Você está na página 1de 5

CONTRIBUIÇÃO DISCENTE

ESPETACULARIZAÇÃO
MIDIÁTICA DA POLÍTICA
POR Simonny Santos Barbosa
simonny@gingarara.com.br
Faculdade Sul-Americana –Fasam / Ginga Rara Propaganda

Resumo -O que se pode compreender por meio dos acontecimentos históricos no âmbito político é que espetacularização
sempre esteve relacionada a essa conjuntura. Esse é um cenário que sempre esteve permeado de políticos que utilizam
das representações para angariar votos e assim conquistar a eleição. Essa estratégia foi fortalecida principalmente com a
ambientação midiática, que exerce um papel essencial no cotidiano social, ainda mais, no atual momento, marcado pelo
capitalismo, em que a reprodução das imagens midiáticas e a publicidade possuem alto poder de manipulação sobre
os receptores.

Palavras-chave: Espetacularização. Mídia. Política.

Da semântica (latina), a palavra que utilizam da representação para


espetáculo tem como significado o angariar votos.
que atraí e prende o olhar e atenção. Com extrema facilidade é possível
Além desse conceito, é possível identificar os acontecimentos
encontrar outras acepções como históricos que demonstram o
representação teatral, exibição relacionamento entre o espetáculo e
esportiva, artística, cena ridícula ou o poder político. Dessa forma, setores
escândalo. Sua interpretação designa como a política, que teoricamente
alteração de determinada realidade. seria para defender os anseios sociais
Foi baseado nesse conceito que desvalorizam e acabam gerando uma
o teórico francês, Guy Debord, despolitização.
publicou suas primeiras reflexões a Mais alguns anos de estudo e Debord
cerca da sociedade do espetáculo. considerou ter encontrado o aliado
Nela, estava impressa a marca da ao capitalismo na construção de uma
sociedade contemporânea: a vida sociedade de espetacularização: a
como mercadoria. A ideia de Debord produção midiática. Para ele, a mídia
era provar que a “mercadoria ocupou exerce um papel dominador sobre
totalmente a vida social” (Debord, seus espectadores.
1997, p.30). De fato a mídia possui poder de
Inicialmente, espetacularização manipulação nos receptores, mas
estava voltada para o âmbito não a ponto de ser a responsável por
religioso e econômico, contudo, uma sociedade espetacularizada.
pode-se verificar que o espetáculo Inclusive por que o espetáculo
está presente em outras conjunturas, sempre esteve ligado à política desde
como, por exemplo, a política, que seus primórdios, por volta do século
sempre foi permeada por candidatos V antes de Cristo, na Grécia antiga.

REVISTA PANORAMA

63 edição on line -
numero I
agosto - 2011
CONTRIBUIÇÃO DISCENTE

Devido a essa rápida disseminação poder político que tem forte ligação
de informações, profissionais com com o espetáculo.
diversos interesses, têm utilizado os É importante que o espetáculo
meios de comunicação como canal seja compreendido como um fator
eficiente para atrair o público. inerente a toda a sociedade e por isso,
presente nas instâncias organizativas
A mídia e a política durante o e de práticas sociais, aos quais, estão
espetáculo. inclusos o poder político e a política.
Partindo do pressuposto de Debord,
Quando o teórico francês Guy o pesquisador Roger-Gérard
Debord iniciou sua crítica sobre a Schwartzenberg em seu livro L’État
sociedade do espetáculo, em 1967, Spectacle (1977) aponta que no
ele tinha como objetivo instigar as âmbito da discussão desse assunto
pessoas a travarem uma luta contra na atual conjuntura, o espetáculo
a “perversão da vida moderna que deixou de ser um fator exclusivo
prefere a imagem e a representação societário e se transformou no ‘Estado
ao realismo concreto e natural, a espetáculo’, pois, para ele, devido ao
aparência ao ser, a ilusão à realidade, avanço do mal, além da sociedade
a imobilidade à atividade de pensar, em geral, o próprio Estado passou
e reagir com dinamismo” (BAHIA, a ter relação com o espetáculo e se
José, 2005). converteu em empresa teatral. De
acordo com Schawrtzenberg, “o
Toda a vida das sociedades nas Estado se transforma em “produtor”
quais reinam as condições modernas de espetáculos e a política se faz
de produção se anuncia como uma
imensa acumulação de espetáculos. “encenação”. (Schwartzenberg apud
Tudo o que era diretamente vivido se Rubim, 2001).
esvai na fumaça da representação. Nessa esfera, o espetáculo passa
(DEBORD, 2003, Pag. 8) a ser uma arma eficaz na busca da
conquista ou manutenção do poder
Segundo Debord (2003) a crítica político. Dessa forma, uma nova
contida em sua obra é de caráter dimensão é criada como modo
revolucionário e por isso, é um de sensibilização, convencimento,
conteúdo incomodo, pois, suas sensibilização a pressão reivindicativa
primícias abordam de modo não violenta e não corrupta, para
radical todo e qualquer tipo de encontrar a supremacia política.
imagem que leve o homem à
passividade e a aceitação dos valores Essa nova situação, o espetáculo,
preestabelecidos pelo capitalismo. antes afirmação suntuosa do poder,
ganha uma nova dimensão, ele
Pode-se notar que o conceito de passa a ser produzido também
espetáculo abordado na sociedade como modo de sensibilização,
vigente está intimamente ligado ao visando a disputa do poder, e
fator econômico. Debord explica que como construtor de legitimidade
“a forma e o conteúdo do espetáculo política. As articulações entre o
espetáculo e o poder político ou a
são a justificação total das condições política mostram assim distinções
e dos fins do sistema existente”. relevantes. (RUBIM, Antonio, 2001,
Contudo, diante de um leque de pág. ).
possibilidades das novas mercadorias
que se defrontam, encontra-se o Com a certeza de viver em um

REVISTA PANORAMA

64 edição on line -
numero I
agosto - 2011
CONTRIBUIÇÃO DISCENTE

mundo de falsificação, Debord uma possibilidade de realização, em


acreditava que nenhum outro cena, sempre com apelo emocional,
campo estava inerte. Portanto, tudo cognitivo e valorativo, estéticos e
havia sido alterado, inclusive no argumentativos.
aspecto cultural e natural, ambos
por poluição, segundo os meios e “equivocadamente muitos críticos
interesses da sociedade moderna. da espetacularização midiática
da política, diz que a mídia, e, em
especial a televisão, “... esteja agora
A espetacularização, segundo desnaturalizando uma época de ouro
Debord, tem uma ascendência: ela em que a política se inclinava para
é o reflexo da produção midiática. o melhor argumento e representava
Ao tentar compreender (para de modo transparente os interesses
gerais da sociedade”.
posteriormente combater) os efeitos
(Landi apud Rubim, 2001).
prejudiciais que a prática capitalista
exercia sobre os indivíduos na
O cenário político é permeado
vida cotidiana, ele constatou que a
de candidatos que dispõe de
sociedade era repleta de imagens
práticas capazes de produzir sua
midiáticas, em que “os meios de
apresentação e sua representação
comunicação teriam se tornado o eixo
visível na sociedade, a fim de
central da organização dos processos
conquistar seu eleitorado. Assim,
sociais, sejam políticos, econômicos
eles apelam para recursos como à
ou culturais” (GUTFREIND, Cristiane
emoção, sensibilidade, encenação,
Freitas; SILVA, Juremir, 2007).
sentimentos, e, aos espetáculos, todo
conjunto apresentado em rede por
Por isso, o conceito de espetáculo
uma sociedade ambientada pela
na literatura acadêmica e jornalística
mídia.
passou a indicar os “excessos
Em razão dessas práticas,
midiáticos”.
Schawrtzenberg (1997), traz em sua
“espetáculo nada mais seria que o obra uma frase que resume bem o
exagero da mídia, cuja natureza, atual momento político. “A política,
indiscutivelmente boa, visto que outrora, era de idéias. Hoje, é (sic)
serve para comunicar, pode às pessoas. Ou melhor, personagens”.
vezes chegar a excessos [...] Eles (Schawrtzenberg apud Rubim).
censuram à plebe dos espectadores
a sua tendência para se entregarem De acordo com Rubim, é provável
sem moderação e quase sempre que a espetacularização da
bestialmente, aos prazeres política esteja relacionada à
mediáticos”. (DEBORD, 1997, p. 171). gestão do entretenimento. Sendo
assim, a mídia-entretenimento
é a responsável pela idealização
Apesar dessa evidência, não faz política, mas, na verdade o que está
sentido compactuar com a ideia de acontecendo, é uma despolitização
que a mídia tenha desvirtuado a que leva os eleitores a se tornarem
política, pois, o espetáculo aparece avessos a atividade política.
intimamente ligado a política desde Na verdade, é difícil encontrar um fator
seus primórdios, por volta do século responsável pela espetacularização
V antes de Cristo, na Grécia antiga. midiática. Até mesmo porque, esta
Como elucida Rubim (2001), o é uma sociedade em que tudo
espetáculo sempre aparece como tende ao espetáculo, e até mais que
REVISTA PANORAMA

65 edição on line -
numero I
agosto - 2011
CONTRIBUIÇÃO DISCENTE

isso, notícias de cunho espetacular existe uma pequena parcela de


(leia-se escândalo) tem maior valor- políticos, que não recorrem ao uso
noticia, ou seja, tendem a chamar de projeções midiáticas por meio
maior atenção dos receptores. de representação. Estes preferem
Principalmente, por que a sociedade participar de ações cotidianas, com
está ambientada por rede de mídias, apelos para questões sociais.
e dessa forma, fica mais fácil usar Contudo, as pesquisas realizadas até o
todo maquinário sócio-tecnológico momento apontaram que nessa atual
para disseminar informações com conjuntura, onde a desigualdade
o intuito de chamar e disputar a da sociedade capitalista é gritante,
atenção de todos. os privilegiados são beneficiados,
Sabendo do poder de manipulação enquanto, os que acreditam e lutam
que os meios exercem sobre a por um mundo melhor, recusam a
sociedade, os profissionais de ideia da relação entre espetáculo e
diversos ramos, inclusive os políticos, capitalismo, e por isso, certamente
têm usado essa ferramenta ao seu será muito complicada a utilização
favor. dos recursos de espetacularização.
A partir do exemplo supracitado,
“o domínio do espetáculo é o Rubim salienta que “nem todo evento
grande vencedor e integrador realizado no espaço geográfico
de toda a sociedade. Onde tudo
que se apresenta aos cidadãos e (realidade contígua) transfigura-se
consumidores somente pode ser em espetáculo, nem todo evento
confirmados, cada vez mais pelas produzido no espaço eletrônico em
imagens e o marketing, tendo o rede (telerrealidade) conforma-se em
público de certa forma de confiar espetáculo”.
naquilo que foi criado para ele”.
(BAHIA, José, 2005. S/ Pág.) Mas é inegável que o processo
representativo, resultado do
Nesse contexto onde tudo parece ter movimento capitalista, ficou mais
sido transformado em espetáculo, potente quando a sociedade tornou-
Rubim (2001) defende que em um se ambientada pela mídia. Contudo,
mundo que tudo pode e tende a midiatização não pode ser sinônima
ser espetacular, nada mais parece de espetacularização.
ser espetacular, ou seja, a maneira
“Mas a contemporânea sociedade
como grande parte dos políticos age, ambientada pela mídia, em especial
tornou a atividade banal e, de certa em seus espaços eletrônicos em rede,
forma, as estratégias peculiares de contém, não se pode esquecer, uma
representação não são recebidas potente tendência ao espetacular”.
com estranheza. (RUBIM, 2001, pág. 20).
É possível identificar que “as
coberturas sobre acontecimentos
políticos que rompem com o
cotidiano - tais como manifestações
e atos públicos ou ainda escândalos
- e as campanhas de propaganda,
muitas vezes, tendem a recorrer à
expediente de espetacularização.
(RUBIM, Antonio. 2001).
Faz-se imprescindível salientar que
REVISTA PANORAMA

66 edição on line -
numero I
agosto - 2011
CONTRIBUIÇÃO DISCENTE
RTEFERÊNCIAS

BAHIA, José Aloise. A Sociedade do Espetáculo. Disponível em < www.verdestrigos.org/sitenovo/


site/cronica_ver.asp?id=563 >. Acesso em 13 de julho de 2011.

DEBORD, Guy. A Sociedade do Espetáculo. Disponível em < www.terravista.pt/IlhadoMel/1540>.


Acesso em 10 de julho de 2011.

DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo – Comentários sobre a sociedade do espetáculo. Rio de


Janeiro, Contraponto, 1997.

GUTFREIND, Cristiane Freitas; SILVA, Juremir Machado da. Guy Debord: antes e depois do
espetáculo. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2007

RUBIM, Antonio Albino Canelas. Espectáculo, Política e Mídia. São Paulo, 2001.

SIIVA, José Maria; SILVEIRA, Emerson Sena da. Apresentação de Trabalhos Acadêmicos: normas
e técnicas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.

SIMONNY SANTOS BARBOSA é acadêmica do 8º período


do curso de comunicação social / jornalismo da Faculdade
Sul-Americana e redatora da agência de publicidade Ginga
Rara

REVISTA PANORAMA

67 edição on line -
numero I
agosto - 2011

Você também pode gostar