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MODELO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO

MODELO DE TEXTO MÉDIO


MODELO DE PARAGRAFAÇÃO: 2 a 3 parágrafos, estrutura variável (seguindo o comando)

1) Dissertar nada mais é do que exprimir sua opinião sobre determinado TEMA.
2) Para dissertar, é necessário que você tenha em mente uma TESE, por exemplo, se você dissertar
sobre o tema “aumento da violência nas escolas”, você deve pensar – primeiro – qual a sua opinião
sobre este assunto: esta é a sua TESE.
3) Para sustentar a TESE, você deve ARGUMENTAR. Por exemplo, pense nos motivos pelo qual você
acredita que tenha corroborado para o aumento da violência. Você pode levar em consideração seus
conhecimentos, ou fazer-se valer do texto motivador para sustentar a tese, ou mesmo se valer de
dados científicos, estatísticas, exemplos (verdadeiros) para comprovar que não só você pensa assim,
mas que existem entidades reconhecidas que também colaboram com este pensamento. A esse
recurso, damos o nome de ARGUMENTO DE AUTORIDADE. Só cuidado: não faça cópias literais do
texto motivador. Procure sempre parafrasear o que está escrito.
4) Nem sempre as dissertações necessitam de uma “solução” para a problemática apresentada, mas
estes tipos de textos devem apresentar, obrigatoriamente, um fechamento que “converse” com o
primeiro parágrafo – abrangendo a totalidade do que foi escrito. Nem tudo neste mundo tem solução.

COMO FAZER?

Existem várias formas de se fazer uma dissertação, explicarei duas técnicas para proceder a escrita desse
tipo de texto:

MODELO UFPR

Quantos parágrafos: geralmente dois pelo número de linhas propostas. Pode ser que a banca solicite
também um número determinado de paragrafação.
Organização:
Primeiro parágrafo: faça uma breve apresentação sobre o que você vai dissertar. Por exemplo, sobre
“aumento da violência nas escolas”, você pode começar explicando o porquê de a violência ter aumentado.
Neste parágrafo deve deixar claro qual a tese que você vai defender.
E/OU
Atender ao comando textual da UFPR: geralmente, ela seleciona textos que têm função antagônica e como
comando, a banca pede que o escritor faça uma comparação entre os dois textos. Neste caso, é necessário
que você retome conceitos do gênero resumo, pois ele será necessário para construir este primeiro
parágrafo.
Segundo parágrafo: Comece a sustentar sua tese. Quais os motivos que o fazem crer que você tem a razão
sobre este assunto: estatísticas, pesquisas, a experiência que você observou ao longo do tempo?
Fechamento: retomar o que foi escrito (de modo resumido) e proceder para uma “solução” para a
problemática apresentada ou atentar para o comando textual.

IMPORTANTE:
É importante que você tenha em mente como usar os operadores argumentativos dentro deste tipo textual.
São eles que garantirão a amarração do seu texto como um todo, fazendo com que ele tenha mais fluidez e
coerência.
PRODUÇÃO E INTERPRETAÇÃO TEXTUAL - UFPR – DISERTAÇÃO

COMO CONECTAR AS PARTES DE UMA DISSERTAÇÃO?


