proteção das Minorias Nacionais (1994); e a Declaração Universal para a Promoção da Diversidade Cultural
– Unesco (2005). Em 1996, em Barcelona, vem a público a Declaração Universal dos Direitos Linguísticos. No Brasil, a
luta pelos direitos linguísticos das minorias tem se dado nas bases dos municípios através do reconhecimento de linguas
em leis municipais de cooficalização e, no âmbito nacional, situa-se agora o já citado decreto 7.387, que criou o Inventário
Nacional da Diversidade Linguística.

24
relação a este fato e, pelo contrário, uma crença fator de ameaça ao estado nacional ou como
cega no monolinguismo como “estado normal e distúrbio ao pleno desenvolvimento social
dos grupos. Falar uma outra língua ou a lín-
único” da sociedade brasileira. Além disso, só gua de sua comunidade se revestiu de valo-
muito recentemente, a partir da Constituição de res negativos para os falantes. Fonte de mui-
1988, quando se reconheceu aos indígenas sua tos tipos de exclusão, essa carga simbólica
cidadania e o direito à educação e práticas cultu- se transvestiu historicamente em conceitos
rais diferenciadas, é que teremos a abertura para ou preconceitos sobre o desempenho
linguístico de cada um. E cada um passou a
políticas de valorização dessa diversidade. sentir-se responsável pela língua diferente
Desde o Diretório dos Índios, aplicado em que fala e pela decisão de transferi-la aos
1758, a língua portuguesa tornou-se a única lín- seus, juntamente com os sentidos de ser dela
gua permitida e obrigatória no Brasil. O artigo um falante, no Brasil” (MORELLO, 2012a).
13 da Constituição Federal de 1988 ratificou essa
dominância, designando a língua portuguesa, lín- Tendo em vista as considerações que fizemos,
gua oficial do Estado Brasileiro. De fato, a contí- e para concluir, ainda que provisoriamente, este
nua produção da unidade e unificação da identi- texto, limitados além disso pelo espaço reduzido
dade do povo e da nação por meio da língua por- do artigo, podemos afirmar que as políticas para
tuguesa deu lugar a uma também contínua e vo- as línguas minoritárias sobre as quais nos debru-
raz coibição das outras línguas por meio de leis e çamos nos falam principalmente da necessidade
programas que proibiram os seus usos, em espe- de reposicionamentos políticos e simbólicos de
cial por imigrantes europeus, no território nacio- todos, inclusive do Estado, diante de uma histó-
nal. Retomando o que escrevemos em outro tex- ria que, contrariamente à nossa expectativa, evi-
to, podemos dizer que a: denciou a diversidade e a diferença como defici-
ência. Além disso, essas políticas nos alertam para
“extraordinária reversibilidade entre identi- a necessidade de avançarmos em estratégias de
dade brasileira/língua portuguesa, corolário valorização dessas línguas pelos que não as fa-
do monolinguismo, desqualificou imagina- lam. E, por fim, nos convidam a prospectar para
riamente todas as demais possibilidades de
representação identitária ancorada em outras
essas comunidades um futuro nas redes de co-
línguas, no Brasil. Mais do que isso, qual- municações e informações que determinam as
quer indício de composição mais ou menos condições de vida no mundo global e nas rela-
organizada de agrupamentos linguistica- ções locais. Cabe a nós – diferentes vozes – defi-
mente coesos passou a ser interpretado como nir que futuro será esse.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALTENHOFEN, Cléo V. Bases para uma política CONSTANTINO, Núncia Santoro de. O italiano da es-
linguística das línguas minoritárias no Brasil. [Livro do X quina. Imigrantes na sociedade porto-alegrense. Porto Ale-
Congresso da ALAB], Rio de Janeiro, 2013. [no prelo] gre: EST, 1991.
ALTENHOFEN, Cléo V. & BROCH, Ingrid K. Funda- DE CERTEAU, Michel. L’invention du quotidien. Vol. 1,
mentos para uma “pedagogia do plurilinguismo” basea- Arts de faire, França. 1980.
da no modelo de conscientização linguística (language DE SWAAN, Abram. Words of the world. The global
awareness). In: BEHARES, Luis (org.). V Encuentro In- language system. Cambridge: Polity Press, 2001.
ternacional de Investigadores de Políticas Linguísticas.
Montevideo: Universidad de la República e Associación GARCÍA, Ofelia. Multilingual language awareness and
de Universidades Grupo Montevideo / Núcleo Educación teacher education. In: CENOZ, Jasone & HORNBERGER,
para la Integración, 2011. p. 15-22. Nancy H. (eds.). Encyclopedia of language and education.
2.ed. Volume 6: Knowledge about language. New York:
Bialystok, Ellen. Consequences of bilingualism for Springer Science, 2008. p. 385-400.
cognitive development. In: KROLL, Judith F. & GROOT,
Annette M. B. de. (eds.). Handbook of bilingualism. HÉLOT, Christine. Bridging the gap between prestigious
Oxford: Oxford University Press, 2005. p. 417-432. bilingualism and the bilingualism of minorities: Towards
an integrated perspective of multilingualism in the French
CENOZ, Jasone. Towards multilingual education: Basque education context. In: LAOIRE, Muiris Ó (Hrsg.).
educational research in international perspective. Bristol; Multilingualism in educational settings. Baltmannsweiler:
Buffalo; Toronto: Multilingual Matters, 2009. Schneider Verlag Hohengehren, 2006. p. 49-72.

25
KERSCH, Dorotea F. As atitudes dos falantes de línguas do Brasil: inserção e exclusão do plurilingüismo na edu-
de imigração moradores de áreas urbanas: o caso do cação e na sociedade. In: MELLO, Heliana;
Hunsrückisch. Anais do I Fórum Internacional da Diversi- ALTENHOFEN, Cléo V.; RASO, Tommaso (orgs.). Os
dade Lingüística: por uma política para a diversidade lin- contatos linguísticos no Brasil. Belo Horizonte: Editora
güística no ensino de línguas. Porto Alegre: Evangraf / Ins- UFMG, 2011. p. 187-216.
tituto de Letras (UFRGS), 2008. p. 389-395. OLIVEIRA, Gilvan Müller de & Faria, Ivani. Ensino Supe-
MOORE, Denny. Endangered languages of Lowland Tro- rior Indígena Bilingue: proncípios para autonomia e valo-
pical South America. In: BRENZINGER, Matthias (ed.). rização na região do Alto Rio Negro, Amazonas. RIILP
Language diversity endangered. Berlin: Mouton de Gruyter, Revista do Instituto Internacional da Língua Portuguesa,
2007. p. 29-58. v. 1. n. 1, p. 80-98, 2012.
MORELLO, Rosângela. Uma política pública e RODRIGUES, Aryon Dall’Igna. Línguas Indígenas. 500
participativa para as línguas brasileiras: sobre a regulamen- anos de descobertas e perdas. Ciência Hoje, v. 16, n. 95,
tação e a implementação do Inventário Nacional da Diver- novembro de 1993.
sidade Linguística (INDL), Gragoatá, n. 32, p. 31-42, Schneider, Maria Nilse. Atitudes e concepções lingüísticas
2012a. e sua relação com as práticas sociais de professores em
MORELLO, Rosângela. A Política de Cooficialização de comunidades bilíngües alemão-português do Rio Grande
Línguas no Brasil. RIILP Revista do Instituto Internacio- do Sul. Tese (Doutorado em Estudos da Linguagem) – Ins-
nal da Língua Portuguesa, v. 1. n. 1, p. 8-17, 2012b. tituto de Letras, Universidade Federal do Rio Grande do
MORELLO, Rosângela & SEIFFERT, Ana Paula (Orgs.). Sul, Porto Alegre, 2007.
Inventário da Língua Guarani Mbya. 1. ed. Florianópolis: SEIFFERT, Ana Paula. Línguas brasileiras de imigração
Garapuvu, 2011. v. 1. faladas em São Bento do Sul (SC): estratégias para
MOSELEY, Christopher (ed.). Atlas of the World’s revitalização e manutenção das línguas na localidade.
Languages in Danger. 3a. ed. Paris: UNESCO Publishing, Dissertação (Mestrado em Linguística). Centro de Comu-
2010. Versão online: http://www.unesco.org/culture/en/ nicação e Expressão, Universidade Federal de Santa
endangeredlanguages/atlas. Catarina, Florianópolis, 2009.

OLIVEIRA, Gilvan Müller de. O lugar das línguas: a Amé- SKUTNABB-KANGAS, Tove & PHILLIPSON, Robert.
rica do Sul e os mercados linguísticos na Nova Economia. Linguicide and linguicism. In: GOEBEL, Hans et al. (eds.).
Synergies, Brésil, n. esp. 1, p. 21-30, 2010. Contact linguistics: an international handbook of
contemporary research. Handbooks of linguistics and
OLIVEIRA, Gilvan Müller de & ALTENHOFEN, Cléo V. communication science. Berlin: Walter de Gruyter & Co.,
O in vitro e o in vivo na política da diversidade lingüística 1996. p. 667-675.

26
ACERCA DEL PORTUGUÉS BRASILEÑO Y LA FORMACIÓN
DOCENTE EN PORTUGUÉS EN ARGENTINA

Luis Alejandro Ballesteros


Universidad Nacional de Córdoba

Presentamos aquí algunas de las conclusiones je que cruzan la consolidación y la defensa de


que se derivan del proyecto de investigación una lengua nacional — en este caso, el portugués
Portugués brasileño: gramática y represen- brasileño — desde la construcción de un “ethos”
taciones sociales del lenguaje1 y de su antece- discursivo, ya sea el del gramático, el del lingüis-
dente, el proyecto Sociolingüística, ecolingüística ta, el del ciudadano, etc., y que se materializan
y gramática: para una descripción del portugués en el discurso social brasileño en lo que Bagno
brasileño2. Los ejes de nuestra pesquisa son 1) la (1999) denominó “comandos paragramaticales”3.
gramática descriptiva del portugués hablado y Interesa destacar en el marco teórico la relación
escrito en el Brasil y 2) las representaciones socia- ecolingüística-sociolingüística-gramática des-
les del lenguaje que es posible identificar en el criptiva. Couto (2009) destaca que la base teóri-
discurso social brasileño respecto de esa gramá- ca de la ecolinguística se constituye a partir de
tica descriptiva y su confrontación con la gramá- conceptos de la ecología biológica4, entre los
tica prescriptiva tradicional. Para el primero de cuales ocupa un lugar central el de “ecosistema”
los ejes, recuperamos y sistematizamos los integrado por una diversidad de organismos en
aportes de tres gramáticas descriptivas del constante proceso de interrelaciones, tanto entre
portugués brasileño actual: Gramática de usos do los propios organismos como entre éstos y el me-
português (1999) de Maria Helena de Moura Ne- dio ambiente. Couto destaca que el contacto de
ves, Gramática do português brasileiro (2010) lenguas es básicamente una relación entre pueblos
de Mário Alberto Perini, y Nova gramática do alóglotas y que el sistema de la lengua es siempre
português brasileiro (2010) de Ataliba Teixeira dinámico, en constante cambio. Define la
do Castilho. Para el segundo eje, profundizamos ecolingüística en estos términos:
la indagación bibliográfica sobre sociolingüística
y ecolingüística y la complementamos con aportes (…) Ecolinguística (…) é justamente o es-
de la política lingüística (Faraco 2007), de la lin- tudo das relações entre língua e meio ambi-
ente. Com isso, faz-se necessário definir o
güística crítica (Rajagopalan 2003 y 2004) y del que se entende por língua, meio ambiente da
análisis del discurso (Amossy 2008; Maingue- língua, bem como por interações entre lín-
neau 2008 a, b y c; Possenti 2008; Arnoux et al. gua e seu meio ambiente. O equivalente de
2003). El propósito que nos guía es interrelacionar ecossistema nos estudos linguísticos é o que
ambos ejes para destacar convergencias y passou a ser conhecido como Ecossistema
Fundamental da Língua (EFL), constituí-
divergencias entre la descripción científica de la do por um povo (população da ecologia),
lengua y las representaciones sociales del lengua-

1
Dirigido por el Dr. Luis Alejandro Ballesteros y subsidiado por Secretaría de Ciencia y Tecnología de la Universidad
Nacional de Córdoba, Argentina.
2
Con el mismo director y subsidiado por la misma institución que el mencionado previamente.
3
En la línea de las representaciones sociales del lenguaje y del “ethos” que opera como su garante nos encontramos
realizando actualmente el análisis de páginas de Facebook dedicadas a la lengua portuguesa en Brasil.
4
No es la primera vez, por cierto, que la lingüística se aproxima de la biología. Cabe citar como antecedente la propuesta
de August Schleicher, criticada fuertemente ya por Ferdinand de Saussure, y la formulación teórica de Noam Chomsky, de
aceptación puede decirse unánime en la lingüística actual, respecto de las bases biológicas del lenguaje y de la relación
lenguaje-cognición. En el caso de la ecolingüística, vale subrayar, la relación lengua-naturaleza no es de tipo determinista,
sino para destacar diversas relaciones de equilibrio y predación que se establecen entre las lenguas o en el interior de una
misma lengua, con preocupación especial –en lo que a nosotros nos interesa– por el ecosistema social de la lengua.

27
habitando determinado território (biótipo). nencia de usos más antiguos que se encuentran
Tudo o que acontece na língua se dá dentro ampliamente documentados en la literatura canó-
desse contexto. Em seu interior, o habitat
(nicho)/biótipo, juntamente com a popula-
nica portuguesa del siglo XVI.
ção, constitui o meio ambiente da língua, En términos ecolingüísticos, puede decirse que
no sentido mais amplo. Esse ecossistema el portugués europeo y el portugués brasileño se
maior se desdobra em três outros menores, inscriben en Ecosistemas Fundamentales de la
ou seja, o ecossistema social, o mental e o Lengua diferentes, con una lengua que en princi-
natural da língua, no interior de cada um
dos quais a língua tem o respectivo meio
pio era la misma, pero con un territorio, un pueblo
ambiente, ou seja, o meio ambiente social, y una comunidad hablante también diferentes.
o mental e o natural da língua (...) (Couto Divergen a su vez los otros ecosistemas –social,
2009: 11-12) mental y natural– de cada una de esas dos lenguas
(esto es, el portugués europeo y el portugués brasi-
Couto subraya que la ecología no se interesa leño, como no dudan en definirlas no pocos lin-
por los organismos en sí ni por el medio ambien- güistas brasileños.
te en sí, sino por las relaciones entre ellos. Extra- El ecosistema social de la lengua — el que
polando el paradigma ecológico al campo de la nos interesa específicamente — está constituido
lingüística, lo que interesa son las interrelaciones por la lengua en su relación con los hablantes or-
entre los organismos, esto es, entre las lenguas, ganizados socialmente, y en su interior la lengua
entre los dialectos, en el Ecosistema Fundamen- tiene un medio ambiente específico: el medio am-
tal de la Lengua. La ecolingüística estudia así biente social de la lengua, en relación con el cual
procesos tales como la formación de pidgins y se estudian asuntos tales como el bilingüismo y
criollos, la glototanasia, el bilingüismo y las el multilingüismo, en lo que respecta a contactos
situaciones fronterizas. Las lenguas entonces, co- entre lenguas, así como cuestiones relativas a la
mo los ecosistemas, se caracterizan por su diversi- lengua estándar, la lengua de estado, la lengua
dad y su porosidad, conceptos que adquieren par- nacional y los dialectos, el antropocentrismo, el
ticular relieve respecto del ecosistema social de etnocentrismo, el aulicismo, el clasicismo y el
la lengua y que poseen la potencialidad de resigni- androcentrismo, en lo que concierne a la diversi-
ficar axiomas tradicionales de la gramática. dad inherente a una lengua considerada en sí
En la tradición de descripción gramatical del misma.
portugués brasileño, la gramática tradicional tiene La diversidad y la especificidad del portugués
una gravitación enorme, a pesar de su carencia brasileño han sido destacadas por numerosos lin-
de una base teórica explícita y de tener su punto güistas en Brasil, incluidos aquellos centrados en
de partida en el estándar lingüístico definido en el campo de la gramática. Así, por ejemplo, en la
siglo XVIII como consecuencia de la reforma presentación de su Gramática de usos do portu-
pombalina y de su intención de unificar la lengua gués (1999), Neves escribe que su libro:
de la metrópolis y de la colonia. De aquella
estandarización derivan representaciones sociales (…) constitui uma obra de referência que
hasta hoy vigentes, como que “los brasileños mostra como está sendo usada a língua por-
hablan mal portugués”, o que “el portugués es tuguesa atualmente no Brasil. Para isso, ela
parte dos próprios itens lexicais e gramati-
muy difícil”. Sin embargo, como la investigación cais da língua e, explicitando seu uso em tex-
diacrónica (v. gr. Naro y Scherre 2007) ha tos reais, vai compondo a ‘gramática’ des-
demostrado, muchos de los trazos definidores del ses itens, isto é, vai mostrando as regras que
portugués brasileño hoy juzgados insistentemente regem seu funcionamento em todos os ní-
como “desvíos” son supervivencias de la lengua veis, desde o sintagma até o texto. A meta
final, no exame, é buscar os resultados de
que los colonizadores trajeron consigo en el siglo sentido, partindo do princípio de que é no
XVI, y lo que aconteció fue que entre los siglos uso que os diferentes itens assumem seu sig-
XVI y XVII el portugués europeo cambió mucho nificado e definem sua função, e de que as
más que el de la colonia, y al momento de fijar unidades da língua têm de ser avaliadas em
un estándar lingüístico se consideró como “cor- conformidade com o nível em que ocorrem,
definindo-se, afinal, na sua relação com o
rupción” de la lengua lo que no era sino perma- texto.

28
O que está abrigado nas lições é, portanto, a que não se eternize a anômala situação de
língua viva, funcionando e, assim, exibindo um povo que não estuda — na verdade, ás
todas as possibilidades de composição que vezes se recusa a estudar — a língua que fala.
estão sendo aproveitadas pelos usuários para Um povo, na verdade, que tende a negar a
obtenção do sentido desejado em cada ins- existência dessa língua (...). Já passou da hora
tância. (Neves 1999: 13) em que devíamos abrir os olhos para a nossa
realidade linguística (...) (Perini 2010: 19-20)
La autora explicita de este modo una perspec-
tiva claramente funcionalista, según la cual los El prejuicio de muchos hablantes de portugués
usos, y consecuentemente las formas gramaticales brasileño respecto de su propia lengua es una
elegidas por los hablantes, responden a determina- muestra de lo que la sociolingüística brasileña,
das intenciones de codificación de sentido. Des- muy próxima de la política lingüística, ha deno-
de esta perspectiva teórica, y con el corpus con minado “preconcepto lingüístico”. Scherre
el que trabaja, Neves se aparta de la perspectiva recuerda en relación con esta cuestión que:
normativista, aunque conserva el análisis por ni-
veles de unidades y buena parte de la terminología (...) qualquer ser humano que vive no seio
de uma comunidade adquire a(s) língua(s)
tradicional. particular(es) a que for exposto, sem qual-
Por su lado, Perini en la presentación de su quer ensino formal, (...) aos 3 anos de idade
Gramática do portugués brasileiro (2010) propo- uma criança já exibe um desempenho
ne el uso de una terminología gramatical nueva y linguístico notável, evidência de que domi-
explicita un cuadro teórico de base generativista, na uma gramática intuitiva complexa, que
estudioso algum, até hoje, conseguiu descre-
la Simpler syntax (2005) de Culicover y ver e explicar em sua plenitude (...)
Jackendoff. El objetivo de Perini es formular una Então, quando um falante nativo de uma lín-
gramática descriptiva que explicite la lengua re- gua explicita o sentimento de que não sabe
almente hablada por los hablantes nativos de falar a sua própria língua, ele está de fato
portugués brasileño — lo que equivale a decir, el confundindo a sua língua com a gramática
normativa de parte de sua língua (...) (Scherre
conocimiento gramatical implícito de esos 2005: 89-90)
hablantes —. Perini destaca la polaridad que exis-
te en Brasil entre el “português padrão” y el por- La gramática normativa y la “língua padrão”
tugués hablado, que es propiamente el portugués son apenas partes de una realidad lingüística mayor y
brasileño o PB: mucho más compleja y diversa. Y al decir “di-
versa” apuntamos a la noción de diversidad eco-
Tanto o PB quanto o português padrão têm lógica, entendida en este caso como componente
importância na nossa sociedade. Talvez seja
inconveniente essa dualidade de variedades
del ecosistema social de la lengua, que bien po-
usadas no mesmo país, mas é um fato de que demos vincular con el concepto de “heteroge-
não podemos escapar. Vamos continuar ten- neidad ordenada” formulado por Weinreich,
do que estudar o português padrão (...). Mas, Labov y Herzog (1968) para dar cuenta de la
no que pese relevância de cada uma, a vari- variedad inherente a toda lengua y pautada por
edade que chamamos de PB tem uma im-
portância que o padrão não tem: o PB é co-
reglas que corresponde a la descripción lingüís-
nhecido e usado constantemente pela totali- tica evidenciar.
dade dos brasileiros, ao passo que o padrão Si nos ocupamos brevísimamente de dos pro-
é privilégio de uma minoria de pessoas mais piedades del portugués brasileño actual que las
escolarizadas – e, além disso, só se usa em gramáticas normativas condenan con insistencia,
situações especiais, relativamente raras: es-
crevendo textos para publicação, fazendo
podemos enfocarlos desde un punto de vista eco-
discursos de formatura, coisas assim. O pa- lingüístico y tener de ellos una visión nueva. Nos
drão nunca é usado na fala cotidiana, e na estamos refiriendo a los cambios en la concor-
verdade é ignorado pela esmagadora maio- dancia y a la reorganización de los usos del siste-
ria da população. ma pronominal.
E as diferenças entre os dois são bem gran-
des, maiores do que às vezes se pensa, o que
El portugués brasileño ha modificado las reglas
justifica elaborar uma gramática do PB (...). tradicionales de la concordancia, tanto dentro del
É urgente elaborar gramáticas do PB, para sintagma nominal como entre sujeto y predicado.

29
Así, en el segundo caso, la tendencia es la de co- que otras personas alternan ese uso con otros so-
locar el verbo en la tercera persona singular cialmente prestigiados cuando factores tales como
siempre que el sujeto no sea la primera persona el género discursivo o la situación comunicativa
singular, lo que constituye un proceso solidario les demandan mayor monitoramiento. Scherre
de la tendencia a reducir las flexiones de persona (op. cit.) registra, sin embargo, numerosos casos
y número del verbo (cf. v. gr. Bagno 2012: 163), de uso de las formas lingüísticas más estigmati-
como así también de la presencia regularmente zadas en textos escritos de alto nivel de formali-
obligatoria del sintagma nominal sujeto antepues- dad, y de esa manera demuestra la extensión del
to al verbo. Scherre señala algunos fenómenos proceso de cambio en la concordancia.
que se observan en la concordancia del portugués La reorganización del sistema pronominal del
brasileño y observa que: portugués brasileño actual, a su vez, ha sido ob-
jeto de análisis minucioso de varios lingüistas.
(…) é usual na nossa tradição gramatical a En Bagno (2001) encontramos un resumen de la
afirmação de que a concordância de número problemática.
plural é de natureza obrigatória, ou seja, a
marca explícita de plural deve estar presente
Bagno examina los procedimientos de
em todos os elementos flexionáveis do pronominalización del portugués brasileño y des-
sintagma nominal sempre que o núcleo no- taca tres estrategias de recuperación anafórica del
minal estiver no plural; deve também estar objeto directo de tercera persona en ejemplos tales
presente no verbo sempre que o sujeito esti- como las posibles respuestas a la pregunta “Você
ver no plural; deve ainda estar presente nos
predicativos flexionáveis e nos particípios
viu Pedro hoje?” Esas estrategias se realizan en
passivos quando o sujeito for plural. las tres respuestas posibles: a) “Hoje não, eu o vi
Todavia, estudos diversos têm mostrado que, ontem”, b) “Hoje não, eu vi ele ontem”, c) “Hoje
na modalidade falada do português brasilei- não, eu Ø vi Ø ontem”.
ro, a concordância de número plural nem En el primer caso, la estrategia es la única reco-
sempre ocorre. Mesmo pessoas escolarizadas
deixam de colocar todas as marcas formais
nocida por la normativa y defendida como “pa-
de plural em construções diversas: as mais drão” y como “culta”: el uso del pronombre obli-
comuns são aquelas constituídas por itens cuo. En el segundo ejemplo encontramos el caso
nominais informais (“tomei uns goró e quei- insistentemente condenado por la tradición nor-
mei uns fumo”), por itens nominais diminu- mativista: uso de un pronombre recto. En el últi-
tivos e de formação regular (“umas casinha
bonitinha”), por adjetivos pospostos ao nú-
mo ejemplo se observa el objeto directo nulo, que
cleo do sintagma nominal, especialmente se ni siquiera aparece mencionado en las gramáti-
o núcleo também não apresentar plural ex- cas normativas, a pesar de ser ampliamente usa-
plícito (“essas carne congelada”), por ver- do por los hablantes cultos del portugués brasi-
bos com sujeito posposto (“sumiu os meni- leño. Bagno destaca que el uso del pronombre
nos”), por predicativos de formação regular
precedidos de verbos e/ou sujeitos sem mar-
recto con función de objeto directo ha sido señala-
ca explícita de plural (“as coisa tá cara) (...) do en la lengua hace mucho tiempo y que se en-
(Scherre op. cit.: 19-20) cuentra registrado en numerosas obras literarias,
en tanto que el objeto nulo surge en una etapa
Esos usos que modifican la concordancia de- más reciente del portugués. Bagno subraya
fendida por la normativa, de los cuales la relación asimismo que el uso de los pronombres oblicuos
que transcribimos es tan solo una parte, sufren está cada vez más restringido a determinados
una fuerte estigmatización social de parte de las géneros discursivos escritos y a manifestaciones
personas escolarizadas cuando son objetivados de la oralidad altamente monitoreadas, y no duda
como muestras y sometidos a análisis, esto es, en en afirmar que los pronombres oblicuos de tercera
instancias de reflexión metalingüística. Sin em- persona están muertos y solo son usados por
bargo, como destaca Perini (op. cit.: loc. cit.), se quienes han tenido contacto con los cuadros
trata de usos representativos del portugués brasi- pronominales de la lengua literaria clásica y que
leño actual sin distinción de niveles de escolariza- por causa de ese contacto sufren presión de la
ción, solo que hay ciertas personas — aquellas norma estándar conservadora. Para Bagno, la
estigmatizadas — que hablan — y probablemente prueba más elocuente de esa extinción es que los
escriben — únicamente de esa manera, mientras pronombres oblicuos átonos, esto es, los clíticos,

30
de tercera persona nunca aparecen en el habla de a ser tenido en cuenta en cualquier aproximación
los niños que aún no fueron a la escuela ni en el científicamente seria al portugués brasileño, ya
habla de los analfabetos o semianalfabetos, es sea que se lo aborde como lengua materna o como
decir en los grupos de hablantes que no sufren lo lengua extranjera.
que Bagno denomina el “policiamiento gramati- En el caso específico de la formación docente
cal”. En esos grupos de hablantes es donde se en portugués como lengua extranjera en Argenti-
encuentran las reglas gramaticales que están en na resulta innegable la necesidad del estudio de
vigor y que efectivamente forman parte de la las propiedades gramaticales del portugués
lengua materna de la población brasileña actual. brasileño por medio de la incorporación de biblio-
En conclusión, la concordancia registrada y grafía actualizada y autorizada, como la que he-
defendida por la tradición gramatical normativis- mos citado en estas páginas, así como el afina-
ta, por un lado, y las nuevas formas de la concor- miento de la percepción lingüística para registrar
dancia evidenciadas por los estudios sociolingüís- tanto en la oralidad como en la lengua escrita esas
ticos y de gramática descriptiva del portugués propiedades. El objetivo es fundamentalmente el
brasileño actual, por el otro, así como la distribu- conocimiento de una realidad lingüística objeto
ción del sistema pronominal tradicional y el de estudio como parte de la formación de grado
efectivamente usado por los hablantes de portu- en Portugués en la Argentina, y resulta quizá
gués brasileño hoy en día, son, respectivamente, obvio que en este punto la competencia recepti-
especies en competencia en el portugués brasileño va ha de ir mucho más allá que la productiva, y
actual. De este modo, el paradigma medioam- no escapa de nosotros, por cierto, el propósito
biental extrapolado al campo de los estudios que guía investigaciones como las que hemos ci-
lingüísticos contribuye, desde nociones tales tado aquí: la revisión crítica de preconceptos
como la de “equilibrio” y “predación”, y por lingüísticos que no solo empañan el conocimiento
medio de análisis empíricamente fundados, a la de una realidad lingüística, sino que encubren
revisión crítica de preconceptos lingüísticos y preconceptos sociales de profundo arraigo en el
sociales de hondo arraigo en la sociedad brasileña discurso social.
y propicia una renovación del corpus gramatical

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMOSSY, R. 2008. (org.). A imagem de si no discurso. A MAINGUENEAU, D. 2008 a. Gênese dos discursos. São
construção do ethos. São Paulo: Contexto. Paulo: Parábola.
ARNOUX, E. N. de y C. R. Luis. 2003 (comps.). El ______. 2008 b. “A propósito do ethos”, en Motta, A. R. y
pensamiento ilustrado y el lenguaje. Buenos Aires: Eudeba. L. Salgado (orgs.). Ethos discursivo. São Paulo: Contexto:
BAGNO, M. 1999. Preconceito linguístico. O que é, como 11-29.
se faz. São Paulo: Loyola. ______. 2008 c. Cenas de enunciação. São Paulo: Parábola.
______. 2001. Português ou brasileiro? Um convite à pes- NARO, A. J. y M. M. P. Scherre. 2007. Origens do portu-
quisa. São Paulo: Parábola. guês brasileiro. São Paulo: Parábola.
______. 2012. Gramática pedagógica do português bra- NEVES, M. H. de M. 1999. Gramática de usos do portu-
sileiro. São Paulo: Parábola. guês. São Paulo: UNESP.
CASTILHO, A. T. de. 2010. Nova gramática do portugu- PERINI, M. A. (2010). Gramática do português brasilei-
ês brasileiro. São Paulo: Contexto. ro. São Paulo: Parábola.
COUTO, H. H. do. 2009. Linguística, ecologia e POSSENTI, S. 2008. Os limites do discurso. Ensaios so-
ecolinguística. Contato de línguas. São Paulo: Contexto. bre discurso e sujeito. São Paulo, Parábola.
FARACO, C. A. 2007. “Por uma pedagogia da variação RAJAGOPALAN, K. 2003. Por uma linguística crítica.
linguística”, en Correa, D. A. (org.). 2007. A relevância Linguagem, identidade e a questão ética. São Paulo: Parábola.
social da linguística. Linguagem, teoria e ensino. São Pau-
lo: Parábola: 21-50.

31
______. y F. L. da Silva. 2004. (orgs.). A linguística que WEINREICH, U., W. Labov & M. Herzog. 2006. Funda-
nos faz falhar. Investigação crítica. São Paulo: Parábola. mentos empíricos para uma teoria da mudança linguística
SCHERRE, M. M. P. 2005. Doa-se lindos filhotes de [1968]. São Paulo: Parábola.
poodle. Variação linguística, mídia e preconceito. São Pau-
lo: Parábola.

32
HABLANTES Y COMUNIDADES: CRÍTICA DE LA NOCIÓN
ESTÁNDAR DE DERECHOS LINGÜÍSTICOS

Luis E. Behares*
Universidad de la República

PROPÓSITO Y MARCO DE b - otro conjunto vinculado a las personas en


REFERENCIA sus relaciones con las lenguas y el len-
guaje.
En el presente trabajo1, intentaremos la crítica
de la noción de “derechos lingüísticos”, en el mar- Estas tendencias preceptivas comienzan a arti-
co de referencia de las acciones vinculadas al cularse a mediados del siglo XX, como reacción
establecimiento de las políticas lingüísticas. La inmediata a la situación europea al cierre de la
pregunta que nos asiste puede ser expresada en segunda guerra mundial. La institución de
los siguientes términos: ¿qué constantes de con- derechos humanos, sociales y políticos desde fi-
ceptualización de sujeto presiden la formulación nes de la década de 1940 se da, fundamentalmen-
de la noción de derechos lingüísticos? La cuestión te, en el marco del pensamiento de la “guerra fría”;
puede desplegarse en las encrucijadas de la teoría principalmente las naciones adherentes al mode-
política, la filosofía del derecho, la teoría lingüís- lo capitalista-liberal, con notoria directividad de
tica y la teoría del sujeto, con lo cual resulta muy los Estados Unidos, jerarquizaron a través de la
compleja y polifacética y podría desmontarse en naciente Organización de las Naciones Unidas
una serie, más o menos variada, de otras cues- (ONU) ciertas cuestiones humanitarias, sociales
tiones. y políticas.
En un trabajo anterior (Behares, 2013) reali- Las cuestiones políticas y sociales derivadas
zamos una exploración del campo conceptual de de la diversidad lingüística, de la coexistencia de
los derechos lingüísticos a partir de los documen- las comunidades de hablantes, de sus conflictos
tos internacionales generados entre 1945 y 19962, y efectos sobre los colectivos, las naciones y los
en los cuales la cuestión se articula progresiva- individuos formaron parte de las problemáticas
mente y parece consolidarse sobre los años finales que los documentos de ONU de las décadas de
del siglo pasado. Allí concluíamos que las tenden- 1940, 1950 y 1960 tomaron en cuenta. Como sa-
cias preceptivas que circulan y se establecen en bemos, también, estas cuestiones eran ya objeto
este conjunto documental, sin una intención de indagación desde diversas disciplinas, como
exhaustiva, permitirían una doble entrada: la filología y la lingüística descriptiva, desde la
sociolingüística, la sociología del lenguaje y la
a - un conjunto de derechos vinculados al reco- etnolingüística, desde las ciencias políticas y ju-
nocimiento de lenguas y variedades lin- rídicas y desde la investigación educativa. Las
güísticas asociadas a comunidades lingüís- reivindicaciones políticas de las comunidades lin-
ticas que conviven con otras, en relacio- güísticas forman parte también de este entramado,
nes de poder asimétricas; y en el que constantemente se formulan conceptua-
lidades.

*
Departamento de Enseñanza y Aprendizaje, Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educación
1
Este artículo es un producto de la Línea de Investigación Dimensiones Lenguajeras de la Enseñanza y el Aprendizaje
(DLEyA) que llevamos adelante en el Departamento de Enseñanza y Aprendizaje del Instituto de Educación (Universidad
de la República, Montevideo-Uruguay).
2
Entre otros, los documentos relevados y analizados son: CMCE (1992); ONU (1945, 1948, 1966, 1968, 1989, 1992);
UNESCO (1953, 1960, 1996).

33
El derecho en materia lingüística, en los nocionales que le son característicos: la afirma-
ámbitos internacionales, nacionales o regionales, ción de que los derechos humanos son derechos
ha sido desde la década de 1990 un campo en naturales, y la afirmación de que los derechos
constante desarrollo, ligado fundamentalmente al humanos descansan y tienen su titularidad exclu-
derecho positivo y tendiente, en general, al sivamente en la persona humana, libre y deten-
establecimiento de políticas lingüísticas. Dentro tora de una voluntad responsable. Como se ob-
y fuera de este campo, se ha desarrollado la noción serva, se trata del pensamiento liberal, que se
de derechos lingüísticos, como correlato especi- asocia a un principio axiomático centrado en la
alizado de la noción de derechos humanos, con noción de individuo: “La finalidad de toda asocia-
evidentes oscilaciones entre el derecho positivo ción política es la conservación de los derechos
y el derecho natural. naturales e imprescriptibles del hombre. Esos
derechos son la libertad, la propiedad, la segu-
ridad y la resistencia a la opresión” (Francia, 1789, art. II).
LA NOCIÓN ESTÁNDAR DE Si bien la Declaración de la ONU de 1948 no
“DERECHOS LINGÜÍSTICOS” hablaba explícitamente de “derechos lingüís-
ticos”, la formulación de este concepto especi-
La noción contemporánea de “derechos lin- alizado de los derechos humanos le es inherente,
güísticos” fue generada en el ámbito de la legis- según se establece ya claramente en el Pacto In-
lación internacional, en primera instancia, y luego ternacional de Derechos Civiles y Políticos
comenzó a ser tomada como materia de las (ONU, 1966)4. Este documento hace presente ya
legislaciones nacionales. La consideración de las un derecho lingüístico individual, según la
“cuestiones humanitarias” era uno de los cam- tradición mencionada como derecho humano uni-
pos en los cuales las instituciones internacionales versal, y le confiere positividad jurídica (art. 14),
(por ejemplo la ONU, 1945, art. 68) establecieron pero incluye también una innovación: el derecho
su campo de acción. La Declaración Universal humano universal a su propio idioma en él
de los Derechos Humanos (ONU, 1948), elabo- positivizado no tiene como titular exclusivo al
rada por la Comisión de Derechos Humanos individuo, sino que su titularidad se amplía al
creada en 1947, es el producto inicial del proceso. “común con los demás miembros de su grupo”
La noción de derechos humanos es un atribu- (art. 27, citado en nota 4). La noción de “propio
to del pensamiento político de la modernidad. Se idioma”, entonces, no se refiere a un derecho in-
articula desde el siglo XVII en la junción del dividual, cuyo titular sería exclusivamente la
pensamiento liberal con las concepciones medio- persona, sino que esa “propiedad” parece descan-
evales de “derecho natural” (en general, de base sar más allá de la individualidad y asentarse
teológica), en base a elementos del pensamiento definidamente en los “grupos” que se identifican
empirista inglés y del pensamiento racionalismo como propietarios de un idioma en común.
francés. Se trata, mutatis mutandis, de los dere- La dualidad en cuanto a la titularidad de los
chos de las personas individuales, y de la asun- derechos lingüísticos (por un lado, el individuo
ción de que estos derechos son universales y están y, por otro, el grupo de individuos) estuvo pre-
por encima de cualquier ordenamiento de derecho sente, como ya analizamos detalladamente en
positivo3. La Declaración de la ONU de 1948 se Behares (2013), también en otros documentos
inserta en esta tradición, y hace suyos dos factores contemporáneos y posteriores al Pacto de 1966.

3
Es éste el espíritu de los documentos fundadores de esta conceptualidad, como el Habeas Corpus Act de 1679 (Inglaterra,
1679) y el Bill of Rights de 1689 (Inglaterra, 1689) y de la La déclaration des droits de l’homme et du citoyen francesa de
1789 (Francia 1789).
4
A diferencia de la Declaración, es un documento acordado para ejercer determinadas acciones específicas y es vinculante
para los Estados que lo ratificaron. Establece: “En los Estados en que existan minorías étnicas, religiosas o lingüísticas, no
se negará a las personas que pertenezcan a dichas minorías el derecho que les corresponde, en común con los demás
miembros de su grupo, a tener su propia vida cultural, a profesar y practicar su propia religión y a emplear su propio
idioma” (ONU, 1966, art. 27). Este artículo ha originado un amplio debate, sobre el cual haremos algunas consideraciones
al final de este texto.

34
En los documentos posteriores, más cercanos en […] toda sociedad humana que, asentada
el tiempo a nosotros, encontramos ya esta doble históricamente en un espacio territorial de-
terminado, reconocido o no, se autoidentifica
titularidad en forma nítida (ONU, 1989, arts. 17, como pueblo y ha desarrollado una lengua
20 y 30; ONU, 1992, arts. 1 y 4). En la Carta Eu- común como medio de comunicación natu-
ropea de las lenguas regionales y minoritarias ral y de cohesión cultural entre sus miembros.
(CMCE, 1992, art. 7, inc. 1), documento considera- La denominación lengua propia de un
do de avanzada en la consagración de los dere- territorio hace referencia al idioma de la
comunidad históricamente establecida en
chos lingüísticos, parece claro que la titularidad este espacio (UNESCO, 1996, Art. 1, inc. 1).
para éstos descansa en los colectivos más que en
las personas. La Comunidad Europea consagra Sobre esa base conceptual la Declaración de
el derecho de las “lenguas” en sí mismas (usa 1996 explicita algunos derechos colectivos
esta expresión en forma excluyente), como enti- puntuales de los grupos lingüísticos (UNESCO,
dades históricas; por lo tanto, la titularidad de los 1996, Art. 3, inc. 2), pero lo determinante en este
derechos que allí se consagran se revierte (al me- caso es el establecimiento de la igualdad de to-
nos en la letra del texto) a los grupos ligados o de- das las comunidades lingüísticas, que hacen
terminados por las lenguas, y deja de ser de la titularidad inadmisibles las discriminaciones contra algunas
de los hablantes como individuos particulares. de ellas. Estas discriminaciones suelen basarse
En 1996, se labra en Barcelona un documento en su grado de soberanía política, en su situación
bastante más “radical” y de mayores pretensiones, social, económica o en otros factores que se les
la Declaración Universal de los Derechos aplica como colectivos.
Lingüísticos (UNESCO, 1996)5, en cuyo caso se
reconocen claramente dos tipos de derechos
lingüísticos: los individuales y los colectivos. En PARA UNA CRÍTICA DE LA NOCIÓN
referencia a los primeros, el argumento sostenido ESTÁNDAR DE “DERECHOS
abarca aspectos de orden individual simple (como LINGÜÍSTICOS”
el derecho al uso público o privado de una
lengua), pero enfatiza que los derechos La noción estándar de derechos lingüísticos,
lingüísticos individuales se derivan y se justifican construida en los últimos sesenta años en el
por el derecho lingüístico central de ser espacio “interdisciplinario” que incluye a la lin-
reconocido como miembro de una comunidad lin- güística, a las ciencias políticas y a las ciencias
güística. del derecho, con una intencionalidad política in-
De esta forma, los derechos colectivos pasan ternacional y social de tipo más bien práctico,
a ser los efectivamente reconocidos, aunque en presenta varios problemas. Algunos de estos pro-
forma oblicua, y de ellos se desprenderán, por blemas están vinculados a la aplicabilidad, y son
vía de la pertenencia a un colectivo, los derechos coyunturales, pero también pueden ser analizados
individuales6. El referente efectivo del goce de desde las perspectivas teóricas que bordean a la
los derechos lingüísticos queda en este documento noción en sí misma:
establecido en la comunidad lingüística histórica:

5
Este documento fue aprobado en la Conferencia Mundial de Derechos Lingüísticos de Barcelona, organizada por varias
instituciones y asociaciones con el apoyo “moral y técnico” de UNESCO. Entre otros, fueron organizadores del evento y
signatarios de la Declaración el Comité de Traducciones y Derechos Lingüísticos del International PEN Club y el CIEMEN
(Escarre International Center for Ethnic Minorities and the Nations). Se registró la participación de sesenta y seis
organizaciones no gubernamentales (ONGs), 41 centros PEN y 41 expertos internacionales en legislación lingüística. y
fue presentado al Director General de UNESCO, quien la publicó oportunamente. No es, pues, como en los casos anteri-
ores, un documento preceptivo para los países, ni una pieza del derecho internacional acordada y con signatarios oficiales,
pero se lo ha jerarquizado como una summa en la materia con suficiente prestigio.
6
Como derechos personales inalienables y que pueden ejercerse en cualquier situación, se incluyen, por ejemplo, el
derecho a ser reconocido como miembro de una comunidad lingüística, el derecho al uso de la lengua en privado y en
público, el derecho al uso del propio nombre, el derecho a relacionarse y a asociarse con otros miembros de la comunidad
lingüística de origen y el derecho a mantener y desarrollar la propia cultura (UNESCO, 1996, art. 3, inc. 1)

35
1. La noción de derechos lingüísticos se ha mientras que los derechos de lengua o derechos
construido como un aspecto especial de los de las comunidades lingüísticas son, por su propia
“derechos humanos”, pero también se la liga al conformación y finalidad, derechos lingüísticos
establecimiento de los ordenamientos sociopolí- positivos, y lo son porque se los ha establecido
ticos entre los estados o grupos humanos dentro en los ordenamientos jurídicos.
de los estados. La noción incluye, pues, una di- Estas dificultades han sido ya señaladas y se
mensión referida a los hablantes y otra referida a han aportado múltiples opiniones7. Para replantear
las comunidades lingüísticas. desde el punto de vista jurídico la oposición que
2. La noción engloba a los individuos como señalamos, Kloss (1977) toma en cuenta la
hablantes y a las comunidades lingüísticas como orientación que se les confiere a los derechos, en
poseedoras de un bien. Desde la tradición propia un caso más bien dirigida a la tolerancia y en
de la lingüística podemos hablar de derechos del otros orientada hacia la promoción. La tolerancia
hablante (o, derechos de lenguaje) y de derechos se refiere a las personas y al ámbito privado de
de las comunidades (o derechos de lengua). sus relaciones con las lenguas (por ejemplo, el
3. La distinción clásica entre lenguaje y lengua derecho a usar su lengua materna en la vida coti-
establece que el lenguaje es un fenómeno indivi- diana); la promoción va dirigida a las comunida-
dual, mientras que las lenguas son entidades con des en la esfera pública (por ejemplo, el
un orden propio que está fuera de la reconocimiento legal de lenguas minoritaria y las
individualidad del hablante. Hay, por tanto, un propuestas para su uso). Hasta por el término ele-
titular individual, en su derecho de hablante, y gido, “tolerancia”, el esquema de Kloss (1977)
un titular colectivo socialmente institucional o implica cierta posición benevolente hacia la
históricamente determinado en la alteridad de la persona particular, referida substancialmente al
lengua. respeto natural de sus derechos humanos, por vía
4. Un derecho de hablante se resume, aparen- de la omisión de medidas limitantes; en cambio,
temente, en su derecho a serlo, y por lo tanto a la promoción se articula con mayor dificultad,
que ningún obstáculo externo tienda a disminuir porque refiere al reconocimiento de derechos
su acceso espontáneo al ejercicio de lenguaje, positivos de las comunidades o grupos, princi-
mientras que un derecho de lengua se refiere a palmente los minoritarios. Para la óptica de los
ésta como entidad histórica reflejada en sus ni- organismos internacionales orientados explícita-
veles de estabilidad y de “recurrencia”, y hace mente en la tradición liberal entre 1948 y 1996,
imprescindible la noción concomitante de comu- lo que Kloss llama “promoción” fue desatendi-
nidad lingüística, definible sólo si se la compone do, ya que escapaba a la posibilidad de ser instru-
como parte de un orden social y político inde- mentado en términos reales. Sin embargo, como
pendiente de las voluntades individuales. muestra Varennes (1996), en los años de 1950 es
5. En las tradiciones jurídicas, a su vez, es posible situar ya en la jurisprudencia internacio-
posible oponer derecho natural y derecho positi- nal una definición política posible de lengua
vo. El primero asume la esencialidad de un minoritaria alternativa a la tomado por los orga-
derecho como atributo inseparable de la persona, nismos internacionales, fundada ésta en el
en términos absolutos, y por encima de los derecho de “propiedad” de un bien colectivo, de
ordenamientos jurídicos positivos; el segundo es naturaleza comunal, establecido o reclamado por
siempre de naturaleza social o política, y consis- una comunidad lingüística particular.
te en los acuerdos explícitos (positivos) que los Es necesario recordar aquí que el origen de
ordenamientos jurídicos de los estados o los en- los derechos humanos conceptualizados en el
tes supraestatales proveen. siglo XX (generados en los últimos 60 años), y
6. En cierta forma, los derechos del hablante de los derechos lingüísticos dentro de ellos, in-
se construyen como derechos lingüísticos corpora una concepción extremadamente liberal
naturales integrados a los derechos humanos, de “derechos”, que los restringe casi exclusiva-

7
Han sido realmente incontables los aportes que sobre estas cuestiones se han elaborado. Tomamos aquí solamente algunos
elementos que pretendemos relacionados con nuestro punto de indagación.

36
mente a la persona individual, por lo cual genera (para negar titularidad al grupo, pero, al mismo
una inhibición para el reconocimiento de bienes tiempo, reconocerle algo de identidad).
colectivos (lenguas u otros) de las comunidades Según varios investigadores (Capotorti, 1979;
o grupos particulares. La condición de ciudadano Skutnabb-Kangas, 1998; de Varennes, 1996; May,
en las democracias liberales, según el liberalis- 2010), el Artículo 27 refleja la tensión entre los
mo ortodoxo, no incorpora en absoluto la dife- derechos individuales y los derechos de las co-
rencias de origen grupal y lingüístico8, ya que con- munidades, y abre una brecha para hacer muy
sidera a todas las personas como intercambiables confusa la cuestión de quién puede ejercer o re-
y sólo definibles por condiciones generales clamar estos derechos. Similarmente, Nic Craith
(Young, 1993). May (2010: p. 134) ha escrito (2006) encuentra similares problemas en la Car-
recientemente, al referirse a las críticas comuna- ta Europea (CMCE, 1992) y en otros documen-
listas o colectivistas al liberalismo, que éstas tos posteriores.
“señalan que la separación estricta de la ciuda- Algunas situaciones creadas a partir de estas
danía y la identidad en la política moderna construcciones doctrinarias han llamado la
subestima, y niega a veces, el significado de atención sobre sus debilidades. Nos referimos al
organizaciones comunitarias más extensas, caso de las políticas lingüísticas y de los derechos
incluyendo la o las lenguas de una persona, en la individuales en España, a partir de las leyes de
construcción de la identidad individual”. En la autonomización en materia lingüística, la parti-
sociedad democrática liberal, y en la construcción cular situación de las lenguas de señas, atributos
teórica que la sostiene, los bienes comunes, como de comunidades que tienen varios conflictos de
las lenguas, sólo pueden ser considerados en paternidad con respecto a sus miembros, en es-
relación a los individuos, ya que ambas se pecial los niños, y las políticas indigenistas en
sustentan en el individualismo intrínseco. Las varios países latinoamericanos, en especial Mé-
políticas referidas a los bienes comunales son xico y Bolivia, entre otras. Si bien no podemos
entonces tangenciales y aleatorias (van Dyke, extendernos en este texto en la complejidad de
1977). cada una de estas situaciones, es bastante evidente
El Artículo 27 del Pacto Internacional de que hay presentes en ellas algunos conflictos
Derechos Civiles y Políticos (ONU, 1996) ha sido, insolubles derivados de la confusión entre dere-
sin lugar a dudas, el gran articulador político-ju- chos lingüísticos de las personas y derechos lin-
rídico de estas construcciones que venimos güísticos de las comunidades: el hecho denunci-
señalando. Con enorme dificultad de redacción, ado de que un ciudadano español tenga dificulta-
y con más graves dificultades de aceptación de la des en algunas regiones de proporcionar un acceso
forma en que fue redactado finalmente, en él en- importante a sus hijos al español estándar, el
contramos varios subterfugios: da a los estados conflicto de interés que se genera entre las co-
la capacidad de decidir si efectivamente tienen o munidades sordas y el derecho de los padres de
no minorías étnicas, religiosas o lingüísticas (lo niños sordos a mantener a sus hijos fuera del
que implica una vaguedad insostenible y gran- contacto con la lengua de señas, las variedades
des facilidades para su incumplimiento), no dice indígenas tomadas en consideración por el esta-
“se dará”, sino “no se negará” el derecho a utili- do como más apropiadas para la educación de
zar su propio idioma (lo que supone una los niños indígenas y aquellas que efectivamente
posibilidad y no un establecimiento), la expresión son parte del patrimonio de los grupos étnicos.
“minorías” fue substituida por “personas En la base de estos conflictos hay, sin lugar a la
pertenecientes a minorías” (ya que el derecho es menor duda, una endeble base en la
de la persona y no del grupo) y minimiza el factor conceptualización de las relaciones de los
lingüístico comunitario mediante la expresión “en hablantes con el lenguaje y con las lenguas, y de
común con los demás miembros de su grupo”

8
Se pueden encontrar, obviamente, arreglos más relativistas, como los de Kymlicka (1995) en su noción de “derechos
diferenciados”, básicamente en la afirmación de que los grupos permiten algunas variaciones propositivas para derechos
esencialmente individuales afectados por las construcciones culturales o históricas. En un plano más cercano a las tradiciones
de la sociolingüística liberal, véase Fishman (1991)

37
las diferencias radicales que es posible establecer la lengua en tanto que alteridad suprapersonal o
para ambas relaciones. impersonal.
En principio, la relación entre un individuo y La tradición estadounidense referida a estas
el lenguaje, de la cual deriva uno de los aspectos cuestiones, representada fundamentalmente por
de su condición de hablante, puede resultar de la la sociolingüística, la etnolingüística y la tradición
determinación orgánico-mental para una serie de de la planificación lingüística generadas a partir
procesamientos cognitivos específicos (según se de los autores empiristas y pragmatistas de inicios
sostiene desde los modelos innatistas-naturalis- del siglo XX, resuelve el conflicto de modo apa-
tas, más o menos derivados de la obra de Noam rentemente sencillo, simplificando la relación
Chomsky), o de su determinación por las cadenas sujeto-lenguaje/lengua a la siguiente formulación:
lenguajeras que lo preceden y en las cuales viene existe un sujeto natural (individuo) que es anteri-
a ser determinado como sujeto de lenguaje (en or como tal a su encuentro con el mundo exteri-
las interpretaciones de los lingüistas afectados por or, la relación que este ente preexistente establece
Jacques Lacan). En cambio, la relación de un a posteriori con el lenguaje y las lenguas es de
individuo con una lengua particular, de la cual se estricta instrumentalidad. El uso del lenguaje y
deriva otro rasgo importante de su condición de el uso de la lengua no pueden diferenciarse; a lo
hablante, implica el vínculo de identidad o de sumo hay cierta libertad individual opuesta a la
pertenencia a un grupo que es capaz de alterizar imposición de restricciones conductuales o prag-
instrumentalmente su actividad lingüística y máticas de origen social. La noción de sujeto que
discursiva (posición habitual de la sociolingüís- sustenta el pensamiento sociolingüístico estadou-
tica estadounidense), o la determinación discur- nidense, en la forma estándar que funda ese sa-
siva de ese individuo por la estructura material- ber y su práctica dentro y fuera del país del norte,
mente histórica de la lengua como registro radi- es totalmente co-funcional al sujeto tal cual se lo
calmente alterizado (posición de las teorías mar- construye en el liberalismo político y jurídico.
xistas del discurso). Se trata, entonces, en cual- Con base en este hecho, difícil de controvertir, se
quiera de estos casos, de una distancia consi- puede observar que las mejores construcciones
derable en la condición del hablante en su relación sociolingüística de esta problemática son redun-
con el lenguaje y del hablante en su relación con dantes y sólo sirven para sostener el statu quo de
los conceptos que cuestionamos.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BEHARES, L. E. (2013) Notas sobre la noción de derechos FRANCIA (1789) Déclaration des droits de l’homme et du
lingüísticos ¿quién es su titular? Entregado para su citoyen. En: Claude-Albert Colliard, La déclaration des
publicación en Revista Digital de Políticas Lingüísticas, droits de l’homme et du citoyen de 1789, La documentation
4. Córdoba (En prensa). française, Paris, 1990, pp. 15-19.
CAPOTORTI, F. (1979) Study on the Rights of Persons HOLBOROW, M. (1999) The Politics of English: a Marxist
Belonging to Ethnic, Religious and Linguistic Minorities. view of language. London: Sage.
New York: United Nations. INGLATERRA (1679) Habeas Corpus Amendment Act (26
DYKE, V. van (1977) The individual, the state, and ethnic de marzo de 1679). En: Biblioteca Jurídica Virtual Del Ins-
communities in political theory. World Politics, 29: 343– tituto de Investigaciones Jurídicas. México: Universidad
369. Autónoma de México. www.juridicos.unam.mx, pp. 185-
CMCE-Comité de Ministros del Consejo de Europa. (1992) 193.
Carta Europea de las lenguas regionales y minoritarias, INGLATERRA (1689) Bill of Rights (1689). Em: Biblio-
labrada en Estrasburgo el 5 de noviembre de 1992. teca Virtual Miguel de Cervantes. Madrid,
www.consello.org/pdf/cartaeuropea92.pdf (consultada 20/ www.cervantesvirtual.com/obra/bill-of-rights-1689—0
01/13). KLOSS, H. (1977) The American Bilingual Tradition.
FISHMAN, J. (1991) Reversing Language Shift: theoretical Rowley: Newbury House.
and empirical foundations of assistance tothreatened KYMLICKA, W. (1995) Multicultural Citizenship: a libe-
languages. Clevedon: Multilingual Matters. ral theory of minority rights. Oxford: Clarendon Press.

38
MAY, S. (2010). Derechos lingüísticos como derechos hu- Página de la Oficina del Alto Comisionado de las Naciones
manos. Revista de Antropología Social, 19, 131–159. Unidas para los Derechos Humanos. www2.ohchr.org/
NIC CRAITH, M. (2006) Europe and the Politics of spanish/law/minorias.htm (consultada 20/01/13).
Language: Citizens, migrants, and outsiders. London: SKUTNABB–KANGAS, T. (1998) Human rights and
Palgrave–Macmillan. language wrongs – a future for diversity? Language
ONU - Organización de las Naciones Unidas. (1945) Car- Sciences, 20: 5–27.
ta de las Naciones Unidas (1945). Sitio Institucional de UNESCO - Organización de las Naciones Unidas para la
ONU, www.un.org/es/documents/charter/ (consultada 20/ Educación, la Ciencia y la Cultura (1953) Empleo de las
01/13). Lenguas Vernáculas en la Enseñanza. París: Ediciones de
ONU - Organización de las Naciones Unidas. (1948) la Unesco.
Declaración Universal de los Derechos Humanos. UNESCO - Organización de las Naciones Unidas para la
www.un.org/es/documents/udhr (consultada 20/01/13). Educación, la Ciencia y la Cultura (1960) Convención de
ONU- Organización de las Naciones Unidas. (1966) Pac- la UNESCO relativa a la recomendación sobre la lucha
to Inter nacional de Derechos Civiles y Políticos. Página contra las discriminaciones en la esfera de la enseñanza.
de la Oficina del Alto Comisionado de las Naciones Uni- Portal oficial de UNESCO. portal.unesco.org/es/ev.php-
das para los Derechos Humanos. www2.ohchr.org/spanish/ URL_ID=12949&URL_DO=DO_TOPIC&... (consultada
law/ccpr.htm (consultada 20/01/13). 20/01/13).

ONU - Organización de las Naciones Unidas. (1968) Pro- UNESCO - Organización de las Naciones Unidas para la
clamación de Teherán., http://www.gloobal.net/iepala/ Educación, la Ciencia y la Cultura. (1996) Declaración
gloobal/fichas/ficha.php?entidad=Textos&id=4052(con- Universal de los Derechos Lingüísticos. Página Oficial de
sultada 20/01/13). UNESCO. http://www.unesco.org/cpp/sp/declaraciones/
linguisticos.htm (consultada 20/01/13).
ONU - Organización de las Naciones Unidas. (1989)
Convención sobre los Derechos del Niño. Página oficial VARENNES, F. de (1996) Language, Minorities and
de UNICEF, www.unicef.org/.../spanish/7.-Convencionso- Human Rights. The Hague: Kluwer Law International.
brelosderechos.pdf (consultada 20/01/13). YOUNG, I. (1993 Together in Difference: transforming the
ONU - Organización de las Naciones Unidas. (1992) Decla- logic of group political conflict. En: Squires, J. (Ed.)
ración sobre los derechos de las personas pertenecientes Principled Positions: postmodernism and the rediscovery
a minorías nacionales o étnicas, religiosas y lingüísticas. of value. London: Lawrence and Wishart: 121–150.

39
EL TEXTO ACADÉMICO COMO OBJETO DE ENSEÑANZA EN
EL ÁREA SOCIAL Y HUMANÍSTICA DE LA UDELAR.
UNA INDAGACIÓN DOCUMENTAL

Cecilia Blezio Ducret*


Universidad de la República

RESUMEN Específicamente en el ámbito universitario, a


través de los textos académicos se construye —
La enseñanza universitaria tiene como particu- o, más bien, se adquiere, en el sentido en que
laridad el énfasis en su relación con el saber. El Claudia de Lemos plantea la adquisición del
texto académico ocupa un lugar en la entrada en lenguaje, es decir, “como un proceso de
el funcionamiento científico, en tanto cumple una subjetivización definible por cambios de la
función importante en la dinámica conocimiento- posición del niño” (de Lemos, 2000, p. 7; la
saber, designificación-resignificación. La produc- traducción es nuestra) — la posición del investi-
ción de textos académicos, como requisito del gador (Blezio y Fustes, 2011), ya que es a partir
grado universitario, tiene que ver con la construc- del texto académico que se entra en el funciona-
ción de la posición de investigador, necesaria para miento de la ciencia.
la adecuada producción de este tipo de textos. Entendemos aquí “ciencia” como Milner
Esta reflexión, que se enmarca en las discusio- (1989 y 1995) define la ciencia moderna.. Según
nes de la Línea de Investigación Dimensiones este autor, si no se la delimita, la palabra “ciencia”
Lenguajeras de la Enseñanza y el Aprendizaje resulta vaga y equívoca (Milner, 1989: pp. 23-
(DLEyA) y forma parte del trabajo de tesis, en 38). El autor destaca que la ciencia es una configu-
curso, “El texto académico y su relación con la ración discursiva caracterizada por tres elemen-
enseñanza en el grado universitario. Una inda- tos básicos: la matematización, a través de la cual
gación en el área humanística y social de la se capta lo empírico, y una cierta relación con la
Universidad de la República”. En este trabajo, a técnica (Milner, 1989, p. 23). Desde esta perspec-
partir de la lectura de planes de estudio y otros tiva, la teoría es un a priori necesario para la per-
documentos relevantes del área social y humanís- cepción1 y la técnica es lo que permite disconti-
tica de la UdelaR, procurará evidenciar qué lu- nuar el fenómeno (que es continuo).
gar “institucional” tiene el texto académico, es Así, según nuestra posición teórica, podemos
decir, en qué servicios y en qué asignaturas se lo caracterizar el texto académico como una entidad
requiere como parte de la evaluación, cómo se lo científica, en tanto es la vía de entrada al funciona-
define y si está jerarquizada o no su enseñanza. miento de la ciencia; esta afirmación también
implica que gira en torno a lo heurístico del sa-
ber en falta; en este sentido, es parte de la posición
CONSIDERACIONES GENERALES de investigador; por último, mantiene una cierta
relación con la enseñanza.
La escritura, como gesto íntimo y singular, En este marco teórico, entonces, podemos de-
evidencia una peculiar relación del sujeto con el finir primariamente texto académico como aquel
saber. En las situaciones de enseñanza, funciona que se produce para la actividad académica, pro-
como resto que queda del acontecimiento irrepe- pio del funcionamiento de la ciencia, que, en tan-
tible. to tal, implica mantener la tensión entre saber

*
Departamento de Enseñanza y Aprendizaje, Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educación
1
Esto ya había sido planteado por de Saussure: “Lejos de preceder el objeto al punto de vista, se diría que es el punto de
vista el que crea al objeto, y, además, nada nos dice de antemano que una de esas maneras de considerar el hecho en
cuestión sea anterior o superior a las otras” (Saussure, 1916: 49).

41
(como falta, como pregunta genuina, como insa- (y no leyendo). En este sentido, la escritura no es
bido) y conocimiento (como ya sabido, estabili- un mero acto de expresar y ordenar ideas (por-
zado; pero también como provisorio2). que, si fuera el caso, sería un orden “paralelo” al
En toda situación de enseñanza hay circulación pensamiento); “es entonces un hacer que da so-
del saber, en un movimiento sobre sí mismo, que porte al pensamiento” (Lacan, 1975-1976, p. 161)
va del conocimiento (como estabilidad represen- y lo plasma, con exterioridad, en el escrito.
tada) al saber (como falta) y, luego, otra vez al Por todo esto, parece evidente que en la forma-
conocimiento; justamente ése es su trazo funda- ción universitaria la cuestión del texto académico
mental3. es fundamental. Este trabajo busca responder la
En su “Conferencia en Ginebra sobre el sínto- pregunta ¿en qué servicios y carreras de la forma-
ma” (4 de octubre de 1975), Lacan habla de la ción de grado existe el texto académico como
escritura, a partir de una diferencia: “Escribir para objeto de enseñanza? Para ello, y como primera
nada es la misma cosa, no se parece en nada al aproximación, se relevará si se menciona ese tipo
decir” (Lacan, 1975, p. 117)4. Y agrega: de textos en los planes de estudios y otros docu-
mentos, como requisito del curso (por ejemplo,
Sucede que, durante la época en que estaba como modalidad de evaluación).
en Saint-Anne, quise que quedase algo de lo
que yo decía. En esa época salía una revista
en la que, hablando estrictamente, yo
escribía. Recopilé cierto número de artícu- CONSIDERACIONES ACERCA DE LA
los aparecidos en dicha revista. Como UDELAR
también había escrito antes no pocas cosas,
la mitad de esa recopilación está constituida El Área de las Ciencias Sociales y Humanas
por esos escritos previos — que son hablando
estrictamente escritos, a ello se debe mi títu-
es una de las cinco que conforman la UdelaR (las
lo, Escritos, muy sencillamente. […] Simple- otras son: Artística, Ciencias Agrarias, Salud, y
mente mediante Escritos, quería señalar que Ciencias y Tecnologías). Está conformada por seis
era de algún modo el residuo de mi enseñan- servicios: la Facultad de Ciencias Económicas y
za (Lacan, 1975, p. 117). de Administración (FCCEEA), la Facultad de
Ciencias Sociales (FCCSS), la Facultad de
Lo escrito funciona como residuo o resto de la
Derecho (Fder), la Facultad de Humanidades y
situación de enseñanza. Es evidente que es
Ciencias de la Educación (FHCE), la Escuela
aquello que queda, que se separa de lo situacional
Universitaria de Bibliotecología y Ciencias Afi-
(hic et nunc) y permanece5. Esta permanencia, a
nes (EUBCA) y la Licenciatura en Ciencias de la
la vez, tiene sus efectos: “todo pensamiento se
Comunicación (Liccom)6.
piensa por sus relaciones a lo que se escribe de
En el artículo 3 de la Ordenanza de estudios
él” (Lacan, 1971-1972, inédito; sesión del 8 de
de grado y otros programas de formación tercia-
marzo de 1972).
ria se consigna:
En la relación saber-conocimiento la función
de la escritura es insustituible: hay algo que sólo La educación superior tiene como finalidad
se adquiere — se sabe, se bordea — escribiendo formar para la creación, comprensión y apli-

2
Adscribimos, como se aprecia en todo este apartado, a una concepción epistemológica popperiana.
3
Esta distinción entre “saber” y “conocimiento” ha sido desarrollada, por ejemplo, en Behares (2009). El autor sostiene:
“En ocasión de la enseñanza se puede hablar, asimismo, de transferencia del saber como proceso diferente a la transmisión
del conocimiento; en el primer caso la incógnita convoca singularmente el acto de enseñanza, en el segundo éste es
convocado por la representación repetible. En el primer caso, además, la estructura de la representación es abierta, mientras
que en el segundo es cerrada” (Behares, 2009, p. 405).
4
Este aforismo ya había sido dicho por Lacan en su seminario del año anterior: el escrito “muestra ser de una dimensión
diferente a la del decir”; y también: “El decir, por el contrario, no es tampoco lo escrito” (Lacan, 1974, inédito; sesión del
12 de febrero).
5
Y a esto hace alusión el proverbio latino “verba volant, scripta manent”.
6
http://www.universidad.edu.uy/renderPage/index/pageId/130#heading_430.

42
cación crítica del conocimiento, el desem- Tipo 2. Servicios con perfil preferentemente
peño profesional y ciudadano responsable y profesionalista en cuanto a la enseñanza, en
el desarrollo de capacidades de aprendizaje los cuales la investigación se constituye en
a lo largo de la vida. Integrada con los proce- ámbitos específicos, creados para ese fin.
sos de investigación y extensión, la enseñan- Tipo 3. Servicios en los cuales la investiga-
za universitaria deberá ser de alta calidad, ción se integra a la labor institucional a tra-
enfatizando en el rigor científico, la profundi- vés de Departamentos, y otras estructuras,
dad epistemológica, la apertura a las diver- integradoras de las tres funciones.
sas corrientes de pensamiento, el desarrollo Tipo 4. Servicios de perfil esencialmente
de destrezas y la promoción de aprendizajes académico, en los que la dimensión
autónomos. La acción pedagógica estará ori- profesional se reduce sensiblemente a la
entada a motivar procesos reflexivos y acti- investigación misma (Behares, 2011a, p. 81).
vos de construcción de conocimientos, an-
tes que de exclusiva transmisión de infor- Una intuición a priori sería que en los servicios
mación (UdelaR, 2011, p. 3). más “profesionalistas” habría menos cabida en
la documentación institucional para el texto aca-
Además, entonces, de las consideraciones éti-
démico. No obstante, los planes de estudios reve-
cas y profesionales, este artículo consagra la im-
lan que el texto académico se incluye en todas
portancia de la dimensión epistemológica en la
las licenciaturas, independientemente de su per-
formación de grado7. Se enfatiza, también, que
fil “profesionalista” o “de investigación”.
“los procesos de enseñanza estarán integrados con
las funciones universitarias de extensión y de
investigación” (UdelaR, 2011, p. 3). No obstante,
REVISIÓN DE DOCUMENTOS
este documento es muy general en cuanto a las
disposiciones sobre la evaluación. En su artículo
A modo de ejemplo, revisaremos reglamenta-
37 se expresa:
ciones de un servicio marcadamente Tipo 1, la
La evaluación de los aprendizajes cumplirá
EUBCA, y otro que puede incluirse en el Tipo 4,
una función formativa a la vez que de verifi- la FHCE.
cación y certificación. Se emplearán moda- La EUBCA ofrece dos licenciaturas: en
lidades e instrumentos diversos de aplicación Bibliotecología y en Archivología. Tiene un plan
docente, así como mecanismos de auto y de estudios vigente aprobado en 2012. En el apar-
heteroevaluación. La misma cumplirá princi-
pios básicos de validez, confiabilidad y con-
tado “Unidades curriculares transversales a ambas
sistencia con los procesos de enseñanza y de carreras” el primer ítem que figura es “Universi-
aprendizaje, contribuyendo a la mejora con- dad y alfabetización académica”. Allí se sostiene:
tinua de los mismos. Como parte del rol for-
mativo de la evaluación de aprendizajes se De acuerdo con Carlino [Carlino, Paula
deberán establecer instancias de muestras de (2006) Escribir, leer y aprender en la univer-
pruebas, exámenes y demás evaluaciones sidad. Una introducción a la alfabetización
(UdelaR, 2011, p. 12). académica, Fondo de Cultura Económica,
Buenos Aires] y considerando que aprender
En cuanto a la formación de investigadores, a leer y escribir en la universidad no es una
Behares (2011a) clasifica los distintos servicios habilidad que pueda realizarse de una vez
universitarios — aunque sin referirse específica- para siempre e independientemente de una
disciplina, la alfabetización académica
mente al área que nos ocupa, social y humanística requiere de una implementación transversal
— en cuatro tipos, de acuerdo a la inserción en a todo el curriculum, desde el Ciclo Inicial.
ellos de prácticas de investigación: Las estrategias que esta propuesta pretende
abordar se vinculan a través de metodologías,
Tipo 1. Servicios con perfil marcadamente tanto de trabajo como de evaluación de los
profesionalista, con exiguo desarrollo de la cursos.
investigación. La alfabetización académica se propone:

7
En este artículo también hay una referencia, desde nuestra perspectiva, críptica, a la “acción pedagógica”; no obstante esa
discusión excede el propósito de este trabajo, para ampliarla ver, por ejemplo, Behares, 2011a y 2011b.

43
• ubicar al estudiante en el ámbito univer- A modo de referencia, mencionemos que am-
sitario, bas licenciaturas poseen un total de 360 créditos.
• incorporarlo a una comunidad discursiva y
a un contexto de práctica (el campo académi-
El documento plantea ocho módulos para cada
co de las Ciencias Sociales y Humanas, espe- licenciatura, en cuya descripción se incluyen ob-
cíficamente en la disciplina Ciencia de la jetivos generales, contenidos básicos y ejemplos
Información), con sus características y nor- de unidades curriculares que lo componen, pero
mas, no se desarrollan aspectos vinculados a la evalua-
• brindar metodologías para el abordaje de
los problemas e instrumentos de trabajo in-
ción. A nuestros efectos, parecen más propensos
telectual, a requerir textos académicos los módulos 1 (“Fun-
• abordar la escritura y la lectura como prác- damentos teórico-conceptuales y contexto de las
ticas sociales y brindar herramientas de análi- disciplina y profesión”) y 5 (“Investigación en la
sis y comprensión lectora, ciencia de la información”), por lo cual nuestra
• fortalecer el manejo de la escritura, instru-
mento privilegiado de reflexión y construc-
indagación proseguirá con la lectura de los pro-
ción de conocimiento, gramas de las asignaturas que los componen.
• desarrollar habilidades argumentativas y Igualmente, a modo de ejemplo, las unidades
discursivas. curriculares que componen este último módulo
Los principales aspectos a desarrollar en parecen más orientadas a la técnica que a la inves-
coordinación con las distintas unidades
curriculares del Plan, y con base en el cam-
tigación; son, para Archivología, “Estadística.
po de problemas propios de la disciplina, se Metodología de la investigación social. Estudios
pueden sintetizar en: análisis y comprensión de usuarios. Técnicas de investigación histórica.
lectora, competencias comunicativas, géne- Paleografía y Diplomática. Terminología”
ros discursivos, argumentación como activi- (EUBCA, 2012a, p. 24); y para Bibliotecología
dad social, intelectual y verbal, producción
de textos académicos (EUBCA, 2012a, p.
“Estadística. Metodología de la investigación
16-17; el destacado es nuestro). social. Estudios de usuarios. Bibliometría. Ter-
minología” (EUBCA, 2012a, p. 34).
Respecto del texto académico, para las dos li- Las Disposiciones reglamentarias sobre mo-
cenciaturas este documento plantea: dalidades de cursado, control de asistencias y
evaluación de los cursos del Ciclo Inicial del Plan
Una unidad curricular específica del Plan de de Estudios 2012 (EUBCA, 2012b), no ahondan
Estudios lo constituye el trabajo monográfico en el tema que nos ocupa. Simplemente señalan
final realizado a partir del 7º semestre en
régimen de Seminario-Taller. Consiste en el
que los cursos en modalidad reglamentada o libre-
diseño y realización de un proyecto de carác- reglamentada pueden aprobarse por dos evalua-
ter formativo que constituya un aporte al área ciones parciales o por un trabajo final (EUBCA,
de la Ciencia de la Información, la pre- 2012b).
sentación de un informe con formato mono- Las licenciaturas que ofrece actualmente la
gráfico y la defensa oral del mismo. La temá-
tica a abordar podrá contemplar las tres fun-
FHCE son nueve: en Ciencias Antropológicas,
ciones universitarias y generar espacios de en Ciencias de la Educación, en Ciencias Histó-
articulación e integración enseñanza- ricas, en Filosofía, en Letras, en Lingüística, en
extensión-investigación. El trabajo monográ- Turismo, en Biología Humana8 y otra Binacional
fico será de carácter individual o grupal, con en Turismo, desarrollada en conjunto entre la
un máximo de tres integrantes por grupo. Se
le asignan 30 créditos (EUBCA, 2012a, p.
UdelaR (Regional Norte, con sede en Salto) y la
28 y p. 38). Universidad Nacional de Entre Ríos (Argentina).
Dado que la facultad — acompañando el proceso

8
Cuya inclusión en el Área de las Ciencias Sociales y Humanas podría ser discutida, ya que propone tres áreas temáticas
comunes, de las cuales esta ocupa un mínimo de 8 créditos, mientras que las ciencias básicas como Matemática, Física y
Química ocupan 22, y las ciencias biológicas ocupan 37 créditos mínimos (y el resto de los créditos deben ser cubiertos
por asignaturas elegidas mediante orientaciones específicas) (http://www.fhuce.edu.uy/index.php/ensenanza/licenciatu-
ras/licenciatura-en-biologia-humana/plan-de-estudios).

44
de toda la UdelaR — se encuentra en una instancia nas)10 (FHCE, 2010, pp. 14-15; el destacado
de cambio de planes de estudios, tomaremos, a así como el uso de las mayúsculas son del
original).
modo de ejemplo, la Licenciatura en Filosofía9,
cuyo plan vigente es de 2010. Así, según estos documentos, tanto en lo que
En cuanto a créditos, la licenciatura presenta podríamos considerar desde nuestro marco teóri-
296 créditos filosóficos imprescindibles (aquí se co textos académicos propiamente dichos como
incluyen el Seminario de Tesina, que tiene 13, y en aquellas modalidades de evaluación cuya
la Tesina, que tiene 25 créditos), 52 créditos uni- inclusión en esa categoría es dudosa — como el
versitarios electivos y 12 créditos complemen- informe de lectura (FHCE, 2010) — se presupone
tarios obligatorios. una dinámica entre saber y conocimiento propia
El apartado 5 del Plan de estudios es la “Des- de la dimensión heurística del texto académico.
cripción de las modalidades de evaluación” El Reglamento de asistencias y aprobación de
(FHCE, 2010, pp. 14-15), de las cuales “se especi- cursos (FHCE, 1993) prevé tres modalidades de
fican algunas”. Las mencionadas son: control de aprobación de cursos: a través de examen final,
lectura, informe de lectura (descrito como “una pruebas parciales o trabajo de pasaje de curso.
recapitulación reflexiva del contenido de un tex- Respecto de esta última, se expresa:
to filosófico”), exposición oral, prueba parcial o
final, escrita u oral, “escrito filosófico (artículo)”, El trabajo de pasaje de curso podrá adoptar
del que se especifica que “se trata de un texto la modalidad de una monografía, un infor-
filosófico en que el alumno demuestre su capa- me o un conjunto de ejercicios.
cidad de formular una tesis y defenderla, no Cuando el trabajo de pasaje de curso adopte
la modalidad de una monografía o un infor-
exigiéndose originalidad y poseyendo el trabajo me, el tema sobre el que versará será fijado
una extensión estándar de aproximadamente 3 mil de común acuerdo entre el docente del curso
palabras (entre 6 y 8 páginas)”. y el estudiante, quedando registrado en la
A la vez, se destaca: libreta de asistencias.
Sin perjuicio que las fases preparatorias de
Mención especial merece la tesina. Las ca- trabajos de pasaje de curso que impliquen
racterísticas de la misma serán las siguientes: labor de investigación o de exposición críti-
Deberá ser un trabajo de mayor aliento que ca de conocimientos, puedan ser realizadas
el escrito u artículo, donde se aborda un pro- individual o colectivamente, sólo se consi-
blema filosófico, se desarrolla un enfoque derará a los fines de la aprobación de cur-
consistente del mismo y se hace una sos, la presentación de trabajos individuales
evaluación crítica de la situación presentada. o partes sustantivas de trabajos colectivos
No se exigirá originalidad sino capacidad de con autoría individual de cada estudiante
comprensión, análisis y exposición filosófi- (FHCE, 1993, s/p; artículos 10 al 12).
cos adecuados a esta etapa formativa. En el
proceso de elaboración de la tesina corres- Sobre la monografía y el informe regula el
ponde un papel destacado al Seminario de Reglamento de trabajos de pasaje de curso y
Tesina. Este poseerá una importante carga seminarios (FHCE, 1991). En cuanto al informe,
de horas de trabajo semanal. Su aprobación lo define como: “aquel trabajo que da cuenta de
supondrá la realización de un anteproyecto
de Tesina que se presentará al final del Semi-
la elaboración de un proyecto de investigación,
nario y una exposición oral del contenido del refleja los resultados parciales alcanzados en de-
mismo. Siguiendo los formatos más o me- terminada etapa del mismo, o adelanta un aporte,
nos estándares dentro de estudios de grado, también parcial, al mismo” (FHCE, 1991, s/p;
se estima una extensión en el entorno de las artículo 1). A continuación, “y sin que suponga
16 mil palabras (aproximadamente 40 pági-
enumeración taxativa”, el documento propone

9
Es sabido que todas las disciplinas tienen sus especificidades en cuanto a la investigación, por lo que, en otro nivel de
reflexión, la investigación no podría considerarse de manera homogénea. Si bien habíamos tratado el texto académico.
10
El Plan de Estudios anterior, de 1990, no ahondaba en las modalidades de evaluación más que consignando que los
cuatro seminarios previstos para la Opción Investigación debían aprobarse por monografías. Como dato anecdótico, no
documentado, “la tradición” requería de trabajos escritos sustantivamente mayores desde el punto de vista cuantitativo,
que superaban en mucho las 100 páginas.

45
algunos formatos que podría asumir, a modo de entífica, un tema en especial, correspondiente
ejemplos: a una disciplina específica o a un marco inter-
disciplinario. El cumplimiento del requisito
de adecuada elaboración supone el desarrollo
a) una bibliografía comentada o una guía bi- de las siguientes etapas: a) elección de un
bliográfica introductoria a un tema determi- tema particular; b) relevamiento bibliográfi-
nado, consistiendo la tarea en seleccionar los co y de fuentes; c) planteamiento de hipótesis
libros pertinentes y analizar su contenido en significativas; d) elaboración de un plan que
función del tema propuesto. Las referencias ordene los problemas a investigar; e) redac-
sobre las obras mencionadas deberán incluir ción del corpus de la monografía, donde se
algún juicio crítico, además de una somera expone y analiza el tema y se presentan las
caracterización descriptiva; b) una selección conclusiones. Toda monografía incluye no-
de artículos de revistas, debidamente comen- tas de referencia, que remiten a las fuentes
tados, sobre un tema específico; c) un ejerci- empleadas y agrega asimismo un repertorio
cio sobre la base de un temario propuesto, bibliográfico donde se enumeran las obras
que evidencie el manejo de la bibliografía utilizadas en el curso del trabajo (FHCE,
accesible y agregue las reflexiones 1991, s/p; artículo 2).
personales del alumno; d) una lectura crítica
de un texto en cuanto sustento de una
posición teórica o metodológica, o en cuanto
Como puede observarse, la descripción de es-
fuente; e) entrevistas a investigadores, reali- tas dos modalidades de evaluación resulta bas-
zadas a partir de un cuestionario dado, tante exhaustiva.
analizando las respuestas del investigador
elegido o cotejándolas con las de algunos de
sus colegas; f) un informe de relevamiento,
incluyendo a través del manejo de fuentes la
CONSIDERACIONES FINALES
identificación de elementos que sirvan de
base para la investigación y realizando Ya quedó ejemplificado en el apartado anteri-
propuestas de categorización o tipología de or que hay menciones reiteradas al texto acadé-
los mismos; g) una encuesta simple, de mico en los servicios relevados. Parecería que esta
carácter demográfico o de opinión sobre te-
mas que configuren partes integrantes de un
inclusión en los documentos es un tributo al terna-
proyecto de investigación; h) reportajes de rio de la función universitaria — investigación,
historia oral, que puedan recoger enseñanza y extensión —, tan arraigado en
información directa sobre organizaciones nuestra tradición. No obstante, en los documen-
sociales, procesos institucionales, modalida- tos que regulan la Licenciatura en Filosofía —
des culturales, opiniones generacionales,
etcétera; i) estudio de un periódico o una re-
que sería, según la tipología behariana, “de perfil
vista como fuente informativa y como esencialmente académico” — hay un mayor gra-
testimonio de una tendencia o concepción do de precisión en cuanto a lo que se espera de
(ideológica, estética, étnica, etcétera) en los textos académicos que el que aparece en los
relación a un tema circunscripto; j) de la EUBCA — de perfil “marcadamente
recolección de canciones populares, aforis-
mos, refranes, etcétera, conformando
profesionalista”. Esta jerarquización también apa-
repertorios ordenando temáticamente; k) rece en cuanto a los créditos asignados: en Filoso-
comentarios de textos pertenecientes a pro- fía el Seminario y la Tesina totalizan 38 créditos,
tagonistas de determinados acontecimientos, mientras que el trabajo monográfico final de las
analizando sus contextos y significación in- licenciaturas en Archivología y Bibliotecología
trínseca; l) elaboración de un proyecto de
investigación que dé cuenta fundamentada
tiene 30 créditos.
de las etapas señaladas en los literales a), b), En etapas subsiguientes de la investigación,
c) y d) del Art. 2º (FHCE, 1991, s/p; artículo 1). estos primeros datos del análisis documental de-
berán ser contrastados con un análisis de progra-
En este mismo documento, respecto de la mo- mas de algunas asignaturas específicas, entrevis-
nografía, se establece: tas a docentes y lecturas de algunos de los propios
textos producidos por los estudiantes como re-
Se entiende por Monografía un trabajo en quisito para su formación de grado.
que se aborda, con adecuada elaboración ci-

46
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BEHARES, Luis E. (2009) “La investigación de la FHCE (1990) Plan de Estudios de la Licenciatura en
enseñanza en el marco de referencia del ternario Filosofía, Montevideo. Disponible en: http://www.fhu-
investigación-enseñanza-extensión en la Universidad ce.edu.uy/index.php/ensenanza/licenciaturas/licenciatura-
Latinoamericana”. En: Isaia, Silvia M. de Aguiar y Doris en-filosofia/plan-de-estudios-1990.
P. de Vargas Bolzan (orgs.) (2009) Pedagogía Universitaria FHCE (1991) Reglamento de trabajos de pasaje de curso
e Desenvolvimento Profissional Docente, Porto Alegre: y seminarios, Montevideo. Disponible en: http://
EDIPUCRS-Série Ries/Pronex, vol. 4, pp. 389-416. www.fhuce.edu.uy/index.php/component/content/article/
BEHARES, Luis E. (2011a) “Formación de Investigado- 71-bedelia-informacion-estructural/604-gestion-y-servi-
res como Enseñanza Universitaria en el Grado, el caso de cios-bedelia-bedelia-de-grado-reglamento-reglamento-de-
la Universidad de la República”. En: Isaia, Silvia M. de trabajos-de-pasaje-de-curso-y-seminarios.
Aguiar (org.) Qualidade da educação superior: a univer- FHCE (1993) Reglamento de asistencias y aprobación de
sidade como lugar de formação. Vol. 2, Porto Alegre: cursos, Montevideo. Disponible en: http://
EDIPUCS, 73-89. www.fhuce.edu.uy/index.php/component/content/article/
BEHARES, Luis E. (2011b) “Consideraciones sobre el sen- 71-bedelia-informacion-estructural/592-gestion-y-
tido de las ‘pedagogías’ y las ‘didácticas’ universitarias, servicios-bedelia-bedelia-de-grado-estudiantes-
con especial referencia a la experiencia uruguaya”, Revis- reglamento-reglamento-de-asistencias-y-aprobacion-de-
ta Educação, Santa Maria: UFSM, v. 36, n. 3, set./dez. 2011; cursos.
pp. 337-350. FHCE (2010) Plan de Estudios de la Licenciatura en
BLEZIO, Cecilia y Juan Manuel Fustes (2011) “El proceso Filosofía, Montevideo. Disponible en: http://
de reescritura del texto académico producido por los desarrollo.fhuce.edu.uy/images/UAE/Planes_estudio/
estudiantes en el grado universitario”, Didáskomai, licenciatura_en_filosofia_2010.pdf.
Montevideo: FHCE, Nº 1, 2010; pp. 41-55. LACAN, Jacques (1971-1972) Seminario 19. … O peor,
DE SAUSSURE, Ferdinand (1916) Curso de lingüística Buenos Aires: Paidós, 2012.
general, Buenos Aires: Losada, 1967. LACAN, Jacques (1974) Seminario 21. Los incautos no
DE LEMOS, Claudia G. T. (2000) “Questioning the notion yerran (Los nombres del padre), inédito.
of development: the case of language acquisition”, en Ca- LACAN, Jacques (1975) “Conferencia en Ginebra sobre
dernos de estudos lingüísticos, Campinas: Unicamp. el síntoma”, en Lacan, J. (1988) Intervenciones y textos 2,
EUBCA (2012a) Plan de Estudios para las carreras de Buenos Aires: Manantial, 2001; pp. 115-144.
grado de la EUBCA, Montevideo. Disponible en: http:// MILNER, Jean-Claude (1989) Introducción a una ciencia
www.eubca.edu.uy/sites/default/files/text/ensenanza/ del lenguaje, Buenos Aires: Manantial, 2000.
Plan%20Estudios%20EUBCA.pdf.
MILNER, Jean-Claude (1995) La obra clara, Buenos Aires:
EUBCA (2012b) Disposiciones reglamentarias sobre mo- Manantial, 1996.
dalidades de cursado, control de asistencias y evaluación
de los cursos del Ciclo Inicial del Plan de Estudios 2012, UDELAR (s/f) Portal de la Universidad de la República,
Montevideo. Disponible en: http://www.eubca.edu.uy/sites/ www.universidad.edu.uy.
default/files/text/noticias/DISPOSICIONES%20RE- UDELAR (2011) Ordenanza de estudios de grado y otros
GLAMENTARIAS%20CICLO%20INICIAL.pdf. programas de formación terciaria, Montevideo. Disponible
en:
http://www.cse.edu.uy/sites/www.cse.edu.uy/files/docu-
mentos/ORDENANZA%20DE%20GRADO-DEFINI-
TIVA%20Oct2011.pdf.

47
CULTURA ESCRITA E FORMAÇÃO DOCENTE: SABERES E FAZERES
NAS PRÁTICAS DE ALFABETIZAÇÃO

Doris Pires Vargas Bolzan


Giovana Fracari Hautrive
Adriana Claudia Martins Fighera
Universidade Federal de Santa Maria

SITUANDO AS PESQUISAS saberes são necessários aos múltiplos contextos


educativos.
É possível reconhecer a dificuldade da unida- Nesse sentido, a escola é um lugar potencial
de da língua portuguesa no Brasil, considerando de produção de um espaço de aproximação cul-
a extensão e a formação histórica e cultural do tural dos sujeitos aprendizes. É por meio dela que
nosso país. Neste contexto, a formação de pro- se pode criar condições de integração de diferen-
fessores alfabetizadores na língua portuguesa e a tes variações dialetais que abarcam a comunida-
sistematização do ensino desta língua na escola é de linguística deste contexto.
nosso interesse de estudo no Grupo de Pesquisa Para Kirschi et al. (2003)
Formação de Professores e Práticas Educativas:
educação básica e superior (GPFOPE), a partir A escola de hoje vive um momento de tran-
dos projetos Atividades diversificadas na sala de sição, necessitando abrir espaços para que
os profissionais que ali atuam possam refle-
aula: compartilhar e reconstruir saberes e faze- tir sobre sua prática, uma vez que por muito
res (2003/2008); O aluno/professor do curso de tempo utilizava-se da escrita como um deter-
pedagogia e a alfabetização: construções peda- minante do status social, inatingível e imu-
gógicas e epistemológicas na formação profissi- tável. Atualmente, sabemos que a escrita re-
onal (2002/2006); Cultura escrita: inovações vela muito sobre a criança, sua história e sua
visão de mundo. Mais que isto, a análise de
metodológicas na escola (2009/2011) e Cultura sua escrita anuncia suas concepções, suas
escrita: saberes e fazeres docentes em constru- hipóteses, sua maneira de perceber o mundo
ção (2012/2014). Estes projetos inserem-se na e, para além disto, como é vista pelo mundo,
linha de pesquisa: Formação, saberes e desenvol- por sua comunidade, por sua escola, por seu
vimento profissional do programa de Pós-gradu- professor, por seus pais ( p.5)
ação em Educação do Centro de Educação, da
Universidade Federal de Santa Maria/RS/Brasil. Logo, o alfabetizador, ao explorar as possibi-
Tais estudos têm nos permitido problematizar lidades de cada criança, respeitando o seu nível
questões relacionadas à cultura linguística e como de construção da lectoescrita, estará percebendo
esta nos constitui socialmente como produtores seus alunos como sujeitos históricos singulares
da nossa própria língua. Diante de uma cultura que iniciam a construção de suas hipóteses de
linguística que não é única, compreendemos que escrita muito antes de entrarem no convívio es-
é preciso a mobilização das instituições de ensi- colar, permitindo assim que criem significação
no para reconhecer a existência de dialetos de para suas produções, construindo e reconstruin-
diferentes comunidades linguísticas. Torna-se do suas hipóteses, desencadeando uma aprendi-
importante destacar que a escola precisa reconhe- zagem significativa, oferecendo-lhes espaço de
cer a cultura do estudante para elaborar uma ação autonomia e autoria de pensamento para regis-
pedagógica voltada à sua realidade. Portanto, uma trar sua palavra como um valor único e pessoal.
política linguística cultural que dê conta de um Se acreditarmos que uma criança que não es-
cenário que é diverso e específico é uma necessi- creve nunca lerá ou nunca conseguirá escrever,
dade que necessita ser pensada desde a formação estaremos negando o fato de que ambas as cons-
inicial do professor. O investimento no desenvol- truções fazem parte de um processo pelo qual
vimento profissional implica problematizar quais todos nós passamos. Assim, o que nos diferencia
não é o processo em si, mas como vivenciamos,

49
elaboramos e, finalmente, consolidamos este pro- [...] ações, valores, procedimentos e instru-
cesso (KIRSCHI et al. 2003). mentos que constituem a cultura grafocên-
trica na qual estamos inseridos. É um pro-
Assim, nosso interesse de investigação é ex- cesso no qual os estudantes compreendem
plorar e problematizar diferentes estratégias pe- os usos e funções sociais da escrita a partir
dagógicas como alternativas capazes de favore- das práticas. Este processo de apropriação
cer o avanço do processo de construção da escri- da língua implica a compreensão de que as
ta de crianças em idade escolar voltadas à diver- experiências em contextos educativos podem
gerar práticas e necessidades de leitura e de
sidade do ensino da língua materna, em classes escrita que darão sentido e significado às
de alfabetização, bem como refletir sobre a for- aprendizagens a partir do contexto socio-
mação de professores alfabetizadores na língua cultural dos sujeitos deste processo (BOL-
portuguesa. ZAN, SANTOS, POWACZUK, 2013, p. 109).
Acreditamos que a formação de professores
precisa contemplar o que está indicado na Lei de Portanto, a proposição de atividades pedagó-
Diretrizes e Bases Nacional sobre a considera- gicas implementadas nas classes de alfabetiza-
ção da necessária aproximação do ensino da lín- ção acompanhadas exige a construção de estra-
gua materna à realidade das comunidades esco- tégias diversificadas de leitura e de escrita, capa-
lares, enfatizando que é essencial despertar a zes de estimular os aprendizes, valorizando a
consciência dos/nos professores para esse ensi- cultura escrita da qual são portadores.
no. Buscamos também como ações de pesquisa
construir coletivamente atividades diversificadas
para favorecer as diferentes rotas cognitivas exis- A ESCOLA, A DOCÊNCIA E O ENSINO
tentes nos grupos acompanhados, contemplando DA LECTOESCRITA: ATIVIDADES
um conjunto de atividades de leitura e de escrita DIVERSIFICADAS EM FOCO
variadas que sejam potencializadoras de ruptu-
ras e avanços no processo de alfabetização. A metodologia adotada para o desenvolvimen-
Bolzan, Santos e Powaczuk (2013, p.103) nos to deste trabalho é de cunho qualitativo, de dese-
ajudam neste entendimento quando dizem que “o nho etnográfico, com base em observações parti-
processo de sucessivas aproximações entre o que cipantes e análise das narrativas docentes. Neste
se sabe e o que se deseja saber, na língua oral e tipo de estudo a interação entre o pesquisador e o
escrita, não pode ser considerado um erro, mas seu objeto de estudo aparece como um importan-
uma possibilidade de experimentação natural en- te instrumento mediador na coleta dos dados, tor-
tre dialetos e, portanto, possui um tempo neces- nando possível a modificação de técnicas e es-
sário para as substituições convencionais”. Des- tratégias para o desenvolvimento da pesquisa
se modo, o trabalho pedagógico precisa ser pen- (ANDRÉ, 2000). As observações participantes
sado e organizado levando em conta os múltiplos implicam um certo grau de interação entre o pes-
contextos linguísticos. quisador e o ambiente estudado, afetando ambos.
Assim, o recorte aqui apresentado indica dois Já a análise dos relatos está a serviço da contextua-
momentos das pesquisas: um deles é o espaço de lização dos fatos da realidade escolar, sendo ponto
reflexão compartilhada acerca dos saberes e fa- de partida para os estudos baseados em fontes
zeres sobre alfabetização, suscitando avanços teóricas, além de compreender os modos de or-
neste campo. O outro momento trata do acompa- ganização pedagógica adotada pelos professores
nhamento em sala de aula, de estudantes das clas- alfabetizadores.
ses de alfabetização que participaram de ativida- Neste sentido, o trabalho desenvolvido a par-
des diversificadas de leitura e escrita, organiza- tir do acompanhamento de classes de alfabetiza-
dos a partir das diferentes necessidades, ritmos ção em escolas dos sistemas públicos de ensino
de aprendizagens e estilos cognitivos, presentes municipal e estadual de Santa Maria, por meio
no contexto da escola. da análise de situações de sala de aula, possibili-
Nosso enfoque refere-se à cultura escrita que ta-nos compreender melhor, de que forma o pro-
se caracteriza pelas: fessor se situa como mediador da ação pedagógi-
ca, exercendo o papel de gestor do conhecimen-

50
to. Permite-nos também reconhecer e identificar Os encontros foram realizados quinzenalmen-
os modos de construção de hipóteses, de ideias e te, alternando o local da reunião entre Universi-
de concepções acerca da leitura e de escrita apre- dade Federal Santa Maria (UFSM) – Centro de
sentados pelos sujeitos desse processo. Educação e nas escolas participantes dessa inves-
Acreditamos que um trabalho dessa natureza tigação. Constituiu-se, portanto, em um espaço
implica compreender as formas de interação e de reflexão compartilhada, envolvendo os sabe-
mediação capazes de proporcionar o avanço na res e fazeres acerca do processo de alfabetiza-
construção de hipóteses, ideias e concepções acer- ção, viabilizando aos professores das escolas, aca-
ca da lectoescrita, assim como, permite o envolvi- dêmicos e demais integrantes do grupo de pes-
mento dos professores regentes destas classes re- quisa, a revisão, o aprofundamento e a produção
fletirem sobre o seu trabalho pedagógico. Desse de conhecimentos nesta área.
modo, as atividades colaborativas envolvendo Inicialmente, foram realizados mapeamentos
leitura e escrita têm um papel preponderante nes- das abordagens de alfabetização utilizadas nas
tas construções, colocando em destaque os ante- classes a partir dos relatos das professoras regen-
cessores cognitivos construídos pelas crianças ao tes, bem como diagnósticos dos níveis de cons-
longo de suas experiências escolares e extraesco- trução da lectoescrita nas turmas acompanhadas.
lares, repercutindo em inovações nas práticas de O mapeamento inicial realizado favoreceu a ela-
alfabetização criadas pelos docentes. (BOLZAN boração de estratégias pedagógicas com a finali-
1997, 1998, 2001, 2002, 2003, 2005, 2007 a, b e dade de atender as necessidades e os interesses
c, 2008a e b, 2009, 2010, 2011a e b, 2012a e b). dos grupos acompanhados. A partir disso, esta-
Logo, buscamos, a partir das estratégias beleceu-se uma sistemática de colaboratividade
metodológicas construídas e desenvolvidas no e na organização de atividades diversificadas de
pelo grupo, juntamente com os regentes das clas- leitura e escrita.
ses de alfabetização, proporcionar condições de Esse processo de interação e colaboração ca-
protagonismo pedagógico e autonomia cognitiva racterizou-se pela atividade conjunta/comparti-
aos diferentes sujeitos envolvidos na pesquisa, lhada, dirigida conjuntamente pelos sujeitos en-
assim como possibilitar o estudo e a discussão volvidos nesse processo. Professores, estudantes
sobre que mediações e interações podem favore- colaboradores e pesquisadores reorganizam, de-
cer o avanço da construção de hipóteses infantis. finem e redefinem o processo de intervenção a
Nessa perspectiva, é possível considerar que cada passo. Acreditamos, portanto, que a base de
a infinidade de proposições pedagógicas construí- toda atividade cooperativa é a ação conjunta. Há
das no coletivo da escola exigem a criação de negociação e conflitos, estabelecendo-se uma
condições adequadas para tal finalidade, pois não rede de relações que compõem todo processo
é em meio ao imediatismo do cotidiano docente interativo e mediacional. Faz-se necessário ter
que os professores conseguirão o protagonismo presente que um trabalho dessa natureza exige
pedagógico necessário para implementá-las. apropriação de significações e [re]contextuali-
Objetivando contemplar tais considerações, os zações próprias aos fazeres e saberes das práti-
integrantes do GPFOPE, juntamente com as re- cas alfabetizadoras (BOLZAN, 2001, 2005). As-
gentes das turmas, desenvolveram e acompanha- sim, foram elaboradas propostas de circuitos de
ram a realização das atividades previamente ela- atividades diversificadas de leitura e escrita.
boradas e discutidas coletivamente nos encontros Segundo Bolzan, Santos e Powaczuk, (2013)
de estudos. esta dinâmica consiste no desenvolvimento de um
Para desenvolver a pesquisa foram constituí- conjunto de atividades realizadas concomitante-
dos grupos de apoio, integrados pelos membros mente pelos estudantes, que organizados em pe-
do GPFOPE e pelos alfabetizadores para cada quenos grupos realizam atividades do circuito.
uma das escolas participantes da investigação, os Esses circuitos de atividades têm como eixo
quais construíram atividades diversificadas de articulador uma determinada temática.
leitura e de escrita subsidiadas pelas discussões
e aprofundamentos teóricos realizados nos encon- As atividades são dispostas em cada grupo
tros de estudos. após a mobilização para o tema em questão,

51
partindo de um incentivo, que pode ser, por se o esforço dos professores com relação a este
exemplo, a leitura de uma história ou uma tipo de proposição, na medida em que a centrali-
conversa no grande grupo, dentre outras pos-
sibilidades. No momento da distribuição das
dade do processo deixa de estar a cargo dele, pas-
atividades são realizadas explicações perti- sando a circular colaborativamente entre os estu-
nentes ao seu desenvolvimento, conferindo dantes.
ao grupo a autonomia para criar ou recriar A realização das atividades de forma coope-
regras de acordo com seus interesses, neces- rativa, ao criar espaços para os estudantes con-
sidades e vivências. Nesta dinâmica de cir-
cuito é estipulado um tempo para a realiza-
frontarem suas hipóteses e ideias com seus pa-
ção das atividades nos grupos. A definição res, tem colocado a diversidade como
deste tempo requer um planejamento cuida- potencializadora das situações de intercâmbio e
doso das estratégias a serem desenvolvidas, de tomada de consciência, além de viabilizar o
uma vez que o andamento das mesmas deve redimensionamento do papel do professor como
estar em sincronia, de modo que os grupos
mantenham-se envolvidos na sua realização.
único informante a ser consultado, uma vez que
Ao término ou durante o próprio desenvol- cada integrante dos grupos pode ser reconhecido
vimento da atividade diversificada, cada gru- como capaz de responder as demandas decorren-
po de crianças recebe uma proposta de re- tes das atividades diversificadas.
gistro flexível aos seus níveis e hipóteses de Nesta perspectiva, procuramos destacar, no
construção da leitura e da escrita. Esses re-
gistros visam à promoção de confrontos de
recorte aqui apresentado, a importância do pro-
hipóteses e pontos de vista acerca da fessor na organização e na mediação dos proces-
lectoescrita, a partir da interação entre pares sos interativos no espaço de sala de aula, uma
ou sujeitos mais capazes. O circuito de ati- vez que:
vidades diversificadas caracteriza-se como [...] não são todas as interações que são pro-
um processo potencializador das aprendiza- dutivas, as mais produtivas são as realizadas
gens por meio de atividades colaborativas entre sujeitos que estão em níveis diferen-
(BOLZAN, SANTOS, POWACZUK, 2013, p. 109). tes, porém próximos de desenvolvimento.
Quando a diferença de nível entre os sujei-
Deste modo, tais registros visam promover tos que interagem é muito grande, o sujeito
entre os sujeitos, o confronto de suas hipóteses e menos avançado pode ignorar o conflito ou
a convivência dos diferentes níveis cognitivos não compreender onde o mesmo está locali-
zado. Para uma convergência resultar efeti-
como elementos potencializadores das atividades vamente conflitiva, ou seja, o sujeito tem de
colaborativas, capazes de direcionar o processo possuir os instrumentos intelectuais que pos-
de construção da leitura e da escrita. Esta situa- sam tornar possível o conflito, tem de ser
ção acaba por favorecer também o redimensiona- capaz de efetuar a acomodação requerida
mento da figura do professor frente a este pro- para a elaboração de novas coordenações
(LERNER, 2000, p.109).
cesso, destituindo-o da posição centralizadora em
relação à construção do conhecimento dos estu- Lerner (2000) e Salvador (1994) indicam que
dantes à medida que ele passa a construir sua au- as atividades de ensino e de aprendizagem não
tonomia e a reconhecer-se como um informante podem ser vistas com uma série de encontros fe-
em potencial (BOLZAN, 2007a, b e c). lizes entre o estudante e o conteúdo da aprendi-
Assim, o trabalho realizado junto às escolas zagem. É necessário levar em conta as atuações
possibilita-nos identificar a relevância da dinâ- do professor, encarregado de planejar sistemati-
mica de circuito como forma de mediação peda- camente estes encontros, tornando-se assim um
gógica. Não somente pela possibilidade de pro- mediador, determinando com suas intervenções,
mover uma organização pedagógica distinta da- a apropriação do processo de construção de co-
quela que acontece rotineiramente no contexto nhecimento dos estudantes. Desta forma, as ati-
escolar, mas também por gerar confronto e des- vidades desenvolvidas foram elaboradas e pen-
centração dos pontos de vistas e concepções acer- sadas na direção de “[...] criar um lugar em que a
ca das práticas de leitura e escrita iniciais. criança [estudante] é chamada a exprimir-se, logo,
Nos estudos realizados por Bolzan (1997, a criar, a explorar, a construir e também a ver-se
1998, 2001, 2002, 2003, 2005, 2007a, b e c, 2008a confrontada com pontos de vista diferentes do
e b, 2009, 2010, 2011a e b, 2012a e b) evidencia- seu” (PERRET-CLERMONT, 1982, p.231).

52
Ao problematizarmos a proposição de ativi- tessitura de ideários que vão se redesenhando de
dades diversificadas precisamos considerar o de- forma compartilhada, criando-se uma rede de
senvolvimento das bases necessárias para a aqui- interações tecida pela oportunidade dos profes-
sição de leitura e escrita. Isto implica que o pro- sores confrontarem seus pontos de vistas em re-
fessor, em seu trabalho, considere a atividade lação aos saberes e fazeres que produzem cotidi-
principal de cada etapa do desenvolvimento psí- anamente, favorecendo assim, o processo de
quico da criança. Pois, é por meio da experimen- aprender a ser professor.
tação que a criança assimila as funções e condu- Aquele professor que se permite à experimen-
tas socioculturais, uma vez que a ludicidade tação de atividades diversificadas envolvendo a
possibilita que ela se coloque no lugar do outro, leitura e a escrita pode constatar os avanços na
assumindo comportamentos de acordo suas aprendizagem dos estudantes, além de incorpo-
vivências, favorecendo a expressão de suas con- rar a ludicidade como elemento central na sua
cepções, ideais e hipóteses acerca da lectoescrita. dinâmica pedagógica. Tal atitude poderá levá-lo
Estes elementos contribuem à apropriação da lín- a modificar significativamente seus modos de
gua escrita. atuação e produção pedagógica. Este conjunto de
Ferreiro (1990) destaca em seus estudos que o evidências sinaliza a importância da problema-
ensino da língua, muitas vezes, é voltado aos as- tização e da exploração das práticas alfabetiza-
pectos figurativos da escrita que tratam do traça- doras.
do, da orientação espacial, dos tipos de letras, ao Nesta direção, destacamos a necessidade de
invés de explorar os aspectos construtivos que que na formação de professores alfabetizadores
dizem respeito a quais letras e composições a cri- os conhecimentos sobre os estudos sociolinguís-
ança pode usar para construir suas ideias sobre o ticos e culturais sejam ampliados como forma de
sistema de representação alfabético. Vygotski qualificar a atuação docente por meio de/a:
(2007) referenda estas ideias enfatizando que o - estratégias pedagógicas que contemplem a
ensino mecânico da leitura acaba obscurecendo inclusão de diferentes especificidades do
a linguagem escrita como tal. Para este autor, o contexto sociocultural;
ensino da leitura e da escrita precisa ser pensado - atividades diversificadas que consideram o
a partir da sua organização, deve deixar de ser protagonismo da escrita das crianças, valo-
dirigido, ao contrário, precisa levar em conta às rizando seus conhecimentos prévios e se efe-
necessidades de aprendizagem dos sujeitos des- tivando nas atividades lúdicas, elemento
se processo. mobilizador para a aprendizagem da língua
Destacamos assim, a necessidade de investir materna;
em atividades lúdicas, envolvendo a interação e - compreensão de que cada criança possui uma
o compartilhamento entre as crianças como es- rota cognitiva própria;
senciais à constituição das bases da construção - valorização da atividade colaborativa (com-
da leitura e escrita iniciais. É neste sentido que a partilhamento entre pares) no contexto da
ludicidade deve permear o circuito de atividades sala de aula como forma de estimular o su-
diversificadas em sala e aula. cesso da aprendizagem;
- abandono dos preconceitos linguísticos e
sociais;
APONTAMENTOS ATUAIS: DOCÊNCIA E - organização de circuitos de alfabetização
ALFABETIZAÇÃO capazes de potencializar a construção da lei-
tura e da escrita, considerando a produção
É fundamental considerarmos como parte da de sentidos e significados expressos pelas
prática alfabetizadora a viabilização de espaços crianças em suas hipóteses, valorizando o
para que os professores compartilhem e reflitam contexto linguístico e sociocultural em que
sobre os conhecimentos pedagógicos que produ- elas estão inseridas;
zem. Segundo Bolzan (2007a, b e c), o processo - importância de despertar o interesse das cri-
de reflexão compartilhada é imprescindível à anças para a aprendizagem da língua mater-
aprendizagem docente, à medida que permite a

53
na como um objeto social e cultural que as Como evidenciado, um trabalho dessa nature-
aproximem de seus contextos linguísticos; za implica o incremento dos espaços de interlo-
- valorização da cooperação e da criação de cução pedagógica, no qual os professores reco-
espaços para que os estudantes confrontem nheçam a reciprocidade existente entre o apren-
suas hipóteses e concepções. der e o ensinar. O professor ao se considerar como
um sujeito aprendente está se colocando diante
Acreditamos que os elementos destacados são da possibilidade de produzir novas formas de
preponderantes para avanço das práticas alfabe- construir a docência, experienciando sua condi-
tizadoras, tendo em vista que viabilizam aos es- ção de autoria e de protagonismo docente, o que
tudantes o domínio progressivo da variedade de demanda novos saberes, novos desafios e a
discursos que a escrita permite realizar. vivência da inquietude professoral.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDRÉ, Marli. E. Etnografia da prática escolar. São _______. Atividades Diversificadas em sala de aula: com-
Paulo: Papirus, 2000. partilhando e reconstruindo saberes e fazeres sobre a leitu-
BOLZAN, Doris Pires Vargas. et al. A importância dos ra e a escrita. Relatório Final do Projeto de Pesquisa
antecessores cognitivos no processo de construção da lei- Interinstitucional e Integrado. Registro no GAP nº 13964,
tura e da escrita: uma análise das primeiras séries. Projeto CE/UFSM, 2008b.
de Pesquisa e Extensão, registrado no GAP nº 5040, ______. Cultura Escrita: inovações metodológicas na es-
PROLICEN, CE/UFSM, 1997-1998. cola. Projeto de Pesquisa e Extensão, registrado no GAP
BOLZAN, Doris Pires Vargas. Interações e mediações na nº 023824, PROLICEN, CE/UFSM, 2009-2011a.
Construção do Conhecimento Pedagógico Compartilhado: ______. Cultura Escrita: inovações metodológicas na es-
um estudo a partir de narrativas de professoras do ensino cola. Relatório final do Projeto de Pesquisa e Extensão,
fundamental. 2001.268f. Tese (Doutorado em Educação)- registrado no GAP nº 023824, PROLICEN, CE/UFSM,
Faculdade de Educação, Universidade Federal do Rio Gran- 2010, 2011b.
de do Sul, Porto Alegre, 2001. _______. Cultura Escrita: saberes e fazeres docentes em
_______. Atividades Diversificadas em sala de aula: com- construção. Projeto de Pesquisa e Extensão, registrado
partilhando e reconstruindo saberes e fazeres sobre a leitu- no GAP nº031278, PROLICEN, CE/UFSM, 2012a-2014.
ra e a escrita. Projeto de Pesquisa Interinstitucional e ______. Cultura Escrita: saberes e fazeres docentes em
Integrado. Registro no GAP nº 13964, CE/UFSM, 2003- construção. Relatório Parcial do Projeto de Pesquisa e
2008a. Extensão, registrado no GAP nº 031278, PROLICEN, CE/
______. O aluno/professor do curso de pedagogia e a alfa- UFSM, 2012b.
betização: construções pedagógicas e epistemológicas na _______. SANTOS, E.; POWACZUK, A. Cultura escrita:
formação profissional. Projeto de Pesquisa aprender a ler e escrever na escola. Dossiê: Escritas em
Interinstitucional e Integrado. Registro no GAP nº 12169, contextos. V.38 n.1. Revista do Centro de Educação. Jan/
CE/UFSM, 2002- 2007a. abr.2013.
______. Formação de professores/as: reflexões sobre os FERREIRO, E. A escrita antes das letras. In: SINCLAIR,
saberes e fazeres na escola. In ANTUNES, Helenise Sangoi Hermine (Org.). A produção de notações na criança. São
(Org.). Práticas educativas: repensando o cotidiano dos Paulo: Editora Cortez, 1990.
professores em formação. Santa Maria: Universidade Fe-
deral de Santa Maria, Pró Reitoria de Graduação, 2005. LERNER, D. O real, o possível e o necessário. Porto Ale-
gre: Artmed, 2000.
______. Cultura Escrita na sala de aula: compartilhando e
reconstruindo saberes. In: BOLZAN, Doris Pires Vargas. PERRET-CLEMONT, A. N. Desenvolvimento da inteli-
(Org.). Leitura e escrita: ensaios sobre alfabetização. gência e interação social. Lisboa: instituto Piaget – Hori-
Santa Maria/RS: Editora da UFSM, 2007b. zontes Pedagógicos, 1982.
______. Aprendizagem docente e processos formativos: SALVADOR, C. C. Aprendizagem escolar e construção
novas perspectivas para educação básica e superior. Pro- de conhecimento. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.
jeto de Pesquisa Interinstitucional e integrado. Regis- VYGOTSKI, L. A formação social da mente. São Paulo:
tro no GAP nº 020117, CNPq/PPGE/CE/UFSM, 2007c. Martins Fontes, 2007.

54
ALFABETIZACIÓN SEMIÓTICA EN LAS FRONTERAS

Ana Camblong
Universidad Nacional de Misiones

PRIMER PLANTEO Dicho esto, demasiado sintético para resguar-


dar el rigor y la complejidad de la teoría, podrí-
Esta investigación se lleva a cabo en la amos agregar que privilegiamos la “experiencia”
Provincia de Misiones, territorio fronterizo lin- y la “conversación” como columnas vertebrales
dante con Brasil y Paraguay, cuya población pragmáticas de la continuidad en los aprendizajes
multiétnica y plurilingüe, determina una matrí- (J. Dewey). Entonces, cuando decimos “alfabeti-
cula escolar heterogénea con problemática zación semiótica” nos referimos a una modalidad
compleja y singular, no solo en etapa de alfabe- de trabajo que incluye las significaciones y el sen-
tización sino a través de todo el sistema educativo. tido de las prácticas en una metodología integra-
Si bien nuestros primeros diagnósticos, hace ya dora. Esta perspectiva supone una estrategia
35 años, se encuadraron en la Sociolingüística, abarcadora de experiencias de aprendizajes “si-
muy pronto tuvimos que emigrar hacia otro tuadas aquí y ahora”, una escucha e interpretación
enfoque que nos permitiera abordar el lenguaje docente especializada con miras a hacerse cargo
inmerso en las tramas socioculturales que lo de las idiosincrasias semióticas de los niños. Con
sustentan y le dan sentido. Fue así que nuestros tal motivo, utilizamos el concepto de “semiosfe-
estudios se desplazaron al paradigma disciplinar ra” concebido por I. Lotman, porque además de
de la Semiótica en cuyo marco hemos elaborado contribuir al abordaje global de los lenguajes in-
nuestra propia alternativa. En primer lugar, habría sertos en semiosis, a la vez adopta un enfoque
que consignar que el “realismo crítico pragmáti- espacial, lenguaje primario que nuestra propuesta
co” de Ch. S. Peirce nos permite adoptar sus pone en relieve. Toda “semiosfera” posee
premisas como coordenadas básicas organizado- “fronteras” estipula la definición canónica, puesto
ras del conjunto de formulaciones de la investiga- que ninguna lengua, ninguna práctica semiótica,
ción En este sentido, el principio de “continuidad” ninguna significación, ningún sentido es univer-
plasmado en la noción de “semiosis infinita”, sal ni eterno. Las “fronteras” introducen disconti-
brinda la posibilidad de encarar un proceso inte- nuidades propias de los límites culturales, de la
gral y de prácticas semióticas en correlaciones historia y convenciones sociales de los diferen-
múltiples y polivalentes. El lenguaje articulado tes grupos comunitarios. Aun en la era de la glo-
con espacios, tiempos, objetos, cuerpos, con toda balización tecnológica, las “fronteras” lingüísti-
interacción humana y con el mundo. El continuo cas siguen vigentes y los “sitios” digitales repro-
semiótico material y consistente, involucra los ducen la dimensión espacial en el ciberespacio.
cuerpos en aprendizajes permanentes, esto es: Al parecer, el espacio “humano, demasiado hu-
“hábitos” investidos de valores y creencias. En mano” sigue pautando e interviniendo en nuestros
segundo término, cabe notar que esta “dinámica inventos de interacción más desarrollados. Pero
habitual” responde siempre a condiciones “co- volvamos a la mera tierra en la que una comunidad
munitarias” que presionan sus determinaciones “habitante” de tal o cual lugar lo convierte en
insertas en memorias semióticas compartidas. Las “hábitat” con sus costumbres, sus modos de in-
significaciones y los sentidos inscriben sus terpretar el mundo y la vida misma1.
correlatos en la comunidad como garante de las Trabajamos pues en la encrucijada de fron-
inestables convenciones históricas y sociocul- teras geopolíticas y al mismo tiempo de fronteras
turales. En tercer lugar, se contempla la presen- entre lo rural y lo urbano, fronteras ideológicas y
cia inexcusable del “azar” interviniendo en las éticas, fronteras lingüísticas y consuetudinarias;
contingencias de determinaciones y discontinuidades. fronteras entre lo periférico y lo central aunque

1
Cf. A. Camblong (2012) “Habitantes de fronteira”. Cuadernos de Recienvenido. Nº 27, Unversidade de Sâo Paulo.

55
hoy se aduzca el descentramiento del mundo, En la actualidad estoy en condiciones de sin-
nosotros, los habitantes del borde, acusamos re- tetizar algunas característica semióticas del “um-
cibo de una concentración escandalosa del poder bral” en una escueta enumeración:
en sus múltiples manifestaciones.
1) Tiempo-espacio de pasaje: amalgama en su
ensamble un proceso de tránsito y transi-
SEGUNDO PLANTEO torio, un pasaje de cronicidad efímera. Se
supone que hay que recorrer determinadas
Si bien hemos elaborado un modelo teórico pruebas, ejercicios, circunstancias cuyas
con matrices2 que dan cuenta del trayecto de duraciones son muy difíciles de estipular a
aprendizajes semióticos del/a niño/a desde su na- priori, pero que se sabe, deben ser supera-
cimiento hasta el momento de incorporarse al das para acceder a los aprendizajes escola-
ámbito escolar que he denominado “umbral”, aquí res. En este tiempo-espacio toda la actua-
me veo obligada a detener el foco exclusivamen- ción posee un fuerte sesgo de modalidades
te en dicho concepto. La genealogía de mi pro- incoativas: múltiples inicios convergentes,
puesta sobre el “umbral” remite directamente al múltiples comienzos inconclusos, inacaba-
trabajo de campo para la alfabetización en dos. Tanteos, vacilaciones, dudas, ensayos.
fronteras rurales, circunstancias en las que me Se empiezan muchas variaciones a la vez y
interrogaba sobre la “situación de pasaje” del niño se abandonan muchas alternativas. Plurali-
que va del diálogo familiar y vecinal al inicio del dad y contingencia ponen en escena el deve-
diálogo escolar y comunitario. Este recorte pun- nir indiscriminado, el movimiento continuo
tual y empírico me condujo a un conjunto de lec- en tanto base semiótica del sentido. Emer-
turas, indagaciones y reflexiones buscadoras de gencia de factores característicos del “diá-
nociones que pudieran desplegar una red teórica logo primario” con variadas alternativas e
con miras a sustentar las metodologías y las incidencias semióticas azarosas.
intervenciones didácticas. Aquí habría mucho ma- 2) Sustentación lingüística: notable debilita-
terial y experiencias que referir, pero ante la eco- miento del lenguaje en tanto práctica
nomía de un artículo, consignamos el punto nodal semiótica de andamiajes estructurantes de
del hallazgo de la noción de “umbral” tomada de redes socioculturales. Se registran severas
M. Bajtín al postular sus famosos “cronotopos” dificultades para la producción lingüística,
en la Teoría de la novela, cuando dice: “Citare- o bien, una anulación de tal posibilidad. Las
mos aquí un cronotopo más, impregnado de una producciones semióticas refuerzan sus arti-
gran intensidad emotivo-valorativa: el umbral. culaciones y correlatos con los demás com-
Éste puede ir también asociado al motivo del ponentes de las redes de significación. El
encuentro, pero su principal complemento es el lenguaje abandona su centralidad y su
cronotopo de la crisis y la ruptura vital”. (1989: capacidad integral tanto para generar,
399). A partir de esta breve cita me lancé a estu- cuanto para sustentar los universos
diar, investigar e imaginar toda una ingeniería semióticos.
teórica que diera cuenta de la intrincada dinámica 3) Crisis de los interpretantes: lo señalado en
del “umbral” en el caso del niño en su inicio esco- los puntos anteriores provoca una laxitud
lar. Mi gran preocupación ha sido y sigue siendo en los correlatos interpretantes que se ven
despojar los desarrollos de psicologismo, no por- comprometidos en movimientos inestables,
que lo considere inconducente, sino porque pre- turbulencias disipativas, vorágines o
tendo circunscribir mis reflexiones al campo dis- torbellinos que afectan profundamente las
ciplinar de la Semiótica y utilizar categorías des- polivalencias de redes semióticas y los
tinadas a las operaciones sígnicas de la interacción encadenamientos habituales. Conmoción
en la vida cotidiana.
2
Las matrices se denominan: “diálogo primario”, “diálogo familiar”, “diálogo vecinal” y “diálogo comunitario”, cada una
requiere su propio despliegue teórico-metodológico y sus respectivas injerencias en el proceso alfabetizador. Ver
Alfabetización semiótica en las fronteras, Volumen 1, 69-102.

56
integral de la semiosis – proceso infinito guración que transforma lo anterior con
de significación. rangos de organización y equilibrio varia-
4) Relieves fáticos-conativos: el dos e inestables.
debilitamiento de las prácticas lingüísticas Una vez expuestos los principales rasgos defi-
y la crisis de los interpretantes promueven nitorios del “umbral”, estamos en condiciones de
un refuerzo de las significaciones susten- notar que emergen en este trance aspectos del
tadas por gestos, distancias, contactos, olo- “diálogo primario” caracterizado por la presen-
res, miradas, posturas corporales, circula- cia irregular, inestable y turbulenta de
ción de objetos (ofrendas y afrentas, dar, sensaciones, afecciones, crispaciones y tensiones
no-dar, aguardar, defraudar). Todas estas que acentúan los efectos sobre el cuerpo, el relieve
prácticas se vuelven notablemente poten- de los contactos, los remolinos de silencios, la
tes a la hora de establecer un incipiente vín- fuerte incidencia de los espacios, de los olores,
culo que permita atar, amarrar la simiosis de las miradas, de los rostros y gestos, las postu-
para iniciar procesos de investimentos de ras, las interpretaciones erráticas y cambiantes de
sentido y atisbos de comunicación. los intercambios semióticos. El vigor de la “fuerza
5) Pertinencia del silencio: con frecuencia se conativa/fática” crece y decrece en intempestivas
detecta mutismos o taciturnidad, cuyas variaciones pero su presencia omnímoda refuerza
significaciones oscilan entre: a) marcas de los impulsos de aprendizajes, el alerta de riesgo
indefensión o vulnerabilidad semióticas; b) y la necesidad de resolución de acciones en estra-
marcas de resistencia ante la situación crí- tegias prácticas. Estamos señalando convergen-
tica, conflictiva y dificultosa. La ambigüe- cias útiles para atender y registrar las marcas y
dad paradójica mantiene sus términos con- los efectos de una impronta primaria del umbral
tradictorios vigentes (impotencia/resisten- -y plurales aspectos.
cia, miedo/desafío) el silencio incuba Se supone en primera instancia que el “um-
resoluciones o desarrollos que se plasman bral” es para pasar, no para habitarlo y que los
en los procesos posteriores al umbral. De- estados de pasaje constituyen tránsitos que habrá
dicamos al estudio del silencio una atención que superar y resolver. No obstante, sabemos que
particular. la “estancia en umbral” puede superarse para
6) Configuración de riesgo: el umbral supone atravesar otros umbrales y el propio proceso de
componentes de riesgo para la semiosis. La umbralidad podrá devenir en hábitos que emergen
permanencia desmesurada en situación crí- intermitentes. La estancia prolongada en procesos
tica afecta severamente los procesos de críticos inestables gesta una idiosincrasia singu-
aprendizaje y la continuidad escolar. Las lar entrenada en desenvolverse en flujos de
experiencias que conllevan diversos grados interacción muy dinámica, en los que los recur-
y aspectos de violencias simbólicas devie- sos semióticos se multiplican, se expanden, se
nen en umbrales irresueltos, en memoria de modifican sobre la marcha, se improvisan, se
crisis que se arrastra como una estela inter- reforman y adaptan lo conocido; se ejerce y se
mitente a lo largo de las diferentes etapas acepta el todo-vale propio de situaciones engor-
escolares. Con muy diversa frecuencia y va- rosas en encuentros con lo diferente, con lo
riada intensidad, el umbral vuelve a dejar extraño y lo extranjero. En este sentido los emer-
sus huellas en distintos momentos y con dis- gentes del “umbral” marcan fronteras de diversa
tintas manifestaciones en los desempeños índole, ente lo privado y lo público, entre lo
del escolar. También se podría considerar conocido y desconocido, entre clases sociales,
la posibilidad de definir el umbral como una principalmente entre idiomas distintos y entre
catástrofe semiótica, lo que implica un es- formas de hablar diferentes en una misma lengua.
tallido de las significaciones y sentidos que Tengamos presente pues que el “umbral” en
afecta y compromete las organizaciones su complejidad semiótica pone de manifiesto las
semióticas integrales con desequilibrios y significaciones del límite, del azar y la maraña
búsquedas de un reordenamiento y de com- de convenciones que se requiere para “estar con
posición de los interpretantes. Una reconfi- otros”. El/la niño/a que inicia su proceso de alfa-

57
betización se convierte en el mejor testigo semió- cia espacial y los lenguajes primarios3. El diseño
tico de las implicaciones de un “encuentro desen- de las “instalaciones” supone la distribución de
contrado” con “la otredad” y de lo que implica espacios en el aula o en el lugar que se elija (patio,
poner el cuerpo en otro mundo, en otros hábitos pasillos, salones), de movimientos, objetos y
y en otro hábitat. La “cultura escolar” conlleva niños en desplazamientos libres y programados
marcas propias de semiosferas urbanas, según el tema que se haya seleccionado para
mediáticas, tecnologizadas, con valores y cre- diseñar una unidad de planificación. Pero a la vez,
encias de clases medias que se auto constituyen el propósito principal apunta a “instalar” al/a niño/
en referentes identitarios modelizadores. La a en la semiosfera escolar. Este despliegue ins-
“lengua oficial” — español-argentino trumental que no detallamos aquí, tiene como
estandarizado — arrolla las variedades centro organizador lo que llamamos “protocolos”
territoriales y compite con las lenguas vecinas tomados de la “vida cotidiana” (M. de Certeau).
(portugués y guaraní) en busca del utópico Los “protocolos” refieren a conjuntos semió-
monolingüismo hegemónico. También el ticos, secuencias de acciones regulares, de
“bilingüismo intercultural” postulado por los pro- reconocible estabilidad por sus repeticiones alta-
gramas nacionales actuales carece de sustento mente ritualizadas, es decir, rutinas accesibles a
viable, porque el sistema educativo no acepta la la comprensión del/a niño/a. Al inicio estos pro-
presencia real y concreta de dialectos y varian- tocolos remiten a las matrices familiares y veci-
tes, producto de longevos procesos de mestizajes. nales, luego paulatinamente se van introduciendo
Esta ideología de la lengua perfecta y del hablante rutinas escolares. Se elije un protocolo, por
entrenado en la pureza correcta de un idioma, se ejemplo, “camino a la escuela”, “visitamos al
presenta en el “umbral” con diáfana configuración vecino”, “viene la comadre”, “vamos al pueblo”,
y vigor. La semiosfera escolar con sus ínfulas “vamos al doctor” y se desata una inmensa batería
“políticamente correctas” de “respeto a la de preguntas, de frases estimulantes con miras a
diversidad” y a la “diferencia multicultural”, re- “instalar” la ocupación corporal y el discurrir
citadas en discursos y documentos, insiste y per- discursivo de los niños en interacción del juego
siste en sus convicciones prácticas, en descalificar dramático. La intervención omnímoda de la
y censurar modalidades rurales, costumbres mimesis trae a escena el protagónico aporte del
regionales, valores y creencias distintas. En el propio saber semiótico de los/as niños/as, es la
“umbral” el/la niño/a descubre la “extraña cultu- propia memoria familiar-comunitaria la que gesta
ra de la escuela” y a la vez descubre su “propia la puesta en juego de los “protocolos”.4
extranjería” respecto de la escuela, no solo por En este marco emerge lo que denominamos el
su modo de hablar sino por el conjunto de sus “relato-niño”5. Si se genera un clima propicio para
desempeños semióticos. la “conversación” — eje transversal del proceso
— y se erradica la censura docente sobre los enun-
ciados del “relato-niño” contaremos con “testi-
TERCER PLANTEO monios” valiosos y de alto voltaje semiótico para
instalar la “vida cotidiana” del/a niño/a en la es-
A partir de las redes teóricas escuetamente cuela. La actuación semiótica del niño atestigua
mencionadas, se diseñan dispositivos metodoló- su cultura y la recepción adecuada de este
gicos y estrategias didácticas que denominamos testimonio dará muestras concretas y fehacientes
“instalaciones”, recurso que enfatiza la pertinen- de que su bagaje semiótico es aceptado y

3
Cf. Raquel Alarcón (2012) Alfabetización semiótica en los umbrales escolares, publicación de su tesis doctoral en Semiótica,
Centro de Estudios Avanzados, Universidad Nacional de Córdoba, en la que los lectores podrán hallar no solo recorridos
teórico-metodológicos sino también profuso material didáctico y experiencias de aula con seguimientos sistemáticos y
evaluados.
4
Rosa Di Módica desarrolla este tema en particular en “El juego en la alfabetización semiótica” en Alfabetización semiótica
en las fronteras (2012), Vol 2, 133-157.
5
Froilán Fernández “Dinámicas del relato en semiosferas escolares” en Alfabetización semiótica en las fronteras (2012)
Vol 1, 103-132.

58
valorado. El aprendiz siente que “ha lugar” a su experiencias “instalan” en el espacio escolar los
testimonio, que su desempeño semiótico es pon- componentes del mundo-niño marcando el
derado con justicia y comprensión amplia. territorio con su cuerpo, movimientos, decisiones
Por supuesto, no propiciamos un libro de lec- y principalmente con su palabra. Cuarto, “vida
tura inicial, sino la toma de estos mismos relatos cotidiana” y “sentido común” ajustan sus implica-
como textos alfabetizadores. Los relatos-niños ciones demandando presencia y tratamiento sin
varían sus temáticas según el hábitat del que censura ni prejuicios.
provengan, por tanto en una rotación ejercida por En síntesis de la síntesis que hemos perpetra-
el/la protagonista tendremos instalado el contex- do para bosquejar esta breve noticia de la pro-
to en el aula y por esta vía podrá convertirse en puesta, podríamos decir que nuestra investigación
“texto alfabetizador”. Cada contexto nutre a tra- semiótica abreva en teorías de grandes abstrac-
vés de las experiencias diarias habituales, los re- ciones pero cada categoría con su correspondiente
latos-niños que atestiguan fehacientemente cuáles argumentación se plasma en prácticas de la vida
son los componentes de su vida familiar, sus dis- escolar. Luego, el trabajo intensivo en los “um-
cursos, sus vocabularios, sus temáticas, sus valo- brales semióticos” para alfabetizar está destina-
res, sus creencias y las constelaciones imaginari- do principalmente a la población escolar mestiza,
as de su comunidad. El docente escucha, regis- rural, marginal o suburbana. La puesta en valor
tra, incentiva, interroga con suma cautela, inter- del “relato-niño” privilegia la experiencia y la
viene con extrema austeridad y trata por todos autoestima de las matrices familiares y vecinales,
los medios semióticos a su alcance (palabras, tanto en sus hábitos lingüísticos como en todos
gestos, distancias, tonos, sonrisas, contactos, ro- sus desempeños semióticos. El rescate de la “vida
ces, etc.) de poner en escena una recepción abierta cotidiana” y el “sentido común” proveen materi-
e incondicional de las producciones que el/la niño/ al genuino investido de valores y creencias indis-
a pueda poner en juego. pensables para respetar las idiosincrasias en juego.
Si la “instalación” resulta propicia, los “juegos
del lenguaje” (L. Wittgenstein) y cualquier otro
juego semiótico tendrán la libertad de traer a CUARTO PLANTEO
escena “formas de vida”, un bagaje sociocultural
y una memoria comunitaria que permitirá poner Como no podía ser de otro modo, toda refle-
la piedra basal del proceso alfabetizador posteri- xión semiótica y pedagógica, se traduce obligada-
or. El humor tiene cita obligada en esta conver- mente en las fronteras éticas y políticas que atañen
sación porque el lenguaje coloquial maneja con a la supervivencia y a la convivencia. Por esta
destreza equívocos, desplazamientos semánticos, vía pensamos que la primera condición ética
variaciones lexicales y torsiones sintácticas del concierne al alimento, la segunda a la vivienda,
idioma familiar. No es suficiente conocer “conte- la tercera a la alfabetización. Esta escueta
nidos”, “inventario de acciones y objetos”, “des- secuencia que adopta términos elementales,
cripciones meticulosas” de la vida cotidiana, sino golpea la puerta de la política en general y del
saber y catar el pulso de las cadencias discursivas, sistema educativo en particular, al tiempo que
los tonos, los guiños, sobreentendidos y ajusta las cuerdas de un nudo paradójico que nos
chisporroteos de la interacción aprendidas por el aprieta la garganta. Se podrá enumerar una serie
niño en un extenso proceso antropo-semiótico de bastante extensa de medidas adoptadas y de in-
su vida familiar y vecinal. gentes presupuestos destinados a la atención del
¿Qué sentido tienen estás prácticas? En primer tríptico mencionado, pero nuestro objetivo no
lugar, se trata del ejercicio del derecho del/a niño/ pretende invalidar ni discutir tales registros, en
a a utilizar su lengua familiar, aceptada, escuchada virtud de que estaríamos desviando el vector que
y tomada como válida. En segundo término, los orienta nuestra posición ética y política en este
enunciados narrativos del “relato-niño” traen in- artículo. El punto nodal de nuestra interpretación
formación genuina acerca de sus hábitos y de su en materia de Política Educativa y de Políticas
hábitat. En tercer lugar, la ejecución efectiva de Lingüísticas, inicia su derrotero en la concen-
prácticas semióticas tomadas de sus propias tración excesiva de los “Programas nacionales”

59
y en la toma de decisiones hegemónicas desde la ria, en una continuidad sostenida y consistente
metrópoli. Este dispositivo complicado, burocrá- que habilite lecto-escritores idóneos y eficientes.
tico y autoritario desvirtúa y desmiente las con- El acceso a las tecnologías y al ciberespacio no
signas de “respeto a la diversidad” y de “inserción queda garantizado por la disponibilidad de “má-
escolar en sus respectivos contextos” adoptadas quinas” sino, al igual que con los libros, por há-
como postulados básicos de la documentación bitos de lectura y escritura suficientemente con-
oficial. La alfabetización es un proceso-clave en solidados. Si niños y adolescentes “no entienden
el que estallan estas contradicciones de manera lo que leen” o “no logran escribir un texto”, no
violenta y en el que se configura un fracaso per- hay soporte textual que suplante las operaciones
petuo en el inicio de la escolaridad. Aunque el semióticas básicas para el uso de cualquier tipo
educando atraviese el primero y el segundo gra- de tecnología.
do con “promoción asistida” (estrategia por la que Finalmente, parece oportuno señalar que el
veníamos bregando desde hace 20 años), las Estado posee y solventa una inmensa red de Uni-
huellas del tránsito traumático en el “umbral” versidades Públicas en todas las regiones del país
emergen intermitentes en el resto de las expe- cuyas autonomías relativas responden a directivas
riencias escolares. Mientras no se comprenda que generales de Políticas Universitarias nacionales,
la “unificación nacional” lucubrada y ejecutada por tanto resultaría muy atinado y efectivo rele-
desde Buenos Aires desconoce las idiosincrasias var, consultar y utilizar la gran cantidad de in-
regionales y retorna al antiguo intento homogeni- sumos en materia de investigaciones realizadas
zador y aplanador de las tremendas diferencias por estas instituciones. Las investigaciones uni-
provinciales, seguiremos cambiando de progra- versitarias corren vías paralelas de controles y
mas y programadores, pero no lograremos aten- circulación, pero son poco consultadas, por no
der ni entender con respeto a las diferencias. decir completamente ignoradas por los centros
Por otra parte, la alfabetización tendrá que de decisión de políticas educativas nacionales.
convertirse en un propósito político que se extien- ¿No tendremos que articular e integrar las
da a toda la escolaridad incluyendo la secunda- actividades universitarias con el resto del siste-
ma educativo?

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALARCÓN, Raquel (2012): Alfabetización semiótica en CERTEAU, Michel de (1990): La invención de lo cotidia-
los umbrales escolares. Aportes para la lecto-escritura no, Volumen 1, Trad. Alejandro Pescador, México,
inicial, Posadas, Editorial Universitaria. Universidad Iberoamericana.
BAJTÍN, M. (1975): Teoría y Estética de la Novela [1989], DEWEY J. (1938): Experiencia y educación [2004], Trad.
Trads. Helena S. Kriukova y Vicente Cazcarra, Madrid, Lorenzo Luzuriaga, Madrid, Biblioteca Nueva.
Taurus. DEWEY J. (1925): La experiencia y la naturaleza [1948],
CAMBLONG, Ana (2005): Mapa semiótico para la Trad. José Gaos, México, Fondo de Cultura Económica.
alfabetización intercultural en Misiones, Posadas, Facultad LOTMAN, Iuri M. (1996): La semiosfera I, Trad. Desiderio
de Humanidades y Ciencias Sociales – Univ. Nacional de Navarro, Madrid, Cátedra.
Misiones.
PEIRCE, Charles S. (1965) El hombre, un signo [1988],
CAMBLONG, Ana y Froilán FERNÁNDEZ (2012): Trad. José Vericat, Barcelona, Crítica.
Alfabetización semiótica en las fronteras, Volumen 1, Po-
sadas: Editorial Universitaria. PEIRCE, Charles S. (1992): Obra filosófica reunida,
Volumen 1, Trad. Sara Barrena, México, Fondo de Cultura
CAMBLONG, Ana; Raquel ALARCÓN y Rosa DI MÓ- Económica.
DICA (2012): Alfabetización semiótica en las fronteras,
Volumen 2, Posadas, Editorial Universitaria.

60
EDUCAÇÃO LINGUÍSTICA PARA AS ESCOLAS DE FRONTEIRA:
DESAFIOS E POSSÍVEIS GANHOS À LUZ DE REPRESENTAÇÕES

Greici Lenir Reginatto Cañete


Universidade do Vale do Rio dos Sinos

INTRODUÇÃO PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

O Programa Escolas Interculturais de Fronteira Para este estudo nos baseamos nos pressupos-
é política linguística in vitro1, para as áreas de tos teóricos sobre representações sociais da Psi-
fronteira. Oliveira e Altenhofen (2011). Essa po- cologia Social proposta por Moscovici (1978).
lítica linguística partiu de uma proposta do go- Segundo, nosso entendimento, sobre esse autor,
verno brasileiro, inicialmente à Argentina, numa representações são imagens que elaboramos e
adesão entre Ministérios de Educação, com o pro- depositamos na mente. Essas imagens represen-
jeto piloto “Projeto Escolas Interculturais Bilín- tam um fato, um evento, uma lembrança, o co-
gues de Fronteira”, e, a partir de 2009, foi esten- nhecimento sobre o outro, sobre algo experimen-
dido ao Paraguai, Uruguai e Venezuela, passan- tado e testemunhado ou não. Essas imagens po-
do a ser multilateral. Desde 2006, o PEIF faz parte dem representar o conhecimento sobre o outro e/
do plano de ação do setor educacional o Mercosul. ou algo que nem sequer conhecemos, podendo
(THOMAZ, 2010). ser usadas para a criação de uma teoria sobre
No entanto, a implementação de um currícu- como o outro ou algo é ou deveria ser. As ima-
lo intercultural multilateral para as escolas pú- gens que compõem uma representação são carre-
blicas as quais atuam sob a jurisdição de siste- gadas de conceituações forjadas pelo meio soci-
mas educativos nacionais diferentes, não tem sido al. (BORDIEU, 1980). Essa significação é ad-
uma tarefa fácil. Isso se deve ao fato de que apre- quirida e reelaborada na interação social e se
sentam vários entraves para a sua execução, a (re)significada pela linguagem em um determi-
saber, a mobilidade do intercâmbio docente, os nado contexto de prática social, uma vez que a
calendários escolares diferentes e as culturas es- conversação é situada sócio-históricamente.
colares condizentes ao trabalho pedagógico. En- (BRONCKART, 1999).
tretanto, mesmo com alguns desajustes e contro- Ainda temos o conceito de educação linguís-
versas, as comunidades escolares envolvidas de- tica o qual também nos interessa, pois o PEIF
claram sentir a necessidade de um ensino tem a educação linguística, como um dos seus
intercultural, no qual os países vizinhos possam objetivos. O PEIF se insere dentro do termo edu-
se conhecer melhor, porém reclamam por mais cação linguística, embora institucionalizada, pois
ganhos linguísticos aos alunos do que realmente possibilita aos alunos aumentar seu conhecimen-
teve desde seu início. to sobre a sua língua materna e a língua adicio-
Para melhor compreender as pretensões do in nal, inclusive é, também, capaz de trabalhar com
vivo, isto é, o que a comunidade escolar espera o imaginário linguístico, crenças, representações,
do PEIF, vamos, a seguir, discorrer sobre o con- por exemplo, das pessoas implicadas. (BAGNO,
ceito de representações. RANGEL, 2005). É dentro dessa acepção que
encaixamos o PEIF, dado que trabalha o socio-
cultural e o intercultural. Além de, objetivar for-
mar cidadãos sensíveis à interculturalidade, co-
locando esse termo a frente do ensino da e na

1
Segundo Calvet (2007), as políticas linguísticas podem ser in vitro ou in vivo. A primeira se refere às políticas linguísticas
que partem das ações governamentais sem compartilhar essa decisão com a comunidade de falantes. A segunda são ações
que surgem como ponto de partida da comunidade de falantes.

61
língua adicional. Assim sendo, o contato com essa O PEIF
passa a ser somente o meio de chegar ao objetivo
que é a conscientização linguística2 (HÉLOT, O PEIF se executa em escolas situadas nas ci-
2006), o intercâmbio e a interculturalidade, e não dades gêmeas3, ou em cidades próximas as fron-
um fim em si mesma. (MERCOSUR, [2010?]). teiras. (BRASIL, 2012). Tais escolas deverão pla-
nejar juntas, formando uma unidade operativa de
trabalho. (MERCOSUR, [2010?]). Assim chama-
METODOLOGIA das de escolas gêmeas fazendo uma alusão às ci-
dades gêmeas, em nosso caso, é uma escola bra-
A pesquisa é de natureza qualitativa e de cu- sileira e uma uruguaia.
nho etnográfico, tendo como instrumentos de A escola brasileira possui aproximadamente
coleta de dados a entrevista semiestruturada, o 340 alunos, cerca de 20% dos quais, segundo in-
levantamento documental sobre o PEIF e o diá- formação da direção, são uruguaios. Essa escola
rio de campo. As entrevistas foram gravadas nos oferece o Ensino Fundamental de 1º a 9º ano
dias 30/11/2011, 06 e 07/08/2012 e 24/09/2012 concomitante com o Ensino Fundamental de 8
e, após, transcritas, separadas por conteúdos anos, já que está implantando essa modalidade
temáticos, e escolhidos os Segmentos de Trata- de ensino de 9 anos gradativamente. Oferece a
mento Temáticos (STT) em respostas às pergun- disciplina de Língua Espanhola do 5ª série a 6ª
tas semiestruturadas. série, a 7ª e 8ª séries têm como disciplina a lín-
As perguntas das entrevistas semiestruturadas gua inglesa.
foram: A escola uruguaia tem aproximadamente 520
• Acha que é importante ensinar e aprender alunos dos quais cerca de 10% são brasileiros.
espanhol/português? Alunos de muitas famílias uruguaias cruzam para
• O que acha que teria de ser feito para que o estudar nessa escola, pois moram do lado brasi-
PEIF desse certo? leiro. A escola oferece ensino na Educación Ini-
cial e do 1º ao 6º anos Educación Primaria, (res-
Os conteúdos temáticos pectivamente correspondem a Educação Infantil
e ao Ensino Fundamental no Brasil), a escola não
Segundo Bronckart (1999), os indivíduos na oferece a língua portuguesa o que seria justifica-
fala/produção durante a interação trocam os co- do por estar na esquina com o Brasil e porque
nhecimentos semiotizados, isto é, signos que con- muitas crianças vivem do lado brasileiro ou cru-
têm conceitos objetivos e subjetivos do mundo zam com frequência.
exterior. Esses conhecimentos semiotizados são No entanto, a complexidade de envolver dois
as representações do mundo objetivo, social e países diferentes é imensa, já que se necessita
subjetivo situadas num dado momento sócio-his- recorrer ao intercâmbio docente, devido aos trâ-
tórico, as quais se evidenciam por meio de con- mites dos países vizinhos que impedem as crian-
teúdos temáticos, através de unidades lexicais ças de cruzar a fronteira. Desse modo, as crian-
carregadas de significado escolhidas pelo agen- ças têm contato com a língua adicional e com a
te, e, compartilhadas e (re)significadas no agir interculturalidade por meio do professor que e o
verbal. Então, identificamos as representações representante da sua cultura escolar e da sua lín-
através do reconhecimento de expressões ou uni- gua, na relação indissolúvel língua-cultura.
dades lexicais que emergem dos Segmentos de (MERCOSUR, [2010?]).
Tratamento Temático, isto é, nas falas dos indi-
víduos. (BULEA, 2010).

2
Conscientização Linguística, Language Awareness, é um projeto destinado à reação contra o racismo e o preconceito, o
qual com a participação dos pais e professores busca educar as crianças já durante a sua formação inicial para a pluralidade
linguística e cultural. (HÉLOT, 2006, p. 65).
3
Cidades gêmeas, as que têm seu par no país vizinho, por exemplo, as da nossa pesquisa Chuí/Chuy.

62
O papel dos professores para executar o pro- Agora fazemos uma breve descrição dos par-
grama bilíngue (PEIF), chamado de cruze4, con- ticipantes desta pesquisa.
siste em votar com sua turma o tema que querem
aprender na língua materna (LM), e uma vez por Os participantes
semana, na língua adicional5 (LA), esse tema será
desenvolvido pelo docente estrangeiro, ou seja, Apresentaremos as seguintes siglas para iden-
ambos os professores devem planejar os temas tificar o segmento e país, B (Brasil), e U (Uru-
levando em conta a continuidade do plano de aula guai) no decorrer da análise e discussão dos da-
nas duas línguas. (MERCOSUR, [2010?]). dos.

Gestores Nome (GB) /( GU) exemplo: (Carla, GB)


Professores ProB / ProU
Pais PB / PU
Alunos AB/AU
Fonte: Elaborado pela autora.

Pedro, AB e Luísa, AU: são alunos que cur- a) Representação: Todos entendem a língua do
sam o 4º ano do Ensino Fundamental e têm entre vizinho.
8 a 10 anos de idade, sabem, ou entendem a lín-
gua vizinha. Carla, GB: é brasileira, professora, Segmentos de Tratamento Temático (STT):
gestora da escola brasileira, e mora no Chuí faz [...] na minha casa a gente fala espanhol, só
vinte anos. Marina, GU: é uruguaia, diretora e assim, na escola, onde a gente for, a gente fala
professora de primaria, e mora no Chuy faz vinte em português. (Lucia, PB).
anos. Patricia, ProU: é uruguaia, professora da [...] aqueles que sabiam, ajudavam os cole-
escola uruguaia, mora no Chuí brasileiro e cruza guinhas e a essa menina que dizia: yo no
todos os dias para trabalhar na escola uruguaia. comprendo . (Adriana, ProB).
Beatriz, PB: mãe de aluno na escola brasileira é [...]intentaban hablar y el otro lo ayudaba, y
uruguaia, mora no Chuy. Lucia, PB: mãe de alu- uno se vale de… de… acordamos no hablar
no na escola brasileira é brasileira. Eva, PU: é nunca […]Decirle la palabra en portugués,
mãe de aluno da escola uruguaia, é uruguaia, mora sabiéndolo…hacer… ayudar con una mími-
do lado uruguaio. Ana, GU: é uruguaia, profes- ca… (Patricia, ProU).6
sora, mora em Santa Vitória do Palmar. Fran-
cisco, PU: é uruguaio, nascido no Chuy. Nesta representação vemos como os indivídu-
os veem a fronteira como um espaço onde todos
são, em alguma medida, bilíngues, já que o con-
ANÁLISES DOS DADOS texto permite o contato entre as línguas devido
às relações sociais, às famílias binacionais ou aos
Passamos, agora, a análise dos dados, a fim meios de comunicação que vão além da delimi-
de levantar as representações dos participantes tação política, isto é, da Avenida Internacional.
referentes aos ganhos linguísticos em relação aos Esse fenômeno aparece registrado nas falas aci-
cruzes . ma como a de Lucia (PB), que mora do lado bra-

4
Cruze, neologismo do espanhol cruce, é a maneira como os professores hispanofalantes chamam ao intercâmbio docente.
Também, denominado assim pela Portaria nº 798/2012 (BRASIL, 2012) que implementa o PEIF.
5
Denominaremos como língua adicional as aulas do cruze, bem como a língua vizinha na fronteira, embora nos documen-
tos oficiais apareça a denominação segunda língua (L2).
6
[...]tentavam falar e o outro ajudava, e a gente se apoia… de… combinamos nunca falar […]Dizer a palavra em
português,mesmo sabendo…fazer… ajudar com uma mímica… (Patricia, ProU).

63
sileiro, enfatiza com a locução adverbial: na mi- na fronteira, mas escrever requer um espaço na
nha casa a gente fala espanhol, porém em outros educação formal. Para a mãe uruguaia, os cruzes
domínios como na escola, usa a outra língua. Si- possibilitam o acesso ao ensino do português pa-
tuações como essas refletem na sala de aula, quan- drão na sua forma escrita, o que consequente-
do as professoras nos relatam que nos cruzes os mente daria ao alunado um bom domínio do por-
alunos demonstravam não enfrentar dificuldades tuguês, que ela não teve e não tem e, agora que
para entender ao professor, com poucas exceções, trabalha no Chuí brasileiro lhe faz falta, entende-
que quando aconteciam, aqueles que sabiam, aju- mos isso ao destacar de sua fala a sua experiên-
davam os coleguinhas (Adriana, ProB), e na fala cia pessoal [...] no había esos intercâmbios (Eva,
de Patricia (ProU) intentaban hablar y el otro lo PU), e de sua vida escolar resulta no que hoje
ayudaba. necessita e não tem ao usar o advérbio nunca [...]y
Segundo o Marco Referencial del Desarrollo nunca aprendí a escribir derecho en portugués
Curricular (MRDC, daqui em diante) os (Eva, PU). Para ela, o PEIF serviria para preen-
intercambios docentes “[…] hacen circular dis- cher o déficit de não ofertar o Português como
cursos hablados y textos escritos en las dos língua adicional no currículo escolar. Já a fala de
lenguas, permiten escuchar la lengua del otro Beatriz (PB) é muito parecida na sua representa-
y, por lo tanto, escuchar al otro y entenderlo ção que falar todo mundo sabe, porém falta o aces-
en su lengua.” (MERCOSUR, [2010?], grifo do so ao aprendizado da escrita, na qual o português
autor). Dessa maneira, a aprendizagem da LA se e o espanhol diferem bastante entre si, ao menci-
dará por meio do contato com um falante nativo onar a declaração: eles falam, e logo o a conjun-
e por meio do vínculo criado entre aluno – do- ção adversativa mas, e após a repetição tem dife-
cente da escola gêmea (ARGENTINA; BRASIL rença [...]mas então, na hora da escrita tem di-
2008; MERCOSUR [2010?]). ferença, muita diferença... (Beatriz, PB). A pro-
fessora Patricia (ProU) também concorda com as
b) Representação: Possibilita aprender a es- mães ao mencionar que eles sabem até leem, e
crita da língua adicional. usa uma conjunção adversativa pero, desse mes-
mo modo, ela ressalta com a condicional si, se
Segmentos de Tratamento Temático (STT): tivessem a oportunidade de aprender teriam um
Me parece muy importante, porque incluso la bom domínio da língua, como ela mesma diz:
época que yo iba a la escuela no había esos […]pero no lo escriben, entonces, si le enseñaran,
intercambios y nunca aprendí a escribir irían a tener bien el idioma (Patricia, ProU).
derecho en portugués (Eva, PU).7 Como podemos analisar o que diz o
Eu acho que é, porque assim ó... eles MRDC, a aquisição da escrita é consequência à
falam...mas então, na hora da escrita tem di- exposição aos textos orais e escritos propostos
ferença, muita diferença.... (Beatriz, PB). pelo docente do cruze. Esse objetivo foi cumpri-
Entonces ellos hablan muy bien el portugués, do, ao menos segundo o relato da aluna uruguaia,
leen, pero no lo escriben, entonces, si le quando usa o advérbio de negação no: Nosotros
enseñaran, irían a tener bien el idioma (Patri- no tuvimos que escribir casi nada.[…], e, então
cia, ProU).8 o trabalho da docente era mais voltado à oralidade
Nosotros no tuvimos que escribir casi quando Luisa nos relata: [...] Y ella escribía más
nada.[…] Y ella escribía más en el pizarrón en el pizarrón y nos mostraba cosas (Luisa, AU).
y nos mostraba cosas (Luisa, AU). 9 Ensinar a escrever não é sinônimo de letramento,
Parece que todos aqui, compartilham a repre- é uma forma de fazer letramento, pelo que a prá-
sentação de que falar é fácil e já sabem por morar tica da professora brasileira e das uruguaias tam-

7
“Eu acho muito importante, porque inclusive na época que eu ia na escola não tinha esses intercâmbios e nunca aprendi
a escrever direito em português”. (Eva, PU)
8
“Então, eles falam muito bem o português, leem, mas não escrevem, então, se os ensinassem, iriam ter bem o idioma”.
(Patricia, ProU).
9
“Nós não tivemos que escrever quase nada.[…] E ela escrevia mais no quadro e nos mostrava coisas”. (Luisa, AU).

64
bém, está condizente à educação linguística e as d) Representação: Tem uma idade certa para
práticas de letramento. (BAGNO, RANGEL, começar os cruzes.
2005).
Segmentos de Tratamento Temático (STT):
c) Representação: O PEIF valoriza as línguas. […]el primero e segundo fueron acá, un
poquito más arriba un tercero, un cuarto, que
Segmentos de Tratamento Temático (STT): los niños sean más grandes porque a veces se
Acho sim. Porque nós podemo comparar uru- entreveraran a casa (Francisco, PU).11
guaio com português (Pedro, AB). [...]eu acho que deveria começar do básico dos
[...] eles queriam ver os programas porque eles pequenos e gradativamente tu ir com os gran-
queriam aprender a falar, aqueles que sabi- des porque não adianta tu começar com a tur-
am, ajudavam os coleguinhas”. (Adriana, ma maiorzinha (Carla, GB).
ProB) Y unos sí pero también considero la edad el
para..como hay niños que… ese cruce que hay 1º año son muy chiquitos muy chicos la
de niños, niños brasileiros que van a la escuela atención… (Marina, GU).12
uruguaya, y este.. para que ellos se sientan
cómodos en hablar su lengua también, que es Encontramos nas falas de Francisco (PU) e
algo afectivo (Patricia, ProU).10 de Marina (GU) a representação de que há uma
idade certa para as crianças começarem os cru-
Algumas crianças já sabiam a língua do vizi- zes, a qual não seria logo no começo da escolari-
nho e outras, muito poucas, segundo relatos, não zação. Contudo, para Marina, eles são […] muy
entendiam nada. Depois de alguns cruzes, ambas, chiquitos muy chicos la atención… (Marina, GU).
demonstraram interesse em aprender mais sobre Essa fala se relaciona às quatro horas de aula, ao
essa língua. Podemos ver isso no STT do aluno turno todo no cruze. Os alunos, na concepção das
Pedro (AB), que, ao responder à pergunta, usou a informantes, seriam pequenos para ouvir tantas
expressão podemo comparar, isto é, uma língua horas em espanhol ou português. Já na fala de
A, uruguaio, com uma língua B, o português. É Francisco (PU), os alunos pequenos podem se
interessante notar que a fala é fruto da reflexão confundir com a língua materna e sugere que cru-
do aluno frente à possibilidade de aprender uma LA. zem os anos/séries maiores já alfabetizados a par-
Podemos perceber também nos relatos de uma tir do 3º ano, segundo ele: [...] un poquito más
professora brasileira e uma mãe uruguaia sobre o arriba un tercero, un cuarto, que los niños sean
que notavam nos alunos. As escolhas eles queri- más grandes porque a veces se entreveraran a
am ver [...] queriam aprender a falar indicam casa (Francisco, PU). Esta fala estaria relaciona-
uma acepção de rotina quanto às atitudes dos alu- da às crenças sobre aprender língua adicional,
nos frente às aulas dos cruzes. assunto em que não vamos entrar em detalhes,
Logo, o PEIF visa à criação de atitudes positi- em função dos objetivos desta pesquisa, mas sim
vas frente ao falante nativo da outra língua e vamos destacar essa opinião como um ponto im-
consequentemente à língua dessa pessoa, no caso, portante a ser observado pelos assessores peda-
o docente da escola gêmea. Com os cruzes seria gógicos e equipes de gestores e professores das
possível amenizar estereótipos, o que segundo escolas gêmeas, sobre a aceitação e apreciação
Castelloti e Moore (2002), exerce um papel im- da prática dos cruzes.
portante na hora de aprender uma língua, além,
claro, das estratégias e motivação de cada um.

“[...] porque como tem crianças que ... esse cruze de há de crianças, crianças brasileiras que vão á escola uruguaia, e
10

bom, para que eles se sintam mais à vontade em falar a sua língua também, que é algo afetivo”. (Patricia, ProU).
“[…]o primeiro e o segundo ano foram aqui , um pouquinho mais acima um terceiro, um quarto, que as crianças sejam
11

mais grandes porque às vezes se confundem em casa”.(Francisco, PU).


“E uns sim mas também levo em conta a idade o 1º ano são muito pequeninos muito pequenos a atenção…”. (Marina,
12

GU).

65
Por outro lado, a fala de Carla (GB) é favorá- CONSIDERAÇÕES FINAIS
vel à inclusão das turmas pequenas no cruze,
quando usa as expressões deveria começar e não Acreditamos que o PEIF é uma boa iniciativa
adianta [...]eu acho que deveria começar do bá- em busca de uma maior integração regional atra-
sico dos pequenos e gradativamente tu ir com os vés da educação para as regiões de fronteira. En-
grandes porque não adianta tu começar com a tretanto, precisa de alguns ajustes para, de fato,
turma maiorzinha (Carla, GB). O MRDC tam- obter sucesso na almejada interculturalidade, e,
bém compartilha a mesma representação quando essa passa pela proposta de educação linguística
se refere à escolha do 1º dos anos iniciais para que o Programa propõe. No entanto, para que isso
dar início aos cruzes porque aconteça precisa-se de planejamento, carga ho-
rária adequada para o letramento na língua adici-
de esta forma, se inicia la exposición de los onal, e maior amplitude de encontros para a apro-
alumnos a la L2 a partir de su llegada a la ximação entre as duas culturas escolares. Porém,
enseñanza primaria, cuando sus
disposiciones y capacidades para el
sem uma continuidade, não há como por em prá-
aprendizaje de lenguas son mayores que en tica um projeto de educação linguística que se
la edad más avanzada”. (MERCOSUR, baseia na conscientização linguística, na educa-
[2010?]).13 ção para a aceitação da diferença, e, por conse-
guinte, de uma pedagogia do plurilinguismo.
Assim, é nos primeiros anos da fase escolar (ALTENHOFEN e BROCH, 2011).
que a crianças ainda não está condicionada a es- Faz-se necessária uma sintonia entre a políti-
tereótipos e preconceitos da vida social, e, ainda ca linguística in vitro e a política linguística da
está em construção de suas representações (DU- comunidade escolar, que sobrepõe o ensino para
VEEN, 2005) que é mais fácil começar um tra- a proficiência na língua adicional em relação à
balho de conscientização linguística o qual é uma conscientização linguística e sensibilização inter-
das formas de fazer educação linguística. cultural, para que no PEIF não termine sendo re-
duzido a uma mera tentativa de programa multi-
lateral inacabado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALTENHOFEN, Cleo V.; BROCH, Ingrid K. Fundamen- promover a integração regional por meio da educação
tos para uma “Pedagogia do Plurilinguismo” baseada no intercultural e bilíngüe. Diário Oficial da União, Poder
modelo de conscientização linguística (language Executivo, Brasília, DF, n. 118, 20 jun. 2012. Seção 1, p. 30.
awareness). In:. Behares, Luis E (org.). V Encuentro In- BRONCKART, Jean-Paul. Atividade de linguagem, tex-
ternacional de Investigadores de Políticas Lingüísticas. tos e discursos: por um interacionismo sócio-discursivo.
Montevideo: Universidad de la República y Asociación de São Paulo: Educ, 1999.
Universidades Grupo Montevideo, 2011. p. 15 – 24.
BULEA, Ecaterina. Linguagem e efeitos desenvolvimen-
BAGNO, Marcos e RANGEL, Egon de Oliveira. Tarefas tais da atividade. Campinas: Mercado das Letras, 2010.
da educação linguística no Brasil. Rev. Brasileira de
Linguística Aplicada, v.5, n. 1, 2005. p. 63 a p. 81. CALVET, Loius-Jean. As políticas linguísticas. São Pau-
lo: Parábola, 2007.
BORDIEU, Pierre. L’identité et la représentation. Actes
de la Recherche en Sciences Sociales, Paris, v. 35, p. 63- CASTELLOTI, Véronique; MOORE, Danièle. Represen-
72, nov. 1980. Disponível em: <http://www.persee.fr/web/ tations sociales des langues et enseignements. Strasbourg:
revues/home/prescript/article/arss_0335- Conseil de l’Europe, 2002. Disponível em: <http://
5322_1980_num_35_1_2100> Acesso em: 27 jan. 2013. www.coe.int/T/DG4/linguistic/Source/CastellottiMoo-
reFR.pdf>. Acesso em: 11 dez. 2012.
BRASIL. Portaria nº 798, de 19 de junho de 2012. Institui
o Programa Escolas Interculturais de Fronteira, que visa a

13
Desta forma, se inicia a exposição dos alunos à L2 a partir de sua chegada ao ensino fundamental, quando suas
disposições e capacidades para a aprendizagem de línguas são maiores que em idade mais avançada”. (MERCOSUR,
[2010?]).

66
DUVEN, Gerard. Crianças enquanto atores sociais: as re- Escolas_de_Fronteira/Documento_final_de_documen-
presentações sociais em desenvolvimento. In: GUA- to_marco_multilateral-1.pdf >. Acesso em: 26 set. 2012.
RESCHI, Pedrinho; JOVCHELOVITCH, Sandra (Org.). MOSCOVICI, Serge. A representação social da psica-
Textos em REPRESENTAÇÕES SOCIAIS. Petrópolis: nálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1978.
Vozes, 1995. p. 261–293.
OLIVEIRA, Gilvan Müller de; ALTENHOFEN, Cléo V.
HÉLOT, Christine. Bridging the gap between prestigious O in vitro e o in vivo na política da diversidade linguística
bilingualism and the bilingualism of minorities: Towards do Brasil. In: MELLO, Heliana; ALTENHOFEN, Cléo V.;
an integrated perspective of multilingualism in the French RASO, Tomasi (Org.). Os contatos linguísticos no Bra-
education context. In: LAOIRE, Muiris Ó (Org.). sil. Belo Horizonte: UFMG, 2011. p. 187–216.
Multilingualism in educational settings.
Baltmannsweiler: Schneider Verlag Hohengehren, 2006. THOMAZ, Karina Mendes. A política linguística do pro-
p. 49-72. jeto escolas interculturais bilíngues de fronteira do
MERCOSUL: ensino de segunda língua para as áreas
MERCOSUR. Escuelas de frontera: documento marco fronteiriças. Línguas e letras, Cascavel, v. 11, n. 21, 2º
referencial de desarrollo curricular. [S.l., 2010?]. Disponí- Sem. 2010. Disponível em: <http://e-revista.unioeste.br/
vel em: <http://www.sic.inep.gov.br/images/stories/ index.php/linguaseletras/article/view/3545/3462>. Acesso
em: 11 dez. 2012.

67
PLE CON FINES ESPECIFICOS:
LECTO-COMPRENSION, UNA EXPERIENCIA1

Susana María del Carmen Caribaux


Universidad Nacional de Córdoba

En esta comunicación presentamos un estudio destinatarios, no obstante, cotidianamente mecá-


de caso de los alumnos del curso de lectura y com- nicos, técnicos y ingenieros están expuestos a una
prensión de textos en portugués dirigido a los pro- interpretación insuficiente.
fesionales aeronáuticos: mecánicos, técnicos e in- Fue así que personal del grupo técnico consi-
genieros, encargados del mantenimiento del avión deró la aproximación a la Lengua Portuguesa [LP]
Tucano T-27 fabricado por la Embraer. Este avión como una herramienta sumamente imperiosa para
está destinado para entrenamiento militar en la alcanzar un desempeño favorable en las tareas
Escuela de Aviación Militar Córdoba Argentina. profesionales. Valorizada específicamente como
A fin de averiguar como el estudio y la práctica un instrumento de trabajo, la lectura y compresión
de la lectura reflexiva influencian y mejoran la de los textos se concentran en el estudio de la
competencia comunicativa, fueron desarrollados lengua orientada para un Portugués Instrumen-
algunos procedimientos pedagógicos. Ellos fue- tal, haciendo foco en el lenguaje técnico. De esta
ron implementados en la integración de los cuatro manera, la lectura comprensiva lleva al lector/
componentes, las competencias lingüística, tex- alumno no sólo a acrecentar el conocimiento en
tual, sociolingüística y estratégica. Así, nuestro el área, también al dominio de Portugués Lengua
objetivo es iniciar una reflexión sobre el tópico Extranjera [PLE]. Contacto con la lengua muy
en cuestión, “lectura comprensiva”, con el obje- favorable, que propicia además de la posibilidad
tivo de poner en observación el Portugués Lengua de mejorar posición en el campo profesional.
Extranjera [PLE] con propósitos específicos. Muy interesados en aprovechar esta instancia
Con advenimiento de la economía expansio- los alumnos consideraron el Portugués Instrumen-
nista del Brasil, junto con las colocaciones de tal una oportunidad relevante, pues no solo sa-
productos en el mercado Argentino, pone a mu- lieron habilitados en la lectura del manual de man-
chos profesionales en contacto con o idioma por- tenimiento, como en todos los materiales actua-
tugués. Actualmente, interpretar los textos en lizados y provistos por la misma Embraer fuer
lengua portuguesa por parte de hispano-hablantes del manual y los que serán emitidos en el futuro.
es una necesidad cada vez más frecuente. Aunque, Se puede percibir que el idioma Portugués se
la formación del individuo para un desempeño volvió subsidiario en la expansión de los diver-
satisfactorio en la competencia lectora que per- sos saberes que cada alumno posee según su
mita no apenas leer, mas, sobretodo comprender especialización: Aviónica, Estructura, Grupo
los textos, terminó en una urgencia para todos Motor Propulsor.
los profesionales envueltos en la aviación. Alentados en la comprensión, los alumnos
El principal objetivo que incentivo el curso de trabajaron diversas técnicas de lectura. Es necesa-
lecto- comprensión del idioma Portugués fue la rio destacar que primero son lectores en su propia
interpretación aceptable de los textos del manual lengua, de este modo, quien es proficiente y tiene
de mantenimiento del avión Tucano T-27. Los facilidad para comprender un texto en la Lengua
contenidos de esos textos son informaciones in- Materna [LM] con seguridad lo hará también en
corporadas en los campo de la aviación y que la Lengua Extranjera, a pesar de las dificultades
hacen parte del campo de conocimiento de los inherentes que puedan surgir como a falta de

1
Este trabajo surge como un desprendimiento del proyecto de investigación Portugués brasileño: gramática y
representaciones sociales del lenguaje, dirigido por el Dr. Luis Alejandro Ballesteros y subsidiado por SECyT, Universidad
Nacional de Córdoba, Argentina.

69
dominio lingüístico (tanto léxico cuanto grama- dos, en algunas oportunidades, hacía con que las
tical), ausencia de conocimiento previo sobre el proposiciones fuesen desacertadas.
asunto, desconocimiento o no utilización de las En la presencia de temas relacionados a los
estratégicas de lectura, no saber inferir a medida conocimientos técnicos los lectores permanecían
que se avanza en el texto, e otras varias. No todas anclados en la LM con cierta comodidad e los
las estrategias tienen el mismo nivel de desarrollo, falsos amigos no eran considerados como tal,
sería pertinente esclarecer que en cada uno de los produciendo verdaderos desaciertos en las inter-
alumnos ellas se instrumentan diferente e indivi- pretaciones desarrolladas. En pos de una solución
dualmente. razonable del problema, se decidió ampliar el aba-
A partir de las tareas realizadas por los alumnos nico de temas para presentar un nuevo desafío.
fue posible recolectar indicios que demuestra la Mediante el recurso lluvia de ideas, los lectores
individualidad en el desarrollo de las técnicas y consiguieron tejer abundantes significados. Esta
estratégicas empleadas en la comprensión de tex- técnica visaba propiciar las condiciones ade-
tos. Consideramos a lectura como un proceso, cuadas para acrecentar el vocabulario y los dife-
proceso en el cual el lector construye el saber a rentes usos de un mismo vocablo, como podría
partir de la aplicación de sus conocimientos en ser la palabra jeito por ejemplo. Consequen-
ese texto leído. No obstante, para que la com- temente la variedad de recursos empleados contri-
prensión sea funcional dependerá de la activación buyo para aumentar el conocimiento del PLE.
por parte del lector de su conocimiento previo. Otra estrategia de lectura fue el reconocimiento
Inherente a cada lector el enriquecimiento aporta- de los términos internacionales, llamados de
do para el texto se transforma en una interacción vocabulario internacional, creado para todas las
entre el texto y el lector/el lector y el texto. En lenguas estándares vivas en el transcurso del de-
algunos casos esa interacción se vio limitada por sarrollo de la vida y del pensamiento humano mo-
factores que interfirieron en la comprensión, el dernos. Como tal vocabulario es común en una
desconocimiento del tema, la dificultad con el medida considerable favorece enormemente la
léxico, o por ser poco estimados los recursos de interpretación. Además de los conocimientos del
coherencia y cohesión, en tal medida que los lenguaje técnico especifica do campo.
alumnos no sabían aprovechar los recursos como El recurso del lector utilizar los esquemas en
facilitadores de la interpretación. Por ejemplo, LM y aplicarlos en LE para hacer la correspon-
cuando los textos trabajados aludían a sus tareas dencia en las dos lenguas (española y portugue-
diarias, en algunas oportunidades existía un leve sa) nos permitieron percibir que el conocimiento
relax mental que no ayudaba a la reflexión lectora de una lengua románica, como es el español, re-
volviendo la comprensión un tanto pobre. presenta una puerta abierta para otra lengua
En nuestra práctica, enseñanza del Portugués románica, como es el español, representa una
Instrumental con fines específicos propuso al puerta abierta para otra lengua románica, el por-
lector y colocó a su disposición varios recursos tugués. En este punto, la estrategia consistió en
en el esfuerzo por mejorar su desempeño en la extraer las ventajas para otra lengua de la misma
lectura comprensiva. Podemos citar como familia, el pasado común latino se encuentra
ejemplo, las búsquedas de palabras-claves, que todavía hoy en el vocabulario elemental de la ma-
una vez destacadas resumían los temas principales yoría de los termos, a los cuales consideramos de
del texto para funcionar después como referencia transparentes. Bien diferente es la situación de
en las pesquisas das informaciones. Otro recurso los conflictos surgidos de los términos cataloga-
central fueron las estrategias inferenciales, pasa- dos como falsos amigos, o cognados. De hecho,
porte para la comprensión lectora. El levanta- muchas veces el lector puede establecer una
miento de hipótesis, con la manifiesta una propo- correspondencia de significado inadecuada, con-
sición susceptible de ser declarada verdadera o fiando en una relación de amistad semántica fal-
falsa, esto es, testada como cierta o errada. Y es sa, confiando en las palabras con grafía o de pro-
en este punto del proceso donde el insuficiente nuncia parecidas, pero que en la realidad poseen
conocimiento previo de los contenidos analiza- significados totalmente diferentes. Evidenciamos

70
así, una vez más, que los esquemas de la LM son — o no — de interactuar con el texto, activando
transmitidos en el estudio de PLE. todos los conocimientos lingüísticos y textuales
En cuanto a los textos la mayoría de los (o discursivos) que poseen con base en estudios
trabajados corresponde al manual de manteni- anteriores y en la propia práctica de leer, tanto en
miento del avión Tucano. Aunque, fue de gran ámbitos académico-profesionales como personales.
importancia la contribución de textos relaciona- El conocimiento previo envuelve conocimien-
dos al campo de la aviación y otros totalmente tos técnicos de las especificidades del área aero-
ajenos a ellos. náutica, el conocimiento lingüístico de los signi-
Los textos sacados del manual funcionaron ficados (semántica), las funciones (sintáctica) los
principalmente como soporte para la enseñanza términos (en la LM), el nivel textual con las
de gramática, reducida solamente a aquellas cues- estructuras textuales (o discursivas) — narrati-
tiones gramaticales necesarias para la compren- va, descriptivas, argumentativas y expositiva fun-
sión del manual del avión Tucano. La familiaridad damentalmente — lo que llamamos de cono-
de los lectores con los contenidos allí organiza- cimiento de mundo o la enciclopedia del lector,
dos propició el abordaje de los conceptos esen- que se origina de estudios ya realizados por él y
cialmente gramaticales de una manera simple y de la misma experiencia do mundo.
específica. El bagaje cognitivo que cada lector almacena,
Aunque, el objetivo del curso era la disciplina relacionado con su especialización técnica,
lecto-comprensión del Portugués o Portugués Ins- promovió una participación enriquecida de co-
trumental, enseñar contenidos gramaticales, fo- mentarios, opiniones, hasta debates. Estas prác-
néticos y culturales favoreció el acceso a los ticas de lectura originaron varias veces interaccio-
conocimientos de la lengua extranjera, Lengua nes fluidas que activaron e incrementaron la
Portuguesa [LP]. construcción de sentido de los textos leídos. La
En cada clase, la lectura fue abordada como lectura, de esta forma, no fue realizada apenas
un proceso que comienza con la actividad de leer, como un acto de decodificación, sino generando
después por extraer significado del texto, interac- empatía, instancia propicia para aprender portu-
tuando con él, para finalmente atribuir significa- gués
do al texto. El realce de la lectura está en el proce- Bien sabemos que leer es una actividad inte-
so, proceso de comprensión que aproxima al lec- lectual atravesada por el pensamiento lógico, el
tor a la construcción de significado para alcanzar intuitivo, los conocimientos previos temáticos
el producto o resultado final de esa comprensión. (aeronáuticos en este caso) y lingüísticos (de la
Con base en el modelo de lectura de Van Dijk e LM), por eso la comprensión lectora no “sale”
Kintsch — presentado, entre muchos otros manu- de forma espontanea. Particularmente abordado
ales de divulgación, en Leo pero no comprendo dentro de esa concepción, la lectura reflexiva de
(2005) de Cubo et al. —, nos propusimos incor- los textos implico realizar actividades que
porar una secuencia de trabajo, considerando pre- requirieron de estrategias cognitivas. Las elec-
lectura, lectura y relectura, las inferencias sobre ciones de ciertos elementos facilitaron la lectura
las superestructuras, macroestructuras, microes- reflexiva. Hay un involucramiento de toda una
tructuras y proposiciones, inferencias lexicales, serie de reflexiones, decisiones y elecciones
inferencias espacio-temporales, pos-lectura, infe- cognitivas por parte del lector. En la construcción
rencias evaluativas y conclusión. El método adop- de sentido fue decisivo y quedó solo en lo que
tado permitió que un texto pudiese reflexionar estaba explícito en el texto, pero sin sumergirse
varios contenidos, como varios textos podían a en aquello que estaba implícito.
la vez reflexionar un solo contenido. Es en la Para concluir, queremos destacar que la lectura
práctica misma que la lectura se transforma en de los textos ofrecía diferentes niveles de análisis,
un proceso interactivo. Desempeñar un proceso fonológico, sintáctico, semántico y pragmático,
de lectura favorable, así, va a depender de la colocándonos en un campo de problemas que
interacción del lector con el texto. El papel fun- también llevaba a la sociolinguística. A partir de
damental en la comprensión está dado al tales factores fue evidente la necesidad de reali-
conocimiento previo del lector y por su capacidad zar un análisis más complejo para intentar expli-

71
car y determinar los esquemas de la lengua por- forma adecuada una lectura reflexiva mejorando
tuguesa y referenciar como diferentes factores in- sus situaciones comunicativas. Destacamos final-
ternos y externos determinan fenómenos lingüís- mente que esta investigación proporcionó bases
ticos funcionales de la variedad del Portugués sólidas para continuar reflexionando y compren-
Brasileiro [PB]. Consideramos que el lector, a tra- der los dilemas a los cuales se expone un lector
vés de las estrategias de lectura comprensiva, se frente a su texto en PLE.
puede volver competente para desempeñar en

REFERENCIAS BIBIOGRÁFICAS

CUBO, L. et. al. 2005. Leo pero no comprendo. Córdoba, Manual Técnico, Manual de Manutenção- Avião em geral
Comunicarte. – Avião T-27 EMB- 312 TUCANO.
KOCH, I. G. V. 2006. Ler e compreender os sentidos do MARTINEZ, P. 2009. Didática de línguas estrangeiras.
texto. São Paulo, Contexto. São Paulo, Parábola.

72
ENTRE LA NORMATIVA Y LA PRÁCTICA:
LA PERSPECTIVA PLURILINGÜE E INTERCULTURAL
EN LA ESCUELA SECUNDARIA ARGENTINA

Ana María Carullo*


Silvana Marchiaro
Universidad Nacional de Córdoba

INTRODUCCIÓN musicólogos, artistas y ofrecimos conferencias,


talleres, inauguramos cursos de lengua y cultura
Como hemos expresado en encuentros anteri- mapuche, incorporamos por tres años la lengua
ores (Carullo, Marchiaro, 2009), (Marchiaro, guaraní y desde entonces la lengua quechua en
2011), uno de los problemas que nos preocupa y nuestro Departamento Cultural.
ocupa desde el inicio de nuestra conformación Como ciudadanas, nos preocupaban profun-
como equipo de investigación, es lo relativo al damente los gravísimos efectos de un modelo
exiguo o casi nulo espacio asignado a las lenguas político-económico con fuerte impacto en Argen-
romances extranjeras en los distintos niveles de tina y en otras naciones de América y del mundo.
la educación en la Argentina. En efecto, ese espa- La globalización neoliberal, además de silenciar
cio se ha venido perdiendo sostenida y progresi- lenguas y culturas, más grave aún, arremetió
vamente desde la década del ochenta frente al implacablemente contra el hombre y las socieda-
avance y expansión del inglés, y ello ha ocurrido des, no sólo de los países periféricos, que fueron
no sólo en nuestro país sino también en otros es- sin dudas los más afectados, sino también
tados de la región. desestabilizó las economías y precarizó la situa-
Frente a esta marcada y progresiva tendencia ción laboral de trabajadores y jóvenes de algunos
a la hegemonía lingüístico-cultural, como docen- países centrales, como lo demuestra, en la actua-
tes-investigadoras de la Facultad de Lenguas, y lidad, la profunda crisis europea.
también desde la gestión política de la institución, Movilizadas por estas preocupaciones, junto
hemos trabajado sostenidamente en la promoción a nuestros colegas del equipo InterRom, desde
de alternativas de inclusión. hace ya una larga década venimos trabajando so-
Desde la gestión, las primeras acciones se bre la necesidad de diversificar la oferta de len-
orientaron hacia otras lenguas-culturas. Así pues, guas-culturas que se enseñan en los distintos nive-
entre 1987 y 1991, proyectamos y pusimos en les de la educación formal. Decidimos adherir a
marcha el ciclo cultural Hacia nuestras raíces, los enfoques plurales por cuanto posibilitan la in-
abierto a la comunidad cordobesa. Por esos años, tegración de los aprendizajes lingüísticos, contri-
la Escuela Superior de Lenguas — hoy facultad buyen al desarrollo cognitivo, metacognitivo y
— contaba ya con una vasta oferta de formación lingüístico-discursivo con impacto en el español
en lenguas occidentales y orientales. Esa oferta lengua materna y a la vez promueven una actitud
excluía sin embargo las lenguas-culturas de los curiosa y respetuosa por la diversidad cultural.
pueblos originarios de América. Frente a ello, des- Los proyectos subsidiados por la SECYT-UNC
de la Secretaría de Extensión que inaugurábamos entre 2000 y 2007 posibilitaron la concepción de
en los albores de la democracia, sentíamos la un estilo propio de E-A de lenguas romances
deuda enorme que nuestra institución tenía para extranjeras en enfoque integrado y el diseño de
con las comunidades nativas de nuestro país y de materiales didácticos con fuerte impacto en el
la región. Fue así que, actuamos. Durante cuatro medio educativo universitario. Ello se tradujo en
años convocamos a especialistas en lenguas-cul- la creación de espacios curriculares para la inter-
turas de los pueblos originarios, a antropólogos, comprensión de lenguas romances en ámbitos de

* Directora y co-directora del Equipo InterRom de la Facultad de Lenguas

73
grado, de extensión y de posgrado de nuestra formación superior que fueron convocados opor-
facultad, y en carreras de grado y de posgrado de tunamente para esa construcción conjunta.1
otras unidades académicas de la Universidad La Ley de Educación Nacional Nº 26.2062
Nacional de Córdoba, ( Marchiaro, Torre, 2007), (LEN) sancionada en diciembre de 2006, esta-
(Carullo, Torre , 2009). blece en nuestro país la obligatoriedad de la escue-
En la etapa actual de investigación, nos he- la secundaria; recordemos que a partir de los no-
mos planteado ampliar el ámbito de formación a venta esa obligatoriedad alcanzó sólo hasta el ci-
través de una propuesta que incorpora los enfo- clo básico completo, denominado CBU3 en la
ques plurales en la escuela secundaria. Nuestros provincia de Córdoba.
objetivos apuntan a propiciar el enfoque intercom- La finalidad primordial de la educación secun-
presivo de lenguas romances emparentadas, en- daria obligatoria, según esta ley, es “habilitar a
tre las cuales incluimos al español, y con ello a los/las adolescentes y jóvenes para el ejercicio
promover en los adolescentes el desarrollo de pleno de la ciudadanía, para el trabajo y para la
competencias lingüístico-discursivas plurilingüe continuación de los estudios” (Cap. IV, art. 30).
e intercultural. Ello resulta de una decisión política del Estado
que apunta a fortalecer la postergada inclusión
social, cuestión que emerge claramente en la nue-
MARCOS LEGALES NACIONALES Y va ley, en la que se regula, no sólo esa obligato-
OFERTA CURRICULAR EN LENGUAS riedad sino: la educación permanente para jóvenes
EXTRANJERAS y adultos (Cap. IX); le educación rural obligatoria
para los niveles inicial, primario y secundario
Los marcos legales nacionales y documentos (Cap. X); la educación intercultural y bilingüe
emanados del Ministerio de Educación de la en los tres niveles referidos “que garantiza el
Nación, a partir de 2006, posibilitaron inscribir derecho constitucional de los pueblos indígenas
nuestras actuales acciones de investigación y el (…) a recibir una educación que contribuya a pre-
diseño de materiales didácticos en normativa servar y fortalecer sus pautas culturales, su lengua,
acorde a las necesidades de una formación su cosmovisión e identidad étnica” (Cap. XI, Art.
plurilingüe e intercultural que venimos propici- 52); la educación en contextos de privación de
ando como equipo desde el año 2000. libertad (Cap. XII); la educación domiciliaria y
En efecto, las nuevas perspectivas que plantean hospitalaria (Cap. XIII).
los lineamientos educativos y los marcos de refe- Respecto de las “lenguas extranjeras”, es muy
rencia para los diversos niveles de la educación auspiciosa la incorporación de su enseñanza des-
pública, dan cuenta de un paulatino cambio de de la educación primaria:
paradigma en la enseñanza-aprendizaje de
lenguas que posibilita la incorporación de “Brindar oportunidades equitativas a todos/
enfoques innovadores, en particular la as los/as niños/as para el aprendizaje de sa-
beres significativos en los diversos campos
intercomprensión en lenguas romances. Es im- del conocimiento, en especial la lengua y la
portante destacar que ese cambio de paradigma comunicación, (…) las lenguas extranjeras
se fue co-construyendo entre 2006 y 2012 gracias (…) (Cap. III, Art. 27, inc. c.)
a la decisión política de los responsables de la
cartera educativa nacional y a los aportes de es- Sin embargo, en 2006, la LEN desconcertaba,
pecialistas en lenguas extranjeras del sistema de en lo relativo a las lenguas extranjeras para la
Educación Secundaria. En efecto, en el Cap. IV dice así:

1
Secretaría de Políticas Universitarias, Ministerio de Educación de la Nación Proyecto de mejora para la formación inicial
de profesores para el nivel secundario: lenguas extranjeras. Ministro de Educación Prof. Alberto Sileoni
2
Argentina, Ministerio de Educación de la Nación (2006), Ley de Educación Nacional Nº 26.206
3
CBU: Ciclo Básico Unificado, denominación en la provincia de Córdoba para el ciclo que abarca primero, segundo y
tercer año de la Educación Secundaria. La derogada Ley Federal de Educación Nº 24.195/96 Título III, Cap. III) incluía
este ciclo junto a la escolarización primaria bajo la denominación común de Educación General Básica

74
“Desarrollar las competencias lingüísticas incidencia o valor cultural — lenguas originarias
orales y escritas de la lengua española y com- y de inmigración — o por necesidades de integra-
prender y expresarse en una lengua ex-
tranjera” (Art. 30, inc. d.).
ción social, cultural o económico-productivas —
lenguas regionales. Se señala la contribución de
La referencia a una lengua extranjera, daba pie las prácticas en otras lenguas-culturas para el
a que las instituciones optaran, como en años an- desarrollo de competencias de lectura, escritura,
teriores, por el inglés, cuya necesidad de aprendi- comprensión y producción oral en español, lengua
zaje es también indiscutible. En ese sentido, la materna. Se estimula un trabajo integrado entre
norma no reflejaba todavía la decisión política lenguas y disciplinas escolares.
de reivindicar el relegado, o casi inexistente lu- En 2012, se aprueban “los Núcleos de Aprendi-
gar del italiano en los espacios formales de for- zajes Prioritarios (NAP)6 “para el área de lenguas
mación, y tampoco la voluntad expresa de incor- Extranjeras para la Educación Primaria y Secun-
porar definitivamente de manera obligatoria la daria” y se establece que las provincias podrán
enseñanza del portugués. coordinar políticas de formación, capacitación y
¿Por qué referimos en primer lugar a esas dos elaboración de materiales de apoyo al desarrollo
lenguas romances extranjeras? porque creemos curricular.
que se trata de dos grandes deudas pendientes. En el documento, la enseñanza de lenguas ex-
La primera, para con un número importante de tranjeras se inscribe en la perspectiva plurilingüe
ciudadanos argentinos distribuidos en distintas e intercultural, promueve enfoques multidiscipli-
regiones del territorio nacional, nietos y bisnietos narios y “combina el aprendizaje de lenguas con
y tataranietos de la inmigración italiana de los la capacidad de reflexión y disposición crítica
siglos XIX y XX. La segunda para con todos los necesaria para convivir en sociedades de gran
ciudadanos argentinos que aspiramos el logro de diversidad cultural” (op-cit: 1). Establece el con-
una verdadera integración regional, no sólo junto de lenguas extranjeras que deben enseñarse
económica sino también lingüístico-cultural con en contexto escolar, ellas son: el alemán , el fran-
nuestros hermanos brasileños. cés, el inglés, el italiano y el portugués y consi-
En 2011, se aprueban los marcos de referencia dera a futuro la posibilidad de incluir otras más.
para la Educación Secundaria Orientada – Entre los ejes que se consignan para el trabajo
Bachiller en Lenguas4. En el documento se efec- en el aula, se señalan la reflexión sobre la lengua
túan aportes centrales para un posible cambio de que se aprende y la reflexión intercultural. Se su-
paradigma en la enseñanza-aprendizaje de gieren asimismo cuatro recorridos posibles, de
lenguas en la escuela secundaria. Entre otras, se diferente duración, para la enseñanza de la LE,
plantea la necesidad de revisar los enfoques esto es recorrido: a) de cuatro ciclos que abarca
tradicionales — para nosotros “enfoques singu- toda la escolaridad (primero y segundo ciclo de
lares”5 — que tienden a colocar las lenguas en primaria; ciclo básico y ciclo orientado de secun-
compartimientos separados, no sólo en términos daria); b) de tres ciclos que inicia en el segundo
lingüísticos sino también en relación a los con- ciclo de primaria y culmina en el ciclo orientado
textos socio-culturales y políticos. Se da libertad de secundaria; c) de dos ciclos, que se circunscri-
a cada jurisdicción para que reexamine cuáles be al ciclo básico y al ciclo orientado de secun-
lenguas son susceptibles de ser incorporadas a la daria; d) de un ciclo que abarca los tres años del
enseñanza y con qué modalidad a la vez que se ciclo orientado de secundaria. La organización
aconseja seleccionar las lenguas no sólo por la en ciclos contempla niveles crecientes de
universalidad de su uso, sino también por su complejidad de los aprendizajes, posibilita la
libertad de opción a cada jurisdicción, es flexible
4
Marcos de referencia: Educación Secundaria Orientada – Bachiller en Lenguas, Consejo Federal de Educación (Resol.
CFE Nº 137/11 – Anexo VII)
5
Enfoques singulares en contraposición a los enfoque plurales: diferenciación que propone el MAREP: Marcos de Referencia
para los Enfoques Plurales de las Lenguas y las Culturas, (2008), Michel Candelier (Coordinador)
6
NAP: Núcleos de Aprendizaje Prioritarios- Lenguas Extranjeras. Educación Primaria y Secundaria. Documento aprobado
por Resol. CFE Nº 181/12.

75
por cuanto permite una formación consecutiva o los casos en los que la oferta se amplía a más de
simultánea en lenguas extranjeras, habilita a cada una lengua extranjera, los conocidos: la Escuela
jurisdicción a incorporar más de una lengua en la Dante Alighieri y el Colegio Alemán, de gestión
formación. privada las dos, que — además del inglés —
incorporan el italiano y el alemán respectivamen-
te.
NORMATIVA EN LA JURISDICCIÓN Entre de las cinco formaciones que se ofrecen
CÓRDOBA Y OFERTA CURRICULAR EN en la Jornada Extendida, que incluyen el arte, la
LENGUAS EXTRANJERAS literatura y TIC, las ciencias, las actividades
corporales y ludomotrices, el inglés aparece bajo
Nos referiremos en primer lugar a la situación la curiosa etiqueta: “lenguas extranjeras-inglés”:
de las lenguas en el nivel primario. Inscripta en el sintagma nominal en plural, guión +lexema en
la normativa nacional, en la nueva Ley de singular pondría en evidencia una vez más la
Educación la Provincia de Córdoba7, entre los distorsión entre la normativa y su aplicación real
objetivos para la Educación Primaria, el Capítu- (Carullo, Marchiaro, 2009).
lo III sobre “Estructura del Sistema Educativo Seguidamente daremos cuenta del lugar que
Provincial”, Apartado Tercero, establece: ocupan las lenguas en el nivel secundario.
Conviene aclarar primero cómo se estructura este
“c) Brindar oportunidades equitativas a to- nivel a partir de la nueva normativa. En el Apar-
dos las niñas y niños para el aprendizaje de tado Cuarto, del Capítulo III de la Ley Provinci-
saberes significativos en los diversos cam- al, tal como se establece en la Ley Nacional de
pos del conocimiento, en especial la lengua
y la comunicación, (…) las lenguas
Educación, el Art. 38 refiere a los dos ciclos de la
extranjeras, (…) Educación Secundaria: “un ciclo básico de
carácter común a todas las orientaciones y un ci-
Y en el Art. 36, sobre la jornada educativa para clo orientado de carácter diversificado según las
el nivel primario ordena: distintas áreas del conocimiento, del mundo so-
cial y del trabajo”.
“Con la finalidad de asegurar el logro de los En 2012, inscripto en la normativa de Nación
objetivos fijados para este nivel por la pre- referida (Resol. CFE Nº 84/09, Art. 6) que define
sente Ley, las escuelas primarias serán de
jornada extendida o de jornada completa.”
doce orientaciones para el Ciclo Orientado, entre
las cuales la Orientación Lenguas, el Ministerio
En el marco de la nueva Ley Provincial de Edu- de Educación de la Provincia de Córdoba elaboró
cación y a pesar de que la norma refiere expresa- el Documento de Síntesis de las Orientaciones
mente a “lenguas extranjeras” en plural, la cartera 2012-2015 – para la Educación Secundaria.8
educativa de Córdoba ha optado por la lengua La situación de las lenguas extranjeras no varía
extranjera única, el inglés para las escuelas de casi para este nivel, entre los objetivos de la
gestión estatal dentro del Programa de Jornada educación secundaria, la nueva ley establece:
Extendida. El aprendizaje del inglés inicia en ge-
neral en 5º grado y en casos excepcionales, en 4º d) Desarrollar competencias lingüísticas
comunicacionales, orales y escritas del idio-
grado. Esta situación varía entre lo público y lo ma nacional y de comprensión y expresión
privado. Los colegios de gestión privada, dentro en una lengua extranjera; (Cap. III, Apar-
de la Jornada Extendida, optan también por la tado cuarto, Art. 39).
enseñanza del inglés, que incorporan de manera
obligatoria desde primer grado y en algunas Se destaca que son quince las orientaciones
instituciones a partir del Nivel Inicial. Son raros propuestas en la provincia de Córdoba, esto es:

7
Ley Nº 9870/2010. Principios generales y fines de la Educación de la Provincia de Córdoba. Deroga la Ley Nº 8113.
8
Ministerio de Educación, Secretaría de Educación, Subsecretaría de Promoción de Igualdad y Calidad Educativa, Gobierno
de la Provincia de Córdoba (2012), Educación Secundaria. Documento de Síntesis de las Orientaciones 2012-2015.

76
Ciencias Sociales y Humanidades, Ciencias Natu- Para ello, se propondrán situaciones de
rales, Economía y Administración, Lenguas, Agro lectura en las que sea necesario activar sa-
beres vinculados con los aspectos fonéticos,
y Ambiente, Turismo, Comunicación, Informá- fonológicos, semánticos, morfosintácticos,
tica, Educación Física, Arte: Artes Visuales, Arte: discursivos y textuales para indagar paren-
Música, Arte: Teatro, Arte: Danza, Arte: Audiovi- tescos interlenguas que permitan acceder a
suales, Arte: Multimedia. la comprensión global de los textos y a la
Cabe señalar que, tal como lo indica la norma, reflexión sobre el lenguaje en tanto objeto
complejo y multidimensional. De este modo,
en la currículo — en catorce de las quince orien- los estudiantes podrán, además, construir
taciones que se detallaron — aparece el inglés conocimiento acerca de cómo funcionan y
como opción única con nueve horas de formación se adquieren/aprenden las lenguas. Se
desplegadas entre tercero y quinto año. Un as- sugiere incluir la consideración de la
pecto interesante es que la nueva estructura curri- distribución geográfica de las lenguas
involucradas, el desplazamiento de las
cular para el secundario prevé Espacios de Opción lenguas indoeuropeas, su origen histórico y
Institucional (E.O.I), ellos cumplen la función de sus variedades. (2012:19)
“contextualizar, articular, profundizar y ampliar
los aprendizajes y contenidos de la Formación La presencia de un E.O.I destinado a la inter-
Específica de cada Orientación” (0p-cit:3) y cada comprensión y los descriptores — más allá de
institución educativa puede elegir -por año del que estuviéramos o no en un todo de acuerdo con
Ciclo Orientado- uno y hasta dos espacios de ellos — constituyeron una verdadera sorpresa
opción. En el listado, que oscila entre cinco y ocho para nuestro equipo. Generó expectativas entre
E.O.I. por orientación, figura en todos los casos nosotros a la vez que voluntad de acción. Sin em-
la alternativa de opción por otra lengua extranjera bargo, no nos engañábamos, un rápido análisis
con la denominación de “lengua adicional”. de la propuesta integral de formación en lenguas
La excepción emerge en la Orientación Len- extranjeras en los niveles primario y secundario
guas, que lógicamente desde su designación plu- daba cuenta de que el gobierno de la provincia
ral no podría obviar la presencia de las lenguas de Córdoba no ha efectuado aún un salto
extranjeras A y B “adicionales ” al inglés. En el cualitativo e inclusivo hacia el plurilingüismo y
documento, la modalización “adicional” para las la diversidad cultural.
otras lenguas-culturas confirma la tendencia de Efectivamente, de lo analizado surge que la
un posicionamiento hegemónico en materia de cartera educativa cordobesa optó por tres de los
políticas lingüísticas. En las pocas instituciones cuatro recorridos propuestos por los NAP – Len-
secundarias de Córdoba Capital que han optado guas Extranjeras, es decir, incorporó la lengua ex-
por la Orientación Lenguas, esas dos lenguas son tranjera en el Segundo Ciclo de Primaria, en el
el italiano y el francés. Queda entonces para el Ciclo Básico de Secundaria9 y en el Ciclo Orien-
portugués uno de los cinco E.O.I. previstos para tado, para todos esos trayectos de formación, se
la orientación, en los que se contempla una eligió continuar de manera exclusiva y excluyente
“lengua adicional C”, y para los enfoques con el inglés. A pesar del marco de flexibilidad
plurales, otro E.O.I denominado otorgado por la normativa nacional, Córdoba
Intercomprensión en Lenguas: mantiene el enfoque singular, el de la lengua úni-
ca, hegemónica, con una metodología de enseñan-
En este espacio se propone que los estudian- za secuenciada que implica en el peor de los ca-
tes puedan movilizar estrategias de lectocom- sos ocho años de exposición a una sola lengua
prensión para acceder a diversos géneros
textuales expositivos, argumentativos y/o
extranjera internacional, decisión que pareciera
literarios escritos en lenguas estrechamente estar íntimamente ligada “a cuestiones políticas
emparentadas con el español (lengua de y económicas más que lingüísticas o culturales”
escolarización); por ejemplo, el portugués. (Marchiaro, 2011).

9
Resolución Nº 29/2010 del Ministerio de Educación de la Provincia de Córdoba

77
HACIA LA INCLUSIÓN DE LOS la Escuela Normal Alejandro Carbó. Y esa
ENFOQUES PLURALES EN LA ESCUELA elección resultó de la batalla que dieron las do-
SECUNDARIA: UN RETO PARA EL centes ante las autoridades escolares y el
EQUIPO INTERROM Ministerio para defender sus espacios de trabajo
que corrían el riesgo de desaparecer.
En 2011, un grupo de profesoras de lenguas En ese desafiante 2011, comenzamos a trabajar
romances extranjeras de italiano y francés, con juntos docentes de la Escuela Normal Alejandro
desempeño docente en el nivel secundario de la Carbó y miembros del equipo de investigación
Escuela Normal Superior Dr. Alejandro Carbó, InterRom de la Facultad de Lenguas; fue un año
de Córdoba Capital, se acercó al equipo para so- académico completo de reuniones en una y en
licitar asesoramiento sobre los enfoques plurales otra institución y de acompañamiento a las do-
de E-A y en particular sobre el enfoque inter- centes en su primera experiencia de
comprensivo, al que adhiere InterRom. Las do- implementación del enfoque intercomprensivo
centes, ex-alumnas de los profesorados de Italia- con estudiantes de quinto año.
no y Francés de nuestra casa de estudio, recurrían En 2012, la Subsecretaría de Estado de
a nuestro equipo en conocimiento de su formación Promoción de Calidad e Igualdad Educativa, del
y experiencia en el tema. Ministerio de Educación de la Provincia nos
Ese año 2011 era un momento bisagra en la convocaba a acordar una “capacitación en servi-
historia de las lenguas romances extranjeras en cio”. La formación estuvo a cargo de miembros
el sistema educativo de Córdoba, momento que de nuestro equipo, se desarrolló en tres sedes,
requería de mucha energía y decisión firme para Córdoba Capital, Río IV y Villa María bajo el
defender la inclusión del portugués y para con- título de : Hacia una didáctica integradora de
servar los pocos espacios de formación para el lenguas y culturas en la Escuela Secundaria.
italiano y el francés que habían quedado tras el Enfoque intercomprensivo e intercultural en la
vaciamiento progresivo producido entre los años enseñanza de lenguas. Con ella dábamos un se-
1980 y 2000 en la provincia, como en tantas otras gundo paso muy importante hacia la incorpo-
provincias de nuestro país. Se trataba de un mo- ración de la perspectiva plurilingüe e intercultural
mento decisivo por cuanto — tal como hemos en la provincia.
explicado — la normativa de Nación creaba las Para la investigación, resultaba oportuno el
condiciones para la recuperación de los espacios momento, dado que en diciembre de ese mismo
perdidos. Y ello, sin dudas generaba fuertes ex- año finalizaba nuestro proyecto bianual y debía-
pectativas entre docentes de lenguas romances mos pensar el nuevo proyecto para la
extranjeras con desempeño en el nivel secundario convocatoria de la SECyT, periodo 2012-2013.
y entre los profesores de la Facultad de Lenguas Tomamos la decisión entonces de centrar los
con ejercicio docente en las carreras de Profe- nuevos estudios en la Escuela Secundaria.
sorado. El proyecto aprobado y subsidiado en 2012
El año 2011 era también un momento clave por la Secretaría de Ciencia y Tecnología de la
para las decisiones que debíamos tomar en el equi- UNC se intitula: Enfoques Plurales en la Escuela
po porque cerrábamos una extensa etapa de Secundaria: impactos de la intercomprensión en
investigación y transferencia que abarcó el lenguas romances en el desarrollo de las compe-
periodo 2000-2011, (Carullo, Marchiaro, Pérez, tencias lingüístico-discursiva e intercultural en
2010), (Torre, Marchiaro, 2011), (Bogliotti, adolescentes escolarizados.
2011), (Carullo, Brunel, Navilli, 2011), (Carullo, Tres cuestiones nos llevaron a centrar nuestros
Viramonte, 2011). Y en 2012, comenzaría a estudios en este nivel educativo: la dificultad en
implementarse en la provincia de Córdoba la re- comprensión lectora y producción discursiva que
forma prevista para el Nivel Secundario, inscripta poseen los adolescentes escolarizados y los
en la normativa provincial reseñada. ingresantes y cursantes de los primeros años de
Fueron muy pocas las instituciones de Córdo- la universidad, las metodologías dominantes de
ba que, entre las quince opciones posibles, conser- enseñanza de lenguas extranjeras que conciben
varon la Orientación Lenguas. Una de ellas fue los aprendizajes lingüísticos en forma aislada y

78
secuenciada y la necesidad de recuperar los espa- del interaccionismo socio-discursivo ha resulta-
cios de formación para la diversidad lingüístico- do central en la nueva etapa de investigación. La
cultural. tipología de discursos, las nociones centrales de
A mediano plazo, el estudio se propone inda- “textualidad” y “genericidad”, la propuesta de
gar el impacto de los enfoques plurales, en espe- análisis descendente significaron herramientas
cial del enfoque intercomprensivo de lenguas teóricas potentes para la búsqueda de textos en
emparentadas, en el desarrollo lingüístico-dis- las cuatro lenguas de estudio, para su análisis pre-
cursivo de adolescentes escolarizados. El proyec- pedagógico y para el diseño y elaboración de los
to integra los aportes de la teoría sociocultural materiales didácticos.
del desarrollo humano (Vygostky,1964), del Con los nuevos materiales apostamos a con-
interaccionismo socio-discursivo (Bronckart, tribuir, desde el enfoque integrado de lenguas y
2004 y 2007), de la lingüística textual (Adam, culturas, al desarrollo de competencias lingüís-
1997), de los enfoques plurales en la enseñanza tico-discursiva plurilingüe e intercultural y a for-
de lenguas (Candelier, 2007) y más específica- talecer los procesos de escritura en español lengua
mente las propuestas de (Coste, 1997), (Béacco, materna en estudiantes del Ciclo Orientado de la
2007), (Cavalli, 2005), respecto de la noción de Educación Secundaria.
competencia plurilingüe y pluricultural. El aporte

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Marco teórico general CARULLO A. M., Torre M.L (2009), “InterRom : un dis-
ADAM J.M. (1997), Les textes : types et prototypes, Paris, positivo didáctico para la intercomprensión en lenguas ro-
Natham. mances”, dans Synergies-Chili, nº 5, Santiago du Chili,
Revue du GERFLINT, ISSN: 0718-0675 Pág. 81-89.
BEACCO, J.C. (2007), L’approche par compétences dans
l’enseignement des langues. Paris, Didier. CARULLO A.M., Marchiaro S. (2009), “Nuevos desafíos:
hacia la inclusión de la perspectiva plurilingüe y multicul-
BRONCKART J.P. (2004), Actividad verbal, textos y dis- tural en las currículas de profesorados en lenguas extranje-
cursos. Por un interaccionismo socio-discursivo, Madrid, ras”, en IV Encontro Internacional de Pesquisadores de
Fundación Infancia y Aprendizaje. Políticas Lingüísticas, Núcleo Educación para la Inte-
______. (2007), Desarrollo del lenguaje y didáctica de las gración, Asociación de Universidades Grupo de Monte-
lenguas, Villa Linch, Miño y Dávila. video. Santa Maria: Ed. Sociedade Vicente Pallotti. Pág.
119-125.
CANDELIER M. (Coord.) (2007). CARAP – Cadre de
référence pour les approches plurielles des langues et des CARULLO A. M., Marchiaro S., Pérez A.C. (2010), “Es-
cultures. STRASBOURG : Centre européen pour les trategias cognitivas y metacognitivas en hispanohablantes
Langues Vivantes/ Conseil de l’Europe. debutantes en lectura intercomprensiva en lenguas roman-
ces”, en Lernerautonomie durch Interkomprehension:
CAVALLI M. (2005) “Didactique intégrée des langues” in
Projekte und Perspektiven /L’autonomisation de l’ap-
Education bilingue et plurilinguisme. Le cas du Val d’Aoste,
prenant par l’intercompréhension: projts et perspectivas.
Paris, Didier-CREDIF, coll. LAL.
Tübingen: Narr 2010. Pág. 250-266.
VYGOTSKY Lev (1964) Pensamiento y lenguaje. Buenos
Aires: Lautaro. CARULLO A. M., Viramonte M. (2011), editoras de las
Revistas Lingüística en el Aula 9 y 10, Didáctica del pluri-
______.-(1988), El desarrollo de los procesos psicológi- lingüismo. La intercomprensión entre lenguas emparen-
cos superiores, caps. 4 y 6, México, Crítica Grijalbo. tadas. Contexto histórico, definiciones y aportes de la
Publicaciones del Equipo InterRom investigación, Volumen 9 (Pág. 1-69) y Proyectos y
experiencias de aplicación, Volumen 10, Córdoba, Edición
BOGLIOTTI A.M. (2011), “De sonidos y melodías en
Comunicarte, ISSN 1514-0202. Pág. 1-73.
lenguas afines. Exploración prosódica sobre un corpus de
textos orales expositivos en francés y en español”, en Lin- CARULLO A.M., Navilli E., Brunel Matias R. (2011),
güística en el Aula- Vol. 9, Didáctica del plurilingüismo. “Representaciones léxicas. Palabras amigas y falsas ami-
La intercomprensión entre lenguas emparentadas. Contexto gas entre lenguas parientes”, en Lingüística en el Aula 9,
histórico, definiciones y aportes de la investigación. Cór- Didáctica del plurilingüismo. La intercomprensión entre
doba, Editorial Comunicarte pág. ISSN 1514-0202. Pág. lenguas emparentadas. Contexto histórico, definiciones y
59-69. aportes de la investigación, Córdoba, Edición Comunicarte,
ISSN 1514-0202. Pág. 23 a 42.

79
MARCHIARO S., Torre M. L., Pérez A.C. (2007), Curso Programa de Políticas Lingüísticas, Montevideo. ISBN:
de Intercomprensión en lenguas romances para entornos 978-9974-98-398-4. Pág. 77-81.
virtuales, Material on-line, Facultad de Lenguas, TORRE M.L., Marchiaro S. (2011), “Nuevos desafíos en
Universidad Nacional de Córdoba. didácticas de las lenguas. Hacia la intercomprensión
MARCHIARO S. (2011), “Política lingüística-educativa, plurilingüe”, en Lingüística en el Aula- Vol. 9, Didáctica
lenguas internacionales y enseñanzas de lenguas”, en V del plurilingüismo. La intercomprensión entre lenguas
Encuentro Internacional de Investigadores de Políticas Lin- emparentadas. Contexto histórico, definiciones y aportes
güísticas. AUGM, Núcleo Educación para la Integración. de la investigación. Córdoba, Editorial Comunicarte, ISSN
1514-0202. Pág. 15-21.

80
APRENDER A ENSINAR EM UM INSTITUTO CULTURAL BRASILEIRO
NO EXTERIOR: IMPLICAÇÕES PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES

Everton Vargas da Costa


Margarete Schlatter
Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Este trabalho propõe uma reflexão sobre o pla- língua adicional (PLA) no exterior e a perspecti-
nejamento de políticas de formação de professo- va teórica sobre formação na qual nos ancora-
res com base em um estudo etnográfico de even- mos. Em seguida, descrevemos como a pesquisa
tos de formação em um instituto cultural de difu- de Costa (2013) foi realizada e apresentamos o
são e ensino da cultura brasileira no exterior (Cos- conceito de eventos de formação para, então, ana-
ta, 2013). Desde a perspectiva de Nóvoa (1995; lisar um dado etnográfico em que um grupo de
2007), que defende uma formação a partir dos professores discute a elaboração de um material
conhecimentos que os professores produzem em didático organizados em uma reunião em peque-
suas práticas, buscamos relacionar o que aconte- no grupo. Concluímos com uma reflexão sobre
ce em eventos sociais em que a formação é rele- implicações deste estudo para o desenho de polí-
vante para os participantes desse instituto com a ticas de formação de professores.
possibilidade de projetar políticas de preparação
de profissionais para a sua realidade.
A base para nossa discussão é o estudo de Cos- POLÍTICAS DE DIFUSÃO DE PLA NO
ta (2013), o qual teve como cenário de pesquisa EXTERIOR E A FORMAÇÃO DE
um instituto cultural brasileiro localizado na ca- PROFESSORES
pital de um país latino-americano. Nesse institu-
to, os professores advêm de diferentes áreas do Diniz (2012) aponta que, no âmbito acadêmi-
conhecimento e, por serem brasileiros conside- co, as iniciativas para a formação de professores
rados usuários competentes da língua portugue- de PLA, a partir de meados da década de 90, têm
sa, passam a atuar na docência. Salvado (em pre- crescido por meio do fortalecimento de cursos
paração) aponta que não há profissionais forma- de Letras e da criação de novas disciplinas em
dos na área no país e que a procura por cursos de programas de graduação e pós-graduação stricto
português sextuplicou em sete anos, exigindo um sensu. Ao estudar o programa de leitorado do
ingresso muitas vezes abrupto na profissão de Itamaraty, o autor elenca diversas iniciativas po-
professor, com vistas a suprir as necessidades que líticas que incidem na formação de professores
o instituto enfrenta. Costa (2013) acompanhou como a criação de cursos de graduação, cursos à
os encontros dos professores em reuniões peda- distância e o próprio programa de leitorado. Ma-
gógicas e intervalos e descreveu os eventos de chado (2012) organiza as iniciativas diplomáti-
formação construídos nessas ocasiões. Segundo cas no âmbito cultural e conclui que a difusão
o autor, em eventos de formação, definidos como linguística é central para todas as políticas liga-
momentos propícios para aprender a ensinar, os das à cultura. Já Carvalho e Schlatter (2011) apre-
professores desempenham ações específicas co- sentam um panorama das políticas e planificação
mo relatar e explicar questões relativas à sala de linguística no Brasil para difusão internacional
aula com base em tópicos como gramática, ava- do português. Após elencar diversas ações políti-
liação e elaboração de materiais didáticos. Nes- cas, as autoras destacam a importância de que haja
ses eventos, a narrativa de experiências se torna maior preocupação com a formação de professores:
uma base reconhecida por todos como recurso
para sua formação. [...] destacamos o papel do professor, à me-
A seguir, apresentamos um breve panorama dida que sua atuação é fundamental na
implementação (e sucesso) de políticas
da formação de professores de português como linguísticas. Essa constatação aponta para a

81
importância de investir em formação docen- Os problemas da prática profissional docen-
te para que uma política alcance o resultado te não são meramente instrumentais; todos
desejado. (CARVALHO E SCHLATTER, eles comportam situações problemáticas que
2011, p. 279) obrigam a decisões num terreno de grande
complexidade, incerteza, singularidade e de
Esses trabalhos apontam para políticas que conflito de valores (Schön, 1990). As situa-
possam incidir no planejamento da formação de ções que os professores são obrigados a en-
frentar (e a resolver) apresentam caracterís-
professores. O caso do Celpe-Bras, por exemplo, ticas únicas, exigindo, portanto, respostas
discutido nos três trabalhos, é um exemplo de únicas: o profissional competente possui ca-
política que prevê a formação dos examinadores pacidades de autodesenvolvimento reflexi-
e consequentemente do professor de PLA. Os vo (NÓVOA, 1995, p. 27, grifos no origi-
autores salientam, no entanto, que as políticas de nal).
formação dirigidas aos centros e institutos fora
Segundo o autor, tais práticas de formação
do Brasil ainda são incipientes. Diniz (2012), ao
opõem-se ao que se tem feito tradicionalmente
focalizar o programa de leitorado do Itamaraty,
desde a pedagogia científica. Esta tem desvalori-
também não identifica ações de formação conti-
zado os repertórios de saberes que os professores
nuada.
construíram ao longo de suas vidas, esforçando-
É com base na constatação de que não há pla-
se na imposição do saber dito “científico” (NÓ-
nejamento de políticas na área de formação de
VOA, 1995, p. 27), numa lógica guiada pela racio-
professores de PLA no exterior que propomos
nalidade técnica sempre oposta “ao desenvolvi-
aqui que este passe a ser uma meta das políticas
mento de uma práxis reflexiva” (NÓVOA, 1995,
de difusão da língua. Para tanto defendemos como
p. 27)1. Nesse sentido, Nóvoa (1995) afirma:
desejável que a formação parta de uma perspec-
tiva teórica que valorize as práticas que já estão É preciso trabalhar no sentido da diversifi-
em andamento em diferentes centros e institutos cação dos modelos e das práticas de forma-
e que estudos etnográficos possibilitem o enten- ção, instituindo novas relações dos profes-
dimento do que é relevante para aqueles que no sores com o saber pedagógico e científico.
dia a dia trabalham como promotores do idioma A formação passa pela experimentação, pela
inovação, pelo ensaio de novos modos de tra-
do Brasil: os professores. balho pedagógico. E por uma reflexão críti-
ca sobre a sua utilização. A formação passa
por processos de investigação, diretamente
A FORMAÇÃO DE PROFESSORES NAS articulados com as práticas educativas.
PRÁTICAS SOCIAIS (NÓVOA, 1995, p.28)

Para Ambrosetti e Ribeiro (2005, p. 39), “é o


Nóvoa (2007) postula que, enquanto há hoje
exercício da profissão docente que constitui ver-
um consenso discursivo sobre o protagonismo do
dadeiramente o quadro de referência tanto da for-
professor em relação a sua formação, nas ações
mação inicial e contínua como da pesquisa em
políticas não se encontra a repercussão desejada.
educação”. Nessa perspectiva, a construção de
Para responder a essa demanda, o autor conside-
conhecimentos e o desenvolvimento profissional
ra necessário: 1) passar a formação de professo-
são vistos como prática coletiva, construída con-
res para dentro da profissão; 2) promover novos
juntamente por grupos de professores de uma
modelos de organização da profissão; 3) reforçar
determinada instituição escolar, enquanto o exer-
a presença pessoal e pública dos professores:
cício da docência é uma prática social institucio-
É preciso investir positivamente nos saberes
nalizada que tem como empreendimento comum
de que o professor é portador, trabalhando- preparar crianças, jovens ou adultos para a vida,
os de um ponto de vista teórico e conceitual. garantindo-lhes acesso aos conhecimentos cul-

1
Autores como Philippe Perrenoud (2001) e Donald Schön (2000) também defendem que a orientação na formação de
professores seja a racionalidade prática antes da racionalidade técnica. A posição dos autores não despreza o conhecimen-
to técnico científico produzido nos centros de investigação, e sim propõe que se projetem planos de formação a partir das
práticas locais.

82
turais e de sistemas simbólicos do grupo social a METODOLOGIA
que pertencem. Ensinar faz com que o professor
mobilize todas as práticas comunicativas, ordens O instituto no qual a pesquisa de Costa (2013)
e valores, sentimentos e hábitos envolvidos em foi realizada é uma instituição privada que, no
interação ativa, numa instituição com dinâmica período de geração de dados, contava com 12
própria. professores de língua portuguesa, sendo quatro
Com base no exposto, pode-se perceber que a deles formados na área de Letras e outros em ou-
compreensão de formação de António Nóvoa é tras áreas como Geografia, Turismo e Adminis-
uma aprendizagem territorial, sendo a escola o tração. Todos os professores, equipe diretiva e
ambiente primário de tais processos, individual funcionários consentiram por escrito em partici-
ou coletivamente. A visão de formação como par da pesquisa. No período da pesquisa, os pro-
aprendizagem local e colaborativa, consideran- fessores ministravam aulas desde nível básico até
do a dinâmica do indivíduo e do coletivo, impli- avançado e colaboravam em atividades de difu-
ca mudanças nos ambientes educativos, e é ne- são cultural como sessões de cinema brasileiro e
cessário um investimento nas experiências ino- festas de Carnaval. Como o instituto é posto
vadoras que já estão em andamento nesses espa- aplicador do exame Celpe-Bras, alguns dos pro-
ços. O contrário pode levar à resistência ou à pas- fessores participantes da pesquisa também atua-
sividade de muitos dos atores envolvidos nos pro- vam como examinadores. O pesquisador acom-
cessos educativos. Assim, para Nóvoa (1995), é panhou as rotinas dos professores fora de sala aula
preciso conjugar a ‘lógica da procura’ (definida em diferentes momentos e ambientes, tendo como
pelos professores e pelas escolas) com a ‘lógica foco da análise os eventos de formação
da oferta’ (definida pelas instituições de forma- construídos nos intervalos entre aulas e nas reu-
ção), não esquecendo que a formação é niões pedagógicas.
indissociável dos projetos profissionais e Com base nos princípios etnográficos de es-
organizacionais. Nóvoa (2007), incisivamente, tranhamento e reflexividade (HAMMERSLEY;
propõe que o professor seja o centro da formação ATKINSON, 1995), foi empreendido o trabalho
de professores. de campo, que usou a observação participante
Pensando o indivíduo, a profissão e o espaço como principal método de geração de dados.
escolar como três pilares de desenvolvimento do Durante a observação foram feitas notas de cam-
professor, e o diálogo construído entre os partici- po, fotos e gravações de interações entre profes-
pantes de um dado contexto situado historicamen- sores, as quais foram organizadas em diários de
te, a observação das experiências produzidas e campo e transcrições. A análise dos dados se deu
compartilhadas entre os participantes passam a a partir da noção de evento social2 (RIBEIRO;
ter valor decisivo para compreender como acon- GARCEZ, 2006): foram reunidos 107 eventos em
tece a formação de professores. Nesse sentido, que formação era relevante para o que os partici-
justifica-se a opção feita aqui de privilegiar da- pantes estavam fazendo, dos quais 30 eventos
dos etnográficos para observar como acontece a foram descritos como eventos de formação.
formação de professores em um instituto cultural No contexto analisado, um evento de forma-
brasileiro no exterior. ção se organiza em torno de ações que os partici-
pantes desempenham conjuntamente: apresentar
modelos e estratégias de ensino; relatar experi-
ências de sala de aula; responder perguntas sobre
questões de sala de aula; oferecer ajuda quando
solicitada. O tópico tratado nas interações em

2
Para Ribeiro e Garcez (2006), evento ou evento social é “uma definição social da atividade de fala que se desenvolve na
situação dependendo das oportunidades e restrições à interação proporcionadas pela mudança dos participantes e/ou
objeto da interação. Os eventos se desenvolvem ao redor de um tópico ou no máximo de um âmbito limitado de tópicos e
se distinguem por suas estruturas sequenciais. Eles são marcados por rotinas de abertura e fechamento estereotipadas e,
portanto, reconhecíveis.” (p. 261-262)

83
eventos de formação tem relação com as práticas nhecimento novo para aquele contexto. Os parti-
de sala de aula e constitui o foco específico de cipantes estão sentados em um semicírculo na sala
ensino em pauta entre os participantes. Os tópi- 6, Karen4 tem um folha na mão com um quadro
cos mais recorrentes foram: estratégias para o que mostra um esquema do sistema educativo
ensino de gramática; elaboração de instrumentos brasileiro. Os participantes iniciam uma discus-
de avaliação; elaboração de materiais didáticos. são sobre o que pode ser considerado ensino su-
A formulação do conceito de evento de for- perior quando Priscila informa que no Brasil exis-
mação acima descreve os padrões de formação tem cursos superiores com duração de dois anos.
que acontecem no instituto, os quais são orienta-
dos pela combinação de ações com tópicos de Excerto XIV: Sistema Educativo do Brasil
relevância para a prática de sala de aula. O argu- Karen: aí tá, aí educação superior, gradua-
mento central, no entanto, é de que um evento de ção, aí tem educação superior, duração vari-
ável, os estudos de três a seis... (utiliza uma
formação, além de ser em si um momento em que folha com um quadro)
os participantes se orientam para aprender com o Lúcia (em sobreposição): de três a seis anos.
outro, é um momento que tem como foco o ensi- (Lúcia acompanha, enquanto Karen faz ano-
no, já que as ações e os tópicos orientam-se pela tações no quadro)
necessidade de ensinar, em uma lógica de raciona- Karen: não tem curso de graduação de dois
anos? Não né?
lidade técnico-prática3. Dito de outra forma: Lúcia: Não.
aprender a ensinar certos conteúdos é o propósi- Karen: Aí depois,
to geral dos eventos descritos neste trabalho. Além Priscila: de graduação tem.
disso, todas as ações dos participantes aqui ana- Lúcia: de dois anos?
lisadas caracterizam-se pela narratividade: arti- Priscila: sim, são considerados, são exten-
sivos.
cular e apresentar o que consideram uma experi- Karen (em sobreposição): mas é graduação
ência relevante para o tópico em foco é o modo ou educação profissionalizante?
de sustentar as ações que constroem o evento de Priscila: não, é educação superior. São os
formação. Em um evento de formação, recorrer extensivos que o Lula criou. Por que ele não
às narrativas do vivido é parte constitutiva das determinou, por exemplo, que as pessoas
que... É assim, eu me lembro disso, porque
ações dos participantes. foi um auge. Que que aconteceu? Ele obri-
gou, ele não obrigou, foi antes do Lula. Obri-
garam, o governo federal obrigou a todas as
A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE pessoas, a todas as pessoas que estavam en-
PLA NO EXTERIOR EM EVENTOS DE sinando..
Lúcia: não foi antes do Lula, porque eu saí
FORMAÇÃO e o Lula entrou. E não tinha.
Karen: aaaahhh, peraí, peraí, peraí
Com base na noção de evento de formação, Priscila: obrigou que todas as pessoas que
passamos a analisar um dado etnográfico que ser- trabalhassem, trabalhava com
virá para nossa discussão de proposta de políti- Karen: com o ensino
Priscila: com ensino e que não eram
cas de formação. No excerto a seguir, um grupo pedagogos
de cinco professores negocia a elaboração de um Lúcia (em sobreposição): sim, sim.
material didático sobre o sistema educativo bra- Priscila: ou linguistas, tá entendendo? É
sileiro, e o traço de colaboração se evidencia no aquelas pessoas que faziam o curso normal,
modo como os participantes constroem um co-

3
Chamamos a atenção para o fato de que na definição do que é um evento de formação, os tópicos são uma combinação do
que poderíamos chamar de “conteúdos técnicos” (gramática, avaliação e materiais didáticos) e as ações que designam o
uso desses conhecimentos (apresentar, modelar, relatar, elaborar). Isso aponta para uma caracterização do evento numa
perspectiva de racionalidade técnico-prática, ao invés de racionalidades técnica e prática separadamente, conforme pro-
posto na taxonomia de Pérez Gómez (1995). Embora não seja objetivo deste trabalho discutir a distinção entre conheci-
mento técnico e conhecimento prático, consideramos importante chamar a atenção para essa decisão, fruto da análise dos
dados gerados, e reconhecer que essa questão merece aprofundamento em futuros trabalhos.
4
Todos os nomes dos participantes referidos aqui são pseudônimos.

84
as normalistas, lembra que existia a coisa das Karen: então tem, mudamos ou não? E aí
normalistas mudamos ou não? Educação superior de dois
Lúcia: do magistério (ri) anos.
Priscila: era um curso que, que... (Diário 8, p. 11, 12 e 13 – Observação parti-
Karen: não era colegial, o nosso chama cipante 07/03/12 – reunião pedagógica)
Cetav, eu acho
Priscila: era um curso de segundo grau que Conforme podemos ver no excerto, a produ-
era magistério. ção do conhecimento é local, baseada no reper-
Lúcia: é o magistério.
Karen: lembra do magistério que a Mirela
tório de cada um dos participantes e construída
tinha? na interação entre eles. A partir de uma dúvida
Lúcia: ou então tinha os cursos de auxiliar trazida por Karen, para tomar uma decisão sobre
de enfermagem, de contabilidade a inclusão de uma informação no material que
Priscila: isso. estão elaborando sobre o sistema educativo bra-
Lúcia: (inaudível)
Priscila: e você escolhia, ou fazia o segun-
sileiro, torna-se necessário discutir a concepção
do grau normal, ou fazia o segundo grau de curso superior no Brasil. O conhecimento so-
Lúcia: técnico. bre a situação do Brasil em termos de cursos su-
Priscila: Voltado pra pedagogia. periores é construída conjuntamente com base nas
Karen: isso. vivências que cada uma teve. Karen e Lúcia com-
Priscila: e aí isso a gente chamava de
normalistas, que foi o que minha mãe fez,
partilham a ideia de que curso superior de dois
normalista. Equivalia como uma pedagoga, anos é ensino técnico profissionalizante, e Priscila
não exatamente como discorda. Gradualmente, Karen e Lúcia passam a
Karen: antigamente, claro. ativar a memória de experiências e participam
Lúcia: e dava aula de educação infantil, e... com a colega da reconstrução do que seria o sis-
Priscila: e muita gente que tava ensinando
no Brasil, a maioria era gente que nunca fez
tema escolar brasileiro. Nessa construção conjun-
uma universidade. ta, estão autorizadas as lembranças familiares, da
Lúcia: você terminava o magistério, se ins- época que se morava no Brasil, do bairro onde se
crevia no ministério de educação e (bate pal- cresceu. Com base nessa interação, Lúcia e Karen
ma) e começava a dar aula. reconfiguram sua visão sobre o sistema de ensi-
Priscila: então o governo começou a exigir
que essas pessoas tivessem nível superior.
no no Brasil, e a nova informação (que o período
Karen: isso não era só em São Paulo? de educação superior pode ser de 2 anos) é incor-
Priscila: Não, no Brasil inteiro. E o gover- porada no material didático e poderá ser susten-
no começou a exigir que essas pessoas... tada em sala de aula a partir das lembranças de
Lúcia: aí, eu lembro que o pessoal começou experiências compartilhadas neste evento.
a entrar na faculdade de pedagogia.
Priscila: e aí o que foi que aconteceu? Quan-
Priscila, como a participante que explica, in-
do o Lula entrou ele criou uma série de fa- tervém no trabalho que está sendo realizado, e,
culdades, de universidades, não foi? com suas colegas, constrói o espaço de autofor-
Karen: sim, que eram nos colégios à noite, mação participada de que nos fala Nóvoa (1995),
eu lembro que tinha um colégio lá no meu para quem o desenvolvimento da cultura profis-
bairro que tinha, é verdade.
Priscila: e aí, tinham várias instituições, por
sional dos professores está associado à produção
exemplo, lá em Fortaleza existiam várias ins- de saberes e de valores que se incorporam ao exer-
tituições que abriram faculdade de Pedago- cício da profissão docente. Para o autor “a for-
gia, História, Geografia e Letras. mação está indissociavelmente ligada à produ-
Karen: e também enfermagem. ção de sentidos sobre as vivências e sobre as ex-
Priscila: você pagava 190 reais por mês, 190
reais por mês (Lúcia e Karen conversam en-
periências de vida” (idem, p. 26). Com base nes-
quanto Priscila explica) durante dois anos, te e em outros dados gerados por Costa (2013), é
você terminava o curso, e aí terminava for- possível afirmar que, no instituto, os professores
mado. se engajam em eventos de formação: conversar,
discordar e discutir pode significar aprender algo
que complementa o que já sabem e que poderão

5
O relatório Formação Continuada de Professores: Uma análise das modalidades e das práticas em estados e (CONTINUA)

85
usar nas suas aulas logo a seguir. As participan- poderão ou não incorporar tais conhecimentos em
tes se engajam no propósito de aprender a ensi- suas práticas. Nesse sentido, os dados sugerem
nar, pois a atividade conjunta poderá resultar que uma política de formação que se pretenda
numa maneira de abordar o conteúdo em aula. sócio-historicamente sensível poderia prever a
Segundo o relatório da FCC (2011)5, as práti- participação de todos os professores como desen-
cas de formação que se mostram mais exitosas volvedores de etapas de um currículo de formação.
são aquelas que promovem a escola como espa-
ço de formação, a colaboração entre colegas como
estratégia e o compartilhamento da experiência CONSIDERAÇÕES FINAIS
do professor como procedimental. No instituto,
pode-se inferir que essas práticas são incorpora- Neste trabalho, refletimos sobre como a no-
das ao cotidiano das reuniões pedagógicas, o que ção de evento de formação pode ser produtiva
sugere que um modelo de formação de professo- para a pesquisa e para o planejamento de políti-
res de PLA para os participantes que ensinam no cas de formação de professores. Acreditamos que,
exterior, com ou sem formação específica em com base no estudo realizado, podemos propor
Letras, pode privilegiar a troca de relatos de ex- que a formação de professores de PLA no exteri-
periências entre os docentes, a realidade local e or seja pensada a partir da perspectiva de apren-
os conhecimentos que já foram produzidos lo- der a ensinar, tendo como base a autoformação
calmente. Para o planejamento de políticas de for- participada, isto é, a colaboração e a produção de
mação para o contexto de Centros de Estudos Bra- conhecimentos relevantes para os participantes
sileiros e Institutos Culturais, os dados deste tra- no seu próprio local de atuação.
balho sugerem que se conheça a realidade do que Em contextos em que nem todos são forma-
se produz nesses espaços e se ofereça a possibili- dos na área de Letras, aprender a ensinar torna-
dade de os professores aprimorarem sua forma- se emergencial, e isto, conforme apontam os even-
ção valorizando o que já sabem e o que fazem. tos de formação, se dá por meio de certas ações e
A experiência como recurso de formação de certos tópicos em relatos, explicações, mode-
de professores em eventos de formação manifes- lagens para a elaboração de explicações de gra-
ta-se na configuração do participante experiente mática, avaliação e material didático (caso do
apresentando o conhecimento, fruto de suas vi- dado analisado). Assim, experiências se tornam
vências, a outros participantes. O mais experien- básicas para o compartilhamento, tendo em con-
te identifica a relevância de sua contribuição com ta que o cotidiano de cada professor enleva uma
base no que está em andamento e passa a contri- série de conhecimentos produzidos localmente.
buir com o que julga importante para o cumpri- Esta posição sobre formação de professores
mento dos propósitos de trabalho conjunto. Um sinaliza que, para o planejamento de políticas de
dos participantes oferece, tendo sido solicitada formação, torna-se fundamental conectar sabe-
ou não, algum tipo de explicação e/ou demons- res advindos da produção científica com o que os
tração relevante para o que se está fazendo e, ao professores já produzem em seus contextos. Além
ser sustentado pelos demais nessas ações, passa disso, defendemos que a política de formação seja
a ser o participante mais experiente sobre o con- também uma via de estímulo para o trabalho con-
teúdo tratado. A oferta de ajuda como estratégia junto e de valorização do que é produzido local-
de ensino é tornada relevante pelos outros, que mente.

municípios brasileiros (FUNDAÇÃO CARLOS CHAGAS, 2011) traz o resultado de um levantamento das ações de
formação continuada mais comuns nos estados e municípios brasileiros. Verificou-se que duas perspectivas são mais
recorrentes: individualizadas e colaborativas. Em grande parte das Secretarias de Educação, sobretudo naqueles contextos
em que se observou predominância da perspectiva individualizada, observou-se uma formação instrumentalista e que não
leva em conta os saberes dos professores. A perspectiva colaborativa centra-se em atividades realizadas nas escolas:
grupos de estudos, produção coletiva de materiais didáticos, envolvimento dos professores no planejamento e na sua
própria avaliação, elaboração de projetos pedagógicos, além da formação de redes virtuais de colaboração entre comuni-
dades escolares.

86
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMBROSETTI, N. B.; RIBEIRO, M. T. M. A escola como NÓVOA, A. Formação de professores e profissão docen-
espaço de trabalho e formação dos professores. In: VIII te. In: NÓVOA, A. (Org.). Os professores e a sua forma-
Congresso estadual paulista sobre formação de educado- ção. 2 ed. Lisboa: Dom Quixote, 1995.
res, Águas de Lindóia-SP. Modos de ser educador: artes e ______. O Regresso dos Professores. Conferência Desen-
técnicas, ciências e políticas. São Paulo: UNESP, 2005. p. volvimento profissional de professores para a qualidade e
38-47 para a equidade da Aprendizagem ao longo da Vida. Lis-
CARVALHO, S. C.; SCHLATTER, M. Ações de difusão boa: Presidência Portuguesa do Conselho da União
internacional da Língua Portuguesa. Cadernos do IL. Porto Europeia 2007.
Alegre, n.º 42, junho de 2011. p. 260-284 PÉREZ GÓMEZ, A. O pensamento prático do professor: a
COSTA, E. V. Práticas de formação de professores de Por- formação do professor como profissional reflexivo. IN.
tuguês Língua Adicional em um instituto cultural brasilei- NÓVOA, A. (Org.). Os professores e a sua formação. 2
ro no exterior. Dissertação (Mestrado em Letras). Porto ed. Lisboa: Dom Quixote, 1995.
Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2013. PERRENOUD, P. A Prática Reflexiva no Ofício de Pro-
DINIZ, L. R. A. Política linguística do Estado brasileiro fessor: Profissionalização e Razão Pedagógica. Porto Ale-
na contemporaneidade: a institucionalização de mecanis- gre: ARTMED, 2002.
mos de promoção da língua nacional no exterior. Tese RIBEIRO, B. T.; GARCEZ, P. M. Sociolinguística
(Doutorado em Letras). Campinas: Universidade Estadual Interacional: antropologia, linguística e sociologia em
de Campinas, 2012. análise do discurso. Porto Alegre: Loyola, 1998.
HAMMERSLEY, M.; ATKINSON, P. Etnografía: Méto- SALVADO, K. A Língua Portuguesa em um instituto cul-
dos de Investigación. Barcelona: Paidós, 1995. tural brasileiro: uma demanda crescente. Comunicação
MACHADO, G. L. A difusão cultural brasileira como ins- apresentada no I Simpósio Internacional Ensino de Portu-
trumento de política externa: estratégias contemporâne- guês Língua Adicional, UFRGS. Porto Alegre, em prepa-
as. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Rela- ração.
ções Internacionais). Porto Alegre: Universidade Federal SCHÖN, D. Educando o Profissional Reflexivo: um novo
do Rio Grande do Sul, 2012. design para o ensino e aprendizagem. Porto Alegre:
ARTMED, 2000.

87
PROXIMIDAD DISCURSIVA SOBRE LA DESIGUALDAD DE GÉNERO
EN LA SOCIEDAD ARGENTINA Y BRASILEÑA DE COMIENZOS
DEL SIGLO XX HASTA LA ACTUALIDAD*

María Marcela Echenique


Universidad Nacional de Córdoba

En estas páginas nos proponemos realizar, un de trabajo y retrata el cambio en la condición la-
análisis comparativo de la letra “Cozinheira Gran- boral a partir de la producción de nuevos discursos.
fina” con la letra de “Arrabal”, para establecer La modificación en la organización del trabajo,
una analogía de lo que sus letras revelan sobre la debido al ingreso de la mujer, fue la puerta de
desigualdad de género, en el campo laboral y en entrada al mercado laboral para las mujeres más
el escenario social brasileño y argentino en las pobres, porque provocó un crecimiento impor-
primeras décadas del siglo XX y destacar el pro- tante en la demanda del trabajo doméstico, que, a
ceso sociolingüístico de contacto y de cambio en pesar de contribuir a la sociedad y a la economía,
los discursos del corpus elegido para analizar. fue marcado por condiciones laborales irregula-
Para hacer este análisis adoptamos el concepto res, precarias e informales.
de escenografía de Maingueneau (2004), quien En “Cozinheira Granfina” el enunciador, en
considera que el enunciador no obedece a la la escena de enunciación, construye desde el pri-
escenografía impuesta por el género, sino que la mer verso un diálogo entre un hombre, el dueño
escena de enunciación es una representación que de casa, quien solicita una empleada doméstica y
crea mediante el lenguaje del texto, define las la mujer que se postula para esa tarea: “Faça o
condiciones del enunciador del co-enunciador y favor de me dizer / se foi aqui que anunciaram
además describe el lugar y el tiempo, para a par- precisar / de uma empregada como eu?”
tir de ellos desarrollar la enunciación. También En los once primeros versos reconocemos el
incluimos el concepto de dialogismo de Bajtín espacio de la escena enunciativa. Se pueden le-
(1974), en el cual formula que cada enunciado vantar las marcas que dejó el enunciador para
tiene influencia de otros enunciados y a su vez se construir el espacio en que se desarrolla la enun-
relaciona con ellos, por lo que cada enunciado ciación; el enunciador exige la cooperación del
debe ser analizado como una respuesta a enunci- co-enunciador, apela a que asocie el vocabulario
ados anteriores y por ello puede refutarlos, confir- a la situación de enunciación y para eso utiliza lo
marlos, completarlos, basarse en ellos o bien su- que Bajtín denomina “dialogismo”, relación con
ponerlos conocidos. otros enunciados ya conocidos y así, sin nombrar
La primera canción seleccionada para analizar, el lugar físico en que se desarrolla el diálogo no
“Cozinheira Granfina”, pertenece al género “cho- queda duda que se trata de una casa: “Foi! Foi
ro”, éste es considerado el primer género de mú- aqui mesmo que se anunciou / precisar de cozi-
sica instrumental típicamente brasileño y su carac- nheira de forno e fogão (...) / Que entenda de fato
terística distintiva fue la improvisación. Los mú- do seu ‘métier’ / Que saiba fazer com perfeição
sicos ejecutaban, a su modo, las músicas extran- (...) O quê? / croquetes, empadas, cozido, enso-
jeras con modulaciones imprevistas y síncopas pado/ peru recheado, tutu de feijão/ Que acorde
temperamentales de los lundus, maxixes, polcas, bem cedo e durma no aluguel (...)”.
mazurcas. A partir del décimo quinto verso y hasta el vi-
La letra de la música antes mencionada mues- gésimo sexto la letra nos deja ver la estructura
tra, la condición de la mujer de los años 30 en social y cultural en la cual las mujeres se desempe-
Brasil, después de la implementación de las leyes ñaban como empleadas domésticas y su lucha

*
Este trabajo surge como un desprendimiento del proyecto de investigación Portugués brasileño: gramática y
representaciones sociales del lenguaje, dirigido por el Dr. Luis Alejandro Ballesteros y subsidiado por la Secretaría de
Ciencia y Tecnología de la Universidad Nacional de Córdoba, Argentina.

89
para obtener derechos como trabajadoras: “As mi- traición, la pobreza y los destinos trágicos de los
nhas condições agora eu vou dizer / Primeiramen- personajes que evoca.
te aviso não quero saber / de lavar panelas e var- La problemática que plantea la letra del tango
rer cozinha / Não sou uma qualquer e guardo cer- “Arrabal” es análoga a la de la letra de “Cozinhei-
ta linha / E louca por cinema eu sou de natureza / ra Granfina”. El eje es la búsqueda del reconoci-
E gosto de um moreno que é um colosso / Adoto miento de la mujer de “clase baja” en la trama
o sistema da semana inglesa / Aos sábados eu social argentina. A principios del siglo XX, en la
saio depois do almoço / Sou empregada sindica- Argentina, se produjo una reforma trascendental
lizada / e quero férias, quero os meus papéis / en el orden social debido a la fuerte inmigración
Não sou nada exigente, trezentos mil réis / vou europea. La sociedad, hasta entonces, estaba for-
querer de ordenado, pago adiantado.” mada por dos estratos bien diferenciados y con la
La letra describe el mundo social en que se llegada de los inmigrantes cambia el escenario
presenta un proceso de cambio no solo en lo social, el enorme crecimiento de la población dió
laboral, sino también en la incorporación de un origen a nuevas actividades y grupos sociales y
nuevo vocabulario y si bien no son precisadas es en ese contexto donde la mujer ingresa al mer-
fechas, también se puede definir el tiempo en que cado laboral.
se desenvuelve la enunciación, por las marcas El lenguaje que encontramos en “Arrabal” es
dejadas por el enunciador en los siguientes ver- el que en el libro Idioma Nacional Rioplatense,
sos: “Adoto o sistema da semana inglesa / Aos de Vicente Rossi (1929) se denomina como “len-
sábados eu saio depois do almoço / Sou empre- guaje orillero” y se lo describe de la siguiente
gada sindicalizada”. Estos enunciados dialogan manera: “ El lenguaje del orillero es de su parti-
con otros que los preceden y los suponen conoci- cular inventiva; siempre gráfico, exacto en la
dos, como es el caso de la semana inglesa y la alusión; metafórico y onomatopéyico meritísimo,
mención de la sindicalización de las empleadas siempre inclemente en la ironía; y siempre
domésticas en Brasil. novedoso porque ese orillero es un incansable re-
La segunda letra que analizamos es la del tango novador de su pintoresco léxico”.
“Arrabal”. Trabajamos la palabra “arrabal”, to- La escena de enunciación en la letra de
mando la definición que hace Horacio Ferrer en “Arrabal” representa, con el lenguaje orillero que
su obra El libro del tango (1970), donde lo defi- le es propio al tango, la lucha infatigable de la
ne al arrabal como un estilo de vida y no como mujer para obtener el respeto y lugar semejante
un territorio. Ferrer dice: “Al Arrabal no se va a al del hombre dentro de la sociedad argentina.
vivir, el Arrabal se lleva puesto. Es una fuga. Un Quienes hacían el trabajo de administradoras de
esoterismo y una fatalidad. No se perfila tanto en los conventillos, en esta letra están representa-
la calificación social como en la moral. Por eso das por Felisa Roverano, porque ella fue referen-
son igualmente arrabaleros compadres y te de los conventillos de ese tiempo. El trabajo
señoritos”. de administradora no sólo consistía en cobrar los
El tango nació como una forma distinta de alquileres, ellas también limpiaban los espacios
bailar los ritmos conocidos hasta ese momento: comunes y lavaban las ropas de sus inquilinos,
habaneras, mazurcas, chotis y fue considerado un quienes en su mayoría eran inmigrantes, es por
producto del arrabal, un producto de un estilo de esto que establecemos la analogía entre su tarea
vida compartido por “compadres y señoritos”. A y condición social con la de la empleada domés-
los instrumentos que se utilizaban para ejecutar tica reflejada en la letra de “Cozinheira Granfina”.
las músicas antes nombradas se agregó el bando- El enunciador en la escenografía que crea en
neón, instrumento con el cual se logró una “Arrabal”, deja ver el lugar y el tiempo en que
perfecta combinación de sonidos que permitió transcurre la enunciación: “Mi casa fue un corra-
reflejar poéticamente, el sentimiento nostálgico lón / de arrabal bien proletario, / papel de diario
de los habitantes del Rio de la Plata, de las el pañal, / del cajón en que me crié (...)”.
primeras décadas del siglo XX. En sus letras, el En los próximos versos presenta en la enuncia-
tango, presenta generalmente temas como la ción la trayectoria y garantía de acreditación que

90
certifica la pertenencia al arrabal: “Para mostrar fueron seleccionadas porque encontramos en
mi blasón, / pedigree modesto y sano.” Inmediata- ellas, una interesante síntesis de la búsqueda de
mente interpela al co-enunciador de modo impe- un profundo cambio de los derechos laborales y
rativo exigiendo el reconocimiento de la mujer, de la condición social de la mujer de bajos recur-
representada por Felisa Roverano, dentro de la sos, tanto en la sociedad brasileña como en la ar-
sociedad: “¡Oiga, che!... ¡Presénteme… / ¡Soy Fe- gentina. Además presentan, los procesos de cam-
lisa Roverano, / tanto gusto, no hay de que! (...)”. bio de la lengua en uso de cada país, debido a la
Apela también a la comparación con otro incorporación de un lenguaje propio al estrato
personaje de la época, Chiclana, quien era consi- social que reflejan cada uno de los enunciadores
derado el referente máximo del matón y com- de las letras antes mencionadas. Si bien estas le-
padrito, legitimando de ese modo una vez más su tras revelan una intensa lucha, sería ingenuo pen-
pertenencia y así el enunciador al igual que en sar que produjeron el cambio de la condición so-
los versos anteriores, dialoga con otros textos: cial de la mujer, pero sí consideramos muy im-
“¡Arrabalera, / como flor de enredadera / que portante resaltar el aporte conceptual y el efecto
creció en el callejón! / ¡Arrabalera, / yo soy propia multiplicador del surgimiento de nuevas ideas,
hermana entera / de Chiclana y compadrón! (...)”.- dentro de la sociedad a la cual pertenecen. La
En los siguientes versos el enunciador incorpora proximidad discursiva que encontramos en ellas
un lenguaje arrabalero u orillero (Rossi, 1929) y creemos que colaboró abriendo el camino para
reafirma una vez más su pertenencia al arrabal: que sea cuestionado, el estereotipo negativo acar-
“Si me gano el morfi diario, / qué me importa el reado por el imaginario social, que estigmatizó a
diccionario / ni el hablar con distinción. / Llevo la mujer de “clase baja” condenándola socialmen-
un sello de nobleza, / soy porteña de una pieza, / te a tener condiciones laborales precarias, irre-
tengo voz de bandoneón”.Elegimos estos géneros gulares e informales.Finalmente, considerando la
musicales, el “choro” y el tango, porque cada uno situación actual de la mujer de bajos recursos, en
de ellos, en su contexto, evidencian la diversidad, ambos países y a pesar de todas las conquistas
se nutren de otros géneros, alcanzan su identidad, alcanzadas desde el comienzo del siglo XX hasta
conquistan a los sectores más altos de la sociedad nuestros días, entendemos que, infelizmente, este
y pasan a ser referentes culturales en su país. Las género continúa enfrentando el desafío de acortar
letras de “Cozinheira Granfina” y “Arrabalera” la distancia entre las conquistas legales y la realidad.

91
ANEXO - Letra de las músicas

Cozinheira Granfina Arrabalera


Autor: Sá Róris
Autor: Cátulo Castillo
1. Faça o favor de me dizer 1. Mi casa fue un corralón
2. se foi aqui que anunciaram precisar 2. de arrabal bien proletario,
3. de uma empregada como eu? 3. papel de diario el pañal,
4. Foi! Foi aqui mesmo que se anunciou 4. del cajón en que me crié...
5. precisar de cozinheira de forno e fogão... 5. Para mostrar mi blasón,
6. Que entenda de fato do seu “métier” 6. pedigree modesto y sano.
7. Que saiba fazer com perfeição... 7. ¡Oiga, che!... ¡Presénteme...
8. O quê? 8. ¡Soy Felisa Roverano,
9. croquetes, empadas, cozido, ensopado 9. tanto gusto, no hay de que!...
10. peru recheado, tutu de feijão 10. ¡Arrabelera,
11. Que acorde bem cedo e durma no aluguel 11. como flor de enredadera
12. Que seja asseada e que seja fiel 12. que creció en el callejón!
13. Para evitar depois complicações 13. ¡Arrabalera,
14. eu quero saber já as suas condições 14. yo soy propia hermana entera
15. As minhas condições agora eu vou dizer 15. de Chiclana y compadrón!...
16. Primeiramente aviso não quero saber 16. Si me gano el morfi diario,
17. de lavar panelas e varrer cozinha 17. qué me importa el diccionario
18. Não sou uma qualquer e guardo certa linha 18. ni el hablar con distinción.
19. E louca por cinema eu sou de natureza 19. Llevo un sello de nobleza,
20. E gosto de um moreno que é um colosso 20. soy porteña de una pieza,
21. Adoto o sistema da semana inglesa 21. tengo voz de bandoneón.
22. Aos sábados eu saio depois do almoço 22. Si se le da la ocasión,
23. Sou empregada sindicalizada 23. de bailar un tango arrespe,
24. e quero férias, quero os meus papéis 24. encrespe su corazón,
25. Não sou nada exigente, trezentos mil réis 25. de varón sentimental.
26. vou querer de ordenado, pago adiantado 26. Y al revolear mi percal,
27. E... não sei ainda como é que se chama... 27. márqueme su firulete,
28. E será que a madama sabe fazer sala? 28. que en el brete musical
29. Pois decerto “sêo” moço, isso nem se fala... 29. se conoce, la gran siete,
30. E vai ver que a “princesa” toca o seu piano 30. mi prosapia de arrabal.
31. E arranho o francês e o italiano
32. Então eu lhe faço uma contraproposta
33. Pois seja, “sêo” moço, mas não tou disposta
34. a aceitar coisa que não satisfaça
35. É mais negócio eu me casar consigo
36. que a senhora trabalha para mim de graça
37. Ah! é?

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MAINGUENEAU, D. 2001. O contexto da obra literária. O cenário de enunciação. São Paulo, Martins Fontes.
BAJTÍN, M. 2002. Estética de la creación verbal. Buenos Aires, Siglo Veintiuno.
FERRER, H. 1970. El libro del Tango. Buenos Aires, Ossorio-Vargas.

92
VARIACIÓN SINTÁCTICA DE LA LENGUA DE SEÑAS URUGUAYA Y SU
VINCULACIÓN CON LOS PROCESOS DE ESTANDARIZACIÓN

Alejandro Fojo*
Universidad de la República

PROPÓSITO de autores sordos publicadas en el II Encuentro


Internacional de Intérpretes, Encuentro Regio-
En el actual artículo se aborda un análisis inau- nal de Comunidades Sordas y Congreso Regio-
gural de un efecto lingüístico concreto, la varia- nal de Investigadores de Lengua de Señas y Cul-
ción sintáctica del orden no marcado en un sector tura Sorda y en IV Jornadas de Investigación y
escolarizado de la comunidad sorda, delimitan- III Jornada de Extensión, ambos eventos reali-
do, a su vez, las particularidades y el grado de zados por la Facultad de Humanidades y Ciencias
influencia del proceso de estandarización de la de la Educación de la Universidad de la Republica
lengua de señas uruguaya (LSU) sobre la varia- (Bonilla, 2011; Cooper y Viana, 2011; De León y
ción sintáctica abordada. El proceso que las polí- Prieto, 2011; Garrido, 2011; Prieto, 2010;
ticas lingüísticas desprendidas de estudios acadé- González, 2011). Por último, se ha constituido
micos, proyectos educativos y documentos jurídi- un corpus específico que arroje datos sobre el
cos han puesto en marcha desde la década de los tópico planteado. El mismo ha sido recolectado
ochenta hasta la actualidad ha tenido una injeren- por medio de filmaciones de la población sorda
cia sobre la lengua mencionada y sobre la comuni- escolarizada en el nivel medio de educación pú-
dad lingüística a la que pertenece. blica, las cuales se han realizado en dos
instituciones educativas bilingües, el liceo Nº 32
de primer ciclo y el liceo Nº 35 de segundo ciclo.
METODOLOGÍA Los colaboradores sordos que han participado en
esta etapa de recolección de datos están
Para la elaboración de esta etapa inicial de la comprendidos entre los 14 y 22 años y provienen
investigación se ha recolectado un corpus exten- en su mayoría de núcleos familiares con integran-
so que ha sido confeccionado por medio de di- tes sordos directos. El total de corpus analizado
versas instancias y métodos. Por un lado, se ha supera las cinco horas de filmación y el mismo
realizado una revisión de una parte seleccionada ha sido meticulosamente transcripto por medio
del corpus utilizado en Estructuras Lingüísticas del sistema de glosa1.
de la Lengua de Señas Uruguaya (Fojo y Mas- Posteriormente se preseleccionó un conjunto
sone, 2012). Una gran mayoría de las descrip- de frases que presentaran en su estructura un suje-
ciones han sido extraídas de conversaciones reales to (explícito o implícito), un verbo pleno y por lo
de la interacción sordo-sordo; principalmente de menos un objeto. Se aplicó en cada una de estas
integrantes de la comunidad sorda de la ciudad frases un análisis sintáctico de los elementos cons-
de Montevideo. A su vez, otra parte de ese corpus titutivos, determinando la funcionalidad de cada
está compuesta de instancias de discusión grupal elemento y la relación establecida con los restan-
con colaboradores sordos calificados y hablantes tes elementos dentro de los sintagmas verbales.
naturales de la LSU desde temprana edad. Por Los ejemplos planteados en este trabajo se des-
otra parte, se han utilizado resúmenes y ponencias prenden de este conjunto final de frases.

Tecnicatura Universitaria en Interpretación LSU-Español-LSU - Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educación.


*

1
De forma breve podemos enunciar que la glosa es un sistema de transcripción convencional que permite describir la
estructura sintáctica de la lengua de señas, dar cuenta de las flexiones morfológicas y lograr una aproximación al contenido
semántico de los ítems léxicos sin alterar ni violentar el sistema lingüístico propio de la lengua en cuestión (Fojo y
Massone, 2012: 29).

93
RESUMEN DE LAS POLÍTICAS Las políticas lingüísticas que se desprenden
LINGÜÍSTICAS SOBRE LA LENGUA DE de documentos jurídicos y proyectos educativos
SEÑAS URUGUAYA han sido ampliamente estudiadas en nuestro país
por diversos autores (Behares, 2009; Behares,
La introducción a la temática de la estanda- Brovetto y Peluso, 2012; Peluso, 2007; 2009 y
rización de la lengua de señas uruguaya (LSU) y 2010; Fojo, 2011a; 2011b; Massone y Fojo, 2011).
sus efectos no puede tener otro carácter que no En forma resumida podemos hacer mención a la
sea el político. La legitimidad, el estatus de la educación bilingüe en primaria desde el año 1987,
lengua y reconocimiento de la comunidad sorda la educación bilingüe en secundaria a partir del
y, por consiguiente, de la lengua de señas como 1996 y el ingreso al sistema educativo
lengua natural del endogrupo sordo adquiere cla- universitario de intérpretes en LSU-español-LSU
ros efectos sociolingüísticos entre los que se des- en el año 2003. A su vez, desde la órbita legislativa
taca el proceso de estandarización en el que es imprescindible hacer mención a la Ley 17.378
actualmente se encuentra inmersa la lengua de (Uruguay, 2001) en donde se reconoce a la LSU
señas uruguaya. como la lengua natural de las personas sordas y
En el Uruguay desde la década de los ochenta de sus comunidades dentro del territorio nacio-
hasta la actualidad se han suscitado ciertas accio- nal; la Ley General de Educación (Uruguay, 2008)
nes, especialmente en la órbita académica, educa- que reconoce a la LSU como una de las tres
tiva y legislativa, que han reconocido y definido lenguas maternas del país junto al español y al
a la LSU desde fundamentos socioculturales, dan- portugués de frontera. A su vez, debemos menci-
do inicio a un proceso de crecimiento y a la onar a los documentos de políticas lingüísticas
concreción de políticas lingüísticas explícitas. de la Administración Nacional de Educación Pú-
En relación a lo mencionado, el proceso de blica (ANEP, 2008) en los que se establece de
estandarización de la LSU en nuestro país tuvo forma preceptiva para la educación del sordo el
como punto fuerte la búsqueda de un reconoci- modelo de educación bilingüe.
miento de la comunidad y, por consiguiente, de
la lengua de señas como lengua natural de las
personas sordas por parte de estudios, programas BREVE DESCRIPCIÓN DEL PROCESO
y proyectos de diversas instituciones. En una eta- DE ESTANDARIZACIÓN DE LA LENGUA
pa primera ubicamos a la Universidad de la Re- DE SEÑAS URUGUAYA
pública (UdelaR) en relación con el Instituto
Interamericano del Niño (OEA), el Instituto Ma- Siguiendo los lineamientos expuestos por
gisterial Superior (IMS), la Asociación de Sordos Garvin y Mathiot (1974) sobre los procesos de
del Uruguay (ASUR), y en una etapa posterior, estandarización, podemos expresar que los pro-
al Centro de Investigación y Desarrollo de las ductos de las acciones realizadas desde los años
Personas Sordas (CINDE) y Asociación de Pa- ochenta originaron el acercamiento paulatino de
dres y Amigos de Sordos del Uruguay (APASU). la LSU a las propiedades ideales y necesarias para
Por consiguiente, el surgimiento concomitante de la puesta en marcha del proceso de estandari-
un fuerte sentido de pertenencia e identidad den- zación de esta lengua. En otras palabras, la LSU
tro de la comunidad sorda y la objetivación de la sufrió, y en gran medida sigue sufriendo, positi-
sordera como objeto de investigaciones académi- vos cambios en su estatus, motivados por las fun-
cas desde fundamentos socioantropológicos, ciones separatista y de prestigio y las correspon-
consolidó una actitud hacia la lengua que estimuló dientes actitudes de lealtad y orgullo propios del
distintas iniciativas en torno a la temática (Be- sentir de la comunidad lingüística y de los avan-
hares, Brovetto y Peluso, 2012), entre las que se ces del ámbito académico que continúa situando
destacan la implementación de una educación a la sordera como objeto de estudio de las investi-
bilingüe en el nivel primario y secundario y el gaciones científicas.
reconocimiento legal de la LSU como lengua na- Otra propiedad intrínseca de las lenguas
tural y materna de la comunidad sorda (ANEP, estándares es la intelectualización. Esta propiedad
2009; Uruguay, 2001; Uruguay, 2008).

94
se define por la adaptación del código lingüístico Bilingüe de Lenguas de Señas Uruguaya/Español
a los objetos que formula. Es decir, es una tenden- (ASUR/CINDE, 2007), algunos análisis acotados
cia hacia expresiones cada vez más precisas y del nivel fonético-fonológico y morfosintáctico
definidas. Esta tendencia afecta en primera me- realizados en los últimos años (Fojo, 2010; 2011c
dida a la estructura léxica y, en parte, también la y 2012; Peluso y Bonilla, 2010; Peluso y Val;
gramatical (Garvin y Mathiot, 1974). En la 2012) y una estudio gramatical descriptivo exten-
estructura léxica la intelectualización se so pero recientemente publicado (Fojo y Massone,
manifiesta en la expansión terminológica que ori- 2012) que analiza las distintas estructuras lingüís-
gina términos que aluden a referentes precisos y ticas de la LSU. Por otro parte, es preciso menci-
diferenciados, también se evidencia el aumento onar que en la actualidad se encuentran en desar-
de términos abstractos y genéricos que habilitan rollo varios proyectos, propulsados por el ámbito
la expresión de la complejidad de pensamientos. universitario, que apuntan, justamente, a la cons-
En el caso de la LSU, Peluso (2007) enuncia trucción de conocimientos desde el análisis des-
que el ingreso de parte de comunidad sorda a criptivo de la gramática y el registro de la Lengua
ámbitos educativos, fundamentalmente a nivel de de Señas Uruguaya.
la educación media, propició un proceso acelera-
do sobre el léxico de la LSU, produciendo una
expansión terminológica, creación léxica y APROXIMACIÓN AL ESTUDIO DE LAS
expansión semántica, que se tornan necesarias VARIACIONES SINTÁCTICAS DE LA
para poder funcionar dentro de sistemas léxicos LSU EN LA COMUNIDAD SORDA
científicos y transportar los contenidos conceptua- ESCOLARIZADA
les propios de las diferentes disciplinas que se
imparten en la educación secundaria. Estudios recientes sobre la estructura sintáctica
Tal cual expresa Sapir (1912) el ambiente de la LSU (Fojo y Massone, 2012) han arrojado
puede generar influencias sobre el lenguaje siem- datos que muestran que la LSU es una lengua
pre y cuando esa influencia ambiental esté refleja- caracterizada como aglutinante con verbo en
da por factores sociales. De esta forma, la lengua posición final, exceptuando oraciones anudadas
puede ser influenciada con respecto a su vocabu- por verbos pronominales con objeto doble en
lario, a su sistema fonético y respecto a su forma donde el objeto +animado se ubica al final de la
gramatical (1974: 20). En este último se destaca cláusula (SO-animadoV+animado) y también otra
la morfología, o sea la estructura formal de las variación del orden ha sido descripta en oraciones
palabras y la sintaxis: los métodos empleados al con elementos topicalizados. El orden de las señas
combinar las palabras en unidades más grandes tiene una función gramatical ya que señala rela-
o frases, son los dos aspectos principales de la ciones gramaticales. Como puede observarse en
forma gramatical. los siguientes ejemplos (I y II), el orden básico
En referencia a los factores de gramatización no marcado de las señas con verbos plenos en la
necesarios en todo proceso de estandarización, LSU es SOV para una oración con predicado tran-
Garvin y Mathiot (1974) sostienen que las lenguas sitivo y SV con predicado intransitivo.
estándares deben caracterizarse por cierta estabili-
dad entre una codificación adecuada que permita (I) POFESOR LIBRO LEER (pret).
la acción flexible en su codificación, lo cual ha- S O V
bilita la modificación paulatina del código. La “El profesor leyó el libro”.
articulación de esta estabilidad depende de una
construcción normativa que se encuentra anidada (II) VENTANA ROMPER-EN-PEDAZOS.
en las gramáticas formales y en los diccionarios. S V
En el caso de la LSU este factor aún no se ha “La ventana se rompió.”
consolidado plenamente. La LSU sólo cuenta con
unos pocos trabajos de registro Lengua de Señas Como explican Fojo y Massone (2012), topica-
Uruguaya. Su Componente Léxico Básico (Beha- lizar implica que algún elemento de la oración se
res, Monteghirfo y Davis, 1987) y Diccionario remarque como tópico por medio del uso de una

95
construcción marcada. Esta construcción marcada VI, VII, VIII y IX) se evidencia el orden sintáctico
o elemento topicalizado se antepone en la oración al que hacemos mención en sordos recientemente
cambiando así el orden canónico. Este fenómeno escolarizados.
es debido a efectos pragmáticos, dado que el ha-
blante o señante desea colocar la atención del des- (V) UNO-CUATRO-NUEVE-DOS DET CO-
tinatario en este elemento topicalizado, saliéndose LÓN LLEGAR AMÉRICA.
del orden natural establecido. Es decir, topicalizar “En 1492 Colón llega a América.”
implica aumentar el énfasis en la información
brindada por un término. Por ejemplo, si CAR- (VI) PRO3 PEDIR AYUDA ECONÓMICA POR-
NE que cumple la función de objeto en (III) se TUGAL.
topicaliza la oración sería aceptable y gramatical “Él pidió ayuda económica a Portugal.”
como en (IV).
(VII) TODOS NIÑOS ENCANTAR CARAME-
(III) *CARNE PERRO COMER-CARNE. LO.
“A todos los niños les encanta el caramelo.”
___________ t
(IV) DET CARNE PERRO COMER-CARNE (VIII) CONTAR-pro1 CULTURA SORDA GE-
(pret). NERAL.
“Fue la carne lo que el perro comió.” “Voy a contar generalidades de la cultura sorda.”

Recientes revisiones del corpus utilizado como (IX) DET PERSONA SABER LENGUA-DE-
referencia en Estructuras Lingüísticas de la Len- SEÑAS.
gua de Señas Uruguaya (Fojo y Massone, 2012) “Esa persona sabe lengua de señas.”
y la obtención de nueva información han por un
lado confirmado los análisis sintácticos previos Hemos dejado de lado el análisis de frases que
y a su vez han aportado la descripción de un posi- creemos que responden a construcciones bimoda-
ble nuevo orden en la LSU, este orden organiza les, comúnmente denominadas español señado,
los elementos sintáctico en la siguiente linealidad: las cuales responden a una no aprehensión ínte-
sujeto, verbo y objeto (SVO). El grado de estable- gra de la estructura de la lengua de señas por par-
cimiento gramatical de este orden no ha sido te de los señantes. Por lo general, esto se da en
íntegramente comprobado, quedando pendiente sordos de padres oyentes cuyo relacionamiento
un análisis más profundo sobre esta variación que con la comunidad se dio de forma tardía. Cons-
fue evidenciada de forma escasa en señantes no trucciones de este tipo están íntimamente ligadas
escolarizados, pero que se presenta como un a la estructura del español, reproduciendo en señas
orden frecuente en señantes sordos del segundo cada término en correlación a una misma cons-
y tercer nivel educativo. Este orden (SVO) no trucción en español. Ejemplos de estas frases
desplaza el orden canónico descripto en estudios están representados en la siguiente frase (X). Los
anteriores (SOV), sino que agrega una variación términos subrayados en la glosa son elementos
aceptada de un orden sintáctico no marcado por agramaticales en la estructura sintáctica de la LSU.
la población sorda especificada. Seguimos soste-
niendo que el orden de las señas en la LSU no es (X) PRO1 IR CONTAR SOBRE DESCU-
libre. Hay un orden de las señas básico no mar- BRIMIENTO AMÉRICA.
cado, y también son posibles distintas variaciones “Yo voy a contar sobre el descubrimiento de
de órdenes. Por consiguiente, el ordenamiento de América”.
los constituyentes puede variar y así otros órdenes
se vuelven permisibles. Por otro lado, los dife- Es preciso tener en consideración para el aná-
rentes órdenes marcados tienen lugar por lisis de esta variación algunas variantes que soste-
restricciones sintácticas, semánticas o pragmáti- nemos inciden en este hecho lingüístico. En pri-
cas y sirven para determinar diferentes propósi- mera medida, coincidimos con Hymes (1974), el
tos lingüísticos. En los siguientes ejemplos (V, cual expresa que la lengua desde un punto etno-

96
gráfico no puede analizarse como objeto aislado, cio de los procesos de estandarización de las
sino que debe tomar la lengua de una comunidad lenguas actúan valorizando un código lingüístico
en contexto, investigando sus hábito de comu- al mismo tiempo que se le resta estatus al otro.
nicación como un todo, de tal manera que cual- Estas presunciones de superioridad, sostiene Fer-
quier uso determinado del canal y del código tome guson (1959), son compartidas por la generalidad
su lugar sólo como parte de los recursos que de las comunidades lingüísticas implicadas, in-
emplean los miembros de la comunidad. En este cluso por quienes poseen un dominio limitado de
sentido es imprescindible dar luz sobre la influ- la lengua estándar dominante y, también es evi-
encia del contexto discursivo en donde los dente, entre los hablantes de la lengua minoritaria.
señantes hacen uso de su lengua en la interacción Por consiguiente, podemos suponer que la vari-
con sus pares. En este caso, el contexto de uso ante del orden sintáctico hallado en sordos
diario es la institución educativa, en donde más escolarizados puede responder al contacto per-
allá de los proyectos bilingües y revalorización manente con el español escrito dentro de un ám-
que se atribuye a la LSU el predominio del es- bito específico, concomitantemente con el sentir
pañol está institucional e históricamente instala- de superioridad de la lengua estandarizada en rela-
do. En segunda instancia, debemos tener presen- ción a la lengua en proceso de estandarización.
te que antes del ingreso de la LSU al sistema Se ha señalado que uno de las consecuencias
educativo la misma se desarrollaba casi por com- del ingreso de la LSU a los ámbitos de formativos
pleto en espacios no formales. A partir de la ha sido la intelectualización acelerada de la
implementación de la educación bilingüe parte lengua. Por otra parte, la gramatización no ha
de la comunidad sorda pudo entablar una nueva acompañado conjuntamente al proceso intelec-
relación entre la lengua y la escolarización, trans- tual sufrido por la LSU. Este hecho ha sido evi-
formando las características de ambas. denciado en diversos escritos (Peluso, 2007;
Como ya se ha expuesto en otros estudios Peluso, 2010; Behares, Brovetto y Peluso, 2012)
(Fojo, 2011b; Peluso, 2011) el caso de la Lengua remarcando la ausencia de un diccionario exhaus-
de Señas Uruguaya se haya en plena concordancia tivo y de una gramática descriptiva difundida que
con las generalidades, expuestas por Charles favorezca la codificación y fijación de la lengua
Ferguson (1959), sobre las valorizaciones entre y permita la flexibilidad propia de las variantes
lenguas con desniveles jerárquicos. La historia estandarizadas. Por otra parte, el hecho de que la
de la comunidad sorda en el Uruguay ha sido falta de normativas y de registro de la LSU no
atravesada por discursos que consideran que el acompasa los procesos de intelectualización ni
español, como lengua plenamente estándar, es las variaciones sintácticas mencionadas, provo-
superior a la lengua de señas en unas series de ca que ciertos sectores de la comunidad sorda no
aspectos. Por mucho tiempo, desde la vinculados a los espacios educativos queden por
consagración del congreso de Milán en 1880, esta fuera del proceso. Esta inaccesibilidad genera una
concepción ha dominado la valorización lingüís- actitud que recluye a la expansión lexical y a cier-
tica de las lenguas implicadas hasta el punto de tas variaciones sintácticas a los ámbitos educati-
desconsiderar la existencia de la lengua de señas. vos que la promueven. En la comunidad sorda
Si bien, los hechos acontecidos en el Uruguay no hay un reconocimiento general ni una
han provocado modificaciones radicales con el aceptación plena de las modificaciones que sufre
pasado, aún persiste la opinión de que la lengua la LSU. Los motivos de este fenómeno están
dominante es, de algún modo, más apta para la íntimamente vinculados a la identidad que pro-
expresión de pensamientos complejos, creaciones porciona las lenguas a sus usuarios naturales.
estéticas, etc. Estas opiniones peculiares al ini-

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANEP (2008). Documentos de la Comisión de Políticas ASUR/CINDE (2007). Diccionario Bilingüe de Lengua
Lingüísticas en la Educación Pública. Montevideo: Admi- de Señas Uruguaya/Español. Montevideo: Mastergraf.
nistración Nacional de Educación Pública/Consejo Direc-
tivo Central.

97
BEHARES, L.E. (2009). Principios rectores de las políti- FERGUSON, C. A. (1959). Diglosia. En: Garvin, P.L. y
cas lingüísticas de la educación pública uruguaya. En: Lastra Y. (Eds.), Antología de estudios de etnolingüística y
Primer Foro Nacional de Lenguas de ANEP. Montevideo: sociolingüística. México: UNAM, 1974, 247-277.
Administración Nacional de Educación Pública/Consejo GARVIN, P.L. y Mathiot, M. (1974). La urbanización del
Directivo Central, 23-48. idioma guaraní. Problema de lengua y cultura. En: Garvin,
BEHARES, L.E., Monteghirfo, N. y Davis, D. (1987). P.L. y Lastra Y. (Eds.), Antología de estudios de
Lengua de Señas uruguaya. Su Componente Léxico Bási- etnolingüística y sociolingüística. México: UNAM, 303-313.
co. Montevideo: Instituto Interamericano del Niño. HYMES, D. (1974). Hacia etnografías de la comunicación.
BEHARES, L. E.; Brovetto, C. y L. Peluso Crespi (2012). En: Garvin, P.L. y Lastra Y. (Eds.), Antología de estudios de
Language policies in Uruguay and Uruguayan Sign etnolingüística y sociolingüística. México: UNAM, 48-89.
Language. Sign Language Studies 12, 4 (Summer 2012), PELUSO, L. (2007). Lengua de Señas Uruguaya: acciones
pp. 519-542. y políticas lingüísticas. En: III Encuentro Internacional de
BEHARES, L.E y E. García (1985). La formación del re- Investigadores de Políticas Lingüísticas. Córdoba.
curso humano necesario para la atención del individuos PELUSO, L. (2009). Ley de reconocimiento de la LSU: ¿po-
sordos. La situación del Uruguay. Montevideo: Instituto lítica lingüística u ortopedia? En: IV Encuentro Internacio-
Interamericano del Niño. nal de Investigadores de Políticas Lingüísticas. Santa María.
CONSEJO DE EDUCACIÓN PRIMARIA (1987). PELUSO, L. (2010). Sordos y oyentes en un liceo común:
Propuesta para la implementación de la educación investigación e intervención en un contexto intercultural.
bilingüe en el sordo. Montevideo: Consejo Nacional de Montevideo: Psicolibros Universitario/Universidad de la
Educación. República.
FOJO, A. (2010). Aproximación a una Transcripción y PELUSO, L. y F. Bonilla (2010). Hacia un descriptor del
Descripción de la Configuración Manual de la Lengua de nivel fonológico de la LSU. En: Lengua de Señas e
Señas Uruguaya. En: III Jornadas de Investigación y II Interpretación. Montevideo, Nº 1, pp. 29-56.
de Extensión de la Facultad de Humanidades y Ciencias
de la Educación. Montevideo: FHCE. PELUSO, L y S. Val (2012). Léxico TRELSU:
caracterización, aspectos teóricos metodológicos y manual
FOJO, A. (2011a). Aportes al estudio del proceso de de uso. En: Lengua de Señas e Interpretación, Montevideo,
estandarización de la lengua de señas uruguaya. En: Polí- Nº 3, pp-31-50.
ticas Lingüísticas. Año 3, Volumen 3, noviembre 2011,
pp. 139-160. SAPIR, E. (1912). El lenguaje y el medio ambiente. En:
Garvin, P.L. y Lastra Y. (Eds.), Antología de estudios de
FOJO, A (2011b). Factores y problemáticas de la etnolingüística y sociolingüística. México: UNAM, 48-89,
estandarización de la lengua de señas uruguaya. Presentado 1974.
en XIX Jornadas de Jóvenes Investigadores. Paraguay:
AUGM/ Universidad del Este. URUGUAY (2001). Ley Nº 17. 378. Reconócese a todos
los efectos a la Lengua de Señas Uruguaya como la lengua
FOJO, A (2011c). LA flexión de número en los sustantivos natural de las personas sordas y de sus comunidades en todo
de la LSU. En Lengua de Señas e Interpretación. el territorio de la Republica. Montevideo: Parlamento del
Montevideo, Nº 2, pp. 21-42. Uruguay. Accesible en: http://200.40.229.134/leyes/
FOJO, A. y M. I. Massone (2012). Estructuras Lingüísti- AccesoTextoLey.asp?Ley=17378&Anchor
cas de la Lengua de Señas Uruguaya. Montevideo: FHCE. URUGUAY (2008). Ley. Nº 18.437. Ley General de
Educación. Montevideo: Dirección Nacional de Impresiones
y Publicaciones Oficiales, 2009.

98
ARGUMENTACIONES EN TORNO A LA SUPRESIÓN DE LA ENSEÑANZA
DEL ITALIANO EN LA EDUCACIÓN SECUNDARIA SUPERIOR
URUGUAYA (2006-2007). UN PRIMER RELEVAMIENTO Y ANÁLISIS DE
LAS REACCIONES PUBLICADAS EN PRENSA

Juan Manuel Fustes*


Universidad de la República

INTRODUCCIÓN Conociendo este epílogo, analizaremos un


período anterior en que se colocó el tema de la
En el año 2006 comenzó a implementarse en ausencia de políticas lingüísticas explícitas para
Bachillerato de Educación Secundaria uruguaya la educación con mucha fuerza por la desaparición
una reformulación que implicó la modificación de la enseñanza de una lengua extranjera en el
de la malla curricular de materias. Esta modifica- ciclo superior de la secundaria uruguaya. Esto per-
ción llegaba en 2007 al segundo año (“5º de li- mitirá trazar continuidades o discontinuidades
ceo”), donde iba a operar, entre otros, un cambio entre las representaciones que se dejaron ver y
sobre las lenguas extranjeras, al perderse Italia- los capítulos sucesivos de los conflictos expuestos.
no de la currícula del 2º de Bachillerato orienta- La publicación de diversas opiniones, con to-
ción Humanística y quedar Inglés como única len- das sus cargas ideológicas y representacionales,
gua extranjera enseñada. Este cambio generó re- da cuenta de un estado de cosas expuesto en la
acciones, no solo las de los docentes de la asigna- voz de los docentes de italiano y personalidades
tura, sino también las de destacadas personalida- de la cultura que las hicieron públicas: los do-
des de la cultura uruguaya. Muchas de estas centes, atravesados por su condición de hablantes
manifestaciones se pudieron leer en los periódi- de la lengua pero también puestos en riesgo en
cos uruguayos, no solo los involucrados con la su condición profesional; y las personalidades de
colectividad italiana, sino también en otros de la cultura, llamadas a representar y defender los
gran tiraje. pilares de la “cultura uruguaya”.
Este tema se inscribe en los antecedentes direc- El análisis, entonces, podría tomar un rumbo
tos a un hito en las políticas lingüísticas explíci- político o ser orientado por un punto de vista
tas en el Uruguay (Behares y Brovetto, 2009): la argumentativo, o incluso ser leído en función de
Comisión de Políticas Lingüísticas en la Edu- las cuestiones relativas al lenguaje y la enseñanza
cación Pública (CPLEP). La CPLEP produjo do- y la enseñanza del lenguaje. Sin embargo, por
cumentos (ANEP, 2008) que establecen el marco tratarse de un trabajo en ciernes y que hemos
para una serie de modificaciones en lo lingüístico visualizado en más de una de estas direcciones,
que refiere a la educación curricular y dieron la nos limitaremos a la primera lectura del corpus,
inspiración para la redacción de un pasaje de la al relevamiento de la potencialidad que los tex-
“Ley General de Educación” Nº 18.437 (Uruguay, tos tienen y a excogitar los primeros elementos
2008) que determina el reconocimiento legal del de análisis que ofrecen para saber en qué forma
plurilingüismo como objetivo deseable del recor- distintos actores del sistema educativo uruguayo
rido curricular propuesto para la educación y otros actores culturales estaban pertrechados
uruguaya1. con argumentaciones para enfrentar una decisión
oficial de modificación en la currícula.

* Departamento de Psico- y Sociolingüística, y Departamento de Enseñanza y Aprendizaje, Facultad de Humanidades y


Ciencias de la Educación
1
Esto incluye instituciones públicas y privadas habilitadas, por lo tanto casi la totalidad del alumnado uruguayo.

99
SELECCIÓN DEL CORPUS Documento 7. Graziano, Antonio. “Diritto
a pensare”, publicado en La Gente d’Italia,
7 de noviembre de 2006.
Nuestro corpus está conformado por 9 artícu-
los de diario publicados entre octubre de 2006 y Documento 8. Guzmán, Leonardo. “Italia-
enero de 2007. Los autores de los textos son per- no”, publicado en El País, 27 de octubre de
sonalidades de la cultura (un actor, un politólogo, 2006.
un ex ministro de educación) o docentes de Itali-
Documento 9. Larreta, Antonio. “Modesta-
ano. Los artículos oscilan entre lo editorial y la mente”, publicado en El País, 3 de
protesta. Si bien es posible hallar más artículos noviembre de 2006.
meramente informativos, decidimos seleccionar
todos los disponibles que contuvieran algún tipo En cuanto al valor de los documentos analiza-
de opinión del autor sobre el proyecto de reformu- dos, la opción teórica determinará las posibilida-
lación de Bachillerato que implicaba la elimina- des de interpretación. Si nos apartamos de puntos
ción del italiano de la currícula. de vista como los de Halliday (2001) o Van Dijk
Si bien podría valer la pena una enumeración (2002), que preconizan la evaluación de los tex-
de los autores con sus respectivos perfiles y tos elegidos para el corpus según criterios mensu-
formaciones, no descartamos ningún documento rables de representatividad e influencia de los tex-
que contara con las características que enuncia- tos (es decir, en tanto “formadores de opinión”),
mos supra. podemos optar por concentrarnos en los textos
Pasamos a detallar la lista de documentos como piezas que, por el solo hecho de haber po-
seleccionados: dido materializarse, ya son representativas. Esta
representatividad no es de tipo sociológico o po-
Documento 1. Angelero, Graciela. “Ecce lítico, sino que implica admitir que el texto adop-
Homo. Y la mutilación de contenidos en la tado para el análisis es una instanciación de dis-
enseñanza secundaria”, publicado en La
Gente d’Italia, 17 de noviembre de 2006.
curso en virtud de la cual no sería posible renun-
ciar al carácter social que tiene el lenguaje. En
Documento 2. Bolón, Alma y Carlos Hipo- este sentido, estos textos son representativos, más
grosso. “Internet, Impresa, Inglese”, publi- allá de las precisiones cuantitativas que se puedan
cado en Brecha, 5 de enero de 2007. hacer alrededor de ellos.
Documento 3. Bonito, Ana María; Fiorella
Si avanzamos un escalón más, podemos hacer
Camps, Álvaro Gargiulo y Gloria Olano. trascender el texto de la función comunicativa que
“Lasciate ogni speranza… voi che studiate! este puede tener, por lo tanto podemos descartar
Eliminación de italiano de 2do bachillerato”, la concepción de que el autor hace una elección
publicado en La Gente d’Italia, sin informa- (sin entrar en el hecho de que esta sea consciente
ción de fecha2.
o inconsciente), en base a la intención de alcanzar
Documento 4. Bottinelli, Óscar. “Los árboles un cierto objetivo con su texto (lograr un cambio
sin raíces, mueren”, publicado en el sitio de en una postura gubernativa, por ejemplo) sino que
FACTUM, 30 de octubre de 2006. podemos pensar que el sujeto no es amo de su
discurso sino efecto de él, de modo que los dis-
Documento 5. El País. “Acumulando torpe-
zas”, editorial publicado en El País, 29 de
cursos no solo trascienden a las personas indivi-
octubre de 2006. duales sino que además las determinan de tal
modo que no queda nada de su subjetividad por
Documento 6. Gargiulo, Álvaro. “Sapere fuera de ellos. Asumimos así, las vertientes del
aude. Mala tempora corrunt”, publicado en análisis del discurso más afines al psicoanálisis,
La Gente d’Italia, sin información de fecha.
que son las que sostienen este tipo de concepción
(Leite, 1994).

2
Presumimos que tanto el documento 3 como el documento 6 fueron publicados en el periódico La Gente d’Italia en el
mismo período que los demás. Sin embargo, el periódico no cuenta con un archivo en internet y solo tiene accesible en
papel sus ediciones a partir del año 2008. Accedimos a estos artículos cuando estaban recientemente redactados.

100
LO RELEVADO: FORMAS DE “È evidente in questo caso, come l’istruzione
REPRESENTAR LA ELIMINACIÓN DEL si stia trasformando in un’istruzione di elite.
La maggior parte della popolazione, che non
ITALIANO possiede i mezzi finanziari, sarà destinata a
ricevere un’istruzione di seconda qualità,
Los tópicos que hemos hallado en los 9 docu- mentre le classi alte potranno scegliere quale
mentos se resumen en los puntos que presentare- educazione dare ai propri figli, alimentando
mos a continuación y que son relativos a las repre- in questo modo uno strumento classico di
perpetuazione della dominazione di classe
sentaciones hechas de la supresión misma de la all’interno della società” (documento 7).
lengua italiana, pero también de esa lengua en
relación con el Uruguay y con la educación B) Lo educativo vs. lo instrumental
curricular oficial.
El argumento educativo es esgrimido por los
A) El atentado contra los derechos autores, en el sentido de que la eliminación del
Italiano significa ir en contra de la formación in-
La eliminación del Italiano es presentada como tegral del alumno, sustentada en la presencia dis-
una mutilación de contenidos de enseñanza, la ciplinas humanísticas (a las que la lengua italia-
cual implica, en el campo de los derechos de los na sería afín tal vez más que otras lenguas) y del
alumnos, la privación de oportunidades en el sen- fomento del “pensamiento crítico”. Este argumen-
tido de la acentuación de las desigualdades socia- to, así como el anterior, aparecen asociados a la
les. Esta pérdida de derechos aparece incluso co- idea de democratización, en ese atajo conceptual
mo una verdadera prohibición, que se asemeja a que puede tomarse y que permite que todo lo que
las medidas dictatoriales (como la alusión a la podría decirse antidemocrático es automática-
represión de las lenguas de la España franquista, mente malo y debe ser automáticamente extirpado.
en documento 2). En esta línea, los autores no En cuanto a la oposición entre la “formación
ahorran denominaciones dotadas de gran fuerza cultural” vs. “formación técnica” que se plantea,
conceptual y retórica: genocidio cultural, promo- esta suscita también la oposición entre el impartir
ción del elitismo y del etnocentrismo. contenidos sin preguntarse por su directa utilidad
Estos son algunos pasajes ilustrativos: y el enseñar solamente contenidos ligados a las
consecuencias prácticas que pueden tener. Este
“el no brindar al estudiante la posibilidad de último tipo de conocimiento aparece asociado a
acercarse a la diversidad lingüística debe ser
visto como un genocidio cultural promotor
la preferencia por las ciencias duras, el pragma-
del elitismo y del etnocentrismo, sobre todo tismo e incluso el viejo positivismo, pero también
lingüístico, ya que actualmente el ‘96% de con el elitismo, el reproductivismo, el ser técni-
las 6000 lenguas que hay en el mundo son co pero ignorante, en fin, el “proyecto mínimo
habladas (sólo) por el 4% de la población de hombre” (documento 8).
mundial’ (Convención para la Salvaguardia
del Patrimonio Cultural Inmaterial, progra-
Pasajes en los que estas ideas se expresan son:
ma ‘lenguas en peligro’ UNESCO)” (docu-
mento 3); “por una especie de metonimia — de inme-
diatez con el objeto —, la posesión del ins-
“No es un tema de fuentes de trabajo para trumento garantizaría por sí solo la posesión
los profesores de italiano, es un tema de cul- de la cosa. De esta forma, la posesión del
tura. Y de cultura para los menos pudientes, instrumento lingüístico de un mundo que cree
para los que van a la enseñanza pública y no haber sellado su historia garantizaría por sí
la pueden complementar con cursos priva- sola la posesión de las cosas que el siglo XXI
dos, porque para los otros el aprendizaje del nos tiene prometidas” (documento 2);
italiano está a la mano” (documento 4);
“paradójicamente, esta concepción fuerte-
“Come si sa la conoscenza è potere. Essa si mente pragmática, que apuesta a la
accumula, anzitutto tra le mani di alcuni enseñanza como herramienta de desarrollo
pochi che possono, d’accordo alle proprie y progreso del país, se asienta en una suerte
possibilità d’acquisto, ricevere un po’ di de fetichismo que traslada mágicamente a la
questo potere” (documento 6); posesión del instrumento el dominio sobre
las cosas” (documento 2);

101
“no podríamos siquiera detenernos simple- “quienes andamos por la vida tratando de
mente en el hecho de si los alumnos aprenden descifrar los códigos que ella nos presenta”
o no aprenden y si sirve o no tal asignatura: (documento 1);
dicha arrogancia estéril, positivista y antihu-
manista no tiene en cuenta la formación in- “por su parte el cuerpo docente de italiano
tegral del alumno” (documento 3); es un cuerpo docente activo, único con
formación ininterrumpida en el I.P.A. entre
“el argumento más sonado es: ¿para qué sirve las lenguas extranjeras neolatinas. Esta otra
el italiano, cuál es utilidad? Pregunta que tradición, concretada en nuestro país hacia
lleva de la mano a otra: ¿y para qué sirve la 1949 se inserta en el flujo del conocimiento,
poesía? Y más aún, entonces ¿cuál es la el estudio y la investigación en lenguas
utilidad de la novela, la filosofía, la música, extranjeras. Un altísimo porcentaje de sus
la historia, las artes plásticas? Porque integrantes, parte del profesorado nacional,
plantear en términos de utilidad es discutir ha realizado tanto cursos de especialización
qué es la utilidad, es plantear una discusión en Italia, como cursos de actualización en la
sobre cuál es el objeto de la enseñanza y cuál Facultad de Humanidades y Ciencias de la
es el papel que cabe en una sociedad a la Educación sobre diversos aspectos de la cul-
cultura, y en particular a la cultura tura italiana”;
humanística” (documento 4); “quienes desde el aula luchamos por una
educación digna, igualitaria, democrática y
“in alcune società si rischia di cadere in certi acorde a estos tiempos” (documento 3);
meccanismi costruttivisti e tecnicisti che
concepiscono l’educazione come qualcosa di “es notorio ya que la enseñanza pública en
altamente strumentale” (documento 6); este gobierno [...] está en manos [...] de inex-
pertos e inidóneos” (documento 5).
“L’istruzione contemporanea, pur con le sue
imperfezioni metodologiche, rappresenta D) El favorecimiento del inglés contra las
ancora oggi uno strumento educativo vali- demás lenguas extranjeras
do, se concepito come un percorso di
formazione intellettuale mediante la presenza
di discipline atte a produrre non solo La batalla entre lo educativo integral y lo técni-
conoscenza, ma anche spirito critico e co especialístico se plantea también en el campo
capacità riflessive”; de las lenguas, puesto que se sugiere que la elimi-
“negli ultimi anni, tanto in Europa come in nación de la enseñanza de lenguas extranjeras
America Latina si sta osservando un proces-
so il cui obiettivo è l’annichilimento del
consideradas “lenguas de cultura” (francés, itali-
pensiero critico e la creazione di individui ano) se hace con una visión instrumental que lleva
con una formazione meccanicistica e prag- directamente al favorecimiento del inglés:
matica, funzionale esclusivamente al lavoro
specializzato ed alla produzione di beni “Otro efecto notorio de esta política ha sido
materiali” (documento 7); la progresión de la preferencia por la lengua
inglesa. Dicho efecto no es ajeno a la concep-
“sin medir cuánto perdemos al troncharnos ción instrumental de las lenguas” (documen-
una tradición cultural, allá salimos apurados to 2).
tras las promesas tecnológico-desarrollistas”
(documento 8); Hay, a la vez, un dejo de menosprecio por la
cultura transmitida por la lengua inglesa, con
C) La autoridad de los reivindicadores de la
alusiones un tanto irónicas: “con esa tradición -
enseñanza del italiano
que es mucho más que un ‘back-ground’” (docu-
mento 8); “¿Risas? O mejor: ‘Laughter’” (docu-
El argumento precedente está vinculado con
mento 9).
una apelación a la propia autoridad del grupo
reivindicador, que se presenta como la gente cul-
E) Dos representaciones imaginarias sobre el
ta que se da cuenta del valor que tiene la enseñan-
Uruguay: como país culto y como país
za del Italiano, contrastándose con aquellos que,
estrechamente ligado con Italia
en su ignorancia, dieron preferencia a las
tendencias opuestas, es decir, las pragmáticas,
El Uruguay aparece representado en dos as-
tecnicistas e instrumentalistas:
pectos que lo definen en función de la coyuntura

102
crítica que se describe en los artículos seleccio- Ministerio de Salud Pública, Correo, Cate-
nados. Por un lado, se recurre a la imagen de país dral de Montevideo…” (documento 4);
aventajado en materia educativa respecto al res- “la decisión ha caído como un puntapié en
to de Latinoamérica y por otro, a la de país defi- el trasero de la historia y de la realidad naci-
nido por la inmigración, que ha recibido un fuerte onal. Uruguay es, como Argentina, un país
contingente italiano, por lo tanto como país que de inmigrantes, y entre las corrientes inmi-
preserva un cierto vínculo con ese país europeo. gratorias más numerosas que han llegado a
hacer lo que somos hoy, está la italiana. Es
Para la primera de las representaciones, en el más, son muchos los italianos afincados en
documento 6 leemos: el Uruguay, y los uruguayos descendientes
de italianos, a quienes se les reconoce como
“L’educazione uruguayana è diversa da ciudadanos de la República Italiana, se les
quella degli altri paesi del Sudamerica; gli otorga pasaporte comunitario y se les per-
operai nelle fabbriche leggono Dostoievski, mite desde votar hasta postularse a cargos
gli “orientales” siamo illustrati quanto de representatividad popular en los organis-
coraggiosi... e compagnia bella... Idee fissate mos de gobierno del país” (documento 5);
a martellate da chi considera che siamo tra i
sudamericani quei benedetti con l’olio sacro F) Dos representaciones acerca del italiano:
di Samuele in ambito pedagogico. Purtroppo como “lengua entrañable” y como vehículo
e forse per ovvia assimilazione al resto del
verde continente la situazione è davvero
de cultura
cambiata da tanti anni e ne abbiamo trovate
tante conferme”. En este sentido hay una apelación al lamento
por una pérdida que trasciende el debate racional
Para la segunda de las representaciones: y se coloca en el terreno de lo identitario y subje-
tivo: lo entrañable, lo familiar. A la vez, algunas
“No es que de nosotros se ausenten los alusiones más objetivas al valor de la lengua ita-
mafiosos, los ñoquis, los Cagnoni, los Maggi,
la polenta, el laburo, los paolos, las paolas y
liana en tanto trae consigo el acceso a una porción
los provolones. Tampoco se ausentan ni la importante de cultura.
camorra ni el buco ni el naso. Pierrot no ol- Para el primero de los sentidos, leemos:
vidará a Colombina. Dante seguirá viéndo-
nos pasar desde el callejón entre la Univer- “el italiano, para nuestro país, y buena parte
sidad y la Biblioteca, y por Tres Cruces la de los uruguayos, es, además, entrañable”;
Loba seguirá amamantando a dos hermanos “este error que agravia sentimientos arrai-
de destino irreconciliable” (documento 2); gados de nuestro pueblo” (documento 5);

“por las venas del 44% de los uruguayos cor- “Y el habla popular, esa familiaridad
re sangre italiana” (documento 4); prácticamente innata con una de las lenguas
más vivas, más plásticas, más graciosas
“10 de los 13 ministros, 10 de los 13 subse- también, y en el Río de la Plata la más
cretarios de Estado, 15 de los 30 senadores, influyente, la más invasora, nada menos que
45 de los 99 diputados. Muchos uruguayos a través de la inmigración” (documento 9);
de relieve cuentan con ciudadanía italiana,
entre ellos 4 ministros, 2 subsecretarios de “la lengua que trajeron tantos antepasados
Estado, 3 decanos de facultades de la Univer- de los uruguayos de hoy” (documento 8);
sidad de la República, los directores de 2 de
los 3 diarios de mayor circulación nacional, “se aprendía por ósmosis, por contagio, y
el rector de una universidad privada, 1 arzo- también por la sangre. Si se agregaba un poco
bispo y 2 obispos, una decena de diplomáti- de estudio, cualquier uruguayo llegaba a
cos de alto rango, varios antiguos ministros Italia y se sentía en su casa” (documento 9);
de la Suprema Corte de Justicia”; “escrito-
res de la talla de Mario Benedetti o Carlos Para la segunda representación, relevamos:
Maggi”; “Son de arquitectos o constructores
italianos o de origen italiano, obras de en-
vergadura como: Palacio Legislativo, Casa “El italiano no fue una manera de entender
de Gobierno (Edificio Independencia), Su- cocoliche sino una avenida hacia el arte y el
prema Corte de Justicia, Banco República, humanismo, con cúspides de la dimensión
de Benedetto Croce, que cuando fue de su

103
Aesthetica in Nuce a su Storia come Pensiero que se concentró en la apelación a imágenes de
e come Azione, nos dio luz y compañía para mayor impacto como la alarma ante la decadencia
atravesar las horas lúgubres del liberticidio”
(documento 8);
progresiva de la educación, las pérdidas irrepara-
bles, la alienación respecto de las propias raíces,
“la [lengua] del Dante, la de Machiavello el atentado contra los derechos de los alumnos y
[sic], la de Da Vinci. También la de De Sica, la ineptitud de las autoridades que impulsan las
la de Visconti, la de Rossellini. La grandeza medidas.
del cine italiano puede haber durado cuarenta
años. La grandeza del arte italiano es eter-
De este modo, podemos afirmar que lo hallado
na” (documento 9). en los documentos estudiados resulta agrupable
más allá de las particularidades de cada uno, pues,
G) “Todo tiempo pasado fue mejor” si bien con matices, el combate planteado desde
los discursos que hemos analizado se entabla en
Existe en la atmósfera creada en general por manera similar.
los distintos textos, la sensación de nostalgia por El hecho de tratar una cuestión concerniente a
tiempos anteriores, de modo que el nuevo aconte- la educación pública uruguaya ya implica una
cimiento significa una pérdida más en un camino representación de esta. Allí aparece una clara
de decadencia. concepción de que en ella deben estar plasmados
Sustentan esta visión pasajes como estos: los aspectos más importantes de la cultura uru-
guaya, además de lo estrictamente formativo. En
“nos llevaría a un empobrecimiento intelec- los textos suele estar presente la idea de que se
tual cada vez mayor de nuestro alumnado” está discutiendo acerca de una “cuestión de Estado”.
(documento 3);
Por estar en cuestión una medida gubernativa
“purtroppo e forse per ovvia assimilazione y ser posible identificar a las autoridades que están
al resto del verde continente la situazione è detrás de ella, se puede constatar un ataque directo
davvero cambiata da tanti anni e ne abbiamo a su autoridad y aptitud, así como se hacen ver
trovate tante conferme” (documento 6); los que serían caracteres contrarios a un gobierno
“la supresión confirma la miopía cultural que
democrático, además de contradictorios con la
denunciaron en el hemisferio norte un Ber- ideología del partido de gobierno: “stiamo contri-
diaeff o un Sorokin cuando empezó a avanzar buendo ancor con un governo di sinistra a creare
un materialismo ramplón”. (documento 8); un’educazione strumentale, tecnicista e antidemo-
cratica” (documento 6).
“Obedece a la misma línea por la cual, junto
con enseñar cada vez menos otros idiomas,
En ese sentido, aparecen imágenes negativas
vamos perdiendo las matrices del nuestro. que se dan por ampliamente rechazadas y que
Se nos cayeron los tildes y las zetas, la v se además constituyen elementos traumáticos para
confundió con la b, se nos retrajo el léxico, la sociedad uruguaya: la dictadura y, en menor
abandonamos las exigencias de los medida, las reformas educativas recientes (que si
sentimientos normativos y acuñamos un
lenguaje de mínima para un proyecto míni-
bien no se explicitan probablemente remitan a las
mo de hombre” (documento 8). reformas que se iniciaron en 1996). También apa-
recen términos como neoliberalismo, instrumen-
talismo, tecnologismo, de los que se presupone
CONCLUSIONES un rechazo a priori.
A estas imágenes negativas, se oponen las po-
Lo relevado en estos documentos nos permite sitivas y que se suponen universalmente aceptadas
establecer en qué términos se planteaba al menos como las de los derechos humanos (acompañados
una parte del debate suscitado por la noticia de la específicamente por la idea de diversidad lingüís-
eliminación de la enseñanza de la lengua italiana tica y plurilingüismo), la democracia, la profesio-
de los bachilleratos humanísticos del Uruguay. nalidad de los profesores, el desarrollo de la capa-
Vemos allí que el debate estaba bastante ale- cidad reflexiva de los alumnos, su correcta inser-
jado de argumentaciones que hubiésemos carac- ción en la sociedad y su formación integral.
terizado como basadas en sustento científicos sino

104
Se plantea la permanencia del italiano en la en los programas de enseñanza de esta lengua3:
enseñanza pública como una cuestión de super- “un inglés despojado de Shakespeare, de Swift,
vivencia de mentalidades que parecerían estar de Stuart Mill, de Spencer, de Bradbury se
derrotadas en el mundo actual. Por este motivo, asemeja mucho a un italiano despojado de Dante,
en muchas ocasiones los autores deben hacer una de Petrarca, de Leopardi, de Croce, de Calvino”,
defensa de su propia condición de personas cul- documento 2).
tas y formadas en una concepción humanística La reforma puntual que nos ocupa aparece cla-
(dentro de la que queda incluida el italiano) ramente relacionada con otras del pasado que
demostrando un cierto orgullo por este rasgo. Es serían responsables de una paulatina decadencia
una afirmación enérgica que presupone la existen- a través de la cual se podrían interpretar todos
cia de una negación, la que supondrían las nuevas los nuevos hechos inesperados que surgen en la
reformas, con su priorización de lo técnico y la sociedad: las nuevas manifestaciones culturales
atribución del carácter de superfluo para las mate- podrían ser leídas también desde esta óptica si se
rias humanísticas. la hace extensiva. Son componentes fundamenta-
En esta reivindicación de lo que llamaríamos les de esa actitud la indignación y el escándalo
“cultura culta” o cultura humanística, que no ante lo nuevo y no compatible con la concepción
acepta que se la obligue a explicarse a sí misma anterior de cultura, así como la resignación a un
en términos prácticos, es que se suele insertar la destino desgraciado para la humanidad, que esta-
pérdida del italiano y aparecen las representacio- ría materializado en esas novedades infames.
nes ligadas a esa lengua: aparece asociado a la Creemos que estos son los elementos discur-
“cultura general”, el cine, el arte, la ciencia polí- sivos más destacados, aunque podría ser esta una
tica, el derecho, pero además al pasado ancestral primera aproximación a un período interesante
de una porción importante de la población uru- (tanto en sí como por su epílogo, que repasamos
guaya. Por otro lado, se reúne al italiano con otras en la introducción de este trabajo), que nos podría
lenguas extranjeras como vehículos de cultura arrojar más textos analizables para los cuales
(por ejemplo, en el documento 8 se empareja su podríamos aplicar una metodología más rigurosa
pérdida con la del francés) en oposición al inglés, que en este primer abordaje y podríamos arribar
al atribuirle a este último solo una faceta instru- a resultados más ordenados y contundentes, así
mental y comunicativa (de algún modo se admi- como mejor documentados.
te la poca importancia dada a la cultura inglesa

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANEP (2008). Documentos e informes técnicos de la Montevideo, Anep-Codicen (http://www.anep.edu.uy/do-


Comisión de Políticas Lingüísticas en la Educación Públi- cumentos/cplepDOCyAP.pdf): pp. 212-231.
ca. Montevideo, ANEP-CoDiCen. HALLIDAY, M. (2001). “Una interpretación de la relación
BEHARES, L. E. y C. BROVETTO (2009). “Políticas Lin- funcional entre el lenguaje y la estructura social” en El
güísticas en Uruguay. Análisis de sus modos de Lenguaje como semiótica social. México, FCE: pp. 239-
establecimiento” en ANEP, Primer Foro Nacional de 251.
Lenguas de ANEP. Montevideo, ANEP-CoDiCen: pp. 143- LEITE, N. V. de Araújo (1994). Psicanálise e análise do
174. discurso: o acontecimento na estrutura. Rio de Janeiro,
FUSTES, J. M. (2007). “Relevamiento de los programas Campo Matêmico.
de asignaturas del dominio lingüístico en los subsistemas URUGUAY (2008). Ley Nº 18.437. Ley General de
de ANEP. Propuestas y concepciones presentes en ellos” Educación. [www.parlamento.gub.uy]
en Comisión de Políticas Lingüísticas en la Educación Pú-
blica. Documentos e informes técnicos de la CPLEP. VAN DIJK, T. (2002). “El análisis crítico del discurso y el
pensamiento social”. Athenea Digital, núm. 1 (primavera):
pp. 18-24.

3
Que hemos observado en un trabajo anterior (Fustes, 2007).

105
O CEPI COMO AÇÃO DE POLÍTICA LINGUÍSTICA PARA O
INTERCÂMBIO ACADÊMICO

Hebe Gargiulo
Universidade Nacional de Córdoba
Gabriela da Silva Bulla
Margarete Schlatter
Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Uma das políticas para a integração regional do Curso de Professores CEPI, 2009-2010
frequentemente explicitada em atas, recomenda- (Gargiulo et al., 2011), cujo objetivo foi formar
ções e documentos oficiais do MERCOSUL Edu- professores na metodologia CEPI, cada edição
cativo é a promoção de programas que fomen- do curso envolve professores, professores esta-
tem a mobilidade acadêmica e estudantil. No en- giários, estudantes de graduação e de pós-gradu-
tanto, a mobilidade por si só não promove a inte- ação em Letras, e membros de grupos de pesqui-
gração; são necessárias também ações que a favo- sa que atuam como tutores dos vários grupos.
reçam e que sejam capazes de gerar espaços e Sendo assim, o CEPI contribui para a formação
conexões para que os participantes interajam em de professores de línguas do MERCOSUL pro-
práticas relevantes para a sua vida. O projeto porcionando uma experiência integradora de en-
CEPI (Curso de Espanhol e Português para Inter- sino, de aprendizagem e de uso da língua.
câmbio) parte do entendimento de que o ensino
de línguas é uma ação concreta dentro de políti-
cas linguísticas que promovem a integração re- O ENSINO DE LÍNGUAS NO MERCOSUL
gional.
O CEPI é um curso online de línguas adicio- Desde 1991, com a assinatura do Protocolo
nais que prepara os intercambistas, estudantes de de Intenções e a criação do Setor Educativo do
universidades latino-americanas, para inserção na MERCOSUL (SEM), são reconhecidas três áre-
vida social e acadêmica da universidade de des- as em que a educação, enquanto pedra angular
tino. O curso possibilita a experiência de inter- do projeto econômico, contribui para a integração
câmbio antes do deslocamento espacial dos alu- regional: a formação de uma consciência cidadã
nos e, ao mesmo tempo, ajuda-os a se preparar favorável ao processo de integração; a
para a empreitada. Parte-se da perspectiva que capacitação dos recursos humanos necessários
subjaz aos Planos Estratégicos do Setor Educativo para contribuir com o desenvolvimento na Re-
do MERCOSUL (SEM 2006-2010, 2011-2015), gião e o compromisso de harmonizar os sistemas
que consideram as línguas como constitutivas da educativos. O mesmo documento explicita a im-
identidade; nesse sentido, o ensino de línguas portância da difusão e aprendizagem dos idiomas
pode incentivar que o aluno se constitua como oficiais do MERCOSUL — Espanhol e Portugu-
sujeito a partir do contato e da interação com os ês — para a consolidar a integração. Em 1992, o
outros, reconhecendo e respeitando a diversida- Plano Trienal de Educação do MERCOSUL rea-
de e as diferenças. firma a importância da aprendizagem das línguas
O CEPI não só propõe aos estudantes de in- oficiais através do objetivo do subprograma I.2,
tercâmbio engajar-se na aprendizagem de espa- que visa a “implementar o ensino do espanhol e
nhol e português como agentes sociais envolvi- do português nas instituições de diferentes níveis
dos em situações reais de interação, mas também e modalidades do sistema educativo, para melho-
promove a formação de professores de línguas e rar a comunicação entre os países que compõem
pesquisadores, ao possibilitar que eles vivenciem o MERCOSUL”. (MERCOSUL, 1992)
a interculturalidade e a aprendizagem de línguas Ao longo dos últimos anos, entre as políticas
de uma perspectiva de integração regional. Além linguísticas implementadas podemos citar: a “Lei

107
do Espanhol” (Lei 11.161/2005, que estipula AÇÕES NO ÂMBITO DO PROJETO CEPI
como obrigatória a oferta do espanhol pelas es-
colas de nível médio no Brasil); a criação do Gru- Desde 2007, a Equipe CEPI tem realizado di-
po de Trabalho sobre Políticas Linguísticas no versas ações de integração regional através do
MERCOSUL Educativo; as diversas recomenda- ensino e da aprendizagem de espanhol e portu-
ções elaboradas por este grupo sobre o ensino de guês como línguas adicionais e da formação de
espanhol e português e sobre a implementação professores. As Universidades de Córdoba e En-
de cursos de formação de professores de portu- tre Rios, na Argentina, e a Universidade Federal
guês e espanhol como línguas adicionais. Mais do Rio Grande do Sul, no Brasil, trabalharam con-
recentemente, a Declaración del I Encuentro de juntamente na arquitetura e implementação do
Asociaciones de Profesores de Lenguas Oficiales curso. Em sua concepção teórico-metodológica
del MERCOSUR (Foz do Iguaçu, 22 de outubro e estrutura, o curso é semelhante nas duas lín-
de 2010) novamente defende e reivindica a ne- guas (BULLA et al., 2009; GARGIULO et al.,
cessidade de ações concretas que promovam a 2009), porém cada instituição abordou as
formação de professores com a participação de temáticas específicas de intercâmbio e as parti-
universidades e instituições de ensino superior. cularidades sociais de cada cidade e região de
No 1º Plano de Ação do Setor Educativo do modos próprios, convergentes a cada contexto
MERCOSUL 2001-2005, foram promovidas social e acadêmico próprio. A concepção e ela-
como orientações estratégicas, entre outras: boração dos materiais didáticos do CEPI deman-
dou intenso trabalho em equipe, realizado a dis-
1. Avançar na implementação de propostas tância, em sua maioria, através do uso de tec-
curriculares, metodológicas e de produção nologias de informação e comunicação. A partir
de materiais acadêmicos, pedagógicos e di- da implementação das várias edições do curso,
dáticos com foco regional. as tarefas pedagógicas foram sendo reformuladas
2. Difundir o ensino das línguas oficiais do e adaptadas às novas situações e necessidades dos
MERCOSUL nos sistemas educativos, pro- grupos e ao avanço do conhecimento construído
mover a formação de professores para tal em conjunto, consolidando, assim, a metodologia
finalidade e favorecer o desenvolvimento de CEPI, que tem como base o conceito de uso da
programas de educação intercultural bilíngue. linguagem como ação social e a perspectiva socio-
3. Desenvolver ações e iniciativas para a for- interacionista de aprendizagem (SCHLATTER et
mação inicial e continuada de professores al., no prelo).
de todos os níveis, ciclos e modalidades co- A primeira edição do CEPI aconteceu em ja-
mo atores fundamentais do sistema educativo. neiro de 2011, e desde essa data ocorreram duas
edições por ano, com um número diferente de es-
Neste contexto, tanto o CEPI quanto o Curso tudantes em cada universidade. A Tabela 1, a se-
de Formação de Professores-CEPI contribuem guir, adaptada de Schlatter et al. (no prelo), resu-
com as propostas de integração regional desenha- me informações sobre as seis edições do CEPI:
das pelo SEM e solicitadas pelas Associações de as universidades participantes, o número de alu-
Professores de Línguas Oficiais do MERCOSUL nos e sua origem, a duração e o número de pro-
e pelos documentos oficiais sobre o ensino das fessores participantes do curso. Embora a pro-
línguas dos e nos países participantes. O CEPI é porção de professores por aluno possa parecer sur-
um programa de integração regional que, orien- preendente, o CEPI tem também o propósito de
tado para a mobilidade acadêmica, propõe o en- contribuir para a formação de professores e pes-
sino de espanhol e português como línguas adi- quisadores, conforme mencionado anteriormen-
cionais no âmbito do MERCOSUL e a formação te, e, por isso, constitui-se como um espaço de
de professores, em uma iniciativa de colabora- prática docente para alunos de graduação que ain-
ção e integração acadêmica e de criação de redes da estão se formando como professores de lín-
de trabalho e pesquisa. guas.

108
Embora o curso tenha sido concebido pelas não haja o oferecimento do curso por uma das
três universidades mencionadas anteriormente, instituições, os participantes de cada equipe têm
por várias razões que fogem ao escopo deste tra- oportunidade de acompanhar as atividades tanto
balho, as seis edições do CEPI não envolveram a de ensino como de reflexões pedagógicas ao lon-
oferta contínua dos três cursos (CEPI-Português/ go do período, pois cada edição do CEPI consti-
UFRGS, CEPI-Espanhol/UNC e CEPI-Espanhol/ tui-se como uma oportunidade de formação de
UNER), como pode ser observado na Tabela 1. É professores de espanhol e português para atua-
importante salientar, no entanto, que, mesmo que ção em ambientes digitais.
Tabela 1 – Seis edições do CEPI 2011-20131

Selecionado Alunos Professores


Edição do CEPI Duração Países e Universidades de origem
ESCALA do CEPI e assistentes

CEPI-Port 8 semanas Argentina: UBA, UNER, UNL, UNLP,


7 7 2
UFRGS 17/1/11 a 6/3/11 UNR, UNT


CEPI-Esp 8 semanas Brasil: UFMG, UNESP
edição 12 6 4
UNC 17/1/11 a 6/3/11 Chile: UdeSantiago*
2011-1

CEPI-Esp 8 semanas
11 5 Brasil: UFSCar, UFMG, UNESP 3
UNER 17/1/11 a 6/3/11

Argentina: UBA, UNC, UNER, UNL,


CEPI-Port 9 semanas
11 7 UNT 2
2ª UFRGS 30/5/11 a 31/7/11
Uruguai: UDELAR
edição
2011-2
CEPI-Esp 8 semanas Brasil: UFSM, UFMG, USP, UFSC,
12 7 2
UNC 21/6/11 a 16/8/11 UFMG, UFSCar

Argentina: UNC***, UNCUYO,


CEPI-Port 8 semanas UNER***, UNL, UNLP, UNMdP, UNNE
14 11** 2
3ª UFRGS 4/1/12 a 29/2/12 Paraguai: UNE
edição Uruguai: UDELAR
2012-1
CEPI-Esp 8 semanas
12 3 Brasil: UNESP 2
UNC 16/1/12 a 9/3/12


CEPI-Port 7 semanas Argentina: UBA, UNER, UNL, UNNE
edição 13 8 2
UFRGS 11/6/12 a 31/7/12 Uruguai: UDELAR
2012-2

5ª Argentina: UBA, UNC, UNER***, UNL,


CEPI-Port 8 semanas
edição 14 10**** UNNE, UNR, UNT 2
UFRGS 7/1/13 a 1/3/13
2013-1 Paraguai: UNA

CEPI-Port 7 semanas
Aguardando confirmação de inscrições 2
6ª UFRGS 10/6/13 a 26/7/13
edição
2013-2 CEPI-Esp 8 semanas
Aguardando confirmação de inscrições 3
UNC 17/6/13 a 09/8/13

1
* Como, além da prática linguística, o curso busca a familiarização do intercambista com a universidade e a cidade de
destino, tanto o CEPI-UNC como o CEPI-UNER (os CEPI em espanhol) preveem a participação de intercambistas falan-
tes de espanhol provenientes da Bolívia, Chile, Paraguai e Uruguai que tenham como destino as universidades argentinas
UNC e UNER. Nas diferentes edições oferecidas, esses estudantes se engajaram em alguns fóruns e realizaram algumas
das tarefas propostas.
**Participaram da 3ª edição do CEPI nove intercambistas selecionados para a UFRGS e dois selecionados para estudar na
UNESP. Os estudantes da UNESP pediram para participar do CEPI-UFRGS, pois a UNESP não oferecia curso de portu-
guês para os intercambistas do Programa ESCALA na época.
*** Universidade de destino: UNESP.
**** Participaram da 5ª edição do CEPI nove intercambistas selecionados para a UFRGS e um selecionado para a UNESP,
pelo mesmo motivo apresentado na nota ** acima.

109
Um dos objetivos do projeto CEPI é multipli- materiais didáticos para a aprendizagem online
car a experiência de ensino online das duas lín- de línguas, o que se reflete na participação da
guas e de pesquisa sobre educação linguística a equipe em diversos eventos acadêmicos de 2007
distância em outras universidades que queiram até o presente ano.
participar do projeto. Desta forma, mais univer- A apresentação acadêmica oficial do CEPI foi
sidades podem contribuir, através do ensino feita no Encuentro Internacional de Investigado-
online dessas línguas, com as políticas de res de Políticas Lingüísticas, do Núcleo Educa-
integração regional e com o desenvolvimento de ção para a Integração da AUGM, realizado em
identidades culturais no MERCOSUL, favorecen- Córdoba, Argentina, em 2007 (SCHLATTER et
do a inserção linguística, cultural e acadêmica dos al., 2007). Em 2009, a partir da concepção do
estudantes de intercâmbio. Ao mesmo tempo curso, do design dos materiais didáticos e imple-
pode-se expandir a rede de professores-pesqui- mentação no MOODLE (ambiente virtual que
sadores interessados em questões de ensino de hospeda os materiais do CEPI), e das experiênci-
línguas totalmente a distância e de inserção de as com o trabalho online e com o ensino online,
alunos na vida acadêmica. Com este objetivo, foi três trabalhos foram apresentados na II Jornadas
realizado o Curso de Formação de Professores de Tecnologías aplicadas a la Enseñanza de las
CEPI (CFP-CEPI) em 2009-2010. Lenguas, realizada em em Córdoba. Bulla et al.
A proposta deste curso envolveu duas etapas: (2009) e Gargiulo et al. (2009) explicitaram a or-
a primeira consistiu em atividades de leitura, dis- ganização dos materiais didáticos para o ensino
cussão, análise de materiais didáticos e forma- online de língua e a abordagem metodológica do
ção na metodologia CEPI; a segunda propôs a CEPI em relação ao conceito de linguagem e à
mobilização dos conhecimentos construídos na abordagem pedagógica adotados, e Schlatter et
primeira etapa na criação e/ou adaptação dos ma- al. (2009) abordou a questão da formação de pro-
teriais didáticos do CEPI para cada contexto uni- fessores CEPI para interagirem em uma comuni-
versitário, de modo que cada universidade teria dade colaborativa de aprendizagem a distância.
o seu CEPI para oferecer aos seus intercambistas. A relação entre o uso da língua e o fórum como
Dez universidades participaram ativamente da um gênero discursivo próprio da era digital e co-
primeira etapa, além de professores da UNC, mo espaço de interação no processo pedagógico
UNER e UFRGS que também estavam se for- foi abordado em trabalho apresentado nas III Jor-
mando para atuarem como professores dos seus nadas Internacionales de Tecnologías aplicadas
CEPI futuramente. Na segunda etapa, no entan- a la Enseñanza de las Lenguas realizadas na
to, apesar de haverem começado a projetar os seus Universidad Nacional de Córdoba em 2011
cursos, vários participantes não puderam concluí- (GARGIULO; BECKER; PERALTA FRÍAS,
los devido à alta carga de trabalho exigida para 2011). Nesse mesmo ano, nas II Jornadas en
isso e por não poderem contar com uma equipe Investigación y Experiencias en EaD y Tecnología
em sua universidade. A UNER, a Universidade Educativa (UNC), Gargiulo, Bulla e Schlatter
do Litoral e a UdeLaR concluíram parte dos seus (2011) abordaram o tema da formação de profes-
cursos (GARGIULO et al., 2012). A demanda por sores de espanhol e de português como línguas
cursos de línguas para futuros intercambistas ES- adicionais no contexto do MERCOSUL e os sa-
CALA ainda existe, o que justifica, por exemplo, beres e competências para atuar em ambientes
a solicitação de alunos com outras universidades virtuais de aprendizagem, a partir da proposta
de destino para participarem no CEPI-Portugu- conjunta entre a UFRGS e a UNC do Curso de
ês/UFRGS (ver Tabela 1). Formação de Professores CEPI. O conceito de
Assim, paralelamente às ações relacionadas ao língua e a concepção metodológica que subazem
intercâmbio e ao ensino de línguas, o CEPI se ao CEPI se refletem na proposta de tarefas de
constituiu também como um espaço de práticas compreensão e de produção oral e escrita. Em
pedagógicas para a formação online de professo- 2012, no IX Congresso de Linguística Aplicada,
res online e de pesquisas interinstitucionais so- no Brasil, foi apresentada uma análise dos gêne-
bre interação em contexto virtual, práticas de en- ros discursivos mobilizados nas tarefas de com-
sino online de línguas adicionais e elaboração de preensão e produção escrita no ensino de portu-

110
guês. A análise dos materiais produzidos no cur- nal mediado pelo computador. PPG-Letras,
so e as reflexões e orientações para o desenho de UFRGS.
tarefas pedagógicas para o ensino a distância foi • SIDI, W. A. (Doutorado em andamento): Le-
o tema de artigo publicado na Revista Horizon- tramento digital e participação em curso on-
tes de Linguística Aplicada em 2012 (BULLA et line. PPG-Letras, UFRGS.
al., 2012).
Além dos trabalhos apresentados em jornadas Os trabalhos apresentados em congressos e
científicas, foram desenvolvidos os seguintes tra- jornadas pela equipe, as publicações, os traba-
balhos de conclusão de curso de Graduação em lhos finais de curso e as teses de mestrado e douto-
Letras sobre o CEPI: rado constroem a área de pesquisa e qualificam a
proposta do CEPI, pois incidem no ensino, na
• LAFUENTE, N. E. O ensino orientado para difusão, na metodologia e nas representações dos
o uso da linguagem em uma unidade didáti- participantes sobre as línguas e seu ensino e
ca do CEPI. UFRGS, 2009. aprendizagem na perspectiva de promover a
• NUNES, C. D. Participação escrita orienta- integração. Nesse sentido, o projeto CEPI se cons-
da para a criação de contextos colaborativos titui como uma ação de política linguística
de aprendizagem: uma análise de atividades construída colaborativamente pelos participantes.
via fórum no CFP-CEPI. UFRGS, 2010.
• LEMOS, F. C. O ensino de línguas adicio-
nais na modalidade a distância: a elabora- O CEPI COMO AÇÃO DE POLÍTICA
ção do Manual do Professor CEPI. UFRGS, LINGUÍSTICA
2011.
Como afirma Bein (s/d), as políticas linguís-
Também em termos de impacto das ações do ticas em sentido amplo abarcam o conjunto de
CEPI, podemos citar um estágio em curso, um decisões sobre o uso público da linguagem. Nes-
mestrado concluído e dois em andamento, e dois te sentido, os documentos oficiais e as propostas
doutorados em andamento, sobre os seguintes de integração regional postulam a necessidade de
tópicos: promover ações concretas de ensino de línguas,
a fim de alcançar, com base no respeito e conhe-
• BEKER, S. (estágio em andamento): Diseño cimento do outro, uma cidadania regional. Em-
de tareas y actividades en CEPI UNC. Dis- bora, como vimos, o planejamento relativo à di-
ciplina de graduação Taller de Enseñanza fusão e ao uso do espanhol e do português no
Aprendizaje Lingüístico con apoyo infor- MERCOSUL aparece nos documentos oficiais
mático. Facultad de Lenguas, UNC. como representações do que, no âmbito político,
• CARILO, M. S. (2012). Tarefas de leitura e deveria ser feito, as relações entre sociedade e
produção escrita no ensino a distância de lín- línguas exigem ações concretas que sejam rele-
gua portuguesa para intercâmbio acadêmi- vantes para a vida dos cidadãos. A educação de-
co. Dissertação de mestrado em Linguística sempenha aqui um papel fundamental.
Aplicada, Instituto de Letras, UFRGS. Como formadoras de professores e mediado-
• LEMOS, F. C. (Mestrado em andamento): ras na construção de conhecimentos, as universi-
Formação de professores CEPI. Programa de dades públicas são responsáveis pela realização
Pós-Graduação em Letras (PPG-Letras), e ampliação das práticas de ensino e de uso das
UFRGS. línguas que contribuam para a integração regio-
• WEBBER, N. (Mestrado em andamento): O nal. Nesse contexto, o CEPI combina, em sua
uso do Facebook no CEPI. PPG-Letras, proposta de integração regional baseada na apren-
UFRGS. dizagem de línguas, a oferta de cursos de espa-
• BULLA, G. S. (Doutorado em andamento): nhol e português no âmbito de programas de
O CEPI como um curso online para uso da mobilidade acadêmica estudantil, cursos de for-
linguagem: relações entre design, atividade mação de professores, eventos de formação de
e ensino de Português como Língua Adicio- professores durante a realização dos CEPI (atra-

111
vés do apoio da Equipe CEPI) e programas de nhol e português como línguas adicionais em con-
pesquisa sobre ensino e aprendizagem de espa- textos virtuais de aprendizagem.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BEIN, R. Políticas lingüísticas en la Argentina. Legislación LEGISLACIÓN UNASUR–MERCOSUR. Disponível em:


y promoción de lenguas. Linguasur. Disponível em: http:/ http://www.linguasur.org.ar/ panel/archivos/96644900-
/www.linguasur.org.ar/panel/archivos/bded 1b1a285fc- 92f9e6d2b7cc5fc86c1e3ec4legislacionmercosur1.pdf.
d7c2907b8706497cc9fBein%20Pols%20lings%20en%2- Acesso em maio de 2013.
0la%20Argentina2.pdf. Acesso em maio de 2013. MERCOSUL. Protocolo de Intenções. Brasília, 1991.
BULLA, G. S.; GARGIULO, H.; SCHLATTER, M. Organi- MERCOSUR/CCR/CRCES/ACTA Nº 04/10: Documento
zación general de materiales didácticos para la enseñanza metas, acciones e indicadores para el plan SEM 2011-
online de las lenguas: el caso del Curso de Español- 2015. Disponível em: http://dch.unne.edu.ar/ afiches2010/
Portugués para el Intercambio (CEPI). In: II Jornadas becasMadridParis2011/Anexo_%20IV_%20Documento_-
Internacionales de Tecnologías Aplicadas a la Enseñanza %20Metas.pdf. Acesso em maio de 2013.
de Lenguas. Actas Digitales. Córdoba: PlasmaMedia. v.
CD. p. 01-12, 2009. MERCOSUR/CMC/DEC. Nº 07/92: Plan trienal para el
sector educacion en el proceso de integracion del mercosur.
BULLA, G. S.; LEMOS, F. C.; SCHLATTER, M. Análise Disponível em http://www.sice.oas.org/trade/mrcsrs/
de material didático para o ensino de línguas adicionais a decisions/DEC792.asp. Acesso em maio de 2013.
distância: reflexões e orientações para o design de tarefas
pedagógicas. Revista Horizontes de Linguística Aplicada, MERCOSUR/CMC/DEC. Nº 03/08. Programa Marco de
v. 11, p. 103-135, 2012. Ciencia, Tecnología e Innovación del MERCOSUR para
el período 2008-2012. Disponível em: http://
CONTURSI, M.E. (s/f) Legislación político-lingüística del www.recyt.mincyt.gov.ar/files/ProgramaMarco/progra-
MERCOSUR: avances y dilaciones a casi dos décadas del ma_marco_espanol.pdf. Acesso em maio de 2013.
Tratado de Asunción. Linguasur.
SCHLATTER, M.; BULLA, G. S.; GARGIULO, H.; CAR-
GARGIULO, H.; BEKER, S; PERALTA FRÍAS, C. La VALHO, S. C. O Curso de Espanhol-Português para Inter-
Lengua en uso y los usos de los foros en la clase de lengua. câmbio (CEPI): uma ação de política linguística construída
In: III Jornadas internacionales de Tecnologías aplicadas colaborativamente pelos participantes. In: Revista Digital
a la enseñanza de las Lenguas. Actas Digitales. Facultad de Políticas Lingüísticas, NEPI – AUGM. Facultad de
de Lenguas. Universidad Nacional de Córdoba. Córdoba: Lenguas, Universidad Nacional de Córdoba, año 4, v. 4
PlasmaMedia, 2011. (no prelo)
GARGIULO, H.; BULLA, G. S.; SCHLATTER, M. CEPI: SCHLATTER, M.; BULLA, G. S.; GARGIULO, H.;
Tareas, herramientas y el enfoque accional en el aprendizaje JURIC, V. H. S. La formación del profesor CEPI para
en línea. In: II Jornadas Internacionales de Tecnologías interactuar en una comunidad colaborativa de aprendizaje
Aplicadas a la Enseñanza de Lenguas. Actas Digitales. a distancia. In: II Jornadas Internacionales de Tecnologías
Córdoba: PlasmaMedia. v. CD. p. 01-12, 2009. Aplicadas a la Enseñanza de Lenguas. Actas Digitales.
GARGIULO, H.; BULLA, G. S.; SCHLATTER, M. Córdoba: PlasmaMedia. v. CD. p. 01-18, 2009.
Formación en línea de profesores de lengua para actuar en SCHLATTER, M.; BULLA, G.; JURIC, V. S.; HRASTE,
ambientes virtuales. Propuesta conjunta Universidad Na- M.; RODRÍGUES, M. L. A Certificação Espanhol/Portu-
cional de Córdoba (Ar.), Universidad Federal Río Grande guês para Intercâmbio (CEPI) como uma ação de política
do Sul (Br.). In: Anais II Jornadas sobre Experiencia e linguística no âmbito do MERCOSUL. In: Anais III
Investigación en EaD y Tecnología Educativa en la UNC. Encuentro Internacional de Investigadores de Políticas
Córdoba: UNC. p. 343-346, 2011. Linguísticas. Núcleo Educación para la Integración AUGM,
Córdoba, 2007.

112
SOBRE O PROJETO “EDUCAÇÃO CONTINUADA DA CULTURA
VESTFALIANA PARA PROFESSORES DO MUNICÍPIO DE WESTFÁLIA”

Aline Horst
Universidade Federal do Rio Grande do Sul

INTRODUÇÃO de de implementação do projeto. Segue-se a aná-


lise das motivações e objetivos do projeto, con-
Ao lado do português como língua oficial, um trapondo sua proposta com a perspectiva de pro-
número considerável de comunidades minoritá- fessores e moradores, obtida por meio de entre-
rias no Brasil vive o dilema entre a perda e a ma- vistas gravadas, visando identificar, entre outros
nutenção ou preservação de suas línguas. Um e- aspectos, a relevância atribuída pelos membros
xemplo de tentativa de revitalizar uma dessas lín- da comunidade à proposta do projeto, bem como
guas minoritárias, ou minorizadas, encontra-se na sua relevância para os membros da comunidade
localidade de Westfália, no Vale do Taquari, Rio e mecanismos de implementação. A análise ins-
Grande do Sul, a qual se caracteriza pela presen- tiga à reflexão e enfrentamento das questões polí-
ça de uma comunidade de falantes da língua de tico-linguísticas que emergem da proposta do pro-
imigração alemã conhecida como vestfaliano, jeto e das expectativas da comunidade, em espe-
Platt, Plattdütsk, sapato-de-pau, ou ainda westfä- cial dos professores entrevistados.
lisches Plattdeutsch.1 Para sua revitalização, foi
encaminhado por Lucildo Ahlert (cf. AHLERT,
2012) – professor, pesquisador e falante do vestfa- AFINANDO CONCEITOS
liano, membro da comunidade de fala local — o
projeto “Educação continuada da cultura vestfali- O projeto a ser implantado em Westfália pre-
ana para professores do município de Westfália”. vê a manutenção e a revitalização/”reaquisição”
É objetivo deste artigo, analisar suscintamente — da variedade vestfaliana, bem como de aspectos
dentro do que o espaço nos permite — os objeti- culturais trazidos pelos imigrantes vestfalianos
vos, argumentos e dificuldades que subjazem à (veja-se AHLERT, 2012). Falar em uma língua
implementação desse projeto. Espera-se, com brasileira de imigração vestfaliana constitui, no
isso, contribuir para uma compreensão melhor dos entanto, uma abstração, pois coexistem na loca-
processos envolvidos em ações de promoção do lidade mais de uma variedade em contato, a sa-
plurilinguismo e de línguas minoritárias numa á- ber Hunsrückisch (pt. hunsriqueano), Hoch-
rea que apresenta histórico de imigração alemã, deutsch (pt. alemão-padrão), além do português
especialmente vestfaliana. A análise, de cunho como língua-teto2 oficial e majoritária da escrita,
etnográfico, está subsidiada por entrevistas com da escola e da administração. O gráfico a seguir,
cinco informantes (três professoras e duas parti- de Bellmann (1983, apud LENZ, 2005), ajuda a
cipantes da comunidade), para avaliar a recepti- situar cada uma dessas variedades em um contí-
vidade, aceitabilidade e exequibilidade do projeto. nuo variacional dividido entre a norma standard
Inicialmente, serão definidos alguns concei- (em nosso caso, representada pelo Hochdeutsch,
tos básicos e, em seguida, apresentados aspectos substituído pelo português) e as variedades subs-
da língua de imigração vestfaliana e da localida- tandard, sendo o hunsriqueano — em termos tan-

1
A opção, neste artigo, pela designação de vestfaliano segue os estudos de Vandresen (1970), Koch (1974), Díaz (1996) e
Altenhofen (2004). Esta designação remete à matriz de origem dessa variedade dialetal, na Alemanha. De modo geral, no
entanto, os falantes do Vale do Taquari se auto-designam como falantes de Platt, ou mais comumente, de sapato-de-pau
(originariamente a designação de um tipo especial de calçado de madeira, cujo uso parece ter sido de domínio exclusivo
dos vestfalianos) e, ocasionalmente, de vestfaliano (al. Westfälisch).
2
Sobre o conceito de “língua-teto” (al. Dachsprache), originariamente proposto por Kloss (1966), ver Altenhofen (2013
[no prelo]).

113
to de corpus quanto de status – situado mais pró- “posicionamento” no contínuo irá ajudar a com-
ximo do alemão-padrão do que o vestfaliano, pro- preender algumas relações e atitudes no uso e
veniente da área dialetal do baixo-alemão. Esse percepção de cada variedade na localidade.

Fig. 1 - Estrutura do substandard, segundo G. Bellmann (1983 apud LENZ, 2005),


e a situação das variedades presentes em Westfália

A oposição entre standard e substandard refle- deutsche (‘teuto-húngaros’), Rumäniendeutsche


te igualmente relações entre língua (padrão) escri- (‘romeno-alemães’), teuto-brasileiros ou alemães
ta, de um lado, e língua falada, de outro. Além do do Texas3.
médium (dimensão diamésica), estão implícitos No caso das línguas brasileiras de imigração
fatores como distribuição social, relações sócio- alemã, constituem línguas minoritárias na relação
pragmáticas e estruturas particulares empregadas com o português brasileiro, língua majoritária. As
em cada “nível”. O nível do substandard subdivi- variedades regionais, como o português dos gaú-
de-se em Neuer Substandard (“novo substan- chos, do caipira, do carioca, são consideradas lín-
dard”, o qual compreende um grupo intermediá- guas regionais. “Línguas de imigração podem ser
rio entre o padrão e o dialetal, como, por exem- definidas, assim, como línguas 1) originárias de
plo, as línguas regionais) e Basisdialekte (diale- fora do país (alóctones) que, no novo meio, 2)
tos-base). O conjunto de dialetos-base é definido compartilham o status de língua minoritária.”
por Bellmann (op. cit.) como o que apresenta (ALTENHOFEN & MARGOTTI, 2011, p. 290)
maior grau de dialetalidade. Quando se fala em ilha linguística, emerge
Outra questão importante é a distinção entre fortemente, como já se mencionou, a reflexão
as designações de minoria linguística e língua sobre questões de manutenção e perda linguística.
regional. Conforme Riehl (2010), as minorias po- A manutenção implica o processo de preserva-
dem ser descritas por termos étnicos e religiosos, ção de uma variedade linguística de uma comu-
ao passo que as línguas regionais são definidas nidade por várias gerações, em função de uma
pela região em que são faladas. Falantes de lín- série de aspectos, entre os quais se incluem sua
guas regionais são parte da maioria étnica que consciência de grupo, sua lealdade linguística e,
agrega uma identidade regional adicional. Habi- muitas vezes, uma identificação religiosa4, além
tantes de ilhas linguísticas normalmente descre- da influência de políticas de fomento dessas lín-
vem-se como integrantes de um grupo étnico dis- guas.
tinto, pertencente à etnia da pátria linguística cor- Pelo outro lado, o desaparecimento ou perda
respondente. Como consequência, sua origem de uma língua surge como consequência, segun-
étnica torna-se componente fixa do nome da co- do Riehl (2010, p. 340), de três fatores centrais:
munidade. Chamam-se, por exemplo, Ungarn- a) a mudança dos contextos comunicativos, com

3
Cf. Riehl (2010, p. 334).
4
Veja-se Sulzbach (2004, p. 65).

114
aumento do contato linguístico e da mudança de CONTEXTO DE IMPLEMENTAÇÃO DO
código; b) os falantes de diferentes grupos usan- PROJETO EM ANÁLISE
do diferentes variedades dialetais entram em con-
tato, criando novos contextos de contato de vari- ASPECTOS DA LOCALIDADE DA
edades e de convergências dialetais; c) o aumen- PESQUISA
to dos casamentos interétnicos nos quais as cri-
anças tornam-se monolíngues da língua majoritá- Westfália está localizado no Vale do Taquari,
ria, resultando, em alguns casos, apenas em do- distante ca. 150 km de Porto Alegre. Seus cerca
mínio passivo, das habilidades receptivas de uso de 2.793 habitantes dão a dimensão de seu tama-
da variedade minoritária. nho. O Vale possui 4.821,1 km de área e 327.822
Vale ressaltar que, do ponto de vista linguís- habitantes (3,07% do estado – Censo Demográ-
tico, toda língua é adequada à comunidade que a fico 2010). Sua localização, às margens do rio
utiliza, pois é um sistema completo que permite Taquari e afluentes, pode ser vista no mapa 1,
a um grupo de fala exprimir o mundo em que vive. abaixo. A presença dos vestfalianos abarca, no
Não existem, intrinsecamente, variedades inferi- entorno de Westfália, as localidades de Teutônia,
ores, embora se distingam quanto ao status só- Colinas e Imigrante (temas de minha Disserta-
cio-político assumido em determinado contexto.
“A visão histórica das ‘políticas linguísticas’
para as línguas minoritárias no
Brasil mostra um predomínio de
decisões coibitivas” (ALTENHO-
FEN, 2004, p. 83). Na história
linguística do Brasil, houve mui-
tos momentos de tentativa de
proibição do uso de línguas mino-
ritárias em favor da língua majo-
ritária, o português, vista como
“língua nacional”. O governo do
Estado Novo, de Getúlio Vargas,
“levou ao fechamento de escolas
e à proibição do uso das línguas
dos imigrantes, principalmente a-
lemão e italiano” (KRUG, 2011).
Foi exigido da população o uso
da língua portuguesa. A língua
falada pela população alóctone
ficou restrita aos membros do
grupo. Até hoje faltam no país po-
líticas que valorizem a língua dos
imigrantes.

MAPA 1: Localização da área forma-


dora da ilha linguística vestfaliana, no
Vale do Taquari, Rio Grande do Sul5,
com destaque para Westfália

5
Disponível em http://mapas.fee.tche.br/wp-content/uploads/2009/08/corede_vale_do_taquari_2008_ municipios.png, com
algumas alterações.

115
ção de Mestrado, juntamente com o núcleo cen- remete justamente a essa origem, que Löffler
tral Westfália). (1982, p. 443) explica da seguinte forma:
Segundo LANG (1998), o processo de cria-
ção do núcleo vestfaliano nas proximidades de Im ehemals niederdt. Gebiet ist die
Teutônia iniciou-se em 1858, quando foi criada, einheimische Bezeichnung für Dialekt Platt
eine sehr junge Benennung, die erst im 19.
na margem esquerda do rio Taquari, a Colônia Jh. für die Reste des alten Dialekts mit
Teutônia6 (ver mapa 1). O primeiro grupo de co- zusätzlichem pejorativem Aspekt verwendet
lonos vestfalianos chegou em 14 de agosto de wurde, vorher als plattdeutsch synonym mit
1868 em Porto Alegre. Seguiram-se entre 1868 e niederdeutsch war und sich ursprünglich auf
1878, novas levas de imigrantes das aldeias das platte Land Niederdeutschlands
(Norddeutsche Tiefebene) bezogen hat.10
vestfalianas, principalmente de Gaste, Kappeln,
Ibbenbüren, Osnabrück, Lotte, Tecklenburg,
Wersen, Westerkappeln, Leeden etc. ANÁLISE DO PROJETO E DAS ENTRE-
O processo emancipatório que levou à cria- VISTAS
ção, em 1996, do município com o nome de West-
fália, pode já ser visto como reflexo de uma políti- Conforme Hymes (1980, apud McCARTY,
ca linguística e cultural de um grupo imigrante, 2011, p. 31), a etnografia da fala não é formada
com uma territorialidade e uma identidade pró- apenas por ferramentas metodológicas para a
prias.7 As inscrições presentes nos cemitérios de compreensão de diversas formas de falar, mas é
Westfália é possível identificar sobrenomes de também promotora de mudança social. O etnó-
famílias provenientes da região de Osnabrück e grafo aprende, observa, registra o que os huma-
Tecklenburg, como: Lindemann, Werkhausen, nos fazem todos os dias e, por isso, a etnografia
Wilsmann, Redecker, Teckemeier, Haberkamp, contém em si as sementes de transformação en-
Leuchtenberger, Gärtner, Brune, Spellmeier, tre o conhecimento e o saber, tornando-se uma
Horst, Hasenkamp. forma adequada de investigação para a socieda-
de democrática, uma vez que atenta para uma
O WESTFÄLISCHES PLATTDEUTSCH forma diferente de olhar a linguagem que pode
ser proveitosamente aplicada à política
O westfälisches Plattdeutsch, ou seja, a lín- linguística. São recursos etnográficos utilizados
gua brasileira de imigração vestfaliana falada, neste estudo são: entrevista com o autor do pro-
hoje, em Westfália provém de uma base dialetal jeto, com professores e moradores de Westfália.
oriunda do baixo-alemão trazido ao Brasil, na Em seu projeto, Ahlert destaca como objetivo
segunda metade do séc. XIX, por imigrantes pro- geral, “proporcionar ao corpo docente municipal
venientes dos atuais estados de Nordrhein-West- conhecimentos básicos da cultura vestfaliana, em
falen (região de Westfalen) e de Niedersachsen termos da sua história, costumes, hábitos e ex-
(região de Osnabrück).8 O vestfaliano constitui pressões linguísticas para permitir no futuro a im-
um dos subgrupos formadores do Niederdeutsch plementação de estudos relativos ao tema no cur-
(‘baixo-alemão’).9 A auto-denominação Platt- rículo escolar que permitam resgatar e preservar
dütsk, ou simplesmente Platt (‘plano, achatado’), a cultura trazida pelos imigrantes vestfalianos

6
Ver também Hessel (1998) e Sommer (1984).
7
Fonte: < http://www.ibge.gov.br/cidadesat/link.php?codmun=432377>, acesso em 06/09/2012.
8
Cf. Luersen (2009); Wiesinger (1983b, p. 901).
9
Veja-se mapa em Wiesinger (1983a, p. 830). Características da fala vestfaliana são descritas em Wiesinger (1983a, p.
873-874)
10
Tradução minha: Na antiga área do baixo-alemão, a designação local para dialeto, Platt, ainda é uma designação bastan-
te recente que surgiu apenas no século XIX, para designar restos do antigo dialeto, agregando a eles um sentido pejorativo.
Isso se deu antes de o termo plattdeutsch tornar-se sinônimo de niederdeutsch (baixo-alemão) e se referir originalmente à
parte plana do país (norte da Alemanha).

116
para as futuras gerações”. Para tal, pretende tra- gundo seu autor, o objetivo de fazer com que to-
balhar com professores municipais conteúdos dos os habitantes do município aprendam a se
linguísticos e culturais (história, geografia etc.) comunicar fluentemente em vestfaliano; muito
por meio de atividades teóricas e pela prática da menos é sua intenção buscar ensinar a língua de
fala do vestfaliano. Os professores seriam os imigração, vestfaliano, como disciplina do currí-
gestores iniciais, responsáveis por inserir o culo escolar, em substituição a uma língua estran-
vestfaliano “no cotidiano escolar dos alunos”. geira, como o inglês, o espanhol, ou mesmo o
Para tanto, receberiam um treinamento que os alemão standard. Visto como “dialeto do alemão”
habilitasse a difundir e trabalhar melhor aspec- pela maioria dos membros da comunidade, tal
tos culturais da língua e cultura minoritária. proposta sofreria certamente restrições.
O projeto proposto por L. Ahlert para revitali- O foco central do projeto de Ahlert está na
zação do vestfaliano em Westfália - RS configu- “criação e viabilização de oportunidades e novos
ra, deste modo, um planejamento de status (so- contextos de uso da variedade, a fim de favore-
bre os usos da linguagem) e um planejamento de cer os processos de reaquisição e manutenção
aquisição (sobre os usuários), ambos com foco linguística. Conforme Cooper (1989, p. 33 apud
na função, ou melhor, na abordagem de planeja- CUNHA, 2008, p. 148):
mento de cultivo, sendo que o planejamento de
aquisição também interfere na abordagem do pla- Quando o planejamento é direcionado para
nejamento de políticas linguísticas com foco na aumentar os usos da língua, ele recai na ru-
brica do planejamento de status. Mas quan-
forma, conforme pode ser visualizado no quadro do ele é direcionado para aumentar o núme-
dos objetivos das políticas e do planejamento ro de usuários – falantes, escritores, ouvin-
linguístico de Hornberger (2006, p. 29). tes e leitores – então há uma teoria analítica
O planejamento de status, conforme Horn- separada [a da aquisição] como foco do pla-
berger (op. cit.) trata de esforços voltados para a nejamento linguístico - são casos de revitali-
zação de línguas ou variedades ameaçadas
atribuição de funções às línguas em uma dada de extinção.
comunidade de fala. A abordagem do planejamen-
to de cultivo engloba questões de renascimento, Criar oportunidades de uso significa promo-
manutenção, propagação/ extensão e comunica- ver e incentivar diferentes contextos de uso. Para
ção interlinguística. Como alerta Fishman (1991, se desenvolver a capacidade de ouvir e compre-
apud GONÇALVES 2009, p. 206), “uma língua ender, precisam ser mantidos ou incentivados
em perigo iminente de extinção, quando ela não ambientes na comunidade em que a variedade seja
está mais sendo ensinada às crianças, a morte dos utilizada. Conforme Spolsky (2004, p. 69), deci-
últimos falantes idosos, nesses casos, leva ao de- sões sobre status determinam qual língua ou lín-
saparecimento das línguas que se encontram nes- guas são usadas em funções públicas, no gover-
sas situações”. Esta preocupação é claramente no, na mídia e no sistema educacional; em ou-
percebida entre os entrevistados. Os relatos apon- tros casos, as questões do status da língua são
tam para o fato de que, em famílias em que as determinadas pelas autoridades nacionais, regio-
crianças convivem com os avós, a fala se man- nais, ou a lei local, ou são deixadas com a prática
tém, ainda mais se a mãe for falante. Ao contrá- local. O autor destaca, aqui, a preocupação com
rio, onde o contato entre gerações não existe mais a presença do vestfaliano na mídia:
ou não é muito frequente, a fala vestfaliana aca-
baria, segundo os depoimentos, se perdendo. AUTOR DO PROJETO: [...] Mas tem um
Hornberger aborda, além disso, o planejamen- outro aspecto que me lembrei agora, em to-
to de aquisição (acquisition planning – about das as segundas-feiras de noite, tem um pro-
grama na rádio no dialeto. É a Rádio Líder,
users of language) que trata de esforços para in- em Westfália, rádio comunitária, tem um pro-
fluenciar a alocação de usuários ou a distribui- grama em segundas-feiras à noite com parti-
ção de línguas por meio da criação ou da melhoria cipação de pessoas que vêm lá e conversam,
de oportunidades ou incentivo para aprender. Tal tem gente ligando inclusive tem gente de
propósito constitui o foco central do projeto que outros locais que estão assistindo pela
internet [...] A Rádio Líder então, tem lá, in-
estamos analisando. Este, contudo, não tem, se- clusive os anúncios são feitos em dialeto, é,

117
então essa é uma ideia também de é... que eu language shift toward Spanish, with Spanish-
tenho assim [...] projeto do portal do Quichua bilingualism declining rapidly
vestfaliano. A ideia seria ter um veículo, uma (KING & HABOUD, 2011, p. 141).11
mídia, que dá acesso a mais pessoas e inclu- Essa disparidade de níveis de competência en-
sive um acesso, vamos dizer, onde o jovem tre as comunidades Saraguro também é citada
tá mais ligado. [...]
como característica da comunidade vestfaliana em
Analisando, por sua vez, depoimentos de relação ao português. As professoras entrevista-
professores, observam-se comportamentos e atitu- das observaram, por exemplo, que, quanto mais
des igualmente observados por Nicholas (2011, próximo da sede e mais jovens, menor o número
p. 52), segundo o qual usuários mais velhos de de falantes. Segundo elas, costuma-se usar ex-
Hopi distinguem uma ligação direta entre a com- pressões curtas, palavrões ou, quando questiona-
petência linguística e a identidade cultural, en- dos em vestfaliano, os alunos respondem em por-
quanto que para a geração mais jovem ou de não- tuguês. Nenhuma das entrevistadas diz proibir a
usuários de Hopi, a linguagem é vista como prá- língua minoritária na escola, nem mesmo quan-
tica cultural. “I live Hopi, I just don´t speak it!” do os demais alunos não falantes de vestfaliano
(idem, p. 53). Fato linguístico semelhante tem se incomodam com seu uso pelos colegas. Os fa-
acontecido nas famílias das professoras entrevis- lantes de vestfaliano são percebidos, além disso,
tadas, ou seja, a língua é vista como só mais um como em maior número entre os pais dos alunos.
elemento cultural: os filhos não se comunicam Mas a comunicação em vestfaliano só ocorre
em vestfaliano, crescendo somente com a presen- quando os falantes se conhecem.
ça e o uso do português. As professoras falantes de vestfaliano expres-
Hornberger (2006) defende que o planejamen- saram interesse em conhecer mais da história e
to para uma determinada língua nunca ocorre em aprender a escrever na variedade, além de esta-
um vácuo, em relação a outras línguas, sendo que belecer relações entre a região na Alemanha e aqui
“local languages are seen as a resource, and not a no Brasil. Imaginam que ler em vestfaliano seja
problem” (idem, p. 33). Ou seja, é preciso reco- fácil, pela capacidade que já têm de falar. Mas
nhecer aspectos da língua para saber usá-los em elas não veem utilidade da variedade na discipli-
favor de uma política de planejamento e aquisi- na que trabalham em sala de aula e muito menos
ção linguística. para a vida dos alunos.
Embora a situação exposta no texto de King No estudo de Nicholas (2011) sobre a comu-
& Haboud (2011) não tenha relação com a situa- nidade Hopi, a questão da desvalorização da
ção aqui apresentada, no sentido de estar num variedade também pode ser percebida. Quando
mesmo contexto situacional, ele traz um elemen- se projeta políticas de manutenção, precisa-se di-
to comum à realidade vestfaliana. Os Saraguros ferenciar a questão do orgulho de sua origem ét-
são identificados por algumas características dis- nica daquilo que é preciso, que pode ser utilitário
tintas (a roupa, por exemplo) e também por sua ou simbólico por meio da manutenção. Um pro-
língua de origem, quíchua. No entanto, a maioria jeto de políticas linguísticas deve abranger vári-
dos Saraguros com menos de 50 anos são hoje os aspectos além da língua para ser promissor.
falantes do espanhol, e os com menos de 30 anos Por isso, o projeto de Ahlert abrange, além de
são monolíngues em espanhol. conteúdos linguísticos, também questões cultu-
rais.
While Quichua competency levels vary by Uma única professora, natural de Poço das
community - with those residing in commu- Antas e não falante de vestfaliano, destacou o lado
nities furthest from town speaking relatively positivo do uso e conhecimento do vestfaliano;
more Quichua and less Spanish than those para ela, a manutenção tem relação com preser-
from communities close to town - overall,
Saraguros are engaged in a widespread
vação, com valorização e, indiretamente, orgu-

11
Tradução minha: Embora os níveis de competência em quíchua variem entre as comunidades – a língua quíchua man-
tém-se relativamente mais entre aqueles que residem nas comunidades mais distantes da cidade do que entre as comunida-
des próximas à cidade - em geral, os saraguros estão envolvidos em uma mudança de língua generalizada para o espanhol,
com o bilinguismo espanhol-quichua em declínio rápido.

118
lho. Porém, quando diretamente questionadas tes para uma política de promoção e salvaguarda
sobre formas de o poder público agir para a ma- da língua minoritária:
nutenção da fala do vestfaliano e sobre a interfe- a) Um projeto de planejamento de status e de
rência da escola nesse processo, todas afirmaram aquisição de uma língua minoritária, em uso
que não conseguem imaginar o ensino do em uma determinada ilha linguística, pre-
vestfaliano no ambiente escolar. Esta preocupa- cisa ser bem planejado para não gerar con-
ção também é destacada por Hornberger (2006, flitos e ter o efeito contrário da perda do
p. 33): plurilinguismo, ou mesmo reforçar precon-
ceitos e atitudes discriminatórias.
(...) articles included Wiley (1996), who b) Sua implementação deve vir acompanhada
emphasized the need for critical awareness de atividades de conscientização linguística
that, given the role played by language in
struggles for power and dominance between
e, portanto, de uma interlocução in vivo que
groups, language planning is not merely a tenha por foco “dar ouvidos”. O projeto de
technical undertaking and can often result Ahlert está constantemente sendo subme-
in creating conflicts rather than solving tido a melhorias e reformulações.
them12. c) O mundo e a sociedade estão em constante
mudança; consequentemente, também as
Depoimentos dessa natureza servem para evi-
línguas precisam rediscutir seus espaços de
denciar a necessidade de muita reflexão e esclare-
uso e de representação. Isso exige uma pos-
cimento (com atividades de conscientização lin-
tura mais atenta dos profissionais e estudi-
guística = language awareness) acerca do que está
osos de línguas. Como expôs uma profes-
sendo planejado para o vestfaliano em Westfália.
sora, a educação brasileira como um todo
A meta é manter e gerar condições para a aquisi-
enfrenta problemas de inclusão da diversi-
ção de novos usuários e não desestimular os ain-
dade (do multilinguismo). Os valores e ob-
da existentes. Qualquer aspecto cultural se mos-
jetivos da geração jovem não são mais os
tra mais fácil de manter; mai complexa é a situa-
mesmos de gerações passadas, o que afeta
ção da variedade minoritária. Em relação ao con-
as escolhas das comunidades e se reflete
junto dos aspectos relacionados com a cultura do
nas escolas.
município e ao ambiente em que aprenderam a
d) A relação entre o projeto de Ahlert e a pos-
falar vestfaliano, os depoimentos das professo-
tura de alguns professores perante o mes-
ras reforçam o papel do ambiente familiar como
mo, conforme mostram as entrevistas, acen-
local “por excelência” de aprendizagem da lín-
tua a relevância de construir ações desse
gua minoritária. A tese de aprendizagem por meio
tipo na interação com os diferentes partí-
da interação social, mesmo com ausência da lín-
cipes – falantes, gestores da língua, profes-
gua na família, foi contdo igualmente lembrada.
sores de diferentes disciplinas do currículo
O exemplo mencionado foram afro-descenden-
escolar.
tes que aprenderam a língua no meio social.
e) Iniciativas para a preservação da cultura e,
especialmente, de línguas brasileiras de imi-
gração como o vestfaliano são de extrema
CONSIDERAÇÕES FINAIS
relevância para a educação e o auto-conhe-
cimento.
A análise do projeto proposto por Ahlert, para
Em certo sentido, também este estudo consti-
a revitalização da cultura vestfaliana em West-
tui parte desse processo em torno do debate polí-
fália, contraposta aos depoimentos coletados de
tico-linguístico sobre a língua minoritária. Ele
entrevistas e os pressupostos teóricos considera-
combina, além disso, diferentes vozes e perspec-
dos, permite identificar algumas questões relevan-
tivas, na sua concepção: da autora professora de

12
Tradução minha: (...) Incluídos, Wiley (1996), que enfatizou a necessidade de consciência crítica que, dado o papel
desempenhado pela linguagem em lutas de poder e dominação entre grupos, planejamento de linguagem não é apenas uma
empresa técnica e, muitas vezes, pode resultar na criação de conflitos em vez de resolvê-los.

119
língua alemã no contexto do projeto de Ahlert, ser trabalhado “como atividade extraclasse ou por
pesquisadora dessa língua minoritária, falante intermédio de uma associação cultural para cati-
bilíngue passiva (que entende o vestfaliano mais var membros da comunidade interessados em
do que o fala), membro da comunidade e descen- aprender a se comunicar em vestfaliano”. Estes
dente de imigrantes vestfalianos. A gestão da lín- serão, ao lado dos professores, futuros propaga-
gua de origem e o fomento da língua minoritária dores da ideia e cativadores de novos interessa-
passam por todas essas instâncias. Justifica-se, dos. São metas que não se concretizam da noite
por isso, a posição das professoras entrevistadas, para o dia, mas que exigem antes de tudo colocar
quando afirmam que, no futuro, o vestfaliano deve o plurilinguismo na pauta das “prioridades” tan-
to na escola quanto na sociedade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AHLERT, Lucildo. Cultura westfaliana: percepções sobre KLOSS, Heinz. German-american language maintenance
a sua realidade, importância e expectativas futuras no efforts. In: FISHMAN, Joshua A. (ed.). Language loyalty
município de Westfália. Monografia de Curso de Especia- in the United States. The Hague: Mouton, 1966. p. 206-
lização. Ivoti, 2012. 252
ALTENHOFEN, Cléo V. Política lingüística, mitos e con- KOCH, Walter: Falares alemães no Rio Grande do Sul.
cepções lingüísticas em áreas bilíngües de imigrantes (ale- Porto Alegre, UFRGS, 1974. 90p.
mães) no Sul do Brasil. Revista Internacional de Lingüísti- LANG, Guido. A colonização westfaliana. In. Nós os teuto-
ca Iberoamericana, Frankfurt a.M., v. 3, p. 83-93, 2004. gaúchos. Porto Alegre: UFRGS, 2. ed., 1998, p. 15 – 19.
ALTENHOFEN, Cléo V. Dachsprachenwechsel und LENZ, Alexandra. Zur Struktur der westmitteldeutschen
Varietätenabgrenzung im Kontakt zwischen Hunsrückisch Substandards – Dynamik Von Varietäten. In: EGGERS,
und Portugiesisch in Brasilien. In: [THUN, Harald (org.). Eckhard; CHMIDT, Jürgen Erich; STELLMACHER,
Festschrift zum 60. Geburtstag von Harald Thun.] Kiel: Dieter (Hg.). Moderne Dialekte – Neue Dialektologie.
Westensee-Verlag, [2013]. [No prelo] Akten des 1. Kongresses der Internationalen Gesellschaft
ALTENHOFEN, Cléo V. & MARGOTTI, Felício Wessling. für Dialektologie des Deutschen (IGDD). Stuttgart: Franz
O português de contato e o contato com as línguas de imi- Steiner Verlag, p. 229-252, 2005.
gração no Brasi. In: MELLO, Heliana; ALTENHOFEN, LÖFFLER, Heinrich. Gegenstandskonstitution in der
Cléo V.; RASO, Tommaso (orgs.). Os contatos linguísticos Dialektologie: Sprache und ihre Differenzierungen. In:
no Brasil. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011. p. 289- Dialektologie: e. Handbuch zur dt. u. allg.
315. Dialektforschung/hrsg. von Werner Bersch. Berlin; New
CUNHA, Rodrigo Bastos. Políticas de línguas e educação York: de Guyter. Zweiter Halbband: 1982, p. 441-463.
escolar indígena no Brasil. In: Educar n. 32, Curitiba, LUERSEN, Werkhausen Rosane. A situação de contato
UFPR, 2008, p. 143-159. plurilíngue no sul do Brasil. In. Revista Científica da Fa-
DÍAZ, Norma Esther. Sprachkontakt in Nôvo Berlim (Rio culdade Salesiana Maria Auxiliadora. Visões nº.7 - p. 70-
Grande do Sul). Frankfurt am Main: Peter Lang GmbH, 87, 2009.
2004. McCARTY, T. L. (0rg.). (2011). Ethnography and language
GONÇALVES, Solange Aparecida. Por um planejamento policy. New York: Routledge.
linguístico local. São Paulo: Revista Investigações, vol. 22, NICHOLAS, Sheilah E. “How are you Hopi IF you can´t
n. 2, 2009, p. 205-237. peak it?”: An ethnographic study of language as cultural
HESSEL, Lothar. Município de Imigrante. Registros e practice among contemporary Hopi youth. In: McCARTY,
Memórias. Porto Alegre: Edições EST, 1998. 75p. T. L. (0rg.). Ethnography and language policy. New York:
HORNBERGER, Nancy H. Frameworks and models in Routledge, 2011, p. 53-75.
language policy and planning. In: RICENTO, T. (Org.). RIEHL, Cláudia Maria. Discontinuous language spaces
Language policy: Theory and method. Malden, MA, EUA: (Sprachinseln). In: AUER, Peter & SCHMIDT, Jürgen
Blackwell, 2006, p. 24-41. Erich (eds.). Language and Space – Theories and Methods.
KING, Kendall A. & HABOUD, Marleen. International Berlin/New York: de Gruyter, 2010. p. 332-354. (HSK 30.1)
migration and Quichua language shift in the Ecuadorian SULZBACH, Luciana. Eine empirische Untersuchung
Andes. In: McCARTY, T. L. (0rg.). Ethnography and zweier Varietäten des Brasildeutsch. Tese de doutorado.
language policy. New York: Routledge, 2011, p. 139-159. Hannover, 2004.

120
SPOLSKY, Bernard. Sociolinguistics. 2004. Disponível em WIESINGER, Peter. Die Einteilung der deutschen Dialekte.
<http://books.google.com.br/ books?id=diwosITLKwA- In: BESCH, Werner et al. (Hrsg.) Dialektologie. Ein
C & p g = PA 6 8 & d q = s t a t u s + p l a n n i n g & h l = p t - Handbuch zur deutschen und allgemeinen
B R & s a = X & e i = s s r q U N K 3 J K n F 0 A H j 9 I H g Aw - Dialektforschung. 2. Halbbd. Berlin; New York: de Gruyter,
&ved=0CGkQ6AEwCQ#v=onepage&q&f=false> Acesso 1983a. p. 807-900. (HSK; 1.2.)
em 07/01/2013. WIESINGER, Peter. Deutsche Dialektgebiete außerhalb
SOMMER, Arno. Reminiscências. Da Colônia Teutônia - des deutschen Sprachgebiets: Mittel-, Südost- und
Estrela. Décadas de 20 e 30. São Leopoldo: Rotermund, Osteuropa. In: BESCH, Werner et al. (Hrsg.) Dialektologie.
1984. Ein Handbuch zur deutschen und allgemeinen
VANDRESEN, Paulino. Fonologia do vestfaliano de Rio Dialektforschung. 2. Halbbd. Berlin; New York: de Gruyter,
Fortuna. Porto Alegre: 1970. 1983b. p. 900-929. (HSK; 1.2.)

121
PRODUÇÕES CULTURAIS EM COMUNIDADES SURDAS

Lodenir Becker Karnopp*


Universidade Federal do Rio Grande do Sul

RESUMO gua de sinais têm sido o modo de identificação


de pessoas surdas como membros de uma comu-
O presente artigo tem como objetivo princi- nidade surda (PADDEN & HUMPHRIES, 1988;
pal apresentar um recorte da pesquisa “Produção, LANE, 1976).
circulação e consumo da cultura surda brasilei- No livro “Comunidade: a busca por seguran-
ra” (2010-2012)1, que está filiado ao campo dos ça no mundo atual”, Bauman (2003) remete ao
Estudos Culturais em Educação e aos Estudos sentido de comunidade como um lugar de acon-
Surdos, por conceber a cultura surda como espa- chego e busca. Além disso, afirma que:
ço de contestação e de constituição de identida-
des e diferenças que determinam a vida de indi- É da natureza dos “direitos humanos” que,
víduos e de populações. Serão descritos alguns embora se destinem ao gozo em separado
(significam, afinal, o direito a ter a diferença
percursos investigativos que resultaram em es-
reconhecida e a continuar diferente sem te-
colhas e seleção de materiais para compor as aná- mor e reprimendas ou punição), tenham que
lises das produções culturais em comunidades ser obtidos através de uma luta coletiva, e só
surdas. possam ser garantidos coletivamente. Daí o
zelo pelo traçado das fronteiras e pela cons-
trução de postos de fronteira estritamente
vigiados. Para tornar-se um “direito”, a dife-
PRODUÇÕES CULTURAIS EM rença tem que ser compartilhada por um gru-
COMUNIDADES SURDAS: po ou categoria de indivíduos suficientemen-
POSSIBILIDADES ANALÍTICAS te numeroso e determinado para merecer
consideração: precisa tornar-se um cacife
numa reivindicação coletiva (...). (p. 71)
No Brasil, o Censo Demográfico de 2010
apontou que em torno de 1,1% da população de- Através da análise dos materiais empíricos na
clarou possuir auditivamente “grande dificulda- Libras, reunidos no banco de dados da pesquisa
de” ou “não consegue [ouvir] de modo algum”.2 “produção, circulação e consumo da cultura sur-
No entanto, não há uma correspondência quanti- da brasileira” (KARNOPP, KLEIN E LUNARDI-
tativa direta entre a situação auditiva e o pertenci- LAZZARIN 2012) é possível aproximar as te-
mento a uma comunidade surda ou ao uso de uma máticas que circulam nas produções prioritaria-
língua de sinais, já que há pessoas surdas e/ou mente literárias em Libras e nas temáticas defen-
ouvintes usuárias (ou não) de uma língua de si- didas como direitos humanos na área da educa-
nais. As comunidades surdas, no entanto, em dife- ção de surdos pela Federação Mundial dos Sur-
rentes países, têm sido identificadas como uma dos (WFD). Nesses materiais — nas produções
minoria linguística, usuária de uma língua de si- literárias em Libras quanto nas reivindicações da
nais (BAKER & PADDEN 1978). Em diferentes WFD — as narrativas sinalizam que a comuni-
países, a experiência visual e o uso de uma lín- dade surda é entendida como um grupo cultural

*
Bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), na modalidade Produtividade em
Pesquisa 2
1
Projeto que contou com o auxílio financeiro da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior e do
Ministério da Cultura (CAPES/MinC), em decorrência da demanda do Edital PRÓ-CULTURA Nº 07/2008. As institui-
ções executoras do projeto foram: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Universidade Federal de Pelotas e Univer-
sidade Federal de Santa Maria, sob responsabilidade das professoras Lodenir Becker Karnopp (UFRGS), Madalena Klein
(UFPel) e Márcia Lise Lunardi-Lazzarin (UFSM).
2
Fonte: Comunicação Social 16 de novembro de 2011. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/notici-
as/

123
que usa a língua de sinais. Narrativas produzidas da; (d) entender os aspectos que estão envolvi-
em línguas de sinais posicionam os surdos como dos na produção, circulação e consumo da cultu-
grupo cultural, como o “povo do olho”, ra surda. Para fins de análise, foi elaborado um
linguisticamente identificado com o uso de uma banco de dados das produções culturais surdas
língua de sinais, com produções culturais que encontradas em diferentes espaços e foram defi-
destacam a educação bilíngue, a necessidade de nidas quatro categorias referentes às ações do
intérpretes de línguas de sinais e recursos de aces- projeto. São elas: (a) Produções editoriais; (b)
sibilidade, tendo direito ao acesso às informações Produções com circulação livre na internet; (c)
que circulam em diferentes espaços. Produções dos acadêmicos do curso de gradua-
Tanto a Federação Mundial dos Surdos (WFD) ção em Letras-Libras; (d) Produções informais
quanto a Convenção das Nações Unidas sobre os de associações de surdos, escolas de surdos, en-
Direitos das Pessoas com Deficiência sublinham tre outros. Resultados dessa pesquisa têm apon-
que as pessoas com deficiência têm o direito de tado uma vasta e diversificada produção cultu-
gozar plenamente dos direitos humanos. Tais di- ral, presente em associações de surdos, em esco-
reitos são traduzidos também em formas linguís- las, em pontos de encontro da comunidade sur-
ticas disponibilizadas ao público em línguas de da. Até o presente momento foram catalogadas
sinais, através de poemas, histórias, contos, ane- quatrocentos e sete (407) produções culturais,
dotas e relatos do cotidiano. As produções cultu- nessas quatro categorias investigativas.
rais de comunidades surdas têm buscado, con- Conhecer histórias que circulam em comuni-
forme os materiais empíricos analisados na refe- dades surdas, justifica-se por motivos semelhan-
rida pesquisa, dar visibilidade às histórias em lín- tes ao que a romancista nigeriana Chimamanda
guas de sinais, histórias contadas por surdos, so- Adichie relata sobre aquilo que ela defende como
bre suas experiências pensadas e vividas. “O perigo da história única”.4 Adichie, através
Olhar as produções culturais de comunidades de sua experiência, remete-nos ao campo dos Es-
surdas brasileiras permite-nos acessar, através da tudos Surdos e sobre a norma em particular, com
língua de sinais, os significados culturais e de o perigo de termos uma única história em mente.
identidades surdas, presentes em materiais empí- De diferentes formas, os Estudos Surdos apre-
ricos que circulam nos artefatos culturais. A pes- sentam outra narrativa, desconstruindo uma his-
quisa intitulada “Produção, circulação e consu- tória única sobre o que a “surdez” significa. A
mo da cultura surda brasileira” (2010-2012) vin- narrativa, na perspectiva da medicalização da
cula-se a ações investigativas mais amplas junto surdez, da cura e da normalização da criança, são
ao Grupo Interinstitucional de Pesquisa em Edu- as formas de encontro de muitos pais ouvintes
cação de Surdos – GIPES3 e teve como objetivo com a surdez da criança. Os Estudos Surdos têm
(a) mapear as produções culturais das comunida- feito circular outras histórias, as histórias que têm
des surdas brasileiras; (b) coletar as produções sido contadas e recontadas a partir do momento
culturais nas diferentes regiões brasileiras, com em que os surdos se encontram.
ênfase nos espaços em que há um movimento sur- Essas outras histórias começam a aparecer
do organizado; (c) analisar os processos de sig- cedo, como em Pierre Desloges, que nos conta
nificação envolvidos na produção, circulação e uma história diferente a partir da experiência em
consumo dos artefatos pertencentes à cultura sur- uma comunidade surda parisiense, na década de
3
Fazem parte desse grupo as seguintes instituições do estado do Rio Grande do Sul/Brasil: Universidade do Vale do Rio
dos Sinos/UNISINOS, Universidade Federal do Rio Grande do Sul/UFRGS, Universidade Federal de Pelotas/UFPEL,
Universidade Federal de Santa Maria/UFSM.
4
Adichie vai narrando algumas histórias pessoais sobre aquilo que ela gosta de chamar de “o perigo da história única”.
Leitora precoce, na Nigéria, começou a ler livros endereçados a crianças britânicas e americanas (em inglês). Foi também
uma escritora precoce, e por volta dos sete anos, começou a escrever suas primeiras histórias. Escrevia exatamente o tipo
de história que lia. Todas as personagens eram brancas e de olhos azuis, brincavam na neve, comiam maçã e falavam o
tempo todo sobre o tempo. Adichie nunca tinha estado fora da Nigéria, não conhecia neve, comia mangas e em sua
comunidade nunca falavam do tempo, pois isso não era necessário. O que isso demonstra, segundo a escritora, é o quão
impressionáveis e vulneráveis somos face a uma história, particularmente as crianças. (ADICHIE, C. O perigo da história
única. Disponível em: http://www.ted.com/talks/lang/pt/chimamanda_adichie_the_danger_of_a_single_story.html

124
1770 a 1780, sobre os banquetes de cunho políti- As considerações dos parágrafos anteriores
co e poético, realizados por surdos. Auguste têm a intenção de compartilhar outras histórias
Bebian descreve o que acontece com a mente de que não foram contadas, tendo como subsídio as
um ser humano quando lhe é permitido usar uma lín- contribuições de Lane (1976) e Davis (2010).
gua de sinais e esta começa a ser usada. (LANE, 1976) Assim como não há uma história única para as
Assim como ocorreu com Bebian, Nassozi (2012)5 pessoas (como nos lembra Adichie), também não
nos mostra o que acontece com crianças surdas há uma história única para as comunidades ou
quando lhes é proporcionada a exposição e o uso para as instituições. As instituições mudam ao
de uma língua de Sinais. Nassozi apresenta fotos longo do tempo e as histórias deixam de ser úni-
e relatos sobre o que acontece com surdos, na cas. Elas podem ser transformadas, desconstruí-
Uganda, quando encontram a língua de sinais, das, recontadas. As narrativas nos trazem outras
quando encontram outros surdos! As mãos amar- possibilidades, outras histórias... e isso não é pro-
radas e a face, até então escondida pelas mãos, duzido de forma isolada. Narrativas são compar-
começam a expressar os primeiros sinais, a partir tilhadas com outras pessoas, com comunidades.
do momento em que surdos entram em conexão Ao delimitarmos a pesquisa no espaço das
com seus amigos surdos na escola que começam comunidades surdas, pressupomos que um senti-
a participar! do pleno de comunidade é fictício e frágil, sem-
Mas, em todas essas narrativas, quando ou- pre vulnerável a ameaças externas e fissuras in-
tras histórias nos são contadas, nos movemos de ternas. Para nossa análise das produções cultu-
uma narrativa para outra narrativa, e estamos di- rais em comunidades de surdos, deslocamo-nos
ante de duas histórias. Isso é de algum modo, entre a diferença linguística e cultural, entre fron-
menos perigoso. Mas, há também o encontro com teiras definidas e limites porosos.
múltiplas histórias. É surpreendente assistir a es- Como pesquisadores, ao coletarmos as produ-
sas histórias, evidenciando nelas uma contra-nar- ções culturais em sinais, em diferentes espaços,
rativa — a possibilidade de viver muitas históri- deparamo-nos com muitas narrativas. Nesse pro-
as na experiência surda. No entanto, há ainda his- cesso de busca e seleção de materiais, preocupa-
tórias não contadas, as quais foram/são silencia- nos o fato de que o que aparentemente são “óti-
das, apagadas... Por exemplo, as mulheres não mas histórias” possam, no entanto, servir para
participavam dos banquetes organizados por sur- nutrir nossos enganos coletivos e nossas repre-
dos em Paris, em 1840. A França colonizou gran- sentações do outro. Entramos em cena à procura
de parte da África naquela época. O que a elite de histórias e, às vezes, involuntariamente bus-
francesa, o que os homens surdos pensavam sobre camos “ótimas histórias”, possivelmente cami-
as mulheres colonizadas? Eram consideradas exóti- nhando em direção ao campo das construções do
cas, primitivas? “outro”, nutrindo uma política de representação
Qual o sentido de trazer histórias de séculos que frequentemente contribui para uma caricatu-
passados para o presente texto? De que forma li- ra das mulheres e dos homens surdos.
gamos esses pontos, de que forma criamos uma Na análise das narrativas produzidas em si-
aquarela em que sobrepomos diferentes formas e nais, procuramos olhar como são construídas as
outras possibilidades de contemplação? Essas experiências surdas. O desafio foi analisar quem
conexões nos fazem pensar sobre as possibilida- traduz a quem e através de quais significados po-
des de ser surdo, considerando gênero, raça, etnia, líticos. Não supomos que todos os surdos são su-
deficiência, classe econômica, entre outras. Há jeitos plenos de uma marca cultural, nem que a
tantos pontos possíveis de conexão que nos de- comunidade surda é totalmente harmoniosa, equi-
paramos com uma constelação, com infinitas pos- librada, auto-satisfatória. Um dos perigos, ao
sibilidades de aproximações. olharmos as narrativas produzidas, é utilizarmos

5
Apresentação oral, na Conferência “African Lessons on Language and Citizenship: Local Action and Transnational
Partnerships” realizada na Gallaudet University, durante os dias 19 e 20 de abril de 2012. Palestra intitulada “Conexões
entre língua e identidade em Uganda, apresentada por Nassozi Kiyaga. Apresentação oral, na língua inglesa e na ASL
(American Sign Language).

125
uma ótica folclórica, um modo de fazer uma tra- pesquisa estavam disponíveis em língua portu-
jetória turística, fixando identidades ou realizan- guesa. Assim, quando necessário, ao descrever-
do análises que fazem um espetáculo do exotismo. mos ou utilizarmos esses materiais, realizamos uma
Outro aspecto a ser considerado é o desafio de tradução daquelas produções disponibilizadas em
problematizar o localismo como forma legitima- Libras para a língua portuguesa, respectivamen-
dora de uma autonomia institucional e discursiva te, com o objetivo de dar sequência às análises.
— ou seja, considerar que as narrativas não seri- Reconhecemos que traduzir histórias pode apre-
am “contaminadas” por referências desabonado- sentar diferentes possibilidades. Realizamos a tra-
ras do outro. dução de histórias da Libras para o português,
Ao coletarmos as produções culturais, faze- quando necessário, pautados em uma tradução
mos uma reflexão sobre as narrativas dos surdos cultural. Nesse processo, que envolve diferentes
e optamos em explorar meticulosamente a roti- línguas e diferentes modalidades de línguas, a
na, o cotidiano, as experiências de ser surdo. Uma convergência é improvável e, talvez, indesejável.
vez que escolhemos o material empírico, a pró- Enfim, suscetíveis à contradição, à heterogenei-
xima etapa a demonstrar dificuldade envolveu a dade e à multiplicidade, coletamos materiais que
tradução e a análise dos dados. Quando traduzi- compõem uma colcha de histórias e de sinais que
mos narrativas produzidas em língua de sinais, conversam entre si em tom de disputa, dissonân-
nós — pesquisadores — estamos diante de uma cia, apoio, diálogo, contenda e/ou contradição.
língua de modalidade visuoespacial, rica em ex- As narrativas que encontramos agem como
pressões faciais e corporais, composta por sinais uma metáfora na experiência dessa comunidade,
formados por movimentos, configurações de mão transmite os valores e as normas de conduta, ser-
e locações. Nas narrativas em sinais, procuramos ve como uma ferramenta pedagógica para deter-
também analisar algumas questões de ordem do minados propósitos, incluindo a defesa da língua
discurso, especificamente, quem conta histórias de sinais, o respeito à identidade de pessoas sur-
sobre os surdos, as formas de nomeação utiliza- das, linguística e culturalmente, defesa da edu-
das, o uso de eufemismos, os silenciamentos, as cação bilíngue, intérpretes de línguas de sinais e
ênfases textuais. recursos de acessibilidade. As narrativas produ-
Coletamos as produções culturais em comu- zidas exercem formas de organização e articula-
nidades surdas, disponíveis em línguas de sinais. ção política, bem como estabelecem e mantêm a
No entanto, nem todos os materiais coletados na identidade surda.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAKER, C. and PADDEN, C. American Sign Language: KARNOPP, Lodenir B.; KLEIN, Madalena; LUNARDI-
a look at its history, structure and community. Silver Spring: LAZZARIN, Márcia. Produção, Circulação e Consumo da
T.J. Publishers, Inc., 1978. Cultura Surda Brasileira. Relatório final de pesquisa, CA-
BAUMAN, Zygmunt. Comunidade – a busca por segu- PES/ MINC, Programa Pró-Cultura, Edital n. 07/2008.
rança no mundo atual. Trad. Plinio Dentzien. Rio de Ja- 2012.
neiro: Jorge Zahar, 2003. LANE, Harlan. The wild boy of Aveyron. Cambridge,
BRAGG, Lois (ed.). Deaf World. New York: New York Massachusetts: Harward University Press. 1976.
Press. 2001. MÜLLER, Janete I.; KARNOPP, L. B. Experiências lite-
CANCLINI, Nestor García. Diferentes, desiguais e rárias de surdos. Seminário Brasileiro de Estudos Cultu-
desconectados. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2005. rais e Educação, v. 4, p. 1-12, 2011.

DAVIS, Lennard (ed.). Disability Studies Reader. 3a. PADDEN, Carol, HUMPHRIES, Tom. Deaf in America:
edition. New York: Routledge, 2010. voices from a culture. Cambridge: Harvard University Press,
1988.
HAUALAND, Hilde; ALLEN, Colin. Deaf People and
Human Rights. Finland: World Federation of the Deaf and WRIGLEY, O. The politics of deafness. Washington:
Swedish National Association of the Deaf, 2009. Gallaudet University Press, 1996.

KARNOPP, Lodenir B.; KLEIN, Madalena; LUNARDI- YÚDICE, G. A conveniência da cultura: usos da cultura
LAZZARIN, Márcia Lise. Cultura Surda na na era global. Trad. Marie-Anne Kremer. Belo Horizonte:
Contemporaneidade: negociações, intercorrências e pro- Editora UFMG, 2004.
vocações. Canoas: Editora da ULBRA, 2011.

126
LA PLANIFICACIÓN LINGÜÍSTICO-GRAMATICAL EN
EL PRIMER CICLO DE LA ENSEÑANZA SECUNDARIA
EN LA PROVINCIA DE CÓRDOBA

Martín Tapia Kwiecien


Universidad Nacional de Córdoba

INTRODUCCIÓN el análisis que se han propuesto, se harán


puntualizaciones acerca de las cuestiones lingüís-
En el año 2010, la provincia de Córdoba pro- ticas y gramaticales plasmadas en los documen-
mulgó una nueva ley educativa, Ley N° 9870, tos oficiales (leyes y lineamientos curriculares de
con la consecuente adaptación y modificación de base), inscriptos en un marco legal del sistema
planes de estudio y lineamientos curriculares para educativo formal, ya que es la legislación la que
todos los niveles de la escolarización obligatoria. establece qué habilidades y conocimientos lin-
En el ámbito específico de la lengua, estos nuevos güísticos deben adquirir los estudiantes.
diseños curriculares establecen contenidos que, Para alcanzar los objetivos propuestos, se ha
continuando con una línea de enseñanza instaura- dividido este trabajo en tres apartados: En el
da en los años 90 en España y emulada en Argen- primero, se harán especificaciones acerca de la
tina, cuestionan el lugar que tradicionalmente ha reforma educativa en Córdoba; en el segundo, se
tenido la gramática y postulan la supeditación de mencionarán los aspectos lingüísticos que se
los conocimientos gramaticales a la adquisición hallan presente en la ley N° 9870 y, finalmente,
de la competencia comunicativa (Camps y Zayas, en el tercero se analizarán las planificaciones lin-
2006: 7- 11). güístico-gramaticales en los contenidos curricu-
A partir de este encuadre, la presente comuni- lares destinados al primer ciclo (Ciclo Básico)
cación pretende realizar algunas aproximaciones de la enseñanza secundaria.
a las planificaciones del lenguaje específicas a la
gramática, que hemos denominado lingüístico-
gramaticales, encaradas por la Provincia a través REFORMA EDUCATIVA DEL AÑO 2010:
de la reforma educacional, con la finalidad de ca- FASES Y CARACTERÍSTICAS
racterizar qué teorías gramaticales son reconoci-
bles dentro del marco general para la enseñanza A mediados de la década de los noventa, el
de la lengua, el lugar que se le asigna a la sintaxis, gobierno la provincia de Córdoba inicia un
al estudio de la oración y de los elementos forma- proceso que pretendía implementar un plan cen-
les, y cómo se plantea la relación entre la reflexión trado en la calidad, eficacia, equidad y transfor-
metalingüística y el aprendizaje del uso de la len- mación del sistema educativo1 y que, al mismo
gua. Para ello, se tomarán los aportes de la gloto- tiempo, perseguía la concretización de la Ley
política. Rainer Hamel especifica que “la gloto- General de Educación Nº 8113/1991. Las políti-
política debe incluir las acciones conscientes o cas educativas, enmarcadas en una crisis que
inconscientes de una sociedad frente a la lengua, repercutía en los órdenes político, económico y
el habla y el discurso” (1993:13). Esta perspectiva social (cfr. Miranda et alt. 2004), se trazaron y
permite, entonces, el estudio de las distintas formalizaron desde una perspectiva centralizada
maneras mediante las cuales las prácticas lingüís- y en evidente distancia con respecto a la Ley Fe-
ticas y las acciones sobre las lenguas reflejan las deral de Educación Nº 24.195/1993 en lo que
transformaciones sociales. Desde la legislación refiere al, por ejemplo, quiebre del modelo de edu-
del lenguaje (Bein, 2007), para la descripción y cación primaria de siete años o la autonomía que

1
Este proceso se llevó adelante a partir de 1995 y se conoció como “La transformación de la calidad del sistema educativo
de la Provincia de Córdoba”.

127
otorgaba la provincia a las escuelas para elaborar Agro y Ambiente, Comunicación, Turismo,
sus propios diseños curriculares a partir de los Informática, Lenguas, Educación Física,
Arte- Artes Visuales, Música, Multimedia,
lineamientos generales. Teatro y Danza2.
Por el contrario, en la primera década de este
siglo, el estado cordobés ha avanzado con una La pluralidad de propuestas para la formación
serie de reformas que superan la ley anterior y orientada en la educación secundaria, diez en to-
que concuerdan con los fundamentos y lineamien- tal que se seleccionaron de las orientaciones acor-
tos que se enuncian en la Ley Nacional de dadas en la resolución Nº 84/09 del Consejo Fe-
Educación Nº 26206/2006. Además de la sanción deral de Educación, responde a la concepción de
y promulgación de la Ley Provincial Nº 9870, los espacios curriculares asociados al medio co-
que define la educación como un bien público, munitario, a las nuevas maneras de entender la
un derecho personal y social que debe ser educación, la adolescencia y el aprendizaje y a
garantizado en función de la construcción de una las transformaciones culturales contemporáneas.
sociedad justa, democrática y respetuosa de los Estas características generales forman parte del
derechos humanos y de las libertades fundantes plan del Ministerio de Educación para incremen-
(Art. 2 y 3) (cfr. Ávila Paz, 2010); se planteó, a tar los niveles de cobertura y universalización,
través de la Subsecretaría de Promoción de promover la igualdad y la calidad educativa, es
Igualdad y Calidad Educativa del Ministerio de decir, la formación integral que desarrolle las
Educación, http://www.igualdadycalidadcba.- dimensiones cognitiva, ética, afectiva, social y
gov.ar/SIPEC-CBA/, la actualización del diseño política de todos los alumnos.
curricular, el enriquecimiento de la propuesta de
orientaciones del último trama de la escolaridad
obligatoria, el Ciclo Orientado, y la defensa de la LA LENGUA Y SU ENSEÑANZA EN EL
diversidad lingüístico-cultural y del MARCO DE LA NUEVA LEY DE
plurilingüismo. EDUCACIÓN PROVINCIAL
En líneas generales, la ley provincial promueve:
La lengua es la herramienta elemental y la
materia sobre la que se desenvuelve no solo la
• La universalización y obligatoriedad de la
educación con un régimen de 14 años de
cognición de los individuos, sino que también es
escolaridad (uno más que los fijados por la el medio de transmisión de las ideas, las emocio-
Nación) que abarcan desde la sala de cuatro nes y los deseos. Esto quiere decir que a través
años en los jardines de infantes hasta el úl- de la lengua se desarrolla la vida intelectual, afec-
timo año de la educación secundaria. tiva y volitiva del ser humano (Albano y Giam-
• Jornada extendida o completa, que se ini-
cia en el segundo ciclo de las escuelas pri-
matteo, 2004: 140).
marias (4º, 5º y 6º grado). Por ello, en lo que respecta a la enseñanza de
• La habilitación para el ejercicio pleno de la la lengua, dentro de sus fines, la ley provincial
ciudadanía, para el trabajo y para la conti- establece que se debe “fortalecer la centralidad
nuación de los estudios, como finalidad de de la lectura y escritura como condiciones bási-
la educación secundaria.
• El vínculo de las escuelas secundarias con
cas para la construcción de una ciudadanía res-
el mundo de la producción, del trabajo y ponsable y la libre circulación del conocimiento”
de otros organismos, según la orientación: (Art. 4, inciso ñ). De igual modo, fija objetivos
Economía y Administración Ciencias So- lingüísticos centrados en las capacidades comu-
ciales y Humanidades, Ciencias Naturales, nicativas, pues los alumnos deben “desarrollar

2
En la provincia de Córdoba hay 313 escuelas con orientación en Economía y Administración; 188 ofrecen Ciencias
Sociales y Humanidades; 180, Ciencias Naturales; 107, Agro y Ambiente; 54, Comunicaciones; 46, Turismo; 36 brindan
Informática; 23, Artes Visuales; 14, Lenguas; 10, Educación Física; seis, Música; tres, Artes Audiovisuales y solo una
ofrece Teatro. Datos suministrados por el diario La Voz del Interior, Córdoba, en la nota del unes 2 de abril de 2012,
titulada “Nuevo plan: La secundaria intenta adaptarse”, disponible en http://www.lavoz.com.ar/ciudadanos/nuevo-plan-
secundaria-intenta-adaptarse . Revisada el 01/11/2012

128
competencias lingüísticas comunicacionales, interacción y los textos, que son los medios que
orales y escritas del idioma nacional” (Educación permiten llevarlo a cabo” (Menéndez, 2006: 10).
Secundaria, Apartado Cuarto, Art. 39, inciso d). En esta teoría, son esenciales dos elementos:
Esta pretensión de fortalecer la lectura y la el hablante y el contexto. El hablante es entendi-
escritura no es más que el reconocimiento de que do como un actor social con un marcado rol co-
el dominio del código lingüístico debe estar al municativo que crea significados/textos a través
servicio del objetivo fundamental de toda la de interacciones en las que participa. En la
educación: Formar al alumno para que se creación de estos significados/textos, selecciona
constituya en eficaz lector y productor de textos. aquellas opciones disponibles en el sistema de la
La persecución de este objetivo implica el lengua que le permitan adecuarse a distintas
reconocimiento del valor de la lengua como eje situaciones. Por contexto, se entiende la situación
que atraviesa el resto de las actividades humanas interaccional inmediata en la que el lenguaje se
y como herramienta que posibilita el acceso al inscribe a partir del uso y, de igual modo, las
conocimiento y la constitución de la identidad convenciones socioculturales.
individual y social. Esta concepción del lenguaje, En la “Fundamentación” de la propuesta
como comportamiento del ser humano en con- curricular de la asignatura Lengua y Literatura,
textos socialmente determinados (Halliday, 1978; tal la nueva denominación, se especifica que
Ghio y Fernández, 2005), también sustentará la
propuesta curricular. La apropiación de los saberes disciplinares
(sobre la lengua, sobre la norma, sobre los
textos y los contextos) no constituye pre-re-
quisito para su “puesta en funcionamiento”
ASPECTOS LINGÜÍSTICO- en prácticas de lenguaje concretas, sino que
GRAMATICALES EN EL DISEÑO la construcción se va generando a partir de
CURRICULAR PARA LA EDUCACIÓN la reflexión sobre lo que se dice, se escucha,
SECUNDARIA se lee y se escribe y sobre cómo se lo hace. (1)

El lenguaje es entendido como un instrumen-


En la “Presentación” del diseño curricular para
to de comunicación que se conforma a partir del
la educación secundaria, a partir de los objetivos
uso contextualizado que hace el hablante. Las fi-
que plantea la ley, queda establecido que:
nalidades son siempre de orden sociocultural: los
la mera instrucción lingüística […] no
significados/textos se crean, se codifican formal-
alcanza para satisfacer el propósito de favo- mente, en función de las necesidades interaccio-
recer la constitución plena de sujetos nales y varían de acuerdo con el tipo de situación,
hablantes. Las prácticas sociales y culturales dentro de una comunidad determinada.
de/con lenguaje sólo se aprenden mediante Así se hace evidente en este fragmento que
la participación en continuas y diversas
situaciones de oralidad, lectura y escritura,
también se desprende de la “Fundamentación” de
contextualizadas y con sentido personal y la asignatura:
social para los estudiantes (1)
Un trabajo sistemático en vistas al desarrollo
La lengua, según M. A. K. Halliday, es “el ca- de capacidades que permitan a los estudiantes
nal principal por el que se transmiten los modos interactuar oralmente, leer con diferentes
propósitos, enriquecer sus procesos de
de vida, por el que [el alumno] aprende a actuar interpretación, escribir respondiendo a dis-
como miembro de una “sociedad” (…) y a adoptar tintas intencionalidades personales y
su “cultura”, sus modos de pensar y de actuar, sociales. La construcción de estrategias de
sus creencias y sus valores” (1978: 18). Desde reflexión sobre los procesos de interpretación
esta perspectiva funcional, el hablante de la y producción como aportes al logro y
consolidación de los estudiantes como
lengua puede crear significados que intercambiará lectores y escritores autónomos. La
por medio de textos. Asimismo, es la lengua la concepción acerca de los aprendizajes des-
que posibilita la creación de “las representaciones de la cual éstos han sido seleccionados y
que conforman una cultura, sus condiciones de enunciados, corresponde a su consideración
como saberes a aprender y enseñar, que

129
involucran contenidos -conceptos, ideas, va- El aprendizaje y la reflexión sobre las formas
lores, normas, actitudes, habilidades, destre- lingüísticas deben plantearse a partir de las rela-
zas, procedimientos- de los cuales los
estudiantes necesitan y deben apropiarse. (2)
ciones que establecen dentro de los textos inter-
pretables (coherentes y adecuados) y de estos con
La lengua es, conforme a lo planteado, un sis- las situaciones de comunicación.
tema de opciones que representa la potencialidad La gramática puede definirse, igualmente,
de los significados que un hablante tiene por como el estudio de las combinaciones que se
pertenecer a una comunidad determinada. Las establecen entre las unidades significativas y su
reflexiones sobre el sistema que se plantean deben integración en paradigmas. Estas combinaciones
ser los instrumentos para alcanzar el objetivo fun- y relaciones de un elemento con otros del sintag-
damental de formar eficaces lectores y produc- ma y de la oración son analizadas por la sintaxis.
tores de textos, objetivo establecido en la ley y La gramática se puede concebir de dos maneras
en el diseño curricular. diferentes: a) como el conocimiento que el
Héctor Manni sostiene, desde una perspectiva hablante tiene de su lengua y b) como descripción
cognitiva, que “leer y escribir implican un proceso de una lengua, de sus reglas y principios. De cual-
de resolución de problemas” (2004: 39) porque quier modo, la descripción tiene que dar cuenta
exigen el desarrollo e implementación de estrate- del conocimiento que el hablante posee (Di Tullio,
gias para buscar respuestas a estos procesos con 2000: 12-13).
los recursos disponibles o para que puedan prove- Un estudio gramatical reducido al estudio de
erse de esos recursos. Esto, además, implica una las formas, las funciones o al análisis mecánico
actividad metacognitiva, una atención explícita de oraciones de vertiente estructuralista no es
a los rasgos lingüísticos, por parte de los alumnos. compatible con el estudio funcional, de base
En esta actividad metacognitiva es fundamental semántica y pragmática, que se pretende alcanzar
la gramática. con el encuadre de los nuevos contenidos
La gramática es el conjunto de oposiciones curriculares. La diferencia fundamental es que la
realizadas por los hablantes en la producción y oración puede pensarse sin un contexto. El texto,
comprensión de textos. Exige una teoría de la gra- no. Sin contexto no puede dar cuenta del signifi-
mática que es la representación virtual de esas cado en los términos interaccionales ya
oposiciones disponibles en el sistema (Menéndez, planteados.
2005: 14). En consecuencia, la gramática debe Para que el alumno pueda apropiarse, reflexi-
ser la gramática del texto, de los discursos, por- vamente, de los saberes que implican las funcio-
que los textos son las unidades gramaticales que nes sociales de comprensión y producción de tex-
permiten que los hablantes pongan en funciona- tos, se sugieren los siguientes contenidos:
miento la lengua (Halliday, 1985; Menéndez, 2005).
En el apartado “Reflexión sobre la lengua” y • Los constituyentes oracionales: sus funci-
ones en términos de informatividad.
en concordancia con lo planteado, se cita como • Las construcciones sustantivas, adjetivas,
contenidos y propuesta metodológica para adverbiales y verbales y sus posibles
trabajar las distintas unidades y relaciones combinatorias para la construcción de
gramaticales y textuales en los textos narrativos: oraciones.
• Las variaciones de sentido que producen
• Relación entre persona gramatical y tipos las reformulaciones (cambio del orden de
de narrador los elementos, sustitución de palabras o
• Los tiempos verbales propios del relato y expresiones, eliminación, expansión).
sus correlaciones: pretérito perfecto simple • Reglas morfosintácticas de orden,
(hechos principales) y pretérito imperfecto concordancia y selección.
(acciones secundarias o coadyuvantes), pre- • El sujeto expreso y el desinencial, y su uso
sente y pretérito imperfecto (presentación para lograr la cohesión del texto o como
del marco espacio temporal y descripción recurso de estilo.
de personas u objetos). • Verbos: formas conjugadas y no
• Conectores temporales y causales. (14) conjugadas; algunas formas de verbos re-
gulares e irregulares en las que suele
cometerse errores.

130
• Correlaciones verbales en las construccio- clarativos, sino que enmarcan los diferentes
nes condicionales. modos de leer, de acercarse a la escritura, de
• Las relaciones semánticas entre las hablar e interactuar con otros. En este senti-
palabras: sinonimia, antonimia, do, el eje del proceso de enseñar y aprender
hiperonimia, hiponimia para la ampliación en este espacio curricular lo constituyen las
del vocabulario, para inferir el significado situaciones que permiten a los estudiantes
de las palabras desconocidas; como ampliar su acción social y comunicativa y
procedimiento de cohesión y como recur- enriquecer su comprensión del mundo, de los
so de estilo. textos y del lenguaje. Conceptualizado des-
• Las clases de palabras: sustantivos, adjeti- de esta perspectiva el objeto disciplinar,
vos, verbos, preposiciones, adverbios, ar- corresponde establecer algunas orientaciones
tículos y pronombres (personales, que contribuyan con los procesos de
posesivos, demostrativos, enfáticos). enseñanza (16 y 17).
•Disposición de saberes sobre funciones
sintácticas básicas y tipos de oraciones
(simple y compuesta) para la optimización CONCLUSIONES
de los procesos de revisión y corrección de
textos (15)
El análisis aquí propuesto de la Ley Nº 9870,
La gramática, dentro de la teoría sistémico- ley de educación de la provincia de Córdoba, y
funcional, debe atender a tres aspectos fundamen- de los contenidos curriculares nos permite apre-
tales: ciar que la lengua es entendida, a lo largo de toda
a) debe ser cognitivamente fundamentada. Las la escolarización, como un sistema de oposiciones
estructuras de la lengua y de los textos deben ser- que representan el potencial de significados que
vir para el desarrollo de habilidades cognitivas. un hablante posee para comunicarse y que es, a
En el listado de temas, se advierte esto en la ejerci- la vez, un símbolo de identidad. La lengua es,
tación de las reformulaciones textuales. por ende, la institución social en la cual se hace
b) debe promover aprendizajes significativos más evidente la difusión cultural de una
y reflexivos sobre las particularidades de la len- población.
gua. Esto se reconoce en la perspectiva semántica La enseñanza de la lengua no necesariamente
incorporada a la gramática (informatividad de los debe coincidir con la enseñanza de la gramática
constituyentes y las relaciones semánticas entre y la gramática no debe identificarse únicamente
palabras y en función de los textos). Este tipo de con el análisis sintáctico, sino que deben ser un
abordaje aumenta el grado de comprensión lectora medio para que el alumno hable y escriba correc-
y de producción. tamente, que comprenda adecuadamente los tex-
c) debe der cuenta de los usos comunicativos. tos que circulan socialmente, que pueda reconocer
Este aspecto, según el listado de contenidos, se y corregir sus errores y que maneje un vocabulario
hace evidente en el enfoque de la sintaxis a partir variado.
de la textualización. La gramática se concibe, desde la propuesta
Esta nueva perspectiva, en síntesis, implica que curricular analizada, como un ejercicio de refle-
los aprendizajes lingüístico-gramaticales xión sobre el sistema de la lengua, sobre lo que
el alumno sabe acerca de la lengua, sobre lo que
no se reducen al dominio de los aspectos sis- puede llegar a hacer con esos conocimientos para
temáticos de la lengua, al conocimiento y decir lo que piensa e interpretar las ideas de los
descripción de los textos, sus características otros.
y tipologías, ni a un cúmulo de saberes so- Queda por comprobar, en futuras investigacio-
bre la literatura sino que tales apropiaciones
se integran, contextualizan y resignifican en
nes, si la industria editorial y los docentes han
función de las particularidades de las prác- implementado esta perspectiva gramatical o si
ticas sociales de oralidad (habla y escucha), esta orientación textualista, comunicativa y
de lectura y de escritura, así como de las semántica no logra la integración con la gramáti-
actitudes y valores inherentes a ellas. Dichas ca y el estructuralismo restringido a la oración
prácticas no son objeto de aprendizajes de-
sigue presente en las aulas y en los textos con los
cuales se enseña lengua.

131
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALBANO, Hilda y Giammatteo, Mabel. “Según pasan los Ley Nacional de Educación. Ley Nº 26206/ 2006.
años. Análisis y reflexión sobre la enseñanza de Lengua en Ley General de Educación de la Provincia de Córdoba.
el país en el último siglo”. (págs. 133-147). RASAL- Revis- Ley Nº 8113/ 1991.
ta de la Sociedad Argentina de Lingüística. Mayo 2004.
Ley Provincial de Educación. Ley Nº 9870/2010.
ÁVILA PAZ, M. C. (2010). “Reflexión sobre el proyecto
de Ley Provincial de Educación elaborado por el Consejo MANNI, Héctor (2005). “¿Por qué enseñar gramática?”.
de Políticas Educativas”. Diálogos pedagógicos. Año VIII, Manni, Héctor y Gerbaudo, ANALÍA. Lengua, ¿instrumen-
Nº 16, Octubre. Córdoba: Edit. de la UCCOR. to o conocimiento? Santa Fe: Universidad Nacional del
Litoral.
BEHARES, L. (2007). “Algunas reflexiones sobre las po-
líticas educativas referidas al dominio lingüístico”. AA. VV. MENÉNDEZ, Salvio Martín (2006). ¿Qué es una gramá-
Actas del III Encuentro Internacional de Investigadores tica textual? Bs. As.: Littera Ediciones.
de Políticas Lingüísticas. Córdoba: Editorial El copista. Ministerio de Educación de la Pcia. de Córdoba (2010a).
(41-46). Ley de Educación Provincial. Documento para la Consulta.
______ (2012). Notas del curso “Políticas lingüísticas, ______ (2010b). Educación secundaria. Encuadre gene-
diversidad y enseñanza”. Universidad Nacional de Rosa- ral 2011-2015.
rio. Centro de Estudios Interdisciplinarios. ______ (2010c). Diseño Curricular de Educación Secun-
BEIN, R. (2007). “Leyes de educación, lenguas y proyecto daria 2011-2015.
político”. AA. VV. Actas del III Encuentro Internacional ______ (2010d). Educación secundaria. Encuadre gene-
de Investigadores de Políticas Lingüísticas. Córdoba: Edi- ral 2011-2015.
torial El copista. (199- 206)
MIRANDA, E.; Senén González, S. de y Lamfri, N. (2004).
CAMPS, Anna y Zayas, Felipe (coords.) (2006). Secuencias
Políticas de reforma del sistema educativo en los noventa.
didácticas para aprender gramática. Barcelona: Graó.
Córdoba: Editorial Brujas.
Consejo Federal de Educación (Ministerio de Educación
PROLO, S., Sranko, Ma. J. y Tapia Kwiecien, M. (2011).
de la Nación). Resoluciones Nº 84/09.
“Argentina y las prácticas lingüísticas de los último veinte
GHIO, Elsa y Fernández, Ma. Delia (2005). Manual de años (1990-2010): el rol de la diversidad lingüística, la
Lingüística Sistémico Funcional. El enfoque de M. A. K. interculturalidad y el prulingüismo en la educación”. Luis
Halliday y R. Hasan. Aplicaciones a la lengua española. E. Behares (comp.) Actas del V Encuentro Internacional
Santa Fe: Universidad Nacional del Litoral. de Investigadores de Políticas Lingüísticas. Uruguay:
Halliday, M. A. K. (1978) El lenguaje como semiótica so- Universidad de La República- Tradinco S. A. (117-122).
cial. México: FCE. TAPIA KWIECIEN, M. (2012). “¿Qué lengua se enseña
______ (1985) An introduction to functional grammar. en la provincia de Córdoba? Aproximaciones a las políti-
London: E. Arnold. cas lingüísticas derivadas de la Ley de Educación del año
2010”. AA.VV. Actas I Congreso de la Delegación Argen-
HAMEL, R, (1993) “Políticas y planificación del lenguaje: tina de la Asociación de Lingüística y Filología de Améri-
una introducción”. Políticas del Lenguaje en América La- ca Latina (ALFAL) y V Jornadas Internacionales de
tina. Rev. Iztapalapa. Año 13, Número 29, Enero-Junio. Investigación en Filología Hispánica. UNLP. (En prensa).
(191-208).

132
PROCESSOS DE REGISTRO E POLÍTICAS DE
PATRIMONIALIZAÇÃO DE LÍNGUA DE SINAIS

Tatiana Bolivar Lebedeff


Fabiano Souto Rosa
Universidade Federal de Pelotas

LÍNGUAS DE SINAIS COMO creto 7.387 considera as Línguas como Patri-


PATRIMÔNIO IMATERIAL mônio Imaterial, incentivando o registro e a sal-
vaguarda de todas as Línguas usadas em territó-
A proposta deste texto é a de discutir a neces- rio nacional.
sidade de registro e consequente patrimonializa- A compreensão da Língua enquanto Patrimô-
ção das Línguas de Sinais usadas no Brasil. Ou nio Imaterial busca preservar a memória dos po-
seja, compreender as Línguas de Sinais como Pa- vos. Estudar a memória evidencia a necessidade
trimônio Imaterial. de compreender fenômenos da história, sejam es-
O Patrimônio imaterial foi definido pela UNESCO ses fenômenos sociais ou coletivos. Grupos so-
na Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio cialmente estigmatizados (Goffman, 2001), perce-
Imaterial, realizada em Paris em 2003, como: bidos como “diferentes”, são, muitas vezes, si-
lenciados e alijados da “História Oficial”. De
práticas, representações, expressões, conhe- acordo com Wanderley (2009) estudar a memó-
cimentos e técnicas - junto com os instru- ria desses grupos possibilita:
mentos, objetos, artefatos e lugares culturais
que lhes são associados — que as comuni-
dades, os grupos e, em alguns casos. os indi- ...conhecer os atores e os processos que in-
víduos reconhecem como parte integrante de tervêm na produção da memória individual
seu patrimônio cultural. e coletiva. Principalmente esta última, privi-
legiada com a ampliação dos estudos sobre
as memórias subterrâneas, aquelas referen-
A mesma convenção delimita o Patrimônio tes aos grupos marginais, aos excluídos e às
material como uma manifestação nos seguintes minorias. A atenção volta-se para o estudo
campos: a) tradições e expressões orais, incluin- da memória enquanto prática de representa-
do o idioma como veículo do patrimônio cultu- ção social e, portanto, para o estudo das for-
ral imaterial; b) expressões artísticas; c) práticas mas de resgate de memórias coletivas du-
rante tanto tempo subtraídas do espaço pú-
sociais, rituais e atos festivos; d) conhecimentos blico pela memória oficial.
e práticas relacionados à natureza e ao universo
e e) técnicas artesanais tradicionais. Para Félix (2002) estudar a memória refere-se
No Brasil, o Decreto Nº 7.387, de 9 de de- à uma nova concepção epstemológica e metodo-
zembro de 2010 Institui o Inventário Nacional lógica de compreensão do mundo cotidiano, que
da Diversidade Linguística, sendo que no Art. 1o emerge da necessidade de indivíduos e grupos
Fica instituído o Inventário Nacional da Diver- sociais de entender os significados, tanto de ob-
sidade Linguística (INDL), sob gestão do Minis- jetos materiais como de objetos imateriais. A au-
tério da Cultura, como instrumento de identifica- tora discute, ainda, que na velocidade do próprio
ção, documentação, reconhecimento e valoriza- cotidiano o homem percebe a perda de suas refe-
ção das línguas portadoras de referência à identi- rências mais imediatas e começa a questionar sua
dade, à ação e à memória dos diferentes grupos inserção social.
formadores da sociedade brasileira. Os surdos compõem uma minoria linguística
A Lei Brasileira apresenta um avanço com re- com diferentes representações, discursos e regis-
lação à Convenção da UNESCO. Enquanto a tros “oficiais” que relatam muito mais uma histó-
Convenção considera a Língua como um vetor, ria de medicalização, de normalização, de alija-
um veículo do Patrimônio Imaterial (os saberes, mento comunicativo do que de presença de lín-
os cantos, as tradições orais entre outros), o De- gua e cultura.

133
Analisar a memória de grupos estigmatizados, escrita ou as matemáticas, e que permitem a
considerados como diferentes, permite analisar ação humana sobre a natureza e sobre os
outros homens.”
as representações, explícitas ou não, que levaram
ao alijamento desses grupos pelo grupo social ma- Registrar e patrimonializar as Línguas de Si-
joritário e, possibilita compreender as memórias nais dos surdos brasileiros possibilitará novas
e identidades que se forjam na situação de exclu- compreensões acerca do desenvolvimento lin-
são. Nesse sentido, Félix (1998, p. 45) ressalta que: guístico e cultural deste povo minoritário bem
como possibilitará a preservação da memória
Estudar memória, entretanto, é falar não ape-
nas de vida e de perpetuação da vida através
linguística do povo surdo.
da historia; é falar, também, de seu reverso,
do esquecimento, dos silêncios, dos não-di-
tos, e, ainda, de uma forma intermediaria, CRIANÇAS SURDAS DE JACARÉ DOS
que é a permanência de memórias subterrâ- HOMENS: UMA POSSIBILIDADE DE
neas entre o esquecimento e a memória social.
REGISTRO
Para muitos autores a Língua de Sinais é
determinante na construção da identidade surda, Para discutir o processo de registro e patrimo-
sendo a luta pelo seu reconhecimento um dos tó- nialização das Línguas de Sinais no Brasil cabe
picos mais abordados na hitória da surdez. Mui- realizar uma pequena retrospectiva de sua histó-
tas memórias linguísticas de infância mostram o ria. Diniz (2011) relata que registros históricos
sentimento de isolamento do surdo no mundo até indicam a existência de uma Língua de Sinais
poder encontrar com a comunidade surda, com a autóctone, que entrou em contato com a Língua
Língua de sinais e, consequentemente, com to- de Sinais Francesa a partir de 1855, com a vinda
das as possibilidades de compreensão de mundo de um professor Surdo Francês, Eduard Huet, para
que uma língua permite (Lebedeff, 2006). fundar o que é hoje o Instituto Nacional de Edu-
É importante saber que, em projetos subsidia- cação de Surdos - INES, localizado no Rio de
dos pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Ar- Janeiro, capital do Império, na época.
tístico Nacional (IPHAN), a metodologia do Entretanto, assim como em muitos países, a
INDL já começou a ser testada em comunidades Libras esteve proibida nas escolas a partir do
surdas de João Pessoa e Recife e (IPHAN, 2010). Congresso de Milão, ocorrido em 1880. Feliz-
Além disso um grupo de pesquisadores da Uni- mente, esta proibição não significou a sentença
versidade Federal de Santa Catarina está desen- de morte da Libras, pois Diniz (2011) explica que
volvendo, em parceria com o IPHAN, um traba- os alunos do INES comunicavam-se em Libras
lho de pesquisa de Corpus de Libras. às escondidas e, como eram oriundos de muitos
A importância de compreensão da língua de lugares diferentes, ao voltarem para suas casas
sinais como patrimônio imaterial e seu registro nas férias levavam a Libras para quase todos os
justifica-se, também, pelo fato de que a apreen- Estados Brasileiros.
são dos bens culturais imateriais como expres- Após muitos anos de “reclusão” social força-
sões dos povos conjuga memórias e sentidos de da, as Línguas de Sinais e, no Brasil a Libras,
pertencimento de indivíduos e grupos, fortalecen- adquire um novo status na Educação e vida dos
do os vínculos identitários (Pelegrini e Funari, Surdos. O fracasso do oralismo e uma série de
2008). acontecimentos que ocorreram na década de 60,
Nesse sentido, Oliveira (2009) argumenta que: principalmente nos Estados Unidos (Maher,
1996), fizeram iniciar uma mudança de percep-
Línguas são artefatos históricos, construídos ção da surdez. A partir da década das 60 se incor-
coletivamente ao longo de centenas ou mi- poram ao campo da surdez novos conhecimentos
lhares de anos. É através das línguas que as provenientes de outras disciplinas, fundamental-
sociedades humanas, definidas como comu- mente da linguística, psicolinguística, e da
nidades lingüísticas produzem a maior parte
do conhecimento de que dispõem e é atra-
sociolingustica, rompendo com o predomínio da
vés da língua que são construídos os siste- concepção médica da surdez (Sanchez, 1990).
mas simbólicos de segunda ordem, como a Skliar (1997) cita dois aspectos que chamaram a

134
atenção de outras áreas para a questão da surdez: ção da Libras e o acelerado desenvolvimento das
(1) a observação de que os surdos formavam co- tecnologias de informação e comunicação per-
munidades tendo como fator aglutinante a língua mitiram o acesso e a captura da Língua através
de sinais; (2) a confirmação de que crianças sur- de diferentes artefatos. Youtube, vimeo, skype,
das filhas de pais surdos tinham melhor desem- viavel, entre outros, são apenas alguns exemplos
penho acadêmico em comparação com crianças de tecnologias que propiciam interlocução
surdas de pais ouvintes. linguística e registro de eventos de língua em uso,
De acordo com Sanchéz (1990) os estudos ini- amplamente utilizados por usuários surdos e pes-
ciados na época comprovaram claramente a com- quisadores da Área da Libras.
plexidade do processo de aquisição da linguagem, Entretanto, cabe salientar que no interior rural
com o que se viu a impossibilidade de ensinar a Libras não chegou com o impacto como ocor-
mecanicamente a língua oral por sucessivas re- reu nos grandes centros urbanos: Cursos de Li-
petições de estímulos e resposta. As línguas hu- bras, Formação de professores de Surdos, For-
manas foram estudadas em suas características mação de Instrutores/Professores surdos, entre
comuns, universais, e se concluiu que não havia outros. Em muitas cidades do interior, até hoje,
língua rica e língua pobre, língua primitiva e lín- encontram-se surdos alijados de Língua de Si-
gua civilizada. Demonstrou-se que as Línguas de nais, ou por serem o único surdo de sua cidade,
Sinais utilizadas pelos surdos têm uma estrutura ou pelo fato de não haver pessoas que conheçam
semelhante à das línguas naturais faladas, e que Libras, ou pelo desconhecimento do que seja sur-
cumprem com as mesmas funções, sendo indubi- dez e de sua condição de minoria linguística, ou,
tavelmente as que melhor satisfazem às necessi- ainda, pela distância dos centros de informação,
dades de seus usuários. Para o autor, o surdo foi entre outros motivos.
percebido não como doente ou deficiente, mas Nesses casos, destacam Quadros e Cruz (2011),
como membro de uma comunidade linguística as crianças surdas criam um sistema gestual para
minoritária cuja formação e existência é inevitá- se comunicarem com seus pais. Esse sistema é
vel e obrigatória, dadas as peculiaridades da co- chamado de “sinais caseiros”. As autoras citam
municação de seus integrantes. estudos que indicam que esses sistemas possibi-
No Brasil, esses estudos tardaram um pouco a litam a comunicação entre a criança e as pessoas
chegar, tendo como marco, de acordo com Diniz que convivem com ela, entretanto, são limitados,
(2011) a década de 1990, período em que ocorre- pois atendem apenas as necessidades primárias
ram vários movimentos da comunidade surda das crianças e a tópicos do dia-a-dia relaciona-
brasileira, reivindicando seu direito linguístico. dos com a realidade da criança.
De acordo com Thoma e Klein (2010: 110): Apresenta-se, como exemplo, as memórias de
duas crianças que cresceram nessas condições,
Os anos 90 do século XX podem ser lem- de alijamento da comunidade e da cultura surda
brados como o tempo da mobilização e do e, consequentemente, da Língua de Sinais Brasi-
fortalecimento dos movimentos surdos no
Brasil. Os surdos gaúchos, em parceria com
leira. As duas crianças nasceram no interior rural
pesquisadores da área da Educação de Sur- do Estado de Alagoas (em 1966 a irmã e, em 1978,
dos, mobilizaram-se e engajaram-se nas lu- o irmão), na cidade de Jacaré dos Homens, que
tas que, naquele momento, privilegiavam a no censo de 2010 possuía apenas 5.413 habitan-
necessidade de reconhecimento da língua de tes. As crianças desenvolveram entre si e para seus
sinais como primeira língua dos surdos. Vá-
rias mobilizações, como passeatas, atos pú-
familiares e amigos um sistema de sinais casei-
blicos em parlamentos e nas ruas, articula- ros muito rico, utilizado por toda a família e pela
das por associações e escolas de surdos mar- comunidade a qual pertenciam. Os irmãos ouvin-
cavam os calendários das escolas e entida- tes e os pais utilizam até hoje este sistema, sendo
des representativas de surdos, familiares e necessária a tradução do sistema de sinais casei-
educadores.
ro para a Libras quando aparece alguma visita
Esses movimentos culminaram com a oficia- surda que o desconhece.
lização da Libras, através da Lei 10.436/02 e, pos- O registro deste sistema de sinais caseiros está
teriormente, com o Decreto 5.626/05. A oficializa- sendo realizado através de três formas: a) regis-

135
tro pela fotografia – uma fotografia para cada ini- ender. Posteriormente, com o nascimento do ir-
cio de enunciação do sinal (sinais compostos uti- mão, em 1978, o sistema ampliou-se, pois havia
lizarão mais de uma fotografia). b) Filmagem do um interlocutor que auxiliava na codificação.
sinal pela frente e laterais do enunciador, propi- Há muitos estudos sobre os sistemas de si-
ciando um pseudo-efeito de 3D e c) registro em nais caseiros. Emmorey (2008) expõe sobre o sis-
sign writing. O sign writing, de acordo com Stumpf tema de sinais caseiros ou home sign de crianças
(2000) é um sistema de representação gráfica das da Nicarágua, investigadas por um grupo de pes-
línguas de sinais que permite através de símbo- quisadores americanos. Neste sistema de sinais a
los visuais representar as configurações das mãos, autora relata que havia muitas limitações linguís-
seus movimentos, as expressões faciais e os des- ticas, por exemplo, noções como cores, tempo ou
locamentos corporais. emoções não foram codificadas. O que surpreen-
Quando a primeira criança surda da família de no sistema de sinais caseiros das crianças de
nasceu, em 1966, uma menina, na cidade de Ja- Jacaré dos Homens é a variedade de sinais de-
caré dos Homens não havia muitas informações senvolvidos. Está sendo elaborada uma lista, pe-
sobre a eduçacão dos surdos. Além disso, o que los irmãos, na qual constam, até agora, mais de
prevalecia, na época, nos grandes centros urba- 60 sinais, com as mais variadas funções. Foi de-
nos, era a metodologia oralista, que compreen- senvolvida, por eles, inclusive, uma codificação
dia os surdos como “deficientes da fala” “defici- para cada dia da semana.
entes da audição” “deficientes da comunicação” A seguir serão apresentados, como exemplos,
entre outros adjetivos. alguns dos sinais convencionados pelas crianças
Os familiares, amigos e vizinhos eram todos de Jacaré dos Homens em duas vias, fotografia e
ouvintes e não havia interlocutores em Libras. A sign writing.
menina, então, começou a desenvolver um siste-
ma de sinais caseiros para poder se fazer compre- A) Sinal de “Empregada Doméstica”.

136
B) Sinal de “brincar”:

Os registros sobre os sinais caseiros permitem linguísticas num mundo oralizado que não com-
novos estudos e compreensões acerca dos aspec- preende a surdez; de como constroem uma iden-
tos linguísticos e pragmáticos das Línguas de Si- tidade surda, viso-gestual, às vezes sem mesmo
nais. O registro do sistema de sinais caseiros das saber da existência de outros sujeitos surdos e da
crianças de Jacaré dos Homens permitirá compre- Libras.
ender a emergência de sinais em crianças surdas Acredita-se os registros de Libras são de ex-
alijadas da comunidade surda usuária de Língua trema importância, portanto, tanto para a preser-
de Sinais, já que existem poucos estudos a res- vação da memória linguística e cultural das co-
peito (EMMOREY, 2008). munidades surdas brasileiras como, também, para
pesquisas na área dos estudos surdos e da Linguística.
Candeau (2011) comenta que a memória re-
CONSIDERAÇÕES FINAIS cusa-se a calar, para o autor ela é imperativa, oni-
presente, abusiva, invasora, e seu império deve-
Entende-se que são necessários registros lin- se à inquietude dos indivíduos e dos grupos em
guísticos para a Patrimonialização das Línguas busca de si mesmos. As memórias linguísticas das
de Sinais e os registros das histórias, da memória crianças de Jacaré dos Homens são uma pequena
da cultura surda, a fim de compreender como os contribuição para auxiliar a compreender o de-
surdos empenham, historicamente, criatividade senvolvimento linguístico e cultural dos sur-
e cognição para dar conta de suas necessidades dos no Brasil.

137
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Decreto nº 5.626/05 - Regulamenta a Lei 10.436 LEBEDEFF, T.B. (2006) O que lembram os surdos de sua
que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS. escola: discussão das marcas criadas pelo processo de
Retirado em Junho 18, 2012 de http://www.planalto.gov.br/ escolarização. In: Thoma, A.S. e Lopes, M.C. (Orgs.) A
ccivil_03/_ato2004-2006/2005/decreto/d5626.htm invenção da Surdez II: espaços e tempos de aprendizagem
BRASIL. Decreto Nº 7.387 - Institui o Inventário Nacio- na educação de surdos. Santa Cruz: Edunisc.
nal da Diversidade Linguística. Retirado em Junho 17, 2012 OLIVEIRA, G.M. (2009) Línguas como Patrimônio
de http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/ Imaterial. Retirado em Junho 22, de 2012 de: http://
2010/Decreto/D7387.htm www.ipol.org.br/ler.php?cod=281
CANDEAU, J. (2011) Memória e identidade. São Paulo: PELEGRINI, S.C.A. e FUNARI, P.P. (2008) O que é
Contexto. patrimônio Histórico Imaterial. São Paulo: Brasiliense.
DINIZ, H.G. A história da Língua de Sinais dos surdos QUADROS, R.M. e CRUZ, C.R. ( 2011) Língua de Si-
brasileiros: um estudo descritivo de mudanças fonológicas nais: instrumentos de avaliação. Porto Alegre: ArtMed.
e lexicais da Libras. Petrópolis: Arara Azul, 2011. STUMPF, Marianne Rossi. Língua de Sinais: escrita dos
EMMOREY, K. (2008) Language, Cognition, and the surdos na Internet. In: V Congresso Ibero-Americano de
Brain: Insights From Sign Language Research. Mahwah: Informática na Educação – RIBIE – Viñadelmar, Chile,
Lawrence Erlbaum. 2000. Retirado em junho, 22 de 2012, de: http://
FÉLIX, Loiva Otero. História e memória: a problemática lsm.dei.uc.pt/ribie/docfiles/txt200372912213L%C3%AD-
da pesquisa. Passo Fundo: UPF Editora, 1998. ngua%20de%20sinais.pdf

FÉLIX, L. Política, memória e esquecimento. In: THOMA, A.S.T. e KLEIN, M. Experiências educacionais,
TEDESCO, J.C. (Org.) Usos de memórias: política, edu- movimentos e lutas surdas como condições de possibilida-
cação e identidade. Passo Fundo: UPF Editora, 2002. de para uma educação de surdos no Brasil. Cadernos de
Educação. Pelotas: UFPEL; [36]: 107 - 131, maio/agosto,
GOFFMAN, Erving. Estigma: notas sobre a manipulação 2010
da identidade deteriorada. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2001. UNESCO (2003) Convenção para a Salvaguarda do
Patrimônio Imaterial. Retirado em Junho 20, 2012 de:
IPHAN (2010) Os sambas,(as rodas, os bumbas, os meus http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001325/
e os bois. Brasília: Ministério da Cultura. 132540por.pdf

138
A ELABORAÇÃO DE UM MANUAL COMO SUBSÍDIO PARA A
FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE LÍNGUAS ADICIONAIS A DISTÂNCIA

Fernanda Cardoso de Lemos


Margarete Schlatter
Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Neste artigo buscamos tratar de dois temas aprendizagem (AVA). Geraldini (2003) aborda a
principais: ensino de línguas adicionais1 online e prática de uma professora no contexto de um cur-
formação de professores para tal modalidade de so de leitura instrumental de inglês via internet,
ensino. Esses dois temas serão discutidos a partir descrevendo suas ações e o processo reflexivo
do trabalho de Lemos (2011), que, com base na sobre elas. Uma de suas conclusões aponta para
experiência da autora como professora de portu- a importância da instrumentalização do profes-
guês como língua adicional iniciante na modali- sor com relação aos aspectos técnicos requeridos
dade a distância, elaborou um manual destinado pela educação a distância (EAD) e pelo AVA, pois
a professores que atuarão nesse mesmo contexto constata que a reflexão da participante sobre suas
de ensino. Nosso foco recai sobre a formação de práticas de ensino está relacionada a sua desen-
professores nas práticas pedagógicas cotidianas voltura no uso das ferramentas digitais.
no Curso de Espanhol-Português para Intercâm- Tendo como ponto de partida a prática docen-
bio (CEPI)2, que tem como objetivo preparar o te no CEPI (Edições 2011-1 e 2011-2) de uma
estudante do Programa ESCALA Estudantil3 para das autoras deste artigo, apresentamos o proces-
a experiência de intercâmbio e antecipar sua par- so de construção de uma ferramenta voltada para
ticipação linguística, cultural e acadêmica na uni- auxiliar a prática de professores iniciantes na
versidade e no país de destino, criando um con- modalidade a distância. O Manual do Professor
texto a distância para o uso da língua e para com- CEPI reúne orientações quanto a aspectos técni-
partilhar com colegas a resolução de tarefas dire- cos e administrativos do ambiente virtual e refle-
tamente relacionadas ao intercâmbio que está xões sobre práticas pedagógicas nessa modalida-
prestes a realizar (SCHLATTER et al, 2009). de de ensino. Sistematiza conhecimentos práti-
Uma das questões relacionadas à modalidade cos necessários ao professor, descreve suas atri-
a distancia que impacta diretamente nas práticas buições e tece reflexões importantes para forma-
pedagógicas do professor é sua capacitação téc- ção do professor iniciante em EAD.
nica e seu conhecimento do ambiente virtual de

1
O termo línguas adicionais é utilizado aqui para enfatizar o acréscimo a outras línguas que o educando já tenha em seu
repertório, não sendo relevante, portanto, distinguir se é segunda língua ou língua estrangeira. (ver Schlatter e Garcez,
2009, p. 127-128)
2
O Curso de Espanhol-Português para Intercâmbio (CEPI) é resultado de uma iniciativa de cooperação entre três univer-
sidades participantes da AUGM (Universidade Nacional de Entre Ríos, Universidade Nacional de Córdoba e Universida-
de Federal do Rio Grande do Sul), com o objetivo de qualificar o intercâmbio acadêmico no Programa de Mobilidade
ESCALA Estudantil. O curso foi construído no período de 2007-2009 para ser ministrado totalmente a distância na plata-
forma MOODLE. Participaram da criação e do design do CEPI: Margarita Hraste (coordenadora geral do projeto/UNER),
Margarete Schlatter (coordenação CEPI-Português/UFRGS), Víctor Hugo Sajoza Juric e Viviana Sapia (coordenação
CEPI-Espanhol/UNC), Gabriela da Silva Bulla (coordenação de materiais didáticos CEPI-Português/UFRGS), Hebe
Gargiulo (coordenação de materiais didáticos CEPI-Espanhol/UNC), María Laura Rodríguez (secretária do projeto/UNER).
Formaram parte da equipe de técnicos de informática, web design e EAD: Guadalupe Moreira (UNER), Izadora Netz
Sieczkowski (UFRGS), Mario Pizzi (UNC), Jerônimo Visñovezky (UNC), Maximiliano Franco (UNER), Paola Roldán
(UNER). Sobre o histórico do projeto, ver Schlatter et al., 2007.
3
O Programa ESCALA Estudantil (PEE) promove a mobilidade de estudantes de Graduação entre as instituições que
compõem a Associação de Universidades do Grupo Montevidéu (AUGM). O estudante pode cursar um semestre na
universidade de destino, com o reconhecimento acadêmico, pela instituição de origem, das disciplinas cursadas. Outras
informações sobre o PEE podem ser acessadas em: http://www.grupomontevideo.edu.uy/escala/index.php/pt/.

139
O CEPI é norteado pela concepção teórica de de de prática colaborativa — são legitimados por
uso da linguagem como prática socialmente cons- todos a concordar, discordar, pedir ajudar, criti-
truída, pela qual agimos no mundo em (inter)a- car, em suma, a (inter)agir nas diferentes ativida-
ções com os outros (CLARK, 2000). A interação des tornadas relevantes por eles para levar adian-
social é entendida como uma ação construída lo- te suas ações conjuntas. Para ser plenamente atu-
calmente pelos participantes pela interação e pelo ante nessa comunidade, espera-se que o profes-
uso da língua (REDDY, 2000). Desde essa pers- sor CEPI se envolva com atividades como:
pectiva, para a elaboração dos materiais didáti-
cos do CEPI e para organizar as sequências didá- • leer y discutir sobre diferentes cuestiones
relacionadas con la enseñanza,
ticas, adota-se como unidade a concepção bakh- • usar materiales didácticos para reflexionar
tiniana (BAKHTIN, 2003) de gêneros discursivos sobre ellos y sobre las acciones pedagógi-
— tipos relativamente estáveis de textos que se cas que demandan,
podem reconhecer com base na experiência com • evaluar y reformular materiales para ade-
diferentes textos orais e escritos. As cinco unida- cuarlos a los diferentes contextos,
• decidir sobre las herramientas/tecnología
des do curso (intituladas Nos conhecendo, Che- adecuadas en cada caso, y
gando na Universidade, Planejando os Estudos, • reflexionar sobre las formas de participa-
Vida na Universidade, Atividades Acadêmicas) ción e implicaciones de diferentes acciones
foram criadas a partir de temáticas ligadas ao de los participantes para la creación de
contexto de intercâmbio e apresentam textos re- comunidades colaborativas de aprendizaje
(SCHLATTER et al, 2009 p. 2).
levantes aos campos de atuação que o estudante
vai ingressar, no intuito de ampliar o repertório
Partindo dos pressupostos apresentados aci-
do aluno em gêneros discursivos usados em situ-
ma, o Manual do Professor CEPI foi elaborado
ações sociais relativas a essas temáticas. (BULLA
buscando oferecer uma oportunidade de reflexão
et al, 2009; GARGIULO et al, 2009)
para futuros professores, para que possam — de
Outro conceito chave para o CEPI é o de apren-
antemão — conhecer as práticas já realizadas, pre-
dizagem, entendida como um fenômeno social
parando-se para atuar no ambiente de ensino a
realizado nas interações com os outros (VYGOS-
distância, informados sobre os objetivos e as pers-
TKY, 1998; ABELEDO, 2008). Depreende-se
pectivas teóricas que subjazem à proposta de en-
disso que tanto as tarefas quanto o professor de-
sino, compartilhando, assim, pontos de partida
vem incentivar os participantes a interagir em bus-
para as discussões que acontecerão no percurso
ca de soluções para a construção de novos conhe-
de sua prática.
cimentos. Ao realizarem tarefas com propósitos
Bonotto (2007) relaciona o movimento de tor-
sociais de participação acadêmica e na vida da
nar-se crítico do professor em formação aos mo-
cidade de destino, os participantes são incentiva-
mentos em que ele questiona e reavalia práticas
dos a interagir com colegas do CEPI e colegas e
pedagógicas já consolidadas e cristalizadas em
professores da universidade de destino em situa-
busca de novas formas de atuação para melhor
ções que propiciam a construção e o compartilha-
atender às necessidades de seus alunos e se ajus-
mento de novos conhecimentos sobre a língua e
tar a novos contextos e a novas demandas. Nesse
sobre o intercâmbio.
sentido, observa-se que a reflexão de um profes-
Para que essas trocas, interações e construção
sor — na prática — é acionada por uma situação
de conhecimento se realizem, o CEPI tem como
problemática, uma dúvida, uma discordância de-
objetivo a criação de uma comunidade colabora-
corrente das práticas realizadas com os alunos.
tiva de aprendizagem a distância (BULLA, 2007).
Logo, são fundamentais nesse processo as opor-
De acordo com Bulla (2007), espera-se que um
tunidades de reflexão para que o professor possa
grupo de alunos e professores com diferentes re-
expressar e articular suas dúvidas e o seu fazer
lações sociais, mas com práticas de uso de lin-
pedagógico. O estudo de Lemos (2011) configu-
guagem comuns, construa um contexto de apren-
ra-se, portanto, como uma articulação teórico-
dizagem em que todos participem nas tomadas
prática das reflexões que a autora fez com cole-
de decisões e no desenvolvimento das produções
gas professores de outros CEPI e com a equipe
do grupo: os participantes — em uma comunida-

140
de apoio pedagógico do CEPI-UFRGS durante b) Reuniões Pedagógicas: na edição piloto
duas edições do curso (2011-1 e 2011-2), com (2011-1) houve duas reuniões interinstitucionais
vistas a reunir um conjunto de orientações para entre as equipes CEPI, nas quais os participantes
futuros professores deste e de possíveis outros das três universidades se reuniram em videocon-
contextos de ensino com base em pressupostos ferência via Skype para discutir o andamento de
semelhantes. cada curso e refletir sobre aspectos relevantes às
Para compor o manual, foram sistematizados práticas locais. Durante essas reuniões, surgiam
os tópicos relevantes às práticas dos professores temas diversos desde pequenas dúvidas, como
participantes: as dúvidas e dificuldades expres- onde clicar para terminar uma tarefa, até ques-
sas pelos professores dos CEPI-UFRGS, CEPI- tões mais amplas e recorrentes no andamento do
UNC e CEPI-UNER nos momentos de reflexão curso, como formas de motivar o engajamento
oportunizados pelo projeto, o diário mantido por dos alunos. Para um desses encontros, foi prepa-
Lemos durante a segunda edição do curso e a lis- rada uma pauta em um wiki no MOODLE 7
ta de atribuições do professor levantada pela equi- intitulada “problemas enfrentados que gostaría-
pe CEPI-UFRGS. A seguir, explicitamos como mos de discutir” para a reflexão em grupo. O que
foram utilizadas cada uma dessas fontes e como se evidenciou como mais problemático para os
foi feita a seleção dos tópicos e sua sistematiza- professores foram questões relacionadas à parti-
ção para a composição do manual. cipação dos alunos, à administração do andamen-
a) Fórum “Sala dos Professores”: fórum to do curso e ao cumprimento de cronograma.
interinstitucional no qual todos os participantes Esses temas foram então selecionados para in-
das equipes CEPI4 (professores, professores as- clusão no Manual do Professor.
sistentes, coordenadores e equipe de apoio peda- c) Apoio pedagógico: quando o professor ti-
gógico) podem expor dúvidas, pedir ajuda e aju- nha dúvidas ou sentia necessidade de refletir so-
dar aos colegas, abrindo novos tópicos de dis- bre alguma prática, ele podia recorrer à equipe
cussão ou respondendo aos já abertos. Na primei- de apoio pedagógico para discutir e resolver si-
ra edição, as três universidades (UFRGS, UNER tuações-problema. Nas duas edições do CEPI,
e UNC) ofereceram o CEPI concomitantemente, além do coordenador pedagógico, houve a parti-
e o fórum movimentou muitas discussões5. Com cipação de colaboradores voluntários para dar
base na leitura dessas discussões, foram selecio- apoio pedagógico ao professor quando surgisse
nados os temas tornados relevantes6 pelos parti- algum questionamento ou problema a ser resol-
cipantes por meio de perguntas, opiniões, suges- vido. Os professores, muitas vezes, precisam de
tões e comentários. São eles: correção e avalia- auxílio para discutir suas ações em momentos que
ção, boletim de desempenho, cronogramas, papeis não os de reunião ou em situações nas quais não
do professor e tutor e utilização de ferramentas. podem esperar por respostas em uma discussão
via fórum. Justamente nessas situações, a troca

4
Participantes das edições 2011-2 e 2012-1: Equipe CEPI-UFRGS: Fernanda Lemos, Bruno Coelho Rodrigues, Renata
Bonotto. Equipe CEPI-UNC: Susana Becker, Cecilia Peralta Frías, Noelia Bolognino, Andrea Gambini e Hebe Gargiulo.
Equipe CEPI-UNER: María Cecília Doti, María Bernarda Rosa, Claudia Elena Dacharri. Coordenação geral: Hebe Gargiulo,
Gabriela Bulla e Margarete Schlatter.
5
Na segunda edição, foi oferecido apenas o CEPI-UFRGS, e essa ferramenta não foi utilizada.
6
Os tópicos selecionados como relevantes foram aqueles que fomentaram discussão entre vários participantes. Tópicos
como “Dedicação horária” e “Relatórios de atividade” tiveram baixa adesão dos participantes e, portanto, não constam no
manual.
7
Lista completa dos tópicos elencados pelos professores nessa pauta: “a) alunos que não estão fazendo tarefas individuais
e só participam de atividades coletivas; b) alunos que só fazem tarefas individuais e não participam de atividades coleti-
vas; c) alunos que começaram a fazer o CEPI e sumiram; d) alunos que não têm regularidade de entrada no MOODLE
CEPI e/ou parecem estar perdidos; e) alunos que não participam de alguma(s) atividade(s) síncrona(s) - encontros via
Chat ou Skype; f) discussão do cronograma, o que cortar para conseguirmos terminar o curso antes de os alunos viaja-
rem”.

141
com a equipe de apoio se tornou valiosa tanto apoio pedagógico. Com base nessas reflexões, os
para formação dos professores quanto para a to- seguintes tópicos foram elencados para figurar
mada de decisões sobre as aulas. Os tópicos rela- no Manual do Professor: o conhecimento das fer-
cionados a esse momento de reflexão foram ramentas do AVA; a conversa inicial com os alu-
elencados em diário e são apresentados a seguir. nos; a administração do andamento do curso; a
d) Manutenção de diário: Liberali (1999) elaboração de cronogramas; a adaptação de ma-
dedica sua tese de doutorado à discussão do uso teriais para cada turma; as mensagens organiza-
do diário como ferramenta para a reflexão do pro- cionais; a mediação de tarefas síncronas; a parti-
fessor e ressalta que esse instrumento pode criar cipação dos alunos; a relação professor e profes-
as condições e ser o palco para o desenvolvimen- sor assistente; a avaliação de tarefas e o boletim
to de um tipo de reflexão que, além de capturar a de desempenho.
prática, crie a base para a crítica consciente des- No quadro a seguir, sintetizamos os tópicos
sa ação. A introdução do uso do diário na vida que se destacaram como relevantes de acordo com
docente representa, pois, uma tentativa de, atra- as oportunidades de reflexão descritas acima.
vés de uma mudança discursiva, levar a uma mu- Pode-se observar que, mesmo em oportunidades
dança na prática reflexiva, e vice-versa. Por isso, de reflexão diferenciadas, os tópicos se repetem.
na segunda edição, a professora do curso mante- Por exemplo, o tópico relacionado a cronograma
ve relatos sobre cada dia de trabalho, com ênfase é tornado relevante nos três momentos de refle-
em situações que julgava precisar de ajuda, em xão. Essa recorrência evidencia que estes são as-
como havia solucionado a situação e o que havia suntos importantes para as práticas do professor
sido discutido sobre tal tópico com a equipe de CEPI e que, por isso, devem constar no Manual
do Professor.

Quadro 1 – Levantamento de tópicos para o Manual do Professor CEPI


x Correção e avaliação
x Boletim de desempenho
Fórum Sala dos
x Cronogramas
Professores
x Papeis do professor e tutor
x Utilização de ferramentas
x Participação dos alunos
Reuniões Pedagógicas x Andamento do curso
x Cumprimento de cronograma
x Conhecimento das ferramentas do AVA
x Conversa inicial com os alunos
x Administração do andamento do curso
x Elaboração de cronogramas
x Adaptação de materiais para cada turma
Apoio pedagógico e
x Mensagens organizacionais
Diário do Professor
x Mediação de tarefas síncronas
x Participação dos alunos
x Relação professor e professor assistente
x Avaliação de tarefas
x Boletim de desempenho

(LEMOS, 2011, p. 20)

e) As atribuições do professor: durante a se- sendo identificadas como práticas problemáticas


gunda edição do CEPI, paralelamente à constru- ou foco de reflexão, são questões que precisam
ção do diário, Lemos (2011) elaborou uma lista ser descritas devido a sua importância para o an-
com todas as atribuições que foi assumindo ao damento das atividades do curso. O quadro a se-
longo do curso. Essa lista também foi essencial guir apresenta essas atribuições, agrupado-as em
para a elaboração do manual, já que, mesmo não temas afins.

142
Quadro 2 – Atribuições do professor
x Envio de convite ao aluno
Contato inicial com
x Ajuda para o primeiro login
alunos
x Conversa inicial
x (Re)elaboração (adaptação) de materiais didáticos
x Elaboração de cronogramas
x Postagens no fórum de notícias sobre organização do curso
x Mensagens para alunos sobre tarefas e atividades
Organização do
x Acompanhamento de realização de tarefas
curso
x Conseguir contatos de alunos da UFRGS para e-mails
x Conseguir contatos de ex-intercambistas para café cepiano
x Conseguir contatos dos orientadores com a Relinter
x Acompanhamento da participação dos alunos
x Feedback e revisão das produções dos alunos
Avaliação x Acompanhamento de fóruns
x Elaboração dos boletins

x Ajuda online
Atividades síncronas x Mediação de chats
x Mediação de videoconferências
x Participação da sala dos professores
x Reuniões pedagógicas com equipes de outros CEPI
Reflexão
x Reuniões pedagógicas equipe CEPI-UFRGS
x Participação em artigos

(LEMOS, 2011, p. 21)

O Manual do Professor CEPI, construído a fim Conhecendo a plataforma MOODLE –


de auxiliar o professor a resolver dificuldades que apresenta a plataforma MOODLE e as suas
podem surgir no seu dia a dia de forma prática e páginas iniciais.
efetiva, tem enfoque muito mais em práticas que As ferramentas do AVA – descreve as ferra-
em formação teórica. No entanto, isso não signi- mentas utilizadas no curso tanto pela forma
fica que o conhecimento teórico não esteja subja- como o aluno as visualiza, quanto pela forma
cente às orientações dadas, nem que não seja im- como o professor as vê.
portante que o professor busque aprofundar conhe- Como iniciar a comunidade CEPI-UFRGS
cimentos sobre as perspectivas teóricas do CEPI – descreve as atribuições do professor com re-
e sobre a formação de professores para a modali- lação à formação do grupo.
dade de ensino a distância; ao contrário, essas Como organizar o curso – descreve as atri-
são atribuições imprescindíveis para o que se es- buições do professor com relação ao gerencia-
pera do professor CEPI. Dessa forma, espera-se mento do curso, bem como sugere práticas que
que o uso do manual seja aliado a leituras, à re- deram certo com relação aos aspectos organi-
flexão e à discussão sobre os conceitos teóricos zacionais do CEPI.
basilares do projeto. Avaliação – descreve as ferramentas avaliati-
Ao centrar-se na leitura do manual, o profes- vas utilizadas pelo CEPI-UFRGS e orienta o
sor irá encontrar, nas temáticas organizadas em professor a utilizá-las exemplificando algumas
oito seções (abaixo), as questões identificadas práticas exitosas realizadas nas edições ante-
como situações problemáticas pelos participan- riores.
tes das edições estudadas e também à descrição Atividades síncronas – orienta o professor
de práticas necessárias para o bom andamento do sobre a mediação e a participação nas ativida-
curso. As seções que compõem o manual são: des síncronas.

143
Reflexão e formação do professor – explica dalidade a distância, sistematizando o conheci-
quais as ferramentas de reflexão oportunizadas mento construídos na prática.
ao Professor CEPI e seus modos de participa- Para chegar ao este produto final, o caminho
ção. percorrido foi o de estruturação dos tópicos mais
Leituras recomendadas – recomenda leitu- importantes para as práticas do professor, por
ras para o aprimoramento do professor tanto meio da participação no fórum Sala dos Profes-
em suas práticas pedagógicas quanto na sua sores, das Reuniões Pedagógicas do grupo CEPI
formação teórica. (ambos ocorridos na primeira edição do CEPI) e
da análise do diário do professor, realizado na
Considerando que entre as preocupações da segunda edição. Durante a segunda edição, tam-
Linguística Aplicada está responder aos desafios bém foi estruturada uma lista de atribuições do
da educação no ensino de línguas, entendemos professor CEPI com o mesmo propósito de elen-
como fundamentais os estudos focados nas prá- car tópicos para compor o manual, associando,
ticas do professor, visto que, quando um profes- então, os tópicos que foram tornados relevantes
sor começa a atuar, por mais amplos que sejam em momentos de reflexão e os que fazem parte
seus conhecimentos teóricos, a teoria começa a da prática cotidiana do professor. Após a defini-
fazer sentido quando dialoga com a prática, ou ção dos tópicos, buscamos embasamento teórico
seja, quando é possível fazer uma ponte entre o tanto nos pressupostos do CEPI quanto em ou-
repertório de conhecimentos prévios e as situa- tras pesquisas já publicadas na área de EAD, a
ções reais da sala de aula (BONOTTO, 2010). É fim de construir parâmetros e sugestões relevan-
verdade que, na prática e, portanto, nas interações tes e consistentes para as práticas de futuros pro-
de sala de aula (no caso do CEPI, no ambiente fessores.
virtual de aprendizagem), o professor constrói co- Cabe salientar que o resultado do trabalho de
nhecimentos e elabora saberes a partir do enfren- Lemos (2011) só pôde ser alcançado por que está
tamento das situações construídas pelos partici- inserido em um projeto no qual a prática de
pantes no aqui e agora da sala de aula. No entan- docência está fortemente ligada a ações de refle-
to, muitas vezes, não há oportunidades ou mes- xão e de desenvolvimento crítico de seus agen-
mo tempo para uma sistematização dessa apren- tes. Acreditamos que a principal conclusão do tra-
dizagem e desses conhecimentos construídos pela balho é a verificação que um professor, se lhe
prática docente. Foi com esse objetivo que o es- forem oportunizados momentos de reflexão, é
tudo de Lemos (2011) foi desenvolvido: a partir capaz de ter excelente formação para a prática
da prática dos professores, foram reunidos os local. Ou seja, as ações de reflexão, concomitantes
pontos identificados como problemáticos e as à prática pedagógica, beneficiam a formação do
reflexões relevantes à formação a fim de elabo- professor e, muito além disso, o tornam capaz de
rar um manual para auxiliar os professores CEPI auxiliar na formação de novos professores.
iniciantes em ensino de línguas adicionais na mo-

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABELEDO, M. de la O. Uma compreensão etnometodoló- BONOTTO, R. C. S. Internet na sala da aula de língua


gica da aprendizagem de língua estrangeira na fala-em- estrangeira: formação de professores a distância. Porto
interação de sala de aula. Porto Alegre, Tese de Doutora- Alegre, Dissertação de Mestrado em Letras, Instituto de
do em Letras, Instituto de Letras, Universidade Federal do Letras, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2007.
Rio Grande do Sul, 2008. BULLA, G. S.; GARGIULO, H.; SCHLATTER, M. Organi-
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo, zación general de materiales didácticos para la enseñanza
Martins Fontes, 2003. online de las lenguas: el caso del Curso de Español-
BONOTTO, R. C. S. As inter-relações de Educação a Dis- Portugués para el Intercambio (CEPI). In: II Jornadas
tância, Tecnologias de Informação e Comunicação e For- Internacionales de Tecnologías Aplicadas a la Enseñanza
mação de Professores de Línguas. Monografia (Curso de de Lenguas. Actas Digitales. Córdoba: PlasmaMedia. v.
Pós-Graduação Lato Sensu em Educação a Distância). CD. p. 01-12, 2009.
Universidade Católica de Brasília, 2010.

144
BULLA, G. S. A realização de atividades pedagógicas PRIMO, A. Interação mediada por computador: comuni-
colaborativas em sala de aula de português como língua cação, cibercultura congnição. Porto Alegre, Ed. Sulina,
estrangeira. Porto Alegre, Dissertação de Mestrado em 2007.
Letras, Instituto de Letras, Universidade Federal do Rio REDDY, M. J. A metáfora do conduto: um caso de conflito
Grande do Sul, 2007. de enquadramento na nossa linguagem sobre a linguagem.
BUZATO, M. E. K. O letramento eletrônico e o uso do Cadernos de Tradução do Instituto de Letras/UFRGS, 9,
computador no ensino de língua estrangeira: contribui- 2000. p. 5-47.
ções para a formação de professores. Tese de Doutorado. SCHLATTER, M.; BULLA, G. S.; GARGIULO, H.;
Campinas: Universidade Federal de Campinas, 2001. JURIC, V. H. S. La formación del profesor CEPI para
CLARK, H. O uso da linguagem. Cadernos de Tradução interactuar en una comunidad colaborativa de aprendizaje
do Instituto de Letras/UFRGS, Porto Alegre, n. 9, p. 49- a distancia. In: II Jornadas Internacionales de Tecnologías
71, 2000. Aplicadas a la Enseñanza de Lenguas. Actas Digitales.
GARGIULO, H.; BULLA, G. S.; SCHLATTER, M. CEPI: Córdoba: PlasmaMedia. v. CD. p. 01-18, 2009.
Tareas, herramientas y el enfoque accional en el aprendizaje SCHLATTER, M.; BULLA, G.; JURIC, V. S.; HRASTE,
en línea. In: II Jornadas Internacionales de Tecnologías M.; RODRÍGUES, M. L. A Certificação Espanhol/Portu-
Aplicadas a la Enseñanza de Lenguas. Actas Digitales. guês para Intercâmbio (CEPI) como uma ação de política
Córdoba: PlasmaMedia. v. CD. p. 01-12, 2009. linguística no âmbito do Mercosul. In: Anais III Encuentro
GERALDINI, A. F. S. Docência no ambiente digital: ações Internacional de Investigadores de Políticas Linguísticas.
e reflexão. Tese de Doutorado. São Paulo: Pontifícia Uni- Núcleo Educación para la Integración AUGM, Córdoba,
versidade Católica de São Paulo, 2003. 2007.

LEMOS, F. C. O ensino de línguas adicionais na modali- SCHLATTER, M. e GARCEZ, P. M. Línguas adicionais


dade a distância: a elaboração do Manual do Professor na escola: aprendizagens colaborativas em Inglês. Porto
CEPI. Trabalho de Conclusão de Curso, Graduação em Le- Alegre: Edelbra, 2012.
tras. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do VYGOSTKY, L.S. A Formação Social da Mente. São Pau-
Sul, 2011. lo: Martins Fontes, 1998.
LIBERALI, F. C. O diário como ferramenta para a refle-
xão crítica. Tese de Doutorado. São Paulo: Pontifícia Uni-
versidade Católica de São Paulo, 1999.

145
ORGANIZAÇÕES DE FALA-EM-INTERAÇÃO SOCIAL
ESCOLAR E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES

Marcela de Freitas Ribeiro Lopes


Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Universidade Estadual do Centro-Oeste

Este artigo tem como objetivo refletir sobre a ral, é identificado pelos autores como o profes-
importância de descrever organizações de fala- sor, isto é, na estrutura da sala de aula tradicio-
em-interação social escolar com vistas a trazer nal, primordialmente é o professor o iniciador e
subsídios para a formação de professores de lín- o avaliador, aquele que sabe e que pode avaliar.
guas. Para tal, pretende-se apresentar o que as A sequência IRA legitima papéis institucionais e
pesquisas realizadas por analistas da conversa do status superior para esse iniciador/avaliador. Por-
grupo “Interação Social e Etnografia”1 (doravante tanto, para Garcez (2006),
ISE) têm descrito em análises de práticas de sala
de aula por meio de trabalhos de campo etno- [...] a fala-em-interação de sala de aula
gráficos e estudos interacionais com transcrições marcada por recorrência de sequências IRA
pode muito bem estar a serviço de apresen-
detalhadas e multimodais. O grupo de pesquisa tar, testar e impor informações e padrões de
busca compor um observatório de como se orga- comportamento, atividades orientadas para
niza a fala-em-interação na sala de aula contem- metas-fim que dificilmente parecem resul-
porânea descrevendo o que acontece no aqui-e- tar na formação de cidadãos participativos e
agora das ações dos participantes, e, com isso, críticos. (GARCEZ, 2006, p. 69)
contribuir para o planejamento de práticas peda-
Partindo da compreensão dessa organização
gógicas que levam em consideração as ações co-
da fala-em-interação da sala de aula — IRA — e
tidianas que acontecem em sala de aula.
da reflexão feita por Garcez (2006), questiona-
Tem-se como inspiração o artigo de revisão
se: é possível encontrar outras formas de partici-
de Garcez (2006), no qual o autor apresenta a
pação no contexto escolar, nas quais alunos po-
descrição da sequência canônica do contexto es-
dem ser os iniciadores e/ou avaliadores no lugar
colar — sequência de Iniciação-Resposta-Avali-
do professor? Alunos podem ser legitimados pelo
ação (IRA) — para destacar as consequências es-
professor e por outros alunos como detentores de
truturais de reprodução de conhecimento desse
conhecimento? Com essas questões em mente, o
padrão interacional e refletir sobre a interação de
foco requer uma visão ampla de diferentes salas
sala de aula fora do padrão IRA. A sequência IRA,
de aula no intuito de estudar se apresentam dife-
descrita por diversos autores (SINCLAIR e
rentes possibilidades de organizações de fala-em-
COULTHARD, 1975; MEHAN, 1985; CAZ-
interação.
DEN, 1991; O´CONNOR E MICHAELS, 19962)3
Os estudos referidos neste artigo compõem
é composta por: a) iniciação: o professor faz uma
fundamentalmente o acervo de monografias e dis-
iniciação, geralmente uma pergunta; b) resposta:
sertações do grupo ISE. Todas as pesquisas ana-
o aluno responde a iniciação; c) avaliação: o pro-
lisam a fala-em-interação social do ponto de vis-
fessor avalia a resposta do aluno. Na sequência
ta da Análise da Conversa Etnometodológica
IRA existe um iniciador e avaliador que, em ge-

1
“O Grupo de Pesquisa em Interação Social e Etnografia (ISE) reúne pesquisadores interessados na organização da fala-
em-interação social, sobretudo em cenários institucionais escolares.” (www.grupoise.blogspot.com)
2
Esse artigo trata da sequência de revozeamento - redizer o turno/ contribuição do aluno por outro participante – descrita
por O’Connor e Michael (1996). Para mais detalhes, ver O’Connor e Michael (1996).
3
Os primeiros autores que descreveram a sequência IRA foram Sinclair e Coulthard (1975): “A typical exchange in the
classroom consists of an initiation by the teacher, followed by a response from the pupil, followed by feedback to the
pupil’s response from the teacher.” (p. 21).

147
(ACE). Como veremos a seguir, alguns pesqui- Os resultados de Abreu (2003) corroboram os
sadores mostram que existe status de maior co- estudos de Sinclair e Coulthard (1975), Cazden
nhecedor e de organizador para o professor (como (1991) e Mehan (1985) sobre a sequência canô-
exemplo: ABREU, 2003), e outros descrevem co- nica da fala-em-interação de sala de aula tradici-
mo esse status pode ser assumido por alunos (por onal — IRA, em que o professor tem seu status
exemplo: MELO, 2006; SCHULZ, 2004; de avaliador legitimado. Outros pesquisadores do
SCHULZ, 2007; BULLA, 2007; FRANK, 2010; grupo ISE, no entanto, descrevem outras organi-
ALMEIDA, 2004; LOPES, 2009). zações de fala-em-interação na sala de aula con-
Abreu (2003) discute a legitimação do papel temporânea em que o status de avaliador, por
de instrutor atribuído ao professor. A autora apre- exemplo, não é atribuído de antemão ao profes-
senta uma análise da organização de reparo ini- sor, mas sim negociado na fala-em-interação pe-
ciado e levado a cabo pelo outro na sala de aula los participantes.
tradicional, contexto no qual esse tipo de reparo, Melo (2006), por exemplo, ao analisar as to-
próximo da correção, pode estar a serviço de con- madas de turnos e o controle social na fala-em-
trole social do professor para com os alunos. Se- interação de sala de aula, mostra salas de aulas
gundo Abreu (2003), a prática de reparo iniciado diferentes das tradicionais. Na organização da
e levado a cabo pelo outro ocorre sem nenhuma fala-em-interação na sala de aula analisada pela
hesitação ou marca de despreferência porque autora, o professor valoriza as auto-seleções e a
quem o faz é o professor legitimado pelos alunos tomada de turno dos alunos e, ainda, presta conta
como instrutor (ABREU, 2003, p. 57). Ou seja, de suas ações. Ao analisar os momentos de con-
trole social, em que “um dos interagentes direcio-
esse controle social sobre o outro, muito re- na as ações de outro” (MELO, 2006, p. 11), a
corrente em sala de aula tradicional, é sus- autora diz que o professor exerce controle social
tentado porque, nesse ambiente, o papel
institucional desempenhado pelo professor
justificado, ou seja, prestando contas de suas ações:
legitima atitudes para manutenção do man-
dato institucional. O professor, como repre- No contexto de uma sala de aula, ao invés
sentante da instituição escolar, tem como ta- de o professor apenas usar de seu poder
refa, e muitas vezes espera-se dele, que ins- institucional para direcionar as ações dos alu-
trua os alunos em seu processo de aprendi- nos, quando há a prestação contas, há a raci-
zagem. (ABREU, 2003, p. 70) onalização conjunta tanto das ações do pro-
fessor quanto as do aluno. A ação do profes-
A autora também analisa a sequencia IRA re- sor em prestar contas orienta o aluno a res-
peito da impropriedade de suas atitudes fren-
lacionando-a como o reparo iniciado e levado a te ao contrato de sala de aula, sendo assim
cabo pelo outro. Ela mostra que, na medida em construída a justificativa para o controle de
que a resposta dada não seja a esperada por quem suas ações. Apesar de ser interacionalmente
proferiu a iniciação, então o iniciador pode vir a custosa, essa prática sustenta o objetivo de
fazer reparo nesse momento. Ainda sobre isso, a uma sala de aula que prima pela formação
de cidadãos críticos, pois a prestação de con-
pesquisadora afirma que, das instâncias que ana- tas colabora para que o aluno reflita a res-
lisou, encontrou peito das atitudes do professor e de suas pró-
prias. (MELO, 2006, p.11)
[...] o professor fazendo a parte I e atribuin-
do a parte R a um ou mais alunos. É como se Desta forma, para a autora, é importante que o
isso fizesse parte de seu papel institucional controle social seja justificado para sustentar a
que precisa testar e avaliar o desempenho dos
alunos. É justamente esse papel de avalia-
formação crítica dos alunos. Nesse sentido, o pro-
dor que legitima também o uso do reparo ini- fessor tem seu status de organizador da fala-em-
ciado e levado a cabo pelo outro de forma interação legitimado, mas não exerce controle
não-modulada e sem atrasos, isto é, sem ne- social reforçando a assimetria/hierarquia entre
nhuma marca que demonstre a sua professor e aluno, sem nenhuma prestação de
despreferência em ambiente de sala de aula
tradicional. (ABREU, 2003, p. 61)
contas de suas ações.
Schulz (2004) discute um evento em que a
professora faz uma correção, mas os alunos re-

148
sistem à correção feita demonstrando um alinha- tradicional de sala de aula pode ser considerado
mento atípico de um aluno de sala de aula tradi- resultado de mudanças nos objetivos educacio-
cional (SCHULZ, 2004, p. 26). A autora analisa nais que modificariam assim, a fala de sala de
a estrutura de participação entre professor e alu- aula” (SCHULZ, 2007, p. 38):
no de um debate em aula e argumenta que a pro-
fessora não só se alinha como professora, geren- [...] o professor escolher não gerenciar os
ciando a alocação de turnos, como, também, va- turnos de fala dos alunos representa uma
mudança, o até mesmo uma inovação, no que
loriza a participação dos alunos, ratificando au- tradicionalmente se chamou de fala-em-
to-seleções. A análise de Schulz mostra que a interação de sala de aula, pois para a pesqui-
identidade de aluno não é aquela que convencio- sadora o “comum” de sala de aula é que o
nal e tradicionalmente se entende por aluno: “eles professor gerencie os turnos. (SCHULZ,
se auto-selecionam, conseguem manter um tópico, 2007, p. 36)
e resistem a uma correção” (SCHULZ, 2004, p. 28).
Também, há descrições de fala-em-interação
A sala de aula que analisamos parece se di-
de sala de aula em que o professor não gerencia
ferenciar no que diz respeito a esses papéis e os turnos dos alunos e não ocupa o papel de mai-
às identidades hegemônicas de professor e or conhecedor. Bulla (2007), por exemplo, des-
alunos. Há indícios de uma construção de creve eventos em que os alunos pedem ajuda aos
participação e inclusão social. Os alunos outros alunos participantes atribuindo-lhes status
mantêm um alinhamento de igualdade com
a professora ao proporem novos tópicos e
de maior conhecedores. A autora analisa a reali-
resistirem à correção de sua fala. Sílvia, por zação de atividades pedagógicas colaborativas e
sua vez, ainda que corrija e gerencie os tur- foca em pedido e oferta de ajuda, resolução de
nos dos alunos, acaba também por promo- problemas e produção. Ao analisar momentos de
ver a construção da participação ao propor colaboração entre os participantes, dois grupos
uma mediação para que os alunos possam
falar e ser ouvidos. (SCHULZ, 2004, p. 33)
de alunos usando o computador para realizar uma
atividade de escrita coletiva, a pesquisadora men-
Em outra pesquisa na mesma escola, Schulz ciona que as atividades não são “previsíveis ou
(2007) também desenvolve o tema da participa- passíveis de serem controladas pelo professor (o
ção focando a sala de aula e o conselho de classe que pode assustar alguns professores)” (BULLA,
participativo. A autora apresenta um excerto em 2007, p. 06).
que, mais do que não aceitar a correção da pro- Frank (2010), ao analisar momentos
fessora (SCHULZ, 2004), o aluno corrige a pro- desconfortáveis em sala de aula em situações de
fessora ao trocar a palavra “sacas”, escrita no oferta contínua, pelo professor, de convites à par-
quadro pela professora, por “sacos” (SCHULZ, ticipação e a não aceitação imediata reiterada
2007, p. 90). A professora Lívia lida com a corre- pelos alunos, contribui para a compreensão das
ção, explica que o correto é “sacas”, mas tam- perguntas na sala de aula em relação à prática
bém demonstra não ser a detentora do conheci- pedagógica tradicional e não-tradicional. Frank
mento ao dizer que não sabe por que “sacas” é o (2010) diz que os convites à participação feitos
nome correto. Schulz (2007) quando fala sobre pelo professor podem ou não seguir como tópico
aprender e sobre participar, afirma que “partici- na fala-em-interação de sala de aula, ou seja, se
par é aprender, assim como aprender é participar, os participantes conjuntamente conseguem fazer
e, ainda, de que aprendemos a participar” (p.41). sentido para os convites, o tópico segue em pau-
A autora mostra que, na escola analisada, todos ta. Caso contrário, o tópico é abandonado. Tudo
podem participar e os alunos são protagonistas depende do engajamento dos participantes no es-
de sua própria aprendizagem. Em relação a isso, forço de fazer sentido dos convites à participa-
fica claro que as ações de professor e de aluno ção. Nesse sentido, a fala-em-interação de sala
são diferentes do que comumente se entende por de aula não é somente gerenciada pelo professor:
ações da fala-em-interação na sala de aula tradi- todos os participantes — alunos e professores —
cional. Schulz relaciona esse resultado com o es- trabalham em conjunto, engajados em se alinhar
tudo de Cazden (2001) ao afirmar que “o não-

149
com o tópico da aula, para dar andamento às ati- de aula de uma escola de Londres e identificou
vidades em sala de aula. uma nova ordem comunicativa sendo posta em
Almeida (2004) analisa como os participantes prática, na qual os interagentes participam de uma
negociam e produzem identidades masculinas em maneira dita “exuberante”, ou seja, por meio de
sala de aula e na escola. Para tanto, o autor tam- ações como cantarolar, improvisar performances
bém questiona as categorias identitárias de “pro- em língua estrangeira, estilizar exageradamente
fessor” e “aluno”, que podem ou não ser relevan- variedades linguísticas — como posh e Cockney4.
tes na interação. Ou seja, “os participantes po- Nessa nova ordem comunicativa, os alunos se
dem estar sinalizando, produzindo e negociando auto-selecionam para falar sem que o professor
outros tantos traços identitários que não sejam os autorize; os próprios alunos selecionam ou-
aqueles atribuídos a eles pelos papéis tros alunos; as sobreposições são frequentes e os
institucionais que poderiam representar” (p. 73). intervalos são raros; e o professor não é o único a
Tanto é assim que, em um dos dados analisados, fazer correção.
duas participantes, Sônia e Rita, tornam relevan-
tes suas identidades de professoras instrutoras ao Esta nova organização estaria substituindo a
associarem traços da identidade de bom aluno a ordem tradicional na qual o professor dispu-
nha de poder para determinar quando, onde
um dos participantes. e sobre o que os alunos teriam o direito de
falar — isso quando a eles franqueado esse
Nessa concepção, defende-se a ideia de que direito — por uma organização em que os
trazemos à interação muitas identidades po- alunos também tomam a iniciativa e estabe-
tenciais e que iremos negociar aspectos de lecem suas preferências em relação ao que
nossas identidades que são opcionais e es- acontece na sala de aula. (AMARAL;
tratégicos, sendo dependentes do contexto FRANK, 2009, p.56)
em que ocorre o encontro face a face. As-
sim, não decidimos antecipadamente ou Nas organizações da fala-em-interação de sala
deliberativamente que traços identitários se-
rão negociados interacionalmente. (ALMEIDA,
de aula contemporânea, o professor não lida so-
2004, p. 148) mente com alunos quietos e submissos, mas tam-
bém alunos participativos e ativos. Isso exige
Lopes (2009), ao analisar a negociação de engajamento de todos os participantes, exige tra-
identidade de professora de três estagiárias de es- balho conjunto. Então, para melhorar as condi-
panhol em salas de aula de ensino médio de três ções de aprendizagem é necessário um entendi-
escolas públicas do interior do estado do Paraná, mento desses modos de participar, para que o pla-
também apresenta um evento em que uma aluna nejamento pedagógico possa ser sensível a essas
assume o papel de organizadora da fala-em- novas organizações de fala-em-interação e pro-
interação quando tenta exercer controle sobre as piciar ações mais democráticas, em que todos
ações dos outros alunos participantes. Fátima possam se engajar.
chega a aumentar o tom de voz para pedir silên- Por meio das descrições da organização da
cio para os outros alunos para poder ouvir a pro- fala-em-interação de cenários institucionais es-
fessora, ou seja, a aluna disciplina outros alunos colares realizados no âmbito do Grupo de Pes-
(LOPES, 2009, p. 77). quisa ISE, foi possível descrever outras organi-
As organizações de fala-em-interação apresen- zações de fala-em-interação de sala de aula, di-
tadas acima, que se assemelham às descrições ferentes das sequências de IRA (em que o pro-
realizadas por Rampton (2006) da sala de aula fessor faz um pergunta de resposta conhecida, os
contemporânea, mostram que há outras novas alunos respondem e o professor avalia). Nos tra-
maneiras de organizar a fala-em-interação em sala balhos mencionados encontram-se: professor
de aula que não a organização composta por prestando contas de suas ações (MELO, 2006),
sequências avaliativas de IRA, em que o profes- alunos resistindo à correção do professor
sor é o avaliador. Rampton (2006) estudou situa- (SCHULZ, 2004), alunos corrigindo o professor
da e detalhadamente a fala-em-interação de sala (SCHULZ, 2007), alunos pedindo ajuda a outros

4
Dialetos de Londres. Posh considerado padrão e elegante. Cockney considerado não-padrão.

150
alunos (BULLA, 2007), professores e alunos con- privilegie a reflexão sobre ações não-tradicionais
juntamente engajados na construção do tópico do professor, como por exemplo: possíveis im-
gerado a partir de convites à participação feitos plicações de um controle social justificado
pelo professor (FRANK, 2010), dois participan- (MELO, 2006) e de ações de escolher não geren-
tes — aluno e professor — tornando relevantes ciar os turnos de fala dos alunos (SCHULZ, 2007)
suas identidades de professor ao mesmo tempo e momentos em sala de aula em que alunos resis-
no mesmo evento (ALMEIDA, 2004), aluno dis- tem à correção, corrigem o professor, pedem aju-
ciplinando alunos (LOPES 2009). da a outros alunos, trabalham na manutenção ou
Por meio desses trabalhos constrói-se um ob- não do tópico da aula, são instrutores no lugar do
servatório de organizações de fala-em-interação professor/junto com o professor, disciplinam ou-
de sala de aula em que as questões relacionadas a tros alunos.
status superior do professor podem ser questio- Destarte, os resultados desses estudos podem
nadas. Parece haver uma redefinição dos papéis pautar uma proposta de formação de professores
do professor e do aluno na fala-em-interação de que seja sensível ao que acontece no aqui-e-ago-
sala de aula contemporânea, e o entendimento ra da fala-em-interação da sala de aula contem-
pelo professor dessas novas organizações é fun- porânea, pois, para que uma formação de profes-
damental para que ele consiga desenvolver e sores seja significativa, é desejável que leve em
manter as aulas em curso, qualificando-as. Por- conta o que ocorre em seu cotidiano escolar. Por
tanto, os estudos de fala-em-interação de sala de meio desse observatório de ações, é possível ori-
aula dão subsídios para uma proposta de forma- entar novas construções de boas práticas na es-
ção de professores que busque promover a refle- cola contemporânea composta por alunos mais
xão sobre as ações cotidianas dos participantes participativos e com maior protagonismo no seu
na sala de aula. Uma formação de professores que percurso de aprendizagem.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABREU, C. S. A organização do reparo iniciado e levado FRANK, I. Constituição e superação de momentos


a cabo pelo outro na conversa cotidiana e sala de aula desconfortáveis em sequências de convites à participação:
tradicional em português brasileiro. 2003. 77 f. Disserta- a construção do engajamento na fala-em-interação de sala
ção (Mestrado em Letras) — Programa de Pós-Graduação de aula. 2010. 170 f. Dissertação (Mestrado em Letras) —
em Letras, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Programa de Pós-Graduação em Letras. Universidade Fe-
Porto Alegre, RS, 2003. deral do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, 2010.
ALMEIDA, A. N. Construindo contextos: a produção de LOPES, M. F. R. A negociação de identidade de professor
identidades masculinas na fala-em-interação. 2004. 188 na sala de aula de estágio de língua espanhola. 2009. 154
f. Dissertação (Mestrado em Letras) — Programa de Pós- f. Dissertação (Mestrado em Letras) — Programa de Pós-
Graduação em Letras, Universidade Federal do Rio Gran- Graduação em Letras. Universidade Estadual de Maringá,
de do Sul, Porto Alegre, RS, 2004. Maringá, PR, 2009.
AMARAL, D.; FRANK, I. Novos arranjos. Educação, v. MEHAN, H.The strucutre of classroom discourse. In: DIJK,
144, 56-59, 2009. T. Van (Org.). Hand book of discourse analysis. Londres:
BULLA, G. S. A realização de atividades pedagógicas Academic Press, 1985, v. 3, p. 119-131.
colaborativas em sala de aula de português como língua MELO, P. S. A tomada de turnos e o controle social na
estrangeira. 2007.127 f. Dissertação (Mestrado em Letras) fala-em-interação: práticas diferenciadas organizam di-
— Programa de Pós-Graduação em Letras, Universidade ferentes instituições escolares. 2006. 29 f. Trabalho de
Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, 2007. Conclusão de Curso (Licenciada em Letras) — Curso de
CAZDEN, C. B. El discurso en el aula. El lenguaje de la Letras, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
enseñanza y del aprendizaje. Barcelona: Ediciones Paidós Alegre, RS, 2006.
Ibérica, 1991. O’CONNOR, M.; MICHAELS, S. Shifting participant
GARCEZ, P. M. A organização da fala-em-interação na frameworks: orchestrating thinking practices in group
sala de aula: controle social, reprodução de conhecimento, discussion. In: DIJK, T. Van (Org.). Discourse, learning
construção conjunta de conhecimento. Calidoscópio, São and schooling. Cambridge: Cambridge University Press,
Leopoldo (Unisinos), v. 4, n. 1, p. 66-80, 2006. 1996. p. 63-103.

151
RAMPTON, B. Language in late modernity: Interaction ______. A construção da participação na fala-em-
in an urban school. Cambridge: Cambridge University interação de sala de aula: um estudo microetnográfico
Press, 2006. sobre a participação em uma escola municipal de Porto
SCHULZ, L. A construção da participação oral na fala- Alegre. 2007. 164 f. Dissertação (Mestrado em Letras) —
em-interação de sala de aula: a tomada de turno pelo alu- Programa de Pós-Graduação em Letras, Universidade Fe-
no. 2004. 39 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenci- deral do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, 2007.
ada em Letras) — Curso de Letras, Universidade Federal SINCLAIR, J. M.; COULTHARD, M. Toward na analysis
do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, 2004. of discourse. Londres: Oxford University Press, 1975.

152
A CONSTITUIÇÃO DE UMA AÇÃO DE POLÍTICA LINGUÍSTICA
PARA UNIVERSITÁRIOS INDÍGENAS DA UFRGS

Bruna Morelo
Camila Dilli
Universidade Federal do Rio Grande do Sul

A educação superior no Brasil tem tomado O movimento indígena brasileiro, de maneira


novos rumos quanto à diversidade social e étni- similar a outros movimentos indígenas no conti-
ca. No ano de 2012, foi regulamentada a Lei das nente sul-americano, se desenvolveu a partir de
Cotas (nº 12.711/2012) nacional, que determina uma conscientização de necessidades comuns
a reserva de 50% das vagas de Universidades e entre os diversos povos e comunidades indíge-
Institutos Federais, com prazo de adequação a nas no território nacional. As demandas por inser-
esse percentual até o ano de 2016. As vagas re- ção indígena na educação superior surgiram na
servadas se destinam a estudantes que tenham agenda desse movimento na década de noventa
cursado todo o ensino médio em escolas públi- visando a propostas próprias de desenvolvimen-
cas, com distribuição de vagas entre negros, par- to e ao retorno do protagonismo e ingerência, sem
dos e indígenas proporcional às populações des- mediação de outros representantes para interlo-
sas etnias nos estados onde as vagas serão ofere- cução e intervenção em instâncias administrati-
cidas1. Antes da Lei das Cotas, sistemas de entra- vas formais de negociação política (CAPEin, no
da diferenciados propostos pelas chamadas Ações prelo; BANIWA; HOFFMANN, 2010; LUCI-
Afirmativas (doravante AAs) já ocorriam em uni- ANO, 2009). O movimento visa principalmente:
versidades brasileiras. De acordo com o Censo • ao fortalecimento de conhecimentos tradici-
Demográfico 2010, a população indígena onais e capacidade de negociação;
autodeclarada corresponde a 0,4% da população • à titulação de professores indígenas para atu-
brasileira total, totalizando 817 mil autodecla- arem com autonomia em escolas indígenas,
rados (OS INDÍGENAS..., 2012). Em alguns le- em conformação às normativas legais;
vantamentos iniciais (PALADINO, no prelo; • a viver de suas terras e de gestão dos territó-
LUCIANO, 2009; CAJUEIRO, 2008) acerca do rios indígenas3, que são finitos.
número de indígenas universitários, aproxima-se Assim, autonomamente, universidades brasi-
que 7.000 estudantes (PALADINO, no prelo), ou leiras têm criado seus próprios procedimentos de
seja, 0,86% da população indígena brasileira, fre- acesso ao ensino superior aos povos indígenas4
quentavam a universidade em 20112. Até a déca- (cf. PALADINO, no prelo; CAJUEIRO, 2008).
da de noventa, o número total de indígenas nesse Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul
nível de ensino não chegava a 500 estudantes (doravante UFRGS), a instituição do programa
(LUCIANO, 2006). de AAs deu-se em 20075. O sistema de reserva
de vagas iniciou-se em 2008, quando a Universi-

1
Apenas seis estados brasileiros possuem população indígena identificada acima de 1% do total, chegando a no máximo
11% no estado de maior presença populacional indígena.
2
Considerando apenas a faixa etária entre 18 e 24 anos, em 2011 a participação da população branca no ensino superior
(matriculados em graduação, mestrado e doutorado) era de 65,7%, e da população parda e negra (podendo também incluir
indígenas), 35,8%. (SÍNTESE..., 2012, p.116)
3
Hoje representando 13% do território nacional. (BERGAMASCHI, no prelo)
4
Que levam em conta, por exemplo, a distinção entre indígenas aldeados e índio-descentes ou um acréscimo de pontos em
concursos vestibulares para cotistas.
5
A Decisão nº 134/2007 do Conselho Universitário/UFRGS instituiu: “Art. 1º - Fica instituído o Programa de AAs, através
de Ingresso por Reserva de Vagas para acesso a todos os cursos de graduação e cursos técnicos da UFRGS, de candidatos
egressos do Sistema Público de Ensino Fundamental e Médio, candidatos autodeclarados negros egressos do (CONTINUA)

153
dade começou a recebeu estudantes cotistas egres- guagem: os projetos de extensão Inglês para Es-
sos do sistema público, autodeclarados negros tudantes Indígenas (doravante CIEI) e Leitura e
egressos do sistema público e indígenas. Escrita na Universidade para Estudantes Indí-
Podemos dizer que as AAs se produzem na genas (doravante LEUI), que dá continuidade e
UFRGS em dois eixos, com consolidações dis- abarca o anterior, iniciados respectivamente em
tintas: o acesso e a permanência, o primeiro diz 2008 e 2012. Este trabalho tem como objetivo
respeito aos procedimentos de seleção, recepção contextualizar esses projetos como ações de po-
e matrícula dos candidatos aprovados; o segun- líticas linguísticas9 (RICENTO, 2006; HORN-
do corresponde às ações que se destinam a quali- BERGER, 1994, 2006; WILEY, 2006) no âmbi-
ficar e possibilitar a permanência — a não eva- to das AAs da UFRGS, relacionando-os a nossas
são ou abandono dos cursos antes da graduação pesquisas desenvolvidas na área de Linguística Apli-
— por meio de apoio material e pedagógico. Em cada.
2008, procedimentos seletivos de admissão na Nossa colaboração com as AAs teve início
universidade foram desenvolvidos especialmen- em 2008, primeiro ano de ingresso de estudantes
te aos estudantes indígenas por meio do vestibu- pelo vestibular indígena, em resposta à solicita-
lar indígena, com a criação de dez vagas suple- ção de aulas de inglês feita nas reuniões realiza-
mentares para candidatos indígenas6. das regularmente com a CAPEin, principalmen-
A trajetória dos estudantes até a diplomação te pelos indígenas matriculados nos cursos de gra-
conta com o apoio de ações de permanência que duação da área da saúde. Iniciamos, acompanha-
englobam apoio material7 e apoio pedagógico8. mos e participamos do desenvolvimento dessa
Entre as ações de apoio pedagógico, o estudante ação, criando e renovando os objetivos de ensi-
indígena conta com um professor orientador e um no, bem como reunindo novos parceiros e parti-
estudante monitor para acompanhá-lo durante o cipantes. O curso de inglês teve sete edições se-
primeiro semestre. Duas das ações voltadas para mestrais10. Hoje, o LEUI está em sua segunda
o público indígena dizem respeito ao uso da lin- edição, as aulas acontecem na Casa do Estudan-

Sistema Público de Ensino Fundamental e Médio e candidatos indígenas”. Após acompanhamento da Comissão de Avali-
ação das Cotas composta por membros ad hoc, essa decisão foi renovada por mais dez anos (decisão 268/2012) em 2012.
As AAs da UFRGS quanto à presença das minorias étnicas indígenas foram conduzidas nos primeiros cinco anos pela
Comissão de Acesso e permanência do Estudante Indígena (CAPEin). Após sua extinção, suas atribuições foram transferidas
para a recém-criada Coordenadoria de Acompanhamento das AAs.
6
É importante salientar que ambas as políticas são desenvolvidas com o diálogo entre representantes da universidade e das
comunidades indígenas do estado do RS (principalmente com os Kaingang e Guarani, que possuem escolarização mais
significativa que as demais etnias presentes no estado - Charrua e Xokleng). Quanto ao vestibular, dentre os vários proce-
dimentos resultantes desse diálogo, vale ressaltar a decisão sobre as provas do vestibular serem focadas na língua portu-
guesa (uma prova de redação e uma objetiva de língua portuguesa a respeito de textos com temáticas indígenas) e a
definição anual conjunta a cada vestibular de quais são os dez cursos a receberem indígenas.
7
Alguns exemplos são: bolsas permanência; acesso à Casa do Estudante, sala de estudos com computadores e internet,
monitorias de informática, além de outros benefícios concedidos a quaisquer estudantes de determinado perfil
socioeconômico no programa regular de benefícios da UFRGS.
8
Não direcionada exclusivamente aos indígenas, o Programa de Apoio à Graduação (PAG), política universalista aberta a
qualquer estudante da UFRGS, independentemente do perfil socioeconômico, oferece seis cursos extracurriculares de
reforço em diversas áreas do conhecimento, entre as quais, língua portuguesa, língua inglesa e produção de textos acadêmicos.
9
Ações promovidas pela agentividade de sujeitos engajados politicamente (RICENTO, 2006a), ou instâncias governa-
mentais, para mudanças no que concerne às línguas/letramentos em determinadas comunidades, em diversos âmbitos
sociais (por exemplo, na normatização da grafia de uma determinada língua, na legislação, na divulgação mediática, etc.),
para preservação, revitalização, reaquisição, manutenção, ensino e legitimação de determinadas variedades, línguas ou
letramentos (HORNBERGER, 2006), não necessariamente coerentes com um enquadramento teórico específico ou vin-
culadas às instituições formais, nem necessariamente ambicionando a regulamentação ou reprodução das mesmas.
10
Em 2008, Bruna Morelo e Alana Mazur adotaram trechos de livros didáticos de língua inglesa e elaboraram tarefas com
temáticas relacionadas aos indígenas. Em 2009, Bruna Morelo e Camila Dilli desenvolveram uma proposta curricular por
projetos pedagógicos com materiais didáticos próprios. De 2010 a 2013, estudantes da Faculdade de Letras realizaram
estágios curriculares de docência de língua inglesa, em parceria e com a organização de Bruna Morelo e Camila Dilli.

154
te, local em que mora a grande maioria dos parti- exemplificar as mudanças ocorridas nos últimos
cipantes do curso. Os encontros semanais duram anos, em que o projeto passou de um curso de
2h e o curso se estrutura por meio de projetos inglês (CIEI) para um curso de leitura e escrita
pedagógicos. na universidade (LEUI), os princípios criados
Com o passar das edições e na nossa convi- mais recentemente, orientados principalmente pe-
vência continuada com os indígenas e participa- los estudos de Letramento Acadêmico (doravante
ção nas discussões sobre as AAs, passamos a bus- LetAc), estão destacados em itálico. Os demais
car maior fundamentação para essa ação e cons- princípios são os que fundamentaram a criação
truímos projetos de pesquisa (DILLI, 2011; do CIEI. É importante salientar que os textos
MORELO, 2012) com vistas a redefinir o curso (orais e escritos) focalizados passaram a ser na
para incluir metas de letramento acadêmico, com língua relevante para a realização da ação que
base nos estudos de Lea e Street (1998, 2006), esteja em destaque na aula (neste caso, kaingang,
Lillis (2001), Lea (2004). O quadro a seguir apre- guarani, português, inglês), o que caracteriza o
senta os princípios que foram sendo desenvolvi- curso como um espaço que não é voltado somen-
dos para a construção de desenho de curso. Para te para uma única língua ou para línguas de prestígio.

a) interferir a favor da política de Ações Afirmativas criando espaços com práticas que sejam
pedagógicas e prestigiem as minorias étnicas e suas demandas;
b) promover a reflexão dos educandos sobre suas próprias realidades;
c) oferecer oportunidades para reflexão e debate a respeito de representações identitárias e
negociação de identidades;
d) ampliar a participação dos estudantes em universos letrados e acadêmicos;
e) dar condições para que os alunos tenham confiança para ler textos que circulam em seus
contextos de atuação e participar criticamente do que se faz a partir desses textos;
f) incluir diferentes demandas de leitura e escrita, encontradas nos cursos de graduação para
entender essas demandas e como lidar com elas;
g) dar acesso a textos orais e escritos em português e inglês, orientados pelas práticas acadêmi-
cas desta instituição;
h) criar produtos finais em diferentes línguas para projetos desenvolvidos condizentes com as
demandas dos cursos de graduação dos alunos e seus objetivos políticos;
i) oferecer abertura para variações na produção de gêneros (forma, modalidade, temáticas de
interesse para os alunos indígenas e suas demandas comunitárias), acompanhada de discussão
sobre efeitos de sentido a partir de diferentes exemplos de texto e gêneros (acadêmicos e não
acadêmicos);
j) fazer trabalho pedagógico multidisciplinar, considerando aspectos de uso da linguagem e
letramento das disciplinas específicas dos cursos de graduação dos estudantes indígenas;
l) não se ater somente à reprodução / ao estudo nos moldes das práticas das disciplinas de
graduação observadas pelos estudantes em seus cursos, mas, além delas, desenvolver ativida-
des pedagógicas de apoio linguístico, levando em conta os letramentos dos alunos;
m) considerar a grande diversidade de demandas envolvendo leitura e escrita já no primeiro
semestre e, assim, oportunizar maior diversidade também no curso.

Quadro 1 – Princípios para a construção de desenho de cursos

A configuração atual do curso, especialmente letradas com configurações de poder, ideologia e


quanto à inclusão dos objetivos políticos dos alu- identidade — e também de negociações com os
nos, se dá mutuamente por concepções advindas indígenas nas aulas do curso, que espontaneamen-
da literatura na área de LetAc — que relacionam te e com regularidade nos manifestaram suas in-
a produção de conhecimento científico, práticas quietações e vontades políticas.

155
Por estarmos lidando com demandas de letra- comunidades de outras culturas, desconsiderando
mento de cada curso acadêmico em que os estu- os saberes locais.
dantes estão matriculados e também por ser a pre- Um movimento em favor dos povos originári-
sença indígena marcada por uma trajetória de os quanto às consequências da colonização oci-
engajamento político, adotamos uma perspecti- dental foi a Convenção 169 da Organização In-
va de LetAc que se orienta pelas concepções de ternacional do Trabalho, da qual o Brasil se tor-
leitura e escrita como práticas sociais situadas nou signatário em 2002, comprometendo a Na-
(STREET, 1984; 1995; BARTON; HAMILTON, ção no seu cumprimento e execução. A Conven-
1998), isto é: as práticas letradas de disciplinas ção garante aos povos indígenas, entre outros, o
acadêmicas podem ser vistas como diversas e re- direito de autoidentificação e que haja
lacionadas a diferentes comunidades; os letramen- implementação de mecanismos participativos e
tos a serem considerados não são somente aque- de consulta prévia às instituições representativas
les diretamente associados com disciplinas e te- dos povos “sempre que sejam previstas medidas
mas, mas também os associados com os discur- legislativas ou administrativas suscetíveis de
sos e gêneros institucionais mais amplos; as prá- afetá-los diretamente” (Convenção 169, Artigo
ticas de leitura e escrita envolvem a construção 1º). Antes disso, em 2001, o governo federal já
de identidades (e não exclusivamente a aquisi- havia reconhecido uma dívida histórica, quando
ção de habilidades ou a socialização dos sujei- assinou a Declaração de Durban, durante a Con-
tos); a reflexão sobre as mudanças de estilo da ferência Internacional contra o Racismo, a Xe-
escrita em diferentes situações de comunicação, nofobia e a Intolerância Correlata (África do
a mobilização de um repertório de práticas letra- Sul), pela qual se comprometeu a criar políticas
das distintas e o manejo dos significados sociais afirmativas para o combate à discriminação raci-
e identidades evocadas em cada situação. (LEA; al, o que estimulou a criação de leis em estados
STREET, 2007, p. 227) brasileiros envolvendo AAs em instituições de
Quando pensamos na história de grupos que ensino superior sob suas jurisdições.
se tornaram minoritários e da relação desses gru- A questão da língua e dos letramentos é de
pos com o outro, é comum a tentativa de inserir extrema relevância dentro do modelo do coloni-
esses grupos na cultura do outro, torná-los pare- zador, pois são instrumentos de poder. Segundo
cidos com um ideal ocidental, em um contato de Wiley (2006), “o próprio planejamento linguístico
opressão. Boa parte da história nos conta que para tem sido muitas vezes visto como uma forma de
chegar a um modelo de sociedade é preciso re- engenharia social que pode ser usada para alcan-
produzir maneiras ocidentais de ser e fazer, toda çar níveis educacionais mais altos através de al-
e qualquer diversidade não é bem vinda e pode fabetização em massa em países ‘subdesenvolvi-
desvirtuar o caminho para o progresso. Essa con- dos’” (WILEY, 2006, p. 143, grifo do autor). Para
cepção da existência de uma hegemonia ociden- evitar reprodução de conhecimento irrefletido no
tal é denominada por alguns autores de modelo planejamento do LEUI, buscamos maneiras de
do colonizador. Segundo Wiley (2006), o termo olhar e pensar o universo acadêmico que valori-
“o modelo do colonizador do mundo” foi criado zem o que os estudantes trazem de suas origens e
para salientar aspectos de uma grande narrativa de refletir com eles sobre o que buscam nesse
epistêmica composta por discursos que susten- novo contexto de atuação.
tam a superioridade ocidental ante as demais so- Consideramos desejável que uma ação de po-
ciedades periféricas. Neste modelo, entende-se lítica linguística que visa ao trabalho com a lin-
que “para progredir, se desenvolver ou se moder- guagem com estudantes indígenas na universi-
nizar, a periferia precisa receber conhecimentos dade leve em conta diretamente a tensão entre
e técnicas que são difundidas a partir do centro, prover acesso aos recursos simbólicos privilegi-
ao invés de partir de sua própria inventividade” ados e ao mesmo tempo problematize tais recur-
(WILEY, 2006, p. 142, grifo no original). Nesse sos (LILLIS, 2001, p.166). Nesse sentido, enten-
sentido, diferentes ações foram executadas ao demos que os estudos de LetAc contribuem de
longo da história na tentativa de transferir esses forma significativa para que essa ação não seja
conhecimentos ou tecnologias ocidentais para uma política de aculturação, mas sim um modo

156
para que os estudantes entrem em contato com bros mais experientes nas comunidades acadê-
práticas acadêmicas consolidadas, como já estão micas, mas tais expectativas nem sempre são
fazendo em seus cursos, porém com a possibili- explicitadas em algum tipo de documento oficial
dade de construção de crítica às convenções do- regulatório, como descreve Ricento (2006, p. 5):
minantes. “Os valores atribuídos ligados ou associados a
Estudantes, professores, funcionários, grupos uma língua, portanto, não dependem exclusiva-
de pesquisa e demais participantes em diferentes mente, nem ou mesmo necessariamente, de qual-
disciplinas, linhas de pesquisa, correntes acadê- quer status oficial ou legal conferido por um Es-
micas, procedimentos administrativos, etc. produ- tado através dos poderes executivo, legislativo
zem regularidades quanto ao uso da(s) língua(s), ou judiciário.”11
discursos, leitura e escrita, que constituem as prá- As expectativas acadêmicas quanto ao que seja
ticas letradas específicas e os gêneros do discur- uma leitura ou uma escrita esperada numa área
so (enunciados relativamente estáveis) (Bakhtin, específica são produções culturais construídas e
2003) nas esferas de atividade de uma comuni- compartilhadas pelos participantes12. Mesmo que
dade universitária. O caráter local dessas práti- políticas nacionais e institucionais se orientem
cas pode assumir status de caráter universal para no sentido do estímulo à diversidade social e ét-
os sujeitos que estão envolvidos nessas práticas. nica, há uma tendência à manutenção do que já
No entanto, os estudos de letramento apontam que foi construído ao longo da história, e a abertura
a leitura e a escrita são práticas culturais e soci- às variações nas práticas letradas acadêmicas pa-
ais que variam de acordo com os contextos parti- rece restrita. Com a entrada de novos participan-
culares em que ocorrem (LEA, 2004, p. 740). tes com trajetórias e histórias não familiares para
Essas práticas locais são perpassadas por orien- a comunidade universitária, surge a necessidade
tações históricas dominantes, como a suposta e a pressão pela familiarização desses novos gru-
transparência da linguagem e o discurso do défi- pos às práticas da universidade. Por outro lado,
cit em relação a grupos minoritários, que interfe- surge também a possibilidade, por parte da co-
rem na participação de grupos minoritários nas munidade acadêmica, de reconhecer e acolher no-
universidades, limitando-a. vas formas de ser e fazer, trazidas por esses no-
O olhar deficitário em relação aos participan- vos membros. Papéis que a universidade pode
tes advindos de comunidades que antes dos pro- desempenhar no recebimento/acolhimento dos
cessos de democratização não frequentavam a estudantes de etnias antes reduzidamente repre-
universidade (LEA; STREET, 1998) reflete a ex- sentadas na paisagem acadêmica, como é o caso
pectativa de homogeneidade quanto ao modo dos negros e indígenas, passam a requerer dis-
como se realizam a leitura e escrita no mundo cussão, planejamento e execução. Esse acolhi-
acadêmico, pelo viés do suposto universalismo mento se estende para além dos procedimentos
do cientificismo ocidental. Atrelada à noção pro- de seleção e recepção dos calouros, estando em
blemática de transparência da linguagem cientí- jogo durante o contato longo que se quer estabe-
fica, opera em instituições de ensino superior a lecer entre ambos.
chamada ‘pedagogia do mistério’ (LILLIS, 2001). No sentido de articular demandas por vezes
Determinadas variedades linguísticas, gêneros e conflitantes13, as ações pedagógicas de permanên-
objetivos de escrita envolvidos na produção ci- cia (CIEI/LEUI) que apresentamos aqui enfocam
entífica se encaixam em expectativas dos mem- o planejamento de aquisição (acquisition plan-

11
Embora, nesta publicação Ricento se refira a valores associados ao código linguístico / língua em uso, nos valemos neste
trabalho da associação entre língua e letramento. Entendemos que qualquer política de letramento se insere no campo mais
amplo de políticas linguísticas. Hornberger (1994) faz uma correspondência entre os conceitos de planejamento linguístico
e planejamento de letramento, e o curso relatado aqui conjuga planejamento linguístico e letramentos.
12
De acordo com Baldauf (2004) e Schiffman (2006), poderíamos dizer que há uma política implícita (covert) nas práticas
acadêmicas, ou seja, ações orientadas por “regras” que não estão registradas em documentos, mas que são reproduzidas
dentro de um determinado local pelas pessoas que fazem parte da comunidade.
Ver Safe Houses in the Contact Zones: Coping strategies of African-American Students in the Academy (CANAGARAJAH,
13

1997).

157
ning), que engloba “esforços para influenciar a As questões sobre como desenvolver letra-
alocação de usuários ou a distribuição de línguas/ mentos, quais letramentos desenvolver e com
letramentos, por meio de criação ou desenvolvi- quais propósitos, dialogam com as pesquisas que
mento de oportunidades ou incentivo a que se- estamos desenvolvendo, que buscam avançar em
jam aprendidos, ou ambos”. (HORNBERGER, termos pedagógicos e políticos na proposta de
1994 p. 76). Não se trata, no entanto, exclusiva- uma ação de política linguística para os estudan-
mente do ensino de leitura e produção de textos tes indígenas da UFRGS.
em língua inglesa e portuguesa para a inserção
em práticas letradas acadêmicas, como no mode- Os tipos e abordagens de planejamento
lo da socialização acadêmica (LEA; STREET, linguístico e de letramento não carregam em
si uma orientação política (...). Pelo contrá-
1998), mas sim do uso de línguas e variedades rio, são os objetivos que são atribuídos às
relevantes para as práticas sociais que emergem atividades de planejamento linguístico e de
do contato com os estudantes e suas culturas in- letramento que determinam a direção da
dígenas, novidades neste cenário. Como muitas mudança vislumbrada (cf. HORNBERGER,
das ações de política linguística, o que move o 1990a: 21) (...), os objetivos são o cerne do
planejamento linguístico/de letramento.
Curso LEUI é a possibilidade de mudanças. Aqui (HORNBERGER, 1994 p. 79, grifo nosso)
essas mudanças são entendidas como parte do que
é necessário para a abertura de um espaço para a Ao buscarmos investigar quais línguas, gêne-
diversidade e para que essas minorias étnicas ros do discurso, tarefas pedagógicas e eventos de
possam participar mais qualificada, crítica e re- letramento têm mais status dentro dos contextos
fletidamente da empreitada a que se propuseram nos quais os estudantes indígenas circulam, tere-
ao entrar em uma instituição por suas demandas, mos subsídios para discutir e entender por que
também comunitárias, de desenvolvimento pró- são alguns gêneros, e não outros, por exemplo,
prio, e também para agregar tradições e saberes. que são mais valorizados pelos participantes e,
Hornberger lembra que todos os letramentos são assim, poderemos contribuir para a construção
potencialmente iguais, no entanto, por razões so- do planejamento linguístico e de letramento
ciais, isso não acontece. “O letramento é, simul- (HORNBERGER, 1994) do curso. Com base nes-
taneamente, potencial libertador e arma de opres- ses resultados, será possível construir um progra-
são (GEE, 1991, p. 272). Para agentes de ma para o LEUI que contemple as diferentes prá-
letramento em contextos multilíngues, então, a ticas de leitura e escrita acadêmica conjugadas
questão não é: como desenvolver o letramento? com os interesses de participação e demandas dos
mas, quais letramentos desenvolver e para quais estudantes indígenas na universidade.
propósitos?” (HORNBERGER, 1994, p. 76)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAPEin (Comissão de Acesso e Permanência Indígena
BALDAUF JR., R. B. Language Planning and Policy:
UFRGS). Estudantes Indígenas no Ensino Superior: uma
Recent Trends, Future Directions. In: American Association
abordagem a partir da experiência na UFRGS. (no prelo)
of Applied Linguistics, Portland, Oregon, (1-8). 1-4 May,
2004. CAJUEIRO, Rodrigo. 2008. Os povos indígenas em insti-
tuições de ensino superior públicas federais e estaduais
BANIWA, Gersem; HOFFMANN, Maria Barroso. Intro-
do Brasil: levantamento provisório de ações afirmativas e
dução. LUCIANO, Gersem José dos Santos; OLIVEIRA,
de licenciaturas interculturais. Rio de Janeiro: Laboratório
João Cardoso de; HOFFMANN, Maria Barroso. Olhares
de Pesquisas em Etnicidade, Cultura e Desenvolvimento/
Indígenas Contemporâneos. Brasília: Centro Indígena de
MN/UFRJ.
Pesquisas, 2010.
DILLI, C. Práticas de letramento e Política de Permanên-
BARTON, D. & HAMILTON, M. Local literacies. London:
cia de estudantes indígenas na UFRGS: orientações em
Routledge, 1998.
leitura e escrita acadêmica. Projeto de Dissertação de
BERGAMASCHI, Maria Aparecida. In: UNIVERSIDA- Mestrado. UFRGS, 2011.
DE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL. Comissão
GEE, J. P. The legacies of literacy: From Plato to Freire
de Acesso e Permanência Indígena. Estudantes Indígenas
through Harvey Graff. In M. Minami and B. Kennedy (eds)
no Ensino Superior: uma abordagem a partir da experiên-
Language Issues in Literacy and Bilingual/Multicultural
cia na UFRGS. (no prelo)

158
Education. Cambridge, Massaschusetts: Harvard Educa- PALADINO, Mariana. Um mapeamento das ações afirma-
tional Review, 1991. (p. 266-85) (reprinted from Harvard tivas voltadas aos povos indígenas no ensino superior. In:
Educational Review (1988) 58, 195-212). UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO
HORNBERGER, N. H. Literacy and language planning. SUL. Comissão de Acesso e Permanência Indígena. Estu-
Language and Education, 8, 75-86. 1994. dantes Indígenas no Ensino Superior: uma abordagem a
partir da experiência na UFRGS. (no prelo)
LEA, M. R. Academic literacies: a pedagogy for course
design. In: Studies in Higher Education, 29 (6). 2004. RICENTO, T. Theoretical Perspectives in Language Policy:
An Overview. In: RICENTO, T. An Introduction to
LEA, M. R. & STREET, B. V. Student writing in higher Language Policy: Theory and Method. Oxford: Blackwell
education: an academic literacies approach. UK Studies in Publishing Ltd. 2006a. p. 3-9.
Higher Education, 23(2): 157-172. 1998.
______. Language Policy: Theory and Practice – An
LEA, M. R. & STREET, B.V. The “Academic Literacies” Introduction. In: RICENTO, T. An Introduction to
Model: Theory and Applications. Theory into Practice, Language Policy: Theory and Method. Oxford: Blackwell
45(4), pp. 368-377. 2007. Publishing Ltd. 2006b. p. 10-23.
LILLIS, T. Student Writing.Access, Regulation, Desire. SCHIFFMAN, H. Language Policy and Linguistic Culture.
London: Routledge, 2001. In: RICENTO, T. An Introduction to Language Policy:
OS INDÍGENAS no Censo Demográfico 2010: primeiras Theory and Method. Oxford: Blackwell Publishing Ltd.
considerações com base no quesito cor ou raça. Rio de Ja- 2006. p.111-125.
neiro: IBGE, 2012. SÍNTESE de indicadores sociais: uma análise das condi-
LUCIANO, Gersem dos Santos. O Índio Brasileiro: o que ções de vida da população brasileira 2012. Rio de Janeiro:
você precisa saber sobre os povos indígenas no Brasil de IBGE, 2012.
hoje. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Edu- STREET, B. V. Literacy in Theory and Practice.
cação Continuada, Alfabetização e Diversidade; LACED/ Cambridge: Cambridge University Press, 1984.
Museu Nacional, 2006.
STREET, B. V. Social Literacies: Critical Approaches to
______ 2009. Indígenas no Ensino Superior: Novo Desa- Literacy Development, Ethnography and Education.
fio para as Organizações Indígenas e Indigenistas no Bra- London: Longman, 1995.
sil. 53º Congresso Internacional de Americanistas. Méxi-
co, D.F. WILEY, T. G. The Lessons of Historical Investigations:
Implications for the Study of Language Policy and
MORELO, B. A trajetória de elaboração de um curso de Planning. In: RICENTO, T. An Introduction to Language
leitura e escrita na universidade para estudantes indíge- Policy: Theory and Method. Oxford: Blackwell Publishing
nas: contribuindo para a construção de uma política de Ltd. 2006. p. 135-152.
permanência na UFRGS. Projeto de Dissertação de
Mestrado. UFRGS, 2012.

159
PERSPECTIVAS ACERCA DE LA ENSEÑANZA
DE LA LENGUA EXTRANJERA EN EL NIVEL SECUNDARIO
DE LA PROVINCIA DE CÓRDOBA

Oddo, Fabrizio Martín Oddo


Giuliano Nicolás Scocozza
Edith Carolina Vega1
Universidad Nacional de Córdoba

INTRODUCCIÓN extranjeras, dándole prioridad al inglés. Pero, ¿por


qué la mayoría de las escuelas secundarias prefie-
Este trabajo se inscribe en el marco del proyec- ren el inglés por sobre otras lenguas2? Ortiz (2009)
to de investigación sobre las planificaciones lin- explica, por un lado, que “el vigor de una lengua
güísticas en los colegios secundarios de la pro- no solo deriva de la cantidad de hablantes. El es-
vincia de Córdoba. El objetivo es analizar cuáles tado nacional, institución fundamental para su
son los discursos que se brindan en los conteni- promoción, es un elemento importante”. Por otro,
dos y en la fundamentación teórico-metodológica el imperialismo del inglés se debe a causas econó-
para la enseñanza del inglés como lengua extran- micas y sociales; es “la lengua de las sociedades
jera, tanto en el Ciclo Básico como en el Ciclo más industrializadas (...) [y] debido a su suprema-
Orientado. Para alcanzar el objetivo propuesto, cía, adquiere un considerable peso de naturaleza
se tomarán los aportes de la Glotopolítica (Ar- política que, a su vez, aumenta su poder de pre-
noux, E., 2000), el estatus global y hegemónico sión” (2009: 37).
del inglés (Canale, G., 2011) y los enfoques so- Desde la Glotopolítica, las políticas lingüís-
bre la enseñanza de la lengua extranjera. Se harán ticas responden a las demandas sociales (Arnoux,
puntualizaciones sobre los ejes planteados en un E., 2008), lo que implica “participar e intervenir
marco de planificaciones lingüísticas en el siste- en determinados ámbitos sociales, culturales,
ma educativo formal. Esta presentación se políticos y económicos, relacionarse y formar par-
centrará en el análisis de los contenidos curricu- te de las prácticas culturales de los diversos gru-
lares de la sección “Lengua extranjera” en el nivel pos juveniles y prepararse para los desafíos del
secundario; dentro del Ciclo Orientado, solo se mundo laboral”3. Así, resulta evidente que las
estudiarán las orientaciones en “Lengua” y “Eco- planificaciones lingüísticas de la Provincia deben
nomía y Administración”; la primera se analiza- promocionar la enseñanza de la lengua extranjera,
rá por ser nuestra área de estudio y la segunda, atendiendo a factores políticos y socio-econó-
por ser la más adoptada por las escuelas de la micos. La representación hegemónica del inglés,
Provincia. básicamente, se debe a un conjunto de estrategias
En este mundo globalizado, las políticas lin- que la posicionan como la lengua franca en la
güísticas promueven la enseñanza de las lenguas actualidad.

1
Esta presentación cuenta con el aval del profesor Lic. Martín Tapia Kwiecien (FL–UNC)
2
En la provincia de Córdoba, hay 313 escuelas con orientación en Economía y Administración y 14 orientadas en
Lenguas. Datos suministrados por el diario La Voz del Interior, Córdoba, en la nota del lunes 2 de abril de 2012, titulada
“Nuevo plan: La secundaria intenta adaptarse”, disponible en: http://www.lavoz.com.ar/ciudadanos/nuevo–plan–secun-
daria–intenta–adaptarse
(último acceso 22 de mayo de 2013)
3
Ministerio de Educación de la Provincia de Córdoba, Tomo 2, Diseño Curricular del Ciclo Básico de la Educación
Secundaria (2011–2015), pág. 103.

161
PLANIFICACIÓN LINGÜÍSTICA Y • Lengua inglesa y las TIC: su finalidad es la
ANÁLISIS DE LOS CONTENIDOS EN EL de desarrollar las habilidades necesarias para
NIVEL SECUNDARIO: CICLO BÁSICO poder manejar las nuevas tecnologías de
información y comunicación y “ampliar la
La enseñanza de una lengua extranjera o una capacidad de interpretar la realidad y de
segunda lengua (L2), inglés en este caso, en el vincularse de manera independiente con
Ciclo Básico se presenta desde un enfoque inter- otras personas”5.
cultural ya que la adquisición de la L2 permite • El inglés y el discurso literario: su propósito
tener conocimiento de esta otra lengua–cultura4. es el de brindar a los estudiantes un espacio
Para esto, los contenidos curriculares siguen las de sensibilización y encuentro con lo literario
planificaciones lingüísticas establecidas por el a partir de géneros diferentes como la poesía
Marco Común Europeo de Referencia para las y la novela, fomentando así le hábito de la
Lenguas (2001). Lo que es relevante de este pro- lectura.
yecto general de políticas lingüísticas es la presen-
tación de la enseñanza de la lengua extranjera
desde una “perspectiva discursiva e intercultural CICLO ORIENTADO: ORIENTACIÓN
que implica la confrontación de lenguas-cultu- “ECONOMÍA Y ADMINISTRACIÓN”
ras” (Gentile, A. y Sara, M., 2012). De este modo,
los contenidos curriculares muestran como dis- Antes de analizar los contenidos curriculares
cursos la lectura y escritura de textos relaciona- en esta orientación, resaltamos que se presenta al
dos con la vida cultural de países angloparlantes, inglés como lengua extranjera desde las tres di-
poniendo énfasis en la competencia comunicativa. mensiones ya mencionadas en el Ciclo Básico.
Desde un punto de vista comunicativo, Hymes, Así, “la apropiación de L2 se percibe (...) como
D. (1974) acuñó el concepto de “competencia el resultado del montaje de competencias sectoria-
comunicativa”, que va más allá de la competencia les múltiples” (Beacco, J. 2007). Dentro de los
lingüística chomskyana. Para Hymes, lineamientos curriculares de este Ciclo, se pre-
tende que el alumno ponga de manifiesto actitudes
la propuesta de estudiar la competencia co- positivas hacia una lengua–cultura diferente, de-
municativa debería ser superadora de las sarrolle la capacidad de reflexión sobre la lengua
dicotomías que han “partido” a la lingüísti-
ca desde sus comienzos: en el uso de la
y construya estrategias de aprendizaje para regu-
sociedad se puede ver el sistema de la lengua lar las prácticas de la oralidad, la lectura y la escritura.
funcionando a pleno, se pueden describir las Siguiendo a Klett, E. (2008), la enseñanza de
particularidades individuales (...), se puede la lengua extranjera supone trabajar de manera
abandonar definitivamente la abstracción global con las cuatro competencias básicas, adap-
chomskyana y trabajar con hablantes y
oyentes “no ideales”” (citado por Raiter y
tando los contenidos a las necesidades de los
Zullo, 2004: 76). alumnos. En esta orientación, se fomenta que el
alumno desarrolle las habilidades lingüísticas,
Siguiendo esta perspectiva de las competen- pragmáticas y sociolingüísticas para la compren-
cias, las planificaciones lingüísticas promueven sión y la producción de textos orales y escritos; y
al inglés dentro de las siguientes dimensiones: que el alumno asuma una actitud autónoma y crí-
tica como lector mediante el acceso a los textos
• Lengua de comunicación: su objetivo es que informativos de interés general y específico. Asi-
los alumnos comprendan y produzcan enun- mismo, se le otorga a la L2 una visión utilitaria
ciados conforme a la situación comunicati- ya que se le confiere un papel exclusivo de ins-
va en la que se encuentren. trumento al servicio de la comunicación (Klett,

4
Dentro de los contenidos curriculares analizados, se habla de lengua-cultura cuando se hace referencia a las lenguas
extranjeras ya que ambos conceptos están interrelacionados y no pueden analizarse aisladamente.
5
Ministerio de Educación de la Provincia de Córdoba, Tomo 2, Diseño Curricular del Ciclo Básico de la Educación
Secundaria (2011–2015), pág. 104

162
2008), por lo que se pretende que los alumnos ENFOQUE SISTÉMICO-FUNCIONAL EN
interactúen con los diferentes soportes propios de LA ENSEÑANZA DE LENGUA
las nuevas tecnologías, tales como las páginas EXTRANJERA
web, blogs y chats, entre otros.
Teniendo en cuenta el análisis de los conte-
nidos curriculares del nivel medio de la provincia
CICLO ORIENTADO: ORIENTACIÓN de Córdoba, se consolida la enseñanza del inglés
“LENGUAS” con los aportes del modelo sistémico-funcional
de la lengua propuesta por M. A. K. Halliday
En esta orientación, al igual que en la de “Eco- (1993). Es un modelo complejo, pues es impres-
nomía y Administración”, se definen tres ejes cen- cindible seleccionar, modificar e identificar géne-
trales para la enseñanza y el aprendizaje de esta ros y estructuras relevantes conforme a las activi-
lengua–cultura: dades en el aula.
La preferencia por este enfoque se debe a que,
• Prácticas sociales de comprensión y produc- por un lado, los profesores trabajan con textos
ción en lengua–cultura en relación con los auténticos y, por otro, se contribuye a la enseñanza
ámbitos de experiencia de los estudiantes. de una lengua extranjera en situaciones reales en
Involucra los saberes y prácticas relaciona- las que los alumnos hacen uso de las distintas
dos con la comprensión y producción de tex- posibilidades para expresar sus ideas en L2 con-
tos orales y escritos pertenecientes a diver- forme a los distintos factores contextuales (Dere-
sos géneros discursivos. wianka, B., 2012).
• Incorporación de las TIC en las prácticas Cada elección implica poner en uso la lengua,
sociales de comprensión y producción en lo cual implica, según Halliday, la existencia
lengua–cultura inglesa, se torna necesaria simultánea de tres metafunciones.
para su enseñanza y aprendizaje, ya que per-
mite el intercambio entre los estudiantes y • La función ideativa, relacionada con la repre-
la L2. sentación de la realidad y su interpretación.
• Apropiación reflexiva de las reglas que rigen Se subdivide en la lógica y la experiencial,
la lengua, el desarrollo de estrategias de com- que permiten la estructuración del conoci-
prensión y producción y el reconocimiento miento a través del establecimiento y deter-
y análisis sociocultural de esta lengua. minación de relaciones cognitivas (quién, có-
mo, dónde, qué).
Específicamente, la enseñanza de la L2 se re- • La función interpersonal, que implica un otro
aliza desde una perspectiva funcional, pues se con el que se establece una situación comu-
pretende que el alumno fortalezca las actitudes nicativa, una interacción entre hablante y
vinculadas con las relaciones interpersonales y oyente en la que los roles se alternan, modi-
el respeto por las diferencias culturales y lingüís- ficando, en consecuencia, sus actitudes.
ticas a fin de satisfacer las necesidades personales • La función textual, que está al servicio de la
y del entorno. Se enfatiza, particularmente, el uso creación de textos en los que se organizan
del lenguaje en situaciones reales, escogiendo en- las ideas según su contexto y siguiendo las
tre las distintas estructuras de la lengua extranje- pautas de cohesión, para lograr así un
ra y sus respectivas funciones (Larsen-Freeman, producto coherente y adecuado a la situación.
2000; Segade, 2012). Así, esta orientación pro-
mueve en los estudiantes el uso del lenguaje oral A partir de estos conceptos, se deduce que la
y escrito con adecuación a las exigencias de la lengua es un sistema de elecciones en el que los
situación comunicativa para compartir saberes y alumnos, desde su primer contacto con la lengua–
debatir ideas. cultura extranjera, interactúan y desarrollan su
capacidad de crear sentidos según los roles y el
contexto social.

163
En el siguiente cuadro, sintetizamos cómo se curriculares de Córdoba, la perspectiva sistémico-
presenta, en los formatos curriculares y diseños funcional:
Características generales Propuesta de actividades áulicas y extra-áulicas

Ciclo Básico • Taller de escritura: Intercambio epistolar, de e-mails y


“Destinado al aprendizaje de un cuerpo mensajes multimedia con estudiantes de la misma
significativo de contenidos escuela y de otras escuelas provinciales, nacionales o
pertenecientes a uno o más campos del internacionales.
saber, seleccionados, organizados y • Proyecto: Elaboración de un cómic mural.
secuenciados. Promueve una • Abordaje de la producción de relatos y afianzamiento
comprensión integradora de las teorías, del vocabulario y la sintaxis a partir de experiencias de
escritura significativas.
problemas y saberes propios de ese/esos
• Turismo digital a través del recorrido de páginas web
campo/s (...).6
que permitan conocer diversos aspectos de la lengua
inglesa encuadrada en las culturas inglesa y
norteamericana.
• Adecuación de los contenidos a los diversos contextos.

Ciclo Orientado: Economía y • Talleres orientados a la organización de una


Administración cooperativa de trabajo y su inscripción dentro de los
“Esta orientación ofrecerá a los debates contemporáneos de la economía social.
estudiantes oportunidades de (...) • Seminarios: Selección de fuentes de información.
analizar las organizaciones desde su Entrevista a especialistas.
• Ateneos: Abordaje de contenidos organizacionales y
función, estructura y dinámica,
económicos.
comprendiendo su relevancia en el
• Proyecto: Visitas a organizaciones productivas y
sistema social que integran”7 comerciales.
• Simulación de entornos virtuales: simulación de una
organización donde se deben estructurar los sistemas
administrativos integrando los sistemas de
información8.

Ciclo Orientado: Lenguas • Seminarios: entrevistas a especialistas y profesionales


“El hecho de que en el mundo actual las relacionados con el lenguaje, colaborando en la
comunicaciones internacionales (...) y organización de estos eventos.
los avances en los ámbitos científicos, • Proyectos: Abordaje de cuestiones de intercomprensión
tecnológicos, comerciales y sociales se “lengua de escolarización – otras lenguas”. Visitas a
realicen principalmente en inglés, ya asociaciones culturales/ comunitarias y a museos y
otros lugares de interés acompañando a hablantes de
sea en forma presencial o a través de los
otras lenguas.
medios tecnológicos, ha permitido la
• Observatorio: Relevamiento de datos sobre el uso de
adopción de esta lengua en la mayoría extranjerismos en los medios de comunicación o en las
de las escuelas por su potencial como prácticas comunicativas de los jóvenes en las redes
lengua de comunicación sociales.
internacional”9. • Intercambios educativos con escuelas de países
extranjeros en función de las lenguas–culturas que se
enseñen10.

6
Ministerio de Educación de la Provincia de Córdoba, Diseño Curricular Formato del Ciclo Básico
7
Ministerio de Educación de la Provincia de Córdoba, Tomo 5, Diseño Curricular del Ciclo Orientado de la Educación
secundaria, Economía y Administración (Versión definitiva 2012–2015), pág. 2
8
Ministerio de Educación de la Provincia de Córdoba, Tomo 5, Diseño Curricular del Ciclo Orientado de la Educación
secundaria, Economía y Administración (Versión definitiva 2012–2015), págs. 9–10
9
Ministerio de Educación de la Provincia de Córdoba, Desarrollo Curricular, Lenguas Extranjeras/Lenguas
10
Ministerio de Educación de la Provincia de Córdoba, Tomo 6, Diseño Curricular del Ciclo Orientado de la Educación
secundaria, Lenguas (Versión definitiva 2012–2015), págs. 9–10

164
CONCLUSIONES comunicacionales, con el objetivo específico de
la inserción en el mundo laboral. Se pretende,
Debido al estatus global y el poder hegemónico entonces, que el alumno pueda “superar la pre-
del inglés en el mundo, la enseñanza de la L2 sente formulación de la dicotomía que enfrenta
está sumamente relacionada con el desarrollo de la competencia a la actuación” (Hymes, 1971).
las cuatro macro-habilidades, la noción de un sa- Por otro lado, en la orientación “Lenguas”, el
ber utilitario necesario para la inserción en el aprendizaje, además de profundizar los conoci-
mundo laboral y la noción de lengua como mientos y habilidades en cuanto a la lectura y
vehículo intercultural. Ante tales demandas y la escritura, tiene un enfoque tanto cultural como
hegemonía mencionadas, los alumnos tienen el comunicacional. Esta orientación es la que más
deber comunicarse en la lengua franca del siglo se acerca al concepto de lengua-cultura ya que
XXI: el inglés. fomenta no solo el implemento y la mejora de las
Con respecto a la educación impartida en el habilidades ya mencionadas, sino también el
Ciclo Básico, el estudiante comienza a descubrir respeto y las relaciones entre la lengua materna y
los conceptos de “diversidad”, “cultura” y “respe- las demás lenguas extranjeras. En otras palabras,
to por una lengua extranjera”. Se incentiva al los alumnos, al finalizar esta etapa escolar,
alumno en lo que compete a la lectoescritura de deberán ser capaces de comunicarse fluidamente
textos simples para que comience a desarrollar tanto de forma oral como por escrita, interactuar
sus competencias bilingües. Las aptitudes y ha- con usuarios del inglés, nativos o no, de manera
bilidades comunicativas serán los objetivos personalizada o mediante el uso de las TICs, tener
principales para la enseñanza de la L2, acompaña- opinión autónoma y pensamiento crítico con
dos de un contacto fluido con las TIC, que funci- respecto a la L2 y su cultura.
onará como una herramienta de comunicación En la actualidad, habría que desarrollar en los
más que importante para el aprendizaje de los estudiantes una actitud de confianza hacia las
estudiantes. propias posibilidades de comunicación e interés
En las orientaciones analizadas, la diferencia por el conocimiento lingüístico–cultural. Para
reside, principalmente, en los objetivos que cada ello, es preciso fomentar el estudio de diferentes
ciclo propone. En “Economía y Administración”, culturas, lo que implica un crecimiento como
se profundiza y fortalece el aprendizaje de lo persona y como ciudadano dentro de este mundo
estudiado en el Ciclo Básico, como por ejemplo, globalizado. En cada institución educativa, deben
poder contar con un buen estilo de escritura así brindarse situaciones comunicativas y culturales
como con fluidez oral al culminar dicho período en las cuales el alumno pueda comprender y ver
escolar. Esta orientación se focaliza en aspectos el mundo desde diferentes puntos de vista.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALONSO Segade, C. (2012). “Fundamentación epistemo- DEREWIANKA, Beverly (2012). “A Functional Grammar
lógica del enfoque comunicativo en la enseñanza de lenguas for schools”. En VIII Congreso ALSFAL, Montevideo,
extranjeras: una visión cognitivo–personalista”. Didáctica. Uruguay (Pág. 24-32). Disponible en https://
Lengua y Literatura. Vol. 24, 473-487. Disponible en: http:/ w w w. d r o p b o x . c o m / s / e h m s k 3 k s s w 5 k u f f /
/dx.doi.org/10.5209/rev_DIDA.2012.v24.39935 (último VIII%20Congreso%20ALSFAL%20-
acceso: 22 de mayo de 2013) %20Libro%20de%20Conferencia.pdf (último acceso: 22
ARNOUX, E. N. de (2000). “La Glotopolítica: de mayo de 2013)
transformaciones de un campo disciplinar”. Disponible en: FUSTES, J. M. “Glosario de términos relativos a las polí-
http://www.4shared.com/file/u-jUvrOg/10345002.html (úl- ticas lingüísticas en la educación”. http://www.anep.edu.uy/
timo acceso 19 de mayo 2013) documentos/CPLEPA3.pdf (último acceso: 22 de mayo de
CANALE, Germán. (2011). “Discursos sobre la globaliza- 2013)
ción del inglés en la prensa uruguaya actual”. Luis E. Beha- GENTILE, Ana María y Sara, María Leonor (2012). “La
res (comp.) Actas del V Encuentro Internacional de Inves- problematización de las referencias culturales en la
tigadores de Políticas Lingüísticas. Uruguay: Universidad didáctica de la lengua-cultura extranjera”. Castel, Víctor
de La República- Tradinco S. A. M., Estela Klett y Ana M. Filippini, (eds.) Enseñanza de

165
lenguas e interculturalidad. Mendoza: Editorial FFyL- ria/LISTO%20PDF/TOMO%202%20Ciclo%20Bas-
UNCuyo y SAL. (Págs. 23-29). ico%20de%20la%20Educacion%20Secundaria%20web%-
KLETT, Estela (2008) “Ejes para pensar una política de 208-2-11.pdf (último acceso: 22 de mayo de 2013)
las lenguas extranjeras. Una mirada didáctica”. Varela, Lía ______ (2010c). Diseño curricular formato del Ciclo Bá-
(ed.) Para una política del lenguaje en Argentina. Actas sico. Disponible en http://www.igualdadycalidadcba.gov.ar/
del seminario de Lenguas y Políticas en Argentina y el SIPEC-CBA/Dise_Curricular/Formatos_30-03-10.pdf (úl-
Mercosur de 2008. Bs. As.: EDUNTREF Universidad Tres timo acceso: 22 de mayo de 2013)
de Febrero. ______ (2010d). Educación Secundaria. Encuadre Gene-
HALLIDAY, M.A.K and Matthiessen, Christian (2004). An ral. Disponible en: http://www.igualdadycalidadcba.gov.ar/
Introduction to Functional Grammar. Published by Arnold. SIPEC-CBA/publicaciones/EducacionSecundaria/LIS-
Great Britain. Third Edition TO%20PDF/TOMO1EducacionSecundaria%20web8-2-
LARSEN- Freeman, Diane (2000). Techniques and 11.pdf (último acceso: 22 de mayo de 2013)
principles in language teaching. Oxford University Press. ______ (2010e). Educación Secundaria. Orientación
Second edition Economía y Administración. Disponible en: http://
LLOBERA, M., Hymes, D. y otros (2000). Competencia www.igualdadycalidadcba.gov.ar/SIPEC-CBA/publicacio-
comunicativa: documentos básicos en la enseñanza de nes/EducacionSecundaria/LISTO%20PDF/
lenguas extranjeras. Edelsa Grupo Didascalia S.A., Madrid, ORIENTACION%20ECONOMIA%20Y%20ADMINIS-
España TRACION%2017-11-11.pdf (último acceso: 22 de mayo
de 2013)
Ministerio de Educación de la Pcia. de Córdoba (2010a).
Desarrollo curricular de la Educación Secundaria, Lenguas ______ (2010f). Educación Secundaria. Orientación
Extranjeras/Lenguas. Disponible en: http://www.igualdady- Lenguas. Disponible en: http://www.igualdadycalidad-
calidadcba.gov.ar/SIPEC-CBA/areas/area1/gestioncur- cba.gov.ar/SIPEC-CBA/publicaciones/EducacionSecunda-
ricular/lenguasextranjeras.php# (último acceso: 22 de mayo ria/LISTO%20PDF/ORIENTACION%20LENGUAS.pdf
de 2013) (último acceso: 22 de mayo de 2013)

______ (2010b). Diseño curricular de Educación Secun- ORTIZ, Renato (2009). La supremacía del inglés en las
daria. Disponible en: http://www.igualdadycalidad- ciencias sociales. Siglo Veintiuno Editores. Buenos Aires,
cba.gov.ar/SIPEC-CBA/publicaciones/EducacionSecunda- Argentina

166
REFLEXÕES SOBRE POLÍTICAS DE (NÃO) VALORIZAÇÃO E (NÃO)
PROMOÇÃO DA LÍNGUA ITALIANA DOS IMIGRANTES

Juciane Ferigolo Parcianello


Universidade Federal de Santa Maria

Neste trabalho buscamos realizar alguns ques- uma “instituição que congregasse os descenden-
tionamentos e reflexões, a partir de recortes de tes de italianos residentes em Santa Maria” (cf. o
textos estatutários, sobre o discurso que postula texto A História da AISM3). Instituiu-se, assim, a
as ações e os objetivos de duas instituições de Sociedade de cultura ítalo-brasileira Dante
fomento da língua italiana, a saber, a Sociedade Alighieri.
de cultura ítalo-brasileira Dante Alighieri, fun- Com relação ao objetivo primeiro da socieda-
dada em 1985, e a Associação Italiana de Santa de, “promover a difusão da cultura e língua itali-
Maria, fundada em 1992, ambas na cidade de ana no Brasil”, não está explicitado no texto a
Santa Maria, sendo esta sucessora daquela. qual cultura e a qual língua italiana se está fazen-
No começo dos anos 80, do século XX, devi- do referência, se à cultura construída e nutrida
do aos movimentos, manifestações e protestos nas colônias e regiões de imigração — que não é
contra a falta de liberdade de expressão e contra uma cultura una, homogênea, geral — ao longo
a intolerância racial, religiosa, étnica e cultural – de mais de um século, ou se à(s) cultura(s) da
momento de reivindicação pela abertura política Itália desta época. O mesmo acontece com a difu-
e pelo retorno da democracia - também come- são da língua italiana, cuja referência não está
çam a surgir novos modos de olhar a diversidade clara, no texto, se é a(s) língua(s) trazida(s) pelos
linguística e cultural do país1. Os debates em tor- imigrantes ou se a(s) língua(s) italiana (s) da Itália.
no da “preservação” e da valorização do patrimô- Entendemos que essas lacunas, essa ausência
nio cultural e linguístico dos imigrantes aumen- de clareza no texto do estatuto são características
tam e ganham muita relevância nos meios acadê- do discurso político sobre a língua e sobre a cul-
mico, administrativo e de comunicação. Ante tal tura. Nesse discurso a ausência de explicação dos
cenário, as sociedades italianas (re)tornam2 a fun- fatos e das ações se justifica pelo contrassenso
cionar, porém, com objetivos bastante diferenci- imanente a ele (ao discurso). Sempre se busca
ados daqueles das antigas instituições mutualistas. afirmar o “inafirmável”, dar direito a, dar voz a,
O foco de interesse, nessa ocasião, passa a ser a dar vez a quem o sistema tolhe esse direito, pre-
“proteção”, a valorização da língua e da cultura servar, proteger, conservar o que não pode ser
dos imigrantes italianos e descendentes, já que protegido e difundir, divulgar, propagar aquilo
foram, por praticamente 40 anos, alvo de contro- que não pertence a ninguém e ao mesmo tempo
le e combate. pertence a muitos, aquilo que não pode ser coisifi-
Em 1985, considerando o panorama acima cado, objetivado, controlado, porque constitui o
exposto e em virtude das comemorações pela pas- sujeito e não está fora dele, como é o caso da
sagem do centenário da Imigração Italiana, no es- língua. O discurso político sobre a língua é, nes-
tado, um grupo de descendentes decidiu (re)criar se sentido, contraditório por natureza4.

1
Não que não existissem opiniões favoráveis à diversidade cultural e linguística antes desse período. Elas existiam sim, no
entanto, não tinham a força necessária para influenciar a opinião pública e os órgãos estatais.
2
O período que vai de meados da década de 1930 até fins da década de 1940 compreende o chamado Estado Novo, sob a
liderança de Getúlio Vargas. Sua política nacionalista amparada, dentre outros pilares, num monolinguísmo exacerbado,
foi a responsável pelo fechamento ou troca de nome da maioria das Sociedades italianas de socorro mútuo e recreativas. Os
efeitos dessa política nacionalista e protecionista da língua nacional perduraram por longos anos, mesmo após a derrocada
do Estado Novo.
3
Texto disponível em: http://www.aism.com.br/site/areadinamica/26/10/a-historia-.html
4
No trabalho de tese que está sendo desenvolvido aprofundamos as discussões em relação ao discurso político sobre a
língua.

167
Em linhas gerais, podemos considerar que o Com relação aos objetivos da Associação, o
escopo da Sociedade de cultura ítalo-brasileira texto do estatuto enfatiza a realização de ativida-
“Dante Alighieri” é estabelecer um elo entre uma des, eventos e promoções envolvendo os imigran-
região, no caso a região de Santa Maria, de colo- tes italianos e descendentes e destaca a celebra-
nização italiana e o país de onde vieram os imi- ção, divulgação, estudo e “cultivo” da língua e da
grantes colonizadores, já que as demais ações vi- cultura italiana — tomada como una, homogênea.
sadas acabam sendo relegadas a um segundo pla- Até então, nos estatuto, não se fazia referên-
no, dada a dificuldade ou a impossibilidade de cia, especificamente, à questão da valorização e
colocá-las em prática. do ensino da língua italiana. Esse item, sendo o
No entanto, é fundamental, politicamente, para primeiro da lista de objetivos, ganha importância
a Sociedade que ela se reconheça e seja reconhe- capital, passando a funcionar como o carro chefe
cida como um órgão que valoriza e divulga a cul- da Associação. Mas, o que tal medida significa
tura e a língua italiana da região, pois é para isso na prática? Quais as implicações de se ensinar e
que foi criada. de se cultivar a língua e a cultura italiana?
A Sociedade de cultura ítalo-brasileira “Dan- Para se ensinar uma língua é preciso, primei-
te Alighieri” desenvolveu suas atividades até co- ramente, que ela esteja sistematizada, organiza-
meços de 1992, quando o corpo de sócios deci- da, estruturada na forma de instrumentos linguís-
diu por realizar uma mudança de nome e, conse- ticos, conforme defende Auroux (1992). Em ou-
quentemente, uma mudança estatutária. Consta tras palavras, ensinar uma língua, em qualquer
no texto do estatuto, oficializado e registrado em instituição, seja ela controlada pelo Estado ou não
cartório no dia 23 de março de 1992, a seguinte — e todas as instituições de ensino são de algum
disposição: modo controladas pelo Estado, embora em algu-
mas delas se crie um efeito de independência ad-
Art. 1o – A Sociedade de Cultura Ítalo-bra- ministrativa e jurídica total — demanda o uso,
sileira “Dante Alighieri”, fundada em 25 de em sala de aula, de livros didáticos, de gramáti-
julho de 1985, na cidade de Santa Maria,
Estado do Rio Grande do Sul, com sede e
cas, de dicionários, de glossários, de compêndi-
foro nessa cidade, registrada no Cartório de os etc. Isso já nos serve de indicativo de que a
Ofício dos Registros Especiais sob o n. 404, língua italiana referida no texto do estatuto não é
fl. 68 – Livro A, n. 3 de 6 de setembro de aquela(s) falada(s) pelos descendentes de imi-
1985, nos termos da legislação vigente, é uma grantes da região, devido à condição de dialeto
Associação Civil regida pelo estatuto em vi-
gor, sem fins lucrativos, com duração por
que lhe(s) é atribuída e a carência de instrumen-
tempo indeterminado e passa, de ora em di- tos para o ensino formal. Se pensarmos que lín-
ante, a denominar-se “Associação Italiana gua e cultura são categorias inseparáveis, e que o
de Santa Maria”. ensino de uma língua não é uma ação isolada do
ensino da cultura, concluiremos que a cultura ita-
Assim como a Sociedade de cultura ítalo-bra- liana a ser ensinada e cultivada não é, também, a
sileira “Dante Alighieri” também a Associação construída pelos imigrantes italianos e descendentes.
Italiana de Santa Maria tem seu nome em portu- Em segundo lugar, o ensino de língua requer
guês e não em italiano como a Società di Mutuo planejamento linguístico (CALVET, 2007), e con-
Soccorso. Isso evidencia que tanto a cultura, sequentemente, uma política linguística que ori-
quanto a língua já não são consideradas exclusi- ente esse planejamento. E é justamente nessas
vas italianas, tal como se considerava na época duas ações — de elaborar uma política para a lín-
da grande imigração, mas uma cultura e uma lín- gua e de pensar como esta será implementada –
gua italianas constituídas no Brasil, ao longo de que o Estado acaba, de algum modo interferindo
mais de dez décadas. A designação da sociedade e ditando suas regras. Assim, para se ensinar uma
ou da associação italiana em português significa, língua, em espaço institucionalizado, faz-se ne-
nesta circunstância, a aceitação de uma identida- cessário, em alguma circunstância o aval do Es-
de ítalo-brasileira tanto para si, quanto para seus tado. Isso também anuncia que uma língua com
integrantes. status de dialeto não será objeto de ensino for-
mal, porque o Estado não o autoriza.

168
De antemão, podemos prever que, mesmo sen- mete à circunstância sócio-histórica da imigra-
do uma Associação italiana, com sede numa re- ção italiana e ao universo cultural construído a
gião colonizada por italianos, que busca represen- partir dela.
tá-los e congregá-los, a língua a ser ensinada em O propósito expansionista da AISM também
suas dependências não é que os imigrantes e des- se evidencia no projeto de agregar várias associ-
cendentes falam (ou falavam) e a cultura a ser ações italianas para formar uma federação. Isso
difundida e cultivada não é a que significa o uni- daria maior visibilidade a AISM e a colocaria em
verso das vivências, crenças, hábitos e valores relação com outras tantas associações, possibili-
dos imigrantes e descendentes. tando, dessa forma, um crescimento no número
Por outro lado, vislumbramos, no texto do es- de sócios e participantes das atividades desen-
tatuto, a preocupação com a preservação do “pa- volvidas por ela.
trimônio cultural dos imigrantes e seus descen- O estatuto social aprovado e registrado em
dentes”, com a criação de “Grupos Regionais Ita- cartório, em 22 de março de 1992, teve validade
lianos dentro da própria Associação, onde cada até outubro de 2005, quando ocorreu uma nova
região manterá e cultuará o seu dialeto e seus reformulação, desta vez, sem haver troca no nome
hábitos e costumes”, e com a promoção de fes- da entidade. Dessa reestruturação resultou uma
tas, “competições esportivas e outras atividades Associação com finalidades ainda mais voltadas
sociais, culturais e recreativas, sempre em ambi- para o ensino de língua italiana e para o estreita-
ente de italianidade”. mento das relações com a Itália. Vejamos:
Com esse trabalho voltado ao congraçamento
dos imigrantes e à valorização de sua história, de Art. 2o – São objetivos da Associação:
suas tradições e de seu patrimônio material e ima- a) – Realizar, sob sua responsabilidade dire-
ta, iniciativas lingüístico-culturais (cursos de
terial, a AISM se faz, legalmente, representante língua e cultura italiana);
da comunidade italiana da região. b) – Promover o desenvolvimento e o inter-
A Associação conjuga, então, passado — re- câmbio cultural, literário e científico entre o
presentado pela exaltação, comemoração, cele- Brasil, a Itália e outros e o congraçamento
bração da história e da cultura dos imigrantes — da coletividade ítalo-brasileira da região de
Santa Maria, neste Estado do Rio Grande do
e presente, pela relação institucional que estabe- Sul;
lece com o Consulado italiano, com universida- c) – Organizar, promover, realizar e apoiar o
des e centros de estudo da Itália, para a realiza- desenvolvimento de cursos de formação e/
ção de intercâmbios, de conferências, de pales- ou profissionalizantes;
tras etc., e com outros órgãos que auxiliam os d) – Promover festividades, competições es-
portivas e outras atividades sociais, culturais
descendentes no reconhecimento da cidadania ita- e recreativas, sempre em âmbito de italiani-
liana. dade;
Nesse presente — tempo representado pelo e) – Organizar e manter bibliotecas, corais,
aqui e agora da enunciação do estatuto - os obje- bandas típicas, grupos de dança;
tivos da AISM se mostram resultantes de um pro- f) – Estimular a criação de Grupos Regio-
nais Italianos em Santa Maria e facilitar sua
jeto expansionista, o qual busca estabelecer vín- reunião no âmbito da Associação;
culos institucionais com a Itália e não apenas g) – Criar e agregar Núcleos ou Associações
torná-la objeto de aclamação e de homenagem Italianas nas cidades circunvizinhas de San-
por seu lugar de pátria-mãe dos imigrantes que ta Maria, podendo transformar-se numa Fe-
se instalaram na região. E um dos modos de esta- deração de Associações Italianas da região
da Grande Santa Maria ou Região Centro do
belecer esse contato é pelo ensino da língua itali- Estado do Rio grande do Sul;
ana, sendo ela o toscano, língua oficial do país h) – Fiscalizar projetos de obras de arte e
Itália. Estabelece-se, com isso, uma política lin- arquitetura tipicamente italianas para que
guística de difusão e valorização da língua italia- sejam coerentes com o estilo original, em
na da Itália e não da(s) língua(s) italiana(s) da convênio com a Prefeitura Municipal ou ór-
gão público afim;
Quarta Colônia, embora essa escolha linguística i) – Auxiliar e orientar os associados na bus-
(do italiano da Itália) não seja, no discurso do ca do reconhecimento da cidadania italiana;
estatuto, da ordem da evidência, porque ele re-

169
j) - Propiciar visitas de personalidades itali- ordenadora pedagógica da AISM). Disso decor-
anas. re que o planejamento do ensino — planejamen-
Parágrafo único – Para a realização da fi-
nalidade prevista no item a deste artigo, a
to linguístico com base em uma política
entidade levará em conta as indicações do linguística — se constrói na e pela parceria entre
Consulado relativas aos planos de ação pre- a AISM e os órgãos responsáveis da Itália, que
vistos e executados para a melhoria da ofer- estão representados pelo Consulado.
ta de ensino e poderá fazer parcerias com A Associação Italiana de Santa Maria tem,
outras associações.
portanto, suas atividades voltadas para o contato
A Associação, com tal reforma estatutária, com o mundo italiano atual e não com o (imagi-
abandona de vez a função assistencialista que a nado) mundo italiano da região da Quarta Colônia.
aproximava, em termos de finalidade, da antiga Suas ações bem como seu modo de apresenta-
Società Italiana di Mutuo Soccorso e Ricretaiva. ção frente à comunidade criam um efeito de va-
Já não é prioridade da AISM “dar apoio moral e lorização do passado, de volta às origens, de re-
assistência social aos italianos carentes e seus gresso ao universo da imigração italiana e a tudo
descendentes” (1985, p.1), porque enquanto as- o que esta representa, porém, é com a Itália, com
sociação ela precisa adequar-se às disposições do sua cultura, com sua gente, com sua língua que a
Código Civil Brasileiro, postas em vigor em ja- Associação estabelece relações e que busca as
neiro de 2003: não ter fins lucrativos e voltar suas referências para os qualificativos “italiano/italiana”.
atividades para o grupo de sócios. No que tange ao ensino da língua italiana,
Por outro lado, percebemos uma continuida- muitos alunos, que são filhos, netos, bisnetos de
de no projeto de incentivar, divulgar e valorizar a imigrantes, se dirigem à Associação para apren-
organização de eventos, festividades, encontros der a língua de seus pais, avôs, bisavôs, mas, che-
que tematizem a cultura italiana e que estejam gando à sala de aula, se frustram porque perce-
sempre em “âmbito de italianidade”. Não se toca, bem que se trata de outra língua italiana, língua
porém, na questão da imigração e não se faz re- esta que não os remete às origens, que não os
ferência alguma à história dos italianos da região leva de volta ao passado, às histórias contadas e
e ao lugar que eles ocupam na e para a Associa- cantadas pelo nono e pela nona, enfim, que não
ção. Que italianidade seria esta, então? constitui sua memória (HALBWACHS, 1990).
Estamos questionando, com essas observa- O ensino da língua é direcionado, pois, para a
ções, o fato de nenhum dos objetivos da AISM se realização de intercâmbios, de viagens de estu-
voltar para a realização de atividades que bus- do, para auxiliar estudantes e pesquisadores na
cam a valorização e a divulgação da cultura itali- leitura de textos em italiano e para outras finali-
ana da região, já que seu propósito inicial era jus- dades específicas. Como a AISM tem vários con-
tamente esse. Nesta medida, o que, quem ou qual vênios com instituições da Itália, muitas pessoas
coletividade a Associação pretende representar? se associam a ela com o intuito de realizar um
Qual a referência do determinante “italiana” que intercâmbio. Vale ressaltar que para ser aluno dos
integra o nome da Associação? cursos ofertados é preciso ser sócio. Há, portan-
Fica evidente, no texto do estatuto, o interesse to, em funcionamento, uma política linguística
em estreitar os laços institucionais com a Itália, de difusão do italiano pensada e viabilizada pe-
também por meio da realização de cursos de for- los órgãos representantes do Estado italiano, o
mação para os professores que ensinam língua qual tem na AISM uma parceira para tal empre-
italiana na instituição. endimento.
Para cumprir com as exigências do Consula-
do italiano, órgão que faz as indicações “relati-
vas aos planos de ação previstos e executados para CONSIDERAÇÕES FINAIS
a melhoria da oferta de ensino” (cf. o estatuto de
2005), todos os professores de italiano da Asso- Latu sensu, a Associação Italiana de Santa
ciação devem fazer, periodicamente, curso de Maria é pensada e concebida como uma entida-
capacitação e formação docente em colégios e de civil “que visa à preservação da cultura trazida
institutos da Itália (cf. informação dada pela co- pela imigração italiana ao Brasil, em especial, à

170
Quarta Colônia de Imigração Italiana do RS, des- matividade que estabelece (desigualmente) uma
de o séc. XIX” (cf. o texto Sobre a AISM5), ou divisão do real e a afirmação de pertencimento
seja, sua criação enquanto instituição civil se de- dos que não estão incluídos. Desse modo o polí-
veu, principalmente, à necessidade de haver na tico é um conflito entre uma divisão normativa e
região um órgão não governamental que promo- desigual do real e uma redivisão pela qual os de-
vesse ações de fomento, de valorização e de di- siguais afirmam seu pertencimento” (p.16).
vulgação da cultura italiana trazida pelos imigran- Se a língua ensinada nos cursos da AISM não
tes. Sendo assim, é coerente pensar que nos cur- é a língua dos imigrantes italianos e/ou a de seus
sos ofertados pela AISM se ensinará alguns dos descentes, logo, não é ele, sujeito real, habitante
principais dialetos falados na região da Quarta da Quarta Colônia, que está sendo representado
Colônia de Imigração Italiana ou pelo menos na “coletividade ítalo-brasileira”, mas um sujei-
aquele(s) que é (são) mais falado(s) na região, to ideal que habita o imaginário de uma coletivi-
como é (seria) o caso do vêneto ou do friulano. dade e se identifica, se representa, se significa
No entanto, a língua ensinada/divulgada é o ita- por uma língua una, homogênea, que é o italiano
liano toscano, língua oficial da Itália. língua oficial da Itália.
Mesmo que se afirme, no discurso estatutário A AISM é, nesta medida, uma entidade civil
da AISM, a importância da “preservação” dos que afirma o pertencimento, a inclusão do sujei-
hábitos, costumes, crenças, língua dos imigran- to imigrante italiano da Quarta Colônia a uma
tes/descendentes, o ensino da língua oficial da cultura que ela celebra e divulga, porém, e ao
Itália em detrimento de um ou de vários dialetos mesmo tempo, o exclui, pela não inclusão de sua
marca um lugar de contradição nesse discurso. língua, pela não inclusão de sua história – já que,
Tomamos essa contradição como o político, que conforme Orlandi, “não há sentido possível sem
nas palavras de Eduardo Guimarães (2002), é história, pois é a história que provê a linguagem
caracterizado como a discrepância de “uma nor- de sentido, ou melhor, de sentidos” (2007. p.57).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSOCIAÇÃO ITALIANA DE SANTA MARIA. A His- CALVET, Louis-Jean. As políticas lingüísticas. São Pau-
tória. Disponível em: <http://www.aism.com.br/site/ lo: Parábola, 2007.
areadinamica/26/10/a-historia-.html>, acesso 05 nov 2011. GUIMARÃES, Eduardo. Semântica do Acontecimento.
______. Estatuto Social. Santa Maria, 1992. São Paulo: Pontes, 2002.
______. Estatuto Social. Santa Maria, 2005. HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Pau-
______. Sobre a AISM. Disponível em: <http:// lo: Edições Vértice, 1990.
www.aism.com.br/site/areadinamica/26/10/sobre-a- ORLANDI, Eni. Língua brasileira e outras histórias:
aism.html>, acesso 13 abr 2011. discurso sobre a língua e ensino no Brasil. Campinas: RG,
AUROUX, Sylvain. A Revolução Tecnológica da 2007.
Gramatização. Campinas: SOCIEDADE DE CULTURA ÍTALO-BRASILEIRA
Editora da Unicamp, 1992. “DANTE ALIGHIERI”. Estatuto social. Santa Maria,
1985

5
Disponível em http://www.aism.com.br/site/areadinamica/3/10/sobre-a-aism.html

171
UNA POLÍTICA LINGÜÍSTICA PARA LA
ESCRITURA ACADÉMICA EN LA UNIVERSIDAD

Liliana I. Pérez*
Patricia G. Rogieri*
Universidad Nacional de Rosario

En la Facultad de Humanidades y Artes de la discursivas disciplinarias y para desarrollar las


Universidad Nacional de Rosario se implementa actividades de producción y análisis de textos
desde el año académico 2012 el Programa Univer- requeridas, con el fin de indagar y generar conoci-
sitario de Alfabetización y Escritura Académica, miento en la Universidad. Y es en este sentido en
dependiente de la Secretaría Académica de esa el que modo de decir y modo de pensar consti-
Institución. El Programa se sustenta en un con- tuyen una unidad indisoluble para la escritura
junto de investigaciones que sus Directoras han académica. Es decir, los paradigmas de investi-
conducido en los últimos veinte años y que han gación, en este marco de consideraciones, confor-
permitido el diagnóstico de los déficits lingüísti- man sistemas básicos de creencias fundados en
cos derivados de las políticas del lenguaje imple- supuestos ontológicos, epistemológicos y meto-
mentadas por el Estado nacional a través del sis- dológicos (Guba y Lincoln 1994). Un paradigma
tema educativo argentino. Las investigaciones de investigación puede considerarse, entonces,
han conducido a focalizar la atención en el hecho una serie de creencias fundamentales que se vin-
de que el ámbito universitario expone prácticas culan con los principios últimos y primeros de la
lingüísticas y de pensamiento propias y que el disciplina. En consecuencia, las creencias son bá-
proceso por el que se llega a participar de esta sicas en el siguiente sentido: deben ser aceptadas
esfera exige la apropiación de sus formas de únicamente por fe (es decir, en ningún caso depen-
razonamiento y sus convenciones discursivas. den exclusivamente del grado de articulación te-
En primera instancia, el Programa se sostiene órica y de la coherencia argumentativa que pre-
en un supuesto organizador del marco conceptual senten). No existe modo alguno de establecer que
que consiste en afirmar que los modos de leer y constituyan ni la verdad última ni la primera. Por
los modos de escribir universitarios difieren de ello no hay modo apropiado de elevar a un para-
acuerdo con la disciplina implicada. En una se- digma por encima del otro (según la lógica de la
gunda instancia, conforme a los resultados de las superación) sobre la base de un criterio de lo que
investigaciones aludidas, se ha formulado un di- es último y fundamental. En definitiva, los para-
agnóstico de la formación lingüística de los in- digmas de investigación definen para los investi-
gresantes a la Universidad y de su impacto en la gadores qué están haciendo y qué cae dentro y
escritura académica, uno de los factores de des- fuera de los límites de aquello que es posible con-
granamiento y de extensión de la cursada de las siderar como una investigación legítima. Cual-
carreras universitarias que se dictan en la Facultad.1 quier paradigma dado representa simplemente el
El término escritura académica, conceptualiza- punto de vista más “informado y sofisticado” al
do como el modo de decir propio de cada opción que hayan podido llegar quienes lo proponen, de
epistemológica, ontológica y metodológica asu- acuerdo con el modo en que han elegido responder
mida en cada campo del saber, reúne un conjunto a las tres preguntas definitorias (ontológica,
de nociones y estrategias que resulta imprescin- epistemológica, metodológica). Esas respuestas
dible desarrollar para formar parte de las prácticas son, en todos los casos, construcciones humanas,

*
Programa Universitario de Alfabetización y Escritura Académica, Secretaría Académica, Facultad de Humanidades y
Artes
1
En la Facultad de Humanidades y Artes de la Universidad Nacional de Rosario se cursan las carreras de Profesorado y
Licenciatura en Letras, Historia, Filosofía, Antropología, Portugués, Música, Ciencias de la Educación y Bellas Artes,
además del Traductorado en Portugués.

173
construcciones que en el marco conceptual del gura que es. La escritura por lo tanto no resulta
Programa definen figuraciones (Pérez y Rogieri un sistema de transcripción de segundo grado, que
2012), invenciones históricas sujetas al desarrollo traduce a símbolos gráficos los símbolos de la
histórico de las disciplinas, las decisiones de pa- oralidad, pensados a su vez como transcripción
res, los contextos institucionales y el error huma- de los pensamientos; no supone dar forma a
no. Para imponer su respuesta, los defensores de contenidos previos e independientes de ella y ella
cada paradigma se deben basar en el poder de misma no se considera ornato añadido al cuerpo
persuasión, en el poder de producción de cre- desnudo de la idea. En definitiva, se disuelve la
encias y, por ejemplo, en la utilidad de su posición, distinción forma-contenido en la medida en que
más que en fenómenos “observables”. no existe contenido independiente de la forma que
Bajo este marco no es posible tratar la com- lo figura.
prensión y producción de textos académicos pa-
sando por alto los paradigmas de investigación
en los que la escritura académica se inscribe. Los ACERCA DE LA INVESTIGACIÓN, LOS
textos, en tanto producto de la escritura acadé- MODOS DE DECIR Y LA/S RETÓRICA/S
mica, condensan la memoria cultural del género DE LA INSTITUCIÓN
que los expresa y les asigna interpretación. Asu-
mir que lo que una teoría es depende del para- El marco conceptual del Programa está arti-
digma de investigación adoptado implica con- culado a partir de una serie de conceptos clave:
siderar que las culturas particulares que subsumen punto de vista, mediación/figuración, regulativo/
determinan formas de pensar y escribir, diversas constitutivo, dimensión argumentativa de la pala-
instancias de validación retórica de los saberes. bra, género discursivo, creencia, sujeto cultural,
Ello conduce, además, a considerar que no hay decir institucional y retórica/s de la institución.
contenidos independientes de las formas. Por lo Esta presentación se centra en la figuración, un
tanto, para generar una escritura académica es concepto regulador que supone un desplaza-
relevante coordinar conocimiento del tema con miento desde el horizonte de un lenguaje cero (la
exigencias retóricas disciplinarias y de paradig- representación original del “mundo”), y las
mas científicos, es decir, con coordenadas situa- consecuentes versiones derivadas de él, hacia la
cionales que impliquen al destinatario y a los pro- performatividad de la palabra. Ella disuelve la
pósitos de la escritura. En definitiva, sólo es po- distinción original/versión y propone la
sible leer en el marco de problemas que son dis- legitimidad de las versiones conforme al cruce
ciplinares y cada disciplina implica un espacio elegido, en cada caso, entre el paradigma, las
conceptual, uno discursivo y uno retórico. teorías y sus particulares retóricas del saber. Una
Así planteada la cuestión de la escritura aca- consecuencia derivada de este desplazamiento se
démica, la tríada performatividad-sinécdoque- instancia en la disolución del par forma-contenido
efecto de verosimilitud emerge como la naturaleza y la asunción de la retórica del decir institucional,2
distintiva del lenguaje humano, un orden lingüís- y se asienta en la siguientes ideas:
tico para explicitar el modo de fijar creencias y
es en este sentido en el que la representación da a) los modos de indagación en la investigación
paso a la figuración. Ella no opera como la aplica- son propios del cruce entre los paradigmas
ción de una forma sobre el contenido lingüístico y las disciplinas, y plantean formas de co-
sino como el único modo de existencia posible municación escrita consecuentes (de allí el
del lenguaje. El mundo es lo que el lenguaje fi- concepto de retórica de la institución);

2
El canon instaurado por Cicerón, latinizado, conceptualiza el lenguaje como un medio de construcción de lo real. Así, la
estructura argumentativa describe una forma, una figura, guiada por una finalidad: la persuasión. Esta finalidad asume la
función de ajuste entre lo comunicable y su estructura en la medida en que la superficie del lenguaje es figura, vale decir,
forma de construcción de lo real siempre que lo real sea compatible con lo apto para persuadir y la oportunidad para
hacerlo (siempre que esa forma esté controlada por la fides retórica, esto es, por la fe, por la creencia que es capaz de
suscitar la palabra).

174
b) modo de decir y modo de conceptualizar gismo planteado con colegas, escritos previos
son dos caras de la misma operación en la propios y ajenos, teorías en discusión en el mismo
actividad de investigación (de allí el con- paradigma, paradigmas en pugna, temas, tópicos
cepto de figuración). y problemas en el sistema de creencias (Pérez y
Rogieri 2012).
En el Primer Ciclo del Programa se realiza la En el Segundo Ciclo del Programa se inter-
intervención lingüística sobre el orden de la alfa- viene sobre la escritura académica. Este ciclo se
betización académica. En particular, se interviene organiza sobre la base de: 1. el análisis crítico de
sobre los tópicos formulados a partir de los re- las implicancias en la comprensión y producción
sultados de una serie de investigaciones especí- de textos académicos de la formación de base de
ficas sobre los escritos de los ingresantes a la Uni- los estudiantes en torno de la distinción fondo-
versidad.3 Se centra la intervención en la distri- forma, concepción instrumental de la palabra,
bución de la información y la prominencia de ar- homologación género-tipo textual, sinonimia de
gumentos en la frase (la oración es aquí el dominio las opciones paradigmáticas sostenidas en la dis-
de intervención). En esta dirección, el Programa tinción denotación-connotación, y 2. la construc-
busca equilibrar los tipos de análisis identificati- ción de los conceptos organizadores del diseño
vos y constructivos, manteniendo sus propiedades de los materiales de intervención lingüística a
distintivas y la particular relevancia que en cada partir de: a. la distinción significado/sentido, b.
desarrollo temático requiera. Con estos linea- oración/enunciado, c. reconocimiento/compren-
mientos, abordar la organización de la frase su- sión, d. sujeto lingüístico/sujeto cultural, e. la per-
pone una primera entrada según la cual — si se formatividad, como efecto inherente y constitu-
considera que ella expresa una predicación — la tivo de la enunciación, f. la verosimilitud genéri-
presencia de argumentos, la omisión, la presupo- ca, como el efecto de la circulación social de la
sición y el orden en que los argumentos ocurren palabra, g. la sinécdoque, como la única operación
provocan efectos de sentido explicitables con la posible que el sujeto hablante puede realizar con
intervención docente sobre el orden de la redac- el lenguaje para re-presentar verbalmente el mun-
ción. En este orden, se focaliza el interés en la do, h. la distinción entre la argumentación como
estructura informativa y los efectos de sentido po- formato textual y la dimensión argumentativa del
sibles (lo constitutivo en el orden oracional). Una lenguaje.
segunda entrada, en el orden de la escritura, En síntesis y para concluir, se parte del supues-
interviene sobre la inscripción de la relación en- to de que la delimitación de los ámbitos de pro-
tre el léxico y la sintaxis, en el género discursivo blemas que atañen a la investigación y producción
particular del que se trate. Se parte, entonces, de académica se encuentra en relación directa con
un concepto de sintaxis genérica en el que la las respuestas posibles a los problemas vincula-
mediación del género propone la organización de dos con la naturaleza y el modo de trabajar inhe-
los enunciados y los modos de distribución y gra- rentes a la posición asumida frente al conoci-
dos de prominencia de los argumentos, a partir miento. Deriva de estas consideraciones la plu-
de la figuración constitutiva (cuyas variables ralización de términos tales como ‘metodología
intervinientes son — para la escritura académica de investigación’ y ‘escritura académica’. La ex-
—, por ejemplo, la orientación, el tipo de dialo- plicitación de las estrategias de decisión adscrip-

3
El conjunto de proyectos realizados, iniciado en el año 1993, incluye el análisis de las políticas lingüísticas llevada
adelante por el Estado nacional argentino en tres cortes relevantes: la polémica Sarmiento-Bello en el período de constitución
de los Estados americanos, las políticas del lenguaje asumidas en el Centenario (evidenciadas en los escritos sobre el
lenguaje de Leopoldo Lugones) y las reformas curriculares propuestas por el Estado nacional en la última década del siglo
XX y la primera del XXI (Contenidos Básicos Comunes y Núcleos de Aprendizajes Prioritarios). Los dos últimos proyectos
focalizan la indagación en las competencias de los ingresantes a la Universidad, entendidas como producto de las políticas
lingüísticas en la formación docente: “Escritura académica en el Primer Ciclo universitario. Instrumentos de diagnóstico
e intervención lingüística”. PIP-SCyT-UNR (2009-2012) y “Retórica de los saberes institucionales. Configuraciones verbales
en la escritura académica”. Programa Universitario de Alfabetización y Escritura Académica, Secretaría Académica, FHyA-
UNR, en progreso, dirigidos por Patricia Rogieri y Liliana Pérez.

175
tas a las distintas instancias de diseño y de escri- fenómeno y dato, descripción/explicación, expli-
tura en la indagación sobre los campos de cono- cación/comprensión, investigador/investigado en
cimiento implicados en las Carreras se debería las unidades de escritura académica (abstract, pa-
constituir en una meta del docente para la forma- labras clave, informe de investigación, comunica-
ción académica de los estudiantes. ción, ponencia, foro, tesina, entre otros), los crite-
Es decir, es necesaria la explicitación, en cada rios de selección de referencias bibliográficas, las
caso, de la lógica epistemología/metodología/teo- opciones genéricas en las unidades de publica-
ría asumida, los supuestos paradigmáticos impli- ción: la distinción tipo textual-género discursivo,
cados, la relación opción paradigmática/opción regulativo y constitutivo en el lenguaje, se consti-
genérica en la escritura. En esta última, la elucida- tuyen en aspectos decisivos a tener en cuenta en
ción de la relación entre los términos de la tríada términos de competencias de lectura y escritura
hablante/lenguaje/mundo asumida, la distinción académica a desarrollar en los estudiantes.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANGENOT, Marc (2010), El discurso social. Los límites GUBA, Egon & Y. Lincoln (1994). Competing Paradigms
de lo pensable y lo decible, Bs. As.: SXXI. in Qualitative Research. En Denzin, N. y Y. Lincoln (eds.),
BAJTIN, Mijaíl (1982), El problema de los géneros Handbook of Qualitative Research, London: Sage.
discursivos. En Estética de la Creación verbal, México: S PÉREZ, Liliana y Patricia Rogieri (dirs.) (2012), Retóri-
XXI. cas del decir. Lenguaje, verdad y creencia en la escritura
CROS, Edmond (1997), El sujeto cultural. Sociocrítica y académica, Rosario: FHUMYARediciones.
Psicoanálisis, Bs. As.: Corregidor.

176
¿QUÉ PIENSAN SOBRE LO QUE ESCRIBEN
ESTUDIANTES HISPANOHABLANTES DE PORTUGUÉS EN LA UNC?

Alejandra Reguera
Susana Prolo
Andrea Gambini
Universidad Nacional de Córdoba

PRESENTACIÓN DE LA versitarios de portugués lengua extranjera, ¿qué


PROBLEMÁTICA actividades contribuyen a la comprensión de un
texto leído y les facilita la escritura? y ¿qué acti-
Durante el cursado de idiomas extranjeros en vidad desarrollada para el aprendizaje de la lengua
el marco de programas institucionalizados en la extranjera piensan que ayuda a escribir en esa
Universidad Nacional de Córdoba, la producción lengua?
escrita de estudiantes de portugués como lengua Sabemos que, al sumergirse en un nuevo mun-
extranjera supone el conocimiento de estrategias do cultural, observándolo, percibiéndolo y apun-
específicas de lectura y comunicación, lo que im- tando a la concientización de que el escribir es
plica el dominio de ciertas habilidades propias una práctica social, su desarrollo discursivo será
del escribir en una lengua extranjera, en eventos mucho más rico, e influirá favorablemente en su
comunicativos situados1. La habilidad para poner formación intelectual e integral a partir del ma-
en acto estas competencias está en vinculación nejo de su competencia cognitivo- comunicati-
directa con el producto escrito que logren y el va, preparándolo incluso para rendir exámenes
reconocimiento de un contexto para poder regu- internacionales en portugués como LE.
lar el uso de la lengua, necesario para lograr una Estado de la cuestión y justificación del es-
comunicación de la forma más eficiente posible tudio. A partir de la experiencia docente relativa
en la lengua extranjera (LE) que está estudiando. a la corrección y revisión de textos producidos en
Otras condiciones son: organización y registro lin- una lengua extranjera, se han detectado ciertas
güístico apropiados, intertextualidad adecuada, particularidades en la escritura de los autores de
usos léxicos, definición del propósito expositivo, los documentos: existe cierto grado de desconoci-
entre otros rasgos. miento de las estrategias de escritura a partir de
En el marco de un estudio más amplio sobre la lectura que podrían poner en juego al escribir,
escritura de textos a partir del énfasis en la inter- problemas en el uso léxico y a nivel de cohesión,
relación lectura-escritura, en una lengua cuyos falta de estrategias para manipular el texto de
aprendientes se encuentran en el proceso de lectura y aplicar ciertos aspectos en el desarrollo
adquisición de una lengua extranjera, nuestra del texto de su propia autoría.
ponencia se centrará en observar qué piensan los De las investigaciones que han sido realiza-
estudiantes hispanohablantes de portugués para das con relación a la escritura de estudiantes uni-
poder alcanzar sus objetivos comunicativos. Dado versitarios, una categorización de las dificultades
que existe un vínculo entre la lectura y la escritu- de la escritura estudiantil la brinda el estudio de
ra, es pertinente indagar acerca de cómo los Murga de Uslenghi, M. et. al. (2002: 85) en el
aprendientes conectan contexto/lectura/escritura cual se corroboró dificultad en el dominio de la
y cómo se apoyan lingüísticamente en la infor- organización global del texto, proyección de las
mación de textos que han leído. En consecuencia, propias dificultades en la complejidad del texto,
los interrogantes de investigación son: si consi- indefinición del estilo del enunciador, descono-
deramos los textos escritos por estudiantes uni- cimiento del léxico específico necesario para ela-

1
Nuestro trabajo se inscribe en el Proyecto Producción escrita a partir de la lectura en estudiantes de español y portugués
como lenguas extranjeras en la Universidad Nacional de Córdoba. N° PIP 308-20110100134CB01, SECYT - Facultad de
Lenguas, Universidad Nacional de Córdoba (2012-2013).

177
borar el documento. Un estudio relativo a la ense- zar la escritura a partir de la lectura que producen
ñanza de la escritura a estudiantes universitarios estudiantes universitarios de portugués como len-
sostiene — desde un enfoque sociocognitivo — gua extranjera, en el marco de una situación co-
que es necesario fomentar los niveles de “concien- municativa. Específicamente, para nuestra pre-
cia del estudiante” sobre su propio proceso de sentación hoy, nos proponemos, describir qué
composición, lograr una “representación consci- piensan estudiantes universitarios de portugués
ente de las actividades que conlleva la escritu- sobre su propia escritura, basada en la lectura de
ra”, lo que derivaría, probablemente, en un cam- textos enmarcados en eventos comunicativos situados.
bio sobre “la concepción de escritura” que el
sujeto posee y un “aumento de la función
epistémica de la escritura” (Castelló, M. 2002: 161). EL ENFOQUE TEÓRICO
La justificación de nuestro estudio se basa en
la necesidad de coadyuvar al conocimiento del Los docentes universitarios, y en especial los
proceso de escritura — a partir de un texto escri- que trabajamos en carreras dedicadas al estudio
to- por parte de estudiantes universitarios de y la docencia lingüística, sabemos de las
portugués como lengua extranjera. La enseñanza “dificultades” que poseen los estudiantes para
del portugués como lengua extranjera en la UNC producir escritos, competencia que por lo gene-
cobra valor a medida que los estudiantes no solo ral está escasamente desarrollada o, al menos, en
estarán más preparados para el intercambio entre formación, por lo que se les dificultaría manejarse
dos culturas cuyas lenguas son afines en su origen en ciertos tramos del nivel académico. Por ello,
románico pero diversas ciertamente, sino también se nos planteó la necesidad de analizar cuáles son
por el reconocimiento de rasgos histórico-cultura- las estrategias que utilizan los estudiantes para
les de cada una de las sociedades argentina y su proceso de escritura, en qué se apoyan para
brasileña. Así, la función del aprendizaje del desarrollar sus textos, qué elementos lingüísticos
español y el portugués va más allá del simple utilizan con mayor frecuencia, cómo aplican el
hecho de iniciar el aprendizaje de un idioma en léxico o la información del texto de lectura que
un nivel básico o aun cuando sea con fines espe- forma parte del evento comunicativo involucrado
cíficos; la tendencia es que abarquemos otros en la escritura. Dentro de los modelos teóricos
objetivos que motiven al alumno hacia el que vinculan la lectura y la escritura nos basamos
aprendizaje en sí mismo e interés por conocer otra en el enfoque bidireccional en el cual se parte del
manera de actuar en su profesión. Otra implican- supuesto de que la lectura y la escritura son
cia que tendrá el proyecto es que contribuye a la procesos interactivos y constructivos, pero a la
preparación de tareas y materiales específicos vez interdependientes. Este modelo postula la
para la formación de candidatos que deben existencia de múltiples relaciones entre ambos
atravesar exámenes internacionales como el Cer- dominios, lectura y escritura, los cuales compar-
tificado de Proficiência em Língua Portuguesa ten ciertos subsistemas comunes así como otros
para Estrangeiros (Celpe-Bras) y el Certificado procesos son privativos de una habilidad u otra
de Español Lengua y Uso (CELU). (Eisterhold citado en Pipkin Embón et al, 2010).
A partir de esta concepción, se afirma que los me-
jores escritores leen más que los que desarrollan
LA HIPÓTESIS Y LOS OBJETIVOS esta práctica con menor grado de eficiencia, de
allí la importancia de observar y guiar la escritu-
La hipótesis orientadora del estudio es que los ra de los estudiantes a partir de textos disparadores
estudiantes de portugués como lengua extranjera insertos en una situación comunicativa, con el
alcanzan un nivel ejecutivo al escribir a partir de propósito final de que la producción escrita res-
un texto leído. Si se les provee a esos estudiantes ponda a las condiciones necesarias para que la
de herramientas para alcanzar un nivel funcional comunicación se produzca de forma eficiente.
de escritura, podrán mejorar la comunicación Al hablar de “lengua extranjera”, en didáctica
interpersonal en la lengua extranjera de referen- de las lenguas, se utiliza el término lengua meta
cia. Como objetivo general nos propusimos anali- (LM, traducción del inglés target language) para

178
hacer referencia a la lengua que es objeto de a- que el alumno conciba las habilidades de lectura
prendizaje, sea en un contexto formal de apren- y escritura en forma interrelacionada y centrali-
dizaje o en uno natural. El término engloba los zada con el fin de lograr una producción escrita
conceptos de lengua extranjera (LE) y de lengua tendiente a la realidad dentro de lo que permiten
segunda (L2), si bien en ocasiones estos tres tér- las exigencias curriculares. En clase, se hizo
minos se emplean como sinónimos.2 En general, énfasis en trabajar la actitud del alumno con
los cursos de enseñanza de ELE (español lengua relación a la lectura y a la producción de textos,
extranjera) y PLE (portugués lengua extranjera) mostrando el vínculo entre esas habilidades.
parten de un enfoque general y gramatical, aunque Trabajar de una manera articulada entre la lectura
la tendencia es desarrollar cursos con fines espe- y la escritura, permitió al alumno tomar concien-
cíficos cuya orientación sea más contextual. Es cia de que él, su percepción de mundo, de lengua
necesario poner en práctica una didáctica que y de aprendizaje influyen en el desarrollo de la
trabaje a partir de resoluciones de problemas y LE que está estudiando. De ese modo, hubo más
que, según Dorronzoro (2005: 24), lleve a asociar posibilidades de apropiarse del texto de otra
contenidos textuales a prácticas sociales de refe- persona para interactuar con él y hacerlo suyo,
rencia. Sin embargo, ante la escasez de materiales con la intención de basarse en la organización
y, muchas veces, de profesionales preparados para textual, el propósito comunicativo, el uso del lé-
utilizar un enfoque por tareas y resolución de pro- xico y de estructuras adecuadas de la lengua. A
blemas, se admite que el campo de trabajo se través de esa apropiación, el alumno pudo inter-
encuentra en una etapa de transición. Otro factor pretar el texto para redimensionarlo, reformarlo
importante en ese trayecto hacia una propuesta y reorganizarlo de acuerdo con un nuevo evento
basada en la didáctica contextual es que decidi- comunicativo, y con sus conocimientos sobre el
mos abordar un punto crucial para todo lo invo- tema y sus propias experiencias anteriores. La
lucrado en la enseñanza-aprendizaje, la evalua- comprensión del texto y la percepción de la orga-
ción. En agosto de 2009, estuvo en Córdoba du- nización y posibilidades de la LE proporcionaron
rante el V Coloquio CELU Matilde Scaramucci al alumno la posibilidad de lograr producciones
(2009), de la UNICAMP, una de las ideólogas adecuadas, en las cuales el texto reúna las condi-
del CELPE-Bras. La lingüista afirmó que las ciones de cohesión, coherencia, intencionalidad,
pruebas influencian lo que sucede durante la clase aceptabilidad, situacionalidad e intertextualidad
y que eso puede traer buenas o malas consecuen- (de Beaugrande et al, 1997). La orientación del
cias. Entonces, explicó que, en cuanto al CELPE- estudio es lograr que la materia lingüística
Bras: “A escolha em relação à orientação teórica producida por el alumno demuestre que este,
do exame foi deliberada, uma ação política, pois como escritor, puede: 1) apropiarse del texto leído
não queríamos a manutenção do status quo no y hacerlo suyo para adaptarlo al nuevo contexto;
ensino de português L2/LE, em que as práticas 2) relacionarlo con sus conocimientos previos
têm sido reconhecidas como tradicionais, com extra-lingüísticos; 3) servirse de las herramientas
materiais geralmente centrados em listas de pa- lingüísticas y textuales; 4) reutilizar léxico no
lavras, regras gramaticais e exercícios de preen- conocido antes de la lectura del texto; 5) aplicar
chimento de lacunas, e com limitadas atividades de manera propia la información del texto para
de leitura e escrita.” Se puede afirmar que un cam- adaptarlo al nuevo contexto; 6) transferir
bio se da únicamente si tocamos un punto neu- conocimientos. Sin embargo, se advierte que exis-
rálgico, ya que la evaluación siempre conlleva te falta de competencia en la redacción de textos
un efecto retroactivo. Según Scaramucci (2004: según los formatos requeridos en el marco de las
204) “Entender melhor o conceito de efeito re- profesiones en las que se van a desenvolver, por
troativo pressupõe compreender os mecanismos eso es necesario investigar cómo llevar al aula
operantes na relação entre ensino/aprendizagem una práctica social que sirva al estudiante en un
e avaliação”. Se hace indispensable contribuir a futuro próximo, la de interactuar en una LE, en

2
En cualquiera de los casos, el término lengua meta excluye al de lengua materna (L1), al que frecuentemente se contrapone.

179
su campo de acción. Según presuponemos, los Consigna del punto 7: “¿Qué actividades
escritos de estos estudiantes alcanzan un nivel contribuyen a la comprensión de un texto leído y
ejecutivo de escritura, es decir solo se da el te facilita la escritura?”
dominio del código, pero no llegan al nivel funcio- • La opción 5, “Averiguar el significado de
nal, en donde es clave la comunicación interper- palabra que no entendés” muestra una frecuencia
sonal ni tampoco alcanzan el nivel instrumental, relativa de 85.79 %.
que permite registrar, recordar y organizar infor- • La opción 2 “Consultar al docente si tenés
mación para brindar a otros el conocimiento ad- alguna duda” y 4 “Marcar sobre el texto leído”
quirido (Pipkin Embón et al. 2010). En suma, muestran 64.29 %.
contextualizar la enseñanza del portugués como • La opción 3 “Hacer anotaciones en borrador
lengua extranjera puede atraer más la atención apenas terminás de leer”, muestra un 35.71 %.
del alumno universitario, ya que aumenta sus
posibilidades de uso de otra herramienta que pue- De lo anterior podemos deducir que la necesi-
de capitalizar como profesional y como persona. dad de los alumnos es la de ampliar su vocabulario
averiguando el significado de palabras que no en-
tienden, para ampliar su léxico y darle significa-
METODOLOGÍA do a lo que están leyendo. Le siguen en importa-
ncia la consulta al docente, y la selección de in-
La metodología que se empleó se ubica en el formación marcando sobre el texto leído y hacer
paradigma cualitativo, no obstante lo cual se anotaciones en borrador.
utilizaron procedimientos estadísticos, como una
forma de triangulación metodológica. Nivel del Consigna del punto 8: “¿Qué actividad
estudio: fue descriptivo, según definen Hernández desarrollada para el aprendizaje de la lengua
Sampieri et al. (1998: 60). Los materiales que se extranjera pensás que ayuda a escribir en esa
utilizaron en las experiencias fueron tareas de es- lengua? (Comentá las experiencias que has
critura comunicativas que integran dos habilida- tenido)”.
des, una receptiva y una productiva. Se aplicaron
pruebas de escritura y cuestionarios — ambos ins- En el análisis, en general, se manifiesta que la
trumentos diseñados ad hoc — a los alumnos. Po- lectura de distintos textos en la lengua que estudia
blación en estudio: estudiantes universitarios que es fundamental, no solo para escribir en esa
estén cursando portugués como idioma extranjero lengua, sino que ayuda a incrementar el
en las diferentes la Facultad de Arquitectura y vocabulario necesario para su comprensión.
Urbanismo de la UNC, en el marco de los
módulos de portugués del DIFA, durante el 2012. “Creo que sin duda lo que ayuda a escribir en
La muestra está conformada por 14 sujetos, una lengua extranjera es la lectura, porque más
estudiantes del 3er. año de la Facultad de allá de lo que sabemos, si no hay lectura no es
Arquitectura y Urbanismo (UNC). El corpus del posible escribir”.
estudio está compuesto por los resultados de los “Leer ayuda a incorporar vocabulario y com-
cuestionarios aplicados. Sus edades aproximadas: prender la lengua”.
entre 21 y 27 años; la docente investigadora que
aplicó los instrumentos fue Andrea Gambini. Se manifiesta en algunos casos la necesidad
de la lectura en voz alta y la implementación de
audio y videos, como estrategia de reflexión so-
ALGUNOS RESULTADOS Y bre los procesos de interpretación y producción.
CONCLUSIONES DE LA MUESTRA
“Escuchar audios sobre el tema leído o el tema
Análisis de los puntos 7 y 8 del cuestionario que debo desarrollar. Ver imágenes me sitúa muy
sobre “Escritura desarrollada por parte de estu- fácilmente en el contexto de la situación”.
diantes de español y portugués” en la Universidad
Nacional de Córdoba.

180
“Leer, escribir, audio. Al ejercitar usando va- “Tuve la suerte de tener una profesora que res-
rios medios, el oído se agiliza, es mucho más facil pondía a todas las dudas,….., nos daba tarea y
escribir, reconocer sonidos o formas de escribir hasta corregía por mail. Esto incentiva al alumno
aprendiendo vocabulario, reglas de ortografía y a responder lo máximo que puede, ya que el
modos de pronunciación”. profesor también da lo máximo”.

La necesidad sistemática de producciones es- “Por sobre todo la paciencia de los profesores
critas sobre distintas situaciones, identificar erro- para con las preguntas de los alumnos”.
res, analizándolos y la posibilidad de resoluciones
operan como fuente de consulta y para el avance En suma, no se observa desvinculación entre
de los aprendizajes. las prácticas de oralidad, lectura y escritura, como
así también se manifiesta la convicción de lograr
“......inventar y probar muchas veces equivo- una buena pronunciación y reflexión sobre la
cándose te ayuda a avanzar”. ortografía convencional. Reconocen al docente
“La realización continua de textos”. como mediador y generador de intercambios co-
“......Realizar muchas producciones en distin- municativos, que acompaña a los alumnos y se
tas situaciones y en distintos tiempos”. involucra en el seguimiento de los procesos de
Otros manifiestan la importancia de la asisten- lectura y escritura, ayudando a superar puntos pro-
cia a clases como actividad importante para el blemáticos y a focalizar aspectos textuales, gra-
aprendizaje, el compromiso y voluntad para lo- maticales y ortográficos que deben ser tenidos
grar los objetivos del curso. en cuenta para la interpretación y posterior
Aprecian el valor de la interacción con sus redacción. Se observó también que los alumnos
pares, la práctica realizada con otros, donde se no hacen referencia a la situación comunicativa
expone lo que se sabe, se opina y también lo que o al contexto, o sea se quedan en el nivel del códi-
se necesita y les permite construir su aprendizaje. go, ya que aluden en mayor medida al tema del
vocabulario y no tanto al de la situación comunicativa.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BEAUGRANDE, R. y W. Dressler (1997). Introducción a PIPKIN EMBÓN, M. y M. Reynoso (2010). Prácticas de


la lingüística del texto. Madrid: Ariel Lingüística. lectura y escritura académicas. Córdoba: Comunicarte.
CASTELLÓ, M. (2002). De la investigación sobre el Lengua y Discurso.
proceso de composición a la enseñanza de la escritura. Re- REAL ACADEMIA ESPAÑOLA. (2010). Diccionario de
vista Signos, 35. 149 -162. la Lengua Española. Madrid: Espasa Calpe.
DORRONZORO, M.I. (2005). Didáctica de la lectura en SCARAMUCCI, Matilde V. R. (2004). Efeito retroativo
lengua extranjera. En Didáctica de las lenguas extranjeras: da avaliação no ensino/aprendizagem de línguas: o estado
una agenda actual. (pp. 13-30). Buenos Aires: Araucaria. da arte Trab. Ling. Aplic., Campinas, 43 (2): 203-226, jul./
HERNÁNDEZ SAMPIERI, R., Fernández Collado, C., dez. Recuperado en 20/05/2011.Disponible:http://
Baptista Lucio, P. (1998). Metodología de la investigación. www.celu.edu.ar/images/stories/pdf/coloquios/3_coloquio/
Méjico: Mc Graw Hill Interamericana de México. ct_p_scaramucci.pdf

MURGA DE USLENGHI, M., Padilla de Zerdán, C., SCARAMUCCI, Matilde (2009), Avaliação de proficiên-
Douglas de Sirgo, S. y Ameijide, M. (2002). Discurso cia: valores culturais e consequências sociais. V Colóquio
estudiantil y representaciones acerca de las competencias CELU, Córdoba Recuperado en 20/05/2011. Disponible
discursivas. RIIL, 15. 85- 103. en: http://www.celu.edu.ar/images/stories/pdf/coloquios/
5_coloquio/

181
YO ESCRIBO.
POLÍTICAS Y PRÁCTICAS DE ESCRITURA EN LA UNIVERSIDAD

Alejandra Reguera
Universidad Nacional de Córdoba

POLÍTICA Y PRÁCTICA DE ESCRITURA en diálogo con pares; al escribirse con otro el niño
estaba haciendo algo por sí mismo y por el otro:
En el presente trabajo establecemos el víncu- ampliaba su conocimiento, consolidaba una mi-
lo entre política y práctica de escritura, enten- rada sobre el mundo, se mostraba y apoyaba a un
diendo que una determina a la otra. ¿Qué es una par en ese mismo proceso. La escritura era con-
política y qué es una práctica? Una política es siderada, en cierta medida, una práctica para
una serie orgánica de decisiones que influyen en formarse en la identidad libertaria.1
un campo de acción y una práctica es el proce- Nuestro trabajo, que se desarrolla en el marco
dimiento recurrente respecto de un determinado de una investigación más amplia, expone cómo
quehacer, en un marco decisional que asume el conciben la práctica de escritura sujetos que están
individuo. Por eso una política es también el con- finalizando las carreras de Licenciatura y Profeso-
junto de orientaciones que rigen la actuación de rado en alemán, español, francés, inglés e italia-
una persona en un campo determinado. Hacemos no en la Facultad de Lenguas, de la Universidad
cosas que están determinadas por un conjunto de Nacional de Córdoba, durante el 2009. Hemos
decisiones. Entonces, toda práctica posee como extraído de 3 biografías de escritor — sobre un
marco operativo una política, por ello nos inter- total de 30 — aplicadas al grupo, la mención de
rogamos acerca de cómo construye el individuo ciertas prácticas de escritura representativas para
su trayectoria de escritura y cómo se vincula con ellos. La biografía de escritor, basada en Jorro
la actividad del escribir. (2002) consiste en un relato individual acerca de
¿Cuáles han sido los abordajes a la noción de cómo una persona ha aprendido a escribir en cada
“política de escritura”? Al explorar las políticas una de las etapas escolar y universitaria2. El inter-
de lectura y escritura que llevó a cabo el anarquis- rogante central ha sido cómo expresan los estu-
mo de principios del siglo XX en Argentina, Di diantes su vivencia en torno a su propia práctica
Stéfano (2013) hace un relevamiento de los libros de escritura, en su trayecto de formación. La
que se hacía leer en las escuelas, y analiza las noción de práctica de escritura está asociada a
representaciones sobre la escritura que esas lectu- la de práctica cultural, fundada en el habitus,
ras construyeron. En ese marco, se hablaba explí- entendido como “…sistema de estructuras cog-
citamente de “política de escritura”, planteando nitivas y motivacionales, producidas histórica-
que la escritura como objeto de enseñanza, debía mente (inculcadas por las oportunidades y
desarrollar una “tecnología del yo”, ayudar a que prohibiciones, las posibilidades e imposibilidades
el sujeto forme una imagen de sí. En ese contex- inscritas en las condiciones objetivas) (…) que
to, la escritura no se ejercitaba para que el alumno generan y estructuran las prácticas individuales
se convierta solo en ciudadano con competencias y colectivas de un modo condicionado pero no
para la participación en sociedad sino para entrar determinado (Bourdieu 1991: 92).

1
En la Ley de Educación Superior Nº 24.521/95 (Decreto reglamentario Nº 499/95) de Argentina, que rige para todas las
universidades del país, no existe mención alguna a las nociones “escritura” y “política de escritura” (Reguera, 2009).
2
La investigadora luego de aplicar la biografía de escritor a un grupo significativo de docentes y magistri generó ciertas
categorías de vínculos probables entre el sujeto y la escritura: táctico, placentero, contradictorio o doloroso.

183
DESARROLLAR EL CORPUS PARA Toda política es acción, es un hacer que posee
ENSEÑANZA DE LA ESCRITURA objetivos, en un determinado campo, comprome-
tiendo ciertos recursos y no es la política el lugar
La política es un hacer y la práctica es su resul- de la enunciación ni el conjunto de enunciados,
tado. No obstante, con relación a la escritura, sino el lugar de la producción de un conjunto de
sabemos que su práctica depende de factores realizaciones concretas (Labourdette, 1993: 120).
socioculturales de base, de condiciones de con- Es así que, solo si posee un marco institucional y
texto que motivan la lectura y la escritura, así co- académico que favorezca la actividad, la escritu-
mo de los logros obtenidos en el marco de ciertas ra termina cristalizándose en realizaciones efec-
instancias institucionales, aunque sabemos que tivas individuales. En una visión amplia, una po-
no solo es necesario un marco legal e institucional lítica lingüística como disciplina, es entendida
que favorezca ciertas condiciones para el desar- como “saber técnico y académico, práctica de aná-
rollo de la escritura sino que también hay con- lisis y de intervención asumida por especialistas,
dicionantes particulares que pueden inhibir esta funcionarios, mediadores, docentes y otros miem-
habilidad o mantenerla latente. Hace poco un eva- bros activos de la sociedad civil (Varela, 2011:
luador de una comisión que aprueba seminarios 18). En el marco de los estudios lingüísticos y a
de posgrado objetó que no hacía falta brindarle a partir de las tendencias recientes en materia de
investigadores de doctorado seminarios en don- planificación y política del lenguaje Baldauf, R.
de puedan reconocer su práctica y sus dificultades (2006) establece una posición: “La política (…)
de escritura, pero fue quizá porque no está sociali- del lenguaje se define como la planificación — a
zada la evidencia de que, aun en el nivel de pos- gran escala y emprendida por los gobiernos —
grado los tesistas no han superado las limitaciones cuyo propósito es influir — si no cambiar — las
que poseen y no cuentan en su repertorio de es- formas de hablar o las prácticas de alfabetización
critor con estrategias de escritura académica; en dentro de una sociedad” (Baldauf, 2006: 78).
este sentido son muy valiosos los estudios Entre los distintos tipos de planificación, el autor
llevados a cabo en la Universidad de Buenos Aires destaca la planificación del “corpus” (por ejem-
(Narvaja de Arnoux, 2007; Carlino 2002, 2003), plo, el diseño de planes de estudio o de materiales
así como en otras universidades (López Ferrero de estudio), en el contexto de la planificación del
2005; García Romero 2005, 2007) que demues- lenguaje en la educación (que abarca una políti-
tran la necesidad de aplicar programas específi- ca de acceso, una política de currículo, una políti-
cos para que investigadores de grado y posgrado ca de métodos y materiales, una política comuni-
alcancen sus metas de escritura. Con relación a taria, una política de evaluación, etc.). Esta pers-
la formación de investigadores y el proceso de pectiva hace énfasis en la importancia de
orientación de tesis en los posgrados, entre otros establecer una reflexión en torno a la planificación
factores del problema, se han advertido tres del “lenguaje en la educación”, concretamente en
dinámicas referidas a los saberes que circulan en la política de métodos y materiales, planificación
la educación superior: 1) aquellas que son teóri- vinculada a la escritura como actividad, la cual
ca y metodológicamente orientadas, 2) otra debe ser acompañada por el docente, que como
dimensión histórico- discursiva que legitima esas “administrador” del lenguaje guía la práctica de
prácticas y las torna estructurales y 3) una la escritura, brinda herramientas al alumno para
dinámica psicoanalítica relacionada con el sujeto que tome decisiones y se constituya de algún
en las relaciones ligadas al saber, en la alteridad modo en “escritor”. La política de escritura —
del deseo, el gozo y la angustia (Behares, 2010). que intentamos definir — es un ejercicio de
Si algo llama la atención al guiar el proceso de atribución individual y se apoya en el enfoque de
investigación y escritura, en la experiencia do- la administración del lenguaje, basada en Spolsky
cente universitaria, es cuánto espacio ocupan los (2006), quien al abordar una teoría de políticas
comentarios y confesiones acerca del malestar del lenguaje, la divide en tres componentes dis-
que les produce a los investigadores la tarea de tintivos, aunque interrelacionados: el lenguaje en
explorar, interrelacionar e integrar en la escritura la práctica, las creencias y las acciones políti-
los avances que realizan. cas. El autor define la administración del lenguaje

184
“como cualquier intento de un individuo o una la evidencia de que — aun a nivel de posgrado
institución que tiene (o declara tener) autoridad — los problemas para escribir académicamente
sobre otro individuo o grupo para modificar las persisten, se debe desarrollar el corpus para la ense-
prácticas o creencias del lenguaje de ese individuo ñanza y acompañamiento de la actividad, en lo cual el
o grupo” (Spolsky, 2006: 62). Entendido así, un docente, como administrador del lenguaje, interactúa
docente ejerce en su práctica la administración cooperativa y productivamente con el escritor.
del lenguaje, lo que resulta en la aplicación de
una política lingüística grupal, enmarcada en una
serie de aspectos normativos, curriculares y de ¿CÓMO EXPRESAN LOS ESTUDIANTES
prácticas docentes que van a incidir en los resul- LA VIVENCIA DE SU PROPIA PRÁCTICA
tados de escritura individual de los miembros del DE ESCRITURA?
grupo con el que trabaja. El docente actúa en ese
marco impactando en las creencias que los Retomando entonces nuestro interrogante:
estudiantes están conformando con relación a su ¿Cómo expresan los estudiantes la vivencia de
“actuación de escritura” y solo en la medida en su propia práctica de escritura?... exploramos có-
que oriente ese proceso, lo rectifique o sugiera mo se piensan a sí mismos como escritores, y
posibilidades de salida, es que ese “escritor” que mostramos una biografía (BE1) que ha sido in-
está siendo alfabetizado académicamente desarro- terpretada a partir de ciertas categorías. El
llará ciertos logros en este ámbito. En suma, ante estudiante expresó:

Segmentos textuales (Biografía de escritor 1) Categoría


Considero que la lectura me ayudó muchísimo a mejorar mi forma de escribir, EL
ya que me sirvió, de alguna manera, como fuente de ideas y de aprendizaje de
formas de escrituras.
…nunca estaba satisfecha con lo que producía porque no era original. PCE
También, en la facultad fue donde tuve más contacto con la lectura de textos ML
académicos. Considero que la lectura me ayudó muchísimo a mejorar mi forma
de escribir
…me costaba mucho menos escribir este tipo de textos en comparación con los PTA
cuentos o poemas.
…en la facultad fue donde tuve más contacto con la lectura de textos académicos. TEU
En la facultad fue donde más escribí. La mayoría eran textos que exigían el uso ECCU
de la escritura académica y me enseñaron cómo se debía escribir (sin plagiar,
por ejemplo).
Nunca fui muy creativa, por eso me costada mucho escribir y nunca estaba PCE
satisfecha con lo que producía porque no era original.
…por eso me costaba mucho escribir… DEA

Matriz de análisis de datos cualitativos de las Biografías de escritor.

Libro de códigos
EL: Escritura a partir de lectura.
ML: Motivación por la lectura.
ECCU: Escritura consciente, crítica en la universidad.
PCE: Posición crítica sobre la propia escritura.
PTA: Preferencia por textos académicos.
DEA: Dificultad para la escritura académica.

185
Otras categorías comprendidas en el libro de có- que no han tenido oportunidad de una puesta en
digos, pero que no están presentes en la BE nº 1 común, constructiva. Nuestro estudio, centrado
son: en analizar los factores intervinientes en la con-
LC: Lectura crítica. cepción de escritura y en las prácticas de escritu-
EE: Escritura escasa. ra, detectó — en alto grado — que los alumnos
ME: Motivación por la escritura académica. valorarían un aumento en el ejercicio de escritu-
TEU: Tipo de escritura en la universidad. ra así como un mayor grado de interacción con el
ECI: Expresiones coloquiales o informales. docente, en el contexto académico universitario.
ENL: Expresiones no logradas (poco claras o con La interfaz dialógica opera constructivamente en
errores). la realización de los escritos. El docente como
actor relevante asume un papel de mayor grado
Algunas de las categorías creadas (“escritura de involucramiento y coadyuva a la práctica de
consciente y crítica en la universidad”, “posición la escritura — caracterizado por la recursividad
crítica sobre la propia escritura”) están basadas — y al resultado epistémico que de ella debe sur-
en el enfoque de estimulación de la metacognición gir. La práctica modifica a la creencia y el sujeto
en la enseñanza de la escritura (Rijlaarsdam y conjuga en posibilidades infinitas el yo escribo.
Couzijn, 2000: 215- 221) que propone la mejora
de la competencia de escritura del estudiante
ejercitándolo en la actividad, induciéndolo a que CONCLUSIONES
reflexione sobre el proceso y su historia de escri-
tura personal (conocimiento metacognitivo sobre Hay un vínculo indisoluble entre política y
la escritura); otras fueron generadas a partir del práctica, porque nuestras creencias y decisiones
análisis de contenido. En la biografía 2 por ejem- inciden en cómo hacemos las cosas. Enfocar una
plo, el alumno manifiesta motivación por escribir, política de escritura implica intervenciones pro-
aun cuando experimentó incertidumbre o escasa ductivas en el corpus relacionado con la ense-
guía: “Hoy, a punto de recibirme no sé si escribir ñanza de la escritura, como por ejemplo
un buen ensayo, siempre me guio de buenos mo- propuestas y desarrollo de materiales capaces de
delos para construir el nuevo. Siempre es una acompañar la actividad individual de la produc-
nueva experiencia, y creo que es algo en lo que ción escrita, en lo cual ya existen ediciones de
me gustaría enfatizar de ahora en más” (BE 2). relevancia, aunque hay mucha historia por escribir
En cambio, la biografía 30 demuestra seguridad aun y muchas vivencias que necesitan ser conta-
al contar con nociones modélicas de tipos o das. Es necesario operativizar una política de es-
secuencias textuales: “El hecho de poder recono- critura y transformarla en práctica fundante, me-
cer tipos de textos, de estructuras, de argumen- diadora del conocimiento. Como “administrado-
tos, sumado a la internalización de procesos como res” del lenguaje, debemos trabajar con las cre-
la planificación, la revisión y la textualización; a encias en torno a la escritura y a la práctica que
la puesta en relación de distintas posturas, a la de ello se deriva. Y esto tiene que ver con la
lectura de textos y luego su comentario; han capacidad de dotar de autonomía al proceso de
posibilitado manejo de ciertas herramientas y es- escritura individual, de guiar la lectura crítica de
trategias para poder interpretar, organizar, dar antecedentes sobre lo que se escribe y la
sentido a la información y sustento a las ideas.” realización de textos situados, con un propósito
(BE 30) de comunicación académico -científica en la
Del análisis de las biografías de escritor pro- universidad. Tiene que ver con compartir el
ducidas por estudiantes universitarios avanzados espacio de la academia, que es un espacio de po-
de lenguas se desprenden ciertas características: der, noción ya naturalizada entre nosotros a par-
que sus producciones de escritura han sido vivi- tir de la lectura de Foucault (1978), aunque no
das como parciales o fragmentarias, que experi- por ello contrarrestada a veces en la convivencia
mentan no poseer autonomía en la actividad y universitaria.

186
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BALDAUF, R. (2006). Planificación y Política del “L’écrit dans l’enseignement supérieur : français langue
Lenguaje: tendencias recientes y direcciones futuras. En maternelle et français langue étrangère ” Bruxelles, 23/
Terborg R. y García Landa, L. (Coord.). Los retos de la 25 janvier 2002.
planificación del lenguaje en el siglo XXI. Volumen I. Uni- LABOURDETTE, S. (1993). Política y poder. Buenos
versidad Nacional Autónoma de México. Centro de Ense- Aires: A-Z Editora.
ñanza de Lenguas Extranjeras. México: Departamento de
Lingüística Aplicada. 77- 89. LÓPEZ FERRERO, C. (2005). Funciones retóricas en la
comunicación académica: formas léxicas de modalidad y
BEHARES, L. (2010). Saber y terror de la enseñanza. evidencialidad. Signo y seña. Revista del Instituto de Lin-
Montevideo: Psicolibros- Waslala. güística, Universidad Nacional de Buenos Aires, Nº 14.115
BOURDIEU, P. (1991). El sentido práctico. Madrid: – 139.
Taurus. NARVAJA DE ARNOUX, E. (2007). Escritura y
CARLINO, P. (2002). Enseñar a escribir en todas las producción de conocimiento en las carreras de posgrado.
materias: cómo hacerlo en la universidad. Actas del Semina- Proyecto PICT (2005-2007) – ANCyT - Instituto de Lin-
rio Internacional de Inauguración Subsede Cátedra UNES- güística, UBA.
CO Lectura y escritura: nuevos desafíos, Facultad de REGUERA, A. (2009). Las dimensiones representacional
Educación, Universidad Nacional de Cuyo, Mendoza. y discursiva de una política lingüística. En IV Encuentro
CARLINO, P. (2003) ¿Por qué no se completan las tesis en Internacional de Políticas Lingüísticas. Asociación de
los posgrados? Obstáculos percibidos de maestrandos en Universidades Grupo Montevideo. Núcleo Educación para
curso y magistri exitosos. Memorias de las X Jornadas de la Integración. Santa María, Brasil.
Investigación. Facultad de Psicología. UBA RIJLAARSDAM, G. y Couzijn, M. (2000). La estimulación
DI STÉFANO, M. (2013). Políticas de lectura y escritura de la metacognición en la enseñanza de escritura. En Milian,
en las escuelas del anarquismo en la Argentina a principios M., Camps, A. (Comp.). El papel de la actividad
del siglo XX. Cuadernos del Sur. Letras. No.35-36. metalingüística en el aprendizaje de la escritura. Santa Fe:
FOUCAULT, M. (1987). El orden del discurso. Colección Homo Sapiens Ediciones.
Cuadernos marginales. Barcelona: Tusquets Editores. SPOLSKY, B. (2006). Prolegómeno a una teoría de políti-
GARCÍA ROMERO, M. (2005). Análisis de ensayos cas del lenguaje y ordenamiento lingüístico para el siglo
estudiantiles. Tesis doctoral. Barcelona: Universidad XXI. En Terborg R. y García Landa, L. (Coord.). Los retos
Autónoma de Barcelona. de la planificación del lenguaje en el siglo XXI. Volumen
I. UNAM. México: Departamento de Lingüística Aplica-
GARCÍA ROMERO, M. (comp.).(2007). Investigaciones da. 59-76.
sobre escritura universitaria en Venezuela. Mérida:
Universidad de los Andes, San Cristóbal. VARELA, L. (2011). Para una política del lenguaje en
Argentina. Actas del seminario lenguas y políticas en Ar-
JORRO, A. (2002). L’écriture accompagnatrice : le journal gentina y el Mercosur. Buenos Aires: Eduntref.
de formation . Communication au colloque international

187
LÍNGUA(S), ESPAÇO(S) NA ESCOLA E PLURILINGUISMO:
UM DESAFIO PARA ESTE MILÊNIO

Hugo Jesús Correa Retamar


Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Há de se considerar critérios para definir que telação de línguas centrais, majoritariamente a


línguas estrangeiras devem ser incluídas no língua dos estados. Através dessa disposição, des-
currículo. É necessário se ponderar sobre a
se entendimento linguístico do mundo, as línguas
visão utópica de um mundo no qual o dese-
jo idealista de um estado de coisas prevale- menos conhecidas ou de comunidades, chama-
ce sobre uma avaliação mais realista daqui- das de línguas periféricas, seriam as que necessi-
lo que é possível. Por um lado, há de consi- tam de falantes bilíngues para ganhar voz em meio
derar o valor educacional e cultural das lín- às demais esferas da constelação, ou seja, há uma
guas, derivado de objetivos tradicionais e
necessidade de comunicação entre os sujeitos e
intelectuais para a aprendizagem de Língua
Estrangeira que conduzam a uma justificati- esta respeita uma hierarquia linguística. A escola
va para o ensino de qualquer língua. Por ou- brasileira, muitas vezes, parece compartilhar do
tro lado, há de considerar as necessidades diagnóstico de De Swaan ao optar por uma hie-
lingüísticas da sociedade e suas prioridades rarquia das línguas mais “necessárias” ao estu-
econômicas, quanto a opções de línguas de
dante. Por “necessidade”, entendamos aqui o a-
significado econômico e geopolítico em um
determinado momento histórico. Isso refle- cesso ao mundo da cultura e do trabalho, como
te a atual posição do inglês e do espanhol no percebemos através do excerto dos PCN’s acima.
Brasil. (p.40, PCN, sem negrito no original, 1998) Em outro lugar do globo, Europa, desde o ano
1991, em um congresso celebrado na Suíça, criou-
De acordo com os PCN’s, o ensino de línguas se um projeto desenvolvido pelo Conselho da
estrangeiras ou a escolha de que línguas ensinar Europa que pretendia refletir sobre a importân-
na escola deve estar atrelado a algumas palavras- cia do conhecimento das línguas europeias e so-
chave como as grifadas acima. Contudo, tais con- bre as estratégias de aprendizagem dos cidadãos
ceitos devem ser os determinantes para decidir europeus no que se refere às mesmas. Assim nas-
que línguas estudar na escola? A realidade do ceu uma base, um modelo comum para estabele-
ensino de línguas nas escolas necessita pensar cer os programas curriculares e de certificação
apenas nas línguas mais importantes econômica dos idiomas europeus, o Quadro Europeu Comum
e socialmente? Essa é a função da escola? de Referência1 (2001). Tal modelo chega à Amé-
Segundo o sociólogo holandês Abram de Swaan rica Latina, e principalmente ao Brasil, a passos
(2001), a espécie humana se divide em mais de lentos, devido tanto à diferença de contextos so-
cinco mil grupos, cada um deles falando um idi- ciais e culturais como a pouca importância dada
oma diferente e, parecendo, não entender-se. En- pelo continente americano ao ensino de línguas,
tretanto, conforme o mesmo autor, essa aparên- sobretudo se pensamos nos currículos escolares
cia de heterogeneidade e confusão dos idiomas brasileiros. Se pensarmos que no mundo há uma
do mundo constrói pontes de comunicação, atra- hierarquia de línguas, na escola brasileira há uma
vés da figura do indivíduo bilíngue ou, por que hierarquia de disciplinas, estando a língua estran-
não dizer, plurilíngue. De Swaan acredita em uma geira em um lugar pouco privilegiado, como uma
espécie de hierarquia linguística determinada pelo língua periférica no entender de De Swaan.
tempo e pelo espaço. Na conjuntura atual do Na Europa, o QECR foi criado com a inten-
mundo “globalizado” haveria para ele uma única ção não apenas de facilitar a mobilidade entre os
língua hipercentral, o inglês. Em torno do inglês cidadãos europeus pós União Europeia, mas de
se organizariam 10 línguas chamadas de “super- fazer com que professores e alunos refletissem
centrais” e em torno das mesmas, uma nova cons- sobre o uso das línguas europeias e sobre suas

1
Adiante chamado: QECR

189
práticas de ensino e aprendizagem no que se re- lósofo e sociólogo francês Edgar Morin, quem
fere às línguas estrangeiras. Tal ação visa trazer diz que a unidimensionalidade é uma inteligên-
à consciência do falante e de seu mundo linguís- cia “míope que acaba por ser normalmente cega”
tico a rede de relações existente entre as línguas, (Morin, 2000, p.43) e dialoga com a ideia do pro-
diminuir a importância do inglês frente às demais fessor Nilson José Machado (2005) quem diz, a
línguas europeias, além de promover o chamado partir da leitura de autores de diferentes áreas
“plurilinguismo”, conceito tão em voga nos dias como Adorno e Capra, que a construção do co-
de hoje e que vai de encontro às propostas linguis- nhecimento pode ser entendida metaforicamente
ticamente hierárquicas da escola tradicional. Po- como uma espécie de “rede”. Contudo, como
rém, o que vem a ser o plurilinguismo? É possí- transformar a prática do ensino de línguas na es-
vel falar em plurilinguismo na escola brasileira? cola como algo pluridimensional? Como fazer
O espaço das línguas na escola pode ser visto co- com que as línguas estrangeiras façam parte efe-
mo plural? tiva desta rede, ou seja, da construção do conhe-
Segundo o QECR (QECR, 2000, p.23), o cimento não unidimensional?
multilinguismo é o domínio por parte do indiví- O multilinguismo na escola já é algo difícil,
duo de algumas línguas. Por outro lado, o con- pois depende da oferta de mais de uma língua
ceito de plurilinguismo vai além desta perspecti- estrangeira obrigatória nas instituições de ensi-
va, buscando incentivar a construção de uma com- no, algo pouco comum no contexto da escola
petência comunicativa nesse indivíduo que usa, pública brasileira onde há poucos anos o espa-
inclusive em seu cotidiano, diversas línguas di- nhol passou a ser incluído no currículo junto ao
ferentes. Através de uma abordagem plurilíngue, inglês. Como criar não apenas no estudante, mas
se valorizam todas as experiências linguísticas na comunidade escolar a consciência da urgên-
do indivíduo facilitando assim seu conhecimen- cia do plurilinguismo não somente para agir no
to em diferentes graus de línguas que podem pa- mundo do trabalho, mas para agir no mundo de
recer, em um primeiro momento, estranhas ou maneira reflexiva? Como discutir esses pontos
muito diferentes de sua língua materna. na mesma escola onde o próprio trabalho com a
Partindo desse pressuposto, o ensino de lín- língua estrangeira é relegado a míseras 1 ou 2
guas estrangeiras muda completamente sua pers- horas semanais em que, geralmente, os aspectos
pectiva, já que a maestria buscada pelo estudante da língua abordados são a gramática visando às
de uma segunda ou terceira língua passa a cons- provas de acesso à universidade brasileira?
tituir-se, após as noções do Quadro, a partir da Motivado pelos referenciais teóricos da edu-
capacidade que o mesmo tem de construir sua au- cação referidos anteriormente, um grupo de pro-
tonomia de aprendizagem, relacionando as lín- fessores de uma escola Federal do Rio Grande
guas que já conhece com aquelas que deseja co- do Sul buscou, através de uma proposta desafia-
nhecer, usando de todos os recursos de que dis- dora, encontrar um novo espaço para o conheci-
põe e construindo estratégias para desenvolver mento visto de forma plural. Nesse novo espaço,
sua habilidade na língua meta. O mundo passa a ancorados na ideia de pluralidade linguística do
ser um hipertexto, onde somos expostos a diver- QECR, e em um documento posterior a ele, o Plan
sos estímulos todos ao mesmo tempo e cabe a Curricular del Instituto Cervantes2 (2008), que
nós filtrá-los para chegar a nossos objetivos. A também enfatiza a busca pelo desenvolvimento
abordagem plurilíngue percebe o conhecimento linguístico através da consciência reflexiva do
construído em conjunto, e não unidimensio- estudante quanto ao seu aprendizado de segun-
nalmente. Se pensarmos na escola brasileira, po- das línguas, buscou-se não apenas um lugar para
demos falar em plurilinguismo? as línguas estrangeiras que excedesse as pífias
Ao estudar uma língua estrangeira, segundo a duas horas semanais da tradicional grade curricu-
abordagem plurilíngue, o indivíduo estaria con- lar, mas uma nova concepção para o trabalho com
jugando saberes, ideia que vai ao encontro do fi- as línguas que promovesse o plurilinguismo. Isto

2
Além do QECR, o PCI (Plan Curricular Del Instituto Cervantes) traz a ideia das três dimensões do aluno na construção
de uma aprendizagem plural: D1. Agente Social, D2 Aprendiz Autônomo e D.3 Falante Intercultural.

190
é, buscou-se com o novo projeto, conjugar a ideia tos do mundo, já que, o trabalho feito pelos pro-
de um ensino não unidimensional, desfazendo as fessores de língua já era por si interdisciplinar e
hierarquias entre as disciplinas, ao passo que se plural. Ao dar aula de línguas se pode apenas fa-
tentou encontrar uma forma de valorizar todas as lar de gramática, mas também de História, de Ge-
línguas oferecidas na escola de forma equitativa ografia, de Filosofia, de Música, de Literatura,
e proveitosa para a criação de uma consciência etc. Os professores de língua da escola já incor-
plurilíngue no estudante. Tal proposta só foi pos- poravam as demais disciplinas em suas aulas,
sível devido a uma nova organização didático- porém como incorporar a língua estrangeira nas
pedagógica que, a partir de uma reflexão inicial demais disciplinas? Outro ponto importante na
baseada nas propostas de interdisciplinaridade do promoção da pluralidade linguística era o fato de
Ensino Médio Inovador do MEC, criou um pro- que o aluno escolher uma língua entre quatro não
jeto a ser implementado que satisfizesse a rela- bastava para estabelecer um novo lugar para as
ção plural entre os saberes. A proposta foi conce- línguas estrangeiras na vida dos alunos. A esco-
bida por um grupo de professores de diversas áre- lha também não promovia plenamente o desen-
as, mais uma vez buscando o diálogo e a volvimento de uma competência linguística no
pluralidade, que pensaram como reestruturar o aluno que excedesse seu domínio em uma língua
Ensino Médio em 2012. Baseados em Machado específica. Assim, foram pensadas algumas pro-
(2005), o projeto foi chamado de Ensino Médio postas que colaborassem a uma nova percepção
em Rede e buscou romper as antigas hegemonias das línguas estrangeiras por parte dos alunos e
das disciplinas chamadas “tradicionais”, criando também dos próprios professores.
novos espaços efetivamente interdisciplinares e Uma das propostas criadas, a partir de então,
desafiadores ao estudante social, crítico e autô- no sentido de integrar as línguas estrangeiras aos
nomo que a proposta deseja formar. Porém como demais componentes curriculares foi a realiza-
foi possível mexer nos territórios conquistados ção de atividades integradas entre línguas e ou-
da escola? tras disciplinas do currículo. Um exemplo con-
Inicialmente, após discussões exaustivas, fo- creto dessa nova presença das línguas foi uma
ram redistribuídas as cargas horárias de cada dis- atividade criada em conjunto com o professor de
ciplina ofertada no Ensino Médio de maneira mais filosofia que, ao trabalhar “ética”, com o auxílio
equitativa, de forma que todas as disciplinas da dos professores de Língua Estrangeira3 trouxe
grade tivessem no mínimo dois períodos sema- textos diferentes sobre o mesmo tema nos idio-
nais. Depois dessa primeira quebra dos padrões mas estudados pelo aluno. Os alunos que estuda-
estabelecidos, foram pensadas novas estratégias vam francês, receberam um texto sobre um caso
para a construção dessa rede interdisciplinar que de eutanásia na França (em francês), os de espa-
é o conhecimento. Já eram prática da escola, co- nhol outro texto sobre um caso na Espanha (em
nhecida por seu caráter inovador, algumas ações espanhol), os de alemão um caso na Suiça (em
especiais como a escolha de línguas estrangeiras alemão) e os de inglês, um caso na Inglaterra (em
a serem cursadas durante o ensino médio entre as inglês). Após as leituras realizadas pelos alunos
4 ofertadas na instituição (alemão, espanhol, fran- em suas respectivas línguas de estudo, na aula de
cês e inglês), além da oferta de disciplinas de li- Filosofia e não na aula de línguas, os grupos com-
vre escolha por parte dos estudantes (disciplinas partilharam os textos que eram diferentes entre
eletivas que podem ou não ser em línguas estran- si em português e deram início a uma discussão
geiras) e de disciplinas que privilegiam a pesqui- proposta pelo professor de Filosofia. No momento
sa (iniciação científica). Contudo, criou-se o de- da entrega dos textos, os alunos tiveram certo
safio por parte dos professores de língua estran- estranhamento por não estarem acostumados a ver
geira, ativos e incomodados com a geografia es- as línguas naquele espaço diferenciado, mas a
colar, de implementar e integrar as línguas es- atividade promoveu a curiosidade dos estudan-
trangeiras aos demais momentos da escola pro- tes inclusive sobre as línguas que não estudavam,
movendo a pluralidade de olhares e entendimen- já que os colegas compartilharam as discussões

3
Adiante L.E.

191
com o grande grupo e todos puderam ter acesso práticas cotidianas, e estranho no contexto esco-
aos diferentes textos. A atividade foi realizada lar, disseram não saber a língua e não ter como
com o 2º ano do Ensino Médio em Rede e pro- ler o material proposto, uma “simples” notícia de
moveu o que se pode chamar de multilinguismo, jornal sobre a imigração na França. Entretanto,
plantando algumas sementes na direção do pluri- após alguns momentos de exploração do título,
linguismo. das imagens, das palavras-chave, os mesmos alu-
Contudo, sem dúvida a proposta mais inquie- nos que disseram não saber nada de francês co-
tante aconteceu com a terceira série do Ensino meçaram a identificar o gênero do texto, o país
Médio em Rede. Na nova reorganização horária, de origem, a temática e o enredo da notícia. Aos
os alunos do terceiro ano tiveram dois períodos poucos, o monstro de sete cabeças foi começan-
vagos na grade e os mesmos foram destinados à do a ser vencido através da cooperação dos estu-
disciplinas integradas, ou seja, disciplinas que dantes e da mobilização de sua autonomia e de
buscavam evidenciar a rede de conhecimentos suas estratégias de leitura, que como uma com-
proposta pelo novo projeto. Desde o 2º ano do petência necessária em todas as disciplinas, é uni-
Ensino Médio os alunos já contavam com uma versal.
disciplina integrada de Química e Biologia no cur- No decorrer das semanas, com um período se-
rículo, áreas afins. No 3º ano, além da mesma manal, as línguas foram circulando, sem nunca
disciplina ter-se mantido, houve a junção, em 1 repetirem-se antes de fechar o ciclo das quatro
período semanal, das disciplinas de geografia e línguas oferecidas pela escola. Foi construída uma
história, e uma junção muito surpreendente tanto página wiki onde ficaram disponíveis as tarefas
por parte dos alunos como dos professores: Lín- de cada aula. Devido ao “medo” de alguns estu-
guas Estrangeiras e Matemática. Questionamen- dantes frente à disciplina, que pensavam “não pre-
to de muitos: essas disciplinas tem algo em comum? parar para o vestibular” - necessidade iminente e
Outra das características que causou certo es- pragmática dos alunos e professores do 3º ano do
panto inicial aos estudantes foi o fato de que na Ensino Médio —, e que segundo eles era “uma
disciplina em questão, os mesmos teriam contato perda de tempo porque nunca iam aprender es-
com “atualidades” em todas as línguas ofereci- panhol, francês, inglês ou alemão daquela forma”,
das na escola independentemente de seu grau de foram feitas algumas conversas com os estudan-
conhecimento delas. Como ministrantes da dis- tes e na página de trabalho foi veiculado o texto
ciplina, buscamos, na primeira aula, integrar al- de apresentação abaixo:
guns conhecimentos matemáticos básicos (regras
de três, porcentagens) com elementos de Ecolo- Acreditamos em um ensino plural que inte-
gia, Química, sempre com temas atuais. O texto gra as diferentes áreas do conhecimento, co-
mo a Matemática e as Línguas Estrangeiras
proposto para a primeira aula foi em espanhol, e vê, nas mesmas, coincidências, já que em
por ser a língua mais familiar ao português, e tra- ambas, por mais diferentes que possam pa-
tava dos níveis de NO2 no ar de Madri. Para a recer, exercitamos nossa lógica. Ao lermos,
leitura era necessário, como diz o QECR, fazer formulamos hipóteses e as testamos, usamos
nossos conhecimentos prévios e comprova-
uso de todo o conhecimento prévio, tanto conhe- mos resultados para resolver um problema,
cimento linguístico quanto cultural para compre- seja ele de ordem matemática ou linguística.
ender o texto em uma língua diferente da mater- Ambas as disciplinas se estruturam através
de códigos que, por meio de uma série de
na. Ao entrar em aula, foi feita uma pergunta aos
estratégias, são decifrados por nós em nosso
alunos: O que pensam que verão nesta discipli- dia a dia. Assim, durante as aulas, serão li-
na? Alguns responderam que iriam ver os núme- dos textos nas diferentes línguas estrangei-
ros em L.E., e a pergunta foi deixada no ar para ras oferecidas pelo colégio. A partir dessa
leitura inicial, passaremos a outro tipo de lei-
ser respondida ao fim do semestre. A primeira
tura, a de gráficos, tabelas, porcentagens, isto
experiência foi relativamente tranquila devido à é, leituras que fazem parte da nossa rotina.
semelhança das línguas portuguesa e espanhola, No tengas miedo!; Don’t be afraid!; N’ayez
contudo, na 2ª aula o texto foi em francês, o que, pas peur!; Fürchtet euch nicht! TODOS
NÓS SAIREMOS GANHANDO!!!! (texto
primeiramente, desestabilizou os estudantes. Mui-
de entrada da página, disponível em: <http:/
tos, ao ter que lidar com algo inédito em suas /matle.pbworks.com>)

192
Como estratégia de auxílio aos alunos, foram espanhol “só” espanhol e passariam a constituir-
disponibilizados na mesma página de trabalho se entre elas uma rede, a rede da linguagem que é
uma série de conselhos de como ler de maneira de certa forma universal, ou como diz de Swaan,
instrumental. A seção foi chamada de “dicas de uma das quatro dimensões que organizam o mundo.
leitura instrumental” e nela constavam noções de Nas atividades semanais os alunos, apesar de
compreensão geral motivando os alunos a: inici- muitas reclamações, passaram a perceber grada-
almente descobrir o gênero textual do texto para tivamente que eram capazes de entender textos
que pudessem prever o tipo de vocabulário en- em línguas que não compreendiam inicialmente
contrado; responder perguntas básicas dos textos se fizessem uso de todo um aparato cognitivo e
(Onde? Quando? O que? Quem? Como?); ler se estivessem dispostos a romper com seus pre-
somente o título do texto; dar uma olhada rápida conceitos iniciais. Os mesmos alunos que pro-
(no máximo por um minuto) e considerar todas testavam, passaram a compreender textos atra-
as indicações tipográficas, os cognatos, as pala- vés da mobilização de uma série de estratégias
vras repetidas e o conhecimento prévio sobre o linguísticas e lógico-matemáticas que envolvem
assunto; sintetizar o tema central do texto; subli- o processo da leitura como: a seleção do impor-
nhar todas as palavras conhecidas; identificar em tante e supérfluo em um texto, a comparação com
que tipo de língua está escrito (latina, anglo-saxô- estruturas conhecidas de outras línguas, a dedu-
nica, etc.); relacionar as palavras a línguas que já ção e formulação de hipóteses relativas ao signi-
conhecem; anotar as palavras que parecem im- ficado de determinadas palavras, a exploração da
portantes para a compreensão global do texto e semântica das palavras em sua relação com as
cujo significado não sabem; tentar descobrir pelo demais no texto, a reorganização do texto em sua
contexto, ou através do dicionário o significado língua materna, além, é claro, do contato com
de palavras-chave; identificar se o texto fala ma- experiências novas como a de escutar um texto
joritariamente sobre o passado, o presente ou o em outra língua e perceber sua sonoridade (os
futuro; resumir, em apenas uma frase, a ideia prin- textos passaram a ser lidos em voz alta por alu-
cipal de cada parágrafo; além, é claro, de refletir nos ou por professores), as diferenças e as seme-
se a compreensão do texto foi fácil ou difícil e lhanças destas línguas e de sua língua materna.
tentar associar o motivo da facilidade ou dificul- Ao final do semestre, os professores desta dis-
dade da leitura; buscar o apoio de um colega e ciplina integrada, na tentativa de perceber o im-
discutir o que foi entendido por ambos. pacto da proposta entre os alunos, como ativida-
As aulas transcorreram de maneira, por vezes, de final, propuseram a leitura de parte do QECR
atribulada devido ao fato dos alunos, e também com os alunos em língua espanhola. O trecho lido
de muitos dos professores do 3º ano, não estarem diz respeito à definição de plurilinguismo no do-
abertos à proposta e não verem a importância de cumento do Conselho da Europa. A partir da lei-
ações como esta que facilitam a compreensão dos tura do texto, os professores propuseram uma re-
alunos em todo e qualquer tipo de texto, desen- flexão sobre o mesmo e através dele sobre a dis-
volvendo sua autonomia quanto à resolução de ciplina.
problemas e ajudando-os a criar a tal consciência Pôde notar-se que, apesar de muitos protestos
plurilíngue. A proposta desestruturou o saber co- ao longo do semestre, houve um reconhecimento
nhecido, unidimensional, a inteligência míope da por parte dos estudantes de muitos dos benefíci-
qual fala Morin (2000), e criou um novo espaço os trazidos pela proposta inovadora e desafiado-
da língua estrangeira na escola, um espaço aber- ra. Alguns dos depoimentos4 dos alunos diziam que:
to e onde as possibilidades de utilização dessas
línguas são múltiplas e plurais. As próprias lín- (...) Essa disciplina me ajudou, principalmen-
guas estrangeiras deixariam de existir em sua di- te nas aulas com textos em alemão, francês e
inglês, línguas nas quais não tinha muita no-
ferença, como disciplinas separadas, ou seja, o ção e me imaginava incapaz de compreen-
aluno de alemão “só” deve saber alemão, o de der o conteúdo desses textos.(...) Creio que

4
Os quatro depoimentos em questão foram repostas de alunos do terceiro ano do Ensino Médio, formuladas a partir do
texto e perguntas mencionadas anteriormente (Plurilinguismo). Os alunos escreveram um texto a partir das propostas e
foram extraídos trechos de um aluno de cada idioma para que constasse neste trabalho. Os textos completos se (CONTINUA)

193
melhorei e aprendi a tentar estabelecer rela- trabalho, de que há línguas mais “importantes”
ções entre diferentes áreas do conhecimen- que outras, ou de que o espaço dos estudos das
to, ainda que não tenha aprendido a falar as
diferentes línguas específicas (o que não era línguas estrangeiras na escola deve ater-se ao,
o objetivo da disciplina). (P.N.W – aluno de mais uma vez “necessário” para o vestibular.
espanhol) Buscar novas propostas pedagógicas plurais e
A ideia da disciplina foi bem intencionada e novos espaços, não menos plurais, para o ensino
montada. Além de fazer o aluno capaz de de línguas nas escolas não é uma utopia, mas um
entender algumas coisas em 4 línguas dife- dever do professor de línguas que busca um alu-
rentes. Confesso que no início eu estive de
cara fechada para essa disciplina. Mas isso
no cidadão, um cidadão do mundo, social, crítico
mudou durante o semestre. (F.C. –aluna de e autônomo. Nos dias atuais já não pode mais
inglês) haver espaço para o conhecimento monológico,
Creio que o objetivo da disciplina seja de- unidimensional. O mundo e o conhecimento for-
senvolver uma competência de compreen- mam uma grande rede e nessa rede deve neces-
são de outras línguas, nos possibilitando ler sariamente haver um espaço significativo para o
em outras línguas, conseguindo filtrar as
uso das linguagens, sejam elas quais forem. Po-
ideias centrais dos textos usando palavras
chaves, mesmo sem ter conhecimento demos efetivamente ser bons professores em nos-
aprofundado da língua. Pois as línguas se li- sa área específica de conhecimento, mas também
gam, o espanhol, o francês e o português tem devemos romper as barreiras disciplinares, sejam
origem latina, e o alemão é ligado com o in- elas entre disciplinas que podem parecer inicial-
glês e por meio disso com o conhecimento
básico cotidiano de uma língua podemos ler
mente paradoxais como as Línguas Estrangeiras
e nos situar em muitas outras. (L.B. –aluna e a Matemática, ou dentro de uma mesma área. O
de alemão) professor de espanhol pode dialogar com o pro-
fessor de alemão? O Ensino não mais de uma lín-
Como podemos ver, os estudantes reconhece- gua, mas de línguas, sejam elas quais forem, só
ram a importância e contribuição da disciplina será possível quando nos arriscarmos mais en-
ainda que no início tenham ficado apreensivos quanto professores e rompermos ou modificar-
com a proposta. A grande maioria evidenciou re- mos a geografia da escola e de nosso pensamen-
postas muito parecidas às dispostas acima, o que to cartesiano. Quando pensarmos que o acesso a
evidencia a necessidade da implementação de uma língua abre caminho a todas as demais, es-
novos espaços e novas concepções para o papel taremos desenvolvendo nossa competência
das línguas na escola. Não podemos, como edu- plurilíngue e rompendo com as hierarquias soci-
cadores, contentar-nos com a ideia de que as lín- ais e linguísticas. O plurilinguismo na escola não
guas estrangeiras devem ser estudadas na medi- é e não deve ser uma utopia, deve ser uma meta
da em que são “necessárias” para o mundo do para o nosso milênio.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Conselho da Europa. Quadro Europeu Comum de Refe- MACHADO, Nilson José. Epistemologia e Didática: as
rência para as Línguas: aprendizagem, ensino, avalia- concepções do conhecimento e inteligência e a prática
ção. Lisboa: Asa Editores , 2001. Disponível em: <http:// docente. 6. Ed. São Paulo: Cortez, 2005.
sitio.dgidc.minedu.pt/recursos/Lists/Repositorio%- MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação
20Recursos2/Attachments/724/Quadro_Europeu_to- do futuro. 2. ed. – São Paulo: Cortez, 2000.
tal.pdf>. Acesso em: 15/05/2012.
Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto
DE SWAAN, Words of the world. The global language ciclos do ensino fundamental: língua estrangeira / Secre-
system. Cambridge: Polity Press, 2001. Cap. 1: taria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF,
Introduction: the global language system (p.1-24). 1998.
INSTITUTO CERVANTES. Plan Curricular del Insti- RETAMAR, Hugo Jesús Correa: Site de trabalho da dis-
tuto Cervantes, Madrid: Editora Biblioteca Nueva, 2008. ciplina Matemática e Línguas Estrangeiras. Disponível
em: <http://matle.pbworks.com> Acesso em 15/05/2012.

encontram em posse do autor deste trabalho. Por questões de privacidade, foram mantidas as iniciais dos alunos e não seu
nome completo.

194
O FUNCIONAMENTO POLÍTICO DAS LÍNGUAS: O PORTUGUÊS
E O ALEMÃO SOB DIFERENTES OLHARES

Luciana Vargas Ronsani*


Eliana Rosa Sturza
Universidade Federal de Santa Maria

CONSIDERAÇÕES INICIAIS que o caracteriza, que dá a seus falantes uma re-


lação de pertencimento a este povo”; e a “língua
Este artigo é fruto das discussões e leituras oficial é a língua de um Estado, aquela que é obri-
realizadas na disciplina Política de Línguas, e tem gatória nas ações formais do Estado, nos seus atos
como principal objetivo refletir sobre o funcio- legais”. A partir destes conceitos propostos por
namento político da língua portuguesa e da lín- Guimarães (2003), vamos refletir sobre o funci-
gua alemã, enquanto espaço de enunciação, lín- onamento político do português e do alemão em
guas estas faladas por sujeitos provenientes da diferentes espaços de enunciação.
comunidade da Vila Santa Catarina, situada no
Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, os
quais se significam em línguas diferentes segun- O ESPAÇO DE ENUNCIAÇÃO E A DIS-
do o lugar onde enunciam. TRIBUIÇÃO DAS LÍNGUAS
As línguas, para Guimarães (2003), são afeta-
das, no seu funcionamento, por condições histó- Guimarães (2003) destaca que “o espaço de
ricas específicas. Segundo o autor, as línguas fun- enunciação é que atribui as línguas para seus fa-
cionam segundo o modo de distribuição para seus lantes. E para ele, cada espaço de enunciação tem
falantes, ou seja, línguas não são objetos abstra- uma regulação específica, ou seja, distribui as lín-
tos que um conjunto de pessoas em algum mo- guas em relação de um modo particular”. Sturza
mento decide usar. Estas são, ao contrário, “ob- (2006 apud GUIMARÃES, 2002) afirma que os
jetos históricos e estão sempre relacionadas inse- espaços de enunciação “se definem como espa-
paravelmente daqueles que as falam”. Guimarães ços de funcionamento das línguas, que se divi-
(Ibidem) afirma que “não há língua portuguesa, dem, redividem, se misturam, desfazem, transfor-
sem falantes desta língua, e não é possível pen- mam por uma disputa incessante”. No espaço de
sar a existência de pessoas sem saber que elas enunciação da Vila Santa Catarina, as línguas
falam tal língua e de tal modo”. enunciadas, ora português, ora alemão “apresen-
Nesse sentido, ao recapitularmos as conside- tam outros sentidos que não se repetem em ou-
rações de Guimarães (2003) sobre a distribuição tros espaços de enunciação” (STURZA, 2006, p.
das línguas, podemos enumerar seus principais 66). O funcionamento dessas duas línguas é bas-
conceitos acerca deste assunto. Conforme o au- tante particular, uma vez que o alemão é enunci-
tor, a “língua materna é a língua cujos falantes a ado em espaços informais (entre famílias, nas
praticam pelo fato de a sociedade em que se nas- ruas) e o português está relacionado às esferas
ce a praticar; nesta medida ela é, em geral, a lín- públicas (nas escolas, prefeitura) funcionando co-
gua que se representa como primeira para seus mo um elo entre a sociedade fora da comunidade
falantes”; a “Língua franca é aquela que é prati- específica, na qual se fala também outra língua,
cada por grupos de falantes de línguas maternas com outra relação com esse sujeito falante. O pri-
diferentes, e que são falantes desta meiro olhar que trazemos em relação à distribui-
língua para o intercurso comum”; a “língua ção das línguas é para o funcionamento político
nacional é a língua de um povo, enquanto língua do português na região referida

Este artigo resulta de um recorte do trabalho final realizado na disciplina Política de Línguas ministrada pela Professora
Doutora Eliana Rosa Sturza, no Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal de Santa Maria.
*
Mestranda em Letras no Programa de Pós-graduação em Letras da UFSM. Bolsista Capes. Email: luronsani@yahoo.com.br

195
Pensando no Brasil como um país multilíngue, meçou no início do século XIX. Conforme Roche
é correto afirmar que fazem parte deste contexto (1969), “o Governo Imperial Brasileiro sempre
as línguas indígenas, o português, as línguas de considerou a imigração indispensável à explora-
imigração, etc. Guimarães (2003) nos explica que ção do País”. A chegada, justificada pelas vanta-
a relação entre estas línguas é regulada pelo fato gens que o governo proporcionava na época, ocor-
de que o português é a língua oficial do Brasil e a reu no Rio Grande do Sul em 1824.
língua nacional do povo brasileiro. A alta natalidade fez com que os alemães se
Como trata o autor (GUIMARÃES, 2000), a distribuíssem por várias regiões do Rio Grande
distribuição destas línguas para seus falantes dá do Sul, chegando ao Noroeste do estado em 1902
ao português a característica de língua civiliza- (Roche, 1969). Em Serro Azul, hoje Cerro Lar-
da, em oposição às línguas indígenas. A própria go, foi fundada a colônia de descendentes de ale-
linguística histórica brasileira, segundo ele, faz mães, e desta cidade foram se desmembrando
parte do processo de sustentação desta distribui- várias outras, como Salvador das Missões. No
ção hierarquizada das línguas. As línguas indíge- interior desta cidade, na Vila Santa Catarina, há
nas, por exemplo, aparecem, nesta divisão, como muitas pessoas de descendência alemã.
línguas de cultura, ou seja, línguas que constitu- Por seus festejos, reuniões familiares, encon-
em a cultura dos povos que a praticam, sendo tros comunitários, comemorações típicas e pela
estes, então, caracterizados, dentre outros elemen- prática da língua alemã, tais sujeitos significam
tos, por suas línguas (Guimarães, 2003). A lín- sua identidade alemã. O alemão ainda é bastante
gua portuguesa, entretanto, “aparece como lín- praticado, na região, principalmente nas ocasi-
gua civilizada que, por esta razão, ou nesta medi- ões de celebrações e festividades típicas.
da, suplantou estas línguas no processo históri- Nas regiões de colonização alemã, existia uma
co” (ibid). série de associações, fundadas por grupos de imi-
As línguas de imigração, como é o caso do grantes alemães, que seus descendentes manti-
alemão, “ficam separadas do português, mas, na nham (CAMPOS, 2006, p.17).
medida em que são línguas também considera- Segundo a autora (ibid.), “eram sociedades
das civilizadas, se separam por outro lado das lín- culturais ou de recreação — ginástica, canto e
guas indígenas” (Ibidem). tiro — e educacionais, que mantinham diversas
Sabemos que o português veio para o Brasil escolas em funcionamento”. Nas escolas, a lín-
com a chegada dos portugueses. Como vimos, o gua que os sujeitos chegavam falando era a lín-
português é, em nosso país, considerado uma lín- gua materna, o alemão. Por este motivo, em me-
gua civilizada, já que a partir da segunda metade ados da década de 30, governantes e represen-
do século XVIII ele se impõe como língua de uso tantes adotaram uma política de interdição da lín-
geral e torna-se, depois da independência, a lín- gua falada, “língua estrangeira” para eles, a fim
gua nacional do Brasil (GUIMARÃES, 2003). de “modificar sua prática e adotar a língua nacio-
O espaço de enunciação do Brasil é, desta for- nal” (CAMPOS, 2006, p.17).
ma, constituído por línguas que possuem status Entendemos que as pessoas têm o direito de
diferentes e que configuram funcionamentos po- se significarem na/s língua/s, conforme o espaço
líticos também diferentes. O português, neste de enunciação, mas o Estado e, principalmente,
caso, é uma língua de maior prestígio, visto que seu aparelho ideológico (ALTHUSSER, 2010), a
é a língua do Estado, e este assegura uma orien- instituição de ensino, que é um lugar de interdi-
tação linguística que difunde e assegura o portu- ção, de materialização dos efeitos das políticas,
guês como língua nacional. não asseguraram, na época referida, este direito
aos imigrantes. Neste sentido, o sujeito descen-
dente de imigrantes alemães se significa como
O LUGAR DA LÍNGUA ALEMÃ NA afetado pelo silêncio imposto pela política naci-
DISTRIBUIÇÃO DAS LÍNGUAS onalista de Getúlio Vargas, na década de 1930, e
por uma fronteira que delimita seu dizer em ale-
Sob uma ótica histórica, podemos dizer que a mão e em português.
vinda dos imigrantes alemães para o Brasil co-

196
Dessa forma, o português e o alemão, neste manter o diálogo, explica Benveniste (2006). Se-
espaço de enunciação, se relacionam, entretanto gundo o autor “cada enunciação é um ato que
se dividem politicamente. Para Sturza, 2006 serve ao propósito de unir o ouvinte ao locutor
por algum sentimento, social ou de outro tipo”
O espaço de enunciação é um espaço confi- (2006). Em relação ao que ele menciona, neste
gurado por uma relação de línguas e falan- espaço comunitário, a (s) língua (s) significa (m)
tes. Os sentidos que se constituem em um
espaço de enunciação decorrem dessa rela-
o sujeito em toda a sua amplitude e em todos os
ção umbilical. Os sentidos são constituídos momentos.
no interior de um embate, que é determina- Vimos, que a língua alemã que os sujeitos
do pelo lugar político que as línguas tomam moradores da Vila Santa Catarina enunciam é uma
ao se confrontarem, ao se mesclarem, ao se- língua, predominantemente oral, visto que desde
rem contidas e interditadas, na configuração
de um espaço próprio, significadas enquan-
a II Guerra Mundial, com a ênfase e a obrigato-
to línguas, dadas à existência pela existên- riedade na aprendizagem da língua nacional (por-
cia de seus falantes (p.66) tuguês), ela perdeu seu espaço devido à proibi-
ção do seu uso.
Mais tarde, quando desenvolvermos melhor Já, o contexto de difusão do idioma nacional é
as nossas discussões, estudaremos, a partir da marcado por uma política de nacionalização im-
organização de um corpus de enunciados produ- posta pelo Presidente Getúlio Vargas, “cujas ações
zidos por descendentes de alemães, cuja língua de repressão e controle incidiram diretamente nas
primeira, adquirida no ambiente familiar, foi o práticas linguísticas da população das colônias”
alemão, uma análise de como os sujeitos distri- (PARCIANELLO, 2011, p.12).
buem as línguas quando as praticam por um sen- A função de modificar o status de uma língua
tido político que dão a elas. Nosso objetivo tam- é do Estado e das instituições e órgãos que o re-
bém considerará o funcionamento político do si- presentam como um todo (STURZA, s/d). A pla-
lêncio, por ser este um modo de significar a inter- nificação linguística, neste caso, é entendida como
dição linguística sofrida pelos descendentes ale- política linguística. Calvet, (2007, p.72) define
mães, durante o Estado Novo. esta prática como “gestão in vitro” e a descreve
Como metodologia, escolheremos a entrevis- como algo estudado, pesquisado, prescrutado, a
ta semiestruturada, como mecanismo de registro modo do que é feito em um laboratório. Nesse
do diálogo entre o entrevistador e o entrevistado, sentido, a Campanha de nacionalização, das dé-
de modo que ela nos permita analisar as respos- cadas de 1930 e 1940, provocou mudanças na
tas das entrevistas dadas por sujeitos descenden- relação dos sujeitos com as línguas que falavam.
tes de imigrantes alemães, pois será a partir da Dessa forma, podemos concluir que o “o es-
realização destas entrevistas, que perceberemos paço de enunciação é o modo de distribuir, se-
as distintas formas de silenciar a repressão e os gundo as definições acima, as línguas em rela-
sentidos dessas formas de silêncio. ção” (GUIMARÃES, 2003). O autor nos escla-
rece que esta distribuição das línguas para seus
falantes é sempre desigual. E este modo de dis-
POLÍTICAS DE INTERVENÇÃO NO tribuição é elemento decisivo do funcionamento
FUNCIONAMENTO LINGUÍSTICO: de todas as línguas relacionadas. Para finalizar
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES trazemos um exemplo citado por Guimarães
(2003): se tivermos, num certo espaço de
A linguagem não se resume apenas à comuni- enunciação, diversas línguas maternas e uma lín-
cação e à transmissão de pensamentos, posto que, gua nacional, elas tomam seus falantes cada uma
há muitas situações de uso da língua para as quais a seu modo. O espaço de enunciação é, desse
o sujeito emprega com o simples propósito de modo e por isso, político.

197
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALTHUSSER, Louis. Aparelhos ideológicos de Estado. ______. Semântica do Acontecimento. São Paulo: Pon-
6ed. Rio de Janeiro: Graal, 1992. tes, 2002.
BENVENISTE, Émile. Problemas de Linguística Geral PARCIANELLO, Juciane. O dizer na e sobre a língua de
I. 2ed. Campinas: Pontes, 2006. sujeitos descendentes de imigrantes italianos e a fron-
CAMPOS, Cynthia Machado. A política da língua na Era teira enunciativa. Dissertação de mestrado. UFSM, 2011.
Vargas – Proibição do falar Alemão e Resistência no Sul ROCHE, Jean. A colonização alemã e o Rio Grande do
do Brasil. 1998. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, Sul. Porto Alegre: Globo, 1969.
2006. STURZA, Eliana Rosa. Políticas Lingüísticas e Políticas
CALVET, LOUIS-JEAN. As Políticas Lingüísticas. SP: Universitárias: Pesquisa, Ensino e Extensão. Disponível
Parábola, 2007. em: http://celu.edu.ar/images/stories/pdf/coloquios/
GUIMARÃES, E. Enunciação e política de línguas no 5 _ c o l o q u i o /
Brasil. Revista Letras. nº 27/ Ano 2003, p. 47-53. Politicas_linguisticas_e_politicas_universitarias_Sturza.pdf

______. “Sentido e Acontecimento”. In: Revista Gragotá.


Niterói. UFF, 2000.

198
O MBYÁ COMO PRINCÍPIO:
O QUE É POSSÍVEL QUANDO SE DESCONHECE?

Viviane Silveira
Jerônimo Vera Tupã Franco
Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Freud e Lacan já nos ensinavam desde os pri- cantes que o analista pode escutar pertencem à
mórdios de suas teorias sobre o lugar central das história de quem fala e de seu grupo familiar. Ela
formulações linguísticas nos idiomas de origem vai também denunciar o risco de jogarmos alguém
das pessoas e casos dos quais se ocupavam. As em uma fala desgarrada de sua língua de origem
formações do inconsciente, feitas de linguagem, e dos efeitos de destrutibilidade em seu campo
nos atos falhos, chistes, sintomas e sonhos fo- simbólico.
ram, desde o início, localizadas como a substân- No caso das crianças que nos apresenta, mais
cia, por excelência, da alma humana. especificamente em um caso delas, assinala que
Autores como Gabriel Balbo e Charles Mel- se via se ocupando do valor da representação que
man nos contam de suas experiências e cuidados a criança evocava em seus “tocos de palavra” em
com a questão da língua materna no caso da psi- turco, em cifrar as experiências da criança junto
canálise feita com analisantes em situações em com ela em sua língua materna e também tinha o
que o idioma originário deste não é o mesmo que trabalho da tradução, não somente da experiên-
do analista e ou do ambiente em que se dá o traba- cia, mas da língua em questão para o francês.
lho. Escolhemos, no entanto aqui, mencionar mais Ela ressalta que a língua materna é a língua na
especificamente a obra de Marie-Christine Laz- qual se dão as primeiras experiências, evidente-
nik, de 1997, em que trata de casos de crianças mente, de estruturação psíquica, corporal,
turcas, radicadas na França. São situações gra- cognitiva, desejante da criança. Ela estaria em um
ves de fechamento autístico, nas quais as famíli- segundo registro em relação ainda a uma vivência
as não dominavam o idioma do país para o qual linguística anterior, aquela própria das flexibili-
haviam imigrado e a analista, tampouco, tinha co- zações da cadeia sonora realizada pelos mais ve-
nhecimentos sobre o idioma destas famílias. lhos quando se ocupam de um bebê e carro chefe
Ela realiza seu trabalho de restauração das vias para o lastro da língua materna propriamente. No
de possibilidade de simbolização e trocas destas entanto, nesta segunda, então, idioma que respon-
crianças e famílias em um delicado fazer de es- de a regras gramaticais e da cultura comum a to-
cuta, intermediação e tradução, assumindo, su- dos, teríamos a língua na qual a mãe é proibida à
portando e sustentando posições muito específi- criança, ou seja, onde opera a interdição, a dimen-
cas. A situação em que as jovens crianças esta- são terceira, paterna, a lei, onde se passa, de fato,
vam era de fechamento e impossibilidade de re- ao simbólico.
ceber ou endereçar mensagens. Mantinham-se em No caso das crianças turcas, o turco era o idi-
um esforço, o qual ela ressalta seu grande respei- oma onde estavam não apenas a mãe e o pai, mas
to por ele, de fazer seu universo simbólico sobre- também os tios, os avós, os antepassados e valo-
viver, às custas de um rechaço à intrusão de suas res antigos da cultura de seus jovens analisantes.
alteridades, as quais, por sua vez, encontravam- O grave risco lembrado por ela, através do traba-
se já bastante desmanteladas em suas chances de lho de Charles Melman, é de fiquem duas mães e
formular hipóteses de encantamento e desejo na pais em jogo: aqueles que são simbolizados na
direção de seus filhos. língua que for falada e aqueles que ficam como
A autora nos lembra, antes de tudo, da posi- puro real, desreconhecidos e desinvestidos de seus
ção lacaniana de que uma fala somente é uma atributos simbólicos. Ela, assim aponta, que fa-
fala porque alguém acredita nela. Ela situa, igual- zer uma criança falar uma língua estrangeira nes-
mente, a importância da ideia de que os signifi- tes moldes, implica em uma perigosa despersona-
lização.

199
Antes de passarmos às vivências com os falan- das experiências sonoras, as articulações origi-
tes do idioma Mbyá, ainda remonto a algumas nárias linguísticas de cada um e o desdobramen-
palavras da autora, mencionando que, em seu to destes primeiros momentos no idioma e cultu-
caso, dizia que ter um dicionário de turco em cima ra em cada caso.
de uma mesa, durante as sessões, fazia dele um Quando comecei a frequentar a realidade da
importante lugar terceiro. Remetia à hiância en- sociedade Mbyá-Guarani deparei-me, de saída,
tre os significantes, à descontinuidade de signifi- com a questão de estarem muito bem situados em
cações e traduções simétricas, a não reciprocida- seu idioma, costumes e tradições aos quais eram
de, à falta, à imperfeição, elementos, por exce- igualmente fiéis e levavam tão a sério quanto a
lência, para representar o surgimento do sujeito. própria vida. Resplandecentes em seu modo par-
Ela também lembra o ensinamento de Jacques ticular de constituir seus corpos, suas pessoas, sua
Hassoun que traz a figura dos homens da Idade filosofia, colocação da voz, grande cuidado com
Média que tinham o ofício de traduzir não so- o silêncio, com os detalhes, com a sensibilidade,
mente a língua, mas atos de gestos de povos lon- me ensinavam, logo de início, que algo muito
gínquos para europeus que se lançavam em pere- grandioso se dava em seu modo milenar de exis-
grinações distantes, assentados em suas certezas. tir que os fazia tão diferenciados.
A atividade destes intermediários se realizava, A delicadeza, curiosidade, alegria, leveza, hu-
sobretudo, na provocação, criação de dúvidas e mor fino, concentração e impressionante desejo
surpresas nestes europeus e suas posições de pen- de saber, são marcas que introduzem o povo Mbyá
samento em relação a estes povos. para quem deles se aproxima, já nos primeiros
O corpo, como nos diz Bergès, o primeiro e momentos de convivência. Jamais pude desconec-
maior de todos os dicionários é, necessariamen- tar a ideia de que parte do milagre deste modo
te, engendrado nas representações linguageiras tão raro e elevado deles tinha algo com seu res-
que o enodam, organizam e fazem, pouco a pou- peito único à dimensão da palavra e do próprio
co e sempre, passar de espaço de organismo à idioma. Língua e cultura, nossas relações com
imagem, fantasia e palavra. Para os Mbyá, a pa- ambas, inevitavelmente entrelaçadas, são fios que
lavra, dimensão, por excelência sagrada, concei- conduzem todo o pensamento e explicitam o lu-
tualizam, como nos ensinou Professor Vherá Poty, gar do valor e lógica de compreensão que eles
ser a voz que faz viver as coisas. E o primeiro de formulam sobre sua posição no mundo.
todos os nomes, o nome próprio, se acentaria, de Quando mencionei ao líder político e espiri-
acordo com o complexo sistema de crenças deste tual da comunidade, recentemente, que me orga-
povo, ao longo da gestação e primeiro ano de vida, nizava para escrever um texto sobre a questão do
a alma-palavra, Nhe-é. Neste primeiro ano a alma bilinguismo, ele, em um primeiro momento, dis-
da criança ainda estaria muito dependente da alma se-me que eu ainda não estava autorizada pelos
de seus pais, não sendo ainda chamada pelo nome deuses para falar sobre isto e que ainda precisava
próprio em seu idioma originário, do mesmo aprender mais, que ainda era cedo para tocar neste
modo, como o fato de seus pais estarem próxi- tema. Ponderou várias questões, inclusive o ris-
mos e juntos seria fundamental para o fortaleci- co de estarmos falando do assunto desde nossa
mento da criança neste período. perspectiva ocidental ao invés de escutarmos as
Ao longo de mais de dez anos de experiência preocupações e problemas que realmente eram
da escuta e acompanhamento de crianças ainda significativos para os próprios Mbyá.
não falantes no consultório e em grupos de bebês Após alguns retornos e releituras do assunto,
em aulas de música, me ocupei de aprender so- tendo Profª Maria Aparecida Bergamaschi suge-
bre a importância e lugar da voz e primeiras for- rido que então eu escutasse um dos professores
mações de linguagem na constituição psíquica e da comunidade sobre o tema, o líder concluiu que,
trocas humanas. Durante todo este tempo enten- deste modo, havíamos chegado a um bonito viés
dia que as flexibilizações e jogos vocais, interme- para tratarmos da questão. Professor Jerônimo
diavam o vivido pela criança, a família e a cultu- Vera Tupã Franco, da comunidade Tekoá Anhe-
ra. Estas vivências me formaram no sentido de tenguá, aceitou conversar comigo e construirmos
me ensinar sobre o lugar sagrado e insubstituível conjuntamente esta leitura e texto. Prossigo, nes-

200
te momento, com algumas de suas colocações em um hospital. Disse que ali se deparou com a
que, de maneira extensa e profunda, como é de grande diferença. Entre os Mbyá, o cordão um-
seu hábito, situaram elementos importantes do bilical somente pode ser cortado com pedaços de
assunto que nos concerne. taquara, de maneira natural, pela parteira. Não
Professor Jerônimo iniciou nosso diálogo lem- lhes é permitido o metal, a tesoura ou a faca. Lem-
brando que agora contaremos, em nossa região, brou que no nascimento desta menina, ela chora-
com a possibilidade do magistério indígena. Ele va muito, se interroga se isso não seria por seu
situa este como um caminho fundamental para espírito não ter gostado do que houve.
que os professores indígenas das comunidades Disse que para ensinar as famílias é preciso
possam conduzir o ensino dos estudantes dentro pegar os conselhos dos mais velhos, que vão sen-
da lógica da educação diferenciada e, igualmen- do repassados para um e para outro. Contou que
te, estejam autorizados pelo sistema a conduzir sua filha mais jovem, neste momento, acorda às
estes processos, tendo eles mesmos sido forma- 4 horas da manhã, diariamente, falando a língua
dos na sua cultura de origem, na companhia de japonesa “aaah...tah...tah...”, então os irmãos vão
seus avós, através do conhecimento dos mais ve- acordando também, vão acessando uma forma
lhos, em seu modo de formar pessoas para a sa- importante de conhecimento, tal qual, por exem-
bedoria e não para ganhar dinheiro, para a saúde plo, a imaginação também o é. Isso faz com que
e liberdade e não para a desconfiança e escravi- se tornem pessoas felizes, afinal, ninguém gosta
dão capitalista. de ficar sozinho. Reforça que é preciso ter
Explica que, deste modo, quem deverá formar irmãozinhos para conversar, falar, contar a sua
os professores, a partir desta proposta legaliza- história. Esta, sinaliza, é a verdadeira educação
da, são os líderes espirituais, de preferência mais Mbyá. O menino vai sendo preparado para trazer
jovens, para não sacrificarem os velhos forçan- lenha, a menina para lavar a louça, a roupa. Anti-
do-os a sair das comunidades em carros ou avi- gamente o era para se encaminhar para grande
ões. Salientou que neste momento, passa a caber pilão. A cultura é mais coletiva. Quando fazem
aos mais jovens enfrentar as adversidades do se roça, um ajuda o outro, por que quando está ma-
dirigirem cedo para reuniões e encontros, apren- duro, todo mundo vai. Se uma pessoa planta mais
derem mais o português e se reposicionarem em aipim, tem o direito de trocar por melancia. Quan-
relação ao que já houve, por exemplo, quanto às do preparam o plantio, oportunizam a presença
dificuldades em lidar com a escrita e os docu- dos animais, as crianças começam a aprender a
mentos em papel. Uma maior agilidade em lidar fazer pequenas armadilhas. Assim começam a
com os projetos e sistema não indígena agiliza saúde e a vida.
também as questões com as terras e evita incom- Jerônimo também insistiu que observando os
preensões e conflitos entre os próprios indígenas. brancos os guarani aprenderam que deveriam
Por isso, salienta Jerônimo, é preciso saber levar andar de ré. Os brancos, indo tão além, avançan-
a escola e saber também, por onde ela vai nos do tanto, foram destruindo tudo, acabaram esque-
levar. Igualmente nos sublinhou a importância de cendo o que há de mais importante. Então, seria
começarmos a pensar caminhos através dos quais isso mesmo, pesquisando estas coisas, podiam
se localize formas de viabilizar a construção de dizer o que é que tem. Os guarani sempre vão de
associações, as remunerações para os lideres, afi- ré. Sabem que é importante falar pouco e bonito.
nal, fazem trabalho político; para os curandeiros Disse que ninguém podia afirmar que tem certe-
e as mulheres que acompanham os partos, afinal, za ou que sabe a história. Cada parte dela pode
tratam diretamente da saúde. Deveriam receber estar em um lugar diferente. Contou a história do
ajuda de custo, contar com mais condições finan- sol e do lua. Alertou que cada parte dela poderia
ceiras para manter suas famílias. Uma vez que, estar na Lomba, em São Miguel, no Paraguai ou
como assinala, o dinheiro é fabricado pelos bran- no Cantagalo.
cos, seria mesmo muito difícil beneficiar a to- Ao finalizar seu depoimento, levou-me até a
dos? parte externa do local em que conversamos. As
Trouxe, em sua fala, o episódio do nascimen- crianças pulavam em um pé só, em círculo, ao
to de uma de suas filhas, cujo parto foi realizado meu redor. O céu estava bonito, como é de costu-

201
me na aldeia. Professor Jerônimo me orientou educação e formação, nomes de seres da nature-
quanto às estrelas e alguns dos mitos que menci- za ou importantes elementos dos mitos, vão sen-
onou durante sua fala. Enquanto explicava sobre do, assim também, trazidos nas falas em portu-
o desenho das constelações ia e vinha, traduzin- guês, aos poucos vamos iniciando nossa familia-
do os nomes e os mitos do Mbyá para o portugu- rização com a língua que atravessa todo um esti-
ês e o contrário também. Concluímos fazendo lo de vida, estrutura a cultura e vai nos transfor-
combinações para a organização de um teatro mando, nos dando novas expressões, sotaques e
bilíngue para as crianças e toda comunidade, gestos dos quais vamos nos apropriando incons-
agendado para o reinício das aulas em agosto. ciente e poeticamente.
Em uma das ocasiões em que tive a oportuni-
dade de participar de atividades do cotidiano da
UMA QUESTÃO DE POSIÇÃO escola da comunidade, me foi pedido, como ele-
mento das nossas convivências e trocas, que eu
O cuidado com a importância do lugar do idi- trouxesse conhecimentos da língua inglesa para
oma, do lado das teorias formuladas no âmbito aprendermos. Durante algumas semanas foi o que
psicanalítico, se situa do lado da cultura que en- fizemos por alguns turnos com estudantes de ida-
gendra a própria substância da subjetividade. Se- des variadas, mas igualmente marcados com o
riam elementos indestrutíveis e constituintes da mesmo traço de profundo desejo de aprender,
própria dimensão vital da pessoa. As marcas lin- entusiasmo comovente e agilidade diferenciada
guísticas são, desde este ponto de vista, as pró- para adquirir os novos conhecimentos e, princi-
prias marcas que formam o corpo, o pensamento, palmente, criar maneiras de se movimentar com
a memória e qualquer possibilidade genuína de eles. Lembro bem que, em nosso terceiro encon-
existir subjetivamente. tro, eles já insistiam não apenas na curiosidade e
É assim que, do mesmo modo que ao nos en- perguntas, mas interesse em estabelecer possibi-
contrarmos com as primeiras formulações de lin- lidades para conversação, propriamente.
guagem de uma criança construindo suas vivên- Em seguida propuseram uma atividade de ela-
cias com a palavra ou com os registros de lingua- boração de cilindros em cartolina colorida, pin-
gem de um jovem ou adulto, os quais não cabe tados e detalhadamente decorados pelos estudan-
ao psicanalista tomar em seu significado, na rede tes e professor. Também designaram um para
de seus próprios significados, mas reconhecê-los mim. Nossa tarefa era escolher uma palavra e
enquanto legítimos e de exclusivo pertencimento escrevê-la nas três línguas nas quais estabelecía-
àquela pessoa que lhe fala, assim também enten- mos nossos trabalhos. Na verdade eram quatro,
do a situação do bilinguismo no trabalho com a uma vez que grande parte das famílias da comu-
sociedade Mbyá. nidade são originárias de locais cuja língua fala-
A imersão nas vivências cotidianas bilíngues da pela maioria dos habitantes é o espanhol. Es-
é imediata quando chegamos à comunidade. As crevemos em Mbyá, português e inglês enquanto
crianças veem nos saudar e brincar, nos mergu- alguns faziam jogos e piadas em espanhol. Texai,
lhando na paisagem das vozes em guarani. Bus- health, saúde, foi a palavra que me designaram.
cam trocas tanto persistindo em ensinamentos em Os cilindros, depois de confeccionados, foram
sua língua, repetindo palavras, enquanto nos o- pendurados com barbantes no teto da escola.
lham alegres, desejantes que consigamos repro- Eram muitos. Quando entravamos, por muitas se-
duzir ou responder, assim como se lançam em manas, a presença dos trabalhos que intervinham
dizer palavras em português e nos mostram seu em cor e luminosidade no espaço, encantavam a
interesse por outros idiomas. circulação dentro da escola.
Os jovens e adultos, lideranças e professores Em uma outra ocasião, quando do reinício das
também vão, delicadamente, nos situando nesta atividades do semestre seguinte, vi as crianças
realidade. Termos importantes da filosofia e organizarem uma brincadeira em frente a escola,
espiritualidade são muitas vezes utilizados, tais no momento do lanche, cada uma com seu copo
como o modo como nomeiam o pajé, as expres- de iogurte de morango em mãos, se afastavam e
sões que se referem ao modo de construir sua reaproximavam, exclamando com risos “um, dois,

202
três e saúde!”, muitas e muitas vezes. Os risos sim como de aprendizado sobre particularidades
eram evidentes em parte de sua significação. Eles da cultura a qual nos dedicamos. Configura um
sinalizavam, como em muitos outros momentos lugar terceiro, como um dicionário de turco so-
com eles localizamos, o humor que fazem quando bre a mesa, mas vivo.
brincam utilizando a língua estrangeira, dos brancos. Bergès e Balbo (2002) tratam longamente dos
Consideração profunda à língua que lhes detalhes da operação, através da qual, localizarí-
concerne é a própria educação guarani. Educa- amos o elemento essencial da constituição das
ção e modo de ser guarani é a própria saúde. trocas humanas. Eles partem das passagens em
Se em um tratamento psicanalítico, cunhado que uma mãe e seu bebê realizam um jogo de
pelo modo judaico-cristão de pensar, existir e sen- posições que faz com que, ao final do movimen-
tir as dificuldades da vida, percorrer os caminhos to, a criança seja uma nova criança, tenha consi-
da língua materna de quem fala é modo de res- go novas marcas psíquicas e esteja mais equipa-
taurar vias de simbolização e localizar, em algum da para prosseguir em suas trocas. Eles isolam
momento, os vieses do próprio desejo, dos frag- momentos em que a criança, deparada com al-
mentos de verdade inconsciente que tanto busca- gum excesso, transbordamento de intensidades
mos, tantas vezes, conseguir encontrar para me- psíquicas, por não ter ainda contornadas as re-
lhor viver, entre os Mbyá, os caminhos do tomar presentações do que é ter fome, frio, calor e todo
seu próprio idioma como sagrado, estão muito um sensorial ainda por constituir, ela chora. A
bem feitos há milênios. mãe, interagindo adequadamente, pergunta ao
Neste sentido, estar no mundo guarani, é vi- bebê o que ele deseja, faz hipóteses sobre suas
ver também o respeito pela língua, é deixar-se demandas e, em seguida, oportuniza que este a
impregnar por ela e buscar compreender um pou- ultrapasse em suas próprias teorias sobre este
co de sua dimensão. Sendo ela parte da substân- outro, supondo que ele e somente ele, possui um
cia do ser guarani, norteadora da cultura, os há- saber sobre seu próprio corpo.
bitos, evidentemente, passam a fazer parte de um O fato específico da mãe se colocar na posi-
bilinguismo de costumes. Para quem chega a uma ção de quem desconhece, de quem não tem cer-
comunidade guarani, frequentar este bilinguismo teza sobre o que se passa, é o que nos indicam os
de costumes é percorrer, todo tempo, a linha de autores como condição fundamental para que o
pensamento que trança a fidelidade a sua própria milagre da humanização se dê. Se ela não sabe
cultura com os elementos que vão sendo fagoci- de tudo, se pode aprender com este outro, já na
tados pelos Mbyá. condição de semelhante, então ele pode entregar-
Saber escutar, estar sensível e, sobretudo, em se ao risco de chamá-la, de adormecer e deixar-
posição de aprendizagem em relação ao univer- se acalmar por ela, de permitir que seu organis-
so guarani, tem sido, nesta experiência, o que tem mo torne-se permeável a esta língua que vem com
viabilizado toda a caminhada, as trocas, deman- ela, fazer, inclusive, corte na melodia das trocas
das e crescimento de possibilidades de constru- primordiais e tão cheias de sabores. Assim nasce
ção em conjunto. Aprender seu modo bilíngue e a possibilidade de haver lugar para dois.
cheio de tradição, parece-me a via de acesso ao Aliás, sobre esta operação, na psicanálise cha-
possível com eles e aos entendimentos que po- mada de transitivismo, que ocorreria, primordi-
dem tanto nos auxiliar também em nossas for- almente através do elemento da voz e da afeta-
mulações no cotidiano ocidental. ção de quem se ocupa da criança, os Mbyá são
As aprendizagens formais do idioma Mbyá, nossos mestres. Como nos diz Bergamaschi:
junto ao curso do qual dispomos na academia, é
também um espaço de importância particular. As Através das crianças, percebemos aspectos
aulas, coordenadas por um professor guarani, tra- fundamentais do processo de educação,
como o respeito pela curiosidade, os senti-
zem possibilidade de irmos formulando, coleti- dos da inspiração dentro de um saber
vamente, as ideias de comunicação que nos ocor- construído ao longo do tempo, a ênfase no
rem, que pensamos necessitar em nosso cotidia- aprender expressando a aposta na capacida-
no nas comunidades e, igualmente, torna-se um de de cada pessoa, principalmente nas cri-
lugar de troca sobre as questões em comum, as- anças que desde pequenas são respeitadas por

203
possuírem saber próprio. Ressaltamos a diálogo entre estas línguas diversas fora da co-
oralidade, a afetividade e a autonomia como munidade e dentro dela, assim como colaborar-
aspectos significativos da construção dos
guarani enquanto singularidades e coletivi-
mos nos devidos cuidados com esta civilização
dade. (Menezes e Bergamaschi, 2009, p. 16) seja , antes de mais nada, um ato poderoso de
acerto com nossa própria sociedade. Situar nos-
Há algumas semanas decidimos realizar uma sos ancestrais no horizonte e passar a saber me-
atividade de visita das crianças e alguns jovens nos do que imaginávamos, talvez, possa vir a ser,
Mbyá a uma escola urbana. Fomos recebidos com neste caso o que estava, realmente, faltando.
apresentações musicais, lanche, um vídeo e prá-
ticas na sala de informática. As crianças anfitriãs
também prepararam perguntas para as Mbyá. PARA FINALIZAR ESTE TEXTO
Depois veio o momento dos jogos, de futebol para
os meninos e recreação junto aos brinquedos do Quando terminava de escrever este artigo, em
pátio para as meninas e crianças mais jovens. O meio às trocas com a comunidade, suas suges-
diálogo, através das perguntas e interações musi- tões, correções e atenções, lemos todos juntos
cais, já introduziram novas tonalidades aos co- para concluirmos se nossas vozes estavam razo-
nhecimentos sobre os Mbyá. A aproximação e avelmente posicionadas no escrito. Cacique Cirilo
começo de criação de laços ia ressituando deli- então propôs contar o mito do surgimento do fu-
cadamente os abismos de desconhecimento tão tebol e da bola em Mbyá, enquanto Professor
comumente presentes. Hugo França fazia a tradução e me orientava nos
As professoras, impressionadas com a tranqui- registros, parciais.
lidade dos visitantes, referiram que, comumente, A história começa assim. Era uma aldeia gran-
aquelas turmas de crianças que elas dirigem, não de com muitos guarani. No centro tem uma casa
podem permanecer juntas em momentos de jo- de reza, onde os Karaí...
gos, porque brigam muito. No entanto, nesta oca- Era como se fosse cercado. Sempre existe um
sião específica, na quadra de futebol onde já es- Xondaro na entrada da aldeia.
tavam posicionadas as crianças Mbyá e uma bola, Ali começa o Karaí. Tomando chimarrão. E
começaram se aproximar delas os demais estu- as crianças. Que que ele pensou? Havia palha de
dantes. Sem regras específicas, decidiram e, as- milho. Através dela foi feito um... tipo bola. O
sim foram autorizados a iniciar um jogo em que Karaí falou para as crianças: brinquem com isso
cerca de 60 crianças passaram a jogar com aque- aqui. Aí começa o jogo. E ao mesmo tempo ha-
la única bola com e em torno das crianças Mbyá. via o espeto. Era um tatu. O Karaí preparou um
Um menino, no gol, exclamava entusiasmado: “é tatu assado, o chimarrão, a erva mate também era
um futebol e tanto!”. Quando o futebol terminou, colocada enquanto assistia o jogo. Preparava erva
vieram as meninas que estavam no espaço ao lado, mate no pilão. Observava as crianças, tomava
às voltas com os artesanatos que haviam com- chimarrão, tatu assado na fogueira.
prado e algumas palavras em guarani que busca- Inicialmente as crianças jogavam só por cima.
vam aprender. Terminamos o encontro bastante Nas mãos. Só arremesso. Isso durou bastante tem-
empolgados. Vi muitos abraços, sorrisos, acenos po. Jogavam um para o outro. Assim surgiam mais
e pedidos de reencontro. coisas. Nasceu como educação. O Karaí, duas,
Como nos disse Cacique Cirilo Morinico, “o três crianças. Para respeitar. Depois, com mais
futebol vem pelos Guarani como o Chimarrão. É criatividade, jogaram mais crianças. Não havia
saúde também para nós. Nunca a gente briga! Na regras específicas. A bola vem dos deuses. É ori-
copa torcemos para o Paraguai, a Argentina, Uru- entação de Deus. Enquanto brincavam, o Karaí
guai e o Brasil. Por que? Porque este é o nosso estava sentado em frente à porta da Opy, fuman-
território!” do cachimbo. Agradecia, sabia que vinha através
Carrego comigo uma profunda crença na pos- de Deus.
sibilidade de transformação que a sabedoria Disse a eles, neste momento: Donos da terra.
guarani pode vir a operar naqueles que deles se Donos da bola.
aproximam. Penso que oportunizar políticas de

204
Me responderam: e donos do chimarrão! Já Compreenderam mal. Escutaram como “pelo-
passou a hora da mentira! Chega de Peru! ta”, bola. Mas entenderam mal. passaram a cha-
Peru é a personagem que aparece em seus mi- mar bola de pelota, pelotas. Em guarani o que
tos enquanto uma figura que sempre mente e faz diziam era PEROTA. É LINGUA GUARANI. O
travessuras para os outros. que diziam era uma expressão que indicava, que
Seguiram: a bola surgiu não para jogo, para se referia às folhas do milho.
ganhar dinheiro! Era para ganhar a vida! Assim Neste ponto me foi indicado que os registros
começamos fazendo a bola. Trouxe para todos fossem interrompidos.
os adolescentes viverem em paz, saúde e alegria.
Para ver o modo de viver. Se as crianças viverem Donos da terra.
com a bola, brincando, não sentem outros senti- Donos do chimarrão.
mentos. É orientação de Deus. Antigamente não Donos da bola.
existia tristeza. Ela veio depois dos portugueses, Perota!
do massacre. Língua guarani!

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CALVET, Louis-Jean. Tradição oral & tradição escrita. Maria Aparecida. Educação ameríndia: a dança e a esco-
São Paulo: Parábola, 2011, la guarani. Santa Cruz: EDUNISC, 2009.
CIORNAI, Selma. Percursos em arteterapia: arteterapia MIGNOLO, Walter. Desobediência epistêmica: a opção
gestáltica, arte em psicoterapia, supervisão em arteterapia. descolonial e o significado de identidade em política. Ca-
São Paulo: Summus, 2004. dernos de Letras da UFF – Dossiê: Literatura, língua e
HAVELOCK, Eric. A equação oralidade – cultura escrita: identidade, no 34, p. 287-324, 2008
uma fórmula para a mente moderna. In: OLSON, David ORLANDI, Eni Puccinelli. As formas do silêncio – no
R.; TORRANCE, Nancy. Cultura escrita e oralidade. São movimento dos sentidos. Campinas: Ed. Unicamp, 2002.
Paulo, Editora Ática, 1995. p.17- 34 POLSTER, E. e POLSTER, M. Gestalt Terapia Integra-
HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. Lisboa: da. Belo Horizonte: Interlivros, 1979.
Edições70, 1992 ( Biblioteca de Filosofia Contemporânea). WOLFF, Francis. Quem é bárbaro? In: NOVAES, Adauto.
MENEZES, Ana Luisa Teixeira de & BERGAMASCHI, (org.) Civilização e barbárie. São Paulo: Companhia das
Letras, 2004, p. 19-44.

205
AS POLÍTICAS LINGUÍSTICAS E A LÍNGUA PORTUGUESA:
UM PANORAMA DA COLONIZAÇÃO AO CELPE-BRAS

Daiana Marques Sobrosa*


Eliana Rosa Sturza**
Universidade Federal de Santa Maria

INTRODUÇÃO lado no Brasil frente ao Português falado em Por-


tugal, quebrando o paradigma da uniformidade
O Brasil, como uma nação em desenvolvimen- da língua Portuguesa, tão utilizado no discurso
to, usufrui hoje de uma maior visibilidade e par- da Lusofonia e acentuando o caráter político da
ticipação no cenário político-econômico mundi- língua. Como afirma Bethania Mariani:
al. Obviamente, a língua, como um fator de iden-
tidade da nação, não poderia deixar de fazer par- Há um discurso reiterador de uma unidade
te dessa mudança. De acordo com Zoppi Fontana lingüística entre Portugal e suas ex-colôni-
as, discurso esse marcado pelo termo
e Diniz (2008), a partir dos anos 90 com a cria-
“lusofonia” e por atividades políticas que
ção do Mercosul, o Brasil cria novos espaços para procuram sustentar uma idéia de unidade na
a circulação da língua nacional, o que faz com diversidade. À circulação desse discurso
que o Português do Brasil se constitua em uma contrapõe-se um outro, assentado em dife-
Língua Transnacional. renças lingüísticas e históricas que legitimam
uma posição diferenciada em termos da cons-
Dentro da conjuntura globalização das rela-
trução de sentidos para o nacional.
ções econômicas, o MERCOSUL surge com ob- (MARIANI, in ORLANDI, 2007, p. 84)
jetivo de fortalecer a economia regional, propici-
ando a livre mobilidade de bens, serviços e fato- Desta forma, a língua oficial de Brasil e Por-
res de produção. (Magnoli, 1995) No entanto, o tugal é a Língua Portuguesa, porém, o português
Mercado Comum do Sul também vai lançar pro- do Brasil, assim como o dos povos africanos, ad-
postas voltadas para a educação que vão influen- quiriu ao longo do tempo um caráter próprio. De
ciar diretamente na relação entre as línguas e os acordo com Orlandi (apud Nunes, 2006) o portu-
sujeitos. guês-brasileiro e o português-português se reco-
Conforme Guimarães (2001), a globalização brem como se fossem a mesma língua, mas não
não causa somente efeitos na área das relações são, pois produzem diferentes discursos e signi-
econômicas, para ele esta globalização também ficam de maneiras diferentes.
interfere nas relações entre as línguas, na medida Para chegar ao que vemos hoje, uma língua
em que cria um novo espaço de produção linguís- nacional que é veiculada internacionalmente, o
tica, pois amplia o espaço enunciativo de línguas Português do Brasil trilhou um vasto caminho.
não só nacionais. Considerando fatos que vieram desde a época da
É dentro dessa conjuntura que o Ministério da colonização até os dias de hoje, o presente traba-
Educação do Brasil (MEC) desenvolve e outorga lho tenta mostrar como as políticas linguísticas
o CELPE-BRAS (Certificado de Proficiência em atuam sobre a língua e como elas são decisórias
Língua Portuguesa para Estrangeiros), que colo- para colocar hoje a língua do Brasil em uma po-
ca em evidência, como se percebe na própria si- sição mais significativa frente a outras varieda-
gla “Bras” de Brasil, a variante do português fa- des do português falado no mundo.

*
Graduada em Letras Português e Letras espanhol pela UFSM e mestranda na área de Estudos Linguísticos na mesma
instituição. E-mail: daianamsobrosa@hotmail.com
**
Orientadora

207
O CELPE-BRAS POLÍTICA E LÍNGUA: UM BREVE
HISTÓRICO DA COLONIZAÇÃO
Segundo o manual do aplicador de 2006, o
Celpe-Bras é um o certificado de Proficiência em Obviamente, não se pode pensar o que é e o
Língua Portuguesa para Estrangeiros, desenvol- que representa hoje a Língua nacional sem antes
vido e outorgado pelo Ministério da Educação recorrer brevemente ao passado. Para tanto, é pre-
(MEC) do Brasil, aplicado no Brasil e em outros ciso analisar os fatos que culminaram no caráter
países. O Celpe-Bras é o único certificado de por- particular do português do Brasil e na conquista
tuguês como língua estrangeira reconhecido ofi- de novos espaços de circulação dessa língua.
cialmente pelo governo do Brasil e é aceito inter- Para Mariani (2007), a volta ao passado per-
nacionalmente em empresas e instituições de en- mite indagar sobre os efeitos da colonização lin-
sino como comprovação de proficiência na lín- guística portuguesa na constituição de uma iden-
gua portuguesa. tidade linguística no Brasil e também permite re-
Para obter a certificação em um dos níveis (in- fletir a respeito da heterogeneidade da língua, das
termediário, intermediário superior, avançado e contradições e dos silenciamentos que a consti-
avançado superior) o aluno deve realizar um exa- tuem como língua nacional.
me, no qual será avaliado sua competência atra- Segundo Mariani (2007), a partir do século
vés das necessidades de uso da língua-alvo, ou XVI, completa-se o processo pelo qual a Língua
seja, será avaliado seu desempenho em situações Portuguesa torna-se a língua do império portu-
que se assemelham à vida real, como: comuni- guês, desvinculando-se cada vez mais do latim e
car-se em situações do dia-a-dia, ler, redigir tex- do espanhol. Neste mesmo século, em função das
tos e interagir oralmente. cruzadas, da navegação, do comércio e da
No manual do aplicador, fica também explíci- evangelização, os portugueses se deparam com
ta a visão de língua associada à cultura: uma grande quantidade de novas línguas e diale-
tos.
Com base em uma visão da linguagem como Desta forma, criam a consciência de que a lín-
uma ação conjunta de participantes com um gua portuguesa deve afirmar-se frente a essas
propósito social, e considerando língua e
cultura indissociáveis, o conceito de profi-
novas línguas e as já existentes, o latim e o espa-
ciência que fundamenta o exame consiste no nhol. Para isso, começam um processo de colo-
uso adequado da língua para desempenhar nização linguística, ou seja, a imposição da lín-
ações no mundo (...). No que se refere à ques- gua portuguesa aos novos territórios conquista-
tão cultural, entende-se por cultura as expe- dos, com o objetivo de afirmar não só sua supre-
riências de mundo e práticas compartilhadas
pelos membros de uma comunidade. Os in-
macia frente ao latim e o espanhol, como sobre
divíduos agem em contexto, e como tal, são as novas línguas que surgiam.
influenciados por sua própria biografia e pelo Tomando como base o conceito de Política
contexto social e histórico no qual estão Linguística enquanto uma ação advinda do Esta-
inseridos. (MANUAL DO APLICADOR, do sobre a língua, ou seja, políticas que de modo
2006, pg. 08)
mais explícito atuam de modo intervencionista
Tendo em vista, que a língua é indissociável nas representações e relações dos sujeitos falan-
da cultura e que o exame certifica o aluno para tes com as línguas (STURZA, 2009). Torna-se
uso do Português brasileiro, o Celpe-Bras coloca evidente, portanto, a existência de uma política
em evidência a cultura do Brasil, através de linguística promovida pelo país colonizador com
temáticas e realidades referentes à “brasilidade”, a finalidade de difundir sua língua e diminuir os
o que mais uma vez comprova a afirmação de espaços de circulação da língua colonizada e de
Orlandi (apud Nunes, 2006, pg. 224) de que são outras línguas, como afirma Mariani (2007, p.85):
línguas que produzem diferentes discursos e sig- “Políticas linguísticas são engendradas com o
nificações. objetivo de disseminar a língua colonizadora,
delimitando, organizando e silenciando os espa-
ços de enunciação das línguas colonizadas”.

208
No Brasil, conforme Guimarães (2007), a par- A LÍNGUA NACIONAL
tir da colonização, a língua portuguesa conviveu
com diversas línguas indígenas e, durante um lon- Conforme Mariani (2007) é só a partir do sé-
go tempo, o português não foi a língua de uso culo XIX que surgem resistências à visão totali-
geral, mas sim, o tupi, posteriormente um tupi tária da Língua Portuguesa e emergem as discus-
normatizado, que se tornou a língua franca do sões sobre a língua nacional. Nesta mesma épo-
Brasil e que era falado por índios, negros e inclu- ca, surgem também as primeiras gramáticas e di-
sive portugueses, a chamada língua geral. cionários Brasileiros de língua portuguesa, con-
Segundo o autor, é a partir do século XVIII solidando e elaborando um conhecimento sobre
que o Português se impõe como língua de uso a língua nacional.
geral, mais precisamente, de acordo com Guima- De acordo com Nunes (2006), devido à con-
rães (1996), quando o governo português obriga quista da Independência e aos movimentos sepa-
o ensino da língua portuguesa nas escolas e a ins- ratistas vividos na época, as diferenciações entre
titui como língua oficial do Brasil. a língua portuguesa de Portugal e a língua portu-
Tal fato teve início com a carta régia de 1727, guesa do Brasil ganham relevância, surgem en-
escrita por D. João V, que ordenava os jesuítas a tão, os primeiros dicionários monolíngues Brasi-
ensinarem o português aos índios em suas esco- leiros, que funcionavam como complemento dos
las e, mais tarde, se consolidou quando Marquês dicionários portugueses. Mais ao final do século,
de Pombal expulsa os jesuítas e oficializa o ensi- com os movimentos republicanos, são criados os
no da língua portuguesa no Brasil. Depois da in- dicionários de “brasileirismos”, fato que para o
dependência, o português torna-se a língua naci- autor elucida a construção de uma imagem dos
onal do país e, desde então, esta língua vai ad- falantes como “povo” brasileiro e a formação de
quirindo características próprias que a diferenci- um discurso de língua nacional.
am da língua de Portugal. Para Nunes (2006), a noção de “brasileiris-
Porém, Guimarães (2007) afirma que este é mo” como elementos específicos da língua em
um discurso padrão utilizado para explicar a his- uso no Brasil e que atestariam uma diferença com
tória da Língua Portuguesa no Brasil. Segundo relação à língua portuguesa de Portugal fortale-
ele, assumir este discurso é desconhecer as rela- cem a teoria de uma língua nacional no século
ções políticas que estão envolvidas, pois este en- XIX. Estes elementos consistiam principalmente
contro do Português com as outras línguas já fa- em: elementos da língua portuguesa que passa-
ladas no território não se dá de forma neutra, é ram a ter uma significação diferente no Brasil e
um encontro no qual a língua portuguesa se im- elementos provenientes de outras línguas, espe-
põe perante as outras, encobrindo questões teóri- cialmente indígenas e africanas, que foram sen-
cas a respeito da relação de línguas. do incorporados ao português do Brasil. Toda-
Segundo Mariani (1996), a Língua Portugue- via, segundo Nunes (2006), estes dicionários não
sa coloca-se na qualidade de língua de cultura, já eram nada mais do que complementos para os
as línguas indígenas e africanas são vistas como dicionários portugueses, pois é somente em me-
“primitivas e selvagens” (GUIMARÃES, 2007, ados do século XX mesmo que irão surgir os gran-
p.80). Sendo assim, a Língua Portuguesa tem his- des dicionários brasileiros de língua portuguesa.
tória, assim como a latina, e por isso pode servir Contudo, estes dicionários complementares se
de instrumento para contar a história do Brasil apresentavam, na época, como um instrumento
(isto é, a história das conquistas de Portugal). de descrição das diferenças entre uma língua e
Assim, para a autora a imposição da língua por- outra, bem como um instrumento de formação
tuguesa também tem o papel de fixar a história da identidade do Brasil. Além disso, segundo
com o sentido determinado através desta língua, Auroux (1992, apud Zoppi- Fontana e Diniz,
ou seja, é a visão do colonizador a respeito da 2008) são os instrumentos linguísticos (dicioná-
colonização, apagando desta história o Brasil dos rios, gramáticas, livros didáticos) que modificam
índios, dos negros e de uma grande parcela da os espaços de comunicação e a relação
população que utilizava a língua geral e que não estabelecida entre os sujeitos falantes e uma lín-
frequentava as academias. gua, seja ela materna ou estrangeira.

209
Diante disso, Zoppi Fontana e Diniz (2008) guesa do Brasil e o Celpe- Bras veicula esta
afirmam que a gramatização da Língua Portugue- metalinguagem, designando uma identidade para
sa do Brasil faz parte do processo de constitui- o povo brasileiro a partir do que se entende por
ção de uma língua nacional: brasilidade e esta identidade colabora por sua vez,
com a legitimação de uma língua nacional.
As pesquisas desenvolvidas no Brasil de- Para Zoppi- Fontana e Diniz (2008, apud Ma-
monstraram que esse processo de gramatiza- chado, 2009, pg. 105) o Celpe- Bras não só cola-
ção faz parte dos processos discursivos de
constituição da língua nacional e, através
bora para a legitimação da língua nacional como
deles, da própria constituição do cidadão bra- também serve de instrumento à política linguística
sileiro, na sua relação com Estado. Assim, a do Brasil, pois está direcionada a um público es-
construção de um imaginário de língua na- trangeiro e, com isso, podendo competir com Por-
cional, com seus atributos de unidade, uni- tugal pela internacionalização do Português como
formidade e universalidade, é efeito do pro-
cesso de gramatização interferindo eficaz-
língua de mercado.
mente na relação que o brasileiro mantém
com a sua língua. (ZOPPI- FONTANA,
2008, p.03) CONCLUSÃO

A autora, então, destaca em seu trabalho qua- Através de reflexões originadas pela proble-
tro períodos relativos ao processo de Gramatiza- mática que se estabelece entre a Língua Portu-
ção da Língua Portuguesa Brasileira, anterior- guesa de Portugal e a sua variedade falada no
mente, determinados por Guimarães (1996). Brasil, percebe-se claramente uma questão de po-
O primeiro ocorre desde o momento da des- líticas linguísticas atuando sobre as línguas.
coberta do Brasil até a metade do século XIX, e Ao mesmo passo em que Portugal procurava
se caracteriza pela ausência de trabalhos e estu- afirmar sua supremacia, aumentando os espaços
dos sobre a Língua Portuguesa no Brasil. O se- de enunciação de sua língua a partir uma política
gundo inicia século XIX e vai até a década de 30 de colonização linguística e buscava também si-
do século XX. Nele, na metade do período, mar- lenciar certas manifestações, impondo aos terri-
ca-se o início dos estudos e dos debates sobre as tórios colonizados a Língua Portuguesa, apagan-
diferenças do Português do Brasil, pela publica- do as línguas locais, como o ocorrido com a lín-
ção das primeiras gramáticas brasileiras e pela gua geral no período colonial brasileiro.
criação da Academia Brasileira de Letras. O ter- Hoje, em um contexto distinto, a Língua Por-
ceiro ocorre do final dos anos 30 até metade dos tuguesa do Brasil também tenta afirmar-se atra-
anos 60, e se caracteriza pela criação dos primei- vés de Políticas que ampliem o espaço de circu-
ros cursos de Letras e pela obrigatoriedade da lação desta língua nacional para fora do Brasil,
disciplina de Linguística nestes cursos. O quarto promovendo-se políticas que façam dela uma lín-
acontece na metade dos anos 60 até os dias de gua de mercado. Com a criação de tratados como
hoje, e é marcado pela institucionalização da o MERCOSUL, o Brasil insere-se no cenário
Linguística e pela implantação de cursos de pós- político e econômico mundial e a língua recebe
graduação em lingüística no Brasil. um novo sentido, o sentido de Língua veicular,
Zoppi- Fontana e Diniz (2008) ainda sugerem ou seja, uma “língua aprendida por necessidade
sobre a periodização proposta por Guimarães um e destinada à comunicação entre as cidades, uti-
quinto período de gramatização. Nele estaria si- lizada para fins burocráticos e trocas comerciais.”
tuado o Celpe-Bras, pois, este período segundo a (GOBARD 1976, apud ZOPPI-FONTANA e
autora, caracteriza-se por um novo espaço de cir- DINIZ, 2008, p. 108)
culação da Língua Portuguesa do Brasil, surgido Desta forma, hoje, através da institucionali-
a partir do MERCOSUL. zação do Português Língua Estrangeira como uma
Conforme Machado (2009) este novo espaço nova área de conhecimento e da instrumentaliza-
vem sendo ocupado pelo Brasil através de uma ção deste saber, como por exemplo, através de
política de língua, na qual o estado brasileiro cria Livros Didáticos e do Exame Celpe-Bras (Zoppi-
uma metalinguagem para tratar da Língua Portu- Fontana e Diniz, 2008), a língua Portuguesa do

210
Brasil assume uma nova significação no panora- tra o “Bras” de Brasil, fica evidente de que não
ma mundial. se trata da Língua de Portugal, mas sim da do
E, neste contexto, o Celpe-Bras não só cola- Brasil. Portanto, é o Português do Brasil buscan-
bora para a legitimação de uma língua nacional e do um lugar de projeção e tentando se afirmar
para a criação da identidade do sujeito brasileiro, por meio de uma política linguística perante as
como também revela em si mesmo, o político atu- outras variedades da Língua Portuguesa.
ando na Língua, pois como a própria sigla mos-

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GUIMARÃES, Eduardo. Sinopse dos estudos do portugu- Brasil. In: GUIMARÃES, Eduardo (Org.). Língua e Ci-
ês no Brasil: a gramatização brasileira. In: GUIMARÃES, dadania- O Português no Brasil. Pontes: São Paulo, 1996.
Eduardo (Org.). Língua e cidadania- O Português no MARIANI, Bethania S. C. Quando as línguas eram cor-
Brasil. Pontes: São Paulo, 1996. pos: Sobre a colonização Linguística na África e no Brasil.
GUMARÃES, Eduardo. Política de Línguas na América In: ORLANDI, Eni P. (Org.). Política Linguística no Bra-
Latina. Relatos, HIL/UNICAMP jun., n.7, pg. 5-11, 2001. sil. Pontes: São Paulo, 2007.
GUIMARÃES, Eduardo. Política de Línguas na Linguística MEC. Manual do Aplicador do Exame Celpe-Bras, 2006.
Brasileira- Da abertura dos cursos de Letras ao Estrutura- NUNES, José, H. Dicionários no Brasil: Análise e His-
lismo. In: ORLANDI, Eni P. (Org.). Política Linguística tória do Século XVI ao XX. Pontes: São Paulo. Faperp,
no Brasil. Pontes: São Paulo, 2007. 2006.
MACHADO, Tania R. M. O Lugar do CELPE-BRAS na STURZA, Eliana, R. Políticas Lingüísticas e Políticas
História das Idéias Linguísticas do Brasil. In: IV En- Universitárias: Pesquisa, Ensino e Extensão. Universi-
contro Internacional de Pesquisadores de Políticas dade Federal de Santa Maria, 2009.
Linguísticas (Santa Maria), 2009. p.103- 107.
ZOPPI- FONTANA, Mônica G. e Diniz, Leandro R. A.
MAGNOLI, Demétrio e ARAUJO, Regina. Para enten- Declinando a Língua pelas Injunções do Mercado:
der o Mercosul. 6ed. São Paulo: Moderna, 1995. Institucionalização do Português Língua Estrangeira
MARIANI, Bethania S. C. As Academias do Século XVIII- (PLE). Estudos Linguísticos (São Paulo), v.37, pg. 89-119,
Um certo Discurso Sobre a História e Sobre a Língua do 2008.

211
FORMAÇÃO DOCENTE: ARTICULAÇÃO DOS CONHECIMENTOS DA
ÁREA ESPECÍFICA E CONHECIMENTO PEDAGÓGICO

Luana Rosalie Stahl


Doris Pires Vargas Bolzan
Universidade Federal de Santa Maria
Silvia Maria de Aguiar Isaia
Universidade Federal de Santa Maria
Centro Universitário Franciscano

Este artigo enfoca a apresentação e discussão dáticas e os esquemas experienciais dos pro-
de achados da pesquisa intitulada Licenciatura fessores. Refere-se aos conhecimentos insti-
tucionais ou escolares que se constituem pe-
em Espanhol: repercussões do conhecimento es- los saberes específicos pertencentes à cultura.
pecífico nos processos formativos docentes de-
senvolvida na Universidade Federal de Santa Ma- Evidenciamos, nas falas dos professores for-
ria. Esta pesquisa teve como objetivo específico madores, a expressiva relevância que os conhe-
inferir a relação existente entre o modo como os cimentos da área específica têm para a formação
professores articulam os conhecimentos da área de seus estudantes. Esta importância dos conhe-
específica e a formação de futuros professores cimentos específicos está pautada na ideia de que,
para a educação básica. para ensinar determinados conteúdos, é preciso
O processo investigativo orientou-se por uma inicialmente conhecê-los. Tal perspectiva vai ao
metodologia qualitativa de cunho narrativo encontro do que chamamos de sentido ético da
(BOLÍVAR; DOMINGO; FERNÁNDEZ, 2001; docência por entendermos que tal postura de-
CONNELLY; CLANDININ, 1995; HUBER- monstra o comprometimento profissional destes
MAN, 1998). A materialidade linguística resul- professores para com a formação de seus estu-
tante da transcrição das entrevistas narrativas re- dantes.
alizada com seis professores formadores de um Com relação ao conhecimento pedagógico, foi
curso de Licenciatura em Letras, língua espanho- possível identificarmos diferentes níveis de sig-
la, foi realizada na perspectiva da análise textual nificação para esse componente formativo. Sali-
discursiva (MORAES e GALIAZZI, 2007). entamos, entretanto, que os formadores parecem
estar conscientes de que os conteúdos pedagógi-
cos são componentes indispensáveis para a for-
EXPLICITAÇÃO E DISCUSSÃO DOS mação de futuros professores.
ACHADOS No que se refere à significação dos conheci-
mentos pedagógicos pelos professores formado-
Compreendemos o conhecimento pedagógico res, identificamos dois movimentos. O primeiro
como conteúdos vinculados a dinâmica do ensi- movimento diz respeito à consciência de que o
no-aprendizagem dos conteúdos que são própri- conhecimento pedagógico é importante para a
os a uma determinada área, portanto, esse conhe- formação inicial do estudante e por isso ele pre-
cimento transcende o conhecimento do objeto de cisa entrar em contato com esta dinâmica desde
ensino (conhecimentos literários e linguísticos), o início do curso, cabendo a todos os professores
buscando a compreensão mais ampla do uso des- formadores o papel de desenvolver no estudante
ses conteúdos na ação pedagógica. noções de desenvolvimento profissional. O se-
Para BOLZAN (2006, p. 357), o conhecimen- gundo movimento sinaliza um deslocamento do
to docente pedagógico papel atribuído ao desenvolvimento do conheci-
mento pedagógico responsabilizando as discipli-
caracteriza-se pelo saber teórico e conceitual, nas de didática e estágio, de responsabilidade de
além do conhecimento dos esquemas práti-
cos do ensino – estratégias pedagógicas, ro-
um professor, pelo trabalho pedagógico.
tinas de funcionamento das intervenções di- Essa dinâmica pode ser evidenciada nos frag-
mentos de narrativa destacados a seguir:

213
[...] em um curso de licenciatura o compo- há uma concentração de disciplinas de conteú-
nente pedagógico, ele vai ter que estar pre- dos da área específica; em um segundo momen-
sente. Aí é como eu te disse, além do domí-
nio da língua, do domínio sobre a língua, tem
to, aparecem disciplinas que fazem a articulação
um terceiro que é como ensinar esta língua e entre esses conhecimentos e o processo de ensi-
que para mim não tem que estar lá nos últi- nar na educação básica. Na expressão discursiva
mos semestre como está. Agora que ele [o da professora, identificamos um deslocamento do
estudante] já sabe a língua e sobre a língua papel formativo, no sentido de significar os co-
então eu vou atirar ele lá na escola e ele vai
ter que se virar para ser professor. Não é por
nhecimentos acadêmicos para o ensino na esco-
aí. Ele tem que entender desde que ele entra la, ou seja, a articulação dos conhecimentos es-
aqui que ele tem que começar a pensar esta pecíficos e pedagógicos fica a cargo das discipli-
língua e este conhecimento sobre a língua nas de Linguística Aplicada (Oficina de Espanhol
como é que ele vai processar isso se vendo I e II), Didática do Espanhol e Estágios
como professor e não se vendo como alguém
que está frequentando um curso de línguas
Curriculares Supervisionados (Observacionais e
[...] (Professora Ana Cláudia). Práticos).
Shulman (1989) destacou que o conhecimen-
A fala da Professora Ana Cláudia revela um to pedagógico abrange a compreensão de como
alto nível de consciência do papel formativo que os conteúdos de determinada disciplina podem
se estrutura fundamentalmente na crítica implí- ser mais bem apreendidos no processo de ensino
cita à estrutura curricular do curso, para esta for- aprendizagem, de que modo e por que tais con-
madora os conhecimentos pedagógicos não po- teúdos são importantes na aprendizagem, se po-
dem aparecer apenas no final do curso. derão ser transpostos para o conhecimento esco-
Tendo em vista que autores como Shulman lar, se são pertinentes a esse nível de ensino.
(1989, 2005), Mizukami (2004), Gauthier (2006), Quando o ensino de determinados conteúdos aca-
Tardif (2000, 2002) têm defendido a necessidade dêmicos ocorre sem que haja a devida articula-
de outros conhecimentos e saberes que não ape- ção com os conhecimentos pedagógicos, ocorre,
nas aqueles decorrentes da área específica de for- no processo de formação de professores, uma
mação, buscamos evidenciar o modo como os fragmentação, que resulta na criação de dois
professores formadores do curso de Letras Lín- polos: por um lado, dos professores que ensinam
gua Espanhola têm compreendido sua ação do- conteúdo e, de outro, dos que ensinam a ser pro-
cente e a formação dos futuros professores para a fessor.
educação básica. Levamos em conta, para a aná- Já dizíamos anteriormente que a formação de
lise e discussão deste elemento, as manifestações professores é compreendida neste trabalho como
dos próprios formadores sobre a formação na área, processo contínuo e constante (MARCELO
considerando assim, suas especificidades: GARCÍA, 1999). Assim, parece-nos pouco pro-
vável que formadores responsáveis pelas disci-
[...] é evidente que o que ele vai ensinar vai plinas pedagógicas consigam, na segunda meta-
ser em um nível muito diferente, em uma de do curso de graduação, juntamente com os
abordagem adequada aquele nível de ensi-
no, aquela faixa etária, aquela comunidade,
estudantes, reconstruir e [re]significar tais con-
aquela escola, as condições que aqueles alu- teúdos acadêmicos em pouco mais de 400 horas.
nos têm de aprendizagem, ele não vai che- Nesse sentido, defendemos que tal fragmentação
gar lá dando aula como ele teve aula aqui, é a perpetuação de uma tradição denominada de
então é preciso deixar muito claro isso e é “verniz pedagógico” por Krahe (2007).
para isso que servem as disciplinas da área
pedagógica ou mesmo da linguística aplica-
A articulação dos conhecimentos da área es-
da, é onde ela faz o aluno botar o pé no chão. pecífica à formação de professores ocorre então
Ele tem que ter clareza disso, o aluno preci- na sala de aula universitária na forma de ativida-
sa saber disso (Professora Ana Cláudia). des avaliativas, elaboração de materiais que pos-
sam de algum modo contribuir como mecanismo
A fala da Professora Ana Cláudia remete a uma de formação ou exemplificação de situações prá-
realidade dos cursos de licenciatura no contexto ticas. As falas das professoras Professora Roberta
universitário brasileiro: em um primeiro momento e Carolina são exemplos do que descrevemos:

214
Não que eles não leiam algo mais aprofunda- se estranheza ou é engraçado, então eu acho
do, mas sobretudo a avaliação eu procuro que nessas, nesses primeiros semestre é mui-
fazer algo mais prático, que eles possam pen- to fácil fazer uma relação em outros contex-
sar como usar a literatura em aula de língua. tos” (Professora Carolina).
Mas, o que eu quero? Que meu aluno consi-
ga responder, por exemplo, para um aluno Nos dois excertos, podemos identificar que há
dele de ensino fundamental por que o Don um distanciamento muito grande da instituição
Quixote aparece tanto em tudo que é lugar,
quem é afinal esse cavaleiro andante, como
universidade da instituição de educação básica.
ele é, um pouquinho da história. Às vezes, As duas formadoras expressam que buscam de
eu tento relacionar, por exemplo, com o Don algum modo vincular os conhecimentos da área
Quixote das crianças do Monteiro Lobato, à formação de professores, ambas reconhecem
fazer alguma coisa que eles possam utilizar criar situações hipotéticas ou exemplificar com
em aula de língua mesmo, então a atividade
que eles têm hoje, a gente dá uma aula de
situações vivenciadas para auxiliar o estudante
contextualização, tudo isso, mas a atividade nesse processo.
que eles vão ter com o Don Quixote é prepa- Na concepção da Professora Helena, o conhe-
rar uma aula para os alunos deles, para cri- cimento pedagógico aparece caracterizado: “eu
ança, para adolescente, para adulto, eles es- tenho que saber como fazer para ensinar” ressal-
colhem o público, sobre o Don Quixote, e aí
eu tenho tido resultados fantásticos (Profes-
tando que o domínio dos conhecimentos especí-
sora Roberta). ficos não basta:

[...] para ensinar língua não é preciso nada, é [...] eu tenho que sair da universidade, eu te-
só sentar lá e conversar. Não! Tem que dar nho que sair tendo muito conhecimento es-
insumos para trabalhar com aquela função, pecífico, muito espanhol, no caso do espa-
com aquela noção, com aquela estrutura gra- nhol tem que ser fluente e tem que ter um
matical, tu tens que de certa forma [...] per- domínio, como eu já te disse, não tenho mais
turbar a zona da interlíngua então eu tenho aquela exigência de um domínio perfeito da
que levar materiais que perturbem meu alu- estrutura, mas um bom domínio da estrutu-
no, que perturbem aquela zona de aprendi- ra, um domínio básico da estrutura. Eu te-
zagem deles e que naquela perturbação pode nho que saber como fazer para ensinar isso
sair “x”, pode sair “y” ou pode não sair nada aqui, como dosar, como ensinar, como não
naquele momento, mas em algum momento ensinar, como adequar [...] (Professora He-
posterior isso deverá acontecer. De que for- lena).
ma isso se relaciona a como eles podem vi-
venciar em outros ambientes? [...] Alguns
podem chegar a ser professor sem um domí-
Este movimento pela valorização do compo-
nio de interlíngua médio, pode ser. Nem todo nente pedagógico da formação pode ser contras-
mundo tem um nível de interlíngua bom e tado com a manifestação a seguir:
conseguem ser bons professores, mas sem a
língua acho que é muito difícil eles serem
professores de língua. Eles podem ser pro- [...] conhecimento teórico, teorias de língua
fessores de outra coisa, mas de língua em si e linguagem, conhecimentos culturais, soci-
acho muito difícil talvez colocar eles nesta ológicos e filosóficos [...] eu ainda acredito
posição e na área de língua chamar mais aten- que um plano organizado e coerente é possí-
ção para o aspecto de que a língua é o instru- vel. Não tudo, porque a formação de um do-
mento de trabalho [...] o biólogo não tem o cente não acaba nunca, é para toda a vida,
mesmo conhecimento de um professor de lín- mas é ter uma base para eles poderem cami-
gua em termos específicos, em termos peda- nhar sozinhos para ver o que falta. Então eles
gógicos também porque são ciências dife- necessitam disto, por outro lado, ter o mate-
rentes, então se aprende e se ensina de for- rial, acho que é esta tríade de ler este con-
ma diferente e, enfim, os primeiros semes- texto, diante desta situação, com estes alu-
tres de língua eu acho que são, é mais fácil nos, com esta realidade quais as teorias, quais
relacionar isso, como é que eles veem isso as metodologias eu poderia usar. Então eu
em sala de aula e com experiências que eles tenho por um lado a formação teórica e por
mesmos contam ou que eu, às vezes, conto: outra parte a formação didática, didática e
“ah, porque quando eu dei aula uma vez em pedagógica no geral (Professora Susana).
uma escola um aluno perguntou sobre
embarazada, ou alguma outra coisa que cau-

215
Ao mesmo tempo em que está manifesto o re- APONTAMENTOS POSSÍVEIS
conhecimento do conhecimento pedagógico, per-
cebemos haver um movimento de depositar no Destacamos, assim, que as vozes dos profes-
“outro” a responsabilidade desta formação. Sali- sores remetem para a relevância do conhecimen-
entamos o seguinte fragmento: “Então eu tenho to específico na formação de profissionais da área,
por um lado a formação teórica e por outra parte conhecimentos estes que, unidos ao conhecimento
a formação didática, didática e pedagógica no ge- pedagógico possibilitam o exercício da atividade
ral” porque acreditamos que exemplifica a ideia de ser professor. Nossa análise aponta, entretan-
de dois grandes blocos de conhecimento susten- to, para posturas distintas com relação à signifi-
tando a ideia da dicotomia entre conhecimentos cação do conhecimento pedagógico. Em geral,
específicos e pedagógicos. os formadores reconhecem o componente peda-
Na fala da Professora Carolina encontramos gógico como importante elemento na formação
um dado relevante que sinaliza que estamos ca- inicial de professor, mas suas posturas revelam
minhando para uma conscientização da necessá- certas problemáticas no que se refere à
ria articulação entre os conhecimentos da área indissociabilidade destes conhecimentos. Para
específica e os da formação de professores. alguns o problema está relacionado à estrutura,
para outros é um postura coletiva que precisa ser
[...] eu sou falha nesse aspecto de chamar modificada buscando integralidade, outros ainda
mais a atenção de que isso pode ser traba- revelam no discurso a ideia errônea de blocos de co-
lhado dessa forma, ou dessa outra forma, mas
sempre tentando lembrar eles que eles já são
nhecimentos.
professores em formação, até porque o as- Caminhamos ainda na direção de uma maior
pecto é a língua e a língua vai ser um dos interlocução entre os conhecimentos da área es-
instrumentos de trabalho deles, sem a língua pecífica com outros campos de conhecimento e
eles não vão ser professores (Professora Ca- da formação pedagógica. A centração na área es-
rolina).
pecífica ainda é uma realidade no curso de licen-
ciatura investigado, embora tenhamos destacado
Neste excerto da narrativa da Professora Ca-
que os estudos desenvolvidos pela Linguística
rolina encontramos a evidencia do reconhecimen-
Aplicada vêm contribuindo muito no campo de
to de que os conhecimentos e conteúdos oriun-
investigação sobre formação de professores de
dos da área específica não são trabalhados no viés
línguas, essa articulação, na prática, ainda é frágil.
da aplicabilidade na prática docente futura.

REFERÊNCIAS BOBLIOGRÁFICAS

BOLÍVAR, A.; DOMINGO, J.; FERNÁNDEZ, M. La HUBERMAN, M. Trabajando con narrativas biográficas.
investigación biográfico-narrativa en educación: In: McEWAN y EGAN (comps.) La narrativa en la en-
enfoque y metodología. Editorial La Muralla, S. A., 2001. señanza el aprendizaje y la investigación. Buenos Aires:
323 p. Amorrortu, 1998, p. 183-235.
BOLZAN, D. P. V. Verbetes. In: MOROSINI, M (Org.). KRAHE, E. D. Sete décadas de Tradição – ou a difícil
Enciclopédia de Pedagogia Universitária. Glossário vol. mudança de racionalidade da Pedagogia Universitária nos
2. Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Edu- Currículos de Formação de Professores. In: FRANCO, M.
cacionais Anísio Teixeira, 2006. 610p. E. D. P.; KRAHE, E. D. (Orgs.). Pedagogia Universitária
CONNELLY y CLANDININ. Relatos de experiência e e Áreas de Conhecimento. Porto Alegre: Série RIES/
investigación narrativa. In: LARROSA; ARNAUS; FER- PRONEX EdiPucrs, vol. 1, p. 27-37, 2007.
RER et al. Déjame que te cuente. Barcelona: Alertes, 1995. MARCELO GARCÍA, C. Formação de Professores. Para
p. 11-59. uma mudança educativa. Porto: Porto Editora, 1999.
GAUTHIER, C. Por uma teoria da pedagogia: pesqui- 283p.
sas contemporâneas sobre o saber docente. GAUTHIER, MORAES, R. e GALIAZZI, M. do C. Análise Textual
C.; MARTINEAU, S.; DESBIENS, J.; MALO, A.; Discursiva. Ijuí: Ed. Unijuí, 2007. 223p.
SIMARD, D. (Org.). Ijuí: Ed. Unijuí, 2006. 480p.

216
MIZUKAMI, M. G. N. Aprendizagem da docência: algu- contemporánea. In: WITTROCK, M. C. La investigación
mas contribuições de L. S. Shulman. Revista Educação. de la enseñanza, I: Enfoques, teorías y métodos. Barce-
Santa Maria, CE/UFSM, v.29, nº 02, 2004. (Dossiê: For- lona: Paidós, 1989.p. 9-91.
mação de professores e profissionalização docente). Dis- TARDIF, M. Saberes Docentes e formação profissional.
ponível em: http://coralx.ufsm.br/revce/revce/2004/02/ Petrópolis, RJ: Vozes, 2002. 325p.
a3.htm Acesso em: 08 nov. 2012.
TARDIF, M. Saberes profissionais dos professores e co-
SCHULMAN, L. S. Conocimiento y enseñanza: fundamen- nhecimentos universitários: Elementos para uma episte-
tos de la nueva reforma. In: Profesorado. Revista de mologia da prática profissional dos professores e suas
currículum y formación de profesorado, 2005. Disponí- consequências em relação à formação para o magistério.
vel em: http://www.ugr.es/~recfpro/rev92ART1.pdf In: Revista Brasileira de Educação. Jan/Fev/Mar/Abr.,
SCHULMAN, L. S. Paradigmas y Programas de Investiga- 2000. p. 5-24.
ción en el estudio de la enseñanza: una perspectiva

217
HISTÓRIAS PARA POVOAR AS MATAS:
OS MBYÁ-GUARANI ENTRE VOZ E LETRA

Ana Lúcia Liberato Tettamanzy


Luciene Rivoire
Universidade Federal do Rio Grande do Sul

El rostro del dominado le pertenece en parte, pues hay outra parte inventada pelo opressor. (Ticio Escobar)

QUEM É BÁRBARO Essa digressão diz respeito muito particular-


mente ao modo como no Brasil contemporâneo
Na história da humanidade, muitos povos já ainda predominam estereótipos acerca dos povos
foram poderosos e geraram impérios, assim como originários. Se é pacífico aceitar que estavam aqui
vários outros foram dominados, expulsos de ter- muito antes da chegada dos europeus, o ponto de
ras, desapareceram — e com eles línguas, costu- vista etnocêntrico desvia discursivamente o even-
mes, etnias. Mas desaparecem de todo? Como to, que é apresentado como uma descoberta. Po-
ignorar o fenômeno da impureza cultural dada a rém, do ponto de vista dos nativos, trata-se de
copresença de diferentes heranças em todas as uma invasão. Esse silêncio discursivo que nos
culturas? Francis Wolff (2004) identifica na con- textos didáticos e nos documentos históricos in-
temporaneidade, desde o episódio do atentado de siste em fazer do indígena tábua rasa, ignora seu
11 de setembro, a ameaça da imposição de um arcabouço cultural, linguístico e humano em
único modelo de civilização como válido. Disso nome de seu apagamento e da imposição de uma
resultam duas formas de barbárie: a barbárie outra civilização. Esta há cinco séculos elege mo-
destrutiva do fanatismo versus a barbárie devas- delos de pessoa, uma língua e culturas que des-
tadora da civilização. Para dar conta da proble- prestigiam os povos originários. Os avanços ob-
mática, propõe três sentidos para o conceito de tidos com a Constituição de 1988 são impactados
bárbaro: o que é selvagem, não urbano; o que é pela descontinuidade e pela lentidão na sua apli-
insensível aos valores culturais (da arte, da ciên- cação, bem como pela proposição de emendas e
cia, das letras); e o que é capaz de atos desuma- atos jurídicos que desvirtuam a autonomia des-
nos. Enumera casos da história recente de civili- ses povos e o reconhecimento dos seus direitos
zações urbanizadas e cultas que, no entanto, fo- às terras e aos modos de vida tradicionais.
ram capazes de atos desumanos, efetivando en- A invisibilidade manifesta-se sobremaneira na
tão o terceiro sentido da barbárie. Explica ainda construção do “índio genérico”. O 19 de abril tem,
o problema do relativismo, que, ao aceitar a di- infelizmente, servido a iniciativas pontuais de
versidade das culturas, tolera atos desumanos por folclorização do indígena. No dia seguinte, sua
conta do rechaço ao universalismo. Conclui que figura desaparece, só lembrada em episódicas
a civilização não é uma cultura específica, privi- manchetes de protestos em geral contra a devas-
légio de um povo ou nação, mas a forma que per- tação ambiental ou pela demarcação de terras. Ou
mite a existência das culturas humanas em sua pior: sua imagem ainda permanece cristalizada
diversidade, assim como a barbárie não é uma m visões adocicadas ou nostálgicas, atravessa-
prática ou um costume humano, e tampouco uma das da mirada romântica que cunhou nosso mito
cultura humana específica, é uma prática, um fundador. O índio bom moço é, nesses contextos,
costume, uma cultura que se define pelo fato de branqueado, sobrevive melhor no mito do que na
negar uma forma específica de humanidade. Em história. Cerca de trezentos povos são generali-
suma, bárbara é toda cultura que não admita ou zados com o nome de “índios”, como se não fos-
reconheça outra cultura e bárbaro é todo aquele sem diferentes entre si, com distintas línguas e
que acredita que ser homem é ser como ele, en- formas de organização cultural e material. O mai-
quanto ser homem é sempre poder ser outro. or problema: seguem entendidos como “primiti-

219
vos”, no sentido que tudo que se espera é que um em que corpo, voz, gesto e algum uso de vestuá-
dia se tornem como nós, os civilizados e aptos rio, objetos ou instrumentos imprimem um tom
para o “progresso”. Entretanto, segue ignorada espetacularizado à narrativa. Essas histórias em
sua maior qualidade: são nossos contemporâne- geral possuem enredos simples, afirmam valores
os e exercem de forma exemplar o princípio fun- de grupos ou sujeitos encaixados numa cultura.
dante da civilização de que tratou Wolff ao acei- Nesse caso, a ordem social encontra expressão
tarem os diferentes, assimilando critica e criati- poética e mítica, de modo que a interlocução com
vamente o que lhes parece interessante da cultu- o público ouvinte permite que a história possa
ra da sociedade envolvente. trazer à tona desde memórias e significados la-
Um dos mais eloquentes exemplos disso são tentes até promessas de futuro. Além dessa pes-
as escolas bilíngues e diferenciadas, que desde quisa de materiais relativos às culturas populares
meados dos anos 90 se colocam como focos de brasileiras, as Leis 10639/08 e 11645/112 trouxe-
tensão, mas também de resistência. Podem ser ram demandas por repertórios e cursos de forma-
vistas como laboratórios interculturais que expe- ção relativos à história e às culturas africanas,
rimentam manter as bases da cultura e simulta- afro-brasileira e indígenas. Ali começou o traba-
neamente inserir diferentes cosmovisões, tecno- lho de recriação das histórias que consiste em
logias (como a escrita, os midias) e línguas. Ou- inserir cantos, palavras e elementos de identifi-
tro elemento importante nessa experimentação cação étnica e cultural. Contudo, esse trabalho
são as formas de preservação de seu patrimônio visava a públicos sobretudo escolares que eram
imaterial. Longe de serem, portanto, sujeitos pri- apresentados a tais contextos e saberes através
mitivos, presos ao atavismo de tradições e ao pas- da narração oral.
sado, os indígenas tem se mostrado inventivos Em 2011, por ocasião da exposição “Ore-
na rearticulação de elementos em que a vida so- tataypy: presença Mbyá-Guarani no Sul e Sudeste
cial, natural e cultural implica um projeto de fu- do Brasil”, ocorrida no Museu da UFRGS3, sur-
turo — deles e nosso. giu uma proposta desafiadora: preparar histórias
desse povo para contar aos visitantes da expo-
sição. Como de hábito, entremeamos as histórias
DE COMO AS HISTÓRIAS NOS (pesquisadas em livros, materiais audiovisuais,
APROXIMARAM DOS MBYÁ-GUARANI revistas especializadas, sites) de cantorias na sua
língua (aprendidas na escuta de um CD) e do som
Como um grupo de Contadores de Histórias1, de maracas (instrumentos de percussão tradicio-
temos desde 2005 a experiência de atuarmos nais). As apresentações renderam o convite para
como mediadores: entre a Universidade e as es- contar as histórias para professores e crianças na
colas e comunidades, entre a letra e a voz. A op- escola da Tekoá Anhetenguá, situada na Lomba
ção por contarmos histórias populares ou tradici- do Pinheiro, bairro de Porto Alegre/RS. E o que
onais repousa na convicção de propiciarem essa era uma simples apresentação na aldeia veio a
passagem do texto impresso para a performance, ser um mergulho na interculturalidade. O traba-

1
O grupo Quem Conta um Conto é um projeto de extensão universitária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
que existe desde 2005. Atualmente o grupo tem como membros alunos da graduação do curso de Letras e uma Mestre em
Artes Cênicas. Na sua trajetória já contou com participantes de diferentes áreas do conhecimento (Dança, História, Jorna-
lismo e outras), uma vez que tem na sua proposta a interdisciplinaridade. Suas pesquisas e práticas procuram trazer para a
voz, através de performances, histórias e práticas de diferentes tradições culturais com ênfase numa perspectiva da diver-
sidade e da interculturalidade. Além disso, o grupo oferece cursos de formação de contadores de histórias com o objetivo
de ressignificar os momentos de narrar e ouvir na sociedade contemporânea.
2
Trata-se das Leis que estabelecem a obrigatoriedade, nos estabelecimentos de Ensino Fundamental e de Ensino Médio,
públicos e privados, do estudo da história e cultura africana, afro-brasileira e indígena.
3
Exposição realizada de 3 de outubro de 2011 a 17 de julho de 2012. Foi uma parceria da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul/UFRGS (Museu da UFRGS/Pró-Reitoria de Extensão) com o Núcleo de Políticas Públicas para os povos
indígenas da Secretaria de Direitos Humanos e Segurança Urbana da Prefeitura Municipal de Porto Alegre (PMPA) e com
o Museu do Índio do RJ/FUNAI. Permite conhecer um pouco mais sobre a perspectiva Mbya-Guarani em relação ao
mundo – sua cosmologia – e como isso se reflete em suas atividades cotidianas.

220
lho teve seguimento e continua até o presente com o escopo da língua oral, sendo adequado para o
desdobramentos e resultados surpreendentes, que ensino da criança que tanto aprendia os valores
serão explicitados no desenrolar deste texto. Na acústicos como as formas visuais da língua. Po-
próxima parte, faremos algumas reflexões acer- rém, como defende o autor, apesar de a palavra
ca de nossas propostas e descobertas em relação rítmica como armazenamento e veículo de infor-
aos caminhos entre voz e letra e entre as culturas mação da sociedade vir a ser substituída pela pro-
implicadas. A seguir, detalharemos uma experi- sa e sua sintaxe reflexiva de definição, descrição
ência de reciprocidade e aprendizagens intercul- e análise, a herança oral continua sendo um com-
turais surgidas a partir da história “A festa no céu”, plemento necessário à nossa consciência abstra-
famosa no folclore brasileiro e conhecida dos Mbyá. ta de cultura escrita.
Nossa presença na aldeia como contadores de
histórias — e não como pesquisadores munidos
COMO AS HISTÓRIAS PODEM POVOAR de cadernos ou câmeras (estas só posteriormente
AS MATAS incorporamos) — no início despertou espanto,
possivelmente por terem na sua frente um espe-
Desde que chegamos à escola da Tekoá lho incomum. Viam em nossa narração uma ima-
Anhetenguá, em novembro de 2011, ocupamos gem de si mesmos, ou seja, nossa tentativa de
um lugar de fronteira. Contamos oralmente em recriar em português histórias de sua cultura. As-
português histórias desse povo, para crianças na sim, era uma novidade escutarem da boca dos
fase inicial de alfabetização na língua materna e “juruá” (os brancos) aquilo que experimentam no
início de contato com a língua portuguesa. Sen- cotidiano, a partir da sabedoria dos mais velhos
do assim, optamos por acompanhar a narração ou dos familiares. Pelos seus comentários, acham
oral de jogos corporais e verbais, cantorias e ex- engraçado nosso “teatro”, pois as modulações na
perimentações com diferentes linguagens (dese- voz, os trejeitos corporais, as cantorias e a intera-
nho, argila, pintura, confecção de objetos inspi- ção com os ouvintes diferem do seu jeito de con-
rados nos costumes tradicionais), de modo que tar histórias, mais introspectivo, ou, nos seus ter-
nossa comunicação opera com vários códigos mos, “sem usar as mãos”. O fato é que se mos-
poéticos e sensoriais. Como exemplo disso, pode- tram cada vez mais receptivos a nossa proposta e
mos mencionar o fato de que atualmente é co- parecem se divertir muito. Isso nos fez pensar no
mum nos receberem cantarolando os versos de papel das histórias na escola. Segundo os profes-
nossa música de entrada e saída da performance, sores, por vezes eles contam histórias, sobretudo
entregues à sonoridade envolvente, mesmo que a para “ensinar alguma coisa”, o que não significa
mensagem seja pouco explícita.4 Essa entrega a a interrupção dos espaços e narradores tradicionais,
uma atmosfera de leveza e alegria tem sido uma como referiu o professor Jerônimo mais de uma vez.
marca da relação estabelecida. O que compreen- Temos observado, em nossas idas quinzenais
dem se amplifica pela conjugação da linguagem para a escola, certos princípios que foram tradu-
verbal com a não-verbal, algo que consideramos zidos como uma “inconstância no cotidiano es-
ser importante subsídio não só para seu letramen- colar”, com respeito a tempos e espaços de uma
to, mas também para sua desenvoltura oral e cor- outra cosmogonia, em que a oscilação entre a or-
poral. Como explica Eric Havelock (1995) a res- dem e a desordem produz um movimento pró-
peito do surgimento do alfabeto grego, este foi prio e criativo para as aprendizagens (MENEZES
uma feliz formulação que permitiu registrar todo & BERGAMASCHI, 2009, p.184). Assim, apren-
4
Trata-se dos versos criados por três irmãs cegas, moradoras do sertão paraibano, que tiveram sua trajetória de artistas
(que saíram do anonimato das ruas para a fama) narrada no documentário A pessoa é para o que nasce, de Roberto
Berliner, finalizado em 2006. Além do DVD, seus versos e criações receberam releituras por músicos como Paralamas do
Sucesso, Elba Ramalho, Pato Fu e Lenine, num CD de mesmo nome. O refrão diz o seguinte: “Atirei no mar, o mar vazou,/
Atirei na moreninha, baleei o meu amor”. A ele intercalamos versos por elas recriados da tradição popular, como “Nunca
vi carrapateira botar cacho atravessado,/ Nunca vi moça solteira namorar homem casado” ou “Menina diz pro seu pai e ele
diz pra quem quiser,/ Que ele está pra ser meu sogro e você minha mulher”. Como se percebe, o sentido não se preenche
de imediato, mas se estabelece no fluxo de cantorias imersas em aspectos positivos e negativos das relações afetivas e
familiares tratados com bom humor.

221
demos a refazer nossas pautas com frequência, sobre o conteúdo, assim como as criações que
instados a desconstruir nossos horários e planos mantivessem vínculo com o ethos das socieda-
por vezes excessivamente amarrados, numa von- des passariam a ser vistas a partir de ausências,
tade de acabamento e coerência que ali parece fosse de intencionalidade estética, fosse de auto-
deslocada, posto que toda a aldeia é espaço de ria, já que pressupunham um diálogo com tradi-
educação, e “o ritmo da aula é o ritmo do cora- ções e saberes compartilhados. O antropólogo
ção.” (idem, p.186) Cada vez que saímos da al- Adolfo Colombres (1997), amparado no profun-
deia e dizemos que retornamos em duas segun- do conhecimento de tradições orais africanas e
das-feiras, percebemos que essa referência não ameríndias, elabora uma crítica amarga às pro-
faz muito sentido para eles. Entendemos isso a duções literárias contemporâneas. Lamenta a per-
partir do que explica Louis-Jean Calvet (2011, da do poder criador da palavra, pois “Ya no im-
p.64-5) sobre o fato de que, nas sociedades de portará tanto nomear el ser profundo de las co-
tradição oral, “o tempo e o espaço são medidos sas, sino mostrar destreza em el manejo del lin-
graças a um vaivém constante entre os corpos e o guaje, aúnque esse discurso nada nombre, por
mundo, entre a experiência concreta e a vontade volverse sobre si mismo” (COLOMBRES, 1997,
de exprimir em medidas essa experiência”. p.139). Em outra publicação de semelhante teor,
Em meio ao esforço para dialogar com essas lança um texto manifesto em defesa da potente
outras temporalidade e espacialidade, buscando palavra-fogo, que a seu ver resiste em popula-
pontes que aproximem significados, fomos sur- ções subalternizadas ou periféricas, enfraquecida
preendidos com uma demanda dos professores. pela vacuidade da palavra-jogo, que pode ser
Queriam ajuda para escrever suas histórias, o que, identificada com certas práticas pós-modernas:
obviamente, se deveu à sua compreensão de que,
como acadêmicos, dominamos a língua escrita. La voz transporto a la palavra como um car-
No entanto, não era esse o nosso propósito en- ro sagrado hasta que la escritura la decreto
prescindible, al fundar um linguaje sin voz
quanto grupo que pesquisa a voz e produz (...) Al juzgar esta transmutación, conviene
performances. Isso de imediato estabeleceu um tener presente que la aventura humana no se
paradoxo, na medida em que os Mbyá manifes- funda em la escritura, que es um mero artifi-
taram o desejo de se aproximar dos lugares auto- cio exaltado por la civilización occidental,
rizados do saber letrado enquanto direcionamos la más grafocéntrica de todas, sino en la pa-
labra, que es fogo nombrador, poder genera-
nossas práticas e inquietações intelectuais aos dor y normativo. Esta palabra-fuego de las
lugares instáveis das culturas da voz, anuladas orígenes está siendo suplantada hoy por la
pela racionalidade da “cidade letrada”. De nossa palabra-juego que tanto gusta ao pensamen-
parte, seguimos a desobediência epistêmica de to único, porque no bucea em busca del
Walter Mignolo, que propõe o pensamento desco- numen de las cosas sino que se despliega
sobre su superfície, em artilugios autocom-
lonial: “Línguas marginalizadas e denegridas, placientes que nada revelan. Y como bien se
religiões e formas de pensar estão sendo re-ins- sabe, lo que no revela no rebela. (COLOM-
critas em confrontação com as categorias de pen- BRES, 2007, p.199)
samento do ocidente. Pensamento de fronteira ou
epistemologia de fronteira é uma das conseqüên- Em busca dessa palavra-fogo, passamos a ten-
cias e a saída para evitar tanto o fundamentalismo tar entender o que os professores pretendiam com
ocidental quanto o não-ocidental” (MIGNOLO, os escritos, abrindo bifurcações em relação a essa
2008, p.297). demanda e também em relações a nossas inten-
Nossa prática na aldeia assume, então, o en- ções descoloniais. Por não realizarmos uma etno-
frentamento de teorias e discursos que impuse- grafia, nossa experiência de campo não pressu-
ram seus princípios de legitimação como univer- punha observações ou descrições desse povo, mas
sais. No caso da literatura, assim como no das se baseia num diálogo e num intercâmbio de co-
artes, houve uma crescente dissociação entre for- nhecimentos, histórias e formas de narrar. O pro-
ma e conteúdo e também entre as dimensões éti- fessor Jerônimo, notório pesquisador da sua cul-
ca e estética. Nessas condições, a arte não deve- tura, desenhava formatos observados na paisa-
ria ter função, de modo que a forma impôs-se gem escolar: pensava em escritos de afirmação

222
identitária. A certa altura, confeccionou com os crita a presença dos fundamentos da cosmogonia
estudantes espécies de cilindros em cartolina que e dos saberes ancestrais, à semelhança do livro
foram pendurados no teto do prédio. Como um Ara Reko: memória e temporalidade Guarani
movimento de valorização étnica e linguística, (2005), produzido por professores pesquisadores
surgiam ali, esteticamente configurados, os no- indígenas das aldeias Itax, Araponga, Sapukai,
mes em português e em Guarani, estes, como nos Rio Pequeno com apoio de grupo de pesquisado-
explicou, vinculados à nomeação das crianças res da Universidade Federal Fluminense (UFF).
pelo líder espiritual, que designa atributos da pes-
soa. Disse, nesse dia em que nos mostrou os ci- Propomos um ensino fundado na oralidade,
no trabalho com o espaço escolar “móvel”,
lindros, que nossa presença ali tinha motivado isto é, em deslocamento até os lugares-me-
essa criação e aumentado seu desejo de fazer da mória onde a fala dos homens-memória sig-
escola um espaço de memória, na verdade um nifica aos ouvintes-alunos. O tempo, por sua
museu que, à semelhança de outro que visitara, vez, é fundado numa pluralidade de tempos
reproduziria ainda o céu com as constelações significativos para diferentes sujeitos na al-
deia. A oralidade encontra-se associada à
Guarani. Da mesma forma, imaginava um livro observação do mundo, observação que edu-
com o calendário tradicional, farto de ilustrações ca o olhar e forma imagens. Imagens pre-
que mostrassem o vínculo de plantas, medicamen- sentes em signos figurativos icônicos e sig-
tos e caça com as estações do ano, tornando a nos orais (a palavra), desenhando linguagens
passagem do tempo uma experiência concreta e e uma gnose de grande complexidade e ri-
queza. (BARROS, 2005, p.96)
inserida nos signos da cultura. Já o professor
Jackson se identificou desde sempre como escri- Contudo, nosso caminho enveredou para o se-
tor. Disse que nas escolas que frequentou gosta- gundo caso: um livro de imaginação em que cer-
va dos livros e das bibliotecas. Mencionou que- tos fatos do mundo simbólico como que suple-
rer escrever fábulas, pois suas histórias teriam mentassem as carências e os vazios da vida ma-
como personagens animais, o que de fato demons- terial danificada pelos efeitos da colonização.
tra sua circulação pelo universo da educação for- Inserida na especificidade ameríndia, algo preci-
mal e literária. sa ser sonhado para se realizar, como relata Ma-
Como parte da temporalidade descontínua dos ria Inês de Almeida sobre os exercícios de pro-
Guarani, os escritos não surgiriam rapidamente. fessores kayapó desenhando letras e coisas até a
Um fato deflagrador motivou os dois professores criação da sua “literaterra”: “começaram a surgir
a, em poucos dias, escreverem cada um três his- no ambiente ‘histórias’ e ‘sonhos’ — duas cate-
tórias, na sua língua e em língua portuguesa: le- gorias ou gêneros, a primeira ligada à memória
vamos até eles um edital da FUNARTE que pre- dos mais velhos (resultado de uma escuta) e a
miava em dinheiro autores de livros literários iné- segunda, à imaginação (não como imaginário,
ditos, bastava encaminhar uma cópia de parte do mas como resultado de olhar o mundo) — e qua-
livro e preencher um formulário relativamente se que naturalmente eles iam escrevendo, como
simples dando conta das intenções e formato do se realizassem uma primeira colheita.” (2009,
livro a ser produzido. Auxiliamos no encaminha- p.88) De modo semelhante, as histórias Mbyá,
mento do material, que gerou um embrião de li- experimentadas coletivamente nos projetos “so-
vro — Arandu mir (Pequenas Sabedorias) — nhados” e materializados por Jerônimo e nas nos-
ilustrado por eles mesmos, com histórias envol- sas práticas narrativas, trazem de outra maneira
vendo principalmente animais e arrematadas com os bichos, as terras e as águas num processo de
ensinamentos, à semelhança das fábulas. tradução cultural e afirmação. E, se nossa prática
Seguíamos conversando sobre o formato, e ora pode ter algum tipo de contribuição naquela co-
o caminho escolhido se aproximava de propos- munidade, talvez esteja nessa valorização de sua
tas já conhecidas de produção de material didáti- voz, de seus mitos e saberes uma vez que os vêem
co para as escolas diferenciadas, ora se desloca- espelhados em nossas narrações: o mundo Mbyá-
va para as recentes literaturas indígenas. No pri- Guarani reinventado para eles usufruírem e, como
meiro caso, pensávamos que seria importante in- tal, estimulando sua afirmação étnica através dos
cluir a voz dos mais velhos, para garantir na es- seus criativos e poéticos “modos de olhar o mun-

223
do”. Embora a escrita do livro esteja interrompi- dia percebemos que seria difícil trazer as históri-
da no momento, nossa intervenção narrativa pa- as deles através do relato oral, tendo em vista que
rece provocar outros sentidos para as histórias tra- não se sentem à vontade para a exposição oral e
dicionais. também que as crianças não dominam amplamen-
Não parece ser casual que, no final de 2012, te a língua portuguesa, mesmo as mais velhas.
Jerônimo tem a idéia de realizar as Olimpíadas Num segundo encontro, contamos mais duas
Guarani. Além do futebol, o destaque da Progra- histórias escritas pelos professores (a morte da
mação foi o torneio de arco e flecha, cujo alvo velha onça e o jovem guerreiro) e pedimos para
era uma melancia pendurada num galho de árvo- que eles contassem estas ou outras histórias de
re. Foram confeccionados instrumentos especifi- bichos através de desenhos. Descobrimos que eles
camente para esse dia. Na abertura o cacique José são excelentes ilustradores. Neste dia surgiram
Cirilo elogia a proposta do professor, inclusive várias histórias que, além das ilustrações, foram
propõe que se repita todos os anos para que se narradas oralmente pelas crianças tendo como
recupere essa prática entre os meninos e adultos. ponto de partida os próprios desenhos. A criação
Na celebração que seguiu, durante o almoço, o das imagens feitas pelas crianças provocou outro
cacique voltou a falar desse fato e foi mais além, envolvimento com as histórias, uma gama de sig-
propôs que na escola se fizessem dias de caça e, nificados do seu contato com o mundo natural e
mesmo sem a presença de mato ou bichos apro- social. Esta ficou sendo nossa estratégia para es-
priados, os alunos tivessem a experiência de, timular uma narrativa processual e performativa
munidos de seus instrumentos, buscar o alimen- do universo Guarani. Descobrimos um caminho,
to nas matas, atualizando, ao menos pela via do como explica o filósofo Martin Heidegger: “Ao
simbólico, essa prática para as novas gerações. abrir-se um mundo, todas as coisas adquirem a
Pelas histórias, a imaginação Mbyá-Guarani po- sua demora e pressa, a sua distância e proximi-
voa suas matas no presente e descobre caminhos dade, a sua amplidão e estreiteza.” (1992, p.35)
para um futuro conectado com os mitos fundado- Percebemos um tempo diferente do nosso, alheio
res e com a memória dos guardiões da palavra. à nossa pressa de produção, de otimização de tudo
o tempo todo. Entendemos que a distância ou a
proximidade dependem das distintas abordagens.
A FESTA NO CÉU: INTERFACES DE As respostas a nossa ânsia ou perguntas são
LÍNGUAS E SABERES traduzidas pelo silêncio, pelas formas e cores da
comunidade Guarani. Ficamos atentos a partir
A “Festa no céu” foi uma experiência singular deste momento a novas linguagens que não são
em nosso processo como contadores de histórias traduzidas apenas pela oralidade ou pela escrita,
na Tekoá Anhetenguá, desenvolvida em continui- mas também pelo viés da arte, uma linguagem
dade ao longo de dois meses no segundo semes- pré-verbal. Selma Ciornai explica no que consis-
tre de 2012. Para nos aproximarmos melhor do te esta linguagem pré-verbal:
universo das crianças Guarani, decidimos contar
histórias com personagens animais. As histórias, Sendo uma linguagem pré-verbal, no senti-
como de hábito, foram pesquisadas em livros e do de que se reconhecem toques, sensações,
imagens, cores e sons antes de se aprender a
veículos eletrônicos, no entanto, passamos a in- falar, ler e escrever, a arte é uma linguagem
serir também as histórias escritas pelos dois pro- potencialmente bem mais facilitadora de con-
fessores, o que lhes trouxe surpresa e alegria. No tato com memórias propioceptivas, com ex-
primeiro dia, trouxemos a origem do vaga-lume periências de sensações mais antigas, arcai-
e a briga entre o macaco e o lobo, esta criada por cas e profundas do que a linguagem verbal.
E não me refiro aqui apenas ao criar, refiro-
Jackson. Pedimos, então, após a escuta para que me aos estímulos sonoros, rítmicos, imagé-
as crianças contassem alguma história relaciona- ticos e sensoriais pelos quais a música, a es-
da a animais vivida por eles ou guardada na me- cultura, a pintura, a dança e os gestos têm
mória. Houve um ou outro relato tímido de mobilizado nosso ser e nossas emoções atra-
vivências próprias com cachorros e cobras de- vés dos tempos, reportando-nos a ressonân-
cias e memórias ancestrais e até mesmo uni-
pois de várias intervenções nossas. Neste primeiro versais. (CIORNAI, 2004, p.78-79)

224
A nova trajetória seria então buscar essa gama dentro dele o sapo se esconde para ir até a festa
variada de linguagens para chegarmos à palavra no céu. Neste mesmo dia fizemos nossa “Festa
oral. Nossa próxima abordagem foi trabalhar com na Aldeia”: levamos bolos, frutas, sucos, e cada
argila. Pedimos para que modelassem animais que criança confeccionou um convite como se fosse
fazem parte do universo da aldeia ou que tives- um bicho para entrar na festa. Cada um tinha que
sem aparecido nas histórias narradas. Surgiram “representar” sua entrada na festa, pedindo licen-
vários bichos: cobras, pássaros, sapos, tartarugas, ça e contando como havia chegado até ali (de-
onças, peixes. Nestes momentos de produção ar- pendendo das características do animal, variavam
tística, percebemos uma grande entrega por par- os meios que as crianças inventavam para justifi-
te deles. Nesta altura, já tínhamos em mente que car seu trajeto da terra ao céu).
finalizaríamos esta construção com a história “A Ao longo deste processo, a cada encontro nos-
festa no céu” que, por sua vez, se transformaria sa relação com as crianças e os professores foi
numa “Festa na aldeia”. Para tal, tivemos um ficando mais próxima. E fomos descobrindo a lin-
momento de sensibilização, em que eles pude- guagem gestual desta comunidade e de cada cri-
ram perceber o espaço físico da aldeia, as pesso- ança ali presente. Aprendemos que a língua tam-
as, os animais, as construções, as festas. Na se- bém é constituída de silêncios, e que estes signi-
quência, a partir de sucatas, materiais naturais ficam, que podemos traduzi-los em palavras
(erva mate, pedra, areia) e tintas construímos uma (ORLANDI, 2002, p.32). Descobrimos que esta
maquete da aldeia. Por fim, eles “povoaram” a língua não-verbal é formada de escutas, de com-
aldeia com os animais que haviam modelado an- portamentos, de criações artísticas e também de
teriormente com a argila. Momento único para afetos e que cada um destes elementos tem sua
nós e para eles, era a primeira vez que enxerga- significação nesta múltipla linguagem. Estas sig-
mos a aldeia em outra perspectiva, realizando nificações só são possíveis pelo contato. Quando
materialmente o imbricamento de realidade e fic- falamos em contato não estamos falando só no
ção, posto que montaram um cenário a partir do físico e sim na escuta, no silêncio, na duração da
que experimentam no cotidiano. troca e da ressonância com o outro. Este contato
Contudo, faltava movimento nesse cenário, de que falamos é aquele em que somos afetados,
que serviu de estímulo para duas versões da “Festa sensibilizados, enfim, envolvidos pela “capaci-
no céu”, uma apresentada por nós, em português, dade de ressoar com a própria experiência” (POLS-
e outra narrada pelo professor Jerônimo, em TER, 1979, p.125). Este é o caminho que estamos
guarani e português. Este foi o primeiro momen- trilhando junto com a comunidade da aldeia
to em que espontaneamente ouvimos uma histó- Guarani Tekoá Anhetenguá, experimentando vá-
ria tradicional. Nossa narração foi realizada por rias linguagens para o reaparecimento das histó-
todo o grupo e animada pelo violão, que tanto rias Guarani.
embalava o relato como era objeto cênico, já que

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CALVET, Louis-Jean. Tradição oral & tradição escrita. Maria Aparecida. Educação ameríndia: a dança e a esco-
São Paulo: Parábola, 2011, la guarani. Santa Cruz: EDUNISC, 2009.
CIORNAI, Selma. Percursos em arteterapia: arteterapia MIGNOLO, Walter. Desobediência epistêmica: a opção
gestáltica, arte em psicoterapia, supervisão em arteterapia. descolonial e o significado de identidade em política. Ca-
São Paulo: Summus, 2004. dernos de Letras da UFF – Dossiê: Literatura, língua e
HAVELOCK, Eric. A equação oralidade – cultura escrita: identidade, no 34, p. 287-324, 2008
uma fórmula para a mente moderna. In: OLSON, David ORLANDI, Eni Puccinelli. As formas do silêncio – no
R.; TORRANCE, Nancy. Cultura escrita e oralidade. São movimento dos sentidos. Campinas: Ed. Unicamp, 2002.
Paulo, Editora Ática, 1995. p.17- 34 POLSTER, E. e POLSTER, M. Gestalt Terapia Integra-
HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. Lisboa: da. Belo Horizonte: Interlivros, 1979.
Edições70, 1992 ( Biblioteca de Filosofia Contemporânea). WOLFF, Francis. Quem é bárbaro? In: NOVAES, Adauto.
MENEZES, Ana Luisa Teixeira de & BERGAMASCHI, (org.) Civilização e barbárie. São Paulo: Companhia das
Letras, 2004, p. 19-44.

225

Você também pode gostar