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RESUMO
Marcio de Araújo Resende
Rio de Janeiro – RJ
Em um ambiente de recursos escassos, os Administrador
administradores financeiros têm a incumbência Contador CRC – RJ 085.179/O-0
de selecionar projetos que representem a maior Mestrando em Ciências Contábeis pela FACC/UFRJ
E-mail: marcio@facc.ufrj.br
agregação de valor para a empresa, a fim de
atingir um objetivo fundamental: a maximização José Ricardo Maia de Siqueira
de riqueza do acionista. Para a escolha dos Rio de Janeiro – RJ
projetos, vários autores, mencionados neste Administrador
trabalho, apontam em direção à utilização da Mestre em Administração pela COPPEAD/UFRJ
Doutor em Engenharia de Produção pela COPPE/UFRJ
abordagem do custo marginal ponderado de Professor da FACC/UFRJ e Coordenador do Mestrado
capital (CMaPC), que se baseia no confronto das em Ciências Contábeis
taxas internas de retorno decrescentes, de várias Da FACC/UFRJ
alternativas de investimento, com o custo de E-mail: jrms@facc.ufrj.br
capital crescente da companhia. Este enfoque é
Rosilene Matos Domingues
importante, pois estabelece uma relação direta Rio de Janeiro – RJ
entre retorno dos projetos e custo de capital. Contador CRC/SC: 020331/O-8 T
Todavia, através da simulação desenvolvida Mestre em Ciências Contábeis pela FACC/UFRJ
neste trabalho, pode-se constatar que a referida E-mail: rosilene_matos@uol.com.br
abordagem apresenta algumas limitações, dentre
elas a consideração da escala dos projetos. Este Jorge Candido de Almeida
artigo tem como objetivo demonstrar que a Rio de Janeiro – RJ
Contador CRC – RJ 097436/O-1
abordagem do CMaPC deve ser usada com Engenheiro de Operações pela UERJ,
cautela, ensejando alguns ajustes, tendo em vista Especialista em Administração pela COPPEAD-
que a interpretação equivocada dos resultados UFRJ,
auferidos pode levar à seleção de projetos, que Professor da UGF – Universidade Gama Filho e
não maximizem a riqueza dos acionistas, em Consultor de Empresas.
E-mail: jorgecandido@ugf.br
detrimento de outros, que atinjam esta finalidade.
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Marcio de Araújo Resende e José Ricardo Maia de Siqueira e Rosilene Matos Domingues e Jorge Candido de Almeida
Revista de Contabilidade do Mestrado em Ciências Contábeis da UERJ, Rio de Janeiro – v.10, n.2, 2005, p.66
Orçamento de Capital: Análise Crítica e Sugestões para o Uso do Custo Marginal Ponderado de Capital em Decisões de
Investimento
$ $
Fornecedores EMPRESA Investimentos
de recursos ----------------
---------------------- $ VALOR $
Bancos, $
acionistas, etc.
$
Diminuição Aumento Retorno dos
investimentos
Retorno dos
fornecedores Não Sim
de recursos Retorno
------------------- >
CUSTO DE Custo?
CAPITAL
É importante ressaltar que o mercado chegar a resultados que permitam aos diretores
impõe determinado limite à captação de financeiros apontar quais serão os projetos
recursos pela empresa, pois, como mecanismo aprovados e os descartados.
eficiente, incorpora informações sobre as A literatura sobre decisões de capital
empresas. Estas informações são utilizadas para (Gitman, 2001; Groppelli e Nikbakht, 2002;
comparar a situação financeira de cada uma, a Fipecafi, 2001; Van Horne, 1974; Wang, 1994;
fim de estabelecer diferentes limites para Weston e Brigham, 2000), tem sugerido a
companhias distintas. A expansão do confrontação da taxa interna de retorno (TIR)
financiamento de uma empresa tende a decrescente das opções de investimento, com o
provocar um aumento em seu custo de captação custo de capital crescente da empresa, para
de recursos adicionais. E este custo de selecionar o conjunto de projetos em que a
financiamento incremental, acima de um nível empresa irá investir.
anterior, é o que se denomina de custo marginal Porém, até que ponto tal metodologia vai
ponderado de capital (Groppelli e Nikbakht, ao encontro do objetivo de maximização da
2002, p. 179). riqueza do acionista?
Desta forma, as empresas precisam Este trabalho faz uma simulação,
estabelecer prioridades, quanto à seleção de seus expondo a utilização da abordagem, suas
projetos de investimento. Para tanto, utilizarão limitações, e formula sugestões para aprimorar
técnicas de análise de investimentos, a fim de seu grau de aplicabilidade.
