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A História Da Fotografia PDF
A História Da Fotografia PDF
É muito difícil precisar as datas e etapas dos processos ciente para projetar uma imagem de grandes proporções.
que levaram à criação da Fotografia, pois muitos deles são Centenas de ilustrações de tratados renascentistas fazem
experiências conhecidas pelo homem desde a Antigüidade, alusão a este tipo de câmara, que, longe de ser apenas uma
e acrescenta-se a isso um conjunto de cientistas em diver- caixa, tinham as dimensões de uma sala, onde artistas se
sas épocas e lugares que aos poucos foram descobrindo posicionavam em seu interior, podendo assim se utilizar da
as partes deste intrincado quebra-cabeças, que somente no projeção para tomar moldes de desenho. Portanto, é pro-
final do séc. XIX foi inteiramente montado. vável que os homens da renascença não tenham testado
Entretanto, é possível apontar alguns destes fatos e desco- uma câmara destas proporções. Também não se sabe exa-
bertas como sendo relevantes para a invenção da fotografia. tamente a que obras os renascentistas se referem quanto
Os fundamentos daquilo que veio a se chamar fotografia à citação de usos da câmara na antigüidade, uma vez que
vieram de dois princípios básicos, já conhecidos do homem não há registros diretos; e nem ao menos se sabe que uso
há muito tempo, mas que tiveram que esperar muito tempo os antigos poderiam fazer de semelhante aparelho, uma vez
para se manifestar satisfatoriamente em conjunto, que são: a que não havia estudo de perspectiva e nem conhecimento
câmara escura e a existência de materiais fotossensíveis. de materiais fotossensíveis.
A Câmara Escura
A câmara escura nada mais é que uma caixa preta
totalmente vedada da luz com um pequeno orifício ou uma
objetiva em um dos seus lados. Apontada para algum obje-
to, a luz refletida deste projeta-se para dentro da caixa e a
imagem dele se forma na parede oposta à do orifício. Se, na
parede oposta, ao invés de uma superfície opaca, for colo-
cada uma translúcida, como um vidro despolido, a imagem
formada será visível do lado de fora da câmara, ainda que
invertida.
Câmara obscura
Acima, dois exemplos que ilustram registros do uso da
câmara escura como um grande quarto em que poderia ca-
Isso permite a visão de qualquer paisagem ou objeto
ber um homem. A da esquerda é uma ilustração da Renas-
através do orifício que, dependendo do tamanho e da dis-
cença, e a segunda, do séc.XVIII
tância focal, projetava uma imagem maior ou menor.
Entretanto, apesar das origens escusas, na Renascença
A câmara escura é uma dessas invenções que não se
seu uso parecia estar muito bem disseminado. Poderíamos
sabe a origem. Descrições de quartos fechados com orifí-
estabelecer uma cronologia mais ou menos assim de obras
cios que projetam imagens em seu interior existem desde
que citam a utilização da Câmara escura:
a Renascença, e suas referências indicam desde a Grécia
1521- Monge Papnutio da Cesare Cesariano -”Com-
Antiga, mas há ainda referências deste conhecimento entre
metaires de Virtruve”
os chineses, árabes, assírios e babilônios. Há muita con-
1521- Francesco Maurolico da Messina - “Photismi de
trovérsia sobre o conhecimento e utilização das câmaras
lumine et umbra ad perspectivam et radiorum incidentiam
escuras na antigüidade justamente por sabermos que é im-
facientes” - editado em 1611 (fazendo referência a um pri-
possível a projeção dessas imagens a partir de pequenos
meiro estudo de 1521)
orifícios em um quarto grande, em que poderia caber um
1544 - Gemma Frisius (Renerius) - relata o uso de uma câme-
homem, uma vez que o orifício, para formar uma imagem,
ra escura na observação de um eclipse em Louvain na Bélgica.
deve ser muito pequeno, e a quantidade de luz não é sufi-
1553- Giovanni Battista Della
Porta - “Magia Naturalis” Considerado
Fotossensibilidade: prata, esta imagem não se mantinha
estável, pelo simples motivo que a
em muitos compêndios de cinema e
fotografia como o inventor da Câmara
os haletos de Prata prata continuava fotossensível. Em
palavras simples, a prata reage à luz
Escura. Entretanto, há várias ressalvas A outra ponta da entrincada cor- ficando mais negra à medida que rece-
sobre isso, entre elas as referências rente que desembocou na fotografia be maior quantidade de luz. Então, se
mais antigas, e entre outras, algumas diz respeito aos materiais fotossensí- gravamos uma imagem com os grãos
indicações dadas por Della Porta que veis. Fotossensibilidade é um fenôme- de prata, como faremos para olhar o
não são verdadeiras. no que quer dizer, literalmente, ‘sensi- resultado? É fácil, é só vê-los na luz.
1568- Daniello Barbaro - Nos dá bilidade à luz’. A bem da verdade, toda Mas vendo a imagem na luz, a prata
uma versão melhor da câmara escura a matéria existente é fotossensível, ou continuava a ser sensibilizada, ene-
de grandes proporções, descrevendo seja, toda ela se modifica com a luz, grecendo gradativamente a imagem
o uso num quarto escuro apenas colo- como um tecido que desbota no sol, obtida.
cando uma folha de papel próxima ao ou mesmo a tinta de uma parede que Este foi o principal problema que
orifício com a lente, projetando assim vai aos poucos perdendo a cor, mas os pioneiros da fotografia enfrenta-
uma imagem. (Neste caso, o uso do algumas demoram milhares de anos ram, a busca de um método eficiente
quarto escuro é possível). para se alterarem, enquanto outras de estabilizar a prata, impedindo-a de
1646 - Athanasius Kirscher (Atha- apenas alguns segundos já lhes são se sensibilizar após o registro da ima-
nasio), “estranha e mirabolante figura, suficientes. Ora, para a reprodução de gem.
misto de cientista e mistificador, reali- uma imagem, de nada adiantaria um
zou uma gigantesca obra abrangendo
o Egito Antigo, a China, a Astronomia,
material de pouca fotossensibilidade,
de maneira que todos os cientistas ou
Os pioneiros da
e vários outros assuntos” (segundo
Mario Guidi, pp. 21-22), publicando
curiosos que procuraram de alguma
maneira a imagem fotográfica come-
fotografia
um estudo sobre a Câmara escura çaram pesquisando sobre o material
num tratado chamado ‘Ars Magna * Nicéphore Nièpce
que já há muito era conhecido e con-
Lucis et Umbrae’, em que também há siderado o mais propício para tal: os
referências precisas sobre câmaras Eis então que adentra ao cenário
sais de prata. da história o sr. Nicéphore Nièpce,
escuras, grandes e pequenas, bem A própria alquimia renascentista já
como lanternas mágicas. nascido em Chálon-sur-saóne, Fran-
registra as propriedades fotossensí- ça, em 1765. Apesar de ter seguido
De qualquer forma, a câmara es- veis da prata, sendo referenciada em
cura foi largamente usada durante carreira militar, ele e seu irmão Claude
1566 por Georg Fabricius, o que indica se interessavam por pesquisas como
toda a Renascença e grande parte dos que o conhecimento destas proprie-
séculos XVII e XVIII para o estudo da cientistas amadores, e, apesar de dile-
dades devia ainda ser anterior ao séc. tantes, eram empenhados e chegaram
perspectiva na pintura, só que já mu- XVI. Os haletos, ou sais de prata, mo-
nida de avanços tecnológicos típicos a inventar, por volta de 1815, um mo-
dificam-se rapidamente com a ação tor a explosão.
da ciência renascentista, como lentes da luz, enegrecendo-se na mesma
e espelhos para reverter a imagem. A Mas a busca pelo registro visual
proporção em que recebem luz. era um fascínio pessoal de Nicépho-
câmara escura só não podia estabilizar E outros registros, sucessivamente
a imagem obtida. re, que estudou diversas técnicas
em 1727, 1763, 1777 e 1800, nos rela- reprográficas, e tendo com isso feito
tam experiências de imagens obtidas importantes melhorias no processo de
a partir de papéis embebidos em so- litografia. Mas procurava, assim como
luções de sais de prata. A maior parte outros, uma possibilidade de utilizar a
dessas experiências era feita como imagem da câmara escura, uma vez
uma cópia por contato, ou seja, algum que os demais processos só permi-
objeto era colocado sobre o papel tiam reprodução de originais opacos
sensibilizado, e assim se obtinha uma ou transparentes, e não imagens pro-
imagem ou silhueta daquele objeto. jetadas da natureza real.
Mas, ainda antes de 1800, um certo A primeira tentativa de Nièpce foi
Wedgwood, na Inglaterra, chegou a feita com o betume da judéia, uma
utilizar a câmara escura para obter, espécie de verniz utilizado na técnica
com sucesso, essas imagens. de água forte, que possui a proprie-
Então, por que a fotografia já não dade de secar rapidamente quando
foi inventada nesta época, precisando exposto à luz. Esse betume possui um
esperar mais 40 anos? solvente, óleo de lavanda, e que não
É que, após ser feita a impressão consegue dissolvê-lo depois deste ter
de uma imagem no papel de sais de estado em contato com a luz, o que
permitia que as partes não expostas * Louis Daguerre seguiu resolver este impasse, e ele
pudessem ser removidas, formando Foi através da divulgação de suas próprio conta que foi através de um
assim uma imagem rudimentar. Nièp- Heliografias que Nièpce acabou co- acaso: estando exausto e decepciona-
ce procurou de muitas formas utilizar nhecendo outro personagem históri- do por não conseguir obter resultados
chapas metálicas emulsionadas com co: Louis Jacques Mandé Daguerre. satisfatórios, jogou uma de suas cha-
esse betume para imprimir imagens na Ambos utilizavam os serviços de um pas num armário e esqueceu-se dela.
câmara obscura, mas a quantidade de personagem em comum, fabricante Alguns dias mais tarde, à procura de
luz que entrava por ela era muito pouca, de lentes, e que lhes pôs em conta- alguns químicos, abriu o armário e de-
considerando a provável sensibilidade to. Daguerre também trabalhava com parou-se com ela; só que havia uma
do betume, da ordem de 0,0012 ISO, e uma câmara escura, mas que utilizava imagem impressa nela, que antes não
o tempo de exposição provavelmente ul- para pintura, e não se sabe bem como estava lá. Procurou a razão disso e
trapassava 12 horas (Niépce registra 8, se interessou pelas pesquisas na área desconfiou que havia sido por causa
mas deveria ser mais). Com isso, além do que viria a ser a fotografia, uma do mercúrio de um termômetro que
da modificação das sombras, pelo mo- vez que não há registros de experiên- havia se quebrado. Fez alguns testes e
vimento da Terra em relação ao Sol, que cias feitas por ele neste campo antes o resultado foi o daguerreótipo.
deixava a imagem irregular e confusa, o de conhecer Nièpce. De todo modo,
solvente também evaporava e a chapa Daguerre ficou entusiasmado com a
ficava inteiramente seca. possibilidade de desenvolver uma téc-
nica de reprodução visual eficiente e
propôs uma sociedade com Nièpce.
Este hesitou durante muito tempo,
mas Daguerre conseguiu convencê-lo
e firmaram sociedade em 1829.
