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Os Sistemas de Planejamento e Controle da Produção das

Indústrias de Confecções do Estado do Ceará - Estudo de


Múltiplos Casos

Sérgio José Barbosa E lia s


Universidade Federal do Ceará
Dálvio Ferrari T ubino
Universidade Federal de Santa Catarina
e-mail: serglias@secrel.com.br, tubino@eps.uf sc.br

ABSTRACT: This paper presents an analysis of the Systems of Production


Planning and Control used by the appar el industries located in the state of Ceará,
repres enting one of the most important sectors of the local eco nomy. Initially it is
charact erized the sector, sho wing its econo mic importance and the problems fa ced.
Follo wing, it is realized a bibliographic research over the them e PC P and the most
releva nt points in the apparel industry. It is used a multiple case study involving
five compa nies locat ed in Ceará, with small, medium and large sizes, collecting
data with the aid of a questionnaire. All results wer e analyz ed and presents. This
paper serves as a theoretical ref eren ce about the subj ect as well as an indication to
the actions that should be taken in order to improve the S ystems of Production
Planning and Control of the apparel industries.
Keywords: PC P, apparel industries

RESUMO : Este artigo apresenta uma análise dos Sistemas de Plan ejamento e
Controle da Produ ção utilizados pelas indústrias de confecçõ es sediadas no Ceará,
que é uma das mais repres entativas do Estado. Inicialm ente é feita a
caract erização do setor, mostrando sua importância e probl emas enfrentados. Após
isso, é realizada uma pesquisa bibliográfica abordando o PC P e os fatores de
maior relevâ ncia para a indústria de confecçõ es. É utilizado para este trabalho o
estudo de casos múltiplos, envol vendo cinco em presas sediadas no Ceará nos
portes pequeno, médio e grande, tendo sido usado um questionário para a
obtenção das informa ções. Os dados obtidos são apresentados e analisados. Este
artigo serve co mo um refer encial teóri co sobre o assunto e também como um
indicativo das ações a ser em tomadas no sentido da melhoria dos Sistemas d e
Plan ejamento e Controle da Produ ção das indústrias de confecçõ es.
Palav ras- chave: PC P, indústria de confecções
1. Introdução
A indústr ia de conf ecções do Esta do do C ear á já foi cons ider a da u ma das
ma is r epr es entat ivas, tendo s ido classifica da como o s egu ndo ma ior p ólo de
conf ecções do noss o País. D e acor do com OLI VEIR A & RIBE IRO (1996), as
r egiões Su l e Sudest e concentr a m gr ande par te da pr odu ção, r esp ondendo p or 87%
dos conf ecciona dos t êxt eis. Ainda s egu ndo o mes mo inf or me, os Estados de São
Paulo e Santa Catar ina são os qu e ma is s e destaca m, s endo qu e o C ear á possui f or t e
r epr es entat ividade, s endo dessa f or ma u m s egment o imp or tant e par a o Estado.
A indústr ia de c onf ecç ões p ossu i tip ica ment e u m pr ocess o pr odut ivo p or
lot es, car acter iza ndo-s e como u ma pr odu çã o do tip o int er mit ent e r ep et it iva. Ass im
s endo, o s ist ema de P laneja ment o e C ontr ole da Pr odu ção (PCP) utilizado contr ibu i
f or tement e par a um des emp enho fa vor ável ou des favor ável da or ga nizaçã o, tr azendo
à tona a qu estã o de qual modelo de PCP deve s er adotado par a qu e possa contr ibu ir
par a a maior comp et it ivida de da empr esa.
Poucas são as empr esas de conf ecções qu e p ossu em u m pata mar
or ganizaciona l sup er ior , havendo “u m gr a nde nú mer o de empr esas defasadas, qu e
comp et em via custo de mã o- de- obr a ou t er ceir izaçã o, um meca nis mo ger a lment e
usado em bus ca de ga nhos de pr odutivida de, mas, qu e no Br asil, vem s e
confu ndindo com r edu ção de cust os atr avés da inf or mat ização” (OL I VEIR A &
RIBEIRO, 1996, p.2).