Você pode utilizar a tabela de coesão abaixo para ligar as partes do texto. Lembre-se que nem todas os
conectores podem ser perfeitamente substituídos pelo outro. Você deve verificar se este é adequado ao
contexto do que você está escrevendo. Tome cuidado também com a adequação verbal que certos
conectores exigem.
RELAÇÃO DE SENTIDO ELEMENTOS DE LIGAÇÃO DE IDEIAS
Prioridade, relevância Em primeiro lugar, principalmente, primordialmente, sobretudo.
Tempo Então, enfim, logo, logo depois, imediatamente, logo após, a princípio, pouco antes, pouco depois, anteriormente,
(frequência, duração, posteriormente, em seguida, afinal, por fim, finalmente, agora, atualmente, hoje, frequentemente, constantemente, às
ordem, sucessão, vezes, eventualmente, por vezes, ocasionalmente, sempre, raramente, não raro, ao mesmo tempo, simultaneamente,
anterioridade, nesse ínterim, nesse meio tempo, enquanto, quando, antes que, depois que, logo que, sempre que, desde que, todas as
posteridade) vezes que, cada vez que, apenas.
Semelhança, Igualmente, da mesma forma, assim também, do mesmo modo, similarmente, semelhantemente, analogamente, por
comparação, analogia, de maneira idêntica, de conformidade com, de acordo com, segundo, conforme, sob o mesmo ponto de vista, tal
conformidade qual, tanto quanto, como, assim como, bem como, corno se.
Condição, hipótese Se, caso, eventualmente, desde que, contanto que, a não ser que, salvo se, como, conforme, segundo, de acordo com, em
conformidade com, consoante, para, em consonância.
Alternância Ou, ora…ora, já…já, seja…seja, quer... quer.
Explicação Pois, porque, por, porquanto, uma vez que, visto que, já que, em virtude de.
Fazer concessão Apesar de, embora, ainda que, se bem que, por mais que, por menos que, por melhor que, por muito que, mesmo que.
Para concluir Portanto, por isso, assim sendo, por conseguinte, consequentemente, então, deste modo, desta maneira, em vista disso,
diante disso, mediante o exposto, em conclusão, enfim, em resumo, portanto, assim, dessa forma, dessa maneira, logo,
pois, portanto, pois, (depois do verbo), com isso, desse/deste modo; dessa/desta maneira, dessa/desta forma, assim, em
vista disso, por conseguinte, então, logo, destarte.
Para incluir Também, inclusive, igualmente, até (inclusive)
Adição, continuação Além disso, outrossim, ainda mais, ainda por cima, por outro lado, também e as conjunções aditivas (e nem, não só…mas
também e, nem, também, ainda além de, não apenas…como também, não só…bem como, também, inclusive igualmente,
até, bem como, não só… mas ainda, não somente mas também, além de, com efeito, por outro lado, ainda, realmente, ora,
acrescentando-se que, acrescente-se que, saliente-se ainda que, paralelamente, além disso, ademais, além do mais, além
do que, tanto…quanto, como se não bastasse, tanto… como.
Dúvida Talvez, provavelmente, possivelmente, quem sabe, é provável, não é certo, se é que.
Certeza, ênfase De certo, por certo, certamente, indubitavelmente, inquestionavelmente, sem dúvida, inegavelmente, com toda a certeza.
Surpresa, imprevisto Inesperadamente, de súbito, imprevistamente surpreendentemente.
Ilustração, Por exemplo, isto é, quer dizer, em outras palavras, ou por outra, a saber.
esclarecimento
Propósito, intenção, Com o fim de, a fim de, com o propósito de
Finalidade
Lugar, proximidade, Perto de, próximo a ou de, junto a ou de, dentro fora, mais adiante, além, acolá, lá, ali, algumas preposições e os
distância pronomes demonstrativos.
Resumo, recapitulação, Em suma, em síntese, enfim, em resumo, portanto, assim, dessa forma, dessa maneira, por isso, assim sendo, por
conclusão conseguinte, consequentemente então, deste modo, desta maneira, em vista disso, diante disso.
Causa, consequência e Assim, de fato, com efeito, que, já que, uma vez que, visto que, por conseguinte, logo, pois (posposto ao verbo), então
explicação consequentemente, em vista disso, diante disso, em vista do que, de (tal) sorte que, de (tal) modo que de, (tal) maneira
que…, por consequência, como resultado, tão…que, tanto…que, tamanha(o)…que, tal … que…,decorrente de, em
decorrência de, consequentemente, com isso, que, porque, pois, como, por causa de, já que, uma vez que, porquanto; na
medida em que, visto que.
Contraste, oposição, Pelo contrário em contraste com, salvo, exceto, menos, mas, contudo, todavia, entretanto, embora, apesar, ainda que,
restrição, ressalva mesmo que, posto que, conquanto que, se bem que, por mais que, por menos que, porém, contudo, todavia, entretanto, no
entanto, não obstante, senão, opor-se, contrariar, negar, impedir, surgir em oposição, surgir em contraposição apresentar
em oposição, ser contrário.
Afirmação Consistir, constituir, significar, denotar, mostrar, traduzir-se por, expressar, representar, evidenciar.
Causalidade Causar, motivar, originar, ocasionar, gerar, propiciar, resultar, provocar, produzir, contribuir, determinar, criar.
Finalidade Visar, ter em vista, objetivar, ter por objetivo, pretender, tencionar, cogitar, tratar, servir para, prestar-se para.
Palavras de transição Palavras responsáveis pela coesão do texto por estabelecem a inter-relação entre os enunciados (orações, frases,
parágrafos), são preposições, conjunções alguns advérbios e locuções adverbiais. Inicialmente (começo introdução) desde
já (começo introdução) a princípio, a priori (começo), em primeiro lugar (começo)além disso (continuação), do mesmo
modo (continuação), acresce que (continuação), ainda por cima (continuação), bem como (continuação), outrossim
(continuação), enfim (conclusão), dessa forma (conclusão), em suma (conclusão), nesse sentido (conclusão), portanto
(conclusão), afinal (conclusão),logo após (tempo), ocasionalmente (tempo), posteriormente (tempo)atualmente (tempo),
enquanto isso (tempo), imediatamente (tempo), não raro (tempo), concomitantemente (tempo), igualmente (semelhança,
conformidade), segundo (semelhança, conformidade), conforme (semelhança conformidade) assim também (semelhança,
conformidade), de acordo com (semelhança, conformidade), daí (causa e consequência), por isso (causa e consequência),
de fato (causa e consequência), em virtude de (causa e consequência), assim (causa é consequência) naturalmente
(causa e consequência), então (exemplificação esclarecimento), por exemplo (exemplificação, esclarecimento) isto é
(exemplificação esclarecimento), a saber (exemplificação, esclarecimento), em outras palavras (exemplificação
esclarecimento), ou seja (exemplificação esclarecimento) quer dizer (exemplificação esclarecimento) rigorosamente
falando (exemplificação, esclarecimento).
Coesão por substituição Substituição de um nome (pessoa, objeto, lugar etc.) verbos períodos ou trechos do texto por uma palavra ou expressão
que tenha sentido próximo, evitando a repetição no corpo do texto. Ex.: Porto Alegre pode ser substituída por “a capital
gaúcha; Castro Alves pode ser substituído por “O Poeta dos Escravos ;João Paulo II: Sua Santidade; Vênus: A Deusa da
Beleza.
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PRÁTICA 1 – UFPR 2019

Leia o texto abaixo.

