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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2019.0001009210

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de


Instrumento nº 2205924-13.2019.8.26.0000, da Comarca de
São Paulo, em que é agravante ARALPLAS LTDA, são agravados
NEW ELITE COMERCIAL ELÉTRICA E CONSTRUÇÃO LTDA - EPP,
MARIA BATISTA PEREIRA e CAROLINA PEREIRA BISPO DE
OLIVEIRA.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 13ª Câmara de


Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo,
proferir a seguinte decisão: "Por maioria de votos,
negaram provimento ao recurso, vencido o 2º Desembargador
que declara voto. " de conformidade com o voto do Relator,
que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos.


Desembargadores NELSON JORGE JÚNIOR (Presidente sem voto),
HERALDO DE OLIVEIRA E FRANCISCO GIAQUINTO.

São Paulo, 29 de novembro de 2019.

ANA DE LOURDES COUTINHO SILVA DA FONSECA


Relatora
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

VOTO Nº: 29316


AGRV.Nº: 2205924-13.2019.8.26.0000
COMARCA: SÃO PAULO
AGTE.: ARALPAS LTDA
AGDO.: MARIA BATISTA PEREIRA E OUTROS

AGRAVO DE INSTRUMENTO - DESCONSIDERAÇÃO DA


PERSONALIDADE JURÍDICA Pretensão de reforma da r.
decisão que rejeitou incidente de desconsideração da
personalidade jurídica Descabimento Hipótese em que não
estão preenchidos os requisitos legais que autorizariam a
desconsideração da personalidade jurídica Dissolução
irregular que não é motivo suficiente para o acolhimento do
pedido de desconsideração (CPC, art. 134, §4º) - RECURSO
DESPROVIDO.

Cuida-se de recurso de agravo de instrumento


interposto contra respeitável decisão que rejeitou
incidente de desconsideração da personalidade jurídica.
Sustenta a recorrente, em apertada síntese, que
ficou evidenciada a sucessão empresarial, dado o
“funcionamento do estabelecimento desde o encerramento das
atividades da Executada ELITE de forma irregular no ano de
2016, tendo a NEW ELITE prosseguido nos negócios sociais
da ré pouquíssimos meses depois, embora com razão social e
CNPJ diferentes, no mesmo segmento (comércio varejista de
materiais elétricos), mesmo telefone de contato (nº. 11 -
3799-1999), local muito próximo do anterior endereço no
bairro do Butantã, apesar de haver indícios nos autos de
que a ré ocupou o mesmo endereço e com o mesmo nome
comercial diferenciado apenas pela inclusão da expressão
'NEW' antes do nome ELITE (fls. 27)” (fls. 11).
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Recurso bem processado, com resposta.


É o relatório.
O recurso não comporta provimento.
Com efeito, a desconsideração da personalidade
jurídica, derivada da disregard doctrine, consiste no
afastamento temporário da personalidade jurídica da
sociedade empresarial, a fim de permitir, em caso de abuso
ou de manipulação fraudulenta, que o credor lesado
satisfaça, com o patrimônio pessoal dos sócios da empresa,
a obrigação não cumprida.
Na lição de Fábio Ulhoa Coelho, a
desconsideração da personalidade jurídica da empresa
possibilita ao juiz “decretar a suspensão episódica da
eficácia do ato constitutivo da pessoa jurídica, se
verificar que foi ela utilizada como instrumento para a
realização de fraude ou abuso de direito” (in
“Desconsideração da Personalidade Jurídica”, 1989, São
Paulo, Ed. RT, p. 54).
Para tanto, são exigidos requisitos cumulativos:
(i) a inadimplência da pessoa jurídica (insolvência), (ii)
o requerimento da parte interessada ou do Ministério
Público e (iii) o abuso da personalidade jurídica
(caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão
patrimonial) ou a sua manipulação fraudulenta.
A esse respeito, dispõe o artigo 50 do Código
Civil: “Em caso de abuso da personalidade jurídica,
caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão
patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do
Ministério Público quando lhe couber intervir no processo,
desconsiderá-la para que os efeitos de certas e
determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos
bens particulares de administradores ou de sócios da
pessoa jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo
abuso”.
Adotou o Código a teoria maior da
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desconsideração da personalidade jurídica, que exige a


