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Combate contra a Participação do Sector

Privado na Corrupção
em Moçambique

Ferramentas
Tradução livre

31 de Agosto de 2006

O projecto foi patrocinado pelo


Center for International Private Enterprise em Washington, D.C.

E preparado com a assistência da


SAL, Observatório de Administração Pública
Conteúdo

1. Introdução
2. Ferramentas
¾ Ferramenta 1 - Meios Legais de Combate Contra a Corrupção
¾ Ferramenta 2 - Contactos úteis
¾ Ferramenta 3 - Código de Ética para Trabalhadores
¾ Ferramenta 4 - Código de Ética para Fornecedores
¾ Ferramenta 5 - Código de Conduta nos Negócios
¾ Ferramenta 6 - Casos de Estudo para Formação de Discussão
3. Relatório das mesas-redondas
¾ Introdução
¾ Temas-chave
¾ Estudos de Casos
¾ Instrumentos
¾ Próximos passos
¾ Apontamentos detalhados
4. Lei contra corrupção
5. Estratégia nacional contra corrupção
6. Documento original de discussão
¾ Sumário Executivo
¾ Introdução
• Estrutura e objectivo do relatório
• Corrupção em Moçambique
• O projecto
• ACIS
• CIPE
¾ Tipos de Corrupção
• Definições Tradicionais
• Definições Específicas de Moçambique
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¾ A experiência do sector privado
• Experienciais de corrupção
• Impacto da corrupção
• Formas de combate à corrupção
• Casos de estudo
¾ Análise do sector privado & corrupção em Moçambique
• Linhas Gerais da Estratégia Anti-corrupção
• Pesquisa Nacional sobre Governação e Corrupção
• Estudo sobre o Ambiente de Negócios em Moçambique
• Estudo sobre o Ambiente de Investimentos de Inhambane
• Estudo sobre a Corrupção da Ética Moçambique
¾ Convenções Internacionais
• OECD
• Nações Unidas
• União Africana
• Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral
• Transparency International
• Sumário
¾ Iniciativas Internacionais
• Iniciativas Apoiadas pela Transparency International
• Auditorias de Transparência
• Auditorias de Corrupção
• Códigos de Princípios Empresariais
• Ilhas de Integridade
• Sumário
¾ Tabelas Comparativas
• Geral
• Especificidades do Sector Privado
¾ Conclusões & Recomendações
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¾ Anexos
• Definição de Corrupção do Banco Mundial
• Guião para as Entrevistas
• Revisão da legislação existente
o Anti-corrupção
• Modelo de factura de IVA legal

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1. INTRODUÇÃO

Na sequência de um inquérito aos membros em 2004, A Associação Comercial e


Industrial Sofala (ACIS) identificou a corrupção como um dos maiores problemas que
afectam os seus membros, e consequentemente, o desenvolvimento económico e de
negócio em Moçambique. Em parceria com o Centro Internacional para o
Empresariado Privado (CIPE), em Agosto de 2005, a ACIS embarcou num projecto de
12 meses que tem como objectivo encontrar formas de combater a participação do
empresariado na corrupção em Moçambique.

O projecto foi levado ao cabo em três fases. A primeira fase incluiu pesquisa e
desenvolvimento de um documento de discussão. A segunda fase foi um debate
extensivo baseado no documento elaborado e nas experiências do sector privado em
todo o país. A terceira fase culminou com a publicação desta kit de ferramentas, que se
destina a ajudar o sector privado na sua luta contra a corrupção.

A luta contra a corrupção é contínua. Para que esta tenha sucesso, há necessidade de
uma discussão e debate contínuos, bem como acção concreta. De modo a continuar a
contribuir para este debate o documento no qual a discussão da ACIS com o sector
privado se baseou, e o sumário das sínteses de discussão estão inclusas como parte desta
kit de ferramentas. A kit de ferramentas também contém a Lei e Estratégia Anti-
corrupção promulgada pelo Governo.

Como sempre, a ACIS acolhe de bom senso os comentários e pensamentos daqueles


que lêem este relatório, e espera que o divulguem a quaisquer outras pessoas que
estejam interessadas.

A ACIS toma esta oportunidade para observar que a opinião dada nos documentos de
discussão desenvolvidos como parte do projecto não é necessariamente a da associação
ou seus membros individuais. Este projecto reflecte o desejo do sector privado em
Sofala de provar que é transparente e ávido interlocutor na material. A ACIS crê que
ao exigir que o governo combata a corrupção e ao reivindicar o cumprimento da
estratégia anti-corrupção pelo próprio governo, o sector privado deve provar que está
também preparado para se comprometer àquela luta.

A ACIS gostaria de agradecer as seguintes organizações e indivíduos sem os quais o


projecto não teria sido possível:
¾ CIPE pelo seu apoio e encorajamento durante o projecto;
¾ SAL&Caldeira Observatório da Administração Pública;
¾ Todos os agentes dos sectores público e privado, bem como os parceiros da
Cooperação Internacional em Moçambique que participaram activamente no
diálogo e debate;
¾ Os membros da ACIS pelo seu cometimento, interesse e apoio.

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Toda a documentação está disponível em forma de CD-ROM, para ser extraída da
internet e em cópia imprimida mediante solicitação. As ferramentas são livres dos
direitos de cópia. Se escolherem usá-los nós gostaríamos de ouvir de vossas
experiências, para permitir-nos actualizá-las se for necessário.

Esperamos que esta caixa de instrumentos seja útil para você. Favor de enviar seus
comentários, quer no formulário de comentários que se encontra no fim deste
documento ou via correio normal, correio electrónico ou fax para o seguinte endereço:
Caixa Postal 07
Beira
Fax/Tel: (258) 23 325997
Mail: acisofala@tdm.co.mz
Toda a correspondência será tratada confidencialmente.

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2. FERRAMENTAS

FERRAMENTA 1 - MEIOS LEGAIS DE COMBATE CONTRA A CORRUPÇÃO

A Lei nº 6/2004 de 17 de Junho que introduz mecanismos complementares de combate


à corrupção permite à entidades ou pessoas interessadas (que não façam parte do
aparelho do Estado moçambicano) algumas possibilidades de participarem no combate
contra a corrupção, nomeadamente:

Por via de um pedido de indemnização por danos


• Facto gerador – A Lei nº 6/2004 de 17 de Junho estabelece no nº 2 do seu art.
3º, o direito à indemnização por danos (lesão do património ou do interesse
público ou privado) oriundos da acção ou omissão praticadas por dirigentes ou
funcionários do Estado.

• Pessoas obrigadas a indemnizar – O pedido de indemnização é dirigido contra os


dirigentes ou funcionários do Estado que, por motivos de corrupção ou
participação económica ilícita, tenham praticado os actos ou omissões geradoras
da lesão ao património ou do interesse público ou privado. O pedido pode ainda
ser deduzido contra o Estado Moçambicano, uma vez que este responde
solidariamente com o funcionário ou dirigente por danos causados aos
particulares por actos ilegais praticados no exercício das suas funções pelos seus
agentes, nos termos do nº 2 do art. 58º da Constituição da República de 2004.

• Forma e combate contra a corrupção – Tanto o Ministério Público (em


representação do Estado, quando os bens ou interesses públicos tenham sido
lesados) como o particular podem requerer a indemnização por danos causados
por dirigentes ou funcionários do Estado. Os particulares podem ainda pedir
indemnização ao Estado por actos dos seus agentes. Esta faculdade pode ser
usada para criar maior responsabilidade por parte dos dirigentes estatais no
sentido de incrementarem o combate contra a corrupção nas repartições, uma
vez que a despesa pública pode aumentar em consquência do pagamento de
indemnizações por actos ilícitos de funcionários e dirigentes públicos.

• A acção para a efectivação de responsabilidade civil (indemnização) por danos é


proposta contra o agente público e o Estado no Tribunal Administrativo, a todo
o tempo pelo lesado (alínea b) do artigo 98º, conjugado com o artigo 99º e 102º,
todos da Lei do Contencioso Administrativo – Lei nº 9/2001 de 7 de Julho). O
processo tem duração variada, conforme o Tribunal esteja ou não
sobrecarregado. As cutas do processo são as seguintes (Tabela de Custas do
Tribunal Administrativo, aprovada pelo Decreto nº 28/96 de 9 de Julho):
o Preparos – 150 000,00MT;

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o Custas – pagas pela parte vencida que não estiver isenta, entre o mínimo de
50.000,00MT e o máximo de 10.000.000,00MT, mediante fixação pelo
Tribunal que tomará em atenção a importância da causa e as possibilidades
de quem tenha de as pagar.

Por via do controlo da apresentação da declaração de bens


• Obrigação de declarar bens – todos os titulares de cargos públicos com
competência decisória no aparelho do Estado, nas autarquias, nas empresas e
instituições públicas, e os representantes do Estado nas empresas privadas por ele
participadas, são obrigados a apresentar a sua declaração de bens (imóveis,
móveis e semoventes, dinheiro, títulos e acções localizados no país e no exterior)
antes da tomada de posse, devendo actualizá-la anualmente e na data em que o
deixar o cargo. A declaração deve ser depositada em arquivo próprio do serviço,
o qual estará a guarda do superior hierárquico do serviço respectivo do Estado,
do presidente da autarquia e do presidente do Conselho de Administração ou
entidade equiparada das empresas e instituições públicas (art. 4º da Lei nº
6/2004 de 17 de Junho, conjugado com o art. 3º do Decreto nº 22/2005 de 22 de
Junho).

• Forma de combate contra a corrupção – Embora a declaração de bens tenha


carácter secreto, os doadores podem introduzir formas de controlo da sua
apresentação e actualização, através da inclusão da tarefa de verificação nas
obrigações dos seus fiscais ou da exigência de uma certificação pelas instituições
receptoras dos fundos de que todos os seus dirigentes depositaram a declaração,
uma vez que em caso de suspeita de corrupção a declaração pode constituir um
dos elementos importantes de prova e pode ser requisitada pelas entidades
responsáveis pela investigação.

Por via de recurso de actos administrativos

• Dever de fundamentar os actos administrativos – Os actos administrativos que,


total ou parcialmente, neguem, extingam, restrinjam ou afectem direitos ou
imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções, afectem interesses
legalmente protegidos, decidam reclamações ou recursos, decidam em contrário
da pretensão ou oposição formulada por interessado, ou de parecer, informação
ou proposta oficial, decidam de modo diferente ou na interpretação e aplicação
dos mesmos preceitos legais e impliquem revogação, modificação ou suspensão
de acto administrativo anterior devem ser expressamente fundamentados (com
indicação clara dos motivos de facto e de direito que estiveram por trás da
decisão). A lei prevê ainda a faculdade dos interessados requererem, para efeitos
de impugnação, a redução a escrito da fundamentação de actos orais, a qual
deverá ser remetida ao requerente no prazo de sete dias (art. 5º da Lei nº 6/2004
de 17 de Junho).
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• Forma de combate contra a corrupção – O dever de fundamentação dos actos
administrativos limita as possibilidades de um funcionário ou dirigente que se
deixem corromper tomar decisões contrárias às normas legais e possibilita aos
interessados o recurso (hierárquico ou contencioso) destas para outras instâncias,
impugnando os fundamentos invocados para a tomada da decisão. Ora, se a
decisão prejudicial tiver sido tomada por consequência de acto corrupto, o
recurso a uma instância diferente da que tomou a decisão pode resultar na
alteração da referida decisão, tornando de nenhum efeito o acto corrupto que a
motivou.

• O recurso contencioso com vista à declaração de anulabilidade, nulidade e


inexistência jurídica de actos administrativos é interposto no Tribunal
Administrativo artigos 26 e seguintes da Lei do Contencioso Administrativo –
Lei nº 9/2001 de 7 de Julho .

• Os prazos de interposição do recurso são os seguintes(artigos 30º e 31º da Lei do


Contencioso Administrativo – Lei nº 9/2001 de 7 de Julho):
o Recurso dos actos nulos ou juridicamente inexistentes – a todo o tempo.
o Recurso de actos anuláveis – 90 dias contados da data da publicação, quando
esta seja obrigatória, ou da data da efectiva notificação, no caso inverso,
salvo nos casos de indeferimento tácito em que o prazo é de 1 ano, contados
a partir da data do termo do prazo legal sem que tenha havido decisão.
Quando o acto seja expresso e dispense (legalmente) publicação ou
notificação, a contagem inicia a partir da data da prática do acto, quando seja
um acto oral praticado na presença do interessado ou no dia do
conhecimento efectivo ou presumido do acto ou do início da sua execução,
nos restantes casos.

• O processo tem duração variada, conforme o Tribunal esteja ou não


sobrecarregado.

• Os custos do processo são as seguintes (Tabela de Custas do Tribunal


Administrativo, aprovada pelo Decreto nº 28/96 de 9 de Julho):
o Preparos – 25 000,00MT;
o Custas – pagas pela parte vencida que não estiver isenta, entre o mínimo de
50.000,00MT e o máximo de 10.000.000,00MT, mediante fixação pelo
Tribunal que tomará em atenção a importância da causa e as possibilidades
de quem tenha de as pagar.

Por via do procedimento administrativo ou criminal

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• Iniciativa de procedimento – a iniciativa do procedimento criminal ou
administrativo pode ser tomada por qualquer pessoa, que pode fazê-lo por meio
de requerimento que contenha informações sobre os factos, os autores e as
provas conhecidas, o qual pode ser assinado ou anónimo e deve ser dirigido à
competente autoridade administrativa, policial e ao Ministério Público, que
prosseguirão com os termos ulteriores do processo (art. 12º da Lei nº 6/2004 de
17 de Junho).

• Forma de combate contra a corrupção – Esta faculdade conferida pela lei


permite a qualquer pessoa (ofendido, lesado, simples interessado, etc.)
desencadear o processo de investigação e punição dos autores de actos corruptos
de que tenham conhecimento. Para além desta faculdade, o denunciante ou
qualquer pessoa podem ter uma participação activa no processo crime, devendo
para tal constituir-se como assistentes, quando se trate de crime de corrupção,
podendo formular acusação independente da do Ministério Público (MP) ainda
que este se tenha abstido de acusar, intervir directamente na instrução
contraditória, oferecendo provas e requerendo ao juíz diligências convenientes,
recorrer do despacho de pronúncia definitiva e da sentença ou despacho que
ponha termo ao processo, mesmo que o MP não o tenha feito (nº 5 do art. 4º do
Decreto-Lei nº 35007).

• O processo tem duração variada, conforme o Tribunal esteja ou não


sobrecarregado.

• No processo-crime, a parte acusadora (que se tenha constituído assistente e tenha


deduzido acusação), se desistir depois de ter deduzido a acusação ou decair
inteiramente em qualquer recurso que interponha ou se o Réu for absolvido,
pagará o imposto que o Tribunal arbitrar dentro dos limites estabelecidos para o
processo correspondente à infracção mais grave que acusava e em que decaiu,
tendo em atenção a sua situação material (parágrafo 3º do artigo 144º e artigo
151º do Código das Custas Judiciais, aprovado pelo Decreto nº 48/89 de 28 de
Dezembro, com a redacção conferida pelo Decreto nº 14/96 de 21 de Maio):
o Processo de querela – de 20.000,00MT a 800.000,00MT;
o Processo de polícia correccional – de 10.000,00MT a 400.000,00MT;
o Processos-crime cometidos contra a segurança do Estado, ou contra a
economia nacional – 25.000,00MT a 100.000,00MT;

• O procedimento administrativo carece apenas de participação perante o superior


hierárquico do funcionário infractor e não tem custos para o participante, nos
termos estabelecidos pelo Estatuto Geral dos Funcionários do Estado.

Por via do exercício do direito de petição à Assembleia da República

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• Direito de petição – Qualquer cidadão moçambicano tem o direito de petição
nos termos do artigo 79º da Constituição da República, podendo actuar
individual ou colectivamente através de exposição à AR do seu ponto de vista
sobre determinado assunto (incluindo casos de corrupção), com vista a
apreciação, ponderação ou revisão de determinada medida ou ainda denúncia de
irregularidades e anomalias, nos termos da alínea d) do art. 2 da Lei n.º 2/96, de
4 de Janeiro, “regulamenta e disciplina o direito de apresentar petições, queixas e
reclamações perante autoridade competente”.

• O exercício do direito de petição está livre de quaisquer pagamentos de taxas e


não está sujeito a qualquer processo específico, devendo apenas a petição ser
feita por escrito e conter a assinatura dos seus autores ou do respectivo
representante e endereçadas ao Presidente da Assembleia da República (artigos
7º, 8º e n.º 1 do artigo 13º da Lei n.º 2/96, de 4 de Janeiro), não devendo ser
ilegal, carecer de fundamento, pôr em causa decisões judiciais ou actos
administrativos que não admitem recursos, devendo ainda estar dentro do prazo
legal de prescrição do direito.

• O direito de petição exercido perante a Assembleia da República está sujeito ao


prazo que a Comissão Permanente determinar para a emissão do parecer, sendo
igualmente ajustado ou prorrogado a pedido da Comissão competente ou nos
casos em que as Comissões estejam muito ocupadas por causa das Sessões
plenárias ( artigos 10º e 14º da Lei n.º 2/96, de 4 de Janeiro).

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FERRAMENTA 2 - CONTACTOS ÚTEIS

GABINETE CENTRAL DE COMBATE À CORRUPÇÃO

¾ Maputo, Av. Ahmed Sekou Tore, n.º 2318


Tel.: 21 310396; Fax:

¾ Beira, Av. Eduardo Mondlane, n.º 474


Tel.: 23 324183; Fax:23 324183

¾ Nampula, Rua das Transmissões, n.º 5


Tel.: 26 212925; Fax: 26 212925

PROCURADORIA PROVINCIAL DA REPÚBLICA

¾ Inhambane, Av. da Independência


Tel.: 20396/ 20500/ 20589 20641

¾ Gaza, Rua do Hospital


Tel.: 25546; Fax: 25772
E-mail.: procprovgaza@teledata.mz

¾ Cabo Delgado, Av. 16 de Junho


Tel.: 20631/ 20448/ 21199

¾ Manica, Av. 25 de Setembro


Tel.: 23508/ 24603

¾ Niassa, Rua Mabalane e Rua Tunduro


Tel.: 21355/ 20549

¾ Tete, Av. Liberdade


Tel.: 24441/ 23142/ 22566

¾ Zambézia, Av. Josina Machel


Tel.: 212473/ 215380; Fax: 212473

POLÍCIA DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE

¾ Maputo – 21 325031

¾ Matola – 21 780279

¾ Inhambane – 199 / 30017 / 20830


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¾ Gaza – 25364 / 25310

¾ Sofala – 199 / 23 324705

¾ Manica – 22213 / 62049

¾ Zambézia – 119 / 213131/ 212737/ 212130/212547

¾ Tete – 119 / 23468/ 24207/ 82090

¾ Nampula – 199 / 213759 / 526845

¾ Cabo Delgado – 197 / 20223

¾ Niassa – 119 / 20829

POLÍCIA DE INVESTIGAÇÃO CRIMINAL – PIC

¾ Maputo – 21 322914\21322916\21322918\21322920

¾ Sofala – 23 329770

¾ Zambézia – 212588

¾ Tete – 24123

¾ Niassa – 20330

LINHAS VERDES DE ENTIDADES PÚBLICAS E PRIVADAS

¾ Linha Verde do Ministério do Interior – 800000119

¾ Linha Verde da Procuradoria-geral da República - 82 76 54920

¾ Linha Verde da Procuradoria Provincial de Sofala – 23 324444

¾ Linha Verde das Alfandegas de Moçambique – 800 000 800

ENTIDADES PRIVADAS

¾ Ética Moçambique
Maputo, Av. Vlademir Lenine, n.º 2984, CP 559
Tel.: 21 418200 \ 21415061
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e-mail: etica-mocambique@tvcabo.co.mz
Linha Verde da Ética Moçambique – 800 800 900

¾ Centro de Integridade Pública – CIP


Maputo Av. Vlademir Lenine, 1447 2º andar E
Tel.:823003329
Email: cipmoz@tvacbo.co.mz

ASSOCIAÇÕES

¾ Associação Comercial e Industrial de Sofala – ACIS


Av. Poder Popular 264, Prédio de AMI, 5º Andar, Beira
CP 07
Tel.: 23 325997
E-mail: acisofala@tdm.co.mz

¾ Confederação das Associações Económicas de Moçambique – CTA


Rua da Castanheda, n.º 120, Maputo
Tel: 21 491964/14/ 21 493089;
Fax: 21493094
E-mail: info@cta.org.mz

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FERRAMENTA 3 - CÓDIGO DE ÉTICA PARA TRABALHADORES

Sofala, ____ de Junho de 2006

Introdução

Com o presente Código de Ética para Trabalhadores (abreviadamente, designado


apenas de o “Código”), a empresa pretende garantir que os seus trabalhadores adiram a
um comportamento ético e responsável no desenvolvimento das suas actividades, em
especial, nas relações mantidas com os seus clientes, fornecedores, Administração
Pública, colegas de trabalhos, superiores e a sociedade em geral, tendo sempre presente
que das suas acções depende a reputação da empresa. Portanto, pretende-se que os
trabalhadores desenvolvam um comportamento que tenha em conta não apenas o que é
legal, mas também, o que é eticamente certo ou correcto.

O presente Código não poderá abarcar todas as situações onde é exigido um


comportamento transparente, ético e profissional de cada trabalhador, mas deixa a ideia
geral dos princípios ou política que a empresa pretende que sejam seguidos e
respeitados.

1. Finalidade

O presente Código tem por finalidade realçar os valores e princípios defendidos pela
empresa, de forma a conquistar a confiança nas relações que esta desenvolve, através
dos seus trabalhadores, zelando por uma imagem e reputação íntegra na sua actuação.

2. Âmbito

O presente Código aplica-se e é vinculativo aos trabalhadores e colaboradores da


empresa, incluindo, os consultores, pessoal suplementar e todos os outros que se
relacionam com a empresa numa relação laboral ou de prestação de serviços (todos
designados apenas de “trabalhadores”).

3. Princípios Gerais

Os trabalhadores comprometem-se a respeitar, na sua actuação, os seguintes princípios


gerais:

a) Transparência: manter um fluxo de informações completas, claras e verdadeira


em todos os negócios, transacções ou revelações;
b) Integridade: zelar por uma concorrência justa;
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c) Profissionalismo: comportamento e postura digna, igualitária e dentro das suas
funções;
d) Imparcialidade: não discriminação ou preferências, seja por que motivo for que
não sejam os critérios lógicos determinados pela empresa na selecção dos seus
fornecedores, entre outros;
e) Honestidade: assegurar que todo o negócio ou transacção seja claro, com
registos que transmitam confiança a outra parte;
f) Respeito: desenvolver um comportamento justo, sensível e com consideração
dos direitos individuais e colectivos em causa.

4. Obrigações dos Trabalhadores:

Os trabalhadores encontram-se obrigados a:

a) Cumprir a legislação em vigor, bem como, a política e normas internas da


empresa;
b) Respeitar a confidencialidade das informações e proteger os dados fornecidos
pelos clientes contra usos não acordados ou ilegais;
c) Não promover junto aos clientes publicidade ilícita ou enganosa na
comercialização dos produtos ou serviços da empresa;
d) Proporcionar informação verdadeira, clara, precisa e completa, dentro das suas
funções e responsabilidades;
e) Conservar e usar eficientemente os activos, instalações, equipamentos e serviços
da empresa, não os desviando para benefício ou uso pessoal;
f) Manter a transparência e integridade em todos os negócios ou transacções da
empresa;
g) Zelar por um bom ambiente de trabalho, evitando desrespeito, descriminação e
descortesia entre colegas de trabalho, ameaças ou coacções de qualquer espécie;
h) Não promover ou praticar assédio sexual de qualquer natureza;
i) Não aceitar ou oferecer subornos, incluindo presentes que pelo seu valor possam
dar lugar ao surgimento de obrigações posteriores;
j) Não usar ou divulgar informações da empresa para fins não autorizados por esta;
k) Não usar os equipamentos informáticos da empresa para divulgação de mensagens
de índole política ou comercial, alheios às actividades da empresa, nem para troca
de mensagens pornográficas, vírus, cópias com violação dos direitos de autores,
difamação de quaisquer personalidades; entre outros actos ilícitos, ilegais ou
considerados imorais pela empresa;
l) Informar as entidades responsáveis na empresa ou aos gestores/directores desta
sobre actos incorrectos ou anti-éticos, sejam em clara violação do presente Código
ou não;
m) Zelar pelo cumprimento integral do presente Código, socorrendo-se da empresa
para o esclarecimento de quaisquer dúvidas que este suscitar, ou de actos que
julgue que possam se enquadrar em alguma conduta anti-ética aqui tratada.
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5. Interesses Conflituantes

5.1. Os trabalhadores têm o dever de evitar as situações de conflitos de interesse, sejam


reais ou eventuais, ou, caso estes se mostrem inevitáveis, comunicar à gerência
sobre a situação, devendo esta por escrito declarar se permite ao trabalhador
prosseguir com o negócio, transacção ou o acto que estiver em causa, ou tomar
outra medida que achar mais adequada.

5.2. Existirá interesse conflituante, sempre que existir um interesse pessoal do


trabalhador, seja de natureza directa ou indirecta, que possa interferir na
objectividade do desempenho ou cumprimento das suas funções ou que possam
interferir nos interesses da empresa.

5.3. Inclui-se na situação de conflito de interesses, o uso de consultores ou outros


prestadores de serviços que consultam ou prestam serviços para empresas
concorrentes, devendo esta situação ser devidamente comunicada nos termos no
número anterior para se evitar ou prevenir a divulgação de informações
confidenciais da empresa.

6. Pagamentos de Favor, Subornos e Comissões

6.1. Os trabalhadores não devem oferecer ou receber pagamentos, subornos ou


comissões, de qualquer natureza ou forma, em troca de obtenção ou prestação de
favores, seja em relação a funcionários da Administração Pública ou a membros
do Governo, seja em relação a quaisquer outros terceiros de quem a empresa
necessita de receber ou oferecer algum serviço ou produto.

6.2. Não se consideram pagamentos de favor ou subornos, nos termos referidos no


número anterior, as ofertas/pagamentos por comemoração de dias festivos ou
outros em que tal procedimento seja claramente justificado, devendo sempre, a
oferta ou pagamento em causa, ser feito em conformidade com os procedimentos
da empresa e com autorização expressa e por escrito do responsável ou do
gestor/director da mesma.

6.3. Na aceitação de presentes/ofertas, justificais nos mesmos termos descrito no


número anterior, os trabalhadores deverão considerar se os mesmos poderão ou
não interferir indevidamente em alguma relação ou decisão comercial, seja real ou
eventual. Na possibilidade de ocorrência de alguma interferência, a gerência ou
entidade responsável da empresa deve ser comunicada para dar o seu parecer.

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7. Responsabilidades dos Trabalhadores

7.1. Todos os trabalhadores assumem a responsabilidade de actuar de acordo com a


conduta ética desenvolvida no presente Código, comprometendo-se desde já a
responder por quaisquer violações ao mesmo, seja disciplinar ou, se tal se aplicar e
se justificar, civil e/ou criminalmente.
7.2. Todos os trabalhadores concordam que, o respeito do estipulado no presente
Código é uma condição imposta para a manutenção do posto de trabalho.

8. Responsabilidade da Empresa

8.1. A empresa, através dos seus gestores, directores ou quem para tal tiver sido
indicado, é responsável em fiscalizar o cumprimento do presente Código,
devendo igualmente promover um adequado e completo conhecimento do
mesmo por parte de todos os seus trabalhadores.

8.2. A empresa deve comunicar a todas as entidades com as quais mantém relações no
âmbito das suas actividades, a vinculação dos trabalhadores ao presente Código e,
incentivar aquelas a colaborarem denunciando os comportamentos anti-éticos ou
ilegais que detectem, garantindo o máximo de sigilo, quando tal for solicitado
pelo denunciante.

ANEXO
DECLARAÇÃO DE ACEITAÇÃO E COMPROMISSO COM O CÓDIGO DE
ÉTICA DOS TRABALHADORES

Nome: ______________________

Cargo: ______________________

Eu, ____________________, declaro que li, me foi explicado e entendi o conteúdo e o


significado do Código de Ética para os Trabalhadores da empresa _______________.

Eu me comprometo por este meio, a assumir e cumprir com a política e normas de


ética estipuladas no referido Código.

____________________
(assinatura do trabalhador)

_____________________
(data da assinatura)

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FERRAMENTA 4 - CÓDIGO DE ÉTICA PARA FORNECEDORES

Sofala, ____ de Junho de 2006

Introdução

Com o presente Código de Ética para Fornecedores (abreviadamente, designado apenas


de o “Código”), a empresa pretende garantir que os seus fornecedores, parte importante
dos negócios da empresa, adiram a um comportamento ético e responsável no
desenvolvimento das suas actividades, garantindo o cumprimento íntegro e honesto
dos contratos firmados, dos pactos de confidencialidade e das demais condições
comerciais acordadas, considerando sempre a influencia determinantemente que terão
na reputação da empresa.

O presente Código não poderá abarcar todas as situações onde é exigido um


comportamento transparente, ético e profissional de cada fornecedor, mas deixa a ideia
geral dos princípios ou política que a empresa pretende que sejam seguidos e
respeitados.

Considere todas as referencias feitas a “empresa”, no presente Código, como se


referindo a empresa com a qual os fornecedores desenvolvem relações comerciais, que
neste caso, é a ___________________.

1. Finalidade

O presente Código tem por finalidade realçar os valores e princípios defendidos pela
empresa nas relações que desenvolve com os seus fornecedores, procurando zelar pelo
cumprimento, não apenas do que é legal, mas também do que é eticamente certo ou
correcto.

2. Âmbito

O presente Código aplica-se e é vinculativo a todos os fornecedores de serviços ou


produtos à empresa.

3. Princípios Gerais

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Os fornecedores comprometem-se a respeitar, nas suas relações comerciais com a
empresa, os seguintes princípios gerais:

¾ Transparência: manter um fluxo de informações completas, claras e verdadeira


em todos os negócios, transacções ou revelações;
¾ Integridade: zelar por uma concorrência justa;
¾ Honestidade: assegurar que todo o negócio ou transacção seja claro, com registos
que transmitam confiança a outra parte;
¾ Respeito: desenvolver um comportamento justo, sensível e com consideração dos
direitos individuais e colectivos em causa;
¾ Qualidade: zelar pela máxima qualidade tanto dos produtos e serviços prestados,
como também, pela melhor qualidade no relacionamento com a empresa e seus
trabalhadores e colaboradores

4. Obrigações dos Trabalhadores

Os fornecedores encontram-se obrigados a:

a. Cumprir a legislação em vigor, bem como, a política e normas internas da empresa


que a eles se aplicam;
b. Respeitar a confidencialidade das informações e proteger os dados fornecidos pela
empresa contra usos não acordados ou ilegais;
c. Não promover publicidade ilícita ou enganosa na comercialização dos seus
produtos ou serviços junto da empresa;
d. Proporcionar informação verdadeira, clara, precisa e completa, no âmbito dos
negócios e transacções com a empresa;
e. Zelar por um bom ambiente de trabalho, evitando desrespeito, descriminação e
descortesia com os trabalhadores, colaboradores, gestores e demais pessoal da
empresa;
f. Não aceitar ou oferecer subornos, incluindo presentes que pelo seu valor possam
dar lugar ao surgimento de obrigações posteriores;
g. Não usar ou divulgar informações da empresa para fins não autorizados por esta;
h. Informar as entidades responsáveis da empresa ou aos gestores/directores desta
sobre a prática ou tentativa de prática de actos incorrectos ou anti-éticos pelos
trabalhadores ou colaboradores da mesma;
i. Zelar pelo cumprimento integral do presente Código, socorrendo-se da empresa
para o esclarecimento de quaisquer dúvidas que este suscitar, ou de actos que julgue
que possam se enquadrar em alguma conduta anti-ética aqui tratada.

5. Interesses Conflituantes

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¾ Existirá interesse conflituante, sempre que existir um interesse pessoal do
fornecedor, devido a existência de laços de parentescos ou de afinidades com os
trabalhadores ou colaboradores da empresa, que possa interferir na objectividade
da contratação ou do desempenho ou cumprimento das obrigações contratuais
firmadas.

¾ A situação descrita no número anterior deverá ser comunicada a gerência ou a


entidade responsável na empresa, competindo a esta consentir por escrito no
prosseguimento ou manutenção da relação comercial em causa.

¾ Inclui-se na situação de conflito de interesses, o uso de fornecedores que prestam


serviços ou fornecem produtos para empresas concorrentes, devendo esta situação
ser devidamente comunicada nos termos no número anterior para se evitar ou
prevenir qualquer possibilidade de divulgação de informações confidenciais da
empresa.

6. Pagamentos de Favor, Subornos e Comissões

¾ Os fornecedores não devem oferecer ou receber pagamentos, subornos ou


comissões, de qualquer natureza ou forma, em troca de obtenção ou prestação de
favores ou serviços, seja directamente através dos trabalhadores e colaboradores
da empresa, seja através de quaisquer outros terceiros.

¾ Não se consideram pagamentos de favor ou subornos, nos termos referidos no


número anterior, as ofertas/pagamentos por comemoração de dias festivos ou
outros em que tal procedimento seja claramente justificado, devendo sempre, a
oferta ou pagamento em causa, ser feito em conformidade com os procedimentos
da empresa e com autorização expressa e por escrito do responsável ou do
gestor/director da mesma.

7. Responsabilidades dos Fornecedores

¾ O fornecedor assume a responsabilidade de actuar de acordo com a conduta ética


desenvolvida no presente Código, comprometendo-se desde já a responder por
quaisquer violações ao mesmo, incluindo, se tal se aplicar e se justificar, a
responsabilidade civil e/ou criminalmente.
¾ O fornecedor concorda que, o respeito do estipulado no presente Código é uma
condição imposta para a manutenção das relações comercias desenvolvidas com a
empresa.

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8. Responsabilidade da Empresa

¾ A empresa, através dos seus gestores, directores ou quem para tal tiver sido
indicado, é responsável em fiscalizar o cumprimento do presente Código,
devendo igualmente promover um adequado e completo conhecimento do
mesmo por parte de todos os seus fornecedores.
¾ A empresa deve comunicar aos seus trabalhadores, colaboradores e a todas as
entidades que achar relevantes e com as quais mantém relações no âmbito das suas
actividades, a vinculação dos seus fornecedores ao presente Código e, incentivar
aqueles a colaborarem denunciando os comportamentos anti-éticos ou ilegais que
detectem por parte dos seus fornecedores, garantindo o máximo de sigilo, quando
tal for solicitado pelo denunciante.

ANEXO

DECLARAÇÃO DE ACEITAÇÃO E COMPROMISSO COM O CÓDIGO DE


ÉTICA DOS FORNECEDORES

Denominação social do fornecedor:


________________________

Nome do representante legal do fornecedor: ________________________

Eu, ____________________, que acto na qualidade de ____________ da


empresa/sociedade _____________, e com poderes bastantes para o presente acto,
declaro que li, me foi explicado e entendi o conteúdo e o significado do Código de
Ética para os Fornecedores da empresa _______________.

Eu, em nome da empresa/sociedade que represento, me comprometo por este meio, a


assumir e cumprir com a política e normas de ética estipuladas no referido Código.

____________________________
(assinatura do representante da empresa/sociedade)

____________________________
(data da assinatura)

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FERRAMENTA 5 - CÓDIGO DE CONDUTA NOS NEGÓCIOS
Os membros de __________________ desenvolveu o Código de Conduta nos
Negócios a seguir:
Nós, as Empresas signatárias, legalmente registada em Moçambique concordamos em:

• Efectuar as nossas actividades de uma forma ética e transparente, com abertura e


honestidade.
• Respeitar a Constituição e as Leis em vigor em Moçambique.
• Defender os princípios fundamentais dos direitos humanos e zelar pelos
interesses dos nossos trabalhadores.
• Respeitar os interesses legítimos dos nossos fornecedores, contratantes,
parceiros e outros com os quais temos relações profissionais.
• Somos membros duma associação formal, devidamente reconhecida e dedicada a
boa governação empresarial.

1. Emprego

i. Consignamo-nos aos princípios de justiça, respeito e confiança mútua,


acreditamos que todos aqueles que estão envolvidos no nosso local de trabalho
devem contribuir positivamente para o desempenho da Empresa e para a
protecção e intensificação da sua reputação.
ii. Acreditamos que a chave para esta relação é uma boa comunicação. Mantemos
um canal de comunicação aberto com os trabalhadores.
iii. O recrutamento, emprego e a promoção de todos aqueles que trabalham para
nós é efectuada apenas na base das qualificações, e aptidões necessárias para a
posição em questão.
iv. O nosso trabalhador tem o direito a condições de trabalho que são seguras e que
não colocam a sua saúde em perigo.
v. Não promovemos o uso de mão-de-obra infantil nem do trabalho coercivo.
vi. Respeitamos os direitos individuais dos nossos trabalhadores bem como a sua
dignidade e em conformidade com a Leis de Moçambique, atribuímo-lhes o
direito de livre associação.

2. Responsabilidade

Consignamo-nos a respeitar os requisitos financeiros estabelecidos na lei Moçambicana.


Daí que:
i. Estamos registados como uma companhia que paga o IVA
ii. Apresentamos recibos completos do IVA a todos nossos clientes
iii. Pagamos os impostos dívidas pela empresa

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iv. Importamos os nossos produtos utilizando os canais legais correctos e pagamos
os direitos alfandegários e as outras obrigações conforme exigido por lei
v. Respeitamos os direitos de propriedade intelectual
vi. Providenciamos consistência na qualidade dos nossos produtos e/ou serviços
vii. Providenciamos produtos e serviços com descrição, etiqueta e publicidade
correctas
viii. Respeitamos os direitos dos nossos clientes e sócios

3. A Comunidade

i. Consignamo-nos a ser bons cidadãos empresariais e a operar como parte


integrante da sociedade. Empenhamo-nos em cumprir com as nossas
responsabilidades para com as sociedades e comunidades onde operamos.
ii. Cooperamos com o governo através de associações empresariais e outras e
empenhamo-nos através desta cooperação em promover o desenvolvimento da
legislação e regulamentos que podem afectar os interesses legítimos de negócio.
iii. Acreditamos que os nossos contactos e relações profissionais com clientes,
fornecedores e parceiros devem ser mutuamente benéficos. Esperamos que
todos aqueles com quem mantemos tais relações, operem de acordo com
princípios idênticos aos desta Empresa.

4. O Ambiente

i. Consignamo-nos a efectuar as melhorias necessárias na gestão do meio


ambiente, com vista a desenvolvermos negócios que sejam ambientalmente
sustentáveis.
5. Integridade

i. Consignamo-nos a realizar os nossos negócios baseados nos princípios de


concorrência justa.
ii. Consignamo-nos ao desenvolvimento de uma legislação que promova ou
permita uma concorrência justa e vigorosa.
iii. Respeitamos o direito e apoiamos as iniciativas do Governo Nacional para
desenvolver as indústrias nacionais chave, através de instrumentos transparentes
da política do comércio.
iv. Consignamo-nos à transparência, não oferecendo nem recebendo subornos,
pagamentos impróprios, comissões ou outras ofertas que possam resultar em
vantagem imprópria, para a empresa ou qualquer pessoa que nela trabalha.
v. Esperamos que os nossos trabalhadores não se envolvam em qualquer actividade
pessoal ou de interesse financeiro, que possa entrar em conflito com as
responsabilidades deles na empresa.
vi. Os nossos trabalhadores não devem procurar ganhos através do uso da sua
posição na empresa para benefício próprio ou de outras pessoas.

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Acreditamos que o cumprimento deste código é um elemento essencial para o sucesso
da nossa actividade e para o desenvolvimento de Moçambique no seu todo. Daí que
somos todos responsáveis por assegurar que estes princípios são comunicados aos
nossos trabalhadores, clientes e parceiros e que estes sejam observados no dia a dia das
nossas operações

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FERRAMENTA 6 - CASOS DE ESTUDO PARA FORMAÇÃO DE DISCUSSÃO

Os seguintes casos de estudo tem como base as experiências de um conjunto de


empresas que operam em Moçambique. Toda a informação sobre nomes e produtos foi
excluída para impedir represálias ou outras repercussões. A ACIS gostaria de agradecer
as empresas que contribuíram para a realização destes casos de estudo. Estes casos
podem ser usados em discussões ou como parte de cursos de formação.

Empresa A
A Empresa A fornece bens localmente manufacturados ao governo, ao sector privado e
a clientes particulares. A empresa possui uma forte política anti-corrupção e não paga
comissões. A política é conhecida e entendida pelos trabalhadores da empresa. A
empresa é regularmente interpelada por oficiais do governo para o pagamento de
comissões. Em alguns casos, a recusa resulta na perda de vendas. No entanto, a empresa
declara que, cada vez mais, a sua reputação como uma empresa que cobra o mesmo
preço para todos e não paga comissões tem resultado na aquisição dos seus produtos
por parte de departamentos do governo.

Recentemente um funcionário do governo interpelou o director de vendas da empresa


e pediu uma comissão. O director de vendas anotou os seus detalhes e informou o
superior hierárquico do funcionário sobre o sucedido. Enquanto que a empresa não
recebeu nenhuma resposta a respeito do que aconteceu com aquele funcionário,
receberam, daquele departamento do governo, uma ordem para os seus produtos.

A Empresa A declara também receber pedidos de comissões de agentes de procurement


de outras empresas do sector privado. Mais uma vez, a empresa recusasse a pagar, mas
até agora a mesma tem sido relutante em relatar estas situações aos directores das
empresas relevantes. A empresa recebe também pedidos de indivíduos particulares para
pagarem sem facturas e sem o pagamento de IVA. Mais uma vez a empresa recusa estes
pedidos. No entanto a Empresa A declara que existe uma falta generalizada de
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compreensão do sistema de IVA entre os consumidores particulares, que geralmente
não esperam ter que pagar IVA. Os mesmos entendem o IVA como um desconto de
17% do qual eles deveriam beneficiar. De acordo com a empresa, muitos deste
consumidores questionam “porque que tem que pagar aqui quando não tem que pagar
noutros lugares?”

