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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2019.0001050584

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos do Agravo de


Instrumento nº 2222752-84.2019.8.26.0000, da Comarca de
São Paulo, em que é agravante MARCOS TADEU BRAGA
DORNELLES, é agravado MARIA DE FÁTIMA NAZARÉ CABRAL – EPP.

ACORDAM, em 13ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de


Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Por
maioria de votos, deram provimento ao recurso, vencido o
2º Des. que fará declaração de voto.", de conformidade com
o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos.


Desembargadores NELSON JORGE JÚNIOR (Presidente sem voto),
HERALDO DE OLIVEIRA E FRANCISCO GIAQUINTO.

São Paulo, 11 de dezembro de 2019.

ANA DE LOURDES COUTINHO SILVA DA FONSECA


Relatora
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

VOTO Nº: 29857


AGRV.Nº: 2222752-84.2019.8.26.0000
COMARCA: SÃO PAULO
AGVTE. : MARCOS TADEU BRAGA DORNELLES
AGVDO. : MARIA DE FÁTIMA NAZARÉ CABRAL EPP
INTERDO: RESULTA INTELIGENCIA DE NEGÓCIOS LTDA.

AGRAVO DE INSTRUMENTO - DESCONSIDERAÇÃO DA


PERSONALIDADE JURÍDICA Pretensão de reforma da
respeitável decisão que incluiu no polo passivo o sócio da
empresa, a qual fora incluída na execução por força de anterior
desconsideração Cabimento Hipótese em que não estão
preenchidos os requisitos legais que autorizariam a pretendida
desconsideração com relação ao sócio, ora agravante
Inexistência de bens que, por si só, não autoriza o acolhimento
do pedido de desconsideração - RECURSO PROVIDO.

Cuida-se de recurso de agravo de instrumento


interposto contra respeitável decisão que determinou a
inclusão do sócio Marcos Tadeu Braga Dornelles no “polo
passivo da demanda principal ou incidente de cumprimento
de sentença” (fls. 33).
Suscita o recorrente, preliminarmente, a
nulidade da r.decisão agravada por cerceamento do direito
de defesa, uma vez que não lhe foi permitido produzir
prova oral, que demonstrasse que “nunca teve qualquer
poder decisório na pessoa jurídica cuja personalidade foi
desconsiderada e que tampouco houve confusão patrimonial”
(fls. 07).
Defende a ausência dos requisitos
necessários para a pretendida desconsideração, nos termos
do artigo 50 do Código Civil, sendo que “foi enganado
pelos demais sócios da Ré RESULTA INTELIGÊNCIA DE NEGÓCIOS
LTDA., de modo que foi induzido a investir na sociedade
pelo sócio Marcos Cesar Veçoso, que se utilizou da relação
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de confiança construída entre ambos após a longa parceria


comercial durante o período em que o Agravante trabalhava
como diretor de renomada indústria farmacêutica, tendo
convencido o mesmo também a celebrar contrato de mútuo com
sociedade” (sic, fls. 14-15).
Reafirma que nunca teve poder decisório ou
administrativo e que não há confusão patrimonial, tendo em
conta que “emprestou bem mais dinheiro à empresa do que
recebera da mesma” (sic, fls. 16).
E salienta: “(...) dizer que constituir uma
“holding” é causar confusão patrimonial é atentar contra
os princípios mais básicos do Direito Societário. Nenhuma
ilegalidade há nesse procedimento” (fls. 17).
Acrescenta, por fim, que a ausência de bens
da executada não justifica a medida excepcional deferida.
Recurso bem processado.
É o relatório.
O recurso comporta provimento.
Rejeita-se a preliminar arguida de
cerceamento do direito de defesa, uma vez que
desnecessária a produção de prova oral pelo recorrente,
dada a suficiência da prova documental produzida para
amparar as suas alegações.
Ademais, cabia à agravada a produção da
prova da existência dos requisitos legais necessários para
atingir o sócio, ônus do qual não se desincumbiu.
No mais, a desconsideração da personalidade
jurídica, derivada da disregard doctrine, consiste no
afastamento temporário da personalidade jurídica da
sociedade empresarial, a fim de permitir, em caso de abuso
ou de manipulação fraudulenta, que o credor lesado
satisfaça, com o patrimônio pessoal dos sócios da empresa,
a obrigação não cumprida.
Na lição de Fábio Ulhoa Coelho, a
desconsideração da personalidade jurídica da empresa
possibilita ao juiz “decretar a suspensão episódica da
eficácia do ato constitutivo da pessoa jurídica, se
verificar que foi ela utilizada como instrumento para a
realização de fraude ou abuso de direito” (in
“Desconsideração da Personalidade Jurídica”, 1989, São
Paulo, Ed. RT, p. 54).
Para tanto, são exigidos requisitos
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cumulativos: (i) a inadimplência da pessoa jurídica


