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Dialogos Nacionais Sobre Economia Verde Reflexoes e Propostas para Acao PDF
Dialogos Nacionais Sobre Economia Verde Reflexoes e Propostas para Acao PDF
2012 www.dialogosnacionais.org.br
Realização:
Diálogos Nacionais sobre Economia Verde:
Reflexões e Propostas para Ação
2012 www.dialogosnacionais.org.br
Realização:
FICHA TÉCNICA
Título: Diálogos Nacionais sobre Economia Verde: Reflexões e Propostas para Ação
Pesquisa e Redação do Conteúdo: Aron Belinky, Barbara Carvalho Gonçalves, Fabrizio Violini, Gustavo Ferroni, Nina Best,
Pilar Cunha e Rubens Harry Born.
Apoio Institucional:
O Instituto Vitae Civilis, é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos cujo objetivo é contribuir para a
construção de sociedades sustentáveis, mediante o apoio à implementação participativa de políticas públicas integradas;
o fortalecimento de iniciativas geradoras de renda e emprego associadas à sustentabilidade ambiental; geração e
disseminação de conhecimentos e práticas nas áreas de clima, energia, águas, ecoturismo, conservação de florestas e de
serviços ambientais; e fortalecer organizações e iniciativas de sociedade civil em tais áreas. O nome Vitae Civilis, que em
latim significa “para a sociedade civil”, reforça a orientação do Instituto em servir ao fortalecimento da cidadania e das
organizações da sociedade.
Equipe do Vitae Civilis: Bárbara Gonçalves, Carlos Krieck, Carolina Derivi, Carolina Ramalhete Vieira, Délcio Rodrigues,
Eduardo Rombauer, Fabrizio G. Violini, Francisco Biazini, Gabriella Contoli, Gustavo Ferroni, Morrow Gaines Campbell III,
Nathany Paola da Silva, Nina Best, Patrick Johann Schindler, Pedro Telles, Renata de Almeida Rodrigues, Silvia Dias.
Agradecimentos
O Instituto Vitae Civilis gostaria de agradecer a todos os membros do conselho consultivo dos diálogos nacionais, em
especial aos conselheiros que participaram dos seminários nacionais. Também gostaríamos de agradecer aos facilitadores
e a todos que se envolveram na produção dos seminários nacionais e regionais.
Alertas e controvérsias_________________________________ 10
Propostas de ação_____________________________________ 12
Utilizamos o termo Economia Verde (EV) - sem qualquer outro adjetivo - para nos
ambientalmente sustentáveis, num marco ético e democrático. Para mais informações sobre
SUMÁRIO EXECUTIVO
A sociedade tem cobrado mudanças no atual modelo de desenvolvimento econômico. Previstas há muito tempo,
as consequências negativas deste modelo têm se tornado cada vez mais evidentes. Problemas ecológicos, crises
econômicas, desigualdade social e pobreza estão entre as suas principais conseqüências negativas.
Neste contexto, repensar o atual modelo se torna algo imperativo, e várias organizações e iniciativas no mundo
já embarcaram nesta empreitada. Ao propor uma discussão sobre “a transição para uma economia verde no
contexto da preservação do meio ambiente e da biodiversidade, na perspectiva da erradicação da pobreza e
das desigualdades” e sobre “o quadro institucional (instrumentos de governança) para que se implemente o
desenvolvimento sustentável” a Conferência da ONU para o desenvolvimento sustentável, a Rio+20, procurou
colocar no centro da agenda internacional o desafio de repensar o modelo econômico e as iniciativas já existentes
neste sentido.
Desde 2010, o Instituto Vitae Civilis em conjunto com a Green Economy Coalition, realizou uma série de debates
na sociedade civil brasileira com os objetivos de: consolidar e difundir o conceito de economia verde (EV) e
seu entendimento; identificar e articular atores da sociedade brasileira relevantes para este processo; produzir
propostas e demandas concretas relacionadas à EV no Brasil e no mundo; e incidir na agenda e resultados da
Rio+20 e também nas políticas públicas brasileiras.
Foram realizados 2 seminários nacionais e 4 seminários regionais sobre economia verde, nos quais cerca de 720
pessoas participaram. Entre os principais resultados deste processo podemos destacar as seguintes demandas
para a transição rumo a uma economia verde:
• Redução da desigualdade não apenas no movimento de trazer os mais pobres para um patamar melhor
de qualidade de vida, mas também no sentido de diminuir o atual padrão insustentável de consumo dos
mais ricos, aproximando as duas pontas.
