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Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais – Modelo da Tese nº 039

Pesquisa de Jurisprudência e Anotações – Perseu Gentil Negrão – 23/06/2003


OBS: Na jurisprudência citada, sempre que não houver indicação do tribunal, entenda-se que é do
Superior Tribunal de Justiça.

Tese 039
CRIMES FALIMENTARES – DENÚNCIA – DESPACHO DE
RECEBIMENTO – FUNDAMENTAÇÃO SUCINTA – POSSIBILIDADE
O despacho de recebimento da denúncia será válido se fundamentado,
ainda que sucintamente.
(D.O.E., 12/06/2003, p. 31)

JURISPRUDÊNCIA
PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS
CORPUS. CRIMES FALIMENTARES. JUSTA CAUSA PARA A
AÇÃO PENAL. INQUÉRITO JUDICIAL. CONTRADITÓRIO E
AMPLA DEFESA. INÉPCIA DA DENÚNCIA. CRIME
SOCIETÁRIO. INDIVIDUALIZAÇÃO DAS CONDUTAS.
DESNECESSIDADE. DECISÃO DE RECEBIMENTO DA
DENÚNCIA. AUSÊNCIA DE QUALQUER
FUNDAMENTAÇÃO.
I - O trancamento de ação por falta de justa causa
somente é viável desde que se comprove, inequivocamente,
hipóteses, v.g., como a atipicidade da conduta, a incidência de
causa de extinção da punibilidade ou ausência de indícios de
autoria ou de prova sobre a materialidade do delito.
II - A ausência de justa causa só pode ser reconhecida se
perceptível de imediato com dispensa ao minucioso cotejo do
material cognitivo. Se é discutível a caracterização de eventual
ilícito criminal, não há que se trancar a ação penal por ausência de
justa causa.
III - Eventual lapso ou vício do inquérito judicial não
anula a ação penal (Precedentes do Pretório Excelso e do STJ).
IV - Não há inépcia da denúncia que, ao imputar a prática
de delito societário aos acusados, deixa de individualizar
pormenorizadamente a conduta de cada um deles, mas fornece
dados suficientes à admissibilidade da acusação, permitindo a
adequação típica (Precedentes).

Compilação: Perseu Gentil Negrão 1


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V – Esta Corte Superior tem entendido que, nos crimes


falimentares, a decisão que recebe a denúncia, por ser providência
de natureza interlocutória simples e mero juízo de admissibilidade
de acusação, não necessita de fundamentação aprofundada, basta
a indicação de que os fatos narrados na exordial guardam relação
com o inquérito judicial e que, em tese, configurem crime. Não
havendo, entretanto, qualquer fundamentação, ainda que sucinta,
incide na espécie o enunciado da Súmula 564/STF.
Recurso parcialmente provido tão somente para anular o
processo a partir do recebimento da denúncia.
Prejudicado o HC nº 21436/SP, substitutivo deste recurso
ordinário. (Recurso Ordinário em Habeas Corpus nº 12699 –
SP, 5ª Turma, Rel. Min. FELIX FISCHER, j. 17/12/2002, D.J.U.
de 10/03/2003, p. 244).

PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. CRIME


FALIMENTAR. ARTIGOS NºS 186, VI e 188, VII, AMBOS DA
LEI DE FALÊNCIAS. ARTIGO 168 DO CÓDIGO PENAL
DENÚNCIA. DESPACHO QUE RECEBE A PEÇA
ACUSATÓRIA. FALTA DE MOTIVAÇÃO. INQUÉRITO
JUDICIAL. PEÇA MERAMENTE INFORMATIVA. FALTA DE
INTIMAÇÃO. NULIDADES.
1. Do despacho que teve como boa a denúncia ofertada
contra a paciente, constata-se que, muito embora não tenha o
magistrado expendido maiores considerações, motivou
suficientemente sua convicção.
2. "Apresentando-se sucinto o despacho de recebimento
da denúncia, nos crimes falimentares, não há porque acoimá-lo de
nulo, notadamente, levando-se em conta tratar-se de providência
de natureza interlocutória simples e de mero juízo de
admissibilidade de acusação, ficando, pois, dispensadas análises
aprofundadas" (HC nº 10.560/SP, Relator o Ministro
FERNANDO GONÇALVES, DJU de 21/08/2000)
3. Os vícios porventura existentes no inquérito judicial
não contaminam a respectiva ação penal, fluindo o prazo a que se
refere o artigo 106 da Lei de Falências independentemente de
intimação. Precedentes.
4. Habeas corpus denegado. (Habeas Corpus nº 17213 –
SP, 6ª Turma, Rel. Min. PAULO GALLOTTI, j. 11/12/2001,
D.J.U. de 10/06/2002, p. 271).

