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VI SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE PRÁTICAS EDUCATIVAS
GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM EDUCAÇÃO, ETNIAS E ECONOMIA
SOLIDÁRIA
Sumário
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RESUMO
Esta pesquisa tem como finalidade socializar para a comunidade acadêmica a importância da
educação diferenciada para o povo Potiguara da Paraíba, localizado no Litoral Norte do estado.
Este estudo apresenta um debate sobre a luta dos Potiguara por uma educação indígenas, a
atuação das escolas indígenas no território Potiguara, entre outros pontos relevantes destacados
por teóricos da área. A pesquisa foi realizada através de método bibliográfico com caráter
qualitativo. Um dos resultados da pesquisa foi a identificação do papel das escolas diferenciadas
na continuidade da cultura Potiguara. Esta pesquisa contribuirá para futuros trabalhos
acadêmicos, e também para dialogar com professores da educação indígena.
1 INTRODUÇÃO
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2 DESENVOLVIMENTO
Há décadas, o povo Potiguara da Paraíba luta por uma educação escolar indígena em
seu território. Este direito passou a ser assegurado no estatuto dos povos indígenas, no “Art. 2º
- Aos povos indígenas, às comunidades e aos índios se estende a proteção das leis do País, em
condições de igualdade com os demais brasileiros, resguardados os usos, costumes e tradições
indígenas, bem como as condições peculiares reconhecidas nesta lei.” (ESTATUTO DOS
POVOS INDÍGENAS, 1992, s/p).
Além deste Estatuto que assegura aos povos indígenas o direito à educação escolar que
valorize seus costumes, a II Conferência Nacional de Educação Escolar Indígena (II CONEEI)
em suas propostas, também defende e luta para que os povos indígenas acessem este direito.
Propostas do eixo 3 da conferência que teve como tema: Ação Saberes Indígenas;
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Para debater sobre a educação e a cultura indígena, é preciso nos remeter a alguns fatos
históricos, pois esta educação inicia ainda no período de intervenção dos jesuítas em meados
do século XVI.
Desta forma observasse que os indígenas foram obrigados a receber uma educação
escolar por meio dos jesuítas, onde não foram levados em consideração seus preceitos
particulares de um povo originário, dessa forma os indígenas foram integrados à sociedade
nacional, e obrigados a viver de forma distinta da que estavam acostumados. Freire (2004)
defende que:
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Figura 01: Encontro de professores organizado pelo Coletivo de pesquisa: Pela valorização dos
Saberes Potiguara, realizada na Escola da Aldeia Brejinho, Marcação-PB, 2017.
com amplo protagonismo, pela Coordenação Geral de Educação Escolar Indígena (Secadi/MEC).”
(LIMA, 2016, p. 13).
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Os roçados são feitos pelas famílias indígenas, sendo definidos pelos chefes da família,
geralmente pelo homem. O cultivo também é feito com a participação de toda a família. A
colheita dos alimentos destina-se ao sustento dos membros da família e vizinhança. Parte dos
alimentos são trocados entre parentes. Quando existe excedente, os produtos são
comercializados em feiras livres.
Na pesca não é diferente, os chefes de família vão com toda a família, inclusive com as
crianças. A pesca é o sustento e a ocupação na maioria das famílias que residem próximo dos
rios ou mares. Com relação ao cultivo da cultura indígena Potiguara BARCELLOS &
NASCIMENTO (2012) definem que:
Sob o ponto de vista metodológico optamos por uma pesquisa bibliográfica, feita a partir
de levantamentos em livros, artigos, se baseando em trabalhos científicos para uma melhor
análise dos dados.
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Neste sentido Lakatos e Marconi (2003, p.82), defende que toda ciência utiliza
métodos científicos, mas não significa dizer que todos os ramos que os utilizam podem ser
considerados ramos científicos, ou seja, a utilização dos métodos científicos não é exclusividade
das ciências, mas não existe ciência sem metodologia científica.
Desta forma e seguindo tais preceitos, a metodologia aplicada neste trabalho baseia-se
em uma pesquisa bibliográfica. Para Fonseca (2002) a pesquisa bibliográfica é feita a partir do
levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios escritos e eletrônicos,
como livros, artigos científicos, páginas de web sites. Qualquer trabalho científico inicia-se com
uma pesquisa bibliográfica, que permite ao pesquisador conhecer o que já se estudou sobre o
assunto.
Existem, porém pesquisas científicas que se baseiam unicamente na pesquisa
bibliográfica, procurando referências teóricas publicadas com o objetivo de recolher
informações ou conhecimentos prévios sobre o problema a respeito do qual se procura a
resposta. Por sua vez, para Gil (2007), os exemplos mais característicos desse tipo de pesquisa
são sobre investigações, sobre ideologias ou aquelas que se propõem à análise das diversas
posições acerca de um problema.
Para Francis Bacon (1561-1626), o conhecimento científico é o único caminho seguro
para a verdade dos fatos, sendo este fundamentado exclusivamente na experiência, sem levar
em consideração princípios preestabelecidos, por este motivo o método utilizado nessa pesquisa
foi o Indutivo. Conforme Lakatos e Marconi (2003), os argumentos indutivos criam um
exercício para o pensar cujo caminho é feito de observações particulares (premissa), tomadas a
priori como verdadeiras, a generalizações conceituais (conclusões) que podem ser verdadeiras.
A partir da pesquisa e leitura dos autores, que muito contribuíram para a realização
deste trabalho, identificamos que a educação escolar indígena funciona como parte integrativa,
entre aldeia e sociedade não indígena, porque além de repassar os saberes ancestrais para os
estudantes, repassa também os conhecimentos dos não indígenas.
3 CONCLUSÃO
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Á guisa de conclusão, identificamos que mesmo diante dos preconceitos existentes pela
sociedade não-indígena, os Potiguara lutam constantemente pela perpetuação dos valores e
costumes de seus ancestrais. As escolas indígenas têm um importante papel nesta luta
identitária, assim como a família e a comunidade, a escola ensina desde cedo que estudantes
precisam participar e se envolver com as atividades da sua aldeia, pescando; plantando;
cultivando; colhendo; fazendo artesanato; estudando, entre outras práticas realizada pelos
Potiguara.
Neste trabalho, destacamos a importância da educação escolar indígena no território
Potiguara, onde os professores indígenas, são protagonistas e deixam seu legado, pois além de
levar para a sala de aula o conhecimento científico, levam para seus alunos o conhecimento
tradicional, fazendo com que os conhecimentos dos antepassados estejam no cotidiano dos
alunos. A educação escolar indígena do povo Potiguara da Paraíba vai muito além da sala de
aula. Os povos indígenas são bem articulados, organizados e sua educação escolar é aceita pela
comunidade.
REFERÊNCIAS
BARCELLOS, Lusival; NASCIMENTO, José Mateus do. O povo Potiguara e a luta pela
etnicidade. In: NASCIMENTO, José Mateus do (Org.). Etnoeducação Potiguara Pedagogia
da Existência e das Tradições. João Pessoa: Ideia, p. 11-25, 2012.
CIME, Conselho Indigenista Missionário: Estatuto dos Povos Indígenas. TÍTULO I Dos
Princípios e Definições, Capítulo I, Dos princípios. Disponível em: <http://
http://www.cimi.org.br/site/pt-br/?system=paginas&conteudo_id=5710&action=read>.
Acesso em: 02 set. 2018.
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FREIRE. Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, p. 28,
2004.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2007.
GERHARDT, Tatiana Engel. SILVEIRA, Denise Tolf. Coordenado pela Universidade Aberta
do Brasil – UAB/UFRGS e pelo Curso de Graduação Tecnológica – Planejamento e Gestão
para o Desenvolvimento Rural da SEAD/UFRGS. Métodos de pesquisa. – Porto Alegre:
Editora da UFRGS, 2009.
GONÇALVES, E.; MELLO, F. Educação Indígena. Colégio Estadual Wolf Klabin. Telêmaco
Borba, 2009. Disponível em http://estagiocewk.pbworks.com/f/emily+e+fernanda.pdf, acesso
em 12/09/1.
NASCIMENTO, José Mateus do; SILVA, Paulo R. Palhano. Educação Escolar Indígena
Potiguara.NASCIMENTO, José Mateus do (Org.) Etnoeducação Potiguara Pedagogia da
Existência e das Tradições. João Pessoa: Ideia, p.75. 2012.
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RESUMO: Este estudo reflete sobre a Assessoria Aberta nas práticas metodológicas de
extensão-pesquisa para construção de Inventário Participativo. Objetivamos identificar alguns
limites e possibilidades de contribuições da Assessoria Secretarial Aberta na prática da pesquisa
participativa desenvolvida através da extensão-pesquisa, junto a comunidade indígena da
Aldeia Tramataia-PB. Especificamente, buscamos: identificar teoricamente a
interdisciplinaridade e perceber algumas de suas formas práticas, na perspectiva da extensão-
pesquisa junto ao projeto RECOSEC/PROEXT; reconhecer como são identificadas (ou não)
algumas formas de relação entre a Assessoria Aberta e a Metodologia Participativa; Distinguir
algumas práticas da Assessoria Aberta que contribuíram no processo de construção e
desenvolvimento da metodologia participativa. BRASIL (2016), DIAS E FREIRE (2012),
HIGGINS (1995), IPHAN (2016) foram os principais autores que nos apoiamos para
construção do campo teórico-metodológico. No primeiro momento, verificamos que, a
assessoria aberta não foca apenas as técnicas secretariais, vez que envolve múltiplas dinâmicas
na execução das atividades, que por sua vez não ficam restritas a espaços de escritório. O
Secretário tem a liberdade de atuar em outros espaços. Verificamos que no decorrer do projeto
um intercâmbio de conhecimentos entre os sujeitos da comunidade que através de uma relação
dialógica (FREIRE, 2005) evidenciaram necessidades culturais e sociais da comunidade. Como
resultado, identificamos um caminhar para modificações paradigmáticas do fazer secretarial
que. Contudo, enquanto processo de transição, nem todos/as os/as estudantes que conseguem
lidar com as multitarefas na perspectiva da Assessoria Aberta.
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1 INTRODUÇÃO
2 DESENVOLVIMENTO
experiência através de relações dialógicas, fato que pode suscitar ações emancipatórias e
transformadoras em um determinado ambiente.
Conforme Dias e Freitas (2012), um Diagnóstico Rápido Participativo (DRP) contribui
com o desenvolvimento de habilidades e conhecimentos de maneira coletiva. O DRP possibilita
realizar diferentes reflexões sobre a realidade e a exposição de múltiplos olhares, a partir de
diferentes saberes e necessidades.
Os referidos autores revelam que o DRP se apresenta como um conjunto de enfoques e
métodos. Parte da opinião popular local para buscar superar desafios coletivos. Nesse sentido,
a metodologia contribui para o desenvolvimento de ações coletivas que sejam mais próximas
da realidade pesquisada, uma vez que considerando o exposto, entendemos que a metodologia
em discussão nesse estudo favorece uma prática transformadora que resulta em uma nova
configuração nas estratégias que buscam uma participação popular como meio para a
descoberta de novos saberes.
Já Higgins (1995) aponta que uma gestão cultural participativa implica em um ambiente
cultural que não possui características passivas e cômodas. A metodologia participativa instiga
uma construção criativa e considera de maneira libertária os diversos pensamentos, sem
classificá-los e rotulá-los.
Oliveira, Silva et al (2016) confirmam as informações anteriores quando dizem:
A formação acerca de metodologias participativas justifica-se enquanto esteio para a
práxis e pelo fato de que o mundo do trabalho demanda por profissionais com
habilidades e competências que reverberem em práticas cidadãs (OLIVEIRA; SILVA
et al, 2016, p. 01).
A dinâmica acima expressa está de acordo com os pensamentos de Paulo Freire, teórico brasileiro
que transformou a educação e outros espaços organizacionais com a sua ideologia de uma pedagogia
libertária, que considerava o pensamento crítico de cada indivíduo para o fortalecimento de práticas
cidadãs, necessárias para a composição de uma sociedade emancipada.
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Isto posta, compreendemos que inventar é uma maneira de pesquisar. Contudo, para além
de um mero processo de coleta de dados em seguida processados e organizados, precede a
respeitabilidade de interagir, ouvir, se colocar no lugar para a percepção do mundo de outro
olhar. Essa dinâmica possibilita tanto um melhor conhecimento de um dado fenômeno que se
pretende conhecer, quanto à interação com o seu mundo de forma ecológica. Um mundo de
interações entre saberem acadêmicos e potiguaras.
Nessa simbiose, passa a fazer sentido à prática da pesquisa participante. Torna-se
“...necessário um olhar voltado aos espaços da vida, buscando identificar as referências
culturais que formam o patrimônio do local” (BRASIL, 2016, p.07), dinâmica própria do
Inventário Participativo.
De acordo BRASIL (2016), o inventário participativo não pode ser considerado um
instrumento de identificação e reconhecimento oficial de patrimônio, pois o mesmo não pode
substituir as ferramentas de proteção dos órgãos de preservação do patrimônio. Contudo o
inventário participativo se constitui através da participação social dos indivíduos e viabiliza o
desenvolvimento de relações cidadãs. As experiências registradas são preservadas e servem de
fonte de estudo para os ciclos internos de aprendizado de todos/as os/as envolvidos/as.
Sobre o surgimento do inventário participativo o Iphan (2016) revela:
O Iphan (2016) explica que o Inventário Participativo é um elemento que contribui com
uma mobilização social. No tocante as necessidades culturais, o mesmo contribui com diversas
produções de conhecimento em busca de uma valorização dos bens culturais de uma dada
localidade ou de um país. O desenvolvimento do Inventário Participativo auxilia, inclusive, na
formulação de políticas públicas voltadas a determinados públicos – alvo.
Segundo o Portal do Instituto Brasileiro de Museus, o primeiro benefício que o inventário
participativo proporciona é a autoidentificação das comunidades. Antes que as experiências
culturais sejam transpassadas para outras esferas sociais, o inventário permite que os grupos
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locais possam se autoconhecer. Essa experiência é muito benéfica para o resgate das memórias
históricas, uma vez que retira da invisibilidade raízes culturais de um determinado povo,
dinâmica que contribui com a perpetuação do patrimônio cultural (IBRAM, 2016).
O Portal Ecomuseus (2017) traz reflexões importantes sobre o papel do inventário
participativo:
O Inventário participativo é um dos componentes do processo de Gestão Patrimonial
[...] Corresponde, ao início do processo de patrimonialização, que é feito a partir da
tomada de consciência, por um determinado número de membros duma comunidade
(o maior possível), do território (espaço) e do seu tempo, através dos elementos
relevantes (memórias, objetos, pessoas, tradições, etc.) Trata-se dum trabalho coletivo
que assume funções educativas (ECOMUSEUS, 2017, s/p).
3 ASSESSORIA ABERTA
De acordo com Nonato Júnior (2012, p.122), assessoria aberta caracteriza as atividades
das assessorias executivas desenvolvidas na mediação das necessidades
organizacionais/institucionais. Ou seja, ocorrem ações por meio de programas interculturais
viabilizados por meio de práticas sociais. A assessoria aberta considera os fatores que fazem
parte do cotidiano dos indivíduos, a exemplo de problemáticas culturais e ambientais. Nessa
perspectiva, a gestão secretarial é exercida de modo plural e não convencional.
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Nonato Júnior (2009) reflete que dentro da Assessoria aberta existe uma série de atividades
complexas. Estas configuram um novo perfil do/a Secretário/a Executivo/a. Tal perfil tem implicado em
adequações junto aos recursos humanos, ambientais, culturais, tecnológicos, econômicos e políticos.
Portanto, Secretários/as Executivos/as (inclusive em formação) necessitam aprender como relacionar
especificidades teóricas desses recursos às práticas secretariais.
Oliveira (2011) aponta que dentro do setor de trabalho, o que não precisa ser necessariamente
um escritório, se faz necessário uma dinâmica de planejamento, na perspectiva de gerenciar ações
secretariais. A implantação de redes de suportes entre atores culturais e o meio cultural foi uma forma
de inserir elementos de gestão secretarial durante a prática do projeto RECOSEC, por se tratar de uma
forma equilibrada para se manter um bom funcionamento entre o meio, o projeto, os atores culturais e
os acadêmicos universitários.
Dentro das possibilidades de se exercer a assessoria aberta encontram-se os direcionamentos
transdisciplinares. Extensão repleto de inovação e características que dialogam com fenômenos sociais.
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Assim, através do conceito de Assessoria Aberta, o profissional de secretário desenvolve uma prática
profissional mais dinâmica e imersa em conhecimentos que conversam ente si (NONATO JÚNIOR,
2009).
Calegare e Silva Júnior (2012) defendem que através da transdisciplinaridade é possível obter
visões que superam o contexto científico, fato que ocorre nos limites dos diferentes conhecimentos que
podem se complementar. Os autores ainda afirmam:
Nonato Júnior (2009) colabora dizendo que a Assessoria Aberta Transdisciplinar (AAT)
contribui no desenvolvimento da pesquisa investigativa sobre determinados conhecimentos científicos
justapostos a um dado problema social. Embora o objetivo dessa relação seja extremamente desafiador,
faz evidenciar que o intuito secretarial não é de exercer um mero assessoramento, mas de contribuir para
transformar uma realidade social. Para tanto, o campo formativo da extensão-pesquisa (tem se mostrado
deveras profícuo).
3.2 EXTENSÃO
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Para conhecer mais detalhes dos inventários realizados consulte o site: http://www.ufpb.br/culturasdovale.
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Licenciatura em Letras, Sistema da Informação, têm estabelecido relações de parcerias com foco ações
voltadas à política de patrimônio cultural, inclusive na perspectiva afrocentrada e afro-indígena.
3.3 EXTENSÃO-PESQUISA
4 METODOLOGIA
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diferentes sujeitos no espaço criativo da comunicação que se estabeleça por meio de relações dialógicas,
respeitabilidade e transparência.
Sobre as relações dialógicas, Paulo Freire (2005) nos ensina que são consideradas como um
processo que envolve a constituição do eu e do outro, sendo um meio pelo qual o sujeito busca sua
compreensão na história, permitindo sua transformação na sociedade por uma busca da liberdade.
Desse modo, Almeida e Cardoso (2014) apontam que refletir, elaborar e planejar ações de
forma coletiva, tendo como prioridade o olhar e os discursos, tira o público da situação recipiente de
receber ou adotar para ‘construir’ a lógica da metodologia participativa. Tal lógica orientada por relações
democráticas de humanidade e respeitabilidade tendem a convergir para as dinâmicas da pesquisa
participante.
O RECOSEC desenvolveu atuação articulada à política de patrimônio cultural em cidades do
Vale do Mamanguape/PB. A metodologia participativa foi adotada e executada através do Inventário
Participativo em 05 (cinco) cidades do Vale do Mamanguape foram estas: Mamanguape, Rio Tinto,
Marcação, Baia da Traição, Itapororoca.
Embora as estudantes do curso de Secretariado Executivo participantes do projeto RECOSEC
tenham atuado em 05 (cinco) cidades, cada uma ficou responsável em liderar a Assessoria Aberta em
uma das cidades/polo, motivo pelo qual este trabalho tem foco específico na cidade de Marcação, de
forma mais precisa, na Aldeia Tramataia.
É importante ressaltar que todas as estudantes de secretariado atuaram paralelamente e de
modo coletivo junto ao Laboratório de Práticas Secretariais – LabSec (parte administrativa do projeto)
e nas fases preparatórias de ida à campo. Também atuaram nas atividades de aplicação da ferramenta
(Inventário), coleta de dados e sistematização do Inventário Participativo.
A Aldeia Tramataia situada na cidade Marcação está localizada a 5 km da cidade de Marcação
no estado brasileiro da Paraíba. A maior parte de seus moradores é da etnia Potiguara. A paisagem
natural do lugar se completa pela presença da vegetação do mangue emoldurada pelo tranquilo Rio
Mamanguape. Tramataia vem do tupi e significa erva que cura e é o nome de uma planta medicinal
usada para combater o inchaço provocado pelo contato com as cascas dos crustáceos e moluscos do
mangue.
Na referida Aldeia, inicialmente foi feita uma abordagem junto às lideranças comunitárias,
professores/as e representantes da Escola Estadual Indígena de Ensino Fundamental e Médio Cacique
Iniguaçu e representantes da Fundação Nacional do Índio (FUNAI). O Inventário Participativo, contudo,
foi desenvolvido com os/as professores/as da Escola Estadual Indígena de Ensino Fundamental e Médio
Cacique Iniguaçu (SAMPAIO, 2015).
Visando nos aproximar ao máximo do tema abordado, participamos de encontros formativos
sobre Patrimônio Cultural, o mesmo objetivava inventariar a cultura de cinco cidades: Mamanguape,
Rio Tinto, Marcação, Baia da Traição e Itapororoca. Nos encontros, eram desenvolvidas discussões
sobre a perspectiva de inventariar e qual seria a melhor forma de desenvolver esse fazer.
Nos encontros vivenciados, decidimos em coletivo os momentos estratégicos para realizar as
visitas a campo, que por sua vez ocorriam sempre na presença de um professor supervisor. As formações
subsidiaram o desenvolvimento das ações do projeto e ajudaram a identificar as dificuldades ocorridas,
no intuito de posteriormente solucioná-las, para tanto, o auxílio das produções científicas foram
essenciais. Buscamos informações sobre a temática em artigos e sites especializados, bem como livros
e cartilhas que tratam da temática.
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5. CONCLUSÃO
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REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Aylana Cristina Lima de; CARDOSO, Alexandre Jorge Gaia. Diagnóstico Rápido
Participativo e Matriz Swot: Estratégias de Planejamento Estratégico com Base na Atual
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BILERT, Vania Silva de Souza. Um estudo das práticas de ensino interdisciplinares no curso
de secretariado executivo. Revista Educação, Cultura e Sociedade. v.1, n.04, Guarapuava, p.
132-143, jan/jun, 2014.
BRITO, Diwlay Anne Silva; OLIVEIRA, Irlane Santos Cavalcante; RESENDE, José Walter
Rêgo; FREITAS, Lays Magalhães de. A transdisciplinaridade na construção da prática
psicológica e no campo da clínica. Revista Humus, v. 05, n. 14, p. 75-87, Chapadinha, 2015.
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GONDIM, Sônia Maria Guedes. Grupos focais como técnica de investigação qualitativa:
desafios metodológicos. Paidéia, v. 12, n.24, p.149-161.
HIGGINS, J. M. Innovate or Evaporate - Test and Improve Your Organization I.Q. Florida:
The New Management Publishing Company, 1995.
LIMA, Gercina Ângela Borém. Interfaces entre a ciência da informação e a ciência cognitiva.
Perspectivas em Ciência da Informação. v.15, n. 2, P.108-122, 2010.
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OLIVEIRA, Maria Jordânia Nascimento de; SILVA, zabel Pessoa da; SANTOS, Maria
Luzitana Conceição dos. Os Desdobramentos das Metodologias Participativas em Projeto
de Articulação da Cultura. RECOSEC-UFPB, 2016. Disponível em: <
https://www.google.com.br/search?q=XvI+enex+ufpb&oq=XvI+enex+ufpb&aqs=chrome.69i
57.7164j0j7&sourceid=chrome&ie=UTF-8>. Acesso em: 03. out. 2017.
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SANTOS, Maria Luzitana Conceição dos; GIOVANNINI JÚNIOR, Oswaldo. Mas, será o
Benedito! RECOSEC e a Coletânea de Inventários Participativos do Vale do Mamanguape.
Mamanguape: Editora CCTA, 2018.
SOUZA. Paula. M, NUNES. Emiliana. C.N. A Observação Como Técnica Científica. 30.
jun., 2011. Disponível em: http://pt.slideshare.net/Paulinha2011/a-observao-como-tcnica-
cientfica-de-coleta-e-anlise-de-dados Acesso em: 06. Nov. 2017.
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RESUMO: Esta pesquisa está objetivada em relatar as vivências de estágio executadas em uma
escola indígena no período do Estágio Supervisionado I. Estagiar é o primeiro contato do futuro
educador com a realidade escolar, podendo ser utilizado para a observação do funcionamento da
escola como um todo. O Estágio Supervisionado I nos permitiu estabelecer uma relação estreita com
os conhecimentos teóricos obtidos durante o curso, através de um processo dinâmico de
aprendizagens em situações reais da prática docente. Neste momento, também tivemos a oportunidade
de observar como se dava o processo de ensino e aprendizagem de uma escola indígena. Os índios
nem sempre tiveram seus direitos reconhecidos e nem sua cultura aceita pela maioria dos membros
da sociedade. Todavia, a partir dos aparatos legais foram lhes assegurando direitos sociais e o acesso
à educação básica. Ao que se referem às escolas indígenas, as mesmas devem promover a formação
continuada dos professores índios e não índios, visando incentivar a promoção do ensino da língua
materna e oficial do país, pois, desta forma haverá a diminuição das chances de ocorrer uma omissão
dos direitos dos indígenas. Os currículos aplicados nessas escolas deverão respeitar as necessidades
e os interesses dos indígenas e da sua comunidade favorecendo o resgate e a compreensão de sua
cultura.
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INTRODUÇÃO
Este trabalho apresenta uma reflexão sobre as vivências pedagógicas executadas no Estágio
Supervisionado I no período de 06 de abril a 11 de maio de 2018 na Escola Estadual Indígena de
Ensino Fundamental e Médio Guilherme da Silveira, localizada na Avenida Rio Branco, n° 5466,
Vila Regina, Aldeia Monte Mor, Rio Tinto-PB.
O Estágio Supervisionado I nos traz a possibilidade de fazer uma relação entre teoria e prática,
o que propicia uma experiência no contexto real de nossa formação, além de aprimorar os
conhecimentos necessários à prática pedagógica.
DESENVOLVIMENTO
Considerando-se que nosso estágio ocorreu em uma escola indígena, nos torna necessário
trazer uma discussão acerca dessa temática. A reflexão sobre o papel da educação bilíngue
intercultural não surge somente por razões pedagógicas, mas principalmente por motivos sociais,
políticos, ideológicos e culturais. O nascimento desse movimento pedagógico pode ser situado
aproximadamente há trinta anos, nos Estados Unidos, a partir dos movimentos de pressão e
reivindicação de algumas minorias étnico-culturais, principalmente negras. Na América Latina, a
preocupação intercultural nasce a partir de outro horizonte. Essa abordagem surge no movimento das
populações indígenas (LÓPEZ e SICHRA, 2006).
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específica que possibilite a elaboração de materiais didáticos próprios e específicos para as escolas
indígenas.
A Lei de Diretrizes e Bases, n. 9.394, de 1996, também causou impacto sobre a educação
escolar indígena. O Estado passou a ter o dever de ofertar educação bilíngue e intercultural às
populações indígenas com o intuito de salvaguardar práticas socioculturais e a língua materna dos
povos e comunidades indígenas, bem como lhes assegurar o acesso aos conhecimentos técnico-
científicos da sociedade não indígena (UFG, 2006, p. 28-29).
Art. 78. O Sistema de Ensino da União, com a colaboração das agências federais de
fomento à cultura e de assistência aos índios, desenvolverá programas integrados de
ensino e pesquisa, para oferta de educação escolar bilíngue e intercultural aos povos
indígenas, com os seguintes objetivos:
I - proporcionar aos índios, suas comunidades e povos, a recuperação de suas
memórias históricas; a reafirmação de suas identidades étnicas; a valorização de suas
línguas e ciências;
II - garantir aos índios, suas comunidades e povos, o acesso às informações,
conhecimentos técnicos e científicos da sociedade nacional e demais sociedades
indígenas e não-índias (BRASIL, 1996).
Para o movimento indígena, a educação precisa ser concebida como ferramenta na construção
de uma cidadania sem exclusões, de forma democrática e igualitária, para que na prática haja o
exercício da dupla cidadania, com respeito aos direitos coletivos e às diferenças culturais
(FERREIRA, 2001).
O estágio é uma prática de grande relevância, pois, faz com que os estudantes possam ter não
só uma melhor compreensão das teorias, mas também fazer uma reflexão sobre a prática que será
desenvolvida pelo mesmo ao fim do curso. Essa é uma prática de aprendizado, que estará sendo
desenvolvida por meio das atividades referentes a profissão escolhida.
A experiência do estágio torna-se essencial ao discente, porque dessa forma será possível que
o aluno realize as observações, faça planejamentos, execute e faça avaliações da prática que está
sendo executada.
O professor tem um papel importante na educação, pois, ele será o mediador entre o aluno e
o conhecimento. Em vista disso e de acordo com os teóricos vistos em sala de aula, reconhecemos
que se faz relevante que o professor tenha consciência de sua prática e assim realize seu trabalho da
melhor forma e, com isso atingir os objetivos da aprendizagem.
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Diante disso, vale salientar que a prática pedagógica deve ir além da reprodução dos
conteúdos, ela deve propiciar a construção de novos conhecimentos. O professor deve ter a
preocupação em fazer com que os alunos sejam seres reflexivos e dessa forma, tornem-se capazes de
lutar por seus interesses em meio a sociedade.
Segundo Freire (1996), o professor deve utilizar a autoridade democrática em sua prática para
que dessa forma haja a afirmação de que todo aprendizado adquirido pelo aluno estará construindo
sua responsabilidade da liberdade que se assume. A autoridade democrática trará liberdade para que
o conhecimento seja construído numa relação entre professor-aluno.
Dentro dessas muitas perspectivas na ação docente, o estágio possibilitou o encontro com
realidades, dentro dos contextos de classe, que possibilitaram a reflexão crítica sobre essas ideias e a
percepção das contrariedades existentes entre o que se acredita fazer e o que se faz. Sendo assim, dois
exemplos, enxergados no estágio, podem definir, com exatidão, essas contrariedades presentes na
própria noção de prática.
A observação das práticas desenvolvidas no 5° ano, também dos anos iniciais, foi perceptível,
até pela própria confissão da docente Ana (nome fictício), a utilização de conteúdos não planejados
por si, mas, exigidos pelo estado, a fim de preparar os discentes para as provas que focalizavam a
análise de domínio dos conteúdos, feitas pelas instâncias governamentais. Sendo assim, unida a falta
de participação da própria professora no planejamento de seus conteúdos e o reproduzir puramente,
para a o enquadramento numa lógica de avaliação alheia as realidades de sua própria sala, pode ser a
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causa do desinteresse nos alunos, pois não se enxergando, pouco, refletindo ou tendo a curiosidade
necessária, desmotiva-os. Para Freire (1996, p. 60):
É neste sentido que o professor autoritário, que por isso mesmo afoga a
liberdade do educando, amesquinhando o seu direito de estar sendo curioso e
inquieto, tanto quanto o professor licencioso rompe com a radicalidade do ser
humano – a de sua inconclusão assumida em que enraíza a eticidade.
O que permaneceu, em suma, foi a nitidez da fragilidade dos planejamentos, causando alguns
problemas quanto à própria trajetória e o caminho que deveria ser proposto para que se evitasse a
ausência de envolvimento curioso e desejoso dos discentes. Todavia, a escola em questão mantém
um forte ligamento cultural, neste caso indígena, que une e produz interdisciplinarmente um clima de
pluralidade cultural, reconhecendo a complexidade que envolve a problemática social, cultural e
étnica do município. Esse processo, envolve a integração e engajamento de um trabalho conjunto, de
interação das disciplinas do currículo escolar entre si e a realidade, de modo a superar a fragmentação
existente e buscar a formação integral dos alunos, partindo de sua própria realidade.
CONCLUSÃO
O Estágio Supervisionado I nos permitiu enquanto discentes ter nosso primeiro contato com
a realidade docente, observar os diferentes processos do ensino aprendizagem e as diferentes práticas
pedagógicas aplicadas pelos professores que ora são tradicionais ora são lúdicas, mais ainda, o estágio
nos proporcionou uma reflexão sobre quais caminhos queremos seguir em nossa prática docente e
quais não queremos seguir.
Através do estágio pudemos perceber também o clima institucional da escola, como ela se
organiza, como se dá os planejamentos dos professores, enfim, seu funcionamento como um todo. O
estágio nos permitiu estabelecer uma relação estreita entre os conhecimentos teóricos obtidos durante
o curso através de um processo dinâmico de aprendizagens em situações reais da prática docente.
O fato de termos estagiado em uma escola indígena nos fez perceber a importância dos
educadores e da escola de modo geral em oferecer interdisciplinarmente um clima de pluralidade
cultural, reconhecendo a complexidade que envolve a problemática social, cultural e étnica do
município, trabalhando a formação dos alunos de forma integral, partindo dos conhecimentos da
realidade deles.
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REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei número 9394, 20 de dezembro de
1996.
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Rosângela Célia; CHAVES, Marta; BARROCO, Sonia Mari Shima (Org.). Intervenções
pedagógicas na Educação Escolar Indígena: contribuições da teoria Histórico cultural. 2. ed.
Maringá, PR: Eduem, 2010. p. 53-69.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à pratica educativa. São Paulo: Paz
e Terra, 1996.
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LÓPEZ, Luiz Enrique e SICHRA, Inge. Intercultural bilingual education among indigenous
peoples in Latin America. Cochabamba: PROIB Andes, 2006.
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RESUMO: Este estudo é parte da inicial da nossa pesquisa de mestrado pelo Programa de Pós-
Graduação em Educação PPGE-UFPB. Ao tomarmos a Educação Escolar Quilombola, lugar
silenciado na história da educação brasileira nos solidarizou à luta pela defesa de um ensino
que respeite as especificidades desta modalidade educacional, educar intentando contribuir a
equidade social, é para além dos muros escolares, um contributo para uma sociedade
antirracista. Nesse sentido, ao direcionamos nosso olhar ao contexto escolar, mais
especificamente para a educação escolar quilombola, como parte integrante dessas lutas e
conquistas. Nosso estudo se insere na perspectiva de dialogar acerca do embasamento legal da
educação escolar quilombola. Assim, objetivamos identificar as especificidades da educação
escolar quilombola, ancorada nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar
Quilombola na Educação Básica. Nesse sentido, nos fundamentamos em Saviani (2008), Couto
(1998) e Romanelli (1997), para compreender as bases históricas da educação brasileira;
Ferreira (2012), Leite (20 12), Moura (2007), que nos subsidiaram para o entendimento da
formação dos quilombos; Petronilha (2006), Gomes (2010), Nunes (2010) para compreensão
do ensino na modalidade educacional educação quilombola; Souza (1996) e Freire (1996) para
a importância da práxis pedagógica estar em conformidade à realidade da escola.
INTRODUÇÃO
O objetivo do nosso estudo é discorrer sobre a Educação Escolar Quilombola, que para
tornar-se modalidade educacional, passou por muitas discussões protagonizadas pelo
Movimento Negro, na busca de requerer uma educação, que corrobore para que nos
reconheçamos enquanto partícipes dessa história alunos, professores, pais, comunidade.