(insolvência), (ii) o requerimento da parte interessada ou
do Ministério Público e (iii) o abuso da personalidade
jurídica (caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela
confusão patrimonial) ou a sua manipulação fraudulenta.
A esse respeito, dispõe o artigo 50 do
Código Civil:
“Em caso de abuso da personalidade jurídica,
caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão
patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do
Ministério Público quando lhe couber intervir no processo,
desconsiderá-la para os efeitos de certas e determinadas
relações de obrigações sejam estendidos aos bens
particulares de administradores ou de sócios da pessoa
jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso”.
Adotou o Código a teoria maior da
desconsideração da personalidade jurídica, que exige a
presença cumulativa dos três requisitos para a
desconsideração, sendo imprescindível o abuso da
personalidade ou a manipulação fraudulenta, em oposição à
legislação consumerista e extravagante, alicerçada na
teoria menor da desconsideração da personalidade jurídica,
que dispensa o abuso e a fraude e enseja a possibilidade
de a mera insolvência embasar a desconsideração.
O Código Civil preceitua que o “desvio de
finalidade é a utilização dolosa da pessoa jurídica com o
propósito de lesar credores e para a prática de atos
ilícitos de qualquer natureza” (art.50, §1º), de modo que
eventual encerramento irregular da empresa não conduz à
desconsideração; não, sem a descrição de outras
circunstâncias que apontem para a utilização fraudulenta
da pessoa jurídica.
Nesse sentido, os precedentes abaixo da Corte
Superior:

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


DIREITO CIVIL. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE
JURÍDICA. INVIABILIDADE. INTELIGÊNCIA DO ART. 50
DO CC/2002. APLICAÇÃO DA TEORIA MAIOR.
INEXISTÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE DESVIO DE
FINALIDADE OU DE CONFUSÃO PATRIMONIAL. AGRAVO
NÃO PROVIDO.
1. Em se tratando de relações jurídicas de
natureza civil-empresarial, o legislador pátrio,
no art. 50 do CC de 2002, adotou a teoria maior
da desconsideração, que exige a demonstração da
ocorrência de elemento objetivo relativo a
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qualquer um dos requisitos previstos na norma,


caracterizadores de abuso da personalidade
jurídica, como excesso de mandato, demonstração
do desvio de finalidade (ato intencional dos
sócios em fraudar terceiros com o uso abusivo da
personalidade jurídica) ou a demonstração de
confusão patrimonial (caracterizada pela
inexistência, no campo dos fatos, de separação
patrimonial entre o patrimônio da pessoa
jurídica e dos sócios ou, ainda, dos haveres de
diversas pessoas jurídicas).
2. A mera inexistência de bens penhoráveis ou
eventual encerramento irregular das atividades
não ensejam a desconsideração da personalidade
jurídica.
3. Manutenção da decisão monocrática que, ante a
ausência dos requisitos previstos no art. 50 do
CC/2002, afastou a desconsideração da
personalidade jurídica.
4. Agravo interno a que se nega provimento.
(AgInt no AREsp 120.965/SP, Rel. Ministro RAUL
ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 18/05/2017, DJe
01/06/2017)

AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO


NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. ARTIGO 50 DO
CC. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE
JURÍDICA. REQUISITOS. ENCERRAMENTO DAS
ATIVIDADES OU DISSOLUÇÃO IRREGULARES DA
SOCIEDADE. INSUFICIÊNCIA. DESVIO DE FINALIDADE
OU CONFUSÃO PATRIMONIAL. DOLO. NECESSIDADE.
INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA. ACOLHIMENTO.
1. "Tratando-se de regra de exceção, de
restrição ao princípio da autonomia patrimonial
da pessoa jurídica, a interpretação que melhor
se coaduna com o art. 50 do Código Civil
é a que relega sua aplicação a casos
extremos, em que a pessoa jurídica tenha sido
instrumento para fins fraudulentos, configurado
mediante o desvio da finalidade institucional
ou a confusão patrimonial", desse modo, o
"encerramento das atividades ou dissolução,
ainda que irregulares, da sociedade não são
causas, por si só, para a desconsideração da
personalidade jurídica, nos termos do Código
Civil." (EREsp 1.306.553/SC, Relatora
Ministra Maria Isabel Gallotti, Segunda
Seção, julgado em 10/12/2014, DJe
12/12/2014) 2. Agravo interno a que se nega
provimento.(AgInt nos EDcl no AREsp 148.408/SP,
Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA
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TURMA, julgado em 01/12/2016, DJe 02/02/2017)

No caso em exame, em incidente de


desconsideração da personalidade jurídica da empresa
executada, Resulta Inteligência de Negócios Ltda, foram
incluídas no polo passivo da execução as empresas sócias
da Resulta, a saber: MCV Participações Ltda. e RCM
Partners e Participações S.A.
Em decisão anterior, foi julgado procedente
pedido de desconsideração da personalidade jurídica das
empresas MCV Participações Ltda. e RCM Partners
Participações S.A para fins de inclusão também do sócio
Rodrigo Alcântara Lisboa Ferreira, postergando a análise
do pedido quanto ao agravante, uma vez que não estariam
presentes os requisitos para a desconsideração (fls.
1073-1076).
Com relação ao sócio agravante, constou da
respeitável decisão, ora agravada:

“A empresa executada originária Resulta Inteligência


de Negócios Ltda, geridas pelas empresas de qual
Marcos Tadeu Braga Dornelles é um dos sócios foi
encerrada irregularmente em 2014.
Na pesquisa Infoseg verifica-se que Marcos Tadeu
Braga Dornelles em:
- 2010 não recebeu quaisquer valores seja da empresa
executada originária ou mesmo das empresas sócias
executadas MCV Participações Ltda e RCM Partners
Participações S.A (fls. 1145/1151).
- 2011 não recebeu quaisquer valores seja da empresa
executada originária ou mesmo das empresas sócias
executadas MCV Participações Ltda e RCM Partners
Participações S.A (fls. 1152/1157).
- 2012 não recebeu quaisquer valores seja da empresa
executada originária ou mesmo das empresas sócias
executadas MCV Participações Ltda e RCM Partners
Participações S.A (fls. 1158/1162).
- 2013 recebeu da empresa executada originária
Resulta Inteligência de Negócios Ltda a quantia de R$
10.800,00 (fl. 1166), R$ 223,29 da empresa MCV
Participações Ltda e emprestou R$ 300.000,00 a
empresa Resulta Inteligência de Negócios Ltda (fls.
1163/1171).
- 2014 recebeu da empresa executada originária
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Resulta Inteligência de Negócios Ltda a quantia de R$