A web já faz parte do cotidiano de pesquisadores, editoras e instituições científicas. Publicamos e lemos
periódicos on-line, e utilizamos plataformas da web social (Twitter, Facebook, blogues, YouTube etc.) para
divulgar nossos trabalhos, fazer contatos, encontrar novos colaboradores… Nossas produções e resultados
de pesquisa também circulam no ambiente on-line, recebendo curtidas e comentários, sinalizando um
interesse que, até pouco tempo atrás, era muito mais difícil de acompanhar. O padrão ouro da avaliação dos
artigos científicos até a década passada era a citação. Diante da possibilidade de se ver e monitorar todo
esse diálogo da ciência em ação na internet, não seria interessante considerar essa uma nova forma de
medir os impactos da ciência?
Quando olhamos para as citações que um artigo recebeu, estamos considerando um grupo relativamente
limitado de pessoas que o usaram: aquele grupo que se interessou, leu e utilizou aquele texto para construir
e publicar o seu próprio trabalho. Esse grupo com certeza é muito importante – afinal, é assim que se faz
ciência, com pesquisadores usando trabalhos de outros pesquisadores para construir conhecimento novo.
Mas a citação não é o único uso que um artigo científico pode ter. Estudantes leem artigos como parte da
sua formação profissional. Profissionais leem artigos para ficar em dia com novas tendências da área e para
resolver questões específicas, como definir um diagnóstico médico. Pacientes, gestores, ativistas, amadores,
wikipedistas, curiosos, muita gente pode se interessar pela literatura científica, pelos mais diversos motivos.
Hoje, nas redes sociais, encontramos traços desses interesses por artigos científicos e pela ciência. O
biólogo compartilha seu artigo novo no Facebook. A astrônoma explica sua pesquisa em um vídeo no
YouTube. A cientista social escreve uma sequência no Twitter mostrando com o que a pesquisa acadêmica
pode contribuir para a sociedade... São atos que não necessariamente geram citações, mas demonstram
que a utilidade da ciência não se resume ao que é publicado formalmente em periódicos consagrados.
As métricas dessa disseminação de trabalhos científicos nas redes sociais, que chamamos altmetrias
(do inglês altmetrics, encurtamento da expressão alternative metrics – métricas alternativas, em português),
vão aos poucos se incorporando ao nosso cotidiano. Em alguns periódicos e repositórios, encontramos, junto
aos dados de download, informações sobre quantas vezes o arquivo foi compartilhado. Para alguns, as
altmetrias podem ser indicadores do impacto social da ciência, algo importante para a sociedade que quer e
deve acompanhar o que se faz com os recursos públicos investidos em ciência.
Mas quais seriam essas métricas? Podemos lançar o olhar para a disseminação dos conteúdos em tuítes
e posts de divulgação, ver a interação dos usuários a partir desses posts (as tais curtidas e reações do
Facebook e corações do Twitter), os downloads dos artigos e sua incorporação em gestores de referência
como o Mendeley e a geração de conteúdo a partir do uso dos artigos em documentos como blogues, sites
e Wikipedia. Podemos avaliar quantitativamente as diferentes reações (no caso do Facebook), redes de
relações e compartilhamentos dos usuários, ler os comentários e respostas, enfim, ver todo esse processo
que vai da divulgação científica ao diálogo entre pares, em um olhar sobre a ciência e sua disseminação e
comunicação.
Outro ponto importante é reconhecer os diferentes níveis de engajamento representados por cada ato
nas redes sociais. Um clique no botão ‘curtir’, por exemplo, é um tipo de engajamento superficial, que pode
ser uma demonstração de interesse mas demanda pouco esforço do usuário. Se queremos transformar os
tais polegares e corações em indicadores, eles precisam estar refletindo mais do que mera repercussão viral
e ir mais fundo.
(Fábio Castro Gouveia (Fundação Oswaldo Cruz) e Iara Vidal Pereira de Souza (UFRJ). Revista Ciência
Hoje, edição 348, outubro de 2018. Disponível em: <http://cienciahoje.org.br/artigo/a-ciencia-compartilhada-
na-rede>. Adaptado.)
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Com base nessa leitura, escreva um texto argumentativo sobre a relação entre ciência e redes
sociais, procurando dar uma resposta à questão que se levanta no primeiro parágrafo: não seria
interessante considerar a altmetria uma nova forma de medir os impactos da ciência?
Seu texto deverá:
- contextualizar o tema;
- conter um posicionamento, com as devidas justificativas, acerca do uso da altmetria para
avaliar os impactos da ciência;
- identificar e opor pontos positivos e pontos negativos do uso da altmetria;
- apresentar os elementos formais e discursivos característicos de um texto argumentativo;
- ter no mínimo 10 e no máximo 12 linhas.

RASCUNHO

EXEMPLO REAL

NOTA: 16,667/20
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PRÁTICA 2 – UFPR 2018

Leia o excerto e a tirinha que seguem.


[...] agora habitamos, de modo sem precedentes, dois mundos diferentes – o ‘on-line’ e o off-line’ –
, ainda que sejamos capazes de passar de um para outro de forma tão suave, a ponto de isso ser,
na maioria dos casos, imperceptível, de vez que não há nem fronteiras demarcadas ou controles de
imigração entre elas, nem agentes de segurança para verificar nossa inocência ou funcionários da
imigração checando nossos vistos e passaportes. Com muita frequência conseguimos estar nos
dois mundos ao mesmo tempo [...]. Pode-se fazer uma longa lista de diferenças entre os dois
mundos, mas uma delas parece ter mais peso sobre nossas reações aos desafios da ‘crise
migratória’. Dentro do mundo off-line eu estou sob controle – espera-se que me submeta ao controle
de circunstâncias contingentes, voláteis, e muitas vezes sou forçado a isso – para que obedeça, me
ajuste, negocie meu lugar, meu papel, assim como o equilíbrio de direitos e deveres – tudo isso
vigiado e imposto pela sanção, explícita ou suposta, da exclusão e da expulsão. Enquanto no mundo
on-line, pelo contrário, eu sou responsável e estou no controle. On-line, sinto que sou o
administrador das circunstâncias, aquele que estabelece a agenda, recompensa a obediência e
pune a indisciplina, que detém a arma do banimento e da exclusão. Eu pertenço ao mundo off-line,
enquanto o mundo on-line pertence a mim.
(In: BAUMAN, Zygmunt. Estranhos à nossa porta. Rio de Janeiro: Zahar, 2007, p. 101/102.)
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(Disponível: <http://assuperlistas.com/2017/02/21/os-melhores-cartunistas-do-brasil>. Acessado em


04/09/2017.)
Escreva um texto argumentativo no qual você concorde ou discorde da afirmação contida na última
frase do excerto, síntese do pensamento do autor, em face da tirinha de Dahmer.
Seu texto deve:
- ter de 12 a 15 linhas;
- apresentar seu posicionamento relativamente ao tema da afirmação;
- conter as justificativas de seu posicionamento.

