Você está na página 1de 16

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2015.0000700943

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos do Agravo de Instrumento nº 2167328-

96.2015.8.26.0000, da Comarca de Jaú, em que é agravante OSÓRIO FERRUCCI JUNIOR, é

agravado JOÃO JAIR FELTRIN JÚNIOR.

ACORDAM, em 31ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São

Paulo, proferir a seguinte decisão: "Por maioria de votos, negaram provimento ao recurso,

vencido o 2º juiz, com declaração de voto.", de conformidade com o voto do Relator, que integra

este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmo. Desembargadores ANTONIO

RIGOLIN (Presidente), ADILSON DE ARAUJO E CARLOS NUNES.

São Paulo, 22 de setembro de 2015.

ANTONIO RIGOLIN
RELATOR
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 2167328-96.2015.8.26.0000


Comarca:JAÚ 3ª Vara Cível
Juiz: Paula Maria Castro Ribeiro Bressan
Agravante: OSÓRIO FERRUCCI JUNIOR
Agravado: JOÃO JAIR FELTRIN JÚNIOR
Interessados: Pedra de Fogo Empreendimentos Ltda e Thermas Intrnacional do Tiete

CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. EXECUTADA PESSOA


JURÍDICA. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE
JURÍDICA PARA ALCANÇAR BENS DOS SÓCIOS.
ADMISSIBILIDADE, DIANTE DA DISSOLUÇÃO
IRREGULAR. RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS.
AGRAVO IMPROVIDO. A constatação de que a empresa
executada foi dissolvida irregularmente autoriza o
reconhecimento da responsabilidade ilimitada de seus
representantes, que aparentemente fizeram uso indevido do
nome da pessoa jurídica, a permitir a incidência da penhora
sobre seus bens pessoais.

Voto nº 35.228

Visto.

1. Trata-se de agravo, sob a forma de instrumento,


interposto por OSÓRIO FERRUCCI JÚNIOR com o objetivo de alcançar
a reforma de decisão proferida em ação de rescisão contratual cumulada
com cobrança proposta por JOÃO JAIR FELTRIN JÚNIOR, em fase de
cumprimento de sentença.

Aduz o agravante que o deferimento da desconsideração


da personalidade jurídica deu-se de forma prematura, uma vez que a
mera ausência de bens penhoráveis não pode servir de embasamento
para tal decreto. Ademais, não se verificou desvio de finalidade ou
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

confusão patrimonial a justificá-la. Acrescenta que não se trata de


relação de consumo, de modo que os documentos tidos como prova
emprestada não justificam a medida.

Recurso tempestivo e bem processado, oportunamente


preparado e respondido.

É o relatório.

2. Desde logo, observa-se que de fato já se pacificou o


entendimento perante o C. Superior Tribunal de Justiça a respeito da
exigência de prévia garantia do Juízo para a apresentação de
impugnação ao cumprimento de sentença, em conformidade com a
sistemática determinada pela Lei nº 11.232/05, que alterou o Código de
Processo Civil para disciplinar esta fase processual. Entretanto, essa
exigência não é condição para a interposição de recurso de agravo de
instrumento.

Assim, impõe-se rejeitar a matéria preliminar formulada na


resposta, passando-se ao exame do mérito do recurso.

A análise dos elementos constantes dos autos permite


concluir que, durante o curso do cumprimento de sentença, o Juízo de
primeiro grau deferiu o pleito de desconsideração da personalidade
jurídica da empresa Thermas Internacional do Tietê, de modo a incluir no
polo passivo da execução os sócios que pertenciam ao quadro social na
data do ajuizamento da ação (fls. 21/23).

Contra esse pronunciamento se insurge o agravante,


reputando que não se encontram presentes os requisitos legais para
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

admitir tal providência.

Argumenta o executado que apenas a ausência de bens e


o encerramento irregular da empresa não autorizam a desconsideração
da personalidade jurídica. Também se faz necessária a existência de
indícios de esvaziamento intencional do patrimônio societário em
detrimento dos credores ou outros abusos.

Ademais, aponta o recorrente que o exequente agiu de má-


fé ao indicar o nome dos sócios da empresa Pedra de Fogo e requerer a
desconsideração da executada Thermas do Tietê. Agiu com deslealdade
processual ao apresentar cópia dos autos do processo em curso perante
o Juizado Especial de Pederneiras, em que foi desconsiderada a
personalidade jurídica com base em dispositivo do Código de Defesa do
Consumidor que não se aplica à hipótese em exame , mas sem trazer
aos autos os nomes das pessoas que foram incluídas no polo passivo
daquela execução. E se constata da Ata de Assembleia Constitutiva (fls.

36/38) que o próprio exequente responde como sócio da empresa.

Ressalta, por fim, que a paralisação das atividades da


empresa não ocorreu por descaso dos sócios, mas, sim, porque houve a
retomada do patrimônio pelo Município de Pederneiras, o que impediu a
continuidade das obras, conforme documentado.

É certo que não se pode afastar a autonomia da pessoa


jurídica tão somente com vistas à satisfação dos interesses dos credores.
Somente na hipótese de desvirtuamento do instituto da personalização,
seja pela fraude ou abuso de direito, seja pela confusão patrimonial é que
se justifica a imputação de desconsideração.
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Equivocada leitura do instituto tem querido fazer dele um


expediente de que se pode lançar mão sempre que a pessoa jurídica não
esteja em condições de satisfazer os seus débitos. Vale dizer que a
ausência de bens não é suficiente para fundamentar a desconsideração
da personalidade jurídica.

Entretanto, o agravante em momento algum nega que


houve encerramento irregular da empresa executada. Apenas alega que
só esse aspecto não é suficiente para autorizar a desconsideração da
personalidade jurídica da executada.

Com o devido respeito, e preservado o entendimento


adotado, prevalece nesta Câmara o entendimento contrário.

A respeito do tema, assim se pronunciou o eminente


Desembargador Itamar Gaino, ao proferir o voto condutor no julgamento
do Agravo de Instrumento 7.220.972-8:

“Destarte houve ofensa à lei por parte dos sócios, eis que
tinham o dever de: a) dissolver regularmente a sociedade, cuidando
do cumprimento das obrigações por ela contraídas perante
terceiros; ou b) requerer a falência, instaurando o concurso universal
sobre os bens da massa. Do modo como agiram, cessando a
atividade empresarial e apropriando-se dos bens sociais,
evidentemente praticaram fraude contra os credores, o que não é
permitido pela ordem jurídica. São pessoalmente responsáveis,
portanto, pela solvência da dívida exeqüenda.

Não se trata de desconsideração da personalidade


jurídica, mas de imputação direta da responsabilidade aos sócios,
em virtude do ilícito por eles praticado.
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

O artigo 1.080 do Código Civil dispõe sobre a


responsabilidade excepcional dos sócios que houverem aprovado
deliberações infringentes do contrato ou da lei.

Nesse caso de dissolução irregular da sociedade, os


sócios tornam-se ilimitadamente responsáveis perante terceiros, nos
termos dessa norma legal, em razão de conduta contrária à lei e ao
contrato social, tornando-se os seus patrimônios particulares
sujeitos a execução.

A imputação de responsabilidade independe, portanto, da


presença daqueles pressupostos próprios da teoria da
desconsideração da personalidade jurídica, que agora se acha
positivada em nosso direito, no art. 50 do Código Civil e no art. 28
do Código de Defesa do Consumidor.

Em caso de desativação do negócio social e, pois, de


dissolução irregular da sociedade, o que ocorre, como dito, é
conduta ilícita dos sócios, que, por isto, tornam-se responsáveis
perante terceiros, pelo passivo social pendente.

A imputação de responsabilidade aos sócios pela


solvência do débito tem fundamento no referido art. 1.080 do Código
Civil e também no art. 592, II, do Código de Processo Civil, este que
consiste em norma processual de legitimação para o processo
executivo.”