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permanece no tempo, desconhecendo-se culturas dos povos não europeus que também têm
permanecido no tempo”. (PETRONILHA, 2007, p. 500).
Esse é na verdade, um grande desafio para educadores e educadoras em todo Brasil,
trazer para o cotidiano escolar, a efetivação de um ensino que respeite a diversidade étnica do
nosso país. Nesse sentido, destacamos a problemática da Educação Escolar Quilombola. Nesse
contexto, ao falarmos em Quilombo nos vem à imagem pré-concebida criada no inconsciente
popular de um agrupamento de pessoas que foram escravizadas, fugidas dos desmandos e da
violência dos grandes latifundiários. Segundo Ferreira (2012) no livro dicionário da educação
do campo
Se em áreas banto da África, kílombò significava sociedades de homens guerreiros,
no Brasil colonial a denominação quilombola passou a designar homens e mulheres,
africanos e afrodescendentes, que se rebelavam ante a sua situação de escravizados e
fugiam das fazendas e de outras unidades de produção, refugiando-se em florestas e
regiões de difícil acesso, onde reconstituíam seu modo de viver em liberdade. (p. 647).
Para Moura (2007) o conceito de quilombo ainda está muito associado ao Conselho
Ultramarino de 1740 “(...) toda habitação de negros fugidos, que passem de cinco, em parte
despovoada, ainda que não tenham ranchos levantados nem se achem pilões neles”. Em
contrapartida, urge a necessidade de redimensionar o conceito de quilombo, visto que, as
comunidades quilombolas não têm um único formato, ou seja, são difusas e diversas em sua
constituição e nas formas de se relacionar, pois, suas construções são alicerçadas em suas
histórias e lutas. Na visão de Leite (2012) “o quilombo metaforiza um quadro mais amplo que
pode ser vinculado ao que vem sendo visto como a própria África no imaginário do chamado
mundo ocidental”. (p. 295).
Nesse viés, as últimas décadas do século XX, mas especificamente, no período de
redemocratização do país, bem como, pelas reinvidicações do Movimento Negro, conquistaram
a sustentação legal por meio da Constituição Federal de 1988, haja vista, as determinações do
artigo 68 (ADCT). Desta feita, Leite (2012), compreende que a Carta Magna de 1988, atribui
ao quilombo “o reconhecimento da cidadania e territorialidade negada aos descendentes dos
africanos”. (292). Assim, a garantia dos direitos territoriais aos remanescentes das comunidades
quilombolas propõe que se faça um redimensionamento do conceito de quilombo, sobretudo,
compreende a população negra brasileira como sujeitos de direitos.
Tendo em vista que o movimento do tempo, as relações sociais estabelecidas e a
resistência ampliam o poder simbólico no que se refere à identidade étnica, principalmente,
pelo requisito da autoatribuição o sujeito passa a ser reconhecido pelo Estado como sujeito de
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Desse modo, os quilombos passam a representar uma organização própria, por meio de
ações mútuas de solidariedade, a utilização comunitária da terra, a liberdade para práticas
culturais e religiosas construíram um modelo de sociedade. No qual, criassem um sentimento
de pertença, que vai além da posse da terra, propriamente dita, mas que interligasse os sujeitos
que moram no local as relações com o território e com os meios de subsistência.
A educação para as relações étnico-raciais vem tomando espaço pela preocupação de uma
educação que atenda as especificidades de um ensino pautado na realidade dos alunos. Ao
compreendermos a conjuntura da formação brasileira, fica visível que as desigualdades de hoje são
heranças das desigualdades de outrora, que persistem e devem ser combatidas.
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É, salutar destacar, que as políticas afirmativas para superação das desigualdades raciais
no âmbito educacional, iniciaram-se de forma organizada a partir dos anos 2000, desembocando
na discussão profícua de temas como diversidade, equidade educacional e educação antirracista,
que por sua vez, foram desenvolvidos pelo Ministério da Educação (MEC), em atendimento a
uma demanda, que historicamente reclama por seu direito à educação.
A partir da implementação da Lei 10.639/2003 que altera a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, Lei 9394/96, em seus artigos 26-A e 79-B, garantindo a obrigatoriedade
do ensino de história e cultura Afro-brasileira, além disso, deverá fomentar um trabalho pautado
no reconhecimento e valorização das nossas matrizes africanas, enquanto aspectos da nossa
identidade e cultura, bem como, contributo para sanarmos as disparidades ainda existentes em
relação à cultura Afro-brasileira.
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É na cultura e na vida social que nós aprendemos a enxergar as raças. Isso significa
que aprendemos a ver as pessoas como negras e brancas e, por conseguinte, a
classificá-las e a perceber suas diferenças no contato social, na forma como somos
educados e socializados, a ponto de essas ditas diferenças serem introjetadas em nossa
forma de ser e ver o outro, na nossa subjetividade, nas relações sociais mais amplas.
Aprendemos, na cultura e na sociedade, a perceber as diferenças, a comparar, a
classificar. (p. 23)
Desse modo, ao promover um fazer escolar que aproxime a realidade dos alunos ao
ensino formal escolar, ou seja, é preciso uma educação que ultrapasse os muros escolares,
aprender para a vida tendo compreensão de que é um sujeito histórico e cultural, atenuando-se
a correção das desigualdades históricas e sociais que reincidem sobre grupos étnicos na
sociedade.
seguiram estão ancoradas nas especificidades que caracterizam a educação quilombola, sendo
instituída, a partir disso, como modalidade escolar.
Partindo deste pressuposto, a educação deverá ser pensada considerando suas especificidades,
nesse caso a educação quilombola em interface às demais modalidades, passam a ser concebida pelo
princípio da igualdade, equidade e respeito as suas diferenças. Desse modo, dentro das demais
modalidades de ensino é preciso um olhar para a educação quilombola, como pensar a educação de
Jovens e Adultos na realidade quilombola, a educação do campo, a educação especial.
Dentre as ações realizadas no panorama paraibano, podemos destacar, a Resolução nº
198/2010 que regulamenta as diretrizes curriculares para a educação nas relações étnico-raciais
e o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana, bem como, da história e cultura
indígena no sistema estadual de ensino da Paraíba, nos artigos segundo e terceiro, estão
expressos:
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Para Souza (2006) são processos educativos em realização, situados no tempo e cultura,
organizados de forma intencional, práticas interligadas ao conhecimento necessário a atuação
social. Do mesmo modo, compreende a ação coletiva institucional, a afetividade, a construção
de conteúdos pedagógicos educacionais, instrumentais e operativos, que coadunem para
garantia de condições subjetivas e objetivas para o crescimento humano de todos os seus
sujeitos. (Souza, 2006).
Igualmente, Souza, estabelece que ao relacionarmos escola e educação, devemos ter
cautela para não incorrermos o erro de reduzirmos meramente a escolarização, mas é necessário
que nos atenuemos que a práxis pedagógica compreende um “tempus” e um “lócus” de
realização intencional e organizada da educação. Congruente a isso, no Título II, das diretrizes,
versa sobre os Princípios da Educação Escolar Quilombola,
I -direito à igualdade, liberdade, diversidade e pluralidade;
II -direito à educação pública, gratuita e de qualidade;
III -respeito e reconhecimento da história e da cultura afro-brasileira como elementos
estruturantes do processo civilizatório nacional;
IV -proteção das manifestações da cultura afro-brasileira;
V -valorização da diversidade étnico-racial;
VI -promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, credo,
idade e quaisquer outras formas de discriminação;
VII -garantia dos direitos humanos, econômicos, sociais, culturais, ambientais e
do controle social das comunidades quilombolas;
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Conclusão
REFERÊNCIAS
______. [Lei Darcy Ribeiro (1996)]. LDB: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional:
lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação
nacional. 5ed Brasília: Câmara dos Deputados, Coordenação Edições Câmara, 2010.
_______. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico- Raciais
e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Brasília: MEC/SEF, 2004.
Disponível em: <http://www.uel.br>. Acesso: 12/09/2018.
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FREIRE, Paulo. Educação como Prática da Liberdade/ Paulo Freire. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1983.
GOMES, Nilma Lino. Educação, relações étnico-raciais e a Lei nº 10.639/03: breves reflexões.
In: BRANDÃO, Ana Paula (org). Modos de fazer: caderno de atividades, saberes e fazer.
Rio de Janeiro: Fundação Roberto Marinho, 2010.
Nunes, Georgina Helena Lima. Educação Quilombola. In. Orientações e Ações para a
Educação das Relações Étnico-Raciais Brasília: SECAD, 2010.
ROMANELLI, Otaíza de Oliveira. História da Educação no Brasil. 19. Ed. Petrópolis (RJ):
Vozes, 1997.
SAVIANI, Dermeval. História das Ideias Pedagógicas no Brasil. 2. Ed. Campinas (SP):
Autores Associados, 2008.
SOUZA, João Francisco de. Concepção de práxis pedagógica. In: BATISTA NETO, José;
SANTIAGO, Eliete (Orgs.). Prática pedagógica e formação de professores. Recife:
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SCHWARCZ, Lilia M.; STARLING, Heloiza M. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia
das Letras, 2015.
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Resumo: A presente pesquisa objetiva investigar como ocorre o preconceito racial que começa
em redes sociais digitais e ganham força no espaço escolar. Para isso, conhecer anseios,
frustações e experiências do ambiente virtual foi fundamental para nos ajudar a compreender
como os discursos violentos, que muitas vezes começam no ambiente escolar, ganham força no
digital ou, em sentido inverso, começam no ambiente digital e ganham força na escola,
impactam tão profundamente a vida das vítimas. Foi, ainda, realizado, a aplicação de um
questionário para alunos, de forma que eles expressassem suas possíveis realidades dentro do
tema em destaque. Apesar de muitos jovens já terem sofrido discriminação na rede ou terem
visto algum post que incitasse o preconceito, a pesquisa apontou que a maioria dos entrevistados
não comentam nem denunciam tais atos, acreditando que foram “apenas brincadeiras”. Diante
disso, nós, que ocupamos o papel privilegiado de educadores, não podemos ignorar os fatos,
crendo que a situação não é relevante.
1 Introdução
Os danos causados por esse tipo de preconceito estão por toda parte. Nos mais diversos
livros didáticos, quando estudamos a história do Brasil, por exemplo, identificamos seus rastros.
Conforme Oliveira (1997), de todas as situações de preconceito racial a que mais marcou a
história da humanidade foi a escravidão.
Os negros vindos do continente africano, que estão entre as maiores vítimas da
escravidão brasileira, eram arrancados da sua pátria e transportados nos porões dos navios
negreiros em condições desumanas. Ao chegarem no Brasil, os negros eram vendidos como
escravos, obrigados a trabalhar e viver precariamente, além de serem constantemente castigados
e torturados por seus senhores, cujo objetivo era destruir os valores e as crenças africanas,
forçando-os a aceitar a ideia de inferioridade intelectual, cultural, moral e psíquica dos
escravizados.
A rigor, a escravidão no Brasil ocorreu no período de 1530 a 1888, quando a princesa
Isabel promulgou a Lei Áurea (NABUCO, 1999), que consistiu em libertar todos os escravos.
Todavia, atualmente, ainda identificamos muitos casos de preconceito contra o povo negro
através de olhares, ações, agressões verbais e, nos casos mais sérios, físicas. Não há hora ou
lugar, qualquer situação que envolva um negro é passível de uma abordagem preconceituosa.
Nos últimos anos, diversas leis foram criadas visando o combate às práticas que
inferiorizam uma pessoa apenas por causa da cor da pele. Sistemas de cotas também foram
inseridos em concursos e seleções oficiais do governo federal no intuito de dirimir a grande
exclusão sofrida pelos negros no Brasil.
A popularização da Internet e, consequentemente, das redes sociais, permite a interação
entre milhões de pessoas, das mais variadas maneiras. Cada indivíduo, agora, tem a
possibilidade de comunicar-se não só com seus amigos, mas com diversos grupos e
comunidades. Conflitos, portanto, são inevitáveis. Esses espaços configuram-se, então, como
meios abertos para a propagação de ações que incentivam, entre outras coisas, o preconceito
racial.
Para Marteleto (2001, p. 72), rede social é o “conjunto de participantes autônomos,
unindo ideias e recursos em torno de valores e interesses compartilhados”. Ao transpor a
metáfora de rede para o ambiente online, Recuero (2009) define rede social digital como a “teia
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de conexões que espalham informações, dão voz às pessoas, constroem valores diferentes e dão
acesso a esse tipo de valor [capital social]” (p. 25). Tal capital, de acordo com Marteleto e
Oliveira e Silva (2004), são “normas, valores, instituições e relacionamentos compartilhados
que permitem a cooperação dentro ou entre os diferentes grupos sociais” (p. 44).
O objetivo desse trabalho, então, é fazer um breve estudo sobre o poder do preconceito
racial nas redes sociais digitais, a partir de comportamentos observados em estudantes com
idades entre 14 e 15 anos, que assistem aulas de Acompanhamento Pedagógico (Reforço
Escolar), no Centro de Aprendizagem Cantinho da Criança (Alagoinha/PB).
Por ser uma temática que merece destaque na sala de aula e nas mais diversas
instituições de ensino, propomos um estudo que incite a reflexão das práticas educacionais
vigentes, realçando a importância da inclusão da internet e suas plataformas como ferramentas
aliadas da educação.
Para trazer evidências mais concretas para a discussão, decidimos fazer um recorte do
objeto. Escolhemos uma amostra de 10 (dez) alunos: sendo 5 (cinco) do sexo masculino e 5
(cinco) do sexo feminino, alunos da única turma de 8º ano que funciona na instituição de ensino
já evidenciada. É importante ressaltar que a turma escolhida para a análise é composta
majoritariamente de negros e pardos.
Utilizamos um questionário como instrumento de coleta de dados, na tentativa de
compreender como os discursos violentos ganham força na rede, e qual o impacto deles na vida
das vítimas. O Facebook foi escolhido como exemplo de rede social digital porque a análise
dos questionários apontou a plataforma como uma das mais usadas entre os jovens pesquisados.
Todos os dados sobre os alunos foram obtidos a partir da aplicação de questionário em sala de
aula.
As questões versavam sobre os hábitos dos jovens na web e sobre os discursos
envolvendo o preconceito racial nos sites de redes sociais. Investigamos, também, se os jovens
agem em defesa dos inferiorizados e humilhados, se apenas ignoram as postagens ou, em caso
de serem as vítimas, perguntamos como se sentem após os comentários e atitudes
preconceituosos.
A análise dos resultados apontou que o preconceito racial é diligente no ambiente
digital, aparecendo, muitas vezes de forma mascarada e indireta, com ares de humor e
brincadeira. Justamente por isso, muitas vítimas não comentam nem denunciam as postagens.
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Concluímos que o preconceito racial precisa ser combatido mais efetivamente, e que a
escola, nesse sentido, exerce um papel essencial de formação de cidadãos mais críticos,
tolerantes e engajados socialmente.
Com a propagação da internet a partir dos anos 2000, outra via de comunicação e
entretenimento começou a ganhar força: os sites de redes sociais. As redes sociais digitais são,
hoje, um dos meios mais utilizados na comunicação entre jovens e adolescentes. Munidos de
toda sorte de dispositivos móveis e computadores, eles trocam informações em qualquer lugar
e horário.
Na escola não é diferente: discutem sobre a agenda escolar, compartilham atividades,
combinam trabalhos, conversam sobre os colegas de classe e sobre os professores. Os
estudantes, muitas vezes mais fluentes na linguagem digital do que a escola e os professores,
precisam de uma mediação que imprima um caráter mais ético e cidadão à experiência online.
Afinal, se situações de desrespeito e preconceito já eram comuns no ambiente escolar,
com o advento dos sites de redes sociais, tornou-se ainda mais corriqueiro. Esses espaços, hoje,
configuram-se como grandes plataformas de expressão de opinião que, diante de indivíduos
com intenção má, transformam-se em armas que machucam, ofendem e disseminam o
preconceito. O racismo, por exemplo, aparece na segunda posição entre os crimes de direitos
humanos na internet, atrás apenas das infrações que envolvem a pornografia infantil.
O racismo é um assunto que gera grandes polêmicas. Quase sempre, causa dor e
sofrimento, pois expõe seres humanos à vergonha, ao ridículo. Muitas vezes, ocorre de forma
camuflada ou em tom de brincadeira. No Brasil, especificamente, o racismo age sem demonstrar
a sua rigidez, não aparece à luz, é ambíguo, meloso, pegajoso, mas altamente eficiente em seus
objetivos (MOURA, 1994, p. 160). A verdade é que tendo ou não a intenção de inferiorizar os
negros, brincadeiras e palavras precisam ser bem pensadas antes de serem proferidas.
Para Cavalleiro (2005, p. 19), a identidade refere-se a um contínuo sentimento de
individualidade que se estabelece valendo-se de dados biológicos e sociais. Assim, a identidade
resulta da percepção que temos de como os outros nos veem. A partir de tal observação, é
possível afirmar que o racismo é uma herança de um processo de escravidão, de mão-de-obra
barata e da exploração daqueles que se consideram fortes sobre os que são julgados como
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fracos. Fica fácil perceber, então, que racismo e escravidão são palavras muito próximas, são
resultados de interesses econômicos e sociais.
Diante dessa realidade, percebemos a urgência de políticas públicas educacionais que
aliem o combate ao preconceito racial ao uso das redes sociais digitais nas escolas de forma
planejada e eficaz. É necessário utilizar esse espaço para estimular a discussão entre os jovens
e os educadores, criando uma forma de intervenção e debate, até então, inexistente em grande
parte dos estabelecimentos de ensino no país. Trata-se de um novo papel a ser incorporado pelas
escolas. Afinal, a partir do fenômeno das redes digitais, a aprendizagem ultrapassou os limites
físicos da sala de aula.
As instituições de ensino têm, agora, a função de formar professores aptos a promover
a sinergia entre as suas propostas pedagógicas e a aplicação dos recursos digitais, além de
mediar o uso desses canais na aprendizagem e nos projetos interdisciplinares. O ideal, então,
não é simplesmente criar espaços de troca de experiências, mas fazer um planejamento para o
uso desses ambientes. Afinal, interação não significa automaticamente comunicação, e as
tecnologias não são apenas ferramentas (Lion, 2005).
É de suma importância, portanto, que os educadores estejam preparados para usar a
tecnologia, transformando-a em um instrumento a serviço da conscientização. Construir um
ambiente que favorece o aprendizado é um dos grandes desafios dos professores, pois a inserção
dos jovens em campanhas e projetos que visam a cidadania e o bem comum tem perdido terreno
não só na sala de aula, como também em termos culturais (Silva, 2005).
É nosso desafio seguir sustentando uma bússola pedagógica que nos oriente
sobre quando se justifica, em termos éticos, políticos, didáticos, cognitivos e
sociais, incorporar tecnologia na sala de aula para favorecer processos ricos
na construção de conhecimento. É nosso desafio seguir lutando, não só por
um acesso equânime a estas tecnologias, como também por usos e
apropriações equitativos que permitam dar conta da diversidade cultural e
cognitiva, de instituições que aprendam das tecnologias e, com elas, de uma
comunidade educativa que se preocupe com a inclusão, solidariedade,
colaboração e conhecimento (LION, 2005, p. 211).
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O aluno já está na internet. Esse fato precisa levar a escola a incorporar um novo papel.
Muitas comunidades mais afastadas dos centros urbanos possuem acesso à rede mundial de
computadores, seja através de Lan House ou por telefones celulares. A escola também precisa
estar conectada, fazendo não apenas um uso instrumental da Internet, mas criando a
oportunidade para um uso crítico e ético da rede.
(...) uma atividade ao mesmo tempo crítica e criativa. Proporciona aos jovens
os recursos críticos que precisam para interpretar, entender e (se for preciso)
questionar os meios que permeiam sua vida cotidiana, mas, ao mesmo tempo,
lhes oferece a capacidade para produzir seus próprios meios, para serem
participantes ativos da cultura dos meios, em lugar de serem meros
consumidores (BUCKINGHAM, 2002, p. 187)
O uso das redes sociais digitais ajuda o educador a sair de um modelo de educação
centrado na relação vertical para introduzir o modelo de rede, no qual a informação dissemina-
se, mobilizando os alunos, motivando-os para o aprendizado. É através da educação e da
reconstituição da memória histórica que o combate a esse aprendizado de intolerância acontece.
O docente precisa, então, introduzir a temática do preconceito no cotidiano da sala de aula e as
redes sociais digitais, como o Facebook, podem ser excelentes aliadas.
O professor é um facilitador que deve estimular o debate. A escola, por sua vez, precisa
investir na qualificação profissional, ajudando o docente a assumir a sua função social, e
fazendo do ambiente escolar um espaço de resgate da autoestima e de promoção da autonomia.
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3 Abordagem metodológica
O objetivo desse artigo é fazer um estudo sobre o racismo nas redes sociais digitais, em
especial no Facebook. Analisando como acontece e como pré-adolescentes se comportam
diante desses acontecimentos. Sendo assim, realizamos um estudo empírico, isto é, uma
pesquisa dedicada ao tratamento da "face empírica e fatual da realidade que produz e analisa
dados obtidos através da experiência e da vivência" (Demo, 2000, p. 21).
Ao se observar a grande participação de adolescentes na rede social do Facebook, com
idades entre 14 e 15 anos, idade na qual já é permitido o acesso a esse espaço virtual, partimos
da observação e aplicação de um questionário. Os nomes dos respondentes foram resguardados,
atendendo aos preceitos da ética em pesquisas com seres humanos. Vale ressaltar que
possuímos autorização para realização da pesquisa, junto aos alunos e seus responsáveis, bem
como a instituição.
Quanto à forma de abordagem do problema, a pesquisa classifica-se como qualitativa,
com fins exploratórios e explicativos. Pensando nos meios de investigação, fizemos um
levantamento bibliográfico em sites, periódicos e livros que abordam os temas propostos,
tornando possível uma identificação mais precisa dos fatores que determinam e contribuem para
a ocorrência dos fenômenos estudados.
A escolha desse grupo ocorreu pelo fato de estarem mais próximos aos pesquisadores,
terem acesso regular à Internet, e por se autodeclararem, majoritariamente, negros ou pardos.
O estudo de caso refere-se, então, a uma pesquisa empírica que investiga um fenômeno atual
dentro do seu contexto de realidade (GIL, 2008).
Yin (1994, apud ARAÚJO et al. 2008) afirma que esta abordagem se adapta à
investigação em educação, quando o investigador é confrontado com situações complexas, de
tal forma que dificulta a identificação das variáveis consideradas importantes, de modo que o
pesquisador procura respostas para o “como?” e o “porquê?”, buscando encontrar interações
entre fatores relevantes próprios dessa entidade, desta feita o objetivo é descrever ou analisar o
fenômeno, a que se acede diretamente, de uma forma profunda e global.
Como instrumento de coleta de dados, elaboramos um questionário, com 10 (dez)
questões, sendo 6 (seis) abertas e 4 (quatro) de múltipla escolha, que foi respondido em sala de
aula. As questões versavam sobre uso das redes sociais, sobre postagens preconceituosas e
sobre o comportamento dos jovens diante dessas postagens e seus desdobramentos. Ao todo,
10 (dez) jovens foram entrevistados.
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O questionário foi importante para nos dar um panorama da reação dos jovens diante do
preconceito racial. Os resultados apontaram para um discurso de exclusão do negro e para a
necessidade de se trabalhar essas temáticas dentro da escola e da sala de aula.
4 Resultados e discussões
parecesse óbvia, 2 (dois) alunos disseram não acreditar que a exposição pessoal em sites como
o Facebook ou Instagram aumentem as chances de sofrerem algum tipo de discriminação.
Questionados sobre uma possível participação em uma campanha nas redes sociais
contra o preconceito racial, todos os alunos, afirmaram que apoiariam a ideia e gostariam de
contribuir. Perguntamos, ainda, se algum docente em escolas nas quais eles tinham estudado já
havia trabalhado com discriminação racial ou outro tema crítico aliado às redes sociais digitais
a partir de discussões iniciadas em sala de aula.
A resposta negativa foi unânime. Até o momento, nenhum projeto foi proposto, e
nenhuma atividade foi realizada. Temas tão relevantes e canais que podem estimular o interesse
e o aprendizado ficaram relegados ao esquecimento em um momento tão crucial para esses
jovens.
Torna-se evidente, então, a importância de que nós, enquanto educadores, não apenas
busquemos qualificações para repassar os conteúdos de forma didática e eficiente, como
ocupemos os postos de mediadores do conhecimento, estimulando em nossos alunos a
autonomia, a consciência e a crítica. Os jovens precisam ser incentivados à construção
responsável do conhecimento para que, assim, possam se tornar cidadãos conscientes,
participantes de uma sociedade, verdadeiramente, plural e democrática.
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Considerações finais
Acreditamos que há uma necessidade urgente de que políticas públicas mais efetivas
voltadas para a comunidade escolar sejam desenvolvidas. A elaboração de projetos, atividades
e oficinas que se beneficiem das novas tecnologias e plataformas digitais, em especial dos sites
de redes sociais, visando, especificamente, o combate à discriminação racial, também são
determinantes.
Um ponto bastante relevante apontado pela pesquisa foi a enorme vontade dos jovens
de participar de alguma iniciativa que trabalhe com as questões raciais nos espaços virtuais.
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Todavia, a impressão que temos é que muitos desses interesses não são valorizados, estimulados
ou trabalhados adequadamente em rodas de diálogo, em atividades aliadas à tecnologia e suas
ferramentas, em dinâmicas que favoreçam a aprendizagem interativa e inclusiva nas escolas de
ensino regular.
É certo que o sucesso de qualquer ação que vise o combate ao preconceito nas redes
depende do esforço, treinamento e motivação de todos os profissionais envolvidos no processo
de ensino e aprendizagem. O engajamento das escolas, portanto, é fundamental. As redes
sociais digitais encaixam-se, justamente, nesse ponto: facilitam a comunicação, proporcionam
a aprendizagem colaborativa e oferecem oportunidade para exercitarmos a ética e a cidadania
digital.
A pesquisa foi fundamental para nos ajudar a compreender como os discursos violentos,
que muitas vezes começam no ambiente escolar, ganham força no digital ou, em sentido
inverso, começam no ambiente digital e ganham força na escola, impactam tão profundamente
a vida das vítimas.
Apesar de muitos jovens já terem sofrido discriminação na rede ou terem visto algum
post que incitasse o preconceito, a pesquisa apontou que a maioria dos entrevistados não
comentam nem denunciam tais atos, acreditando que foram “apenas brincadeiras”. Diante
disso, nós, que ocupamos o papel privilegiado de educadores, não podemos ignorar os fatos,
crendo que a situação não é relevante.
A partir do momento que a comunidade escolar se empenhar verdadeiramente, criando
atividades e projetos que abordem o preconceito racial de forma real e não superficial,
estaremos não só contribuindo para uma escola mais justa, mas também para uma sociedade
menos preconceituosa. Nesse momento, os alunos passarão a agir como reprodutores daquilo
que é trabalhado dentro do ambiente escolar, estimulando e levando o grupo social no qual está
inserido a pensar um pouco mais sobre seus próprios posicionamentos, sobre como agem diante
de uma pessoa que não possui a mesma cor de pele que a deles.
É necessário, ainda, que os educadores abandonem, talvez, o medo da superexposição e
todos os possíveis pré-conceitos relacionados ao uso das redes sociais digitais. As redes sociais
criam novos espaços e oportunidades que facilitam a comunicação e a aprendizagem. A
publicação de textos, vídeos, imagens e comentários dos usuários criam uma rede de interação
e compartilhamento de informações que precisam serem aproveitadas de forma eficiente pelos
professores. O docente precisa transformar-se em mediador do debate e curador do conteúdo,
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Referências
ARAÚJO, Cidália et al. Estudo de Caso. In: Métodos de Investigação em Educação. Instituto
de Educação e Psicologia, Universidade do Minho, 2008. Disponível em:
<http://grupo4te.com.sapo.pt/estudo_caso.pdf.> Acesso em: 20 nov. 2017.
ARAÚJO, U. F. O déficit cognitivo e a realidade brasileira. In: AQUINO, Julio Groppa. (Org.)
Diferenças e preconceito na escola: alternativas teóricas e práticas. 5. ed. São Paulo, SP:
Summus, 1998.
LION, C. N. Novas maneiras de pensar o tempo, espaço e sujeito. Madrid: Amorrortu, 2005.
MOURA, Gloria. Ilhas negras num mar mestiço. In: Carta falas, reflexões, memórias.
RIBEIRO, Darcy. Brasília 4, n.13, 1994.
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RECUERO, R. C. Redes sociais. In: SPYER, J. (Org.). Para entender a internet. Não Zero,
2009. Disponível em:
<http://stoa.usp.br/oerworkshop/files/1333/7925/Para+entender+a+Inte> Acesso em: 19 set.
2017.
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UFPB/CE, gabynayara@live.com
UFPB/CE/PPGE, vilmaletramento@gmail.com.
-UFPB/PPGE, claudiacavn@yahoo.com.br
RESUMO: O presente artigo tem com um dos principais objetivos construir motivações para
mobilizar estudos para o fortalecimento da educação para as relações étnicas raciais na
modalidade da educação quilombola. Uma necessidade científica no campo das ciências
humanas e sociais, e que vem sendo apontada nos diferentes espaços de discussão desta área de
pesquisa, principalmente nos espaços escolares paraibanos. O fortalecimento dessa modalidade
de educação pode vir a contribuir para que essa prática social fomente conhecimentos relevantes
na atuação de uma prática da educação para as relações étnicas raciais. A modalidade da
pesquisa qualitativa foi a escolha coletiva para a construção de diretrizes deste trabalho, através
da pesquisa bibliográfica. A revisão bibliográfica foi feita a partir de um levantamento de
materiais publicados em eventos, livros, artigos científicos, e teses de mestrado e doutorado.
Selecionamos autores e obras significantes sobre o tema nas linhas de políticas educacionais,
os documentos oficiais também fizeram parte desta escolha. Além de olhares para estudos sobre
identidades negras que merecem destaque na problematização do tema. As diretrizes teóricas
metodológicas desse estudo indicam a educação para as relações étnicas raciais como um
princípio de ação cidadã no âmbito da escola pública quilombola.
INTRODUÇÃO
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Há o pressuposto de que a escola é o espaço que promove a educação como direito humano
básico para a formação da pessoa, e deve proporcionar direitos de condições, para que haja a
permanência e o bom aproveitamento do alunado, atuando na construção de uma escolarização que
contemple, além do conhecimento sistematizado, sua identidade, valores e cultura.
Desse modo, concebe-se a educação na perspectiva quilombola, como um processo amplo que
inclui a família, as relações de trabalho, a convivência com os outros, a cultura, os valores históricos e
ideológicos, os movimentos sociais e outras organizações na comunidade, os quais influenciam a
vivência na escola. Esses parâmetros sinalizam para a educação como uma prática de liberdade, na
leitura do filósofo Paulo Freire.
Desse modo, a fim de fomentar e promover discussões a respeito da problemática dessa postura
de negligência da escola enquanto formadora, de não contemplar o que está previsto nas orientações
documentais, desenvolve-se o estudo sobre a (Re) definição da identidade negra no contexto escolar:
um olhar para a educação como prática de liberdade. O tema em estudo encontra argumentação nos
ordenamentos legais que legitimam a implementação, e de outro, temos a forma de como a escola, no
cotidiano de suas atividades, vem construindo a identidade afrodescendente dos sujeitos que nela
buscam a educação enquanto estado de direito. Desse modo, a investigação pretende compreender,
nessas práticas educativas, com bases nas referências de estudos, que discursos sobre a identidade
circulam no contexto das escolas inseridas nessas comunidades negras, e como se reproduz na
escolarização dos sujeitos-alunos.
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Para poder identificar no cotidiano o porquê de práticas de exclusão que vem constituindo esse
cenário, entendendo que a escola enquanto instituição educativa deveria questionar ou questionar-se
sobre o modo de conceber as diferenças. Com o desenvolvimento da pesquisa e a obtenção das respostas
através da coleta de dados, pretendemos promover discussões e reflexões a respeito do tema da pesquisa,
como também, buscar elementos para estratégias de atuação (da) na política de um currículo escolar
(micro) voltado para a educação das relações étnico-raciais, de valorização das identidades quilombolas
e da cultura local, modificando paulatinamente uma prática escolar excludente, com formação
continuada, palestras, minicursos e eventos centrados na pluralidade cultural, em prol de crianças e
jovens que negam a sua ancestralidade, em virtude da falta de comprometimento da escola com as
Diretrizes Curriculares Nacionais e, principalmente, com a história e a cultura afrodescendente das
comunidades remanescentes de quilombo.
Por essa razão, a trajetória do grupo nos conduz a olhar a temática, que elege o cotidiano escolar
como espaço para investigação dos/das pesquisadores (as) na segunda etapa desse estudo.
A identidade negra nas práticas escolares constitui-se também como um espaço contraditório,
onde as desigualdades são produzidas. A considerar a negligência da escola enquanto instituição
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formadora, no que se refere à valorização da cultura étnica nas escolas inseridas nas comunidades
remanescentes. Como também, há uma intensa resistência e dificuldade de inserir no currículo escolar
a temática: História e cultura afro brasileira na agenda da proposta pedagógica das escolas.
O cotidiano nas instituições nos revela que não se prepararam para compreender as diferenças
na diversidade. O silenciamento nas salas de aula e no sistema educacional sobre esta temática confirma
as lacunas que fortalecem os conflitos presentes na linguagem, no livro didático, no discurso
hegemônico, assim como reforçam a ausência de indicadores oficiais sobre o processo de escolarização:
evasão e aproveitamento.
É nesse contexto de reflexão das problemáticas que o artigo se movimenta à luz da pesquisa
bibliográfica sobre a (re) definição e a representação da identidade negra no contexto das escolas,
buscando identificar que sentidos o discurso ao longo da História produziu sobre identidade, e como a
escola significa esses sentidos e reproduz no processo de escolarização.
Tais estudos abrangem uma dimensão relevante, porque a partir dele pode-se contribuir para
que essa prática social gere conhecimentos relevantes para a educação para as relações étnico raciais.
As propostas curriculares, a fim de que se abra o espaço para a constituição de diferentes concepções
docentes, com foco na diversidade e na valorização da identidade étnica dos sujeitos-alunos que fazem
parte do contexto escolar quilombola, legitimando práticas docentes voltadas para a interculturalidade e
a valorização da história e cultura quilombola.
A partir de uma listagem feita pelo grupo de pesquisadores foram selecionados o referencial
teórico nas áreas de conhecimento que tratam da constituição de identidades étnico-raciais, de escolas
em comunidades quilombolas da diversidade cultural e sua relação com o currículo escolar, o que está
atrelado ao nosso objeto de estudo.
Então, tomamos como suporte teórico a linha de Representação e Identidades, com tendência
no pós-estruturalismo. Esta linha, segundo Paraíso (2004), é a que mais tem sido explorada pelas
pesquisas pós-críticas em Educação no Brasil; e está focada nos estudos de Silva (2011), Hall (2014),
Bauman (2005), entre outros.
valores dos sujeitos inseridos em comunidades remanescentes de quilombo, que tem nas DCN’s para a
Educação das relações étnicas raciais e para o ensino da História e Cultura afro-brasileira e africana,
fundamentada na Lei 10.639 - uma espécie de “política de reparação” para as populações negras.
(DIVERSIDADE PARAÍBA, 2014).
Existem vários conceitos para se pensar Resistência. Nas áreas das ciências humanas e da
natureza, resistência pode ser definida como a capacidade de determinado organismo de resistir a danos,
mudanças bruscas ou simples, de um determinado fato advindo de consequências ou não, a partir de
possíveis variantes extremos. Já a partir do seu vocabulário crítico, Silva (2000) conceitua que;
Quando nos referirmos à Resistência Negra, é de senso comum pensar numa trajetória de lutas,
perdas e recomeços, e mesmo depois de anos exigindo igualdade de direitos, pensar igualdade e
equidade no mundo atual, continua sendo utopia.
Diante da realidade apresentada nos questionamos sobre como se dá a (re) definição da representação
de identidades negras no contexto escolar, a literatura nos aponta a olhar para o discurso racista e para
o discurso antirracista como mecanismo conceitual que descreve o perfil identitário dessa população.
Partindo desse pressuposto, quais identidades estão postas na arena de disputas política e ideológicas no
âmbito escolar? Como elas são apresentadas na sociedade?
Nesse contexto, os Estados Unidos já lidavam com dois diferentes tipos de ordem jurídica num
mesmo Estado de direito para brancos e negros. Aponta-se o Jim Crow Laws (Leis de Jim Crow) que
perdurou entre os anos de 1876 a 1964. Segundo Massey e Denton (apud Andrade e Silveira, 2013)
brancos e negros eram segregados nos espaços públicos. Passado esse período, os
índices que medem a segregação não foram reduzidos e tiveram como consequência
a concentração de famílias em situações desvantajosas em alguns bairros. (MASSEY
e DENTON, 2013, P. 387)
As consequências desse período conturbado ficaram marcadas nas famílias e nas seguintes
gerações que sofriam com as altas taxas de desemprego e criminalidade, recorrentes mesmo diante do
fim das leis de Jim Crow, 88 anos após o seu início. Em 1964, o Senado aprova a Lei de Direitos Civis,
criada pelo então presidente John Fitzgerald Kennedy, em 1963, que contraria toda a segregação racial,
pondo fim, legalmente, no discurso de ódio disfarçado em lei, o que é um dia histórico a ser lembrado
nos Estados Unidos.
Assim como nas Leis de Jim Crow, o Apartheid consolidou institucionalmente uma série de
limitações à população negra na África do Sul. Casamentos inter-raciais não eram permitidos, as escolas
eram delimitadas para negros, cujo objetivo eram formar pessoas para a classe trabalhadora
exclusivamente, além de bairros residenciais separados e exclusão da vida política do país. Desde o
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momento em que foi ditado leis que segregavam negros e suas ocupações na sociedade, os grupos de
resistência tomavam força contra a discriminação racial.
Um dos líderes à frente de um dos grupos era Nelson Mandela (1918-2013). Foi preso 27
vezes, sofreu punições físicas e verbais por lutar a favor do direito ao povo negro do seu país. Em 1990,
o Apartheid dava indícios de seu declínio, como consequência de punições econômicas impostas pela
ONU e como resultado da participação negada nas Olimpíadas de 1964. Com isso, Frederik Willem de
Klerk torna-se o último presidente branco, embora tenha buscado reverter o Apartheid. Nesse período
de transição de políticas com perspectivas positivas para o povo negro, Mandela é libertado da prisão,
tornando-se, anos depois, o primeiro presidente negro da África do Sul, contando com a participação da
população negra nos votos.
A segregação racial teve papel extremamente presente nas sociedades e suas culturas, como
tentativa de normalizar e institucionalizar o preconceito racial através de discursos e leis moralistas e
excludentes, sem mínimas chances de defesa à população negra. Resistir foi a única saída e melhor
solução, na busca por princípios morais e éticos que respeitem a liberdade individual de cada ser.
Apontado alguns dos principais marcos históricos quando se fala de segregação e resistência
negra, vejamos agora um recorte de seus reflexos em nível global, sul-americano e brasileiro, resgatando
fatos antecessores para que se fundamente o momento atual.
RESISTINDO E PERSISTINDO
Nos Estados Unidos, em 1955, um dos episódios de racismo, legitimados pelas leis de
segregação racial que ainda estavam em vigor, era, na verdade, um estopim a mais na luta de resistência
às opressões raciais vivenciadas na época. O episódio ocorre quando uma mulher negra, Rosa Parks,
recusa a dar seu assento a um homem branco, e que, por resistir, é presa como forma de punição.
Obviamente não foi fácil ter resultados positivos diante do caso de discriminação sofrido pela
Rosa Parks. A ideia do boicote organizado por Luther King culminou na sua prisão que perdurou 382
dias, assim como tortura e invasão de domicilio quando o mesmo ainda não encontrava-se preso. A sua
representatividade tornou-se nacional, compactuando com a luta de direitos civis no movimento negro
como um todo.
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Com a Marcha sobre Washington por Trabalho e Liberdade com mais de 200.000 pessoas, que
teve grande repercussão, é aprovada, em 1963, a lei que põe fim a segregação social do país, dando
início a tão desejada legislação de direitos civis. É uma conquista fundamental para o movimento negro,
que tem no discurso de autoria de (KING, 1963) uma possibilidade de trégua quando diz; “Eu tenho um
sonho: o de que, um dia, nas colinas vermelhas da Geórgia, os filhos dos antigos escravos e os filhos
dos antigos senhores de escravos poderão se sentar juntos à mesa da fraternidade.” (Martin Luther King,
discurso na Marcha de Washington, 1963.)
O NEGRISMO CUBANO
Este movimento teve início no século XX, cujo principal objetivo foi promover a cultura cubana
negra, através da literatura. “Ao contrário de lamentarem-se pela sua condição racial, os ativistas do
movimento enalteciam a cor do povo negro em suas obras, [...] tendo como principal expoente o poeta
negro Nicolás Guillén”. (DOMINGUES, 2005, p.3). Nos seus poemas, Guillén (1902-1989) fazia
referências à cultura negra, africana e cubana, de modo que, quem ler, fica instigado a compreender o
que o autor vê. Em um de seus poemas, Nicolas Guillen retrata um deus da cultura africana:
Outro aspecto importante a ser destacado [...]. Nas danças dedicadas a Elégua, um
deus travesso de origem africana, a dançarina usa um pequeno pau que é movido de
um lado a outro para afastar a maldade ou para abrir caminho na selva. (RIBEIRO,
2010, p.46).
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A rumba
Agita sua música espessa
com um pau
Jengribe e canela ...
Mau!
Ruim, porque agora virá o cafetão preto
com fela.3
(1-7)
Guillén também teve algumas de suas obras publicadas nos Estados Unidos. 500 cópias foram
publicadas numa tentativa de permitir a compreensão de quem ler, sobre as semelhanças entre os negros
da Cuba e os negros dos Estados Unidos, destacando aspectos culturais similares entre suas nações,
conforme acentua Oliveira (2012).
Não podemos falar de resistência negra, sem mencionar a escravidão no Brasil. Quando
falamos em resistência, neste caso especificamente, o conceito vai além de resistir como forma de tentar
escapar e fugir. A resistência foi também física e psicológica, de todas as maneiras possíveis. Enquadrar-
se nos moldes de outros povos, fazer trabalhos árduos, exaustivos e desumanos, ver suas famílias sendo
abusadas de todas as formas possíveis por anos e não ter nenhum tipo de direito ou qualidade de vida, é
de fato, algo terrivelmente triste.
Mas a vida dos escravos em nosso país não se resumia à mera condição de força de
trabalho, de instrumento passivo dos grupos dominantes, supostamente os únicos
agentes da história. Se deviam submeter-se às condições impostas por uma sociedade
exploradora e violenta, coube também aos negros escravos criar uma estratégia de
sobrevivência e, até mesmo, uma nova identidade, que lhes permitisse viver o seu dia-
a-dia. (BIBLIOTECA NACIONAL, 1988, p.11)
3
Trecho original: “La rumba;/revuelve su música espessa/con un palo/Jengribe y canela…/¡Malo!/
Malo, porque ahora vendrá el negro chulo/
con fela.
Disponível em: https://www.poesi.as/ng3108.htm Acesso em: 29 de setembro de 2018
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Antes da criação da Lei Áurea, leis como a do Ventre Livre, de 1871 que permitia a liberdade
de crianças de mães escravas, Lei Eusébio de Queirós em 150, cujo objetivo foi proibir a entrada de
africanos no Brasil e a Lei dos Sexagenários que permitia a libertação de escravos com mais de 65 anos,
em 1985, foram tentativas falhas e insuficientes para a abolição da escravidão no Brasil.
Nos anos que se sucederam, em meados de 1888, a lei que dava a liberdade aos escravos foi
finalmente criada, levada ao Senado Imperial para votação, e, em 13 de maio, oficialmente promulgada.
Pensando no processo de abolição à escravatura como algo incompleto, nascia em 1988 a União
de Negros pela Igualdade (UNEGRO), cujo objetivo é combater o racismo, enfrentar as desigualdades
de gênero e classe, assim como a conjuntura atual política para com a população negra.
Dessa forma, a trajetória que percorremos nessa pesquisa bibliográfica aponta para novos
estudos para mobilizar a Educação para as Relações étnico-Raciais, como uma educação essencial para
a prática política para as escolas quilombolas.
CONSIDERAÇÕES
A história social das nações é fortemente demarcada por uma série de movimentos e ações que
constituem grandes lutas em defesa de povos, culturas, políticas civis, educação e a crítica sociedade.
Nos dias atuais, percebe-se a resistência em várias formas e comportamentos. Na escola, um de seus
importantes papéis é desconstruir a pragmática concepção de desigualdade advinda de um passado cruel
das sociedades, tal qual, a cor da pele era a forma determinante de prestigio e direito social civil. Mesmo
presente nos dias atuais, nota-se a constante luta em prol da defesa dos direitos constituintes á população
negra do mundo, assim como a garantia a seu acesso e permanência na escola, universidade e no circulo
de pessoas que gerem e constituem políticas de direitos e deveres civis.
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A pesquisa também tem função importante na luta por reconhecimento das trajetórias
vivenciadas no conflito de interesses entre as relações étnico raciais, visto que, para além do
reconhecimento enquanto fato histórico visa-se a busca por interferir na propagação de atitudes e
conceitos isolados e rasos da realidade, modificando-os através de práticas e estudos embasados na
autonomia do sujeito e o respeito á diversidade. Dado isto, nota-se a necessidade dos grupos de pesquisa
nas universidades com a postura da investigação e a intervenção social, quando necessária.
Assim como na pesquisa, a intervenção social que gere a autonomia do sujeito em ser e estar,
deve estar atrelada a uma educação emancipadora, dialógica e contextualizada. Sendo portanto,
assegurada e afirmativa quanto ás políticas de educação nas redes de escolas públicas tais quais Base
Nacional Comum Curricular, Lei de Diretrizes e Bases e Plano Nacional da Educação, por exemplo.
REFERÊNCIAS
EAGLETON, Terry. A ideia de cultura. Tradução de Sandra Castello Bronco. São Paulo: UNESP,
2005.
ELIO, C. F. [et al]. Diversidade Paraíba - Indígenas, religiões, afro-brasileiras, quilombolas e ciganos.
João Pessoa: Ed. Grafset, 2014.
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GUIMARÃES, Antonio S. Alfredo. Combatendo o racismo: Brasil, África do Sul e Estados Unidos.
1999. Disponível em: http://www.scielo.bdf/rbcsoc/v14n39/1724.pdf Acesso em: 18 de maio de
2018.
MATTELART, A. Introdução aos estudos culturais. São Paulo: Parábola Editorial, 2004.
MINAYO, M. C. Ciência, técnica e arte: o desafio da Pesquisa Social. In: _____. (Org.) Pesquisa social:
teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes, 2001.
PALMARES FUNDAÇÃO CULTURAL. Martin Luther King, um ícone da luta por igualdade e
paz. 2011. Disponível em: http://www.palmares.gov.br/archives/9934. Acesso em 19 de maio de
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_____. Teoria cultural e educação – vocabulário Crítico. Belo Horizonte: Autêntica 2000. 128p
(Estudos Culturais, 4).
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RESUMO: O presente artigo trata da importância dos quatro elementos da natureza: Terra,
água, ar, fogo, no ritual dos povos Potiguara da Paraíba, em diálogo com a vivência de biodanza,
que por meio da música conectam com esses diversos elementos sagrados da natureza contidos
na expressão corporal. Para isto, fundamentamos este trabalho à luz de alguns teóricos como
Barcellos (2014), Sarpe (2017), que possibilitam perceber um possível diálogo e conexão da
espiritualidade Potiguara na expressão de seus rituais com os elementos cósmicos vivenciados
no movimento da biodança. Utilizamos uma metodologia qualitativa, descritiva, respaldada em
discussões teóricas, tendo influência o contexto social categorizado no tempo presente, voltado
para as vivências e acontecimentos recentes. A expressão desses elementos seja no ritual
Potiguara e na vivência de biodança, estão interligados, conectados como partes integrantes do
processo cosmológico tão presente no ritual e crença indígena, como na vivência do movimento
de biodança, possibilitando experiências espirituais de equilíbrio, de harmonia consigo e com
as forças da natureza.
Palavras-chave: Potiguara.Rito.Espiritualidade.Biodança.
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho visa tratar a espiritualidade no ritual dos Potiguaras, a partir dos
quatro elementos da natureza: terra, água, ar e fogo em conexão com a vivência na biodança.
Utilizamos uma abordagem metodológica qualitativa, descritiva. A abordagem metodológica
pressupõe aquilo que Barros (2011), afirma ser a maneira de trabalhar algo, eleger ou constituir
materiais, de se movimentar sistematicamente em torno do tema. “A pesquisa começa com a
nossa convicção de que essa é uma atividade inteiramente social, que nos une àqueles cuja
pesquisa usamos e, da mesma forma, àqueles que usarão a nossa”. (BOOTH; COLOMB;
WILLIAMS, 2005, p.325). O ritual Potiguara se conecta com essas forças cósmicas da natureza
para invocar os ancestrais, as curas, renovando suas forças na divindade parte integrante da
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espiritualidade da nação Potiguara. Esses elementos simbólicos são sagrados nos rituais de
vivencia de biodança, que se concretizam por meio dos arquétipos, e expressões das divindades
por meio da dança. Esse movimento da vivência da biodança,a expansão dos elementos da
natureza em intensidade e conexão com o sagrado que está em cada ser humano , numa
expansão das forças interiores com as forças cósmicas. Tudo isto, permite-nos nutrir de uma
espiritualidade contendo uma alma indígena. No entanto, este dialogo é processual, até porque
tudo na natureza se harmoniza, se unifica e se transforma em continuo processo de renovação
e integração do ser humano com a natureza.
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O território Pitikara (Potiguara) senhores dos vales, tem na água a sua fonte de criação
uma vez que é gerado numa bolha de água, dentro de uma bolsa com liquido amniótico no
ventre da mãe. (BARCELLOS, 2012, p.123). As matas, o rio, as cachoeiras, são uma força
espiritual que vitaliza e fortalece o ritual e o cotidiano dos povos Potiguara.
Na natureza tudo se transforma, se recria, se renova, assim como nossos corpos. Estar
conectados com a energia cósmica nos faz sentir partículas do universo é um sinal de que
estamos vivos e parte integrante desses elementos sagrados da criação. Nosso corpo organismo
vivo constituído de terra, água, ar e fogo. Somos seres cosmológico em processo de
transmutação.
A natureza, a árvore tem um valor simbólico e sagrado no ritual dos Potiguara, cultivado
desde os ancestrais nos rituais de cura, da preparação da jurema e da energia dos espíritos dos
ancestrais. Esses elementos da natureza são energias sagradas expressa no cotidiano da prática
desses povos sobretudo nos seus rituais. Tudo é sagrado dentro do ritual e na relação com os
elementos da natureza.
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4 CONCEITUANDO BIODANÇA
A biodança foi criada na década de sessenta, pelo antropólogo Chileno Rolando Toro
Aranëda. Ele assim a define:
A biodança definida por Rolando Toro (1991, p.3) como “[...] um sistema de integração
afetiva, renovação orgânica e reaprendizagem das funções originárias da vida, baseadas em
vivências, induzidas pela dança, pelo cantoe situações de encontro em grupo."
A vivência, sendo a base da metodologia da biodança, baseia-se na experiência vivida
com grande intensidade no momento presente, que envolve a cinestesia, as funções viscerais e
emocionais. Confere uma qualidade existencial de modo intenso do aqui e agora.
A metodologia da Biodança conduz o indivíduo às vivências de integração, através de
uma imediata conexão consigo mesmo, reforçadas pela associação com situações prazerosas,
estimuladas pela música, pela dança e pelas situações de encontro. (TORO, 2002, p.29-30).
A base metodológica da biodança é a vivência. A vivência tem um valor intrínseco e
um efeito imediato de integração, razão pela qual não é necessário que seja posteriormente
analisada no nível da consciência. Na biodanza, propõe-se uma descrição das vivências
pessoais, enquanto experiências interiores, sem análise ou interpretação psicológica. As
expressões psicológicas das potencialidades genéticas são as vivências, as emoções e,
sentimentos. De acordo com Toro (2002, p.86), " [...] uma das finalidades da Biodança consiste
em garantir os eco-fatores que permitam a expressão das potencialidades genéticas da
vitalidade.” A seguir veremos estas cinco linhas de Vivências que promovem o
desenvolvimento desta identidade relacional.
Através desse modelo vivencial, estas dimensões denominadas de Linhas de Vivencias:
Afetividade, Criatividade, Vitalidade Sexualidade e Transcendência são possibilidades
geradoras de vida e de aprendizagem no processo de evolução e desenvolvimento do potencial
do ser humano vinculado com a própria vida.
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Os quatros elementos definido por Rolando Toro como uma proposta de “[...] integração
onto-cosmológica, tem por objetivo a ativação desses arquétipos do inconsciente coletivo –
‘imagens eternas’” (SARPE, 2017, p. 187).
Para tanto, na vivência de biodança, evocamos diversas danças de fluidez, ritos da água,
dança da água do lago (o olho tranquilo que recebe a luz e reflete e faz o mundo), água da
imaginação que ecoa, água do leite materno e a água que embala. (SARPE, 2017, p. 197).
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O fogo emite luz e calor, o que tanto pode significar criação (no sentido
de amor, paixão, centelha divina ou energia solar) como destruição
(raio, vulcão, destruição atômica, inferno, paixão desenfreada). Vital e
erótico, chama a atenção para a importância da alegria e da celebração.
(SARPE, 2017, p.190).
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho teve como foco possibilitar um diálogo tendo como base a vivência
do ritual espiritual dos Potiguaras, baseada nos quatro elementos da natureza, fazendo uma
conexão com os aspectos metodológicos da biodança, expressos linhas de vivências:
Afetividade, Criatividade, Vitalidade, Sexualidade e Transcendência, nos quais os quatro
elementos da natureza estão conectados com as forças divinas da natureza, dos ancestrais, dos
espíritos e da processo harmônico na vivência de biodança.
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REFERÊNCIAS
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UFPB, 2014.
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Pessoa. Editora UFPB, 2015.
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BOFF, Leonardo.Saber cuidar: ética do humano, compaixão pela terra. Petrópolis, RJ:
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VILHENA, Ângela Maria. Ritos: Expressões e Propriedades Temas do Ensino Religioso.São
Paulo:Paulinas, 2005.
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Resumo: Este trabalho é o resultado de uma intervenção pedagógica e tem por objetivo geral
estimular a valorização da identidade negra entre crianças da Educação Infantil, na perspectiva
da educação e cultura afro-brasileira, envolvendo as várias linguagens da arte: dança, música,
pintura e desenho. Para tanto, tomamos como aporte teórico-metodológico a pesquisa
participante, que mais se aproxima do objeto de estudo. Na construção dos dados
desenvolvemos diversas intervenções pedagógicas, junto aos discentes da Creche “Tia Glauce”,
situada no Município de Bananeiras - PB. Tomamos como referências as contribuições teóricas
de autores como: Munanga (2005), Moura (2005), Andrade (2005), Adams (2009), Lopes
(2005), Theodoro (2005), Lima (2005), além dos documentos oficiais da Lei nº 10.639, de 9 de
janeiro de 2003, “As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-
raciais para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana”; os Referenciais
Curriculares para a Educação Infantil, entre outros. Os dados construídos e analisados
revelaram que os alunos afrodescendentes muitas vezes apresentam pouca alta-estima e veem
a cor negra como algo feio, por terem características físicas diferentes dos padrões impostos
socialmente, neste sentido apresentamos uma proposta concreta por meio de intervenções
pedagógicas, a fim de propiciar discussões e reflexões da valorização da identidade negra.
Percebemos que o diálogo aberto com respeito às diferenças de cada sujeito que forma nosso
grupo de convivência é o principal ponto de partida para o combate ao preconceito e a
discriminação racial.
1 Introdução
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cidadania não se constitua como privilégio de uns poucos, mas direito de todos, deve ser a
grande meta a ser perseguida por todos os segmentos sociais” (LOPES, 2005, p. 188).
Com base nos conhecimentos teóricos e práticos da temática estudada, observamos que
dentro da sala de aula havia comportamentos preconceituosos de alguns alunos com relação aos
seus colegas afrodescendentes. Deste modo, entendemos que a busca por uma nação onde o
exercício da cidadania seja o direito de todos e não privilégio de alguns, deve ter como meta a
construção do conhecimento e a desconstrução dos preconceitos.
A intervenção pedagógica ocorreu na creche “Tia Glauce”, localiza à zona urbana do
município Bananeiras/PB, com as crianças da turma do jardim II, de 04 a 05 anos. Com as
quais, foram realizadas diversas experiências significativas que buscaram possibilitar a
interação social e ao mesmo tempo o desenvolvimento físico, cognitivo e corporal, respeitando
suas individualidades e especificidades.
O desenvolvimento de práticas pedagógicas na perspectiva da cultura afro-descente na
Educação Infantil oportuniza desconstruir preconceitos e os estereótipos de que os negros são
inferiores aos brancos, além de suscitar outros questionamentos: quais as concepções que as
crianças têm do negro? Como contribuir na valorização da identidade da criança negra? Afim
de responder tais indagações, tomamos como objetivo geral: estimular a valorização da
identidade negra entre crianças da Educação Infantil, na perspectiva da educação e cultura afro-
brasileira, envolvendo as várias linguagens da arte: dança música, pintura e desenho.
Assim temos como objetivos específicos contribuir na formação dos alunos da Educação
Infantil, promovendo discussões acerca das questões étnico-raciais e seus desdobramentos no
cotidiano escolar; investigar a construção da identidade negra e diversidade da cultura afro-
brasileira; fortalecer o respeito ao outro e a si próprio, às regras, aos valores e às normas; instigar
o reconhecimento étnico, ou seja, reconhecer-se como negro.
Para o desenvolvimento deste trabalho tomamos como aporte teórico-metodológico a
‘pesquisa participante’, por este tipo de investigação exigir que o pesquisador faça parte do
processo de ação social, refletindo sobre os conflitos e desenvolvendo ações que busquem
modificar a realidade dos sujeitos. (ADAMS, 2014).
Os públicos desta pesquisa foram às crianças da creche “Tia Glauce” do município de
Bananeiras/PB, matriculadas na turma do jardim II, as quais participaram de atividades
centradas na educação étnico racial na Educação Infantil, entendendo-as como fundamental
para a construção de uma sociedade que prime pela igualdade de direitos e deveres, inerentes a
uma sociedade democrática.
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deverão ser considerados iguais e com os mesmos direitos e deveres, estão no centro dos
questionamentos do movimento negro no Brasil.
No trabalho de intervenção, buscamos unir a teoria e a prática partindo do princípio da
pesquisa participante, que tem como característica a intervenção direta do pesquisador no
campo de estudo, visando alcançar uma mudança significativa após sua atuação. “Nesta
compreensão a pesquisa participativa constitui-se numa produção intersubjetiva de
conhecimento na relação estabelecida por um pesquisador-educador com os seus pesquisandos-
educandos e vice-versa (ADAMS, 2009, p. 5).
Dentro desta perspectiva metodológica buscamos a interação das crianças no decorrer
das atividades, efetivadas por meio de uma intervenção pedagógica, com o pleno envolvimento
do pesquisador durante todo o processo de desenvolvimento destas atividades, levantamento e
descrição dos dados.
Assim, compreendemos a prática pedagógica como uma ação fundamental para a
intenção social com condições estruturadas, ora objetivamente e ora subjetivamente para a
mobilização de estímulos, experiências e vivencias que proporcionem o processo de
aprendizagem de cada sujeito social.
As atividades desenvolvidas ao longo do trabalho foram organizadas a partir do objetivo
geral: Estimular a valorização da identidade negra entre crianças da Educação Infantil, na
perspectiva da educação e cultura afro-brasileira, envolvendo as várias linguagens da arte:
dança música, pintura e desenho.
As intervenções foram realizadas em novembro de 2014. Iniciamos a primeira atividade
abordando o tema: “os povos negros e a formação da nação brasileira”, ressaltando as
contribuições da população afrodescendente no Brasil. Expomos vídeos, figuras e fotos que
contribuíram com a discussão da temática, ampliando o universo das crianças acerca do negro
e suas origens.
Na segunda atividade foi trabalhado o tema: “As danças afrodescendentes”. Com o
auxílio de vídeos que instigaram as crianças a dançarem ao som da música afrodescendente. Já
na terceira atividade, enfatizamos a contação de história infantil por meio da exposição oral e
de vídeo, tendo como objetivo conhecer histórias infantis de origem afrodescendentes, a fim de
valorizar a identidade negra.
A quarta atividade tratou das “brincadeiras”, objetivando promover a interação e o
respeito por si mesmo e pelo o outro. Na sequência, a quinta atividade abordou o tema, “A
religião afrodescendente”, com o propósito de conhecer a diversidade religiosa dos povos
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afrodescendentes, tendo o auxílio de vídeos que mostram práticas religiosas dos povos africanos
e afrodescendentes.
A sexta e última atividade, teve como característica central a apresentação do trabalho
para a comunidade escolar da Creche “Tia Glauce”, com a exposição dos trabalhos produzidos
durante os quinze dias letivos, em que ocorreu o desenvolvimento desta intervenção
pedagógica.
As atividades estiveram inseridas dentro do currículo escolar fazendo parte das aulas de
Língua Portuguesa, Matemática e Artes, convergindo para as orientações das Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de
História e Cultura Afro-Brasileira e Africana que afirmam que a obrigatoriedade de inclusão de
História e Cultura Afro-Brasileira e Africana nos currículos da Educação Básica deve compor
o currículo escolar e não criar uma nova disciplina, assim oportunizamos vivências que
valorizam as experiências sociais de cada um, buscando desenvolver a valorização da
identidade negra.
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Percebemos que durante o processo criativo das crianças, estas representaram as pessoas
que estavam em seu círculo familiar ou de amizade: o avô, a avó, um tio, uma tia, um primo,
uma prima, o pai, a mãe, casas, carro, brinquedos, etc. Elas também desenharam crianças
brancas, com cabelos loiros, sem atentar para o que foi pedido. Ao questionar sobre a falta da
representação do negro nos desenhos, ouvi a seguinte afirmação: “Professora, negro é feio”.
Ao ouvir tal afirmativa entendemos que o sentimento de inferioridade se faz presentes
no cotidiano das crianças negras, talvez por serem vítimas de comentários maldosos, estes
relembram as referências negativas da história de seus antepassados.
O silêncio brasileiro na reflexão sobre o tema do racismo na sala de aula, e os
chavões de preconceituosidades difundidos por uma historiografia pouco
questionada, temos um resultado que aponta para a não aceitação ou a negação
da própria imagem. Todas as crianças acabam depreciando essa identidade em
formação (LIMA, 2005, p. 104).
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A abordagem dos contos de fadas e lendas no ambiente da sala de aula deve contribuir
para amenizar a violência simbólica, que inferioriza e humilha o povo negro e afrodescendente,
cuidando para impedir que crianças brancas que elas são superiores às crianças negras, trazendo
para a roda de conversa, personagens de origem africana e afrodescendente que lutam por seus
direitos civis e que ocupam cargos considerados importantes na nossa sociedade.
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Para que a cobra fique maior é permitido que a serpente junte sua mão daqueles que já
foram picados e forme uma corda para picar o restante. O jogador que não for picado ganha a
brincadeira (CUNHA; FREITAS, 2014). Esta brincadeira possibilita ao aluno, o
desenvolvimento de sua agilidade e habilidades motoras.
Trabalhamos também a brincadeira do “meu querido bebê” (originado da Nigéria).
Nesta brincadeira um jogador é escolhido pelo educador para sair da sala, enquanto outro
jogador é escolhido para se deitar no chão, para que em seguida, os colegas desenhem o corpo
do jogador que está deitado (CUNHA; FREITAS, 2014). Com base no contorno do corpo do
jogador que ficou deitado no chão, o jogador que saiu da sala terá que adivinhar o jogador que
é o bebê, caso consiga adivinhar quem é o bebê ganha pontos e continua na próxima rodada,
mas se errar deixa a vez para outro colega. Ganha a brincadeira quem acumula mais pontos.
Durante a brincadeira fomos dialogando sobre a importância de se observar e valorizar o colega
com respeito.
A terceira brincadeira foi “MbubeMbube” (originado da gana, é uma das palavras ‘zulu’
usada para denominar o leão). Neste jogo, todos estão ajudando o leão a capturar o “empala”.
O jogo começa com todos formando um círculo, um jogador é escolhido para ser o leão e outro
para ser o “empala” (CUNHA; FREITAS, 2014). De olhos vendados, dois jogadores são
girados, e estes devem permanecer dentro da roda, onde o leão deverá tentar pegar o empala.
Quando o leão se aproxima as crianças cantam “MbubeMbube” o mais alto que poder para
indicar ao leão que ele está perto de pegar o empala. Essa brincadeira busca desenvolver a
atenção dos alunos que estão de leão e empala, e principalmente, familiarizar os alunos com
palavras de origem africana (CUNHA; FREITAS, 2014).
Com uma quarta brincadeira, denominada “saltando o feijão”, o mediador deve escolher
um aluno que será “o coletor”, este deve utilizar de uma corda para colher os feijões, devendo
girar a corda no chão envolto dos outros jogadores, que estão em volta formando um círculo e
pulando a todo tempo para que a corda não os toquem. O que for atingido sai da brincadeira,
ganha quem ficar por último.
Esta brincadeira permite interação entre as crianças e a formação de laços afetivos entre
cada participante, contribuindo para a desconstrução de preconceitos, diminuindo os atos
racistas no cotidiano escolar.
Concordamos que brincando a criança se expressa e construí conhecimento, diante disso
esperamos ter dado o primeiro passo para o processo de aceitação e convivência com todos os
grupos sociais de nossa sociedade, contribuindo para a educação de cidadãos brasileiros
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orgulhosos de sua origem étnica, conhecedores das formas culturais utilizadas por seu povo de
origem para se divertir e construir valores, regras e normas, respondendo às exigências
apresentadas nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico Racial
e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira, a qual preconiza ações educativas e de
combate ao preconceito, por meio, da
A participação das crianças nas atividades propostas foi primordial para alcançarmos os
objetivos traçados, ao perceber que os conhecimentos construídos a partir do patrimônio e da
cultura afro-brasileiros apresentado às crianças despertaram o desejo em conhecer as origens
do povo africano e afrodescendente brasileiro. Por meio desta atividade, percebemos a interação
e o envolvimento das crianças como ferramentas fundamentais para a construção de uma
convivência solidaria e respeitosa entre os afrodescendentes e as outras crianças.
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negra no nosso cotidiano. A socialização possibilitou uma resposta à comunidade por meio dos
resultados obtidos durante o trabalho da pesquisa participante, tal qual afirma Adams (2009, p.
11).
Concluímos que a exposição das atividades voltadas para a formação dos alunos da
Educação Infantil, promoveu discussões acerca das questões étnico-raciais e seus
desdobramentos no cotidiano escolar, bem como a interação com a comunidade escolar, além
de ter criado o espaço de desenvolvimento social da criança, com o aprimoramento da
linguagem oral, do movimento corporal e da expressão artística. Através deste momento de
exposição pelas próprias crianças, os pais, professores e funcionários da instituição também
manifestaram interesse pela temática trabalhada, tendo se tornado um momento de diálogos
sobre o preconceito e o racismo, o que nos motivou a desenvolver outros trabalhos nesta linha
do conhecimento.
3 Conclusão
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Foi oportunizada uma reflexão sobre os pequenos atos, gestos e atitudes existentes no
convívio, no que se refere a apelidos desagradáveis que agredia e ofendia as crianças
afrodescendentes, além de buscar romper com a prática da separação dos alunos
afrodescendentes do grupo de colegas por causa da cor da pele. Identificamos e trabalhamos o
distanciamento dos alunos afrodescendentes nas realizações das atividades pedagógicas, muitas
vezes ocasionadas pela baixa autoestima, que cria a auto exclusão.
Buscamos despertar no aluno sua autoestima, valorizando sua herança religiosa por
meio da apreciação da histórica e da cultura, por entendermos que a escola deve desenvolver
ações que estimulem um ensino religioso que tenha como fundamento a história e a cultura das
diversas religiões, e não um caráter catequético. A atividade docente é árdua e difícil, mas é na
escola que devemos encontrar espaço para discussões e intervenções que valorizem a formação
humana com todas as suas especificidades e particularidades da essência humana.
Esta intervenção criou o sentimento de satisfação ao observarmos o desenvolvimento e
os resultados alcançados, ainda que seja necessário desenvolver várias outras ações de
reconhecimento e fortalecimento da identidade negra no âmbito escolar da creche “Tia Glauce”,
entendemos que um primeiro passo foi dado na caminhada do estudo da história da África e da
cultura afrodescendente, utilizando o diálogo e a reflexão na temática, considerando que todos
precisam viver dignamente, em busca de uma cultura de paz em sociedade e com a natureza.
As crianças desenvolveram maior autonomia no que se refere ao cuidado próprio e com
os outros, dando ênfase a livre expressão e a criatividade. Além de ter demostrado avanços na
capacidade de se relacionar, atribuindo significado às experiências vividas por cada um, no
decorrer das intervenções pedagógicas. As quais contribuíram na construção de boas relações
sociais, o conhecimento da cultura afro-brasileira e sua importância no processo de formação
da sociedade brasileira.
Esperamos ter despertado em cada criança, a capacidade de respeitar o outro, de
construir relações sadias de convívio social, sendo capazes de reconhecer a cultura afro-
brasileira e sua importância no processo de formação da sociedade brasileira.
Assim acreditamos ter efetuado uma prática pedagógica comprometida com um
currículo contextualizado, combatendo qualquer tipo de preconceito, e instigando a reflexão da
comunidade escolar da “Creche Tia Glauce”, sobre as questões étnicas raciais. As práticas
antirracistas dentro da escola dependem, de certo modo, da ação consciente do docente, ao
desenvolver exercícios, projetos pedagógicos, oficinas e discursões em sala de aula, a partir de
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4 Referências.
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<http://www.laab.ufpa.br/phocadownload/laabpublicacoes/Apostila%20Jogos%20infantis%2
0africanos%20e%20afro-brasileiros.pdf>. Acesso em: 20/10/2014.
LIMA, Heloisa Pires. Personagens Negros: Um Breve Perfil na Literatura Infanto-Juvenil. In:
MUNANGA, Kabengele (Org). Superando o racismo na escola. 2 ed. Brasília: Ministério da
Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2005, p. 101-115.
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marcinhamedeiros2@gmail.com
lusivalb@gmail.com
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INTRODUÇÃO
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DESENVOLVIMENTO
Utilizar-se-á a expressão campo, e não a mais usual, meio rural, com o objetivo
de incluir no processo da conferência uma reflexão sobre o sentido atual do
trabalho camponês e das lutas sociais e culturais dos grupos que hoje tentam
garantir a sobrevivência desse trabalho. Mas, quando se discutir a educação do
campo, se estará tratando da educação que se volta ao conjunto dos
trabalhadores e das trabalhadoras do campo, sejam os camponeses, incluindo
os quilombolas, sejam as nações indígenas, sejam os diversos tipos de
assalariados vinculados à vida e ao trabalho no meio rural. Embora com essa
preocupação mais ampla, há uma preocupação especial com o resgate do
conceito de camponês. Um conceito histórico e político... (KOLLING; NERY;
MOLINA, 1999, p. 26 apud CALDART, 2012, p. 260).
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Figura 1 – Maracá
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Fonte: www.joaopessoa.pb.gov.br/cultura-dos-potiguara-e-tabajara.
Mística vem do adjetivo grego mystikos, derivado dos verbos myo (fechar
olhos e boca, para gerar um mistério internamente) e myeo (penetrar no
mistério). Entre os gregos, “mística” significava, a princípio, a iniciação nos
mistérios, na qual uma pessoa se unificava com o destino da divindade e
passava a participar do poder divino. Mas Platão concebeu também uma ideia
filosófica da mística, que descreveu como a ascensão da alma à contemplação
espiritual de Deus. Para a filosofia neoplatônica, a mística é o conhecimento
de uma verdade oculta de mistério, um conhecimento que só aquele que se
desliga do mundo pode obter, podendo, assim, contemplar mais
profundamente o âmago da divindade. (GRUN, 2012, p. 09)
Diante da citação e das imagens acima em aldeias indígenas na Paraíba, percebemos uma
relação com o sagrado, o transcendente aquilo que está além de nós humanos, onde o maracá e o
cocar são elementos essencialmente presentes nas celebrações indígenas, inclusive no ritual
sagrado toré onde
O maracá para os povos indígenas da Paraíba está muito além do que um simples
objeto instrumental utilizado na dança para acompanhar os passos rítmicos, o que para as
crenças dessas populações tem um imenso poder na sua espiritualidade e ainda
considerado instrumento de nobreza geralmente usado por pajés. Almeida, 1942, p. 38-
39 registra ainda sobre o maracá:
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[...] é impossível pensar que possam existir relações sociais, nem tampouco
instituições políticas, destituídas de sua dimensão simbólica, sem que os
homens se vejam nessas relações, sem a imagem que têm de si próprios e dos
outros. As relações sociais não se reduzem, pois, a seus componentes físicos e
materiais. As crenças, os mitos, os tabus se concretizam em práticas sociais
coletivas, expressão de aspirações, de desejos, de motivações dos integrantes
do grupo. (EIZIRIK; FERREIRA, p. 08, 1994).
CONCLUSÃO
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REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Renato. História da Música Brasileira. 2. ed. Rio de Janeiro: Briguiet, 1942.
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Introdução
Potiguara era a denominação dos índios que no Século XVI habitavam o litoral do
Nordeste do Brasil, aproximadamente entre as atuais cidades de João Pessoa, na Paraíba,
e São Luis, no Maranhão. Esses indígenas vivem atualmente nos municípios de Baía da
Traição, Marcação e Rio Tinto, no litoral norte da Paraíba. Variantes do nome, nos
documentos históricos, são: Potygoar, Potyuara, Pitiguara, Pitagoar, Petigoar, entre
outros. Essa denominação geralmente é traduzido como 'pescadores de camarão' ou
'comedores de camarão' (BARCELLOS, 2014).
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registros permanentes da vida diária nos locais e contextos em que ela naturalmente
acontece.
Conclusão
Referências
______: SOLER, Juan. Paraíba Potiguara. João Pessoa: Editora da UFPB, 2012.
BOURDIEU, P. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil S.A., 1989.
BRASIL. Fundação Nacional de Saúde. Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos
Indígenas. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde, 2002.
CASTILHO, Ela Wiecko V.de. A violência doméstica contra a mulher no âmbito dos
povos indígenas: qual lei aplicar?In: VERDUM, Ricardo (Org.). Mulheres Indígenas,
Direitos e Políticas Públicas. Brasília:INESC, 2008.
Coimbra Jr., C.E. A.; SANTOS, R. V. Saúde, minorias e desigualdade: Algumas teias de
inter-relações, com ênfase nos povos indígenas. Ciência & Saúde Coletiva, n. 5, p. 125-
132, 2000.
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SANTOS, J. R. dos. O que é racismo. São Paulo: Abril Cultural: Brasiliense, 1984.
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RESUMO
O objeto deste trabalho são saberes tradicionais do povo Tentehar, e tem por objetivo
narrar sobre saberes e fazeres artísticos culturais do cotidiano de mulheres-mães Tentehar.
Resulta de uma pesquisa qualitativa do tipo etnográfica realizada entre os Tentehar da
Aldeia Juçaral que habitam a Terra Indígena Arariboia. Os resultados obtidos por meio
das entrevistas individuais e coletivas, observação participante, pesquisa documental e
fotoetnografia mostraram que o aprender e saber fazer redes, tipoias, cestarias e outras
utilidades fazem parte do cotidiano de mulheres Tentehar. Com esses saberes de tradição
milenar ameríndia, mulheres Tentehar produzem com a sensibilidade artística de uma
mãe cuidadora, instrumentos que as auxiliam nas atividades do lar e da maternidade.
Atualmente, a produção sustentável desses artefatos também contribui para que as
mulheres Tentehar possam comercializa-los e garantir uma fonte renda extra para suas
famílias.
1 INTRODUÇÃO
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Seus móveis caseiros são as redes de algodão a que chamam de ini. Prendem-
nas pelas extremidades, com cordas torcidas, também de algodão, que amarram
a pedaços de pau para esse fim, colocadas nas choupanas. Cada um tem sua
rede [...] Têm cestos a que chamam uru ou caramemô. São feitos de folhas de
palmeiras ou de pequenos juncos lindamente tecidos. (ABBEVILLE, 2008, p.
303).
As redes são feitas pelas mães Tentehar da aldeia Juçaral até os dias de hoje, com
o mesmo instrumental de seus ancestrais, considerando menção de Abbeville (2008) já
citada. Com exceção da linha utilizada para fabricação das redes que hoje é comprada no
comércio, até bem pouco tempo, segundo dona Angelina Guajajara, elas, mães indígenas,
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tinham por costume fazer, inclusive a produção da linha de algodão para tecer redes,
tipoias.
De primeiro fiava com algodão, agora já compra a linha feita. Colhia na roça,
trazia, tirava a semente, abria, dava mais trabalho e tempo. Depois que tirava
a semente tinha que botar num saco, batia para ficar fininho, ai ela ia rasgando
para fazer o fio, e tirar fazer o círculo rodando para colocar no fuso.
(ANGELINA GUAJAJARA, tradução de TOINHO GUAJAJARA).
4
No ritual de iniciação feminina Tentehar, as meninas moças ficam confinadas em casa por
aproximadamente oito dias, momento em que cumprem dieta alimentar e recebem ensinamentos
da sua mãe sobre os principais afazeres de uma futura mãe-esposa.
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Dessa forma, foi por meio do ensinar a manipular o tear repassado de mãe para
filha que dona Angelina Guajajara aprendeu os diferentes saberes que informam a prática
de tecer no tear, como: as redes feitas com duas pernas de fio são para uso dos solteiros,
já aquelas reforçadas, com três fios são para adultos; o trançado que dá forma aos
desenhos, tem um lado macio onde se deita, e do outro, o mais áspero; a forma geométrica
de quadrado é geralmente feita para identificar redes para o uso das mulheres, enquanto
que as retangulares são feitas para o sexo oposto. Nesse processo das artes de tecer, a
memória é indispensável para a perfeita simetria das formas geométricas desenhadas nas
redes, ou ainda para transpor os desenhos de times de futebol, pois quando se erra a
contagem tem-se que desmanchar e refazer o trabalho novamente. Para Lévi-Strauss
(1979, p. 31): “decidir que é preciso levar tudo em conta facilita a constituição de uma
memória”.
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As cestarias são outro tipo de artesanato que mantêm a originalidade dos saberes
ancestrais Tentehar. É na natureza, ao fundo de seu quintal, uma área alagadiça sobre as
sombras dos altos buritizais que margeiam o rio Buriticupu, que Maria Parazawu colhe o
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principal instrumento para confecção das cestarias que faz, o guarumã. Sobre essa arte
ela diz: “Tem o talo que fica nessa mata, que foi Deus que fez! Talo de guarumã, talo de
buriti. Guajajara faz mais do guarumã. O timbira usa mais é o buriti. É difícil fazer. No é
todo índio que sabe fazer esse material não [...]”. (MARIA PARAZAWU, entrevista
traduzida por ZAPUY).
Confiante de que o guarumã e o buriti, as duas principais matérias primam que
utiliza para fabricar suas cestarias, é doação Divina, tecer é uma forma de dona Maria
Parazawu expressar a sua agradecimento a Deus. Reconhece que é preciso conservá-los,
pois se preocupa em produzir somente o necessário ou o que vai usar, para que esse bem
natural não se extinga. É também uma arte considerada difícil, pois, segundo informações
locais, são poucos os Tentehar que ainda fazem cestarias. Atualmente, na aldeia Juçaral
e nas aldeias próximas, só ela, Maria Parazawu, o marido que a ajuda e um irmão é que
sabem fazer cestarias.
De acordo com suas narrativas, foi por meio da aproximação com forças
sobrenaturais, como o relâmpago, com a permissão de Tupàn, que Maria Parazawu
aprendeu a fazer cestarias. A sua mãe lhe ensinou apenas o caminho ou a ciência para
adquirir esse saber, conforme é possível compreender no relato a seguir:
Quem ensinou foi Deus, ninguém me ensinou não. Desde jovem, a minha mãe
tava contando uma história assim, pra mim também. A mãe ensinou quando a
gente quer aprender algum artesanato, pra gente e pro outros, quando tu quer
aprender fazer as coisas. Quando está chovendo, quando der um relampo. Aí
dá um nó assim na linha, der outro relampo, quero fazer cesto! Outro, quero
fazer tapiti! Eu quero fazer cesto, ai amarra assim. Ai hoje sabe fazer tapiti,
balaio, cesto. Os vei sempre falava essa ciência, o garoto tá novo, deita na rede,
ai dar aquele relampo pede aquele ensinamento, ai fica fácil fazer qualquer
coisa. (MARIA PARAZAWU, entrevista traduzida por ZAPUY, 2014).
Ao colocar em prática a ciência que sua mãe lhe ensinou, Maria Parazawu obteve
o saber necessário para transformar palmeiras da mata nativa, como o guarumã, buriti,
inajá, babaçu, bacaba, em artefatos que usam no dia a dia, ou nas festas tradicionais. De
acordo com Lévi-Strauss (1979, p. 32), o pensamento mítico costuma utilizar “qualquer
que seja a tarefa proposta, pois nada tem mão”. E assim como o bricolage que utiliza o
plano técnico, “a reflexão mítica, pode alcançar, no plano intelectual, resultados
brilhantes e imprevistos”. O resultado prático se faz notar na dimensão estética e ao
mesmo tempo utilitária, de cestos (pacará), abanos, esteira de babaçu, peneira (yrypem),
panacu, quibano, tápiti, balaio.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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CHARLOT, B. Da relação com o saber: elementos para uma teoria. Porto Alegre: Artes
Médicas Sul, 2000.
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Resumo: Durante muito tempo a ciência foi um obstáculo para a entrada de outros saberes
nas escolas, e fomos levados a crer que a ciência era a única linguagem capaz de explicar
os fenômenos da natureza, as formas de observação dos céus, o ecossistema, a origem do
mundo, as interações entre as pessoas. A partir da década de 1990 a superioridade do
conhecimento científico e a desvalorização da cultura popular começaram a sofrer críticas
por pesquisadores da educação, e especialmente da área de ciências. Por sua vez, a
educação escolar indígena vem se afirmando como um espaço privilegiado de
reconhecimento das relações dos grupos culturais entre si, de maneira que os saberes
tradicionais foram incorporados ao currículo escolar, trazendo outros desafios para o
trabalho pedagógico. Neste artigo tratamos de um estudo de caso, na qual os saberes
tradicionais fizeram parte dos conteúdos do Curso de Licenciatura para Educadores
Indígenas, área Ciências da Vida e da Natureza, da Universidade Federal de Minas Gerais.
Para tanto, coletamos relações diversas entre o plantio de alimentos e a cultura dos povos
indígenas, tanto nas vivências cotidianas quanto na literatura da área. Os pressupostos de
que nos valemos, de viés participativo e de fortalecimento dos sujeitos e da cultura
indígena, foram repensados à medida que as trocas e interlocução mantidas com os povos
indígenas nos fizeram rever a viabilidade e visibilidade do diálogo intercultural em toda
a sua complexidade. Esperamos, com trabalhos deste porte, contribuir para superar a
dicotomia entre o conhecimento científico e a cultura tradicional tanto nas proposições
curriculares da educação escolar indígena, quanto em todas as escolas envolvidas na
defesa de um ensino de qualidade para todos.
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INTRODUÇÃO
Desde a década de 1980 a luta pelos direitos sociais trouxe à tona o debate sobre as
maneiras pelas quais o monopólio da ciência moderna levou à imposição de verdades
universais, com o silenciamento de outras culturas e saberes. Vivemos um processo de
aculturação: o grupo submetido culturalmente perde a sua cultura e adota os valores da
cultura do outro, considerada hegemônica. O pensamento moderno edificou o
distanciamento entre o conhecimento considerado científico e o conhecimento advindo
da experiência, de forma que este último foi se tornando cada vez mais invisível. Tal
pressuposto negava a possibilidade de que os conhecimentos populares, as culturas
afrobrasileira, indígenas e camponesas fossem consideradas diversas à cultura científica,
isto é, que pudessem fazer parte da diversidade cultural. Considerada obstáculo
epistemológico às outras formas de conhecimento, ver a ciência implicava, e ainda
implica, em não ver outros saberes. Estes não são considerados conhecimentos, por não
serem científicos. A universalização das teorias e dos conceitos, se por um lado permitiu
à ciência a sua acumulação, por outro aprisionou outros elementos que estão na sua
contracorrente (ALMEIDA, 2012). Somos levados a crer que a ciência é a única
linguagem capaz de explicar os fenômenos da natureza, as formas de observação dos
céus, o ecossistema, a origem do mundo, as interações entre as pessoas. Ao reduzirmos
todo conhecimento à ciência, afirmamos a visão de neutralidade e objetividade como
critérios de validação e demarcação entre os saberes.
O processo de democratização do país trouxe também a luta pelo acesso e
permanência a uma escola pública de qualidade. Essas mudanças criaram tensões: de um
lado, um universo escolar marcado por lógicas como homogeneidade, objetividade,
ciência, cultura única. Por outro, um mundo social caracterizado pela heterogeneidade,
relativismo, subjetividade, cultura local (GIUST-DESPRAIRIES, 2011). A cultura a ser
transmitida, discutida e apreendida na escola não é mais aquela estável e aceita por todos,
principalmente pela presença de um aluno que passa a ser classificado como “o diferente”.
Estamos, sobretudo, em busca de um trabalho intercultural, que contribua para superar
atitudes de medo e de indiferente tolerância ante o “outro”, construindo uma
disponibilidade para uma leitura positiva da diversidade sociocultural (FLEURI, 2003).
No interior das escolas encontramos abordagens e estratégias de ensino consonantes com
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Para Clarice Cohn (2014), a escola entra na vida dos povos indígenas para atuar
com seus próprios regimes de conhecimento. Em diálogo ou em confronto com eles, a
escola promove a circulação de mais conhecimentos, ou provoca a homogeneização. Os
cursos voltados para comunidades indígenas representam um desafio e uma oportunidade
de pesquisa, principalmente as licenciaturas para ensino de ciências naturais, que buscam
preservar as culturas indígenas e, simultaneamente, possibilitar o acesso ao conhecimento
científico. Duas perguntas nos acompanham: Que práticas pedagógicas e curriculares
darão conta de seus processos formativos? E como podemos levar para a escola não-
indígena as contribuições deste trabalho?
INTERCULTURALIDADE E LEGISLAÇÃO
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escola cuja formação considera o sujeito em sua integralidade, porém inacabado. Uma
escola com tempos e ritmos próprios, capaz de olhar os alunos em sua condição de sujeito
de aprendizagem e de cultura.. Perguntamos: Como construir práticas pedagógicas
potencialmente não discriminatórias, inovadoras, e que levem em consideração a
cultura e os saberes tradicionais?
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A lua influencia e muito na agricultura, pois dá força para a terra e vigor para a
plantação. Para cada tipo de lua (Fase da lua) há um tipo de plantação, o que confirma a
influência da lua. Alguns legumes que crescem para fora da terra se desenvolvem melhor
se plantados na Lua Cheia, e os que crescem para dentro da terra ficam sadios se plantados
da lua Minguante para Nova. Se for plantar colocando semente dentro da terra também
ficam bom se for da Minguante para a Nova, e aquele que utiliza muda para plantar tem
que ser plantado na Lua Nova. Depois que a planta vinga aí a lua já não faz tanta diferença.
Antigamente a colheita do milho era feito na Minguante para ele não carunchar. Agora
não precisa porque tem os agrotóxicos, que deixa todos bonitos, mas não é bom para
saúde.
b) Indígena X (entrevista)
Tudo na terra tem ligação com a Lua. A lua era uma índia mais velha que se foi.
Ela tinha muita sabedoria. Quando ela se foi ela passou a sua sabedoria para quem ficou
e que são seguidos até hoje. Deve-se plantar no ¾ da Lua Nova para a Lua Cheia. Às
vezes a plantação naquela fase da Lua não será favorável porque não vai chover. Então
planta-se na fase ruim só para pegar chuva, e depois na época boa o índio puxa a terra,
revira a terra, para a plantação de adequar à Lua de novo.
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Eu não acredito nessa influência, pois até hoje nenhum estudo sério foi feito.
Procurei na internet sobre o assunto e não achei nada sério sobre o assunto. Engraçado
que hoje eu escutei na rádio CBN uma reportagem sobre o assunto, sobre a influência da
lua na vida das pessoas. Para a maioria das coisas mencionadas o entrevistado afirmava
que não havia estudos científicos confirmados e que tudo não passava de coincidência.
Isso para mim não passa de senso comum, não há estudos que confirmam a influência.
Na minha aldeia a lua é muito importante para as coisas que fazemos no cotidiano.
Plantar é na Lua Cheia. Mas para plantar tem que ter o dom natural para fazer isso, cresce
junto da gente. Nascemos com esse dom, e ele é despertado ao longo dos anos. Meu Pai,
por exemplo, é bom em feijão. Se ele pegar essa área aqui da sala de aula ele planta e
colhe bastante. Eu não daria conta, pois morreria tudo. Não sou bom para plantar feijão.
Meu filho é mandioca. Tudo mostra isso. Eu não, eu não sou bom para plantação. Nem
feijão nem mandioca. Sou bom para a pesca. Sou bom pescador.
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CONCLUSÃO
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nosso sistema educativo. Segundo Ana Laura Gutierrez (2014), temos um currículo que
gera desigualdade, além de incapacitar os alunos de compreenderem o mundo. Segundo
a autora (2014; p. 73-76), nas propostas no campo da educação a flexibilidade curricular
é pensada para abrir-se à diversidade regional e cultural, porém, na maioria dos casos, o
local acarreta pouco ou nenhum impacto sobre o global, uma vez que o local se
transforma em conhecimentos menores ou trampolim para se chegar à compreensão dos
conhecimentos ditos científicos ou universais. Nas discussões curriculares essas
articulações entre os conhecimentos são marcadas por relações de poder que competem
em torno de uma proposta educativa.
No estudo de caso que descrevemos neste texto dificilmente as visões diversas serão
resolvidas apenas pela sobreposição dos conhecimentos. São esses conhecimentos
tradicionais que, em conjunto com os conhecimentos acadêmicos, aparecem nas
disciplinas do curso FIEI e nas escolas indígenas. Perguntamos: Estamos fortalecendo o
conhecimento indígena? Como estamos dialogando com diferentes formas de
pensamento? Que escola os povos indígenas demandam na atualidade? O que é
específico de cada povo nessa demanda?
A questão central é saber se as atividades curriculares propostas deixam intacto ou
não o currículo hegemônico: estamos realmente contribuindo para a construção de uma
escola diferenciada? Seguindo com Ana Laura Gutierrez (2014), podemos pensar em três
situações. Uma primeira em que não há relação entre culturas, com a criação de um
currículo para todos e outro para os povos indígenas. Uma segunda situação implica em
conteúdos universais que são adaptados de acordo com o contexto, gerando uma
flexibilidade curricular com muita fragilidade. As diferenças são excluídas, pois o local
se converte em conhecimentos menores, que servem de trampolim para o conhecimento
cientifico universal. Por fim, a organização curricular tem como objetivo compreender a
realidade a partir de diversas óticas sociais e culturais: a diversidade obriga a pensar no
local, e a partir daí uma ideia de educação intercultural obriga a pensar no comum, no
nacional. E o mais difícil foi compreender, a partir dos exemplos e vivências, que também
nós, professores e bolsistas, estamos numa posição complexa, de quem se propõe um
diálogo horizontal entre os saberes tradicionais e o conhecimento científico e, ao mesmo
tempo, participamos da cultura hegemônica. Participar implica, muitas vezes, em
folclorizar a cultura do outro, e muitas vezes expressar certa ironia diante de cosmologias
e cosmogonias relacionadas às práticas sociais. Em nosso caso, os povos Kisêdjê
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REFERÊNCIAS
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RESUMO
Desde a nossa primeira entrada no mundo estamos em constante aprendizado e interação
nesse universo que nos surpreende. Se o meio nos molda e nós moldamos o meio, como
a educação gira essa roda e atua nos entre-meios pelo o que ensinamos e aprendemos?
Como nós, indivíduos que sentem, pensam e agem estamos compondo o mundo? E então,
como os diferentes conheceres - conhecimento científico e conhecimento tradicional - se
complementam na compreensão desse todo? O que nosso entendimento do mundo diz
sobre nós mesmos? Para responder a essas indagações iremos refletir a partir da
apresentação das práticas de estágio elaboradas e desenvolvidas por Pataxós, Maxakalis
e Xacriabás na disciplina de Estágio Curricular da Formação Intercultural para
Educadores Indígenas (FIEI – UFMG). Propõe-se pensar de que maneira a educação
indígena e seus saberes tradicionais geram percepções de mundo integradas, capazes de
dialogar com outros conhecimentos e conferem mais sentido a conceitos como
sustentabilidade.
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O que fazemos nesse mundo enquanto o ocupamos diz muito sobre a forma com
que nos vemos nesse todo, sobre o que entendemos da nossa agência. A leitura dos fatos
depende do meu referencial, e se ignoro a possibilidade de haverem outros pontos de vista
estou transformando o mundo em um cenário a meu dispor. Como a educação está
relacionada a essa compreensão, do nosso estar, do nosso ser e da nossa integralidade?
Quando a esse mundo chegamos, desde nossa primeira casa - o útero - nossa
formação passa pelos estímulos que recebemos. Quando saímos do ambiente aquático da
placenta, nos deparamos então com um novo mundo apresentado, com novas pessoas,
sons, objetos, cheiros, sensações. Mas mesmo se não houvesse apresentação, nós,
enquanto seres pensantes e dotados de sentimentos, encarregaríamos de interpretar em
que terra os nossos pés pisam, o que esses olhos miram, o que nossa escuta compreende
e assim todas as várias novas informações que chegam a todo momento. Imagens,
texturas, temperaturas, gostos são armazenados pelo nosso corpo que opera em processos
ainda mais profundos: o que sinto enquanto descubro, como reajo ao entender o que vejo,
ao que me remete o toque na minha pele, o que meu coração diz enquanto estou em
silêncio ... são formulações que a cada instante - e simultaneamente - nosso corpo-mente-
espírito manifestam em resposta.
Não seria papel da educação nos ajudar a compreender e explorar essas dúvidas,
desde suas formulações, que podem alcançar respostas ou elaborar mais
questionamentos? sendo essas incertezas construções subjetivas, como entender o
funcionamento do todo pelas partes? Na educação escolar estamos interessados em
interagir com os indivíduos que são os novos agentes desse mundo e de seus próprios
turbilhões da mente-corpo-espírito ou ensinar conteúdos pré-definidos em raciocínios
lógicos pré-determinados?
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nos enxergamos como seres humanos capazes de sonhar, na forma como nos colocamos
e agimos no mundo.
Na sociedade ocidental, o percurso de nossas compreensões pela lógica com que
operamos em nossa mente quando não seguem as diretrizes do conhecimento científico,
são por ele descritas, sendo esse ao mesmo tempo o que produz e o que valida as
percepções do mundo; do que é feito o universo, sua origem explosiva, a composição
mínima e microscópica da matéria, as teorias consideradas, os marcos históricos
conhecidos, a força geradora suprema do mundo, a fragmentação do tempo, a definição
de conceitos, os quadrantes (o certo e o errado, o bonito e o feio, o esquisito e o normal,
a mente e o corpo), em quais categorias analisar e até o nosso sonhar. A partilha dessas
percepções que são as partes e o todo do conhecimento científico, e do que carregamos
em nossa trajetória e formação de sujeitos se dá a todo o momento pelas interações mútuas
entre nós e o mundo mediatizados pelos outros.
Como espaço de grande importância nessa construção está a escola, definida como
o lugar de aprender e de ensinar. Entender seu funcionamento é entender o que sabemos
do mundo e demanda reconhecer o todo que a movimenta. Escola é o lugar de brincar,
ver os amigos, comer merenda, jogar, fazer fila, de ficar triste ou se alegrar. São espaços
de socialização e de aprendizagem. É onde se depositam as esperanças, os sonhos, onde
estão as preocupações e força das e dos professores, as limitações e vitórias da diretoria,
os livros consultados, os conteúdos estudados e onde trabalha inspetora, secretária,
zeladora, etc. Trata-se de um mundo complexo criado para ensinar sobre a complexidade
do mundo. Essa complexidade traçada por vários fios traz consigo a construção metódica
e controlada do conhecimento científico que é tecido para acompanhar a previsibilidade.
No século XX a ciência, sob a égide de neutralidade e a proposição de um método
único para se chegar ao conhecimento verdadeiro, instaurou uma demarcação, uma linha
fronteiriça com estes outros campos do conhecimento. Em sua construção metódica e
controlada, o conhecimento científico instaurou uma lógica hegemônica e impositiva.
Essa hegemonia se iniciou desde o período que marca a Revolução científica do
século XV, até meados do século XX, quando uma série de inovações marcaram a
sociedade ocidental, principalmente a Revolução Industrial e as duas guerras mundiais.
Essa nova forma de economia, em conjunto com mudanças culturais, permitiu à ciência
expandir seu corpo teórico para outras disciplinas. No século XX, portanto, a ciência
incorporou-se definitivamente ao funcionamento cotidiano da sociedade, com a cultura
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científica dominando a matriz simbólica dos povos ocidentais. E então, essa mesma
ciência ganhou forças a medida que conseguia mais domínio da ação que a legítima por
sua utilidade e eficácia na transformação do mundo. E o que existe do outro lado da linha
fronteiriça? Segundo Ivan Amaro (2016; p.110)
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3. Educação indígena
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intervenções nas escolas, os temas eram integrados a outros aspectos da vida cotidiana da
comunidade local, e utilizavam os saberes tradicionais e o conhecimento científico de
forma horizontalizada e simultaneamente, legitimavam ambos os saberes. Conforme
mencionamos, as discussões apresentadas incluíam a concepção de sustentabilidade não
pertencente às lógicas construídas pela sociedade ocidental moderna: a) valorização,
preservação e transmissão de suas culturas; b) conservação de seus recursos naturais para
as próximas gerações, propiciando o manejo que vem do reconhecimento do seu
território; c) diminuição de conflitos socioambientais; d) auto-suficiência alimentar; e)
participação da comunidade nos projetos; f) convivência harmoniosa das tradições
médicas e alimentares com as práticas atuais (Toledo, 1996).
Esses tópicos foram abordados a partir da abrangência da sustentabilidade por eles
apresentada, que em nossa visão, desconstrói a lógica capitalista da sociedade ocidental
moderna. Essa relação de ruptura do homem com o meio ambiente se deu a partir da
lógica binária e cartesiana historicamente construída, instaurandorelações de poder e
dominação.Ao contrário, a lógica que percebemos nos trabalhos mostram que somos
igualmente parte (como as árvores, os animais, as águas) do universo. Com isso, a
compreensão da sustentabilidade permite analisar a forma com que nós seres humanos
nos relacionamos com uns com os outros e com a natureza.
Primeiramente, no que se refere à produção de lixo, todos tem a certeza que a
chegada da energia elétrica e a chegada de alimentos com papéis, em caixas, congelados,
pipocas, dentre outros, transformou a vida na comunidade. Com a existência das roças, o
mercado era pouco procurado. A chegada da energia levou a menos roça, mais consumo
e mais lixo. Um outro trabalho de formação começa a ser pensado nas aldeias.
Dessa forma, percebeu-se a partir das apresentações dos trabalhos que as
percepções de sustentabilidade por eles apresentadas compartilham da preocupação com
a saúde da terra.A preocupação com o lixo, presente nos projetos “Impacto do lixo no
território Xacriabá na Aldeia Peruaçu”, Lixo na Aldeia Velha Pataxó (Ba), permitiu a
realização de atividades de mutirão de limpeza e discussão sobre os materiais descartados.
O que mobiliza a comunidade e a escola é o fato de que o impacto do lixo é responsável
pela contaminação e enfraquecimento da terra, uma vez que “os ambientes cheios de lixo
deixam os espíritos fracos” (Kanatyo, liderança da Aldeia Pataxoop de MuãMimatxi).
Nessa visão de mundo, o lixo tem também poder de ação, pois é visto como espírito do
mal. Assim, o lixo nas aldeias é destacado por atuar desarmonicamente no ambiente,
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CONCLUSÕES PRELIMINARES
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fraquezas e “motivos de risos” do ser e fazer dos povos indígenas é onde se mostra toda
a sua força e coletividade. Decorre daí a importância de se compreender, a partir dessa
leitura de mundo, a concepção que possuem do conceito de sustentabilidade, e como este
conceito se manifesta em seus projetos educacionais, e suas interlocuções com a vida
comunitária.
Podemos afirmar que o currículo escolar, como construção cultural, pode se tornar
um mecanismo eficiente para que novas metodologias, novos enfoques epistemológicos
e propostas de intervenção junto às comunidades locais se constituam como força
alternativa ao pensamento da sociedade capitalista na atualidade. Neste trabalho
buscamos, a partir das atividades de estágio desenvolvidas pelos grupos de alunos do
FIEI, não apenas críticas ao modo de ser individualista dos sujeitos urbanos, mas como
podemos modificar as práticas pedagógicas que formam não apenas os alunos indígenas,
mas também as nossas crianças e adolescentes das cidades. Historicamente, a visibilidade
do conhecimento científico se deu mediante a invisibilidade dos saberes tradicionais, de
maneira que se nega não apenas a capacidade do outro em produzir saberes, mas a própria
negação do outro como sujeito humano, inclusive na escola (FREIRE, 1982). Os estágios
mostraram exatamente o contrário: é possível pensar de outro modo, com a valorização
de outros conhecimentos e saberes, o que não implica a desvalorização do conhecimento
científico. Quanto a este aspecto, os trabalhos escolares dos povos indígenas mostram a
importância da integração de todos os saberes para a vida cotidiana, sendo um
complementar ao outro. Contrapõem, nessa visão, a uma dominação econômica, social,
política e também epistêmica. Nesse sentido que devemos compreender os indígenas da
aldeia de MuâMimatxi, quando dizem que a produção e manutenção da horta implica no
reforço da ciência indígena. Como elemento de intermediação entre a escola e o território
como um todo, o cultivo da horta se apresenta em todos as dimensões: teórico-conceitual,
sociocultural e político. E pela presença da força da natureza.
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Por fim, cabe ainda ressaltar os diversos saberes presentes em cada projeto de
estágio apresentado. Mais do que conteúdos de disciplinas, a proposição de eixos
temáticos pelos próprios grupos mostra um olhar de totalidade sobre os fenômenos a
serem trabalhados. Ressaltamos, ainda, a participação de lideranças locais no ajuste
curricular para atender os graduandos, o envolvimento efetivo de coordenadores
pedagógicos das escolas que transformaram o currículo, e as vivências de atividades além
dos muros da escola, com os alunos criando e participando de intervenções junto às
comunidades escolares.
Essa visão contradiz o modelo de uma escola republicana, que se apoia sobre o
princípio da universalidade, levando à cassação da subjetividade. Segundo Giust-
Desprairies (2011; p. 142), modelo cultural republicano da Escola acredita que os
homens, através da instrução, ganham em racionalidade e chegam ao saber, o que os torna
seres livres para decidir. Mas disso fica excluído o conhecimento de si mesmo como fonte
de desenvolvimento. Ao contrário, o trabalho de subjetivação restitui mobilidade a uma
construção identitária profissional que não constitui mais, nos dias de hoje, um
escoramento interno suficiente para sustentar a atividade docente. Abre para a capacidade
de suportar melhor a existência de relações provisórias, abertas, reconduzidas entre
identidade subjetiva, atividade profissional e pertença institucional.
REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 11ª Ed. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra,
1982.
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