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Osteoporose por desuso: Riscos para crianças e

jovens com paralisia cerebral


Disuse osteoporosis: risk for children and young people with
cerebral palsy

Gabriela Silva Pinto1, Silvana Maria Blascovi-Assis2

A osteoporose por desuso está relacionada com a diminuição da tensão mecânica sobre os ossos, o que
diminui a formação óssea e torna o osso mais frágil. A gravidade do acometimento neuromotor na
paralisia cerebral (PC) pode influenciar na densidade mineral óssea, embora essa relação seja ainda
pouco esclarecida e controvérsias sejam encontradas na literatura. O objetivo deste estudo foi realizar
R revisão sistemática sobre o tema e, em pesquisa de campo, verificar o tipo de informação e orientação
E os cuidadores receberam a respeito de osteoporose por desuso em pacientes com PC, e qual foi o
profissional envolvido nessa orientação. Foi realizada revisão de literatura em bases de dados indexa-
S das, nas quais foram levantados artigos posteriores a 2001, nas línguas portuguesa, inglesa e espanho-
la; foi aplicado um questionário estruturado aos cuidadores de 10 jovens com PC, entre 1 e 25 anos. O
U local da coleta foi uma clínica-escola de Fisioterapia da cidade de São Paulo. Foram selecionados 14
M artigos; a coleta de dados em campo mostrou que sete mães referiram não obter informações sobre o
tema. Concluiu-se que outros estudos devem ser realizados sobre o tema para informar profissionais e
O cuidadores sobre os riscos associados às alterações na densidade mineral.

Descritores: Osteoporose – Paralisia cerebral – Densidade óssea.

The disuse osteoporosis is related to the reduction of mechanical stress on the bones, reducing bone
formation, making fragile bones. The severity of the neuromotor involvement in cerebral palsy (CP)
A patients may influence mineral bone density, although this relationship is still not plain explained and
controversies are found in the literature. This is a systematic review about the theme, and observa-
B tions of the type of information and guidance provided to the caregiver about disuse osteoporosis in
S patients with CP and of which professional is involved in this orientation are presented. English,
Portuguese and Spanish publications indexed in databases after 2001 were reviewed. A structured
T questionnaire was administrated to caregivers of 10 CP patients, 1 to 25 years old. Data were collect-
ed at a Physical Therapy clinics-school in São Paulo. 14 papers of interest were selected. Answers to
R the questionnaire showed that seven mothers said they had information about the subject and only one
A made a test to investigate the mineral loss. Other studies should be conducted on the subject to inform
professionals and caregivers about the risks associated with changes in mineral density.
C
Keywords: Osteoporosis – Cerebral palsy – Bone density.
T

(1) Fisioterapeuta pela Univer-


sidade Presbiteriana Macken-
zie, SP.

(2) Fisioterapeuta, Doutora em


Educação Física, Docente da
Universidade Presbiteriana
Mackenzie, SP.

Programa Institucional de
Bolsas de Iniciação Científica,
Universidade Presbiteriana
Mackenzie / Mackpesquisa.

Correspondência
Pinto GS, Blascovi-Assis SM. Osteoporose por desuso: Riscos para crianças e jovens com parali-
Gabriela Silva Pinto sia cerebral. Arquivos Brasileiros de Paralisia Cerebral 2012; 6(14):5-11.
gabriela.s.pinto@gmail.com.
Original