O reconhecimento da responsabilidade pessoal dos


sócios, no caso de dissolução irregular, tem sido reiteradamente
reconhecida por esta Corte:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO - RESCISÃO


PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

CONTRATUAL C.C. RESTITUIÇÃO DE IMPORTÂNCIAS PAGAS


(EM FASE DE CUMPRIMENTO DE SENTENÇA) Desconsideração
da personalidade jurídica da cooperativa executada -
Admissibilidade - Notório estado de insolvência da devedora -
Penhora on line infrutífera - Cooperativa que consta no polo passivo
de dezenas de ações da mesma natureza - Medida que encontra
amparo na regra do art. 50, do Código Civil, e, principalmente, no
artigo 28, § 5º, do CDC, haja vista que a personalidade jurídica da
empresa constitui obstáculo à satisfação do direito do consumidor -
Precedentes (inclusive desta Câmara) - Não ocorrência de
desrespeito ao contraditório e ampla defesa, uma vez que os
diretores da cooperativa podem defender seus direitos por meios
dos recursos cabíveis - Decisão mantida - Recurso improvido.” 1

“EXECUÇÃO - PENHORA - INCIDÊNCIA SOBRE OS


BENS DOS SÓCIOS - SOCIEDADE POR COTAS - DISSOLUÇÃO
IRREGULAR - CABIMENTO - APLICABILIDADE DA TEORIA DA
DESCONSIDERAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA. Desconsidera-se a
personalidade jurídica da sociedade civil, quando presumível o
encerramento irregular da atividade ou inatividade da pessoa
jurídica que constitui obstáculo ao ressarcimento de prejuízos
causados ao credor.” 2

“EXECUÇÃO - PENHORA - INCIDÊNCIA SOBRE OS


BENS DOS SÓCIOS - SOCIEDADE POR COTAS - DISSOLUÇÃO
IRREGULAR - CABIMENTO - APLICABILIDADE DA TEORIA DA
DESCONSIDERAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA. A empresa, ao
encerrar irregularmente suas atividades, e não possuindo bens que
garantam o cumprimento de suas obrigações, a ela aplica-se o
princípio da desconsideração da personalidade jurídica, recaindo a

1 - TJSP AI 0079744-93.2013.8.26.0000- 8ª Câm. - Rel. Des. SALLES ROSSI - J. 14.8.2013.


2 - TJSP - AI 886.833-00/0 - 31ª Câm. - Rel. Des. WILLIAN CAMPOS - J. 17.5.2005.
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

penhora sobre os bens particulares dos sócios.” 3

“AGRAVO DE INSTRUMENTO PRESTAÇÃO DE


SERVIÇOS - INDENIZAÇÃO - DESCONSIDERAÇÃO DA PESSOA
JURÍDICA - ART. 50 DO CC - CABIMENTO - RECURSO PROVIDO.
O encerramento irregular das atividades da empresa executada e a
ausência de bens que garantam a execução, autorizam a
desconsideração da personalidade jurídica, com o direcionamento
da execução contra os bens particulares dos sócios.” 4

No mesmo sentido já se pronunciou o C. Superior Tribunal


de Justiça:

“EMBARGOS DE TERCEIRO. EXECUÇÃO. PENHORA


INCIDENTE SOBRE BENS PARTICULARES DO SÓCIO.
DISSOLUÇÃO IRREGULAR DAS EMPRESAS EXECUTADAS.
CONSTRIÇÃO ADMISSÍVEL.

O sócio de sociedade por cotas de responsabilidade


limitada responde com seus bens particulares por dívida da
sociedade quando dissolvida esta de modo irregular. Incidência no
caso dos arts. 592, II, 596 e 10 do Decreto. n. 3.708, de 10.1.1919.

Recurso especial não conhecido.” 5

Assim, diante da dissolução irregular, impõe-se manter a


decisão que reconheceu legitimados passivos os sócios da executada
para o cumprimento da sentença condenatória.

Enfim, não comporta acolhimento o inconformismo.

3 - AI 798.102-00/7 - 3ª Câm. - Rel. Juiz RIBEIRO PINTO - J. 10.6.2003.