presença cumulativa dos três requisitos para a
desconsideração, sendo imprescindível o abuso da
personalidade ou a manipulação fraudulenta, em oposição à
legislação consumerista e extravagante, alicerçada na
teoria menor da desconsideração da personalidade jurídica,
que dispensa o abuso e a fraude e enseja a possibilidade
de a mera insolvência embasar a desconsideração.
No caso em apreço, não há elementos de convicção
que apontem para a existência de indícios mínimos de abuso
da personalidade jurídica, para o desvio de finalidade ou
para a confusão patrimonial, de sorte a autorizar o
acolhimento do pedido de desconsideração.
Cabe ressaltar que a aquisição do ponto
comercial, bem como a utilização de nome semelhante da
empresa executada, não demonstra, de forma inequívoca, a
manipulação fraudulenta da personalidade jurídica da
empresa executada.
Nesse sentido, os precedentes abaixo da Corte
Superior:

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


DIREITO CIVIL. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE
JURÍDICA. INVIABILIDADE. INTELIGÊNCIA DO ART. 50 DO
CC/2002. APLICAÇÃO DA TEORIA MAIOR. INEXISTÊNCIA DE
COMPROVAÇÃO DE DESVIO DE FINALIDADE OU DE CONFUSÃO
PATRIMONIAL. AGRAVO NÃO PROVIDO.
1. Em se tratando de relações jurídicas de natureza
civil-empresarial, o legislador pátrio, no art. 50
do CC de 2002, adotou a teoria maior da
desconsideração, que exige a demonstração da
ocorrência de elemento objetivo relativo a qualquer
um dos requisitos previstos na norma,
caracterizadores de abuso da personalidade jurídica,
como excesso de mandato, demonstração do desvio de
finalidade (ato intencional dos sócios em fraudar
terceiros com o uso abusivo da personalidade
jurídica) ou a demonstração de confusão patrimonial
(caracterizada pela inexistência, no campo dos
fatos, de separação patrimonial entre o patrimônio
da pessoa jurídica e dos sócios ou, ainda, dos
haveres de diversas pessoas jurídicas).
2. A mera inexistência de bens penhoráveis ou
eventual encerramento irregular das atividades não
ensejam a desconsideração da personalidade jurídica.
3. Manutenção da decisão monocrática que, ante a
ausência dos requisitos previstos no art. 50 do
CC/2002, afastou a desconsideração da personalidade
jurídica.
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4. Agravo interno a que se nega provimento.


(AgInt no AREsp 120.965/SP, Rel. Ministro RAUL
ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 18/05/2017, DJe
01/06/2017).

AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO


AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. ARTIGO 50 DO CC.
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA.
REQUISITOS. ENCERRAMENTO DAS ATIVIDADES OU
DISSOLUÇÃO IRREGULARES DA SOCIEDADE.
INSUFICIÊNCIA. DESVIO DE FINALIDADE OU CONFUSÃO
PATRIMONIAL. DOLO. NECESSIDADE. INTERPRETAÇÃO
RESTRITIVA. ACOLHIMENTO.
1. "Tratando-se de regra de exceção, de restrição
ao princípio da autonomia patrimonial da pessoa
jurídica, a interpretação que melhor se coaduna
com o art. 50 do Código Civil é a que relega
sua aplicação a casos extremos, em que a pessoa
jurídica tenha sido instrumento para fins
fraudulentos, configurado mediante o desvio da
finalidade institucional ou a confusão
patrimonial", desse modo, o "encerramento das
atividades ou dissolução, ainda que irregulares, da
sociedade não são causas, por si só, para a
desconsideração da personalidade jurídica, nos
termos do Código Civil." (EREsp 1.306.553/SC,
Relatora Ministra Maria Isabel Gallotti, Segunda
Seção, julgado em 10/12/2014, DJe 12/12/2014) 2.
Agravo interno a que se nega provimento.(AgInt nos
EDcl no AREsp 148.408/SP, Rel. Ministra MARIA ISABEL
GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em 01/12/2016, DJe
02/02/2017).

A inexistência de bens, por si só, também não


autoriza a desconsideração da personalidade jurídica da
empresa.
Como bem decidiu o d. juiz singular:
“O fato do sócio Ronaldo Andrade Brul ter adquirido o
ponto comercial da ré-executada ELITE ELETRICIDADE
TECNICA LTDA, da NEW ELITE utilizar o mesmo número de
telefone da antiga ELITE LTDA, e da sócia majoritária
da atual pessoa jurídica já ter trabalhado como
empregada da ELITE LTDA, não comprova tenha ocorrido
a alegada confusão patrimonial, a fim de justificar a
pretendida desconsideração da personalidade jurídica.
Isso porque, não resta provado nos autos tenham os
sócios de empresa executada abusado da personalidade
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jurídica, desviando a sua personalidade ou incorrendo


em confusão patrimonial” (fls. 59-60; destacamos).

Nesse contexto, ausentes mínimos indícios da


existência de utilização fraudulenta da pessoa jurídica
para a ocultação de patrimônio, não é cabível a
desconsideração da personalidade jurídica, conforme
julgados deste Egrégio Tribunal de Justiça:

EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL DESCONSIDERAÇÃO


DA PERSONALIDADE JURÍDICA Decisão agravada que
indeferiu a instauração do incidente de
desconsideração da personalidade jurídica Medida
excepcional Ausência de esgotamento dos meios para
localização de bens da executada Pleito de
desconsideração que se mostra prematuro Recurso
não provido.
(TJSP. Agravo de Instrumento nº
2242868-82.2017.8.26.0000, Rel.Des.Roberto Mac
Cracken, 22ª Câmara de Direito Privado,
j.15/02/2018).

Cumprimento de sentença. Pretensão de


desconsideração inversa da personalidade jurídica.
Inadmissibilidade. Em análise perfunctória, não se
vislumbra abuso de personalidade, configurado no
desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial,
conforme disposto no artigo 50 do Código Civil.
Requisitos para o acolhimento do pedido ausentes.
Agravo desprovido.
(TJSP. Agravo de Instrumento nº
2177648-40.2017.8.26.0000, Rel.Des.Natan Zelinschi
de Arruda, 4ª Câmara de Direito Privado,
j.08/02/2018).

MONITÓRIA - Decisão que indeferiu pedido de


desconsideração de personalidade jurídica Como, na
espécie: (a) a prova produzida pela parte agravante
é insuficiente, como exigido pelo art. 134, § 4º, do
CPC/2015, e art. 50, do CC, aplicáveis à espécie,
para o reconhecimento de atos de abuso da
personalidade jurídica, caracterizados pelo desvio
de finalidade e a confusão patrimonial, porquanto
sequer alegada esta ocorrência no pedido de
instauração do incidente, visto que limitada a
arguição de não localização da agravada, em situação
reveladora de encerramento de atividades de forma
irregular, (b) de rigor, o indeferimento do pedido
de instauração de incidente de desconsideração da
personalidade jurídica, previsto no art. 135, do
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CPC/2015, (c) impondo-se, em consequência, a


manutenção da r. decisão agravada. Recurso
desprovido
(TJSP. Agravo de Instrumento nº
2244741-20.2017.8.26.0000, Rel.Des.Rebello Pinho,
20ª Câmara de Direito Privado, j.05/02/2018).

Diante de todo o exposto, nega-se provimento ao


recurso.

ANA DE LOURDES COUTINHO SILVA DA FONSECA


Relatora
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Voto nº 44938
Agravo de Instrumento nº 2205924-13.2019.8.26.0000
Comarca: São Paulo
Agravante: ARALPLAS LTDA
Agravados: New Elite Comercial Elétrica E Construção LTDA - EPP,
Maria Batista Pereira e Carolina Pereira Bispo de Oliveira
Interessado: Elite Eletricidade Técnica Ltda

DECLARAÇÃO DE VOTO VENCIDO

Ousei divergir da D. maioria, por entender


que deve ser reformada a r. decisão de fls.58/62, que
indeferiu o pedido de desconsideração da personalidade
jurídica da empresa ELITE ELETRICIDADE TÉCNICA, devendo-se
estender os efeitos da execução à empresa NEW ELITE
COMERCIAL ELÉTRICA E CONSTRUÇÃO LTDA, MARIA BATISTA
PEREIRA e CAROLINA BISPO DE OLIVEIRA, que devem integrar o
polo passivo da ação.