182.666,14 (fl. 1174) e emprestou mais R$ 566.594,24
a empresa executada Resulta Inteligência de Negócios
Ltda (fls. 1172/1180).
Portanto, por mais que o sócio Marcos Tadeu Braga
Dornelles não tenha recebido todos os valores
emprestados a empresa executada originária Resulta
Inteligência de Negócios Ltda, ele recebeu haveres da
empresa executada originária quando esta deveria
estar adimplidos os seus credores terceiros.
Com a documentação apresentada pelas partes, a
expedição de mandado de constatação de operabilidade
da empresa executada, combinada com as pesquisas
Bacen-Jud, Infojud, Renajud, sítio eletrônico dos
registradores e expedição de ofícios as operadoras de
cartões de crédito, verifica-se a ocorrência de
confusão patrimonial com o desvio dos ativos da
empresa executada ao patrimônio de seus sócios de
modo que, nos termos do art. 50 do Código Civil,
defiro a desconsideração da empresa executada” (fls.
31-32).

Todavia, em que pese o entendimento do d.


magistrado singular, com relação ao sócio agravante não
houve comprovação de abuso da personalidade jurídica, com
o desvio de finalidade ou a confusão patrimonial, de sorte
a autorizar o acolhimento do pedido de desconsideração.
E a inexistência de bens da empresa
executada, assim como daquelas atingidas pela
desconsideração, por si só, não autoriza o acolhimento do
pedido.
No presente caso, os mútuos realizados pelo
agravante à empresa executada e o pagamento de parte dele
não demonstram manipulação fraudulenta da pessoa jurídica,
de modo a autorizar a reclamada desconsideração.
Os documentos juntados não apontam para
poder de administração do sócio recorrente ou que tenha
ele sido beneficiado direta ou indiretamente por abuso.
Não se pode falar em desvio de patrimônio
pelo pagamento de mútuo; valendo observar que não houve
aumento patrimonial do agravante, decorrente da referida
transferência de valor muito inferior ao empréstimo
realizado. Constatou-se, sim, prejuízo com os empréstimos
efetivados.
As declarações de imposto de renda juntadas
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comprovam os empréstimos realizados pelo agravante e a


prévia origem dos valores já constantes de declaração
anterior à sua entrada na sociedade.
Vê-se que a declaração de fls. 1161 (autos
do processo de origem) já apontava em 2012 a quantia de
R$737.895,08 junto ao Banco Itaú.
A análise da declaração de bens, aliada aos
rendimentos percebidos pelo recorrente, corroboram a
regularidade da origem dos valores emprestados para a
empresa executada.
A agravada, às fls. 1593-1594 (autos do
processo de origem), nada aponta de concreto na conduta do
agravante, de modo a justificar a sua inclusão no polo
passivo da relação processual, limitando-se a sustentar o
encerramento irregular da empresa executada e o
esvaziamento de seu patrimônio.
Nesse contexto, de rigor a reforma da
respeitável decisão agravada.
Diante do exposto, dá-se provimento para
reformar a r.decisão recorrida, a fim de rejeitar o pedido
de inclusão do sócio Marcos Tadeu Braga Dornelles no polo
passivo.

ANA DE LOURDES COUTINHO SILVA DA FONSECA


Relatora
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VOTO Nº :45005
Agravo de Instrumento Nº 2222752-84.2019.8.26.0000
COMARCA: São Paulo
Agravante: MARCOS TADEU BRAGA DORNELLES
Agravado: MARIA DE FÁTIMA NAZARÉ CABRAL – EPP
Interessado: RESULTA INTELIGENCIA DE NEGÓCIOs LTDA

DECLARAÇÃO DE VOTO VENCIDO


Ousei divergir da Douta maioria, por
entender que deve ser mantida a decisão que deferiu o
pedido de desconsideração da personalidade jurídica da
empresa Resulta Inteligência de Negócios Ltda, estendendo
os efeitos da execução ao sócio das empresas executadas
MCV Participações Ltda e RCM Partners Participações S/A,
Sr. Marcos Tadeu Braga Dornelles, que passa a fazer parte
do polo passivo da ação.

Analisando os documentos anexados ao


incidente, tem-se que o próprio requerido-agravante, sócio
das empresas MCV Participações Ltda e RCM Partners
Participações S/A, que são empresas sócias da empresa
Resulta Inteligência, reconhece que houve irregular
dissolução da empresa executada, o que permite juntamente
com outras informações, caracterizar a configuração das
hipóteses descritas no artigo 50 do Código Civil a
justificar a sua inclusã no polo passivo da ação.

A teoria da desconsideração da pessoa


jurídica permite, conforme preleciona o Professor Silvio
Rodrigues, que o juiz erga “o véu da pessoa jurídica, para
verificar o jogo de interesses que se estabeleceu em seu
interior, com o escopo de evitar o abuso e a fraude que
poderiam ferir os direitos de terceiros e o fisco. Assim
sendo, quando se recorre à ficção da pessoa jurídica para
enganar credores, para fugir à incidência da lei ou para
proteger um ato desonesto, deve o juiz esquecer a idéia da
personalidade jurídica para considerar os seus componentes
como pessoas físicas e impedir que através do subterfúgio
prevaleça o ato fraudulento” (in Curso de Direito Civil,
v.1 Parte Geral, Ed. Saraiva, 25ª edição, p.74
grifei).

Cabe ressaltar que artigo 50 do atual


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Código Civil dispõe que 'em caso de abuso da


personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio
de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o
juiz decidir, a requerimento da parte, ou do
Ministério Público quando lhe couber intervir no
processo, que os efeitos de certas e determinadas
relações de obrigações sejam estendidos aos bens
particulares dos administradores ou sócios da
pessoa jurídica'.

Vale assinalar, a título de


ilustração, que o Código de Defesa do Consumidor
também sinaliza no mesmo sentido, dando ao juiz a
possibilidade de desconsiderar a personalidade
jurídica da sociedade quando em detrimento do
consumidor houver abuso de direito, excesso de
poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou
violação dos estatutos ou contrato social.

O artigo 28 do Código de Defesa do


Consumidor dispõe que a desconsideração também será
efetivada quando houver falência, estado de
insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa
jurídica provocados por má administração.

Cumpre esclarecer, que embora a


desconsideração da personalidade jurídica consista em um
meio eficaz a coibir o comportamento malicioso dos sócios
da empresa, de modo a preservar interesses de seus
credores e trazer estabilidade às relações comerciais,
deve ser aplicada com cautela, observadas as
particularidades de cada caso.

O incidente de desconsideração, previsto no


art. 133, do Código de Processo Civil, será instaurado á
pedido da parte, observados os pressupostos previstos em
lei. Esses pressupostos são os fundamentos do pedido para
ensejar a instauração do incidente.

No caso, tais pressupostos foram devidamente


indicados pela exequente-agravada em seu pedido,
observando-se o que dispõe o artigo 134, § 4º, do Código
de Processo Civil, combinado com o artigo 50 do Código
Civil, havendo indícios da dissolução irregular da
empresa, confusão patrimonial e desvio de finalidade.

Analisando o feito, observa-se que apesar do


agravante afirmar que não possui qualquer poder de decisão
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junto às empresas MCV Participações e RCM Partners


Participações, que são sócias da empresa executada Resulta
Inteligência de Negócios, e que foi enganado pelos demais
sócios, sendo induzido a investir nas empresas, tem-se que
o mesmo investiu no negócio valor próximo a R$ 600.000,00,
e conforme pesquisa efetivada junto ao sistema Infoseg
(fls.1166), recebeu da empresa executada em 2013, valor de
R$ 10.800,00 e R$ 223,29, da empresa sócia MCV
Participações.

Ademais, consta nesta mesma pesquisa, que


emprestou R$ 300.000,00, à empresa executada
(fls.1163/1171), sendo que no ano seguinte, houve
dissolução irregular de suas atividades, fato confirmado
pelo mesmo.