A osteoporose por desuso é uma doença progressiva grave, de acordo com a possibilidade de locomoção da
que pode afetar a qualidade de vida, principalmente criança10.
quando ocorre na infância1. É uma doença metabólica Crianças com PC podem apresentar ritmo de desen-
caracterizada pela redução da massa óssea, o que au- volvimento mais lento, prejudicado em consequência da
menta a fragilidade do osso e o risco de fraturas2. lesão cerebral7. Esse desenvolvimento pode, ainda, ser
Algumas condições que comprometem a mobilidade influenciado por fatores de risco11. Um dos fatores que
ativa podem facilitar o aparecimento precoce da perda aumentam a probabilidade de crianças nascerem com
de massa óssea, entre elas as doenças neurológicas in- PC são as condições socioeconômicas12, como baixa
capacitantes como, por exemplo, a paralisia cerebral renda, baixa escolaridade dos pais, elevados níveis de
(PC). A criança com histórico de lesão encefálica tem estresse da família, baixos níveis de suporte social, entre
como característica o comprometimento motor, que outros13.
pode estar associado ou não a outras alterações no de- A força muscular no osso estimula a produção dos
senvolvimento. osteoblastos14. Portanto, as poucas oportunidades de
Fatores como idade, raça, uso de medicamentos, há- vivência em ortostatismo15, a imobilização de membros
bitos de atividade física, hábitos alimentares, doenças e a falta de gravidade16 podem levar a um quadro de
intercorrentes e influências hormonais podem alterar o osteopenia.
pico de massa óssea do indivíduo3. O remodelamento O estímulo mecânico dinâmico parece ser mais efi-
ósseo ocorre em diversos locais do esqueleto simultane- caz para adaptação do osso, pois as células ósseas se
amente, tendo uma fase inicial de reabsorção óssea acomodam sob cargas estáticas, tornando-se menos
realizada pelos osteoclastos e uma segunda fase na qual responsivas aos estímulos habituais de carga mecâni-
os osteoblastos realizam uma nova formação óssea; esse ca17. Isso ocorre porque a aplicação de força muscular
processo depende da exigência de cargas, podendo no osso gera um ganho significativo de massa óssea3,
ocorrer mais reabsorção ou mais formação óssea4. A independentemente do sexo e da idade dos indivíduos18.
contração muscular produz deformação no osso, que a “Apesar de o osso responder tanto ao aumento quanto à
interpreta como um estímulo à formação óssea5. diminuição da carga mecânica, é mais fácil perder osso
O aumento desproporcional da reabsorção óssea não pela inatividade do que ganhar através de aumento da
permite que o organismo faça o remodelamento ósseo carga”5.
na mesma proporção, tornando o osso mais frágil6. Indivíduos gravemente afetados pela PC podem so-
A PC é definida por Bobath e Bobath7 como o “re- frer com a principal doença osteometabólica, a osteopo-
sultado de uma lesão ou mau desenvolvimento do cére- rose. Com o físico em desvantagem e após múltiplos
bro, de caráter não progressivo, e existindo desde a procedimentos cirúrgicos seguidos de imobilização, a
infância. A deficiência motora se expressa em padrões criança com PC pode apresentar perda significativa de
anormais de postura e movimentos, associados com um massa óssea. Além disso, muitos desses pacientes são
tônus postural anormal. A lesão que atinge o cérebro medicados com anticonvulsivantes, que também contri-
quando ainda é imaturo interfere com o desenvolvimen- buem com esse processo de perda de massa óssea19.
to motor normal da criança”. Este trabalho teve como objetivo conhecer, a partir
No período pré-natal, os fatores etiológicos princi- de uma revisão sistemática e do relato de cuidadores, as
pais da PC são as infecções e parasitoses (sífilis, rubéo- características da densidade mineral óssea de crianças e
la, toxoplasmose, citomegalovírus, HIV); intoxicações jovens com PC e as possíveis alterações em seu cresci-
(drogas, álcool, tabaco); radiações (diagnósticas ou mento e desenvolvimento. Para tal, procurou-se verifi-
terapêuticas); traumatismos (direto no abdome ou queda car que tipo de informação e orientação os cuidadores
sentada da gestante); fatores maternos (doenças crôni- receberam a respeito de osteoporose por desuso em
cas, anemia grave, desnutrição, mãe idosa). No período pacientes com PC, e qual foi o profissional envolvido
perinatal, pode-se conhecer o grau de asfixia aguda nessa orientação.
pelas condições vitais do recém-nascido (RN), que se
medem pelo índice de Apgar8. Estudo abrangendo o
período de 1976-1990 mostrou que as principais causas MÉTODO
de PC pós-natal são infecções (50%), alterações vascu-
lares (20%) e trauma (18%)9.
A revisão sistemática foi realizada a partir da busca
A gravidade do acometimento neuromotor na pessoa de publicações indexadas nas bases de dados Lilacs,
com PC pode ser caracterizada como leve, moderada ou Medline, Pubmed, Scielo, CAPES e Cochrane, utilizan-

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Arquivos Brasileiros de Paralisia Cerebral 2012; 6(14):5-11.

do-se os descritores: osteoporosis, osteoporose, cerebral ou osteoporose, e de uma ficha com dados para identifi-
palsy, paralisia cerebral, parálisis cerebral, bone densi- cação das características do grupo estudado quanto à
ty, densidade óssea, densidad ósea. Os termos cruzados mobilidade, classificação do tipo de PC, uso de medica-
foram: paralisia cerebral / osteoporose e paralisia cere- ção ou órteses e cirurgias realizadas. O critério de inclu-
bral / densidade óssea, nos idiomas Inglês, Português e são para a entrevista foi estar entre os cuidadores prin-
Espanhol. cipais há pelo menos seis meses.
Para a pesquisa de campo foram convidados a parti-
cipar do estudo dez cuidadores de crianças e jovens com
PC, com idades entre 1 e 25 anos, de ambos os sexos, RESULTADOS
com limitação na mobilidade ativa. O local de coleta de
dados foi uma clínica-escola de fisioterapia vinculada a Na revisão de literatura foram encontrados 317 arti-
uma universidade sediada na grande São Paulo. gos. Foram excluídos os que se repetiam em diferentes
A coleta de dados ocorreu após a assinatura do Ter- bases de dados, aqueles cujo foco era a terapia medica-
mo de Consentimento Livre e Esclarecido, durante o mentosa e os anteriores a 2001, sendo selecionados para
horário de atendimento da criança ou jovem, a partir da este estudo 14 artigos, cujos objetivos, métodos e con-
aplicação de um questionário com perguntas abertas e clusões estão apresentados na Tabela 1.
fechadas sobre o tema densidade mineral óssea (DMO)