No cas o esp ecífico do C ear á, os últ imos da dos disp oníveis qu e consta m no
Plano de Expa nsã o e Moder nização da I ndústr ia de C onf ecções do Cear á (1994)
aponta m u ma qu eda signif icat iva da par ticipaçã o da Indústr ia de C onf ecções em
r elação a o s egment o industr ia l. Esta mes ma anális e cons ider a qu e a indústr ia de
c onf ec ç ões fa z pa r te de u m c omp lex o pr odut ivo de extr ema imp or tância par a o
Esta do do C ea r á .
O Anuár io do C ear á (SAMPAIO, 1996/97) apr es enta o Estado como o
s egu ndo p ólo t êxt il do país, s endo o s egu ndo ma ior consu midor de a lgodã o do
Br asil com u ma pr oduçã o de 130 mil t onela das de f ios e t ecidos e o t er ceir o ma ior
pr odut or de conf ecções. E ntr eta nt o, “quant o a o s et or de conf ecções, 1996 nã o lhe
mot ivou r azões par a comemor ação. N ele ocor r eu u ma qu eda de 40 a 50% na
pr oduçã o de p eças” (S AMP AIO, 1996, p.631).
No Br a sil, a indústria do vestuár io apr es enta s ér ias limitações em s eus níveis
de qua lidade e pr odut ivida de (FERR AZ et al, 1995).
Est e artigo busca ident ificar e analisar os sistemas de PCP utilizados p ela
indústr ia de conf ecções do Estado do C ear á, atr avés do estu do de mú lt ip los casos,
avaliando ess es s ist emas em t er mos da adequação das t écnicas utiliza das e s eus
r ef lex os no des emp enho do sist ema pr odut ivo. Essa anális e cobr ir á as funções de
longo, médio e cur t o pr azos.
2. O planejame nto e controle da produção e a i ndúst ria de
confecções
E m t er mos de abr angência, o PCP pode s e dedicar a aspect os r elativos a
decis ões de longo, médio ou cur t o pr azos.
2.1. Funções de longo prazo do PCP
Ent ende- s e p or fu nções de longo pr azo aqu elas qu e p ossu em u m
relaciona ment o ma is estr eit o c om o p laneja ment o estr atégico da cor p or açã o,
envolvendo desta for ma asp ect os ma is abr angent es r elacionados à pr oduçã o, tais
como a def inição da estr atégia de pr oduçã o a adotar e estab eleciment o do p la no de
pr oduçã o em fu nçã o do pla no de vendas des ejado, o qu e envolver á a def iniçã o
pr évia dos r ecur s os pr odut ivos necessár ios (mã o-d e-obr a, mat er iais e má qu inas)
par a qu e est e p la no s eja atendido. N est e etapa tamb ém dever á ser r ea liza da a
pr evisã o de vendas, qu e s er á a base fu nda mental par a a def iniçã o do pla no de
pr oduçã o (T UBI NO, 1997).
2.2. Funções de médio prazo
As fu nções de médio pr azo compr eendem aquelas ativida des qu e s e
r ela c iona m c om a def iniçã o do p la no- mestr e de pr oduçã o, qu e é definido a par tir
do p la no de pr odu çã o esta b elec ido.
O MPS (Master Production S chedul e ou Planeja ment o mestr e da pr oduçã o)
coor dena a dema nda do mer ca do com os r ecur sos int er nos da empr esa de f or ma a
pr ogr amar taxas adequadas de pr odu çã o de pr odut os f ina is, sendo u m nível
int er mediár io de p laneja ment o r esp onsá vel pelo pr ocess o de des dobr ament o dos
pla nos estr atégicos, de vendas e de op er ações em pla nos op er acionais (CORRÊ A et
al, 1999).