Em que pese o enorme esforço da empresa New


Elite Comercial Elétrica, em demonstar que não faz parte
de qualquer grupo econômico e que apenas adquiriu o ponto
comercial da empresa executada e que inexistem atos
abusivos a caracterizar o desvio de finanlidade, entendo
que as provas produzidas autorizam a desconsideração da
personalidade jurídica da empresa executada.

Isso porque, conforme certidão de Oficial de


Justiça de fls.68, observa-se que ao diligenciar à Rua
Alvarenga, nº 1601, bairro do Butantã cidade de São
Paulo, para citar a empresa executada Elite Eletricidade,
foi recebido pelo Sr. Ronaldo Andrade Breil, que informou
que adquiriu o ponto comercial da executada e abriu a
empresa New Elite Comercial Elétrica, em menos de 03
meses, o que confirma o encerramento irregular da empresa,
mesmo constando como ativa junto a Jucesp.
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Ademais, a mencionada empresa New Elite


exerce a mesma atividade empresarial da empresa executada,
conforme ficha Jucesp de fls.69/70, e possui como sócia a
Sra. Mara Claudia Feria Rios Terassi, que já exerceu o
cargo de gerente na empresa executada, o que leva a crer
que existe confusão patrimonial entre as empresas, valendo
mencionar que houve localização de qualquer bem em nome da
executada, após inúmeras diligências, o que confirma o
encerramento irregular de suas atividades de forma
irregular desde o ano de 2016.

Outro ponto importante a ser mencionado e


que caracteriza a confusão patrimonial entre as empresas é
que a empresa New Elite utiliza do mesmo número de
telefone que pertencia à empresa executada (11) 3799-1999.

Assim, entendo que restaram configuradas as


hipóteses descritas no artigo 50 do Código Civil a
justificar a sua inclusão e de suas sócias no polo passivo
da ação.

A teoria da desconsideração da pessoa


jurídica permite, conforme preleciona o Professor Silvio
Rodrigues, que o juiz erga “o véu da pessoa jurídica, para
verificar o jogo de interesses que se estabeleceu em seu
interior, com o escopo de evitar o abuso e a fraude que
poderiam ferir os direitos de terceiros e o fisco. Assim
sendo, quando se recorre à ficção da pessoa jurídica para
enganar credores, para fugir à incidência da lei ou para
proteger um ato desonesto, deve o juiz esquecer a idéia da
personalidade jurídica para considerar os seus componentes
como pessoas físicas e impedir que através do subterfúgio
prevaleça o ato fraudulento” (in Curso de Direito Civil,
v.1 Parte Geral, Ed. Saraiva, 25ª edição, p.74
grifei).

Cabe ressaltar que artigo 50 do atual


Código Civil dispõe que 'em caso de abuso da
personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio
de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o
juiz decidir, a requerimento da parte, ou do
Ministério Público quando lhe couber intervir no
processo, que os efeitos de certas e determinadas
relações de obrigações sejam estendidos aos bens
particulares dos administradores ou sócios da
pessoa jurídica'.

Vale assinalar, a título de


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ilustração, que o Código de Defesa do Consumidor


também sinaliza no mesmo sentido, dando ao juiz a
possibilidade de desconsiderar a personalidade
jurídica da sociedade quando em detrimento do
consumidor houver abuso de direito, excesso de
poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou
violação dos estatutos ou contrato social.

O artigo 28 do Código de Defesa do


Consumidor dispõe que a desconsideração também será
efetivada quando houver falência, estado de
insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa
jurídica provocados por má administração.

Cumpre esclarecer, que embora a


desconsideração da personalidade jurídica consista em um
meio eficaz a coibir o comportamento malicioso dos sócios
da empresa, de modo a preservar interesses de seus
credores e trazer estabilidade às relações comerciais,
deve ser aplicada com cautela, observadas as
particularidades de cada caso.

