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CÁLCULO FINANCEIRO

Regime de Capitalização Contínua


Retomemos a expressão do capital acumulado em regime de
capitalização composta ja vista anteriormente Cn=C0(1+i)n.
Suponhamos, agora, que a capitalização ocorre k vezes ao longo de
cada um dos n periodos, em vez de ter lugar apenas no final de cada
período.

Assim sendo, os juros vão produzir-se à taxa que é a taxa


correspondente ao período de capitalização considerado. Efetuando as
necessárias substituições na expressão anterior, surge que

Cn=C0( )

Se supusermos, ainda , que e atendendo às bases dos


logarítimos neperianos, daí resulta que:

( )

Substituindo na expressão anterior, obtém-se:


Cn=C0*
Sendo a expressão que permite determinar qual o capital acumulado
num processo de capitalização contínua, uma vez aplicado à taxa i,
durante n períodos de tempo.
Exemplo 01
Qual o capital que resulta da aplicação de Kz 10.000,00, por um
ano, à taxa anual de 8%, em regime de capitalização contínua? Compare
com o valor que seria obtido se esse mesmo capital fosse aplicado, nas
mesmas condições, mas em regime de capitalização contínua.
Solução:
Dados: C0= Kz 10.000,00; n=1 ano; i=8%.
Em regime de capitalização contínua, temos:
Cn=C0*

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Cn=Kz 10.000,00*
Cn=Kz 10.000,00*1,0832870677=Kz 10.832,870677

Em regime de capitalização composta, surgiria:


Cn=C0(1+i)n
Cn=Kz 10.000,00*(1+0,08)1
Cn=Kz 10.800,00
Como podemos constatar no exemplo anterior, o montante que se
obtém em regime de capitalização contínua é, assim, maior do que aquele
que resultaria da aplicação do mesmo capital, à mesma taxa e pelo mesmo
período de tempo, mas em regime de capitalização composta.
Daí que um dado capital, em regime de capitalização contínua,
possa produzir o mesmo montante acumulado a uma taxa menor do que
aquela a que teria de ser aplicado em regime de juro composto para
garantir esse montante acumulado. Coloca-se, então, a questão de saber,
perante uma dada taxa aplicada em regime de capitalização composta, qual
a taxa que lhe corresponde em regime de capitalização contínua. Para o
efeito, observemos o seguinte exemplo.
Exemplo 02
Qual a taxa que em regime de capitalização contínua corresponde à
taxa anual de 6% em regime de capitalização composta?
Solução:
Atendendo a que ambas as taxas produzem o mesmo capital
acumulado, podemos formalizar:
C0 * (1+6%)=C0*
1,06=
log1,06 =

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Como podemos provar, a taxa assim obtida é, pois, menor que os


6% considerados para o caso da capitalização composta.
Cálculo dos Juros na Prática Bancária
Como estudou-se nas matérias anteriores, o depóstios à ordem estão
a inteira disponibilidade do seu proprietario em todo o momento. Neste
sentido, uma conta a ordem movimenta-se a todo o instante. Com efeito, o
saldo destas contas não se mantém constante, registando-se, a todo o
momento, tanto movimentos a crédito como movimentos a débito. Assim,
na prática, o processo de cálculo dos juros, em regime de juro simples, de
uma conta de depóstos à ordem, afigura-se bem mais complexo do que se
enunciou. Para obviar a questão, apontaremos dois métodos: o método
directo, e o método hamburguês, sendo o último o mais utilizado na
prática bancária.
Método directo
Comecemos por observar um conjunto de movimentos registados
numa conta de depósitos à ordem (em kz):
Datas Descrição dos movimentos Valor
01/01 Saldo anterior 5.325,00
10/01 Depósito 1.270,00
27/02 Débito de despesas de cartão de crédito 1.780,00
13/03 Cheque nº 531 5.100,00
22/04 Depósito 7.200,00
17/05 Transferência a nosso favor 2.000,00
22/06 Cheque nº532 2.740,00
13/07 Depósito 1.350,00
22/08 Levantamento ATM 750,00
15/09 Transferência a favor de outrem 2.000,00
22/11 Depósito 1.100,00
14/12 Cheque nº533 1.250,00

No método directo, calcula-se o montante do juro a pagar ou a


recer, atendendo aos seguintes procedimentos:
1º Inscrever em diferentes colunas as importâncias relativas aos
movimentos a débito e aos movimentos a crédito;

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2º Introduzir uma coluna relativa ao número de dias decorridos


entre a data da operação e a data de encerramento da conta1;
3º Determinar o “número” correspondente a cada operação, sendo
que este resulta da multiplicação do capital respetivo pelo número de dias;
4º efetuar a soma dos “números”a débito e dos “números” a crédito
e apurar o denominado “balanço dos números”, ou seja, o diferencial
existente entre ambas as importâncias encontradas.
5º Calcular o juro, sendo que:

Aplicado os procedimentos descritos aos valores contidos na tabela


anterior, esta surgirá com a seguinte estrutura:
Datas Movimentos Valor Nº de Números
Crédito dias
Débito Débito Crédito
01/01 Saldo anterior 5.325,00 365 1.943.625
10/01 Depósito 1.270,00 355 540.850
27/02 Débito de despesas 1.780,00 307 546.460
13/03 Cheque nº 531 5.100,00 293 1.494300
22/04 Depósito 7.200,00 253 1.821.600
17/05 Transferência a nosso 2.000,00 228 456.000
favor
22/06 Cheque nº532 2.740,00 192 526.080
13/07 Depósito 1.350,00 171 230.850
22/08 Levantamento ATM 750,00 131 98.250
15/09 Transferência a favor 2.000,00 107 214.000
de outrem
22/11 Depósito 1.100,00 39 42.900
14/12 Cheque nº533 1.250,00 17 21.250
2.900.340 4.945.825

Uma vez apurado os “números” a débito e a crédito, podemos


calcular o montante do juro final, considerando, para o efeito, a
eventualidade de ser praticada uma taxa de 1,5% ao ano.

1
Esta data pode ser 30/11 ou 31/12 de cada ano, dependendo dos bancos. No exemplo prsente,
consideraremos 31/12 como data do encerramento da conta. Pressupomos, ainda, que se trata de um ano
comum

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Como o somatório dos “números” a crédito é maior que o


somatório dos “números”a débito, daí resulta que o titular da conta de
depósitos á ordem tenha juros a receber, ao invés do que sucederia se os
“números” a débito ultrapassassem os “numeros” a crédito.

Método Hamburguês
O método directo tem a particularidade de apenas permitir apurar o
montante dos juros na data do encerramento da conta. Esta limitação é
ultrapassada no cado do método hamburguês, que possibilita o
conhecimento do saldo da conta após a realização de cada operação, bem
como do montante de juros respetivos.
Neste sentido, vamos obdecer às seguintes etapas:
1º À semelhança do que sucedia no método directo, começa-se por
separar os movimentos a débito dos movimentos a crédito, inscrevendo-os
na coluna correspondente, sendo que o primeiro movimento resulta do
saldo transitado do período anterior;
2º De seguida, introduzem-se na tabela duas novas colunas,
relativas, respectivamente, aos saldos a débito e a crédito; o montante a
registar em cada período resulta do montante registado no período anterior,
uma vez contempladas as alterações decorrentes da operação em causa;
3º Apura-se o número de dias que decorre entre duas operações e
inscreve-se numa coluna criada para o efeito;
4º Calcula-se os “números” a débito e crédito, incluindo mais duas
colunas na tabela, sendo que “Números”=Saldos*dias;
5º Efetua-se o somatório dos “números” a débito e dos “números”
a crédito;
6º Procede-se ao balanço dos “números” e ao cálculo do juro,

sendo que:

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Acolhendo os procedimentos descritos e recorrendo, de novo, ao conjunto de


movimentos registados pela conta de depósitos à ordem do exemplo anterior, suge a
tabela seguinte:
Datas Movimentos Valor Saldos Nº de Números
Débito Crédito Débito Créditodias Débito Crédito
01/01 Saldo anterior 5.325 5.325 10 53.250
10/01 Depósito 1.270 6.595 48 316.560
27/02 Débito de 1.780 4.815 14 67.410
despesas
13/03 Cheque nº 5.100 285 40 11.400
531
22/04 Depósito 7.200 6.915 25 172.875
17/05 Transferência 2.000 8.915 36 320.940
a nosso favor
22/06 Cheque nº532 2.740 6.175 21 129.675
13/07 Depósito 1.350 7.525 40 301.000
22/08 Levantament 750 6.775 24 162.600
o ATM
15/09 Transferência 2.000 4.775 68 324.700
a favor de
outrem
22/11 Depósito 1.100 5.875 22 129.250
14/12 Cheque nº533 1.250 4.625 17 78.625
11.400 2.056.885

Uma vez apurados os “números” a débito e a crédito, vamos proceder ao


balanço dos “números” e calcular os juros respetivos.
Assim sendo,

Montante que é necessariamente, identico ao obtido quando aplicamos o


método directo, uma vez que nos encontramos no final do ano.
Porém, como abordado de início, o método hambuerguês permite calcular os
juros correspondentes a uma conta de depósitos à ordem em qualquer data pretendida.
Consideremos, por exemplo, que necessitamos de conhecer qual o montante de
juro vencido pela conta em presença até 15 de Junho.
Como a última operação ocorreu em 17/05, calculamos o balanço do “número”
até essa data.
Assim,

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Balanço dos “números” = (53.000+316.560+67.410+172.875) – 11.400 = Kz 598.696


Por sua vez, o saldo credor de Kz 8.915,00, que ressalta da operação de 17/05,
só vai vencer juros durante o número de dias que decorre desde 17/05 até 15/06, isto é,
durante 29 dias.
Calcula-se, então, o “número” respectivo, que acresce ao balanço dos
“números” anterior, logo

( )

Este seria então, o montante de juro vencido em 15 de Junho.

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