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Orçamento de Capital: Análise Crítica e Sugestões para o Uso do Custo Marginal Ponderado de Capital em Decisões de
Investimento
básicos, por serem consideradas como as que, os resultados apresentados nas tabelas 1 e 2,
tipicamente, realizavam grandes investimentos quanto aos critérios tradicionais de avaliação da
em ativos imobilizados - principalmente na rentabilidade de um projeto de investimento.
forma de bens de capital. Esta pesquisa apontou
Os critérios fundamentados nas técnicas adotada por quase metade das empresas
de fluxos de caixa descontados – TIR, VPL e IL pesquisadas.
– são bastante utilizados pelas empresas, No tocante aos critérios complementares,
representando 62,7% em 1985 e aumentando o Payback Descontado (23,0%) – como se
para 67,3% em 1990. A TIR (49,6%) é a observa na Tabela 2 – foi o método mais
técnica de análise de projetos preferida, sendo utilizado, seguido de perto pelo VPL (20,4%).
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Marcio de Araújo Resende e José Ricardo Maia de Siqueira e Rosilene Matos Domingues e Jorge Candido de Almeida
F e r r a m e n ta d e F e r r a m e n ta d e
Ano da O r ç a m e n to d e O r ç a m e n to d e
A u to re s J o rn a l A m o s tr a
P u b lic a ç ã o C a p i ta l m a is C a p i ta l m e n o s
U t ili z a d a U t iliz a d a
N A A B u ll e tin
F o rtu n e 5 0 0 e " M a n u a l
( a tu a l T é c n ic a s q u e
M il le r 1960 o f E x c e lle n tly M a n a g e d P ayb ack
M anagem ent u til iz a m F C D
C o m p a n ie s "
A c c o u n t in g )
B u re a u o f T axa de
G ra n d e s e m p re sa s T é c n ic a s q u e
Istv a n B u sin e ss 1961 R e to r n o
s e le c i o n a d a s u til iz a m F C D
R esearch C o n tá b il
J o u rn a l o f G ra n d e s e m é d ia s
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P e t r y , S c o tt E n g i n e e r in g
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E d u c a tio n C o n tá b il
J o u rn a l o f
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B u sin e ss G ra n d e s e m p re sa s d o
P ik e 1996 P ayb ack R e to r n o
F in a n c e & R e in o U n id o
C o n tá b il
A c c o u n ti n g
Revista de Contabilidade do Mestrado em Ciências Contábeis da UERJ, Rio de Janeiro – v.10, n.2, 2005, p.70
Orçamento de Capital: Análise Crítica e Sugestões para o Uso do Custo Marginal Ponderado de Capital em Decisões de
Investimento
Remer e Nieto (1995, p. 81-82) afirmam alternam ao longo dos períodos. Desta forma, há
que pesquisas realizadas em 1978 e 1991, sobre possibilidade do projeto apresentar mais de uma
as técnicas de avaliação de projetos mais taxa interna de retorno.
utilizadas pela maioria das companhias da lista E o terceiro entrave, acontece quando os
da “Fortune 500”, incluindo Du Pont, Kodak, projetos apresentam investimentos iniciais e/ou
Ford, IBM e Westinghouse, indicaram uma vidas diferentes. “Isso exige uma análise
mudança na tendência das empresas. Estas incremental, além de outras suposições quanto à
estavam reduzindo a utilização da TIR e usando equivalência e uniformização dos fluxos de
mais o método do VPL, além de estarem se caixa” (Costa Jr., Menezes e Asrilhant, 2001, p.
utilizando menos da técnica do Payback. Nas 20).
empresas pesquisadas em 1991, nenhuma
avaliação de projetos foi feita sem o uso dos 4 CUSTO MÉDIO PONDERADO DE
métodos da TIR ou do VPL. CAPITAL
O uso intensivo da TIR traz à tona a
necessidade de destacar os problemas de sua O processo de investimento, para a
utilização na análise de projetos. O primeiro é o maioria das grandes empresas, começa com a
fato de se pressupor que todos os valores do preparação de um orçamento de capital anual,
fluxo de caixa serão reinvestidos à própria TIR. que consiste numa lista de projetos de
O método da TIR implica em considerar uma investimento planejados para o ano seguinte.
taxa de reinvestimento igual à taxa interna de Cada projeto é brevemente descrito, geralmente
retorno obtida, enquanto se assume, no caso do num formato padrão ou num programa de
VPL, que os fluxos de caixa são reinvestidos a computador. Tais escolhas dos investimentos de
uma taxa usada como fator de desconto. capital das companhias devem refletir os
Pela técnica da TIR, as taxas de processos de orçamento de capital e de
reinvestimento implícitas em cada projeto serão planejamento estratégico, pois um processo
diferentes, dependendo dos respectivos fluxos de complementa o outro (Brealey e Myers, 2000, p.
caixa esperados. Quando as propostas tiverem 316).
