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Breve História da Fotografia por Filipe Salles *

É muito difícil precisar as datas e etapas dos processos ciente para projetar uma imagem de grandes proporções.
que levaram à criação da Fotografia, pois muitos deles são Centenas de ilustrações de tratados renascentistas fazem
experiências conhecidas pelo homem desde a Antigüidade, alusão a este tipo de câmara, que, longe de ser apenas uma
e acrescenta-se a isso um conjunto de cientistas em diver- caixa, tinham as dimensões de uma sala, onde artistas se
sas épocas e lugares que aos poucos foram descobrindo posicionavam em seu interior, podendo assim se utilizar da
as partes deste intrincado quebra-cabeças, que somente no projeção para tomar moldes de desenho. Portanto, é pro-
final do séc. XIX foi inteiramente montado. vável que os homens da renascença não tenham testado
Entretanto, é possível apontar alguns destes fatos e desco- uma câmara destas proporções. Também não se sabe exa-
bertas como sendo relevantes para a invenção da fotografia. tamente a que obras os renascentistas se referem quanto
Os fundamentos daquilo que veio a se chamar fotografia à citação de usos da câmara na antigüidade, uma vez que
vieram de dois princípios básicos, já conhecidos do homem não há registros diretos; e nem ao menos se sabe que uso
há muito tempo, mas que tiveram que esperar muito tempo os antigos poderiam fazer de semelhante aparelho, uma vez
para se manifestar satisfatoriamente em conjunto, que são: a que não havia estudo de perspectiva e nem conhecimento
câmara escura e a existência de materiais fotossensíveis. de materiais fotossensíveis.

A Câmara Escura
A câmara escura nada mais é que uma caixa preta
totalmente vedada da luz com um pequeno orifício ou uma
objetiva em um dos seus lados. Apontada para algum obje-
to, a luz refletida deste projeta-se para dentro da caixa e a
imagem dele se forma na parede oposta à do orifício. Se, na
parede oposta, ao invés de uma superfície opaca, for colo-
cada uma translúcida, como um vidro despolido, a imagem
formada será visível do lado de fora da câmara, ainda que
invertida.

Câmara obscura
Acima, dois exemplos que ilustram registros do uso da
câmara escura como um grande quarto em que poderia ca-
Isso permite a visão de qualquer paisagem ou objeto
ber um homem. A da esquerda é uma ilustração da Renas-
através do orifício que, dependendo do tamanho e da dis-
cença, e a segunda, do séc.XVIII
tância focal, projetava uma imagem maior ou menor.
Entretanto, apesar das origens escusas, na Renascença
A câmara escura é uma dessas invenções que não se
seu uso parecia estar muito bem disseminado. Poderíamos
sabe a origem. Descrições de quartos fechados com orifí-
estabelecer uma cronologia mais ou menos assim de obras
cios que projetam imagens em seu interior existem desde
que citam a utilização da Câmara escura:
a Renascença, e suas referências indicam desde a Grécia
1521- Monge Papnutio da Cesare Cesariano -”Com-
Antiga, mas há ainda referências deste conhecimento entre
metaires de Virtruve”
os chineses, árabes, assírios e babilônios. Há muita con-
1521- Francesco Maurolico da Messina - “Photismi de
trovérsia sobre o conhecimento e utilização das câmaras
lumine et umbra ad perspectivam et radiorum incidentiam
escuras na antigüidade justamente por sabermos que é im-
facientes” - editado em 1611 (fazendo referência a um pri-
possível a projeção dessas imagens a partir de pequenos
meiro estudo de 1521)
orifícios em um quarto grande, em que poderia caber um
1544 - Gemma Frisius (Renerius) - relata o uso de uma câme-
homem, uma vez que o orifício, para formar uma imagem,
ra escura na observação de um eclipse em Louvain na Bélgica.
deve ser muito pequeno, e a quantidade de luz não é sufi-
1553- Giovanni Battista Della
Porta - “Magia Naturalis” Considerado
Fotossensibilidade: prata, esta imagem não se mantinha
estável, pelo simples motivo que a
em muitos compêndios de cinema e
fotografia como o inventor da Câmara
os haletos de Prata prata continuava fotossensível. Em
palavras simples, a prata reage à luz
Escura. Entretanto, há várias ressalvas A outra ponta da entrincada cor- ficando mais negra à medida que rece-
sobre isso, entre elas as referências rente que desembocou na fotografia be maior quantidade de luz. Então, se
mais antigas, e entre outras, algumas diz respeito aos materiais fotossensí- gravamos uma imagem com os grãos
indicações dadas por Della Porta que veis. Fotossensibilidade é um fenôme- de prata, como faremos para olhar o
não são verdadeiras. no que quer dizer, literalmente, ‘sensi- resultado? É fácil, é só vê-los na luz.
