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POLÍCIA CIENTÍFICA (PROVA E

LOCAL DO CRIME)
AULA 6

Prof. Thiago Massuda


CONVERSA INICIAL

Entre o rol de perícias oficiais de natureza criminal, as perícias médico-


legais encontram-se entre as mais relevantes.
A medicina legal é certamente uma das áreas das ciências forenses
mais antigas.
Neste módulo estudaremos as principais perícias relacionadas à
medicina legal, entre as quais se encontram as perícias em pessoas vivas
(clínica médica), que compreendem os exames de lesões corporais, violência
sexual e sanidade mental, e as perícias em cadáveres (necrotério), referentes à
determinação da causa morte, intervalo post mortem e identificação das
vítimas.

TEMA 1 – LEGISLAÇÃO APLICADA À MEDICINA LEGAL

As perícias médico-legais podem assim ser classificadas:

 Perícias em vivos – Lesão corporal; estimativa da idade; conjunção


carnal; atos libidinosos; violências sexuais em geral; gravidez; parto;
infortúnios do trabalho; dosagem alcoólica; exames toxicológicos.
 Perícias em cadáveres – Identificação; realidade da morte; cronologia
da morte; causa da morte; exames toxicológicos das vísceras e outros
complementares; necropsia em mortes violentas e suspeitas.
 Perícias no esqueleto – Identificação antropológica; diagnóstico da
espécie; sexo; estatura; idade; achados de violência.

O Código de Processo Penal disciplina algumas questões referentes às


perícias médico-legais, conforme segue:

Art. 162. A autópsia será feita pelo menos seis horas depois do óbito,
salvo se os peritos, pela evidência dos sinais de morte, julgarem que
possa ser feita antes daquele prazo, o que declararão no auto.
Parágrafo único. Nos casos de morte violenta, bastará o simples
exame externo do cadáver, quando não houver infração penal que
apurar, ou quando as lesões externas permitirem precisar a causa da
morte e não houver necessidade de exame interno para a verificação
de alguma circunstância relevante.”
Art. 163. Em caso de exumação para exame cadavérico, a
autoridade providenciará para que, em dia e hora previamente
marcados, se realize a diligência, da qual se lavrará auto
circunstanciado.

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Parágrafo único. O administrador de cemitério público ou particular
indicará o lugar da sepultura, sob pena de desobediência. No caso de
recusa ou de falta de quem indique a sepultura, ou de encontrar-se o
cadáver em lugar não destinado a inumações, a autoridade procederá
às pesquisas necessárias, o que tudo constará do auto.
Art. 168. Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame pericial
tiver sido incompleto, proceder-se-á a exame complementar por
determinação da autoridade policial ou judiciária, de ofício, ou a
requerimento do Ministério Público, do ofendido ou do acusado, ou de
seu defensor.
§ 1º No exame complementar, os peritos terão presente o auto de
corpo de delito, a fim de suprir-lhe a deficiência ou retificá-lo.
§ 2º Se o exame tiver por fim precisar a classificação do delito no art.
129, § 1o, I, do Código Penal, deverá ser feito logo que decorra o
prazo de 30 dias, contado da data do crime.
§ 3º A falta de exame complementar poderá ser suprida pela prova
testemunhal.

TEMA 2 – CLÍNICA MÉDICA – LESÕES CORPORAIS

2.1 Traumatologia forense

Entende-se por traumatologia o estudo das lesões produzidas por


agentes vulnerantes cujo objetivo é auxiliar a justiça na classificação jurídica,
estabelecimento do nexo causal, a gravidade, bem como o enquadramento
jurídico de acordo com o art. 129 do Códico Penal.

Para Arbenz (1988) “a traumatologia forense estuda as energias


lesivas e seus efeitos”. Neste sendito, esse danos podem ser
resultantes da atuação de agentes que têm a intenção de ferir
(animus laedendi) ou de matar (animus necandi).
Segundo Flámineo Fávero as energias são assim classificadas:
“Classificação das Energias – são classificadas através de seus
agentes.
É imprescindível o estabelecimento do nexo causal (relação causal
relação necessária e suficiente que une a causa ao seu efeito) entre a
lesão e o agente. Na verdade é através das características da lesão é
que vamos conhecer o instrumento que a provocou.
Energias de ordem física (EOF)
Compreendem os agentes mecânicos e os não mecânicos.
Agentes físicos mecânicos
Esses agentes são responsáveis por 97% das causas de lesão
corporal e por 98% dos homicídios. São classificados em formas
puras e formas mistas.
Podem atuar através da energia cinética ou potencial:
cinética – ex.: atira um objeto e este encontra o alvo (alvo estático,
objeto dinâmico);
potencial – o agente está parado e o alvo em movimento. Ex.: ao
caminhar o indivído se choca com um objeto.
Também pode ocorrer do agente e o alvo estarem em movimento.

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Figura 1 – Agentes físicos e mecânicos puros e mistos

1. Perfurantes
2. Cortantes PUROS
3. Contundentes
4. Pérfuro-cortantes
5. Corto-contundentes MISTOS
6. Pérfuro-contundentes

Já os agentes físicos não mecânicos atuam por outro tipo de energia


não mecânica:
 Temperatura:
 exposição ao frio;
 exposição ao calor:
 difuso (provocando insolação ou intermação)
 direto (queimaduras 1º, 2º, 3º e 4º graus)
 Pressão atmosférica – baixa pressão, alta pressão, frequentes em
aviadores, mergulhadores, alpinistas, mineradores (barotrauma).
 Eletricidade:
 Natural:
 fulguração (são as lesões);
 fulminação (quando ocorre a morte). Observam-se os sinais de
Lichtenberg – figura arboriforme ou dendrítica).
 Industrial:
 eletroplessão (ocorre a descarga sobre o organismo sem ocorrer a
morte);
 eletrocussão (morte causada por descarga elétrica);
 marcas elétricas de Jellinek (queimaduras nos locais de entrada e
saída da corrente. São lesões secas, endurecidas, sobrelevadas,
não sangram e são insensíveis).
 Radioatividade – raios alfa, beta e gama (os RX pertencem a este
grupo). É rara, a não ser em ambientes especializados.
 Radiações não ionizantes – luz, som.

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As energias de ordem química são os cáusticos. Podem ser coagulantes
(ácidos), provocando escaras secas, normalmente não infectadas; ou
liquefacientes (básicos), que provocam escaras moles, esbranquiçadas e
infectadas.
São as substâncias como os venenos. “Veneno é toda substância
mineral ou orgânica que ingerida, ou aplicada no seu exterior, sendo absorvida,
determine a morte, ponha em perigo a vida ou altere profundamente a saúde”.
Por exemplo: medicamentos, produtos químicos (raticida, formicida, cianeto,
potássio, inseticidas etc.).
Energias de ordem biológica são, por exemplo, plantas tóxicas e
venenos de animais.

TEMA 3 – CLÍNICA MÉDICA (VIOLÊNCIA SEXUAL)

3.1 Aspectos médico-legais da conjunção carnal

 Sinais de duvidosos da conjunção carnal:


 Hemorragias;
 Dor;
 Sinais de violência;
 Contaminação venérea.
 Sinais de certeza da conjunção carnal
 Rotura do hímen;
 Esperma na vagina;
 Gravidez.

TEMA 4 – TANATOLOGIA FORENSE

A morte é de interesse das ciências biológicas, jurídicas e sociais. Do


ponto de vista médico, o conceito de morte é a parada total e irreversível das
funções vitais.

4.1 Causa jurídica da morte

 Natural – Quando a morte decorre de um processo patológico (doença).

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 Violenta – Quando a morte resulta de uma ação externa, com violência
(força), caracterizando situações como homicídios, suicídios e acidentes.
 Suspeita – Quando inicialmente não é possível estabelecer a causa da
morte, havendo a necessidade de uma investigação detalhada.
 Indeterminada – quando mesmo após uma investigação detalhada para
a identificação da causa morte não é possível estabelecê-la.
 Necessidade da realização das necropsias forenses – O objetivo
inicial da necropsia é estabelecer a causa morte (natural ou violenta),
bem como o mecanismo que a produziu. Com isso, em se tratando de
morte de violenta, o legista dá subsídio para a investigação com
informações relevantes sobre a dinâmica dos fatos e a ação,
instrumento ou meio que determinou o óbito.

4.2 Tanatognose

É a parte da medicina legal que se dedica ao diagnóstico da realidade


da morte. Existem algumas situações nas quais o indivíduo parece estar em
óbito, mas não está (morte aparente). Cabe ao legista, por meio do estudo dos
sinais tanatológicos, realizar o diagnóstico de certeza da morte. Esses sinais
tanatológicos podem ser divididos em sinais abióticos imediatos, sinais
abióticos consecutivos e sinais transformativos, que podem ser destrutivos ou
conservativos.

TEMA 5 – ANTROPOLOGIA FORENSE

5.1 Modalidades de identificação

 Identificação judiciária: utiliza-se da papiloscopia (impressões digitais)


como método de identificação. Independe de conhecimentos médicos.
 Identificação médico legal: são empregados conhecimentos da medicina
legal, principalmente relativos à antropometria forense, que se baseia na
medição de ossos e análise de sinais característicos para poder chegar
à identificação de uma pessoa.

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NA PRÁTICA

As perícias médico-legais constituem uma importante fonte de


informação para o processo penal e estão diretamente relacionadas a inúmeros
delitos.
Crimes como de lesões corporais, homicídios e violência sexual só
podem ser resolvidos com o auxílio dos laudos dos médicos legistas.

FINALIZANDO

Na aula de hoje estudamos as principais perícias médico-legais e suas


aplicações para o auxílio da justiça. Entre as perícias estudadas, estão as
de clínica médica, tanto as referentes a lesões corporais, quanto a
violência sexual, as perícias realizadas nos necrotérios, para identificação
da vítima, identificação da causa morte, do intervalo pós-morte, entre outras
informações relevantes para o processo.

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REFERÊNCIAS

ANUÁRIO BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Ano 10 – Fórum


Brasileiro de Segurança Pública, 2016.

CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. Decreto-lei n. 3.689, de 3 de outubro de


1941. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/Del3689.htm>. Acesso em: 15 out. 2017.

ESPINDULA, A. Perícia criminal e cível – uma visão geral para peritos e


usuários da perícia. 2 ed. Campinas: Millennium, 2006.

TOCHETTO, D. et al. Tratado de Perícias Criminalísticas. Campinas: ABDR,


1995.

VELHO, J. A.; GEISER, G. C.; ESPINDULA, A. Ciências forenses – uma


introdução às principais áreas da criminalística moderna. Campinas: Millenium,
2017.

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