Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ENSAIO
Renato Dagnino
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
From the Fetishism of Organization and Technology to Technological Mimicry: the Labyrinths of
Worker-Run Factories
Abstract: This paper examines the phenomenon of worker ‘recovered’ factories, self-management and social struggles in contemporary
capitalism. It begins with a brief historical retrospect of these issues and descriptively locates the recovered companies. The study
focuses on an analysis of various forms of worker control on the instruments of labor, and the opportunity that they present to make
autonomous the collective practices of class organization. One of the innovative characteristics of the article is the use of the field of the
Social Studies of Science and Technology to analyze these new ‘social relations’, forms of control and organizational practices. The
essay combines the reflections of three researchers concerned with the current and previous experiences of workers, where collectivism
and egalitarianism are bases for self-management of production and social life.
Key words: history of self-management, recovered factories, technology, autonomy.
Nesse período, e durante todo o Século 19, as proposta associativa passou a desempenhar o papel
associações e cooperativas figuraram entre as prin- de preparar os trabalhadores para a vida coletiva, le-
cipais formas de organização e de resistência dos vando-os a assumir a produção das condições materi-
trabalhadores ao processo de expansão mundial do ais de existência. Essa estratégia atinge um ponto cul-
capitalismo. De fato, até a Comuna de Paris, em minante na Comuna de Paris (1871), quando a associ-
1871, a associação foi o princípio articulador de rela- ação projetou-se como forma organizativa para o con-
ções sociais igualitárias, coletivistas e democráticas junto da sociedade, pelo menos naqueles poucos dias
dos trabalhadores. Princípio este que se espalhou pelos em que se tentou ‘tomar o céu de assalto’.
vários dos países que então formavam a Europa. A derrota da Comuna e a diáspora operária abri-
Esse princípio articulador associativista assegu- ram o caminho para um deslocamento ideológico e
rava, por um lado, o caráter orgânico da instituição político que se verificou no seio do movimento socia-
operária e, por outro, a efeti- lista internacional. Se a asso-
vação de laços de solidarie- ciação dos produtores imedi-
dade com as comunidades de ... a pedagogia das lutas dos atos, forjada por seus própri-
interesse, das quais os traba- os meios, era a condição fun-
lhadores eram também agen- trabalhadores contém sempre damental para a realização
tes ativos. Por isso, ele assu- prática do socialismo, o mas-
miu o que, aos olhos de hoje,
uma dimensão organizativa, sacre da Comuna e a diás-
pode ser entendido como uma unificando os trabalhadores pora dos socialistas franceses
dupla função. A associação abriram o caminho para uma
parecia ‘fundir’ duas funções para a superação da explora- reinterpretação das tarefas
- ou vertentes - que só poste- prementes da classe operá-
riormente foram divididas: a ção e do próprio ria e da estratégia política no
organização para a produção interior da Segunda Interna-
dos meios de vida, especial- assalariamento. cional. A auto-organização
mente através das diversas dos trabalhadores, através do
formas de cooperativismo (no princípio associativo (coope-
início, principalmente, de produção, consumo e cré- rativo) em múltiplos campos da vida social, perde ter-
dito); e a resistência coletiva e política à implantação reno e rivaliza com a tese da necessidade de organi-
do capitalismo que se imiscuía em todas as esferas zação do partido da classe operária, tendo em vista a
da vida social. conquista do poder político (DESROCHE, 1981)
Essas formas associativas de produção, ao substi- No limiar do século 20, o desenvolvimento das
tuírem a competição entre os trabalhadores pela soli- estruturas e das relações sociais de produção capita-
dariedade, e a fragmentação pelo coletivismo, reve- listas passou a dificultar de forma significativa a ex-
lam um processo de auto-organização que era já en- pansão do setor cooperativo de base operária. Coad-
tendido no seu duplo aspecto de meio e de fim. A juvantes nesse processo foram a concentração de
autogestão das suas lutas era compreendida pelos tra- capitais, a expansão dos monopólios e a difusão das
balhadores, então, como indissociável da autogestão novas tecnologias e das novas técnicas de gestão
da produção e da vida social. Por isso a pedagogia das ensejadas pelo capital na fabricação de mercadori-
lutas dos trabalhadores contém sempre uma dimen- as. Isto contribuiu para o abandono das práticas coo-
são organizativa, unificando os trabalhadores para a perativas e do princípio associativo, motivando seu
superação da exploração e do próprio assalariamento. enfraquecimento como objetivo estratégico no interi-
Neste período, a associação, como primeira for- or do movimento operário internacional. Passaram a
ma assumida pela autogestão, era como que o princí- ganhar terreno as formas organizativas inspiradas na
pio e o meio para a superação das relações social-democracia alemã no plano parlamentar e no
concorrenciais e individualizantes do capitalismo no trade-union inglês no campo da regulamentação das
interior das unidades de produção, da sociedade, do condições de trabalho (FARIA, 2005).