2.3. Funções de curto prazo
As fu nções de curto pr a z o relaciona m-s e com o p laneja ment o op er aciona l do
PCP, aproxima ndo-s e ass im das atividades liga das às op er ações r ealiza das em nível
de “chã o” de fábr ica, necess ita ndo entã o de ma ior nível de detalha ment o. Abr ange a
gestão dos est oqu es, seqü encia ment o da pr oduçã o, pr ogr a mação das or dens de
fabr icação, acompanha ment o e contr ole da pr odu ção (T UBINO, 1997).
I nclu em- s e ness e nível o MRP, MRP II, ERP, kanban, OPT e os sist emas
híbr idos de PCP.
2.4. A i nd ústria de confecções
Podem s er mu it o var ia das as possib ilida des de pr oduçã o de r oupas devido
aos vár ios t ip os de conf ecções p ossíveis, tais como: calças, camisas, vest idos,
saias, r oupa ínt ima, ar tigos de ca ma e mesa, linha pr aia etc. Esta het er ogeneida de
fica mais evident e s e f or cons ider ar a a fr agmentaçã o do mer ca do p or sex o, idade,
r enda etc (O LI VE IR A & RIBEIRO, 1996). E ntr etant o, o s ist ema pr odutivo
apres enta a lgu mas cara cter íst icas comu ns qu e são apr es entadas aqu i par a clar if icar,
em linhas ger ais, como ele fu nciona.
O set or t em como car acter ística básica s er for t ement e inf lu enciado p ela
moda, p odendo lançar quatr o coleções p or ano: inver no, pr ima ver a-v er ã o, ver ã o e
a lto ver ã o.
Ap ós a def inição dos pr odut os a s er em pr oduzidos, é r ealiza do o cor t e do
tecido pr ocur ando-s e apr oveitá- lo ao máx imo, por int er médio do pr ocess o de
encaix e. Ap ós o cor te, os comp onent es ger ados sã o enca minha dos par a as ár eas de
pr epar ação onde são costur ados, pr epar ando-os par a as sub-monta gens e
montagens, poss ib ilita ndo assim a pr odu ção da r oupa. Ap ós iss o, é f eit o o
acabament o, com a colocaçã o de p eças acessór ias, tais como r eb it es, bot ões, zipers
et c, bem como r et ir adas pontas de linha, insp eçã o f inal e outr os acabament os
p er tinent es. No caso de r oupas jea ns, ant es dest e acaba ment o é r ea liza da u ma
lava gem par a dotá- las da color ação e ma ciez n ecessár ias. Há tamb ém a passador ia
onde é f eita a passagem da r oupa pr onta com f er r os de engo mar . Fina lment e é
r ealizada a embala gem. Estas etapas podem sofr er algu mas var iações em fu nção do
tip o de r oupa qu e está s endo conf ecciona da. (ÌT ALO, 1987; N UNES,1998).
A indústr ia do vestuár io, sendo t ip ica ment e de moda, é u m a mb ient e bastant e
pr op ício à utilizaçã o de t écnicas de flex ib ilizaçã o da pr odu ção, tais como o
JIT /Kanban (T AVARES, 1990).
3. Metodologia de pesquisa
3.1. Método de pesquisa
Para a coleta das infor ma ções necessár ias à ident if ica ção e aná lis e dos
sist emas de PCP utiliza dos p elas indústr ias de conf ecções do Estado do C ear á,
opt ou -s e p elo us o do Estu do de Cas os Múlt ip los.
3.2. O instrumento de pesquisa
N esta pes quisa, f oi utiliza do u m qu est ionár io com p er gu ntas f echa das, semi-
f echa das e aber tas. Esta flex ibilida de qu e f oi utilizada par a as per gu ntas vis ou dar
ma ior mob ilida de par a qu e pudess e s er obt ida a inf or maçã o com o maior gr au de
deta lhe p oss ível, s em entr eta nt o cansar o r esp ondent e já qu e havia o int er ess e de
aprofu ndar a s qu est ões.
3.3. Número de emp resas pesquisadas
Cons ider ando-s e a abor da gem t eór ica pr op osta, cinco empr esas é u m nú mer o
suficient e( DO N AIRE, 1997). Por outr o la do, a opçã o p ela obt ençã o de inf or mações
ma is aprofu nda das relativas ao s ist ema de PCP das empr esas, qu e t em p or
cons eqü ência a necess ida de de u ma ma ior dedica ção dos r es p ondent es, alia do ao
car áter conf idencia l dos da dos, r estr ingem a disp onib ilidade destas em par ticipar em
da p es qu isa.
3.4. O questionário de pesquisa
O qu estionár io é comp ost o de s eis b locos : A,B,C,D,E,F. Cada bloco de
qu est ões busca obt er inf or mações s obr e det er mina dos aspect os r elaciona dos ao
PCP: A - “Dados Gerais Sobr e a Empr esa”; B - “Visão Gera l do PCP da E mpr esa”;
C - “Funções de longo pr azo do PCP”; D - “Funções de médio pr azo do PCP”; E-
“Funções de Curto Prazo”; F - “Outras informações liga das ao PCP”.
4. Aplicação dos questionários e resultados obtidos
4.1. As e mpresas pesquisadas
For am p es qu isadas cinco empr esas fabr ica nt es de r oupas, tr ês s ediadas em
For taleza e duas no mu nicíp io de Mar acanaú, distr it o industr ia l situa do pr óx imo à
capital. Ob jet iva ndo pr es er var sua ident idade e ma nt er o sigilo das inf or ma ções
pr estadas, as empr esas ser ão nest e tr abalho ident if icadas p elos nú mer os 1, 2, 3, 4 e
5.
4.2. Análise dos dados
Os r esu ltados obt idos das cinco empr esas p esqu isadas demonstr a m qu e,
apesar das dif er enças de p or t e, pr odut os e mer cados, elas possu em mu itas
s emelha nças em t er mos de sist ema de p la nejament o e contr ole da pr oduçã o, e
algu mas diver gências, conf or me p ode s er obser va do na tabela 1.
É int er essa nt e obs er var a inex ist ência de u m ór gã o f or mal de PCP na maior
empr esa p es qu isa da, qu e é de gr ande p or t e, e o s ent iment o do s eu ger ent e de
pr oduçã o qu e não vê iss o como u ma necessidade, u ma vez qu e ele cons ider a qu e
"tu do está b em ass im". Ess e asp ect o leva nta a qu estão da imp or tância ou nã o da
exist ência de u m ór gão estr utur ado de PCP par a a melhor ia do des emp enho da
or ganização. M es mo as empr esas p es qu isadas qu e p ossu em u m ór gão de PCP, suas
atribuições, emb ora pertinent es, poss u em p ouca abr angência e r elevâ ncia
estr atégica pa ra a or ga niza çã o, concentr ando-s e bas ica ment e em at ividades
op er aciona is. As atr ibuições mais estr atégicas encontr am-s e nos níveis sup er ior es
da or ganização.
Um asp ect o comu m às empr esas e qu e está bastant e evident e é a ausência de
pla neja ment o de longo pr azo e de u ma def iniçã o f or ma l da estr atégia de pr odu çã o, o
qu e tr az, cons equ ent ement e, indef inição de r u mos nos níveis de médio e cur to
pr azos. Ess e fato, poss ivel ment e, está r elaciona do à instabilida de econômica do
noss o país qu e t or na mu it o vu lner á veis os p lanos de longo pr azo. E mb or a a r ef er ida
instabilida de s eja ver dadeir a, iss o nã o justif ica a falta da det er mina ção dos
hor izont es da or ga nizaçã o. Por outr o lado, e p or cons eqü ência, a inex ist ência de
u ma estr atégia for ma l de pr oduçã o, poss ivelment e, está associa da a visão
pr edomina nt e de qu e a pr oduçã o não ex er ce um pap el estr atégico par a a
or ganização, visã o essa qu e está em desacor do com os t emp os atuais.