TIR elevada, será considerada uma alta taxa de A empresa tem como objetivo principal à
reinvestimento, e quando as propostas tiverem maximização de seu valor de mercado, o que
baixa TIR, assumir-se-á uma baixa taxa de influi diretamente em suas decisões financeiras.
reinvestimento. Desta forma, as alternativas de investimento em
Raramente, a TIR calculada representará longo prazo serão avaliadas através da
a taxa de reinvestimento apropriada para os comparação entre o retorno, obtido em
fluxos de caixa intermediários (Van Horne, 1974, decorrência das referidas decisões e o custo de
p. 81). É importante destacar, contudo, que capital total da companhia, que se baseia no
quando se apura uma TIR muito diferente das custo de oportunidade de suas fontes de
taxas de mercado, sua interpretação tende a ser financiamento (Assaf Neto, 2003, p. 355).
equivocada (Kassai, 2001, p. 68). Uma opção Basicamente, as fontes de recursos
seria utilizar a taxa de reinvestimento esperada financeiros em longo prazo das empresas são: as
para cada período e calcular um valor futuro dívidas em longo prazo são as ações
final. Contudo, este procedimento envolve passos preferenciais e as ordinárias, assim como os
adicionais, que muitos acham que não vale a lucros retidos. Intuitivamente, o custo de capital é
pena executar (Van Horne, 1974, p. 81). a média ponderada dos custos dos diferentes
O segundo problema ocorre em fluxos de componentes de financiamento, incluindo
caixa, cujas quantias negativas e positivas, se dívidas, ações e títulos híbridos, usados pela
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Orçamento de Capital: Análise Crítica e Sugestões para o Uso do Custo Marginal Ponderado de Capital em Decisões de
Investimento
custo do capital próprio remanescente. Tendo em determinado período, consiste no custo marginal
vista os dois efeitos compensarem um ao outro, o ponderado de capital (CMaPC).
valor da empresa, assim como o custo total de Weston e Brigham (2000, p. 631)
capital, tornam-se insensíveis ao grau de definem que o custo marginal de capital é o custo
endividamento (Ross, Westerfield e Jaffe, 1995, da obtenção de uma nova unidade monetária de
p. 312). novo capital. Em outras palavras, é o custo médio
Cabe ressaltar que Modigliani e Miller ponderado da última unidade monetária dos
mostraram que as decisões quanto à estrutura de novos recursos financeiros captados.
capital não afetam o valor da empresa, quando O custo marginal ponderado de capital
existe um cenário em que os mercados de (CMaPC) pode ser entendido, ainda, como “a
capitais são perfeitos, onde não há impostos de identificação do comportamento do CMePC, em
pessoas jurídicas e físicas e onde as decisões de função do volume de financiamento” (Fipecafi,
financiamento e investimento das empresas são 2001, p. 220).
independentes. Todavia, quando um ou mais
De acordo com Weston e Brigham (2000,
pressupostos de MM deixam de vigorar, vários
p. 638), calcula-se o CMaPC da seguinte forma:
autores demonstraram que o valor da companhia
(1) após a apuração do custo de cada fonte de
pode variar com as mudanças do mix formado
financiamento para vários níveis de demanda de
por capital de terceiros e capital próprio (Pinegar
recursos, determina-se cada ponto de ruptura e,
e Wilbricht, 1989, p. 82).
depois de determinar os pontos exatos de
Segundo Lee (1985, p. 733), o custo de rompimento, elabora-se uma lista deles; (2)
capital de uma empresa é um importante fator na apura-se o custo de capital para cada componente
determinação do mix ótimo de financiamento, e é nas faixas entre os rompimentos; (3) calculam-se
crucial para o processo de decisão sobre os as médias ponderadas dos custos de cada fonte
investimentos que devem ser realizados. de capital, para se obter os CMePC em cada
Contudo, o custo de capital não faixa - tal custo é constante dentro de cada faixa,
permanece estático, frente à crescente embora se eleve a cada ponto de ruptura.
