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Faculdade Maurício de Nassau

Graduação em Engenharia Civil

LUCAS SOTERO DO SANTOS SOUZA

AÇÃO DOS VENTOS NAS EDIFICAÇÕES

SALVADOR-BA
2017
LUCAS SOTERO DO SANTOS SOUZA

CONSTRUÇÃO CIVIL

Trabalho apresentado a Faculdade


Maurício de Nassau, como requisito
para obtenção parcial da nota
referente a matéria de
ESTRUTURAS no curso de
Engenharia Civil.

Orientador(a): Prof.º Adriano.

SALVADOR-BA
2017
Ação dos ventos na edificações

O vento exerce pressões e sucções nos edifícios, de forma variada, contínua, intermitente
ou repentina causando efeitos indesejáveis, danos materiais de monta e, às vezes,
vítimas fatais.

Muito mal compreendido, o vento "brasileiro" tem comportamento bastante diferente do


vento europeu, do temido vento das monções que sopram no sudeste asiático e também
sem nenhuma semelhança com os tornados muito frequentes nos EUA.

Infelizmente não temos laboratórios e nem universidades que tenham estudado a fundo
os ventos brasileiros. Pior, desejando realizar um estudo completo sobre a ação do vento
nas edificações, é difícil encontrar, no Brasil, um Túnel de Vento onde o nosso edifício, na
forma de maquete, possa ter um modelo reduzido ensaiado.

Portanto através deste trabalho, procuramos mostrar alguns aspectos da ação do vento
que passa, muitas vezes despercebidos dos profissionais de projeto de edifícios como os
Arquitetos e os Engenheiros de Estruturas.

Cabe o alerta de que, dependendo do porte e da importância do edifício, não basta ser
formado em Arquitetura ou Engenharia Civil, necessitando o projetista da estrutura ter
especialização em Ação do Vento e, se possível, ter experiência em vento adquirido na
passagem por algum Túnel de Vento.

Existem 7 tipos básicos de ação em que o vento atinge um edifício:

Veja, esquematicamente, os sete tipos básicos de ação com que o vento costuma agir
sobre um corpo colocado em seu caminho:

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1 - VENTO A BARLAVENTO:

Produz um esforço de pressão sobre o


componente, empurrando-o na direção e
sentido do vento.

É o vento "clássico" e sua ação se resume


em tentar derrubar a parede. Não
conseguindo derrubar a parede, ele desvia e sobe, destruindo o que ele encontrar pelo
caminho.

Geralmente são beirais, jardineiras, balcões e outros tipos de saliências que se projetam
para fora da prumada da parede.

 2 - VENTO PARALELO:

Produz um esforço de sucção vertical sobre o componente, puxando-o na direção


perpendicular ao do vento.

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Age, geralmente, sobre as coberturas leves, telhas de alumínio ou plásticas. Muitos
pensam que o vento "empurra o telhado para baixo" mas o vento paralelo "puxa o telhado
para cima" e, se o telhado não estiver bem amarrado nas paredes e pilares, sai voando e
se a estrutura metálica do telhado tiver sido bem construída, o telhado "sai inteiro".

O número 30 é o limite crítico. O vento pode puxar o telhado, para cima, com a força de
30 kgf/m2 de modo que telhados que pesem menos são facilmente levados pelo vento.

3 - VENTO A SOTA-VENTO:

Produz um esforço de sucção sobre o componente,


puxando-o na direção e sentido do vento

Um simples muro fica sujeito, normalmente à ação do vento a Barlavento e, ao mesmo


tempo, à ação do vento a Sotavento, isto é, os efeitos são somados.

Cuidados especiais devem ser tomados porque o vento pode querer derrubar o galpão.
Então não se esqueça de calcular e instalar contravento vertical entre as colunas do
galpão.

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4 - VENTO COM PRESSÃO INTERNA:

Produz um esforço de pressão sobre o


componente, empurrando-o na direção e
sentido do vento e na direção
perpendicular ao do vento

No caso de um galpão cuja porta foi esquecida aberta, o vento que penetra para dentro
do galpão irá exercer uma pressão de dentro para fora, arrancando as telhas.

A ação do vento pode ser potencializada quando combina com a ação do vento paralelo.
É um empurrando as telhas de baixo para cima, com, por exemplo 15 kgf/m 2 e o outro
puxando por fora com, por exemplo, 27 kgf/m 2 resultando numa força de 15 + 27 = 42
kgf/m2 modo que mesmo telhas pesadas como as de barro podem ser arrancadas pela
força combinada.

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5 - VENTO COM SUCÇÃO INTERNA:

PRODUZ UM ESFORÇO DE SUCÇÃO


SOBRE O COMPONENTE, PUXANDO-O NA
DIREÇÃO E SENTIDO DO VENTO E NA
DIREÇÃO PERPENDICULAR AO DO VENTO

É um problema parecido com o do portão esquecido aberto, só que do outro lado do


galpão. O vento que já passou pelo galpão, é succionado pela ação a Sotavento que puxa
o ar de dentro do galpão e que cria uma pressão negativa dentro do galpão. O telhado
puxado para baixo e as paredes são puxadas para dentro. Os vidros das janelas podem
quebrar e os estilhaços do vidros ficarão espalhados no interior do galpão.

Há situações em que o vento tende a envergar a estrutura da cobertura. Então devemos


instalar contraventos horizontais:

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6 - AÇÃO COMBINADA DO VENTO A BARLAVENTO COM O VENTO A SOTA-
VENTO:

Produz um esforço de pressão sobre o componente à barlavento, empurrando-o na


direção e sentido do
vento e também
produz um esforço
de sucção sobre o
componente à sota-
vento, puxando-o na
direção e sentido do
vento

A ação do vento agindo nos dois lados do galpão pode até derrubá-lo por inteiro.

7 - OUTRAS COMBINAÇÕES:

O Projetista da estrutura deve analisar todas as combinações possíveis, externas e


internas, de ação do vento e estudar também os condicionantes da região como a
topografia do terreno, a existência de obstáculos e prédios que possam aumentar a força
dos ventos, levar em consideração que portas e janelas podem se romper sob a ação do
vento e criar ventos internos e também tentar adivinhar que tipo de reformas serão
realizadas no futuro abrindo novas portas e janelas ou fechando-as.

Uma simples depressão no terreno poderá ocasionar uma concentração do fluxo do


vento, aumentando a carga de vento que atua sobre uma parede a barlavento:

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O que costuma influenciar e, com valores significativos, é a construção de um novo prédio
na vizinhança. O novo prédio poderá "canalisar" o fluxo do vento aumentando a
velocidade do vento e concentrando a ação diretamente numa das paredes do nosso
prédio. Deste modo, prédios que já existiam há muitos anos e que nunca foi solicitado a
valores significativos de vento, passam a receber rajadas de vento nunca antes sentida.

Para tentar entender como é isso, imaginem que foi construído um prédio numa praia
isolada onde não há nenhum outro prédio.

Neste caso, o vento caminha suave e age sobre o prédio de forma uniforme, uma parte
agindo a Sotavento e a outra parte a Barlavento. O calculista não precisa ter outras
preocupações.

Agora, imaginem esta praia uns 20 anos depois quando outras construtoras resolverem
construir outros prédios:

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O nosso prédio ficará cercado por outros prédios que irão canalizar, desviar, conduzir o
vento criando zonas de maior pressão e também zonas de menor pressão. Como será a
Ação do Vento sobre Nosso Prédio? São estas situações, mais complexas, que um túnel
de vento poderá analisar:

Montado sobre uma plataforma giratória, o túnel de vento permite a análise sob todos
ângulos de incidência do vento.

O QUE DIZ A NORMA BRASILEIRA:


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Os valores mínimos das cargas acidentais, produzidas pelo vento, que devem ser
considerados no cálculo das estruturas de edifícios estão fixadas na Norma
Brasileira NBR-6123 - (antiga NB-5) - Cargas para o Cálculo de Estruturas de Edifícios.

Veja um caso prático de ação do vento sobre um telhado (clique na figura):

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NOTA IMPORTANTE: Esta é uma visão simplificada, procurando mostrar ao leigo como age o
vento. Grande parte de desastres com coberturas e telhados de casas, sobrados e fábricas ocorrem
por falta de cuidados importantes no cálculo dos componentes estruturais de sustentação do telhado.

A norma brasileira NBR-6123 - Forças devidas ao vento em edificações - estabelece


todas as condições que devem ser consideradas para o correto dimensionamento das
estruturas de um edifício.

Considera uma série de fatores como a região do Brasil que mais venta, se o terreno no
entorno do prédio é plano ou acidentado e a própria forma do edifício. Veja um roteiro
prático para a determinação do Vento Básico e do Vento Característico. Lembre-se que
um prédio, mesmo que localizado no centro da região que mais venta no Brasil pode não
ser atingido por este vento e, da mesma forma, outro prédio, este localizado na região que
menos venta pode vir a ser atingido por um vento fenomenal, tudo isso dependendo de
fatores locais como concentração de prédios, existência de um rio ou uma grande avenida
ou uma grande via férrea que podem "canalizar" o fluxo dos ventos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Não podemos negar a importância e a "boa vontade" daqueles que elaboraram a norma
em 1988 mas a visão e a compreensão sobre as formas que o vento se vale para tentar
"derrubar" um prédio mudou muito nos últimos anos.

Entretanto nem tudo está perdido. Há um interessantíssimo trabalho feito pelo IPT, o
Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, que andou ensaiando, no
seu Tunel de Vento, os efeitos negativos de prédios altos no bairro do Tatuapé, o bairro

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que apresentou o maior crescimento (mais de 175 prédios novos construídos na década
de 90).

Ainda vai demorar, creio, até que seja lançada uma nova versão da norma, que leve em
consideração até fatores dinâmicos como vibrações e trepidações, pois a elaboração de
uma nova versão demandará um custo que dificilmente será coberto na atual condição
em que uma norma é produzida no Brasil, contando apenas com o trabalho voluntário
(leia-se "de graça") de alguns abnegados profissionais que tenham atuado na questão.
Fenômenos dinâmicos como a vibração, trepidação e balanço precisam ainda serem
pesquisados e muitas teses acadêmicas ainda deverão ser produzidas.

Outra tentativa que geralmente empregamos quando não temos condições de produzir
uma norma é "traduzir" alguma norma estrangeira mas nos EUA encontramos muitos
tufões e furacões e as normas deles seria, por demais, exigentes caso pretendêssemos
aplicá-las por aqui.

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