4 - TJSP AI 1.254.328-00/2 31ª Câmara da Seção de Direito Privado Rel. Des. PAULO AYROSA J. em 23.06.2009.
5 - REsp 140564 / SP, 4ª T., Rel. Min. BARROS MONTEIRO, DJ 17/12/2004 p. 547, RSTJ vol. 200 p. 355.
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

3. Ante o exposto, nego provimento ao recurso.

ANTONIO RIGOLIN
Relator
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Voto nº 20.271
Agravo de Instrumento nº 2167328-96.2015.8.26.0000
Comarca: Jaú
Agravante: OSÓRIO FERRUCCI JUNIOR
Agravado: JOÃO JAIR FELTRIN JÚNIOR
Interessados: Pedra de Fogo Empreendimentos Ltda e Thermas
Intrnacional do Tiete

Declaração de voto vencido nº 20.271


AGRAVO. PROCESSUAL CIVIL. PESSOA
JURÍDICA. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA.
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE
JURÍDICA. FALTA DE COMPROVAÇÃO
EFETIVA DOS PRESSUPOSTOS LEGAIS.
JURISPRUDÊNCIA RECENTE DO COLENDO
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA (STJ).
AGRAVO PROVIDO. Para que se possa
reconhecer a desconsideração da pessoa jurídica,
recaindo a responsabilidade patrimonial desta
sobre os seus sócios, necessário se faz que se
comprove que estes tenham, na gestão daquela,
agido com abuso de direito ou fraude, de tal sorte
a dilapidar ou desviar o patrimônio da pessoa
jurídica em prejuízo de seus credores.

Cuida-se de agravo, na modalidade


de instrumento, interposto por OSÓRIO FERRUCI JÚNIOR em face de
JOÃO JAIR FELTRIN JÚNIOR, tirado dos autos da ação de rescisão
contratual cumulada com cobrança, em fase de cumprimento de
sentença, contra a r.decisão que decretou a desconsideração da
personalidade jurídica da executada Thermas internacional do Tietê
para inclusão de seus sócios no polo passivo da execução (dentre eles
o agravante).

A douta maioria negou provimento


ao agravo, considerando acertada a r.decisão agravada, ante a
ausência de bens penhoráveis conhecidos da empresa e encerramento
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

irregular de suas atividades.

É o relatório.

Ousei discordar dos eminentes


Desembargadores que compõe a Turma Julgadora, com voto de
provimento ao recurso para afastar a despersonalização decretada,
considerando a recente jurisprudência do Colendo Superior Tribunal de
Justiça (2ª Seção) como determinante de meu atual posicionamento a
respeito.

De fato, como regra, a pessoa


jurídica é distinta de seus sócios ou acionistas, adquirindo
personalidade jurídica com o registro do ato de constituição no registro
próprio, sendo titular de direitos e obrigações, com patrimônio próprio.
Para que possa ser aplicada a despersonalização da pessoa jurídica
ensina SILVIO DE SALVO VENOSA, à luz do art. 50 do Código Civil de
2002 (CC/2002):

“Essa redação melhorada atende à necessidade


de o juiz, no caso concreto, avaliar até que ponto o
véu da pessoa jurídica deve ser descerrado para
atingir os administradores ou controladores nos
casos de desvio de finalidade, em prejuízo de
terceiros. O abuso da personalidade jurídica deve
ser examinado sob o prisma da boa-fé objetiva,
que deve nortear todos os negócios jurídicos. Nem
sempre deverá ser avaliada com maior
profundidade a existência de dolo ou culpa. A
despersonalização é aplicação de princípio de
eqüidade trazida modernamente pela lei” (Direito
Civil, Parte Geral, 4ª ed., Ed. Atlas, pág. 311).

Os eminentes professores NELSON


NERY JÚNIOR e ROSA MARIA ANDRADE NERY, em comentário a
esse dispositivo, assentam:

"Desconsideração da pessoa jurídica (Disregard of


PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

legal entity). Consiste na possibilidade de se


ignorar a personalidade jurídica autônoma da
entidade moral sempre que esta venha a ser
utilizada para fins fraudulentos ou diversos
daqueles para os quais foi constituída, permitindo
que o credor de obrigação assumida pela pessoa
jurídica alcance o patrimônio particular de seus
sócios ou administradores para a satisfação de
seu crédito."(“Código Civil Comentado e
Legislação Extravagante”, 3ª ed., RT, 2005,
p. 195

Contudo, para que se possa valer


desta possibilidade, necessário se faz a comprovação de que os sócios
tenham, na gestão da sociedade, agido com abuso de direito ou fraude,
de tal sorte a dilapidar ou desviar o patrimônio da pessoa jurídica em
prejuízo de seus credores. O art. 596 do CPC, integrante do capítulo IV
do livro de que trata o processo de execução, estabelece, como regra,
a não responsabilização dos bens particulares dos sócios pelas dívidas
da empresa, ressalvados os casos previstos em lei.