necessidade de recursos. As fontes de recursos Segundo Fipecafi (2001, p. 221), os
financeiros das empresas são limitadas. À pontos de ruptura poderão ser calculados para
medida que as companhias captam mais e mais cada fonte específica, em termos de volume total
recursos, os credores passam a se preocupar com de financiamento, através da equação abaixo:
o limite máximo de endividamento, que elas
podem absorver e futuramente pagar. Supondo
um mercado eficiente, ou seja, onde há TFi
incorporação de todas as informações sobre cada PRi =
wi
empresa, os investidores deixarão de emprestar,
quando tal endividamento atingir um onde:
determinado limite. Este limite é imposto pelo PRi = ponto de ruptura para a fonte de
mercado e, se a corporação tentar expandir seu financiamento i
financiamento além do referido limite, haverá
TFi = total de recursos financeiros
resistência por parte do investidor. Tendo isto em
vista, os recursos estarão disponíveis a um custo disponíveis da fonte de
cada vez mais elevado. Segundo Weston e financiamento i a um dado custo
Brigham (2000, p. 632), este custo de wi = peso da estrutura de capital –
financiamento incremental, que retrata como o
CMePC se altera à medida em que a empresa histórica ou meta – para a fonte de
levanta capital novo adicional durante financiamento i
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16,50%
14,50%
Taxas
12,50%
10,50%
8,50%
300.000 800.000 1.600.000 1.800.000 2.200.000 2.450.000 2.700.000 3.000.000
Valores Acumulados
Supondo que o risco seja mantido avaliou que é viável investir em apenas quatro. A
constante, os projetos que apresentam taxa de empresa tende a investir nos projetos A, B, C e
retorno superior ao custo de capital, aumentarão D, pois na faixa de investimento acumulado
o valor da empresa, enquanto projetos cuja taxa seguinte o CMaPC já passa a ser 11,55%,
de retorno seja inferior ao custo de capital, tornando desvantajosa à aplicação de recursos
diminuirão o referido valor. financeiros em projetos adicionais. Isto ocorre,
Como está demonstrado no Quadro 5, há porque as taxas de retorno dos demais projetos
oito alternativas de projetos. Porém, a companhia são inferiores a este custo de capital.
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Orçamento de Capital: Análise Crítica e Sugestões para o Uso do Custo Marginal Ponderado de Capital em Decisões de
Investimento
Todavia, será que a comparação da taxa (1997, p. 184-185) menciona que o valor líquido
de retorno com o custo de capital é suficiente, presente em um projeto é apresentado em
para que se possa selecionar, de forma segura, os unidades monetárias, não sendo afetado pela
projetos que maximizarão a riqueza da empresa e escala do projeto. Por outro lado, a taxa de
de seus acionistas? retorno percentual é padronizada para a escala do
projeto. Isto significa que ao escolher entre dois
7 LIMITAÇÕES DA TIR projetos mutuamente excludentes, com
diferenças de escala muito acentuadas, os
Segundo Brigham e Houston (1999, p. resultados obtidos pelo VPL e pela TIR poderão
386), o fundamento do método da TIR é o divergir bastante.
seguinte: “(1) A TIR de um projeto é a sua taxa Os projetos D e E são mutuamente
de retorno esperada. (2) Se a taxa interna de excludentes, que, segundo Assaf Neto (2003, p.
retorno é maior que o custo dos fundos utilizados 279), consiste no fato da aceitação de um
para financiar o projeto, após pagar o capital eliminar totalmente a possibilidade de
resta uma sobra, e essa sobra vai para os implementação do outro, pelo fato de ser
acionistas da empresa. (3) Portanto, o suficiente para os objetivos da empresa, a
empreendimento de um projeto cuja TIR é maior aceitação de, somente, um dos projetos. Tendo
que seu custo do capital aumenta a riqueza dos isto em vista, vamos calcular o VPL dos dois à
acionistas”. taxa de 10,98%, já que ambos se situam nesta
A regra da taxa interna de retorno (TIR), faixa de custo.
em sua forma mais simples, é bastante intuitiva. Voltando ao Quadro 5, e analisando
Por isso, seu uso é generalizado, sendo até novamente o conjunto de projetos disponíveis,
mesmo preferível, na prática (Finnerty, 1999, p. percebe-se que o projeto E, que requer o dobro
125-126). de investimento inicial e possui taxa de retorno
Contudo, um dos problemas do método um pouco menor, foi preterido pelo projeto D.
da TIR é o fato de ignorar as diferenças de escala Se, ao contrário, preterirmos o projeto D e
(Ross, Westerfield e Jaffe, 1995, p. 133). escolhermos o E? Qual será a melhor escolha
Quanto à diferença de escala, Damodaran para a empresa? O Quadro 6 retrata esta hipótese.
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Investimento
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menores taxas sobre investimentos maiores vez calculado o coeficiente de risco sistemático
levem a uma maior agregação de valor. Na de um determinado projeto, o mercado espera um
simulação levada a cabo, a combinação de único retorno para o mesmo. Quando se usa o
projetos A, B, C e E foi preferível à opção A, B,
C e D, apontada inicialmente pela metodologia – custo de capital, uma mesma taxa é usada para
vide Quadro 5. diferentes projetos. Isto acarreta uma falha, pelo
Em síntese, este artigo tem como objetivo fato de se considerar uma única taxa de desconto,
mostrar que a confrontação de TIRs decrescentes na avaliação de projetos que apresentam
com CMaPC crescente, para a seleção de diferentes graus de risco (Costa Jr., Menezes e
projetos a serem implementados, significa um Asrilhant, 2001, p. 22-23).
risco para a empresa. Isto porque, o responsável Assim, a utilização do CMaPC é
pela decisão pode ser levado a escolher um apropriada, somente se os investimentos
projeto que parece ser o melhor, quando na propostos e a companhia apresentarem o mesmo
verdade não o é, e, por conseguinte, a desprezar nível de risco, pois caso contrário, haverá
outro projeto que efetivamente contribui para a tendência de aceitar, de forma equivocada,
maximização do valor da empresa. projetos com maior risco e rejeitar, também
Nos exemplos elencados pelos autores incorretamente, projetos menos arriscados
em questão (Gitman, 2001; Groppelli e (Wang, 1994, p. 188-189).
Nikbakht, 2002; Fipecafi, 2001; Van Horne, Outra questão diz respeito à determinação
1974; Wang, 1994; Weston e Brigham, 2000), do custo de capital. Na abordagem em tela, a
observou-se à consideração do aumento do custo empresa deve utilizar sua estrutura ótima de
do capital próprio, sem que tenha ocorrido uma capital – ponto controverso na teoria de finanças
majoração no índice de endividamento. Para que – e ignorar os desvios temporários referentes a
isto aconteça, é necessária a ocorrência de uma esta estrutura. Entretanto, nem sempre isto é
das seguintes situações: (1) o aumento de capital possível. Variações nos fatores que afetam o
não ser absorvido por uma restrição de mercado custo de capital, tais como a liquidez do mercado
(risco de negócio); (2) a empresa poderia estar de títulos da empresa e a acessibilidade a fontes
usando lucros acumulados, e uma vez exauridos, internacionais de recursos em longo prazo
se aumentaria capital. Este processo tem custos (Goldberg, Godwin e Duchac, 2001, p. 14-16)
de colocação que impactam o custo de capital da podem fazer com que a empresa,
companhia. momentaneamente, adote uma estrutura diferente
Outro ponto refere-se à taxa utilizada daquela considerada como ótima.
como parâmetro de decisão, envolvendo seleção Apesar das limitações elencadas, a
de projetos. Ao se utilizar à abordagem do abordagem de seleção de projetos de
CMaPC, assume-se que o risco dos projetos não investimento de capital, envolvendo o custo
difere do risco sistemático – aquele sujeito às marginal ponderado de capital, apresenta um
flutuações da economia – da empresa, embora importante relacionamento entre as taxas de
isto não seja necessariamente verdadeiro. retorno dos projetos e os custos necessários para
Ao se trabalhar com o CAPM associado sua implementação. Para que se torne um
ao projeto ou ativo, consideram-se os riscos instrumento mais efetivo, faz-se necessário um
sistemáticos dos mesmos, e não das organizações tratamento mais cuidadoso no corte dos projetos
empresariais. Infere-se, portanto, neste caso, que a serem implementados, para que não se vá de
a taxa de retorno do projeto não depende da encontro ao objetivo de maximização da riqueza
empresa investidora, tendo em vista que, uma do acionista.
Revista de Contabilidade do Mestrado em Ciências Contábeis da UERJ, Rio de Janeiro – v.10, n.2, 2005, p.80
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Marcio de Araújo Resende e José Ricardo Maia de Siqueira e Rosilene Matos Domingues e Jorge Candido de Almeida
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