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NOTA SOBRE O SENTIMENTO DE EMBARAÇO

EM ERVING GOFFMAN

Carlos Benedito de Campos Martins

Encounters are everywhere, but it is difficult to describe vembro daquele ano. O problema do sentimento
sociologically the stuff they are mad off. de embaraço recebeu um tratamento mais detalha-
Erving Goffman
do em seus trabalhos iniciais, porém essa temática
foi retomada em publicações posteriores (Goff-
Goffman trouxe para o centro de sua socio- man, 1953, 1959, 1961a e b, 1967, 1971). O objeti-
logia a análise do problema da interação entre os vo do presente trabalho é apresentar, de forma
atores sociais e estabeleceu uma relação entre abreviada, a relação postulada por Goffman entre
ordem da interação e o sentimento de embaraço. ordem da interação e sentimento de embaraço,
A despeito das várias fases de sua obra – traba- procurando ressaltar que o percurso acadêmico do
lhos pré-dramatúrgicos, investigações metafóricas, autor e as influências intelectuais que marcaram sua
análise estratégica, teoria dos jogos, análise da lin- obra foram decisivos na análise dessa temática.
guagem, análise da estrutura das experiências indi- Não deixa de constituir um paradoxo que um
viduais etc. –, o estudo da ordem da interação dos pensadores mais influentes na sociologia nor-
perpassou toda sua produção intelectual, estando te-americana do século XX seja de origem cana-
presente desde sua tese de doutorado até o dis- dense. Goffman nasceu em 1922, na pequena cida-
curso presidencial na American Sociological Asso- de de Manville, estado de Alberta, no interior de
ciation, em 1982, que não chegou a ser lido por ele uma família de judeus imigrantes da Ucrânia. Para-
devido à sua morte prematura, ocorrida em no- doxalmente também sua formação acadêmica ini-
Artigo recebido em junho/2008 cial não foi em sociologia, mas na área de química
Aprovado em julho/2008 na Universidade de Manitoba, onde se graduou em

RBCS Vol. 23 n.o 68 outubro/2008

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1934. A sociologia foi introduzida naquela universi- ção entre o desenvolvimento do interacionismo sim-
dade somente no final dos anos de 1930. Durante bólico e o Departamento de Sociologia de Chica-
o período entre 1943 e 1944, trabalhou no National go durante o período entre 1946 e 1952 (Colomy
Film Board of Canadá, em Ottawa, que produzia e Brown, 1984, p. 17; Fisher e Strauss, 1978, pp.
documentários. Certamente, essa experiência pro- 598-628). Certamente, diante da diversidade teóri-
fissional teve um impacto posterior em seu refina- ca e metodológica no interior do Departamento,
do senso de observação dos comportamentos dos alguns de membros manifestavam uma franca hos-
atores na vida social. Nesse período, travou amiza- tilidade a essa orientação teórica, além do que vári-
de com o futuro sociólogo Denis Wrong, que o os interacionistas não possuíam vinculação com a
incentivou a se dedicar à sociologia (Fine et al., 2000, instituição. O empreendimento teórico de Blumer
vol. 1, p. xi; Winkin, 1988, p. 21). foi fundamental na constituição dessa vertente, cujo
Em 1944, ingressou na Universidade de To- termo, interacionismo, foi cunhado por ele em 1937.
ronto para iniciar seu treinamento em sociologia. Resgatando determinadas contribuições de G. H.
Uma vez obtida a primeira etapa em sua forma- Mead, Blumer insistiu sobre as dimensões interpre-
ção nessa área, Goffman decidiu escolher uma uni- tativa, contingente e transformadora da ação soci-
versidade norte-americana para dar continuidade al. Investindo claramente contra a sociologia par-
aos seus estudos, uma vez que os departamentos soniana, salientou que a ação social não constituía
de sociologia canadenses ainda não estavam con- um produto de injunções de fatores externos, tais
solidados na oferta de pós-graduação. Sua opção como normas, valores, sistema cultural etc., mas,
recaiu sobre o Departamento de Sociologia da ao contrário, ela era produzida nas interações que
Universidade de Chicago, criado por Albion Small, os atores estabelecem entre si (Blumer, 1986, p. 55).
em 1892, que, além de seu prestígio acadêmico, Por outro lado, Everett Hughes forneceu uma de-
formou uma plêiade de professores que atuavam cisiva contribuição intelectual e pedagógica dentro
em diversos departamentos de sociologia então do Departamento. Mais eclético metodologicamen-
existentes no Canadá, especialmente na universida- te do que Blumer, ao mesmo tempo em que usou
de de McGill, de Montreal. Deve-se acrescentar uma variedade de dados em suas próprias pesqui-
também que um encontro casual que Goffman sas, insistia que os estudantes possuíssem uma for-
manteve com Everett Hughes – canadense de ori- mação em estatística. Hughes preferia a observa-
gem e uma das figuras centrais do Departamento ção direta dos fenômenos sociais e, nesse sentido,
de Sociologia de Chicago – foi decisivo para re- teve um papel crucial na realização de estudos de
forçar sua escolha (Fine et al., 2000, vol. 1, p. xiii). campo por parte dos estudantes, o que constitui
Sem dúvida, sua passagem pelo Departamen- uma das marcas acadêmicas distintivas do Depar-
to de Sociologia de Chicago marcou de forma in- tamento de Sociologia de Chicago (Hughes, 1971;
delével sua formação acadêmica. A defesa de sua Fisher e Strauss, 1978, p. 599; Goffman, 1989, pp.
dissertação de mestrado em 1949, denominada Some 123-132).
characteristic of responses do depicted experience, abordou Goffman era uma figura proeminente no in-
a recepção de uma novela de rádio chamada Big terior de um grupo de jovens estudantes que fo-
Sister (Manning, 1992, p. 7; Winkin, 1988, p. 43). ram treinados no ambiente intelectual de Chicago e
Após dezoito meses de coleta de informações numa que viria, posteriormente, ocupar uma posição de
comunidade situada numa das ilhas Shetland (Unst) destaque no contexto da sociologia norte-america-
na Escócia, defendeu sua tese de doutorado no final na, entre os quais se destacam Howard Becker,
de 1953, intitulada Communication conduct in an Island Ralph Turner, Joseph Gusfield, Helena Lopata, Kurt
community. Nas páginas iniciais desse trabalho, dei- Lang, entre outros. De um modo geral, esses futu-
xava claro que sua pesquisa não constituía um estu- ros pesquisadores adotaram uma postura cética com
do de uma comunidade – temática cara a Warner, relação à dominação funcionalista e à sua ambição
seu orientador –, mas focava sua atenção sobre o de desenvolver uma teoria geral sobre a sociedade,
que ocorria durante as interações dos indivíduos bem como procuraram distanciar-se da utilização
no interior da comunidade (Goffman, 1953, p. 8). de procedimentos quantitativos na realização de suas
Como foi salientado por Paul Colomy e pesquisas. Forneceram, com seus trabalhos, uma
David Brown, entre outros, havia uma inegável rela- contribuição para o florescimento de uma sociolo-

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gia interpretativa, levada adiante por investigações procurou fornecer uma explicação a partir de uma
calcadas em minuciosas observações empíricas. Seus visão macro sobre as bases institucionais que possi-
trabalhos tiveram um impacto posterior nas teorias bilitam a ordem social, Goffman estava interessado
do comportamento coletivo, da raça e da etnicida- fundamentalmente em compreender os mecanis-
de, do trabalho e das ocupações, do desvio social mos que sustentam os processos da interação entre
etc. (Snow e Davis, 1995, pp. 188-220; Wacker, os indivíduos, o que ocorre em microssituações
1995, pp. 136-163; Galliher, 1995, pp. 164-187). sociais concretas. Nesse sentido, ressaltou que a vida
Ao longo de sua trajetória intelectual, Gof- social se desenvolve no seu cotidiano a partir de
fman transformou de forma criativa determinadas- relações face a face que estão submetidas a determi-
idéias de autores, entre os quais se destacam Durk- nadas regulações, tais como: um conjunto de pré-
heim, Radcliffe-Brown, Simmel, Charles Cooley, vias experiências culturais vivenciadas pelos indiví-
George Herbert Mead, Alfred Schutz, Kenneth duos que as utilizam em seus encontros; um estoque
Burke, Herbert Blumer e Everett Hughes, utilizan- de impressões que voluntária ou involuntariamente
do-os como referências tópicas para o desenvolvi- transmitem sobre si mesmos; um conjunto de infor-
mento de seus próprios argumentos. Embora te- mações e/ou inferências que possuem a respeito
nha sido associado à linhagem interacionista, na qual dos demais integrantes de um processo interacio-
foi formado academicamente, não se enquadra facil- nal; a existência de expectativas que os atores nutrem
mente em apenas uma tradição sociológica e jamais de serem tratados em função do valor social que
aceitou a filiação a essa abordagem. Numa das ra- reivindicam para si mesmos (Sheff, 2006, p. 42).
ras entrevistas que concedeu, marcou sua posição Ao mesmo tempo em que enfatizou o caráter orde-
de distanciamento com relação ao interacionismo nado e recorrente das interações, sua análise eviden-
simbólico, à etnometodologia e ao construtivismo ciou a fragilidade, a precariedade e a instabilidade
social (Verhoeven, 1993, pp. 324, 327, 334-335; existentes nessas interações e o enorme potencial
Goffman, 1969, pp. 136-145). Explorando uma de ruptura que circunda e ameaça constantemente
perspectiva analítica próxima de Kenneth Burke, as relações interacionais (Kim, 2003, pp. 55-65;
incorporou também a contribuição de vários es- Colomy e Brown, 1984, p. 36).
critores, absorvendo de Marcel Proust sua aprimo- Ao longo de sua carreira, Goffman partiu do
rada técnica de observação e descrição do com- pressuposto de que a organização social e a estru-
portamento humano. Em sua passagem por Paris, tura social constituíam a essência da sociologia, che-
em 1951, tomou contato com a obra de Jean-Paul gando a afirmar que considerava a sociedade em
Sartre, no momento do apogeu do existencialismo, primeiro lugar e o indivíduo logo em seguida (Gof-
cuja reflexão sobre a dimensão da liberdade hu- fman, 1974, p. 13; Treviño, 2003, pp. 12-13). No
mana na vida social teve um impacto em sua obra. entanto, foi justamente sobre o processo de envol-
Diga-se de passagem, as citações de Sartre em seus vimento dos indivíduos uns com os outros que
trabalhos chegam a ser mais numerosas que as re- Goffman concentrou uma parte significativa de seu
ferências sociológicas tradicionais (Dean, 1983, pp. esforço intelectual. Nas sociedades modernas, em
1-32). Não apenas utilizou recorrentemente vários seu entendimento, existia uma crescente descone-
autores do campo literário como fonte de informa- xão entre a organização social no nível macro e a
ção, mas incorporou também uma sensibilidade li- micro-ordem interacional, situação essa que ele de-
terária, o que o levou a desenvolver um estilo de nominava loose coupling (Goffman, 1983, p. 11). Sua
escritura pouco convencional no interior da sociolo- obra, de certa forma, inverteu o prisma do para-
gia que contribuiu para que seus livros rompessem digma parsoniano a respeito da relação entre estru-
os limites da academia e fossem lidos por um am- tura social e ator ao acentuar o impacto da ordem
plo e diversificado público (Fine e Manning, 2003, interacional na dinâmica das estruturas sociais mais
p. 42; Collins, 1994, pp. 218-219; Burke, 1969). amplas. Para ele, os diferentes tipos de organizações
Tal como Parsons, Goffman estava preocu- sociais dependem do conjunto de pessoas que nelas
pado em analisar uma questão clássica nas ciências trabalham e que em situações concretas executam
sociais, qual seja, o problema hobbesiano da ordem suas tarefas. Em sua visão, a dinâmica interna das
social (Parsons, 1968, pp. 89-113, 346-389; Wrong, organizações sociais, tais como transmissão de in-
1994, pp. 158-171). Ao contrário de Parsons, que formações, coordenação de tarefas e tomadas de

