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TURMA IV
Belford Roxo
2016
Marcus Antonio Schifino Wittmann
Abstract
This monograph intends to discuss the issue of death and burial practices among the
Guarani of southern Brazil. It takes into account both archaeological and ethnological
data regarding this issue. The goal is a dialogue between two different ways to
analyze and obtain data on this subject in order to obtain a broader view on this
issue, and also note continuities, ruptures and syncretism of these practices over
time. Ethical issues concerning researches with Guarani human remains are also
discussed.
2
Sumário
Introdução..........................................................................................................4
Conclusão.........................................................................................................15
Referências ......................................................................................................17
3
Introdução
Tal episódio serve como ponto de partida e balizador deste trabalho que
pretende fazer um levantamento etnológico e arqueológico do que se sabe sobre a
morte entre os Guarani, tanto em questões rituais, materiais e cosmológicas. A partir
disso se traça um panorama dos processos de mudança, continuidade e sincretismo
que as práticas funerárias Guarani passaram ao longo do tempo. Porém, leva-se em
conta que ainda se tem muitas lacunas dentro deste campo e que muitas destas não
serão preenchidas, afinal, não devemos conhecer tudo sobre os Guarani, o mistério
faz parte do ethos deste povo. Além disso, em tempos de genocídio Guarani,
quando a morte destes parece ser algo tão banal para alguns, devemos pensar nas
questões éticas do trabalho arqueológico quando da análise dos restos mortais e
dos contextos funerários desse povo.
1
Relato registrado pelo autor.
4
As duas disciplinas, Arqueologia e Antropologia, devem ser complementares
quando queremos falar sobre a morte. Como afirma Beltrão et al. (2015, p. 208),
devemos estar atentos tanto ao diálogo entre os vivos, ou seja, os indígenas e
quilombolas atuais, quanto entre os mortos, aqueles que se encontram em sítios
arqueológicos nos mais diversos contextos. Apenas deste modo, podemos, ao falar
sobre a morte e os mortos, indicar a humanidade dos povos indígenas (op. cit., p.
209), característica esta às vezes esquecida ou deixada de lado pela Arqueologia.
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Já em relação à Antropologia podemos citar: 1) Origens da morte (mitos de
origem); 2) Temor pelo espírito ou fantasma do morto; 3) Funeral; 4) Destruição da
propriedade (plantação, bens, animais) do falecido; 5) Formas de purificação (pelo
fogo, água, referentes aos vivos e aos mortos); 6) O poder dado ao nome do morto;
7) Festas ou banquetes funerários; 8) Crenças na vida após a morte; 9) Tabus
(estatutos de pureza e perigo referentes às práticas funerárias); 10) A participação
feminina no ritual fúnebre; 11) Concepções mortuárias de origem totêmica (animais,
plantas, entidades naturais); 12) Culto aos mortos (visitações, cerimônias de
recordação, oferendas pós-funeral); 13) Cerimônias fúnebres conectadas com o
espírito do clã; 14) Tipos de deposição funerária determinados pelo espírito do clã;
15) Orientação do corpo identificada com a afiliação clânica; 16) Relações fratridas,
clânicas2; 17) Relações de parentesco, familiares; 18) Sepultamento de acordo com
a classe e subclasse do morto; 19) Cerimônias fúnebres conectadas com o grupo
local; 20) Relações com as lendas locais; 21) Relação com os mitos de origem; 22)
Relação com os mitos relativos aos ancestrais totêmicos; 23) Influencias das
condições morais; 24) Conexão entre o método de sepultamento e o culto ou
adoração ao sol/lua; 25) Deposição dos ossos relacionada a crenças em animais;
26) Conexão com infrações sociais; 27) Conexões com a reputação do morto; 28)
Conexão com a divinização do morto; 29) Associações com considerações éticas;
30) Cerimônias conectadas com o status social do morto; 31) Orientação do morto
correlacionada com a sua habitação em vida; 32) Conexão com o local de
nascimento ou de origem do morto; 33) Deposição influenciada pelas exigências da
ocasião; 34) A maneira de escavar a cova conectada com a concepção do lugar de
descanso ou túmulo do morto; 35) Deposição afetada pela localização das
propriedades do morto.
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Os quatro itens referentes às questões clânicas não se adequam aos Guarani, que não possuem
tais divisões. Tais características seriam importantes ao analisarmos a morte entre os grupos Jê, por
exemplo.
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Sobre pessoas e divindades
A morte para os Guarani não é o final da pessoa, mas sim mais uma fase do
processo de transformação dessa, do tornar-se algo. Para Viveiros de Castro (1992,
p. 4), enquanto as sociedades Jê postulam as pessoas através de um método
dialético onde os mortos são os outros que se opõem ao “nós”, os vivos, os Tupi-
Guarani de forma geral constroem a pessoa em um processo continuo que não se
restringe apenas ao período em vida, mas ultrapassa isso e segue durante a morte.
Essa concepção não se baseia em oposições dialéticas, mas sim em uma filosofia
na qual os vivos e os mortos, o ego e o inimigo, homens e deuses estão interligados
e entrelaçados. Logo, falar dos mortos é falar dos vivos, e falar dos vivos, dos
humanos, é falar dos deuses, das divindades.
Essa dualidade não oposicional pode ser vista no conceito de alma dos
Guarani, na qual há duas partes concomitantes. Nas palavras de Artur Benites: “a
alma é feita de duas partes: tem uma que é boa, o nhe’e3, que vem de
Ñanderukuery/Deuses, e outra que é muito perigosa, que vem do buraco, de
debaixo da terra, chamada Mbogua4” (GARLET, 1997, p. 168). Assim, uma delas
tem origem divina, e segue o caminho para a morada de Nhanderu após a morte5, e
a outra tem origem telúrica, ficando no mundo para atentar contra as pessoas
através de gritos e sonhos, trazer doenças, medo e querendo arrastar os vivos junto
com ela, pois o mbogua tem o poder de desalojar o nhe’e, a palavra-alma, das
pessoas (op. cit., p. 169; SCHADEN, 1998, p. 141-142, 164).
Esses perigos demandam certos cuidados com o morto, o que define rituais
que devem ser feitos e demonstram como a pessoa é construída mesmo após o
falecimento. A parte telúrica da alma fica circunscrita ao local onde o indivíduo
morava em vida e ao seu grupo familiar, sendo assim estes deveriam queimar a
casa onde o morto habitava e mudar de lugar. Porém, essa mudança não pode
O Nhe’e, a palavra-alma, refere-se tanto a pessoa como ser quanto ao nome desta, a qual provém
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das divindades, sendo assim uma entidade autônoma e livre do corpo (SUSNIK, 1983, p. 54;
SCHADEN, 1998, p. 145).
4
Mbogua é o termo usado pelas Mbya para esta parte da alma, já os Nhandeva usam Anguery
(SCHADEN, 1998).
5
Para um relato cosmológico desta viagem ver Nimuendaju (1987, p. 37-38).
7
ocorrer logo em seguida, deve-se cuidar do morto, compromisso esse que deve
durar em torno de um ano. Deve-se limpar o local, levar água e comida, deixar os
pertences do morto em sua sepultura e nunca mais usá-los, seguir os rituais
funerários devidos para que a alma possa alcançar o estado de aguyje, quando
alcança a morada de Nhanderu (op. cit., p. 170-173; SCHADEN, 1998, p. 161).
Segundo Montoya os termos Guarani referentes ao falecimento, podem significar
tanto “dispor-se a morrer” ou “pôr-se em viagem”, viagem esta relativa à Terra Sem
Males, yvy mara’ey (1722, p. 251 apud. SOARES, MILDER, 2014, p. 276). Logo, a
morte gera uma série de trocas simbólicas entre o mundo interior, dos vivos, e o
mundo exterior, dos mortos, entre os humanos e os deuses, entre o plano terreno e
o plano divino. Trocas essas que formam uma economia política que produz
pessoas, e não bens (MANO, 2009, p. 124).
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Tal informação á interessante para pensarmos a relação entre morte e nome, principalmente em
relação com os Tupinambá descritos por Florestan Fernandes (1970), para os quais um nome novo
era ganho quando se matava um cativo.
7
Müller e Souza (2011, p. 192) analisam uma urna funerária em Santa Catarina onde foi depositada
uma pedra de basalto, talvez a explicação para tal achado seja este.
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conjuntamente com depósito de comida e água (MÜLLER, 1989, p. 30 apud
MONTICELLI, 1995, p. 85-86). Os objetos encontrados em volta das tumbas são os
pessoais do morto, sendo eles cuias, garrafas, arcos, sapatos, pratos, panelas8
(SCHADEN, 1998, p. 165).
Na bibliografia arqueológica referente à região sul-brasileira o foco das
pesquisas sobre enterramentos Guarani recaí nas urnas funerárias feitas de
cerâmica. Abordaremos esse tema mais a fundo no próximo item, no presente
momento apontaremos algumas explicações cosmológicas sobre tal ato. Para Kern
(1994, p. 110) este ritual de enterrar os mortos em vasilhames cerâmicos se dá
devido ao mito referente ao nascimento dos homens, os quais teriam sido retirados
de um recipiente cerâmico por um personagem mítico. Nimuendaju (1987, p.143)
redige o mito de origem dos Apapocuva-Guarani, no qual Ñandeci (divindade
feminina) é encontrada por Nhanderu em um pote de cerâmica. Já para Schmitz
(1991, p. 300) as urnas funerárias tampadas por outro vasilhame serviam para reter
a alma do morto quando esta se separava do corpo. De qualquer modo, pode-se
interpretar o enterro em urnas como um meio de transposição de um plano humano
para um divino, de relação entre o corpo orgânico e a alma etérea do morto com os
deuses.
Durante o período jesuítico, quando uma grande parcela dos Guarani
encontrava-se reduzido em Missões, o entendimento e o comportamento dos
indígenas frente à morte entrou em disputa frente à religião cristã. No caso dos
Tupinambás há relatos de exumação de corpos para serem enterrados novamente
da maneira nativa (KOK, 2011, p. 168). Já os Guarani da região sul-brasileira
continuaram em alguns casos a enterrar em urnas cerâmicas, fato este comprovado
pela presença de materiais de metal (duas lâminas, uma faca e uma cunha) e contas
de colar feitas de vidro encontradas dentro de urnas funerárias datada do século XVI
e XVII (SOARES, MILDER, 2014). Além da continuidade dessa prática funerária,
ocorreu o inicio de outra: o culto aos ossos. Com o aumento do poder e influências
dos xamãs, que faziam contraponto aos padres jesuítas, os restos mortais deles se
transformaram em signos cosmológicos que representavam poderes mágicos e a
possibilidade da ressureição dos mortos (KOK, 2011, p. 167-168). Se no período
jesuítico tal prática era sinônimo de resistência, os relatos mais atuais de tal
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Na mesma obra (p. 238) há uma foto de um cemitério Guarani Kaiová mostrando estes itens, além
de uma pequena estrutura de taquara demarcando a cova.
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fenômeno mostram que ele serve para desenvolver a fortaleza e o valor espiritual e
alcançar o estado de aguyje/perfeição. Porém, do mesmo modo que o enterramento
em urnas cerâmicas, não se sabe exatamente porque apenas algumas pessoas são
“veneradas” e “escutadas” após sua morte em tal ritual (GARLET, 1997, p. 174).
Se o culto aos mortos permanece ainda hoje, mesmo que de forma mais
discreta e em menor número, o uso de urnas cerâmicas para enterramento foi
abandonado pelos Guarani junto com a confecção de forma geral de vasilhames nos
tempos mais atuais. Para Schaden (1969, p. 23) isso se deu pela introdução pós-
contato de panelas de ferro. Já relatos de guaranis mostram que o abandono se deu
devido aos problemas de demarcação de terras indígenas, assim, sem a segurança
de se poder habitar em um local não se produz mais cerâmica e os mortos são
apenas enterrados em locais longe das habitações (Tembykyryguá, 1995, p. 2 apud
MONTICELLI, 1995, p. 46; MÜLLER, SOUZA, 2011, p. 168). Atualmente usam-se
caixões de cedro, árvore considerada sagrada, para enterrar 9. Segundo Cadogan, o
uso de tais esquifes e seu depósito na Opy (casa de cerimônias) seria uma
reminiscência do enterro em urnas (CADOGAN, 1992, p. 78 apud MONTICELLI,
1995, p. 105). O enterramento secundário ainda ocorre, sendo o descarne do
defunto realizado em imersão em água parada (lagos, lagoas ou rios)10.