A Empresa A reclama que outras empresas não são tão escrupulosas no pagamento de
comissões. A empresa descobriu trabalhadores que adquirem em certas lojas como
resultado do recebimento de comissões dessas lojas. A empresa possui agora uma lista
de fornecedores preferidos. O director contactou os directores de cada um dos
fornecedores e anunciou-lhes que se os mesmos pagarem comissões aos trabalhadores
da Empresa A, a mesma nunca mais adquirirá os seus produtos. No entanto,
considerando a natureza especializada de alguns produtos, a Empresa A não tem outra
opção senão comprar daqueles fornecedores. E considerando a falta de variedade de
fornecedores nem sempre tem sido possível impedir que os seus trabalhadores recebam
comissões pela compra daqueles fornecedores.

A Empresa A aprovou um código de princípios o qual se encontra em exposição na


sede da empresa. O director afirma que se alguém pedir uma comissão ele apontará
para o código e pedirá que o leiam. O director admite que impedir os trabalhadores de
adquirirem comissões significa uma batalha constante, e declara que trabalhadores já
afirmaram que a empresa é vista como “estranha” por se recusar a envolver na
corrupção. No entanto ele sente que a sua decisão de manter a empresa fora de
qualquer forma de ilegalidade tem se demonstrado benéfica a longo prazo. Ele afirma,
“nós podemos ter perdido algumas venda ao longo do caminho. Eu sei de contratos
públicos onde alguém comprou na nossa empresa ao nosso preço normal e revendeu
para o governo por um preço mais alto e tendo cobrado uma comissão. Mas também
tenho a consciência tranquila, e agora começamos a sentir que alguns departamentos do
governo e empresas compram preferencialmente os nossos bens porque sabem

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exactamente o que estão a adquirir e que o preço cobrado não inclui ‘extras
escondidos.’ Sentimos também que estamos a ser cada vez mais respeitados no seio do
sector privado e nos círculos governamentais, o que só pode beneficiar a nossa
reputação.” A empresa tem-se concentrado no desenvolvimento da sua marca com base
nesta reputação.
Perguntas de discussão:
¾ O que você pensa deste caso?
¾ Que problemas esta empresa enfrenta?
¾ Estes problemas trazem riscos à empresa? Se for que “sim” quais são os riscos?
¾ Como é a empresa poderia ultrapassar os problemas que enfrenta?
¾ Pode-se antever potenciais problemas na reacção da empresa aos seus
problemas?
¾ O que você faria se você fosse o dono /gerente desta empresa?
¾ Há alguma situação semelhante que você já enfrentou? Se sim como é que você
lidou com ela?

Empresa B
A Empresa B fornece produtos de elevado valor em pequenas quantidades ao governo,
ao sector privado e a clientes particulares. A empresa é frequentemente interpelada para
o pagamento de comissões por representantes de ambos os sectores público e privado.
Os concorrentes da empresa pagam comissões. De facto, o valor da percentagem de
comissões é abertamente discutido no seio do sector em que a Empresa B opera. A
empresa declara que todas as empresas do sector incluem o valor das comissões no
preço dos produtos. Como padrão, as negociações das vendas incluem a negociação das
percentagens de comissões.

A Empresa B acrescenta que o valor pago em comissões é facturado na contabilidade


das empresas, e constitui um item específico. O director afirma que isto é prática
normal no sector, e que enquanto o nome do item pode diferir de empresa para
empresa, o facto de ser orçamentado e contabilizado é prática padronizada.

A Empresa B gostaria muito de parar com o pagamento de comissões. O director sente


que é imoral, sente-se inconfortável e sente que tal prática torna difícil impedir que os
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seus trabalhadores evitem a corrupção quando os mesmos têm conhecimento de que a
empresa efectua aqueles pagamentos. Embora os pagamentos são considerados
“padrão” e fazem parte do sistema de contabilidade da empresa, o director sente que o
pagamento de comissões é errado. Ele afirma que “a pessoa que mais sofre é a pessoa
que paga a conta. Eu não reduzo o meu preço por causa das comissões. Eu incluo a
provável comissão no preço que é cotado ao cliente. Se este for o governo ou uma
empresa, então são eles que acabam pagando um preço mais alto para que eu possa
pagar ao seu trabalhador o que ele pede.”

O director da Empresa B sabe que se parar de pagar comissões não ganhará mais
concursos ou assegurará mais vendas. De facto é até capaz de ser vitimizado por se
levantar contra a prática. Mesmo que os seus preços sejam mais baixos, os responsáveis
pelo procurement encontraram uma razão para não adquirir dele para que possam
continuar a receber comissões. Ele continua afirmando que “alguma da culpa é das
empresas que adquirem os nossos produtos, as pessoas que empregam nas suas secções
de procurement são tão mal pagas e fracamente supervisionadas que não é
surpreendente que obtenham comissões. Tenha presente que isto não acontece em
todos os casos. Já tive casos em que gestores ou oficiais seniores também pediram
comissões.”

A Empresa B gostaria de encontrar uma maneira de ultrapassar o pagamento de


comissões. Gostariam de competir num campo de acção nivelado com outras empresas
do sector. No entanto tem medo de dar o primeiro passo e parar com o pagamento de
comissões porque a empresa sofrerá indubitavelmente uma perda nas vendas.
Perguntas de discussão:
¾ O que você pensa deste caso?
¾ Que problemas esta empresa enfrenta?
¾ Estes problemas trazem riscos à empresa? Se for que “sim” quais são os riscos?
¾ Como é a empresa poderia ultrapassar os problemas que enfrenta?
¾ Pode-se antever potenciais problemas na reacção da empresa aos seus
problemas?
¾ O que você faria se você fosse o dono /gerente desta empresa?
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¾ Há alguma situação semelhante que você já enfrentou? Se sim como é que você
lidou com ela?

Empresa C
A Empresa C tem uma série de lojas de venda a retalho e a grosso. A empresa
esforçasse para diferenciar-se dos seus concorrentes não apenas em termos de preço mas
também em termos de transparência. A empresa esforçasse para assegurar o seu
cumprimento com a lei. Isto é geralmente difícil porque deve cumprir com muitos
processos burocráticos. A dificuldade aumenta quando a empresa recebe pedidos
regulares e contínuos para o pagamentos de comissões e pelo não pagamentos de
impostos, especialmente do IVA.

A Empresa C presta muita atenção aos seus concorrentes. Opera num sector muito
competitivo. A empresa declara que através do pagamento de comissões, do não
pagamento de impostos e de outras práticas ilegais as empresas concorrentes estão
gradualmente a afastar a Empresa C do seu mercado. O director afirma que “já nos
retiramos da negociação de alguns produtos. Apenas não é possível competir.”
Enquanto que os concorrentes são capazes de transaccionar bens através da prática
ilegal a Empresa C é auditada pelo Ministério das Finanças pelo menos uma vez por
ano. Enquanto que não é multada porque está conforme a lei, as auditorias duram
alguns dias e causam interrupções nas suas operações. As empresas concorrentes da
Empresa C são também algumas vezes auditadas e são por vezes multadas. No entanto
as multas de acordo com o director são muito inferiores aos lucros ilegalmente obtidos
pelos competidores. É assim benéfico para o concorrente pagar a multa ou pagar um
suborno para evitar a multa. Em qualquer dos casos o custo é inferior aos lucros
obtidos através das operações ilegais. O director afirma que “a subfacturação, o não
pagamento de direitos e a cobrança de IVA que não é posteriormente entregue ao
governo são formas através das quais os nossos concorrentes conseguem vender
produtos mais baratos do que nós conseguimos.”

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A Empresa C encontra-se numa situação difícil. A empresa tem que assegurar que
nenhum dos seus trabalhadores se encontra engajado em práticas corruptas ou ilegais.
Os concorrentes prestam atenção em si da mesma forma que a Empresa C presta
atenção nos concorrentes e a oportunidade para os apanhar e danificar a sua reputação
não será posta de lado. O director admite, “nós pagamos comissões em concursos do
governo. Esta pratica está padronizada. Algumas vezes pagamos também comissões aos
trabalhadores de empresas, a menos que a empresa nos peça para não pagar. Mas eu não
vejo que neste ambiente as comissões possam ser classificadas como ilegais. O meu
maior problema é o não pagamento de impostos e direitos pelos meus concorrentes.”

A Empresa C esforçasse para provar que opera legalmente. Gostaria de ser reconhecida
pelo facto de pagar os seus impostos. A empresa deixaria de pagar comissões se
soubesse que os seus concorrentes fariam o mesmo: “Não há nada mais que eu gostaria
do que competir num campo de acção nivelado,” afirma o director. “Nós oferecemos
produtos genuínos de melhor qualidade, os nossos preços são justos e nós oferecemos
emprego de boa qualidade. Infelizmente não competimos com pessoas que ajam da
mesma forma.” A Empresa C gostaria de explorar formas de se diferencia e de assegurar
que o facto de cumprir com a lei não custe à empresa a sua posição no mercado.
Perguntas de discussão:
¾ O que você pensa deste caso?
¾ Que problemas esta empresa enfrenta?
¾ Estes problemas trazem riscos à empresa? Se for que “sim” quais são os riscos?
¾ Como é a empresa poderia ultrapassar os problemas que enfrenta?
¾ Pode-se antever potenciais problemas na reacção da empresa aos seus
problemas?
¾ O que você faria se você fosse o dono /gerente desta empresa?
¾ Há alguma situação semelhante que você já enfrentou? Se sim como é que você
lidou com ela?

Empresa D
A Empresa D é uma fabricante e distribuidor local. A empresa é afectada por produtos
falsificados e comércio ilegal. Recentemente a empresa teve um caso com um produto
falsificado produzido na China, importado por comerciantes chineses e distribuído por
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distribuidores nigerianos. A Empresa D apresentou o problema ao Ministério da
Industria e Comércio, o ministério responsável pela coordenação dos esforços contra
bens falsificados e ilegais. O ministério levou mais de quatro meses até à confiscação
dos produtos durou.

Durante o período de tempo em que os produtos estiveram disponíveis, a Empresa D


estima que o total das vendas dos seus produtos declinou 40% da sua taxa mensal. Isto
corresponde a uma perda do movimento de cerca de USD $1.4 milhões. Deste valor a
Empresa D estima que o governo perdeu IVA (17% = USD $238,000), direitos (25% =
USD $350,000) e impostos societários. A Empresa D também pagou taxas legais
correspondentes a mais de USD $60,000 para processar o caso e custos operacionais de
seguimento que somaram USD $25,000. De acordo com a Empresa D a complexidade
desordenada do processo de queixa, de confiscação do contrabando e de seguimento
conduziu à perda de mais de 30% do tempo da gestão na persecução do caso,
comprometendo a sua concentração nas operações diárias da empresa.

A empresa investiu recentemente numa infra-estrutura de manufacturação no sul do


país. No entanto o norte do país foi recentemente invadido pela afluência do seu
próprio produto trazido de outro mercado. O produto importado é vendido a um
preço com que a fábrica local não pode competir. As vendas do produto local foram
quase que cessadas. Mesmo que a Empresa D comprasse o produto ao preço do outro
mercado, não estaria em condições de competir com as importações. A Empresa D
apresenta o caso como um exemplo claro de subfacturação. Com base nisto e em outras
actividades fraudulentas a empresa decidiu, por agora, suspender os planos de expansão
em Moçambique.

A Empresa D procura soluções aos problemas de falsificação e de comércio ilegal e


defende a simplificação dos processos existentes usados para a confiscação de produtos
ilegais e para o julgamento dos seus proprietários. As empresas que desejam combater o

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problema incorrem no pagamento de elevadas taxas legais. Outras empresas ou os seus
representantes em situações similares já receberam ameaças. O director da empresa D
afirma, “produtos falsificados e o comércio ilegal pode conduzir ao não investimento
ou ao atraso do investimento planeado. A perda de receitas resultante do comércio
ilegal é significante.”
Perguntas de discussão:
¾ O que você pensa deste caso?
¾ Que problemas esta empresa enfrenta?
¾ Estes problemas trazem riscos à empresa? Se for que “sim” quais são os riscos?
¾ Como é a empresa poderia ultrapassar os problemas que enfrenta?
¾ Pode-se antever potenciais problemas na reacção da empresa aos seus
problemas?
¾ O que você faria se você fosse o dono /gerente desta empresa?
¾ Há alguma situação semelhante que você já enfrentou? Se sim como é que você
lidou com ela?

Empresa E
A empresa é um pequeno empreendimento que se especializa em obras públicos de
pequena escala, tais como construir postos de saúde, salas de aulas, e outras infra-
estruturas, e furar poços nas zonas rurais. O grande cliente potencial da Empresa E é o
governo.

A Empresa E regularmente concorre em concursos para obras públicas de pequena


escala. Investiu tempo e dinheiro no treinamento do seu pessoal e tem uma boa equipa
de trabalhadores qualificados e dignos de confiança. A empresa tem uma boa ideia do
quanto custam as obras públicas nas zonas rurais e tenta apostar em concursos
competitivos.

Recentemente a empresa submeteu uma candidatura a um projecto e o director foi à


cerimónia da abertura das cartas de concursos para ver se eles tinham ganho. Na
reunião da abertura das cartas o director da empresa E ficou surpreendido ao descobrir
que os seus documentos de concursos não foram abertos. O concurso foi entregue a
uma empresa concorrente que era mais cara do que a proposta que a Empresa E tinha
submetido. O director pediu publicamente para saber o que tinha acontecido à sua
candidatura e foi dito que várias propostas haviam sido excluídas porque não tinham
preenchido correctamente os critérios do concurso. O director ficou surpreso por este
veredicto porque tinha gasto muito tempo a preparar os documentos da proposta e
tinha cuidadosamente assegurado que estes correspondessem exactamente aos termos
de referência fornecidos.

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Depois da reunião, fora do edifício o director da Empresa E foi interpelado por um
homem que lhe disse que seria capaz de ajudar a Empresa E a ganhar concursos no
futuro. O director estava interessado em ouvir isto e decidiu em prosseguir com a
conversa para ver o que ele haveria de descobrir, portanto convidou o homem a um
café.

Na sessão do café o homem, que se descreveu a si mesmo como sendo o “consertador”


disse que por um pequeno montante ele seria capaz de assegurar que as propostas da
Empresa E regularmente ganhassem concursos. Ele foi mais longe ao explicar que “há
muito mais no processo de concursos do que apenas submeter documentos, a pessoa
deve fazer alguma preparação antes, preparar o terreno, por assim dizer”. Ele disse que
era importante ter contactos dentro das direcções do governo que são responsáveis pela
alocação de concursos para que estes contactos possam ajudar a sua proposta.
Continuando com a analogia de lavrar ele disse que “todos os contactos devem ser
regularmente alimentados e regados para que quando o tempo vem eles possam
produzir para você”. “Produzir”, ele explicou em detalhes, pode incluir providenciar os
documentos do concurso antes destes serem tornados oficialmente públicos,
providenciar informação sobre as propostas de competidores, e na ocasião desqualificar
propostas submetidas por empresas não envolvidas neste “sistema”. O Consertador
disse que a Empresa E era ingénua ao crer que o actual processo de concurso era
relevante em qualquer outra coisa que não seja uma oportunidade para os diferentes
contactos dentro do departamento para negociar com as empresas para quem eles
“trabalham”.

O director da Empresa E tinha há muito já suspeitado que o processo de compras


públicas no seu sector não era transparente. Contudo na medida em que ele escutava
percebeu que existia de facto um sistema montado bem estruturado que envolvia
muitos dos seus concorrentes. O Consertador prosseguiu para explicar que muitas das
empresas normalmente podiam discutir propostas antes de competirem e concordariam
depois entre elas quem deveria ganhar. As empresas que tinham optado por não
competirem podiam submeter propostas acima dos seus colegas a quem tivessem
escolhido de antemão para permitir-lhe ganhar. Ele explicou que as empresas podiam
depois escolher trabalhos de acordo com o grau da ocupação do seu pessoal, ou
escolher trabalhos localizados perto uns dos outros para poupar gastos.

O que ele estava a ser dito explicava muita das coisas que a Empresa E tinha passado e o
director sentia que estava a ser dito a verdade. Portanto, ele fez uma pergunta que tinha
na mente há bastante tempo. “Como é que” questionou, “empresas podem fazer lucros
quando as vezes cobram muito menos que eu e quando eu calculo os meus preços
baseado nos custos dos insumos tais como cimento, tubos, etc. para mim?” O
Consertador explicou que o governo tem um custo padrão por metro quadrado para a
construção de diferentes tipos de edifícios, por quilómetro para estradas e por metro
para poços. No caso de poços o governo também tem uma profundidade padrão que
eles pagam.
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O Consertador continuou dizendo que obras públicas de pequena escala nas zonas
rurais não são sempre inspeccionadas. Se forem então as vezes o inspector pode ser um
dos “contactos” da empresa dentro do departamento do governo que alocou os
concursos. Durante os trabalhos do projecto a empresa terá poupado tempo por usar
menos matéria-prima ou não construir de acordo com as especificicações que foram
dados. Muitas vezes, mesmo que os inspectores não fossem parte do sistema, eles não
possuem a formação ou o equipamento necessário para inspeccionar a construção
efectivamente, explicou o Consertador. No caso de poços, ele prosseguiu, se o governo
especificar uma profundidade padrão de por exemplo 30 metros e a empresa apanhar
água depois de 25 metros, iria na mesma cobrar por ter cavado 30 metros. “É muito
difícil,” ele disse com um sorriso, “verificar a profundidade de um poço estreito!” As
vezes as empresas perderiam dinheiro desta maneira porque teriam que cavar mais do
que 30 metros, mas ele explicou que isso era raro, porque normalmente os preços-
padrão do governo foram estabelecidos no limite acima do que é exigido, dando às
empresas flexibilidade.

Tendo explicado tudo isso ao director, o Consertador depois propôs o seu valor, e
explicou que acima daquele montante deveria haver “ofertas” que o Consertador
deveria dar a certas pessoas para que a Empresa E entre e fique no sistema. “Mas,” disse
“Posso garantir-lhe que você vai ganhar mais trabalhos e que o trabalho que você ganha
vai ser mais lucrativo para você”. O director da Empresa E concordou ir pensar acerca
da proposta.

O director da Empresa E encontra-se agora numa posição difícil. A sua empresa tem
ganho menos e menos concursos públicos. Ele foi mostrado o caminho como deve
operar, e de manter os seus trabalhadores empregados. Embora o Consertador disse-lhe
que era muito justo e democrático em que todos saem a ganhar – ao efectivamente
escolherem os trabalhos que preferem, e os funcionários do estado ao serem pagos
alguns extras pelo trabalho que fazem ao gerir concursos, o director da Empresa E não
se sente confortável em envolver-se com o Consertador, e comprar-se a si mesmo um
sistema que ele sente ser corrupto. Ele sente que enquanto os que estão no sistema
podem sentir-se estar a ganhar o sistema também levaria a que as pessoas nas zonas
rurais recebam construções de má qualidade e o governo a pagar mais por um trabalho
de má qualidade que poderia ser feito melhor e por menos dinheiro.

Perguntas de discussão:
¾ O que você pensa deste caso?
¾ Que problemas esta empresa enfrenta?
¾ Estes problemas trazem riscos à empresa? Se for que “sim” quais são os riscos?
¾ Como é a empresa poderia ultrapassar os problemas que enfrenta?
¾ Pode-se antever potenciais problemas na reacção da empresa aos seus
problemas?
¾ O que você faria se você fosse o dono /gerente desta empresa?
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¾ Há alguma situação semelhante que você já enfrentou? Se sim como é que você
lidou com ela?

Empresa F
A Empresa F é um pequeno empreendimento que fornece equipamento especializado e
serviços ao um número de grandes investidores. Muitos dos investidores que a Empresa
F abastece têm uma isenção de IVA. Isto significa que enquanto a Empresa F paga o
IVA nos artigos que importa para os seus clientes, e nos outros custos que acarreta, ela
não pode cobrar IVA a alguns dos seus principais clientes. Por causa do sistema de
“toma e dá” usado para a cobrança do IVA a Empresa F paga muito mais IVA ao
governo do que recebe dos seus clientes. É portanto devida emolumentos de IVA.

A Empresa F é um pagador de imposto registado do “Grupo A” e portanto submete os


retornos do IVA mensalmente e é regulamente auditada. A empresa trabalha
estritamente com o seu contabilista de forma a assegurar que a sua documentação
financeira esteja em ordem.

Submeter um pedido para um reembolso do IVA é um processo moroso e complicado.


Como resultado a Empresa F normalmente submete um pedido em cada três meses.
Apesar de ter estado a operar durante quatro anos a empresa nunca recebeu um
rebatimento. A Empresa F é agora devida mais dinheiro em reembolsos do que ela
oficialmente vale. Os clientes da Empresa F ofereceram a empresa mais negócio se esta
investir em mais equipamento especializado e na formação. Contudo todo o capital da
empresa para a expansão está empatado em reembolsos de IVA. E porque a empresa
tem de pagar pelos bens que importa em moeda estrangeira e vai receber os seus
reembolsos em Meticais, durante o andar do tempo em que está a espera de reembolsos
a Empresa F perdeu também um montante significativo de dinheiro através de
diferenças de taxa de câmbios.

O director da Empresa F afirma que “fomos dados várias razões por não sermos pagos
o dinheiro que o governo nos deve. Eles dizem que assinamos os documentos no lugar
errado, dizem que o dinheiro que investimos na compra de todo o equipamento, e do
nosso stock inicial quando estávamos a começar a empresa não é elegível a
rebatimentos porque não tínhamos vendido nada quando fizemos o pedido original,
eles exigiram-nos a termos uma auditoria oficial para a qual tínhamos que pagar, com
auditores provenientes do Maputo – passamos a auditoria mas mesmo assim não
podemos ter o nosso dinheiro de volta”.

Recentemente a Empresa F pagou para o seu director viajar a Maputo para tentar
encontrar uma solução para esta questão. Estando no Maputo o director foi interpelado
por um oficial no Ministério de Finanças e disse-lhe que a troco de 20% do valor que a
Empresa F tem a receber, os reembolsos podiam ser todos pagos imediatamente, “Você
pode sair daqui com o cheque nas suas mãos” disse o oficial.

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O director da Empresa F ficou chocado por isso e não tendo feito mais nenhum avanço
através dos canais oficiais, voltou à casa. Ele decidiu discutir a questão com algumas
outras empresas que sabia terem problemas semelhantes. Algumas empresas tinham
centenas de milhares de dólares a receber, e uma ou duas eram devidas milhões de
dólares. A Empresa F iniciou uma reunião para debater esta questão. Ele descobriu que
todas as empresas na reunião estão a ser devidas reembolsos há mais de seis meses,
muitas por mais do que um ou dois anos. Todas as empresas reclamaram que não
investiam mais porque ou o seu capital estava empatado no Ministério de Finanças ou
porque as suas empresas-mães recusavam-se a pagar mais dinheiro quando tais valores
grandes estivessem pendentes. Mas o que foi particularmente surpreendente ao director
da Empresa F foi que quase todas as empresas presentes naquele momento tinha num
momento ou outro sido dita que à troco de entre 15 e 20% do valor que tinham a
receber, elas podiam ter os seus reembolsos imediatamente.

Tendo decidido explorar esta questão mais adiante o director perguntou se alguém
tinha virtualmente pago. Algumas empresas indicaram terem pago e disseram terem
recebido seus reembolsos para os quais tinham subornado. Fazendo um rápido cálculo
mental baseada naquilo que as empresas tinham dito que lhes era devido, o director
percebeu que muitas centenas de milhar de dólares tinham sido pagas desta maneira.
Contudo o director sentiu que se ele fizesse o pagamento uma vez, teria que sempre
faze-lo. Várias das empresas na reunião concordaram que nunca iriam pagar um
suborno, mas outras disseram encontrarem-se numa posição financeira em que estava
cada vez mais provável que teriam que pagar.

Perguntas de discussão:
¾ O que você pensa deste caso?
¾ Que problemas esta empresa enfrenta?
¾ Estes problemas trazem riscos à empresa? Se for que “sim” quais são os riscos?
¾ Como é a empresa poderia ultrapassar os problemas que enfrenta?
¾ Pode-se antever potenciais problemas na reacção da empresa aos seus
problemas?
¾ O que você faria se você fosse o dono /gerente desta empresa?
¾ Há alguma situação semelhante que você já enfrentou? Se sim como é que você
lidou com ela?

Empresa G

A Empresa G é uma manufactureira local. A empresa aspira crescer e sente que é


importante que à medida que cresce devem cada vez mais comprar os seus insumos
localmente. Como resultado a Empresa G investiu seu tempo na tentativa de saber que
bens estão disponíveis localmente e em encontros com fornecedores. A empresa foi ao
ponto de negociar com alguns fornecedores à importar os insumos especializados de
que necessitavam. A Empresa G tem vários trabalhadores que são responsáveis pela
compra dos bens que empresa necessita no seu dia-a-dia.
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Tendo passado tempo a desenvolver relações a empresa ficou surpreendida ao ouvir de
um dos seus trabalhadores que um dos insumos que a empresa precisava não estava
disponível num fornecedor com quem a empresa pensava ter um bom relacionamento.
O trabalhador disse que tinha encontrado um produto semelhante numa outra loja,
embora a um preço mais alto. Não tendo outra saída, a Empresa G comprou o produto
mais caro.

O director da Empresa G sentiu-se irritado e desapontado por um fornecedor depois de


investir tempo em reuniões e desenvolvendo o que ele acreditava ser uma boa relação
de trabalho. Portanto, ele fez uma chamada telefónica ao fornecedor em causa, para
explicar a situação e perguntar o que havia de errado. O director ficou surpreso e
confuso ao saber do fornecedor que eles tinham de facto em stock os produtos que a
empresa G precisava e a um preço de normal de sempre. Ele foi também dito que o seu
trabalhador não tinha ido ver na loja do fornecedor já passavam semanas.

O director da Empresa G iniciou uma investigação. Seleccionou um certo número de


itens que a empresa regularmente comprava. Estes incluíam insumos para o processo de
manufactura bem como equipamento de segurança, e material de escritório. Pediu ao
departamento de contabilidade para preparar um custo médio para certos itens
específicos com base no que tinha sido gasto nos últimos 12 meses e no mesmo tempo
ele pessoalmente visitou alguns fornecedores e fez uma nota dos seus preços para estes
artigos.

Quando o director comparou o que a empresa G estava a pagar com os preços que
tinha encontrado nas lojas ele descobriu que a empresa dele esta a pagar entre 5 e 15%
mais pelas suas compras do que o preço médio que ele tinha encontrado durante a sua
visita de compras. Perplexo, o director telefonou a vários colegas que tinham empresas
fornecedoras de bens e perguntou-lhes a razão deste problema. Eles explicaram que
muitos fornecedores pagam comissões aos compradores que trabalham para outras
empresas. Estes compradores recebem uma percentagem do valor da compra
(normalmente entre 2 e 5% embora as vezes até 10% dependendo do artigo em causa).
Esta comissão serve para garantir lealdade por parte dos compradores, embora eles
possam sempre trocar de fornecedores se uma outra pessoa qualquer oferecer melhores
margens de comissões, explicou os fornecedores ao director. Entendendo isto, o
director da Empresa G foi capaz de detectar uma irregularidade até mesmo na mais
pequena compra possível que a empresa fizesse.

A Empresa G foi claramente prejudicada por este sistema já que fez com que a empresa
pagasse mais pelos produtos que comprava. Portanto, o director decidiu começar de
novo a desenvolver suas relações com fornecedores. Ele elaborou uma lista de
fornecedores autorizados e pessoalmente visitou a cada um deles. Ele encontrou-se com
os chefes de cada empresa fornecedora e explicou-lhes que não iria aceitar que eles
pagassem comissões aos seus trabalhadores. Ele pediu para que lhe fornecessem
Associação Comercial e Industrial de Sofala 38
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regularmente uma lista de preços para que ele pudesse monitorar os preços. Ele
encontrou-se então com os compradores da Empresa G e explicou-lhes o novo sistema.
Explicou que o tinham estado a fazer prejudicou a sua empresa ao aumentar os seus
gastos. Agora a Empresa G tem uma relação melhorada com os seus fornecedores.
Estes fornecedores entendem que se pagarem os compradores da Empresa G, vão
perder o direito de fornecerem a empresa.

Perguntas de discussão:
¾ O que você pensa deste caso?
¾ Que problemas esta empresa enfrenta?
¾ Estes problemas trazem riscos à empresa? Se for que “sim” quais são os riscos?
¾ Como é a empresa poderia ultrapassar os problemas que enfrenta?
¾ Pode-se antever potenciais problemas na reacção da empresa aos seus
problemas?
¾ O que você faria se você fosse o dono /gerente desta empresa?
¾ Há alguma situação semelhante que você já enfrentou? Se sim como é que você
lidou com ela?

Empresa H

A Empersa H é uma indústria de mão-de-obra intensiva e tem trabalhadores de


diferentes níveis de habilidades. Recentemente o director de Recursos Humanos da
Empresa H estava a andar em volta das instalações da empresa no fim do mês e notou
uma fila de trabalhadores que aparentemente perfilaram fora do recinto da empresa. O
Gerente aproximou-se dos trabalhadores e perguntou-lhes o que estavam fazendo. Eles
estavam relutantes para falar mas como ele insistia em perguntar-lhes descobriu que um
dos membros do seu departamento estava na frente da fila recolhendo dinheiro de cada
trabalhador.

O chefe dos recursos humanos pensou que o que tinha descoberto era alguma forma de
esquema de empréstimo de dinheiro por isso decidiu investigar mais um pouco. O que
ele descobriu de facto foi que vários membros do seu departamento cobravam aos
trabalhadores uma percentagem do seu salário de modo a garantirem o seu emprego.
Ele descobriu que os trabalhadores que desejavam entrar como trabalhador da empresa
primeiro faziam contactos com alguém dentro da empresa. Eles depois eram
apresentados a outra pessoa na secção dos recursos humanos e depois negociavam um
“valor de entrada” para que fossem empregados. Depois de serem efectivamente
empregados o trabalhador pagava uma percentagem fixa do seu salário mensal para
manter o emprego que já tinham conseguido.

O chefe dos recursos humanos estava perturbado acerca das consequências de tal
actividade na empresa. Ele sentiu que, for a de tal comportamento ser inapropriado,
também iria significar que a empresa não empregava necessariamente as melhores
pessoas para o trabalho. Ele sentiu também que se as pessoas fora da empresa
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soubessem que aquele procedimento estava sendo usado, iria manchar a reputação da
empresa.

Tendo discutido o assunto com os gestores seniores na Empresa H, consultaram os seus


advogados sobre a possibilidade de tomar medidas disciplinares contra os membros do
departamento dos recursos humanos envolvidos no assunto. Contudo descobriu-se que
não seria um caso claro já que nenhum pagamento havia sido feito nas instalações da
empresa e nenhum trabalhador estava preparado a sobressair como testemunha. A
Empresa H, portanto, decidiu implementar um código de ética do trabalhador que
explicitamente iria banir este tipo de comportamento, e embarcar num programa de
discussão com os seus trabalhadores acerca dos seus direitos e responsabilidades. Assim
que o programa estava em marcha e a Empresa H introduziu o código de ética o chefe
dos recursos humanos estava interessado em aprender das discussões que tinha com os
trabalhadores, que o que tinha acontecido na sua empresa estava também acontecendo
em muitas outras empresas, e que muitos trabalhadores sentiam que esta aproximação
transaccional ao emprego era normal.

Perguntas de discussão:
¾ O que você pensa deste caso?
¾ Que problemas esta empresa enfrenta?
¾ Estes problemas trazem riscos à empresa? Se for que “sim” quais são os riscos?
¾ Como é a empresa poderia ultrapassar os problemas que enfrenta?
¾ Pode-se antever potenciais problemas na reacção da empresa aos seus
problemas?
¾ O que você faria se você fosse o dono /gerente desta empresa?
¾ Há alguma situação semelhante que você já enfrentou? Se sim como é que você
lidou com ela?

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3. RELATÓRIO SOBRE RESULTADOS DE ENCONTROS DE
MESA-REDONDA

INTRODUÇÃO

A Associação Comercial e Industrial de Sofala (ACIS) identificou a corrupção como


um dos principais males que afecta os seus membros e, consequentemente, o
desenvolvimento económico e de negócios em Moçambique. Em parceria com o
Centro para Iniciativa Privada Internacional (CIPE), em Agosto de 2005, a ACIS
embarcou num projecto de 12 meses que procura formas de combater a participação do
sector privado na corrupção em Moçambique.

Como primeira fase do projecto a ACIS desenvolveu um documento de discussão que


traça o antecedente da corrupção no sector privado em Moçambique, e examinou
pesquisas recentes sobre corrupção. O relatório também contém um resumo de
entrevistas com agentes de negócios junto com alguns casos de estudos.

A discussão foi elaborada com a finalidade de iniciar um debate e foi publicado para
coincidir com a promulgação da Estratégia de Combate à Corrupção do Governo, para
responder à vontade expressa na estratégia, de que o sector privado será um parceiro
activo na luta contra a corrupção. Cópias do documento de discussão da ACIS foram
largamente distribuídas em Maputo, Sofala e Nampula bem como via correio
electrónico. Exemplares foram também entregues a ministros relevantes e enviados
parceiros internacionais de cooperação representados em Moçambique, para além de
terem sido circuladas dentre o sector privado.

Seguindo-se à publicação do relatório a ACIS iniciou a fase de discussão pública do


projecto. Esta incluiu apresentações públicas e reuniões individuais com grupos de
interesse. Incluiu também 6 discussões de mesa-redonda que tiveram lugar em Maputo,
Beira e Nampula. Este relatório constitui o resumo da fase de discussão pública.

A fase final do projecto, presentemente em curso, consiste no desenvolvimento de uma


caixa de ferramentas baseada nas discussões realizadas.

Durante a preparação para as mesas-redondas a ACIS decidiu organiza-las com base na


língua, com participantes sendo encorajados a tomar parte quer em Português ou em
Inglês. No total seis mesas-redondas foram realizadas, quarto no Maputo, duas na Beira
e duas em Nampula. Um máximo de 15 participantes foram convidados à cada reunião
para assegurar que cada uma discussão aberta pudesse ser levada à cabo. A participação
do sector privado foi encorajada por se ter garantido que as reuniões fossem
relativamente curtas (de no máximo 2 horas) e foram sempre realizadas num tempo em

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que não pudessem interferir com o período normal de trabalho. No geral as reuniões
tiveram boa participação e a ACIS contentou-se de acolher um número de participantes
de alta categoria. Os participantes foram seleccionados com base no seu conhecimento
de, e interessem na material anti-corrupção e em assuntos do sector privado.

A anteceder a reunião os participantes receberam uma cópia do documento de


discussão e uma série de questões para consideração. Estas perguntas foram usadas
como base para a discussão que se seguiu e foram as seguintes:
o Qual deve ser o papel do sector privado na luta contra a corrupção?
o Que tipo de instrumentos você pensa que o sector privado devia usar no
combate à corrupção?
o O que pode ser feito para apoiar o sector privado na sua luta contra corrupção?

No geral, o formato das mesas-redondas mostrou ser um sucesso com todos os


participantes envolvendo-se activamente nas discussões e cada um tendo uma
oportunidade para falar. A ACIS agradou-se dos resultados que foram francos e
providenciaram uma excelente visão ao pensamento corrente no tema do sector
privado e corrupção. Alguns participantes foram cépticos acerca da capacidade do
sector privado ter impacto no problema da corrupção, e um dos desafios da ACIS será
desenvolver instrumentos e demonstrar que o sector privado pode alcançar sucesso
nesta área.

Um número de convidados mostrou-se preocupado com a sua participação. A ACIS


percebeu desde logo que precisava de garantir aos potenciais participantes que as suas
contribuições não seriam directamente anotadas, que fotografias não seriam tiradas,
nenhuma imprensa estaria presente e nenhumas listas de presenças seriam circuladas. O
resultado das mesas-redondas é detalhado mais à baixo. A ACIS respeitou o desejo dos
participantes, e não atribuiu comentários nem incluiu um recorde fotográfico ou lista
de participantes com este relatório. Não sentimos que a omissão desta informação
diminua o impacto do que foi dito. As sínteses à baixo são apresentadas duma maneira
a mais directa e franca possível para reflector a intensidade das discussões que tiveram
lugar.

A ACIS toma esta oportunidade para anotar que as opiniões dadas não são
necessariamente as da associação ou seus membros singulares. Este projecto reflecte o
desejo do sector privado em Sofala provar ser um interlocutor transparente e franco
neste assunto. A ACIS fortemente acredita que ao exigir que o governo combata a
corrupção e ajuramentar o governo à sua estratégia, o sector privado deve provar que
está cabalmente preparado para se comprometer à esta luta.

Embora o projecto da ACIS anti-corrupção esteja agora empenhado no


desenvolvimento de instrumentos para apoiar o sector privado isto não significa que o
tempo para a discussão esteja esgotado. A ACIS, como sempre, acolhe de bom grado os
comentários e pensamentos daqueles que lerem este relatório, e espera que você passe-o
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em frente a outros que estejam interessados. As suas contribuições podem nos ser
enviadas no seguinte endereço:
Caixa Postal 07
Beira
Fax: (258) 23 325997
Tel: (258) 23 320335
Correio Electrónico: acisofala@teledata.mz
Toda a correspondência será tratada como confidencial.

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A) CONCEITOS-CHAVES

Os seguintes conceitos foram levantados nas discussões em toda a preparação deste


projecto, e foram particularmente enfatizadas nas mesas-redondas.

Estes são os conceitos que a ACIS usará para aconselhar futuras acções nos esforços
para apoiar o sector privado no combate a corrupção.

i) O SECTOR PRIVADO TEM UM PAPEL A DESEMPENHAR NO COMBATE À


CORRUPÇÃO

Enquanto os parâmetros deste papel foram amplamente discutidos o facto de tanto o


sector privado em si mesmo e outros grupos de interesse considerarem que há um papel
a desempenharem é importante. Este papel inclui combater tanto a corrupção privada-
privada e a público-privada.. Muitos dos participantes do sector privado às mesas-
redondas afirmaram estar desejosas de pautarem por uma posição de liderança moral e
a trabalhar em prol de melhorias dentro do sector privado.

ii) AS ASSOCIAÇÕES TÊM UM PAPEL A DESEMPENHAR NO COMBATE À


CORRUPÇÃO

As associações foram potencialmente vistas como actors-chave na representação de seus


membros, providenciarem um pára-choque entre membros e o sector privado em casos
de denúncias, providenciarem informação e apoio à membros e tomarem a dianteira no
uso de práticas transparentes. Enquanto que alguns membros da sociedade civil e
comunidade internacional sentiram que a tarefa de representar o sector privado devia
estar somente sob alçada da CTA, no geral os participantes nas mesas-redondas
acolheram a iniciativa da ACIS e encorajaram a organização a prosseguir em
desenvolver actividades em motivar membros a agirem contra corrupção.

iii) A INFORMAÇÃO É CHAVE

Uma das principais áreas nas quais tanto o sector privado como a sociedade civil
podem combater a corrupção é através da disseminação da informação. A necessidade
de acesso à informação de qualidade foi levantada repetidamente durante o projecto.
Embora venha a levar muito tempo para a estratégia do Governo Anti-corrupção ter
efeito, o sector privado pode começar a agir imediatamente para obter e disseminar
informação. As Associações podem ser usadas como uma conduta para canalizar
informação aos membros, e empresas individuais podem ser usadas para canalizarem
informações aos trabalhadores, como tem sido feito no combate ao HIV/SIDA.

iv) ACÇÕES FALAM MAIS ALTO QUE PALAVRAS

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Um número de participantes de mesas-redondas disseram que embora eles acolhiam a
oportunidade de discutir a questão, e aprenderem de uma nova perspectiva, o tempo
para falar já se foi e acções deveriam ser tomadas. A ACIS achou as mesas-redondas,
entrevistas e discussões uma maneira valiosa de saber mais acerca dos seus membros e
colegas do sector privado.

As respostas algo cépticas de alguns participantes mostraram que são necessários


sucessos para demonstrar que o sector privado pode fazer uma diferença e para
capacitar e encorajar empresas a tomarem mais acção.

v) A IMPLEMENTAÇÃO DOS NOVOS REGULAMENTOS DE COMPRAS SERÁ UM


TESTE IMPORTANTE

A implementação e monitoria dos novos regulamentos de compras será um teste tanto


para o sector público como o privado. O sector privado terá que se educar a si próprio
na maneira como os novos regulamentos de compras deverão funcionar e demonstrar o
seu comprometimento para participar como um parceiro honesto em processos de
concursos. Deverá também desenvolver monitoria independente da implementação dos
regulamentos para assinalar quaisquer fraquezas.

vi) NESTE MOMENTO O CUSTO DE DEMOCRATIZAR A TRANSPARÊNCIA


ULTRAPASSA OS BENEFÍCIOS FINANCEIROS ÓBVIOS

Enquanto que um certo número de empresas estão no processo de levarem à cabo a


certificação de qualidade e medidas de transparência, neste presente momento os custos
continuam a ultrapassar os benefícios para aqueles que não são companhias multi-
nacionais ou que operam no Mercado externo. Será um desafio contínuo para o sector
privado provar-se transparente e fazer lobbies junto de maiores compradores para
encorajá-los a prioritizarem o sector de compras, mesmo com a desvantagem em
termos de custos, de empresas que possam provar ser limpas. O fardo da prova
permanece com as empresas, algumas das quais expressaram interesse em explorar
opções tais como certificação, e códigos de conduta de fornecedores e trabalhadores
bem como a formação de ilhas de integridade.

vii) HÁ CERTAS ÁREAS QUE REQUEREM ATENÇÃO IMEDIATA

Um número de questões se levantou consistentemente durante o projecto, e portanto


merecem atenção aqui. Estas são áreas onde a corrupção público-privada alega-se estar
no seu pior e onde, enquanto que o sector privado pode porfiar para mudanças, exige-
se acção directa do Governo e seus parceiros de cooperação internacional:

o Sistema de imposto (em particular o rebate do IVA);


o Alfândegas (em particular os da Beira e a Frigo);

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o Obras públicas (em particular trabalhos de pequena escala levados à cabo
à nível provincial);
o Sistema de Justiça.