1568- Daniello Barbaro - Nos dá bilidade à luz’. A bem da verdade, toda Mas vendo a imagem na luz, a prata
uma versão melhor da câmara escura a matéria existente é fotossensível, ou continuava a ser sensibilizada, ene-
de grandes proporções, descrevendo seja, toda ela se modifica com a luz, grecendo gradativamente a imagem
o uso num quarto escuro apenas colo- como um tecido que desbota no sol, obtida.
cando uma folha de papel próxima ao ou mesmo a tinta de uma parede que Este foi o principal problema que
orifício com a lente, projetando assim vai aos poucos perdendo a cor, mas os pioneiros da fotografia enfrenta-
uma imagem. (Neste caso, o uso do algumas demoram milhares de anos ram, a busca de um método eficiente
quarto escuro é possível). para se alterarem, enquanto outras de estabilizar a prata, impedindo-a de
1646 - Athanasius Kirscher (Atha- apenas alguns segundos já lhes são se sensibilizar após o registro da ima-
nasio), “estranha e mirabolante figura, suficientes. Ora, para a reprodução de gem.
misto de cientista e mistificador, reali- uma imagem, de nada adiantaria um
zou uma gigantesca obra abrangendo
o Egito Antigo, a China, a Astronomia,
material de pouca fotossensibilidade,
de maneira que todos os cientistas ou
Os pioneiros da
e vários outros assuntos” (segundo
Mario Guidi, pp. 21-22), publicando
curiosos que procuraram de alguma
maneira a imagem fotográfica come-
fotografia
um estudo sobre a Câmara escura çaram pesquisando sobre o material
num tratado chamado ‘Ars Magna * Nicéphore Nièpce
que já há muito era conhecido e con-
Lucis et Umbrae’, em que também há siderado o mais propício para tal: os
referências precisas sobre câmaras Eis então que adentra ao cenário
sais de prata. da história o sr. Nicéphore Nièpce,
escuras, grandes e pequenas, bem A própria alquimia renascentista já
como lanternas mágicas. nascido em Chálon-sur-saóne, Fran-
registra as propriedades fotossensí- ça, em 1765. Apesar de ter seguido
De qualquer forma, a câmara es- veis da prata, sendo referenciada em
cura foi largamente usada durante carreira militar, ele e seu irmão Claude
1566 por Georg Fabricius, o que indica se interessavam por pesquisas como
toda a Renascença e grande parte dos que o conhecimento destas proprie-
séculos XVII e XVIII para o estudo da cientistas amadores, e, apesar de dile-
dades devia ainda ser anterior ao séc. tantes, eram empenhados e chegaram
perspectiva na pintura, só que já mu- XVI. Os haletos, ou sais de prata, mo-
nida de avanços tecnológicos típicos a inventar, por volta de 1815, um mo-
dificam-se rapidamente com a ação tor a explosão.
da ciência renascentista, como lentes da luz, enegrecendo-se na mesma
e espelhos para reverter a imagem. A Mas a busca pelo registro visual
proporção em que recebem luz. era um fascínio pessoal de Nicépho-
câmara escura só não podia estabilizar E outros registros, sucessivamente
a imagem obtida. re, que estudou diversas técnicas
em 1727, 1763, 1777 e 1800, nos rela- reprográficas, e tendo com isso feito
tam experiências de imagens obtidas importantes melhorias no processo de
a partir de papéis embebidos em so- litografia. Mas procurava, assim como
luções de sais de prata. A maior parte outros, uma possibilidade de utilizar a
dessas experiências era feita como imagem da câmara escura, uma vez
uma cópia por contato, ou seja, algum que os demais processos só permi-
objeto era colocado sobre o papel tiam reprodução de originais opacos
sensibilizado, e assim se obtinha uma ou transparentes, e não imagens pro-
imagem ou silhueta daquele objeto. jetadas da natureza real.
Mas, ainda antes de 1800, um certo A primeira tentativa de Nièpce foi
Wedgwood, na Inglaterra, chegou a feita com o betume da judéia, uma
utilizar a câmara escura para obter, espécie de verniz utilizado na técnica
com sucesso, essas imagens. de água forte, que possui a proprie-
Então, por que a fotografia já não dade de secar rapidamente quando
foi inventada nesta época, precisando exposto à luz. Esse betume possui um
esperar mais 40 anos? solvente, óleo de lavanda, e que não
É que, após ser feita a impressão consegue dissolvê-lo depois deste ter
de uma imagem no papel de sais de estado em contato com a luz, o que
permitia que as partes não expostas * Louis Daguerre seguiu resolver este impasse, e ele
pudessem ser removidas, formando Foi através da divulgação de suas próprio conta que foi através de um
assim uma imagem rudimentar. Nièp- Heliografias que Nièpce acabou co- acaso: estando exausto e decepciona-
ce procurou de muitas formas utilizar nhecendo outro personagem históri- do por não conseguir obter resultados
chapas metálicas emulsionadas com co: Louis Jacques Mandé Daguerre. satisfatórios, jogou uma de suas cha-
esse betume para imprimir imagens na Ambos utilizavam os serviços de um pas num armário e esqueceu-se dela.
câmara obscura, mas a quantidade de personagem em comum, fabricante Alguns dias mais tarde, à procura de
luz que entrava por ela era muito pouca, de lentes, e que lhes pôs em conta- alguns químicos, abriu o armário e de-
considerando a provável sensibilidade to. Daguerre também trabalhava com parou-se com ela; só que havia uma
do betume, da ordem de 0,0012 ISO, e uma câmara escura, mas que utilizava imagem impressa nela, que antes não
o tempo de exposição provavelmente ul- para pintura, e não se sabe bem como estava lá. Procurou a razão disso e
trapassava 12 horas (Niépce registra 8, se interessou pelas pesquisas na área desconfiou que havia sido por causa
mas deveria ser mais). Com isso, além do que viria a ser a fotografia, uma do mercúrio de um termômetro que
da modificação das sombras, pelo mo- vez que não há registros de experiên- havia se quebrado. Fez alguns testes e
vimento da Terra em relação ao Sol, que cias feitas por ele neste campo antes o resultado foi o daguerreótipo.
deixava a imagem irregular e confusa, o de conhecer Nièpce. De todo modo,
solvente também evaporava e a chapa Daguerre ficou entusiasmado com a
ficava inteiramente seca. possibilidade de desenvolver uma téc-
nica de reprodução visual eficiente e
propôs uma sociedade com Nièpce.
Este hesitou durante muito tempo,
mas Daguerre conseguiu convencê-lo
e firmaram sociedade em 1829.
A sociedade entre Daguerre e Nièp-
ce tinha por objetivo o aprimoramento
das técnicas até então desenvolvidas,
mas ambos trabalhavam em sentidos
opostos, uma vez que Nièpce tinha em
mente uma imagem capaz de ser co-
piada, reproduzida, e Daguerre, como
Assim, uma única imagem sobre- era pintor, procurava simplesmente
viveu dessas experiências, muito pro- uma imagem satisfatória. Nada conse-
vavelmente por ter sido tirada de sua guiram em conjunto, e 4 anos após a Daguerre em um de seus daguer-
janela, que permitia a entrada de luz sociedade, Nièpce faleceu, em 1833. reótipos
em condições de temperatura mais Daguerre continuou as experiên-
amenas, fazendo o solvente não se cias de Nièpce e as aperfeiçoou, mas Finalmente, havia sido contornado
evaporar. Essa ‘fotografia’, de 1826 não sem grandes dificuldades. Primei- o problema da nitidez e da fixação. O
ou 27, é atualmente considerada his- ro, utilizou como base chapas metáli- processo era bastante simples. Uma
toricamente a primeira, mas o próprio cas de prata ou cobre, que já haviam chapa metálica era tratada com vapo-
Nièpce não considerava esta uma sido testadas por Nièpce com bons res de iodo, que se tornavam iodeto
experiência bem-sucedida, porque a resultados. Entretanto, todas as expe- de prata (um haleto de prata) quando
imagem original é um grande borrão, riências de Nièpce tinham por objetivo impregnados na chapa, tornando-a fo-
impossível de ser copiada, e cujos a obtenção de uma matriz para ser re- tossensível. Essa chapa era colocada
contornos só podem ser vistos quan- produzida, e Daguerre, que não tinha numa câmara escura, sem contato
do olhados em certo ângulo e com luz intenção de descobrir um sistema lito- com a luz, e feita uma exposição que
adequada. A reprodução que hoje te- gráfico mais avançado, teve que dei- variava de 20 a 30 minutos mais ou
mos foi feita e retocada com técnica xar de lado todo o avanço nesta área menos. Após a exposição, era neces-
modernas na década de 1950. já feito por Nièpce com o betume da sário fazer o iodeto de prata se conver-
Apesar das controvérsias, esta Judéia, e experimentou trabalhar com ter em prata metálica, para a imagem
imagem de Nièpce é considerada a sais de prata, como outros faziam na se tornar visível, e eis que entrava o
primeira fotografia. busca da imagem fotográfica. mercúrio, cujo vapor foi o primeiro sis-
Nièpce entretanto, com todas es- O problema dos compostos de sais tema de revelação fotográfica anun-
tas experiências, acabou desenvol- de prata é que, apesar da rapidez com ciado comercialmente. Este era um
vendo uma forma de reprodução por que apreendiam uma imagem, esta dos trunfos da daguerreótipo: como
contato utilizando o betuma da Judéia, era muito rudimentar e o problema da sua imagem era convertida em prata
a que ele chamou ‘Heliografia’, ou ‘es- fixação ainda não estava resolvido. metálica, esta ficava muito mais níti-
crita do sol’. Eis que, a certa altura, Daguerre con- da que a imagem do haleto comum, e
Esta é a imagem que Daguerre considerava seu primeiro daguerreótipo bem-sucedido.

sua definição e riqueza de detalhes eram impressionantes. Quase que imediatamente, a notícia se espalha pelo
Depois, para afinal, fixar a imagem, Daguerre nos informa que mundo. A repercussão é imensa junto ao público, e de uma
utilizava nada menos que cloreto de sódio, ou sal de cozinha. hora para outra, diversos outros pesquisadores aparecem
Daguerre produziu um pequeno daguerreótipo nessas condi- no cenário público, reivindicando o invento para si. Não
ções em 1837, e em 7 de janeiro de 1839, é anunciada a que fossem mal-intencionados com histórias falsas e da-
descoberta do processo na Academia de Ciências de Paris. tas adulteradas, mas havia um grande interesse comercial
O daguerreótipo tinha algumas implicações característi- envolvido, e o fato é que realmente muita gente, ao mesmo
cas: primeiro, sua imagem era tanto negativa como positi- tempo e em várias partes do mundo, buscavam a ‘imagem
va. Na verdade, a imagem formada diretamente era negati- fotográfica’, sem que eles se conhecessem.
va, pois a prata fica mais preta quanto mais luz recebe, só Quando Daguerre anunciou sua descoberta, ele ganhou
que a superfície de impressão era metálica, e dependendo uma corrida em que não se conhecia o número de partici-
do ângulo de visão e da incidência da luz, ela se tornava pantes. Mas 3 deles merecem destaque:
positiva. Além disso, era uma imagem espelhada, ou seja,
como a imagem na câmera se formava ao contrário e não * William Talbot e Frederick Herschel
havia cópia, ela mantinha-se invertida. Na Inglaterra, William Fox Talbot trabalhava também
desde 1833 num processo similar para obtenção de ima-
gens. Suas dificuldades foram as mesmas da maioria dos
Esta é a imagem proponentes à descoberta: não conseguiu achar um meio
que Daguerre consi- eficaz de fixar as imagens e utilizava como base papel im-
derava seu primeiro pregnado com emulsão de sais de prata. O que conseguiu
daguerreótipo bem- de mais próximo foram impressões diretas, por contato so-
sucedido. bre papel, e que ele denominou Calótipo. Mas Talbot expe-
rimentou também colocar o papel diretamente na câmara
escura, e obteve resultados satisfatórios, pouco antes de
E era, uma imagem única, sem possibilidade de cópia, por Daguerre. Estipula-se que Talbot nada tenha dito em relação
estar gravada numa superfície opaca. Alguns viam tais carac- à sua descoberta por não ter conseguido, como Daguerre,
terísticas como limitadoras, outros como naturais, mas o fato uma maneira eficiente de fixar a prata sensibilizada. Apesar
é que o daguerreótipo tinha uma qualidade impressionante de de também ter usado sal de cozinha, a fixação numa solu-
imagem, extremamente nítida e com detalhes que por vezes ção de salmoura funcionava com uma chapa de metal, mas
nem a olho nu se conseguia distinguir. O sucesso é patente. não com uma folha de papel, que se desmancharia depois
de certo tempo. Talbot, assim como seguinte conclusão: ‘Resultado perfei- Esse método consistia em sensi-
Nièpce, também queria desenvolver to. O papel exposto à luz, pela metade, bilizar as folhas de papel inicialmente
uma maneira de copiar estas ima- é embebido com hipossulfito de sódio com nitrato de prata, e posteriormente
gens, razão pela qual manteve-se nas e em seguida lavado com água. Após com iodeto de potássio, formando o
experiências com papel. Mas Talbot, secagem, o papel é novamente expos- iodeto de prata. O iodeto era altamen-
que além de tudo era matemático e to à luz. A metade escura permanece te sensível à luz, o que reduzia dras-
botânico, tinha em seu círculo de ami- escura, e a metade clara permanece ticamente o tempo de exposição, de
gos alguns cientistas da Royal Society clara.’ Finalmente, estava resolvido o horas para poucos minutos, e revela-
de Londres, entre eles um certo John problema da fixação fotográfica. dos numa solução de ácido gálico e
William Frederick Herschel. Mas o capítulo Talbot ainda não ter- nitrato de prata. Depois, fixados com
Filho do famoso astrônomo que minou. Tendo descoberto um método o tiossulfato de sódio e eram obtidas
descobriu o planeta Urano, Herschel eficiente de fixar as imagens, paten- imagens negativas em pouco tempo.
também se interessou pela corrida à teou o calótipo em 1841, talvez numa Mas, para fazer cópias por contato,
obtenção do que seria a imagem foto- tentativa de brigar com a patente de Talbot ainda se utilizava do sistema de
gráfica, quando tomou conhecimento Daguerre, não apenas do ponto de vis- imagem evidente, com papéis sensibi-
do anúncio de Daguerre em janeiro ta comercial, mas até pela primazia do lizados com cloreto de prata, o que era
de 1839. Herschel queria, na verdade, invento. Herschel, entretanto, desa- mais vantajoso pois era possível con-
um método para ‘fotografar’ as ima- conselhou Talbot a promover qualquer trolar a intensidade dos tons de cópia
gens da abóbada celeste obtidas por tipo de iniciativa jurídica ou comercial pela observação.
um grande telescópio que ele próprio contra Daguerre, uma vez que teve Esse sistema permitiu que a foto-
construiu, num interesse astronômico oportunidade de ver os daguerreótipos grafia em papel aos poucos tomasse
cuja ambição era o de registrar todos antes de Talbot, e sua impressão foi lugar do daguerreótipo na corrida pela
os corpos visíveis no céu. Herschel a seguinte: ‘comparadas com essas melhor imagem, mas ainda faltava o
conhecia, através de Talbot, as difi- obras de arte de Daguerre, o senhor principal: melhorar a imagem.
culdades que envolviam os pioneiros Talbot não produz senão coisas vagas
da fotografia, e sabendo que Daguerre e desfocadas’. * Hercules Florence
havia conseguido resultados satisfa- Sem dúvida, considerando o siste- Cabe ainda o parênteses sobre
tórios, resolveu pesquisar ele próprio, ma de ambos, a cópia em papel tinha mais uma importante figura, isolada e
métodos que pudessem resolver tais grandes desvantagens do ponto de anônima, na descoberta da fotografia,
problemas. Ele e Talbot trocaram di- vista da nitidez e definição, uma vez o terceiro personagem de destaque
versas experiências e informações que o processo de Daguerre era direto, nessa história. Entre os anos 1824
durante algumas semanas, pois Hers- e o de Talbot exigia copiagem em ma- e 1879, viveu no Brasil - mais preci-
chel tinha conhecimentos muito mais terial translúcido, o papel, que implica- samente na Vila de São Carlos, hoje
profundos de química, e lembrou-se va numa qualidade muito inferior. Mas Campinas - o desenhista e tipógrafo
de algumas experiências feitas alguns convém lembrar que seu processo era francês Hercules Florence, e que até
anos antes. o que hoje chamamos de imagens evi- há pouco tempo era famoso apenas
Nestas tentativas, às pressas, dentes, ou seja, uma imagem que já se por ter feito parte da expedição do Ba-
Herschel foi o responsável pelo súbito formava na medida em que ia sendo rão Langsdorff pelo interior do Brasil.
