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distribuição espacial do fitoplâncton em relação ao regime - relação fotossíntese x luz de uma amostra superficial
hidrográfico ja foi discutida em alguns desses períodos - distribuição vertical homogênea da clorofila-a na
(Brandini, 1988b; Brandini & Moraes, 1986). zona euf6tica
O presente trabalho contém dados preliminares de - coeficiente de extinção da luz, k
produção primária na coluna euf6tica e características
fotossintéticas do fitoplâncton obtidos durante o inverno A radiação solar total (RST) incidente na superfície
de 1982 e outono de 1983. foi obtida com um radiômetro KAHLSICO-268 WA310,
com leituras a cada 30 'minutos entre o nascer e o por do
sol As curvas de fotossíntese x luz foram determinadas
Material e métodos com o mesmo incubador de luz natural utilizado para as
incubações com o método "in situ" simulado. A
O N/Oc."Almirante Saldanha" (DHN/MM) concentração de clorofila-a das amostras foi medida
percorreu uma malha formada por 91 estações pelo método tricromático (Strickland & Parsons, 1m)
oceanográficas entre 16 de julho e 21 de agosto de 1982 ap6s a extração dos pigmentos com acetona 90%,
(Operação Sueste I), e entre 3 e 31 de maio de 1983 utilizando-se um espectrofotômetro Micronal B280 e as
(Operação Sueste 11). As estações indicadas na Figura 1 equações do SCOR-UNESCO (1966). O coeficiente de
foram selecionadas para experimentos de fotossíntese e extinção da luz (k) foi obtido com o disco de Secchi de
medidas de produção primária do fitoplâncton em acordo com Poole & Atkins (1929).
áreas costeiras e oceânicas (FIg.1) utilizando-se a técnica Com essas informações, determina-se primeiro a
do C·14 (Steemann-Nielsen, 1952). A Tabela 1 variação diária da radiação solar nos níveis
apresenta os dados de posicionamento, profundidade e selecionados ao longo da zona euf6tica através da
data em cada estação. equação:
As medidas de produção primária na zona euf6tica
foram obtidas pelo método "in situ" simulado (Jitts, 1963; Id = lo.e(-kd) (Strickland, 1958) (eq.1)
Volleinweider, 1969) de acordo com o seguinte
procedimento:
As amostras de água foram obtidas com garrafa de onde: Id = radiação solar na profundidade d
Van Dom em cinco níveis de profundidade equivalentes lo = radiação solar na superfície
a 100 (superfície), 60, 30, 16 e 1 % da luz incidente na k = coeficiente de extinção da luz
superfície, com base no coeficiente de extinção da luz (k),
de acordo com Stri~d (1958); sub-amostras foram Em seguida, catcula-se a taxa de fotossíntese por
inoculadas com NaH21 CÜ3 (3O#Ci/1000 mI), colocadas unidade de clorofila-a em qualquer instante, nos níveis
em dois frascos claros e um escuro de 300 mI (região selecionados, a partir dos dados de radiação solar, através
oceânica) ou 1.25 mI (região costeira) e incubadas com da equação:
luz natural durante cinco horas. Foram utilizados filtros
neutros constituídos por telas de aço inoxidável com F = Fmax. I/Ik (Parsons & Thkabashi, 1973)
aberturas de malha adequadas para cada porcentagem 1+(I/Ik) (eq.2)
de luz, simulando as condições luminosas originais de
cada amostra. A temperatura de incubação foi mantida
constante por meio de um fluxo contínuo de água de onde:
superfície através do incubador. Após o período de F = número de assimi1ação (fotossíntese/clorofila-a)
incubação, as amostras foram filtradas em flltros Fmax = taxa máxima de fotossíntese em luz saturante
Millipore AA (0.8 ",m) e a atividade dos flltros foi I = intensidade de radiação
determinada posteriormente pela técnica da cintilação Ik = índice de foto-adaptação (1àlling, 1957)
líquida (Volleinweider, 1969). As taxas de fotossíntese
foram calculadas com as equações de Strickland & Para se obter a taxa de produção p~ lia zona
Parsons (1m) e a produção na zona euf6tica durante o euf6tica por esse método, o valor de F (número de
período de incubação foi multiplicada pela razão entre a assimilação) foi integrado graficamente ao tongo do eixo
RST (radiação solar total) diária e a RST do mesmo tempo, obtendo-se as taxas de produção em
período para se estimar a taxa de produção diária. Os mgC/mgClor-a/dia em cada nível de luz. Esses valores
valores obtidos foram cerca de sete vezes as taxas de foram multiplicados pela con'jntração de clorofila-a
produção por hora indicadas na 1àbela 4. Portanto, nas transformando-os em mgC/m ldia. Finalmente, a
estações 1, 12 e 58, onde não foi possível a obtenção de produtividade diária foi integrada ao longo da zona
curvas diárias de Rl'S por motivos técnicos, a taxa de euf6tica e o valor final expresso em gC/m2/dia.
produção por hora também foi multiplicada por sete para Durante a comissão de inverno Gulho/agosto de 1982)
se obter uma estimativa melhor das taxas diárias. O foram obtidas curvas de fotossíntese x luz nas estações 17,
mesmo procedimento foi adotado nos experimentos da 38, 62 e- 66 utilizando-se as porcentagens de luz
comissão de outono (maio/1983). disponíveis no incubador de luz natural (100, 60, 30, 16 e
Nas estações 62 e 66 foi utilizado o método da 1%). Na comissão de outono, além da curva de
clorofila (Ryther & Yentsch, 1957), simultaneamente ao fotossíntese x luz obtida na superfície da estação 79,
método "in situ" simulado, que exige as seguintes amostras de superfície das estações 64, 68, 72 e 83 foram
informações e condições: fracionadas com redes de náilon de 20 ",m ap6s a
incubação, para se determinar as contribuições relativas
- variação diária da radiação solar na superfície do nano- e do microplâncton no valor total da produção.
BRANDINI: Produção primária e fotossíntese: fitoplâncton 149
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Fig. 1. Mapa da região estudada e posição das estações de produção primérta.
150 Bolm Inst. oceanogr., S Paulo, 38(2), 1990
1982
1983
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Horário
Fig. 2. Radiação solar total (RST) em watts.cm-2 nos dias selecionados do inverno de 1982, na Região
Sueste do BrasU. A parte hachurlada representa os perlodos com intensidade de luz saturante
para a fotossfntese do fitoplâncton. ~
....
152 Bolm Inat. oceanogr., S Paulo, 38(2), 1990
Fotossíntese
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E6
plataforma e na zona oceamca as taxas foram mais Taxas de fotossintese em amostras /racionadas
baixas e a distribuição vertical foi homogênea: Quando
expressa por unidade de clorofila-a (número de A Tabela 2 apresenta as taxas de fotossíntese em
assimilação) a fotossíntese apresentou um padrão de amostras fracionadas no outono de 1983. O
distribuição vertical semelhante em todas as estações, nanofitoplâncton « 20 pm) fotoassimilou mais de 70%
com máximos sub-superficiais variando entre 1,38 e 15,07 do carbono inorgânico nas estações 64 e 60, 96% na
mgC/mgClor.a/h (est. 12 e 62, respectivamente) estação 72 e 100% na estação 83.
decrescendo em direção à base da zona euf6tica. Em
maio de 1983, a fotossíntese por unidade de volume de Tabela 2. Taxas de fotossfntese total e fraclo-
água e por unidade de cloroftla-a (Fig.' 4) variaram nada~, em amostras de superffcle
respectivamente de 0,01 a 3,79 mgC/m3/h e de 0,04 na R~lão Sueste (maio de 1983)
a 6,11 mgC/mgClor.a/h. Nas estações 63 e 79
(intermediárias) e na estação oceânica 67, os máximos
foram obtidos na superfície. Na estação costeira 41 o Est. Dia Total mgC/m3/ % total
maximo foi observado a 2,5 m. O padrão de distribuição hr
vertical foi praticamente o mesmo observado no inverno,
ou seja, valores máximos na superfície decrescendo
regularmente até um mínimo na base da zona euf6tica. 64 26 0,83 0,59 71
68 27 0,40 0,30 75
72 28 1,60 1,53 96
Obs.: nutrientes e'f .umol/l; Fmáx em rngC/mgClor-a/hr; I = RST média durante o período de incubação,
emwatts.cm
Estação mgClor-alm2
Estaçio 62 Estaçio 88
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Fig. 6. Variação diária da radiação solar total (RST) e da taxa de fotossrntese (calCUlada a partir da
equação 2) nas profundidades correspondentes aos nfveis de 100,60,30,16 e 1% de luz inci-
dente na superfície, no inverno de 1982. Região Sueste do Brasil. Est. 62 e Est.66.
156 Bolm Inst. oceanogr., S Paulo, 38(2),1990
em área oceânica com baixa concentração desses Teixeira & Tundisi (1967) obtiveram valores 10x
nutrientes. A concentração de nitrogênio inorgânico inferiores em águas do Atlântico Equatorial
(principalmente nitrato) foi limitante em ambas as
estações, com razões N:P em tomo de 4,5 e 5,8 nas
estações 62 e 66, respectivamente. De acordo com
Brandini (1986) as concentrações de amônia obtidas na
superfície dessas estações foram significativamente 3.0
baixas quando comparadas com o nitrato (0,04 e 0,28
}lmoV1 nas estações 62 e 66, respectivamente) e,
portanto, não foram consideradas no cálculo da razão 2.0
N:P. Apesar de localizadas em massas de água
diferentes, com diferentes concentrações.de nutrientes
e clorofila-a, as taxas de produção foram praticamente
iguais quando obtidas com o método da clorofila e muito 1.0
.-
I
semelhantes quando obtidas com o método "in situ" '-
simulado. Provavelmente, a diferença na concentração de .c
clorofila (menor na est. 62 e maior na est. 66) foi "'"'I 0.0
01
contrabalançada por diferenças de fotoadaptação (a ~
eficiência fotossintética foi maior na est. 62) ao longo da O
zona eufótica. Entretanto, as duas metodologias Ü 6.0
resultaram em valores diferentes na mesma estação, 0'1
sendo que a taxa de produção obtida com o método da
E EsI.66
massas de água subantárticas e tropicais na altura da oceânicas da região sueste, até 30% do carbono
costa catarinense, principalmente no inverno, fotoas...imilado pode ser excretado durante o período de
representando os limites extremos da C,onvergência incubação, com valores relativos crescentes em direção às
Subtropical associados à ressurgências da Agua Central águas oceânicas.
do Atlântico Sul (Matsuura, 1986). A mistura de massas Em publicações recentes (Brandin et ai, 1989;
de água provoca uma variação geográfica acentuada de Brandini, 1990) foi discutida a importância dos máximos
fatores ambientais (temperatura, nutrientes) que afetam subsuperficiais de clorofila nos estudos de produção e
a distribuição da biomassa e composição do fitoplâncton. como eles afetam a produção anual em regiões de
Isto explica parcialmente a grande variabilidade nas plataforma. Holligan et aI.(1984) mencionaram que, em
taxas de produção obtidas na região sueste. As estações áreas oceânicas, esses picos ocorrem na altura de 1% de
1, 12, 30 e 58 estão localizadas em áreas costeiras e luz não contribuindo significativamente para a produção
intermediárias, comparativamente mais ricas em anual, ao passo que, em áreas de plataforma, eles são
nutrientes do que a Água 'fropical. mais desenvolvidos no verão em profundidades entre
Entretanto, também ocorreram diferenças 5-10% de luz, perfazendo uma fração significativa da
marcantes na produção, em estações localizadas na produção anual. No presente trabalho, a coleta de água
mesma massa de água, provavelmente associadas à foi feita em DÍveis discretos utilizando-se garrafas de Van
diferenças na estrutura taxonômica da comunidade Dorn. Certamente, esta não é a metodologia mais
fitoplanctônica. A análise de amostras de fitoplâncton adequada nos estudos de produção na coluna de água uma
total e os estudos de distribuição geográfica dos principais vez que os "picos verdadeiros" de clorofila são dificilmente
grupos taxonômicos (Brandini, 1988b) revelaram que, detectados.
com excessão dos fitoflagelados que dominaram em todas Além dos fatores ambientais e metodológicos
as estações, as áreas costeiras e intermediárias da costa responsáveis pela variação nas medidas de produção,
de Santa Catarina foram dominadas por diatomáceas, ainda restam os fatores biológicos como herbivoria,
dinoflagelados e silicoflagelados. Cocolitoforídeos e excreção, adaptação fisiológica à luz, microdistribuição,
c~ofíceas dominaram no restante das estações. etc., que afetam a taxa de produção, mesmo em uma
Além dos aspectos metodológicos discutidos e da massa de água homogênea do ponto de vista
heterogeneidade ambiental que ocorre na coluna eufótica físico-químico. De qualquer modo, apesar das dúvidas
da região sueste, a produção primária pode ter sido quanto aos valores absolutos, as variações ou as
subestimada devido à excreção fitoplanctônica. De homogeneidades espaciais podem ser detectadas se a
acordo com Vieira & Teixeira (1981) em amostras metodologia for padronizada, dando un:u.: idéia básica
Tabela 5. Taxas diárias de produção na zona euf6tica da Região Sueste do Brasil e em outi '1S
oceanos
Região Referência
Nerítica Oceânica
Oceanos
Índico 0,71 0,23 Platt & Subba Rao (1975)
Atlântico 0,41 0,28 Platt & Subba Rao (1975)
Pacífico 0,52 0,15 Platt & Subba Rao (1975)
Áreas
costeiras 0,25-0,50 Koblentz-Mishke et ai. (1970)
neríticas 0,50 Koblentz-Mishke et ai. (1970)
equatoriais 0,10-0,50 Koblentz-Mishke et ai. (1970)
giros subtropicais 0,10 Koblentz-Mishke et ai. (1970)
NW África > 0,1 Sorokin (1963)
0,2-1,0 Estrada (1974)
Região Sueste
costa 0,04-0,32 Presente trabalho
plataforma intermediária 0,13-0,45 Presente trabalho
área oceânica 0,10-0,49 Presente trabalho
158 Bolm Inst. oceanogr., S Paulo, 38(2), 1990
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