No próximo item abordaremos questões mais voltadas para a Arqueologia e o
enterro em urnas funerárias.
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encontrados restos humanos descartados em fogueiras, o que pode se referir à
prática do exocanibalismo, a antropofagia dos inimigos, ou até ao endocanibalismo,
a absorção das cinzas do morto pelos seus parentes (op. cit., p. 496).
Os dados arqueológicos corroboram com os etnológicos no que diz respeito
ao local dos enterramentos, os quais podem ser tanto dentro das casas, nos pátios
das casas, na periferia da aldeia ou em lugares isolados11 (op. cit., p. 498). As
pesquisas arqueológicas ainda não mostraram relação entre os enterramentos e as
manchas de terra preta em sítios guarani (NOELLI, 1993, p. 102). Poucas pesquisas
são voltadas à espacialidade dos sítios arqueológicos relacionando a área de
habitação com outras áreas de atividade, por exemplo, de enterramentos. Klamt
(2004) levanta e esquematiza alguns achados de estruturas funerárias (uma ou mais
urnas funerárias encontradas em conjunto) no Rio Grande do Sul, mas não relaciona
com outras áreas de atividade no entorno.
Os materiais não perecíveis associados aos enterramentos, sejam eles dentro
ou sobre as sepulturas, são segundo a bibliografia: vasilhas cerâmicas, contas de
colar de concha ou vítreas, pingentes de moluscos, lâminas de machado polido,
tembetás de quartzo e de resina, implementos de osso. Porém, sabemos que
etnograficamente há relatos também de machados, arcos e flechas, adornos,
tembetás, vasilhas cerâmicas com água e cabaças com alimento (MONTARDO,
NOELLI, 1995-1996, p. 497). Não há estudos relacionando a cultura material
encontrada e/ou depositada com o status e a construção da pessoa entre os
Guarani. Noelli propõe através de analogias etnográficas, mas sem comprovação
arqueológica, que: a panela, de exclusivo uso feminino, seria a “urna” de sua
proprietária; as talhas e os cântaros, para fermentar bebidas, serias as “urnas”
masculinas; os “anexos funerários”, vasos e pratos individuais, seriam mistos; restos
masculinos na panela (Yapepó) e restos femininos nos cântaros (Cambuchi)
poderiam representar enterramentos de homossexuais (NOELLI, 1993, p. 108). Em
relação às crianças há trabalhos antropológicos relacionando objetos,
especificamente adornos, com ritos de passagem e formação do corpo (LADEIRA,
2007), mas ainda não se pensou no simbolismo da deposição de certos objetos em
enterramentos infantis.
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Não há estudos sobre uma provável diferenciação relacionada ao local do enterro e o status do
morto, porém há um relato interessante sobre isso: “Fui informado ainda que os executados como
feiticeiros ruins não são sepultados dentro da casa, mas soterrados sem solenidade na mata onde os
parentes os podem ir lastimar” (BALDUS, 1970, p. 302 apud SOARES, MILDER, 2014, p. 282).
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Como já comentado anteriormente, as vasilhas utilizadas como urnas
funerárias não eram específicas para isso, sendo antes utilitárias para armazenar
comida ou líquidos. Tal dado é comprovado pela análise arqueológica, a qual mostra
que algumas quebras e rachaduras nas urnas são precedentes ao enterro
(MÜLLER, SOUZA, 2011, p. 172), além disso, marcas superficiais na face interna
das paredes da metade inferior e no fundo do vasilhame constatam o uso deste para
a fabricação e fermentação de bebidas (MÜLLER, 2014, p. 89-90).
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estados, e a Corrugada, aos outros três. A conclusão deste estudo é que, enquanto
a subtradição Pintada, relativa á uma variação regional, sepultava geralmente os
mortos em estruturas funerárias compostas (urna funerária, tampa, sobre-tampa e
tigelas de reforço em volta da urna), a subtradição Corrugada utilizava apenas a
urna com uma tampa ou protegia apenas a cabeça do morto com uma pequena
tigela, não o colocando dentro de uma vasilha. Nota-se assim, por um lado uma
preocupação com todo o corpo do morto e por outro mais especificamente com sua
cabeça (op. cit., p. 167).