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PROCESSUAL PENAL. CRIME FALIMENTAR. DEFESA.


INQUÉRITO JUDICIAL. PEÇA INFORMATIVA. NULIDADE.
DESPACHO QUE RECEBE A DENÚNCIA. FALTA DE
FUNDAMENTAÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA.
1 - No despacho de recebimento da denúncia de crime
falimentar o magistrado pode, por questão de conveniência,
postergar a apreciação das alegações expendidas na defesa,
apresentada em inquérito judicial, para a fase de instrução
processual, sem que ocorra qualquer prejuízo ao paciente.
2 - Esta Corte tem entendimento pacificado no sentido de
que eventual vício ou lapso do inquérito judicial falimentar não
tem o condão de macular a ação penal, porquanto se trata de mera
peça informativa.
3 - Apresentando-se sucinto o despacho de recebimento da
denúncia, nos crimes falimentares, não há porque acoimá-lo de
nulo, notadamente, levando-se em conta tratar-se de providência
de natureza interlocutória simples e de mero juízo de
admissibilidade de acusação, ficando, pois, dispensadas análises
aprofundadas.
4 - Recurso improvido. (Recurso Ordinário em Habeas
Corpus nº 11869 – SP, 6ª Turma, Rel. Min. FERNANDO
GONÇALVES, j. 27/11/2001, D.J.U. de 25/02/2002, p. 445).

"HABEAS CORPUS" SUBSTITUTIVO DE RECURSO


ORDINÁRIO. TRANCAMENTO DE AÇÃO PENAL. DELITOS
DOS ARTS. 187 E 188, III, DA LEI DE FALÊNCIAS.
MANIFESTAÇÃO DO FALIDO. FUNDAMENTAÇÃO DA
DECISÃO QUE RECEBEU A DENÚNCIA.
RESPONSABILIZAÇÃO OBJETIVA DE UM DOS PACIENTES.
CONCESSÃO PARCIAL DA ORDEM.
I. Improcede a argüição de nulidade do feito pela
inobservância do art. 106 da Lei de Falências se, antes do
recebimento da denúncia, foi oportunizada e juntada a
manifestação pertinente.
II. É válido o despacho que recebe a denúncia de maneira
sucinta mas satisfatoriamente fundamentada, tendo em vista que,
por se tratar de providência de natureza interlocutória simples e
mero juízo de admissibilidade de acusação, não se exigem análises
aprofundadas.
III. Inexistindo provas de que um dos pacientes exercia
atos de administração e gerência da Sociedade, ressaltando-se que

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a simples aposição de aval é atípica, falta, em parte, justa causa à


denúncia, ensejando o trancamento da ação penal no tocante a
este
acusado, sob pena de reconhecimento da incabível
responsabilização objetiva.
IV. Ordem concedida em parte para trancar a ação penal
em relação à paciente IZA MARCHETTI MOLITERNO,
prosseguindo-se o feito em relação ao outro paciente. (HC 7831 –
SP, 5ª Turma, Rel. Min. Gilson Dipp, j. 01/12/1998, D.J.U. de
01/02/1999, p. 00218).

PROCESSUAL PENAL. CRIME FALIMENTAR. NULIDADE.