Estado. E, também, para além das fronteiras de cada A despeito das implicações políticas dessa virada
país. Não é por acaso, neste aspecto, que anos de- organizativa, os trabalhadores persistem na defesa
pois a primeira forma de organização internacional das formas autônomas de organização das suas lutas
dos trabalhadores recebesse o nome de Associação no interior das unidades produtivas. Conjunturas de
Internacional dos Trabalhadores (BRUHAT, 1952) ruptura revolucionária ou de acirramento das contra-
A partir de então, a autogestão passou a estar pre- dições entre as classes possuem a capacidade de jun-
sente no horizonte da luta de classes, nas organiza- tar, ainda que momentaneamente e com pesos dife-
ções e nos conflitos mediante os quais os trabalhado- rentes, aquelas duas vertentes da prática associativa.
res tentam romper com a disciplina e a fragmentação Diante da fuga dos patrões ou quando estes são
que fundamentam as relações sociais capitalistas. A desalojados do controle das unidades produtivas, os
encadeamentos produtivos, para frente ou para trás, capazes de torná-los ‘competitivos’4. Quem faz re-
que permitam a essas experiências um apartamento comendações dessa natureza entende que só resta
das relações com o mercado ou, pelo menos, um ‘re- às fábricas recuperadas imitar a tecnologia (incluin-
tardamento’ de sua captura pelas cadeias produtivas do aí a organização do processo de trabalho) das
dominadas pelo capital. Amplifica essa tendência um empresas convencionais.
quadro geral que se mantém marcado pelo avanço das Nossa visão se contrapõe à da maioria dos partidá-
forças conservadoras e das políticas de ajuste rios da economia solidária – autores com os quais te-
neoliberal, aplicadas vorazmente nos países periféri- mos dialogado que acreditam que a tecnologia conven-
cos, contra as quais os movimentos sociais mais não cional, engendrada sob a égide das relações sociais de
têm conseguido que impor medidas defensivas. produção capitalistas para atender à lógica de acumula-
As imposições e restrições do Estado em relação ção das grandes empresas, pode ser ‘usada’ sem signi-
à compra de produtos e à contratação de serviços ficativas modificações nos empreendimentos com ca-
das empresas recuperadas pelos trabalhadores, e o racterísticas autogestionárias (NOVAES, 2007b).
estímulo que oferece à aquisição de uma tecnologia Se o debate sobre a economia solidária tem avan-
convencional inadequada (embutida ou não em má- çado significativamente na crítica à organização do
quinas, equipamentos e insumos produtivos), prejudi- processo de trabalho capitalista (orgware), o mesmo
cam a sustentabilidade econômica dos empreendi- não ocorre em relação à tecnologia de tipo hardware.
mentos solidários e a alteração da divisão do traba- De forma geral, uma vez que aqueles autores não
lho capitalista. poderiam ser aqui melhor apresentados, cabe sinteti-
No plano técnico-administrativo interno aos em- zar sua visão dizendo que ela incorpora um elemento
preendimentos, essas imposições dificultam a orien- cognitivo (ou, mais especificamente, tecnocientífico)
tação autogestionária em função da tendência à sua ainda não contemplado. Por um lado, há que se veri-
acomodação às normas e formas usuais previstas nos ficar em que medida as máquinas criadas num con-
manuais e reconhecidas institucionalmente. Práticas texto capitalista, heterogestionário, com o propósito
distópicas e contraproducentes (como a da elabora- de acumular capital, podem ser ‘reprojetadas’ tendo
ção de um ‘plano de negócio’) são freqüentemente em vista a produção de valores de uso, a autogestão
adotadas, muitas vezes com a melhor das intenções, e o desenvolvimento intelectual dos ‘produtores as-
por ONGs e órgãos públicos. sociados’5. Adicionalmente, os pesquisadores e mili-
Tudo isso faz com que, muitas vezes, o subsídio tantes da economia solidária parecem não perceber
governamental especificamente destinado a esses que o conhecimento produzido para a promoção da
empreendimentos (como os de catadores de material heterogestão não pode ser adaptado para outros fins,
reciclável), ou proporcionado aos excluídos mediante cabendo então a necessidade de uma nova rota de
os programas compensatórios que visam à ‘inclusão pesquisa e desenvolvimento de produtos, máquinas e
social’, seja apropriado como trabalho não pago pelos processos adequados à promoção da autogestão.
‘atravessadores’. E, em parte, repassado ao circuito A partir de uma visão crítica sobre a base cognitiva
formal de geração e apropriação de excedente da eco- do modo de produção capitalista, temos explicado o
nomia, o qual não consideraria atrativa a compra dos porquê da persistência do caráter fetichizado da
produtos desses empreendimentos caso aqueles tives- tecnologia nas fábricas recuperadas e, de maneira geral,
sem os encargos sociais e o salário, que a legislação nas experiências no campo da economia solidária.
em vigor prevê, incorporado ao seu preço. Como uma forma de superar essa visão ainda
Aliás, nunca é demais lembrar que as áreas onde dominante, formulamos a proposta da Adequação
se localizam esses empreendimentos só não são ocu- Sociotécnica (AST), que parte do reconhecimento
padas pelas empresas privadas porque sua taxa de da inadequação da tecnologia concebida e aplica-
lucro se situa bem abaixo da média da economia. É da pela e para a empresa capitalista aos princípi-
sua baixa rentabilidade que torna essas áreas passiveis os, valores e interesses do movimento cuja traje-
de serem por eles exploradas. tória aqui mostramos. Baseada nos estudos sobre
No âmbito do campo denominado de economia aprendizagem técnico-econômica latino-america-
solidária, do qual participam no Brasil a maioria das nos, e na visão de autores marxistas contemporâ-
experiências de empresas recuperadas, o debate, neos – que, revisitando o enfoque da construção
sobre o que nos parece ser uma das questões funda- social da tecnologia6, argumentam no sentido con-
mentais, o da sobrevivência dos empreendimentos trário às concepções da neutralidade de ciência e
com características autogestionárias e da constitui- do determinismo tecnológico – a proposta da Ade-
ção de encadeamentos produtivos que permitam seu quação Sociotécnica oferece um instrumental útil
fortalecimento, pouco tem avançado. Quando abor- para a análise e proposição de alternativas ao que
dado, ele é frequentemente ‘encerrado’ com a reco- temos denominado Tecnologia Convencional
mendação de que esses empreendimentos devem (DAGNINO, 2001; DAGNINO; BRANDÃO; NOVAES,
‘modernizar-se’, incorporando as novas tecnologias 2004, NOVAES, 2007b).
ção na forma de propriedade dos meios de produção JR. et al. Tecnologia social – uma estratégia para o
não tem possibilitado, freqüentemente, que se avan- desenvolvimento. Rio de Janeiro: Fundação Banco do
ce até a superação da substância da exploração e da Brasil, 2004. p. 15 a 64.
opressão de classe que são inerentes às relações
sociais de produção capitalistas. DESROCHE, H. Pratique coopérative et parti ouvrier (1876-
Tanto para as fábricas recuperadas como para o 1879). In: ______. Solidatirés ouvrières. Tome I – Sociétaires
conjunto de experiências de economia solidária, a et compagnons dans les associations coopératives (1831-
questão de fundo por nós abordada é a do destino 1900). Paris: Les Editions Ouvrières, 1981, p. 99-123.
das experiências de organização coletiva e
autogestionária, seja de uma fábrica, de uma cidade FAJN, G. et al. Fábricas y empresas recuperadas – protesta
ou um país. Trata-se, enfim, de saber se as experi- social, autogestión y rupturas en la subjetividad. Buenos
ências em vigência podem constituir pontos de apoio Aires: Ediciones del Insituto Movilizador de Fondos
para movimentos emancipatórios de organização da Cooperativos, 2003.
produção dos meios de vida. Se superam o trabalho
assalariado, se dão forma ao trabalho consciente, li- FARIA, M. S. de. ...Se a coisa é por aí, que autogestão é
vre, prazeroso, se aprofundam ou radicalizam a de- essa ...? Um estudo da experiência ‘autogestionária’ dos
mocracia nos locais de trabalho e na sociedade. trabalhadores da Makerli Calçados. Dissertação (Mestrado
em Administração) – Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC), Florianópolis, 1997.