Questões de comércio ilegal e concorrência desleal que também foram levantadas


consistentemente durante o projecto podiam ser pelo menos parcialmente abordadas
por uma implementação efectiva e uniforme do IVA e legislação alfandegária.

viii) ALTERNATIVAS INDEPENDENTES PODEM E DEVIAM SER BUSCADAS

Isto inclui protecção independente de denunciantes, e mecanismos alternativos de


resolução de disputas. Muitas pessoas sentiam que as associações do sector privado
deviam fazer uso da sua posição para agirem como um pára-choques entre queixosos e
aqueles contra quem eles se denunciantes, sejam estes empresas, ou funcionários do
Estado. A ideia de associações agirem como protecção de denunciantes para
trabalhadores individuais de empresas foi também levantada. Muitos participantes
queixaram-se do sistema de justiça, embora poucos, se algum, tinham usado arbitragem,
que é uma opção em todas as disputas excepto laborais.

ix) O CUMPRIMENTO É CRUCIAL

Muitas das questões levantadas pelos participantes podiam ser abordadas através de
fazer cumprir a legislação existente. Isto inclui o cumprimento da legislação anti-
corrupção e da legislação que rege o comportamento dos funcionários do Estado
(incluindo requisitos para declarar bens e conflitos de interesse, etc.). Ficou
particularmente claro que muita gente crê casos de anti-corrupção de alto perfil
trazidos à tona de forma transparente e à vista pública, como permitido pela lei anti-
corrupção, irão contribuir grandemente para a luta contra corrupção em todos
sectores. Enquanto o sector privado em si não pode forçar o cumprimento da lei, pode,
contudo, fazer pressão para quem de direito fazer cumprir a lei e pode activamente
encorajar a comunidade internacional e sociedade civil a juntarem-se a ela nesta pressão.

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B) CASOS DE ESTUDO

Como parte da sua caixa de ferramentas, em acréscimo aos quatro já contidos no


relatório inicial, a ACIS irá desenvolver mais cinco casos de estudo nos seguintes temas:

a. Concursos em pequenas obras públicas


b. Rebatimento do IVA
c. Participação dos trabalhadores na corrupção
d. Corrupção na gestão de recursos humanos

Estes nove casos de estudo foram escolhidos como representando os aspectos-chave


levantados durante o projecto. Eles serão apresentados na caixa de ferramentas com
perguntas e serão elaborados para serem usados como base para discussão e
treinamento.

C) FERRAMENTAS

A fase final do projecto da ACIS de combate à participação do empresariado na


corrupção é uma preparação de uma série de ferramentas a serem usadas por empresas,
associações do sector privado e outras organizações. Na base de discussões em todo o
projecto as seguintes ferramentas foram identificadas como sendo as mais prováveis de
serem usadas por empresas:

i. Casos de estudos para treinamento e discussão


ii. Modelo de código de ética para trabalhadores
iii. Modelo de código de ética para fornecedores
iv. Modelo de código empresarial de princípios de negócios
v. Lista de contactos para apoio e informação
vi. Esboço de formas como usar a legislação anti-corrupção existente para apoiar
actividades anti-corrupção

Estes instrumentos serão desenvolvidos e incluídos numa caixa de ferramentas final a


ser publicada e distribuída no final deste ano.

D) PRÓXIMOS PASSOS

A ACIS deseja levar à cabo as seguintes actividades para continuar com as suas
actividades de combate à corrupção:

Dentro do âmbito do projecto:

¾ Desenvolvimento de ferramentas
¾ Publicação e disseminação da caixa de ferramentas

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Fora do âmbito do projecto:

¾ Apoiar e encorajar membros a buscarem certificação de qualidade, a formar ilhas de


integridade e a usar as ferramentas contidas na caixa;
¾ Provisão de informação a membros;
¾ Desenvolver mais folhetos sobre aspectos-chave na série do “quadro legal” da ACIS;
¾ Trabalhar com organizações da sociedade civil para desenvolver informação
apropriada para disseminação a trabalhadores de empresas (áreas tais como
educação, saúde e a polícia);
¾ Treinar membros no uso dos novos regulamentos de compras;
¾ Desenvolver capacidade independente de monitoria para monitorar actividades de
compra na Província de Sofala;
¾ Advogar a compra preferencial de empresas que possam demonstrar transparência;
¾ Advogar o cumprimento da legislação existente;
¾ Advogar a liberdade de informação, legislação sobre acção de classe e consumidores;
¾ Advogar a simplificação geral no esboço da legislação, começando pela nova lei de
trabalho;
¾ Encorajar o uso de alternativas independente tais como arbitragem, uso de
ombudsman, associações como pára-choques para queixas de membros, ou como
protectoras de denunciantes;
¾ Fazer pressão para um fórum de diálogo representativo incluindo uma transversão
de interesses da sociedade civil e sector privado.

6. APONTAMENTOS DETALHADOS

Os seguintes apontamentos estão baseados nas notas tomadas em conversas que


ocorreram durante as seis mesas-redondas levadas à cabo. Como tal elas contêm os
pontos de vista e opiniões dos indivíduos que participarem. As posições expressas não
devem ser consideradas como representado a posição oficial da ACIS ou todos
participantes. Os apontamentos foram desenvolvidos com o objectivo de ilustrarem a
intensidade dos debates que tiveram lugar.

Mesas-redondas de Nampula

Os participantes concordaram ser difícil para empresas operarem em Moçambique.


Um participante disse que sentia que a complexidade da lei adicionava-se aos níveis de
corrupção. Ele disse ser difícil tirar o dinheiro para for a do país ou desinvestir a tal
ponto que investidores estrangeiros são presos à esta armadilha e portanto não têm
opção senão continuarem a investir. Os participantes foram mais além ao dizer que
investidores os existentes podem ter uma vantagem se tiverem contactos à nível do
director provincial ou acima dele por que assim podem usá-los para remover obstáculos
no sistema. Contudo eles indicaram que esta não é nenhuma opção para investidores.

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Vários participantes citaram exemplos da necessidade de pagar comissões para ganhar
contractos com o governo. Obras públicas foram vistas como o sector mais corrupto
nesta matéria. Os participantes indicaram que em alguns casos o pagamento pelo
trabalho feito depende de inspectores que podem ser pagos para dizerem que o trabalho
foi completado, ou para dizer que mais trabalho foi feito do que na realidade foi feito.
Os participantes explicaram que esta é a maneira pela qual as empresas eram capazes de
competir no preço, porque na verdade não completavam o trabalho pelo qual eram
pagos.

Os participantes foram mais adiante e discutiram o sistema de impostos em particular


os rebatimentos do IVA. Este foi comummente aceite como sendo um sistema
corrupto e os participantes indicaram que 20% do montante devido pelo governo era a
taxa-padrão para obter-se o rebatimento.

Os participantes consideraram então algumas soluções para alguns dos problemas


levantados. No que diz respeito à corrupção nas obras públicas eles concordaram que
melhorar-se o sistema de fiscalização, ou talvez privatizá-lo reduziria a corrupção. No
caso dos rebatimentos do IVA os participantes disseram que as empresas deviam
recusar-se a pagar e deviam reter o montante devido nos seus livros como dívida para
que não sejam prejudicadas por grandes montantes de imposto da empresa.

De seguida os participantes discutiram o envolvimento de trabalhadores de empresas na


corrupção. Todos concordaram que a dianteira deve ser tomada a partir do topo e que
os directores das empresas deviam tomar uma liderança moral. Um participante disse
que quando tinha despedido um trabalhador por pagar suborno a um oficial do
governo o Ministério do Trabalho revogou a decisão dizendo que corrupção não era
uma das ofensas previstas na lei do trabalho que pudesse merecer despedimento. O caso
foi recorrido mas o sistema judicial exigiu que o empregador depositasse um grande
montante de modo a que o caso seguisse em frente. Os participantes concordaram que
a lei do trabalho e o sistema de justiça eram os principais factores que os impediam de
despedir trabalhadores apanhados em envolvimento de práticas corruptas.

Outro participante disse que tinha tido problemas de corrupção dentre os seus
trabalhadores. Estes eram exigidos a fazerem a entrega de bens gratuitos à camponeses
mas alguns deles foram apanhados cobrando pagamentos pelos bens ou então
comportando-se de maneira que prejudicava o relacionamento da empresa para com os
camponeses. Os participantes concordaram também que esta era uma situação difícil
que se deve à distância física ente a empresa e seus trabalhadores. Um número de ideias
foram dadas tais como difundir na rádio local para que as pessoas soubessem que os
bens dados pela empresa eram gratuitos. Contudo asseveraram que até chegar o tempo
em que será possível despedir trabalhadores por corrupção, continuará difícil controlá-
la.

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De seguida os participantes discutiram como poderiam apoiar novos investidores e
ajudarem-se um aos outros. Todos concordaram que apoio directo não era viável
porque muitas das empresas estavam em competição. Lamentaram a fraqueza geral, ou
a presumível tendenciosidade das associações de negócios e a resultante falta de acção.
O sentimento era que associações seriam os canais mais apropriados para a abordagem
a questão da corrupção. Os participantes notaram que quanto mais acesso a informação
eles tinham mais confortáveis se sentiam e estavam convencidos que providenciar
informação seria também de grande ajuda a novos investidores.

As Alfândegas na Beira foram apontadas para uma discussão particular por


participantes. Muitos dos participantes na mesa-redonda importam bens via Beira e
cada um tinha histórias a recontar de casos de solicitação de subornos e abuso de poder.
A conversa então seguiu-se para as obras públicas. Aqueles participantes envolvidos no
sector sentiam que o sistema de compras era uma forma de corrupção organizada. Eles
deram exemplos onde tinham sentiram que concursos tinham sido especificamente
forjados para irem ao encontro das capacidades de uma empresa e que diferentes
empresas por sua vez o tomariam para concorrerem em trabalhos forjados para as suas
necessidades.

Um número de participantes também indicou que concursos entregues usando fundos


de doadores que exigiam a compra de bens e serviços do país doador deviam ser
considerados inaceitáveis. Ele foram mais longe ao dizer que na sua experiência,
direcções do governo estão ávidas de manter processos de compras que usam regras dos
doadores e fundos dos doadores porque dá-lhes mais espaço de manobra para extorquir
subornos, já que os preços podem ser agravados para incluir comissões e os produtos
ou serviços fornecidos são raramente auditados pelo doador em questão. Os
participantes citaram exemplos de pessoas que fazem suas carreiras como “padrinhos”
auxiliando empresas a ganhar concursos, e notaram que um bom padrinho devia ser
capaz de obter os documentos do concurso muito antes destes serem tornados públicos.

Os participantes então embarcaram numa longa discussão do que constitui corrupção.


Tocaram na diferença entre lobby, oferecer presente, pagamentos de inventivos e
corrupção. Acabaram por concordar que se alguma dúvida pairar sobre a motivação da
acção devia ser considerada de procedência duvidosa, e que de facto corrupção é a “mais
velha profissão”.

Os participantes concordaram unanimemente que o sector privado tem um papel a


desempenhar na luta contra corrupção, mas disseram que o problema é algo que se
possa ser tratado do que curado. Fazer a corrupção menos atractiva por levar as pessoas
à prestação de contas e forçar punições foi visto como uma boa solução. Contudo os
participantes em geral sentiram que combater o sistema era uma situação
“inconquistável” e mudança pode somente ser afectada a partir do topo do sistema. Eles
expressaram preocupação de que jovens cedo aprendem que corrupção é a forma de se

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prosseguir e que sendo este o caso a situação tem mais probabilidade de piorar antes de
melhorar.

Um participante reiterou ter visto cartazes nas Alfândegas que convidam pessoas a
denunciarem corrupção mas disse que os cartazes não explicavam como é que os
denunciantes seriam protegidos se denunciassem alguém e o que aconteceria à pessoa
denunciada.

A burocracia foi vista pelos participantes como a questão-chave que facilita corrupção.
Sentiram que associações têm um maior papel a desempenhar na redução da
burocracia, e na educação de empresas sobre os seus direitos. Os participantes
concordaram que comércio ilegal é a maior ameaça ao negócio e é dependente da
corrupção. Um participante propôs que o encontro adoptasse o slogan: “Burocratismo
– é a SIDA do sector privado”. Ele disse que isto iria demonstrar a morte lenta à que
burocracia e corrupção arrastavam o país.

Os participantes sentiram que a única protecção que lhes está disponível é a lei, e que
eles devem encontrar formas de fazerem advocacia para um cumprimento igual da lei.
Sentiu-se que uma política de tolerância-zero devia ser adoptada para a corrupção e
operação ilegal.
Sentiu-se que o clima de investimento é no geral não saudável em Moçambique e que
investidores são desencorajados pela corrupção que encaram quando começam a
investigar possibilidades de investimentos. Por a corrupção estar a estrangular o
investimento há poucos operadores no Mercado o que permite o comércio ilegal e o
“sistema” de prevalecer, disseram.

Vários participantes deram exemplos tanto de investidores locais e internacionais que


expressam interessem numa dada área e que depois se retiram por causa dos níveis de
burocracia e corrupção. Sentiram que como resultado disso, muitos dos que investem
não são “os melhores” investidores, pelo contrário, são aqueles que sabem como e estão
preparados de trabalhar dentro do esquema. Deram exemplos dos que eles sentiram
serem conhecidos como sendo grandes empresários Africanos aqueles que usam as suas
conexões e influência para alcançar sucesso económico. Tais pessoas, disseram, gerem
empresas que enriqueceram-se em caos mas que achariam ser difícil competir num
ambiente transparente. Os participantes sentiram aqueles envolvidos em práticas
corruptas têm lobbies particularmente fortes por causa dos seus laços estreitos com
membros do governo, à vários níveis. Quando perguntados como é isto poderia ser
ultrapassado os participantes concordaram que a acção colectiva e fortes associações
seriam um lugar por onde começar.

Vários participantes questionaram o enfoque muitas vezes dado a multi-nacionais e


mega-projectos. Sentiram que enquanto estas organizações podem demonstrar a sua
responsabilidade social a importância das PMEs que não têm capacidade de construir
escolas e hospitais não deve ser menosprezada. Anotaram que grandes empresas podem
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tomar as suas preocupações e seus lobbies directamente ao topo, enquanto que PMEs
requerem mais protecção e apoio. Sentiu-se ser importante que o sector privado legal
de todos os tamanhos trabalhe conjuntamente.

Uma ideia que foi levantada foi a campanha de “declarar o que pagar” onde empresas
declaram quanto gastam na responsabilidade social corporativo para que o público
possa ver quanto o sector privado de facto contribui. Sentiu-se que por melhorar-se a
imagem do sector privado como um contribuidor ao crescimento e como um líder
moral muito se podia alcançar em termos de advocacia para um ambiente de negócios
melhorado. Um participante asseverou que desde que grande parte do orçamento é
feita por donativos do que por impostos, a voz do sector privado vai permanecer fraca.

O encontro concluiu com os participantes concordando em manter-se em contacto e


tentar trabalhar juntos para ajudarem-se um ao outro onde possível.

Mesas-redondas da Beira

Os participantes começaram a discussão por uma reflexão sobre um bem-conhecido


caso local de corrupção, de uma lancha a motor alegadamente comprada pelo director
provincial de finanças. A aparente falta de conclusão à este caso, que se iniciou há
alguns quarto anos atrás foi vista como indicação do nível de impunidade de que gozam
funcionários do Estado. Foi notado por um dos participantes que em muitos países
empresários tomam riscos e portanto fazem mais dinheiro, enquanto que funcionários
públicos têm segurança de emprego e não tomam riscos e portanto ganham pouco,
contudo em Moçambique, ele disse, é o contrário. Os participantes concordaram que
até que chegue o tempo em que a corrupção se veja a ser abordada à todos os níveis da
administração pouco iria mudar. Eles concordaram que punição devia ser “efectiva,
pronta e divulgada”.

Os participantes discutiram casos locais de funcionários que foram indiciados de


corrupção e depois serem promovidos para tirar-lhes da posição anterior. Sentiram que
de momento o sinal está dado de que “crime compensa” e que sem um forte e directo
sinal a partir do topo, as coisas não iriam mudar.

Um participante vincou ser quase impossível obter-se um contracto com o governo


sem pagar comissão. Ele disse que tinha tentado instituir um sistema de honestidade e
não-pagamento de comissões no sector em que trabalha mas que há sempre uma
empresa que está preparada para minar o processo. Ele disse que acreditava fortemente
na acção colectiva e na construção de confiança dentro do sector privado. Ele disse que
sentia que as associações deviam ser actores-chave e publicidade devia ser usada para
promover transparência e legalidade. Ele disse também que as pessoas muitas vezes
dizem-lhe que elas não se importariam em pagar seus impostos se sentissem que estes
estejam a ser usados de forma transparente.

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Outros participantes concordaram. Eles sentiram que era importante apoiar associações
a que fossem capazes de provar que seus membros operam transparentemente, e
encorajar associações a tomar a dianteira em promover transparência dentro do sector
privado. Vários participantes foram particularmente vocais na importância do papel do
sector privado e da sociedade civil. Eles notaram casos de suposta corrupção por parte
de agências doadoras, e de representantes de agencies que se tornam, como eles
disseram, “corrompidas pela vida fácil de ajudas-de-custo e curtas horas de trabalho” e
disseram que o sector privado não deve esperar pelos doadores para tomar a dianteira,
mas deve tomar o passo decisivo e erguer-se nos princípios da moralidade e legalidade.
Eles notaram que na sua experiência, doadores nem sempre pagavam o imposto de
liberação para especialistas estrangeiros que trabalham no país, por exemplo, e sentiram
que isto era uma competição desonesta.

A discussão seguiu-se depois para o “o sistema” com vários participantes dando casos
explícitos de sistemas de corrupção altamente organizados nos diferentes
departamentos do Estado. Notaram que quando um director é tirado o substituto é
dado uma orientação sobre como o “sistema” no departamento funciona e é dito
quanto é que ele pode esperar fazer deste “sistema”. Sentiu-se que levar à cabo meios de
avaliação e exigir declaração de bens seria uma maneira de gerir o problema.

Os participantes então viraram-se para a questão da corrupção dentro do sector


privado. Aqui também eles concordaram que publicidade e informação sobre aqueles
que tivessem sido apanhados serviria de atenuante. Eles notaram também que tornar a
evasão fiscal crime, como recentemente o foi, é um passo importante se correctamente
aplicado. Eles expressaram preocupação acerca das denúncias que disseram que
serviriam como caça à bruxa, tanto dentro do sector privado como do público. A
certificação e auditorias foram vistas como instrumentos importantes mas os
participantes notaram que estes são também caros e ainda não dão qualquer benefício
às empresas.

O conceito de códigos de princípios foi discutido, mas os participantes sentiram que o


cumprimento e a gestão eram os maiores constrangimentos mas que deveriam ser
introduzidas e experimentados. Uma das formas para fazer isto funcionar, os
participantes decidiram, seria se grandes empresas se juntassem e trabalhassem com os
fornecedores para assegurar transparência na sua cadeia de valores. Foi proposto que
grandes empresas formariam “clubes de compradores” que exigiriam aos fornecedores
subscreverem à um código que seria então monitorado. O código e o contrato de
fornecimento daí resultante seria então usado como documentação de apoio para
ajudar o fornecedor a ter acesso à crédito.

Sentiu-se que corrupção surge como resultado da oportunidade e também da pressão da


família sobre pessoas para alcançarem mais.

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Os participantes disseram que a delegação da Beira das Alfândegas é o departamento
mais corrupto com que eles já lidaram. Vários participantes deram descrições gráficas
de como o “sistema” interno dentro das Alfândegas trabalha e como este afecta as
empresas e os clientes. Um participante contou a história de uma operação feita a um
oficial das Alfândegas que tinha regularmente solicitado subornos. Contudo ele notou
que apesar da evidência gravada em fita (que não é admissível em tribunal) o oficial em
causa foi transferido. Outros participantes notaram que pode ser mais fácil atacar
corrupção à níveis mais baixos tais como este mas que como eles viram na realidade o
maior problema está lá em cima, e portanto mais difícil de se lidar com ele.

A discussão seguiu-se depois para a legislação anti-corrupção e a possibilidade de usá-la.


Os participantes sentiram que de momento esta não podia ser usada porque não existe
nenhuma forma de protecção dada para uma pessoa que denuncia a corrupção.
Contudo eles sentiram que acção colectiva através das associações iria não somente
providenciar protecção para indivíduos e empresas mas iria também pressionar o
governo a fazer cumprir a lei e começar a explorar medidas práticas de combater
corrupção.

Na questão de outros métodos de combater a corrupção um participante disse não


haver uma “fórmula mágica”. O consenso foi mais de que todos os diferentes métodos
propostos no documento de discussão deviam ser usados. Os participantes disseram
que a corrupção é uma atitude da mente e que não é impossível se as pessoas pensarem
positivamente. Sentiram que a educação é particularmente importante, e mostraram
particular preocupação acerca do contacto à que crianças no estão expostas no sistema
de educação. Sentiram que as empresas seriam uma conduta útil para providenciar
informação e liderança moral para os seus trabalhadores, que por sua vez levariam esta
mensagem para casa. Ficou concordado que as associações deviam tomar a dianteira no
desenvolvimento de acção colectiva e no providenciar informação e apoio a membros.

Os participantes foram adiante e discutiram a educação e moralidade. No capítulo da


educação eles expressaram lamento à aparente queda nos valores éticos ao longo das
gerações. Em parte atribuíram isso aos modelos, notando que muitos modelos negros
são por exemplos “rap gangs”. Vários participantes deram exemplos de como
corrupção e questões morais tinham afectado crianças e famílias.

Os participantes então discutiram a questão da corrupção no sector de negócios em


outros países. Vários notaram a sua surpresa inicial quando tinham lidado com colegas
em outros países que tinham sido incapazes de aceitar ofertas de entretenimento, ou
tinham exigidos a declarar o valor destas coisas. Concordaram que este era um bom
sistema e podia ser implementado em Moçambique. Estavam interessados em explorar
a ideia do código de ética para trabalhadores. Contudo eles depois concordaram que
enquanto o despedimento de trabalhadores corruptos pode ser desvantajoso na
realidade mudança no topo é essencial primeiro. Vários participantes notaram
exemplos de ministros de governos na Europa que se tinham demitido como resultado
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de práticas erradas cometidas não eles mas por membros das suas equipes. Eles
notaram, com mais humor que em Moçambique é mais provável que a pessoa que você
denuncia venha a ser seu superior hierárquico!

Os participantes depois disseram não sentir que a situação seja nefasta. Disseram que
pensavam que associações deviam trabalhar em ajuda aos seus membros a tornarem-se e
provarem que tornaram-se transparentes. Disseram que associações poderiam de forma
útil providenciar ambiente para a discussão de questões morais e legais difíceis.
Disseram que todos deviam ser realísticos e que o processo levaria tempo e ser uma
longa série de muitos pequenos passos. Contudo os participantes concordaram que se
cada pessoa fizesse uma coisa cada dia, e se cada pessoa falasse ao alto, mesmo num
ambiente confidencial então as coisas iriam mudar.

Um participante então levantou a questão do condicionalismo dos doadores. Outros


participantes concordaram que os doadores são uma força ponderosa e sugeriram que
eles deviam usar esta força para o bem de Moçambique por exigir justificação
detalhadamente transparente para o uso dos fundos que eles dão. Os participantes
concordaram que os doadores deviam ser encorajados a usar tentativas de auditorias
para penetrarem no complexo labirinto usado para esconder o não transparente uso de
fundos. Propuseram também que sem descentralização para que por exemplo
governadores provinciais sejam eleitos, a voz da sociedade civil permanecerá fraca por
mais algum tempo no futuro. Propuseram que o sector privado encontra-se numa
situação relativo da do resto da sociedade civil ao ser de alguma forma organizada e
coesa, e que a responsabilidade portanto recai ao sector privado para encorajar os
doadores a forçarem os seus condicionalismos.

A conversa voltou depois para a aplicação dos códigos de conduta do sector privado.
Os participantes discutiram se deviam tomar uma interpretação severa da lei e usarem
mínimo risco do que presunção de inocência seria uma opção. Contudo foi concordado
que no estágio inicial da luta contra a corrupção isto seria contra produtivo. Sentiu-se
que seria melhor ter mais empresas envolvidas em associações onde eles poderiam
abertamente e confidencialmente discutir os seus dilemas morais, do que excluir
empresas por pequenas transgressões e criar desafecto e criar a ideia de que
transparência é somente para a minoria. Foi sugerido que se a política do código tiver
que ser feito, exigira-se deste modo que a empresa prove a sua transparência do que
exigir que a associação prove-o caso contrário seria uma aproximação razoável.

No que diz respeito a oferta de vantagens para as empresas tornarem-se participantes


transparentes achou-se difícil encontrar-se alguns incentives imediatos. Reconheceram
as dificuldades encaradas por empresas apanhadas no ciclo da corrupção ou envolvidas
num sector tradicionalmente corrupto. Sendo incapaz de arcar com uma solução o
grupo então discutiu o impacto da corrupção. Eles expressaram-se particularmente
preocupados acerca do impacto que a corrupção está a ter nas gerações mais jovens e
naqueles que olham para Moçambique a partir de fora. Um participante asseverou que
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“a história nos julgará nisto e teremos todos sido marcados de termos tido
envolvimento”. Deram exemplos de países onde crêem que a corrupção é parte do
tecido social. Eles todos estiveram muito claros no facto de que isto não devia ser
permitido acontecer aqui, um participante observou que, o facto de esta discussão estar
decorrendo provava, que a situação não é irreversível. Foi concordado ser importante
para as pessoas entenderem o dano que a corrupção faz e como ela prejudica empresas e
o país em geral.

O grupo concordou então que iria assumir a responsabilidade de fazer lembrar pelo
menos uma pessoa cada dia que a corrupção é errada.

A Segunda mesa-redonda havida na Beira começou com uma discussão do que constitui
a corrupção. Depois de uma discussão extensiva dois dos participantes disseram que
não tinham anteriormente visto muitos dos actos descritos pelos seus co-participantes
como corrupção, mas viam-nos como necessidades de modo a conduzir negócio em
Moçambique. Foi unanimemente concordado que a burocracia e bloqueios criados pelo
sector público contribuía significativamente para os pedidos regulares de subornos que
muitos participantes disseram ter constatado.

Contudo vários participantes afirmaram que eles e suas empresas recusavam-se a


participar na corrupção ou a tomar parte no problema e que eles tinham implementado
sistemas para impedir-lhes de tomarem envolvimento. Vários participantes deram
exemplos específicos de terem se recusado a pagar pedidos de subornos e de terem
denunciado o corruptor e como resultado terem perdido negócio.

Os participantes concordaram que só lidando com fornecedores aprovados e legais era


preferível e dava à empresa mais controle das transacções. Contudo a fraqueza do
mercado, falta de escolha e competição implicou que muitas empresas não tinham tido
escolha sobre com quem lidar. Muitas empresas optaram por importar directamente
insumos-chave de modo a ter certeza da qualidade e legalidade.

Empresas que activamente seguem uma política de transparência citaram a tomada de


decisão à nível do topo como sendo a chave no sucesso das suas políticas. Participantes
de empresas propuseram que dado o presente tamanho do Mercado ligando
directamente de director a director seria viável e reduziria a possibilidade da corrupção
baixar-se à nível da estrutura da empresa. Todos os presentes sentiram que os seus pares
deviam sentir-se livres de reportar qualquer inconsistência a eles pessoalmente.
Sobretudo o envolvimento directo de gestores seniores nas operações do dia-a-dia e em
relacionamentos com fornecedores e outros contactos externos da empresa era
essencial. Os participantes sentiram que uma forte e clara liderança e exemplo eram
necessários.

Vários participantes propuseram que associações deviam ser usadas como um escudo
para protecção de denunciantes onde as empresas pudessem reportar exemplos de
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corrupção que eles detectassem confidencialmente à associação e esta levaria então o
assunto avante com a outra empresa.

Empresas no lado da oferta afirmaram que preferiam fornecer empresas com uma
política de compras clara e transparente. Elas sentiram que isto dava-lhes uma
vantagem quando elas mesmas se possem de forma transparente e permitia-lhes lidar
com o comprador duma maneira clara.

Os participantes concordaram que através da associação eles iriam considerar a


possibilidade de estabelecerem um pacto. Afirmaram que pressão podia ser aplicada
tanto pelos fornecedores como os compradores para cada lado da relação para operar
duma maneira mais transparente. Contudo foi concordado que o funcionamento de tal
sistema seria totalmente dependente do compromisso do topo e do direito de qualquer
um notar problemas no sistema e contactar os seus contrapartes à nível sénior de
gestão.

No que diz respeito à corrupção envolvendo o sector público os representantes


exprimiram-se fatigados de ouvir que o sector privado é totalmente culpado disso. Os
participantes notaram o exemplo das Alfândegas na Beira e Frigo em Maputo ambos
considerados pelos presentes os mais altamente corruptos. Vários participantes
notaram que sentiam que a Unidade Anti-corrupção do governo ainda não está
equipada para lidar com estes assuntos mas que eles iriam acolher qualquer informação
sobre como trazer assuntos à Unidade e sobre como proteger a sua anonimidade ao
fazer isso. Sentiram que a política do governo precisava de ser clarificada e que eles
precisariam de ver acções concretas sendo levados à cabo. Sentiu-se que na fase
transitória uma associação podia dar a protecção necessitada pelas empresas, para
capacitá-las a denunciarem práticas corruptas.

A conversa moveu-se depois de volta à ideia de ter um código de prática para membros
da associação. Concordou-se que isto seria materializado por expor-se aqueles que não
agissem em conformidade. Contudo os participantes não foram capazes de resolver a
questão de como uma associação que depende somente das quotas dos membros para os
seus rendimentos seria exigida a expulsar membros por não compactuarem com um
código de conduta. Eles apontaram contudo que algumas associações não dependem das
quotas dos membros, mas sim de donativos, e podia portanto esperar-se que elas
tomem uma dianteira nesta área. Alguns participantes expressaram-se altamente
pessimistas da possibilidade de quem de direito velar pela observância de
comportamento não-corrupto. Eles notaram que assinar um código e viver e trabalhar
em Moçambique seria como estar-se em dois mundos paralelos, o ideal e o actual.
Alguns participantes notaram que estavam sob mais pressão para alcançar alvos e
manter os clientes satisfeitos do que comportar-se de uma maneira não-corrupta.
Sobretudo, sentiu-se que falta de prestação de contas, falta de serviços profissionais (tais
como advogados e contabilistas) e falta de informação contribuía para o problema.

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Alguns participantes reiteraram o facto de que assinar um código seria apenas valioso
num tempo como quando um dos seus clientes instruir-lhes a fazer um pagamento
corrupto de modo a derrubar uma barreira administrativa e completar um trabalho.
Eles notaram que já nesse ponto, o debate passa de ser mera Filosofia à realidade.
Contudo um outro participante deu um exemplo de outro país que tinha sido engolido
pela corrupção mas onde decisões de alto nível tinham conseguido estancar práticas
corruptas. O participante disse que isso tinha levado um longo tempo mas que toda
uma mentalidade nacional tinha sido mudada e agora a corrupção era tão fora do
comum para se notar. O participante disse que enquanto a corrupção em si é uma
decisão individual o governo e o sector privado (e a sociedade como um todo) podem
uma decisão colectiva de envergonhar os que agissem corruptamente e tomar os passos
necessários para reduzir as oportunidades para a ocorrência da corrupção.

Os participantes concordaram que a simplificação de sistemas e a provisão de


informação clara são chaves na luta contra corrupção. Mudanças feitas precisavam de
substantivas e partes duma clara política.

Os representantes então levantaram a questão da corrupção prevalecente entre os


trabalhadores, especialmente aqueles que operam fora do controle directo do escritório-
sede, por exemplo. Um número de casos de fraude e extorsão foram notados. Os
representantes concluíram que até um tempo tal em que hajam claras repercussões que
podiam ser consagradas na lei e até que a própria corrupção seja vista como coisa
vergonhosa de se envolver nela seria difícil de gerir todos estes assuntos individuais. Os
participantes notaram que em alguns círculos a corrupção e fraude não são
aparentemente percebidos como vergonhosos mas sim como formas legítimas de
alguém progredir. Existe portanto, um grande leque de interesses ocultos ao não
mudar-se os sistemas existentes. Uma vez mais os participantes reiteraram a necessidade
para uma maior e óbvia mudança à nível sénior do governo, e um claro compromisso
do topo à base para mudar a situação. Os participantes concordaram que julgamentos
públicos tais como os que envolveram os gestores seniores da Enron eram úteis e que
fazer exemplos públicos de pessoas serviria para fazer com que as pessoas se
envergonhassem da corrupção.

No que respeita a maneira como o sector privado pode promover corrupção os


participantes concordaram que até que venha o tempo em que o governo seja exigido a
responder ao sector privado pelos gastos de imposto a voz do sector privado será
limitada. Um número de representantes disse que sentia que os doadores são uma parte
significante do problema já que eles não impõem condicionalismo e não exigem que o
governo tenha um diálogo de dois sentidos com um representante interagir com a
sociedade civil. Foi concordado que se requer uma função de auditoria forte,
competente e independente para supervisar a administração pública. Sentiu-se que não
haveria mudança significativa nas atitudes do sector público até um tempo tal em que
os doadores impusessem o condicionalismo e que portanto esta devia ser uma das coisas
que o sector privado activamente advoga tanto dentro como fora de Moçambique.
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Os representantes estiveram divididos na questão do quão eficientemente a acção do
sector privado seria na imposição de mudanças à nível nacional. Contudo os
participantes concordaram que internamente o sector privado podia ter o seu enfoque
na melhoria da sua imagem e promover a legalidade e que isto devia incluir
compartilhar informação sobre corrupção à massa laboral. Foi reiterado que mudança
deve vir do topo e que compromisso é essencial para o sucesso de iniciativas anti-
corrupção.

A reunião encerrou com os representantes concordando que o argumento de que “é


preciso que sejam dois para fazerem tango” dado pelo governo é uma forma fácil de
justificar alguma coisa que não possa ser justificada e que o sector privado deve tomar
acção concreta para melhorar a situação. Foi concordado que os participantes
gostariam de ter acesso à códigos de ética dos fornecedores e trabalhadores, com
informação sobre como fazê-los cumprir. Eles propuseram também a recolha de
informação sobre como é que a Unidade Anti-corrupção devia trabalhar e disseminá-la
assim como considerar opções de uso de associações no papel de protecção de
denunciantes. A disseminação de informação para assegurar que empresas tenham a
informação necessária para operarem legalmente e defenderem os seus direitos foi
também concordada ser essencial.

Mesas-redondas de Maputo

Algumas grandes empresas disseram que possuem um código de conduta de fornecedor


e trabalhador. Tais empresas também usam firmas de auditoria reconhecidas para
anualmente auditarem os seus processos de compras. As empresas têm mecanismos de
penalização interna para apoiar a implementação dos códigos de conduta.

Os participantes notaram que o governo inspecciona as instalações das suas


organizações (Ministérios do Trabalho e da Indústria & Comércio) e que eles gostariam
de ser avisados das inspecções com antecedência para prepararem documentação, e ver
os relatórios resultantes das inspecções dando-lhes ideias sobre como melhorar.

Os participantes disseram que acreditavam que o problema da corrupção é pior para


pequenas empresas e que o sector privado devia pensar em desenvolver uma estratégia
para melhorar a ética do negócio e apoiar as PMEs. Foi concordado que qualquer
estratégia não deve estar baseada na importância grossa de ideias de fora mas devia
reconhecer as peculiaridades do contexto Moçambicano. Foi também concordado que
a disseminação de informação tanto para empresas como aos trabalhadores e suas
famílias através das empresas é muito importante. O proposto serviço da CTA seria
uma maneira de abordar a protecção daqueles que denunciam abusos. Problemas com o
sistema de justiça foram salientados e os participantes concordaram que soluções
alternativas e criativas devem ser buscadas.

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Os participantes notaram que existem uma alta incidência de crime organizado que, de
acordo com ele, apoia a corrupção. Vários participantes notaram que as suas empresas
tomaram uma posição firme contra a corrupção, por exemplo, nos serviços
Alfandegários, e têm como resultado ganho um nome por serem anti-corruptas. Esta
liderança está tendo impacto nas acções dos trabalhadores das empresas e resultaram na
empresa sendo deixada em paz. Foi concordado que uma organização desorganizada
tem mais probabilidade de cair na armadilha do ciclo da corrupção. A corrupção deve
contudo não ser combatida por mais organizações, ela deve ser travada por indivíduos
honestos que são apoiados outros honestos indivíduos e que podem passar a mensagem
aos outros para sê-lhe juntarem.

A protecção de consumidores foi discutida e ficou concordado que esta é uma área que
deve
ser desenvolvida, junto com regulamentos para bens públicos tais como electricidade,
água e telefones. Os participantes discutiram exemplos de subidas descontroladas de
preços e pobres níveis de serviços nas empresas fornecedoras de bens públicos.

Os participantes propuseram que as associações devem ser geridas da maneira como as


empresas o são em termos de códigos de condutas e não devem ser consideradas como
veículos para o agigantamento e enriquecimento pessoal.

A discussão virou-se para as empresas de auditoria e auditores do governo. Foi


proposto que tanto o estado e auditores privados devem seguir as mesmas regras e
devem assinar declarações de independência e boa prática, e que os seus trabalhadores
devem fazer declarações de bens e conflito de interesse
.
Mais adiante, a conversa debruçou-se de como lidar com a corrupção. Vários
participantes sentiram que a prevenção era mais provável de ser efectiva do que tentar
abater a corrupção existente. Outros sentiram que aqueles que são corruptos deviam
ser estigmatizados enquanto respeito devia ser dado aqueles não são corruptos. Outros
discordaram dizendo que existe necessidade para toda uma mudança social e que cada
um devia ser dado a oportunidade de participar. Os participantes propuseram a
necessidade para a educação em valores morais em toda a sociedade.

A corrupção foi vista como que estando ligada ao poder. Os participantes discutiram o
papel da polícia e dos tribunais e as atitudes adoptadas por pessoas que estão no poder.
A redução da corrupção é vista por muitos como uma redução de poder. Portanto
questões de bens comuns deviam ser abordadas e as pessoas deviam ser educadas a
entender que as suas acções têm impacto sobre outras acções e que poder não é
sinónimo de corrupção.

Vários participantes disseram que enquanto que o sector privado podia criar condições
internas para reduzir a corrupção, mudança genuína é necessária do sector público. Um
participante notou que espera-se que a reforma do sector público leve pelo menos 10
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anos e que o resto da sociedade não iria esperar por tanto tempo assim. O papel do
sector privado foi portanto visto como o de apoiar empresas a desenvolver códigos de
conduta e a desenvolver sistemas internos para combater a corrupção enquanto
fazendo advocacia para a reforma do sector público e providenciar informação à
empresas e seus trabalhadores. Os participantes disseram que o sector privado deve ser
encorajado a exigir informação e advogarem legislação simples, prática, objective e
transparente enquanto desenvolvendo sentinelas.

A questão das vantagens de não participar na corrupção foi discutida mas os


participantes não chegaram à nenhuma conclusão nisso. Antes pelo contrário, eles
avançaram para discutir o papel do sector privado como educador. Foi proposto que o
governo e sociedade civil devem ter um papel a desempenhar na educação moral mas
que isto não envolve necessariamente o sector privado. Foi concordado que o sector
privado necessitava de se limpar e que corrupção e ilegalidade devem ser confrontados.
Sentiu-se que muita da responsabilidade, recaía com os directores das empresas e
gestores seniores que devem dar exemplo e que devem estabelecer políticas da empresa
no que diz respeito à corrupção. Traficar influências particularmente na compra de
bens e serviços ao estado foi notado como uma maior área que exige atenção e na qual
o sector privado devia tomar uma posição forte. Os participantes também notaram que
os oficiais do sector público podem promover a criação de investimentos e empresas
nas quais eles têm acções ou das quais eles são garantidos um salário privado.

Os participantes concordaram que há necessidade de melhor as condições do Mercado e


o ambiente de negócios para dar as empresas, particularmente novos investidores e
PMEs uma oportunidade de se desenvolver. O sistema de imposto e particularmente o
sistema alfandegário foram notados como sendo corruptos e sentiu-se que estes e as
alfândegas eram os maiores custos ou barreiras para a entrada de operadores não-
corruptos.

Os participantes concordaram em discordar na questão de salários melhorados nos


serviços públicos como uma maneira de reduzir a corrupção. Vários participantes
sentiram que a educação moral era necessária e que algumas pessoas, não importa
quanto são pagas irão sempre comportar-se de forma corrupta enquanto que outras não
importa o quão pouco lhes for pago faria uma boa escolha moral. Os participantes
concordaram que pobreza e corrupção não devem ser vistos em directa correlação,
notando que entre os mais ricos pode-se as vezes achar-se o mais corrupto.

A simplificação da linguagem usada na elaboração da legislação foi notada como uma


das chaves para o fortalecimento tanto as empresas como indivíduos a conhecerem os
seus direitos. Os participantes concordaram que a disseminação de leis em linguagem
simples é essencial.

Vários participantes disseram que era muito bom discutir filosofia mas que a reunião
teve falta de propostas de soluções práticas. Eles propuseram que as soluções deveriam
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seguir atrás de acções, dando o exemplo de que a protecção de denunciantes iria seguir-
se se houvesse denunciantes a proteger. Outros participantes discordaram
veementemente com esta posição, afirmando que as pessoas agiriam quando virem
pessoas a serem punidas por corrupção e verem melhorias a tomar lugar. Os
participantes concordaram que as associações devem adoptar melhores práticas e
encorajar membros a fazerem o mesmo. Espera-se que o CTA tome a dianteira e que o
sector privado moveria o tema da anti-corrupção da discussão para acção. Foi proposto
que o sector privado deve financiar campanhas anti-corrupção da sociedade civil. Um
representante providenciou exemplos de pequenas acções levadas à cabo no Hospital
Central de Maputo (colocando horários de trabalho, nomes de pessoas responsáveis
pelos departamentos, preços dos serviços, tempo de espera e como as queixas podiam
ser feitas) que fez uma grande diferença.

Os participantes discutiram as actividades da ACIS sobre as comissões pagas nos


processos de compras. Eles notaram que existe uma percepção de que alguém sempre
pagará portanto nós podemos todos também pagar, mas que era necessário que as
empresas que não pagam, afirmassem a sua posição neste assunto. Sistemas de
monitoria independente para os novos regulamentos de compras foram achados
essenciais e os participantes concordaram que o sector privado tem um papel a
desempenhar.

Um participante objectou o facto de a ACIS ter tomado a dianteira nesta questão. Ele
sentiu que o projecto nacional do governo contra a corrupção devia ser feito o ponto
de partida para todos e que a CTA seria a rota mais apropriada para o sector privado
usar para advogar pela mudança. Ele disse que era preocupação que uma associação
numa região do país levaria sobre si a responsabilidade de falar e tentar influenciar a
política nacional. Ele acrescentou que o estudo da ACIS não tinha nenhum
fundamento académico e portanto não devia ser matéria de discussão.

Outros participantes fortemente discordaram dizendo que quanto mais iniciativas e


vozes se juntassem a este chamado para reforma melhor era. Outro participante notou
que era positive que o sector privado estava a fazer alguma coisa e reagir nesta
importante área.

A discussão passou a concentrar-se sobre as compras e se a comunidade de doadores


seria uma influência positive na aplicação transparente dos novos regulamentos de
compras. Em geral, foi sentimento comum que tanto a comunidade de doadores como
o sector privado deveriam monitorar a implementação e uso dos regulamentos.
Contudo para que isto seja efectivo os participantes concordaram que o sector privado
necessitaria de informação e capacitação no uso dos novos regulamentos. Os
participantes estiveram divididos sobre se numa situação de compras os vendedores
deveriam concordar e estabelecer um árbitro do governo ou se estariam livres de
seleccionarem um duma reconhecida organização da sociedade civil por exemplo.

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Um participante notou que a lei, em particular a nova Constituição providencia um
número de figures tais como acordos de cavalheiros, e legislação de acção de classe que
apoiariam tanto o sector privado e a sociedade civil através nenhuma figura que seja
legislada ainda. Os participantes discutiram o papel da Gabinete Anti-Corrupção do
governo (GCC) e como este iria operar. Ficou concordado que há necessidade de um
claro entendimento de como esta organização iria funcionar. Os participantes
discutiram também métodos alternativas que podem ser usados para limitar a
corrupção. Por exemplo foi sugerido que quando os doadores contratam auditores eles
podiam incluir nos termos de referência para o auditor, o requisito de assegurar que
aspectos-chave contidos na lei anti-corrupção (tais como declaração de bens) estavam a
ser cumpridos. Enquanto com o proposto acordo de cavalheiros tem um papel
limitado, a pessoa do “observador” providencia uma oportunidade para a sociedade
civil ver casos legais e seria usado efectivamente conjuntamente com legislação de acção
de classe.

Os participantes mostraram-se esperançosos que a ACIS vá continuar a tomar a


dianteira e que iria encorajar o governo a pôr em acção a sua estratégia anti-corrupção.
Uma maneira seria começar a criar ilhas de integridade com modestas expectativas,
tendo como enfoque factores ou indústrias, ou localizações geográficas. Mudança de
comportamento deve ser encorajada através de capacitação e informação. Foi proposto
que se encoraje o CTA a tomar o papel de colectivamente representar o sector privado
e receber denúncias e levá-los adiante no lugar dos seus membros e membros de
membros. Os participantes também expressaram a esperança de o sector privado
começar usar a arbitragem mais activamente, bem como auditorias de transparência e
certificação.

Formulários de Comentários
Os participantes foram solicitados a comentar em formulários confidenciais. Os
resultados são sumarizados como se seguem:

ƒ O RELATÓRIO DA ACIS FOI ÚTIL PARA VOCÊ E POR QUÊ?

O relatório providenciou uma sinopse útil de informação sobre Moçambique mas


também sobre outros países. Os participantes acharam a comparação e ideias para
instrumentos bastante útil. Notaram que os assuntos sumários da corrupção
Moçambicana foi bastante útil. Foi também notado que o relatório ajudou a fechar a
lacuna entre teoria e realidade quando lidando com corrupção, através de incluir-se
estudos de casos em exemplos práticos. Os participantes notaram que o relatório
ilustrou que o sector privado tem um papel a desempenhar e que dados exemplos de
outros países este papel pode na verdade fazer uma diferença. Sugestões práticas
inclusas no relatório foram acolhidas. Foi notado que o relatório deu claras indicações
de áreas nas quais parceiros de cooperação podem trabalhar com o sector privado.

ƒ VOCE ACHOU A MESA-REDONDA UTIL E POR QUE?


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Os participantes sentiram que as mesas-redondas eram uma oportunidade útil para a
troca de ideias e falar abertamente. Disseram que sentiam que a estrutura das mesas-
redondas tornavam a discussão fácil do que num seminário ou numa situação de
entrevista individual. Eles sentiam que as mesas-redondas e o relatório eram indicativas
de uma vontade clara de mudar e providenciar soluções práticas ao problema. Foi
notado que tanto o relatório como os encontros assinalaram a necessidade de partilha e
disseminação de informação, o que em si mesmo é um problema relativamente simples
de resolver. Os participantes também notaram que as mesas-redondas ajudaram a fazer
os assuntos mais “vívidos” e providenciar uma plataforma para ideias que se podem
usar como base para acção concreta.

ƒ COMO É QUE A CORRUPÇÃO AFECTA A SUA ORGANIZAÇÃO?

Muitos participantes anotaram a fraude, demoras, custos adicionais e falta de controlo


nesta secção do formulário de comentários. Os participantes também notaram que a
corrupção contribui significativamente para uma estagnação geral do tecido moral da
sociedade. As empresas envolvidas no processo de concursos públicos notaram na sua
opinião a área mais corrupta e aquela em que alguém tem de batalhar para lidar com a
questão. Aqueles participantes que tinham experimentado fraude notaram que não
tinham sido equipadas para geri-la quando esta ocorresse, e não tinham sido capazes de
providenciar os incentives necessárias para prevenir a ocorrência da fraude. Os
participantes notaram que eles não eram necessariamente claros sobre que incentives
seriam necessárias para prevenir a fraude. Vários participantes também notaram que a
corrupção resulta num aumento significativo do custo significativo tanto para o sector
público como para o privado.

ƒ QUE TIPO DE INSTRUMENTOS SERIAM UTEIS PARA SI?

As sugestões de ferramentas incluem códigos de conduta para trabalhadores e


fornecedores que possam se fazer cumprir, mais informação sobre recursos existentes
contra corrupção, e auditoria de alto nível disponível à preços razoáveis. A advocacia
para simplificação da de processo burocráticos e para reduzir o costume de operação
foram também identificados. Os participantes também notaram que legislação
melhorada respondendo à realidade do país (elaborado de forma simples e de fácil uso)
é necessária. Métodos práticos para a protecção de denunciantes foram exigidos por um
certo número de participantes. Vários participantes notaram que os doadores têm um
papel a desempenhar e deviam encontrar uma maneira colectiva de usar a sua influência
para fazer o governo mais transparente, exigindo a divulgação de bens entre outros
aspectos. A informação foi identificada como sendo a coisas mais necessária e fácil em
teoria, de se providenciar.

1. QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS PROBLEMAS QUE AFECTAM A SUA ORGANIZAÇÃO?

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Os principais problemas foram burocracia, falta de infra-estruturas e provisão de
serviços, e um sistema judiciário não-funcional. Os participantes também notaram que
presentemente não há suficientes oportunidades para discutir o assunto abertamente e
confidencialmente e que muitas associações são relutantes de levantar esta questão com
os membros. Os participantes também notaram que em muitos casos recusar-se a
participar em esquemas de corrupção em particular em concursos públicos custou-lhe o
seu negócio. Comércio ilegal e evasão fiscal foram directamente ligadas pelas empresas
às questões de corrupção e ambos foram vistas como tendo um maior efeito negative
no ambiente de negócio. Os participantes notaram que a falta de qualificações em
gestão e as resignações regulares de pessoal sénior contribui para a falta de tempo de
gestão com enfoque na gestão de recursos humanos e controle interno, bem como na
criação de um ambiente no qual fraude e corrupção são mais difíceis de confrontar.

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4. LEI CONTRA A CORRUPÇÃO

Lei n.º 6/2004


de 17 de Junho

Havendo necessidade de introduzir mecanismos complementares de combate a


corrupção, nos termos do n.°1 do artigo 135 da Constituição, a Assembleia da
República determina:

CAPÍTULO I
Dos princípios gerais

Artigo 1
(objecto)

A presente Lei por objecto o reforço do quadro legal vigente para o combate aos
crimes de corrupção e participação económica ilícita.

Artigo 2
(Âmbito de aplicação)

1. A presente Lei aplica-se aos agentes dos crimes referidos no artigo 1 que sejam
dirigentes, funcionários ou empregados do Estado ou das autarquias locais, das
empresas públicas, das empresas privadas em que sejam participadas pelo Estado ou das
empresas concessionárias de serviços públicos.
2. Considera-se funcionário ou empregado público, para os efeitos da presente Lei,
todo aquele que exercer ou participar em funções públicas ou a estas equiparadas, e
para as quais foi nomeado ou investido por efeito directo da lei, por eleição ou por
determinação da entidade competente.
3. As disposições desta Lei aplicam-se aos que, mesmo não integrando nenhuma
das categorias referidas no número anterior, induzam ou contribuam para a prática dos
crimes enunciados no artigo 1 ou deles tirem proveito.

Artigo 3
(Princípios gerais)

1) As entidades referidas no artigo anterior, no exercício das suas funções,


subordinam-se aos princípios da legalidade, igualdade, não discriminação,
imparcialidade, ética, publicidade e justiça.

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2) Em caso de lesão do património ou do interesse público ou privado como resultado
da acção ou omissão dos dirigentes ou dos funcionários do Estado, há lugar a
indemnização pelos danos causados.
3) As entidades referidas no artigo anterior que ilicitamente enriqueçam, em razão das
acções ou omissões referidas no n.° 2 deste artigo, perdem a favor do Estado os
bens ou valores acrescidos ao património.

Artigo 4
(Declaração de bens)

1) O posse e o exercício de funções públicas com competências decisórias no aparelho


de Estado, na administração autárquica, nas empresas e instituições públicas, assim
como a posse dos representantes do Estado nas empresas privadas participadas pelo
Estado, são condicionadas à apresentação de declaração dos bens e valores que
compõem o património do empossado, afim de ser depositada em arquivo próprio
do serviço.
2) A declaração compreende os bens imóveis, móveis e semoventes, dinheiro, títulos e
acções, localizados no pais ou no exterior, podendo leis e regulamentos específicos
estender a abrangência da declaração aos bens dos cônjuge ou companheiros, filhos
e outras pessoas que vivam sob a dependência económica do declarante, ficando
excluídos das declarações de bens apenas os objectos e utensílios de uso doméstico.
3) 3.A declaração de bens está sujeita à actualização anual e na data em que o servidor
deixa o exercício do cargo, mandato, emprego ou função.
4) 4.A declaração recolhida no n.° 1 pode ser requisitada a qualquer momento para
procedimento disciplinar ou criminal.

Artigo 5
(Fundamentação dos actos administrativos)

1. Para além dos casos em que a lei especialmente o exija, devem ser
fundamentados os actos administrativos que, total ou parcialmente:
a. neguem, extingam, restrinjam ou, por qualquer modo, afectem direitos ou
imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;
b. afectem, de igual modo, e no uso de poderes discricionários, interesses legalmente
protegidos;

c. decidam reclamações ou recursos;


d. decidam em contrário da pretensão ou oposição formulada por interessado, ou de
parecer, informação ou proposta oficial;
e. decidam de modo diferente ou na interpretação e aplicação dos mesmos preceitos
legais;

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f. impliquem revogação, modificação ou suspensão de acto
administrativo anterior.
2. A fundamentação deve ser expressa através de sucinta exposição de facto e de
direito da decisão, podendo consistir em mera declaração de concordância com os
fundamentos de anterior parecer, informação ou proposta, que neste caso constituem
parte integrante do respectivo acto que deve ser transcrito.

3. 3.É equivalente à falta de fundamentação a adopção de fundamentos que, por


obscuridade, contradição ou insuficiência, não esclareçam concretamente a motivação
do acto.
4. 4.A fundamentação dos actos orais abrangidos pelo número 1 que não constem de
acta deve, a requerimento dos interessados para efeitos de impugnação, ser reduzida a
escrito e comunicada integralmente àqueles, no prazo de sete dias, através da expedição
de oficio sob registo postal ou da entrega de mandato de notificação pessoal, a cumprir
no prazo de quarenta e oito horas.
5. 5.O não exercício pelos interessados da faculdade conferida pelo número
anterior não prejudica os efeitos de eventual de fundamentação do acto.

Artigo 6
(Cláusula contratual anti-corrupção)

1. Em todos os contratos em que seja parte o Estado, autarquias locais ou outras


pessoas colectivas de direito público, é obrigatória a inclusão de uma cláusula anti-
corrupção em que as partes se comprometem a não oferecer, directa, indirectamente,
vantagens a terceiros, e nem solicitar, primeiro meter ou aceitar, para beneficio próprio
ou de outrém, oferta com o propósito de obter julgamento favorável sobre serviços a
prestar.
2. A omissão da cláusula referida no número anterior for o contrato nulo e de
nenhum efeito jurídico.

Artigo 7
(Corrupção passiva para actos ilícito)

1. As entidades previstas no artigo 2 que, por si ou interposta pessoa, com o seu


consentimento ou ratificação, solicitarem ou receberem dinheiro ou promessa de
dinheiro ou qualquer vantagem patrimonial, que não lhes sejam devidos, para praticar
ou não praticar acto que implique violação dos deveres do seu cargo, serão punidos
com pena de prisão maior de dois a oito anos e multa até um ano.
2. As penas previstas no artigo 318 do Código Penal serão também aplicadas às
entidades previstas no artigo 2.
3. A mesma pena será aplicada quando a vantagem solicitada ou recebida pelos
agentes previstos no artigo 2 tenham carácter não patrimonial, desde que seja para a
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prática de acto que implique violação dos deveres dos cargos ou omissão de acto que
tenham o dever de praticar, que consiste, nomeadamente:
a) na dispensa de tratamento de favor a determinada pessoa, empresa ou
organização;
b) na intervenção em processo, tomada ou participação em decisão que impliquem
obtenção de benefícios, recompensas, subvenções, empréstimos, adjudicação ou
celebração de contratos em geral, reconhecimento ou registo de direitos e
exclusão ou extinção de obrigação com violação de lei;
c) em facultar informações sobre concursos públicos em prejuízo da competição
leal;
d) em facultar fraudulentamente informações sobre provas de exame.
4. Se o acto não for, porém, executado, a pena será a de prisão até um ano e multa
até dois meses.
5. Tratando-se de mera omissão ou demora na prática de acto relacionado com as
suas funções, mas com violação dos deveres do seu cargo, a pena será, respectivamente,
no caso dos n.° 1 a 2, a de prisão até dois anos e multa correspondente e no caso do
n.°3, a prisão até um ano e multa até seis meses.
6. Se o oferecimento ou promessa aceites forem voluntariamente repudiados ou
restituído o dinheiro ou valor da vantagem patrimonial antes da prática do acto ou da
sua omissão ou demora, cessam as disposições deste artigo.

Artigo 8

(Corrupção passiva para acto licito)

As entidades previstas no artigo 2 que, por si ou interposta pessoa, com o seu


consentimento ou ratificação, solicitarem ou receberem dinheiro ou promessa de
dinheiro ou qualquer vantagem patrimonial ou não patrimonial, que não lhes sejam
devidos, para praticarem actos não contrários aos deveres do seu cargo e cabendo nas
suas funções, serão punidos com a pena de prisão até um ano e multa até dois meses.

Artigo 9
(Corrupção activa)

1. Quem der ou prometer a entidades previstas no artigo 2, por si ou por interposta


pessoa, dinheiro ou outra vantagem patrimonial ou não patrimonial que a elas não
sejam devidos, com os fins indicados no artigo 8, será punido com as penas daquela
disposição.
2. Se, todavia, o crime tiver sido praticado para evitar que o agente, os seus parentes
ou afins ao 3.° grau se exponham ao perigo de serem punidos ou serem sujeitos a
uma sanção criminal, pode o juiz atenuar extraordinariamente a pena.

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3. A previsão do n.°6 do artigo 7 só aproveita ao agente da corrupção activa se ele,
voluntariamente, aceitar o repúdio da promessa ou a restituição do dinheiro ou
vantagem patrimonial que havia feito ou dado.
4. O agente é igualmente isento de pena nos casos em que o cometimento do crime
tiver resultado de solicitação ou exigência de funcionário, como condição para a
prática de actos da respectiva competência e o primeiro participar o crime as
autoridades.

Artigo 10
(Participação económica em negócio)

1. As entidades previstas no artigo 2 que, com intenção de obter para si ou para


terceiro, participação económica ilícita. lesar em negócio jurídico os interesses
patrimoniais que, no todo ou em parte, lhe cumpre, em razão das suas funções,
administrar, fiscalizar, defender ou realizar, será punido com a pena de dois a oito
anos de prisão maior e multa até um ano.
2. A mesma pena será aplicada às entidades previstas no artigo 2 que, por qualquer
forma, receber vantagem patrimonial por efeito de um acto jurídico-civil, relativo a
interesses de que ele tinha, por força das suas funções, no momento do acto, total
ou parcialmente à disposição, administração ou fiscalização, ainda que sem os lesar.
3. Nos mesmos termos serão punidas as entidades previstas no artigo 2 que receberem,
por qualquer forma, vantagem económica por efeito de cobrança, arrecadação,
liquidação ou pagamento de que, por força das suas funções, total ou parcialmente,
estejam encarregados de ordenar ou fazer, posto que se não verifique prejuízo
económico para a Fazenda Pública ou para os interesses que assim efectiva.

CAPITULO II

Das penas e do procedimentos

Artigo 11
(Sanções)

1. Independentemente de outras sanções penais, civis ou administrativas previstas


nesta Lei e na demais legislação aplicável, os autores dos crimes previstos nos
artigos anteriores estão sujeitos às seguintes medidas acessórias:
a) Perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao seu património,
b) Indemnização integral dos danos causados.
c) expulsão da profissão.
d) inibição de contratar com o Estado ou com empresas públicas ou de receber
benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios.
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Artigo 12
(iniciativa de procedimento)

1.Qualquer pessoa pode requerer à competente autoridade administrativa, policial e ao


Ministério Público que seja instaurada investigação para apurar factos relativos aos
crimes previstos na presente Lei.
2.A queixa ou denúncia é escrita ou reduzida a termo e assinada, ou sob forma de
anonimato e contém as informações sobre os factos, a sua autoria e as provas de que
tenha conhecimento.
3.A queixa ou denúncia é indeferida em despacho fundamentado, se não observar o
estabelecido no número anterior, sem prejuízo da faculdade de o Ministério Público
tomar outras iniciativas para a investigação e prossecução dos casos denunciados.
4.O Ministério Público pode ordenar a investigação de crimes previstos na presente
Lei, desde que tenha conhecimento por qualquer outro mecanismo.

Artigo 13
(Protecção de denunciante)

1. Nenhum queixoso ou denunciante pode ser sujeito a medida disciplinar ou


prejudicado na sua carreira profissional ou, por qualquer forma, ser perseguido em
virtude da queixa ou denúncia dos crimes previstos na presente Lei.
2. Todo aquele que violar o disposto no número anterior será punido com a pena de
prisão até seis meses e um mês de multa.

Artigo 14
(Denúncia de má fé)

Constitui crime a denúncia ou queixa de má fé contra as entidades previstas no artigo 2


quando o denunciante ou queixoso o sabem inocente.
O crime de denúncia de má fé referido neste artigo será punido com pena de prisão até
seis meses e multa de um mês e o queixoso ou denunciante estão sujeitos a indemnizar
o denunciado pelos danos materiais e morais que tiver provocado.

Artigo 15
(Suspensão de funcionário)

O superior hierárquico competente ou por proposta do Ministério Público pode


determinar a suspensão das entidades previstas no artigo 2 do exercício do cargo, pelos
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prazo máximo de noventa dias, do emprego ou função, sem prejuízo da remuneração,
se a medida se mostrar necessária ao bom prosseguimento da instrução.

CAPITULO III

Da organização e competências

Artigo 16
(Prevenção e combate)

Compete ao Ministério Público realizar as acções de prevenção e de combate aos


crimes previstos na presente Lei.

Artigo 17
(Competências do Ministério Público)

O Ministério Público realiza, no exercício das suas funções, coadjuvado pela


competente autoridade policial, de entre outras, as seguintes acções de prevenção:

a) recolha de informação relativamente à notícias de factos susceptíveis de fundamentar


suspeitas de prática de crimes de corrupção;
b) solicitação de inquéritos, sindicâncias, inspecções e outras diligências que se mostrem
necessárias à averiguação da conformidade de determinados actos ou procedimentos
administrativos, no âmbito das relações entre a Administração Pública e as entidades
privadas;
c) proposta de medidas susceptíveis de conduzirem à diminuição dos crimes previstos
nesta Lei.

Artigo 18
(Legalidade dos procedimentos)

1.Os procedimentos a adoptar pelo Ministério Público, no âmbito das competências


que lhes são deferidas pela presente Lei, são sempre documentados e não podem
ofender os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos.
2.O Procurador-Geral da República é regularmente informado dos procedimentos
iniciados no âmbito da prevenção dos crimes desta Lei.

Artigo 19
(Gabinete central de combate à corrupção)
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1. Dentro da Procuradoria-Geral da República e subordinado ao Procurador-Geral
da República, é criado o Gabinete Central de Combate à Corrupção.
2. O Gabinete Central de Combate à Corrupção tem, de entre outras, as seguintes
competências:
a. Conduzir inquéritos e investigações sobre queixas e denúncias, havendo
indícios de crimes de corrupção;
b. Promover, através das autoridades judiciais, a intimação de pessoas para
apresentar, por escrito, informações sobre os valores que detêm, quer no
país quer no estrangeiro, especificando as datas em que tais valores foram
adquiridos e como foram adquiridos;
c. Promover a instrução preparatória, podendo requisitar documentos,
informações, extractos de contas, registos e outros dados da pessoa
suspeita de haver cometido os crimes previstos na presente Lei;
d. Ordenar a detenção de pessoas indiciadas e, nos termos legais, submetê-
las ao juiz de instrução criminal;
e. Promover a realização de buscas em qualquer lugar para obtenção de
provas incriminatórias;
f. Gozar de livre acesso sem prévio aviso à instituições da Administração
Pública, entidades governamentais, serviços administrativos das
autarquias, para efeitos de investigação.
3. Para tornar célere os procedimentos previstos neste artigo, há um juiz de turno.
4. Para além dos magistrados do Ministério Público, o Gabinete Central de
Combate à Corrupção pode ser integrado por pessoas nomeadas ou contratadas,
por tempo determinado ou para determinados casos, que satisfaçam os
requisitos de integridade, imparcialidade e experiência exigidos.
5. O Procurador-Geral da República pode, havendo necessidade, solicitar a
requisição ou o destacamento de funcionários da Polícia competentes.
6. Sempre que as condições se mostrarem criadas, podem ser criados, gabinetes
provinciais de combate à corrupção, para efeitos da presente Lei.

Artigo 20
(Poderes da autoridade judiciária)

As Pessoas nomeadas ou contratadas ao abrigo do n.° 3 do artigo anterior são


investidas dos poderes de autoridade judiciária.

Artigo 21
(Obrigações das auditoras)

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1. Sempre que uma auditoria pública ou privada constate haver indícios da prática
de crimes previstos nesta Lei, de comunicar o facto, por escrito, ao Gabinete
Central de Combate à Corrupção.
2. O auditor, sendo pessoa jurídica de direito público, que violar o disposto no
número anterior, será sujeito às seguintes sanções:
a. a)suspensão do exercício da função durante trinta dias e multa de 1 a 10
salários mínimos, sendo a primeira vez;
b. suspensão do exercício de funções durante três meses e multa de 11 a 30
salários mínimos, tratando-se da segunda vez;
c. demissão da função pública, na terceira vez;
3. O auditor, sendo pessoa jurídica de direito privado, que violar o disposto no n.°
1 do presente artigo, será sujeito às seguintes sanções:
a. suspensão do alvará por trinta dias e multa de 500 a 1000 salários
mínimos, tratando-se da primeira vez;
b. suspensão do alvará por três meses e multa de 1001 a 2000 salários
mínimos, tratando-se da segunda vez;
c. Cancelamento do alvará, na terceira vez.
4. Compete às entidades referidas no n.° 4 do artigo 19 proceder a instauração da
competente acção contra os auditores previstos no n.° 1 do presente artigo.
5. Compete ao tribunal judicial da área do cometimento da infracção conhecer da
acção referida no número anterior.

Artigo 22
(Dever de sigilo)

1. Quem desempenhar qualquer actividade no âmbito das competências do


Gabinete Central de Combate à Corrupção fica vinculado ao dever de sigilo em
relação aos factos de que tenha tomado conhecimento, no exercício das funções.
2. O dever de sigilo é extensivo à identificação de cidadãos que forneçam quaisquer
informações com relevância para a actividade do Gabinete Central de Combate à
Corrupção.
3. O disposto no número anterior cessa com a instauração do procedimento
criminal.

Artigo 23
(Regulamentação)

Compete ao Conselho de Ministros regulamentar a presente Lei, no prazo de seis


meses.

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Artigo 24
(Revogação)

São revogadas as disposições que contrariem a presente Lei.

Artigo 25
(Entrada em vigor)

A presente Lei entra em vigor na data da sua publicação.


Aprovada pela Assembleia da República aos 12 de Maio de 2004.
O Presidente da Assembleia da República, Eduardo Joaquim Mulémbwé.
Promulgada aos 31 de Maio de 2004.
Publique-se.
O Presidente da República, Joaquim Alberto Chissano.

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5. ESTRATÉGIA CONTRA CORRUPÇÃO DO GOVERNO

LINHAS GERAIS DA ESTRATÉGIA


ANTI-CORRUPÇÃO
(2005-2009)
(Documento aprovado pelo Conselho de Ministros na 24ª Sessão de 6 de
Setembro de 2005)

Sumário Executivo
As Linhas Gerais da Estratégia Anti-corrupção são parte integrante da Estratégia
Global
da Reforma do Sector Público com o objectivo de melhorar a prestação de serviços
públicos ao cidadão e desenvolver um ambiente favorável ao crescimento do sector
privado. A Estratégia Global da Reforma do Sector Público resulta do diagnóstico feito
sobre os principais problemas que atribulam o sector público, do qual emergiu a
identificação de actividades estratégicas a serem implementadas nas seguintes
componentes: racionalização das estruturas de prestação de serviços públicos; política
de desenvolvimento de recursos humanos; gestão dos processos de políticas públicas;
gestão financeira; e boa governação e combate à corrupção.

As Linhas Gerais da Estratégia Anti-corrupção, baseiam-se na Matriz do Quadro


Lógico
da Estratégia Global da Reforma do Sector Público, um instrumento de gestão de
programas que define através de uma relação lógica e hierárquica o propósito a atingir
ao fim de 10 anos da sua duração, os objectivos gerais e específicos, a população-alvo,
os resultados, as actividades, os indicadores, os pressupostos e os recursos
necessários. Assim, para a elaboração das Linhas gerais da estratégia tomou-se em
consideração: a Estratégia Global da Reforma do Sector Público, os Relatórios parciais
da implementação da Reforma do sector Público no período 2001-2004, o programa
quinquenal do governo (2005-2009), as sugestões e propostas das consultas com a
sociedade civil, o sector privado, os parceiros internacionais, o sector da justiça e o
sector legislativo e, o relatório da Pesquisa Nacional de base sobre Governação e
Corrupção.

A corrupção, no sector público, pode ser entendida como o uso da função pública para
proveito próprio, ou para o benefício de um grupo com quem um determinado
indivíduo
está associado. É um comportamento que se desvia dos deveres formais de um cargo
público e é prejudicial ao interesse público.

A corrupção compreende actividades ilícitas como o pagamento ou recebimento de


subornos, desvio de fundos, nepotismo, favoritismo, transações em beneficio próprio,
fraude, extorsão, uso abusivo de influência ou uso da função ou bens públicos para
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beneficio político. E ela manifesta-se de três formas: pequena corrupção administrativa
ou burocrática, grande corrupção e captura do estado.

Embora a corrupção varie de país para país e após a análise das preocupações e
problemas que afectam o sector público e a governação em geral foi possível identificar
algumas causas principais. Assim as causas comuns que facilitam a corrupção são o
nepotismo e favoritismo, a fraqueza dos mecanismos de controle e supervisão, a falta
de aplicação das leis e regulamentos, a falta de prestação de contas das instituições, a
fraqueza do cometimento dos gestores da administração pública no combate à
corrupção e a fraqueza da participação da sociedade civil no combate à corrupção.

Os baixos salários auferidos no sector público e a pobreza que afecta a maioria dos
moçambicanos não são a causa directa da proliferação de actos e práticas de
corrupção. Pelo contrário, os promotores dos actos de corrupção são alguns
funcionários públicos conhecedores das normas, leis e informação mas que movidos do
espírito de viver faustosamente usam o seu poder e conhecimentos para extorquir o
cidadão e delapidar os cofres do Estado.

Em Moçambique, a corrupção, promovida e fortalecida pelo burocratismo e


comportamento negativo de funcionários públicos, é um problema grave e que começa
a assumir contornos muito preocupantes, pois, incidindo sobre o tecido ético e moral
ameaça, primeiro, generalizar-se como uso tolerado para, depois, assumir-se como meio
alternativo de acumulação de riqueza.

Para que o complexo processo de combate à corrupção seja bem sucedido, deve existir
uma Estratégia que compreendem três momentos interligados e complementares,
nomeadamente: a prevenção, a acção administrativa e a acção judicial. Pressupõe-se
ainda, uma forte liderança política e participação coordenada de todos; ou seja, entre o
Estado, Sociedade Civil e o Sector Privado.

A participação e a transparência são os elementos chaves para a melhoria da


responsabilização e adaptabilidade da gestão administrativa. Eles contribuem para a
democratização, para a construção do profissionalismo e ética dentro do governo bem
como para prevenir a corrupção no sector público.

Para operacionalizar a presente estratégia, haverá um Plano de Acção que integra um


conjunto de acções de curto, médio e longo prazos para um período de cinco anos. As
acções de curto prazo previstas para 2005 visam assegurar a integridade e
transparência, fortalecer a liderança do sector público, promover o Estado de Direito,
combater o burocratismo e promover a responsabilização.

As acções de médio e longo prazos abarcam medidas de impacto mais amplo nos
ramos legal e judicial; de âmbito institucional e administrativo; bem como medidas
voltadas ao sector privado e à sociedade civil que bem implementadas no final
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aproximarão a decisão ao beneficiário, subordinarão cada vez mais o poder
discricionário à lei, substituirão o monopólio do poder pessoal pelo institucional e,
assim,
aumentarão o nível e eficácia na prestação de serviços e, consequentemente, a
implantação da transparência e o combate à corrupção como uma acção permanente.

1. Introdução

As Linhas Gerais da Estratégia Anti-corrupção são parte integrante da Estratégia


Global da Reforma do Sector Público com objectivos que vão desde a reestruturação
das unidades do Governo Central e Provincial para melhorar a prestação de serviços
públicos ao cidadão; o melhoramento da capacidade do governo e da administração em
formular e monitorar políticas; o melhoramento do quadro institucional para a
formação e gestão de recursos humanos nos níveis Central e Provincial; o
melhoramento do sistema de programação e gestão financeira e orçamental e, os
mecanismos de prestação de contas; o desenvolvimento de um ambiente favorável ao
crescimento do sector privado; até ao melhoramento da qualidade dos sistemas de
governação e aperfeiçoar a estratégia e plano de combate à corrupção.
No âmbito da implementação da Estratégia Global da Reforma do Sector Público, o
combate à corrupção é questão prioritária.

A corrupção periga a estabilidade e a segurança das sociedades, mina os valores da


democracia e da moralidade, afecta o desenvolvimento social, económico e político, o
comércio livre e a credibilidade dos governos e contribui para a promoção do crime
organizado.

O sucesso do combate à corrupção requer o fortalecimento dos sistemas de


governação e gestão pública, eliminando factores facilitadores tais como: o excesso do
poder discricionário dos funcionários públicos, a improvisação administrativa, a
centralização excessiva, os sistemas de gestão obsoletos, os serviços públicos
ineficientes, a desinformação pública, o quadro legal inadequado e ineficiente, o
declínio de valores éticos e a fraca capacidade de intervenção da sociedade civil.
A corrupção produz altos custos sociais, políticos, económicos e humanos. Ela reduz
drasticamente a capacidade de investimento privado e público, afecta negativamente as
finanças públicas e os planos de desenvolvimento quer nacionais ou regionais.
Contribui para a má governação por retirar a legitimidade e estabilidade da liderança
política, desacredita as instituições políticas por desgastar a institucionalização da
democracia. Os serviços sociais vêem enfraquecida a sua cobertura, criando uma
grande falta de oportunidades de desenvolvimento humano, aprofundando e
expandindo a pobreza.

De acordo com os resultados da Pesquisa Nacional de Base Sobre Governação e


Corrupção, realizada em 2004, a corrupção pública foi considerada um dos principais
obstáculos para o desenvolvimento económico do país, no conjunto de outros
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problemas, tais como o desemprego, o custo de vida, a inflação, o difícil acesso a água,
a fome, a qualidade das estradas e o crime.

A corrupção assume várias formas e características em diferentes regiões, dependendo


das actividades económicas e de desenvolvimento institucional de cada uma, e tende a
exacerbar-se nas zonas de maior concentração de actividades económicas,

nomeadamente nas cidades capitais e vilas. Quanto a prevalência deste fenómeno, o


estudo indica a sua incidência nos serviços públicos, no sector da administração da
justiça, no sistema de gestão de recursos humanos do sector público com ênfase nos
processos de recrutamento e promoção, no procurement, na administração fiscal e
financeira do estado.

Os efeitos devastadores da corrupção nos níveis social, político e económico,


prejudicam consideravelmente os esforços do País no combate a pobreza e são um
grande entrave no processo contínuo de construção da nação moçambicana.
É nesse contexto que se enquadram as Linhas Gerais da Estratégia Anti-corrupção, que
tem como objectivo, em sintonia com o preconizado da Reforma do Sector Público, a
introdução de mudanças profundas nas políticas, nas estruturas, nos sistemas, nas
funções, nas regras e procedimentos bem como contribuir para o desenvolvimento de
uma cultura atinente a um sector público modernizado, eficiente e eficaz. As linhas
gerais privilegiam a criação de condições para a mudança de atitudes, valores e
comportamentos, visando uma maior integridade, transparência, insenção,
responsabilização e profissionalismo; contribuindo assim para a criação e consolidação
de uma cultura de excelência no serviço público.

O combate à corrupção exige uma combinação de esforços entre o Governo, o sector


privado e a sociedade civil.

A participação e a transparência são os elementos chaves para a melhoria da


responsabilização e adaptabilidade da gestão administrativa. Eles contribuem para a
democratização, para a construção do profissionalismo e ética dentro do governo bem
como para prevenir a corrupção no sector público.

As linhas gerais compreendem os seguintes elementos: conceito e tipos de corrupção;


principais problemas que afectam o sector público nos domínios da prestação de
serviços ao cidadão; causas da corrupção no país; pertinência da estratégia; princípios
estratégicos; os momentos estratégicos de combate à corrupção; elementos da
estratégia; objectivos, indicadores e resultados a atingir, gestão do processo e
cronograma de actividades para o desenvolvimento da Estratégia Anti-corrupção e
elaboração do plano de acção de combate à corrupção.

A Estratégia Anti-corrupção, baseiar-se-à na Matriz do Quadro Lógico da Estratégia

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Global da Reforma do Sector Público. A Matriz, é em termos práticos, um
instrumento
de gestão de programas que define através de uma relação lógica e hierárquica o
propósito a atingir, objectivos gerais e específicos, população-alvo, resultados,
actividades, indicadores, pressupostos e os recursos necessários. Neste âmbito, para a
elaboração da estratégia tomar-se-à em conta: a Estratégia Global da Reforma do
Sector Público, os Relatórios parciais da implementação da Reforma do sector Público
no período 2001-2004, o programa quinquenal do governo (2005-2009), as sugestões e
propostas das consultas com a sociedade civil, o sector privado, os parceiros
internacionais, o sector da justiça e o sector legislativo e, o relatório da Pesquisa
Nacional de base sobre Governação e Corrupção.

2. O que é corrupção no sector público

A corrupção no sector público é um sintoma do fracasso da governação num país.


Governação significa as tradições e as instituições pelas quais a autoridade de um país
é exercida – incluindo o processo pelo qual os governos são seleccionados,
monitorados e substituídos; a capacidade do governo formular e implementar políticas
efectivas e; o respeito dos cidadãos e do Estado pelas instituições que governam as
interacções económicas e sociais.

A corrupção, no sector público, pode ser entendida como o uso da função pública para
proveito próprio, ou para o benefício de um grupo com quem um determinado
indivíduo está associado. É um comportamento que se desvia dos deveres formais de
um cargo público e é prejudicial ao interesse público.
A corrupção compreende actividades ilícitas como o suborno (dinheiro, gratificações,
gorjetas, favores, aliciantes, recompensa, lubrificar a engrenagem); desvio de Fundos
(desvio de recursos, recibos falsos); fraude (burla, vigarice, manipulação ou distorção de
informação, factos ou conhecimentos, contrabando, falsificação da moeda, adjudicação
de contratos a firmas em que funcionários públicos têm interesses); extorsão (extorsão
de recursos por coerção, violência ou ameaça de uso de força, dinheiro de “protecção”
e segurança e; o nepotismo (favoritismo de certos governantes aos seus familiares,
partido de filiação).

A corrupção não se manifesta numa única forma. Ela geralmente manifesta-se em:
§ transacções/actividades ilícitas isoladas feitas por funcionários públicos que
abusam da sua função (por exemplo, exigindo subornos, desviando os fundos
públicos ou dispensando favores) em proveito/benefício próprio;
§ extorsão ou roubo de elevadas somas de recursos públicos por funcionários
seniores do Estado, geralmente membros de e/ou associados com a elite
política ou administrativa e;
§ conluio entre os actores privados e funcionários públicos ou políticos para
proveito mútuo ou privado. Isto quer dizer que o sector privado “capturou” o
poder legislativo, executivo e judicial para os seus próprios interesses.
Associação Comercial e Industrial de Sofala 80
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A corrupção não é de forma alguma algo de novo, nem se limita a uma determinada
parte do mundo. É uma realidade tanto em países industrializados, como em países em
transição, ou em países em desenvolvimento. Nem sequer a corrupção se restringe
apenas ao sector público.

É um fenómeno que atravessa fronteiras nacionais e afecta todas as sociedades e


economias, de tal forma que a cooperação nacional, regional e internacional é
fundamental para prevenir e controlar a corrupção e ofensas relacionadas.
As consequências da corrupção são violentas, destruidoras/arruinadoras e afectam de
forma injusta e desproporcional os segmentos mais vulneráveis da população nos
domínios político, económico e social.

Ao nível político, desorganiza o poder, desvaloriza as instituições, desacredita os


agentes políticos e perverte as vontades, as opções íntimas e as escolhas genuínas dos
cidadãos. Quando triunfa a corrupção, as estruturas do poder deixam de funcionar em
função dos fins e objectivos que lhe são cometidos, mas sim a favor de interesses
concretos, particulares daqueles que estão envolvidos no processo de corrupção.
Ao nível económico, a corrupção delapida os recursos materiais, empobrece o país,
intensifica as assimetrias regionais e agudiza os desequilíbrios campo-cidade. À medida
que aqueles que se envolvem no processo enriquecem, o país empobrece. A economia
dilacera-se porque os projectos e os negócios públicos não são estudados e
desenvolvidos em função da sua utilidade pública e dos benefícios que trazem para as
populações, mas sim tendo em conta as comissões e os rendimentos que os agentes
do processo vão ganhar, e dos lucros que dos mesmos podem tirar.

Ao nível social, a corrupção agrava as desigualdades entre os cidadãos, intensifica o


fosso entre os ricos e os pobres e degrada os valores morais, éticos e profissionais. Ela
tem o condão de fazer alargar ainda mais a pobreza numa sociedade pobre e com
miséria. A sociedade envolve-se na corrupção porque pensa que cada um tem de
arranjar o seu próprio esquema de se livrar de uma dificuldade, para sobreviver.
Perdese
a dignidade e, em consequência, esquecem-se e perdem-se valores, vendem-se as
almas e compram-se as vontades. A sociedade desmorona-se nos seus fundamentos e
valores morais e éticos. Os seus efeitos são extremamente perniciosos.
Importa referir que a corrupção no sector público em Moçambique também é
estimulada
por comportamentos negativos de funcionários aos vários níveis que resultam na má
prestação de serviços e caracterizados pela incapacidade de decisão, protelamento de
resoluções em tempo útil; ausência de cultura de responsabilização individual e
colectiva; incapacidade de exercer o poder de acordo com as atribuições. Esta atitude
do agente do estado, manifesta-se do seguinte modo ao nível da liderança, da gestão
e da supervisão na administração pública:

Ao nível da Liderança
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A incapacidade de produzir uma visão, e difundi-la entre os colaboradores, torna o
dirigente ou responsável inapto para estabelecer uma direcção, objectivos e acções
estratégicas, e finalmente revela incapacidade de desenhar um plano estratégico de
médio e longo prazos.

A ausência destes instrumentos estratégicos remete a organização a uma actuação


reactiva, no lugar de proactiva, incapacita a organização de determinar as prioridades e
alocação dos recursos de acordo com elas, impedindo assim acções chave, que
permitem uma efectiva gestão da sua implementação, controle, monitoria e prestação
de contas.

A ausência de liderança, remete imediatamente a uma desresponsabilização de todos


os níveis subsequentes, pois a estes não existe critério contra o qual exigir ou comparar
o seu desempenho. A inoperância, e a pouca produtividade, tornam-se assim uma
cultura implícita na organização, e manifesta-se na linguagem do dia a dia, no
atendimento ao público e nos mecanismos e processos de avaliação e prestação de
contas.

Ao nível da Gestão
A gestão comporta o estabelecimento de planos operativos, a sua execução e controle,
a combinação de recursos quer humanos, quer financeiros. A fraca capacidade de
gestão, remete a organização à implementação de actividades desconexas que não
estão ligadas a um objectivo estratégico da organização. Destaque particular, é a
ausência de uma orientação para resultados claramente definidos, num horizonte de
tempo estabelecido, o que dificulta a prestação de contas. Um gestor que não tenha
capacidade de planificar, desenvolver a sua equipe de trabalho, e de estabelecer as
metas da acção colectiva dos seus colaboradores, torna-se improdutivo, prejudicial à
organização.

Ao nível da Supervisão
A ausência de habilidade de supervisar, acompanhar, elogiar, dar orientação aos
colaboradores, faz com que estes percebam essa falta de interesse por parte do seu
chefe, e assumam a sua postura.

Para fazer face à demanda e à pressão do público, os funcionários, incapazes de


responder com eficiência, exacerbam os requisitos burocráticos, introduzindo
empecilhos desnecessários, que não acrescentam valor para justificar a ineficiência dos
seus sectores: processos que levariam uma semana levam três meses, por ai em
adiante.

Ambiente de trabalho
Sem liderança, direcção e supervisão adequadas, os funcionários convertidos numa
massa amorfa e desocupada alimentam as horas de trabalho em intrigas, boatos pois
não tem o sentido de missão principal, contribuindo assim para minar a acção do
Associação Comercial e Industrial de Sofala 82
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Estado. Perde-se o respeito pela coisa pública, e perde-se a oportunidade de
desenvolver uma classe de servidores públicos profissionalizados, e perdem-se enfim,
os valores da ética e deontologia. O sector público assim fragilizado contribui para a
perca da autoridade e a capacidade do Estado de se tornar mais activo e decisivo na
dinamização do desenvolvimento social e económico do país.

Os funcionários incapazes de responder com eficiência exacerbam os requisitos


burocráticos abrindo espaços para cobranças ilícitas. Os funcionários actuam com a
convicção de que o exemplo vem de cima e eles sentem que podem também praticar o
acto e que não precisam de serem responsáveis nos seus sectores e muito menos
alertar sobre irregularidades aos seus superiores.
A Burocracia, no sentido clássico, significa a organização eficiente por excelência. A
eficiência é alcançada neste caso por via do estabelecimento antecipado e rigoroso do
que deve ser feito e como deve ser feito. Assim entendido, a burocracia é um processo
vital para o funcionamento do sector público.

O Burocratismo, ao contrário, é uma disfunção da essência da burocracia no sentido


clássico acima descrito: consiste no domínio excessivo ou influência abusiva da
burocracia, típico de organização, sector ou repartição onde o volume de papel de
documentos se multiplica e se avoluma impedindo soluções rápidas e ou eficientes. As
manifestações do burocratismo são, entre outras:
· Excesso de formalismos - o apego inflexível dos funcionários aos
regulamentos e rotinas causando a ineficiência à organização;
· Demasiados passos e intervenientes - no processo de tramitação (entre a
petição e decisão) de documentos;
· Resistência à mudança - recusa e falta de interesse nas alternativas de
melhorar a prestação de serviços através da racionalização de procedimentos;
· Categorização das decisões - a prestação de serviços favorece aos utentes
com quem se tem laços pessoais, étnicos, regionais ou outro tipo de afinidades,
e àqueles que tem a capacidade de pagar o suborno;
· Autoritarismo - preso às rotinas ineficientes o funcionário público exerce
autoridade exacerbada sobre o público que não tem outra alternativa senão
conformar-se ou subornar;
· Despersonalização do relacionamento - a organização burocratizada,
estabelece uma distância entre o servidor público e o utente, através da forma
pouco interactiva de organização do espaço, a cultura de atendimento (às vezes
o cliente é apenas um número) desprovida de cortesia e tolerância às
necessidade específicas de cada cidadão.
Assim, a existência do Burocratismo cria uma cultura e oportunidades e ambiente
propícios para o florescimento de práticas corruptas. A imprevisibilidade de
funcionamento é o atributo principal de um sistema que enferma de burocratismo.

3. Diagnóstico sobre a Governação e Corrupção

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No processo de elaboração e implementação da Estratégia Global da Reforma do
Sector Público, foram feitas consultas com os cidadãos, o Sector Privado, a
Comunidade Internacional e a Sociedade Civil, como base para a identificação dos
problemas que afectam o sector público. Os relatórios de balanço de implementação da
Reforma do Sector Público bem como os resultados da Pesquisa Nacional de Base
sobre Governação e Corrupção, realizada em 2004, permitiram aprofundar o
diagnóstico do funcionamento do sector público, cujos problemas identificados
agrupam-se em cinco áreas, a saber:

a. Estruturas e processos de prestação de serviços públicos: os aspectos


identificados como problemáticos são ainda a existência de uma dimensão inadequada
do sector público, face à natureza e escala dos serviços a serem prestados. Segundo
os agregados familiares inquiridos, em particular os rurais na Pesquisa 2004,
constatouse
um contacto insignificante destes com a maior parte dos serviços básicos tais como:
água, electricidade, correios e telecomunicações. Apenas dois serviços, a Saúde e a
Educação apresentam uma percentagem de uso relativamente alta, de 50% e 39%,
respectivamente. Esta taxa de utilização ilustra a fraqueza do serviço público e a
distância entre o Estado e a grande maioria dos cidadãos comuns, particularmente nas
áreas rurais.

O fraco desempenho dos serviços públicos é, também, um dos problemas que afectam
as famílias e as empresas. Segundo os funcionários públicos inquiridos na Pesquisa
2004, desagregados em sectores e regiões, uma das principais causas do fraco
desempenho das instituições públicas está na gestão do pessoal, uma vez que esta é
vista como sendo baseada em laços familiares ou de amizade, em grupos de influência
no seio da instituição e em filiação ou pressão política.

Em termos de centralização das decisões, apenas 37% dos funcionários públicos


inquiridos declararam que as opiniões dos subordinados são sempre tomadas em
consideração pelos responsáveis. Esta excessiva centralização é uma indicação da
fraca prestação de contas dos serviços públicos.
No conjunto do sector público, conforme os resultados da Pesquisa 2004, são as áreas
da polícia e da justiça (procuradorias e tribunais) que se destacam entre os sectores
que prestam má qualidade de serviço ao cidadão.

b. Políticas públicas: verifica-se ainda a excessiva sectorialização e falta de


coordenação no processo de elaboração de políticas públicas o que contribui para
deficiente definição das missões, objectivos e funções das organizações do sector
público. Também, ainda se observa a deficiente divulgação das regras que orientam as
actividades e os procedimentos dos organismos públicos e dos seus agentes.

c. Recursos humanos: os dados dos funcionários inquiridos na Pesquisa 2004 revelam


que para melhorar o desempenho institucional é necessário tomar as seguintes
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medidas: melhorar a capacidade de detectar e punir os casos de corrupção, melhor
formação dos funcionários e mais e melhor equipamento. A questão salarial não foi
considerada como “muito importante” (ocupando a quinta posição na lista) pela
maioria
dos funcionários inquiridos.

d. Gestão financeira e prestação de contas: Os dados dos funcionários públicos


inquiridos na Pesquisa (2004) indicam que a gestão de orçamentos e do procurement
do Estado são as áreas onde se manifesta a fraqueza do sector público. É no domínio
de aquisição de bens e serviços que sistematicamente se verifica o desrespeito das
regras estabelecidas, com 70% de inquiridos que dizem sim. Para os casos de salários
e investimentos responderam positivamente apenas cerca de 30% de inquiridos.
Também as percepções destes inquiridos revelam que há casos frequentes de
desrespeito das regras dos concursos públicos com 39% que consideram que tal
prática acontece desde algumas vezes até quase todas as vezes. Estas constatações
são reforçadas pelos dados dos Relatórios Sobre a Conta Geral do Estado de 2002 e
2003 elaborados pelo Tribunal Administrativo, ao afirmarem: “falta de rigor no
cumprimento das normas de execução, tendo os limites finais sido ultrapassados,
nalguns casos, quando se analisa a execução segundo a classificação funcional”.
Existe um número significativo de funcionários públicos inquiridos (37%) que
considerou
deficientes os mecanismos de controle e monitoria das despesas orçamentadas,
situação que é reforçada pelo facto de apenas 55% dos inquiridos terem declarado que
as decisões na área de procurement eram sujeitas a auditoria regular pelo Tribunal
Administrativo. Estes mecanismos de procedimento favorecem a corrupção.

e. Governação e corrupção: fraqueza nos sistemas e mecanismos das organizações


públicas para exigir o cumprimento da lei; prevalência de mecanismos ineficientes e
deficientes de exame das contas do Estado; fraqueza dos órgãos de defesa, da
legalidade e de protecção dos direitos dos cidadãos nas suas relações com o Estado;
ausência de transparência na gestão do bem público e; incipiente participação da
sociedade civil e sector privado na tomada de decisões, monitoria e avaliação da sua
implementação.

No caso do sistema de justiça, os agregados familiares e os gestores das empresas


inquiridos na Pesquisa 2004, concordam totalmente que “Em Moçambique só os fracos
e os pobres é que não conseguem escapar as leis”, isto é, que o sistema de justiça
moçambicano é vulnerável à corrupção.

Ainda neste âmbito, os agregados familiares inquiridos (70%) consideram a corrupção


como um dos problemas mais sérios e que tem vindo a aumentar tanto no sector
público como no sector privado. Para além disso, a maioria dos inquiridos é de opinião
que a corrupção é principalmente promovida pelos políticos e funcionários públicos.

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A corrupção é particularmente grave na polícia de trânsito, na polícia, nos tribunais,
nas
alfândegas, nas inspecções, nos licenciamentos, nos impostos, nos contractos, na
prestação de serviços como, por exemplo, educação, saúde, água e electricidade.
Também os agregados familiares e as empresas inquiridos consideraram as formas
mais graves de corrupção como sendo os subornos pagos aos funcionários públicos e
o nepotismo.
Finalmente, os agregados familiares, as empresas e os funcionários inquiridos apontam
como a causa fundamental para não fazer a denúncia de actos de corrupção a ausência
de mecanismos de protecção.

Em síntese foram identificados os seguintes problemas que enfermam o Sector Público:


Ø Deficiente Divulgação das Regras e Procedimentos que Orientam as Actividades
dos Organismos Públicos;
Ø Fraqueza dos Sistemas de Gestão de Recursos Humanos, Financeiros e
Patrimoniais;
Ø Desrespeito Pelas Regras Financeiras, de Procurement e de Gestão Patrimonial;
Ø Excessivo Burocratismo nos Processos Administrativos;
Ø Falta de Aplicação de Sanções Administrativas e Judiciais Contra os que
Praticam a Corrupção;
Ø Desenvolvimento da Cultura de Impunidade Devido a Fraqueza do Sistema
Judicial;
Ø Baixa Capacidade das Assembleias Municipais e do Parlamento de Monitorar a
Eficácia e Eficiência dos Programas dos Governos Local, Provincial e Central;
Ø Ausência de Mecanismos de Protecção no Caso de denúncia de Actos de
Corrupção;
Ø Insuficiente Cometimento dos Gestores da Administração Pública no Combate à
Corrupção;
Ø Baixo Nível de Consciência Ética e Mobilização por Parte dos Cidadãos Sobre a
sua Responsabilidade Individual e Colectiva na Luta Contra a Corrupção.

4. Causas da Corrupção

Após a análise dos problemas identificados na Pesquisa Nacional de Base sobre


Governação e Corrupção e combinados com outras preocupações resultantes de
diversos estudos realizados no país – Diagnóstico preparatório para a elaboração da
Estratégia Global, consultas com os cidadãos, o Sector Privado, a Comunidade
Internacional e a Sociedade Civil, o estudo da ÉTICA Moçambique, o estudo da
UEM/Afrobarómetro, o estudo do CEE-IRSRI/ECA e os relatórios de balanço de
implementação da Reforma do Sector Público – as causas principais e motoras da
corrupção em Moçambique, podem ser agrupadas em:
· Falta de aplicação das leis e regulamentos: a corrupção do sector público
manifesta-se/desenvolve-se onde as leis e regulamentos não são aplicados, e
onde o reforço da lei é frequentemente usado como um instrumento para
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defender interesses privados do que proteger o interesse público.
· Falta de prestação de contas das instituições: devido a inoperância e
fraqueza dos mecanismos e instituições de prestação de contas no sector
público assiste-se a tendência do abuso do poder público para fins pessoais.
· Fraqueza dos mecanismos de controle e supervisão: a insuficiente
capacidade das inspecções administrativa, financeira e técnica do sector público
incluindo as inspecções no sector da legalidade e justiça permite a sustentação
dos três factores básicos da corrupção: a oportunidade, a impunidade e o
secretismo.
· Fraqueza do cometimento dos gestores da administração pública no
combate à corrupção: nem sempre se age de forma enérgica e oportuna em
relação às práticas corruptas o que pode resultar na prevalência e expansão da
corrupção no sector público.
· Prática do nepotismo e favoritismo : em que os detentores das instituições
públicas prestam serviços para grupos de clientes ligados a eles por laços
étnicos, geográficos, económicos ou outros. A linha entre o que é “público” e o
que é “privado” é ofuscada/obscura, e portanto, o abuso da função pública para
ganhos pessoais é uma ocorrência rotineira. Não se reconhece que o papel do
Estado deve estar a acima dos interesses privados para proteger o interesse
público em geral. Assim, a legitimidade do Estado como protector do interesse
público é contestada pelos cidadãos.
· Fraqueza da participação da sociedade civil no combate à corrupção: o
cidadão com uma atitude ambígua em relação a corrupção – uma atitude de
incerteza composta por intolerância, indiferença ou resignação, um sentimento
de que a corrupção está espalhada e enraizada que nada pode ser feito e que
devemos também aprender a viver com ela - acaba contribuindo para a
prevalência e expansão da corrupção no país. O cidadão revela um nível de
confiança baixo no tocante à apresentação de denúncias contra actos e actores
corruptos.

É crença comumente disseminada de que a corrupção no sector público deve-se


fundamentalmente aos baixos salários auferidos neste sector, em comparação com o
sector privado ou o das organizações internacionais e não governamentais. Segundo
esta visão, as práticas e os actos corruptos seriam uma “estratégia de sobrevivência”
dos funcionários públicos, constituindo uma forma de complementaridade dos baixos
rendimentos auferidos.

Porém, esta pode ser uma argumentação com alguma validade mas não explica o
número significativo de funcionários cumpridores honestos dos seus deveres, com
atitude positiva perante o seu trabalho, conscientes do seu papel na sociedade e que
não utilizam o cargo que ocupam em benefício próprio, mesmo estando enquadrados
nas categorias de baixa remuneração.

As precárias condições de vida da maioria dos moçambicanos – pobreza – podem, à


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partida criar a percepção errada de que os males da corrupção são muito acentuados e
praticados, de forma mais aguda e violenta pelos pobres pois a sua sobrevivência só se
garante pela corrupção permanente e generalizada. De acordo com este ponto de vista,
a sociedade envolve-se na corrupção porque cada um tem que arranjar o seu próprio
esquema de se “desenrascar”, para poder sobreviver.

Na realidade, as pessoas envolvidas de forma activa, nas práticas de actos de


corrupção no sector público, são funcionários aos vários níveis, conhecedores das
normas, leis e informação mas que movidos do espírito de viver faustosamente usam o
seu poder e conhecimentos para extorquir o cidadão e delapidar os cofres do Estado.
Esta perspectiva tem o mérito de informar sobre o papel não determinante da pobreza
na promoção e desenvolvimento da corrupção no sector público, e em última instância
influenciar a tomada de decisões sobre esta questão sensível no desenvolvimento do
país. Na verdade, os efeitos da corrupção são suportados pelas pessoas mais pobres,
mais dependentes dos préstimos dos serviços públicos, menos dotados para pagar o
suborno e a fraude e menos capazes de apropriação ilegítima de privilégios
económicos.

5. Porquê a Estratégia Anti-corrupção

A Estratégia Anti-corrupção deverá ser um instrumento de orientação política e


operacionalização das acções prioritárias do Governo no combate à corrupção. A
estratégia define o enfoque, os princípios, os métodos e as metas, estando em
consonância com a implementação da Estratégia Global da Reforma do Sector Público.
A estratégia deverá incidir sobre medidas que visam combater o burocratismo e a
corrupção nas instituições públicas que inviabilizam qualquer esforço no sentido de
melhorar a qualidade dos serviços prestados ao cidadão.

A elaboração da Estratégia Anti-corrupção deverá tomar em consideração: o programa


quinquenal do governo (2005-2009), a Estratégia Global da Reforma do Sector Público,
os Relatórios parciais da implementação da Reforma do sector Público no período
2001-2004, as sugestões e propostas das consultas com a sociedade civil, o sector
privado, os parceiros internacionais, o sector da justiça e o sector legislativo e, o
relatório da Pesquisa Nacional de base sobre Governação e Corrupção.

6. Objectivo geral

Pretende-se que o sector público preste serviços com qualidade e de forma


descentralizada, actue de um modo participativo e transparente e, seja efectivo na
prevenção e combate a corrupção até ao ponto em que primeiro, não mine o que está
sendo construído no país e segundo, que o cidadão veja a corrupção como uma
ameaça destruidora que é, e se previna contra ela.

7. Quais são os princípios estratégicos?


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Para o sucesso do combate à corrupção serão rigorosamente observados os seguintes
princípios:
· Abordagem compreensiva. A Estratégia Anti-corrupção é parte integrante da
Reforma do Sector Público, mas tem elementos distintos que serão reflectidos nos
planos de acção sectoriais. A implementação efectiva das acções de cada
componente da Estratégia Global da Reforma do Sector Público contribui na
redução de oportunidades de acesso ilícito aos recursos públicos.
· Intolerância ou Tolerância Zero: O Governo sempre vai dar o exemplo através da
definição e observância de padrões morais e éticos incontestáveis. A prática
corrupta será combatida a qualquer nível ou área do Governo.
· Prevenção: A estratégia enfatiza a prevenção da prática corrupta ao invés da
punição, embora as instituições de investigação do Estado sejam fortalecidas para
realizarem com eficácia e eficiência a sua missão e as suas obrigações.
· Sancionamento: O Governo promoverá uma investigação rigorosa dos casos de
corrupção e levará às instâncias responsáveis pelo procedimento criminal ao
julgamento dos casos comprovados de corrupção.
· Participação: O esforço de combate à corrupção tem de estar centrado no cidadão.
Não se trata apenas de envolvê-lo, mas de torná-lo agente activo desse processo.
Assim, o Governo compromete-se a facilitar a criação de um ambiente no qual a
sociedade civil bem informada pode monitorar a acção do próprio Governo e exigir
responsabilidades e prestação de contas. Este tipo de abordagem institucional,
complementa a acção do governo e das organizações do sector público e facilita
igualmente o desenvolvimento da confiança do cidadão para com as instituições do
Estado, devendo estas efectivamente actuar com imparcialidade. Portanto, fortificase
a aliança entre o Estado, a Sociedade civil e o Sector Privado e,
consequentemente, consolida-se a colaboração, a acção conjunta e a partilha de
informações entre o Governo, os cidadãos e os homens de negócios.
· Combinar o discurso enérgico de Combate à Corrupção” com acções de
impacto: no processo de combate à corrupção a exortação, combate à corrupção
será mais eficaz quando associada à medidas tais como:
o Prestação eficaz de serviços: é o atendimento individualizado provido de
cortesia, paciência e tolerância mas com qualidade e cumprimento dos
prazos.
o reformas nas políticas económicas: consistem na introdução do sistema
financeiro e sistema de procurement transparentes que não permitem os
funcionários exercerem o poder discricionário e também limitar o monopólio
do poder do sector público.
o disseminação de informação: informar sobre como é que o governo gasta o
dinheiro, implementa os programas e como é que estes programas influem
na prestação de serviços ao cidadão o que é a chave para uma governação
íntegra e transparente.
o Participação dos cidadãos no processo de governação: através da definição
clara de políticas de participação da sociedade civil na tomada, monitoria e
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avaliação das decisões; definição clara de políticas de acesso a informação;
da governação aberta; da divulgação das leis e informação e; da promoção
de campanhas de alfabetização, comunicação e educação.
o estratégia integrada e coordenada com outros parceiros: o sucesso do
combate à corrupção passa pela participação conjunta entre o Estado-
Sociedade civil-Sector privado.

8. Quais são os três momentos estratégicos de combate à


corrupção?

Conscientes da complexidade, transversalidade, pluralidade das dimensões da


corrupção pois atenta contra a dignidade humana, afecta as relações sociais, distorce a
economia, debilita o Estado e cria a contracultura , a Estratégia Anti-corrupção deve
integrar três momentos fundamentais: a prevenção, a acção administrativa e o
sancionamento.

Estes três momentos da estratégia devem avançar em conjunto e complementar-se um


ao outro porque qualquer sucesso alcançado num deles vai reforçar os outros dois. Eles
estão interdependentes mas com tarefas distintas.

Primeiro momento: Prevenção- a aplicação das leis e regulamentos tais como os


códigos de ética, as leis relativas à organização e funcionamento de concursos públicos
para o fornecimento de bens e serviços, as leis sobre os procedimentos administrativos,
as leis que proíbem a aceitação de certas doações, as leis sobre a liberdade de
imprensa é uma forma de reduzir as práticas corruptas nas instituições do sector
público. A realização plena das funções fundamentais da governação – implementação
da Estratégia Global da Reforma do Sector Público - reduz oportunidades de acesso
ilícito aos recursos públicos, pois o sistema governativo deixa de ser vulnerável e o
desvio facilmente detectado.

A função de prevenção consiste também em rever as leis, políticas, funções,


regulamentos, estruturas, práticas de gestão das finanças e procurement públicos, bem
como sistemas de controlo de modo a identificar as condições que alimentam ou
facilitam a corrupção e conceber reformas para limitar as oportunidades, onde e quando
for possível, e eliminar ou aliviar os problemas. Assim, as medidas para eliminar o
burocratismo, o poder discricionário e o secretismo implícito nas relações entre
corruptos e corruptores são instrumentos fundamentais e efectivos no combate à
corrupção.

Responsabilização e transparência são pilares centrais da boa governação, fazendo


com que o Estado e outros actores se concentrem nos resultados, objectivos claros e
boas estratégias, incluindo a monitoria eficiente e relatórios de desempenho no sector
público. Uma cultura de transparência e responsabilização no sector público promove
uma melhor congruência entre as políticas públicas, a sua implementação e a eficiência
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da afectação de recursos.

Para o sucesso da prevenção é necessário educar o HOMEM de modo a promover uma


mudança profunda na opinião pública e criar um ambiente em que as práticas
corruptas
sejam discutidas abertamente e consideradas intoleráveis. Para este fim, uma
campanha ampla e sustentada de relações públicas para educar os cidadãos sobre o
seu direito aos serviços públicos, o seu direito de recusar exigências ilícitas por parte
dos funcionários públicos e o seu direito de se organizar para resistir à corrupção ao
nível da base. A campanha também faculta informação sobre o significado da
corrupção, as disposições da Lei sobre a corrupção e o elogio dos funcionários públicos
exemplares no combate a este mal. A aposta mais séria que se faz é na participação
activa e na vigilância permanente da sociedade em geral.

A criação de canais directos de comunicação entre o Governo e a sociedade que


garantem a segurança e eliminam as ameaças de represálias contra o cidadão que,
exercendo o seu direito legítimo, denuncia os actos de corrupção do qual é vítima ou
do
qual tenha conhecimento, são instrumentos de revelação de casos concretos como de
inibição de novos casos.

A participação e a transparência são os elementos chaves para a melhoria da


responsabilização e adaptabilidade da gestão administrativa. Eles contribuem para a
democratização, para a construção do profissionalismo e ética dentro do governo bem
como para prevenir a corrupção no sector público.

Segundo momento: Acção administrativa/processo disciplinar- acção que se dá


quando o dano aconteceu, isto é, o acto de corrupção. Detectado o corruptor, através
dos sistemas de controle e auditoria interna e externa ou por denúncia da sociedade
civil ou empresarial, a instituição/sector lesada procede com a instauração do processo
disciplinar e aplicação de medidas administrativas.

A acção administrativa envolve a investigação e instauração de processos disciplinar


e/ou criminal. Para muitas das pessoas, esta é a essência de um programa contra a
corrupção porque ao invés de promover a oportunidade e a impunidade para a prática
dos actos corruptos, ela pune administrativamente o infractor desincentivando e
desmotivando as práticas ilegais que contaminam a parte saudável do sector público.
Este tipo de abordagem, reforça a acção de prevenção e desenvolve a confiança do
cidadão para com as instituições do Estado.

A falta de uma perspectiva séria na abertura e encerramento de processos disciplinares


nos sectores poderá criar condições para a continuidade das práticas de corrupção e
para que o público cedo se canse sobre todo o programa de combate a este fenómeno.
Deste modo, há uma necessidade de um processo de capacitação e fortalecimento
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institucional das organizações nucleares para o combate à corrupção, designadamente
as inspecções administrativas, financeira e técnica e auditorias do sector público.

Terceiro momento: Sancionamento - nos casos em que a corrupção envolve ofensas


criminais, a instituição pública visada irá encaminhar o assunto para os órgãos de
justiça, que irão investigar, acusar criminalmente, julgar e punir o infractor.
O sistema judicial é importante na tomada de medidas porque reprime os que
cometeram o crime e evita o desenvolvimento da cultura da impunidade; isto é, o
factor
da sustentação da corrupção. Porém, o sistema judicial não é a solução isolada do
problema pois é parte integrante do sector público que enferma de problemas de
corrupção.

O elevado grau de impunidade que se verifica actualmente, exige a adopção de


medidas de fundo que passam pelo fortalecimento da capacidade operacional do
sistema judicial, pela revisão que rege as relações laborais entre o Estado e os
funcionários e pela implementação de mecanismos judiciais e extra judiciais que
penalizem com maior rigor os casos comprovados de corrupção. Quanto mais forte for
o
sistema judicial mais eficiente e eficaz será a prossecução e punição dos infractores.
Assim, a transparência e o combate à corrupção no sector público passam pela
coordenação e integração de várias acções, todas elas concorrendo para a existência
de um sector público que presta contas e serviços de qualidade ao cidadão.

9. Elementos da estratégia Anti-corrupção

As várias experiências de combate à corrupção reconhecendo que este fenómeno é


reflexo de falhas e lacunas na governação de um país revelam que quanto maior for a
incidência da corrupção, poucas devem ser as estratégias que incluem acções que
estejam estreitamente dirigidas ao comportamento corrupto. O foco deve incidir em
acções que reconhecem o impacto institucional mais amplo em cada contexto e que
sejam adoptados métodos que atacam as raízes da corrupção.

Assim, tomando em consideração as várias experiências de combate a este mal a nível


mundial e em particular, no nosso país, as acções mais recomendáveis deverão incidir
no seguinte:
· Racionalização e simplificação dos processos administrativos;
· Redução do poder discricionário dos funcionários públicos no exercício das suas
funções;
· Desenvolvimento na administração pública da cultura de uma gestão orientada
para resultados concretos;
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· Fortalecimento do processo e mecanismos de prestação de contas na gestão
financeira, patrimonial e procurement público;
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· Estabelecimento dos mecanismos de participação da sociedade civil e sector
privado na acção governativa;
· Incremento das acções de julgamento dos casos de corrupção como forma de
desencorajar o desenvolvimento da cultura de impunidade porque este
fenómeno, é efectivamente, o motor da corrupção;
· Promoção e materialização do processo de descentralização da acção
governativa por forma a levar as decisões do governo mais próximas do cidadão.

10. Objectivos, resultados e indicadores

A estratégia preconiza os objectivos, resultados e indicadores específicos que a seguir


se detalham em harmonia com as componentes da Estratégia Global da Reforma do
Sector Público.

Objectivo 1: Simplificar e Racionalizar os procedimentos administrativos para imprimir


eficácia na prestação de serviços ao cidadão
Resultados:
¨ Simplificados os processos da fiscalização prévia (VISTO);
¨ Decreto 30/2001, de 15 de Outubro, sobre as normas de funcionamento dos
serviços da administração pública, especialmente o Capítulo VII sobre as
formalidades do procedimento administrativo aplicado eficazmente em todas as
instituições públicas;
¨ Estabelecidos e em funcionamento os Balcões Únicos de atendimento ao
público e homens de negócios;
¨ Quick Wins implementados;
¨ Realizada a análise funcional e a reestruturação dos Ministérios de acordo com
a missão, objectivos e funções;
¨ Simplificados os processos de licenciamento comercial
¨ Fortalecidos os mecanismos do novo sistema de impostos.
Indicadores:
¨ Número e % dos principais processos simplificados ou racionalizados;
¨ Número dos principais serviços classificados como eficientes;
¨ Número e % de Quick Wins implementados.
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Objectivo 2: Estabelecer/desenvolver uma cultura de transparência, de isenção, de


integridade e de responsabilização públicas
Resultados:
¨ Revisto, adoptado e implementado o Estatuto Geral dos Funcionários Públicos
(EGFE);
¨ Reforçada a qualidade de liderança das instituições e da gestão da
administração pública;
¨ Reforçada a qualidade de gestão das instituições públicas;
¨ Reforçada a capacidade profissional dos funcionários públicos na gestão e
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prestação de serviços nas instituições públicas;
¨ Implementada a política salarial;
¨ Revisto o Sistema de Informação do Pessoal (SIP);
¨ Melhorada e implementada a legislação referente a transparência e integridade
dos dirigentes;
¨ Fortalecida a capacidade de formulação de políticas públicas dentro dos órgãos
do Estado;
¨ Fortalecida a capacidade de gestão, monitoria e avaliação de políticas públicas
pelos agentes do Estado.
Indicadores:
¨ Percepção do nível de eficiência e eficácia do funcionamento de cada instituição
pública;
¨ Percepção do nível de ética e de corrupção dentro de cada instituição pública;
¨ Políticas públicas adequadas.

Objectivos 3: Melhorar a eficiência e a qualidade de serviços do sistema de justiça.


Resultados:
¨ Fortalecida a eficácia e a integridade da Unidade Anti-corrupção;
¨ Racionalizada e modernizada a legislação vigente;
¨ Fortalecida a eficácia e a integridade da Procuradoria Geral da República (PGR);
¨ Fortalecida a eficácia e a integridade dos Tribunais;
¨ Fortalecida a eficácia e a integridade da Polícia.
Indicadores:
¨ Percepção da sociedade sobre a eficiência e qualidade do sistema judicial;
¨ Redução significativa do tempo para a resolução dos casos participados;
¨ Percepção dos funcionários públicos e advogados sobre a eficiência e qualidade do
sistema de justiça.
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Objectivo 4: Fortalecer o Sistema Financeiro do Estado de modo a imprimir a


transparência, eficiência e eficácia na gestão financeira, orçamental e patrimonial do
Estado
Resultados
¨ Funcionando eficazmente o SISTAFE;
¨ Fortalecida a capacidade das instituições públicas em auditoria interna e
externa;
¨ Fortalecido o sistema de gestão por resultados;
¨ Fortalecido o sistema de Procurement do Estado;
¨ Fortalecida a capacidade da contabilidade pública.
Indicadores
¨ Pontualidade e qualidade dos relatórios financeiros;
¨ Redução significativa do nível de desvios de aplicação dos orçamentos;
¨ % das instituições públicas com uma média de execução orçamental satisfatória;
¨ % das instituições públicas onde os processos de planificação e controle financeiro
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estão interligados;
¨ Percepção dos cidadãos e do sector privado sobre o nível de corrupção nos
processos de procurement do Estado.

Objectivo 5: Melhorar os níveis de consciência e da participação da sociedade civil e do


sector privado no combate à corrupção.
Resultados
¨ Fortalecida a capacidade da sociedade civil e do sector privado no processo de
combate à corrupção;
¨ Implementado o Código de princípios de boa governação nas empresas
privadas;
¨ Fortalecida a capacidade dos Media na denúncia de casos de corrupção.
Indicadores
¨ % dos participantes da sociedade civil e do sector privado nos vários mecanismos
de combate à corrupção e promoção de boa governação;
¨ Número de casos de corrupção reportados pelos Media;
¨ Percepção dos cidadãos sobre a qualidade do trabalho dos Media e do sector
privado no combate à corrupção.

Objectivo 6: Melhorar os mecanismos de envolvimento das comunidades locais na


participação na governação e monitoria de modo a promover a transparência e
prestação de contas.
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Resultados
¨ Estabelecidos os mecanismos de participação comunitária na governação local;
¨ Fortalecida a capacidade das Assembleias locais (província, distrito e município)
na monitoria das acções do governo e do processo legislativo.
Indicadores
¨ Percepção dos cidadãos sobre a eficiência e eficácia do governo local na prestação
de serviços e no combate à corrupção;
¨ Qualidade dos debates e das recomendações feitos pelos deputados;
¨ Percepção dos cidadãos sobre a qualidade de monitoria das acções do governo e
análise das leis feita pelos deputados dos governos locais.

Objectivo 7: Assegurar a implementação eficaz da estratégia Anti-corrupção através do


estabelecimento e funcionamento de mecanismos institucionais.
Resultados
¨ Estabelecidos os mecanismos institucionais de coordenação e implementação
da Estratégia Anti-corrupção;
Indicadores
¨ Percepção sobre o nível de corrupção no Sector Público
¨ Relatório adequado ao Conselho de Ministros sobre a implementação da Estratégia.

11. Gestão do processo (Arranjo Institucional)


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A direcção política para o desenvolvimento, implementação e monitoria da Estratégia
Anti-corrupção é da responsabilidade directa da Comissão Interministerial da Reforma
do Sector Público (CIRESP) que é presidida pelo Primeiro Ministro. A CIRESP vai
preparar relatórios anuais sobre a implementação das Linhas Gerais da Estratégia
Anticorrupção para prestação de contas ao Governo e Assembleia da República.

Porque a Estratégia Anti-corrupção tem uma abordagem multisectorial e é abrangente


não apenas ao Governo, mas também aos outros órgãos do poder, assim como à
sociedade civil, propõe-se o estabelecimento de uma Comissão Técnica (CT) que
deverá ser abrangente e representativa. Assim, a Comissão Técnica deve ser
constituída por representantes do sector público, da sociedade civil e do sector privado.
Compete à Comissão Técnica acompanhar e tomar as decisões sobre todas as fases
de elaboração e implementação da Estratégia, nomeadamente: supervisar, monitorar,
avaliar a implementação e propor medidas ou políticas para melhorar a estratégia,
combater à corrupção e melhorar a governação. A Comissão também elabora
relatórios
semestrais sobre a implementação da Estratégia à submeter a CIRESP. A designação
dos membros da Comissão Técnica e do Presidente será objecto de despacho
específico.

12. Processo de elaboração da Estratégia Anti-corrupção

O processo de elaboração da Estratégia será participativo tendo como documento base


as linhas gerais. A Estratégia Anti-corrupção será o resultado das linhas gerais e das
contribuições obtidas no decurso do processo de auscultação ao executivo, legislativo,
judicial, sociedade civil, sector privado e parceiros internacionais.
A Estratégia e o respectivo plano de acção serão apreciados pela CIRESP e aprovados
pelo governo.

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6. DOCUMENTO ORIGINAL DE DISCUSSÃO

Combate contra a Participação do Sector Privado na Corrupção


em Moçambique

Documento de Discussão

Tradução livre

31 de Outubro de 2005

O projecto foi patrocinado pelo


Center for International Private Enterprise em Washington, D.C.

E preparado com a assistência da


SAL, Observatório de Administração Pública

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Combate contra a Participação do Sector Privado na Corrupção em Moçambique

CONTEUDO
1 Sumário Executivo
2 Introdução
2.1 Estrutura e objectivo do relatório
2.2 Corrupção em Moçambique
2.3 O projecto
2.4 ACIS
2.5 CIPE
3 Tipos de Corrupção
3.1 Definições Tradicionais
3.2 Definições Específicas de Moçambique
4 A experiência do sector privado
4.1 Experiências de corrupção
4.2 Impacto da corrupção
4.3 Formas de combate à corrupção
4.4 Casos de estudo
5 Análise do sector privado & corrupção em Moçambique
5.1 Linhas Gerais da Estratégia Anti-corrupção
5.2 Pesquisa Nacional sobre Governação e Corrupção
5.3 Estudo sobre o Ambiente de Negócios em Moçambique
5.4 Estudo sobre o Ambiente de Investimentos de Inhambane
5.5 Estudo sobre a Corrupção da Ética Moçambique
6 Convenções Internacionais
6.1 OECD
6.2 Nações Unidas
6.3 União Africana
6.4 Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral
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6.5 Transparency International
6.6 Sumário
7 Iniciativas Internacionais
7.1 Iniciativas Apoiadas pela Transparency International
7.2 Auditorias de Transparência
7.3 Auditorias de Corrupção
7.4 Códigos de Princípios Empresariais
7.5 Ilhas de Integridade
7.6 Sumário
8 Tabelas Comparativas
8.1 Geral
8.2 Especificidades do Sector Privado
9 Conclusões & Recomendações
10 Anexos
i. Definição de Corrupção do Banco Mundial
ii. Guião para as Entrevistas
iii. Revisão da legislação existente
a) Anti-corrupção
iv. Modelo de factura de IVA legal

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1. SUMÁRIO EXECUTIVO

A Associação Industrial e Comercial de Sofala (ACIS) identificou a corrupção como


um dos principais problemas que tem afectado os seus membros e, consequentemente,
o desenvolvimento económico e dos negócios em Moçambique. Em parceria com o
Center for International Private Enterprise (CIPE), a ACIS embarcou num projecto com
a duração de 12 meses, o qual tem como objectivo a procura de meios para combater a
participação das empresas na corrupção em Moçambique.

Este relatório constitui a primeira fase do projecto e a versão inicial foi elaborada como
um documento de discussão. O mesmo oferece a visão sobre a corrupção realizada a
nível dos negócios em Moçambique, assim como a revisão de um conjunto de estudos
recentes de anti-corrupção e da estrutura legal relevante de áreas chave. O relatório
contém também um sumário de entrevistas a homens de negócios e alguns casos de
estudo. Esperamos que esta parte do relatório se desenvolva ao longo da fase de
discussão pública.

O relatório foi desenhado com o objectivo de iniciar o debate sobre a questão e não
constitui, por isso, o documento final. Esperamos que do debate resulte um relatório
final contendo um conjunto de instrumentos e ideias desenvolvidas a partir da
participação e discussão entre os interessados no assunto.

O relatório descreve também a boa prática na anti-corrupção tal como desenvolvida


noutros países. Isto ajudar-nos-á a desenvolver uma série de instrumentos de anti-
corrupção para uso em Moçambique. Mais uma vez, esta parte do relatório será
desenvolvida durante a fase de discussão pública.

Com base em estudos e discussões o relatório identifica duas áreas chave de corrupção,
aquela que se realiza entre o sector privado e o governo, denominada “corrupção
pública-privada”, e aquela que ocorre no seio do próprio sector privado, denominada
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“corrupção privada–privada”. Também é prevalecente ao longo do relatório a questão
do comércio ilegal. O relatório diferencia cuidadosamente o comércio ilegal do
comércio informal, salientando que o comércio ilegal ocorre em ambos os sectores
formal e informal, e que o comércio informal legal constitui uma parte essencial de
qualquer economia. O comércio ilegal nos sectores formal e informal resulta
principalmente da corrupção pública-privada e é facilitado pelo pagamento de subornos
a agentes fiscais e aduaneiros. A corrupção privada-privada constitui uma prática que
atrai a atenção da vulnerabilidade das empresas para o cometimento de fraudes com
relação a outros assuntos.

O relatório concentra-se na procura de mecanismos para o combate contra ambos os


tipos de corrupção, assim como na identificação dos efeitos que a corrupção tem sobre
as empresas envolvidas. Considera também os potenciais incentivos necessários para
que as empresas actualmente envolvidas em qualquer tipo de corrupção ou ilegalidade
podem “limpar a sua casa”. A ACIS tem observado que, em discussões com o governo,
este advoga que se não existisse um sector privado corrupto o próprio sector público
não seria corrupto. O relatório explora esta premissa. Mas, como ponto de partida, o
relatório reflecte o desejo do sector privado de Sofala se provar como um interlocutor
transparente e aberto. A ACIS acredita que ao exigir que o governo combata a
corrupção, o sector privado deve provar que está também preparado para se
comprometer à mesma luta.

O relatório identifica uma série de áreas chave que precisam de ser abordadas para se
poder combater a corrupção. Estas áreas são:

o Aplicação da legislação existente


o Disseminação de informação clara
o Simplificação dos processos administrativos
o Profissionalização dos serviços públicos

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o Remoção das oportunidades de tomada de decisões discricionárias
o Reforma radical do sistema de justiça
o Provisão de alternativas independentes
o Fortalecimento de confiança
o Compromisso para com a legalidade
o Responsabilização e execução
o Protecção e apoio de vitimas
O relatório nota que algumas destas áreas necessitam da intervenção directa do
governo. Outras áreas podem ser abordadas em parte pela sociedade civil, incluindo o
sector privado. Assim, o relatório requer que o governo lidere o combate em áreas tais
como a aplicação da legislação existente e a profissionalização dos serviços públicos. Ao
mesmo tempo, o relatório inicia uma análise de como o próprio sector privado pode
lidar com áreas como a disseminação de informação e fortalecimento de confiança. A
ACIS prevê que a fase de discussão pública do projecto enriquecerá as ideias e
recomendações apresentadas no presente relatório.

As ideias e exemplos identificados como meios de contribuição do sector privado para


o combate contra a corrupção são categorizados da seguinte forma:

o Informação – meios de comunicação, teatro, campanhas nacionais,


observatórios, guiões de informação;
o Formação – workshops, programas de ética, educação;
o Execução da Lei – guiões, páginas de internet, mapeamento de procedimentos;
o Fortalecimento de confiança – auditorias e certificação; e
o Provisão de alternativas independentes – pacotes de integridade, esquemas de
queixa (whistleblower schemes).

A relevância e aplicabilidade destas ideias no contexto moçambicano será discutida na


fase do debate público em volta do presente relatório.

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O relatório conclui que a mudança requer uma liderança clara e um compromisso a
partir do topo. É importante que os directores de empresas liderem o combate contra a
participação de empresas na corrupção e ofereçam uma liderança moral profissional e
pessoal aos seus subordinados e colegas.

A corrupção é um processo que envolve indivíduos. Assim sendo, os trabalhadores das


empresas, de cima a baixo, deverão ser encorajados para pessoalmente se
responsabilizarem pelo combate contra actos corruptos. A decisão de evitar a
corrupção depende de um processo de educação, informação e liderança clara.

O combate contra a corrupção em Moçambique pode também ser facilitado por um


conjunto de acções adicionais. A ACIS advoga assim o seguinte:

o Execução da legislação existente;


o Aprovação de novas leis tais como leis de liberdade de informação;
o Ratificação pela Assembleia da República de convenções e protocolos anti-
corrupção dos quais Moçambique é parte; e
o Desenvolvimento de um fórum abrangente e representativo para a discussão de
políticas e reformas legislativas assim como do desenvolvimento económico do
país.

O combate à corrupção requer o compromisso e o esforço de todos. A vitória é


essencial para se assegurar que avançaremos juntos em paz e prosperidade.

O presente relatório foi preparado como base de discussão e é apresentado de boa fé.
Acreditamos que achará o relatório útil e provocador. Todos os comentários e
sugestões são bem vindos. O relatório será desenvolvido ao longo do processo de

Associação Comercial e Industrial de Sofala 103


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discussão. O relatório final integrará os instrumentos propostos, assim como os
sumários dos comentários e reacções obtidas.

2. INTRODUÇÃO

2.1 ESTRUTURA E OBJECTIVO DO RELATÓRIO

O presente relatório foi desenhado para servir de base para a discussão sobre a
corrupção e negócios em Moçambique. Constitui também o primeiro passo dado pelo
sector privado visto pelo governo, como um parceiro honesto e forte na sua estratégia
anti-corrupção (veja a secção 5.1 abaixo). O relatório considera a participação e o
envolvimento do sector privado na corrupção e pretende examinar maneiras de
melhorar o ambiente actual de negócios no que esteja relacionado com a corrupção, o
comércio ilegal e a fraude. O relatório faz parte de um projecto maior (veja secção 2.3
abaixo) o qual pretende explorar instrumentos com os quais o sector privado em
Moçambique possa combater a sua própria participação na corrupção.

O relatório foi desenhado para servir como ponto de partida de discussão, e não como
uma declaração definitiva sobre o que deve ser feito. Após a publicação do relatório,
realizar-se-ão uma série de mesas redondas que contribuirão para o desenvolvimento de
instrumentos de uso para o sector privado.

O relatório contém nove secções. A primeira secção conte uma introdução e historial
sobre a situação em Moçambique, apresentando um breve resumo sobre a corrupção e
o seu impacto no sector privado. Define também o conceito de corrupção.

O relatório concentra-se então sobre entrevistas realizadas com empresas e oferece


estudos de caso como exemplos para guiar as discussões.

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O relatório avança com a recente análise da situação em Moçambique e da estratégia
anti-corrupção do governo recentemente apresentada, antes de considerar as
convenções internacionais e a potencial aplicabilidade de uma variedade de
instrumentos e iniciativas. O relatório termina com uma variedade de ideias, propostas
e recomendações que serão usadas como base para o desenvolvimento de uma agenda
de discussão e para guiar as contribuições do público para o debate.

O relatório inclui também anexos que contém uma análise das áreas chave de legislação
e o seu impacto sobre o sector privado, e oferece uma definição compreensiva de
corrupção assim como inclui o texto da estratégia anti-corrupção do governo e um
exemplar da factura legal de IVA.

O relatório baseia-se numa série de premissas chave que merecem menção:


a) As pessoas não querem pagar subornos. Se tiverem acesso a instrumentos
que lhes permitam evitar tal prática (i.e. o conhecimento para se defenderem
ou uma razão válida com base na qual não possam pagar – ameaça de
persecução, por exemplo) elas farão uso destes instrumentos;
b) Os benefícios do exercício legal devem exceder os custos se as empresas
devem optar por operar legalmente;
c) A empresa que actue corruptamente a qualquer nível (pagamento de
subornos, comissões etc.) não é uma empresa saudável. Os avaliadores do
risco afirmam que as empresas que participam em corrupção estão mais
facilmente expostas ao roubo, a fraude e a extorsão;
d) Há uma correlação directa entre a corrupção e o comércio ilegal;
e) O sector privado pode e deve adoptar uma posição de liderança e educação
moral.

Estas premissas informarão a direcção e o resultado do presente relatório.

Associação Comercial e Industrial de Sofala 105


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2.2 A CORRUPÇÃO EM MOÇAMBIQUE

O Banco Mundial cita Moçambique como um dos países mais corruptos da África
Austral, excedido somente por Angola e Zimbabué.1 A fraqueza do princípio geral de
direito contribui para uma percepção geral de falta de controlo. De acordo com a
hierarquia de governação do Banco Mundial sobre matérias tais como palavra &
responsabilidade e estabilidade política, Moçambique experimentou um declínio
percentual em termos de controlo de corrupção entre os períodos de 1996-2004.

A corrupção e o crime dominam frequentemente as notícias em Moçambique. O


assassinato do jornalista Carlos Cardoso e o julgamento que se seguiu, assim como o
assassinato de Siba Siba Macuácua e o contínuo fracasso na descoberta e persecução dos
criminosos, revela a prevalência da corrupção de alto nível e a impunidade ligada a
actos corruptos.

O Estudo da Ética Moçambique 2001 (veja a secção 5.5 abaixo) demonstra que 45% dos
inquiridos naquela altura haviam sido vítimas de corrupção nos seis meses anteriores.
Destes, 31% haviam feito pagamentos não oficiais a funcionários públicos até USD $6
enquanto que 45% fizeram pagamentos entre USD $6 e USD $60, e 22% fizeram
pagamentos entre USD $60 e USD $600 – isto acontece num país com um PIB anual de
USD $300.

A recente pesquisa nacional sobre corrupção e governação (veja a secção 5.2 abaixo)
indica que a situação mudou muito pouco desde 2001. As recentes afirmações públicas
do governo sobre corrupção e publicação de uma estratégia anti-corrupção podem ter
chamado a atenção do público sobre a questão. Questiona-se ainda se há ou não um
entendimento difundido sobre que significa corrupção e sobre o seu impacto no
desenvolvimento do país.

1
Banco Mundial, World Bank Governance Research Indicators 1996-2004, disponível em
www.worldbank.org/wbi/governance (última consulta a 15 de Setembro de 2005).
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De acordo com o relatório do conceituado jornalista Marcelo Mosse de 2004, "a
transparência, a integridade, a abordagem dos conflitos de interesse etc., são instituições
subdesenvolvidas em Moçambique. O clientelismo, o nepotismo, o favoritismo, e o uso
de influências são instituições fortemente enraizadas. A corrupção tem muito espaço
para desenvolver.”

Moçambique publicou recentemente uma lei de combate à corrupção e o respectivo


regulamento. As Linhas Gerais da Estratégia Anti-corrupção foram aprovadas pelo
Conselho de Ministros no dia 6 de Setembro do corrente ano (veja a secção 5.1 abaixo).
Sejam quais forem as preocupações sobre as omissões da legislação de combate à
corrupção (veja o Anexo III (a) abaixo), está claro que a mudança do sistema e do
pensamento que possibilitou a predominância da corrupção em Moçambique
necessitará mais do que a simples aprovação de leis. Necessitará, entre outras coisas, de
um sustentado debate público e de uma demanda maior da sociedade civil para o fim da
corrupção. O presente relatório representa a contribuição da ACIS para aquele debate.

2.3 O PROJECTO

A ACIS tem lidado com questões sobre corrupção e comércio ilegal em todos os níveis
do governo e do sector privado desde a criação da organização em 2000. Através do seu
contacto com a CIPE, a ACIS tem tido acesso às actividades de outras associações no
âmbito da corrupção noutras partes do mundo. Um relatório recente de uma
organização russa, a Fundação de Informação Cientifica para Democracia (Information
Science for Democracy (INDEM) Foundation)2 inspirou a ACIS no sentido de obter o
apoio dos seus membros e da CIPE de modo a realizar um projecto denominado
“Combate contra a Participação do Sector Privado na Corrupção em Moçambique.” O

2
Fundação INDEM, Business and Corruption: How to Combat Business Participation in Corruption in
Russia, (2004).
Associação Comercial e Industrial de Sofala 107
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projecto é conjuntamente financiado pelos membros da ACIS e pela CIPE. O presente
relatório é parte do projecto. O projecto inclui as seguintes restantes partes:

• Uma série de mesas redondas com base no presente relatório. Estas discussões
unirão partes interessadas do sector privado, do governo e da sociedade civil
com o objectivo de desenvolver soluções práticas para os problemas existentes
de corrupção;
• Entrevistas individuais, e discussões particulares com o sector privado sobre as
respostas reais aos problemas individuais e colectivos;
• Desenvolvimento de um kit de instrumentos e de um conjunto de passos que o
sector privado pode usar no combate contra a corrupção;
• Contribuição para o diálogo nacional sobre a corrupção, particularmente com o
envolvimento do sector privado, e elevação da consciência sobre questões de
corrupção com o governo, com a sociedade civil e com parceiros internacionais
de cooperação.

As questões que gostaríamos de abordar no processo de discussão incluem:

o Se uma empresa teve no passado de recorrer ao pagamento de comissões e à


corrupção de modo a competir, como pode essa empresa mudar a sua prática
sem ferir o ponto principal do seu negócio?
o Como podem as empresas proteger-se contra os actos corruptos dos seus
trabalhadores?
o Como podem as empresas que desejam operar legalmente competir num
mercado onde a corrupção e o comércio ilegal são práticas comuns?

O projecto corresponde a um ponto de partida para discussão e não uma solução final
para o problema. A ACIS receberá com muito gosto o debate e as contribuições de
quaisquer pessoas ou organizações interessadas no projecto. As contribuições podem

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ser oferecidas na forma de comentários, casos de estudo ou sugestões de
aperfeiçoamento. As contribuições podem ser enviadas para o seguinte endereço:
Caixa Postal 07
Beira
Fax: (258) 23 325997
Tel: (258) 23 320335
Endereço electrónico: acisofala@teledata.mz
Toda a correspondência será tida como confidencial.

2.4 ACIS

A Associação Comercial e Industrial de Sofala (ACIS) é uma associação de direito


privada, voluntária, e neutra representativa de empreendimentos comerciais e
industriais na província de Sofala. A associação foi criada em 2000, e tem 35 empresas
como membros, empregadoras de cerca de 12,500 trabalhadores. A associação advoga
os direitos dos seus membros a nível provincial e nacional e tem liderado a campanha
para a transparência e boa governação no sector privado e para a criação de um
ambiente positivo para o desenvolvimento de negócios de todos os tamanhos.

A ACIS representa uma associação que se constituiu sobre uma plataforma ética de
prática de negócios. A associação desenvolveu um código de conduta. Como condição
de admissão de membros, a ACIS requer que os membros sejam cumpridores das suas
obrigações fiscais e sejam regularmente auditados. Os membros da ACIS acreditam que
o cumprimento da lei e do código de conduta é um elemento essencial para o sucesso
dos seus empreendimentos e para o desenvolvimento de Moçambique. A sua
mensagem para a comunidade de negócios é que o sector privado necessita de organizar
a sua “casa” como pré requisito para o diálogo com o governo sobre assuntos
relacionados com corrupção, comércio ilegal, ou sobre qualquer outra política.

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De modo a demonstrar o seu comprometimento com a transparência e com a
qualidade de desempenho, a ACIS submeteu-se recentemente à certificação ISO
9001:2004, e está actualmente certificada ao abrigo deste padrão internacional de gestão
de qualidade.

Os membros da ACIS têm também consciência da sua responsabilidade para com os


seus trabalhadores e para com a sociedade como um todo. Este relatório explora formas
com base nas quais o sector privado pode usar a sua palavra como motivação para a
mudança de questões que afectam não só a comunidade de negócios mas afectam
também a sociedade civil.

Para mais detalhes sobre a associação e sobre as suas iniciativas consulte a página
electrónica www.acisofala.com.

2.5 CIPE

O CIPE – Center for International Private Enterprise é uma filial de carácter não
lucrativo da Câmara do Comércio dos Estados Unidos e um dos quatro institutos
principais da National Endowment for Democracy. O CIPE já apoiou mais de 800
iniciativas locais em 95 países em desenvolvimento, envolvendo o sector provado na
defesa de reformas institucionais e políticas, melhoria de governação, e no
desenvolvimento da compreensão dos sistemas de mercado. A USAID – United States
Agency for International Development também apoia os programas do CIPE. Os
principais temas do trabalho do CIPE incluem:
o Associações de negócios
o Advocacia do sector privado
o Combate contra a corrupção
o Governação societária
o Acesso à informação

Associação Comercial e Industrial de Sofala 110


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o Direitos de propriedade
o Sector informal
o Governação democrática
o Participação da mulher e da juventude

O CIPE associa-se a associações de negócios, organizações de estudo e pesquisas (think


tanks), e outras organizações do sector privado em países onde existe a necessidade de
progresso e de reforma. A abordagem institucional do CIPE sobre o desenvolvimento
reconhece que a mudança não acontecerá da noite para o dia e que é necessário o
compromisso a longo prazo para o sucesso das reformas.

Na África subsariana, o CIPE associasse a associações de negócios locais, organizações


de estudo e pesquisas (think tanks), e a outras organizações do sector privado na defesa
de reformas que possibilitem a criação de um ambiente de negócios amigável, a favor da
efectiva implementação e execução de regras e regulamentos existentes, e da elevação da
compreensão e do cumprimento daquelas regras e regulamentos. Os esforços do CIPE
têm contribuído para a tomada de decisões democráticas que desenvolvem um forte
sentido de posse nas leis que regulam a actividade económica.

3. TIPOS DE CORRUPÇÃO

3.1 DEFINIÇÕES TRADICIONAIS

O Banco Mundial estima que USD $1 trilião, ou 3% do PIB mundial é despendido em


corrupção todos os anos.3 O excelente relatório do Banco Mundial “Apoiando os
Países no Combate contra a Corrupção” publicado em 19974 possui a mais

3
Apoiando os Países no Combate contra a Corrupção – O Papel do Banco Mundial, Redução da Pobreza e
Gestão Económica – Banco Mundial, 1997
4
ibid.
Associação Comercial e Industrial de Sofala 111
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compreensiva descrição sobre a corrupção que podemos encontrar. Acreditamos por
isso que seria mais valioso usar algo tão bem considerado no lugar de desenvolver outra
definição. O texto completo da descrição do Banco Mundial é anexado ao presente
relatório, Anexo I. Espera-se que a inclusão deste texto ajude com a padronização do
que se compreende como corrupção. Embora o Banco Mundial coloque o sector
público no centro da sua definição, faz também referência às formas através das quais o
sector privado pode ser envolvido na corrupção.

O núcleo da definição de corrupção do Banco Mundial consiste no seguinte:

“Corrupção significa o abuso da função pública para proveito próprio. A função pública é
corrupta quando um funcionário público aceita, solicita ou extorque um suborno. É
também corrupta quando os agentes privados oferecem subornos para passar por cima de
políticas e processos públicos de modo a tirar vantagens e ganhos competitivos. A função
pública pode também ser abusada para benefícios pessoais mesmo quando não esteja em
causa o pagamento de subornos, através do patronato e nepotismo, do roubo de bens
públicos, ou do desvio de fundos públicos”5.

Avança com a discussão de corrupção envolvendo o sector privado:

“A fraude e o suborno podem e de facto ocorrem no sector privado, frequentemente com


resultados caros. Sistemas financeiros não regulados e permeados por fraude podem debilitar
economias e impedir o investimento estrangeiro. Os mesmos podem tornar um país
vulnerável a crises financeiras e instabilidade macroeconómica. bancos ou poupanças e
instituições de crédito podem ser apoderadas por criminosos com objectivos de fraude por
atacado. O apoio popular da privatização ou a profundidade dos mercados financeiros
podem ser desgastadas se fraca regulamentação conduzir ao desvio por parte de pequenos
sócios ou economizadores quando confrontados por transacções internas e pelo

5
ibid.
Associação Comercial e Industrial de Sofala 112
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enriquecimento de gestores. E a forte concentração corporativa sobre a lucratividade pode
não impedir a solicitação de subornos a fornecedores por parte de trabalhadores individuais.
Para além de que, quando a corrupção é sistemática no sector público, as empresas que
trabalham com o governo podem raramente fugir da participação nos subornos.”6

Grande parte dos tipos de corrupção definidos no Anexo I podem ser reconhecidas em
Moçambique, e foram identificados pelos participantes nos estudos mencionados na
Secção 4 abaixo. Conforme observado na Secção 4, há uma necessidade de melhoria do
ambiente de negócios, mas também de melhoria da cultura e ética empresarial. A
análise de formas para alcançar essa melhoria constitui uma das questões centrais do
presente relatório.

3.2 DEFINIÇÕES ESPECÍFICAS DE MOÇAMBIQUE

A corrupção constitui um dos assuntos mais debatidos actualmente em Moçambique


por oficiais do governo assim como pelos cidadãos. O Presidente da República de
Moçambique, Armando Guebuza, afirmou perante o país na Comunicação à Nação e
ao Mundo por Ocasião da sua Investidura como Presidente da República de
Moçambique7 que a burocracia, o espírito do “deixa andar” e a corrupção constituem
os maiores obstáculos ao desenvolvimento. Ele afirmou também que o combate contra
a corrupção é um dos objectivos centrais do novo governo. A recente publicação da
estratégia anti-corrupção é prova concreta disto.

Em Moçambique, a corrupção é tão comum que inspirou o seu próprio vocabulário.

O termo mais conhecido é “o cabrito come onde está amarrado”. Este termo expressa a
ideia de que um indivíduo procura ganhos no lugar onde desenvolve a sua actividade

6
Apoiando os Países no Combate contra a Corrupção – O Papel do Banco Mundial, Redução da Pobreza e
Gestão Económica – O Banco Mundial, 1997
7
Disponível em www.frelimo.org.mz/candidato.htlm. Consultado a 10/6/05.
Associação Comercial e Industrial de Sofala 113
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A grande variedade de eufemismos demonstra a prevalência da corrupção na vida
quotidiana. Eis alguns:
Molhar a mão;
Descascar amendoins;
Bater na mesa;
Falar como homem;
Olear / lubrificar a engrenagem;
Pagar o girinho;
Pagar refresco;
Alimentar o cabrito;
Regar o capinzal;
Taxa de facilitação;
Selos adicionais - (o que se refere à necessidade de – a qual deixou de ser exigida por lei –
adquirir selos para colocação em documentos oficiais);
Pagar a taxa de andamento;
Falar alto;
Fazer um “connection”.

Todos estes termos expressam a necessidade de suborno ou pagamento de uma


gratificação em troca de um serviço, adicionalmente às tais legalmente cobradas.

Considerando o ambiente em que as empresas operam, as seguintes definições


específicas de Moçambique, informam o conteúdo do presente relatório:

Corrupção
De acordo com a definição do Banco Mundial citada na Secção 3.1 acima, corrupção
significa o abuso do poder público. No entanto, o presente relatório compreende que o
sector público não é o único engajado na prática corrupta. Em Moçambique, para além

Associação Comercial e Industrial de Sofala 114


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das definições usuais de grande e insignificante corrupção, há também uma distinção
clara entre a corrupção público-privada e a corrupção privada-privada.

Embora as empresas possam envolver-se no pagamento de subornos para a obtenção de


informação, para a facilitação de processos ou garantia de concursos lucrativos com o
governo, elas podem também envolver-se no mesmo tipo de práticas no seu seio. Isto é
particularmente verdadeiro com respeito à aquisição de bens e serviços (procurement) e
à evasão fiscal, à venda de produtos falsificados e o uso do mercado informal por
empresas formais para a distribuição de bens ilícitos. O sector privado tem claramente
um papel a jogar no combate contra a corrupção público-privada e a corrupção
privada-privada. Na maioria dos casos, os instrumentos para tal são os mesmos.

Comércio Ilegal
O comércio ilegal inclui todas as formas de operações ilegal tais como a ausência de
cobrança do pagamento de IVA, a falta de retenção na fonte do imposto sobre
rendimento de pessoas singulares (IRPS), da retenção da contribuição da segurança
social, do pagamento do imposto sobre rendimento de pessoas colectivas (IRPC), da
taxa liberatória, a venda de produtos falsificados, a importação de bens sem pagamento
dos direitos aduaneiros e impostos e a exportação de bens com subfacturação do seu
valor, entre outras. Mutuamente o comércio legal é um dos principais contribuintes da
corrupção.

Ambos os sectores formal e informal participam no comércio ilegal o qual é muito


predominante em Moçambique. Há uma falta aparente de compreensão do significado
de comércio ilegal, e poucas pessoas conhecem a factura legal de IVA. (veja o Anexo
IV). Qualquer pessoa que adquira bens e serviços no sector formal tem o direito de
receber uma factura de IVA. Se um fornecedor de serviços não registado não puder
emitir uma factura de IVA, o individuo ou organização adquirente dos serviços fica
obrigado a deduzir a taxa liberatória sobre o valor dos serviços e paga-la ao governo. Se

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a factura de IVA não pode ser emitida, ou a taxa liberatória não é deduzida, a
transacção é ilegal.

Em conjunto com a Associação Fórum de Investidores de Moçambique (AFIM), a


ACIS elaborou um documento extensivo sobre a sua posição relativamente ao
comércio ilegal, incluindo uma série de propostas para o seu combate. O documento
encontra-se disponível na página electrónica www.acisofala.com

Comércio informal
Existe uma falsa noção de que o sector privado formal está contra o mercado informal.
Este não é o caso. Muitos produtos nacionais tais como o açúcar, cerveja, cigarros,
sabonetes e refrigerantes são comercializados através do mercado informal. O mercado
informal constitui parte essencial da vida económica, particularmente fora das zonas
urbanas.

Entretanto, o que o sector formal se opõe contra é o mercado informal ilegal. Este
mercado comercializa produtos ilegalmente importados, contrabandeados ou roubados,
e serve como uma saída lateral (side outlet) para aqueles que operam no sector foral
ilegal. Por exemplo, os vendedores de rua que comercializam produtos eléctricos e
DVDs e CDs piratas são com frequência “empregados” informalmente para andar pelas
ruas com produtos ilegalmente importados por grandes operadores formais e semi-
legais. Este tipo de comércio comum é prejudicial ao sector formal ilegal e aqueles que
desejam operar legitimamente no sector informal.

4. A EXPERIÊNCIA DO SECTOR PRIVADO

A presente secção do relatório tem como base discussões informais com um conjunto
de operadores formais e legais de Moçambique. Veja o Anexo II que inclui a estrutura
das questões colocadas nas entrevistas. As entrevistas concentraram-se em:

Associação Comercial e Industrial de Sofala 116


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o Experiências de corrupção;
o Impacto da corrupção; e
o Formas de combate à corrupção.

Foram já realizados um conjunto de estudos estatísticos (veja Secção 5 abaixo).


Contrariamente, as entrevistas por nós realizadas concentraram-se na colecta de
informação anedótica de modo a criar a base dos casos de estudo.

4.1 EXPERIÊNCIAS DE CORRUPÇÃO

O sector privado entrevistado categorizou a corrupção da seguinte forma:


o Fraude
o Facilitação de pagamentos & subornos para evitar multas
o Comissões
o Evasão fiscal
o Comércio ilegal (produtos falsificados, contrabando etc.)
Estes assuntos são aqui tratados de forma resumida, sendo explorados com mais
profundidade nos casos de estudo.

a) Fraude

Todos os entrevistados foram já de alguma forma afectados por práticas corruptas.


Muitas das empresas entrevistadas já haviam também sido sujeitas a formas de fraude
envolvendo elementos internos, e em alguns casos externos.

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As fraudes internas envolveram frequentemente sindicatos e a criação de complexas
pistas falsas e, em alguns casos, de clientes e empresas de transporte falsas. Num dos
casos a frade envolveu um sindicato que se estendia para além das fronteiras de
Moçambique. Em alguns casos a incidência da fraude e roubo envolveu aparentemente
a conivência de pessoal de bancos locais. Apenas alguns dos casos mencionados foram
com sucesso processados pelo sistema judicial e as empresas sentiram que esta
impunidade contribuiu para a prevalência da fraude.

Particularmente quando o pessoal de outras sociedades comerciais tais como bancos se


encontra envolvido, a fraude é um exemplo claro da incidência da corrupção privada-
privada. Teoricamente, a corrupção privada-privada deveria ser mais fácil de controlar
pelo sector privado. Discutiremos, abaixo na Secção 7, os instrumentos que podem
para tal ser usados.

b) Facilitação de pagamentos & subornos para evitar multas

As empresas citaram as Alfândegas, o Ministério das Finanças e os Conselhos


Municipais como sendo as entidades que mais podem afectar as suas operações diárias
em termos de requerer facilitação de pagamentos e subornos para evitar multas. As
empresas encontraram também dificuldades na diferenciação entre a falta de
competência e profissionalismo, por um lado, e a corrupção, por outro. Quando
processos são atrasados ou obstruídos e a empresa desafia a pessoa envolvida no atraso
ou obstrução sobre a procura de pagamentos de facilitação, a resposta foi geralmente
uma de “falta de condições”, “falta de meios” ou “falta de conhecimento”. A dificuldade
de diferenciar entre a corrupção e a falta de competência cria vazios que protegem
aqueles que procuram pagamentos de serem apanhados por aqueles que os desafiam.

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As empresas sentem que a simplificação e a padronização ao longo do país de sistemas
do governo, procedimentos e sua implementação, assim como a disseminação de
informação sobre aqueles sistemas e procedimentos, ajudaria na redução de
oportunidades para extorsão.

c) Comissões, evasão fiscal e comércio ilegal

O comércio ilegal e as práticas injustas tais como o pagamento de comissões àqueles


responsáveis tanto do Governo como do sector provado pelo procurement constituem
assuntos principais citados pelas empresas. Mais uma vez, os entrevistados citaram a
falta de responsabilização como uma das razões principais do contínuo
desenvolvimento da corrupção e do comércio ilegal.

Pedimos às pessoas para citarem as suas experiências pessoais com a corrupção. Os


entrevistados citaram exemplos tais como o pagamento de comissões para assegurar
créditos bancários pessoais e hipotecas e para adquirir imóveis através de agências de
imóveis. Mencionaram também a sujeição a pedidos de subornos pela polícia, pela
polícia de trânsito e pelo conselho municipal. Alguns dos entrevistados fizeram
referência também a incidências e experiências de nepotismo e pagamento de subornos
para garantir emprego em empresas privadas.

Mais uma vez, a corrupção privada-privada foi citada como um problema tanto das
pessoas singulares como das empresas.

d) Sumário

As empresas sentiram que na maioria dos casos a corrupção acontece devido:


o à ignorância e falta de informação;
o ao medo de represálias; e

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o à falta de aplicação efectiva da legislação existente.

A incidência da corrupção privada-privada foi relativamente alta. Teoricamente, está é


a área mais fácil para o sector privado combater pois recai sob o controle directo dos
directores e gestores das empresas. A opinião geral dos entrevistados é que embora a
corrupção no sector privado seja um problema, a corrupção no sector público é um
problema maior e degrada o ambiente de negócios. Mas mesmo assim, a restrição da
corrupção privada-privada pode oferecer alguns impactos imediatos motivacionais.
Através do uso de alguns dos instrumentos descritas na Secção 7 abaixo, o sector
privado pode iniciar o combate à corrupção no seio das empresas como percursor do
combate à corrupção público-privada.

4.2 IMPACTO DA CORRUPÇÃO

A corrupção tem um grande impacto directo e indirecto nas empresas. Directamente,


afecta as empresas que pagam subornos e comissões. Indirectamente, afecta todo sector
privado pois a corrupção aumenta os custos e cria uma atmosfera de ilegalidade que
permite o desenvolvimento do comércio legal e da fraude.

Algumas empresas admitiram que incluem os custos da corrupção, particularmente na


forma de pagamentos de comissões, no momento do cálculo dos seus preços.
Interessantemente, o pagamento de comissões aos representantes de procurement de
empresas privadas é também prevalecente.

A maioria das empresas citou a corrupção e o comércio ilegal como os factores


principais de obstrução ao seu desenvolvimento. Alguns dos entrevistados admitiram
estar preocupados com o impacto que a corrupção ou corrupção conhecida ou suspeita
possa vir a ter na reputação das suas empresas. Os mesmo acreditam também que existe
uma percepção negativa de Moçambique como um destino para investimento,

Associação Comercial e Industrial de Sofala 120


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especialmente para PMEs, e que isto resulta em parte da prevalência da conhecida
corrupção e do comércio ilegal. Muitos declararam também que haviam ou poderiam
aconselhar possíveis investidores sobre os riscos que a corrupção implica para
investidores em Moçambique.

4.3 FORMAS DE COMBATE À CORRUPÇÃO

Algumas empresas têm e utilizam códigos de princípios e códigos de conduta para


motivar o comportamento não corrupto no seio das suas organizações. As empresas
combatem também o comércio ilegal através de sistemas de recolha de informação que
regista informação enviada às autoridades governamentais.

As empresas usam as associações e o lobbies colectivos como forma de procurar


melhorias para o ambiente de negócios. As associações são também vistas como meios
de protecção mútua. As empresas por nós entrevistadas estavam desejosas de conhecer
outros métodos de combate à corrupção mas muitas sentiram que seria difícil alterar as
suas práticas sem uma perspectiva de melhoria ao ponto principal do seu negócio.

Um conjunto de questões impediu as empresas entrevistadas de efectivamente


combater a corrupção. Estas questões incluem a falta de informação sobre a legislação e
requisitos regulamentares, falta de incentivos para mudança falta de recursos para
efectivamente gerir e auditor a empresa, falta de responsabilização legal incluindo as
dificuldade de despedimento daqueles envolvidos na prática corrupta, e a incapacidade
para competir com as empresas que obtêm vantagens através de práticas corruptas.
Estas questões são reflectidas nos casos de estudo descritos na secção a seguir.

Associação Comercial e Industrial de Sofala 121


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4.4 CASOS DE ESTUDO

Veja ferramenta 6

Sumário
Os casos de estudo apresentados têm um conjunto de denominadores comuns. O
principal é a dificuldade de ultrapassar problemas de acção colectiva. As empresas
afirmam que apenas pagam comissões porque os seus concorrentes também o fazem, e
que gostariam de parar. Numa certa tipo de indústria este problema de acção colectiva
poderia potencialmente ser ultrapassado através do uso de “ilhas de integridade”
(islands of integraty) (veja Secção 7.5 abaixo).

As empresas perante problemas de comércio ilegal poderiam considerar alguns dos


mecanismos previstos na lei de combate à corrupção (veja o Anexo III (a)) para
persecução dos crimes de corrupção através da submissão ao Gabinete Central de
Combate à Corrupção. Alternativamente poderiam explorar outros mecanismos ao
abrigo do quadro legal existente para assegurar a delegação de poderes de execução para
que a apreensão de bens ilegais e persecução recaia mais directamente dentro do escopo
da sua iniciativa.

A questão do pagamento de subornos, facilitação de taxas e comissões é um dos que


envolve tanto a corrupção pública-privada como a corrupção privada-privada. As
empresas poderiam começar o combate a partir dos seus trabalhadores através da
incorporação de códigos de ética bem estruturados dentro dos regulamentos internos
das suas empresas. Através da definição de comportamentos não éticos e da graduação
das sanções aplicáveis, o empregador pode usar a legislação laboral existente
permitindo-lhe a aplicação confidencial do seu código de ética como base para a sua
disciplina laboral.

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A fraude, pagamento de comissões e corrupção resultante do não conhecimento das
regras e procedimentos pode ser ultrapassado através da partilha de informação.
Individualmente ou através de associações, as empresas podem partilhar informação
sobre as suas experiências, e desenvolver um centro de informação. Como parte da sua
função de liderança moral os directores das empresas deveriam informar os seus
parceiros no caso de os trabalhadores pedirem comissões. As empresas podem partilhar
conhecimentos sobre o funcionamento dos procedimentos e sistemas. Informações
sobre como as fraudes ocorreram e, quando legalmente permissível, sobre quem esteve
envolvido, pode também ser partilhada para prevenir que outros passem pela mesma
situação.

A discussão sobre o tipo de instrumentos cujo uso pode ser considerado pelas empresas
para sua protecção é incluída na Secção 7.

5. ANÁLISE DO SECTOR PRIVADO E DA CORRUPÇÃO EM


MOÇAMBIQUE

Muito tem sido dito e escrito sobre a corrupção em Moçambique e sobre o seu impacto
no sector privado. A presente secção do relatório analisa um grupo de documentos
chave e estuda e avalia as suas descobertas e o impacto destas descobertas sobre como o
sector privado pode combater a corrupção.

5.1 LINHAS GERAIS DA ESTRATÉGIA ANTI-CORRUPÇÃO8

As Linhas Gerais da Estratégia Anti-corrupção do governo foram aprovadas pelo


Conselho de Ministros no dia 6 de Setembro de 2005 (veja Anexo V abaixo). Consiste
num documento conciso, directo e claro. Contém uma definição compreensiva sobre

8
Governo de Moçambique, Linhas Gerais de Estratégia Anti-corrupção 2005 – 2009, (aprovada no dia 6
de Setembro de 2005)
Associação Comercial e Industrial de Sofala 123
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as várias faces da corrupção, que coincidem com a escolhida como base par o presente
relatório.

A estratégia pressupõe que o sector privado exerça uma função no combate contra a
corrupção. Prevê também o desenvolvimento de um plano detalhado de acção para
assegurar o cumprimento da estratégia. A estratégia promete uma mudança profunda, e
define um conjunto de formas através das quais a mudança se realizará. Estas incluem:

o Simplificação dos processos administrativos


o Redução dos poderes discricionários
o Desenvolvimento de uma cultura de serviços públicos orientada para a
obtenção de resultados
o Fortalecimento dos mecanismos de auditorias públicas
o Estabelecimento de mecanismos participativos para incluir o sector privado e a
sociedade civil na governação

A estratégia identifica a liderança como um factor crucial no combate contra a


corrupção. Identifica também como aspectos chave a cobertura compreensiva do
serviço público, tolerância zero, prevenção, sancionamento e o envolvimento público.
Identifica a necessidade de acções concretas que tenham um impacto na vida dos
cidadãos assim como a necessidade da participação da sociedade civil no processo de
governação. Certamente, a estratégia é particularmente clara sobre a necessidade de os
sectores público e privado trabalharem em conjunto com a sociedade civil para
assegurar uma resposta integrada e coordenada.

Os objectivos, resultados e indicadores da estratégia são extensos e não está ainda claro
como serão alcançados. No entanto, é provável que está secção da estratégia seja
melhor desenvolvida no plano de acção.

Associação Comercial e Industrial de Sofala 124


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A estratégia é uma declaração de comprometimento do governo. O presente relatório
será submetido ao debate que a estratégia do governo promove. Prevê-se que as
propostas e as sugestões aqui apresentadas se comprovarão úteis na determinação sobre
como o combate do sector privado contra a corrupção pode apoiar a estratégia do
governo.

5.2 PESQUISA NACIONAL SOBRE GOVERNAÇÃO E CORRUPÇÃO9

Este estudo foi realizado para e em nome do governo e consiste em três estudos
paralelos de agregados familiares, do meio empresarial e de funcionários públicos,
envolvendo 2,447 agregados familiares, 486 empresas e 992 funcionários públicos ao
longo do país.

Tem havido algum criticismo sobre a metodologia usada na pesquisa pois


representantes do governo frequentemente acompanharam os entrevistados nas suas
entrevistas. No entanto, a pesquisa constitui o mais compreensivo estudo sobre a
atitude pública contra o governo e oferece uma indicação interessante sobre os
problemas de corrupção que as pessoas vivem no país. Embora o relatório aborde
apenas a corrupção pública-privada os seus resultados são importantes para o
entendimento do ambiente geral em Moçambique.

Os entrevistados declararam ter havido um aumento da corrupção desde 1999,


conclusão em conformidade com as descobertas do Banco Mundial. 37% dos
entrevistados sentem que a corrupção aumentou desde o último ano e 70% consideram-
na um “problema muito sério.” Cada um dos grupos entrevistados identificou o
desemprego e o custo de vida como as causas de maior impacto sobre a corrupção. O
sector privado aponta o crime como o problema número um que afecta o país. O crime
foi visto com menos importância pelas famílias e pelos funcionários públicos.

9
Austral Consultoria e Projectos Lda., Pesquisa Nacional sobre Governação e Corrupção, (2005).
Associação Comercial e Industrial de Sofala 125
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De acordo com os funcionários públicos, o nepotismo e os vínculos empresariais
constituem os factores principais que afectam as tomadas de decisões. Os mesmos
acreditam também que os vínculos empresariais tem mais influência no sul – incluindo
a capital – enquanto que familiares e colegas tem mais influência no centro e no norte.
Estes factores demonstram a existência de uma relação pouco saudável entre os sectores
público e privado particularmente a nível central, como indicado pela prevalência no
sul do país onde a capital se situa. Altos níveis de centralização transformam esta
tendência numa preocupação.

O processo de procurement é uma das áreas de alto risco para a corrupção público-
privada. A demanda e o pagamento de comissões são comuns. (Veja o Anexo II (b)
abaixo para mais detalhes). Apenas 62% dos funcionários públicos entrevistados
indicaram que as decisões sobre o procurement eram regularmente auditadas. Os
funcionários públicos afirmaram abertamente que as regras de procurement são
regularmente desobedecidas. 12% dos entrevistados asseguraram que as regras não
foram cumpridas em mais de 50% dos processos de procurement. Apenas 37% afirmou
nunca ter visto nenhuma irregularidade num processo de procurement.

A pesquisa identifica a polícia (civil e de tráfico), as alfândegas, os governos municipais


e a Electricidade de Moçambique, E.P., (EDM), como as entidades mais desonestas. O
impacto da corrupção destas organizações sobre o sector privado, particularmente das
alfândegas, municípios e EDM, é muito grande. As famílias entrevistadas indicaram
também os sectores de saúde e educação como sendo particularmente corruptos. As
pessoas deixaram de usar os serviços oferecidos por estas instituições simplesmente
porque não tem recursos para custear os pagamentos não oficiais. Estes são assuntos
que o sector privado pode considerar no apoio à sociedade civil em benefício da sua
força laboral.

Associação Comercial e Industrial de Sofala 126


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A pesquisa enfatiza as fraquezas do sistema judicial. Ambos os agregados familiares e as
empresas concordam que o sistema é comandado pela vontade do Poder Executivo, é
manipulado por interesses económicos, e não merece confiança. Esta é uma das
preocupações das empresas que desejam operar formal e legalmente pois o recurso legal
contra aqueles que operam à margem da lei é quase inexistente. A manipulação da
justiça inclui também a ameaça de persecução criminal por acusações falsas com
grandes implicações em termos de custos e tempo.

Relativamente ao sector privado, a pesquisa descobriu que 61% das empresas acreditam
que o governo “raramente” ou “nunca” toma em consideração as suas preocupações.
Esta percepção negativa concorre com a opinião das empresas de que a reforma da
legislação era “imprevisível.” Enquanto que os funcionários públicos acreditam que a
corrupção do sector privado é um assunto preocupante, todos os grupos entrevistados
acreditam que a corrupção no sector público ultrapassa aquela. A pesquisa ilustra ainda
que a corrupção é um assunto que afecta principalmente a relação entre os sectores
público e privado.

Relativamente aos agregados familiares, as famílias residentes em zonas urbanas estão


mais sujeitas a corrupção – 60% contra 40% residentes em zonas rurais. Subornos são
mais requeridos e pagos com relação ao licenciamento e impostos.

Os sectores familiares e empresariais concordam que os líderes políticos, as


multinacionais e os traficantes de estupefacientes exercem grande influência sobre o
funcionamento do Estado.

90% das famílias entrevistadas afirmaram que não sabem qual o procedimento de
denuncia ou reclamação sobre um acto corrupto. Apenas 14% dos entrevistados acham
que uma reclamação terá resultados. 47% das famílias e 50% das empresas declararam

Associação Comercial e Industrial de Sofala 127


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que a falta de protecção contra repreensões influenciaria a sua decisão de queixa sobre
corrupção.

Apenas 13% dos entrevistados acreditam que a corrupção é principalmente promovida


pelo sector privado comparando com 41% que acreditam que é promovida pelos
políticos e funcionários públicos. Mais de 60% dos funcionários públicos entrevistados
considera a corrupção na função pública como “má” ou “muito má.” 34.9% dos
funcionários públicos declarou que o pagamento de subornos é comum e 32% das
empresas admitiu pagar subornos ao sector público.

A pesquisa levanta muitas questões e oferece material para debate e consideração. Áreas
tais como disponibilidade de informação e formas de protecção dos denunciantes são
áreas onde o sector privado e a sociedade civil podem participar de forma activa e
significante.

5.3 ESTUDO SOBRE O AMBIENTE DE NEGÓCIOS EM MOÇAMBIQUE

O Estudo do Ambiente de Negócios de 2004 (Business Environment Assessment, ou


BEA)10 realizado pela Confederação das Associações Económicas (CTA) é o maior
deste tipo de estudos realizado em Moçambique. O estudo entrevistou 150 empresas
em 7 das 10 províncias de Moçambique. O estudo baseou-se em entrevistas pessoais e
confidenciais e examinou um conjunto de áreas tradicionalmente consideradas
problemáticas para o sector privado. Estas são:
o Acesso à terra;
o Registro de empresas;
o Licenciamento de actividades;
o Cobrança de dividas ao governo;
o Trabalho;
o Resolução de disputas;
o Licenciamento de construção ou obras;
o Migração;
10
CTA, Business Environment Assessment (2004).
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o Licenciamento ambiental;
o Processo de importação e exportação;
o Impostos: IRPC, IRPS e IVA;
o Empresas em dificuldades;
o Acesso ao crédito; e
o Desenvolvimento geral do ambiente de negócios nos últimos cinco anos.

O estudo declara que “enquanto que a opinião geral afirma que nos últimos cinco anos,
com a excepção de algumas áreas mais problemáticas, verificaram-se melhorias
significantes em termos de expectativas, prevalece uma desilusão geral. É evidente que
Moçambique, em termos do seu ambiente de negócios, está muito longe dos seus
concorrentes internacionais, incluindo os concorrentes mais directos na região.”

O estudo continua afirmando que:


“Outro aspecto interessante que se observou foi a relutância dos entrevistados em
admitir a realização de pagamentos ilícitos. Enquanto que a maioria admitiu que
realizava tais pagamentos de modo a obter vantagens ou informações concretas, apesar
do anonimato do estudo e das garantias de confidencialidade os entrevistados
sistematicamente pediram ‘não escreva isto, Eu não disse nada.’ A maioria admitiu o
medo de represálias.”

O estudo concluiu que “não é só o facto de os regulamentos serem complexos e


requererem procedimentos absurdos e colecção de documentos e níveis
incompreensíveis de tomada de decisões, mas também o processo de movimentação de
documentos de um lado para o outro e um facto adicional que causa o aumento
extraordinários de custos e períodos de tempo. Isto resulta na maioria dos casos da falta
de formação profissional das pessoas envolvidas assim como da completa falta de
compreensão do significado de serviços públicos e dignidade profissional. É vital uma
revolução na compreensão e na atitude através de campanhas de formação agressiva e
sistemática.”

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O BEA não se concentrou apenas em problemas; pediu também aos entrevistados para
fornecerem ideias sobre soluções para os problemas pelos mesmos deparados. Estas
soluções podem ser agrupadas da seguinte maneira:
o Aplicação da legislação existente;
o Disseminação dos requisitos aplicáveis e claros com relação aos procedimentos
administrativos existentes (incluindo procedimentos de reclamação e recurso);
o Simplification of the administrative process;
o Profissionalização dos serviços públicos;
o Remoção das oportunidades para a tomada de decisões discricionária;
o Reforma radical do sistema judiciário; e
o Provisão de alternativas independentes – tais como alternativas de resolução de
disputas.

As soluções propostas pelo sector privado através do BEA ofereceram propostas para a
discussão da corrupção pública-privada no presente relatório e serão abordadas com
mais profundidade na Secção 9.

5.4 ESTUDO DO AMBIENTE DE INVESTIMENTOS EM INHAMBANE11

Para este estudo foram entrevistadas 100 empresas na província de Inhambane,


localizada no sul de Moçambique. O estudo identifica a corrupção como sendo o maior
obstáculo ao desenvolvimento da economia na província. Outros obstáculos incluem o
ambiente de negócios inadequado, procedimentos burocráticos não transparentes e
complexos e o crime. 63.8% dos entrevistados afirmaram estar sujeitos a algumas
formas de corrupção nas suas relações com o sector público. A polícia e os
departamentos financeiros (incluindo as alfandegas) foram os sectores considerados
como sendo os mais corruptos incluindo as autoridades municipais.

11
Inhambane Investment Climate Survey – BTU, GTZ, Março de 2004
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O estudo indica que as empresas na provincial de Inhambane gastam uma média de
9.5% das suas receitas brutas em corrupção, com os investidores moçambicanos
gastando mais que as suas contrapartes estrangeiras. A maioria dos subornos pagos
(76.8%) está abaixo de 10,000,000 MT12 sendo por isso considerados ao abrigo da
categoria de corrupção pequena. No entanto, conforme afirmado acima (Secção 2.2), o
PIB anual médio em Moçambique corresponde a USD $300. A corrupção não pode
por isso ser considerada pequena tanto em termos do seu valor relativo ou como em
termos do seu impacto sobre as Pequenas e Médias Empresas (PMEs).

À luz da premissa do presente relatório, a estatística mais interessante do estudo de


Inhambane revela que 64% das empresas entrevistadas em Inhambane afirmaram estar
envolvidas em alguma forma de evasão fiscal.

O estudo revela também que a prática do uso de multas gravíssimas para punir os
transgressores, particularmente com relação a evasão fiscal, resulta no aumento da
corrupção, pois fica mais barato pagar um suborno do que uma multa. Este conceito
também foi levantado nas entrevistas realizadas para o presente relatório – veja Secção
4 acima. O estudo conclui que há uma necessidade urgente de acção de ambos os
sectores privado e público, e urge o sector privado a melhorar a sua compreensão da e
cumprimento do quadro legal existente.

Enquanto que o sistema fiscal é complexo e oneroso e as taxas são altas em comparação
ao valor retribuído, a ACIS acredita que o sector privado estaria melhor servido neste
momento pela aplicação consistente e uniforme da legislação fiscal existente. Só através
disto se poderá nivelar o campo de acção e poderá iniciar-se um diálogo honesto sobre
o impacto do sistema fiscal sobre o sector privado.

12
Na altura de preparação do relatório 10 milhões de meticais correspondia a USD 405.
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5.5 ESTUDO SOBRE A CORRUPÇÃO DA ÉTICA MOÇAMBIQUE13

O Estudo sobre a corrupção da Ética foi o primeiro estudo oficial sobre corrupção
realizado em Moçambique. O estudo baseou-se em entrevistas com 1,500 indivíduos
nas províncias de Maputo, Sofala e Nampula.

Uma em 2.2 pessoas foi vítima de corrupção nos seis meses anteriores ao estudo, e os
valores envolvidos encontram-se entre os mais elevados no mundo com relação ao PIB
per capita. Ambas a corrupção grande e a corrupção pequena ficaram registadas, sendo
a corrupção pequena a prevalecente.

Os entrevistados sentem que a policia, as autoridades municipais e os tribunais são as


instituições que inspiram menos confiança e declararam que a corrupção afecta a
maioria das áreas fundamentais da vida das pessoas, tais como saúde, educação,
emprego e segurança social. O estudo é particularmente interessante pelo facto de
ilustrar que as pessoas tem menos confiança na lei e ordem e no sistema judicial do que
em outras instituições governamentais, um facto que constitui um indicador de
instabilidade.

O estudo ilustra uma grande falta de confiança e propõe um conjunto de soluções.


Muitas das soluções propostas tem uma relação directa com o sector privado e com a
sociedade civil. Estas incluem:

o Proibição clara e punição de actos corruptos;


o Protecção dos denunciantes;
o Assistência legal aos denunciantes);
o Melhoria do jornalismo de investigação;

13
Ética Moçambique, Estudo Sobre Corrupção em Moçambique (2001).
Associação Comercial e Industrial de Sofala 132
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o Melhor disseminação da lei e promoção do seu conhecimento pelo homem
comum;
o Definição e disseminação do tipo de comportamento próprio dos funcionários
públicos;
o Provisão de informação sobre o recurso e o sistema judicial; e
o Persecução sistemática de casos corruptos e responsabilização.

A proposta do estudo é clara quanto à necessidade de que os esforços para acabar com a
corrupção devem centrar-se no individuo e a força da mudança deve vir da sociedade
civil – incluindo o sector privado. Infelizmente, nestes quatro anos após a publicação
do estudo não se tem verificado progresso nenhum com respeito às soluções propostas
pela Ética. Entretanto, estas propostas informarão as propostas para a discussão de
ambas a corrupção público-privada e privada-privada no presente relatório.

Sumário
Os estudos e as pesquisas dos sectores público e privado e da sociedade civil nos últimos
cinco anos demonstram que a corrupção é um grande problema em Moçambique e tem
um impacto directo na estabilidade nacional e no desenvolvimento económico. Um
conjunto de questões fundamentais deve ser abordado no momento de
desenvolvimento de instrumentos para a solução do problema.
Estas incluem:
o Aplicação de legislação existente;
o Disseminação de informação clara;
o Simplificação dos processos administrativos;
o Profissionalização dos serviços públicos;
o Remoção de oportunidade para a tomada de decisões discricionária;
o Reforma radical do sistema judiciário;
o Provisão de alternativas independentes;
o Fortalecimento de confiança;

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o Demonstrável compromisso com a legalidade;
o Aplicação de responsabilização; e
o Protecção e apoio das vitimas.

A discussão destas questões e da sua integração num programa do sector privado sobre
o combate da sua participação na corrupção será abordada com mais profundidade na
Secção 9 abaixo.

Estas questões devem ser discutidas por todos os envolvidos no combate contra a
corrupção. O governo comprometeu-se a participar no combate através da estratégia
anti-corrupção e a ACIS apresenta este relatório como a sua primeira contribuição para
o debate. Conforme afirmado pela a Directora Executiva da Freedom House, a Sra.
Jennifer Windsor, “Cidadãos bens informados e um sistema judiciário livre de
manipulação executiva são pontos indispensáveis de um comportamento legal.” O
sector privado tem um papel importante a jogar particularmente na disseminação de
informação, no fortalecimento de confiança, na provisão de alternativas independentes,
e na liderança da demonstração de compromisso com a legalidade.

A falha de todas as partes no engajamento com este combate resultará na contínua


instabilidade e na falta de desenvolvimento económico. Este relatório procura por
formas através das quais o sector privado, especialmente as empresas, podem liderar
energética e inovativamente o combate contra a corrupção em Moçambique.

6. CONVENÇÕES INTERNACIONAIS

Nos últimos oito anos a corrupção e suborno constituem questões de grande


importância no que diz respeito à sua abordagem, discussão e regulamentação a nível
mundial. Na maioria dos países, os esforços de combate à corrupção estão ainda numa
fase primária, e informação sobre a natureza e âmbito de corrupção é difícil de obter.

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Isto é adicionado pela ampla natureza do problema e pela falta de consenso sobre
definições legais e criminológicas que poderiam criar a base para uma pesquisa
comparativa.

A presente secção considerará o trabalho de alguma das organizações principais que


contribuíram para o desenvolvimento de um conjunto de convenções. A participação
em tais convenções pode ser útil aos países aquando do desenvolvimento e estruturação
da armação de anti-corrupção. O conhecimento sobre as convenções ratificadas por um
país pode ser usado pelo sector privado para relembrar o país sobre a necessidade de
cumprir as suas obrigações legais previstas nas convenções.

6.1 OECD

Em 1997 a OECD apresentou a convenção “Combatendo o Suborno de Funcionários


Públicos Estrangeiros em Transacções Negociais Internacionais.” Esta convenção
ganhou a atenção internacional e constituiu o primeiro instrumento global de combate
contra a corrupção em negócios para além fronteiras.

Desde a sua aprovação, a Convenção Anti – Suborno da OECD, tal como é


denominada, foi ratificada por todos os países membros da OECD e por vários outros
países. Mais de 30 países aprovaram legislação interna com base na convenção,
significando que nesses países é crime o acto de suborno de funcionários estrangeiros.
O acto de suborno de um funcionário estrangeiro por uma multinacional ou um
cidadão de um daqueles países será punido por lei no seu país de origem.

No entanto, esta não é a única razão do sucesso da Convenção da OECD. A


monitorização regular e sistemática através de um processo rigoroso de revisão assegura
a sua execução eficaz. Os relatórios sobre os processos de monitorização e revisão são
de acesso público. Os altos padrões e as recomendações claras têm ajudado países na

Associação Comercial e Industrial de Sofala 135


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reforma de legislação e tem resultado no nivelamento do campo de acção das empresas
operadoras entre fronteiras nos países signatários.

Informações adicionais sobre a Convenção podem ser obtidas no seguinte endereço


electrónico: www.oecd.org/bribery.

Se alguém considerar a abordagem de castigo e encorajamento como forma de


combater a participação do sector privado na corrupção, a Convenção da OECD tal
como se aplica a multinacionais e a indivíduos titulares de passaportes dos países
signatários, constitui um pau poderoso para aqueles que subornam em Moçambique.
No entanto, a OECD estima que apenas 1 em 5 gerentes seniores de empresas
internacionais a operar em mercados emergentes tem conhecimento da convenção.
Associações económicas poderiam encorajar a sua execução relembrando aos cidadãos
estrangeiros que trabalham em empresas membros que a prática de corrupção em
Moçambique os coloca em risco legal nos seus países de origem.

Os seguintes países são signatários da Convenção da OECD:


Austrália, Áustria, Bélgica, Canada, Republica Checa, Dinamarca, Finlândia, França,
Alemanha, Grécia, Hungria, Iceland, Irlanda, Itália, Japão, Coreia, Luxemburgo,
México, Republica dos Países Baixos, Nova Zelândia, Noruega, Polónia, Portugal,
Espanha, Suécia, Suiça, Turquia, Reino Unido, Estados Unidos da América.
São também signatários cinco países não membros - Argentina, Brasil, Bulgária, Chile,
e a República Eslovaca.

6.2 NAÇÕES UNIDAS

A Nações Unidas opera “O Programa Global contra a Corrupção” (Global Program


against Corruption, ou “GPAC”) o qual foi conjuntamente desenhado pelo Centro
Internacional de Prevenção do Crime do Gabinete de Prevenção do Crime e Controle

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de Drogas do Secretariado das Nações Unidas e pelo Instituto Inter-regional de
Pesquisa Criminal e Justiça. Das Nações Unidas.

GPAC desenvolveu o Kit de Ferramentas Anti-Corrupção das NU,14 cuja terceira


edição foi publicada em 2004. De acordo com a introdução do kit, “Algumas
jurisdições desenvolveram medidas anti-corrupções bem sucedidas. O Kit de
Ferramentas Anti-Corrupção tem como base aquelas medidas e as lições aprendidas
pelas actividades de cooperação técnica facilitadas pelo Programa Global contra a
Corrupção. O kit oferece, com base da Convenção das NU contra a Corrupção
recentemente aprovada, um inventário de medidas para a análise da natureza e extensão
da corrupção, para a dissuasão, prevenção e combate contra a corrupção, e para a
integração de informação e experiências nas estratégias nacionais de anti-corrupção.”

O kit contém uma vasta lista de informação e experiência de apoio a áreas tão diversas
como:
o Estruturação de instituições;
o Declaração de bens;
o Pactos de integridade;
o Fortalecimento da consciência pública; e
o Métodos de aplicação.
Recomendamos a leitura minuciosa deste kit a todos que desejam engajar-se nas
actividades de anti-corrupção.

As NU contem também uma Convenção Anti-Corrupção. A Convenção das NU foi


finalizada no dia 30 de Setembro de 2003 e adoptada pela Assembleia-geral pela
resolução 58/4, de 31 de Outubro de 2003. Moçambique assinou mas ainda não
ratificou a Convenção das NU. Os detalhes desta convenção e outros documentos da

14
Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, The Global Programme Against Corruption – UN Anti-
Corruption Toolkit, (3ª edição, Setembro de 2004).

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NU sobre anti-corrupção encontram-se disponíveis no endereço electrónico
www.ODCCP.org/corruption.

6.3 UNIÃO AFRICANA

No dia 11 de Julho de 2003 os Chefes de Estado da União Africana adoptaram a


Convenção sobre a Prevenção e Combate contra a Corrupção. A Convenção da União
Africana (UA) foi adoptada em Maputo. Das 53 empresas membros da UA, 35
assinaram a Convenção e 9 ratificaram-na. A Convenção requer um mínimo de 15
ratificações para a sua entrada em vigor. Moçambique assinou mas ainda não ratificou a
Convenção da UA.

O objectivo da Convenção da UA centra-se na promoção de medidas de prevenção e


combate à corrupção em África. Inclui a facilitação da cooperação em medidas de anti-
corrupção e harmonização de políticas e legislação anti-corrupção entre os signatários.
A convenção cobre ambos os sectores público e privado.

A convenção inclui uma lista ampla de infracções tais como suborno (doméstico ou
estrangeiro), desvio de fundos por funcionários públicos, negócios por influência
(trading in influence), enriquecimento ilícito, lavagem de dinheiro (money laundering) e
ocultação de bens. As medidas usadas para lidar com a corrupção são a prevenção,
criminalização, cooperação regional e assistência legal mútua, e recuperação de bens.

Esta convenção deve claramente informar a discussão e o desenvolvimento de


estratégias e legislação anti-corrupção em África. O sucesso da convenção dependerá do
desenvolvimento da vontade política de cada um dos estados membros para a
ratificação e implementação das alterações necessárias e a vontade de abertura a revisões
por parte dos seus parceiros.

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6.4 COMUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DA ÁFRICA
AUSTRAL

O protocolo anti-corrupção da Comunidade para o Desenvolvimento da África


Austral (SADC) foi adoptado pelos chefes de estado em Agosto de 2001 na Conferência
do Malawi. O protocolo cobre um conjunto de medidas preventivas incluindo códigos
de conduta, acesso a informação, e protecção dos denunciantes). Reflecte também a
Convenção da OECD requerendo que o governo criminalize o suborno de
funcionários públicos, e estabelece a corrupção como uma infracção extraditável.

Os Artigos 2 e 11 do Protocolo estabelecem quatro objectivos principais:

a. Promoção e fortalecimento do desenvolvimento, por cada um dos Estados


Signatários, de instrumentos necessários à prevenção, descoberta, punição e
erradicação da corrupção nos sectores público e privado.
b. Promoção, facilitação e cooperação entre os Estados Signatários para assegurar que
as medidas e acções de prevenção, descoberta, punição e erradicação de corrupção
nos sectores público e privado são efectivas.
c. Promover o desenvolvimento e a harmonização de políticas e legislação doméstica
dos Estados Signatários relativas à prevenção, descoberta, punição e erradicação da
corrupção nos sectores público e privado.
d. Estabelecer os padrões de medição do desempenho dos Estados membros no
combate à corrupção numa base periódica.

O cumprimento será controlado por uma comissão estabelecida pelo Fórum da África
Austral contra a Corrupção (Southern African Forum Against Corruption, ou SAFAC)
o qual foi criado em Junho de 2000.

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Os objectivos da Convenção da UA são quase que idênticos aos objectivos
estabelecidos pelo Protocolo da SADC. Mais uma vez, este documento representa um
instrumento útil para os estados que desejam ratificá-lo e implementá-lo. Moçambique
ratificou o Protocolo da SADC15.

6.5 TRANSPARENCY INTERNATIONAL

Transparency International (TI) desenvolveu uma série de pactos de princípios e


documentos de orientação, dos quais o mais relevante no contexto actual é o
“Princípios Empresariais para o Combate de Subornos.” Outros incluem o Pacto de
Integridade da TI e os Princípios Wolfsberg Anti-Lavagem de Dinheiro.

Os princípios de negócios da TI foram desenvolvidos no mesmo período da


Convenção da OECD. Na introdução do seu documento de orientação sobre os
princípios empresariais a TI declara que “Poucas empresas tem sistemas efectivos e o
reconhecimento de que as empresas necessitam de instrumentos para as apoiar a
quebrar o ciclo de corrupção, os Princípios Empresariais oferecem pela primeira vez
uma abordagem compreensiva para a consideração dos subornos pelas empresas. A
abordagem varia entre políticas e práticas internas e formas de lidar com parceiros
empresariais e com as linhas de fornecedores. Os Princípios Empresariais foram
largamente testados por estudos de campo (field-tests) e workshops e tem sido
aprovados e adoptados por importantes multinacionais.”

Os Princípios Empresariais da TI são deste modo desenhados como uma ferramenta


prática que pode ser usada por empresas para responder aos requisitos estabelecidos
pelas convenções e protocolos da OECD, UA e SADC. Eles são apoiados pelo
International Business Leaders Forum (IBLF) entre outras organizações e são tidas como
um método chave de promoção de práticas empresariais responsáveis.

15
Resolução 33/2004 de 9 de Junho.
Associação Comercial e Industrial de Sofala 140
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6.6 SUMÁRIO

Nós consideraremos as convenções internacionais na análise sobre as formas através das


quais o negócio em Moçambique pode progredir. Estas convenções e protocolos são
claras quanto à existência de instrumentos de qualidade para permitir e incentivar os
governos a desenvolver políticas, estratégias e legislação anti-corrupção. A existência de
uma estrutura forte em anti-corrupção é essencial para ao combate do sector privado e
da sociedade civil contra a corrupção. O trabalho do sector privado sem a aderência a
estas convenções e protocolos terá pouco impacto. Requeremos por isso a ratificação
pelo Governo da Convenção da UA e a implementação do Protocolo da SADC.

7. INICIATIVAS NTERNACIONAIS

O sector privado enfrenta problemas de corrupção pelo mundo todo, tanto na forma
de corrupção privada-privada como na forma de corrupção público-privada. Em todo o
seu trabalho a ACIS é um defensor forte da não repetição de trabalho que já tenha sido
feito. Ao invés, propomos tomar como lições outras experiências. Claro que, é sempre
necessário adaptar as experiências ao contexto em que operamos. A presente secção do
relatório concentra-se em iniciativas que consideramos interessantes e inovadoras e
aplicáveis ao contexto Moçambicano sem grandes custos.

Na Secção 5 acima afirmamos que existe um conjunto de aspectos fundamentais que


devem ser tomados em consideração no momento da análise dos instrumentos para
assistir o sector privado no combate à corrupção. As iniciativas que analisamos na
presente secção respondem a esses aspectos.

7.1 INICIATIVAS APOIADAS PELA TRANSPARENCY


INTERNATIONAL

Associação Comercial e Industrial de Sofala 141


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A TI tem apoiado uma variedade ampla de iniciativas interessantes e inovadoras de
combate à corrupção no mundo inteiro. Nem todas as iniciativas são específicas do
sector privado. No entanto muitas delas são informativas e aplicáveis a qualquer
contexto. As iniciativas que escolhemos abaixo foram tiradas do Kit de Ferramentas
contra Corrupção (TI Corruption Fighters Toolkit) produzido em 2002 e encontra-se
disponível no seguinte endereço electrónico www.transparency.org.

Os instrumentos podem ser divididos em três categorias básicas: informação, formação


e monitorização. As categorias estão ligadas entre si pois a implementação está
dependente do conhecimento do que precisa de ser implementado.

Informação
No Brasil, a TI utilizou a rádio local como um instrumento poderoso de comunicação
de informação sobre corrupção. A campanha baseou-se em anúncios publicitários
simples e claros, incluindo rimas e peças teatrais memoráveis. Estas formam
disponibilizadas em CDs para as estações de rádio ao longo do País

Na Coreia do Sul a TI implementou a campanha “Coreia Limpa” a qual se concentrou


em eventos de grande conhecimento sobre corrupção e na disseminação de informação
para o público. No Nepal e Nigéria, a TI utilizou a televisão como meio de
comunicação, com pequenas peças simples ilustrativas de comportamentos corruptos,
direccionadas a áreas específicas (saúde, educação e alfândegas) tidas como tendo um
impacto na vida de todos.

No Bangladesh a TI utilizou grupos de teatro nómada para a disseminação de


informação enquanto que na Tailândia utilizou programas radiofónicos com chamadas
telefónicas para responder aos pedidos de informação das pessoas sobre a corrupção.

Associação Comercial e Industrial de Sofala 142


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Noutros países tais como Marrocos e Colômbia, a TI estabeleceu observatórios a dar
informação sobre questões anti-corrupção.

Como resposta a necessidades de informação específica a TI desenvolveu na Bulgária


um “Guião de Administração Municipal” o qual foi gratuitamente distribuído a todas
as munícipes para informá-las sobre os seus direitos, enquanto que no Quénia se
concentrou na colecta de informação e monitoria. Aqui a TI estabeleceu um Índice
Urbano de Subornos (Urban Bribery Index) e criou uma classificação para as entidades
mais ou menos corruptas, incluindo o governo central e municipal e empresas estatais.

Formação
Na Eslováquia a TI desenvolveu uma série de instrumentos de formação que criaram a
base para workshops de formação de participantes da sociedade civil e dos meios de
comunicação sobre a corrupção e o seu impacto. As representações criadas como parte
da formação foram depois transformadas em pequenos programas televisivos e peças
teatrais para as escolas. Os resultados das discussões foram depois adaptados para uma
série de palestras universitárias.

No Cazaquistão a TI desenvolveu uma série de palestras universitárias sobre a


corrupção. Estas serviram de base para um curso sobre as “Bases de Prevenção de
Corrupção” ministrado a todos os estudantes de economia e direito. Participaram nas
palestras oradores convidados e os estudantes receberam certificados de participação.
Os autores de documentos de pesquisa foram também convidados.

Na Colômbia a TI desenvolveu um compreensivo programa de formação ética para as


PMEs o qual se concentrou na utilização da ética na abordagem de instrumentos de
gestão empresarial e na demonstração de como as PMEs podem aumentar a
competitividade através de práticas transparentes.

Associação Comercial e Industrial de Sofala 143


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Monitorização & educação
A monitorização e educação estão ligadas a aspectos de informação e formação. São
essências para a defesa e aplicação da legislação existente. No Equador a TI desenvolveu
página de internet de aquisição de bens e serviços (procurement) a qual acompanhava
todos os processos públicos de aquisição de bens e serviços (procurement). No Paraguai
a TI organizou um workshop que se concentrou na descrição dos processos públicos de
procurement oferecendo assim aos utilizadores e monitores do sistema público de
procurement os instrumentos e conhecimentos que necessitam para tal.

No Líbano a TI identificou o licenciamento de construção como sendo uma das áreas


mais corruptas. Desenvolveram um compreensivo Manual de Licenciamento de
Construção para fornecer informação àqueles que aguardam a obtenção de licenças e
assegurar a sua aplicação de acordo com a demanda.

Na Roménia e na antiga Jugoslávia a TI promoveu a aplicação através do acesso à


informação. Como no Líbano, descobriram que as pessoas informadas podem exigir a
implementação. Desenvolveram por isso um “Guião para os Cidadãos” o qual indica
como todos os processos da vida quotidiana devem correr de acordo com a lei.

Na Arménia a TI identificou as Alfândegas como sendo uma área problemática e


desenvolveu um folheto sobre as regras básicas e os procedimentos das Alfândegas para
ajudar os usuários dos serviços alfandegários na demanda de aplicação.

Na Polónia a TI assistiu ao estabelecimento de um Programa de Ajuda Legal aos


Cidadãos, o qual forneceu aos cidadãos comuns acesso à informação e assistência na
garantia de aplicação correcta da legislação.

Associação Comercial e Industrial de Sofala 144


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7.2 AUDITORIAS DE TRANSPARÊNCIA

Outro instrumento por vezes utilizado por organizações, ou pelos seus clientes ou
patrocinadores é uma auditoria de transparência. As auditorias de transparência
descrevem um conjunto de tipos de auditorias e certificações e podem incluir auditorias
financeiras, de gestão e de sistemas. No caso de empresas, as auditorias de transparência
podem ser instrumentos úteis não apenas para demonstrar publicamente que a empresa
opera de modo transparente mas também como processos de formação para assistir a
empresa no desenvolvimento de apropriados sistemas internos.

Existe um conjunto de tipos de auditorias que as empresas podem utilizar. Estas


incluem os grupos de padrões da ISO, auditorias específicas para o sector, auditorias
financeiras e auditorias focalizadas especificamente na transparência. Cada vez mais, as
empresas que desejam exportar sentem que os seus clientes requerem alguma forma de
certificação de auditoria internacionalmente reconhecida, tal como a ISO. Isto
demonstra que o exportador está conforme um determinado padrão. Porque a
certificação é internacional o cliente pode seguramente assumir que receberá o mesmo
padrão de serviços de qualidade de uma empresa com certificação ISO 9000 em
Moçambique como de uma empresa certificada pelo mesmo padrão no seu país de
origem.

Uma auditoria de transparência e a subsequente certificação terá com certeza benefícios


reais para os exportadores. Pode não ter um impacto directo para empresas a operar no
mercado local, porque os clientes podem não exigir ou entender a certificação. No
entanto, em muitos países as empresas que estabelecem códigos de princípios
empresariais estão cada vez mais a requerer que os seus fornecedores provem que se
encontram em conformidade com estes códigos. Uma das formas mais eficientes de
provar esta conformidade é através de auditorias certificadas. Em alguns países os
governos e as agencies internacionais também adquirem preferencialmente de empresas

Associação Comercial e Industrial de Sofala 145


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que podem provar, através de certificação independente, a conformidade com certos
padrões.

Para além das vantagens em termos de vendas, as empresas que foram auditadas e
certificadas declaram que o próprio processo de certificação foi também muito benéfico
para as mesmas. O processo requer que as empresas observem minuciosamente os seus
processos internos e a forma como são geridas. As auditorias oferecem uma
oportunidade para a correcção de erros e a ênfase em auditorias regulares significa que
as empresas estão constantemente a esforçar-se para melhorar os seus produtos e
procedimentos. O processo de auditoria pode e certamente deve conduzir ao
desenvolvimento contínuo da própria empresa.

A SustainAbility, uma organização de pesquisa inglesa, observou no seu estudo do


sector privado inglês que as empresas tem consciência dos riscos de corrupção e fraude
mas que os sistemas necessários a gestão desse risco não estão integrados.16 As empresas
necessitam de controlos internos fortes para evitar o risco de corrupção. Eles precisam
também de entender a ameaça que to a reputação corrupta pode ter sobre a empresa.

7.3 AUDITORIAS DE CORRUPÇÃO

Outro tipo de auditorias de transparência é a auditoria de corrupção. Enquanto que as


auditorias de transparência tradicionais concentram-se em todos os aspectos
financeiros, de gestão ou dos sistemas da empresa, as auditorias de corrupção
concentram-se especificamente nos tipos de riscos a que as empresas estão expostas em
termos de corrupção e ilegalidades. Consiste numa forma de avaliação de risco de uma
empresa. Um especialista em auditorias de corrupção baseado na África do Sul estima

16
SuatainAbility Compass, disponível em www.sustainability.com (última consulta a 15 de Setembro de
2005).
Associação Comercial e Industrial de Sofala 146
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que na África do Sul o custo de prevenção de fraudes nas empresas é equivalente a 6%
das receitas totais.17

Uma auditoria de corrupção pode envolver uma examinação detalhada de áreas chave
de um sistema empresarial, tais como finanças e procurement – áreas identificadas como
sendo as mais prováveis de estar expostas à fraude, corrupção e ilegalidade. A auditoria
pode envolver o “teste” dos sistemas através de visitas secretas, de ofertas monitorizadas
de subornos a trabalhadores suspeitos de práticas corruptas, ou tentativas de “hacking”
nos sistemas informáticos.

As auditorias de corrupção são cada vez mais comuns no sector financeiro e em


empresas com suspeitas de sabotagem industrial e fraude. O resultado destas auditorias
pode servir como uma análise de risco da situação actual da empresa assim como
recomendações com base nas quais a empresa pode melhor os seus sistemas de modo a
assegurar a sua não sujeição a fraudes, sabotagens ou corrupção.

7.4 CÓDIGOS DE PRINCÍPIOS EMPRESARIAIS

Os códigos de princípios, de condutas, de políticas, de ética, e de protecção de


denunciantes constituem formas com base nas quais as empresas procuram proteger-se
contra a corrupção, demonstrar que não são corruptas e encorajar os trabalhadores a
evitar a corrupção.

O policiamento destes códigos é geralmente feito de uma forma informal. No entanto,


no caso de alguns códigos e sistemas pode requer-se que as empresas comprovem a sua
transparência antes de assinar os códigos. Os códigos são também usados pelas
empresas para requerer que os seus fornecedores operem eticamente, por exemplo que

17
Copper Forensic Investigations, disponível em www.forensicinvestigation.co.za (última consulta a 15 de
Setembro de 2005).

Associação Comercial e Industrial de Sofala 147


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não pagam comissões aos trabalhadores da empresa para assegurar contratos. Enquanto
que um código pode ser difícil de controlar, os contratos entre empresas requerendo
que cada uma se conforme com o código podem ser uma forma de controlo. Se uma
das partes do contrato violar o código, estará também em violação do contrato. A
comprovação de violação por parte de uma empresa pode requerer um quadro legal
que permita a aplicação de penalidades. Em Moçambique a complexidade do sistema
constituição de empresas não facilita a due diligence.

Outra forma que as empresas descobriram para o combate contra a corrupção são
através dos códigos de ética dos trabalhadores e a protecção de denunciantes. Como
num contrato entre empresas, os trabalhadores em violação do código de ética o que
constitui parte integrante do contrato de trabalho encontra-se também, na maioria das
jurisdições, em violação do contrato, permitindo a aplicação de processos disciplinares.
Se devidamente estruturados e geridos, os códigos de ética dos trabalhadores podem
criar graus de sanções para o comportamento não ético e podem ser utilizados con
confiança como base para a disciplina laboral.

A conformidade das empresas com iniciativas anti-corrupção pode também ser


promovida por esquemas de protecção dos denunciantes. Para as multinacionais estes
esquemas podem mais facilmente ser implementados, por exemplo, os trabalhadores
podem reportar os actos corruptos através de uma linha de contacto (hotline) noutro
país. As empresas pequenas podem responder a esta questão através do agrupamento ou
associações que podem actua como o destinatário de informação sobre práticas
corruptas e oferece protecção aos denunciantes.

A conformidade com o código deverá também trazer alguns benefícios para a empresa.
O código deve ser usado como prova de transparência o que ajudará a empresa a
assegurar a sua reputação e posição no mercado ou assegurar novos clientes. Os códigos
são instrumentos úteis quando respeitados.

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7.5 ILHAS DE INTEGRIDADE

As ilhas de integridade são uma das várias formas pelas quais grupos de empresas
trabalham juntas para demonstra a sua transparência. Por exemplo, os membros de
uma associação podem assinar e manter um código de princípios comun ou os
participantes em concursos podem assinar pactos de integridade.

Em países onde o sistema de procurement está particularmente sujeito à corrupção, as


empresas que desejem operar num campo de acção nivelado podem instituir um
sistema de pactos de integridade. Isto significa que todos os concorrentes de um
concurso assinam um acordo para assegurar a transparência e a divulgação do concurso.
As partes acordam sobre uma terceira parte independente – o representante local da TI
ou uma associação empresarial – e entregam uma caução a esta terceira parte
independente. A terceira parte independente monitoriza o processo inteiro. Após a
conclusão do processo e a declaração do mesmo como transparente, a terceira parte
devolve a caução a cada uma das empresas.

Os pactos de integridade nos processos de procurement podem resultar na economia de


custos significativos para empresas que não tem mais que pagar subornos elevados.
Com o decorrer do tempo, os custos de procurement para o Governo diminuem
também, e a sociedade consequentemente beneficia disto.

As ilhas de integridade permitem que grupos de empresas se destaquem como


transparentes e não corruptíveis. No entanto, a via das ilhas de integridade também
tem custos incluindo, por exemplo, as auditorias e certificações. Se se requerer que as
empresas sejam certificadas de modo a aderir às ilhas, é provável que as mesmas
esperem que as ilhas lhes ofereçam alguns benefícios. Isto pode ser feito na forma de
acordos de marketing ou de compra preferencial para os membros da ilha. A

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certificação de grupos de empresas é também o tipo de bem público que pode
beneficiar do financiamento de doadores interessados na via.

7.6 SUMÁRIO

Os exemplos acima descrevem um conjunto de formas através das quais o sector


privado, e a sociedade civil no geral, podem combater a corrupção. Os instrumentos
encaixam-se em algumas categorias. Estas incluem:

o Informação – meios de comunicação, teatro, campanhas nacionais,


observatórios, guiões informativos;
o Formação – workshops, programas de ética, educação;
o Monitorização e educação – folhetos, páginas electrónicas, guiões de
procedimentos;
o Fortalecimento de confiança – auditorias e certificação; e
o Provisão de alternativas independentes – pactos de integridade, esquemas de
denúncia.

Ao longo dos próximos meses, através de discussões e mesas redondas a ACIS


explorará formas em como estes instrumentos podem ser adaptados e utilizados em
Moçambique, e qual poderá ser a reacção aos mesmos. Exploraremos também formas a
partir das quais os instrumentos específicos de Moçambique tais como a constituição de
observadores para processos legais, previsto na lei de combate à corrupção (veja Anexo
III (a) abaixo) podem ser desenvolvidos. Consideraremos como estes instrumentos
podem ser incorporados no combate contra à corrupção previsto pela estratégia anti-
corrupção do governo.

8. TABELAS COMPARATIVAS

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8.1 GERAL

Na presente secção, analisamos a lista das questões fundamentais necessárias a um


efectivo combate contra a corrupção, conforme destilado nos estudos descritos na
Secção 5. Comparamos estas questões às categorias de respostas que descobrimos nas
iniciativas internacionais na Secção 7. Incluímos uma lista de formas possíveis através
das quais as questões fundamentais podem ser discutidas.

Questão fundamental Possível resposta Tipos de Exemplos de tipos de respostas


(Secção 5) (Secção 7) corrupção
Aplicação da legislação Informação Público-privada Meios de comunicação, teatro,
existente campanhas nacionais,
observatórios, guiões
Monitorização & informativos
educação Folhetos, páginas electrónicas,
guiões de procedimentos
Dessiminação de informação Informação Público-privada Meios de comunicação, teatro,
clara Privada-privada campanhas nacionais,
observatórios, guiões
informativos

Simplificação de processos Informação Publico-privada Meios de comunicação, teatro,


administrativos18 campanhas nacionais,
observatórios, guiões
informativos

18
Enquanto que a simplificação pode requerer reformas legislativas, a consciencialização é um passo
importante para assegurar que as reformas são feitas com base em discussões e são entendidas e
compreendidas.
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Questão fundamental Possível resposta Tipos de Exemplos de tipos de respostas
(Secção 5) (Secção 7) corrupção
Profissionalização dos Informação Público-privada Meios de comunicação, teatro,
serviços públicos19 campanhas nacionais,
observatórios, guiões
informativos
Remoção das oportunidades Informação Público-privada Meios de comunicação, teatro,
para a tomada de decisões Privada-privada campanhas nacionais,
discricionárias20 observatórios, guiões
Monitorização & informativos
educação Folhetos, páginas electrónicas,
guiões de procedimentos
Reforma radical do sistema Alternativas Público-privada Pactos de integridade, guiões
judiciário independentes informativos,
Folhetos, páginas electrónicas,
guiões de procedimentos, maior
uso das formas Alternativas de
Resolução de Disputas
Provisão de alternativas Alternativas Público-privada Pactos de integridade, esquemas
independentes21 independentes Privada-privada de protecção de denunciantes
Maior utilização das formas
Alternativas de Resolução de
Disputas

19
A profissionalização requererá um comprometimento contínuo por parte do governo. No entanto a
advocacia pelo sector privado e sociedade civil pode resultar na realização de reformas conduzidas pela
demanda.
20
Enquanto que a remoção da discricionariedade pode requerer reformas legislativas, a
consciencialização é um passo importante para assegurar que as reformas são feitas com base em
discussões e são entendidas e compreendidas.
21
Parcerias público privadas e privatização de serviços públicos podem representar efectivas alternativas
independentes. O controle independente de processos chave tais como procurement e a aplicação da
legislação anti-corrupção são também essenciais. O sector privado está bem posicionado para criar e
participar em organismos de controlo independente.
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Questão fundamental Possível resposta Tipos de Exemplos de tipos de respostas
(Secção 5) (Secção 7) corrupção
Fortalecimento de Fortalecimento de Público-privada Auditorias e certificação
confiança22 confiança Privada-privada
Um compromisso mostrável Fortalecimento de Público-privada Auditorias e certificação
à legalidade23 confiança Privada-privada
Aplicação da lei e Informação Público-privada Meios de comunicação, teatro,
responsabilização24 Privada-privada campanhas nacionais,
observatórios, guiões
Monitorização & informativos
educação Folhetos, páginas electrónicas,
guiões de procedimentos
Trust building Auditorias e certificação
Protecção e apoio às vitimas Alternativas Público-privada Pactos de integridade, esquemas
independentes Privada-privada de protecção de denunciantes

8.2 ESPECIFICIDADES DO SECTOR PRIVADO

Na presente secção examinamos os tipos de corrupção identificados, na Secção 4, por


empresas em Moçambique, comparando com a definição do Banco Mundial
apresentada no Anexo I abaixo, incluindo a categoria de possíveis respostas conforme
identificadas na Secção 7. Esta tabela será usada como nas mesas redondas e as colunas
incluindo os detalhes das respostas e viabilidade serão adicionadas como resultados do
processo de discussão.

22
O sector privado deve criar confiança tanto entre os operadores do sector privado como entre o sector
privado e o governo e a sociedade civil.
23
É requerido de todas as partes, com claro comprometimento a partir do topo da hierarquia. O sector
privado está bem posicionado para usar os instrumentos disponíveis para implementar este compromisso
24
A responsabilização aplica-se a todos os envolvidos na corrupção. Requerer a capacidade de executar a
legislação existente de modo a assegurar que aqueles envolvidos são responsabilizados.
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Tipos de Definição do Possível Exemplos
corrupção Banco Mundial resposta
(Secção 4) (Anexo I) (Secção 7)
Comissões Sistemático, Informação Meios de comunicação, teatro,
suborno, roubo, campanhas nacionais, observatórios,
sector privado Formação guiões informativos
& educação Workshops, programas de ética,
Fortalecimento educação
de confiança
Alternativas Folhetos, páginas electrónicas, guiões
independentes de procedimentos
Auditoria e certificação
Pactos de integridade, esquemas de
protecção de denunciantes
Maior utilização de formas alternativas
de resolução de disputas
Subornos para Sistemático, Informação Meios de comunicação, teatro,
evitar multas subornos campanhas nacionais, observatórios,
Monitorização guiões informativos
& educação Folhetos, páginas electrónicas, guiões
Fortalecimento de procedimentos
de confiança Auditoria e certificação
Facilitação de Sistemático, Informação Meios de comunicação, teatro,
pagamentos subornos campanhas nacionais, observatórios,
Monitorização guiões informativos
& educação Folhetos, páginas electrónicas, guiões
de procedimentos

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Tipos de Definição do Possível Exemplos
corrupção Banco Mundial resposta
(Secção 4) (Anexo I) (Secção 7)
Evasão fiscal Sistemático, Informação Meios de comunicação, teatro,
subornos, roubo campanhas nacionais, observatórios,
Monitorização guiões informativos
& educação Folhetos, páginas electrónicas, guiões
Fortalecimento de procedimentos
de confiança Auditoria e certificação
Comércio ilegal Sistemático, Informação Meios de comunicação, teatro,
subornos, sector campanhas nacionais, observatórios,
privado Monitorização guiões informativos
& educação Folhetos, páginas electrónicas, guiões
Formação de procedimentos
Fortalecimento Workshops, programas de ética,
de confiança educação
Auditoria e certificação
Fraude25 Sistemático, roubo, Informação Meios de comunicação, teatro,
sector privado campanhas nacionais, observatórios,
Formação guiões informativos
Fortalecimento Workshops, programas de ética,
de confiança educação
Auditoria e certificação

9 CONCLUSÕES & RECOMENDAÇÕES

A corrupção afecta a vida de todos em Moçambique. Pesquisas têm identificado o


sector privado como um participante principal na corrupção. O sector privado é

25
Esta questão geralmente não envolve o sector privado
Associação Comercial e Industrial de Sofala 155
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também visto como o motor do crescimento da economia nacional. Claramente, o
sector privado tem uma função importante a exercer no combate contra a corrupção.

Identificamos a corrupção no seio do sector privado como um dos seus maiores


problemas. O sector privado não precisa apenas de combater a corrupção na sua
relação com o sector público, como precisa também de combater a corrupção nas
relações entre o próprio sector privado.

A mudança requer o comprometimento da liderança. É por isso fundamental que os


dirigentes das empresas liderem o combate da participação do sector privado na
corrupção e ofereçam aconselhamento moral tanto pessoal como profissional aos seus
parceiros e subordinados.

A corrupção é um processo que envolve indivíduos. Uma das premissas do presente


relatório, esboçada na Secção 2.1 acima, é que as pessoas não querem tomar parte em
comportamentos corruptos. Assim sendo, os trabalhadores das empresas, desde as
posições superiores às inferiores, devem ser encorajados a responsabilizar-se
pessoalmente pelo afastamento de actos corruptos. Isto inclui afastar-se dos subornos,
da fraude e da aquisição de produtos vendidos sem cobrança de impostos. A decisão de
afastamento de actos corruptos depende do processo de educação, informação e
liderança.

Nós identificamos uma série de instrumentos que o sector privado pode utilizar no
combate à corrupção. O projecto do qual este relatório é parte procederá com a análise
destes instrumentos e de outros propostos pelos leitores do relatório. O projecto
avaliará a sua aplicabilidade e viabilidade como instrumentos para o sector privado em
Moçambique. A ACIS encoraja as empresas que desejam experimentar alguns dos
instrumentos discutidos acima a contactar-nos para informação adicional e apoio.

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Nós examinamos uma série de iniciativas internacionais e regionais para encorajar os
países e as empresas a combater a corrupção. É muito importante que o sector privado
tome a iniciativa de combater a corrupção. É igualmente importante que Moçambique
ratifique as convenções que assinou e trabalhe na implementação dos seus termos. Isto
criará uma forte estrutura para assegurar a efectividade das actividades anti-corrupção
do sector privado. É também importante que os países signatários das convenções e
protocolos da OECD, UA e SADC discutam as implicações de questões tais como
suborno de funcionários estrangeiros com os seus cidadãos residentes em Moçambique.

O combate da corrupção em Moçambique pode ser facilitado por um conjunto de


outras acções tais como a implementação de legislação de protecção da liberdade de
informação, desenvolvimento de fiscalização independente para os organismos
judiciários e de anti-corrupção, e o desenvolvimento de um mecanismo de diálogo
participativo através do qual o governo possa discutir propostas de legislação e outra
informação com representantes do sector privado e da sociedade civil numa base
sistemática.

Paralelamente ao desenvolvimento de instrumentos anti-corrupção, recomendamos que


o sector privado mantenha a defesa do seguinte:
o Aplicação da legislação existente;
o Promulgação de nova legislação tal como a lei de liberdade de informação;
o Ratificação e implementação de convenções e protocolos anti-corrupção nas
Moçambique é parte; e
o Desenvolvimento de um fórum participativo e representativo para a discussão
de reforma de políticas e legislação assim como o desenvolvimento económico
do país.

O combate contra a corrupção requer o empreendimento dos nossos melhores esforços


de modo a assegurar que andamos juntos em paz e prosperidade. O presente relatório é

Associação Comercial e Industrial de Sofala 157


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desenhado como uma base de discussão e apresentado de boa fé. Acreditamos que o
tenha achado útil e provocativo. Todos os comentários e sugestões são bem vindos.
Serão adicionadas melhorias ao relatório a medida que avançamos com o processo de
discussão. O relatório final integrará os instrumentos propostos assim como o sumário
dos comentários e reacções obtidas.

10 ANEXOS
ANEXO I
Definição de Corrupção do Banco Mundial

A definição de corrupção do Banco Mundial retirada de “Apoiando os Países no


Combate contra a Corrupção – O Papel do Banco Mundial, Redução da Pobreza e
gestão Económica” publicado pelo Banco Mundial em 1997.

“O termo corrupção abrange uma variedade de acções humanas. A compreensão do seu


efeito sobre um sistema económico ou político, fica mais fácil se identificarmos tipos
específicos de actividades ou transacções que se identifiquem com o termo. Na
consideração da sua estratégia o Banco procurou uma definição utilizável e desenvolveu
uma classificação de diferentes formas de corrupção em conformidade com aquela
definição.

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Nós acordamos numa definição clara — o abuso dos funcionários públicos para
proveito próprio. A função pública é corrupta quando um funcionário público aceita,
solicita ou extorque um suborno. É também corrupta quando os agentes privados
oferecem subornos para passar por cima de políticas e processos públicos de modo a
tirar vantagens e ganhos competitivos.

A função pública pode também ser abusada para benefícios pessoais mesmo quando
não esteja em causa o pagamento de subornos, através do patronato e nepotismo, do
roubo de bens públicos, ou do desvio de fundos públicos.

O pagamento de subornos ocorre no sector privado, mas a oferta ou extorsão de


subornos no sector público deverá ser uma das principais preocupações do Banco
Mundial, pois o Banco financia e apoia políticas, programas e projectos
governamentais.

Suborno. Os subornos constituem um dos principais instrumentos de corrupção.


Podem ser usados por privados para “comprar” muitas coisas oferecidas pelos governos
central ou local.
• Contratos governamentais. O pagamento de subornos podem influenciar a decisão
do governo sobre a escolha das empresas de fornecimento de bens, serviços, e obras,
assim como os termos dos seus contratos. As empresas podem subornar para ganhar
um contrato ou assegurar que as violações dos termos contratuais são toleradas.
• Benefícios governamentais. O pagamento de subornos pode influenciar a atribuição
de benefícios governamentais, monetários (tais como subsídios a empreendimentos ou
pessoas singulares ou acesso a pensões ou a subsídios de desemprego) ou em espécie (tais
como acesso a certas escolas, assistência médica, ou partes em empresas no processo de
privatização).
• Impostos inferiores. O pagamento de subornos pode ser usado para reduzir o
montante de impostos ou outras taxas cobradas pelo governo ao sector privado. O

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pagamento deste tipo de subornos pode ser proposto pelo cobrador fiscal ou pelos
contribuintes. Em alguns países o custo dos impostos é negociável.
• Licenças. O pagamento de subornos pode ser solicitado ou oferecido pela emissão de
licenças que transfiram direitos exclusivos, tais como concessões de direitos sobre a
terra ou de exploração de recursos naturais. Por vezes, políticos e burocratas
deliberadamente aprovam políticas que definem direitos cuja alienação bonifica os
políticos e burocratas.
• Tempo. O pagamento de subornos pode ser usado para acelerar a atribuição de
permissões do governo para o desenvolvimento de actividades legais, tais como o
registo de empresas ou autorizações de construção. Os subornos podem também ser
extorquidos pela ameaça de inacção ou atraso.
• Resultados legais. O pagamento de subornos pode alterar o resultado de processos
conforme aplicado pelo sector privado, induzindo o governo a ignorar actividades
ilegais (tráfico de drogas ou poluição) a favorecer uma parte ao invés de outra em
processos judiciais ou noutros procedimentos legais.

Os benefícios governamentais adquiridos com o pagamento de subornos variam em


tipo e tamanho. Os contratos e outros benefícios podem ser grandes (corrupção
grande) ou muito pequenos (corrupção pequena), e o impacto da interpretação errada
das leis pode ser dramático ou insignificante. A corrupção grande está geralmente
associada a transacções empresariais e geralmente envolve políticos assim como
burocratas. A transacção corrupta pode ter lugar totalmente fora do país.

Corrupção pequena pode infiltrar-se no sector público se empresas e indivíduos a


praticam regularmente quando procurar obter licenças ou serviços do governo. Os
subornos podem ser retidos por indivíduos receptores ou combinados com base num
esquema elaborado de comparticipação. As somas envolvidas na corrupção grande
podem ser notícia de primeira página no mundo todo, mas os custos agregados da

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corrupção pequena, em termos de deturpações económicas ou monetárias, podem ser
tão elevadas, ou mais elevadas que a corrupção grande.

Roubo. O desvio de fundos públicos por funcionários encarregues pela sua


administração é também considerado corrupção. Por um lado temos a privatização
“espontânea” em grande escala de bens públicos por gerentes de empresas ou outros
oficiais em economias de transição. Do outro lado da moeda temos o roubo de
pequenos bens tais como material e artigos de escritório, veículos, e combustível. Os
infractores do pequeno roubo são normalmente funcionários de médio e pequenos
cargos, compensando em alguns casos o facto de receberem salários inadequados. Os
sistemas de controlo de bens são francos ou inexistentes, como é também a capacidade
institucional de identificar e punir os malfeitores.

O desvio/roubo dos recursos financeiros do governo é outra forma de corrupção. Os


funcionários podem apoderar-se das receitas fiscais (geralmente em conluio com o
contribuinte, combinando o desvio com o pagamento de subornos), roubar dinheiro da
tesouraria, atribuir adiantamentos a si próprios que nunca são reembolsados, ou
deduzir pagamentos para trabalhadores fictícios, um padrão bem documentado nos
relatórios das auditorias. Nestes casos os sistemas de controlo financeiro não
funcionam ou são negligenciados pelos gestores.

Corrupção política e burocrática. A corrupção no seio do governo pode realizar-se


tanto a nível político como a nível burocrático. O primeiro pode ser independente do
segundo, ou pode haver conluio. Por um lado, o controlo da corrupção política
envolve legislação eleitoral, regulamentos das finanças das campanhas, e regras de
conflitos de interesses para os parlamentares/deputados. Este tipo de leis e
regulamentos recaem ultrapassam o mandato e o conhecimento do Banco mas no
entanto fazem parte do que é necessário para que um país controle a corrupção.

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Por outro lado a corrupção pode ser intrínseca à forma como o poder é exercido e
pode ser impossível combate-la somente através da criação de legislação. Em casos
extremos instituições do estado podem ser infiltradas por elementos criminais e ser
transformadas em instrumentos de enriquecimento individual.

Corrupção isolada e sistemática. A corrupção numa sociedade pode ser rara ou


comum. Se for rara, consistindo em poucos actos individuais, é directamente (embora
difícil) detectado e punido. Nestes casos a regra é o comportamento não corrupto, e
instituições nos sectores público e privado apoiam a integridade na vida pública. Tais
instituições, formais e informais, são suficientemente fortes para retornar o sistema a
um equilíbrio não corrupto.

Contrariamente, a corrupção é sistemática (pervasive or entrenched) onde o pagamento


de subornos, em grande ou pequena escala, é rotineira em negócios entre o sector
público e empresas ou indivíduos. Onde a corrupção sistemática existe, verifica-se a
disputa entre as regras formais e informais; o pagamento de subornos pode ser ilegal
mas é aceite por todos como comum nas transacções com o governo.

Prevalece outro tipo de equilíbrio, uma armadilha sistemática que incentiva fortemente
as empresas, indivíduos, e funcionários a conformarem-se com a corrupção e a não
combaterem o sistema. E podem haver graus diferentes de coordenação entre aqueles
que aceitam subornos, variando entre extorsão incontrolada por vários funcionários e
sistemas de colecta e distribuição de subornos muito bem organizados.

Não obstante leis anti-suborno, em muitos países o suborno caracteriza as regras de


jogo nas interacções privado-públicas. A corrupção sistemática pode ocorrer
uniformemente entre o sector público, ou pode estar confinada a determinadas
agências—tais como as alfândegas ou as autoridades fiscais, obras públicas ou outros
ministérios, ou níveis particulares do governo.

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Corrupção no sector privado. A Fraude e suborno podem e de facto ocorrem no
sector privado, geralmente com resultados custosos. Sistemas financeiros não regulados
penetrados pela fraude podem debilitar economias e impedir o investimento
estrangeiro. Os mesmos podem tornar um país vulnerável a crises financeiras e
instabilidade macroeconómica. bancos ou poupanças e instituições de crédito podem
ser apoderadas por criminosos com objectivos de fraude por atacado. O apoio popular
da privatização ou a profundidade dos mercados financeiros podem ser desgastadas se
fraca regulamentação conduzir ao desvio por parte de pequenos sócios ou
economizadores quando confrontados por transacções internas e pelo enriquecimento
de gestores. E a forte concentração corporativa sobre o lucro pode não impedir a
solicitação de subornos a fornecedores por parte de trabalhadores individuais. Para
além de que, quando a corrupção é sistemática no sector público, as empresas que
trabalham com o governo podem raramente fugir da participação nos subornos.

Sem descartar a ocorrência da fraude e da corrupção no sector privado e a importância


de a controlar, a corrupção no sector público é indiscutivelmente o problema mais
sério nos países em desenvolvimento, e o seu controlo pode ser um pré-requisito para o
controlo da corrupção no sector privado.
Mesmo assim, as actividades dos bancos podem também promover o controlo do
pagamento de subornos e da fraude no sector privado ajudando os países a fortalecerem
o seu quadro legal para apoiar uma economia de Mercado e encorajando o crescimento
de organismos profissionais que estabelecem padrões em áreas como contabilidade e
auditoria. A longo prazo, o controlo da corrupção no sector privado poderá requerer o
melhoramento da cultura e ética empresarial.”
ANEXO II
Guião para as entrevistas

1. O que entende por corrupção? (entende como um acto de corrupção o pagamento


de comissões?)

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2. A corrupção afecta directamente a sua vida e trabalho?

3. Como? Ofereça respostas concretas.

4. O que pensa da ideia de que a corrupção no sector privado é tão problemática


como a corrupção entre os sectores privado e público? Qual destes tipos o afecta
mais?

5. Quais as medidas por si usadas para proteger a si e a sua empresa?

6. Em quanto estima que a corrupção lhe custa? E quanto aos custos indirectos tais
como a reputação da sua empresa?

7. Detecta diferenças regionais dentro de Moçambique? (e fora se tem experiência)

8. Considerando a legislação existente no seu sector ou nos sectores por si conhecidos,


qual delas se destaca por ser vaga, complexa, ou discricionária em termos de poderes
outorgados aos funcionários encarregados com a sua aplicação? Qual o sector que
na sua opinião se destaca como sendo “o mais corrupto”?

9. Quais, com base na sua experiência, as áreas cinzentas sobre a interpretação e


compreensão das leis e regulamentos resultam em corrupção?

10. Tem conhecimento sobre ou a sua empresa já participou em práticas locais,


regionais e internacionais de combate à corrupção, especialmente aquelas lideradas
pelo sector privado? Quais?

11. Qual a sua impressão sobre estas iniciativas?

12. Se o sector privado introduzir ou propuser instrumentos (códigos de princípios


empresariais, formas de certificação, campanhas publicitárias, auditorias etc.) estaria
interessado em participar?

13. Quais os assuntos principais que consideraria caso pensasse em participar? (custos,
benefícios, impacto na sua empresa, necessidade de demonstrar transparência etc.)

14. Quais as questões principais que o impedem de evitar a corrupção no seio da sua
empresa ou entre a sua empresa e terceiros, ou o Estado?

15. O que acha que deveria ser considerado na análise do “combate contra a
participação do sector privado na corrupção em Moçambique”?

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16. Caso a sua empresa pare com a prática de todas as formas de corrupção (pagamento
de comissões, fuga ao fisco etc.) como espera ser compensado para mitigar a perda
de negócio?

ANEXO III
Revisão de legislação existente

No apresente anexo apresentamos uma revisão das áreas chave da legislação relevantes
para o relatório, as quais fundamentam as nossas recomendações. Certos aspectos da
legislação como por exemplo discricionariedade na tomada de decisões, falta de
transparência e aplicação não uniformizada podem permitir a infiltração da corrupção
em qualquer sistema. Estas questões com as quais o sector privado se depara
quotidianamente, mas é importante considerar que a criação de nova legislação nem
sempre é a solução. Moçambique tem um quadro legal vasto. A aplicação uniforme da
legislação existente seria um grande passo na resolução de problemas tais como o
comércio ilegal. Uma das recomendações do presente relatório é a disseminação e
aplicação uniforme da legislação existente.

Somos gratos à SAL, Observatório de Administração Pública (Public Administration


Observatory) pelo seu apoio e assistência no desenvolvimento dos sumários legais
abaixo apresentados.

a) LEGISLAÇÃO ANTI-CORRUPÇÃO

Resumo Básico
A principal legislação anti-corrupção é a Lei n° 6/2004 de 17 Junho (a “Lei 6/2004”), a
qual introduz mecanismos complementares de combate à corrupção, e o Decreto n°
22/2005 de 22 Junho (o “Decreto 22/2005”), o regulamento da Lei 6/2004, somente
publicado este ano.

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Outras leis, embora não tem como objective especifico o combate à corrupção,
estabelecem também formas de regular a conduta dos funcionários públicos. O Decreto
n° 30/2001 de 15 de Outubro (o “Decreto 30/2001”) o qual aprova as normas de
funcionamento dos serviços de administração pública, requer que todas as actividades
da administração pública sejam transparentes a garante ao público o direito de sugestão
e de reclamação. A Lei n° 7/98 de 15 de Junho (a “Lei 7/98”) estabelece as normas de
conduta aplicáveis aos titulares dos cargos governativos e estabelece os seus deveres e
direitos. Estabelece também sanções para os crimes de corrupção conforme indicado
nos artigos 318, 321 e 322 do Código Penal. A Lei n° 4/90 de 26 de Setembro (a “Lei
4/90”) estabelece as normas de conduta, deveres e direitos dos dirigentes superiores do
Estado.

Problemas Principais e Recomendações

Responsabilidades
A Lei 6/2004 estabelece que em caso de lesão dos interesses privado ou público como
resultado da acção ou omissão de funcionários do Estado, há lugar a indemnização
pelos danos causados.26 No entanto a lei não é clara relativamente à pessoa – o Estado,
o funcionário público ou outra pessoa – que tem a obrigação de indemnizar a vitima, e
como o processo de indemnização deve ser conduzido. A lei também prevê a devolução
a favor do Estado dos bens ou dinheiro ilicitamente adquirido por funcionários
públicos, mas não clarifica como os montantes serão calculados, incluindo a clarificação
se serão devolvidos na sua totalidade para o Orçamento do Estado ou se parte será

26
Lei 6/2004, Artigo 3, número 2.
Associação Comercial e Industrial de Sofala 166
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atribuída à pessoa que forneceu a informação que resultou na condenação do
funcionário envolvido.27

Os funcionários são responsáveis tanto pelas acções como pelas omissões.28 A inclusão
desta disposição é positiva, pois a omissão deliberada dos funcionários públicos das suas
obrigações – tal como a emissão atempada de uma licença ou a emissão de um recibo –
é uma forma comum para a extorsão de subornos do público.

Declaração de bens
Os funcionários públicos com funções com competências decisórias no Estado, na
administração autárquica e em empresas e instituições públicas, assim como os
representantes do Estado em empresas privadas participadas pelo Estado, têm a
obrigação de apresentar uma declaração dos bens e valores como condição da posse e
exercício das suas funções.29 Esta declaração é depositada no arquivo próprio do
serviço.30 Esta declaração deve ser actualizada anualmente e no momento em que o
servidor deixa o exercício da sua função.31 A declaração deve também ser requisitada a
qualquer momento em procedimentos disciplinares ou criminais.32

Embora a obrigação de depositar a declaração de bens é potencialmente útil na


detecção de corrupção, não constitui nada de novo. De facto, a apresentação da
declaração dos bens dos dirigentes superiores do Estado (definida de várias formas nos
diferentes diplomas legais) antes do início do exercício das suas funções estava já
prevista na Lei 4/90 e na Lei 7/98. Os requisitos previstos nestes diplomas eram mais
específicos e exigentes do que a referência geral aos bens prevista na presente lei,

27
Ibid., número 3.
28
Ibid.
29
Ibid., Artigo 4, número 1.
30
Ibid.
31
Ibid., número 3.
32
Ibid., número 4.
Associação Comercial e Industrial de Sofala 167
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indicando categorias claramente definidas de bens. Para além de que, diferentemente
dos requisitos da Lei 6/2004, os requisitos de divulgação estabelecidos pela Lei 4/90 e
Lei 7/98 requeriam que os dirigentes superiores do Estado declarassem também uma
descrição do seu passivo em relação ao Estado, a instituições de crédito, e a outras
empresas, no país ou no estrangeiro.33 A Lei 7/98 faz referência a uma formulário
específico, supostamente anexado à própria lei, mas o qual nunca vimos.34 O Decreto
22/2005 apresenta em anexo tal formulário mas o mesmo não é detalhado quanto aos
seus requisitos.35

É importante mencionar também que as leis anteriores – as quais se mantêm em


vigor em alguns aspectos, mas foram substituídas em outros – se aplicam não apenas
aos próprios dirigentes superiores do Estado mas também aos membros das suas
famílias incluindo cônjuge ou parceiros unidos por uniões de factos legalmente
reconhecidas, assim como os filhos menores ou incapazes e outros dependentes.36
Contrariamente, a Lei 6/2004 estabelece apenas que a obrigação de apresentar a
declaração de bens pode estender-se a outras pessoas por imposição de outras leis e
regulamentos específicos.37 E conforme a Lei 6/2004 revoga – não especificamente –
disposições legais, fá-lo de maneira a que cause dúvida sobre se a aplicação da obrigação
de declaração de bens conforme previsto pelos outros dois diplomas legais citados se
mantém em vigor ou não.

Em pelo menos um ponto, sobre a declaração de bens, a Lei 6/2004 é consistente


com a Lei 4/90 e com a Lei 7/98: as descrições ao abrigo da declaração de bens não são
de conhecimento público. Embora o Decreto 22/2005 especifique que o superior

33
Lei 4/90, Artigo 3, número 1, alínea b), e Lei 7/98, Artigo 3, número 1, alínea b).
34
Lei 7/98, Artigo 3, número 5.
35
Decreto 22/2005, Artigo 2, número 3.
36
Lei 4/90, Artigo 3, número 2 e Lei 7/98, Artigo 3, número 2.
37
Lei 6/2004, Artigo 4, número 2.
Associação Comercial e Industrial de Sofala 168
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hierárquico do serviço público, o Presidente da Autarquia, Presidente do Conselho de
Administração ou de entidade equiparada das empresas e instituições públicas são
responsáveis pela guarda e sigilo das declarações, e declaração continua a não ser de
conhecimento público.38 Enquanto a declaração não for de acesso ao público será um
instrumento de uso limitado para monitorar a acumulação de riqueza – e a sua
potencial ligação a corrupção – dirigentes superiores do Estado.

Afirmamos, no entanto, que o facto de as declarações de bens não serem públicas


não significa que a exigência das mesmas não seja de alguma forma útil. Conforme
observado acima, as mesmas podem ser requisitadas (embora não seja claro por quem)
em processos disciplinares ou criminais.39 O requisito pode também ser usado de outras
formas, não previstas na lei, que dependem do direito das obrigações. Por exemplo, os
doadores com acordos bilaterais com o Governo poderiam inserir nos seus acordos
uma disposição de acordo com a qual os ministérios aos quais oferecem fundos devem
certificar que todos os dirigentes superiores conforme requeridos pela lei moçambicana
tenham depositado declarações de bens naquele ministério, com o requisito adicional
de que todas as actualizações anuais sejam atempadamente depositadas. O
incumprimento desta cláusula contratual fundamentaria a obrigação do Governo de
reembolsar os fundos desembolsados.

Politicamente seria difícil para o Governo resistir à inserção de tal cláusula


contratual. Isto a cláusula apenas requer que o Governo certifique que está, de facto,
em conformidade com as suas próprias leis. Também previne o Governo de que o
doador conhece as leis de Moçambique e as leva a sério o suficiente para responsabilizar
o Governo ao seu abrigo.

38
Decreto 22/2005, Artigo 3.
39
Lei 6/2004, Artigo 4, número 4.
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Finalmente, o requisito contratual de apresentação de declaração de bens pode
também ser útil porque num futuro próximo a aprovação de uma lei de liberdade de
informação pode causar a disponibilidade de acesso da informação pelo público. Se e
quando tal acontecer, será vantajoso ter disponível o registo.

Fundamentação dos actos administrativos


A Lei 6/2004 requer que os actos administrativos que afectem os direitos e
interesses das pessoas sejam fundamentados, e que a fundamentação seja clara e
reduzida a escrito.40

Enquanto que o Decreto 30/2001, que estabelece as Normas de Funcionamento dos


Serviços da Administração Pública, regula o processo de condução dos recursos
administrativos,41 a Lei 6/2004 assegura a criação de um registo com base no qual o
cidadão pode exercer o seu direito de reclamação dos actos administrativos e recorrer a
litigações administrativas subsequentes. Estabelece que o cidadão pode legalmente
requerer que as respostas orais sejam reduzidas a escrito. E claramente, contrariamente
ao Decreto 30/2001, a Lei 6/2004 inclui disposições criminais com sanções aplicáveis à
sua violação.

No entanto, a Lei 6/2004 não clarifica qual a garantia do cidadão se a resposta oral
não for reduzida a escrito dentro do prazo estipulado. Talvez a nulidade da decisão, ou
o direito de recursos directo para o tribunal administrativo ao abrigo de um

40
Ibid, Artigo 5.
41
Decreto 30/2001, Artigo 15.
Associação Comercial e Industrial de Sofala 170
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procedimento simplificado, seria útil. Esta é uma questão técnica que requer um estudo
adicional.

Actos de Corrupção
A Lei 6/2004 distingue entre tipos diferentes de corrupção puníveis por lei tais como
corrupção passiva por acto ilícito, corrupção passiva por acto lícito, corrupção activa e
participação económica em negócios.42 Para cada um destes casos a Lei 6/2004 não
clarifica que actos se qualificam como corrupção passiva ou activa. Quando enumera
algumas circunstâncias que se qualificam como actos corruptos, conforme prevê o
número 3 do Artigo 7, não especifica se a lista é exemplificativa ou exaustiva. O
resultado líquido é a dificuldade de processar alguém pelo cometimento de actos
corruptos. A falta de esclarecimento do que são actos de corrupção também dificulta o
uso da lei por parte do público. Uma lista exemplificativa poderia ajudar os cidadãos
sobre a classificação de actos corruptos e daqueles que podem ser criminalmente
processados. Tal lista poderia ser estabelecida através de um guião às leis anti-corrupção
em Moçambique.

Procedimentos Anti-Corrupção
O Artigo 12 da Lei 6/2004 resume o processo através do qual um cidadão requer a
instauração de um processo de investigação de actos de corrupção.

As disposições são úteis, mas é importante que sejam estabelecidos prazos e


clarificações tais como a respeito de quem as obrigações são devidas. Esperava-se que
isto seria feito através do Regulamento da Lei 6/2004 mas o Decreto 22/2005 não
contém esta informação. Nem a competente autoridade administrativa, a policia ou o
Ministério Público poderão evitar a instauração de um processo com base numa
reclamação indefinidamente.

42
Lei 6/2004, Artigos 7 a 10.
Associação Comercial e Industrial de Sofala 171
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Similarmente, deve ser clarificado que o queixoso tem direito a uma cópia do
requerimento, de modo a procurar a sua persecução perante outras autoridades. Por
exemplo, se a polícia recusar a instauração do processo, o requerimento, submetido
pelo queixoso, permitirá que o Ministério Público avalie o caso e decida, conforme a
sua opinião, se a investigação está ou não autorizada.

È neste contexto que o Decreto-Lei 5 007 de 13 de Outubro de 1945 (o “DL 35 007”)


em conexão com a Lei 6/2004 deve ser mencionado. O DL 35 007, o qual se mantém
em vigor em Moçambique independentemente da sua origem colonial, contém regras
de procedimento penal e, por ventura oferece alguma oportunidade para dinamizar a
Lei 6/2004, e a persecução criminal da corrupção no geral. A consideração do DL 35
007 não constitui o escopo do presente relatório, mas apresentamos abaixo algumas das
suas disposições mais importantes.

O primeiro elemento notável do DL 35 007 é a disposição que estabelece que


indivíduos para ale do Ministério Público podem instaurar um caso penal perante o
tribunal. Por outras palavras, o Ministério Público não detém o monopólio de
iniciativa de processos penais. Em circunstância limitadas as autoridades
administrativas (não definidas) podem iniciar um processo penal, e noutras
circunstâncias, agências estatais com poderes para monitorar certas actividades ou a
execução de regulamentos específicos podem também iniciar processos penais, com
respeito a tais actividades ou regulamentos.43

Isto pode ter importantes consequências: significa, estrategicamente, que os


interessados na aceleração da persecução de actos corruptos, não precisam de confiar na
instauração do processo pelo Ministério Público (mais concretamente, conforme
abaixo, no GCCC – Gabinete Central de Combate a Corrupção). Podem promover a

43
DL 35 007, Artigo 2, números 1 e 3.
Associação Comercial e Industrial de Sofala 172
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capacidade de persecução criminal de instituições como a Inspecção-geral das Finanças,
(“IGF”) ou outras instituições autorizadas pelo DL 35 007, pelo menos em certas
situações.

Relativamente a esta questão notamos que este poder pode ser interpretado, apenas
especulativamente, como sendo aplicável ao Provedor da Justiça, estabelecido pela
Constituição de 2004, pelos Artigos 256 a 261. Esta importante disposição
constitucional tem ainda que ser regulada. Imaginemos o efeito de um Provedor de
Justiça que tem poderes para instaurar uma acção criminal caso o Ministério Público
não tenha agido dentro de determinado prazo. Lembremo-nos que, contrariamente a
outros órgãos do Governo, o Provedor de Justiça não é escolhido pelo Poder
Executivo; o Provedor de Justiça é elegido por maioria de dois terços da Assembleia da
Republica, pelo tempo que a Assembleia determinar. 44

Este pequeno passo em direcção à descentralização da administração da justiça em


Moçambique é estendido pelas disposições do DL 35 007 que regulam o papel do
assistente numa acção criminal. Dependendo da natureza do crime em questão,
diferentes pessoas têm o direito de constituir-se como assistentes. No caso de corrupção
e crimes relacionados, qualquer pessoa pode constituir-se como assistente numa acção
criminal.45 Com esta disposição, o legislador removeu completamente o clássico
obstáculo relacionado com a persecução de corrupção, porque não tem necessariamente
de ser a vitima directa a prosseguir o caso.

Os assistentes agem como auxiliares do Ministério Público. O seu papel é substancial, e


não meramente simbólico. Os poderes do assistente incluem: a apresentar de uma
acusação distinta da preparada pelo Ministério Público; participar directamente na

44
Constituição de 2004, Artigo 257.
45
DL 35 007 de 13 de Outubro de 1945, Artigo 4, número 5.
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instrução contraditória, submetendo provas e requerendo a continua persecução pelo
juiz; e apelando uma decisão pelo juiz, mesmo que o Ministério Público não o faça.46

Finalmente, prospectivamente, a regulamentação da acção popular – estabelecida no


Artigo 81 da Constituição de 2004 prevê também a abertura para a instauração de
acções por cidadãos para a persecução de prejuízos, incluindo aqueles causados ao
“património do Estado e dos órgãos do Governo local.” Enquanto que a jurisdição para
o julgamento destes casos é provável que seja civil e não criminal, a capacidade de um
cidadão instaurar uma acção, por exemplo, pela violação das regras de procurement que
prejudiquem o Estado pode pressionar a instauração de uma acção criminal para o
julgamento dos mesmos actos.

Resumidamente, a legislação actualmente em vigor em Moçambique dispõem de meios


substanciais para que os interessados pressionem o GCCC, e o Governo no geral, para
agirem consoante as suas promessas relativamente a acções anti-corrupção. A obtenção
de benefícios como resultado da descentralização não depende do lento e incerto
processo de reforma legislativa. Com a existência de boas leis para a regulamentação do
gabinete constitucional do Provedor de Justiça e da acção popular, mais instrumentos
podem ser disponibilizados directamente aos cidadãos para o combate contra a
corrupção.

Protecção dos denunciantes


A Lei 6/2004 prevê a protecção dos denunciantes (i.e. pessoas que reportam actos
corruptos e assumem o risco da denuncia) estabelecendo que ninguém pode ser sujeito
a medidas disciplinares, prejudicado na sua carreira profissional ou perseguido em
virtude da queixa ou denúncia dos crimes previstos na Lei 6/2004.47 Todas as pessoas

46
Ibid., Artigo 4, número 2, cláusulas 1-3.
47
Lei 6/2004, Artigo 13, número 1.
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que violarem esta disposição serão punidos com pena de prisão até seis meses e um mês
de multa.48

Esta protecção legal constitui uma inovação da lei, no entanto, deveria especificar
também em que instituição o denunciante pode reportar uma reclamação se o mesmo
for perseguido, e que o denunciante tem direito a receber uma indemnização da pessoa
que o perseguir, para além da pena de prisão e multa. Seria também útil a inclusão de
multas aplicáveis às pessoas que intencionalmente revelarem a identidade dos
denunciantes.

Denúncia de má fé
A Lei 6/2004 prevê como crime, punido com pena de prisão até seis meses e multa, a
denúncia de corrupção contra um funcionário público quando o denunciante sabe que
tal indivíduo é inocente.49 Prevê ainda que o denunciante ou queixoso de má fé estão
sujeitos a indemnizar o denunciado por danos materiais e morais.50

Este Artigo é útil na medida em que encoraja o abuso da Lei 6/2004. Esperou-se que o
regulamento exigisse um nível de conhecimento necessário para se considerar um
denunciante de má fé: o denunciante deve saber e afirmar sem dúvida que as pessoas
que denunciou são inocentes. Uma exigência inferior pode intimidar os denunciantes
devido ao risco de responsabilidade. Infelizmente o Decreto 22/2005 é silencioso
quanto a esta questão.

Competências do Ministério Público


O Ministério Público tem poderes de prevenção e combate aos crimes previstos na
Lei 6/200451 através dos seguintes actos: recolha de informação para fundamentação da

48
Ibid., número 2.
49
Ibid., Artigo 14, número 1.
50
Ibid., número 2.
51
Não limita no entanto a iniciativa de persecução de actos criminosos ao abrigo da Lei 6/2004 do
Ministério Público. A definição desta iniciativa continua ao abrigo do DL 35 007.
Associação Comercial e Industrial de Sofala 175
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prática ou não de um acto corrupto; realização de vários tipos de investigação com
respeito a actos ou procedimentos administrativos no âmbito da relação entre a
Administração Pública e o sector privado; e proposta de medidas para a diminuição dos
crimes previstos pela Lei 6/2004.52

Este artigo conduz-nos de novo para um tema por nós acima mencionado. É
melhor que os órgãos do Governo compitam nas acções contra a corrupção – tanto na
prevenção como na persecução – do que ter um único órgão com o monopólio legal
sobre a actividade. Isto mostra-se especialmente verdade porque o Procurador-geral
serve a vontade do Presidente da República, e, como veremos de seguida, o director do
GCCC responde ao Procurador-geral. Por outras palavras, o GCCC não está
efectivamente isolado da pressão política do Poder Executivo. Eis então a necessidade
de desenvolvimento de recursos anti-corruptção, incluindo recursos legais, fora do
GCCC mesmo que ao GCCC sejam atribuídos mais recursos para a realização das suas
funções.

Gabinete Central de Combate à Corrupção


Conforme mencionado acima, o GCCC não é um órgão independente; é uma
unidade orgânica da Procuradoria-geral da República e subordina-se ao Ministério
Público.53 Relativamente a este assunto, podemos considerar uma comissão de
interessados que se reúne periodicamente para consultar o GCCC e analisar o resultado
dos seus trabalhos. A comissão de interessados deverá incluir pessoas externas ao
Governo, de forma a assegurar a participação da sociedade civil e dos doadores
estrangeiros nos trabalhos do GCCC. Tal comissão deverá ter alguns mecanismos
directos para periodicamente transmitir a urgência da missão àquela instituição. A
comissão de interessados faz parte de uma estratégia anti-corrupção maior que

52
Lei 6/2004, Artigos 16 e 17.
53
Ibid., Artigo 19.
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ultrapassa a aplicação da lei per se, e engaja a sociedade como um todo para o objectivo
principal. De facto, a criação de uma comissão de interessados seria consistente com as
medidas preventivas que Moçambique se comprometeu a prosseguir contra a
Corrupção ao abrigo dos termos do Protocolo da SADC.54

Obrigações das Auditorias


O Artigo 21 da Lei 6/2004 prevê que sempre que uma auditoria pública ou privada
constate alguns indícios de corrupção, deve comunica-los, por escrito, ao GCCC.55 No
entanto, a lei não clarifica sobre quem tem poderes para iniciar um processo contra as
auditoras que violem esta regra. Porque as grandes empresas de auditoria são os
auditores principais para algumas das auditorias legais requeridas pelo GCCC, qualquer
um pode presumir que as pessoas com poderes para monitorar os auditores são
também auditores. Uma forma de resolver este problema é assegurar que, (a) uma
pessoa, que não auditor, é sempre nomeada pelo GCCC para ser o monitor dos
auditores; e (b) que essa pessoa não tem conflitos de interesses com os auditores
privados e públicos do país.

O Artigo 21 pode ser útil para o combate à corrupção se os doadores transformarem as


obrigações de auditoria em contratuais. O contrato entre o doador e o auditor deveria
requer que o auditor explicitamente, (a) cumpra os requisitos do Artigo 21 e (b)
comunique ao doador sempre que tal comunicação tenha sido feita. A mesma cláusula
deverá enumerar – a título exemplificativo – algumas das práticas corruptas típicas que
possam ser encontradas (e.g. falta de recibos de despesas; falta de comprovação de que
bens adquiridos com fundos de projectos foram registados como propriedade do
ministério a quem os fundos foram doados, entre outras). Periodicamente o doador

54
Resolução nº 33/2004 de 9 de Julho, através da qual Moçambique ratificou o Protocolo.
55
Lei 6/2004, Artigo 21.
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pode contratar uma auditoria externa para rever o trabalho do auditor e, caso o auditor
externo descubra indícios de corrupção que não tenham sido mencionados no relatório
escrito e entregue ao GCCC, consequências advirão. Essas consequências podem
incluir a perda do direito de pagamento pelos doadores aos auditores, e instauração da
competente acção conforme o Artigo 21, número 4.

Conforme o descrito acima, observamos que o quadro legal anti-corrupção em


Moçambique oferece uma série de mecanismos para o sector privado lidar com a
corrupção. Alguns dos mecanismos propostos serão melhor explorados em discussões,
e onde possível desenvolvidos como instrumentos de apoio ao sector privado para o
combate contra a corrupção.

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ANEXO IV
MODELO DE FACTURA FISCAL
O esboço e a estrutura de uma factura dependem da preferência de cada empresa. O modelo abaixo
constitui um guião sobre que informação deve ser incluída em todas as facturas. Todas as facturas devem
ser imprimidas por uma papelaria aprovada pelo governo.

ABC56, Lda.57
Av. Nelson Mandela 172 Nome61___________________________________
Chimoio
Moçambique58 Endereço62__________________________
Tel: (258-51) 22 369
Fax: (258-51) 22 37059 NUIT63:____________________________
NUIT: 700006987160
Data: ______de________de 200___64 FACTURA Nº: 219465
Quant Descrição Preço Unitário Total
10 AAAAA 10.000 100.00066

Motivo justificativo de não aplicação do imposto67 Sub-Total


________________________________________________ IVA 17%
Total
Processado Por Computador68
Steamline69-Rua XX nº YY Beira70/400006521371 Aut No: 154/MPF/0272 50 Liv. 3x50 2000 a 450073
7.

56
Nome completo da empresa
57
Tipo de sociedade:- Lda, SARL
58
Endereço completo da empresa
59
Não constituindo um requisito legal todos os detalhes da empresa podem ser identificados e.g endereço
electrónico, página electrónica etc.
60
Número Único de Identificação Tributária (NUIT) deve ser identificado
61
Nome complete do cliente
62
Endereço completo do cliente
63
Número Único de Identificação Tributária (NUIT) do cliente
64
Data de emissão da factura
65
Todas as facturas devem ser enumeradas em sequência
66
Quantidade, descrição completa e preço individual liquido anterior ao IVA
67
Apenas incluído se a empresa vender bens ou serviços a empresas isentas de IVA
68
As facturas são geralmente manuscritas. Se forem emitidas electronicamente, este facto deve ser registado na
factura. O sistema usado para processar as facturas deve ser inspeccionado e aprovado pelo Ministério das Finanças.
69
Nome da papelaria, autorizada pelo governo, que imprimiu as facturas (apenas para as facturas manuscritas)
70
Endereço complete da papelaria (ou sede)
71
Número Único de Identificação Tributária (NUIT) da papelaria que imprimiu as facturas
72
Número de autorização do governo da papelaria que imprimiu as facturas
73
Número dos livros de factura imprimidos, o formato e o número de sequência das facturas. Este modelo ilustra 50
livros de facturas, 3 cópias de cada uma das facturas, 50 facturas por livro, facturas de número 2000 a 4500. Este
detalhe nem sempre é requerido Algumas Direcções Provinciais das Finanças requerem enquanto que outras não.
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7.COMMENT FORM

Favor de devolve este documento a ACIS. Toda informação é tratada como


confidencial.

Nome (opcional)

Contactos (opcional)

Como ouviu destas


ferramentas?
Penso que as ferramentas
são úteis?

Se sim, porque?

Se não, como se pode


melhorar?

Já tinha usado umas das


ferramentas? Quais?

Que tipos de corrupção se


afecta mais?

Que tipos de corrupção


mais afectam a vossa
organização?

Outros comentários?

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