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INFLUÊNCIA DE LINHAS DE TRANSMISSÃO DE ENERGIA ELÉTRICA EM

TUBULAÇÕES REVESTIDAS ENTERRADAS (1)

* MARIO MOELER NIELSEN (2)

* WILSON GIL CASTINHEIRAS JR. (3)

RESUMO

O trabalho tem por objetivo apresentar o problema da influência de linhas de transmissão (LT)
de energia elétrica de alta tensão em tubulações metálicas revestidas enterradas, como
oleodutos, adutoras e gasodutos, por ocasião de um paralelismo e/ou cruzamento de suas
faixas de passagem com as LTs. Este trabalho abordará os pontos relacionados abaixo,
sem entrar em considerações técnicas sobre a metodologia de análise da problema:

- Segurança pessoal e das instalações;


- Desenvolvimento tecnológico;
- Meios de minimização do problema.

ABSTRACT

The influence of high voltage electrical overhead transmission fines on coated buried metalic
pipelines, as oil lines, gas lines and water lines, when there is paralelism and/or crossing
between them, is here presented. The points under related will be considered, without technical
considerations about the metodology of problem analysis:

- Personel safety and for the installations;


- Technological development;
- Means of minimization of the problem.

(1) Contribuição técnica a ser apresentada no 14º Seminário Nacional de Corrosão da


ABRACO;

(2) Engenheiro Eletricista da Divisão de Fiscalização de Projetos do Serviço de Engenharia


da PETROBRAS, Rio de Janeiro;

(3) Membro da ABRACO, Engenheiro Eletricista da Divisão de Fiscalização de Projetos do


Serviço de Engenharia da PETROBRAS, Rio de Janeiro.

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1. INTRODUCÃO

O grande incremento verificado recentemente no Brasil na construção de oleodutos,


adutoras e, principalmente, gasodutos para fornecimento de gás natural a indústrias, bem
como a crescente expansão de linhas de transmissão de energia elétrica em alta tensão,
fizeram com que fosse levantado o problema da interferência de tais redes elétricas nas
tubulações próximas, em regiões de caminhamentos paralelos ou cruzamentos.

2. O FENOMENO ELÉTRICO

2.1. Uma corrente elétrica percorrendo um condutor cria um campo eletromagnético em


sua volta. Este campo induz tensões (forças eletromotrizes) em outros circuitos, elementos
metálicos ou tubulações metálicas nas extremidades (ver fig. 1). .

2.2. Uma tubulação metálica instalada próxima a uma torre de linha de transmissão de
energia elétrica pode ficar sujeita a tensões elétricas que poderão ocasionar danos de
natureza pessoal e/ou material. As tubulações em questão são normalmente construídas em
aço carbono, enterradas no solo, diâmetro entre 4 e 48 polegadas e revestidas de uma
camada isolante. A camada isolante (revestimento) tem a finalidade de proteger ao máximo a
tubulação contra a corrosão eIetroquímica resultante do contato da mesma com a solo.

2.3. A corrente elétrica que normalmente circula na linha de transmissão não ocasiona
tensões induzidas significativas na tubulação. O fenômeno aparece quando ocorre um curto-
circuito envolvendo fase e terra da linha (ver fig. 2). A tubulação que passa próxima a torre ou
corre em paralelo com a linha no local do curto ficará sujeita a duas tensões:

- tensão induzida (acoplamento indutivo): devido a alta corrente passando pela fase
em curto (Icc);

- tensão no solo (acoplamento resistivo): devida a corrente que flui pelo aterramento
da torre e é injetada no solo (Iat), retornando à subestação origem daquela linha de
transmissão.

2.4. O somatório vetorial destas duas tensões dão origem a uma tensão resultante que
estará aplicada entre o metal da tubulação e o solo em volta do mesmo, ou seja, estará
aplicada ao revestimento do duto (fig. 3).

3. CONSEQUÊNCIAS DO FENOMENO ELÉTRICO

3.1 Se a tensão resultante for de tal ordem que exceda o valor máximo da tensão
suportável (rigidez dielétrica) do revestimento, este será rompido em alguns pontos. Nestes
pontos a superfície metálica da tubulação ficará em contato com o solo e o processo de
corrosão será acelerado, ocasionando perfuração e conseqüentes vazamentos perigosos.

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3.2 Adicionalmente, se a tensão resultante for muito elevada, poderá haver perfuração
instantânea por fusão da parede metálica do tubo, devido ao arco elétrico resultante do
rompimento do isolamento do revestimento. Esta perfuração provocará vazamentos que
poderão causar poluição e até incêndio (materiais inflamáveis) por ocasião de uma eventual
fagulha.