LAUDO PERICIAL. CERCEAMENTO DE DEFESA.
INOCORRÊNCIA. PRESCRIÇÃO. DENÚNCIA. ALEGAÇÃO
DE INÉPCIA. TRANCAMENTO DA AÇÃO. DESCABIMENTO.
RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. FUNDAMENTAÇÃO.
DESNECESSIDADE.
- Em tema de crime falimentar, o laudo pericial é peça
meramente informativa, cujos eventuais defeitos não
consubstanciam nulidade capaz de invalidar a ação penal já
instaurada.
- Este Tribunal, em diversos julgamentos, tem reafirmado
a tese consagrada nos verbetes das Súmulas nºs 147 e 595, do STF,
afirmativas de que o prazo prescricional nos crimes falimentares
começa a fluir a partir da data do trânsito em julgado da sentença
que encerrar a falência ou de quando deveria ser encerrada,
interrompida pelo recebimento da denúncia.
- Na formulação da denúncia, de crimes de autoria
coletiva, não exige que a peça acusatória pormenorize a conduta
individual de cada acusado, sendo suficiente a imputação do fato
típico, o que permite o exercício pleno do direito de defesa.
- Exige-se fundamentação no despacho que rejeita a
queixa ou a denúncia, silenciando a lei quanto à hipótese de
recebimento de denúncia. Exegese do art. 516 do CPP.
- O despacho de recebimento da denúncia não contém
carga decisória, tendo a natureza de decisão interlocutória simples
que, na sistemática processual vigente, dispensa fundamentação,
não gerando preclusão quanto a regularidade da peça exordial.
- Recurso ordinário desprovido. (RHC 7927 – MG, 6ª
Turma, Rel. Min. Vicente Leal, j. 29/10/1998, D.J.U. de
14/12/1998, p. 00304).

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MODELO

MODELO ANTIGO – TRATA-SE DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO – VALE


POR SEUS ENSINAMENTOS DOUTRINÁRIOS.

NÃO FOI LOCALIZADO O RESULTADO

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO


EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO.

O PROCURADOR GERAL DE JUSTIÇA, nos


autos do habeas corpus n. 53.108-3/7, da comarca de São Paulo (22ª
Vara Cível) , em que figuram como impetrantes os advogados Tales
Castelo Branco e Nilo Entholzer Ferreira, sendo paciente PAULO C., com
fundamento no artigo 119, III, alínea “d”, da Constituição Federal, nos
artigos 1º e seguintes da Lei n. 3.396/58, e , na forma dos artigos 321 e
seguintes do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, vem
interpor RECURSO EXTRAORDINÁRIO para o Pretório Excelso, contra o
V. Acórdão de fls. 159/163, pelos motivos adiante deduzidos.

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1. A HIPÓTESE DOS AUTOS.

O paciente PAULO C., advogado da firma


SABARÁ SUPERMERCADO DE ALIMENTOS LTDA, cuja falência foi
declarada pelo Juízo da 22ª Vara Cível da comarca da capital, foi
denunciado, juntamente com outras pessoas, diretores ou de qualquer
forma ligados à empresa, como incurso nos artigos 187, 186, VI e VII e
188, III e VIII, da Lei de Falências (fls. 21/28). Irresignado com o
recebimento da denúncia nos respectivos autos de inquérito judicial,
aforou aquele o presente habeas corpus, sustentando ter sofrido
cerceamento de defesa, inépcia da vestibular acusatória e ausência de
fundamentação do despacho que recebeu a denúncia.

A C. Terceira Câmara Criminal dessa E. Corte


rejeitou as duas primeiras alegações, mas acolheu a última, decretando a
nulidade do processo e declarando extinta a punibilidade do réu pela
fluência do lapso prescricional. Para tanto, assinala a Douta Turma
Julgadora:

“Já no que se refere


ao despacho de recebimento da denúncia ,
deve ser atendido.
Consta de referido
despacho: “Os elementos carreados ao
inquérito judicial justificam os termos da
denúncia apresentada...” (fls. 29 e 257 do
apenso).
Como se verifica,
não aponta os elementos do inquérito,

Compilação: Perseu Gentil Negrão 6


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sendo vago e impreciso, podendo ser


adaptado a qualquer inquérito judicial.
Acontece que nos
termos do art. 109, § 2º da Lei de Falências,
o juiz ao receber a denúncia deve fazer em
despacho fundamentado. Quanto ao
paciente, desde que não era falido e nem
representante da falida, não apontado pelo
síndico em qualquer momento como co-
autor, ou antes pelo Dr. Curador, estava a
exigir do Magistrado pelo menos um
mínimo de fundamentação com base em
indícios ou provas constantes daquele
inquérito”.