RASCUNHO
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PRÁTICA 3 – UFPR 2017

Considere o seguinte texto:


Esquerda, Direita ou Centro?
Vivemos, no Brasil de hoje, um momento curioso em que todos, de repente, resolveram politizar-se. Até
pouco tempo atrás, vigorava um senso comum de que não valeria a pena discutir a respeito de política,
porque, afinal de contas, políticos são todos corruptos. Opinião política era considerada uma coisa tão
pessoal, que não era de bom tom perguntar a respeito disso a ninguém, assim como não se perguntaria
quanto uma pessoa ganha ou qual seria a sua fé (ou ao menos assim ditavam os bons costumes). Agora,
em especial no que concerne à política, já não me parece que as coisas são assim. Um maior acesso à
informação, aliado à abertura de um novo canal de diálogo nas redes sociais, tem feito com que as pessoas
passem mais frequentemente a dar voz às suas opiniões, entrando, por isso mesmo, muitas vezes em
confronto com conhecidos e familiares. Nisso, há um agravante: justamente por não termos prática de
debater a respeito de política, há uma enorme confusão de conceitos dentro do que hoje constitui o diálogo
político médio no Brasil, o que em nada ajuda a mitigar a situação de confronto.
É notório que tenha havido, recentemente, um crescimento no número de pessoas que se identificam
como de direita (sabendo bem o que é isso ou não). Esse crescimento tem ocorrido não sem um enorme
esforço de desinformar essas mesmas pessoas a respeito do que é ser de esquerda e, por extensão, também
a respeito do que é ser de direita. Reitero o caráter pessoal deste texto por um motivo simples: não há uma
única acepção possível do que é ser de esquerda ou ser de direita. Isso ocorre evidentemente porque existe
um espectro de possibilidades entre o máximo da esquerda e o máximo da direita.
Dentro de uma sociedade humana organizada, a vida política envolve questões atuantes em dois eixos,
o econômico e o social, que caracterizam, mediante leis (da parte do governo) e costumes (da parte da
sociedade), a existência humana em comum. Cada um desses eixos abrange uma pluralidade de questões,
as quais, por vezes, têm participação em ambos os eixos simultaneamente.
Há, basicamente, dois tipos de indivíduo no centro: os que têm de fato uma postura comedida e
apregoam um posicionamento moderado em todas as questões; e aqueles que simplesmente têm um
posicionamento misto, sem fortes inclinações nem para um lado nem para o outro. Alguns talvez não tenham
interesse em política; outros podem estar indiferentes com a situação atual, sem grandes intenções de mudá-
la nem de perpetuá-la; outros ainda podem apenas ser cautelosos e acreditar que é preciso moderação para
abordar questões complexas e polêmicas. A partir da definição do que é ser de centro, podemos tentar
identificar o que poderia significar ser de esquerda e ser de direita, ao menos em uma definição inicial, por
mais insuficiente que ela possa ser para um diálogo mais aprofundado.
Não é difícil ver que essas posições extremas são perigosíssimas. Entretanto, certamente há ocasiões
em que ambas têm seu valor: em uma situação de extrema injustiça e ausência de qualquer outra solução,
é compreensível que pessoas adotem uma posição revolucionária, da mesma forma como é compreensível
que, em uma situação de extremo contentamento geral, pessoas estejam prontas para impedir, até por meios
violentos, que se estrague o bom funcionamento da sociedade. O grande perigo reside no erro de diagnose,
tanto de se fazer a revolução quando ela não é necessária como de se defender a manutenção de uma
situação injusta.
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Mais do que isso: há enorme perigo em não perceber que essas posições extremas não são o único
caminho para se orientar a sociedade mais para a esquerda ou mais para a direita, isto é, operando
mudanças sociais a fim de buscar melhorias para a qualidade de vida da maioria (movimento à esquerda) ou
focando em coibir mudanças sociais a fim de preservar o funcionamento atual da sociedade (movimento à
direita). Há que se notar ainda que os dois movimentos podem ser feitos ao mesmo tempo, para áreas
diferentes de nossa sociedade, preservando as leis e tradições que são frutuosas, mas dando espaço para
mudanças nos pontos em que elas são necessárias.
Quando digo vida política, claro, não me refiro apenas à política como o exercício de cargos
governamentais; refiro-me à vida do ser humano como organismo político, isto é, um organismo partícipe de
uma πόλις (pólis), ou seja, um πολίτης (polítēs), um membro de uma sociedade humana organizada.
Por democracia próspera e saudável, defino uma sociedade não perfeita, mas em que há o bastante
para todos de forma mais ou menos semelhante, a ponto de não haver necessidade para uma revolução,
mas, ao mesmo tempo, a ponto de ainda haver (como talvez sempre haja) questões sociais e/ou econômicas
a serem resolvidas. Antes de estar pensando em um exemplo real, penso aqui em um ideal do qual as
diferentes sociedades humanas se aproximam mais ou menos.
(Adaptado de Leonardo Antunes. Disponível em: <http://www.jornalja.com.br/esquerda-direita-ou-centro/>.
Acesso em 06/07/2016.)

Segundo o autor, o maior acesso à informação modificou a participação das pessoas no debate a
respeito de política. Escreva um texto explicitando como o autor caracteriza o cenário atual no
tocante a essa participação e, com base na distinção que ele faz entre os diferentes
posicionamentos políticos, defina em qual deles você se enquadra.
O seu texto deve:
- ter de 10 a 12 linhas;
- definir sua posição atendo-se aos elementos apresentados no texto-base;
- justificar a posição assumida por você.

IMPORTANTE: Você será avaliado pela consistência dos argumentos escolhidos e pela clareza e
organização de seu texto, NÃO pela posição que tomar.

RASCUNHO
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PRÁTICA 4 – UFPR 2017/2

Considere o texto abaixo:


A ascensão política de Donald Trump nos EUA, a decisão britânica de deixar a União Europeia e a
definição contrária ao acordo de paz na Colômbia têm sido elencados como exemplos de uma crise da
democracia global e dos sistemas de representação política. [...]
Para o filósofo norte-americano Jason Brennan, os três casos são símbolo de problemas na tomada
de decisões políticas. Esses impasses favorecem a participação das pessoas em detrimento do
conhecimento que elas têm sobre a realidade em questão – o que leva, segundo ele, a escolhas
irracionais.
Este é o caso específico do “brexit”, na visão de Brennan, em que as pessoas tomaram “uma
decisão estúpida” porque não tinham informações sobre a realidade britânica. E é o modelo que aproximou
Trump da Presidência dos EUA, apesar de fazer campanha com pouco apego a fatos reais e a mentir em
71% das suas declarações, segundo o site PolitiFact, que checa discursos
políticos. [...]
Em entrevista à Folha, por telefone, Brennan falou sobre suas críticas aos sistemas democráticos,
reunidas no recente livro “Against Democracy” (contra a democracia), em que sugere a implementação de
um sistema político diferente: a epistocracia. Ele defende que apenas uma elite com conhecimento
aprofundado sobre temas de relevância nacional possa tomar decisões.
Criticado por sua visão de mundo “elitista”, ele diz que a democracia ainda é o melhor sistema de
governo, mas que isso não significa que não precise evoluir.

Epistocracia (ou epistemocracia, como também aparece citado em trabalhos acadêmicos no Brasil), é um
conceito de sistema político baseado na ideia de epistem. O termo foi usado por Platão na filosofia grega,
no século 4º a.C., para se referir ao “conhecimento verdadeiro”, em oposição à opinião infundada, sem
reflexão.
Por esse sistema, o poder político não deveria ser distribuído igualmente a todos os cidadãos, em
contraposição à democracia, mas sim estas nas mãos das pessoas sábias.
(Fonte: <http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2016/11/1829957>)

Escreva um texto argumentativo posicionando-se em relação à proposta apresentada por Jason


Brennan.
O seu texto deve:
- ter de 10 a 12 linhas;
- explicitar em linhas gerais as ideias de Jason Brennan;
- assumir uma posição contra ou a favor dela, contrapondo argumentos se for contra, ou reforçando
os já apresentados se for a favor.

RASCUNHO
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PRÁTICA 5 - UFPR 2016


Considere o texto abaixo:
Complexo de vira-lata dos brasileiros
Adam Smith (estudante de Oxford)
Pouco depois de chegar a São Paulo, fui a uma loja na Vila Madalena comprar um violão. O atendente,
notando meu sotaque, perguntou de onde eu era. Quando respondi “de Londres”, veio um grande sorriso de
aprovação. Devolvi a pergunta e ele respondeu: “sou deste país sofrido aqui”.
Fiquei surpreso. Eu – como vários gringos que conheço que ficaram um tempo no Brasil – adoro o país pela
cultura e pelo povo, apesar dos problemas. E que país não tem problemas? O Brasil tem uma reputação
invejável no exterior, mas os brasileiros, às vezes, parecem ser cegos para tudo exceto o lado negativo.
Frustração e ódio da própria cultura foram coisas que senti bastante e me surpreenderam durante meus 6
meses no Brasil. Sei que há problemas, mas será que não há também exagero (no sentido apartidário da
discussão)?
Tem uma expressão brasileira, frequentemente mencionada, que parece resumir essa questão: complexo
de vira-lata. A frase tem origem na derrota desastrosa do Brasil nas mãos da seleção uruguaia no Maracanã, na
final da Copa de 1950. Foi usada por Nelson Rodrigues para descrever “a inferioridade em que o brasileiro se
coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo”. E, por todo lado, percebi o que gradualmente comecei a
enxergar como o aspecto mais “sofrido” deste país: a combinação do abandono de tudo brasileiro, e veneração,
principalmente, de tudo americano. É um processo que parece estrangular a identidade brasileira.
Sei que é complicado generalizar e que minha estada no Brasil não me torna um especialista, mas isso
pode ser visto nos shoppings, clones dos “malls” dos Estados Unidos, com aquele microclima de consumismo
frígido e lojas com nomes em inglês e onde mesmo liquidação vira “sale”. Pode ser sentido na comida. Neste
“país tropical” tão fértil e com tantos produtos maravilhosos, é mais fácil achar hot dog e hambúrguer do que
tapioca nas ruas. Pode ser ouvido na música americana que toca nos carros, lojas e bares no berço do Samba e
da Bossa Nova.
Pode ser visto também no estilo das pessoas na rua. Para mim, uma das coisas mais lindas do Brasil é a
mistura das raças. Mas, em Sampa, vi brasileiras com cabelo loiro descolorido por toda a parte. Para mim (aliás,
tenho orgulho de ser mulato e afrobritânico), dá pena ver o esforço das brasileiras em criar uma aparência
caucasiana.
O Brasil está passando por um período difícil e, para muitos brasileiros com quem falei sobre os problemas,
a solução ideal seria ir embora, abandonar este país para viver um idealizado sonho americano. Acho esta
solução deprimente. Não tenho remédio para os problemas do Brasil, obviamente, mas não consigo me desfazer
da impressão de que, talvez, se os brasileiros tivessem um pouco mais orgulho da própria identidade, este país
ficaria ainda mais incrível. Se há insatisfação, não faz mais sentido tentar melhorar o sistema?
(Disponível em <http://www.pragmatismopolitico.com.br>. 14 mai. 2015. Adaptado.)