avanço da fotografia em termos técni- exposta. Isso significa que a imagem Recentemente, através de pesquisas
cos. Um avanço que, se fosse calcula- não ficava latente, ou seja, o contro- do Foto-Cine Clube Bandeirante, e pu-
do no ritmo com que ela havia andado le do tempo de exposição era feito na blicadas como estudo por Boris Kos-
até então, seria algo como 5 anos em própria observação da imagem. soy, uma não menos interessante fa-
1 mês. Quando esta adquiria uma densida- ceta de Florence veio à tona: inventor
Herschel, em suas experiências, de desejável, o fotógrafo interrompia da fotografia.
testou diversos sais de prata, tais sua exposição e tratava de fixar a ima- Consta que Florence procurava
como cloreto, nitrato, carbonato e gem. É claro que este método tornava uma maneira de reproduzir tipos grá-
acetato, concluindo que o nitrato era o a fotografia extremamente lenta em ficos, tendo enormes dificuldades, na
mais sensível (até hoje uma boa parte termos de tempo de exposição, por época, de fazer publicar manuscritos
do material sensível fotográfico é ba- vezes questão de horas, o que sem de sua autoria. Haviam poucas tipo-
seado em nitrato de prata). Quanto à dúvida contribuía, no caso de retratos, grafias disponíveis e todas pertenciam
fixação, lembrou-se que tinha testado, para não representar nenhum tipo de a um mesmo dono, o que monopoli-
por volta de 10 anos antes, o hipossulfi- concorrência ao daguerreótipo. Talbot zava a produção impressa. Antes de
to de sódio (hoje chamado tiossulfato) então descobriu uma fórmula para ob- pensar em montar sua própria tipo-
para interromper a ação da luz sobre ter imagens negativas latentes no ca- grafia, Florence resolveu investigar os
a prata. Retomando as experiências lótipo, ou seja, precisava, assim como efeitos de materiais fotossensíveis.
com o mesmo material, agora já com o daguerreótipo, de revelação. Tomando conhecimento dos efeitos do
novas técnicas e perspectivas, teve a nitrato de prata, Florence desenvolveu
um processo rudimentar de fixação de
imagens em papel sensível, primei-
ramente através de cloreto de ouro,
cujo agente fixador deveria ser amô-
nia. Na falta desta substância, Floren-
ce utilizou nada menos que a própria
urina para estabilizar as imagens, e
obteve resultados satisfatórios em
1833. Depois, passou a utilizar outras
substâncias, mais baratas que o sal de
ouro, entre eles o nitrato de prata, que
chegou a utilizar até mesmo com uma
câmera escura. Mais tarde, desenvol-
veu com base nesses resultados, um
método de impressão em papel a par-
tir de originais desenhados em vidro,
obtendo cópias por contato de ótima
qualidade.
Em seus diários e anotações,
constam importantes descobertas fei-
tas isoladamente, e que em muito se
pareciam com as que Daguerre, Tal-
bot e Herschel fizeram na Europa. As
dificuldades que ele enfrentou, tendo
Parece um instrumento de tortura, mas trata-se de um aces-
que construir sua própria câmara es-
sório para manter imóvel o modelo fotografado.
cura de maneira rudimentar, e a busca
pelos próprios métodos, com quase mente, permitindo agora o registro de Em compensação, até 1860, a calo-
nenhum auxílio, fazem de sua des- pessoas e não mais só de paisagens, tipia se desenvolveu muito em termos
coberta um grande mérito. Florence ainda necessitava de pelo menos dois tecnológicos, mas por uma questão
chegou a um método de fixação de ou três minutos de imobilidade total, de direitos autorais, esses processos
imagens por contato em papel que obrigando seus modelos a exercitar precisaram sofrer mudanças para po-
lhe renderam ótimos resultados, dos rigidez muscular ou sentarem-se em derem ser explorados pelos fotógrafos
quais ainda sobrevivem encomen- cadeiras com apoio para o pescoço. interessados.
das de trabalhos, como seus rótulos O segundo, e talvez o pior dos pro- Apesar da dificuldade de reproduzir
de farmácia e um diploma maçônico. blemas do daguerreótipo, era sua total os parâmetros comerciais e estéticos
Apesar de Florence não ter dado ne- incapacidade de reprodução múltipla. desta época, tudo indica que as cober-
nhum nome específico a seu processo Um daguerreótipo era apenas uma turas de patentes que Daguerre e Tal-
pela câmara escura, seu sistema de placa de cobre emulsionada que, uma bot impeliram ao mundo da fotografia
impressão por contato em negativo foi vez revelada, tornava-se visível num foi extremamente prolífico para a evo-
chamado de Fotografia, por ele e por meio opaco, ou seja, não havia meios lução tecnológica. Afinal, os fotógrafos
um colaborador, o boticário Joaquim de copiá-la. desta época, para evitar o pagamento
Corrêa de Mello. Segundo consta, foi Na verdade, tal limitação foi ex- de altos tributos, precisavam mudar
a primeira vez que se utilizou o termo e plorada comercialmente por Daguerre as fórmulas, o que gerou uma grande
ao que tudo indica, cabe a ele o mérito como uma maneira elitizada de registro diversidade de processos fotográficos
da nomenclatura. alternativo, tal como a pintura - que a e uma conseqüente evolução comer-
Repercussão da princípio, também é única. Assim, fa-
mílias abastadas poderiam ser registra-
cial que desembocou na fotografia tal
como hoje conhecemos. O processo
Fotografia das de maneira muito mais fiel que a
pintura, sem perder o estigma de obra
foi mais ou menos assim:

única. Daguerre não parecia interes- * Chapa de vidro


Mas voltando à França de Daguerre,
sado em aperfeiçoar sua descoberta, O Daguerreótipo mantinha suas
não podemos deixar de frisar as quali-
limitando-se a manter um público para limitações de reprodutibilidade, en-
dades excepcionais de imagem quanto
a daguerreotipia, sem qualquer altera- quanto que o calótipo foi estudado
à nitidez que obtinha com seu proces-
ção, falecendo num retiro em 1851 sem com mais afinco por justamente pos-
so, mas que também não estava isen-
incluir nenhum dos avanços tecnológi- sibilitar um número ilimitado de cópias
to de todos os inconvenientes. O pri-
cos conquistados até então, mantendo de uma única matriz, ainda que com
meiro ainda era o tempo de exposição
o daguerreótipo como peça de museu. resultados não muito satisfatórios por
que, embora tivesse diminuído radical-
explosivo, que veio a ser, posterior-
mente, a base para o nitrato de celu-
lose das primeiras películas cinema-
tográficas. O colódio era muito mais
barato de se obter e possuía melhores
condições de transmissão luminosa,
o que diminuiu novamente os tempos
de exposição da fotografia, fazendo de
alguns segundos um tempo suficiente
para impressão da chapa.
Mas ainda não era o processo de-
finitivo, pois tais chapas precisavam
ser preparadas, expostas e reveladas
na mesma hora, pois que ao secar, a
emulsão perdia sua capacidade fo-
tossensível, o que desencadeava a
necessidade do fotógrafo itinerar com
todo o seu equipamento para preparar
as chapas onde quer que fosse. O co-
lódio de Archer era chamado, por essa
Um fotógrafo e seu laboratório móvel razão, de colódio úmido ou chapa úmi-
da. Fazer fotos externas nesta época
ser uma cópia contato de uma matriz Mas alguns passos importante já não era tarefa fácil!
translúcida. Muitos fotógrafos pen- haviam sido dados em direção à fo- Levando-se em consideração que a
saram então no vidro, único material tografia instantânea de qualidade: Da- chapa de vidro, as objetivas mais lumi-
transparente disponível que possibi- guerre utilizava em sua câmera uma nosas e o colódio úmido de Archer tra-
litaria a obtenção de cópias de quali- lente simples, de tipo menisco conver- balhavam em conjunto, os resultados
dade comparável ao daguerreótipo. A gente, e que não era muito luminosa. colhidos eram extremamente satisfa-
dificuldade residia em fixar a emulsão Mas, em 1840, Joseph Max Petzval tórios e a fotografia, apesar das dificul-
num suporte de vidro, que não era po- projetou uma lente de características dades, tinha já qualidade comparável
roso o suficiente para manter a emul- diferentes, mais avançada em ter- ou mesmo superior ao daguerreótipo,
são fixa na placa. Esse problema foi mos de cálculos óticos, e possibilitou ainda possibilitando a cópia em papel
resolvido em 1848 pelo neto de Nièp- a construção de uma lente, que hoje a partir de negativos em vidro. Portan-
ce, Claude, que descobriu ser a albu- equivaleria a uma abertura de f/3.6, o to, durante mais ou menos 20 anos,
mina da clara de ovo um excelente que era extremamente luminosa para entre 1850 e 1870, este foi o principal
suporte para a emulsão de nitrato de os padrões da época. sistema utilizado pela maioria dos fo-
prata, permitindo sua adesão no vidro Com a objetiva Petzval, o grande tógrafos, não obstante as constantes
de maneira extremamente eficiente. obstáculo para a fotografia instantâ- experiências e aperfeiçoamentos que
Seu método espalhou-se rapidamente, nea voltava a ser o suporte dos hale- aos poucos foram sendo incorporados
pois finalmente, a fotografia negativa- tos de prata, uma vez que a chapa de à arte fotográfica.
positiva era de qualidade comparável vidro com albumina era muito cara. Foi um médico inglês, Richard Ma-
ao daguerreótipo. * Chapa seca e chapa úmida ddox, que, em 1871, experimentou ao
Entretanto, um tanto difícil de se Apenas em 1850 foi acrescida invés de colódio, uma suspensão de ni-
manusear. A chapa ficava pouco sen- uma invenção capaz de ser utilizada trato de prata em gelatina de secagem
sível, em decorrência da densidade da satisfatoriamente como
albumina, demandando novamente alternativa à albumina
um longo tempo de exposição. Mas, de ovo: o colódio. Foi
apesar disso, houve uma verdadeira o inglês Frederick Scott
corrida atrás desta nova técnica, sen- Archer quem o desen-
do que uma firma alemã de Dresden volveu, a partir da disso-
chegou a utilizar 60.000 ovos por dia lução de algodão-pólvo-
para confecção de chapas fotográ- ra em mistura de álcool
ficas! Era claro, portanto, que esse e éter. Este algodão pól-
processo não iria manter-se por longo vora, também chamado
tempo, pois o custo do ovo chegou a algodão-colódio, é por
subir mais de 50%, e não haveria de- sua vez uma mistura de
manda para consumo culinário e foto- ácido sulfúrico e nítrico Cartaz de propaganda das recém-lançadas chapas secas
gráfico ao mesmo tempo. (piroxilina), altamente
rápida. A gelatina, de origem animal,
não só conservava a emulsão fotográ-
obter várias chapas em um único rolo,
e construiu uma pequena câmara para
O século XX
fica para uso após a secagem como utilizar o filme em rolo, que ele chamou
Na entrada do ano de 1900, a fo-
também aumentava drasticamente a de “Câmara KODAK”. Lançada comer-
tografia já tinha todos os quesitos ne-
sensibilidade dos haletos de prata, tor- cialmente em 1888, reza a lenda que
cessários para o registro de imagens
nando a fotografia, finalmente, instan-
com altíssima qualidade de exposição
tânea. Era um processo extremamente
e reprodução, tanto que o cinema,
barato (pois gelatina pode ser obtida de
cuja base é fotográfica, só seria pos-
restos de ossos e cartilagens animais)
sível tecnologicamente nestas condi-
e, ao substituir o colódio, ficou conhe-
ções, sendo concretizado por Edison e
cida como chapa seca.
os irmãos Lumière. Mas na fotografia
estática, os principalis avanços foram
* George Eastman
de ordem mecânica, na construção de
O último capítulo relevante do de-
lentes cada vez mais precisas e níti-
senvolvimento e aperfeiçoamento dos
das, e câmeras portáteis de diversos
processos fotográficos deu-se, nova-
A câmera KODAK formatos e tamanhos. A Eastman lan-
mente com um inglês, chamado Geor-
çou, por exemplo, em 1900, a câmera
ge Eastman, um bancário que aos 23 o nome veio de uma onomatopéia, o
Brownie, que custava apenas 1 dólar,
anos de idade adquiriu uma câmera fo- barulho que a câmara fazia ao disparar
e que trasformou radicalmente a foto-
tográfica e apaixonou-se pela ativida- o obturador, e o sucesso do invento
grafia em uma arte popular, legando
de, ainda no rudimentar processo de tornou todos os processos anteriores
outras empresas a supremacia por
chapa úmida. Aborrecido com o lento completamente obsoletos, relegados
uma qualidade técnica profissional.
e trabalhoso processo de preparar as apenas a fotógrafos artesãos.
Neste quesito, dois fabricantes de
chapas e usá-las imediatamente, East- Eastman projetou uma câmara pe-
lentes se destacaram no mercado pela
man leu um artigo sobre a emulsão quena e leve, cuja lente era capaz de
excelência da construção óptica, a Carl
gelatinosa e interessou-se por ela, a focalizar tudo a partir de 2.5m de dis-
Zeiss e a Schneider, ambas alemãs, e
ponto de começar a fabricá-la em sé- tância, e, seguidas as indicações de
que contribuíram largamente para o
rie. Mas, não dado por satisfeito, ain- luminosidade mínimas, era só apertar
aumento da capacidade luminosa e
da achava complicado o processo de o botão. Depois de terminado o rolo,
qualidade da imagem formada.
estocagem das chapas de vidro - além o fotógrafo só precisaria mandar a câ-
de pesadas, quebravam com facilidade mara para o laboratório de Eastman,
-, e imaginou que poderia tornar a foto- que receberia seu negativo, cópias po-
grafia muito mais prática e eficiente se sitivas em papel e a câmara com um
encontrasse uma maneira de abreviar novo rolo de 100 poses. Seu slogan
o processo todo. era “Você aperta o botão, nós fazemos
Aliando a tecnologia da emulsão o resto.” Uma verdadeira revolução,
com brometo de prata (mais propícia que fez da Kodak uma gigantesca em-
para fazer negativos, e, consequente- presa, pioneira em todos os demais
mente, cópias) com a rapidez de sen- avanços técnicos que a fotografia ad-
sibilidade já existente na suspensão quiriu até hoje.
com gelatina e a transparência do vi-
dro, Eastman substituiu esta última por
uma base flexível, igualmente transpa-
rente, de nitrocelulose, e emulsionou
o primeiro filme em rolo da história.
Podendo então enrolar o filme, poderia
Cartaz de propaganda da câmera
Brownie

Da mesma forma, foram explora-


dos diversos tipos de formatos, pois
os negativos de Eastman eram muito
pequenos, propícios apenas a ama-
dores. Fotógrafos profissionais ainda
precisavam de chapas de negativo,
Fotos típicas das primeiras câmeras Kodak, que caracterizavam-se por seu mas agora confeccionados em mate-
formato de janela redondo. rial flexível e não mais em vidro. Os
formatos em chapa foram explorados tográficas. A idéia de usar 35mm era, indústrias, como por exemplo a Nikon
sob diversos tamanhos por diversos fa- segundo o aspecto comercial, muito (Nippon Kogaku), formada em 1917, a
bricantes de câmeras, mas havia sem- mais favorável uma vez que já eram Olympus e a Asahi Pentax, ambas de
pre uma limitação comercial, da qual fabricadas em larga escala em função 1919, a Minolta de 1928, a Canon de
dependia a sobrevivência do formato. da indústria cinematográfica. Tanto 1933 e a Fuji, de 1934.
Assim, os fabricantes de câmeras que, quase simultaneamente, a fábri-
lançavam produtos que exigiam deter- ca Francesa Jules Richard lançou (em
minados formatos, e sob encomenda 1914) a Homeos, a primeira câmera Perspectivas
deste fabricante, chapas de negativo stereo 35mm lançada comercialmen-
eram confeccionadas, geralmente te. Mas o fato desta ser uma câmera É claro que muita coisa foi acres-
pela própria Kodak. O custo disso era stereoscópica, a limitava em termos cida e mudada desde então, aperfei-
relativamente alto, e se a câmera não de trabalho, e paralelamente a fábrica çoamentos tecnológicos, processos
emplacasse comercialmente, o forma- de Leitz continuou a aperfeiçoar um eficientes e baratos, câmeras progra-
to era fadado a morrer, como acontece modelo que foi lançado definitivamen- máveis e a fotografia digital, nova re-
até hoje em certos formatos de vídeo, te em 1924, a lendária Leica. volução nas artes fotográficas.
como o Betamax (que sucumbiu ao A câmera era extremamente com- Mas, olhando para o passado, é
VHS) e o Laser Disc (que morreu com pacta, com velocidade fixa em 1/40 seg. possível entender que todo esse esfor-
a entrada do DVD). Assim, os gran- e de mecânica simples e impecável. ço, de muitos que marcaram a história,
des formatos, durante todo o período Mas seu maior trunfo era sua e muitos outros anônimos, foram extre-
que vai de meados de 1900 até 1930, lente: resultado do trabalho de Ernst mamente importantes para chegarmos
sofreram constantes modificações, Leitz como fabricante de microscó- naquilo que hoje entendemos como fo-
sendo padronizados pela influência co- pios e telescópios antes de criar sua tografia, para entendermos a busca tão
mercial em três principais, as chapas própria firma, e da união deste com fascinante, tão intensa, pela apreensão
de negativo 8x10 polegadas, a 5x7 po- Oskar Barnack, que trabalhava tam- de uma imagem, pela idéia da memória
legadas e a 4x5 polegadas. bém na fabricação de lentes na Zeiss. coletiva, pela eternização de um mo-
Já nos formatos em rolo, que eram Dessa sociedade, o resultado foi uma mento. E aí, novamente, nos depara-
destinados principalmente ao usuário câmera amadora com uma qualidade mos com Platão. Não seria toda essa
amador - e mais tarde ao fotojornalis- óptica extraordinária, e que aos pou- busca a busca pela beleza da imagem
mo - eram mais favoráveis à aceitação cos foi ganhando mercado, sendo que traduza um estado, um sentimento,
comercial, de maneira que até a própria usada largamente no fotojornalismo. uma idéia? A fotografia busca um tem-
Eastman fabricou um grande número Já em 1930, a Leica era tão popular po, que não precisaria ser eternizado se
de formatos, identificados por núme- que o formato 35mm começou a ser não estivesse perdido.
ros como 101 (introduzido no mercado progressivamente preferido para o uso *Filipe Salles é fotógrafo e cineas-
em 1901), 116, 117, 120 (introduzido amador, estourando como formato ta; mestre em Comunicação e Semió-
também em 1901), 122 (introduzido após a Segunda Guerra Mundial. tica pela PUC/SP e leciona Fotografia
em 1906 e descontinuado em 1949), Em oposição à excelência técnica na FAAP, PUC/SP e USJT.
123 (introduzido em 1904), 127 e mais alemã, entre os anos 10-30, surgiu
tarde, 616 e 620 (introduzidos em uma nova potência na fabricação de Texto retirado de < http://www.
1932). A maioria destes formatos não lentes e câmeras: os japoneses. mnemocine.com.br/fotografia/histfo-
sobreviveu, sendo que alguns deles Já haviam fabricantes de origem to2.htm > Acesso 20 de Out. 2008.
ainda são possíveis sob encomenda. nipônica
Mas a partir da década de 20, com desde
a entrada das câmeras de fabricação 1890,
japonesa, bem mais baratas, alguns muitas
destes formatos solidificaram-se junto vezes em
ao público, razão pela qual subsistem socieda-
até hoje, como o formato 120, que des com
permitia exposições nas proporções firmas
6x4,5cm, 6x6 cm, 6x9 e até 6x12. O alemãs,
exemplo mais famoso destas câme- mas após
ras, e que sem dúvida contribuiu para a Primei-
sua continuidade, é a Rolleiflex. ra Guerra
Apesar de diferentes tentativas houve
de fomatos menores, a fábrica alemã um ver-
Leitz lançou em 1913 um protótipo de dadeiro
uma câmera no formato 35mm, antes boom de
apenas utilizado em películas cinema- grandes
A lendária câmera Leica

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