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Pela Pregação do Evangelho da Graça

Puro, Simples e Inalterado

Ev. Carlos Alberto Moreira

2a Edição Revisada e Ampliada

Rio de Janeiro
Novembro / 2000
“Porque nada podemos contra a verdade, senão em favor da própria verdade.”
(II Coríntios 13:8)
Introdução

As reflexões que se seguem não têm o propósito de menosprezar, diminuir


ou chocar ninguém, embora muita gente possa inadvertidamente se sentir assim. O seu
objetivo é estabelecer a palavra da verdade, onde quer que ela seja encontrada. São
resultado da pesquisa honesta de homens que levam a sério a Palavra de Deus e que têm um
compromisso com ela, cristãos zelosos, que se preocupam com aquilo que o povo de Deus
vem recebendo como evangelho, muitas vezes sem uma reflexão mais detida.
A verdade não tem medo de ser colocada em xeque. Ela estabelece-se por si
mesma. A verdade é, simplesmente, a verdade (Pv 23:23; Jo 17:17; Rm 2:2). É com esse
espírito que vamos nesse pequeno estudo avaliar, de maneira um tanto quanto sucinta mas
acurada, alguns ensinos que não têm uma devida sustentação bíblica para serem pregados
dentro de uma igreja evangélica, ensinos esses que muitas vezes são heresias sutis, quase
imperceptíveis. Outras são extremamente escandalosas e têm contribuído para minar a vida
espiritual da igreja. A questão é, portanto, doutrinária e não pessoal. Muitas das pessoas que
têm pregado ou aprendido essas coisas são cristãos genuínos, mas precisam ser alertados
para o erro perigoso em que estão incorrendo. Embora alguns possam vir a sentirem-se
ofendidos com as observações aqui feitas, esperamos sinceramente que esse estudo vá ao
encontro de pessoas honestas, sinceras, maduras, equilibradas, ávidas da verdade (I Co
14:20; Hb 5:12-14), que desejem de coração obedecer à genuína graça de Deus, sem estarem
atrelados a interesses outros que não sejam a glória do Senhor Jesus Cristo.
Há muito que a prática evangélica brasileira e latino-americana tem estado
cheia de mitos, de uma estranha mistura da verdade com inverdades, de novidades de
origem duvidosa e extrabíblica (vejam, por exemplo, os G12); a igreja do século XXI tem
deixado de ser propriamente uma igreja para se tornar uma empresa, com uma prática
religiosa egocêntrica, materialista, clientelista e consumista, típica do capitalismo selvagem
que tem invadido nossas igrejas e que promete sucesso fácil e imediato. Ao lado disso, além
da igreja no Brasil estar sendo presa fácil desse tipo de ‘teologia americana importada’, ela
tem também sido manifestamente pobre e fraca quando se trata da defesa da verdade. Ela
tem sido vulnerável a falsas doutrinas e a heresias devastadoramente destruidoras. As suas
portas têm sempre estado abertas para o erro, mas têm dado pouca guarida para os
estudiosos honestos da Palavra de Deus. Aliás, estes têm sido vistos como elementos
indesejáveis, inimigos da fé e nocivos à saúde do corpo de Cristo1. Algumas dessas doutrinas
têm estimulado abertamente a visão auto-idolatrada e egocêntrica de certas lideranças, que
se colocam acima do bem e do mal, tendo suas palavras praticamente o mesmo peso de
autoridade que a Bíblia (às vezes até mais...)2. Atuam como verdadeiros empresários do
Evangelho-capitalismo e dos trustes empresariais da fé.
A nossa luta é pela volta do hábito saudável de se consultar as Escrituras, de
se bradar enfaticamente: “Se está na Bíblia, eu creio!”. Realmente, se estiver na Bíblia... Mais
do que nunca, a bandeira da Reforma tem de estar de pé: Sola Scriptura, Sola Fide, Sola
Gratia, Solus Christus, Soli Deo gloria. Nada pode estar acima da Palavra, nem interesses de
conglomerados religiosos empresariais, nem supostas experiências pessoais. Estar do lado da
verdade trás glória a Deus. O erro, muitas vezes, parece até mais verdadeiro que a própria
verdade. Parece e soa, à primeira vista, tão verdadeiro que freqüentemente engana os
incautos. Aceitar tudo que se prega e ensina de uma forma passiva, sem nenhuma espécie de
reflexão ou avaliação crítica, é cometer “suicídio intelectual”. Os bereanos não faziam isso,

1
É comum serem tachados de murmuradores, formadores de grupinhos, incentivadores de motins, etc.
2
A arrogância e o egocentrismo desses líderes chega ao ponto de se darem títulos a si mesmos (‘teólogo do
milênio’, ‘príncipe do púlpito’, etc.), de colocarem fotografias e pôsters deles mesmos em todos os recintos e
ambientes de seus templos, em todas as páginas de seus jornais e boletins informativos e até em páginas de
Bíblias editadas especialmente para se autopromoverem. Agem como se fossem o ‘Big Brother’ de George
Orwell, no seu livro 1984. O próprio Jesus Cristo na frente deles pareceria pouca coisa.
nem mesmo com o Apóstolo Paulo (At 17:11). O próprio Paulo afirmou que toda profecia
deve ser julgada pela igreja (I Co 14:29). O nosso culto deve ser completo: espiritual e
racional (Dt 6:5; Mt 22:37,38; Rm 12:1,2). Para quem conhece um pouco da história da igreja,
está bastante claro que a maioria dessas heresias não passa de simples repetições ou
variações de heresias do passado. E é por isso mesmo que elas se revestem de um maior
perigo, pois têm destruído lares e famílias inteiras com sua influência sutil, mas maléfica,
danosa e perniciosa, trazendo a impressão de uma graça barata e frouxa, um evangelho que
promete satisfação pessoal e um mundo de felicidades (você será e estará eternamente feliz
e curado) mas que não exige uma vida de compromisso verdadeiro com Deus3.
Temos a plena certeza de que estamos prestando um serviço digno e
necessário à causa do nosso único Deus e Salvador, o Senhor Jesus Cristo, para os dias de
hoje. A mensagem pura da cruz pode estar fora de moda para o mundo, pode parecer velha
e esfarrapada, mas ainda é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê (Rm
1:16,17). Quando tantas vozes se levantam aqui e ali tentando persuadir e afastar o povo de
Deus da simplicidade do evangelho, é necessário que pessoas valorosas, corajosas, se
levantem para exaltarem somente o Nome de Cristo e não se curvem diante dos interesses
escusos de promoção pessoal que têm sido vistos a olhos nus nas nossas igrejas. Ainda há
homens e mulheres que não são omissos diante da pregação deturpada do evangelho, que
não têm ‘rabo preso’, que não fazem negociatas e conchavos com o povo de Deus, que não
têm ‘cifrões’ nos olhos, não sacrificam a pregação genuína da Palavra em prol do seu ego,
não trocam conteúdo por jargões, não negociam a ética pelo sucesso e nem deixam de lado
seus princípios. A causa de Cristo é mais preciosa do que tudo, mais preciosa do que
projetos pessoais. Aqueles que se deixam seduzir pela busca do sucesso a todo custo, pelos
aplausos, pelo desejo de terem um nome reconhecido aproximam-se perigosamente da
mentalidade dos construtores da Torre de Babel. O que Deus requer de nós é que não
andemos com máscaras, mas em humildade não fingida e hipócrita. Deus não busca
desempenho, apenas fidelidade. É Cristo somente quem deve brilhar acima de tudo. Deus
não divide a sua glória e a sua honra com ninguém (Sl 115:1; Is 42:8, 48:11). Devemos nos
despir de toda espécie de vaidade pessoal e pregar o evangelho da maneira que ele deve ser
pregado: puro, simples e inalterado.
Que assim seja.

3
É aquela velha história do ‘venha a nós o vosso reino’. E o ‘seja feita a sua vontade’? Que tipo de evangelho é
este que só realça os nossos direitos e não enfatiza os nossos deveres para com Deus? Será que é um evangelho
que busca a Deus apenas pelo que Ele pode nos oferecer, e não pelo que Ele é?
Algumas Reflexões

As teses e reflexões que se seguem pretendem demonstrar biblicamente que


muitos dos ensinos que temos ouvido e aprendido são questionáveis e não são fruto de uma
exegese criteriosa das Escrituras (embora o número de versículos amostrados para defendê-
los pareça apontar para isso), mesmo que seja dito que são ‘revelações que fluem
diretamente de Deus’ e que nem Lutero e Calvino tiveram! Esta, por sinal, é uma afirmação
ousada, que merece ser testada. Como alguém que ouve diretamente de Deus pode ser
contestado? É isto o que veremos de perto. Tenha sempre em mente que estaremos
discutindo doutrinas e não o caráter pessoal de indivíduos. Isto não quer dizer, porém, que
fechamos os olhos para as práticas funestas que estão sendo estimuladas por estes falsos
líderes e falsos apóstolos. Doutrinas enganosas sempre geram práticas perigosas. Não temos
medo de desmascarar o embuste, o erro e o engano (Dt 18:20-22). É pelo fruto que se
conhece a árvore (Mt 7:13-20, 12:33; Lc 6:43,44).
Esteja atento a cada ponto aqui discutido. Recomendo que você, leitor, tenha
a sua Bíblia ao lado, aberta, para poder averiguar se estas coisas são ou não são realmente
assim. Verifique exaustivamente cada passagem utilizada para que não reste nenhum tipo de
dúvida sobre as teses que estaremos avaliando. Notem que em nenhum momento foram
questionadas as verdades irrefutáveis sobre a eleição e a predestinação. São elas a espinha
dorsal da Palavra de Deus, a base da segurança da nossa vida espiritual. Se alguém não
compreende a eleição, não compreende a extensão e a magnitude do sacrifício de Jesus
Cristo na cruz do Calvário. Vale a pena enfatizar isto, pois alguns desavisados e mal
informados, que não sabem discernir a sã doutrina do fermento do inimigo, podem imaginar
que estamos atacando as doutrinas da graça. Muito pelo contrário! Nós é que as estamos
defendendo em todo o seu vigor, em toda a sua inteireza, plenitude e pureza, sem nada que
possa diminuir o seu fulgor ou adicionar pensamentos humanos e espúrios a ela.

1) Tem sido dito e ensinado que, assim como Deus, podemos chamar à existência as coisas
que ainda não existem. Isto, se diz, vale para qualquer circunstância, seja uma cura física,
seja uma necessidade pessoal (emocional, espiritual, financeira, emprego, etc.). No entanto,
Rm 4:17 afirma que o único que pode fazer isso é o próprio Deus. Os versículos seguintes
nem sequer dão a impressão de que esse poder criador (‘confissão positiva’) foi dado aos
homens. Será que estamos entendendo mal o que está sendo dito? II Pe 1:4 afirma que, por
meio de Cristo que em nós habita, somos co-participantes da natureza divina, para que, por
meio de tudo que nos foi doado por Ele (Deus), estejamos habilitados para livrarmo-nos da
corrupção das paixões que há no mundo; em outras palavras, o que nós realmente temos é a
natureza ética, moral, santa e perfeita de Deus, que nos capacita a amá-lo e a odiar o pecado.
Mas isto nem de longe lembra a possibilidade de termos qualquer tipo de poder criador
como o Senhor. Não seria isto uma deificação do homem e uma humanização de Deus? Será
que estamos errados? É digno de nota também que em nenhuma passagem vemos a Bíblia
ensinando o homem a declarar, decretar ou determinar algo. O único que pode e que
realmente faz isto é Deus (Sl 33:11; Is 14:26,27, 46:9,10; Dn 4:34,35; At 2:23, 4:18,27,28, 17:26;
Rm 8:28-30; I Co 2:7; Ef 2:10). O que se vê é freqüentemente a Palavra de Deus nos
ensinando a pedir (Mt 7:7,8; Mc 11:24; Jo 14:13; Ef 3:20; Tg 1:5, 4:2,3; I Jo 3:22, 5:14,15),
rogar (Sl 80:14; Jo 17:20; II Co 5:20; Ef 4:1), implorar (Sl 5:2; Mt 8:5), suplicar (Ex 32:11; Lc
5:12, 7:4, 9:38) e interceder (Is 53:12; Rm 8:26,27,34; Hb 7:25; I Tm 2:1), verbos muito mais
dignos e coerentes com a condição e com a posição do homem.

2) Temos aprendido que podemos dar ordens aos anjos. Mas, lendo bem o Sl 91:11 (e
conhecendo-se a relação gramatical e sintática dos pronomes possessivos) vemos que é
Deus quem dá ordens aos seus anjos a nosso respeito (a cada um de nós), para que nos
guardem em todos os nossos caminhos. Será que estamos errados? Ademais, o que se vê na
Bíblia muitas vezes é exatamente o inverso: anjos dando ordens aos homens (Gn 19:12-17,
21:17,18; Dn 10:11, 12:9,13; Mt 2:12,13,19,20, 28:7; Mc 16:7; At 5:19,20, 12:7,8). Outras vezes,
os homens até se prostraram diante deles (Gn 19:20; Jz 13:20; Dn 8:17,18; Ap 22:8).

3) Temos sido ensinados que o Senhor criou na eternidade o seu exército de anjos, um terço
dos quais foi derrubado dos céus pelo diabo (Ap 12:4); dos dois terços restantes, um terço
Ele, o Senhor, revestiu de carne e ossos e enviou à terra (os eleitos predestinados) para
cumprir o seu ‘plano eterno predestinado de sabedoria’ 4. O outro terço ficou no céu como
anjos ministradores (é por isso que é dito que a nossa verdadeira identidade é celestial, ou
seja, espiritual e [pasmem!] angelical). Mas onde é que está escrito que foi um terço dos anjos
que Ele enviou à terra como seres celestiais encarnados, se é que foi realmente isto que
aconteceu? Gostaria de ver citado um versículo só que seja para defender essa posição.
Ganha um doce quem achar.

4) Baseado na parábola do trigo e do joio (Mt 13:24-30) e em Rm 9:21, temos ouvido e


aprendido que Deus permitiu que Satanás colocasse no ventre de Eva a semente que gerou a
descendência daqueles que não são eleitos. Mas é isto mesmo que está escrito? Será que o
Senhor dividiria uma prerrogativa que é só sua (o poder de criar do nada, ex-nihilo) com um
outro ser, uma criatura sua, principalmente o diabo? Rm 9:21 afirma que é o próprio oleiro
(Deus) quem faz do mesmo barro tanto o eleito quanto o perdido. Pv 16:4 e Is 45:7 tornam
isto bem claro. Será que há uma nova revelação além da Bíblia ou a Palavra de Deus está
errada (longe de nós o pensar tal coisa)? Não somos nós mesmos que afirmamos que “se está
escrito, nós cremos”? O que se deve fazer com tudo aquilo que não está escrito, mas dizem
que está escrito? Além do mais, como é que fica o dilúvio nessa história? A única família que
sobrou não foi a família do justo Noé, que era da linhagem da benção (Gn 6 a 9)? Se
houvesse existido realmente descendências distintas de ímpios e santos, toda a geração de
ímpios não teria morrido no dilúvio?

5) Tem sido dito e pregado que quando Deus falou “Façamos o homem à nossa imagem,
conforme a nossa semelhança;...”(Gn 1:26), Ele estava falando com os anjos. Esta posição, no
entanto, traz um monte de dificuldades intransponíveis. Se Ele estava realmente falando aos
anjos, então os anjos são ‘co-criadores’ do homem junto com Deus (o que é um absurdo); se
nós fomos criados para servir e adorar o Criador (ou os ‘criadores’, segundo essa opinião)
(Dt 6:5,13, 10:20; Mt 4:10, 22:36), como pode ser que estes mesmos anjos que nos ajudaram
na nossa criação (lembre-se que o verbo é “Façamos”, 1a pessoa do plural, Imperativo) sejam
ministradores (servos) a nosso favor, como afirma Hb 1:14? Será que o Criador (ou melhor,
‘os criadores’, segundo essa posição) é (ou são) servo(s) da criatura? (Vê-se aqui como é que
começa o poder destruidor de uma heresia). Mas não é só isso. Vimos agora a pouco que foi
dito também que Deus criou os anjos e que nós mesmos somos anjos revestidos de carne (a
terça parte dos anjos); a outra terça parte são os anjos que ficaram no céu, o que aumenta
mais ainda a confusão. Afinal de contas, quem foi que criou quem? Não há aqui uma
contradição óbvia entre estas duas posições? Será que a Bíblia realmente está ensinando
alguma dessas duas doutrinas (ou ambas, o que é ainda mais alarmante)? Será que Deus
divide realmente com alguém o seu poder criador ou ao menos permite isso? Será que
estamos entendendo mal as colocações? As evidências indicam que estamos diante de uma
grossa heresia.

4
Um nome pomposo, mas sem significado teológico algum. Nenhum estudioso sério das Escrituras usa este
termo para se referir aos planos de Deus. A Bíblia se refere ao plano eterno de Deus simplesmente como ‘decreto’
(ou ‘decretos’), ‘desígnio(s)’, ‘beneplácito’, ‘propósito’, etc. (Sl 33:11, 73:24, 103:21, 104:19; Pv 16:4, 19:21; Is
14:26,27, 19:17, 28:29, 46:9,10; Jr 32:19, 51:29; Dn 4:24,34,35; Sf 3:8; Mt 10:29,30; Lc 10:1, 22:22; At 2:23, 4:27,28,
4:18, 20:27, 22:14; Rm 8:28, 9:11; I Co 2:7; Ef 1:5,9,11, 2:10, 3:11; II Tm 1:9; Hb 6:17; I Pe 1:18-20).
6) Temos aprendido que estamos debaixo de um “manto apostólico” que protege a nossa
igreja. Sua cobertura nos traria um monte de benefícios5. No entanto, não consegui achar
nenhuma vez esta expressão na Bíblia, nem ao menos algo similar. Além do mais, se isto
realmente existisse, todas as igrejas realmente evangélicas, que pregassem o evangelho com
sinceridade, honestidade e integridade estariam debaixo de sua cobertura, pois Ef 2:20
afirma que todos os crentes estão edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas.
Será que nós não compreendemos bem o ‘espírito da coisa’?

7) A Bíblia afirma que já somos abençoados (todos os crentes) com toda sorte de bênçãos
espirituais (Ef 1:3), que somos abençoados com o crente Abraão (Gl 3:9), que nada nos pode
separar de Deus (Rm 8:31-39) e que o maligno já não pode nos tocar (I Jo 5:18). Isto tudo
está no Novo Pacto ( que, dizem, é de Atos em diante, pois tudo o que vem antes é Lei). No
entanto, é também ensinado que, se nós não dermos nossos dízimos e nossas ofertas, nós
mesmos damos permissão para que o ‘devorador’ atue em nossas vidas, arruinando nossas
vidas financeiras (usando-se Ml 3:7-12) (esses são aqueles tais que “ainda não conhecem os
seus direitos em Cristo e por isso ainda não desfrutam de uma vida de abundância e de
prosperidade!”. Outras ‘igrejas’ seriam menos eufemísticas e diriam logo que esses camaradas
não têm é fé mesmo6). Mas Malaquias não é um livro da Lei? Não nos é ensinado que os
livros da Lei não servem para nós, gentios predestinados, mas só para os judeus? Não seria
isto muita conveniência? Além disso, o maligno não é o devorador, que mata, rouba e destrói
(Jo 10:10)? Se ele não pode mais nos tocar, como é que nós (os que não podemos em
hipótese alguma nos separar de Deus) podemos nos permitir afastarmo-nos de Deus
(nenhuma criatura pode fazer isso, Rm 8:39) e dar permissão ao diabo para agir sobre nós?
Por que isto só é dito em relação aos dízimos e não tão enfaticamente aplicado em outras
áreas da nossa vida? Há até uma música que diz: “Muita gente erra quando não oferta a
Deus, e não consegue entender que é só assim que as bênçãos vêm... Quando você der a
Ele, Ele te abençoará.” Mas nós já não somos abençoados? Parece-me a mim que alguma
coisa não é coerente. Meu ‘ouvido absoluto’ ainda não conseguiu compreender onde está o
‘x’ da questão. Será que nós entendemos mal? A traça, a ferrugem, o gafanhoto e o devorador
não são o maligno, que já não pode nos tocar? Afinal de contas, nas nossas vidas, o diabo
toca ou não toca? (Vejam como essa doutrina solapa na base a graça de Deus).

8) Foi-nos ensinado que o Antigo Testamento e alguns livros do Novo Testamento (o


evangelho segundo Mateus, Marcos, Lucas e João e as epístolas não paulinas) não nos
servem, pois, ou são Lei, ou são cumprimento da Lei, ou contêm resquícios da Lei, ou
contêm apenas vislumbres da graça ou só servem para os judeus. Eu gostaria de saber quem
foi a ‘mente brilhante’ que inventou uma monstruosidade dessas. É preciso muita imaginação
para se criar algo tão venenoso7. Nem os apóstolos ousaram falar uma loucura desse tipo8. É
verdade que o Antigo Testamento deve ser lido à luz do Novo, mas o inverso também é
verdadeiro. O Novo Testamento também só pode ser entendido à luz do Antigo Testamento
(veja as profecias, as personagens, as tipologias, o contexto histórico, social e cultural, etc.).
A Bíblia é uma unidade orgânica. Por acaso, não é o próprio Apóstolo Paulo que afirma que
toda a Escritura é proveitosa para a edificação da igreja (II Tm 3:16)9? Quem é o homem que

5
Acho que andaram assistindo muito ao filme “O Manto Sagrado”. Este ensino sutilmente está afirmando que há
duas classes de igreja sobre a terra: uma (que supostamente seria liderada por um ‘apóstolo’) teria a cobertura (os
benefícios, as bênçãos) de Deus; e outra (que não tem um ‘apóstolo’) que não teria a ajuda de Deus. Vocês estão
percebendo aonde este ensino quer chegar?
6
Essas igrejas são, em certo sentido, mais honestas e coerentes consigo mesmas.
7
E ainda é dito que ‘estamos conhecendo isto por revelação’, uma nova revelação. Só se for uma revelação do
diabo.
8
Aliás, um ‘apóstolo’ falar uma coisa dessas é uma coisa muito preocupante.
9
Sobre a questão de se a Epístola de Tiago está ou não em graça, o que dizer de Tg 1:18? Se Paulo e Tiago
estivessem se contradizendo, o Espírito Santo estaria se contradizendo, pois foi Ele quem inspirou os dois.
Ademais, a contradição entre Tg 2:21 e Rm 4:2,3 é apenas aparente, já que os dois textos se iluminam
pode definir dentro da Bíblia, a Palavra de Deus, o que serve e o que não serve para a igreja?
Existe esse homem? Eu gostaria de conhecê-lo.

9) Tem sido ensinado, baseado em Jo 14:8-11 e Cl 2:9, que quando Cristo (o próprio Deus)
andou na Terra, o trono ficou vazio. Parece-me que há um forte cheiro de heresia no ar.
Como pode o homem finito, com sua lógica racional finita, querer explicar o Deus infinito? I
Co 13:12 afirma que agora só vemos em parte, só conhecemos e entendemos em parte.
Como se pode fazer uma afirmação como essa, tão despropositada e descabida, com a
suposta intenção de preservar a ‘unidade’ de Deus? Será que o trono ficou mesmo vazio?
Será que Ele abdicou da Sua soberania? Para tentar resolver a questão da triunidade divina
desse jeito é melhor deixá-la sem explicação. Com essa fórmula simplista, corre-se o risco de
termos ‘um remédio pior do que a doença’10. Notem: O mesmo Jesus que afirmou que era
Deus (Jo 10:30), afirma nesta mesma passagem (cap.14), dois versículos abaixo: “...porque
Eu vou para junto do Pai.” (Jo 14:12c). O trono ficou vazio11?

10) É interessante observar que os apóstolos muitas vezes não ficavam apenas nos discursos,
nos desejos; tinham fé e tinham ação. Em At 3:1-11, Pedro, ao ordenar ao coxo que andasse
(é isto mesmo, ‘ordenar’) em nome de Jesus, tomou-o pela mão direita e o levantou. Pedro,
um ‘apóstolo da Lei’ (quanta ignorância), fez isso! Será que os ‘apóstolos’ pós-modernos da
graça seriam capazes de fazer a mesma coisa? Ou será que eles só sabem olhar no olho das
pessoas para derrubá-las no chão? Se bem que mesmo esse fenômeno tem sido uma fraude
mais escandalosa do que costuma ser (como este próprio autor pôde verificar), chegando às
raias do ridículo quando, a título de demonstração, o suposto ‘apóstolo’, após fazer o seu
auxiliar cair ‘pelo poder de Deus’, levantou-o outra vez, para novamente, com um simples e
penetrante (?) olhar, derrubá-lo ao chão, com o intuito de manifestar publicamente a sua
autoridade apostólica (??) e o ‘poder do Espírito Santo’ (???). Esse tipo de prática esdrúxula,
nojenta e mentirosa (e o diabo é que é o pai da mentira) (Jo 8:44) não nos demonstra
claramente a meninice espiritual e a ignorância a que a igreja tem sido conduzida por esses
apóstolos fraudulentos, bem como a flagrante auto-idolatria que eles promovem?

11) É também ensinado que Jó 38 fala da preexistência do homem. Em primeiro lugar,


devemos prestar atenção àquilo que o livro está realmente dizendo. Depois de 37 capítulos e
do longo debate entre Jó e seus três amigos (mui amigos!), Deus rompe o silêncio e fala para
Jó:

“Quem é este que escurece os meus desígnios com palavras sem


conhecimento? Cinge, pois, os teus lombos como homem, pois Eu te
perguntarei, e tu me farás saber. Onde estavas tu, quando Eu lançava
os fundamentos da terra? Dize-mo, se tens entendimento.” (v.2-4)

mutuamente. Paulo combatia o legalismo como via de acesso à salvação, enquanto Tiago se voltava contra uma
comunidade acomodada, que usava a justificação pela fé como pretexto para sua inércia. Não podemos deixar de
ouvir o testemunho profético de Tiago, pelo temor de que viéssemos a negar a gratuidade da salvação em Cristo,
essencial para Paulo. De fato, a advertência ética e a crítica social contidas na Epístola de Tiago são sumamente
relevantes em situações em que o abuso da doutrina da justificação pela fé leva a uma passividade ética.
Podemos dizer que a doutrina da justificação pela fé não pode legitimamente ser usada para “baratear” a graça e
evitar o discipulado de Cristo.
10
É Calvino quem ensina, numa atitude prudente de cautela e de ‘sábia ignorância’, como ele mesmo diz, que
não devemos especular sobre aquilo que a Bíblia não esclarece, para que não andemos como que por sobre
‘areia movediça’. Esta fórmula simplista é, aliás, ridícula. Se Deus fosse, de alguma forma, explicável ao homem,
Ele deixaria de ser Deus.
11
É digno de nota que mais de uma vez ‘uma voz que vinha do céu’ testificou publicamente a respeito de Jesus,
afirmando: “Eis o meu Filho amado, em quem me comprazo” (ou ainda, “Ouvi a Ele”) (Mt 3:17, 17:5; Mc 9:7; Lc
9:35).
e segue-se até o final do cap. 41 uma série de questões que Deus, o Senhor, coloca para Jó,
todas baseadas nesta primeira pergunta: “Onde estavas tu?” e no desafio “dize-mo, se tens
entendimento”. No versículo 18 o Senhor diz mais uma vez: “Dize-mo se o sabes”, e aí vem a
falta de sabedoria, de prudência, de equilíbrio e até de bom senso de alguns para
compreender estas passagens. No versículo 21 o Senhor faz uma ironia com Jó ao afirmar:

“Tu o sabes, porque nesse tempo eras nascido, e porque é grande o


número dos teus dias!”

Nem de longe o texto sugere uma suposta preexistência do homem. Tanto é


que o Senhor continua questionando Jó, para mostrar a sua pequenez diante de Deus. O
texto prova exatamente o contrário! Não há preexistência! Se houvesse preexistência, o
homem seria, de certa forma, eterno como Deus. Mas só há um ser em todo o universo que é
de eternidade a eternidade, que é o próprio Deus. O homem é um ser que foi criado para ser
imortal (teve um começo e não tem um fim). Mas o Senhor é eterno (não tem começo nem
fim). No capítulo 40, v.1-5, Jó admite que não sabe de nada e nada sabe, depois que o
Senhor desafiou a todo aquele que o argüir a primeiro responder estas questões (v.2). No
cap. 42, Jó capitula:

“Quem é aquele, como disseste, que sem conhecimento encobre o


conselho? Na verdade falei do que não entendia, coisas maravilhosas
demais para mim, coisas que eu não conhecia. Escuta-me, pois, havias
dito, e eu falarei; eu te perguntarei, e Tu me ensinarás.” (v.3-4)

Dizer que o homem esteve inicialmente no concílio de Deus (usando-se Jó


38:7) e que após se perder não se lembra mais disso é confundir o cristianismo com ‘terapia
de vidas passadas’. Rm 3:23 fala que somos destituídos da glória de Deus no sentido de
sermos carentes dela, necessitados dela, de termos a ausência dela e não no sentido de que
um dia éramos instituídos dela (qualquer bom estudante do grego neotestamentário sabe
disso)12. Essa glória de Deus foi danificada no homem na queda acontecida no Jardim do
Éden e não antes, como essa teoria faz crer. Quando Adão pecou, todos nós pecamos (é isto
o que Rm 3:23 quer dizer). Apoiar-se em Rm 8:29 para defender essa tese espúria é pura
apelação e infantilidade. O Senhor também conheceu de antemão que o Brasil existiria e, no
entanto, ele só veio começar a se tornar nação a partir de 1500. ‘Conhecer’ aqui tem o
sentido de amar, se agradar, mostrar favor, escolher (Am 3:2; Ml 1:2,3; Rm 9:11-13), assim
como no Antigo Testamento ‘conhecer’ muitas vezes significa ‘ter relações sexuais’, e não
exige uma suposta ‘preexistência’, pois o Senhor é livre para amar a quem Ele quiser, mesmo
antes dessa pessoa existir ou praticar atos (Rm 9:11-18)13. Se Deus não fosse livre para
demonstrar Sua misericórdia, ninguém seria abençoado, pois ninguém merece a Sua graça, e
ela não pode ser conquistada pelo esforço humano (Rm 9:15). É justamente pelo fato da Sua
graça não poder ser conquistada pelo esforço humano que a ‘preexistência’ não pode ser
exigida aqui.
Dizer coisas como essas é fazer do evangelho algo muito próximo do
espiritismo. Será que nós é que estamos errados? Nós, os que temos usado apenas da Bíblia
para defender a pura ortodoxia, sem usarmos de artifícios estranhos à Bíblia para tentar
explicar o inexplicável? Que o leitor tire suas próprias conclusões.
12
Há ainda algumas traduções (como a Almeida, Revista e Atualizada) que trazem o texto de Rm 3:23 com a
forma verbal “carecem” (precisam, necessitam) e não “destituídos”.
13
Note o leitor que passagens como Sl 139:15,16, Is 44:24, 49:1,5 e Jr 1:5 estão falando de predestinação (destinar
antes) e não de preexistência (existir antes). São duas idéias bastante diferentes: uma não implica a outra. Jó 10:11
é uma forma metafórica, simbólica de se descrever a criação do homem no ventre materno, nada mais que isso.
Basta que se leia os versos 9 e 12. Pv 8:22-31 é uma passagem que geralmente tem sido interpretada como se
estivesse se referindo a Cristo e não a uma preexistência do homem. Falar mais do que isso é procurar chifre em
cabeça de cavalo.
12) Ainda sobre a preexistência: é também dito que Jó 38:7 fala que no concílio de Deus se
encontravam ‘todos os filhos de Deus’, o que inclui a nós mesmos. Mas, prestemos atenção:
foi o próprio Senhor quem perguntou poucos versículos acima aonde estava Jó quando Ele
fez toda a criação! É bom lembrar, além disso, que em Jó 1:6 e 2:1 os filhos de Deus
apresentam-se perante o Senhor (com o próprio Satanás entre eles) enquanto Jó (um filho de
Deus) está aqui na terra! Não é estranho? Pelo menos um dos filhos de Deus não estava
naquele determinado concílio e nem sequer imaginava que os outros filhos de Deus estavam
disputando sobre a sua própria vida! (Que coisa mais absurda!) Fica, portanto, bem claro que
o texto do livro de Jó, quando se refere aos ‘filhos de Deus’, pode estar falando de qualquer
outra coisa, menos de preexistência; é muito mais coerente com o livro todo dizer que ele
está falando de anjos (por isso Satanás pôde apresentar-se entre eles), pois nem de longe
sugere uma idéia de que o homem teve ‘uma vida passada’ no céu. Afirmar isto é usar de
uma exegese desonesta com todo o contexto do livro.

13) A propósito, uma observação fatal: Quando nós não conhecíamos a Cristo, estávamos
mortos em delitos e pecados (Rm 5:12; I Co 15:22; Ef 2:1,5; Cl 2:13), escravizados pelo
pecado (Jo 8:34), sem entendimento (Rm 1:21,22; I Co 2:10-14; II Co 4:4; Cl 1:21), em
inimizade contra Deus (Rm 8:7), separados de Deus e sem esperança (Sl 14:2,3, 51:5; Jr
13:23; Jo 3:19; At 26:18; Rm 5:12-21; II Co 4:4; Ef 2:11,12, 4:18), sem o desejo por Deus e sem
temor a Ele (Rm 3:10-18) e, além disso, tínhamos a nossa consciência corrompida (Tt
1:15,16). Esse é um pequeno quadro do estado caótico de nossas vidas antes de
conhecermos a Cristo (ou melhor, antes de sermos conhecidos por Ele) (Gl 4:9)14. Apesar de
tudo isso, o Senhor veio e nos deu vida (Jo 1:12,13, 3:3-8; Tt 3:5; Tg 1:18; I Pe 1:23; I Jo 2:29,
3:9, 4:7), deu-nos o poder de sermos feitos filhos de Deus (Jo 1:12), transformou-nos em
novas criaturas (II Co 5:17) e transportou-nos para o reino do Seu Filho amado (Cl 1:13).
Agora, das suas mãos ninguém nos poderá arrebatar (Jo 10:29,30). A nossa posição agora é
segura, inabalável. Ora, se um dia nós realmente estivemos no concílio de Deus (apesar de
ninguém se lembrar disso, por mais estranho que pareça), nós estávamos, com toda certeza,
numa posição muito mais segura do que a que estamos agora. Mas se foi possível que eu e
você fôssemos destituídos dessa posição (segundo afirmam), quem garante que isto não
possa acontecer outra vez? Isto pode levar a uma outra questão ainda mais grave: quem foi
que teve a capacidade de nos arrebatar das mãos de Deus quando nós estávamos com Ele
nesse dito ‘concílio’? Se o Senhor não foi capaz de nos manter num estado de segurança
naquele tempo, o que garante que Ele poderá nos manter seguros hoje?
Está ficando bastante claro para os bons entendedores que esta doutrina é de
origem maligna, é perniciosa e mina toda a confiança que podemos obter da Palavra de
Deus. Ou a preexistência é verdadeira e a Bíblia é mentirosa, ou então devemos abominar
este nefasto ensinamento das nossas vidas de uma vez por todas. Isto não passa de
espiritismo kardecista disfarçado dentro da igreja, pura doutrina de demônios (I Tm 4:1)15.