Obs er va-s e ta mb ém qu e os ob jet ivos de des emp enho declar ados p elos
r esp ondent es p ossu em cer ta coincidência, u ma vez qu e cust o e qualida de esta va m
s empr e em pr imeir o lu gar , excetua ndo-s e u ma qu e os colocou em s egu ndo.
Entr eta nt o, não f oi obs er va da nenhu ma ligação f or ma l dess es ob jet ivos de
des emp enho com o s ist ema de PCP adotado. Poss ivel ment e essa vincu laçã o não
est eja tão clara para a or ganizaçã o. A consciência de qu e o PCP pode contrib uir
par a a r edu ção dos cust os, u ma vez qu e elimina des p er dícios, poder á est imu lar a
adoçã o de sist emas ma is adequados.
Outr o p ont o comu m, é o us o pr edomina nt e do ar r anjo f ísico celu lar , qu e na
ár ea de conf ecções é cha ma do de “ gr upo compact o”, o qu e contr ibu i par a r eduçã o
dos lead tim e e au ment o da flex ib ilidade. E ntr eta nt o, ess es ob jet ivos p oder ia m s er
incr ementados com o us o do kanban, qu e não é usa do em nenhu ma delas, emb or a
possua m ba ix íss imo t emp o de s etup qu e facilitar ia sua viabilização.
Conf or me p ode s er coletado dur ant e a p es qu isa, ess e t ip o de ar r anjo f ís ico é
de us o diss emina do ness e t ip o de indústr ia. A ut ilizaçã o do ar ranjo f ís ico celu lar é
de mais fácil ut ilizaçã o em conf ecções t endo em vista a ma ior facilida de de
locomoçã o e r ear r anjo dos p ost os de tr abalho.
A aus ência de t écnicas estatíst icas de pr evisão de vendas ta mb ém foi comu m
a todas elas, o qu e contrib ui para tornar fr ágil o p laneja ment o da pr odu ção. Muit o
pr ovavelment e, iss o s e deve a o fato da dema nda ness e s et or t er car acter íst icas
sazona is, com pr odut os qu e mu da m suas car acter íst icas em fu nçã o da moda, e da
pr oduçã o estar baseada em par t e na car teir a de p edidos conf ir ma dos. D eve s er
obs er va do p or ém, qu e algu mas das empr esas p es qu isadas pr odu zem pr odut os com
cer ta estabilida de de dema nda, ou s eja, qu e nã o s ofr em ta nta inf lu ência da moda,
como é o cas o das qu e pr oduzem calças jea ns e ca misas. Ass im s endo, mes mo com
pr odut os qu e var iem em fu nção da moda, iss o nã o inva lida o us o de pr evis ões
estatíst icas, u ma vez qu e, como p ode s er obser vado, algu mas t êm qu e fazer ajust es
post er ior es no pla no de pr oduçã o devido à sua impr ecisã o. Além do ma is, a
pr evisã o pode s er f eita para família de pr odutos, sem des cer a detalhes p or
r ef er ência. As empr esas p es qu isa das demonstr a m ness e asp ect o confiar mu it o na
exp er iência da dir eçã o da empr esa, inclus ive e pr incipa lment e do pr ópr io dono, qu e
indica, p elo s eu s ent iment o, o qu e dever á s er ma is vendido. D emonstr a m ta mb ém,
no cas o das maior es, u ma cer t o poder de inf lu ência ju nt o aos lojistas na of er ta
da qu ilo qu e está s endo pr odu zido.
Exclu indo-s e o fato de t odas usar em ar r anjo fís ico celu lar , as empr esa s
demo nstr am não estar em s int onia com as mod er nas abor da gens ger encia is qu e
apr imor a m o PCP, tais como o JIT , T QC etc, com ex ceção da empr esa 3 qu e usa
par cialment e a lgu mas f er r a mentas da qualidade. N est e s ent ido, pode s er obs er va do
qu e a entr ega de a lgu ns avia ment os é f eit o de u ma f or ma mu it o r ápida devido à
pr ox imida de dos f or necedor es. Ess e fat o p ode facilitar uma par cer ia client e-
f or necedor ext er no no s ent ido de pr op or cionar entr egas JIT , agilizando o pr ocess o
de pr oduçã o e c ontr ibu indo pa r a a r eduçã o dos cust os. M es mo no cas o do
f or neciment o dos t ecidos, iss o ta mb ém p ode s er viabiliza do, u ma vez qu e ex ist em
mu itas tecela gens no C eará.
N enhu ma empr esa p es qu isa da faz uso de pr ocedi ment os estr utur ados par a
def iniçã o do pla no de pr oduçã o, conf ia ndo-s e basica ment e em sua exp er iência.
D evem ex ist ir poss ib ilida des de melhor ia nest e asp ect o, por meio de s oluções ma is
ec onomica ment e viá veis pa r a a def inição do p lano. Como já foi menciona do, a nã o
f or ma liza ção de u m pla no de pr oduçã o (par a um hor izont e de longo pr azo) r atifica a
pou ca pr eocupação das empr esas p es qu isa das com r elação a o pla no estr atégico, com
evident es r eflex os negat ivos nas ações de médio e longo pr azos. Além diss o, por
sua infor malida de, as decis ões car ecem de mensur ações ma is pr ecisas em t er mos
dos cust os das alt er nat ivas de pr oduçã o.
E mb ora algu mas empr esas pes qu isa das us em t écnicas relaciona das à gestão
econômica dos est oqu es, elas ainda são t ímidas, o qu e indica a necess ida de do
a pr imor a ment o dessa gestã o. Pr edomina nesse asp ect o o us o da “pr ática”, car ecendo
assim de asp ect os t écnicos. As empr esas qu e utiliza m a lógica do MRP nã o a usam
int egr alment e, pr edomina ndo ap enas a noção d e a qu is içã o dos mat er ia is em fu nçã o
da de ma nda dos pr odut os f ina is, s em usar entr etant o u ma visão int egr ada de gestã o.
A class if icação ABC é utiliza da só p elas empr esas 2 e 5, entr eta nt o, nã o f oi
ident if ica da nenhu ma r egr a clar a, de ef et ivo us o, para essa class if icaçã o. O
dimens iona ment o dos lot es é f eit o ta mb ém bas ea do, em t odas elas, na pr ática, sem
cons ider ações ma is pr ecisas dess e dimens iona mento em fat or es tais como cust os ou
lead time.
Mes mo consider ando qu e duas das empr esas p es qu isadas utiliza m u m
soft ware par a apoio no s eqü encia ment o da pr odu ção, é pont o comu m a todas o nã o
uso de algor it mos de s eqü encia ment o qu e p oss ib ilit em ef eit os ef et ivos nos
ob jet ivos de des emp enho pr et endidos, tal como o des emp enho na entr ega, qu e
est eve entr e o pr imeir o e s egu ndo lu gar es no d es ejo das empr esas. O uso
pr edomina nt e do PEPS e das “pr ior idades” denota m essa des vincu laçã o entr e
ob jet ivo de des emp enho e a pr ática da pr odu ção. Além diss o, a visã o da OPT não
f oi ident if ica da em nenhu ma das empr esas p es qu isa das.
É pont o ta mb ém comu m a poss ib ilidade de apr imor a ment o dos mét odos de
contr ole e acompa nha ment o da pr odu ção. Como p ode s er obs er va do, apenas a
empr esa 3 usa fer r amentas da qua lidade e ap enas as empr esas 2 e 3 utiliza m mais
a lgu ns indica dor es de pr oduçã o, além do cálcu lo da eficiência, para mensur ar o
pr ocess o. É int er essa nt e obs er var qu e a empr esa 3, qu e utiliza f er r amentas da
qua lida de, apr es enta u m lead time de 6 dias, menor entr e as médias e gr andes e
igual à p equ ena, o qu e p ode estar indica ndo um apr imor a ment o no s eu pr ocess o de
pr oduçã o ger ado p or essas f er r a mentas. Isso tor na-s e ainda ma is r eleva nt e a o s e
levar em cons ider ação qu e é a única qu e tr abalha soment e com p edidos dos client es,
qu e contr ibu i par a um menor nível de pa dr onizaçã o e, cons equ ent ement e, u ma
ma ior comp lex ida de da pr oduçã o.
N enhu ma das empr esas faz us o do kanban, emb or a a idéia pr edomina nt e nas
r esp ostas t enha sido a r eduçã o dos est oqu es. O kanban é p lena ment e p oss ível de s er
usado p or ess e t ip o de indústr ia. Entr eta nt o, há u m fat or inibidor qu e é a var iaçã o
dos modelos em fu nção da moda, o qu e necess itar ia um tr abalho das empr esas no
s entido de pr op or cionar u ma cer ta estabilidade dos pr ojet os dos pr odutos, fat o ess e
qu e nã o é tão comp lex o, tendo em vista qu e mu itas p ossu em u ma linha básica, em
cima dos qua is são feita s varia ç ões em t er mos de apar ência, qu e às vezes nã o são
tão significativa s. E m outr os cas os, como nas ca misas t ear , a var iação entr e
modelos é ins ignifica nt e. Além diss o, há fator es favor áveis à adoção do kanb an,
como o ar r anjo f ís ico celu lar pr es ent e em t odas elas e o r edu zido t emp o de setup.
As r esp ostas da das ao qu estiona ment o r elativo a o gir o dos est oqu es mostr ou
u m des conheciment o dos qu e atua m no PCP em r elaçã o a ess e asp ect o, u ma vez qu e
nã o hou ve r esp osta pr ecisa par a ess e qu es it o, o qu e indica a pouca imp or tância dada
p elos gest or es das empr esas a ess e indica dor como u m mensur ador das pr áticas
des envolvidas na pr odu ção e do s ist ema e PCP adotado. Já o r edu zido t emp o de
setup qu e foi dec la ra do por t odas as empr esas, mostr a uma gr ande vanta gem dess e
tip o de fábr ica já qu e lhe conf er e b oa f lexib ilida de e a poss ib ilida de de tr abalhar
com lot es p equ enos.
Atr avés dessa p es qu isa, após obt er todos ess es r esu ltados, t em-s e o
s entiment o qu e as empr esas par ecem nã o conh ecer as poss ib ilidades de melhor ia
exist ent es em t er mos de PCP, ou entã o, não têm s egur ança de qu e os mod elos
or iu ndos da t eor ia p ossa m sur tir ef eit os pr áticos em sua fábr ica. Esse fat o é
conf ir ma do p elas inf or mações bastant e r edu zidas qu e f or am obt idas a r esp eit o dos
pont os f or t es e fr a c os.
D e u ma f or ma globa l, pode-s e af ir mar qu e as empr esas de conf ecções
p es qu isadas p ossu em b oa mar gem de p oss ib ilida des de melhor ia nos s eus sist emas
de PCP. A adoção de s ist emas híbr idos dev e s er cons ider a da com o us o, por
ex emp lo, do MRP, para o nível macr o de p laneja ment o a gr egado, gestã o dos
mat er iais e emissã o de or dens de compr a, e o ka nba n par a o nível op er aciona l de
fábr ica, ou outr a comb inaçã o p er tinent e. A utilização dessas pr áticas ter ia m
cer ta ment e, r ef lex os p osit ivos no des emp enho da or ga nizaçã o.

Empresa/ Empresa 1 Empresa 2 Empresa 3 Empresa 4 Empresa 5


Característica (2.489 func.) (579 func.) (542 func.) (42 func.) (168 func.)
Ór gão de PCP Não Sim Sim Não Sim
Estr a tégia de pr odu çã o I nf or ma l I nf or ma l I nf or ma l I nf or ma l I nf or ma l
Ar r a njo f ís ic o pr edo- Celu lar Celu lar Celu lar Celu lar Celu lar
mina nt e
Us o de t écnicas mate- Não Não Não Não Não
mát icas ou de tentativa e
erro para pr epa ra çã o do
pla no de pr odu ção
T écnicas estatíst icas de Não Não Não Não Não
pr evisã o de vendas
D ef inição do qu e pr oduzir Pedidos e Pedidos e Pedidos Pr evisão Pedidos e
dos de
pr evisã o de pr evisã o Pr evisão
de client es vendas de
vendas
(90%)
vendas vendas
Planeja ment o das necess i- Não Não Não Não Não
da des de mat er ial atr avés
do us o ef et ivo do MRP
Regr a de S eqü encia ment o PEPS/ Pr ior ida de PEPS PEPS/pr io PEPS/pr io
da pr oduçã o pr edomina nt e de r ida de de r ida de de
pr ior idade
venda venda
de venda venda
Ferramentas da Qualidade Não Não Sim Não Não
par a contr ole e
acompa nha ment o da pr o-
du ção
Us o do Ka nban Não Não Não Não Não
L ead t ime a partir da 10 dias 15 dias 6 dias 6 dias 15 dias
emissã o da Or dem de Cor t e
T abela 1. Principa is infor mações obt idas a resp eit o dos Sist emas de PCP adotados
p elas cinco empr esas pes quisa das
5. Conclusões
Conf or me f oi pr op ost o na intr oduçã o dest e tr abalho, as inf or ma ções obt idas
poss ib ilitaram a ident ificaçã o e anális e cr ít ica dos sist emas de PCP utilizados p or
cinco empr esas de conf ecções do Esta do do Ceará, bem como u ma abor da gem da
adequaçã o dos r ef er idos sist emas às necess ida des das empr esas, abr angendo os
hor izont es de cur to, médio e longo pr azos.
As cinco empr esas p es qu isadas fazem p ou co uso das f ilos of ias/t écnicas mais
r ecent es da engenhar ia de pr odu çã o, tendo s ido obs er va do apenas como p ont o
comu m a todas a adoção do arranjo fís ico celu lar. Mes mo com r elaçã o às técnicas
tr adiciona is, pôde s er obs er va do u m us o p ouco apr imor a do delas, car ecendo de
cr it ér ios adequados qu e as dêem sust entaçã o.
A par tir das inf or ma ções obt idas e da anális e cr ít ica, pôde s er det ectado qu e
há u ma defasagem entr e as práticas de PCP utiliza das e as poss ib ilidades qu e a
moder na gestão dos sist emas de p la neja ment o e contr ole da pr oduçã o p odem
poss ib ilitar . Excetua ndo-s e o fato de qu e t odas as empr esas qu e f or am p es qu isadas
utilizar em u m ar ranjo fís ico celular , demonstr ando u ma b oa pr ática ness e s ent ido
(emb or a isso est eja rela c iona do ma is à infr a-estr utur a fís ica do qu e a o sist ema de
PCP pr opr ia ment e dit o, ainda qu e ex er ça inf lu ência sobr e o s eu des emp enho), a
ausência de u ma pr ática f or ma l de p la neja ment o de longo pr azo, do us o de t écnicas
como o MRP I, MRP II, ERP, OPT , kanban, ou outr as cor r elatas, cer ta ment e deve
estar compr omet endo o s eu p oder de comp et it ivida de.
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