Tendo como ponto de partida as impressões do estudante inglês Adam Smith sobre o Brasil,
formule uma resposta para a seguinte questão:
Existe uma solução para o complexo de vira-lata dos brasileiros?
Seu texto deve:
- fazer referência ao texto, retomando seus argumentos;
- apresentar, com clareza e autonomia, uma resposta à pergunta acima, justificando-a;
- ter de 6 a 8 linhas.

RASCUNHO
PRODUÇÃO E INTERPRETAÇÃO TEXTUAL - UFPR – DISERTAÇÃO

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PRODUÇÃO E INTERPRETAÇÃO TEXTUAL - UFPR – DISSERTAÇÃO

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PRÁTICA 6 - UFPR 2015

A placa ao lado reflete a existência de uma prática atual muito


comum. Escreva um texto argumentativo, de até 10 linhas,
pondo em confronto as informações contidas na placa e a
referida prática vigente.
O seu texto deve:
- explicitar que prática é essa;
- assumir uma posição em relação a ela;
- apresentar argumentos que sustentem o seu posicionamento,
seja ele qual for.

RASCUNHO
PRODUÇÃO E INTERPRETAÇÃO TEXTUAL - UFPR – DISERTAÇÃO

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PRÁTICA 7 - UFPR 2014

Texto 1:
Sem Tempo para as Palavras
O tempo da comunicação por e-mails e mensagens de texto pode, em breve, ficar tão ultrapassado
quanto o das cartas manuscritas enviadas pelo correio tradicional ou o das conversas ao telefone. E o longo
post de 140 caracteres no Twitter? Esqueça! Estamos nos aproximando do dia em que tudo será dito com
imagens, segundo o New York Times. “As fotos estão rapidamente se convertendo em um tipo de diálogo
inteiramente novo”, escreveu Nick Bilton no jornal. “A turma de vanguarda está descobrindo que se comunicar
com uma simples imagem, quer seja uma foto do que vai haver para o jantar ou uma imagem de uma placa
de rua indicando ao amigo ‘Ei, estou esperando por você aqui’, é mais fácil que se dar ao trabalho de usar
as palavras.”
No passado, álbuns de fotos de família ocupavam espaço em estantes, repletos de imagens de
casamentos, formaturas, férias memoráveis e poses desajeitadas em volta da árvore de Natal. Agora, com o
clicar de um botão, podemos postar uma foto online, poupando-nos do trabalho de usar nossos dedos ou de
digitar com os polegares num teclado pequeno. “Este é um momento divisor de águas. Estamos nos
afastando da fotografia como maneira de registrar ou armazenar um momento passado e convertendo-a num
meio de comunicação”, disse ao NYT Robin Kelsey, professor de fotografia da Universidade de Harvard. [...]
(Tom Brady, Observatório da Imprensa, 23/07/2013.)

Texto 2

Procura da Poesia
[...]
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?
[...]
(ANDRADE, Carlos Drummond de. Antologia poética. 8a ed. Rio de Janeiro, José Olympio, 1975. p. 175-
177)
Confronte os textos 1 e 2 e dê sua opinião sobre a utilização da palavra escrita: que prognósticos
podemos fazer quanto ao seu uso na comunicação e na vida em geral?
Seu texto deve:
- Apresentar uma opinião clara sobre o assunto e argumentos para sustentá-la, pautados nos textos;
- Ter entre 10 e 12 linhas.
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RASCUNHO
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PRÁTICA 8 - UFPR 2013

RASCUNHO

O que dizia os critérios?


A questão solicitava que o candidato, com base na sua experiência como estudante, em um texto de 8 a 10
linhas, indicasse duas mudanças importantes para a melhoria do Ensino Médio. As mudanças propostas
deveriam ser diferentes da anunciada pelo Ministro (reproduzida na notícia) e serem justificadas.
Um pressuposto para a avaliação desta e das demais questões é que um texto não se constitui apenas de
uma referência a um fato e sua simples associação a uma causa ou consequência, mas requer o uso
elaborado de recursos linguísticos para abordar essa relação, de modo que cause efeito na opinião do
leitor.
Nesse sentido, foram considerados BONS ou MUITO BONS os textos que apresentaram efetivamente duas
mudanças, quaisquer que fossem (por exemplo, adoção de Ensino Médio em tempo integral e associado,
no último ano, a disciplinas de cunho profissionalizante), contanto que tivessem sido utilizados recursos
textuais adequados (estrutura textual, marcadores de coesão e coerência...), além de, conforme solicitado
no enunciado, justificativa da posição do candidato.
Foram considerados REGULARES os textos que apresentaram apenas uma mudança, seja por omissão de
uma delas, seja por sugerir uma ação que não representa uma mudança, mas o simples cumprimento do
que já está posto. Exemplos recorrentes foram textos que apresentavam como proposta o conserto do
espaço físico das escolas. Foram considerados REGULARES, também, os textos que, ainda que tivessem
apontado duas mudanças, não fizeram uso de recursos de linguagem para convencimento, limitando-se a
uma mera associação entre uma ação e uma justificativa, como, por exemplo, simplesmente propor
melhoria dos salários dos professores para que eles deem melhores aulas.
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Foram considerados INSUFICIENTES os textos que não atenderam minimamente à proposta, como os
casos em que o candidato não apresentou sugestão de mudanças, restringindo-se a comentar a proposta
do Ministro ou a apontar as mazelas da educação de modo geral.
O domínio da linguagem formal foi critério para elevar ou diminuir a pontuação em cada uma das faixas
descritas, em alguns casos determinando a mudança de faixa. Pontuação adequada, estruturas sintáticas
que favoreceram a leitura e vocabulário apropriado foram elementos considerados para se validar a nota a
ser alcançada pela aplicação dos critérios com que foi analisado o conteúdo de cada texto.

PRÁTICA 9 - UFPR 2013/2

TEXTO 1: Relato do historiador romano Tácito (XIV, 17) de um incidente ocorrido em 59 d.C.
Um incidente sem importância provocou uma horrível matança entre os colonos de Nucéria e Pompeia.
Aconteceu durante um combate de gladiadores oferecido por Livônio Régulo. Como ocorre comumente em
pequenas cidades, trocaram-se insultos, em seguida, pedras, chegando-se, por fim, às espadas. A plebe de
Pompeia, onde se realizava o espetáculo, levou a melhor. Muitos nucerianos, feridos e mutilados, eram levados
para sua cidade. Muitos choravam a morte de um filho ou um pai. O príncipe (Nero) instruiu o Senado para
investigar o caso. O Senado deixou-o a cargo dos cônsules. Quando recebeu as informações, o Senado proibiu,
por dez anos, a realização, por parte de Pompeia, de reuniões daquele tipo (jogos de gladiadores), e as
associações legais (torcidas organizadas) foram dissolvidas. Livônio e seus cúmplices na desordem foram
exilados.

TEXTO 2: Crônica de Nelson Rodrigues.


Nós, os mortais
Amigos, é certo que houve o diabo, anteontem, no Maracanã. Poucas vezes, desde que me conheço, tenho
visto uma partida tão truculenta. Foi pé na cara de fio a pavio do jogo. E quando soou o apito final, só uma coisa
admirou: é que ninguém tivesse saído de maca ou rabecão.
Mas o futebol é muito divertido. À saída do estádio, só vi gente vociferando contra a indisciplina. Um sujeito
fazia uma espécie de comício. Dizia, de olho rútilo e lábio trêmulo: “Isso é uma vergonha!”. Fazia o suspense de
uma pausa e reforçava: “Uma pouca-vergonha!”. Só eu no meio de tantos, de todos, não estava nada irado,
nada ultrajado. Sempre que vejo dois times baixarem o pau, concluo, de mim para mim: “Eis o homem”.
Pode ser lamentável e acredito que seja lamentável. Mas, que fazer se é esta, exatamente esta, a condição
humana? A rigor, ninguém tem o direito de se espantar com o alheio pecado. O homem sempre foi assim, desde
o Paraíso e antes do Paraíso. E nenhum jogador vai para o inferno só porque meteu o pé na cara de outro
jogador.
Todos nós temos o fanatismo da disciplina, mas creiam: é um fanatismo suspeito ou, como dizia outro, de
araque. A disciplina foi feita para o soldadinho de chumbo e não para o homem. E o futebol tem de ser
passional, porque é jogado pelo pobre ser humano. A grandeza de um clássico ou de uma pelada está em que
fornece uma imagem fidedigna do homem. Assim somos todos nós.
Quando a multidão vaia um jogador feroz, está agindo e reagindo como um Narciso às avessas que
cuspisse na própria imagem. Ninguém é melhor do que ninguém. Se a multidão estivesse no lugar do jogador
faria a mesma coisa e, se o jogador estivesse no lugar da multidão, vaiaria do mesmo jeito. Portanto, eu não
consigo me escandalizar com a baderna de anteontem.
Eu me espantaria, sim, se, ao ser agredida, a vítima retribuísse com um beijo na testa. Mas se o agredido
esperneia, tenho de admitir a lógica do seu comportamento. Há, também, o caso do juiz. A meu lado, um
confrade esperneava: “Inconcebível!”. E, de fato, o árbitro fez o diabo. Só faltou subir pelas paredes e se
pendurar no lustre de cabeça para baixo. Está certo: S.Sª errou.
Mas pergunto: por que cargas d’água só o juiz há de ser o incorrupto, o infalível, se nada disso pertence à
condição humana? Se reis, príncipes, barões cometeram as maiores iniquidades, por que um juiz de futebol há
de ser irrepreensível? Se Maria Antonieta fez uma piada sobre a fome; e se pagou essa piada com a cabeça – o
árbitro de anteontem pode marcar um pênalti errado. Amigos, a disciplina é uma convenção. E qualquer
convenção nasce e existe para ser violada.

Casos de violência no esporte e brigas entre torcidas, como os relatados nos textos 1 e 2, são
notícias recorrentes na atualidade. Diante dessas ocorrências, você concorda com a opinião de
Nelson Rodrigues? Apresente seu ponto de vista em um texto, atendendo às seguintes
recomendações:
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• mencionar fatos atuais;


• apresentar argumentos para sustentar sua opinião;
• ter de 8 a 10 linhas.

RASCUNHO

O que dizia o critério?


A questão solicitava aos candidatos que emitissem uma opinião com base na crônica de Nelson Rodrigues
intitulada "Nós, os mortais". O texto apresentava uma visão positiva com relação à violência e à paixão
presentes em jogos de futebol, com base na noção de natureza humana. O texto do historiador romano
Tácito, narrando confrontos entre espectadores de espetáculos esportivos em Pompeia no século I d.C.,
servia como contraponto à ideia de que somente recentemente a violência e o ardor esportivo causam
problemas.
Foram considerados BONS ou MUITO BONS os textos que emitiram efetivamente uma opinião, qualquer
que fosse ela (a favor, contrária ou moderada com relação às ideias de Nelson Rodrigues), contanto que se
utilizassem de recursos textuais adequados (marcadores de coesão e coerência argumentativos, clareza
argumentativa, além de, conforme solicitado no enunciado, fatos atuais para ilustrar e justificar a posição do
candidato).
Foram considerados REGULARES os textos que não apresentaram uma opinião coerente ou que não
conseguiram sustentar suas posições argumentativas com recursos linguísticos adequados. Exemplos
recorrentes foram textos que tomavam uma posição com relação ao texto de Nelson Rodrigues mas
negavam essa própria posição (por exemplo, quando o candidato afirma concordar com a posição do
cronista para, logo adiante, exigir mais policiamento ou punições mais severas para a violência no futebol)
sem sustentar a posição de modo discursivamente adequado. O uso exclusivo de fatos atuais
completamente desviantes com relação ao contexto do esporte também foi classificado nesta faixa, quando
a resposta se sustentava textualmente.
Foram considerados INSUFICIENTES os textos que não atenderam à proposta minimamente, como
quando o candidato não expressava opinião alguma, mantendo-se em uma descrição de fatos violentos ao
longo de todo ou quase todo o texto, ou apenas parafraseando os textos de base. Textos que se apoiavam
somente em fatos alheios ao esporte e sem qualidades textuais foram também classificados como
insuficientes.
O domínio da linguagem argumentativa adequada foi critério para elevar ou diminuir a pontuação em cada
uma das faixas descritas. Como requisitos fundamentais para a questão, pode-se citar um bom domínio de
sintaxe e de recursos de construção textual, especialmente elementos de coesão e coerência.
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PRÁTICA 10 - UFPR 2012


Leia o texto abaixo.
Morreu Amy Winehouse e os moralistas de serviço já começaram a aparecer. Como abutres que são.
Não há artigo, reportagem ou mero obituário que não fale de Winehouse com condescendência e piedade.
Alguns, com tom professoral, falam dos riscos do álcool e da droga e dão o salto lógico, ou ilógico, para
certas políticas públicas.
Amy Winehouse é, consoante o gosto, um argumento a favor da criminalização das drogas; ou, então,
um argumento a favor de uma legalização controlada, com o drogado a ser visto como doente e
encaminhado para a clínica respectiva. O sermão é hipócrita e, além disso, abusivo.
Começa por ser hipócrita porque este tom de lamentação e responsabilidade não existia quando Amy
Winehouse estava viva e, digamos, ativa. Pelo contrário: quanto mais decadente, melhor; quanto mais
drogada, melhor; quanto mais alcoolizada, melhor. Não havia jornal ou televisão que, confrontado com as
imagens conhecidas de Winehouse em versão zoombie, não derramasse admiração pela 'rebeldia' de Amy,
disposta a viver até o limite.
Amy não era, como se lê agora, uma pobre alma afogada em drogas e bebida. Era alguém que criava
as suas próprias regras, mostrando o dedo, ou coisa pior, para as decadentes instituições burguesas que a
tentavam "civilizar". E quando o pai da cantora veio a público implorar para que parassem de comprar os
seus discos – raciocínio do homem: era o excesso de dinheiro que alimentava o excesso de vícios – toda a
gente riu e o circo seguiu em frente. Os moralistas de hoje são os mesmos que riram do moralista de
ontem.
Mas o tom é abusivo porque questiono, sinceramente, se deve a sociedade impor limites à
autodestruição de um ser humano. A pergunta é velha e John Stuart Mill, um dos grandes filósofos liberais
do século 19, respondeu a ela de forma inultrapassável: se não há dano para terceiros, o indivíduo deve
ser soberano nas suas ações e na consequência das suas ações. Bem dito. Mas não é preciso perder
tempo com filosofias. Melhor ler as letras das canções de Amy Winehouse, onde está todo um programa:
uma autodestruição consciente, que não tolera paternalismos de qualquer espécie.
O tema "Rehab", aliás, pode ser musicalmente nulo (opinião pessoal) mas é de uma honestidade
libertária que chega a ser tocante: reabilitação para o vício? Não, não e não, diz ela. Três vezes não.
Respeito a atitude. E, relembrando um velho livro de Theodore Dalrymple sobre a natureza da adição (Junk
Medicine: Doctors, Lies and the Addiction Bureaucracy), começa a ser hora de olhar para o consumidor de
drogas como um agente autônomo, que optou autonomamente pelo seu vício particular – e, em muitos
casos, pela sua destruição particular.
(PEREIRA COUTINHO, João. “Sermão ao Cadáver”, www.folhaonline.com.br – acesso 25 jul 2011.)

A sociedade deve impor limites à autodestruição de um ser humano? Num texto de 10 a 12 linhas,
discuta essa questão, ponderando a respeito da descriminalização das drogas. Seu texto deverá
levar em consideração a argumentação de Coutinho.

RASCUNHO

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