Após transcrever a ementa de dois arestos


desse mesmo entendimento, finaliza o eminente Desembargador Relator
do acórdão recorrido:
” No caso, sendo o
paciente colhido de surpresa com a
denúncia oferecida e com um despacho
genérico, sem fundamentação, ficou
dificultada sobremaneira a sua defesa, pois
não se sabe como combater a acusação
que lhe foi feita.
Tem-se, portanto,
que o despacho não obedeceu a exigência
legal, contrariou a Súmula n. 564 do

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Pretório Excelso e deu ensejo à nulidade


por dificultar a defesa do paciente.
Daí por que
concede-se a ordem para anular o
processo, com referência ao paciente,
desde o despacho que recebeu a denúncia.
Em vista disto
observa-se que ocorreu a prescrição.
Constata-se que a
falência da firma ocorreu em 2 de março de
1983 e até hoje fluiu o prazo de quatro anos
necessário, dois para o encerramento da
falência e mais dois que é o prazo
prescricional estabelecido na Lei de
Falências, artigos 132, parágrafo único e
199, parágrafo único.
Destarte, julga-se
extinta a punibilidade de Paulo C. em face a
prescrição da ação” (fls. 162/

Data máxima venia, os ínclitos


Desembargadores assim decidindo afastaram-se de firme orientação
fixada pela Suprema Corte, segundo a qual não se exige, no tema, que a
decisão que recebe a denúncia explicite todos os motivos que levaram
seu prolator a acolher, provisoriamente, a acusação deduzida na peça
preambular da ação penal; e também de V. acórdão do Tribunal de
Justiça do Paraná.

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É certo que o artigo 109, § 2º , da Lei de


Quebras exige que seja fundamentado o despacho que recebe a
denúncia. Também não se negaria que a Súmula 564 do C. Supremo
Tribunal erige em causa de nulidade processual a “ausência de
fundamentação do despacho de recebimento de denúncia por crime
falimentar”.

Mas o que parece intuitivo é que a exigência


legal e sumular volta-se no sentido de que o juiz externe a sua convicção
de que os termos da acusação ajustam-se aos elementos fáticos do
inquérito judicial.

Na espécie, assim se pronunciou o Dr. Juiz de


Direito:
“Fls. 232 e s.
Os elementos
carreados ao inquérito judicial justificam os
termos da denúncia apresentada, pelo que
os fatos devem ser apreciados em
competente processo criminal.
Em vista disso,
recebo a denúncia ...”(fls. 29).

Vê-se, portanto, que o Magistrado cumpriu a


determinação legal, patenteado, ainda que de forma sucinta, haver
examinado os elementos oferecidos pelo inquérito e atestando sua
acomodação à denúncia.

2. O DISSENSO JURISPRUDENCIAL.

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Não há confundir fundamentação sintética com


ausência de fundamentação.
Como chegou a decidir o C. Supremo Tribunal Federal:

“Denúncia por
crime falimentar.
Somente é nulo o
despacho de recebimento da denúncia, se
há ausência de fundamentação, que é o
mesmo que fundamentação nenhuma (RHC
59.654-l - SP - 2ª T - Min. FIRMINO PAZ - DJU
48:1865 - 12.03.82).

Em outra oportunidade, deixou assentado a mesma Corte:

“Quando o § 2º do
art.109 da Lei de Falências (Decreto-Lei n.
7.661/45) exigiu, para o recebimento da
denúncia, ou queixa, despacho
fundamentado, objetivou, obviamente, levar
o Juiz a examinar os fundamentos da
imputação da prática dos delitos previstos
na Lei, para que formasse sua convicção,
expressando-a no despacho, para que não
se limitasse a encaminhar os autos ao Juízo
criminal sem prévio juízo de
admissibilidade. Simples juízo de
admissibilidade - tem-se salientado - não

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há, desta forma, exigir que se esmere sem


demonstrar todos os motivos daquela
convicção. Basta que se exprima de modo a
não deixar dúvidas quanto a esses
fundamentos, para que o denunciado esteja
apto a defender-se”(RTJ 105:597).

Ainda recentíssimamente, voltou a proclamar o


mais elevado Pretório; espancando quaisquer objeções:

“Não é de se ter
como desfundamentado o despacho de
recebimento da denúncia por crime
falimentar “(art. 109, §2º da Lei de
Falências) se nele ficou declarado que as
provas colhidas no processo apontavam
fatos que se configuram como crimes, em
tese. Desnecessário repetir o que já se
encontrava declarado na denúncia” (RHC n.
63.528-8 - SP - 2ª T - Min. ALDIR
PASSARINHO - DJU de 5.09.86, p. 15.832).

Assim também assentou a C. 1ª Turma do ª Sodalício:

“Falência. Inquérito
judicial. Denúncia. Recebimento. Intimação
do falido. Prazo. O prazo de cinco dias
estatuído no art. 106 da Lei de Falências é
peremptório, contínuo e transcorre em

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cartório, independente de publicação ou


intimação do falido.
Desacolhida dos
fundamentos de que a denúncia é inepta,
pois descreve com precisão fatos
reputados delitos falimentares, e de que
insubsistente o despacho de recebimento
da denúncia, pois, embora sucinto, tem
fundamentação suficiente, o quanto basta a
um simples juízo de delibação”(RHC n.
61.028-5 - SP - 1ª in. RAFAEL MAYER - RT
579/417).

3. Julgado recorrido destoa, ainda, de decisão


proferida pelo E. Tribunal de Justiça do Paraná, que ostenta a seguinte
ementa:

“O prazo previsto
pelo art. 106 da Lei de Falências corre
imediatamente ao ato anterior,
independentemente de publicação e
intimação. É contínuo e peremptório.
A concisão do
despacho de recebimento da denúncia, em
crime de natureza falimentar, não incorre
em ausência de fundamentação exigida
pelo art. 109, § 2º, do estatuto falimentar,
pois que ela pode estar presente, embora

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sem maiores considerações, além das


necessárias.
Quando dos autos
exsurge convencimento referente à
existência de crime em tese, não há como
se a tender ao pedido de trancamento da
ação penal, pois esta é justamente o
instrumento próprio para sua apuração”(HC
n. 187/81 - Palmas - Grupo de Câmaras
Criminais - Des. ARMANDO CARNEIRA - RT
562/361).

Nítido, dessarte, o estreito paralelismo entre a


hipótese dos autos e as retratadas nos julgados trazidos a confronto. Em
todas ficou bem delineado que denúncia oferecida em processo crime
falimentar fora recebida pelo juiz sem dilatada motivação. Todavia,
enquanto que para o acórdão recorrido tal despacho, porque sucinto, foi
passível da decretação de nulidade, os demais arestos firmam
entendimento diverso, de que mesmo sintético, não padece de tal vício.

4. Finalmente, considere-se, insubsistente, com a


devida vênia, o argumento aceito pela douta Turma Julgadora, no sentido
de que o despacho em tela, por seu laconismo, teria prejudicado,
sensivelmente a defesa do imputado “pois não se sabe como combater a
acusação que lhe foi feita”.

O prejuízo defensório não se presume em


matéria criminal, impondo-se a sua demonstração para que possa
acarretar efeitos tão extremados como os resultantes da decisão

Compilação: Perseu Gentil Negrão 13


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recorrida. Depois, sabendo-se que o denunciado é advogado, falencista,


que vinha representando a firma antes da decretação de sua quebra,
surge inteiramente descalça de lógica a conclusão de que pudesse ser
surpreendido como os termos da imputação ministerial. Mesmo porque
está sendo responsabilizado em co-autoria, precisamente pela orientação
e outras formas de auxílio que, como profissional, prestou aos falidos,
segundo bem o descreve a denúncia, peça que não lhe seria dado
ignorar.

5. Em face de todo o exposto, bem demonstrada a


divergência jurisprudencial, aguarda esta Procuradoria-Geral de Justiça o
processamento do presente recurso extraordinário, a fim de que,
conhecido pela C. Suprema Corte, mereça provimento para que, cassado
o V. acórdão agravado, seja mantida a decisão de primeiro grau que
recebeu a denúncia ofertada contra o recorrido, afastando-se a prescrição
declarada pela E. Câmara Criminal.

SÃO PAULO, 14 DE AGOSTO DE


1987

CLÁUDIO FERRAZ DE ALVARENGA


PROCURADOR GERAL DE JUSTIÇA

ALCYR MENNA BARRETO DE ARAÚJO


PROCURADOR DE JUSTIÇA

Compilação: Perseu Gentil Negrão 14

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