da representação da mulher no filme Sex and the City.
Durante a última década, um número crescente de estudos têm explorado a estrutura e o papel de textos multimodais na sociedade contemporânea. Depois do foco inicial em imagens estáticas, pesquisas mais recentes têm abordado o texto dinâmico. Neste contexto, Bezerra investiga as identidades das mulheres no primeiro filme Sex and the City (2008) em termos da linguagem verbal e da imagem dinâmica, bem como da sua complementaridade intermodal, concentrando-se no acoplamento e na calibragem de significados. A crescente presença de textos multimodais em nossa sociedade criou uma forte necessidade de trabalhar com recursos semióticos (van Leeuwen, 2005) além da linguagem verbal em nossas escolas. Tendo isso preocupação em mente, o New London Group projetou “uma nova abordagem para a pedagogia da alfabetização que eles chamam ‘Multiliteracies’ ”(1996). Neste contexto e dando especial atenção ao fato de as imagens serem culturalmente específicas (Kress e van Leeuwen, 2006), o autor analisa como são construídos mais tipos de significados do que as imagens estáticas, o que contribuiu para uma complementaridade intermodal mais eficaz. Considerando-se as identidades das mulheres, o acoplamento de significados cometidos sugere que mulheres (jovens) focam suas buscas na moda (grifes) e no amor heteronormativo. De acordo com Bezerra, a escolha de abordar as representações da imagem feminina nessa série de TV se deu, principalmente, pela necessidade de se investigar as formas pelas quais a mídia constrói discursos dominantes de femininidade e sexualidade. Além disso, a série de TV Sex and the City, e mais recentemente os dois filmes que dão sequência à narrativa interrompida em 2004, é mundialmente conhecida, o que me provoca o interesse em conduzir análise sobre esse produto cultural. Interessa, portanto, desvendar com quais representações de gênero o público tem desenvolvido tamanha identificação. Com base em dados visuais e linguísticos concretos e com vistas à promoção de uma compreensão de identidades de gênero como construções socioculturais, são examinadas a representação da mulher articulada no texto/contexto visando à desconstrução e discussão de possíveis discursos discriminatórios. Os resultados gerais revelam que as mulheres estão principalmente envolvidas em processos de ‘ação’ como participantes dinâmicos, o que evidencia o espaço no texto fílmico para os ‘fazeres’, ‘acontecimentos’ e 'comportamentos’ nos quais as mulheres assumem papel ativo. No entanto, a análise do discurso (Fairclough, 2003; van Leeuwen, 2008) das ações sociais das mulheres mostrou que elas estão consideravelmente restritas à esfera doméstica, não especializada (Martin, 1992). A personagem principal, Carrie, é representada como como uma mulher real e que, ao mesmo tempo, também atua como material para a insinuação de coisas novas que estão por vir, com base em aspectos composicionais. Estes comportamentos parecem confirmar o papel da mídia na manutenção de representações dominantes e ideologicamente investidas das mulheres, que precisam ser continuamente desafiadas, já que as identidades devem ser sempre vistas como instáveis e impermanentes.