A sociedade entre Daguerre e Nièp-
ce tinha por objetivo o aprimoramento
das técnicas até então desenvolvidas,
mas ambos trabalhavam em sentidos
opostos, uma vez que Nièpce tinha em
mente uma imagem capaz de ser co-
piada, reproduzida, e Daguerre, como
Assim, uma única imagem sobre- era pintor, procurava simplesmente
viveu dessas experiências, muito pro- uma imagem satisfatória. Nada conse-
vavelmente por ter sido tirada de sua guiram em conjunto, e 4 anos após a Daguerre em um de seus daguer-
janela, que permitia a entrada de luz sociedade, Nièpce faleceu, em 1833. reótipos
em condições de temperatura mais Daguerre continuou as experiên-
amenas, fazendo o solvente não se cias de Nièpce e as aperfeiçoou, mas Finalmente, havia sido contornado
evaporar. Essa ‘fotografia’, de 1826 não sem grandes dificuldades. Primei- o problema da nitidez e da fixação. O
ou 27, é atualmente considerada his- ro, utilizou como base chapas metáli- processo era bastante simples. Uma
toricamente a primeira, mas o próprio cas de prata ou cobre, que já haviam chapa metálica era tratada com vapo-
Nièpce não considerava esta uma sido testadas por Nièpce com bons res de iodo, que se tornavam iodeto
experiência bem-sucedida, porque a resultados. Entretanto, todas as expe- de prata (um haleto de prata) quando
imagem original é um grande borrão, riências de Nièpce tinham por objetivo impregnados na chapa, tornando-a fo-
impossível de ser copiada, e cujos a obtenção de uma matriz para ser re- tossensível. Essa chapa era colocada
contornos só podem ser vistos quan- produzida, e Daguerre, que não tinha numa câmara escura, sem contato
do olhados em certo ângulo e com luz intenção de descobrir um sistema lito- com a luz, e feita uma exposição que
adequada. A reprodução que hoje te- gráfico mais avançado, teve que dei- variava de 20 a 30 minutos mais ou
mos foi feita e retocada com técnica xar de lado todo o avanço nesta área menos. Após a exposição, era neces-
modernas na década de 1950. já feito por Nièpce com o betume da sário fazer o iodeto de prata se conver-
Apesar das controvérsias, esta Judéia, e experimentou trabalhar com ter em prata metálica, para a imagem
imagem de Nièpce é considerada a sais de prata, como outros faziam na se tornar visível, e eis que entrava o
primeira fotografia. busca da imagem fotográfica. mercúrio, cujo vapor foi o primeiro sis-
Nièpce entretanto, com todas es- O problema dos compostos de sais tema de revelação fotográfica anun-
tas experiências, acabou desenvol- de prata é que, apesar da rapidez com ciado comercialmente. Este era um
vendo uma forma de reprodução por que apreendiam uma imagem, esta dos trunfos da daguerreótipo: como
contato utilizando o betuma da Judéia, era muito rudimentar e o problema da sua imagem era convertida em prata
a que ele chamou ‘Heliografia’, ou ‘es- fixação ainda não estava resolvido. metálica, esta ficava muito mais níti-
crita do sol’. Eis que, a certa altura, Daguerre con- da que a imagem do haleto comum, e
Esta é a imagem que Daguerre considerava seu primeiro daguerreótipo bem-sucedido.
sua definição e riqueza de detalhes eram impressionantes. Quase que imediatamente, a notícia se espalha pelo
Depois, para afinal, fixar a imagem, Daguerre nos informa que mundo. A repercussão é imensa junto ao público, e de uma
utilizava nada menos que cloreto de sódio, ou sal de cozinha. hora para outra, diversos outros pesquisadores aparecem
Daguerre produziu um pequeno daguerreótipo nessas condi- no cenário público, reivindicando o invento para si. Não
ções em 1837, e em 7 de janeiro de 1839, é anunciada a que fossem mal-intencionados com histórias falsas e da-
descoberta do processo na Academia de Ciências de Paris. tas adulteradas, mas havia um grande interesse comercial
O daguerreótipo tinha algumas implicações característi- envolvido, e o fato é que realmente muita gente, ao mesmo
cas: primeiro, sua imagem era tanto negativa como positi- tempo e em várias partes do mundo, buscavam a ‘imagem
va. Na verdade, a imagem formada diretamente era negati- fotográfica’, sem que eles se conhecessem.
va, pois a prata fica mais preta quanto mais luz recebe, só Quando Daguerre anunciou sua descoberta, ele ganhou
que a superfície de impressão era metálica, e dependendo uma corrida em que não se conhecia o número de partici-
do ângulo de visão e da incidência da luz, ela se tornava pantes. Mas 3 deles merecem destaque:
positiva. Além disso, era uma imagem espelhada, ou seja,
como a imagem na câmera se formava ao contrário e não * William Talbot e Frederick Herschel
havia cópia, ela mantinha-se invertida. Na Inglaterra, William Fox Talbot trabalhava também
desde 1833 num processo similar para obtenção de ima-
gens. Suas dificuldades foram as mesmas da maioria dos
Esta é a imagem proponentes à descoberta: não conseguiu achar um meio
que Daguerre consi- eficaz de fixar as imagens e utilizava como base papel im-
derava seu primeiro pregnado com emulsão de sais de prata. O que conseguiu
daguerreótipo bem- de mais próximo foram impressões diretas, por contato so-
sucedido. bre papel, e que ele denominou Calótipo. Mas Talbot expe-
rimentou também colocar o papel diretamente na câmara
escura, e obteve resultados satisfatórios, pouco antes de
E era, uma imagem única, sem possibilidade de cópia, por Daguerre. Estipula-se que Talbot nada tenha dito em relação
estar gravada numa superfície opaca. Alguns viam tais carac- à sua descoberta por não ter conseguido, como Daguerre,
terísticas como limitadoras, outros como naturais, mas o fato uma maneira eficiente de fixar a prata sensibilizada. Apesar
é que o daguerreótipo tinha uma qualidade impressionante de de também ter usado sal de cozinha, a fixação numa solu-
imagem, extremamente nítida e com detalhes que por vezes ção de salmoura funcionava com uma chapa de metal, mas
nem a olho nu se conseguia distinguir. O sucesso é patente. não com uma folha de papel, que se desmancharia depois
de certo tempo. Talbot, assim como seguinte conclusão: ‘Resultado perfei- Esse método consistia em sensi-
Nièpce, também queria desenvolver to. O papel exposto à luz, pela metade, bilizar as folhas de papel inicialmente
uma maneira de copiar estas ima- é embebido com hipossulfito de sódio com nitrato de prata, e posteriormente
gens, razão pela qual manteve-se nas e em seguida lavado com água. Após com iodeto de potássio, formando o
experiências com papel. Mas Talbot, secagem, o papel é novamente expos- iodeto de prata. O iodeto era altamen-
que além de tudo era matemático e to à luz. A metade escura permanece te sensível à luz, o que reduzia dras-
botânico, tinha em seu círculo de ami- escura, e a metade clara permanece ticamente o tempo de exposição, de
gos alguns cientistas da Royal Society clara.’ Finalmente, estava resolvido o horas para poucos minutos, e revela-
de Londres, entre eles um certo John problema da fixação fotográfica. dos numa solução de ácido gálico e
William Frederick Herschel. Mas o capítulo Talbot ainda não ter- nitrato de prata. Depois, fixados com
Filho do famoso astrônomo que minou. Tendo descoberto um método o tiossulfato de sódio e eram obtidas
descobriu o planeta Urano, Herschel eficiente de fixar as imagens, paten- imagens negativas em pouco tempo.
também se interessou pela corrida à teou o calótipo em 1841, talvez numa Mas, para fazer cópias por contato,
obtenção do que seria a imagem foto- tentativa de brigar com a patente de Talbot ainda se utilizava do sistema de
gráfica, quando tomou conhecimento Daguerre, não apenas do ponto de vis- imagem evidente, com papéis sensibi-
do anúncio de Daguerre em janeiro ta comercial, mas até pela primazia do lizados com cloreto de prata, o que era
de 1839. Herschel queria, na verdade, invento. Herschel, entretanto, desa- mais vantajoso pois era possível con-
um método para ‘fotografar’ as ima- conselhou Talbot a promover qualquer trolar a intensidade dos tons de cópia
gens da abóbada celeste obtidas por tipo de iniciativa jurídica ou comercial pela observação.
um grande telescópio que ele próprio contra Daguerre, uma vez que teve Esse sistema permitiu que a foto-
construiu, num interesse astronômico oportunidade de ver os daguerreótipos grafia em papel aos poucos tomasse
cuja ambição era o de registrar todos antes de Talbot, e sua impressão foi lugar do daguerreótipo na corrida pela
os corpos visíveis no céu. Herschel a seguinte: ‘comparadas com essas melhor imagem, mas ainda faltava o
conhecia, através de Talbot, as difi- obras de arte de Daguerre, o senhor principal: melhorar a imagem.
culdades que envolviam os pioneiros Talbot não produz senão coisas vagas
da fotografia, e sabendo que Daguerre e desfocadas’. * Hercules Florence
havia conseguido resultados satisfa- Sem dúvida, considerando o siste- Cabe ainda o parênteses sobre
tórios, resolveu pesquisar ele próprio, ma de ambos, a cópia em papel tinha mais uma importante figura, isolada e
métodos que pudessem resolver tais grandes desvantagens do ponto de anônima, na descoberta da fotografia,
problemas. Ele e Talbot trocaram di- vista da nitidez e definição, uma vez o terceiro personagem de destaque
versas experiências e informações que o processo de Daguerre era direto, nessa história. Entre os anos 1824
durante algumas semanas, pois Hers- e o de Talbot exigia copiagem em ma- e 1879, viveu no Brasil - mais preci-
chel tinha conhecimentos muito mais terial translúcido, o papel, que implica- samente na Vila de São Carlos, hoje
profundos de química, e lembrou-se va numa qualidade muito inferior. Mas Campinas - o desenhista e tipógrafo
de algumas experiências feitas alguns convém lembrar que seu processo era francês Hercules Florence, e que até
anos antes. o que hoje chamamos de imagens evi- há pouco tempo era famoso apenas
Nestas tentativas, às pressas, dentes, ou seja, uma imagem que já se por ter feito parte da expedição do Ba-
Herschel foi o responsável pelo súbito formava na medida em que ia sendo rão Langsdorff pelo interior do Brasil.
avanço da fotografia em termos técni- exposta. Isso significa que a imagem Recentemente, através de pesquisas
cos. Um avanço que, se fosse calcula- não ficava latente, ou seja, o contro- do Foto-Cine Clube Bandeirante, e pu-
do no ritmo com que ela havia andado le do tempo de exposição era feito na blicadas como estudo por Boris Kos-
até então, seria algo como 5 anos em própria observação da imagem. soy, uma não menos interessante fa-
1 mês. Quando esta adquiria uma densida- ceta de Florence veio à tona: inventor
Herschel, em suas experiências, de desejável, o fotógrafo interrompia da fotografia.
testou diversos sais de prata, tais sua exposição e tratava de fixar a ima- Consta que Florence procurava
como cloreto, nitrato, carbonato e gem. É claro que este método tornava uma maneira de reproduzir tipos grá-
acetato, concluindo que o nitrato era o a fotografia extremamente lenta em ficos, tendo enormes dificuldades, na
mais sensível (até hoje uma boa parte termos de tempo de exposição, por época, de fazer publicar manuscritos
do material sensível fotográfico é ba- vezes questão de horas, o que sem de sua autoria. Haviam poucas tipo-
seado em nitrato de prata). Quanto à dúvida contribuía, no caso de retratos, grafias disponíveis e todas pertenciam
fixação, lembrou-se que tinha testado, para não representar nenhum tipo de a um mesmo dono, o que monopoli-
por volta de 10 anos antes, o hipossulfi- concorrência ao daguerreótipo. Talbot zava a produção impressa. Antes de
to de sódio (hoje chamado tiossulfato) então descobriu uma fórmula para ob- pensar em montar sua própria tipo-
para interromper a ação da luz sobre ter imagens negativas latentes no ca- grafia, Florence resolveu investigar os
a prata. Retomando as experiências lótipo, ou seja, precisava, assim como efeitos de materiais fotossensíveis.
com o mesmo material, agora já com o daguerreótipo, de revelação. Tomando conhecimento dos efeitos do
novas técnicas e perspectivas, teve a nitrato de prata, Florence desenvolveu
um processo rudimentar de fixação de
imagens em papel sensível, primei-
ramente através de cloreto de ouro,
cujo agente fixador deveria ser amô-
nia. Na falta desta substância, Floren-
ce utilizou nada menos que a própria
urina para estabilizar as imagens, e
obteve resultados satisfatórios em
1833. Depois, passou a utilizar outras
substâncias, mais baratas que o sal de
ouro, entre eles o nitrato de prata, que
chegou a utilizar até mesmo com uma
câmera escura. Mais tarde, desenvol-
veu com base nesses resultados, um
método de impressão em papel a par-
tir de originais desenhados em vidro,
obtendo cópias por contato de ótima
qualidade.
Em seus diários e anotações,
constam importantes descobertas fei-
tas isoladamente, e que em muito se
pareciam com as que Daguerre, Tal-
bot e Herschel fizeram na Europa. As
dificuldades que ele enfrentou, tendo
Parece um instrumento de tortura, mas trata-se de um aces-
que construir sua própria câmara es-
sório para manter imóvel o modelo fotografado.
cura de maneira rudimentar, e a busca
pelos próprios métodos, com quase mente, permitindo agora o registro de Em compensação, até 1860, a calo-
nenhum auxílio, fazem de sua des- pessoas e não mais só de paisagens, tipia se desenvolveu muito em termos
coberta um grande mérito. Florence ainda necessitava de pelo menos dois tecnológicos, mas por uma questão
chegou a um método de fixação de ou três minutos de imobilidade total, de direitos autorais, esses processos
imagens por contato em papel que obrigando seus modelos a exercitar precisaram sofrer mudanças para po-
lhe renderam ótimos resultados, dos rigidez muscular ou sentarem-se em derem ser explorados pelos fotógrafos
quais ainda sobrevivem encomen- cadeiras com apoio para o pescoço. interessados.
das de trabalhos, como seus rótulos O segundo, e talvez o pior dos pro- Apesar da dificuldade de reproduzir
de farmácia e um diploma maçônico. blemas do daguerreótipo, era sua total os parâmetros comerciais e estéticos
Apesar de Florence não ter dado ne- incapacidade de reprodução múltipla. desta época, tudo indica que as cober-
nhum nome específico a seu processo Um daguerreótipo era apenas uma turas de patentes que Daguerre e Tal-
pela câmara escura, seu sistema de placa de cobre emulsionada que, uma bot impeliram ao mundo da fotografia
impressão por contato em negativo foi vez revelada, tornava-se visível num foi extremamente prolífico para a evo-
chamado de Fotografia, por ele e por meio opaco, ou seja, não havia meios lução tecnológica. Afinal, os fotógrafos
um colaborador, o boticário Joaquim de copiá-la. desta época, para evitar o pagamento
Corrêa de Mello. Segundo consta, foi Na verdade, tal limitação foi ex- de altos tributos, precisavam mudar
a primeira vez que se utilizou o termo e plorada comercialmente por Daguerre as fórmulas, o que gerou uma grande
ao que tudo indica, cabe a ele o mérito como uma maneira elitizada de registro diversidade de processos fotográficos
da nomenclatura. alternativo, tal como a pintura - que a e uma conseqüente evolução comer-
Repercussão da princípio, também é única. Assim, fa-
mílias abastadas poderiam ser registra-
cial que desembocou na fotografia tal
como hoje conhecemos. O processo
Fotografia das de maneira muito mais fiel que a
pintura, sem perder o estigma de obra
foi mais ou menos assim: