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Anais do

IV Seminário Internacional de Integração Étnico-Racial e as Metas do Milênio

DISCUTINDO HISTORIOGRAFICAMENTE A
ESCRAVIDÃO

Discussing historiograficamente slaviery

Ronaldo di Roná1
1. Mestre em Geografia – Universidade de São Paulo

Anais do IV Seminário Internacional de Integração Étnico -Racial www.eniac.com.br


E as Metas do Milênio , 2016, Vol. 3, Nº 1, 132-149 ojs.eniac.com.br
_____________________

INTRODUÇÃO
RESUMO
O objetivo da pesquisa é discutir que a
A escravidão esteve presente em quase todas as escravidão se apresenta, contemporaneamente,
sociedades históricas. Ela foi objeto de interesse eivada de inverdades que são apresentadas
de textos legais (Código de Hamurabi e Lei das como verdades dogmáticas. Algumas são mais
Doze Tábuas), religiosos (Bíblia e Alcorão) e antigas, outras, as mais numerosas, são bem
filosóficos (Aristóteles). Em Roma, o escravo recentes. Pretende-se discutir aqui algumas
foi transformado em mercadoria, passível de dessas concepções.
comprar e venda no mercado. Contudo, foi na A metodologia utilizada contou com
Idade Moderna que a escravidão gerou um pesquisas bibliográficas e eletrônicas para
negócio muito lucrativo: o tráfico negreiro. A observar a definição e o papel do escravo na
extinção da escravidão não seguiu uma norma e, sociedade.
de modo geral, correspondeu à perda de A hipótese é que se as pessoas
lucratividade da instituição. conhecerem a história e o papel escravo na
sociedade repensaria o racismo e o preconceito
Palavras-Chave: Escravo. Legislação. que persiste na atualidade.
Hamurabi. Aristóteles. Tráfico negreiro. Os referenciais teóricos abordados são
os compositores desta pesquisa em seu

ABSTRACT desenvolvimento, como Pirene (1968) que fala


das escravas eslavas.

Slavery Was Almost All Present in as Historical


Os venezianos exportavam para os
Societies. It was object of interest of Legal haréns da Síria e do Egito, jovens
Texts (Code of Hammurabi and the Twelve eslavas que iam raptar ou comprar
na costa dálmata, e esse comércio de
Tables Law), Religious (Bible and Qur’an) and “escravas” contribuiu,
Philosophical (Aristotle). In Rome, the slave provavelmente, para a sua incipiente
prosperidade, do mesmo modo que o
was transformed into merchandise, subject to tráfico de negros, no século XVIII,
purchase and sale in the market. However, it concorreu para a de numerosos
armadores da França e da Inglaterra
was in the Modern Age Slavery That generated (PIRENE,1968:23).
hum business very profitable: the slave trade.
The extinction of slavery did not follow a A escravidão é anterior ao próprio

standard and generally corresponded to the descobrimento do Brasil e não envolvia

institution's profitability loss. necessariamente a África e seus povos como se


tem ouvido comumente em discursos

Key-words: Slave. Law. Hummurabi. claramente políticos, desprovidos de base

Aristoteles. Slave trade. acadêmica. E um destaque importante: é neste


período medieval que se definiu a palavra que
viria a ser utilizada para designar os
trabalhadores forçados.

133 RONÁ, R.: Discutindo historiográficamente a escravidão.


Do século X ao século XIII, a 1. MESOPOTÂMIA AMORRITA1
expansão de genoveses e venezianos
na Palestina, Síria, Mar Negro e
Bálcãs, com possessões nas ilhas A não ser na parte dos pântanos e
mediterrâneas orientais de Creta e brejos, com sua vegetação de
Chipre, deu novo impulso à caniços, onde o Tigre e o Eufrates
escravidão. Desenvolveu-se, neste deságuam no golfo Pérsico, a
período, um animado mercado de Mesopotâmia – a “Terra Entre os
povos eslavos, o que deu origem ao Rios” dos antigos historiadores
termo “slave” (escravo) para definir gregos e que corresponde, mais ou
seu status. (KLEIN, 1987:18) menos ao Iraque de hoje – consiste
em sua maior parte numa desolada
Já sabemos agora a origem do termo; planície de aluvião. O clima, de um
modo geral, é quente e seco. Não há
impõe-se, neste momento, a pergunta: quando minérios e quase não há pedra ou
se iniciou a escravidão? madeira para construção; o solo, se
não recebe cuidados, é árido,
improdutivo (KRAMER, 1969:11).
A escravidão era conhecida, na
maioria das culturas e regiões do Nessa terra tão dramaticamente
mundo, desde as origens de apresentada pelo professor Kramer,
sociedades complexas |...| Poucos
povos escaparam à escravidão, e desenvolveram-se várias civilizações em mais
quase todas as sociedades trataram de dois mil anos de história; interessa-nos a
seus escravos como indivíduos
marginais, sem raízes e a-históricos. desenvolvida pelos amoreus – um povo semítico
(KLEIN, 1987:11) – na cidade de Babilônia2, situada no baixo
Eufrates. O apogeu da primeira dinastia da
Pela falta de importância social e
cidade se deu com o seu sexto rei, o famoso
política imposta aos cativos, a escravidão não
Hamurabi (cerca de 1700 a.C.). “Durante seu
gerou uma grande cultura material que pudesse
longo reinado de mais de quarenta anos o
permitir aos arqueólogos afirmarem que foi
beduíno amorrita realizou uma obra política e
praticada na nossa pré-história. Por outro lado,
social incomparável |...| Hamurabi construiu um
nem todos os povos estudados pelos
grande império |...| A vida social, econômica e
antropólogos, desde o século XIX (e, então,
política ficou completamente regulada pela
classificados como primitivos), apresentavam
legislação de Hamurabi”. (GIORDANI,
algum tipo de exploração do homem pelo
1969:143).
homem que pudesse ser classificado como
escravidão.
Portanto, frente a essa dificuldade
provocada pela falta de fontes, devemos nos
restringir à análise decorrente dos documentos
escritos que sobreviveram, ou seja, nas
sociedades classificadas como históricas e que
praticaram a escravidão como nós a encaramos.

1
Nos textos consultados ora aparece amorrita, ora amorita
ou amoreus. Todas as formas são toleradas pela
historiografia contemporânea.

2
Bâb-Ilu em acádio, isto é, Porta de Deus.

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1.1.A escravidão e o Código de deveria receber dez siclos3, se fosse um liberto,

Hamurabi cinco siclos e se fosse um escravo, dois siclos.


Nota-se claramente que o escravo não era

As leis que compõem o Código de considerado como um igual e sim como um ser

Hamurabi foram, inferior.


Por outro lado, em mais de um artigo,

gravadas cuidadosamente em uma encontramos a previsão legal para que um


estela cônica de dura pedra negra, senhor tivesse filhos com uma escrava (não há
medindo cerca de 2m25 de altura e
quase 2 metros de circunferência na nenhuma menção ao contrário, ou seja, a
base. No cimo da estela, na frente, possibilidade de uma mulher livre ter filhos com
vemos, em relevo, o soberano, de pé,
recebendo de Shamash, deus do sol e um escravo4).
da justiça, as leis que se encontram
gravadas logo abaixo. O monumento 145º Se alguém toma uma mulher e
foi encontrado por J. Morgan essa não lhe dá filhos e ele pensa em
durante as escavações realizadas no tomar uma concubina5, se ele toma
início do século (1901-1902), nas uma concubina e a leva para sua
ruínas de Susa. (GIORDANI, casa, esta concubina não deverá ser
1969:155). igual à esposa.
146º Se alguém toma uma esposa e
essa esposa dá ao marido uma serva6
São 282 artigos redigidos em acadiano
por mulher e essa lhe dá filhos, mas
que, como lembra o professor Giordani (p.155), depois, essa serva rivaliza com a sua
esposa, porque ela produziu filhos,
era a língua oficial que se sobrepôs aos demais
não deverá sua senhora vendê-la por
dialetos mesopotâmicos. A palavra dinheiro, ela deverá reduzi-la à
escravidão e enumerá-la entre as
correspondente a escravo (ou escrava) aparece
servas.
quarenta e sete vezes em vinte e cinco artigos. 147º Se ela não produziu filhos, sua
senhora poderá vendê-la por
Notamos, portanto, que a escravidão não é a
dinheiro7.
preocupação central do Código, que abrange
áreas jurídicas como o direito penal, o cível e o
econômico, com destaque à legislação de
proteção ao consumidor e da trabalhista. 3
Peso ou moeda usados no Oriente antigo,
Após analisar o Código, pode-se equivalente a cerca de 6 a 12g.
4
constatar que o escravo não é definido em No artigo 129 temos o seguinte: “Se a esposa
de alguém é encontrada em contato sexual com
nenhum dos artigos: ele apenas existe na
um outro, se deverá amarrá-los e lançá-los
sociedade babilônica e como tal é tratado no n’água, salvo se o marido perdoar à sua mulher
texto. O escravo também não recebe, neste e o rei a seu escravo”. Nota-se que o adultério
documento legal, nenhuma determinação quanto feminino é penalizado, o mesmo não acontece
com o masculino.
ao amparo da sua vida, ou do seu bem-estar 5
Não fica claro se é uma escrava ou uma
físico. O escravo é um bem que pertence a mulher livre, mas de categoria social inferior.
6
alguém e não deve ser subtraído em hipótese Não fica claro também se uma serva é igual a
nenhuma (isto configuraria um crime). Nos uma escrava. Historiograficamente não são
sinônimos: escravo é uma propriedade móvel
artigos 215, 216 e 217, podemos ter uma ideia
enquanto servo é um homem livre, porém, preso
do valor do escravo na sociedade babilônica: à terra (que é dominada, por sua vez, por um
quando um médico curava uma pessoa livre ele senhor).
7
Disponível em http://www.dhnet.org.br/,
acesso em 2.5.2016.

135 RONÁ, R.: Discutindo historiográficamente a escravidão.


Pela leitura desses artigos, podemos 2. CANAÃ BÍBLICA
deduzir que a grande preocupação dessa
sociedade é a produção de descendentes, não Entre os hebreus estabelecidos em
importando se eram gerados por uma esposa Canaã, também vamos encontrar situações
legítima ou por uma concubina (ou escrava). No análogas as encontradas em artigos já aqui
presente momento, devemos destacar que temos citados do Código de Hamurabi. Para avançar
a proibição legal da venda da escrava que gerou em nossa análise, recorreremos ao capítulo
um filho para o senhor: esse cuidado não Gênesis, parte inicial da Bíblia:
aparece em outras legislações ou práticas
cotidianas, desta época ou posteriores. 16.1. Ora Sarai, mulher de Abrão,
Por fim, em três artigos temos uma pequena não lhe gerava filhos, e ela tinha uma
serva egípcia, cujo nome era Agar.
pista da origem dos escravos. 16.2. E disse Sarai a Abrão: Eis que
o Senhor me tem impedido de gerar:
54º Se ele |um cultivador livre| não entra pois à minha serva; porventura
pode ressarcir o trigo |que se perdeu terei filhos dela. E ouviu Abrão a voz
por sua incúria|, deverá ser vendido de Sarai.
por dinheiro juntamente com os seus 16.3. Assim tomou Sarai, mulher de
bens e os agricultores de quem o Abrão, a Agar egípcia, sua serva, e
trigo foi destruído, dividirão entre si. deu-a por mulher a Abrão seu
280º Se alguém em país estrangeiro marido, ao fim de dez anos que
compra um escravo ou uma escrava, Abrão habitara na terra de Canaã.
se volta à terra e o proprietário (BÍBLIA, 1957:15)
reconhece o seu escravo ou a sua
escrava, se o escravo ou escrava, são Vemos aqui novamente a possibilidade
naturais do país, ele deverá restituí-
los sem indenização de um senhor gerar filhos em uma escrava (que
281º Se são nascidos em outro país, o é uma estrangeira). Em nenhuma passagem
comprador deverá declarar perante
Deus o preço que ele pagou e o encontramos o momento em que temos a
proprietário deverá dar ao declaração da aceitação por parte de Agar, afinal
negociante o dinheiro pago e receber
o escravo ou a escrava8. ela era egípcia, portanto, diferente dos seus
senhores. A ela é determinado que tenha um
Portanto, os escravos poderiam ser intercurso sexual com o seu amo e ela deve
camponeses livres que por dívidas são vendidos obedecer sem pestanejar. Posteriormente Sara
para pagá-las ou, então, eram estrangeiros (anteriormente chamada de Sarai) concebe um
capturados em combate ou adquiridos no filho legítimo do marido e então ela
mercado. Não temos, no Código, nenhuma outra
referência quanto ao assunto. 21.10. disse a Abraão |que também
Por fim, a legislação determinada por teve o seu nome alterado: Deita fora
esta serva e o seu filho; porque o
Hamurabi ultrapassou o seu tempo e o seu povo: filho desta serva não herdará com
muitos dos princípios expostos no Código vão meu filho, com Isaque.
21.14. Então se levantou Abraão pela
estar presentes nas futuras legislações manhã de madrugada, e tomou pão, e
mesopotâmicas e no restante do Oriente um odre d’água, e os deu a Agar,
pondo-os sobre o seu ombro; também
Próximo. lhe deu o menino, e despediu-a; e ela
foi-se, andando errante no deserto de
Berseba. (BÍBLIA, 1957:20)

8
Idem.

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Como Agar era uma escrava, portanto, livres, tivemos na polis o surgimento da
não era uma pessoa, ela pôde ser usada escravidão associada a um sistema de produção
sexualmente e, depois, quando não era mais verdadeiramente industrial.
necessária, ser descartada. Por pouco, ela e o
filho não encontraram a morte no deserto para Com grandes oficinas artesanais
usando trabalho escravo e
onde tinham sido banidas pelos seus senhores.
produzindo bens para um mercado
Mas os seus proprietários mal-agradecidos nada internacional, a economia grega
clássica dos séculos VI e V a.C. se
fizeram para impedir a quase morte de ambos.
distinguiu pela utilização de trabalho
Ora, vemos comumente grandes escravo – no que historiadores iriam
posteriormente definir como um
críticos contemporâneos gritar contra a
desenvolvimento original da
escravidão no Brasil colônia, acusando os instituição (KLEIN, 1987:13).
senhores-de-engenho de serem devassos por
A Grécia antiga representou, então, um
terem filhos com as escravas (africanas ou
marco na evolução do sistema de produção
indígenas). Devemos lembrar que eles tinham
baseado na escravidão. Como o escravo passou
um forte argumento ideológico para justificar o
a ser um elemento importante dessa sociedade,
seu ato: Abraão já o tinha feito e nem por isso
era necessária uma explicação – preocupação
fora condenado pelo mesmo Deus em que
que não encontramos antes nos textos asiáticos
acreditavam.
– para a origem daquela situação
socioeconômica. É óbvio que muitos helênicos
3. GRÉCIA CLÁSSICA
acreditavam que eram senhores de seus escravos
por tê-los adquirido no mercado ou na guerra.
Mas deixemos o Oriente Próximo e nos
Contudo, ouviam-se vozes que contestavam
encaminhemos para o Ocidente. Nossa primeira
essa explicação simplista, advogando que todos
parada será a Grécia, que na verdade nunca
os escravos o eram apenas devido a uma
existiu na Antiguidade.
situação legal e não natural.
Esta discussão talvez não tenha
Fala-se, amiúde, de civilização
grega, de história da Grécia. Na ocorrido no mundo oriental por não se ter
verdade, os gregos possuíam o valorizado o uso da razão individual entre
sentimento de pertencer à mesma
comunidade, e esse sentimento devia aqueles povos, porém, entre os gregos ocorreu
se firmar, de modo especial, durante de maneira diversa. Das muitas contribuições
as lutas que os opunham aos
bárbaros. Falavam a mesma língua, deixadas pelos gregos antigos à nossa
adoravam os mesmos deuses, contemporaneidade temos a filosofia que
compraziam-se com os mesmos
exercícios físicos e espirituais.
Todavia, cada cidade constituía um pode-se remontar |...|, assim como a
Estado autônomo, e havia grandes
diferenças entre elas. (MOSSÉ, entendemos no Ocidente, aos
1979:11). pitagóricos, pois razões bastantes e
justas têm estes em considerar
Nesta Grécia, desprovida de unidade
Pitágoras como o fundador daquela,
política, tivemos a criação de mais um degrau
e não apenas quem lhe deu nome, ao
na escada da escravidão. Apesar da economia
chamar-se humildemente de filósofo,
helênica basear-se no trabalho dos camponeses
palavra proveniente do grego philoô

137 RONÁ, R.: Discutindo historiográficamente a escravidão.


que significa amar e sophia, que Aristóteles nasceu em Estagira, colônia
significa saber, intitulando-se um ateniense situada na Calcídica, região
amante do saber (SANTOS, 1964:13). dependente da Macedônia. Por volta dos 18
anos, chegou a Atenas e ingressou na Academia
Esta posição defendida por Santos é platônica. Em 343 a.C., tornou-se preceptor de
contestada por outros autores, que afirmam que Alexandre, filho e herdeiro do rei Felipe da
a filosofia nasceu no Oriente Próximo, tanto Macedônia. Em 335 a.C., após a elevação de
entre os egípcios quanto nos persas. Porém, a Alexandre ao trono macedônico, Aristóteles
questão continua em aberto, derivando a opinião retorna a Atenas e funda o Liceu, onde produziu
de cada autor mais da sua visão ideológica do a maior parte da sua obra. Após a morte de
que de provas contundentes. Alexandre (323 a.C.), Aristóteles passou a ser
Na filosofia grega, tivemos duas hostilizado pelos antimacedônios e se exilou na
correntes (ou escolas): uma primeira que se ilha da Eubéia, onde morreu em 322 a.C.
preocupava com a cosmologia e uma segunda, Notamos, a partir desse pequeno
que ocupava mais do homem, e por isso recorte biográfico, que Aristóteles foi
chamada de antropológica por Santos (p.127). contemporâneo do fim da independência da
Nesta segunda vertente, temos Sócrates, Platão Grécia das polis, pois ela caiu, nessa época, sob
e Aristóteles. o domínio macedônio e, posteriormente, sob o
Quanto à obra que Aristóteles legou à romano, perdendo a sua autonomia política. Por
posteridade, temos um problema muito comum estar ele nesse contexto histórico, é que
encontrado na produção intelectual da devemos destacar um fato interessante: ele não
Antiguidade. viu com bons olhos a política de fusão cultural
promovida por seu pupilo, pois acreditava que
a partir de declarações do próprio os helenos e os bárbaros “eram naturezas
Aristóteles, sabe-se que ele realizou
distintas, com distintas potencialidades, e não
dois tipos de composições: as
endereçadas ao grande público, deveriam coexistir sob o mesmo regime
redigidas em forma mais dialética do
político” (CIVITA, 1972:68). Tinha, portanto,
que demonstrativa, e os escritos ditos
filosóficos ou científicos, que eram um posicionamento anacrônico.
lições destinadas aos alunos do
É a partir deste ponto de vista que
Liceu. Estas últimas foram as únicas
que se conservaram, embora devemos entender a posição aristotélica sobre a
constituam pequena parcela do total
escravidão, nosso centro de interesse neste
que é atribuído, desde a Antiguidade,
a Aristóteles (CIVITA, 1972:68). momento.

É inegável que a falta de documentos


Nesse sentido, mantendo um espírito
originais muitas vezes compromete o conservador, Aristóteles justifica e
defende, por exemplo, a escravidão.
entendimento do pensamento de um autor.
Do mesmo modo que o universo
Contudo, nada podemos fazer a não ser físico estaria constituído por uma
hierarquia inalterável, segundo a
continuar pesquisando (arqueologicamente
qual cada ser ocupa, definitivamente,
falando) para mantermos a esperança de que um um lugar que lhe seria destinado pela
natureza (e do qual ele só se afasta
dia encontraremos novos originais.
provisoriamente através de
movimentos violentos), assim também
o escravo teria seu lugar natural na

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condição de “ferramenta animada”. significa que não se trata de possuir
Aristóteles chega mesmo a afirmar mais ou menos inteligência ou razão,
que o escravo é escravo porque tem mas de dois tipos totalmente
alma de escravo, é essencialmente diferentes de razão, porque o escravo
escravo, sendo destituído por é desprovido da parte mais nobre da
completo de alma noética, a parte da alma, ou seja a parte deliberativa
alma capaz de fazer ciência e (TOSI, 2003:90).
filosofia, e que desvenda o sentido e a
finalidade última das coisas (CIVITA,
1972:83-84).
Como vimos anteriormente, Aristóteles
Como essas ideias de Aristóteles serão não acreditava que os bárbaros pudessem ser
muito importantes para a compreensão da senhores como os helenos, pois não sabiam se
escravidão moderna, principalmente a praticada governar por si mesmos (temos aqui uma crítica
nas Américas, recomenda-se a leitura do aos reis orientais, modelo assumido por
brilhante artigo publicado por Giuseppe Tosi, Alexandre, a quem ele não critica).
professor do Departamento de Filosofia da Curiosamente, o futuro iria colocar em xeque
Universidade Federal da Paraíba, no Boletim do essa certeza, pois, para os gregos da época
CPA, publicado pela Unicamp. helenística, os romanos eram bárbaros, porém,
Tosi afirma que Aristóteles não em meados do século II a.C., uma a uma as
escreveu um tratado sobre a escravidão, mas poleis caíram sob domínio de Roma que passou
ocupou-se do tema principalmente no Livro I da a considerar os helenos como bárbaros.
Política. O Estagirita demonstra, desde a
primeira página, que a sua principal 4. DIREITO ROMANO
preocupação é com a multiplicidade dos tipos de
governo e a sua justificação. Dessa forma, a A civilização romana legou a nós,
escravidão aparece lateralmente a esse objetivo brasileiros, as bases do nosso idioma. Contudo
central. não foi só, e mesmo os povos que não se
O professor Tosi destaca a certeza expressam em língua neolatina seguem os
aristotélica de que o escravo é um homem, preceitos jurídicos criados pela cidade das sete
porém, pertencente a outro homem, portanto, colinas: “chama-se Direito romano o conjunto
para Aristóteles, o escravo é, ao mesmo tempo, de normas jurídicas que regeram o povo romano
uma propriedade e um instrumento “animado” nas várias épocas da sua História, desde as
(TOSI, 2003:78-79). origens de Roma até a morte de Justiniano,
Aristóteles não consegue (nem se imperador do Oriente, em 565 da era cristã”.
preocupa com isso) apresentar uma justificação (GIORDANI, 1972:255).
física para que o escravo seja escravo. Por isso Após a queda da monarquia (510 a.C.),
apela para diferenciações na alma: o escravo começaram as disputas políticas e sociais entre
possuía uma alma incompleta, pois lhe os patrícios (aristocratas) e os plebeus. Uma das
principais reivindicações dos plebeus era a
...falta totalmente a parte codificação escrita das leis, que seguiam, até
deliberativa, e por isso ele pode
somente perceber a razão, isto é, então, os costumes ancestrais narrados
obedecer às ordens, mas não oralmente pelas autoridades. Este objetivo foi
exercitá-la. Além disso, afirma-se que
a diferença entre escravo e livre é alcançado em 450 a.C. com a edição da Lei das
qualitativa e não quantitativa, o que XII Tábuas.

139 RONÁ, R.: Discutindo historiográficamente a escravidão.


Este documento legal, composto por pois o pai tinha sobre os filhos o direito de vida
113 artigos, teria sido gravado em doze tábuas e de morte. Dessa forma, podia vendê-los.
de marfim (segundo Pomponius) ou em bronze Porém, se o filho conseguisse comprar a sua
(segundo Tito Lívio). Contudo, as tábuas liberdade, o pai não podia vendê-lo mais que
originais foram destruídas quando os gauleses uma outra vez, pois na terceira vez o pai
dominaram Roma em 390 a.C. Mais tarde, perderia o poder paterno sobre o filho.
foram reconstruídas e expostas em praça O artigo nono da Tábua Terceira dá
pública. Os artigos tratavam do direito penal, do outra forma de origem do escravo. Quando um
cível e até mesmo do religioso (algo que não se devedor não conseguia saldar a sua dívida,
encontra mais nas modernas legislações do previa-se uma série de atitudes jurídicas e
Ocidente). finalmente: “se são muitos os credores, será
A palavra correspondente a escravo (ou permitido, depois do terceiro dia de feira, dividir
escravidão) aparece oito vezes em seis artigos. o corpo do devedor em tantos pedaços quantos
Em nenhum deles define-se o que seja um sejam os credores, não importando cortar mais
escravo ou se determinam os cuidados que ou menos, se os credores preferirem poderão
deveriam ter os seus senhores para com os vender o devedor a um estrangeiro, além do
mesmos. Porém, um artigo (o 12º da 7ª Tábua) Tibre”11
nos permite imaginar o quanto valia um escravo Como a escravidão por dívida havia
para os legisladores romanos: “aquele que sido abolida em Roma em um movimento
arrancar ou quebrar um osso a outrem deverá plebeu anterior, notamos que o devedor só
ser condenado a uma multa de 300 asses, se o poderia ser negociado com um estrangeiro e não
ofendido for um homem livre, e de 150 asses, se dentro da própria comunidade.
o ofendido for um escravo”9. Observa-se, por Por outro lado, esta legislação previa
esse item legal, que um homem livre valia o também a libertação de um escravo, como a
dobro de um escravo. E a pena por um crime encontrada no artigo nº 3 da Sexta Tábua,
tornava-se máxima quando o criminoso era um quando um escravo poderia receber a liberdade
escravo (Artigo nº 4 da Segunda Tábua): “se o por testamento ou receber (artigo nº 7 da mesma
furto ocorrer durante dia e o ladrão foi flagrado, Tábua) a liberdade provisória pelo pretor caso
que seja fustigado e entregue como escravo à fosse motivo de litígio entre dois contentores.
vítima. Ser for escravo, que seja fustigado e Por fim, proibia-se que o corpo de um
10
precipitado do alto da rocha Tarpéia” . escravo fosse embalsamado (Artigo nº 9 da 10ª
Neste artigo, também podemos ver Tábua), sem maiores explicações para a
como um homem livre se tornava um escravo: proibição. Por fim, era esta a situação jurídica
por condenação judicial. Também era possível dos escravos em Roma de meados do século V.
tornar-se escravo pela venda do homem livre, a.C., porém, com as conquistas dos séculos
seguintes a situação alterou-se profundamente.
9
Disponível em http://www.dhnet.org.br/,
acesso em 2.5.2016. O asse era uma moeda
romana de cobre.
10
Idem, a rocha Tarpeia era um local onde eram
11
feitas execuções, com as vítimas sendo jogadas Idem, o Tibre era o rio que cortava a área
desta rocha para a morte. urbana de Roma.

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O crescimento de grandes extensões 5. O ISLAMISMO E A
de terras trabalhadas por escravos e
supervisionadas por capatazes para ESCRAVIDÃO
senhores ausentes tornou-se força
importante no suprimento de
alimentos para o consumo de Consultando o site
mercado. O alto grau de www.conheceroislam.com.br podemos ter uma
especialização da mão de obra e as
exigências do mercado para bens visão mais oficial sobre a escravidão no mundo
produzidos em massa, para consumo muçulmano. A fonte em questão procura
internacional e inter-regional, foram
também um incentivo para o trabalho justificar a manutenção da escravidão em um
artesanal escravo ... Embora os mundo de iguais mudando o foco de atenção: A
dados sejam altamente especulativos,
estimou-se que no auge do império palavra “escravidão” evoca repugnância, dor e
romano a população da Itália uma profunda indignação, em especial quando
continha entre dois e três milhões de
escravos, que representavam entre 35 se recorda como entram tratados os escravos em
e 40 por cento da população total. Roma, no Egito antigo ou na América do Norte.
(KLEIN, 1987:14-15)
Na defesa de suas posições, incorrem
A escravidão entre os romanos até mesmo em um erro histórico, ao afirmar que
continuou sendo uma instituição próspera eram escravos que construíram as pirâmides do
enquanto o império manteve a política de Egito, quando sabemos pelas confiáveis fontes
conquistas territoriais. Sem a entrada de novos historiográficas e arqueológicas que eram
contingentes de prisioneiros e com a emergência homens livres que as construíram. Já os
do cristianismo, foi crescente a crise do sistema, argumentos utilizados para justificar a
brutalmente acelerada pelas invasões bárbaras manutenção das práticas escravagistas são
que colocaram os mercados urbanos em exemplos de bom tratamento dados aos seus
colapso. escravos pelos luminares da religião e do
A Idade Média foi, sem dúvida, um Estado.
período de regressão das práticas escravocratas
em toda a Europa ocidental, contudo, Omar e seu servo montaram por
turnos no mesmo camelo12 enquanto
marchavam de Medina para
a própria escravidão não Jerusalém para tomar o controle de
desapareceu da Europa em nenhum Masjid al Aqsa, a Mesquita mais
momento durante este período de longínqua. Osman, sendo califa,
encolhimento de mercados e de deixou que seu escravo lhe puxasse
servidão. Entre os povos germânicos as orelhas por ele tê-las puxado ao
das fronteiras ao norte, a escravidão escravo antes. O companheiro Abu
permaneceu sendo importante Zar compartilhou a metade da sua
enquanto a guerra continuou a criar roupa com seu escravo. Alguns
um suprimento de escravos. No muçulmanos, especialmente os
mundo não-cristão do Mediterrâneo governantes, prosseguiram tendo
a escravidão passou, na verdade, por escravos. O Islam não pode ser
um renascimento entre os séculos acusado por isso, já que é a própria
VIII e XIII. (KLEIN, 1987:18) deficiência espiritual desses
indivíduos que faz eles se
comportarem dessa forma.

12
Certamente, era um dromedário, pois os
camelos só foram introduzidos na região mais
tarde.

141 RONÁ, R.: Discutindo historiográficamente a escravidão.


Assim não há discussão: os atos maus Muito oportuna a intervenção de
são praticados por homens maus. Quanto aos Herbert Klein por destacar que a escravidão já
outros, que não são do grupo, eles nunca podem existia na África pré-islâmica (e, portanto, pré-
ser bons! européia também), porém, sendo uma mais uma
Qual a origem dos escravos dos prática religiosa do que mercantil. Por outro
muçulmanos? lado, temos a afirmação sobre a origem mais
remota do tráfico negreiro: ela é anterior ao que
Durante os primeiros anos do Islam seria praticado pelos portugueses a partir do
não se tinha um sistema confiável de
século XV. Vai aqui mais uma demonstração
intercâmbio de prisioneiros. O meio
disponível de tratá-los era a historiográfica de que falta sustentação
execução, encarcerando-os,
acadêmica aos discursos politicamente corretos
libertando-os ou distribuindo-os
entre os muçulmanos como butim13 dos nossos dias.
de guerra. A primeira opção deve ser
descartada por se uma barbaridade.
A segunda é viável apenas para um 6. AMÉRICAS
reduzido número de pessoas em um
período limitado, sempre que haja
suficientes recursos para cuidá-los A expansão europeia rumo ao oeste
|...| A terceira opção é imprudente em
tempos de guerra. Então, restava pelo Atlântico foi conduzida, inicialmente, por
apenas a quarta opção. Portugal, um pequeno país com menos de um
milhão de habitantes. Para um país tão
Está resolvida a questão: o escravo é
parcamente povoado, a expansão ultramarina
escravo porque o seu captor é um homem bom,
não era provocada pela necessidade de exportar
se não o fosse ele seria morto (ou, quem sabe,
o excedente populacional, muito pelo contrário,
libertado). Mas vamos a um contraponto.
pois se registrou um contínuo tráfico de
escravos (não só da África negra) para o
A escravidão existiu também no
continente africano desde a história território português durante o século XV.
registrada |...| Uns poucos e
excepcionais Estados influenciados
pelo Islão podem ter experimentado 6.1.América Pré-Colombiana
forma mais industriais de produção
escrava. Mas os escravos africanos
eram encontrados também fora da Muitos foram os povos que habitavam
região |...| Uma nova dimensão deste a América antes da chegada dos colonizadores
negócio ocorreu com a expansão do
Islão no século oitavo. À medida que europeus e africanos. Eles se apresentavam em
o mundo islâmico espalhou-se pela diversos estágios do desenvolvimento humano,
Índia e pelo Mediterrâneo oriental,
mercadores islâmicos começaram a indo do paleolítico até o histórico. Para evitar
desempenhar papel cada vez mais maiores delongas, que não cabem aqui neste
importante no tráfico de escravos
africanos |...| Do século IX ao século texto, vamos nos fixar nos astecas.
XV ocorreu um comércio escravista Entre os astecas encontrávamos os
bastante consistente, e a maioria dos
migrantes forçados eram mulheres e tlatlacotin (singular tlacotli) que compunham a
crianças (KLEIN, 1987:20-21). última classe da sociedade. Não formavam um
grupo único, havia os prisioneiros de guerra
destinados a serem sacrificados nas grandes
13
O texto original fala em “motim”. cerimônias, também havia aqueles que eram

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condenados a trabalhar para pagar dívidas espanhola dentro da Espanha e de
suas extensas possessões europeias.
contraídas por eles ou por algum membro de sua
Por esta razão, os salários de
família. trabalhadores espanhóis na Europa
eram altos o bastante para tornar a
Esses tlatlacotlin não eram
migração em massa para a América
considerados cidadãos e pertenciam a um uma operação muito onerosa
(KLEIN, 1987:35).
senhor. Contudo eles deviam ser tratados com
respeito, havendo um deus – Texcatlipoca – que
Klein menciona, no final do trecho
“era o protetor dos escravos e castigava
transcrito acima, o ponto nevrálgico da
duramente os senhores que os maltratassem”.
utilização intensiva da mão de obra escrava na
(SOUSTELLE, 1972:37)
colonização da América: os altos salários pagos
A legislação e o costume registravam
ao trabalhador livre metropolitano. O escravo só
várias formas de se alcançar a alforria nesta
é um trabalhador interessante se for barato,
sociedade. E os cativos podiam possuir bens e,
muito barato. Se não, é melhor utilizar um
muitas vezes, casavam-se com mulheres livres,
assalariado ou um camponês agregado ao solo.
sendo então seus filhos livres. Tudo isso acabou
A existência de pelo menos 20 milhões a 25
com a conquista espanhola. milhões de índios americanos parece ter
significado que os europeus teriam um
6.2.América Espanhola suprimento abundante de mão de obra
disponível para a exploração de novas colônias
A Espanha era mais povoada que (KLEIN, 1987:31).
Portugal. Ela possuía, possivelmente, sete Mas não foi bem assim. Uma acirrada
milhões de habitantes quando da primeira disputa entre grupos de base religiosa com uns
viagem de Colombo. Contudo, também não defendendo a liberdade inata dos índios e outros
apresentava um claro excedente demográfico. desejando explorá-los como animais, foi
Tanto que Colombo pensou, inicialmente, em gerando uma vastíssima legislação (tanto no
explorar as novas terras como um celeiro de caso espanhol quanto no português) que foi
trabalhadores que seriam enviados à Metrópole inviabilizando a pura e simples escravização do
como escravos. nativo americano. E houve outro elemento que
inviabilizou ação escravagista: Os espanhóis se
O controle espanhol sobre um vasto apoiaram no governo indireto, perpetuando a
império europeu e americano levou a
nobreza indígena pré-conquista e recriando
um crescimento tremendo de suas
cidades, com a população de Sevilha grande parte da estrutura governamental
dobrando até chegar aos 110 mil
indígena em nível local. Tudo isto ajudou numa
habitantes, e com novos centros
urbanos, como Madri, nascendo seleção eficiente da mão de obra (KLEIN,
explosivamente. A agricultura
1987:36)
também florescia nesse século
imperial, toda mantida por uma força A América espanhola organizou-se
de trabalho livre e remunerada.
como uma grande sociedade de camponeses
Finalmente, o estabelecimento de
exércitos profissionais espanhóis, em presos à terra e que deviam trabalhos
tempo integral, em outros estados
obrigatórios ao Estado (uma verdadeira corveia
europeus garantia uma importante
área de trabalho para as massas feudal).
espanholas. Tudo isto criava uma
grande demanda por mão de obra

143 RONÁ, R.: Discutindo historiográficamente a escravidão.


Por isso é que a América se tornou o florescente economia baseada nas
plantações de fumo. (GRAY, 2).
grande mercado para cerca de 10 milhões a 15
milhões de escravos africanos no decorrer dos
Os colonos ingleses ocuparam o litoral
cinco séculos seguintes, e foi no Novo Mundo
leste da América do Norte em sucessivas levas
que a escravidão africana mais floresceu sob o
motivadas por motivos políticos, militares e
domínio europeu (KLEIN, 1987:31).
econômicos que se sucediam na Metrópole.
Por fim, temos o próprio tráfico
Apesar de não ser tão povoada quanto a França,
negreiro. Mais que uma opção de fornecimento
a Inglaterra tinha um excedente populacional
de trabalhadores, esta atividade tornou-se uma
crescente provocada pela expansão da pecuária
opção comercial extremamente lucrativa. Os
lanífera: A indústria da lã se expandia na
africanos eram adquiridos por escambo aos
Inglaterra e exigia fornecimentos sempre
sobas (reis africanos)14 e vendidos por altos
maiores da matéria-prima para conservar os
preços aos agricultores e mineradores das
teares ocupados, e os criadores de carneiros
Américas.
começaram a invadir as áreas que até então
tinham servido só para a lavoura. (GRAY, 4).
6.3.América Inglesa: EUA No decorrer dos séculos XVII e XVIII,
começaram a chegar imigrantes vindos de
A Grã-Bretanha em geral e a Inglaterra outras áreas do mundo britânico (Escócia e
em particular iniciaram a sua expansão Irlanda) e das áreas afeitas à Coroa (como era o
ultramarina muito tarde quando comparada com caso da Alemanha dos Hanôver). Se de um lado
a portuguesa ou a espanhola. Os Estados da ilha muitos dos colonos investiam em pequenas
(Escócia ao norte e Inglaterra ao sul) propriedades mais ligadas ao autoconsumo, os
enfrentavam problemas econômicos e militares agricultores estabelecidos na Virgínia ocupavam
que impediam a unificação nacional em torno de crescentemente as margens do rio James com a
um objetivo tão custoso como eram as grandes produção de fumo cujo primeiro carregamento
navegações. chegou a Londres em 1614. A necessidade de
expansão da atividade levou à importação de
Os primeiros imigrantes ingleses, que africanos escravizados a partir de 1619, pois os
vieram para o que é hoje os Estados
Unidos, cruzaram o Atlântico muito ingleses não viram os indígenas como possíveis
depois das florescentes colônias parceiros nas atividades de exportação.
espanholas já se terem estabelecido
no México, nas Índias Ocidentais e A dependência da mão de obra africana
na América do Sul (GRAY, 1) escravizada pelos norte-americanos que viviam
O primeiro estabelecimento colonial
na América do Norte foi um posto no sul do país tornou-se absoluta. Mesmo com a
avançado de comércio fundado em proibição do tráfico pelo Congresso em 1808, a
Jamestown, em 1607, no Velho
Domínio da Virgínia, uma região que população cativa foi aumentada em números
logo se desenvolveria numa absolutos e em porcentagem. Desse modo, em
1860, as vésperas da Guerra Civil, viviam no
14
Os documentos relativos à venda dos
africanos por alguns outros africanos colocam
por terra a narrativa politicamente interessante
de que os futuros escravos eram laçados pelos
traficantes em correrias pelas savanas.

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Sul 8 milhões de brancos e 4 milhões de negros indivíduos divididos em milhares de aldeias)
15
(dos quais 3,5 milhões eram escravos) . iria demandar a utilização de um novo tipo de
colonização, depois que as primeiras tentativas
6.4.América Portuguesa: Brasil de escravizar os indígenas não resultaram em
bons resultados.
O achamento do Brasil foi realizado no
bojo de uma empresa muito maior e mais A escravidão indígena predominou
ao longo de todo primeiro século. Só
importante para a Coroa portuguesa: a no século XVII a escravidão negra
imposição do seu império nas Índias, em viria a sobrepujá-la, |... afinal|
custando uma quinta parte do preço
particular, e na Ásia, em geral. Portanto, não é de um negro importado, o índio
de surpreender que nos primeiros anos do século cativo se converteu no escravo dos
pobres, numa sociedade em que os
XVI a Metrópole tenha dado tão pouca europeus deixaram de fazer qualquer
importância ao nosso território. O Brasil era um trabalho manual. (RIBEIRO, 2005:98
e100).
excelente ponto de aguada para as frotas
portuguesas que iam ou voltavam das Índias e o Temos também de considerar que a
rei concedeu a exploração do pau-brasil a utilização de mão de obra compulsória no
grupos particulares que lhe pagavam processo de colonização do Brasil apresentava-
adiantadamente pela autorização de explorar se como solução à alguns problemas
aquele pau de tinta tão comum em nosso litoral. enfrentados pelos administradores de então.
A exploração dessa riqueza se fazia através do
aliciamento dos indígenas que trabalhavam em A exiguidade de população em
troca de presentes, que para os europeus eram Portugal e a vastidão das terras no
Brasil tornavam muito difícil o uso
quinquilharias. da mão de obra assalariada em larga
escala na colônia. O assalariado
tenderia a trabalhar por conta
Com a decisão portuguesa de própria, a menos que os salários
colonizar o Brasil, veio a necessidade fossem altos, não compensando nesse
de se encontrar um produto de caso os empreendimentos coloniais.
exportação mais confiável e lucrativo Os colonizadores portugueses
que o pau-brasil. Neste contexto, vinham para cá como empresários.
suas experiências nos Açores, Lançaram mão do trabalho escravo
Madeira e São Tomé mostravam que indígena e, em seguida, africano, O
o açúcar era a colheita ideal para tráfico de escravos revelou-se
garantir a existência de uma colônia também uma fonte de riquezas para a
lucrativa (KLEIN, 1987:52). economia da metrópole (SILVA,
1992:93).
O estabelecimento de colônias em um
território tão parcamente povoado (Darcy Novamente vemos a mesma situação já
Ribeiro calcula que seriam 1 milhão de citada anteriormente: o escravo só é um bom
negócio se for barato e o próprio tráfico pelo
15
A abolição se deu pela Emancipation Atlântico tornou-se um negócio altamente
Proclamation editada em 1º. de janeiro de 1863, lucrativo para a Metrópole (já a captura dos
quando as tropas do Norte não conquistavam
indígenas não renderia nada à Coroa portuguesa,
vitórias decisivas e países como a Inglaterra e a
França pensavam em reconhecer a apesar de ser mais barato o indígena do que o
Confederação como um Estado independente. africano).
Os negros libertos foram incorporados às tropas
federais.

145 RONÁ, R.: Discutindo historiográficamente a escravidão.


Quando em 1711 o jesuíta de origem como também possibilitava a compra de muitos
italiana João António Andreoni (que por meio outros, tamanho era o lucro proporcionado pelo
de um anagrama assinava André João Antonil) ouro escavado nas montanhosas Minas Gerais.
publicou a sua Cultura e Opulência do Brasil O esgotamento das jazidas (a partir da
por suas drogas e minas, não sabia que sua obra segundo metade do século XVIII) lançou a
iria ser uma das mais importantes fontes de região em uma secular decadência econômica
estudo da economia colonial brasileira. que possibilitou a preservação do seu
Contudo, não fez sucesso na sua época, pois o patrimônio arquitetônico, sempre admirado na
livro foi proibido de circular por ordem régia, atualidade. Contudo, impõe-se a questão: o que
pois temia que as informações ali contidas ocorreu com a abundante mão de obra que ficou
pudessem ser utilizadas por concorrentes dos disponível com o fim da atividade mineradora?
portugueses. A primeira edição integral só Muitos escravos foram libertos (não por
ocorreu em 1837. bondade de seus senhores, mas pela falta de
É de Antonil algumas das frases recursos em mantê-los como propriedade)
sempre citadas quando trabalhamos com a outros foram, no início do século XIX,
escravidão no Brasil colônia. deslocados para o litoral onde começava a
expansão cafeicultora, concomitante à chegada
Os escravos são as mãos e os pés do da Família Real Portuguesa.
senhor de engenho. (p.159)
O período joanino fica marcado pelo
O Brasil é inferno dos negros,
purgatório dos brancos e paraíso dos paradoxo: de um lado a legislação (de 1810)
mulatos e das mulatas (p.160)
proíbe o tráfico negreiro; de outro, o estímulo
No Brasil, costumam dizer que para
o escravo são necessários três PPP, dado à cafeicultura faz aumentar a necessidade
a saber, pau, pão e pano (p.162)
de braços para esse novo ciclo econômico. A
independência permite a organização do Estado
O bom jesuíta lamenta que se comece
Nacional Brasileiro, regulamentado pela
pelo pau (o castigo) e não pelo pano (para cobrir
Constituição de 25 de março de 1824. São ao
as vergonhas dos cativos) e pelo pão.
todo 179 artigos e a escravidão não é
Reconhece, então, que muitos senhores
mencionada em nenhum deles. Se alguém fosse
castigavam de modo extremado um seu escravo
querer conhecer o Brasil Império somente por
por uma pequena falta, não havendo simetria
sua carta constitucional concluiria que nunca
entre a falta e a pena. Mas a mesma fonte nos
existira escravidão entre nós. Por isso é que a
mostra que não eram todos os senhores que
abolição pôde ser feita apenas por leis
agiam dessa forma, mesmo porque um escravo
ordinárias, sem necessidade de complicadas
era um investimento que deveria render lucros e
emendas constitucionais.
não sepulturas. Todavia, com os grandes lucros
A extinção da escravidão no Brasil
auferidos na mineração (centrada no século
(1888) teve impactos econômicos localizados e
XVIII), a situação dos escravos, aí
não houve a debandada geral dos cativos das
majoritariamente de origem africana, só piorou,
senzalas, como é comum imaginarmos pelos
pois o seu valor não era mais considerado na
filmes e novelas televisivas. De modo geral, eles
hora de exigir esforços verdadeiramente
permaneceram nas mesmas fazendas, mas
desumanos. Durante a sua curta vida de intensos
reivindicaram não só salários como alteração do
trabalhos, um escravo não só pagava o seu custo

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sistema de trabalho, que eles consideravam reforma agrária no país que nasceria após a
desgastante. Quando oficialmente a escravidão abolição. Afora estas ideias, a herdeira do trono
foi abolida (13/5/1888) não restavam muitos também defendia, na mesma carta, o sufrágio
escravos ainda nas fazendas e nas cidades. A feminino. Não é à toa que, pouco mais de três
emancipação se fazia legalmente ou na prática meses depois, temos o golpe militar.
ilegal. Evaristo de Moraes, um abolicionista Para concluir, recorreremos ao
militante16, narra um diálogo bastante historiador Robert Daibert Junior, professor da
elucidativo para a questão. Universidade Federal de Juiz de Fora.

Em Araras, por exemplo, em poucos Passamos de uma historiografia


dias, nenhum escravo ficara em tradicional, extremamente apegada a
poder do respectivo senhor. um culto à princesa Isabel como
Testemunha local ouviu, ali, esta responsável única pela Abolição,
conversa, entre fazendeiros: para um lugar oposto. Infelizmente,
– Como vais de gente? em alguns discursos mais inflamados,
– Bem, tenho quatro dos teus, dois ainda ouvimos expressões que
do Chico, seis do barão e alguns não qualificam o 13 de maio como farsa e
sei de quem. engodo. O problema todo está na
– Eu, também, tenho uma parte dos polarização: Isabel ou Zumbi? Como
teus e outros não sei de quem, ao se tivéssemos que escolher um lugar,
todo uns quarenta. um posicionamento político de
– Vão bem? extrema direita ou de extrema
– Trabalham perfeitamente esquerda”. (LEAL, 2006:73).
(MORAES, 1986:250)
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Abolida a escravidão, também se
apressou em abolir a monarquia, afinal posta
Pelo exposto acima, podemos concluir
abaixo por uma quartelada desencadeada pelas
que a escravidão esteve presente em quase todas
tropas do Exército existentes na Capital (a
as sociedades históricas. De maneira geral, o
Marinha não participou do movimento). O fato
escravo não era considerado como um igual pela
ocorreu quase um ano e meio depois da
sociedade que o explorava. A desigualdade
promulgação da lei nº 3353. Neste intervalo de
poderia vir da sua situação econômica (um
tempo, temos uma ação da princesa Isabel que
endividado), da sua situação política (um
não teve a divulgação necessária.
estrangeiro aprisionado em guerra) ou da sua
Em carta enviada ao visconde de Santa
etnia (um estrangeiro classificado como bárbaro
Victória em 11 de agosto de 1889, a princesa
devido à sua cultura e adquirido no mercado).
Isabel agradece ao amigo pela intenção de criar
Também deve-se destacar que um
um fundo para indenizar os ex-escravos (e não
escravo era visto como um instrumento de
os ex-escravocratas como na América hispânica
trabalho pertencente a alguém, que podia aliená-
e nos Estados Unidos), permitindo-lhes assentar
lo a qualquer momento. Muitas iniciativas
em terras onde trabalhariam na agricultura e na
legislativas procuravam impedir que o senhor
pecuária. Esta ação não estava dissociada da
matasse um escravo (sem os procedimentos
ideia de André Rebouças de realizar uma
formais) e outras determinavam quais cuidados
deveriam ser praticados para a conservação da
16
Na República Velha, Evaristo de Moraes vida e da saúde do escravo.
tornou-se um advogado defensor dos sindicatos
de trabalhadores.

147 RONÁ, R.: Discutindo historiográficamente a escravidão.


Em muitas sociedades, o liberto era Por que a continuidade dessa prática?
imediatamente incorporado à sociedade que o Porque ela é lucrativa. Dentro da lógica
escravizara. Em outras, impunham-se do capital, qualquer negócio que dê lucro é
obstáculos para que ele exercesse a plena válido.
cidadania. Notamos que não há uma norma Por fim, temos aqueles que procuram
comum de procedimento. Quanto à extinção da distorcer os fatos históricos de modo a
escravidão ou a emancipação de um indivíduo, promover ou manter a sua situação de gozo de
também não temos uma regra geral. Várias privilégios lícitos ou ilícitos. Estes indivíduos
legislações previam a libertação dos escravos. não titubeiam em pintar a escravidão,
Outras posturas, principalmente religiosas, particularmente a que foi praticada no Brasil,
condenavam a existência de escravos, mas de com cores tenebrosas, mesmo que
modo geral as toleraram por motivos políticos e constantemente desmentidas pela historiografia.
econômicos. Por que agem assim? Uma possível resposta
Por fim, temos que considerar o fator encontramos nas palavras de Tali Sharot,
econômico: o trabalho escravo só é interessante neurocientista israelense e membro da
se ele for mais barato do que o trabalho do University College London, em uma entrevista
homem livre. Quando ele se torna muito publicada na revista Veja.
oneroso (sempre pela falta do produto no
mercado) é mais interessante a sua abolição. O É difícil mudar crenças, pois as
pessoas se agarram a elas como uma
trabalhador assalariado tem uma vantagem
forma de ter esperança. Não
insofismável sobre o escravo para qualquer avaliamos essas informações,
emocionais, de maneira racional.
empresário: quando não é mais necessário, o
Pensamos apenas se a ideologia nos
trabalhador livre pode ser dispensado, o mesmo fará bem ou mal, o que torna a
crença integrante da personalidade.
não pode ocorrer, sem prejuízo financeiro ao
É o que nos faz achar que estamos
proprietário, com o escravo. certos mesmo quando existem
evidências contrárias (THOMAS:
Atualmente, condena-se o trabalho
2016, 16).
escravo em nível mundial. A Organização
Internacional do Trabalho, órgão da ONU, REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
realiza ações de esclarecimento e de condenação
da prática. Contudo, tolera-se que presos A BÍBLIA Sagrada. Trad. de João Ferreira de
Almeida. Rio de Janeiro: Imprensa Bíblica
realizem trabalhos forçados em muitos países Brasileira, 1957.
que não são necessariamente ditaduras. Esta
CIVITA, V. (ed.). História das grandes ideias
situação é comumente aplaudida pelos que estão do mundo ocidental. São Paulo: Abril, 1972.
fora das grades. Afinal, eles deviam prover o
GIORDANI, M.C. História da Antiguidade
próprio sustento, na opinião dos defensores da Oriental. 2ªed. Petrópolis: Vozes, 1969.
esta medida.
GIORDANI, M.C. História de Roma. 3ªed.
Também registramos a exploração sexual, Petrópolis: Vozes, 1972.
principalmente (se não exclusiva) de mulheres
GRAY, W. e HOFSTADTER, R. Panorama da
que são aliciadas em países considerados História dos Estados Unidos. s.l.p.: Embaixada
subdesenvolvidos e encaminhadas aos países dos Estados Unidos da América, s.d.
mais ricos do planeta.

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E as Metas do Milênio , 2016, Vol. 3, Nº 1, 132-149 ojs.eniac.com.br
KLEIN, H.S. Escravidão africana: América
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TOSI, G. “Aristóteles e a Escravidão


Natural”. Boletim do CPA, Campinas (15):71-
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149 RONÁ, R.: Discutindo historiográficamente a escravidão.

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