• Participação social nas principais instâncias e fóruns de tomada de decisão sobre a economia. A
participação social é um dos mecanismos mais poderosos para se criar accountability, controle social e
democratizar as instituições econômicas e financeiras.
• Utilização de instrumentos econômicos para incentivar práticas que contribuam com uma economia
verde, respeitando os direitos dos povos e a natureza, e para coibir práticas que resultem na exploração
insustentável e degradante do meio ambiente e das pessoas.
• Mitigação de riscos durante a transição para a economia verde, em especial para os trabalhadores e
populações vulneráveis. Uma economia sustentável e justa não pode ser estabelecida por um processo
que mantenha ou agrave a situação dos atores mais vulneráveis.
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Diálogos Nacionais sobre Economia Verde:
Reflexões e Propostas para Ação
A realização dos diálogos nacionais contou com o apoio das seguintes organizações: Market Analysis, Associação
Brasileira de Desenvolvimento de Lideranças (ABDL), Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil
– Seccional Amazonas, Instituto Akatu, Centro de Estudos de Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas
(GVCES), Conselho Empresarial Brasileiro pelo Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), Confederação Nacional
da Indústria (CNI), Conselho Brasileiro de Manejo Florestal (FSC), Departamento Intersindical de Estatística e
Estudos Socioeconômicos (Dieese), ECOPRESS, Federação das Indústrias do Estado do Pará, Fundação Amazônia
Sustentável (FAS), Fundação SOS Mata Atlântica, Frente Parlamentar Ambientalista, Grupo de Trabalho
Amazônico (GTA), Global Reporting Initiative (GRI), Governo do Estado de Santa Catarina, Governo do Estado do
Pará, Governo do Estado do Rio Grande do Sul, Grupo de Articulação das ONGs Brasileiras para ISO 26000 (GAO),
Grupo de Gestão Ambiental de Pernambuco, (GAMBA) Instituto de Defesa do Consumidor (IDEC), Instituto Ethos,
Instituto Peabiru, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Instituto Socioambiental (ISA), International
Institute for Environment and Development (IIED), International Union for Conservation of Nature (IUCN),
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), Ministério do Meio Ambiente, Secretaria do
Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Rede Nossa São Paulo, Universidade Federal Rural de Pernambuco e
World Watch Institute.
Para a realização dos seminários nacionais e regionais contamos com a contribuição dos seguintes patrocinadores:
Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia em Identificação Digital, Fundação Avina, Banco do Nordeste,
Capital Recicláveis, Centro Sebrae de Sustentabilidade, Eletrobrás Furnas, Fundo Vale, Itaipu Binacional, Natura,
Santander, Secretaria de Trabalho, Emprego e Renda do Governo do Pará, Telefônica, Trash Ambiental.
Foram realizados 2 seminários nacionais e 4 seminários regionais ao longo de 2010 e 2011. Os seminários
reuniram ao todo cerca de 720 pessoas, cobrindo todo o território nacional.
Durante todo o processo os participantes debateram e propuseram a partir de suas posições nos temas e na
sociedade, conceitos e propostas sobre economia verde. Os debates ocorreram sempre buscando identificar
o consenso entre os participantes, porém respeitando e registrando posições diferentes. Uma síntese do
resultado esta refletida nesta publicação. Maiores detalhes e documentação adicional estão disponíveis em
www.economiaverde.org.br.
Os diálogos nacionais estiveram conectados, por meio de seus participantes ou pelas organizações que o
promoveram, com os fóruns mais relevantes onde o tema economia verde vem sendo discutido. Podemos
destacar a relação com o trabalho sendo desenvolvido pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
(PNUMA), que foi constante. Além disso, no início de 2012, o Instituto Vitae Civilis, a Central Única dos
Trabalhadores, o Instituto Ethos, o Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais e o Instituto Democracia
e Sustentabilidade promoveram quatro debates com lideranças de diversos segmentos sobre a transição
para uma economia a serviço do desenvolvimento sustentável. Também houve engajamento com a iniciativa
desenvolvida pela organização alemã Adelphi e o Vitae Civilis sobre “Clima, Cooperação e Conflito”, assim como,
os diálogos do FUNBIO sobre economia verde e a plataforma do Instituto Ethos por uma economia inclusiva,
verde e responsável.