3.3. Por outro lado, a tensão resultante é transferido a pontos distantes da tubulação
(potencial transferido) devido a sua continuidade metálicas. Nesses casos, pessoas que
estejam simultaneamente em contato com o metal da tubulação e o solo, podem levar
choques por vezes fatais. Por exemplo, um operador que esteja manobrando uma válvula (ver
fig. 2) em uma estação distante, no momento do curto, poderá ficar sujeita a esta tensão
perigosa.

4. CONDIÇÕES IDEAIS

4.1. A situação ideal é quando as linhas de transmissão de energia elétrica e as tubulações


enterradas se situam o mais distante possível uma das outras. Isto, no entanto, nem sempre é
possível.

Existem casos em que é inevitável o cruzamento da linha com a tubulação. Em regiões


urbanas, devida a alta ocupação e/ou valorização da terra, a indisponibilidade de áreas torna
inevitável o caminhamento de tubulações enterradas e linhas de transmissão na mesma faixa
de passagem, com cruzamentos freqüentes ou aproximações constantes.

4.2. Como uma primeira aproximação, podemos citar a recomendação do trabalho


apresentado pela Electricite de France, na qual a distância mínima entre a tubulação e o eixo
da linha de transmissão, para qual as influências são desprezíveis, é dada pela fórmula
abaixo. Esta fórmula, no entanto, conduz a distâncias relativamente altas, da ordem de
centenas de metros, chegando, às vezes, a quilômetros, a que é inexíquivel em algumas
situações. Nesses casos torna-se necessário calcular as tensões resultantes na tubulação
enterrada através do método de cálculo citado no item 5.

d = 100 × ρ , para " d " em metros e ρ em Ω. m


4.3. Uma camada de revestimento simples aplicada em uma tubulação suporta em média
5000 Volts sem sofrer danos. Ensaios realizados pela companhia Electricite de France
conduziram aos seguintes valores extremos de tensão para tubos revestidos com "coal-tar":

- 5 KV: nenhum ataque ao metal do tubo ao fim de 1s;


- 10 KV: o revestimento é danificado ao fim de 1s;
- 15 KV: o revestimento é danificado e o metal perfurado em menos de 1s.

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4.4. A fim de minimizar o efeito do campo eletromagnético criado pela corrente de defeito,
os cruzamentos de tubulação com linhas de transmissão devem ser efetuados,
preferencialmente, no meio do vão da linha entre as torres e mais perpendicularmente
possível à LT.

4.5. Observações práticas demonstram que somente em linhas de transmissão com


tensão nominal de 138 kV e acima, as tensões induzidas na tubulação enterrada se revelam
significativas. Somente alguns casos com linhas de 69kV merecem uma verificação.

5. MÉTODO DE CÁLCULO DAS TENSÕES NA TUBULAÇÃO

5.1. Existem vários métodos de cálculo de tensões geradas na tubulação, todos seguindo
aproximadamente uma mesma linha de raciocínio e em constante aperfeiçoamento. Um dos
primeiros métodos de cálculo abordando este assunto, foi desenvolvido pela companhia
Electricite de France, em 1967, e é usado até hoje em alguns casos onde não seja requerido
grande precisão, devido à relativa facilidade dos cálculos envolvidos.

5.2. Métodos mais precisos que levam em conta outros aspectos envolvidos foram
desenvolvidos por FURNAS - Centrais Elétricas e por algumas firmas de Consultoria de
Sistemas Elétricos. A ABNT, através do COBEI - Comitê Brasileiro de Eletricidade - está
normalizando um método de cálculo de tensões induzidos por linhas de transmissão em
tubulações enterradas. A norma terá o objetivo de apresentar apenas a sugestão de um
método a ser adotado em questões de interferências desta natureza.

5.3 O método de cálculo plota a linha de transmissão e a tubulação em um mesmo sistema


de coordenadas geográficas; transforma a tubulação em trechos paralelos nos trechos de
cruzamento, por aproximações geométricas; calcula impedâncias próprias e mútuas; resolve
o circuito elétrico simulado e fornece os valores das tensões induzidos nos pontos de
interesse previamente escolhidos.

5.4. Os seguintes dados são necessários para a cálculo das tensões:

- Da tubulação: diâmetro, profundidade de instalação, tipo e espessura do


revestimento e material do duto;

- Do solo: resistividade elétrica;

- Da linha de transmissão: configuração da torre, características dos condutores de


fase e pára-raios, resistência de aterramento dos pés das torres, configuração dos
cabos contrapesos de aterramento, tensão nominal e valores de correntes de curto-
circuito;

- Plantas de caminhamento da linha de transmissão e da tubulação em torno dos


pontos de cruzamento e paralelismo.

5.5. Devido a complexidade e ao grande número de círculos envolvidos, torna-se


indispensável a utilização de microcomputadores, pois a execução manual de cálculos é
inviável.
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6. MEIOS DE SOLUÇÃO

Após efetuado o estudo da interferência em questão e tendo-se observado


tensões resultantes acima da suportável pelo revestimento, deverá ser realizada uma das
medidas abaixo mencionadas (ou um conjunto delas) a fim de enquadrar a situação dentro de
limites aceitáveis.

6.1. No traçado da linha de transmissão e/ou da duto:

A modificação do traçado, quando possível, certamente resolvera o problema.

6.2. Na linha de transmissão:

Efetuar modificações na linha de transmissão para diminuir a tensão resultante na


tubulação é a maneira mais eficaz, uma vez que a fonte geradora das tensões é a própria
linha. As soluções descritas a seguir são as mais comumente adotadas:

a) Aumentar a resistência de aterramento do pé das torres adjacentes ao cruzamento


ou paralelismo com a tubulação. Isto significa "dificultar' o retorno da corrente de
defeito pelo solo (Iat, fig. 2), obrigando a maior parte da corrente de curto (Icc, fig.
2) a retornar pelo cabo pára-raios da LT (Ipr, fig. 2).

A corrente de retorno no cabo pára-raios (Ipr) possui sentido oposto ao da corrente


na fase que "alimenta" o defeito (Icc) e cria, portanto, um campo eletromagnético de
sentido oposto àquele da corrente de curto na fase. Assim, somente a resultante
desses dois campos atua sobre a tubulação, causando uma tensão induzida menor.
Chama-se esse efeito da corrente de retorno Ipr no cabo pára-raios de blindagem à
Icc.

Na prática, aumentar a resistência elétrica de aterramento do pé da torre significa


alterar a configuração de seus cabos de aterramento, eliminando-se e/ou reduzindo-
se as dimensões de alguns dos “rabichos”, de modo a aumentar a resistência à
terra.

De todas as soluções, esta é a mais eficiente e também a mais econômica, poís os


cabos de aterramento dos pés das torres são normalmente ligados e/ou cortados e
abandonados no solo.

Nota: Esta solução só é aplicável após uma análise detalhada das conseqüências
dessas medidas sobre o sistema de proteção da linha de transmissão.

b) Aumentar a bitola (diâmetro) do cabo pára-raios nos vãos da linha adjacentes ao


cruzamento ou paralelismo.

O cabo pára-raios de uma linha de transmissão é um condutor contínuo que


percorre todo o trajeto da linha e tem a função básica de escoar para a terra as
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sobretensões criadas por descargas atmosféricas. Esses cabos são normalmente
de aço e possuem uma resistência relativamente alta. Durante um curto-circuito
fase-terra, parte da corrente que retorna à subestação passa pelo cabo pára-raios
(Ipr, fig. 2). Se o cabo é substituído por um outro de características (material e
diâmetro) tais que possua uma resistência elétrica menor, maior parcela da corrente
de defeito retornará pelo cabo pára-raios, aumentando, consequentemente, a efeito
de blindagem descrito no item 6.2.a anterior, diminuindo, consequentemente, a
tensão resultante na tubulação,

6.3. Na tubulação:

Na tubulação podem ser adotadas duas soluções para diminuir o efeito da tensão
resultante, ou seja:

a) Aumento da espessura do revestimento da tubulação. Isto significa elevar o nível


de suportabilidade do revestimento. O aumento da espessura leva, por outro lado, a
tensões maiores na tubulação;

b) Lançamento de uma cabo (preferencialmente de cobre) nu, enterrado e em paralelo


com o duto. Essa solução conduz a dois problemas, ou seja, a interferência com a
proteção catódica da tubulação (proteção contra a corrosão pelo solo
complementar ao revestimento) e o roubo do cabo.

A solução apresentada neste item não é recomendada pelas razões previstas e


pelo aspecto econômico e só deve ser adotada como último recurso.

6.4. Na segurança pessoal:

Independente da tensão resultante sobre o revestimento da tubulação, continua a


existir o problema mencionado em 3.2, ou seja, o do potencial transferido ao longo do duto,
que pode ser fatal a uma pessoa que, possa ter contato simultâneo com o metal do tubo e o
solo, no momento da ocorrência do curto-circuito.

Para prevenir esta situação, procura-se dificultar o acesso de pessoas não habilitadas
a partes afloradas da tubulação, mediante a colocação de cercas. Além disso, malhas de
equalização de potencial ou plataformas isolantes são instaladas nesses pontos de
afloramento, de tal forma que o operador fique no mesmo potencial da tubulação ao acionar a
válvula.

Nota: Após a adoção das medidas anteriormente mencionadas, novo estudo sobre a
interferência em questão deverá ser realizado e assim, sucessivamente, até
que os valores envolvidos estejam dentro dos limites aceitáveis.

6
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ICC = IAT + I PR

FIGURA 2

8
NÍVEL DO SOLO
TO
DU

REVESTIMENTO

PAREDE
METÁLICA
SOLO

TENSÃO RESULTANTE
(APLICADA AO REVESTIMENTO)

FIGURA Nº 3

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