Referências
______. Autogestão, cooperativa, economia solidária:
BERNARDO, J. A autonomia das lutas operárias. In: avatares do trabalho e do capital. Tese (Doutorado em
BRUNO, L.; SACCARDO, C. (Coord.). Organização, Sociologia Política) – UFSC, Florianópolis, 2005.
trabalho e tecnologia. São Paulo: Atlas, 1986.
HOLZMANN, L. Operários sem patrão. Gestão
BRUHAT, J. Histoire du mouvemente ouvrier français. cooperativa e dilemas da democracia. São Carlos: Editora
Tome I – Des orígenes a la revolte des canuts. Paris: da UFSCar, 2001.
Éditions Sociales, 1952.
MEISTER, A. Quelques aspects historiques de
CRUZ, A. A diferença da igualdade. A dinâmica econômica l’associationnisme en France. In.: ______. Vers uni
da economia solidária em quatro cidades do mercosul. Tese sociologie des associations. Paris: Les Editions Ouvrières,
(Doutorado em Economia) – Unicamp, Campinas, 2006. 1972. p. 49-108.
DAGNINO, R. Innovación y desarollo social. Un desafio MOISSONNIER, M. Les canuts: ‘Vivre en travaillant ou
para América Latina. Redes, Buenos Aires, número especial, mourir en combattant’. Paris: Messidor/Éditions Sociales,
p. 107-153, mar. 1998. 1988.
______. Autogestão, adequação sócio-técnica e MORENO, Y.; SANABRIA, W. Las empresas en cogestión
economia solidária, 2001. Disponível em: <www.itcp. y ocupadas em Venezuela, la lucha por el control obrero y
unicamp. br>. Acesso em: 10 fev. 2002. el socialismo. Disponível em: <http://freteco.elmilitante.org/
content/view/24/30/>. Acesso em: jun 2007.
______. A tecnologia social e seus desafios. In:
LASSANCE JR. et al. Tecnologia social – uma estratégia NOVAES, H. T. Quando os patrões destroem máquinas:
para o desenvolvimento. Rio de Janeiro: Fundação Banco o debate em torno das forças produtivas em fábricas
do Brasil, 2004. p. 90-108. recuperadas argentinas e uruguaias. Revista de Ciências
Sociais da Unisinos, São Leopoldo, v. 42, n. 166, jan./
______. Um debate sobre a tecnociência: neutralidade jun. 2005.
da ciência e determinismo tecnológico. Campinas: Editora
da Unicamp, 2007. No prelo ______. A adequação sócio-técnica como insumo para a
recuperação do Complexo Público de Ensino Superior e
______.; NOVAES, H. T. As forças produtivas e a transição Pesquisa: avaliando a relação universidade – fábricas
ao socialismo: contrastando as concepções de Paul Singer recuperadas no Brasil, Argentina e Venezuela. Campinas:
e István Mészáros. Revista Organizações & Democracia, FAPESP, 2006. Relatório de pesquisa
Unesp, Marília, v. 7, p. 60-80, 2007.
______. De tsunami a marola: uma breve história das
______.; BRANDÃO, F. C.; NOVAES, H. T. Sobre o marco fábricas recuperadas na América Latina. Revista Lutas &
analítico conceitual da tecnologia social. In: LASSANCE Resistências, Londrina, n. 2, p. 84-97, 2007a
_______. O Fetiche da tecnologia – a experiência das 7 Sobre este tema, ver Dagnino, Brandão e Novaes (2004),
fábricas recuperadas. São Paulo: Expressão Popular, 2007b. Novaes (2006), relatório de pesquisa (em andamento) sobre
a relação da universidade com as fábricas recuperadas na
______.; DAGNINO, R. O fetiche da tecnologia. Revista Argentina, Brasil e Venezuela.
Organizações & Democracia, Marília, v. 5, n. 2, p. 189-
210, dez. 2004. 8 As sete modalidades são as seguintes relacionadas. 1)
Uso: o simples uso da tecnologia (máquinas, equipamentos,
ODA, N. T. Gestão e trabalho em cooperativas de formas de organização do processo de trabalho etc.) antes
produção: dilemas e alternativas à participação. empregada (no caso de cooperativas que sucederam a
Dissertação (Mestrado em Engenharia) – Universidade de empresas falidas), ou a adoção de tecnologia convencional,
São Paulo (USP), Escola Politécnica, São Paulo, 2001. com a condição de que se altere a forma como se reparte o
excedente gerado, é percebida como suficiente. 2)
RUDE, F. Les revoltes des canuts (novembre 1831 – avril Apropriação: entendida como um processo que tem como
1834). Paris: Fançois Maspero, 1982. condição a propriedade coletiva dos meios de produção
(máquinas, equipamentos), ela implica uma ampliação do
RUGGERI, A.; MARTÍNEZ, C.; TRINCHERO, H. Las conhecimento, por parte do trabalhador, dos aspectos
empresas recuperadas em la Argentina. Buenos Aires: produtivos (fases de produção, cadeia produtiva...),
Facultad de Filosofia y Letras, 2005. gerenciais e de concepção dos produtos e processos, sem
que exista qualquer modificação no uso concreto que deles
TRAGTENBERG, M. Reflexões sobre socialismo. São se faz. 3) Ajuste do processo de trabalho: implica a
Paulo: Moderna, 1986. adaptação da organização do processo trabalho à forma de
propriedade coletiva dos meios de produção (pré-existentes
VIEITEZ, C.; DAL RI, N. Trabalho associado. Rio de ou convencionais), o questionamento da divisão técnica
Janeiro: DP&A, 2001. do trabalho e a adoção progressiva da autogestão. 4)
Revitalização ou repotenciamento das máquinas e
______.; ______. A fábrica recuperada Zanon – Cooperativa equipamentos: significa não só o aumento da vida útil das
Fasinpat. Revista Organizações & Democracia, Marília: máquinas e equipamentos, mas também ajustes,
Editora da Unesp, n. 7, p. 183-196, 2006. recondicionamento e a revitalização do maquinário. Supõe
ainda a fertilização das tecnologias antigas com
componentes novos. 5) Alternativas tecnológicas: implica
Notas a percepção de que as modalidades anteriores, inclusive a
do ajuste do processo de trabalho, não são suficientes
1 Para maiores detalhes sobre estes temas, ver Bernardo (1986) para dar conta das demandas por AST dos
e Tragtenberg (1986). empreendimentos autogestionários, sendo necessário o
emprego de tecnologias alternativas à convencional. A
2 Sobre as fábricas recuperadas na Argentina e no Uruguai, ver atividade decorrente desta modalidade é a busca e seleção
Ruggeri, Martínez e Trinchero. (2005), Fajn et al. (2003), Novaes de tecnologias existentes. 6) Incorporação de conhecimento
(2005),Vieitez e Dal Ri (2006). Para o casoVenezuelano, Moreno científico-tecnológico existente: resulta do esgotamento
e Sanabria (2007). Para o caso brasileiro, ver também Faria do processo sistemático de busca de tecnologias
(1997), Oda; Holzmann;Vieitez, Dal Ri (2001) e Cruz (2006). alternativas e na percepção de que é necessária a
incorporação à produção de conhecimento científico-
3 Ver, por exemplo, Faria (2005), Novaes (2005, 2007a e b). tecnológico existente (intangível, não embutido nos meios
de produção), ou o desenvolvimento, a partir dele, de novos
4 Sobre os limites e a inviabilidade desta ‘estratégia’, ver processos produtivos ou meios de produção, para
Dagnino (1998, 2002, 2004). satisfazer as demandas por AST. Atividades associadas a
esta modalidade são processos de inovação de tipo
5 Em inúmeras fábricas que estivemos, o problema da tecnologia incremental, isolados ou em conjunto com centros de P&D
hardware não aparecia nem para os pesquisadores e ou universidades. 7) Incorporação de conhecimento
raramente para os trabalhadores. Para as entidades de governo científico-tecnológico novo: resulta do esgotamento do
que subvencionam as fábricas recuperadas, há que ‘dar’ ou processo de inovação incremental em função da inexistência
financiar a aquisição da tecnologia mais ‘nova’ do mercado. de conhecimento suscetível de ser incorporado a processos
ou meios de produção para atender às demandas por AST.
6 A AST pode ser entendida como um processo inverso ao da Atividades associadas a esta modalidade são processos
construção sociotécnica, em que um artefato tecnológico de inovação de tipo radical que tendem a demandar o
sofreria um processo de desconstrução e reconstrução a partir concurso de centros de P&D ou universidades e que
de valores e interesses de grupos sociais relevantes, distintos implicam na exploração da fronteira do conhecimento.
daqueles que originalmente participaram de sua construção.
Renato Dagnino
Doutor em Economia pela Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp)
Professor Titular do Depatamento de Política Cientí-
fica e Tecnológica da Unicamp