No caso, não há comprovação, nos


autos, de que os sócios agiram com abuso de direito ou fraude, de
maneira a dilapidar ou desviar o patrimônio da empresa em prejuízo do
credor. É prematuro afirmar que a conduta da executada se deu com a
intenção de fraudar a execução.

Inexiste prova firme e segura no


sentido de demonstrar que a empresa executada, ao menos por ora,
tenha praticado qualquer ato irregular, ilegal, fraudulento, doloso, no
sentido de evitar as consequências da execução, objetivando causar
prejuízo para o credor, como demonstrado neste recurso pelo
agravante. O que autoriza a desconsideração da personalidade jurídica
é a má-fé e o efetivo abuso, e não a inexistência de bens capazes de
satisfazer o crédito pleiteado pela exequente.

Por ser o instituto aplicado como


PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

medida excepcional, necessária a comprovação cabal do desvio de


finalidade em proveito dos sócios, o que não ocorreu no caso. Não
houve demonstração de confusão patrimonial e o agravado não
comprovou, ao menos neste recurso, a alegação de encerramento
irregular.

Ademais, não se pode olvidar


decisões recentes do C. STJ de que o encerramento das atividades,
ainda que irregular, não é causa, por si só, para a desconsideração da
personalidade jurídica da empresa devedora:

“AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM


RECURSO ESPECIAL. DESCONSIDERAÇÃO DA
PERSONALIDADE JURÍDICA. ART. 50 DO
CC/2002. ABUSO DA PERSONALIDADE.
DESVIO DE FINALIDADE OU CONFUSÃO
PATRIMONIAL. REQUISITOS. ENCERRAMENTO
IRREGULAR DA SOCIEDADE. INSUFICIÊNCIA.
1. A desconsideração da personalidade jurídica é
medida excepcional e está subordinada à
comprovação do abuso da personalidade jurídica,
caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela
confusão patrimonial.
2. "O encerramento das atividades ou dissolução,
ainda que irregulares, da sociedade não são
causas, por si só, para a desconsideração da
personalidade jurídica, nos termos do Código
Civil." (EREsp 1.306.553/SC, Relatora Ministra
Maria Isabel Gallotti, Segunda Seção, julgado em
10/12/2014, DJe 12/12/2014) 3. Agravo regimental
não provido.” (AgRg no AREsp 584.195/RJ, Rel.
Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA,
TERCEIRA TURMA, julgado em 23/06/2015, DJe
04/08/2015).

“AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL.


PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO.
DISSOLUÇÃO IRREGULAR DA SOCIEDADE.
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE
JURÍDICA. DESCABIMENTO. ART. 50 DO CCB.
1. A desconsideração da personalidade jurídica de
sociedade empresária com base no art. 50 do
Código Civil exige, na esteira da jurisprudência
desta Corte Superior, o reconhecimento de abuso
da personalidade jurídica.
2. O encerramento irregular da atividade não é
suficiente, por si só, para o redirecionamento da
execução contra os sócios.
3. Limitação da Súmula 435/STJ ao âmbito da
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

execução fiscal.
4. Precedentes específicos do STJ.
5. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.”
(AgRg no REsp 1386576/SC, Rel. Ministro PAULO
DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA,
julgado em 19/05/2015, DJe 25/05/2015)

“PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL


NO RECURSO ESPECIAL. CUMPRIMENTO DE
SENTENÇA. ARTIGO 50, DO CC.
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE
JURÍDICA. REQUISITOS. ENCERRAMENTO DAS
ATIVIDADES OU DISSOLUÇÃO IRREGULARES
DA SOCIEDADE. INSUFICIÊNCIA. DESVIO DE
FINALIDADE OU CONFUSÃO PATRIMONIAL.
NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO. QUESTÃO
ATRELADA AO REEXAME DE MATÉRIA FÁTICA.
ÓBICE DA SÚMULA 7/STJ. AGRAVO
REGIMENTAL NÃO PROVIDO.
1. A jurisprudência do STJ firmou o entendimento
de que a desconsideração da personalidade
jurídica prevista no artigo 50 do Código Civil trata-
se de regra de exceção, de restrição ao princípio
da autonomia patrimonial da pessoa jurídica.
Assim, a interpretação que melhor se coaduna
com esse dispositivo legal é a que relega sua
aplicação a casos extremos, em que a pessoa
jurídica tenha sido instrumento para fins
fraudulentos, configurado mediante o desvio da
finalidade institucional ou a confusão patrimonial.
2. Dessa forma, o encerramento das atividades ou
dissolução, ainda que irregulares, da sociedade
não são causas, por si só, para a desconsideração
da personalidade jurídica, nos termos do artigo 50
do Código Civil. Precedentes.
3. O reexame de matéria de prova é inviável em
sede de recurso especial (Súmula 7/STJ).
4. Agravo regimental não provido.”
(AgRg no REsp 1500103/SC, Rel. Ministro
MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA
TURMA, julgado em 07/04/2015, DJe 14/04/2015).

“EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. ARTIGO 50,


DO CC. DESCONSIDERAÇÃO DA
PERSONALIDADE JURÍDICA. REQUISITOS.
ENCERRAMENTO DAS ATIVIDADES OU
DISSOLUÇÃO IRREGULARES DA SOCIEDADE.
INSUFICIÊNCIA. DESVIO DE FINALIDADE OU
CONFUSÃO PATRIMONIAL. DOLO.
NECESSIDADE. INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA.
ACOLHIMENTO.
1. A criação teórica da pessoa jurídica foi avanço
que permitiu o desenvolvimento da atividade
econômica, ensejando a limitação dos riscos do
empreendedor ao patrimônio destacado para tal
fim. Abusos no uso da personalidade jurídica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

justificaram, em lenta evolução jurisprudencial,


posteriormente incorporada ao direito positivo
brasileiro, a tipificação de hipóteses em que se
autoriza o levantamento do véu da personalidade
jurídica para atingir o patrimônio de sócios que
dela dolosamente se prevaleceram para
finalidades ilícitas. Tratando-se de regra de
exceção, de restrição ao princípio da autonomia
patrimonial da pessoa jurídica, a interpretação que
melhor se coaduna com o art. 50 do Código Civil é
a que relega sua aplicação a casos extremos, em
que a pessoa jurídica tenha sido instrumento para
fins fraudulentos, configurado mediante o desvio
da finalidade institucional ou a confusão
patrimonial.
2. O encerramento das atividades ou dissolução,
ainda que irregulares, da sociedade não são
causas, por si só, para a desconsideração da
personalidade jurídica, nos termos do Código Civil.
3. Embargos de divergência acolhidos.”
(Embargos de Divergência Em RESP Nº 1.306.553
- SC (2013/0022044-4), Relatora Ministra Maria
Isabel Gallotti, Segunda Seção, julgado em
10/12/2014, DJe 12/12/2014).

Por tais razões, os pressupostos


legais para aplicação do instituto da desconsideração da personalidade
jurídica não podem ser tidos como absolutamente comprovados por
ora, não merecendo reforma a decisão, sem prejuízo de reavaliação se,
com outros elementos, for possível a constatação de abusos da
personalidade ou fraude.

Posto isso, por meu voto, respeitado


o convencimento da douta maioria, nego provimento ao recurso.

ADILSON DE ARAUJO
2º Juiz
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Este documento é cópia do original que


recebeu as seguintes assinaturas digitais:

P P Cat Nome do assinante Confir


g g egoria mação
. .
i f
n i
i n
c a
i l
a
l
1 9 Ac ANTONIO RIGOLIN 1C78E
órdãos 21
Eletrôni
cos
1 1 De ADILSON DE ARAUJO 1C830
0 5 claraçõe C2
s de
Votos

Para conferir o original acesse o site:


https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informando o processo
2167328-96.2015.8.26.0000 e o código de confirmação da tabela acima.

Você também pode gostar