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Diálogos Nacionais sobre Economia Verde:
Reflexões e Propostas para Ação
Seminário
• 23/09/2011 Seminário • 27/08/2011
regional do
• 143 participantes regional • 143 participantes
sul (e Triplice
do norte
fronteira) • Foz do Iguaçu • Belém
Veja a redação final da proposta de definição para o conceito de economia verde abaixo:
O conceito busca alinhar fortemente o modelo de desenvolvimento econômico com o uso sustentável dos
recursos naturais e a geração de relações sociais mais justas, que contribuam para a equidade. A economia
verde, neste sentido, fica colocada como uma das contribuições para que a sociedade atinja o desenvolvimento
sustentável.
Além do conceito vários outros aspectos foram discutidos para caracterizar economia verde, conforme esta
refletido no quadro referencial e nos “alertas e controvérsias” a seguir.
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Diálogos Nacionais sobre Economia Verde:
Reflexões e Propostas para Ação
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Diálogos Nacionais sobre Economia Verde:
Reflexões e Propostas para Ação
ALERTAS E CONTROVÉRSIAS
Um grande consenso acerca da EV é que não será possível construir uma sociedade sustentável sem que ocorram
profundas mudanças nos sistemas econômicos, que precisam modificar tanto seu objetivo último (colocando a
melhoria das condições globais de vida e bem-estar no lugar do mero crescimento no fluxo de bens e serviços),
quanto sua noção de custos (que precisa incorporar de modo mais completo tanto o valor dos insumos utilizados
no processo produtivo quanto os impactos de sua utilização).
A discussão sobre EV incorpora disputas estruturais que há muito dividem a humanidade tanto em termos
geopolíticos, econômicos e comerciais quanto em termos ideológicos, éticos e filosóficos.
Este capítulo aponta algumas áreas de controvérsias que foram identificadas durante os diálogos nacionais. Estes
pontos de conflito não devem ser vistos como antagonismos intransponíveis e paralisantes, mas como alertas
que devem ser cuidadosamente considerados enquanto avançamos na urgente e inevitável transição para uma
economia verde. Abaixo estão alguns destaques, e não uma lista exaustiva, desses alertas e controvérsias.
É comum observarmos posicionamentos automáticos que são favoráveis ou contrários a economia verde. Porém
muitos desses posicionamentos se baseiam apenas na discussão semântica, de que seria uma economia apenas
voltada para questões ambientais (por causa do nome), ou que qualquer novo conceito se trata apenas de uma
armadilha para desviar o foco dos problemas reais, que seriam o sistema capitalista e a mercantilização. O nome
neste caso é o menos importante, e debater e consolidar o conceito e as práticas por trás do nome deveria ser
o alvo de todos os interessados.
O ceticismo quanto à possibilidade do mercado oferecer soluções para as crises atuais é justificável tendo
em vista os problemas da recente globalização neoliberal. Por outro lado existem posições que colocam a EV
apenas como uma oportunidade para ampliar seus negócios sem provocar mudanças reais. A saída de nossa
crise civilizacional passa pela economia, não há dúvida, pois não temos outro instrumento para atingir a escala
e o volume necessários no curto tempo que dispomos. Mas não a economia alucinada e sem fronteiras, que nos
trouxe às bolhas especulativas, à crise global e à hiper-concentração.
Greenwashing e oportunismo
Os termos como economia verde, sustentabilidade e desenvolvimento sustentável são muito atraentes para setores
da mídia, da publicidade e mesmo políticos descompromissados. Frequentemente estes termos são usurpados e
utilizados como forma de propagar produtos e interesses que não são alinhados com os conceitos. A capacidade
de controlar e coibir o mal uso é algo muito limitado, no entanto, permanece como uma preocupação constante
daqueles que pretendem efetivar a proteção ambiental e a justiça social como pilares de uma nova economia.
Falsas soluções
As discussões sobre economia verde muitas vezes ficam presas ao mundo da tecnologia e da eco-eficiência.
Apesar de serem dois aspectos essenciais, não existirá uma solução milagrosa para o desenvolvimento
sustentável. Este é um processo onde escolhas difíceis deverão ser feitas e transformações profundas de
paradigmas e instituições são necessárias. A quebra de paradigmas e a transformação de instituições requer
condições políticas e sociais específicas para ter sucesso, porém a necessidade e urgência de tais mudanças não
necessariamente esta alinhada com o tempo da conjuntura e interesses do status quo.