Outro dado interessante relacionado às variáveis propostas acima é
pensarmos no contexto histórico das práticas funerárias. A pesquisa de Chmyz
(1974) em sítios do baixo Rio Paranapanema e do alto Rio Paraná relata um sítio
arqueológico com diversas sepulturas em urnas e fora delas e com diferentes
posições do corpo. As datações retiradas do local mostram que tal episódio é pós-
contato com o europeu, o que levanta a questão de tal diversidade ser causada por
uma epidemia, o que acarretaria em um grande número de mortos e uma pressa
para enterrá-los (MONTARDO, NOELLI, 1995-1996, p. 495).
Conclusão
Urnas de Cerâmica: Não são mais produzidas, logo não são usadas como
recipientes para colocar o morto. Porém, atualmente são usados caixões de cedro,
que também possuem uma significação cosmológica assim como a cerâmica. Deste
modo, podemos pensar que o enterro Guarani em algum tipo de recipiente é uma
continuidade, porém com alguns sincretismos ou mudanças.
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Deposição de objetos em volta do local do enterramento: Há muitos relatos
etnológicos sobre essa prática, porém os registros arqueológicos não são
conclusivos a esse respeito. Alguns objetos de pedra já foram encontrados no
entorno de urnas funerárias, porém se havia artefatos de madeira ou de fibra vegetal
estes não são mais passíveis de serem encontrados. Mesmo assim, podemos
caracterizar essa prática como uma continuidade, principalmente devido ao próximo
item.
Culto aos Ossos: Tal prática aparece primeiramente nos registros jesuíticos,
podendo ser considerada como algum tipo de sincretismo. Alguns registros
etnográficos das primeiras décadas do século XX continuam relatando este
fenômeno. Atualmente, há pouquíssimas informações a respeito dessa prática,
porém sabe-se que ainda ocorre de alguma forma.
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Há poucas reflexões sobre as questões éticas da prática de exumar restos
mortais das populações Guarani, sabemos, de forma mais geral dos impedimentos,
da forte regulação e restrições de diferentes naturezas e também das forçosas
devoluções para reinumação de materiais humanos existentes em acervos e
museus, assim como dificuldades de acesso a sítios funerários (SOUZA,
RODRIGUES-CARVALHO, 2013, p. 552). Mesmo concordando que restos humanos
são uma fonte científica muito rica, e que devem ser preservados do melhor modo
possível, a decisão sobre o que fazer com este material deve ser dos descendentes
(LARSEN, WLAKER, 2005, p. 114), e isso leva em conta como preservar ou não os
ossos e como efetuar ou não efetuar a pesquisa. No caso específico dos Guarani
isso ainda deve ser debatido e pesquisado, levando em conta a heterogeneidade
das parcialidades e das aldeias.
Como avisado pelo cacique no trecho inicial deste artigo, nós, os juruá, não
devemos saber tudo sobre os Guarani, muito menos sobre a morte. Porém, se
quisermos falar sobre ela, que saibamos que os fragmentos de osso e de artefatos
sepultados nos apresentam indícios de uma sociedade dinâmica e autônoma
(MÜLLER, 2005, p. 30) e também que analisar um enterramento não é falar apenas
sobre barro e ossos, sobre as características da urna funerária e dos restos
humanos, mas também sobre divindades e pessoas, sobre eventos temporais
(desocupação de um lugar, rituais de cuidado com o morto) e cosmológicos (a
relação entre os mortos, os vivos e os deuses).
Referências
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KERN, Arno Alvarez. Antecedentes Indígenas. Porto Alegre: UFRGS, 1994, p. 142
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LADEIRA, Maria Inês. Notas etnográficas sobre o uso dos adornos corporais
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MONTARDO, Deise Lucy O.; NOELLI, Francisco S. Sugestões para o Estudo dos
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SOARES, André Luis R.; MILDER, Saul Eduardo Seiguer. Arqueologia da morte:
enterro de índio, vida de jesuíta, história que se escreve em cacos. Cadernos do
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TAVA, a Casa de Pedra. Direção: Ariel Ortega e Patrícia Ferreira. Produção: Vincent
Carelli; Vídeo nas Aldeias, 2012, 78 min.
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