Vale frisar, que mesmo com a notícia do


encerramento irregular da empresa executada, no ano de
2014, recebeu da mesma o valor de R$ 182.666,14 (fls.1174)
e efetuou mais um empréstimo de R$ 566.594,24
(fls.1172/1180), porém, realizadas diligências para
localização de bens em nome da executada, nada foi
encontrado em suas contas bancárias, o que configura a
confusão patrimonial e o desvio de finalidade, com o único
intuito de burlar os credores.

É evidente o estado de insolvência da


empresa executada, pois não pagou o débito, e tampouco
foram localizados quaisquer bens passíveis e
desembaraçados a serem penhorados, sendo que nem mesmo foi
localizada no endereço que declara ter praticado suas
atividades, concluindo-se que há abuso da personalidade e
confusão patrimonial.

Sendo o agravante pessoa física e o único


sócio-titular da empresa executada ainda não alcançado
pela desconsideração, é cabível o alcance do patrimônio,
para saldar débito em aberto junto aos credores.

Desta forma, para fins de cumprimento de


obrigações, seus respectivos patrimônios também se
confundem, respondendo indistinta pelas dívidas de ambos.

Nesse sentido:

Agravo de instrumento Ação de cobrança


Contrato de prestação de serviços - Cumprimento de
sentença Deferimento da desconsideração da personalidade
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jurídica da executada Inclusão do sócio da devedora


Decisão mantida. Caracterizada, em tese, a hipótese
prevista no art. 50 do CC, e não localizados bens para
penhora, é possível ao credor pleitear a desconsideração
da personalidade jurídica, em busca da responsabilização
patrimonial de seus sócios (art. 790, II, do CPC/2015;
art. 592, II, do CPC/1973), mas com a citação deles para o
processo de execução (art. 135 do CPC/2015). Além disso, a
impugnação é o instrumento processual de que dispõe o
sócio da executada para defender-se da execução de
sentença contra ele em curso. Nela, podem alegar as
hipóteses previstas no art. 475-L do CPC/1973 (art. 525,
caput, § 1º, do CPC/2015), incluída sua ilegitimidade para
ser parte no processo, ao que equivale arguir a
inocorrência de fato caracterizador da viabilidade da
desconsideração da personalidade jurídica (art. 475-L, IV,
do CPC/1973; art. 525, § 1º, II, do CPC/2015). Agravo
desprovido. (Agr. nº 2078903-88.2018.8.26.0000; Relator
Lino Machado; julgamento em 20/06/2018).

De modo que os elementos constantes dos


autos autorizam a desconsideração da personalidade
jurídica, uma vez que está comprovada a conduta abusiva da
empresa executada sem reservar qualquer patrimônio para
saldar as dívidas em aberto, evidenciando também a conduta
irregular de seu sócio que deverá responder pela dívida
contraída pela empresa.

Assim sendo, para a devida segurança do


Juízo, e para que não se perpetue a dívida, reconhecendo
que está a possibilitar a fraude contra credores, é de se
manter a decisão agravada para determinar o avanço sobre
os bens do sócio Marcos Tadeu Braga Dornelles, para
satisfação da dívida tal como determinado.

Ante o exposto, pelo meu voto, negaria


provimento ao recurso.

HERALDO DE OLIVEIRA
2º Dsembargador
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Este documento é cópia do original que recebeu as seguintes assinaturas digitais:

Pg. inicial Pg. final Categoria Nome do assinante Confirmação


1 9 Acórdãos ANA DE LOURDES COUTINHO SILVA DA F578BF7
Eletrônicos FONSECA
10 12 Declarações de HERALDO DE OLIVEIRA SILVA F60CCCA
Votos

Para conferir o original acesse o site:


https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informando o processo
2222752-84.2019.8.26.0000 e o código de confirmação da tabela acima.

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