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Reflexões e Propostas para Ação
Transição justa
A justa divisão dos custos e benefícios de uma transição para a economia verde também são um aspecto
controverso. Historicamente quando a sociedade enfrenta grandes crises os custos de sair destas crises são
pagos pela população em geral, e em especial pelos trabalhadores ou camadas de menor renda. Soluções para
problemas ambientais também já foram defendidas em detrimento de questões sociais, ou o enfrentamento
de desafios da superação da pobreza e da desigualdade buscam abrir mão de considerações de conservação
ambiental, gerando controvérsias adicionais e afastando as agendas ambiental e social. Nenhum modelo que
rompa com os nossos desafios atuais poderá repetir os mesmos erros do passado. A transição para a economia
verde deve ser pautada pela geração de empregos verdes e decentes e ao mesmo tempo proteger e restaurar a
resiliencia e integridade dos processos ecológicos essenciais.
Neste sentido, o atual cenário internacional onde alguns países exportam matérias primas e produtos feitos
com mão de obra barata e sem garantias ambientais deverá ser repensado. Não podemos ficar presos numa
discussão que coloque o direito ao desenvolvimento dos países mais pobres como o mesmo caminho que os
países ricos percorreram, ou pior, como uma autorização para poluir ou explorar pessoas. Os problemas atuais
do mundo deverão ser enfrentados com soluções atuais, justas e solidárias.
A predominância de critérios de curto prazo para a tomada de ação, tanto na esfera pública como na privada
também são um ponto em disputa. Uma das dificuldades encontradas em se formar consenso esta na conciliação
de interesses que tem uma expectativa de retorno (político ou financeiro) num prazo mais curto, e mudanças
que precisam ser desenvolvidas com um prazo mais longo.
Ao mesmo tempo, diversos segmentos sociais já investiram seus recursos com uma expectativa de futuro e a
mudança e repactuação de regras poderia afetá-los de maneira profunda. Este é um aspecto que não deve ser
ignorado ao se buscar uma transição que inclua todos os públicos de maneira ampla e irrestrita.
A transformação nos padrões de produção e consumo é essencial para a economia verde. A lógica da produção
e do consumo deverá ser reorientada para que o excesso no modo de vida de poucos não inviabilize os direitos
humanos de todos. Porém, quando se fala em consumo uma mudança nos padrões significará uma diminuição
no acesso a bens materiais supérfluos e privilégios. O padrão consumista estabelecido pela sociedade ocidental
é completamente insustentável, e a realização dos direitos das populações excluídas implicará na transformação
dos padrões de consumo das populações mais ricas.
Pensar que a EV substituti o desenvolvimento sustentável é um grande equívoco, visto que a EV é um meio
para efetivar o desenvolvimento sustentável. Tanto no âmbito local quanto internacional a sociedade já discute
há muitos anos as questões relativas ao desenvolvimento sustentável e efetivação dos direitos humanos. Uma
discussão sobre a transição para a economia verde não pode ignorar todo o conhecimento e experiência já
acumulados em processos como, por exemplo, o da Agenda 21¹ e outros. Novas iniciativas devem partir das
outras, não tentando substituí-las, mas sim inovando e agregando valor.
¹A Agenda 21 foi um dos produtos da ECO92 e pode ser entendida como um instrumento participativo de planejamento voltado para o desenvolvimento
sustentável.
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Reflexões e Propostas para Ação
PROPOSTAS DE AÇÃO
Durante os seminários regionais realizados em 2011, os participantes produziram propostas concretas para a
transição para uma economia verde no contexto brasileiro. Foram criadas mais de 120 propostas que foram
sistematizadas em 27 grupos e debatidas no 2º Seminário Nacional. As propostas foram então consolidadas
em 10 grandes categorias: agricultura, incentivos fiscais, Amazônia, governança e participação social, cidades
sustentáveis, energia, resíduos sólidos e educação. Dentro de cada categoria os diversos temas que foram
debatidos estão contemplados.
Apesar das propostas abordarem especificidades de cada tema, um aspecto esta presente transversalmente em
todas: a necessidade de maior participação social e mecanismos de controle da sociedade civil sobre políticas
públicas e o mercado.
Um aspecto a ser destacado das discussões sobre as propostas são as questões relativas a uma nova governança
social. Uma dinâmica participativa e colaborativa, onde a sociedade civil seja contemplada e haja um maior
controle social sobre o setor público e privado, foram questões presentes nas propostas, independentemente
dos temas debatidos.