O incidente de desconsideração, previsto no


art. 133, do Código de Processo Civil, será instaurado á
pedido da parte, observados os pressupostos previstos em
lei. Esses pressupostos são os fundamentos do pedido para
ensejar a instauração do incidente.

No caso, tais pressupostos foram devidamente


indicados pela exequente-agravante em seu pedido,
observando-se o que dispõe o artigo 134, § 4º, do Código
de Processo Civil, combinado com o artigo 50 do Código
Civil, havendo indícios da dissolução da empresa, confusão
patrimonial e desvio de finalidade.

Como já ponderado, foram realizadas diversas


diligências para a localização de bens passíveis de
constrição em nome da executada e nada foi localizado, o
que indica o esvaziamento de patrimônio em prol da empresa
New Elite e de seus sócios.

É evidente o estado de insolvência da


empresa executada, pois não pagou o débito, e tampouco
foram localizados quaisquer bens passíveis e
desembaraçados a serem penhorados, concluindo-se que há
abuso da personalidade e confusão patrimonial.

Sendo as agravadas pessoa jurídica e física,


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cabível a desconsideração inversa pleiteada, visando o


alcance de seus patrimônios, para saldar débito em aberto
junto aos credores.

Desta forma, para fins de cumprimento de


obrigações, seus respectivos patrimônios também se
confundem, respondendo indistinta pelas dívidas de ambos.

Nesse sentido:

Agravo de instrumento Ação de cobrança


Contrato de prestação de serviços - Cumprimento de
sentença Deferimento da desconsideração da personalidade
jurídica da executada Inclusão do sócio da devedora
Decisão mantida. Caracterizada, em tese, a hipótese
prevista no art. 50 do CC, e não localizados bens para
penhora, é possível ao credor pleitear a desconsideração
da personalidade jurídica, em busca da responsabilização
patrimonial de seus sócios (art. 790, II, do CPC/2015;
art. 592, II, do CPC/1973), mas com a citação deles para o
processo de execução (art. 135 do CPC/2015). Além disso, a
impugnação é o instrumento processual de que dispõe o
sócio da executada para defender-se da execução de
sentença contra ele em curso. Nela, podem alegar as
hipóteses previstas no art. 475-L do CPC/1973 (art. 525,
caput, § 1º, do CPC/2015), incluída sua ilegitimidade para
ser parte no processo, ao que equivale arguir a
inocorrência de fato caracterizador da viabilidade da
desconsideração da personalidade jurídica (art. 475-L, IV,
do CPC/1973; art. 525, § 1º, II, do CPC/2015). Agravo
desprovido. (Agr. nº 2078903-88.2018.8.26.0000; Relator
Lino Machado; julgamento em 20/06/2018).

De modo que os elementos constantes dos


autos autorizam a desconsideração da personalidade
jurídica, uma vez que está comprovada a conduta abusiva da
empresa executada sem reservar qualquer patrimônio para
saldar as dívidas em aberto, evidenciando também a conduta
irregular dos agravados que agiram com claro intuito de
fraudar os credores.

Assim sendo, para a devida segurança do


Juízo, e para que não se perpetue a dívida, reconhecendo
que está a possibilitar a fraude contra credores, é de se
reformar a decisão agravada para determinar o avanço sobre
os bens da empresa agravante e de seus sócios, para
satisfação da dívida.
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Ante o exposto, pelo meu voto, dava


provimento ao recurso.

HERALDO DE OLIVEIRA
2º Desembargador
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Este documento é cópia do original que recebeu as seguintes assinaturas digitais:

Pg. inicial Pg. final Categoria Nome do assinante Confirmação


1 7 Acórdãos ANA DE LOURDES COUTINHO SILVA DA F32E258
Eletrônicos FONSECA
8 12 Declarações de HERALDO DE OLIVEIRA SILVA F4C89B3
Votos

Para conferir o original acesse o site:


https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informando o processo
2205924-13.2019.8.26.0000 e o código de confirmação da tabela acima.

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