Tabela 1.
Descrição dos artigos selecionados na revisão sistemática.
ARTIGO OBJETIVO MÉTODO RESULTADOS
20
Al Wren Avaliar as propriedades ósseas na relação Medição em tomografia computadorizada em Grupo-controle com maiores vértebras do
de ossos apendiculares e axiais, em diferen- 12 crianças em grau I, 5 em grau II, 18 em grupo de PC; Menores vértebras nos graus
tes graus de GMFCS grau III, 2 grau IV; 5 hemiplégicos, 23 III e IV, mas sem diferença na sua densida-
diplégicos, 2 triplégicos e 7 tetraplégicos; de; A densidade volumétrica da tíbia diminu-
Grupo-controle: 37 crianças sem PC iu conforme o aumento dos graus de GMFCS
Chen21 Investigar DMO em crianças com PC 34 crianças com PC, de 4 a 12 anos, compara- Houve diferença significativa na densidade
das a 33 crianças normais óssea do fêmur, mas não em lombar
Henderson22 Correlacionar o índice de fraturas em 619 crianças com distrofia muscular moderada Verificou-se maior índice de fratura em
crianças com pouca capacidade de deambu- ou PC grave crianças com baixos valores de DMO
lar com seus valores de DMO
Mergler23 Revisão sistemática sobre o índice de Revisão da base de dados PubMed, seguindo Existe uma quantidade limitada de evidên-
fraturas em crianças com PC grave critérios da Scottish Intercollegiate Guidelines cias que relacionam baixa DMO e PC grave
(GMFCS IV e V) Network
Modlesky24 Associar formas graves de PC com baixa Ressonância magnética no fêmur distal de Microarquitetura óssea trabecular subdesen-
DMO crianças com PC grave volvida no fêmur distal de crianças com PC
Leet25 Avaliar o índice de fraturas em crianças 418 crianças 50 crianças com fraturas, sendo 15 com
com PC múltiplas fraturas; Quanto maior a idade,
maior o risco de fraturas
Henderson26 Avaliar a DMO de crianças e adolescentes 69 sujeitos, observados por 2 a 3 anos Os índices de DMO diminuíram conforme a
com PC gravidade da doença e a idade
Binkley27 Comparar a DMO de jovens com PC com a 13 pacientes de 3 a 20 anos A DMO da tíbia de indivíduos com PC foi
de indivíduos saudáveis e com a mesma igual a de indivíduos saudáveis, mas com
idade força comprometida
Caulton28 Avaliar quanto a DMO aumenta mantendo- 26 crianças com PC, divididas em grupo- A DMO vertebral aumentou com a interven-
se por certo tempo na posição ortostática controle e grupo que ficou em pé ção, não alterou na tíbia proximal
Gilbert29 Avaliar a idade óssea do esqueleto de Radiografia do carpo e da pelve de 133 Sem diferença estatística
crianças com PC crianças com PC
Unay30 Comparar a DMO de crianças com PC com 40 crianças com PC e 40 crianças saudáveis DMO menor em L2-L4, com diferenças
a DMO de crianças saudáveis entre hemiplégicos e tetraplégicos
Tasdemir31 Avaliar a osteopenia em crianças com PC 24 crianças de 10 meses a 12 anos, com PC Menor DMO comparada com o grupo-
(que deambulam ou não) e um grupo-controle controle, mas sem diferença significativa
entre deambulantes ou não deambulantes
Shiragaki32 Avaliar a DMO e a função motora das 18 crianças com PC do tipo espástica; grupo- Função motora reduzida em MMSS
extremidades de crianças com PC controle com 12 crianças
Ihkkan33 Comparar a DMO de crianças com PC com 69 crianças com PC; grupo-controle com 26 Menor DMO comparada com o grupo-
a DMO de crianças saudáveis crianças controle, diferença entre tetra e hemiplégicos

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Original

Participaram da pesquisa de campo dez mães de cri- De acordo com as participantes, registrou-se o uso
anças e jovens com PC, no horário em que seus filhos de equipamentos de órtese, cadeira de rodas (CR) ou
estavam em atendimento na clínica-escola onde ocorreu medicação para todos os indivíduos com PC (Tabela 2).
a coleta de dados. Apenas uma das participantes relatou O questionário foi composto por 11 questões sobre o
a realização de cirurgia de alongamento de tendão (P9). tema estudado, com algumas questões abertas e outras
fechadas (Quadro 1).

Tabela 2.
Dados sobre uso de órtese, cadeira de rodas (CR), medicação e classificação da PC.
INDIVÍDUOS USO DE ÓRTESE USO DE CR USO DE MEDICAÇÃO CLASSIFICAÇÃO DA PC
E TOPOGRAFIA
P1 Talas (MMSS e MMII), parapodium e Sim Não utiliza Tetraparesia espástica
goteira
P2 Não utiliza Não Carbamazepina Tetraparesia espástica
P3 Talas (MMSS e MMII), goteira, splint Sim Não utiliza Tetraparesia espástica
abdutor do polegar
P4 Parapodium Sim Não utiliza Diparesia espástica
P5 Não utiliza Sim Não utiliza Tetraparesia mista
P6 Talas (MMSS e MMII), parapodium e Não Depaquene, domperidona, ranitidi- Tetraparesia espástica
goteira na, baclofeno e clobazam
P7 Goteira Sim Não utiliza Diparesia espástica
P8 Talas (MMSS e MMII) e goteira Sim Oxcarb Diparesia espástica
P9 Não utiliza Sim Carbamazepina, rivotril, alendrona- Tetraparesia espástica
to, vitamina D
P10 Splint abdutor do polegar e goteira Não Não utiliza Tetraparesia espástica

Quadro 1.
Questionário aplicado aos participantes.

1. Você já ouviu falar em osteoporose por desuso ou perda de massa óssea em pessoas que têm mobilidade reduzida? ( ) sim ( ) não
2. Caso a resposta anterior seja “sim”, qual foi a fonte da informação? ( ) profissional da saúde ( ) internet ( ) livros ( ) outro. Qual?
3. Algum profissional da saúde o(a) informou sobre o risco de osteoporose em pessoas com paralisia cerebral? ( ) sim ( ) não
4. Se a resposta anterior foi “sim”, que tipo de informação você recebeu?
5. A criança ou jovem é regularmente exposto ao sol? ( ) sim ( ) não. Com que frequência?
6. A criança ou jovem já fraturou algum osso? Qual / quais?
7. Já foi realizado algum tipo de exame que analisasse a estrutura óssea da criança ou do jovem? ( ) sim ( ) não
8. Se a resposta anterior foi “sim”, você saberia dizer que exame foi realizado e qual foi o resultado encontrado?
9. Você tem esse(s) exame(s)? Se “sim”, poderia trazer o exame ou o laudo para que possamos registrar os resultados?
10. Você já recebeu alguma orientação para prevenir a perda de massa óssea? Se “sim”, que tipo de orientação e de quem?
11. E orientações sobre prevenção das complicações que podem decorrer da perda de massa óssea (por exemplo, fraturas)?

Análise das questões fechadas (1, 2, 3, 5, 6 e 7) da de nenhum dos profissionais de saúde que já presta-
As questões fechadas traziam dados objetivos sobre ram serviço de atendimento ao indivíduo. A frequência
a investigação do tema. Pôde-se observar que sete mães de exposição ao sol variou entre 30 a 40 minutos por
referiram não ter informações sobre a possível perda de dia, e nenhum dos participantes referiu casos de fratura
massa óssea de seu filho devido ao quadro de redução óssea. Apenas um participante do estudo realizou exame
de mobilidade, não havendo, portanto, informação obti- de diagnóstico para perda de massa óssea.

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Arquivos Brasileiros de Paralisia Cerebral 2012; 6(14):5-11.

Análise das questões abertas (4, 8, 9, 10 e 11) são deficitários34. Esse pode ser um fator que dificulta o
Embora nenhuma mãe tenha recebido orientação du- controle da densidade óssea para esse grupo de crianças,
rante sua trajetória de atendimentos clínicos e terapêuti- como observado no grupo estudado.
cos, a mãe de um dos participantes (P9) já havia levado Em 2009 foi realizada uma revisão sistemática nas
seu filho para a realização de exames específicos; nesse bases de dados PubMed, seguindo critérios da Scottish
caso, a densitometria óssea, que foi solicitada pelo mé- Intercollegiate Guidelines Network, que concluiu que
dico. O resultado desse exame foi de osteopenia severa. existem poucas evidências de que a DMO diminua nos
Os demais nunca realizaram exames. O mesmo partici- casos de PC, o que contradiz outros estudos sobre o
pante que realizou a densitometria óssea (P9) recebeu tema23.
orientação nutricional de um endocrinologista, que A relação entre o número de fraturas e a PC foi dis-
também prescreveu suplementação de vitamina D (ques- cutida em alguns estudos, e um deles constatou que
tão 10), mas não ofereceu outras orientações sobre a quanto maior a idade das crianças com PC, maior a
prevenção de complicações decorrentes da perda mine- incidência de fraturas25.
ral (questão 11).
No presente estudo foi possível observar o pouco
conhecimento das mães sobre o tema, o que possivel-
COMENTÁRIOS mente reflete a falta de uma rotina de investigação desse
aspecto junto às crianças com PC por parte da equipe
que cuida de sua reabilitação. Entre dez mães entrevis-
O levantamento da literatura mostrou que não há tadas, apenas uma referiu ter realizado o exame de
consenso sobre a diminuição da massa óssea em pessoas DMO, com registro de osteopenia.
com PC. Estudos mostram que a DMO de crianças com Embora a literatura aponte a diminuição de atividade
PC é menor nas vértebras (que também apresentaram muscular espontânea e a ausência da prática regular de
tamanhos menores), tíbia e fêmur20,24. atividades físicas como fatores predisponentes para a
Um estudo verificou que existe diferença entre a perda de massa óssea3, fica claro que esses fatores não
DMO das vértebras L2-L4 em casos de PC do tipo he- são considerados para o incentivo da investigação da
miplégica e tetraplégica, mostrando que a menor mobi- DMO em pessoas com PC. A contração muscular ne-
lidade pode interferir na DMO30. Entretanto, outro estu- cessária para a formação óssea está comprometida na
do mostrou que a tíbia de indivíduos com PC possuía a criança ou no jovem que apresenta o quadro de PC5,
mesma densidade que a de indivíduos normais, mas fazendo-se necessária a atenção na prevenção de com-
com a força alterada27. plicações como, por exemplo, as fraturas referidas por
Outro estudo, ainda, mostrou que a DMO da região autores em 200625.
lombar não alterou em crianças com PC21. Pesquisa O olhar interdisciplinar para as necessidades de
realizada em 2011 relaciona a redução da DMO da tíbia atenção às diversas alterações presentes na PC pode
com o aumento dos graus no GMFCS, mostrando que as contribuir para a minimização de complicações como as
deficiências que restringem os movimentos voluntários possíveis fraturas decorrentes da osteopenia. Observou-
prejudicam a DMO20. se que a única criança que realizou o exame também foi
A força muscular está relacionada com a densidade a única que referiu o uso de suplementação de vitamina
óssea em crianças normais. No entanto, nenhum estudo D, com orientação de uma nutricionista.
examinou essas relações em crianças com PC em trata- Muito há ainda a ser conhecido sobre o crescimento
mento ambulatorial. Estudo em Taiwan mostrou que a e a perda mineral na PC. A produção de conhecimento
DMO do fêmur distal foi menor em pessoas com PC do na área possibilitará a implantação de exames e indica-
que em crianças sem a doença. Esse mesmo estudo ções de tratamentos adequados a essa população. A
concluiu que a força muscular (principalmente de mús- fisioterapia pode ter importante papel também nessa
culos antigravitacionais) está relacionada à DMO, e que área, com a promoção de exercícios que possam estimu-
é menor em crianças com PC21. lar as descargas de peso e as contrações musculares,
O baixo índice de DMO é encontrado em mais de prevenindo o aparecimento ou agravamento de quadros
50% dos adultos que possuem alguma deficiência moto- de osteopenia.
ra, incluindo a PC. Entretanto, a avaliação da densidade O presente estudo mostrou que o conhecimento dos
é limitada, pois o posicionamento é dificultado nos cuidadores de crianças com PC sobre a osteoporose por
aparelhos de densitometria, e os dados obtidos por ques- desuso é muito escasso, sendo oferecidas poucas infor-
tionários de atividade física e de avaliação nutricional mações a esse público. A literatura estudada indica que

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Original

o interesse pelo tema vem sendo despertado por diver- 12. Sundrum R, Logan S, Wallace A, Spencer N. Cere-
sos pesquisadores; porém, não existe consenso no que bral palsy and socioeconomic status: A retrospective
se refere à DMO em PC. É necessário que esse tipo de cohort study. Arch Dis Child 2005; 90(1):15-8.
informação seja oferecido aos pacientes e aos seus cui- 13. Fleitlich BW, Goodman R. Epidemiologia. Rev Bras
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