Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1
Cf. Bernard Lonergan, Collection. Collected Works of Bernard Lonergan, vol 4, Toronto, University
Press, 1988, p. 81.
2
Cf. ibidem, p. 82.
3
Cf. ibidem, p. 83.
4
Cf. ibidem, p. 84.
2
Lonergan recusa a separação entre uma ordem necessária do mundo, exigida pelas leis da
natureza finita, e uma ordem contingente, proveniente do livre e sobrenatural dom de Deus,
que teria como consequência uma separação entre filosofia, como ciência, e a teologia,
como mero catálogo de verdades reveladas. Por isso, entende que a ordem do mundo não é
uma consequência das caraterísticas das naturezas finitas, mas deve-se à bondade e
sabedoria de Deus, constituindo-se como uma unidade inteligível em que as naturezas
inferiores estão subordinadas às mais elevadas por via de uma finalidade intrínseca5.
Por outro lado o conhecimento desta ordenação dos seres não é a visão de um objeto
fora de nós, mas é um processo dinâmico intencional, pelo que o desejo natural de ver a
Deus tem de ser compreendido fora das clássicas teses essencialistas e conceptualistas. Tem
de ser compreendido no âmbito de uma sabedoria que é um processo cumulativo de uma
longa série de atos de compreensão empíricos, inteligentes, racionais e deliberativos e
amorosos. Estes atos são suscitados no plano imanente por um desejo desinteressado e
irrestrito de conhecer, que é a origem não só de todas as perguntas que levam o sujeito ao
conhecimento do ser proporcionado material, como também das novas perguntas radicais
que o levam para além dos limites definidos e dos temas particulares até ao ser
transcendente. Abandonando as noções estáticas tradicionais das potências (intelecto,
memória e vontade) e assumindo a nova linguagem das operações conscientes e
intencionais (experimentar, entender, julgar e decidir), Bernard Lonergan vai definir o
desejo como dinamismo fundamental da consciência e energia motriz da auto-
transcendência cognitiva e moral do sujeito: «(…) os vários níveis de consciência não
passam de estágios sucessivos do desdobramento de uma única verdade, o eros do espírito
humano»6.
Para Bernard Lonergan, «Ser é, pois, a meta do desejo puro de conhecer»7, que não se
reduz ao processo lógico e intelectual, mas que exige a unidade integral da consciência
humana. O desejo de conhecer é entendido não como uma inteleção ou um pensamento,
mas como a orientação dinâmica e o impulso prévio que promove o processo cognitivo
5
Cf. ibidem, p. 85.
6
«(…) the many levels of consciousness are just sucessive stages in the unfolding of a single thrust,
the eros of the human spirit.» ( Bernard Lonergan, Method in Theology, Toronto, Lonergan Research Institute,
1994, p.13.)
7
«Being, then, is the objective of the pure desire to know.» ( Idem, Collected Works of Bernard
Lonergan - Insight: A Study of Human Understanding, Edited by Frederick E. Crowe and Robert M. Doran,
Toronto, University of Toronto Press, 1997, p. 372.)
3
8
Ibidem, p. 377.
9
Cf. ibidem, p. 471.
10
Loc. cit..
11
Cf. ibidem, p. 681.
12
Cf. loc. cit.
4
13
Ibidem, p. 622.
14
Cf. idem, Method in Theology, p. 104.
15
Cf. ibidem, p. 103.
16
Cf. idem, Insight, p. 720.
17
Cf. idem, Method in Theology, ibidem, p. 116.
5
enamorado por Deus. A ordem atual do Universo é um valor e um bem, escolhidos por
Deus para a manifestação da sua perfeição e plenitude.
O intelecto só funciona de modo apropriado desde que o desejo desapegado e
desinteressado de conhecer presida às operações cognitivas. Trata-se pois de um desejo
puramente espontâneo que é a raiz da autoconsciência inteligente e racional, e opera
previamente aos nossos atos de intelecção, aos nossos juízos e às nossas decisões. Para que
conserva a sua pureza, tem de ser auxiliado pela determinação da vontade que tem por
objeto o bem próprio do intelecto. Um desejo que exclua tanto o desespero como a
presunção é uma esperança confiante, pelo que a forma conjugada da disposição volitiva
que ajuda, sustenta e fortalece o desejo puro é uma esperança confiante de que Deus elevará
o intelecto do ser humano ao conhecimento, à participação e à posse do ato irrestrito de
compreender18.
18
Cf. Insight, p. 724.