14) Jo 10:34 é usado para afirmar que somos deuses (ainda bem que por enquanto falam que
é com ‘d’ minúsculo); Jesus estava se referindo ao Sl 82. Basta darmos uma olhada com mais
cuidado e exatidão nessa passagem para vermos que o sentido empregado pelo escritor
destoa daquilo que quiseram ensinar. O verso 1 afirma que ‘Deus assiste na congregação
divina; no meio dos deuses estabelece o seu julgamento’! No entanto, a partir do verso 2,
vemos o que esses ‘deuses’ andavam fazendo: julgavam injustamente e ficavam do lado de
14
É claro que conhecer aqui tem outro sentido. Recebê-lo como Senhor eqüivale aqui à manifestação concreta da
salvação do Senhor nas nossas vidas, no tempo e no espaço determinados por Ele.
15
Muitos poderiam alegar: e Satanás? Ele não era um anjo de luz, perfeito em todos os seus caminhos, como toda
a criação e também não acabou se perdendo (Ez 28:11-18)? Deve ser lembrado, no entanto, que a Bíblia não
esclarece como foi achada iniquidade nele, apesar de ele ter sido criado perfeito (v.15). Deve-se observar
também que, para Satanás e seus anjos, não houve um plano de salvação (I Tm 5:21). Para o homem, porém, já
havia uma provisão preparada para a sua salvação desde antes da fundação do mundo (Ap 13:8), certamente por
ele ter sido, de certa forma, uma vítima da rebelião inicial de Satanás.
ímpios. Deus recomenda que eles mudem esse procedimento (v. 3 e 4). No verso 6 o Senhor
novamente afirma: ”Eu disse: Sois deuses, sois todos filhos do Altíssimo”. Logo depois no
verso 7, o Senhor devolve o homem à sua realidade: “Todavia, como homens morrereis e
como qualquer dos príncipes haveis de sucumbir!” Deus mais uma vez está ironizando a
posição de soberba do homem: eles eram simples ‘deuses’ de barro, deuses que praticam o
mal e que morrem! Não é uma bela contradição? (O Senhor deveria estar dando umas belas
gargalhadas com os ‘deuses de meia-tigela’ com quem ele tinha de tratar!) Será que o Senhor
não nos quer ensinar aqui, sutilmente, que, na verdade, Ele é que é o verdadeiro e único
Deus e que, se existirem outros, são falsos, erram e mentem? Esta nossa avaliação não é
muito mais honesta e realista do que qualquer uma dessas falácias e fábulas que andam por
aí? É rúim16 do homem ser deus (mesmo com letra minúscula)! Esse é um ‘deus’ que
qualquer dor de barriga um pouco mais forte derruba no chão. Esse ‘deus’ de meia-tigela
definitivamente não serve para as nossas vidas.

15) Essa tentativa frustrada de fazer o homem tornar-se e sentir-se como Deus já é antiga. É
coisa do diabo, esse porco sujo. Foi ele quem insuflou essa idéia maligna e estapafúrdia no
coração dos nossos primeiros pais (Gn 3:5, aquela conversa mole de que ‘sereis como
Deus...’ no Jardim do Éden, lembra-se?). No caso da Torre de Babel o sintoma perverso é o
mesmo (Gn 11:4, ‘edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo tope chegue até aos
céus, e tornemos célebre o nosso nome,...”). Tudo girava em torno da tentativa de promoção
pessoal e do desejo de ser como Deus (ser dono do seu próprio nariz), um reflexo direto do
desejo do diabo de ser maior que Deus (Is 14:12-15; Ez 28:11-18). Os resultados, todos nós
sabemos quais foram.

16) Em tempo: Não somos nós que pregamos, com razão, que não há livre-arbítrio quando
se trata da salvação? Mas, dizer que ‘somos deuses’ não seria uma forma de sermos livres de
algum tipo de jugo? Você já está percebendo que esses ensinos têm todos os dedos sujos do
diabo em cima deles.

17) Algum tempo atrás, instituições sagradas como o casamento e a família eram vistos como
“um cordão de três dobras” (Ec 4:12); hoje são vistos como uma “taça de cristal, frágil, que
facilmente se quebra”. É justo usarmos a Bíblia de acordo com as nossas conveniências? É
correto ajustá-la e fazê-la parecer apropriada às nossas necessidades e circunstâncias? É
adequado justificarmos nossas limitações e erros usando-se a Bíblia? A Bíblia tem que se
adequar a nós ou nós é que temos de nos adequar à Bíblia?

18) Gl 3:10 nos ensina que “todos quantos, pois, são das obras da lei, estão debaixo de
maldição;...”. Baseado nisso, afirma-se que todos os crentes que estão fortemente ligados a
usos, costumes e tradições (que são comumente rotulados de ‘legalistas’) e que não aceitam
as doutrinas da graça de Deus estão debaixo da maldição da Lei (usando-se Dt 27 e 28). Mas
Cristo não morreu pelos crentes? Paulo está citando um livro da Lei. Afinal, quando é que um
livro da Lei serve ou não serve para a igreja dita gentílica (outro erro grosseiro: como é que
ficam Paulo, e Pedro, e João, e Maria, todos eles judeus? Ver Rm 1:16,17, 3:9, 11:30-32; Gl
3:22)? Será que um crente, por quem Cristo morreu e ressuscitou, ainda está debaixo de
maldição? O texto de Gl 3:10 está realmente afirmando isso? Logo abaixo, porém, no verso
13, Paulo afirma que Cristo nos resgatou da maldição da Lei (nós, todos os crentes)! No verso
9 está escrito que todos os que são da fé (todos os crentes, saibam ou não saibam disso) são
abençoados e não malditos. Cl 2:11-14 afirma que todo escrito de dívida contra nós (contra
qualquer crente) já foi removido das nossas vidas e encravado na cruz do Calvário (Aleluia!).
Rm 6:14 afirma ainda que nenhum crente está mais debaixo da lei e sim debaixo da graça.

16
O bom português exige que façamos uma observação: a forma correta de se expressar este adjetivo é ruim
(tonicidade na última sílaba). Usamos aqui da forma popularesca rúim (ruim) para realçar o quanto o assunto é
pateticamente cômico, se não fosse apenas trágico.
Como pode haver ainda, em qualquer sentido, algum crente sob qualquer tipo de maldição?
Não seria melhor nós dizermos que há alguns crentes (crentes mesmos, que crêem com o
coração e que confessam com sua boca o Nome Santo do Senhor Jesus) que têm zelo, mas
não têm entendimento (Rm 10:2)? Será que o sangue de Cristo é eficaz para alguns crentes
somente e ineficaz para outros? Que Deus nos livre de tal sacrilégio.

19) Tem sido dito, pregado e ensinado que a Bíblia, no grego neotestamentário, apresenta
três termos diferentes traduzidos em português pela palavra mundo. O primeiro, ‘aiôn’ (no
grego aivw,n, que não se lê “aiôn”, mas sim “eôn”), designaria o mundo dos perdidos,
daqueles que não são eleitos. O segundo, ‘okumêne’ (no grego oivkoume,nh; lê-se ikumêne),
designaria o mundo dos salvos. O terceiro termo seria kósmos (no grego ko,smoj), que
designaria o mundo físico, material, o planeta terra, etc.
Todo esse arsenal de busca aos termos originais seria para explicar o aparente
paradoxo entre passagens como

“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho
unigênito...” (Jo 3:16a)
“... e Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos
nossos pecados, mas ainda pelos do mundo inteiro.” (I Jo 2:2)

e outras como

“... o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não
o vê, nem o conhece;...” (Jo 14:17)
“É por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que
me deste, porque são teus.” (Jo 17:9)
“Eles não são do mundo como também Eu não sou.” (Jo 17:16)
“Sabemos que somos de Deus, e que o mundo jaz no maligno.” (I Jo
5:19)

À primeira vista, parece que isto tudo apresenta um alto grau de erudição. No
entanto, pasmem, esta parafernália toda demonstra a mais crassa ignorância do grego koinê
do Novo Testamento e, principalmente, que quem propôs tal tese nem sequer conhece ou
ao menos sabe consultar o texto grego do Novo Testamento17, agindo e falando estas coisas,
portanto, ou por ignorância (deve ter lido ou ouvido outros falarem essa besteira), ou por má
fé, ou por ambas, como vamos provar.
Em primeiro lugar, qualquer estudioso que consultar o Dicionário do Novo
Testamento Grego (W.C. Taylor), da JUERP, e/ou o Léxico do Novo Testamento Grego /
Português (F. Wilbur Gingrich & Frederick W. Danker), das Edições Vida Nova, constatará
que os termos aivw,n, oivkoume,nh e ko,smoj são básica e simplesmente sinônimos (traduzidos
em português pelo vocábulo ‘mundo’), distinguindo-se um dos outros e às vezes de si
mesmos apenas contextualmente, como acontece com qualquer palavra em qualquer língua.
Assim, ‘mundo’, tanto em grego, como em português, como em turco, malaio, chinês, ou
qualquer outra língua, pode ter uma infinidade de significados (e não apenas três),
dependendo do contexto em que estiver sendo usado. Na Bíblia, ‘mundo’ pode significar: o
universo material ou a terra habitável (Jó 34:13; Mt 13:38; At 17:24; Ef 1:4), um sistema
corrupto (Gl 6:14), a condição humana (Jo 18:36), o reino de Satanás (Jo 14:30), todos os
homens, sem exceção (Rm 3:6), todos os homens, sem diferença (Jo 7:4), muitos homens (Mt
18:7), a maioria dos homens (Rm 1:8), o Império Romano (Lc 2:1), homens bons (Jo 6:33),
17
Isto fica bastante explícito quando se trata da pronúncia de palavras gregas importantes do Novo Testamento.
Por exemplo: du,namij deve ser lido ‘dínamis’ e não ‘dunamis’; su,nesij se lê ‘sínesis’ e não ‘sunésis’; kata,pausij
se lê ‘katápausis’ e não ‘katapáusis’; ana,pausij se lê ‘anápausis’ e não ‘anapáusis’; a´´`giasmo,j se lê ‘ragiasmós’ e
não ‘agiásmos’; da mesma forma maqhth,j se lê ‘matetés’ e não ‘matétes’.
homens maus (Jo 14:17), a maioria da nação judaica (Jo 12:19), os crentes eleitos (Jo 3:16), a
era presente (o presente século) (Mt 12:32, 13:22; Gl 1:4; Ef 2:2), a era futura, o porvir (Mc
10:30), etc.
Em segundo lugar, não é verdade que sempre que a Bíblia falar do ‘mundo
dos perdidos’ estará falando de aivw,n, nem que quando estiver falando do ‘mundo dos
salvos’ estará sempre falando de oivkoume,nh, não somente pelas razões que expusemos acima
(que já são amplamente suficientes), mas porque (e principalmente) não está sempre escrito
dessa maneira nos textos originais, como dissemos que iríamos provar. Qualquer pessoa que
tiver acesso ao The Greek New Testament (Novum Testamentum Graece)18, editado pela
United Bible Societies, poderá constatar conosco a palavra grega encontrada em cada um
dos versículos em que a palavra mundo é encontrada em português. Vejam o resultado
conosco:

Mt 4:8 ko,smoj Jo 8:12,23,26 ko,smoj I Co 11:32 ko,smoj


Mt 7:4 ko,smoj Jo 9:32 aivw,n II Co 5:19 ko,smoj
Mt 12:32 aivw,n Jo 10:36 ko,smoj Gl 1:4 aivw,n
Mt 13:22 aivw,n Jo 11:9,27 ko,smoj Gl 6:14 ko,smoj
Mt 13:38 ko,smoj Jo 12:19,31,46 ko,smoj Ef 1:4 ko,smoj
Mt 16:26 ko,smoj Jo 14:17,30 ko,smoj Ef 2:2 aivw,n
Mt 18:7 aivw,n, ko,smoj Jo 15:18 ko,smoj Fp 2:15 ko,smoj
Mt 24:14 oivkoume,nh Jo 16:21,28,33 ko,smoj Cl 1:6 ko,smoj
Mt 25:34 ko,smoj Jo 17:5,6,9,16,25 ko,smoj I Tm 6:7 ko,smoj
Mc 8:36 ko,smoj Jo 18:20,36 ko,smoj Hb 1:6 oivkoume,nh
Mc 10:30 aivw,n At 11:28 oivkoume,nh Hb 2:5 oivkoume,nh
Mc 14:9 ko,smoj At 17:24 ko,smoj Hb 4:3 ko,smoj
Lc 2:1 oivkoume,nh At 17:6,31 oivkoume,nh Tg 1:27 ko,smoj
Lc 4:5 oivkoume,nh At 19:27 oivkoume,nh I Pe 5:9 ko,smoj
Lc 9:25 ko,smoj At 24:5 oivkoume,nh II Pe 2:5 ko,smoj
Lc 12:30 ko,smoj Rm 1:8,20 ko,smoj I Jo 2:1,2,15 ko,smoj
Lc 16:8 aivw,n Rm 3:6,19 ko,smoj I Jo 3:17 ko,smoj
Lc 21:26 oivkoume,nh Rm 10:18 oivkoume,nh I Jo 4:9,10,14,17 ko,smoj
Jo 1:9,10,29 ko,smoj I Co 2:12 ko,smoj I Jo 5:4,19 ko,smoj
Jo 3:16,17,19 ko,smoj I Co 3:19 ko,smoj Ap 3:10 oivkoume,nh
Jo 4:42 ko,smoj I Co 4:13 ko,smoj Ap 11:15 ko,smoj
Jo 6:33,51 ko,smoj I Co 7:31,33 ko,smoj Ap 12:9 oivkoume,nh
Jo 7:4,7 ko,smoj I Co 8:4 ko,smoj Ap 16:14 oivkoume,nh

Cai por terra a erudição! Esta tese cai por terra como um castelo de cartas
quando se vê, por exemplo, que Jo 3:16 traz nos originais o vocábulo ko,smoj e não
oivkoume,nh, como tem sido dito, e que versículos como Jo 14:17, 17:9,16 e I Jo 5:19, ditos
como referentes ao ‘mundo dos perdidos’, também trazem escrito ko,smoj e não aivw,n, como
tem sido ensinado. Muitos outros desses desencontros você mesmo poderá atestar
comparando o vocábulo encontrado em cada versículo citado com a sua tradução e seu
respectivo sentido em português.
A Graça de Deus, a eleição e a predestinação não precisam deste tipo de
estratagema espúrio para defendê-las. Na verdade, presta-se um grande desserviço à causa
de Cristo e do evangelho quando se usa de um argumento infundado como esse.

18
Este texto é 99,9 % fiel ao texto autógrafo do Novo Testamento.
20) Tem sido dito e pregado que nós somos uma multiplicação, uma extensão de Deus, que
Deus se multiplicou em nós. Essa é antiga, é plágio do Kenneth Hagin19, que ‘inventou’ essa
idéia de ‘réplica de Deus’. Hagin já foi desacreditado nos Estados Unidos; só falta ser
desacreditado no Brasil e na América Latina. Foi ele quem ensinou no seu jornal Word of
Faith (‘Palavra da Fé’):

“Quando o homem nasce de novo ele toma sobre si a natureza divina e


torna-se não semelhante, mas igual, exatamente igual em natureza com
Deus. A única diferença entre o homem e Deus torna-se a magnitude;
Deus é infinitamente divino e nós ainda finitamente divinos. O crente é
uma encarnação de Deus, exatamente como é Jesus Cristo.”

É muita pretensão e petulância dizer que somos multiplicação, extensão ou


réplica de Deus. Aliás, isto é uma blasfêmia. Nenhuma afirmação desse tipo se encontra na
Bíblia. Hagin chega a negar as Escrituras ao afirmar que ‘não somos semelhantes, mas iguais
em natureza com Deus’. Não é a própria Bíblia que diz que nós fomos feitos à imagem e a
semelhança de Deus (Gn 1:26)? Não é a Bíblia que afirma que, após isso, temos sido gerados
à imagem de nossos pais (Gn 5:3)? Ser feito à imagem e semelhança de alguém nunca é,
obviamente, ser uma multiplicação, extensão ou réplica de alguém, já que ser imagem e
semelhança não é ser o mesmo, não é ser igual! Além do mais, é uma blasfêmia e uma
heresia gritante dizer que ‘somos uma encarnação de Deus, exatamente como Jesus Cristo’.
Por acaso Jesus tinha pecados (II Co 5:21; Hb 4:15, 7:26; I Pe 2:22)? E qual a razão da
afirmação ‘Deus é infinitamente divino e nós ainda finitamente divinos’20? Será que ele quer
dizer que um dia seremos iguais a Deus, infinitamente divinos21?
Hagin segue seu festival de heresias no seu livro “Zoe: A Própria Vida de
Deus” (p. 40) onde afirma:

“Alguns não sabem que o novo nascimento é uma autêntica


encarnação. Não sabem que são tão filhos de Deus como Jesus.”

Vocês percebem como a heresia é sutil e demolidora? Como diz o ditado,


abissus abissum vocat (Um abismo chama outro abismo); uma heresia sempre chama outra
heresia. É verdade que somos filhos de Deus (Jo 1:12; Rm 8:17, 9:26; Ef 1:5; Hb 2:10, 12:7).
Mas Jesus não é o Filho unigênito (Jo 1:14,18, 3:16; I Jo 4:9)? Jesus não era sem pecado?
Acima de tudo, Jesus não é o próprio Deus (Jo 1:1-3, 8:58, 10:30,38, 12:45; At 2:36; Rm 9:5; Cl
2:9)? Quem de nós é chamado de unigênito? Qual de nós é sem pecado? Qual foi a legião de
demônios que instigou Hagin a ensinar tal disparate? Ou será que ele estava delirando?
Outro herege contumaz, Kenneth Copeland, disse:

“Você não tem Deus morando dentro de você. Você é Deus.”

Dave Hunt, em seu livro “A Sedução do Cristianismo”, fala de um jovem


pregador, pregando no seu majestoso templo em Seattle, com mais de 3.500 pessoas lhe
ouvindo22:

19
Não é, portanto, ‘uma nova revelação direta de Deus’, como, aliás, nenhuma dessas outras heresias. Deve ser
fruto, isto sim, de falta do que fazer e de se estudar a Bíblia.
20
Ele fala a única diferença como se isto fosse pouca coisa, se fosse realmente verdade.
21
Quem afirma isto é o Espiritismo, o Mormonismo e a Ciência Cristã, que dizem que vamos evoluindo e nos
aperfeiçoando a nós mesmos em cada reencarnação que tivermos, até chegarmos ao grau máximo de perfeição, a
perfeição divina. Para eles, Deus já foi o que nós somos hoje. Percebam como esse tipo de raciocínio elimina a
necessidade de Deus e de um salvador, pois faz com que nós mesmos sejamos ‘deuses’ e nos salvemos a nós
mesmos. Nesta heresia, nós somos ‘deuses’ em evolução. Francamente, é de rir para não chorar. O que diríamos
de figuras como Hitler, Nero, Herodes, Stálin e outros facínoras da história?
22
Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.
“O Pai, o Filho e o Espírito Santo tiveram uma pequena conferência e
disseram: ‘Façamos o homem uma exata réplica de como nós somos...’
Quando Deus olha num espelho, ele me vê. Quando eu olho em um
espelho, eu vejo Deus. Oh, Aleluia!... Quem você pensa que é? Jesus?
Certo! Vocês estão me ouvindo? Vocês são como crianças agindo como
se fossem deuses? Por que não? Deus me disse que era... Já que eu sou
uma réplica perfeita de Deus, eu tenho que começar a agir como Deus.”

Coisas semelhantes a essas nós também temos ouvido.


É verdade que Cristo vive em nós (Gl 2:20), mas isto é muito, mas muito
diferente de dizer que eu e você somos Cristo ou réplica dele. É verdade que somos templo
do Espírito Santo (Rm 8:9; I Co 3:16; Gl 4:6; II Tm 1:14) e que somos um espírito com o
Senhor (I Co 6:17). Mas eu pergunto: Você já abriu o Mar Vermelho (garanto que alguns têm
medo até das ondas da Praia de Ramos)? Já criou alguma vezinha só que seja os céus e a
terra? Já morreu, ressuscitou e ascendeu aos céus alguma vez na vida? E não adianta usar Mt
17:20 e Lc 17:6 aqui pois estamos fazendo exegese séria e não brincando com as emoções, a
ignorância e a boa fé do povo.
Hagin, Copeland e todos quantos o seguem devem estar loucos. É uma
insensatez pregar tal tipo de doutrina. Nem mesmo o Apóstolo Paulo aceitou ser chamado de
‘deus’. Ele e Barnabé até rasgaram as suas vestes por causa disso (At 14:11-14).

21) O Sl 34:7 afirma que ‘o anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que O temem, e os livra’.
Que interessante! Por que isto só é válido muitas vezes para os membros das igrejas? Por que
muitas lideranças evangélicas andam cercadas de seguranças e possuem até carros
blindados? Será que o anjo do Senhor não é suficiente para eles?

22) De onde surgiu essa idéia de “profeta oficial” e “intérprete oficial”? A profecia só vem por
meio deles e de mais ninguém? A profecia por si só já é algo complicado. Quanto mais
quando se chega ao ponto de se ver repetidamente palavras balbuciadas como delemai,
delemai, delemantchou, delemantchou, que demonstram claramente que não são nem
outras línguas, nem línguas estranhas, como se afirma, mas simplesmente expressões
‘manjadas’, decoradas, vazias e sem sentido. Embora admitindo-se a possibilidade da
contemporaneidade da manifestação dos dons espirituais, especialmente os dons de línguas
e de profecia (veja-se o caso de Ágabo no Novo Testamento, At 11:28, 21:10), é falta de
temor abrir a boca para se falar aquilo que o Senhor não falou (Jr 5:31, 14:14, 23:16,25,26).
Deus não perde tempo com obviedades, principalmente com o ‘óbvio ululante’ (‘Eis que
estou contigo, meu servo...’, é claro que Deus está conosco, Ele mesmo nos prometeu isto;
estaria com quem? Com o ímpio?). Notem que I Co 14:26-32 fala dos ofícios (especialmente o
dos profetas) sempre no número plural! O Espírito Santo não é livre para usar a quem quiser?
A prática de um profeta único não é sadia para a igreja (I Rs 22:7; At 2:18). Pelo contrário, é
até algo bastante suspeito.

23) Um dos casos mais bizarros e hilariantes das tais ‘revelações diretas do céu’ foi aquela
que nos ensinou que o jumento simboliza ou tipifica um demônio. Tentou-se justificar esta
‘brilhante conclusão’ pelo fato de Davi ter sido um pastor de ovelhas (I Sm 16:11, 17:34,35),
enquanto Saul, em determinado momento de sua vida, foi encarregado de procurar as
jumentas de seu pai (I Sm 9:3) (!!!). Honestamente, não sei onde se irá parar com essas tais
‘revelações’. Será que o Senhor Jesus entrou em Jerusalém montado num demônio? (Zc 9:9;
Mt 21:1-11; Mc 11:1-10; Lc 19:28-38; Jo 12:12-16).

24) Muitas vezes se lê Fp 4:13: “Tudo posso naquele que me fortalece”. Diz-se que devemos
confessar esta e outras passagens sugeridas (confissão positiva), quer não vejamos com
nossos olhos ou sintamos com nossa carne os resultados que almejamos nas diversas áreas
das nossas vidas (financeira, sentimental, saúde, casamento, estudos, etc.). E o que vem
antes, ninguém lê? Paulo afirma no verso 11 que ‘aprendeu a viver contente em toda e
qualquer situação’ e ele as cita no verso 12. Todo mundo quer viver bem. Eu pergunto: e
sofrer pelo nome de Cristo, ninguém quer? Dizer que Ele sofreu para que nós não
sofrêssemos é uma meia-verdade23 (Uma meia-verdade é muito pior do que uma mentira
declarada. Lembre-se da meia-verdade que Satanás usou no Éden: “... no dia em que dele
comerdes se vos abrirão os olhos...” , Gn 3:5). Longe de nós o defender a acomodação e a
resignação. Mas o que dizer dos apóstolos, que ‘se regozijaram por terem sido achados
dignos de sofrerem pelo Nome de Jesus’24 (At 5:41), mesmo depois de o Senhor ter afirmado
que o Seu jugo era suave e o Seu fardo era leve (Mt 11:28-30)? (Lembre-se que os apóstolos
disseram isto depois de o Senhor já estar ressurreto, isto é, no novo pacto, como dizem). E o
que dizer de muitos outros heróis da fé anônimos que deram e continuam dando suas vidas
ao redor do mundo pela pregação do evangelho? Será que o galardão destes será menor do
que o daqueles que só querem prosperidade, poder e ‘tempos de vitória’?

25) Tem sido dito e pregado (e muitos outros pregadores afirmam o mesmo) que a Bíblia
apresenta 365 vezes a expressão “Não temas”, uma para cada dia do ano. Eu sinto muito ter
que dizer que isto também é uma daquelas mentiras das mais deslavadas. Apesar de
aparentar uma alta dose de piedade e de devoção piegas e beata, nada poderia estar mais
longe da realidade do que esta afirmação. Sem querermos bancar uma espécie de
‘desmancha-prazeres’, listamos a seguir as 134 vezes em que esta expressão (ou suas
similares como, por exemplo, “não temais”, “não temerás”, “não temerei”, “não temeremos”,
“não temeria”, “não tenha medo”, etc.) aparece no texto sagrado. É importante e até mesmo
engraçado notar que 80% destas ocorrências (107, para ser mais exato) estão no Antigo
Testamento! Será que elas nos servem?

Gn 3:2 I Sm I Cr 56:4 44:2


15:1 3:22 4:20 22:13 56:11 44:8
21:17 7:18 12:20 28:20 91:5 51:7
26:14 18:22 22:23 118:6 54:4
35:17 20:1 23:17 II Cr 54:14
43:23 20:3 28:13 20:15 Pv
46:3 31:6 20:17 3:24 Jr
50:19 31:8 II Sm 32:7 3:25 1:8
50:21 9:7 30:10
Js 13:28 Ne Is 40:9
Ex 1:9 4:14 7:4 42:11
13:23 8:1 I Rs 8:12 42:11
20:20 10:8 17:13 Jó 8:12 46:27
10:25 5:21 10:24 46:28
Nm 11:6 II Rs 5:22 12:2 51:46
14:9 1:15 9:35 35:4
14:9 Jz 6:16 37:6
21:34 4:18 17:35 Sl 40:9 Lm
6:10 17:37 3:6 41:10 3:57
Dt 6:23 17:38 23:4 41:13
1:17 19:6 27:3 41:14 Ez
1:21 Rt 25:24 46:2 43:1 2:6
1:29 3:11 49:16 43:5 2:6

23
Paulo afirma que todo aquele que quiser viver piamente, isto é, de maneira santa, sofrerá perseguições (II Tm
3:12; ver também Mt 5:10,11; Rm 12:14; II Co 1:6, 12:10; Gl 3:4; I Pe 2:19-21, 4:14-19; Ap 2:10). Paulo, o ‘apóstolo
da graça e dos gentios’ disse isto. E agora?
24
Quanta diferença dos ‘apóstolos’ de hoje, que dizem que ‘as tribulações não são para nós, crentes’.
2:6 Sf Mt Mc 12:7 Hb
3:9 3:16 1:20 5:36 12:32 13:6
10:26 6:50
Dn Ag 10:28 Jo I Pe
10:12 2:5 10:31 Lc 6:20 3:14
10:19 14:27 1:13 12:15 3:14
Zc 17:7 1:30
Jl 8:13 28:5 2:10 At Ap
2:21 8:15 28:10 5:10 18:9 1:17
2:22 8:50 27:24 2:10
12:4

26) Baseado em I Ts 5:17, que nos ordena orar sem cessar, e em passagens como Jo 4:23,24,
que nos ensina que os verdadeiros adoradores do Senhor o adoram em espírito e em
verdade, tem sido pregado que ‘já vivemos num estado de oração’ diante de Deus 24 horas
por dia. É também dito que, como eleitos de Deus, somos um espírito com o Senhor
(usando-se I Co 6:17) e já estamos, no espírito, adorando, servindo e orando ao Senhor, num
‘estado constante e permanente de oração’. De acordo com esse ensino, o Senhor não quer
nada com a nossa carne, o nosso corpo25, pois é impossível ao homem, ainda segundo este
raciocínio, cumprir na carne a ordenança paulina de ‘orar sem cessar’ (como se fosse esse o
sentido que Paulo quis dar a sua frase26). Assim, são ridicularizados aqueles que defendem a
prática tradicional diária do prostrar-se e orar, especialmente o orar de joelhos, usando-se
jocosamente exemplos de algumas práticas legalistas extremadas como ‘colocar milho sob os
joelhos’, ‘colocar a boca no pó da terra’, etc. (ultimamente, embora sem o admitir, tem-se
tentado dissimuladamente, pelo menos na pregação, negar que um dia se tivesse abjurado a
prática de orar de joelhos, numa flagrante contradição com o que havia sido dito
anteriormente; diz-se agora que “falta de oração é pecado”. No entanto, tudo isso tem sido
feito sem um esforço palpável para que a igreja volte a essa prática).
Mesmo estando certo de que não é a posição em que o crente ora que o
levará a ser ouvido e atendido por Deus (em tese, ele poderia orar até deitado, tomando
banho, ‘plantando bananeira’, etc.), mas sim o ter um coração contrito e temente ao Senhor
(Sl 34:18, 51:17; Is 57:15; Jo 9:31), não poderia me furtar a denunciar quão nefasta esta
doutrina tem se revelado e em quão graves perigos ela tem envolvido a igreja. Se já houve
na face da terra algum ensino com a marca registrada do diabo em alto relevo, este com
certeza é um deles. Esta doutrina tem sido a senha sutil, a ‘porta aberta’, a permissão
implícita para um sem-número de atitudes deliberadamente pecaminosas, pecados grosseiros
como roubo, difamação e falso testemunho no altar e alguns até escandalosos como
fornicação e adultério dentro da igreja. Após esse ensino, o orar de joelhos tem sido visto
com desprezo e desdém pela igreja e muitos até zombam desta prática, embora a Bíblia
esteja repleta de alusões a ela, incluindo-se até Paulo no Novo Testamento (I Rs 8:54, 18:42;
II Cr 6:13; Sl 95:6; Dn 6:10; Mt 17:14; Mc 1:40, 10:17; Lc 22:41; At 7:60, 9:40, 20:36, 21:5; Ef
3:14). A graça de Deus, que deveria nos tornar mais humildes pela grande misericórdia que o
Senhor demonstrou para conosco, foi transformada por esta doutrina (que diz que ‘não
precisamos orar dessa forma, porque já vivemos orando’) numa atitude de soberba. Vejam
que ensino infernal temos diante de nós. Só pode ser coisa do cão tinhoso disfarçado de anjo
de luz (II Co 11:14). Este é o tipo de ‘evangelho’ que levará muitas pessoas a baterem bem
de frente, direitinho e sem errar, com as portas do inferno.
É verdade que nosso corpo é um corpo de pecado (Rm 6:6) porque nele
reina a lei do pecado (Rm 7:15-25). É verdade que nosso corpo é um corpo de morte (Rm
7:24) porque está fadado a morrer (Gn 3:19). É verdade também que o nosso corpo é um

25
É usada equivocadamente a passagem de I Sm 16:7 para se defender esse raciocínio absurdo.
26
É óbvio que Paulo não estava ensinando ‘orar 24 horas por dia’; ele não era louco como esses que ensinam tal
doutrina, que só pode ser uma revelação do inferno. O que Paulo quis dizer é que devemos orar em e por
qualquer circunstância e situação, ‘em todo tempo’, e não ‘o tempo todo’.
corpo de humilhação (Fp 3:21) porque o nosso estado de mortalidade nos é humilhante, já
que não fomos criados para morrer. No entanto, isto é muito diferente e está longe de
significar que Deus não tem nada a ver com nosso corpo e não se importa com ele. Antes,
Deus quer que o homem por inteiro, corpo, alma e espírito27, viva num estado de santidade
diante dEle, como insistem várias passagens bíblicas (I Co 6:13-20, 7:34; Ef 5:23; I Ts 5:23; Hb
10:22). O Senhor mesmo um dia revestirá de incorruptibilidade e imortalidade nosso corpo
mortal e corruptível. Mesmo sendo salvo eternamente, Deus exige do homem regenerado
uma atitude de responsabilidade: é o Senhor quem efetua em nós, segundo a Sua sempre
boa vontade, o querer e o realizar, mas é Ele também que ordena que nós desenvolvamos a
nossa salvação com temor e tremor28 (Fp 2:12,13). Pedro insiste para que confirmemos a
nossa eleição, a fim de não tropeçarmos em tempo algum (II Pe 1:10), o que certamente
inclui a oração como um meio indispensável, uma prática diária (e não um estado) para se
ouvir e compreender a vontade de Deus para as nossas vidas.
Este ensino, num grau muito maior do que outros que temos estudado, tem
destruído famílias e lares inteiros, tornando estéreis milhares de vidas espirituais. Esta
doutrina é um engodo maligno, uma armadilha demoníaca, que nenhum daqueles que
realmente servem e chamam pelo Nome do Senhor Jesus Cristo deve ignorar (II Co 2:11).
Ouça, igreja, o que o Espírito severamente está dizendo.

27) Um outro ensino ardiloso e cínico, altamente sedutor e enganador, é aquele que diz que
o crente deve estar sempre livre de qualquer espécie de enfermidade durante todo o tempo
de sua vida, que deve gozar sempre de perfeita saúde e experimentar sempre, como um
direito seu, a manutenção dessa saúde. É dito e pregado que nenhum filho de Deus pode
adoecer, sob qualquer circunstância, e que se isso vier a acontecer, ou ele não manteve a sua
confissão (usando-se, mais uma vez equivocadamente, Hb 10:23), ou está demonstrando a
sua falta de confiança nas promessas de Deus (já que afirma-se que todos os crentes têm a
mesma medida de fé29 e não se poderia entrar em contradição aqui) ou ainda que deve estar
sob algum tipo de correção do Senhor (embora se afirme ao mesmo tempo que o Senhor
não envia a doença)30. Da mesma maneira, tem sido pregado e afirmado que todos os
sintomas e até os diagnósticos de uma enfermidade na vida do crente devem ser encarados e
tratados como mentiras do diabo, a doença não pode ser real; a verdade, segundo este
argumento que até parece ser muito bíblico mas não é, é que Cristo já carregou sobre si as
nossas enfermidades. A doença, dizem, foi vencida na cruz do Calvário e podemos declarar,
segundo esse raciocínio, que pelas chagas de Cristo nós já fomos sarados e que a cura é um
direito do crente (usando-se Is 53:4,5,11,12; Mt 8:17 e I Pe 2:24,25). Esse tipo de ‘confissão
positiva’ é reforçada pelo uso de passagens como Pv 18:21.
Estas promessas irresponsáveis de saúde perfeita (nem um simples atchim...)
além de serem uma exegese afrontosa, parcial e equivocada do texto bíblico, são também
um verdadeiro atentado contra a experiência e o bom senso, visto que ambos também as
contradizem. Esta doutrina aliás é uma importação da Ciência Cristã, que ensina que a
matéria não é real e que as doenças parecem ser reais mas não são, são uma ilusão da

27
Não entraremos aqui em questões teológicas mais profundas sobre dicotomia e tricotomia. Embora minha
posição seja dicotômica, o que nos importa neste momento é que o homem como um todo deve servir ao
Senhor, integralmente, com todas as esferas do seu ser.
28
Não há aqui nenhuma contradição com os princípios da graça de Deus, daquilo que conhecemos como o
sistema calvinista de se interpretar a Bíblia (que, cremos, não é nada mais, nada menos, do que aquilo que a
Bíblia realmente ensina sobre a condição decaída do homem).
29
Usando-se equivocadamente Jo 3:34 e Rm 12:3,6.
30
Em que sentido Deus não envia a doença? Para desgosto de muitos, a Bíblia está repleta de passagens que
afirmam que o próprio Senhor, em muitos casos, envia a enfermidade no meio de crentes (Nm 16:41-50; II Rs
5:25-27). Há situações em que a enfermidade pode ser um julgamento pelo pecado (Lv 26:15,16; Dt 28:61; Mq
6:13). No Novo Testamento, Paulo afirma que há muitos doentes e fracos entre crentes (e muitos até que já
morreram) por participarem da ceia de forma irreverente (I Co 11:28-32). Há até o caso do cego de nascença (Jo
9:1-4), cuja enfermidade o próprio Senhor Jesus afirmou que foi estabelecida por Deus para a Sua própria glória!
Em outras palavras, Deus quis que ele nascesse cego.
mente. Experimente, leitor, dizer a alguém conhecido que está com um forte dor de dente ou
de ouvido, ou em estado terminal num hospital, que a dor ou a doença que ele tem e sente é
uma ilusão da mente, uma mentira de Satanás e depois espere o resultado. O Senhor Jesus
nunca usou um argumento chulo como esse, nem mesmo os apóstolos.
A Palavra de Deus não pode se contradizer, irmãos. A Bíblia que traz muitos
relatos de milagres extraordinários também traz diversas histórias de cristãos sofrendo
aflições e dificuldades e a própria experiência cristã nos mostra muitas vezes crentes
padecendo de mortes horríveis. Havia no Tanque de Betesda uma multidão de enfermos,
cegos, coxos e paralíticos e no entanto o Senhor Jesus só curou um (Jo 5:2-9). Por que Ele
não curou todos? Paulo, que uma vez ressuscitou um morto (At 20:9), afirmou que numa de
suas viagens deixou Trófimo doente em Mileto (II Tm 4:20). Por que Trófimo não foi curado
de uma vez? Noutra oportunidade, Paulo afirma que Epafrodito, seu amigo, colaborador e
irmão em Cristo, adoeceu mortalmente (Fp 2:25-30). Por que o Senhor permitiu que
Epafrodito chegasse às portas da morte, como o próprio Paulo disse, se, segundo afirma essa
doutrina, o que ele deveria ver na sua vida era a manutenção da sua saúde? Por que Timóteo
não foi curado das suas freqüentes enfermidades, antes, Paulo recomendou que ele tomasse
um pouco de vinho por causa delas (I Tm 5:23)? Por que o próprio Paulo, o apóstolo da
graça e dos gentios, sofria de uma enfermidade crônica na sua carne, que o próprio Senhor
permitiu que lhe fosse colocada por Satanás (como ele mesmo reconheceu) e que não foi
curada, mesmo após muitas súplicas (II Co 12:7-9)? Por que o Senhor simplesmente não quis
curá-lo, se, segundo dizem, bastava Paulo confessar que ‘já estava curado pelas chagas de
Cristo’? Ou será que essa promessa do Senhor não valia logo para ele, um apóstolo por
excelência? Será que, naquele caso, ‘pau que dava em Chico não dava em Francisco’ ? Por
que Tiago afirma a existência de doentes entre os crentes (Tg 5:14,15), se todos eles já
deveriam estar ‘sarados pelas chagas de Cristo’, segundo entende esse ensino ardiloso? Por
que vemos, ainda hoje, milhares de crentes verdadeiros, íntegros e justos, sofrendo de
enfermidades graves e até morrendo por causa delas? Será que o Senhor se contradisse? Por
que, ao contrário desses pregadores da ‘saúde a todo custo’, o salmista em certa ocasião até
agradece o ter passado por aflições (Sl 119:67,71)?
A Bíblia não se contradiz, irmãos. Os homens é que muitas vezes são cegos e
querem ensinar aquilo que não sabem. Nela, a infalível Palavra de Deus, está escrito que virá
um dia em que não haverá mais morte, nem luto, nem pranto, nem dor (Ap 21:4). A
promessa do Senhor está sendo cumprida gradativamente na história, até o dia em que Ele
mesmo dará fim a todo sofrimento. Se assim não fosse, as mulheres crentes não sentiriam
nem mesmo as dores do parto. Enquanto esse dia não chega, temos que admitir que o
Senhor curou, cura e continuará curando, sim (Sl 41:4, 103:3; Jr 17:14; Os 6:1; Mt 9:35; Lc
4:18), mas soberanamente, quando Ele quiser. Ele nunca prometeu imunidade absoluta.
Devemos sempre orar pedindo que o Senhor cure os enfermos, segundo a Sua boa vontade,
mas não existe uma fórmula mágica, uma varinha de condão ou uma garrafa encantada que
obrigue o Senhor, como um ‘gênio da lâmpada’, a intervir milagrosamente a qualquer
momento na vida humana, como se fosse um mero cumpridor dos desejos e caprichos
humanos. Ele é que é o Senhor e não o homem, como esta doutrina faz crer ao afirmar
loucamente que Deus está obrigado a cumprir suas promessas para conosco31. Se milagres
ocorressem a todo momento, como algumas ‘igrejas’ chegam a dizer, deixariam de ser
milagres e se tornariam banalidade. Milagres são milagres justamente por não seguirem o
curso normal dos fatos. Não estamos com isso diminuindo a glória do Senhor, nem o Seu

31
É um disparate se fazer uma afirmação desse tipo, como se o homem fosse alguma coisa diante de Deus e
pudesse obrigá-lO a fazer algo. Pode-se perceber agora que os textos de Is 53:4,5,11,12, Mt 8:17 e I Pe 2:24,25
estão sendo manipulados tendenciosamente e não podem estar querendo dizer o que esses pseudo-pregadores
afirmam, pois estariam contradizendo abertamente o restante das Escrituras.
louvor. Estamos, isto sim, trazendo de volta a sensatez, o equilíbrio, o respeito mútuo e a
honestidade com a Palavra32.
Aqueles que ensinam esta doutrina irresponsável não curam nem a sua dor de
barriga e são os primeiros a irem correndo para o hospital, ao primeiro sinal de uma dor
mais intensa. O Senhor salva a quem Ele quer; Ele não salva a todos (Rm 9:15-18). Da mesma
forma, Ele não cura a todos (não que não possa); Ele cura a quem Ele quer curar (Jr 17:14).

28) Tem sido pregado e ensinado que a ceia é o único sinal visível da nova aliança e que o
batismo com água é uma prática da Lei que não regenera ninguém. Diz-se que o batismo é
um simbolismo, uma ‘sombra dos bens vindouros’ (usando-se Cl 2:17, Hb 8:5, 10:1). Como,
segundo esse pensamento, já temos a ‘substância real das coisas espirituais’ (ou seja, o selo
ou batismo do Espírito Santo), não precisamos mais de ‘sombras’; o batismo em água não
seria mais necessário. É afirmado ainda que Jesus mesmo não batizava com água (Jo 4:2) e
que Paulo batizou poucas pessoas (I Co 1:13-16). Não iremos nos estender muito neste
assunto, pois ele sozinho demandaria um volume igual a este. Vamos no entanto demonstrar
como essa é uma exegese burra e incoerente até mesmo com aquilo que se está ensinando.
Basta se analisar um pouquinho mais o que está sendo pregado para se concluir que há uma
contradição grave aqui e que ‘esse barco está cheio de furos’, como vamos provar.
É verdade que o que realmente lava o interior do homem e o regenera é o
lavar do Espírito Santo, que lhe é conferido quando ele crê33 (Ef 1:13, 5:26,27; Tt 3:5,6). No
entanto, há evidência abundante e suficiente para se afirmar que o batismo com água é uma
ordenança, instituída pelo Senhor Jesus após a Sua ressurreição (e, portanto, no novo pacto,
como se diz), embora já fosse uma prática conhecida pelos judeus muito antes do
aparecimento de João Batista (Nm 19:18; Is 4:4; Ez 36:25; Zc 13:1; Mt 3:6; Mc 1:4,5,8, 7:2-4; Lc
3:12,16; Jo 1:25,26). Os próprios apóstolos e discípulos a cumpriram muitas vezes (At 2:41,
8:12,37,38, 18:8, 22:16). Uma ordenança que, neste caso, é claramente um simbolismo, um
ritual. Se for dito que isto seria um contra-senso na graça de Deus, a ceia do Senhor também
o seria, pois ela foi instituída pelo Senhor Jesus antes do seu sacrifício no Calvário (portanto,
ainda na vigência da Lei, segundo se prega) (Mt 26:26-28; Mc 14:22-24; Lc 22:17-20). A ceia,
que também é uma ordenança da nova aliança, como Paulo deixa claro em I Co 11:23-32, é
também claramente um ritual, um simbolismo, um memorial, como é admitido ao se afirmar
(corretamente) que o ‘cordeiro pascal’ (Jesus) já foi imolado (A Palavra de Deus afirma que
mesmo antes da fundação do mundo isto já era certo, sendo provisão até para os crentes do
Antigo Testamento) (Ap 5:6,9, 13:8). Para ser retirado da igreja o batismo com água, a ceia
do Senhor também teria de ser. Vê-se então que, além disto ser uma contradição (pois, a
rigor, deveriam ser retiradas as duas ordenanças juntamente ou mantidas as duas, segundo
esse raciocínio) é também uma grossa heresia, pois o Senhor Jesus deixa bastante claro que
ainda há rituais simbólicos no novo pacto. Ele nunca ordenou a supressão de nenhuma das
ordenanças que Ele mesmo instituiu. Ou alguém irá dizer que quando o Senhor disse ‘Isto é
o meu corpo’ e ‘Isto é o meu sangue’ Ele estava afirmando que o pão havia se transformado
no seu corpo e o vinho no seu sangue? Quem afirma isto, aliás, é a igreja católica romana, no
seu dogma da transubstanciação. Jesus estava fazendo uma ilustração, assim como quando
disse “Eu sou a porta” (Jo 10:7), ou quando falou “Eu sou a luz do mundo” (Jo 8:12) ou ainda
quando afirmou “Eu sou a videira verdadeira” (Jo 15:1). Será que alguém insanamente dirá
que Ele queria dizer que era uma porta, uma luz ou uma videira? Assim, uma ilustração
também é um simbolismo.

32
Muitas pessoas, com essa heresia louca, deixaram de consultar os médicos e não viram um respaldo divino para
a sua insistência em “declarar a cura pelas chagas de Cristo”. O desconcertante nisto tudo é que muitos relatos de
cura têm vindo de longe, de pessoas que ouvem programas pelo rádio ou vêem pela televisão. No entanto, por
paradoxal que seja, os surdos e paralíticos que estão perto, dentro da própria igreja, não estão sendo curados!
Que Jesus mais estranho e contraditório é esse!?
33
Na verdade, o ato de crer já é o lavar regenerador do Espírito.
Para concluir, em Jo 4:2, embora Jesus mesmo não batizasse com água, Ele
permitia que seus discípulos o fizessem; em I Co 1:13-16 Paulo, embora afirme que tenha
batizado pouco, chegou a fazê-lo. Assim, estas passagens não podem ser lidas como uma
negação do batismo em água, mas sim como uma afirmação do verdadeiro sentido desta
ordenança: um memorial, uma expressão externa de um acontecimento que ocorreu no
coração do homem e que não elimina o fato de ser um mandamento do Senhor, a menos
que seja impossível cumpri-lo (Lc 23:33,39-43).
Esta atitude imprudente, ainda mais praticada por alguém que se diz
‘apóstolo’, é, como demonstramos claramente, uma desobediência à advertência do Senhor
estabelecida em Ap 22:18,19, o que é algo extremamente preocupante.

29) Será que não havia graça de Deus no antigo pacto? Será que só havia vislumbres dela,
como tem sido pregado durante todos estes anos, numa ênfase quase anti-semita? O que
dizer da maravilhosa história de José e seus irmãos (Gn 42-47)? O que dizer de Raabe, a
prostituta, que protegeu os espias de Israel e entrou na linhagem do Salvador (Js 2:1-21,
6:17,23,25; Mt 1:5; Hb 11:31; Tg 2:25)? O que dizer de Rute, a moabita (e como Raabe, uma
estrangeira), que também entrou na genealogia do Senhor Jesus Cristo (Rt 1:14,22, 4:13; Mt
1:5)? O que dizer de Davi e Bate-Seba, que pecaram gravemente e se tornaram passíveis de
morte perante a Lei (Ex 20:14; Lv 18:20, 20:10; Dt 5:18), mas que ainda assim geraram a
Salomão, dando continuidade à genealogia do Senhor (II Sm 11-12; I Rs 1:28-31)? Neste caso
em particular, não fica bastante claro que a graça misericordiosa de Deus falou muito mais
alto do que a Sua Lei? O que dizer da grande salvação que Deus proveu para o povo judeu
através da mão de Ester, nos tempos de Assuero (Et)? O que dizer da grande provisão que o
Senhor trouxe à viúva de Sarepta (mais uma mulher, e estrangeira) pelas mãos de Elias (I Rs
17:8-24; Lc 4:25-27) e da cura de Naamã, o sírio (II Rs 5)? Só uma mente muito obtusa não
enxergaria a graça de Deus nestas passagens e em diversos outros momentos do Antigo
Testamento.
E o que dizer do Novo Testamento? Será que não há aspectos de lei na graça
de Deus? O que são os mandamentos para os filhos (Ef 6:1-3; Cl 3:20), para os pais (Ef 6:4; Cl
3:21), para as esposas (Ef 5:22-24; Cl 3:18), para os maridos (Ef 5:25-31; Cl 3:19), para os
servos (ou empregados) (Ef 6:5,6; Cl 3:22-25), para os bispos (ou presbíteros) e diáconos (I
Tm 3:1-12; II Tm 5:17-20), para procurarmos tudo aquilo que é saudável para as nossas vidas
espirituais (Fp 4:8), para termos uma vida sexual adequada (I Ts 4:1-8), para não andarmos
desordenadamente, mas trabalhando (II Ts 3:6-14), para corrigirmos com brandura um irmão
faltoso (Gl 6:1), para ajudarmos financeiramente quem nos instrui na Palavra (Gl 6:6), para
não mentirmos, furtarmos ou falarmos palavras torpes (Ef 4:25-32, 5:3,4), para não
promovermos partidarismos (Fp 2:3,4), para não deixarmos de nos congregar (Hb 10:25) e
tantas outras ordenanças (notem, ordenanças e não apenas recomendações) que colhemos
no texto do Novo Testamento?
Como já se sabe, a finalidade da Lei nunca foi justificar, nem salvar ninguém,
mesmo porque ela não podia fazer isso (At 13:39; Gl 2:16, 3:11, 5:4,6; Fp 3:9; Hb 7:19; Tg
2:10). Se algum homem (certamente um judeu) pudesse cumprí-la, seria justificado por ela
(Lv 18:5; Lc 10:25-29; Rm 10:5; Gl 3:12). Não haveria necessidade de mais nada, nem do
sacrifício de Cristo. O homem se auto-salvaria ao cumprir os ditames da Lei mosaica. A Lei,
porém, veio para mostrar ao homem o quanto ele é pecador e o quanto ele necessita de um
Salvador; ela veio para realçar o quanto o pecado é algo grave e terrível diante de Deus (Rm
3:19,20, 5:20, 7:5,7; Gl 3:19). Seu propósito era apontar Cristo e nos conduzir a Ele, como o
remédio e a solução para o nosso estado de pecado (Gl 3:22-24). Mesmo no período
histórico do Antigo Testamento, isto é, antes e durante a vigência da Lei34, os crentes também
eram salvos mediante a graça de Deus, porque o trato de Deus com o homem sempre foi
através de Sua infinita graça (Hb 11:4-40). Ninguém nunca foi salvo por guardar a Lei porque

34
É bom lembrar que antes de Moisés não havia a Lei.
nenhum homem conseguiu fazer isso (Rm 4:13-15). A Lei, portanto, é boa e justa (Rm
7:12,16; I Tm 1:8). Não havia nada intrinsecamente mau, imperfeito ou defeituoso na Lei em
si mesma, como alguns caluniosamente andam dizendo35, compreendendo mal os textos em
Hb 7:11,18,19, 8:7. O problema não estava na Lei, o problema está no homem, como Paulo
ensina, ao dizer metaforicamente que ‘a Lei estava enferma pela carne’ (Rm 7:8, 8:3; ver
também Hb 9:9,10). É nesse sentido que a Lei continha defeitos, somente nesse. Ela
apontava o pecado e estabelecia a sentença justa de condenação para o homem, mas não
estabelecia uma provisão para a salvação dele, a não ser induzí-lo a correr para baixo da
misericórdia divina. Na verdade, ela tratava propositalmente do homem em sua carne (Hb
9:10), quando o problema do homem estava no seu coração, no seu interior (Gn 6:5; Is 64:6;
Jr 17:9; Rm 7:18-25). Ela era incapaz de aperfeiçoar o homem em qualquer sentido (Hb
7:11,18,19, 9:9, 10:1). Por isto ela é chamada de ‘ministério de condenação e de morte’ (II Co
3:7-9). Por isso a Graça é melhor, é superior (Hb 8:6), é salvadora, porque está baseada num
sacrifício que é eterno e que realmente regenera o homem. Agora, sob o sacrifício de Cristo,
o crente já satisfez plenamente às exigências da Lei de Deus, pela justiça de Jesus Cristo que
lhe foi imputada (Rm 3:31, 5:13, 8:3,4). Tentar cumprir a Lei por esforço próprio, através de
diversas obras e atos de piedade, numa espécie de auto-salvação, é, portanto, impossível aos
homens, mesmo porque não era esse o propósito da Lei (Rm 9:31,32, 10:2). É isto que as
Epístolas aos Gálatas e aos Hebreus nos querem ensinar.
Com todas estas observações e conceitos bem definidos em nossas mentes,
temos condições de entender com clareza que a vida sob a graça divina (que é a
misericórdia, a bondade e o favor imerecido e infinito da parte de Deus) não significa
licenciosidade, permissividade e nem apoio à falta de disciplina (coisas que têm sido vistas
abundantemente na igreja) (Rm 3:8, 6:1,15). O crente, sob a nova aliança, ainda que não
esteja mais debaixo da Lei, não está sem lei, como Paulo bem define, mas está debaixo da
Lei de Cristo (I Co 9:21; Gl 6:2) e, portanto, ainda está debaixo de mandamentos (I Co 7:25; I
Tm 1:18, 6:14; II Pe 3:2; I Jo 2:3,7,8, 3:22-24, 4:21, 5:2), como demonstramos no início deste
ponto, mesmo que não sejam como os do antigo pacto. Versos como

“Se me amardes, guardareis os meus mandamentos.” (Jo 14:15)


“Se alguém cuida ser profeta ou espiritual, reconheça que as coisas que
vos escrevo são mandamentos do Senhor.” (I Co 14:37)
“Porque vós bem sabeis que mandamentos vos temos dado pelo Senhor
Jesus.” (I Ts 4:2)

tornam isto bastante claro.


Assim, a idéia confusa de que o Pacto da Graça começaria de Atos em
diante36 e que teria sua expressão máxima nas cartas paulinas37 revela a miopia espiritual
aguda de quem não sabe distinguir ‘o preto do branco’, a verdade do erro, o joio do trigo.
Esta é uma posição que, diríamos, é de imaturidade exegética. Lei e graça não são idéias
opostas, não se excluem e nem se contradizem, mas se complementam; uma conduz à
outra. A Lei foi abolida porque era um estatuto provisório, instituída por causa das
transgressões dos homens (Rm 4:15; Gl 3:19), devendo vigir até a chegada de um tempo
de reforma (Hb 9:10), representado pela manifestação universal da graça de Deus na
pessoa de Jesus Cristo. Ademais, para concluir, em muitas igrejas ditas ‘da lei’, como esses
tais apóstolos nesciamente denominam as outras denominações, não se vêem muitos dos
pecados grosseiros cometidos nas auto-intituladas igrejas ‘em graça’. É lamentável que
35
Como se poderia conceber um Deus justo e perfeito estabelecendo uma lei imperfeita e com defeitos? Em que
sentido a Lei tinha defeitos?
36
Quem prega isso não sabe que a Bíblia diz que o próprio João Batista já anunciava o evangelho (Lc 3:18).
37
A propósito, tem sido dito e afirmado que o autor da carta aos Hebreus foi Paulo. Notem, no entanto, como o
escritor desta carta deixa claro que ele não foi uma testemunha de primeira mão, tendo tomado conhecimento
dos fatos a respeito de Jesus por intermédio de terceiros (Hb 2:3,4) (Paulo nunca diria isto). Ele sequer se
identifica no início da carta, como Paulo costumeiramente fez em todas as suas epístolas (Hb 1:1,2).
esse tipo de ignorância das Escrituras, num assunto de importância tão vital como este,
ainda encontre nos dias de hoje espaço para se propagar.

30) Será que algum desses tais que se auto-intitulam ‘apóstolos’ do século XXI seria capaz de
escrever uma ‘epístola aos paulistanos’, ‘outra aos cariocas’, outra ‘aos porto-alegrenses’, e
por aí em diante38? Se eles mesmos dizem que receberam ‘novas revelações’ de Deus, por
que eles não podem ser inspirados por Deus para produzirem algo novo para o cânon?
Quando será que homens como esses abandonarão a sua posição de arrogância e soberba e
ouvirão mais aquilo que Deus tem colocado na boca dos seus servos? Ou será que, céleres,
continuarão caminhando cega e loucamente como “adulteradores da Palavra”? Que o Senhor
os repreenda (Jd 9).

Teríamos muitas outras teses, muitos outros questionamentos a apresentar


para mostrar que é preciso uma conscientização da necessidade de mudanças radicais em
relação àquilo que se é ensinado, se se deseja realmente ser fiel às Escrituras. Julgamos, no
entanto, que as que aqui estão são suficientes para demonstrar aquilo a que nos
propusemos: que algumas doutrinas (heresias) têm sido danosas para a vida espiritual da
igreja, aparentando uma capa de verdade, mas escondendo no seu bojo verdadeiras
doutrinas de demônios.
Sabemos o quanto é difícil que ocorram essas mudanças, uma vez que muitos
interesses que não passam pela fidelidade rigorosa à Palavra de Deus estão em jogo. Mesmo
assim, levantamos nossa voz solitária mas corajosa, com uma argumentação sólida, para falar
em alto e bom som que, se estas coisas não são assim como nós expusemos, então Deus não
falou pela nossa boca (I Rs 22:28).

38
Alguns asseclas desses tais ‘apóstolos’ ousadamente afirmam que sim.
Conclusão

Todas as reflexões apresentadas aqui são fruto da observação atenta da


palavra pregada, da prática religiosa evangélica e da comparação exaustiva daquilo que era
dito e pregado com a Palavra de Deus. Livros teológicos de diversos níveis também foram
consultados, para se alcançar uma posição abalizada e equilibrada sobre questões
fundamentais da fé cristã. Recomendamos que o leitor faça o mesmo. Não aceitamos que
alguém venha impor sobre nós e sobre a igreja de Deus aquilo que devemos ou não
devemos ler, ouvir e assistir. A Bíblia recomenda que ‘examinemos (‘julguemos’ em algumas
traduções) tudo e retenhamos o que é bom’ (I Ts 5:21). Se temos a mente de Cristo (I Co
2:16), o Espírito Santo nos guiará a toda a verdade (Jo 16:13). Se todos fizessem isso, pelo
menos metade destas heresias não existiria.
Algumas dessas reflexões levaram alguns anos para amadurecer porque,
infelizmente, o Evangelho no Brasil está perdendo sua essência de uma forma ao mesmo
tempo dissimulada e aberta (II Pe 2:1). Às vezes é difícil perceber e aceitar que se está no
erro. O ‘brilho’ do sistema religioso pós-moderno, com toda a sua ordem e beleza, é sedutor
e cega os olhos daqueles que não estão firmados ou são inexperientes na Palavra. A igreja
do Senhor Jesus Cristo, como o conjunto dos santos eleitos em todos os tempos e em toda a
face da terra, é perfeita, sem manchas, sem mácula e sem rugas (Ef 5:27). O sistema religioso
evangélico e protestante pós-moderno, porém, é pernicioso, iníquo e maligno, tanto quanto
o catolicismo romano ou o espiritismo, com uma agravante: ele se apresenta com uma capa
de santidade, integridade e moralidade que é falsa. As heresias e as práticas religiosas que
este sistema ensina e usa, de forma pragmática e utilitarista, estão aí para o demonstrar.
Por isso a necessidade de se trazer à luz essas teses, essas verdades, para que
elas sejam debatidas intensamente pela igreja e para que, expostas e comparadas à Palavra
da Verdade, possam estabelecer-se ou cair, pelo amparo ou pela distância das Escrituras. Na
ânsia por novidades e ‘novas revelações’, a igreja vem se envolvendo com conjecturas
humanas e diabólicas, que nada tem a ver com a simplicidade e a singeleza poderosa do
Evangelho de Jesus.
Finalmente, essas e outras questões merecem e devem ser discutidas, porque
está em jogo a precisão e a exatidão da Palavra de Deus e não a de um homem qualquer.
Nossa consciência está cativa à Palavra de Deus somente e nada nem ninguém está acima
dela. Batalhar diligentemente pela fé (Jd 3) é perceber, pela reflexão crítica e pelo hábito
saudável de se examinar as Escrituras (Jo 5:39), a diferença, às vezes sutil, entre o erro e a
verdade. A mentira, quanto mais parecida com a verdade, mais se torna perigosa.
Que Deus nos ajude. Amém.
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