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decisões, são vulneráveis ao funcionamento das re- Em seu discurso de posse na American Socio-
lações face a face. logical Association, salientou que o fato de os indi-
Tais relações que os indivíduos travam entre si víduos participarem no processo interacional in sito,
em situações sociais concretas constituem um domí- com seus próprios corpos, torna-os fisicamente
nio de investigação analiticamente distinguível – a vulneráveis, uma vez que podem se expor a possí-
ordem de interação –, que possui estruturas, proces- veis atos de seqüestro, roubo, molestações sexuais
sos e regularidades específicas, não podendo ser e, eventualmente, ter seus movimentos físicos obs-
reduzida a situações macrossociais e cujo método truídos. A sociologia de Goffman procurou acen-
adequado de investigação repousa na microanálise. tuar a existência de uma significativa carga emocio-
Tal como Blumer, Goffman assinalou a centralidade nal que perpassa o processo interacional, na medida
do processo interpretativo e do caráter contingente em que no seu desenrolar pode surgir, de forma
da ação social. No entanto, ao recuperar a contri- acidental, determinadas situações que criam senti-
buição de Willian Thomas sobre o impacto que a mentos de desconforto, ansiedade, medo, vergo-
definição da situação possui sobre o comportamento nha e humilhação para os atores envolvidos nesse
que os indivíduos desenvolvem entre si, Goffman processo. Entre esses sentimentos que podem emer-
enfatizou que as condições situacionais e institucio- gir durante o desenrolar da trama interacional,
nais afetam, informam e circunscrevem as ações Goffman privilegiou o de embaraço, que expressa
sociais no tempo e no espaço (Thomas, 1966, pp. uma sensação de desconforto experimentado even-
154-167; Colomy e Brown, 1984). Nesse sentido, tualmente nas relações interacionais. Em sua análi-
insistiu que a compreensão da trama interacional se, o sentimento de embaraço possui relevância
deve levar em consideração a existência de situações social, pois liga os nervos da organização social à
sociais específicas, nas quais os indivíduos se encon- conduta do dia-a-dia. A possibilidade latente de sua
tram fisicamente presentes, desenvolvem seus com- ocorrência suscita uma atitude de coação nos indi-
portamentos, interpretam e respondem às ações dos víduos em seus encontros sociais de modo a evitar
demais participantes envolvidos nesse processo, ou possíveis ações que possam ser consideradas proble-
seja, a ordem interacional não constitui uma pro- máticas e contribuir para desacreditá-los socialmen-
dução meramente local. Para ele, as situações sociais te. O sentimento de embaraço desempenha, portan-
específicas expressam uma realidade sui generis, cons- to, um papel importante no envolvimento dos atores
tituindo, portanto, a unidade básica da ordem da com valores e convenções existentes na organiza-
interação e o terreno social onde ela efetivamente ção social. Em sua visão, ele permite a recorrência
ocorre (Goffman, 1964, pp. 134; 1983, p. 2). Seria da vida cotidiana e o estabelecimento de nossas
oportuno assinalar que Goffman utilizou em seus transações com os seus participantes (Sheff, 2006,
trabalhos diferentes termos intercambiáveis para pp. 15-18; Heath, 1988, p. 137; Schudson, 1984).
referir-se ao indivíduo, tais como self, role, person, iden- Tal sentimento deriva de um descompasso
tity, sendo que às vezes todos esses termos apare- entre a projeção social realizada por um indivíduo
cem num mesmo livro, dando margens para am- e eventuais acontecimentos que podem emergir
bigüidades conceituais. No entanto, a respeito dessa durante o desenrolar de uma interação que a con-
questão, o conceito fundamental em Goffman é o tradiz. Quando alguém informa o que ele é social-
de self, que longe de constituir uma dimensão psico- mente, de certa forma exerce uma exigência moral
lógica localizada e fixada no interior do indivíduo, sobre os participantes da interação, uma vez que
é o resultado de um processo social. Dessa forma, espera que seja tratado de acordo com a categoria
o self não constituiu uma propriedade da pessoa, social à qual julga pertencer. Para Goffman, ao
mas reside no padrão de controle social que é exerci- mesmo tempo, os demais participantes estão cons-
do pela pessoa e por aqueles que a cercam. Sua aná- tantemente interpretando a conduta do ator que
lise trouxe, com isso, o self para o centro da ordem realiza uma determinada performance social, mesmo
interacional. Nas situações de encontros sociais, o que não tenham inteira consciência desse expedien-
que está em jogo não é a totalidade da pessoa hu- te. Simultaneamente, o indivíduo que está projetan-
mana, mas uma de suas dimensões, tal como o status do um self procura aceitar a definição e a representa-
social que é exercido naquele momento, enfim, um ção dos selfs projetados pelos outros. A questão
self específico (Goffman, 1956b: 58; 1961a: 142). crucial no surgimento do sentimento de embaraço

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encontra-se relacionada com a real ou imaginada na representação do outro, apresentar ainda um


presença dos outros e o decorrente desafio apresen- comportamento de grande ansiedade, ter um uma
tado aos atores em manter um razoável controle explosão de riso ou de raiva, incapacitando-o mo-
da situação na qual se encontram envolvidos (Gof- mentaneamente de dirigir de forma adequada sua
fman, 1956a, pp. 264-265). ação etc.
O processo interacional repousa num traba- Na medida em que determinados fatos per-
lho de produção de um consenso operacional cons- turbadores ocorrem no transcorrer de um processo
truído conjuntamente pelos participantes nele en- interacional, interrompendo seu desenrolar, cria-se
volvidos – por meio de sensibilidade diplomática, um sentimento de embaraço entre seus participan-
tato humano e savoir-faire –, no qual tendem a apoiar tes. Para Goffman, um indivíduo reconhece tal sen-
valores aos quais todos os presentes prestam falsa timento nos outros e em si mesmo quando surgem
homenagem e evitar determinados assuntos que sinais objetivos de distúrbios corporais e emocio-
poderiam comprometer o modus vivendi que está nais, como a presença de sinais avermelhados no
sendo construído. Na medida em que a sustentação rosto, transpiração em excesso, perda do domínio
da definição da situação deriva de um empreendi- da comunicação verbal, evidente tremor nas mãos,
mento coletivo, a unidade apropriada de análise não dificuldade no manejo do olhar, exibição de um
repousa no indivíduo isolado e seu aparato psico- sorriso fixo, articulação incoerente das idéias etc.
lógico, mas nas relações construídas entre as diferen- Nessa circunstância, seus participantes descobrem
tes pessoas que se encontram presentes. Nessa pers- que o acordo tácito, celebrado explícita ou implici-
pectiva, Goffman reivindica uma sociologia das tamente que vinha sustentando e orientando suas
ocasiões, capaz de analisar o empreendimento in- condutas no interior de uma definição da situação
teracional, uma vez que seu trabalho busca analisar estava equivocado. Nesse momento, o minúsculo
não o homem em seus momentos, mas os mo- sistema da interação entra em colapso, gerando uma
mentos e seus homens (Goffman, 1967, pp. 2-3). situação de anomia e um sentimento de constran-
O momento de crise na ordem da interação – gimento para o indivíduo cuja representação foi
que abre espaço para a emergência do sentimento desacreditada. Ao mesmo tempo, a ruptura intera-
de embaraço – surge quando um determinado even- cional possibilita também o surgimento de senti-
to contribui para colocar em dúvida a reivindicação mentos como desnorteamento, hostilidade e ver-
que o indivíduo elaborou sobre uma dimensão do gonha, e uma sensação de confusão entre os demais
seu self, minando os pressupostos que sustentavam participantes. Goffman ressalta, ainda, que nesse
uma determinada situação e abrindo caminho para processo de desmoronamento do little social system
um possível sentimento de descrédito social. Mes- o sentimento de embaraço contamina, contagia e
mo em interações que se desenrolam de forma ra- infringe um sofrimento social a todos os partici-
zoavelmente equilibrada e pacífica podem ocorrer pantes, sendo que o indivíduo que eventualmente
pequenos eventos involuntários, como um faux pas, contribuiu para desacreditar um outro se sente tam-
uma gaffe, que podem solapar a impressão que al- bém envergonhado e culpado, pois, ao destruir a
guém procurava transmitir. Em nenhum momen- imagem do outro, ele destrói sua própria imagem
to o ator possui completo domínio do fluxo de como ator capaz de se comportar de forma hábil
acontecimentos que podem ocorrer durante uma e diplomática em situações interacionais delicadas.
situação específica, bem como não detém controle A possibilidade da ocorrência do sentimento
absoluto sobre as possíveis informações que os de embaraço alimenta um dos dramas centrais da
demais participantes eventualmente armazenaram vida social, uma vez que engendra nos atores a ne-
sobre sua pessoa e que porventura podem utilizar cessidade de desenvolver um contínuo comporta-
numa circunstância específica. Durante o processo mento de performance ao longo de suas vidas. Mais
interacional, o indivíduo, ao perder momentanea- do que uma metáfora para explicar a vida social, a
mente seu controle muscular, pode gaguejar, arro- dramaturgia associada ao desempenho de papéis
tar, ter uma flatulência, bocejar, escorregar, trope- in sito constitui um elemento central da atividade
çar etc. Ao apresentar dificuldades em manejar seu humana, moldando a vida cotidiana dos atores.
comportamento emocional, pode expressar preo- Como argutamente observou Michael Schudson,
cupação excessiva ou demonstrar pouco interesse a sociologia de Goffman, ao assumir o pressuposto

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de que o sentimento de embaraço possui uma pro- sobre o que se pode fazer ao eu” –, ao exercerem
funda significância moral, descreveu o ator social controle estrito sobre o self, o expõem a seguidos
mais voltado em evitar e minimizar possíveis riscos atos de humilhações e mortificações, ameaçando a
durante o processo interacional – desenvolvendo perda da identidade do indivíduo e conduzindo-o
estratégias de autopromoção e autodefesa – do que a uma desfiguração social (Goffman, 1961a, pp.
em maximizar ganhos sociais. Na medida em que uma 29-36; Becker, 2007, pp. 223-237). Em Stigma, o
simples nota fora de compasso pode comprome- universo de análise afasta-se da descrição do interior
ter uma performance social em sua totalidade, homens das instituições totais e retorna seu foco para a vida
e mulheres, de forma consciente e/ou inconscien- cotidiana, salientando como o self pode ser comple-
te, conduzem suas vidas procurando a todo custo tamente desacreditado e ameaçado de ser destruído.
evitar situações de embaraço que podem corroer Sua análise incide sobre a enorme tensão existente
as imagens projetadas de si mesmos e, eventual- entre os indivíduos estigmatizados física e/ou social-
mente, conduzi-los à ruína e ao descrédito social mente, ou seja, que possuem atributos socialmente
(Shudson, 1984, p. 634; Treviño, 2003, p. 14). depreciativos, e os outros que não possuem essas
Ao proclamar que o homem na qualidade de características. O livro inicia com uma passagem
objeto sagrado pode ser exposto a situações de pro- do romance de Natanael West, Miss Lonelyhearts, na
fanação, Goffman tornou-se um etnógrafo do self qual uma jovem de 16 anos narra seu infortúnio de
e erigiu como uma das marcas distintivas de sua não possuir um nariz, o que assusta as pessoas, afas-
sociologia uma apaixonada defesa contra as forças ta-a dos garotos e faz sua mãe chorar intensamente
sociais ou as circunstâncias que contribuem para quando olha para ela. A escolha desse romance,
desacreditar ou oprimir alguém, sejam provenien- escrito em 1933, não poderia ser mais apropriada
tes de homens comuns ou de representantes oficiais ao tema tratado por Goffman, uma vez que West
de instituições (Goffman, 1967, p. 31). Em The pre- retrata um mundo urbano corroído pela depressão
sentation of self in everyday life, o autor enfoca o pro- de 1930, povoado por pessoas defeituosas fisica-
blema da sustentação do self em instituições profis- mente, por indivíduos traídos sentimentalmente,
sionais, domésticas, comerciais, industriais, ou seja, impotentes sexualmente e derrotados socialmente,
em estabelecimentos típicos da vida cotidiana. que escrevem cartas narrando seus infortúnios e
Embora sempre exista o risco potencial da quebra profunda dor a um jornalista responsável pela ses-
da definição da situação que pode conduzir ao des- são de auto-ajuda de um jornal nova-iorquino, so-
crédito social, nessas instituições os atores estão ra- licitando conselhos para reparar a deterioração de
zoavelmente equipados socialmente para preservar suas identidades e atenuar seus sofrimentos.
o self projetado e inclinados a desenvolver um tra- Em sua perspectiva, as relações face a face
balho de cooperação no sentido de protegê-los. não deveriam ser vistas apenas em termos de cons-
Nessas circunstâncias, a possibilidade de uma ruína trangimento, riscos e ameaças, uma vez que existe
pessoal é mais literal do que real, e o preço a ser nas sociedades uma dualidade fundamental de com-
pago é o sentimento de embaraço, que pode ser portamentos com relação aos atores, abrangendo
eventualmente contornado por um conjunto de situações em que tanto podem ser tratados de for-
maneiras sociais desenvolvidas por atores que bus- ma ofensiva como ser objetos de cortesia e respei-
cam preservar a definição da situação. to. Numa perspectiva próxima de Durkheim, Gof-
No entanto, existem outras condições sociais fman assinalou que a ordem social se baseia em
nas quais o self pode ser profundamente desafiado, obrigações morais, em rituais de respeito e defe-
atacado e desacreditado. Diante dessas situações, a rência com relação ao caráter sagrado do self. Nes-
obra de Goffman – sem utilizar juízos de valor – sa direção, o autor confere um papel central nos
assume implicitamente uma eloqüente e apaixonada gestos amistosos e nas pequenas bondades cotidia-
defesa da dignidade do self e põe em relevo as di- nas que os atores desenvolvem entre si como me-
versas estratégias que visam à sua preservação. Em canismos de preservação da ordem interacional. A
Asylum, escrito numa linguagem fria, porém contun- violação do território do self significa o solapamento
dente, há uma descrição detalhada de como as ins- de possíveis laços de generosidade que os atores
tituições totais – caracterizadas por ele como “es- podem desenvolver entre si (Goffman, 1963, p. 8;
tufas para mudar pessoas, um experimento natural 1956b, pp. 485-487; 1971, pp. x-xi; Gouldner, 1970,

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pp. 379-381; Rawls, 1987, p. 144). De maneira pers- pertar e o prazer da leitura de seus escritos, elabo-
picaz, seus trabalhos, direta ou indiretamente, esta- rados numa linguagem satírica, sarcástica, humora-
vam atentos ao que posteriormente no debate so- da, desconcertante, continuarão fertilizando a pes-
ciológico passou a ser referido como as mediações quisa das novas gerações de cientistas sociais.
entre estrutura e ator. Ao mesmo tempo, é possível
identificar em suas análises que os indivíduos, em
larga medida, são controlados, determinados por BIBLIOGRAFIA
forças sociais, tais como instituições, papéis sociais,
contextos situacionais etc. Por outro lado, Goffman BECKER, Howard. (2007), Telling about society.
evidencia como os indivíduos procuram afirmar e Chicago, The University of Chicago Press.
preservar sua autonomia e dignidade pessoal diante BLUMER, Herbert. (1986), Symbolic interacionism:
do poder de forças estruturais mediante uma varie- perspective and method. Los Angeles, University
dade de pequenas estratégias de resistência, como of California Press.
as de secundary adjustment, role distance, managing spoiled BURKE, Kenneth. (1969), A grammar of motives. Los
adjustments etc., mesmo que não consigam obter um Angeles, University of California Press.
autodomínio absoluto de seus atos. Dessa forma, CALHOUM, Craig & VAN ANTWERPEN, Jo-
a presença das circunstâncias institucionais e estru- nathan (2007), “Ortodoxy, heterodoxy and
turais no desenvolvimento da ação social não eli- hierarchy: ‘mainstream’ sociology and its chal-
mina o papel ativo que os indivíduos exercem no lengers”, in Craig Calhoum (org.), Sociology in
interior da vida social (Goffman, 1961a, pp. 54-63; American: a history, Chicago, The University of
1961b, pp. 105-115; Freidson, 1983, pp. 359-361; Chicago Press.
Treviño, 2003, pp. 203-214). CAMIC, Charles. (1996), “Three departments in
As obras de Erving Goffman e de seus cole- search of a discipline: localism and interdisci-
gas de geração que passaram pelo Departamento plinary interaction in American Sociology,
de Sociologia da Universidade de Chicago tiveram 1890-1940”. Social Research, 62 (4).
um forte impacto nas ciências sociais contemporâ- COLLINS, Randall. (1994), Four sociological traditions.
neas, introduzindo no seu interior novos temas de Nova York, Oxford University Press.
investigação e uma particular sensibilidade analítica COLLOMY, Paul & BROWN, David. (1984),
em seu tratamento, o que contribuiu decisivamente “Elaboration, revision, polemic and progress
para a renovação da agenda de pesquisa. Goffman in the Second Chicago School”, in Gary Fine
integrou forma criativa as contribuições da socio- (org.), A Second Chicago School? The development
logia, da antropologia, da sociolingüística, da eto- of a postwar American sociology, Chicago, The
logia etc., o que lhe permitiu edificar uma obra que University of Chicago Press.
ultrapassou, de forma deliberada, os limites con- DEAN, MacCannell. (1983), “Erving Goffman
vencionais que demarcavam os territórios das dis- (1922-1982)”. Semiotica, 45 (1/2).
ciplinas acadêmicas. Diversos autores contempo- FINE, Gary & MANNING, Philip. (2003), “Er-
râneos que ocupam uma posição destacada nesse ving Goffman”, in George Ritzer (org.), The
campo disciplinar, como Bourdieu, Giddens, Ha- Blackwell Companion to major comtemporary social
bermas, Randall Collins, Jeffrey Alexander, man- theorists, Oxford, Blackwell Publishing.
têm-se muito interessados nos escritos de Goffman, FINE, Gary Alan; MANNING, Philip & SMITH,
procurando direta ou indiretamente estabelecer um Gregory. (2000), Erving Goffman. Londres,
diálogo constante com as perspectivas inovadoras Sage, 4 vols.
a respeito das microinterações, no sentido de obter FISHER, Berenice & STRAUSS, Anselm. (1978),
uma compreensão mais clara das complexas rela- “Interactionism”, in Tom Bottomore e Ro-
ções existentes entre as estruturas institucionais e a bert Nisbet (orgs.), A history of sociological analy-
dimensão da agência dos atores sociais. Passados sis, Nova York, Basic Books.
25 anos de sua morte, os trabalhos de Goffman FREIDSON, Eliot. (1983), “Celebrating Goffman”.
continuam sendo lidos e possui uma presença des- Contemporary Sociology, 12 (4).
tacada no interior das ciências sociais. Certamente, GALLIHER, John. (1995), “Chicago two worlds
o estímulo intelectual que sua obra é capaz de des- of deviance research: who’s side are they on?”,

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144 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 23 No. 68

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RESUMOS / ABSTRACTS / RESUMÉS 197

NOTAS SOBRE O SENTIMENTO NOTES ON THE FEELING NOTES À PROPOS


DE EMBARAÇO OF EMBARRASSMENT DU SENTIMENT D’EMBARRAS
EM ERVING GOFFMAN IN ERVING GOFFMAN DANS ERVING GOFFMAN

Carlos Benedito Martins Carlos Benedito Martins Mots-clés: Ordre social; Ordre interna-
tional; Projection sociale du self; Senti-
Palavras-chave: Ordem social; Ordem Keywords: Social order; International ment d’embarras.
interacional; Projeção social do self; Sen- order; Social projection of the self; Fee-
timento de embaraço. ling of embarrassment. L’objectif de ce texte est de présenter,
de façon résumée, la relation postulée
O objetivo do presente texto é apresentar The objective of this paper is to briefly par Goffman entre l’ordre de l’interaction
de forma abreviada a relação postulada present the relation postulated by Gof- et le sentiment d’embarras. Nous avons
por Goffman entre a ordem de interação fman between the order of interaction également cherché, de façon schémati-
e o sentimento de embaraço. Procura- and the feeling of embarrassment. We que, de souligner certaines influences in-
mos também, de maneira esquemática, have also schematically sought to empha- tellectuelles qui ont marqué l’élaboration
salientar determinadas influências inte- size certain intellectual influences that de son œuvre. Ainsi, nous rappelons son
lectuais que marcaram a elaboração de have marked the making of his work. That passage par le Département de Sociolo-
sua obra. Nesse sentido, destacamos sua way, we highlight his passing through the gie de Chicago et son rapport complexe
passagem pelo Departamento de Socio- Sociology Department of Chicago and avec la posture analytique interactive.
logia de Chicago e sua complexa relação his complex relation with the interactio-
com a postura analítica interacionista. nist analytical posture.

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