Abaixo apresentamos um resumo de cada um destes grandes grupos. As propostas detalhadas estão disponíveis
no site: www.vitaecivilis.org/economiaverde
Agricultura
A agricultura brasileira vive um paradoxo, as políticas para o modelo da agroindústria não conversam com o
modelo do pequeno produtor e agricultura familiar. Talvez sejamos o único país do mundo com dois ministérios
para a área! O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e o Ministério do Desenvolvimento Agrário.
Uma das principais questões levantada foi a necessidade de se incentivar a produção familiar de produtos
orgânicos e agroecológicos. Para tanto sugeriram mais apoio financeiro e técnico aos agricultores familiares que
adotam produção agrícola tradicional e queiram migrar para o sistema orgânico.
As propostas elaboradas apontam que o uso criterioso dos agrotóxicos (o Brasil é o país onde mais se usa
agrotóxico) seria um ponto essencial para o Brasil e atuaria como um vetor que levaria também a outras
mudanças da agricultura na direção de uma economia mais verde. Para tanto são necessários um melhor
controle e fiscalização do seu comércio e da sua utilização; o treinamento adequado para um maior cuidado na
sua aplicação e controle da saúde dos trabalhadores e consumidores.
A questão da biodiversidade também foi abordada, em especial com a extinção de abelhas ocorrendo no centro-
oeste brasileiro. Recomendou-se regulamentar a profissão de apicultor e técnico em apicultura e meliponicultura,
e criar canais para maior aporte teórico e maior qualificação dos produtores.
A necessidade de se promover diálogos com o setor agrícola foi outra questão proposta. Mas para isso seria
necessário fortalecer as organizações dos agricultores familiares primeiro. Estes diálogos teriam o intuito de
incentivar que o setor debatesse questões associadas à transição do modelo agrícola tradicional para outra mais
sustentável.
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Diálogos Nacionais sobre Economia Verde:
Reflexões e Propostas para Ação
Incentivos fiscais
Os incentivos fiscais, apesar de serem uma importante ferramenta para o desenvolvimento do país, são em geral
utilizados de maneira muito aquém de seu potencial. Empresas e setores empresariais recebem isenções fiscais
na forma de um “cheque em branco”.
Para atacar tal problema foi sugerido sempre adicionar condicionantes trabalhistas e ambientais para os setores
que receberem incentivos fiscais, e que seu controle e monitoramento sejam feitos com a participação da
sociedade civil. A falta de mecanismos que desincentivem as atividades econômicas predatórias também foi
lembrada.
Foi identificada uma falta crônica de incentivos ao desenvolvimento de soluções e tecnologias sustentáveis, em
especial com relação aos empreendedores nacionais. No mesmo sentido se sugeriu criar mecanismos e canais
que facilitem o acesso das pequenas e médias empresas para incentivos.
A criação de uma política fiscal voltada para a economia verde e que dê segurança e clareza aos tomadores de
decisão de todos os setores, foi sugerida como algo essencial.
O risco de que ocorra perda de postos de trabalho na transição para economia verde impõe a necessidade de
que seja feito um planejamento nacional identificando os setores mais vulneráveis e que medidas e incentivos
podem ser adotados para atenuar e mitigar esse risco.
Por último foi lembrada a necessidade de uma reforma tributária, pois o modelo atual reforça a desigualdade e
injustiça social no Brasil. Já que hoje os pobres pagam proporcionalmente mais que os ricos por causa dos altos
impostos sobre o consumo, e os baixos impostos sobre a renda e a propriedade.
Amazônia
Uma das principais questões abordadas na discussão foi a regularização fundiária e a necessidade de se fortalecer
o sistema público de regularização, com controle social, participação e transparência. As propostas foram no
sentido de que a regularização na região deve ser balizada pelo fim da arrecadação de terras públicas e um
zoneamento étnico-econômico-ecológico. Também se discutiu a necessidade de avançarmos nas discussões
sobre uma legislação que regulamente REDD² e Pagamento por Serviços Ambientais, sob o ponto de vista da
importância dos assentamentos fundiários na Amazônia.
Diversos outros pontos foram abordados como a criação de fundos que garantam a sustentabilidade social,
ambiental e cultural das áreas impactadas por grandes empreendimentos. E que periodicamente se realize
uma avaliação dos empreendimentos do passado (em termos de erros e acertos) para ser incorporada no
planejamento dos novos.
O Plano Amazônia Sustentável (PAS) foi apontado como referência para as Políticas Públicas na Amazônia,
inclusive para as obras do PAC. Foi proposta a criação de um comitê gestor do PAS, com participação e controle
social. Outra questão debatida foi a elaboração de um marco legal diferenciado para a região, com o objetivo de
fomentar a transição para a economia verde.
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Diálogos Nacionais sobre Economia Verde:
Reflexões e Propostas para Ação
A discussão sobre propostas foi principalmente cunhada pela questão do acesso à informação e da criação de
instâncias de participação social na transição para uma economia verde. O fato de o ambiente econômico ser
muito fechado em relação à participação da sociedade civil foi levantado, e com isso a necessidade de maior
controle social de seus agentes.
Para tanto seria necessário propagar a discussão sobre economia verde na sociedade. Propostas foram feitas
no sentido de estimular ações para debater os conceitos de economia verde na academia, em organizações
empresariais e nos mais diversos setores da sociedade. A discussão deveria ocorrer considerando as peculiaridades
de cada segmento de atividade, assim como as diferenças em cada região. A transição para a economia verde
deve ser adaptada às realidades sociais, considerando os públicos afetados na montagem das estratégias. A
Agenda 21 foi apontada como um instrumento de governança que deveria ser reforçado nas discussões de
economia verde.
De maneira geral, o tema de governança esta presente transversalmente em todos os outros temas discutidos.
Como instrumentos de massificação e divulgação deste debate foram apontados as experiências de rádios
comunitárias, rádios escola e rádios na web. Assim como a produção de material didático e paradidático para
escolas públicas e privadas, focando no público jovem.
Uma articulação (coalizão de redes) da sociedade civil com a academia foi sugerida para trabalhar comunicação
sobre a economia verde para o restante da sociedade.
Educação
A educação para a cidadania e a formação de profissionais para a sustentabilidade foram apontados como
importantes vetores na de transformação das comunidades rumo à economia verde.
Um dos pontos abordados foi a educação ambiental. Propostas foram feitas no sentido de garantir a
interdisciplinaridade da educação ambiental, e sua inclusão em todos os processos formais e não formais de
ensino. O Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global foi apontado
como um documento orientador neste caso.
Considerando necessidade de melhoria da educação como um todo, foi levantada necessidade de se garantir
um orçamento maior para educação pública, garantindo um mínimo a ser aplicado por estados e municípios.
Energia
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Diálogos Nacionais sobre Economia Verde:
Reflexões e Propostas para Ação
Outra sugestão foi a valorização da eficiência energética, com a criação de uma Política Nacional de Eficiência
Energética. Outra sugestão referente a políticas públicas foi a inclusão na Política Nacional de Energia de
dispositivos que obriguem os municípios a elaborarem seus planos municipais de energia, contemplando a
geração local, distribuição e consumo de energia, com ênfase na geração de baixo impacto. Ainda neste sentido
foi proposta a inclusão nos códigos de obras da obrigatoriedade de implantação de sistemas de aquecedores
solares em todas as residências, nas regiões em que for aplicável.
O biogás foi apontado como uma oportunidade sendo desperdiçada no Brasil. Sugeriu-se a consolidação do
biogás como produto agrícola, e para tanto seria necessária sua precificação como uma commodity. A demanda
de tratamento de milhões de toneladas de resíduos da pecuária, indústria e esgoto urbano seriam um estimulo
para a utilização do biogás, e a resolução da ANEEL 390-395/2009 que permite a geração descentralizada de
energia já permitiria que o setor se desenvolvesse.
Cidades
A maioria da população brasileira esta concentrada em grandes cidades, logo a incorporação dos conceitos,
princípios, perspectivas e prioridades da economia verde às políticas públicas urbanas são essenciais para
atingirmos a sustentabilidade.
Algumas questões que surgiram apontaram para a priorização do automóvel como um grande problema.
Para tanto se sugeriu ampliar os espaços de uso público e reduzir os espaços de circulação de automóveis,
com ciclovias, corredores exclusivos de transporte público, ruas fechadas para pedestres, praças ao invés de
estacionamentos, etc.
O apoio a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) de ‘plano de metas’ para municípios que está em tramitação
no Congresso Nacional foi apontado como essencial nesta questão. Neste sentido seria necessário estimular o
debate público para a criação e adoção obrigatória de metas e indicadores de organização e funcionamento de
cidades sustentáveis.
A implementação da Agenda 21 em toda cidade brasileira e fortalecimento dos fóruns de Agendas 21 existentes
também surgiu como uma necessidade. Neste caso, se reforçou a percepção da Agenda 21 como um instrumento
de governança e planejamento participativo voltado para o desenvolvimento sustentável.
O legado dos grandes eventos também foi debatido. A necessidade de garantir mecanismos de governança em
que participem as organizações da sociedade civil e representantes das populações afetadas pelas obras foi
apontada como um ponto chave para seu sucesso.
Resíduos sólidos
A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) foi considerada uma gigantesca conquista de toda a sociedade
brasileira, porém ela esta ameaçada pela sua lenta adoção e implementação. Promover a rápida e apropriada
adoção do PNRS foi o mote das discussões.
As propostas ressaltaram a necessidade de se garantir que a gestão de resíduos sólidos seja descentralizada,
compartilhada e realizada com a participação dos catadores de materiais recicláveis.
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Diálogos Nacionais sobre Economia Verde:
Reflexões e Propostas para Ação
A criação e fortalecimento de redes de comercialização de materiais recicláveis foi apontada como essencial
para a mudança de hábitos de consumo, assim como, a educação ambiental no âmbito formal e não-formal.
A transparência por meio da discriminação da porcentagem do IPTU referente ao gasto com resíduos sólidos
(atualmente esse valor está embutido) foi sugerida como uma importante forma de conscientização da
importância desta questão para a população em geral.
Como forma de estímulo a eco-eficiência foi sugerido aumentar os impostos sobre materiais descartáveis e
desonerar os retornáveis e os recicláveis. A necessidade da obrigatoriedade da reciclagem e reutilização de
resíduos da construção civil também foi levantada.
A compostagem caseira, de bairro e em locais públicos foi apontada como uma importante maneira de se reciclar
resíduos de maneira descentralizada e com baixo custo, ao mesmo tempo em que contribui na manutenção das
áreas verdes em especial nas cidades. Para tanto se sugeriu a elaboração de uma política urbana de compostagem.
A exigência de equiparação de investimentos em aterros com os investimentos em reciclagem por meio de
legislação também foi sugerida.
As discussões sobre EV geraram diferentes visões, que por vezes chegam a ser conflitantes e opostas. Neste
sentido é importante que os interessados tenham uma dimensão dos vários estudos e documentos que abordam
o tema, quem os desenvolveu e qual sua visão.
Abaixo destacamos algumas das principais referências sobre economia verde disponíveis hoje. Uma lista
completa de publicações relacionadas ao tema, informações e dados atualizados pode ser encontrada em:
www.vitaecivilis.org/economiaverde
Nome do documento
Autor ou Organização Responsável
El cuento de la economia verde Visão 2050 A nova agenda para as Acordo para o desenvolvimento Economia verde: Desafios e
Agencia Latinoamericana de empresas sustentável Oportunidades. Política Ambiental.
Información CEBDS Conselho de Desenvolvimento Conservação Internacional
Econômico e Social CDES
Who Will Control the Green Economy? Fórum Social Temático: Crise Brochura sobre a Green Economy Nine Principles for a Green Economy
ETC Group Capitalista, Justiça Social e Ambiental Coalition Green Economy Coalition
GRAP Green Economy Coalition
Proposta da Green Economy Coalition Green Economy: gain or pain for the Plataforma por uma economia Adapting for a Green Economy:
para a agenda da Rio+20 Earth’s poor? inclusiva, verde e responsável Companies, Communities and Climate
Green Economy Coalition IBON Instituto Ethos Change
Oxfam International
Rio+20 o caminho das pedras Povos Resilientes, Planeta Resiliente Decoupling - natural resource use and Empregos verdes: trabalho decente
Página 22 Painel Global de Sustentabilidade environmental impacts from economic em um mundo sustentável com baixas
growth emissões de carbono
PNUMA PNUMA e OIT
Green Economy Report Rumo a uma economia verde – síntese Revista Contracorrente#3 Risks and Uses of the Green Economy
PNUMA para tomadores de decisão Rede Brasil sobre Instituições Concept in the Context of Sustainable
PNUMA Financeiras Multilaterais Development, Poverty and Equity
South Centre
Prosperity without Growth? – The Building an equitable green economy
transition to a sustainable economy The Danish 92 Group Forum for
Sustainable Development Sustainable Development
Commission
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Iniciativa: