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FACULDADE DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO


MESTRADO EM EDUCAÇÃO

DENISE GOULART

INCLUSÃO DIGITAL NA TERCEIRA IDADE:


A VIRTUALIDADE COMO OBJETO
E REENCANTAMENTO DA APRENDIZAGEM

Porto Alegre
2007
DENISE GOULART

INCLUSÃO DIGITAL NA TERCEIRA IDADE:


A VIRTUALIDADE COMO OBJETO
E REENCANTAMENTO DA APRENDIZAGEM

Dissertação apresentada como requisito


parcial para obtenção do título de Mestre,
pelo Programa de Pós-Graduação em
Educação, da Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul.

Orientador: Prof. Dr.Juan José Mouriño Mosquera

Porto Alegre

2007
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

G688i Goulart, Denise


Inclusão digital na terceira idade: a virtualidade
como objeto e reencantamento da aprendizagem /
Denise Goulart. Porto Alegre, 2007.
196 f.

Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-


Graduação em Educação, PUCRS, 2007.
Orientador: Prof. Dr.Juan José Mouriño Mosquera.

1. Terceira Idade - inclusão digital. 2. Tecnologias


de informação e comunicação 3. Aprendizagem. I.
Mouriño Mosquera, Juan José. II. Título.

CDD 362.6042

Bibliotecária Responsável
Isabel Merlo Crespo
CRB 10/1201
DENISE GOULART

INCLUSÃO DIGITAL NA TERCEIRA IDADE:


A VIRTUALIDADE COMO OBJETO
E REENCANTAMENTO DA APRENDIZAGEM

Dissertação apresentada como requisito


parcial para obtenção do título de Mestre,
pelo Programa de Pós-Graduação em
Educação, da Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul.

Aprovada em ___ de _______________ de ______

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________
Orientador: Prof. Dr. Juan José Mouriño Mosquera

_________________________________________
Prof. Dr. Claus Dieter Stobäus

_________________________________________
Profª. Drª. Marilú Fontoura de Medeiros
Dedico este trabalho
A Reginaldo e Vilma, meus pais,
que me ensinaram o melhor caminho: Jesus Cristo.
A Eliseu Santos, meu amigo, meu amor, meu marido.
A Mariana Santos, minha alegria, minha filha.
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, por ter me concedido a vida.


À minha Família de sangue e de fé.
Ao amigo e professor, Dr. Juan José Mouriño Mosquera,
que ensina seus alunos com emoção
e que com sua sensibilidade desperta a consciência crítica
para sermos pessoas mais humanas.
Ao amigo e professor, Dr. Claus Dieter Stobäus,
que, através de sua afetividade, nos estimula
a acreditar na vida e a sermos produtores de idéias
mesmo diante da diversidade.
À amiga e colega Sheila Tellin Fabret,
pelas trocas, construções e amizade.
À Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul,
pela minha formação acadêmica.
Ao Magnífico Reitor, Dr. Ir. Joaquim Clotet, que com sabedoria
e discernimento conduz brilhantemente a
Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul.
Ao Programa de Pós-Graduação em Educação,
pela excelência na qualidade de ensino.
Ao corpo de Professores da Pós-Graduação em Educação,
que nos possibilita mais que aprendizagem,
nas trocas enriquecedoras de experiências pessoais e profissionais.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico,
CNPq, pela bolsa concedida durante a permanência no curso.
Aos Professores e amigos, Dr. Juan Jose Mouriño Mosquera, Dr. Claus
Dieter Stobäus e Dra. Marilú Fontoura de Medeiros,
por fazerem parte da banca examinadora,
momento ímpar em minha vida.
Mas onde se achará a sabedoria?
E onde está o lugar do entendimento?
O homem não conhece o valor dela,
nem a encontra na terra dos viventes.
O abismo diz: Ela não está em mim;
e o mar diz: Não está comigo.
Não se dá por ela ouro fino,
nem se pesa prata em câmbio dela.
O seu valor não se pode avaliar
pelo ouro de Ofir,
nem pelo precioso ônix, nem pela safira.
O ouro não se iguala a ela, nem o cristal;
ela não se trocará por jóia de ouro fino;
ela faz esquecer o coral e o cristal;
a aquisição da sabedoria é melhor
que a das pérolas.
Não se igualará o topázio da Etiópia,
nem se pode avaliar por ouro puro.
Donde, pois, vem a sabedoria,
e onde está o lugar do entendimento?
Está encoberta aos olhos de todo vivente
e oculta às aves do céu.
O abismo e a morte dizem:
Ouvimos com os nossos ouvidos a sua fama.
Deus lhe entende o caminho,
e Ele é quem sabe o seu lugar.
Porque Ele perscruta até as extremidades da terra,
vê tudo o que há debaixo dos céus.
Quando regulou o peso do vento
e fixou a medida das águas;
quando determinou leis para a chuva
e caminho para o relâmpago dos trovões,
então, viu Ele a sabedoria e a manifestou;
estabeleceu-a e também a esquadrinhou.
E disse ao homem:
Eis que o temor do Senhor é a sabedoria,
e o apartar-se do mal é o entendimento.
JÓ 28:12-28
RESUMO

A presente pesquisa foi realizada com grupos de Terceira Idade que


participaram de cursos de inclusão digital no Santander Cultural, situado no centro
de Porto Alegre. A pesquisa traz um breve histórico da sociedade das tecnologias de
informação e comunicação; o envelhecimento e a Terceira Idade; e a Terceira Idade
e a aprendizagem ao longo da vida. A metodologia empregada foi de caráter
qualitativo-quantitativo sendo explicativa e interpretativa com levantamento
bibliográfico e pesquisa de campo (através de entrevistas e questionários), que
permitiu um maior envolvimento com o objeto de estudo e flexibilidade, entre a teoria
e a prática, caracterizou-se como estudo de caso e objetivou a compreensão da
inclusão digital em grupos de Terceira Idade; tendo como referência o método
descrito por Bardin: Análise de Conteúdo. Foram realizados setenta e sete
questionários e seis entrevistas semi-estruturadas com os idosos que participaram
dos cursos de inclusão digital. Dos dados coletados, emergiram 3 (três) categorias
prévias e 2 (duas) categorias finais, estas categorias são referentes às respostas
das entrevistas semi-estruturadas e dos questionários do início e do final do curso;
conforme a relevância dada pelos sujeitos da pesquisa, pela pesquisadora e de
acordo com o referencial teórico e as questões norteadoras. Podemos perceber que
as categorias 1. Aprendizagem, 2. Inclusão, 3. Desafio, 4. Autonomia e 5. Exclusão
estão diretamente relacionadas à educação, pois a inclusão, sendo um grande
desafio à nossa sociedade, a partir de uma aprendizagem autônoma, gera sujeitos
livres de exclusões, sejam elas de origem social, sejam pedagógica. E constatou-se
que são várias as motivações na vida dos idosos que procuram cursos para
aprenderem informática como: o desejo de aprender mais ou continuar aprendendo
para não serem excluídos, tanto da sociedade como do núcleo familiar por não
falarem e entenderem a linguagem das tecnologias; superar as dificuldades e
dominar o computador, melhorando a relação intergeracional e realizar-se
pessoalmente aumentando a auto-estima. Pode-se perceber que a maioria dos
idosos possui interesses, necessidades e dificuldades comuns em relação à
aprendizagem digital que são: continuar participando da sociedade e romper as
muitas barreiras que eles encontram no caminho, sendo o maior desafio continuar
gestores e protagonistas de suas vidas, sem precisar de auxílio ou ficar na
dependência de terceiros, pois eles não querem se acomodar. Constatou-se que
estar incluído digitalmente é muito significativo e é uma necessidade urgente para as
pessoas que estão na Terceira Idade, pois eles não querem perder mais tempo:
querem entrar no mundo virtual e compreender todas as suas possibilidades.
Pretendeu-se com a pesquisa constatar que os idosos, mesmo com tantas perdas:
físicas, emocionais, sociais e preconceitos, possuem potencialidades para continuar
aprendendo e, desta forma, serem incluídos digitalmente.

Palavras-chave: Terceira Idade - inclusão digital - tecnologias de informação e


comunicação - aprendizagem.
ABSTRACT

The present study was done with senior age groups which participated in
digital inclusion classes at Santander Cultural, located in downtown Porto Alegre.
The study brings a brief historical from the society of information and communication
tecnologies; the aging and senior age groups; and the senior age related with
learning experience through life. The methodology used was of a quantitative-
qualitative nature being explanatory and interpretative with a bibliographic research
and field research (through interviews and questionnaires), which gave a greater
involvement with the object under study and flexibility, between the theory
and practice, was characterized as a case study and made possible the
understanding of the digital inclusion in senior age groups; having as reference the
methods by Bardin: Content Analysis. Seventy seven questionnaires and six partial
interviews were done with the senior age groups that participated in the digital
inclusion classes. From the pieces of information gathered, 3(three) previous
categories and 2(two) final categories were constructed, these categories were
formed based on the answers of partial interviews and from all the questionnaires
done along the classes; still, according to the importance given by the subjects of the
study, by the researcher and according to the theoretical referential and the directing
questions. It is possible to notice that the categories 1.Learning Process, 2.Inclusion,
3.Challenge, 4.Autonomy, 5.Exclusion are relationed, directly, to education, therefore
inclusion, in spite of being a hard task to our society, promotes subjects free of
exclusion, whatever its social or pedagogical origin. It is realized that there are many
reasons that induce seniors to look for informatics classes, such as: the will of
learning more or keep on learning as a way to not be excluded from society or, even,
from their own families duo to the lack of understanding and knowledge about
tecnologies and its language; to overcome the difficulties and make a good use of the
computer which implies a better relationship between older and younger generations
and, the personal realization that increases self-confidence. It is possible to notice
that most part of seniors have common interests, needs and difficulties in relation to
digital learning process which are: to continue included in the society and pass over
the obstacles found through life. It may be affirmed that the biggest challenge to
senior age groups is to go on being autonomous without asking for help or staying
totally dependent from other people to manage their lives. Digital inclusion is very
important and an urgent need for those who are in the senior age; they do not want
to waste time anymore: they want entering in the virtual world and understand all its
possibilities. Through the research we intended to verify that the aging groups, even
though having many physical, emotional and social prejudices, have the potentiality
to continue learning and, in this way, be included digitally.

Key-words: Senior Age - Digital Inclusion - Information and Communication


tecnologies - Learning Process
RESUMEN

La presente pesquisa fue hecha con grupos de la tercera edad o adultos


mayores que participaron de cursos de inclusión digital, realizados en el Centro
Cultural Santander, en convenio con PROCEMPA (Compania de Procesamiento de
datos del Municipio de Porto Alegre) y Coordinación de la política del Adulto mayor
de la Vice- alcaldía de Porto Alegre. El contenido de este trabajo muestra un breve
histórico de la sociedad en relación a las tecnologías de información y comunicación;
sobre el envejecimiento y la tercera edad; la tercera edad y aprendizaje a lo largo de
la vida. La metodología empleada fue de carácter cualitativo-cuantitativo siendo que
la expresión es explicativa con interpretación adecuada conforme levantamiento
bibliográfico y la pesquisa de campo hecha mediante entrevistas y cuestionarios. La
misma metodología permitió un mayor envolvimiento con el objeto de estudio,
dándole flexibilidad para discurrir entre la teoría y la práctica caracterizándolo como
estudio de caso, objetivando la comprensión más profunda de lo que significa la
inclusión digital en grupos de adultos mayores. Esta acción todavía tuvo como
referencia el método descrito por Bardin: denominado de Análise del contenido.
Fueron realizados setenta y siete cuestionarios y seis entrevistas semi estructuradas
con las personas mayores participantes del curso de inclusión digital. De esta tarea,
surgen datos que fueron clasificados en tres categorías iniciales y, en dos categorías
finales. Estas categorías son referentes a las respuesta a las entrevistas semi-
estructuradas y a los cuestionarios del inicio y del final del curso, conforme la
relevancia dada por los sujetos de la pesquisa y por la propia pesquisadora,
considerando el refencial teórico y las cuestiones norteadoras. Podemos percibir que
los conceptos 1.Aprendizaje, 2.Inclusión, 3.Desafio, 4.Autonomía, 5.Exclusión están
directamente relacionados a la educación entendiendo que la inclusión siendo un
grande desafio a nuestra sociedad, a partir de un aprendizaje autónomo crea
individuos libres de exclusiones, sean estas de orígen social, sean de orígen
pedagógico. Aún en este estudio fue constatado las gama de motivaciones que
impulsionan los adultos mayores a la búsqueda de cursos de informática. Entre ellos,
el deseo de aprender más o continuar aprendiendo para no quedar excluídos, tanto
de la sociedad como del nucleo familiar por no poder comunicarse através de ese
medio tecnológico; superar la misma máquina, dominándola; mejorar las relaciones
intergeracionales y realizarse personalmente, aumentando su auto-estima. Es
posible observar que la mayoría de los adultos mayores pesquisados tienen
intereses, necesidades y dificultades comunes en relación al aprendizaje digital
como continuar participando de la sociedad y romper las barreras que aquella
impone a las personas de esta edad, siendo el mayor reto, continuar siendo gestores
y protagonistas de sus vidas, sin necesitar del auxilio o, lo que es peor, ser
dependientes de terceros, en el manejo de esas tecnologias modernas. Es visible el
sentimiento de no pasividad o conformidad frente a la vida. Se confirma, entre los
adultos mayores que el estar incluido digitalmente es muy significativo, sintiéndose
fuertemente la necesidad de no perder más tiempo: ellos quieren penetrar en el
mundo virtual y comprender todas sus posibilidades. La pretensión última de esta
pesquisa fue constatar que las personas mayores, mismo sufriendo pérdidas físicas,
emocionales, sociales y siendo objeto de prejuicios, poseen potenciales dentro de sí,
para continuar aprendiendo y que son capaces de ser incluidos digitalmente.

Palabras claves: Tercera edad - Adulto Mayor - Inclusión Digital - Tecnologia de


Información y Comunicación - Aprendizaje.
LISTA DE SIGLAS

ARPANET – Advanced Research Projects Agency Network


FARGS – Faculdades Rio-Grandenses
IBOPE – Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística
MCT – Ministério da Ciência e Tecnologia
OMS – Organização Mundial da Saúde
ONGs – Organizações não-governamentais
ONU – Organização das Nações Unidas
PIB – Produto Interno Bruto
PMPA – Prefeitura Municipal de Porto Alegre
PROCEMPA – Companhia de Processamento de Dados do Município de Porto
Alegre
SOCINFO – Programa Sociedade da Informação
ULBRA – Universidade Luterana do Brasil
UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
WWW – World Wide Web
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 01: Teorias do Envelhecimento Biológico.....................................................46


Quadro 02: Características do Envelhecimento ........................................................48
Quadro 03: Conceitos do Referencial Teórico...........................................................77
Gráfico 01: Faixa Etária.............................................................................................83
Gráfico 02: Gênero....................................................................................................83
Gráfico 03: Estado Civil ...........................................................................................844
Gráfico 04: 55 a 64 anos .........................................................................................855
Gráfico 05: 65 a 79 anos .........................................................................................855
Gráfico 06: 80 anos .................................................................................................866
Gráfico 07: Escolaridade .........................................................................................877
Gráfico 08: 55 a 64 anos .........................................................................................878
Gráfico 09: 65 a 79 anos .........................................................................................888
Gráfico 10: 80 anos .................................................................................................888
Gráfico 11: Tempo que trabalham fora de casa ......................................................899
Gráfico 12: 55 a 64 anos ...........................................................................................90
Gráfico 13: 65 a 79 anos ...........................................................................................90
Gráfico 14: 80 anos ...................................................................................................91
Gráfico 15: Atividades de Lazer ................................................................................92
Quadro 4: Metodologia de Pesquisa .........................................................................95
Quadro 5: Tabela Categorias ..................................................................................105
Figura 01: Mapa conceitural das CategoriasTabela Categorias..............................106
Quadro 6: Questionário no Término do Curso.........................................................137
Gráfico 16: Resultados do questionário no término do curso ..................................138
SUMÁRIO

LISTA DE SIGLAS
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

INTRODUÇÃO ..........................................................................................................17

1 SOCIEDADE DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO...24


1.1 INTERNET ...................................................................................................24
1.2 SOCIEDADE DO CONHECIMENTO, SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO .....29

2 ENVELHECIMENTO E A TERCEIRA IDADE .................................................377


2.1 PROCESSOS DO ENVELHECIMENTO HUMANO.....................................37
2.2 CARACTERÍSTICAS GERAIS DO ENVELHECIMENTO HUMANO ...........45
2.2.1 Quadro 1: Teorias do Envelhecimento Biológico .........................................46
2.2.2 Quadro 2: Características do Envelhecimento.............................................48
2.3 TERCEIRA IDADE: SUAS DIMENSÕES FÍSICAS, PSICOLÓGICAS,
SOCIAIS E ESPIRITUAIS............................................................................50

3 TERCEIRA IDADE E A APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA....................58


3.1 APRENDER AO LONGO DA VIDA..............................................................58
3.2 MOTIVAÇÃO PARA APRENDER E REAPRENDER AO LONGO DA
VIDA ............................................................................................................63
3.3 INCLUSÃO DIGITAL NA TERCEIRA IDADE E O REENCANTAMENTO
DA APRENDIZAGEM ..................................................................................67
3.4 QUADRO 3: CONCEITOS DO REFERENCIAL TEÓRICO .........................77

4 METODOLOGIA ................................................................................................78
4.1 INVESTIGAÇÃO ..........................................................................................78
4.1.1 Problema......................................................................................................80
15

4.1.2 Abordagem Metodológica ............................................................................80


4.1.3 Objetivos da pesquisa..................................................................................81
4.1.4 Questões norteadoras da pesquisa .............................................................81
4.2 PARTICIPANTES DA PESQUISA ...............................................................82
4.2.1 Perfil dos participantes.................................................................................82
4.2.2 Gênero .........................................................................................................83
4.2.3 Estado Civil ..................................................................................................84
4.2.4 Escolaridade ................................................................................................86
4.2.5 Tempo que trabalharam fora de casa ..........................................................89
4.2.6 Atividades de lazer.......................................................................................91
4.3 PROCEDIMENTOS DA PESQUISA ............................................................92
4.3.1 Instrumentos de Pesquisa ...........................................................................93
4.3.2 Campo de Pesquisa.....................................................................................94
4.3.3 Quadro 4: Metodologia de Pesquisa..........................................................945
4.4 PROJETO INCLUSÃO DIGITAL PARA TERCEIRA IDADE – PMPA,
PROCEMPA E SANTANDER CULTURAL ..................................................96
4.4.1 O Curso de Inclusão Digital no Santander Cultural......................................98
4.4.2 Palestra Motivacional...................................................................................98
4.4.3 Início do Curso.............................................................................................99
4.4.4 Monitoria ....................................................................................................100
4.4.5 Apostila e Certificado .................................................................................100

5 INTERPRETAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS................................................102


5.1 PRIMEIRA ETAPA: PREPARAÇÃO DAS INFORMAÇÕES ......................103
5.1.1 Leitura dos questionários ...........................................................................103
5.2 SEGUNDA ETAPA: UNITARIZAÇÃO ........................................................103
5.2.1 Transformação dos conteúdos em unidades .............................................103
5.3 TERCEIRA ETAPA: CATEGORIZAÇÃO ...................................................104
5.3.1 Classificação das unidades em categorias ................................................104
5.4 QUARTA ETAPA: DESCRIÇÃO ................................................................104
5.4.1 Descrição dos Dados: ................................................................................104
5.5 QUINTA ETAPA: INTERPRETAÇÃO ........................................................104
5.5.1 Interpretação dos Dados............................................................................104

6 CATEGORIAS .................................................................................................105
6.1 QUADRO 05: TABELA CATEGORIAS ......................................................105
6.2 MAPA CONCEITUAL DAS CATEGORIAS ................................................106
6.2.1 Mapa Conceitual: conceito.........................................................................107

7 ANÁLISE DOS DADOS QUALITATIVOS CATEGORIZADOS.....................1099


7.1 APRENDIZAGEM ....................................................................................1099
7.2 INCLUSÃO.................................................................................................117
7.3 DESAFIO ...................................................................................................122
7.4 AUTONOMIA .............................................................................................128
7.5 EXCLUSÃO ...............................................................................................132
16

8 DADOS QUANTITATIVOS ..............................................................................137


8.1 QUADRO 6: QUESTIONÁRIO NO TÉRMINO DO CURSO.....................1377
8.2 GRÁFICO 16: RESULTADOS DO QUESTIONÁRIO NO TÉRMINO DO
CURSO ......................................................................................................138

9 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................139

REFERÊNCIAS.......................................................................................................144

APÊNDICES ...........................................................................................................154

ANEXOS .................................................................................................................163
INTRODUÇÃO

Na velhice ainda darão frutos,


serão viçosos e florescentes
(SALMO 92:14)

Inicialmente, pretendo expor minhas motivações em propor este tema de


pesquisa, a partir de minhas relações intrapessoais, bem como de minha caminhada
acadêmica, me desvelando, como uma cidadã consciente e engajada de forma
solidária, com grupos que necessitam estar inseridos na sociedade da informação,
nossos idosos, hoje e os que estão por vir.
Meu interesse pelas tecnologias e as conseqüências que estas causam na
sociedade antecede à minha formação acadêmica, pois acredito que o computador,
conectado à Internet, é um mediador de informação e de comunicação fundamental
na sociedade atual. Sempre gostei de informática, mas não tinha interesse em fazer
um curso na área das exatas, contudo, em 1999, soube que, na Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul, havia um curso novo denominado
“Pedagogia Multimeios e Informática Educativa”, com enfoque em três áreas do
conhecimento - educação, informática e comunicação. Este curso ligado à área das
ciências humanas associadas às tecnologias mostra como a informática educativa
pode proporcionar ao cidadão a inclusão, tanto do ponto de vista sociológico,
cultural, como digital. Quando iniciei o curso, em 2000, meu interesse era entender a
aprendizagem utilizando os multimeios, em que a informática ocupa um lugar de
destaque; isso motivou-me a entender com mais clareza estes processos.
Ao longo da graduação nas minhas práticas escolares, procurei trabalhar de
maneira inclusiva os multimeios e de forma significativa, buscando conhecer nos
alunos suas potencialidades, assim como seus limites, procurando despertar suas
18

consciências, das conseqüências do uso e eventual abuso do computador para


poder utilizá-lo, técnica e humanamente, na descoberta de suas capacidades
inovadoras. Contudo, ao longo do Curso, pude perceber que existem algumas
lacunas entre as teorias, metodologias e práticas pedagógicas, pois estas não
abrangiam a todas as pessoas, sobretudo as que estão na Terceira Idade, pois elas
necessitam não somente aprender a usar as tecnologias, mas também a ter a
possibilidade de serem produtoras de seus conhecimentos, a partir do acesso a um
computador conectado à Internet, sabendo utilizar e transformar informações que
são adquiridas em conhecimentos para suas vidas.
Ao término da graduação, procurei me especializar em tecnologias e optei
fazer o curso de especialização em Educação à Distância, no SENAC-RS, e,
paralelamente, fiz diversos cursos de extensão em Universidades como PUCSP,
PUCPR, PUCRJ, todos à distância e com enfoque nas tecnologias de informação e
comunicação.
Ao ingressar no Mestrado em Educação, em 2006, a partir do meu tema –
Inclusão Digital na Terceira Idade –, fui orientada a desenvolver a pesquisa na linha
em Desenvolvimento da Pessoa, Saúde e Educação, que enfoca o desenvolvimento
humano em todos os seus aspectos biológicos, psicológicos, sociais e culturais, pois
esta linha é a mais próxima para entender o processo de aprendizagem ao longo da
vida. Não posso deixar de registrar que o meu interesse por este tema foi
impulsionado após conhecer meu professor e mestre, Dr. Juan José Mouriño
Mosquera, que trabalha com esta linha de pesquisa e, através de suas brilhantes
explanações nas aulas que ministra, enfatiza a educação ao longo da vida como um
processo vital para as pessoas que querem continuar ativas na sociedade.
A partir deste breve relato da minha trajetória acadêmica, gostaria de
mencionar que o Salmo citado acima, da Bíblia Cristã, faz parte de uma verdade
absoluta que eu acredito, pois, ao longo de minha vida, sempre convivi com pessoas
da Terceira Idade e, a partir das minhas vivências com elas, fizeram com que eu me
identificasse, a cada dia mais, com este público digno e experiente, pois testemunhei
muitas delas dando frutos através de sabedoria, experiências, conhecimentos e,
sobretudo, vendo nelas a vontade de viver, bem como conviver com pessoas que
elas amavam e faziam diferença em suas vidas.
Ao iniciar minha pesquisa sobre a Terceira Idade, em nenhum momento tive
de reconstruir a imagem cultural, que é imposta e veiculada pela mídia, sobre os
19

idosos, porque, de uma forma ou de outra, estes sujeitos sempre fizeram parte da
minha vida de maneira positiva.
Reporto-me à minha infância e entendo que, quando somos crianças,
observamos o mundo com outros olhares e, no percurso da vida, há uma mudança
gradativa: percebemos que conselhos, instruções e orientações das pessoas com
mais idade são, na verdade, muitos caminhos já percorridos nos quais uns deram
certo e outros não; por isso, talvez, a dedicação e a preocupação (às vezes
exageradas) em tentar nos mostrar e orientar para escolhermos o melhor deles;
porém, não devemos ver essas atitudes e conselhos como um fardo ou
aborrecimento para nós, mas como uma oportunidade de crescimento, apesar das
diferenças de gerações.
Mesmo com todos os avanços que vivenciamos no dia-a-dia, em minha
caminhada pude perceber que a mesma sociedade que discrimina também é a
mesma que quer incluir, pois, a partir de muitas pesquisas e campanhas promovidas
por entidades governamentais ou não, já há uma conscientização de que envelhecer
é um processo acelerado e universal e que atinge a todos. Mesmo que não se dê o
devido valor para estas pessoas, a sociedade depende delas para se manter viva,
geração após geração, pois através de suas ações é que se vai determinando o tipo
de pessoas que teremos em nossa sociedade.
Gostaria de lembrar que no ANO INTERNACIONAL DO IDOSO, em 1999, o
lema do Dia Mundial da Saúde 1 foi “Sigamos ativos para envelhecer bem”, ou seja, a
pessoa que se mantém ativa, ao longo de toda sua vida e em todos os setores da
atividade humana, quer física quer mentalmente, envelhece bem e com qualidade de
vida.
Quando refletimos sobre o envelhecimento, devemos pensar no tempo
linear, que é feito de dias e anos, e o tempo interno, que é singular e intransferível,
dessas pessoas, para que elas não sejam descartadas do seio familiar, indo muitas
vezes viver em casas de repouso, mas que possam a cada dia participar ativamente
de nossa sociedade, mantendo o corpo e a mente sadios, aprendendo a aprender,

1
O Dia Mundial da Saúde é comemorado dia 07 de abril. A OPAS (Organização Pan-Americana da
Saúde) é o escritório Regional para as Américas da OMS (Organização Mundial da Saúde); é um
organismo internacional de saúde pública com um século de experiência. Sua missão é orientar os
esforços estratégicos de colaboração entre os Estados Membros e outros parceiros no sentido de
promover a eqüidade na saúde, combater doenças, melhorar a qualidade de vida e elevar a
expectativa de vida dos povos das Américas. (ORGANIZAÇÃO Pan-Americana da Saúde. Disponível
em: <http://www.opas.org.br>. Acesso em: 05 abr. 2007).
20

diante dos novos desafios que o mundo digital proporciona, e este é um dos motivos
de minha preocupação com estes sujeitos.
No entanto, no mundo globalizado, que muda rapidamente, e na sociedade
de informação em que vivemos, nos quais as tecnologias que se caracterizam por
permitir um grande aumento em nossa capacidade de acessar, organizar,
selecionar, armazenar e distribuir informações, e ainda por efetuar comunicação
rápida e eficaz com outras pessoas, onde quer que elas estejam, creio que estas
tecnologias deveriam estar inseridas no cotidiano deste segmento que está
envelhecendo, pois elas estão alterando o formato da sociedade e estão
possibilitando a oportunidade de gerar o próprio conhecimento sobre a realidade e
seu entorno. Entretanto, entendo que temos um grande desafio ainda pela frente,
para que as tecnologias de informação e comunicação venham a ser aperfeiçoadas
e adaptadas, para nosso público de Terceira Idade, possibilitando melhoria e
qualidade em suas vidas.
Percebo que as tecnologias são vistas como uma das principais ferramentas
para disponibilizar acesso rápido e instantâneo da informação e que aguça a
curiosidade tanto de crianças, jovens, adultos como também de grupos da Terceira
Idade que, na maioria das vezes, se sentem excluídos do processo digital, mas que,
ao mesmo tempo, querem participar das tecnologias inseridas nesse processo e de
suas funções e, é claro, entendê-las.
A escolha por este grupo e tema tem um valor pessoal: creio que, em vez de
pensar colocar estas pessoas, depois de contribuírem com suas experiências,
trabalho e dedicação à família e à sociedade, em casas de repouso, devemos tentar
desvincular e desmistificar as várias imagens sociais de que sejam sujeitos doentes,
acabados e sem perspectivas, refletir sobre os processos de aprendizagem, nesta
fase, que para elas tem a função de dar significados às experiências constituídas,
direcionando a autonomia e a emancipação social e individual.
Minha preocupação com essas pessoas - homens e mulheres - que são e se
sentem excluídas, classificadas erroneamente como analfabetas, mesmo digitais, é
redimensionar os novos referenciais sociais e a construção de novas imagens a
partir do envelhecimento, portanto faz esse tema de pesquisa assumir uma
importância fundamental, seja para a educação ao longo da vida, seja para a própria
constituição da subjetividade e da educação dessas pessoas no mundo de hoje.
21

Para definir envelhecimento, deparamo-nos com diversas denominações. Cito


Osorio, que, através de suas pesquisas, define como

[...] “velho”, “ancião”, “Terceira Idade”, “reformados”, “pessoa sênior” [...] as


denominações que parecem ter um maior uso são as que têm a ver com
“pessoa sênior” e as que se referem à “terceira / quarta idade” [...] o termo
“Terceira Idade” se relacionava com as pessoas que beneficiavam de
programas públicos de ócio e tempos livres (2003, p. 263).

Preferi adotar em minha pesquisa o termo “Terceira Idade”, mas também


utilizo o termo “idoso” no texto, pois o programa educacional que foi pesquisado
denomina-se “Inclusão Digital na Terceira Idade”.
Acredito que muitas pessoas que estejam na Terceira Idade têm,
paradoxalmente, uma grande vitalidade, participando de muitos projetos, presentes
ou futuros, e vivam intensamente, contribuindo na produção e intervindo nas
mudanças sociais e políticas. Delors afirma que “[...] o prolongamento da vida após a
aposentadoria aumenta o tempo disponível para outras atividades” (2004, p.103);
com isso, observamos que envelhecer não tem a mesma conotação de alguns anos
atrás, pois muitas pessoas, ao chegarem à Terceira Idade, querem “dar frutos”,
aprender, envolver-se e participar, cada vez mais e ativamente, desse processo de
mudanças em que vivemos diariamente.
Observo que a Terceira Idade tem revelado dificuldades e resistências em
entender a nova linguagem e em lidar com os avanços tecnológicos, até mesmo nas
questões mais básicas como eletrodomésticos, celulares, bem como caixas
eletrônicos instalados nos bancos. Conseqüentemente, aumenta o número de
idosos, excluídos do processo digital e, com isso, a maioria fica rotulada como
“analfabetos digitais”.
Delors comenta que “a educação pode ser um fator de coesão, se procurar
ter em conta a diversidade dos indivíduos e dos grupos humanos, evitando tornar-se
um fator de exclusão social” (2004, p. 54) e nesse processo de educação digital,
focada nas tecnologias, desenvolvem-se alguns fatores como cooperação,
autonomia e afetividade que, se forem trabalhados de forma integrada, despertam
nesses indivíduos o desejo de aprender a aprender através desta forma de
aprendizagem, permitindo-lhes um questionamento maior dos fatos, pois as pessoas
podem trocar as suas variadas experiências adquiridas ao longo de suas
22

caminhadas, atuando na construção conjunta de novos conhecimentos, e também


pensando e refletindo sobre o próprio conhecimento.
Mosquera (1985) ressalta que a educação de adultos está sendo
impulsionada pelo crescimento das ciências e das tecnologias, formando uma nova
sociedade que podemos denominar sociedade do conhecimento. É nessa linha que
o mesmo autor diz: “o aprender na vida adulta não aparece como algo linear ou
estereotipado [...]” (1985, p.27); portanto, a partir de novos espaços de
conhecimento, podemos ofertar para a Terceira Idade uma aprendizagem
diferenciada através das tecnologias via inclusão digital, que fascina e encanta a
todos os que dela se apropriam, pois a inclusão digital é uma das maneiras nas
quais o público da Terceira Idade está encontrando para poder atuar, interagir e
participar mais do mundo tecnológico. Acredito que cada vez mais as exigências
dessa linguagem digital façam parte da rotina das pessoas, proporcionando-lhes
facilidades para participarem dos processos pessoais e sociais.
A escolha por este grupo é poder entender o que os motiva, quais são seus
interesses, necessidades e dificuldades, como eles interagem com o computador –
seus programas e ferramentas.
Para facilitar a leitura do trabalho de pesquisa, que culminou na Dissertação
de Mestrado, intitulada Inclusão Digital na Terceira Idade: a virtualidade como
objeto e reencantamento da aprendizagem, optou-se pela divisão em capítulos,
como podemos conferir abaixo:
- na Introdução, procurou-se relatar um breve histórico da pesquisadora e
justificar a pesquisa;
- o Referencial Teórico da Pesquisa, composto de três capítulos que
formam a base no qual a investigação está inserida, são os seguintes:
- capítulo 1: Sociedade das Tecnologias de Informação e Comunicação;
apresentamos o início da Internet no Brasil e no mundo e enfocamos os
principais aspectos da sociedade do conhecimento e informação;
- capítulo 2: Envelhecimento e a Terceira Idade, este caracteriza os
processos do envelhecimento humano, as teorias do envelhecimento
biológico e as dimensões físicas, psicológicas, sociais e espirituais que
se apresentam na Terceira Idade;
23

- capítulo 3: Terceira Idade e a Aprendizagem ao Longo da Vida, este


enfoca a aprendizagem ao longo da vida, as motivações para aprender e
reaprender na Terceira Idade através da inclusão digital;
- capítulo 4: Metodologia, explica-se a metodologia utilizada, que foi
caracterizada por um Estudo de Caso, apoiada no paradigma
construtivista/naturalista, de caráter qualitativo-quantitativo, sendo
explicativa e interpretativa;
- capítulo 5: Interpretação e Análise dos Dados, neste descrevem-se as
etapas para a interpretação e a análise dos dados coletados, bem como
a discussão dos dados dos questionários;
- capítulo 6: Categorias, citam-se as categorias prévias e as finais;
- capítulo 7: Análise dos Dados Categorizados, apresentam-se as
categorias a as análises destas;
- capítulo 8: Dados Quantitativos, são apresentados os dados
quantitativos da pesquisa;
- capítulo 9: Considerações Finais, neste procuramos responder às
questões norteadoras e evidenciamos o que significa a inclusão digital
na vida de grupos que estão na Terceira Idade.

Espero, com esse estudo, através de minha pesquisa, contribuir para a


compreensão da inclusão digital na Terceira Idade, além de provocar a curiosidade
por novos estudos sobre este tema.
O Capítulo 1, a seguir, Sociedade das Tecnologias de Informação e
Comunicação, foi subdividido em dois: o primeiro denominado Internet, no qual
abordamos sua origem no Brasil e no mundo; e o segundo, Sociedade do
Conhecimento e Sociedade da Informação, no qual contextualizamos, definimos e
enfocamos os principais aspectos desta sociedade.
1 SOCIEDADE DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO

Nós sabemos que a tecnologia não determina a sociedade:


é a sociedade.
A sociedade é que dá forma à tecnologia,
de acordo com as necessidades,
os valores e os interesses das pessoas
que utilizam as tecnologias.
Além disso, as tecnologias de comunicação e
informação são particularmente sensíveis aos efeitos
dos usos sociais da própria tecnologia
(CASTELLS, 2005, p.17).

1.1 INTERNET

A Internet não é uma moda passageira


que desaparecerá com o tempo.
(FRUTOS, 1998, p. 313).

As redes são conexões entre dois pontos ou mais que se interligam e se


propagam criando outras conexões, que tanto podem ir para outros pontos como
voltar para o ponto inicial; são usadas para interagir e integrar diferentes pessoas em
diferentes culturas nas diversas partes do mundo. Elas sempre existiram, quer entre
os homens como redes sociais, quer entre os animais e as plantas como redes
simbióticas.
Atualmente as máquinas também estão em redes, e as conhecemos como
rede mundial de computadores ou Internet, que é uma rede de alcance global, em
que as muitas relações e trocas são efetivadas nos diferentes segmentos da
sociedade, de uma forma bi e multidirecional de comunicação instantânea. Assmann
(1998) coloca que o termo ‘rede’ transmigrou por diversas áreas, especialmente as
das tecnologias da informação e comunicação (redes digitais), transformando-se em
25

metáfora da interconectividade e em redes de computadores interligados; Castells 2


(2005) refere que as redes de comunicação digital transcendem fronteiras e são a
coluna vertebral das sociedades em rede, e esta se manifesta de diversas formas
conforme a cultura e a trajetória histórica de cada sociedade.
Quando falamos ou pensamos em rede, reportamo-nos à Internet, portanto
abordaremos um breve relato sobre a origem da Internet. Ela iniciou-se em 1969
com a ARPANET 3 (Advanced Research Projects Agency Network – rede da agência
T

de projetos de pesquisa avançada). Essa rede de computadores foi criada pelo


Departamento de Defesa dos Estados Unidos, com o objetivo de colocar os
cientistas em contato uns com os outros, para que eles pudessem trocar
informações e compartilhar idéias, potencializando os resultados de suas pesquisas.
A ARPANET logo se ampliou e expandiu-se para incluir pesquisadores das
comunidades acadêmicas.
Dessa forma, podemos definir Internet como um conjunto de redes de
computadores interligados pelo mundo inteiro que usam o mesmo protocolo, isto é,
padrões e convenções que determinam como dois ou mais processos se comunicam
e interagem para trocar dados; assim, os usuários independentes de sua localização
geográfica podem usufruir e se beneficiar da infinidade de serviços em nível mundial.
Esta forma de comunicação mudou a maneira como pensamos, conhecemos e
2
Debates Presidência da República, A Sociedade em Rede - Do Conhecimento a Acção Política -
Conferência promovida pelo Presidente da República - 4 e 5 de Março de 2005 - Centro Cultural de
Belém - Organizado por Manuel Castells (Professor de Comunicação, Tecnologia e Sociedade na
Wallis Annenberg School of Communication, Universidade do Sul da Califórnia, Los Angeles e
Professor e Investigador na Universidade Aberta da Catalunha (UOC), Barcelona) e Gustavo
Cardoso (Professor de Ciências da Informação e Comunicação, Departamento de Ciências e
Tecnologias de Informação, ISCTE, Lisboa, Portugal).
3
Arpanet, acrônimo em inglês de Advanced Research Projects Agency Network (ARPANET) do
Departamento de Defesa dos Estados Unidos da América, foi a primeira rede operacional de
computadores à base de comutação de pacotes, e o precursor da Internet. Podemos dizer que ARPA
foi a mãe da Internet, desenvolvida pela empresa ARPA (Advanced Research and Projects Agency)
em 1969, tinha o objetivo de conectar as bases militares e os departamentos de pesquisa do governo
americano. Esta rede teve o seu berço dentro do Pentágono e foi batizada com o nome de
ARPANET.A Arpanet foi totalmente financiada pelo governo Norte-Americano, que tinha como
objetivo desenvolver uma rede de comunicação que não os deixassem vulneráveis, caso houvesse
algum ataque soviético ao Pentágono.Usando um Back Bone que passava por baixo da terra,
ARPANET ligava os militares e pesquisadores sem ter um centro definido ou mesmo uma rota única
para as informações, tornando-se quase indestrutível.No inicio da década de 70, universidades e
outras instituições que faziam trabalhos envolvidos à defesa, tiveram permissão para se conectar à
Arpanet, e em meados de 1975, existiam aproximadamente 100 sites. Pesquisadores que
trabalhavam na Arpanet estudaram como o crescimento da rede alterou o modo como as pessoas a
usavam.No final dos anos 70, a ARPANET tinha crescido tanto que o seu protocolo de comutação de
pacotes original, chamado de Network Control Protocol (NCP), tornou-se inadequado, foi então que a
ARPANET começou a usar um novo protocolo chamado TCP/IP (Transfer Control Protocol/Internet
Protocol). (WIKIPEDIA – a enciclopédia livre. ARPANET. Disponível em:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/ARPANET/>. Acesso em: 10 abr. 2007).
26

apreendemos o mundo, tornando-o digital, interativo, interconectado e


interdependente, modificando o conceito de presença e distância que se alteraram
profundamente.
Segundo Lèvy (1999), o nome Internet vem de internetworking (ligação entre
redes) e é um conjunto de meios físicos (linhas digitais de alta capacidade,
computadores, roteadores, etc.) e de programas usados para o transporte da
informação. Castells (2005) nos afirma que através da Internet já vivemos em uma
sociedade em rede e que ela configura o cerne de nossa sociedade, na qual
ocorrem as interações sociais e afetivas.
Com o avanço tecnológico, a Internet cresceu para servir milhões de
pessoas ao redor do mundo; essa rede não parou de se expandir. Vimos a
disseminação da Internet, por todos os continentes, contando hoje com milhões de
usuários, como uma forma de comunicação diferente daquelas que as mídias
clássicas nos propuseram até então, pois não possui um dono nem um centro de
poder, fazendo com que seja usada com os mais variados propósitos. Através dela,
podemo-nos relacionar com qualquer parte do mundo de maneira rápida,
instantânea e simultânea tornando as relações mais próximas e estreitando laços
econômicos, sociais e familiares.
Para muitos, a Internet pode ser um escape para a solidão: através da rede
estes se mantêm em contato com o mundo, virtualmente; mas, para outros, pode ser
a negação do próximo, pois, ao não terem contato físico com pessoas com as quais
interagem, as relações podem tornar-se distantes. Castells nos explica como ele
percebe essas relações:

Sabemos, pelos estudos em diferentes sociedades, que a maior parte das


vezes os utilizadores da Internet são mais sociáveis, têm mais amigos e
contatos e são social e politicamente mais ativos que os não-utilizadores.
Além disso, quanto mais usam a Internet, mais se envolvem,
simultaneamente, em interações, face a face, em todos os domínios de suas
vidas. (2005, p.23)
27

A definição do autor confirma que, através das inter-relações existentes


entre a Internet e os internautas, o conhecimento é propagado de diferentes
maneiras atingindo uma dimensão global. Na Internet, encontramos o www 4 (World
Wide Web) que é um serviço de navegação dos mais utilizados, não é o único, mas
através dele podemos acessar vídeos, imagens, textos, figuras, sons que podem ser
conhecidos como hipertextos e hipermídias, que formam os documentos chamados
de Home page 5 ou Web site 6 , e, a partir dele, também podemos acessar correio
eletrônico, fórum, chat e outros serviços.
A Internet vem modificando e alterando totalmente seus propósitos iniciais,
conforme a demanda da sociedade, tornando-se um dos veículos de comunicação
mais acessados, alterando a forma de comunicação e interação de todas as facetas
da nossa vida e fazendo parte da cultura das sociedades e de seus cidadãos,
tornando-os internautas (navegadores virtuais).

4
O serviço WWW surgiu em 1989 como um integrador de informações, dentro do qual a grande
maioria das informações disponíveis na Internet podem ser acessadas de forma simples e consistente
em diferentes plataformas. A forma padrão das informações do WWW é o hipertexto,o que permite a
interligação entre diferentes documentos, possivelmente localizados em diferentes servidores, em
diferentes partes do mundo. O hipertexto é codificado com a linguagem HTML (Hypertext Markup
Language), que possui um conjunto de marcas de codificação que são interpretadas pelos clientes
WWW (que são os browsers, como o Netscape), em diferentes plataformas. O protocolo usado para a
transferência de informações no WWW é o HTTP. O protocolo HTTP é um protocolo do nível de
aplicação que possui objetividade e rapidez necessárias para suportar sistemas de informação
distribuídos, cooperativos e de hipermídia. Suas principais características são: comunicação entre os
agentes usuários e gateways, permitindo acesso a hipermídia a diversos protocolos do mundo
Internet, tais como, SMTP, NNTP, FTP, Gopher, WAIS ; obedece ao paradigma de pedido/resposta:
um cliente estabelece uma conexão com um servidor e envia um pedido ao servidor, o qual o analisa
e responde. A conexão deve ser estabelecida antes de cada pedido de cliente e encerrada após a
resposta. (WWW. Disponível em: <http://penta.ufrgs.br/pesquisa/joice/cap3.html>. Acesso em: 05
maio 2007).
5
Home page, home-page ou homepage é a página inicial de um site da internet também chamado
sítio). Compreende uma apresentação do site e de todo seu conteúdo.O termo home page, home-
page ou homepage é normalmente designado para nomear a primeira página ou a página principal de
um sites, sendo a função diferenciá-la das outras páginas que compõem um site. A home page seria
como uma capa de revista. Na Internet, esse termo costuma funcionar como a página introdutória do
site com explicações sobre o que será encontrado nas demais páginas do site, Ela seria como o
índice dum site a ser visitado. (WIKIPEDIA – a enciclopédia livre. Home Page. Disponível em:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Home_page/>. Acesso em: 10 abr. 2007).
6
Site é um termo inglês derivado de website ou Web site. Alem de site, o conjunto de páginas
também é chamado de website, Web site, WWW site ou, em Portugal, de sítio (as vezes websítio, ou
sítio web).Há uma discussão na internet de língua portuguesa entre usar site (difundida no Brasil,
apesar de ser estrangeirismo) ou sítio, por ser de comum origem latina (sítio tem origem no latim
situs: "lugar demarcado, local, posição"). O termo sítio é de uso amplamente difundido apenas em
Portugal. No Brasil praticamente não é utilizado. Isso ocorre pela confusão com o significado de sítio
no português do Brasil (propriedade rural de área modesta, frequentemente usada para lazer ou
lavoura). Mesmo assim a utilização desta palavra é defendida por alguns, pois segue os padrões da
língua portuguesa de pronúncia da palavra escrita. (WIKIPEDIA – a enciclopédia livre. Site.
Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Site>. Acesso em: 10 abr. 2007).
28

Segundo o Livro Verde, a evolução da Internet no Brasil iniciou-se da


seguinte forma:

Principiou com o pioneirismo de algumas instituições acadêmicas e ONG,


assim como decolando a partir do envolvimento ativo do Governo Federal,
através do MCT, e de vários governos estaduais, tais como os de São
Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e outros. O decidido apoio
governamental à Internet no Brasil, desde os estágios iniciais, claramente
distingue o Brasil da maioria dos países em desenvolvimento. Uma primeira
versão de serviços Internet com pontos em 21 estados no País foi
implantada pela Rede Nacional de Pesquisa (RNP) de 1991 a 1993, a
velocidades baixas. Entre 1995 e 1996, esses serviços foram atualizados
para velocidades mais altas. Paralelamente, a partir de junho de 1995, uma
decisão do Governo Federal definiu as regras gerais para a disponibilização
de serviços Internet para quaisquer interessados no Brasil. (ANEXO IV,
2003,p.133).

No Brasil, o número de pessoas que acessam a Internet a cada ano vem


crescendo, “o efeito acumulado da queda contínua do preço dos computadores e do
acesso, bem como a expansão do crédito para as camadas mais populares é
decisiva para o aumento do número de pessoas conectadas no país”, afirma
Alexandre Magalhães, coordenador de análise do IBOPE 7 Inteligência. Conforme a
pesquisa, continuamos a ser o país com maior tempo médio de navegação
residencial por internauta, com 20h54min, o que significa 1h47min ou 9,4% mais do
que em fevereiro. O crescimento anual de horas navegadas é de 7,8%. Conforme a
fonte o mês de março apresenta um maior número de usuários ativos que fevereiro,
pois temos 31 dias, contra 28 dias além do feriado de Carnaval. A França, com
tempo médio por internauta residencial de 19h56min; os Estados Unidos, com
19h08min; Japão, com 18h34min e Alemanha, com 17h53min por pessoa, foram os
países que mais se aproximaram do Brasil, entre os 10 medidos com a mesma
metodologia.
Os dados acima fazem parte da publicação de 26 de abril de 2007, do
IBOPE, e também nos informa com o artigo “Novo recorde marca início da

7
O Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística - IBOPE - fornece o maior conjunto de
informações sobre o mercado brasileiro e latino-americano. Para apoiar a tomada de decisões de
seus clientes, o Grupo IBOPE realiza pesquisas sobre os mais variados temas: mídia, opinião pública,
política, consumo, comportamento, mercado, marca, propaganda, Internet, entre outros. O Grupo
IBOPE é uma multinacional brasileira composta por 52 empresas, que empregam 2.800 profissionais.
Atua em 16 países: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, Estados Unidos,
Guatemala, México, Panamá, Paraguai, Peru, Portugal, Uruguai e Venezuela..No Brasil, tem sedes
em São Paulo e no Rio de Janeiro, além de filiais instaladas em Belo Horizonte, Brasília, Curitiba,
Florianópolis, Fortaleza, Porto Alegre, Recife e Salvador. (IBOPE. <http://www.ibope.com.br/>.
Acesso: 02 abr. 2007).
29

popularização da Internet no Brasil”, que, em março de 2007, o número de


internautas residenciais ativos atingiu a inédita marca de 16,3 milhões de pessoas,
número 15,6% maior que no mês anterior. Hoje temos 25 milhões de brasileiros
morando em residências com acesso (contra 22,1 milhões em 2006) e 32,9 milhões
com acesso em qualquer ambiente (casa, trabalho, escolas, universidades e outros
locais).
A publicação também informa que, nos últimos treze meses, as categorias
que mais cresceram em número de visitantes foram: automotivo, que cresceu 45%,
e teve em março 2,6 milhões de visitantes; notícias e informações, que cresceu 29%
no ano e recebeu 10,5 milhões de internautas residenciais; viagens e turismo, que
cresceu 28,6%, com 04 milhões de internautas residenciais em março de 2007.

1.2 SOCIEDADE DO CONHECIMENTO, SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO

Um impulso importante para a Educação de Adultos


encontra-se no crescimento e evolução
rapidíssimos da Ciência e da Tecnologia,
assim como em uma nova sociedade que já está
entre nós e que pode ser denominada de
sociedade do conhecimento
(MOSQUERA, 1985, p. 20).

O conhecimento sempre foi um diferencial e um determinante na história dos


povos; quem o dominava, conseqüentemente dominava outros povos, todos os
avanços dos homens alicerçaram-se no conhecimento, não somente no sentido de
dominação, mas também na inter-relação entre a humanidade. Araújo afirma que o
poder transformador da informação gera mudanças em toda a sociedade

[...] pois se a informação é a mais poderosa força de transformação do


homem, o poder da informação, aliado aos modernos meios de
comunicação de massa, tem capacidade ilimitada de transformar
culturalmente o homem, a sociedade e a própria humanidade como um todo
(1994, p. 84).

As mudanças da sociedade ocorrem, geralmente, na forma de ruptura de


paradigmas, que seria algo referente a um modelo e padrões compartilhados que
permitem a explicação de certos aspectos da realidade; com isso, surge uma forma
30

de pensamento totalmente diferente, uma transição de um modelo para outro


explicando o que outro já não explica. Paradigma é mais do que uma teoria, pois
implica uma estrutura que gera novas teorias, é algo que estaria no início das
teorias, “um paradigma pode ao mesmo tempo elucidar e cegar, revelar e ocultar”.
(MORIN, 2001, p. 27).
E este termo foi recolocado pelo epistemólogo Thomas Kuhn 8 em seu
estudo clássico sobre a história da ciência, as mudanças (revoluções científicas)
dependem da superação do paradigma estabelecido, como explica sua Teoria
(1962) 9 , e conforme enfatiza Osorio; para Kuhn, “os paradigmas são realizações
científicas, universalmente reconhecidas, que, durante um certo tempo,
proporcionam modelos de problemas e soluções a uma comunidade científica”
(2003, p. 67) na qual ocorre uma ruptura entre o conhecimento científico e o
conhecimento proveniente do senso comum e entre a natureza e a pessoa humana,
“os indivíduos conhecem, pensam e agem segundo paradigmas inscritos
culturalmente neles” (MORIN, 2001, p. 25).
Veras e Caldas falam do paradigma pós-moderno no qual são reconhecidas
as diferenças sociais e culturais, sem que necessariamente haja uma separação
com o conhecimento científico e moderno, mas a sua superação através do
reconhecimento das diferenças o que

8
Thomas Samuel Kuhn nació en Cincinnati, Ohio, el 18 de julio de 1922. Estudió Físicas en la
Universidad de Harvard, por la que se doctoró en dicha especialidad en 1949. A partir de entonces su
interés se orientó hacia el estudio de la Historia de la Ciencia, al que se dedicó por completo.
Permaneció en Harvard como profesor ayudante de Historia de la Ciencia hasta 1956, en que aceptó
una oferta de la Universidad de Berkeley, donde ocupará la Cátedra de Historia de la Ciencia a partir
de 1961. En 1964 pasará a desempeñar ese mismo puesto en la Universidad de Princenton hasta
1979, año en que se instalará en Boston, ocupando la Cátedra de Filosofía e Historia de la Ciencia
del Massachusetts Institute of Technology. Falleció el 17 de junio de 1996 en su casa de Cambridge,
Massachusetts. Por José Sánchez-Cerezo de la Fuente. (FUENTE, José Sánchez-Cerezo de la.
Thomas Samuel Kuhn. Disponível em: <http://www.webdianoia.com/contemporanea/kuhn.htm>.
Acesso em: 10 abr. 2007).
9
Paradigma (do grego parádeigma, modelo, exemplo; e do verbo paradeigma títzo, propor, mostrar) o
termo era bastante usado na filosofia e na lingüística. Uma definição muito geral: conjunto de
convicções e conceitos que caracterizam uma determinada maneira de perceber e interagir com ele.
Admite definições em diferentes níveis até as diferentes concepções teórico-práticas do que é o
conhecimento científico. Thomas Kuhn (A estrutura das revoluções científicas), ele insistiu em
diversos componentes de um paradigma, com destaque 1) ao fato que ele funciona como filtro na
percepção e projeção da realidade; 2) a importância decisiva da adesão de um número significativo
dos que operam na área, à qual o paradigma se refere, para que consiga implantar-se. (ASSMANN,
1998,p.169)
31

[...] exclui a idéia de hierarquia entre os desiguais, uma vez que é o respeito
às diferenças o que nos faz igual.Trata-se de um novo modelo, que tem
como imperativos éticos à participação e à solidariedade, articulados à
ciência e ao mundo da vida.[...] Para construir este novo referencial é
necessário garantir a cidadania para todos, inclusive para aqueles que a
tiveram e perderam. É a partir da inclusão social que se pode contar com
pessoas solidárias, cordiais e conectadas com tudo e todos. É neste marco
que se pode resgatar o ser idoso como valor para a sociedade (2004).

Osorio explica que entramos “num novo paradigma tecnológico, centrado na


engenharia genética e nas tecnologias da informação, e nas comunicações
baseadas na microeletrônica” (2003, p. 33), e, com tantas mudanças, houve uma
transição da sociedade de produção artesanal para a sociedade de produção em
massa até chegar, na sociedade do conhecimento, sociedade da informação,
sociedade aprendente – Assmann (1998), em que tudo está conectado em redes
digitais e tecnologias eficientes para a construção de novos conhecimentos, não
significando que o acesso aos dados e às informações que estão disponibilizados na
Internet sejam o diferencial para a aprendizagem, mas o significado que eles
representam transformando-se no próprio conhecimento.
Para Castells

Nos primeiros anos do século XXI, a sociedade em rede não é a sociedade


emergente da Era da Informação: ela já configura o núcleo das nossas
sociedades. De fato, nós temos já um considerável corpo de conhecimentos
recolhidos na última década por investigadores acadêmicos, por todo o
mundo, sobre as dimensões fundamentais da sociedade em rede, incluindo
estudos que demonstram a existência de fatores comuns do seu núcleo que
atravessam culturas, assim como diferenças culturais e institucionais da
sociedade em rede, em vários contextos (2005, p. 19).

Para Morin, “o conhecimento é a navegação em um oceano de incertezas,


entre arquipélagos de certezas” (2001, p. 86) e é a principal matéria-prima desta
sociedade, juntamente com as informações que recebemos diariamente, porém
temos de saber processar e separar o excesso de informações a fim de que o
conhecimento torne-se processado, organizado e construído, pois este tem um papel
determinante na aprendizagem significativa transformando a ação do sujeito no
mundo, e, para isso acontecer, antes ele tem de ser disponibilizado de forma
democrática e acessível a todos quantos querem e quiserem ter acesso, Mosquera
corrobora com estas idéias quando afirma que
32

O conhecimento, portanto, é o fator mais significativo para o mundo do


futuro e este conhecimento terá que ser cada vez mais democratizado e
valorizado, como forma de convivência na qualidade de vida das pessoas.
Existe uma certeza cada vez mais afirmada, em quase todos os utopistas,
que o conhecimento ocupará um lugar cada vez mais importante no
desenvolvimento das nações e nas condições de vida planetária para todos
os seres humanos (2003, p. 52).

Outro aspecto que queremos abordar é quando refletimos sobre esta


sociedade, que recebe outras diferentes denominações, como cita Osorio,
“sociedade da informação, sociedade digital, sociedade cognitiva, etc.”, (2003)
deparamo-nos com o modo como o conhecimento foi transmitido através das
gerações, ou seja, era pelas pessoas mais idosas da comunidade que transmitiam
experiências, por meio de histórias do senso-comum, utilizando uma linguagem leiga
e de fácil compreensão e, dessa forma, desempenhavam um papel importante na
educação informal das pessoas, proporcionando a compreensão da realidade e uma
visão do seu mundo, através das suas histórias de vida, como afirma Silveira, “[...]
que os mais velhos se organizavam para passar às novas gerações as experiências
e informações que permitiam a sobrevivência da comunidade” (1998, p. 03).
Entendemos que essa maneira de transmitir informações pertence a uma
sociedade distante daquela em que vivemos, e nos parece que isso faz parte de um
passado muito longínquo da nossa realidade, como afirma Osorio, “embora a
sociedade sempre tenha estado em mutação, a mudança social é hoje muito mais
acelerada” (2003, p. 15), e, com o advento das tecnologias, ocorreu uma verdadeira
revolução na vida diária das pessoas, a qual vem nos impulsionando para uma
emergente sociedade e, sobretudo, para uma nova humanidade mais conectada e
interativa, pois o homem vem-se tornando, cada vez mais, dependente das
tecnologias de informação e comunicação. Vanzo comenta e nos afirma que o
grande responsável por esta nova revolução

[...] é o desenvolvimento do conhecimento humano, que cresce numa


velocidade alucinante, dobrando a cada três anos e, segundo estudos
divulgados pela consultoria Arthur Andersen, em 2020 dobrará a cada 73
dias [...] uma vez integrada em nossas vidas, estas descobertas e
tecnologias nos permitirão experimentar novas possibilidades que no seu
ápice irão gerar novas demandas para novas descobertas (2000, p. 20).

Entramos numa fase em que o conhecimento deve ser dinamizado e


disponibilizado através de diferentes espaços educacionais formais ou não, porque
33

não há mais instituições detentoras do conhecimento, por essa razão o


conhecimento, que foi adquirido ao longo da vida, deve ser alterado e reinventado,
pois as tecnologias não só ampliam e alteram o nosso viver, como também nos
proporcionam novos estilos de raciocínio e conhecimentos nas diferentes esferas da
sociedade.
A cada dia são construídos novos modelos de conhecimento, mudando
nossas funções cognitivas, como a memória, a percepção e o raciocínio. Sancho
comenta que “os indivíduos das sociedades influenciadas pela tecnologia da
informação e da comunicação têm algumas oportunidades, sem precedentes, para
acessar o fluxo de informação” (1998, p. 35); portanto, nesta geração de acesso
imediato, quanto mais cedo as pessoas tiverem contato com as tecnologias, de uma
forma orientada e crítica, mais cedo elas vão produzir conhecimento emancipatório,
aprender com e para ter autonomia, integrar-se em suas redes sociais, participar e
desenvolver capacidades para se comunicar com o seu próximo, melhorando as
relações inter e intrapessoais, construindo dessa forma sua visão de mundo e a
melhor maneira de interagir com este mundo.
Para Assmann

As novas tecnologias digitais têm o potencial de oferecer novos olhares,


novas formas de acessar a informação, novos estilos de pensar e raciocinar.
Surgem novas maneiras de processar a construção do conhecimento e criar
redes de saberes, que podem gerar novos ambientes de aprendizagem.
Ambientes cognitivos, abertos a compreensão do ser humano em sua
multidimensionalidade, como um ser indiviso em sua totalidade, com seus
diferentes estilos de aprendizagem e suas distintas formas de resolver
problemas (2005, p. 65).

Na sociedade aprendente, quando utilizamos os recursos das tecnologias,


podemos aprender continuamente, de forma flexível, com um planejamento bem
elaborado e sem rigidez excessiva, aproximando mais as pessoas, pelas conexões
on-line, em tempo real e permitindo que na educação formal, ou não, as pessoas
interajam e possam formar pequenas comunidades de aprendizagem, fazendo com
que o aprendiz se transforme no protagonista da sua própria formação.
Nesses ambientes tecnológicos, ocorrem modificações em todos nós, e
somos desafiados a encontrar novos modelos para novas situações, organizar ações
de pesquisa e de comunicação que possibilitem continuarmos aprendendo,
acessando páginas na Internet, pesquisando textos, recebendo e enviando novas
34

mensagens, discutindo questões em fóruns ou em salas de aulas virtuais,


divulgando pesquisas e projetos.
Conforme afirma Litto, a aprendizagem através das tecnologias será
[...] realizada não pela ‘decoreba’, mas sim pela participação em projetos
organizados em torno de problemas, e que levem a ‘descobertas’ de
conhecimentos novos [...]. Buscar-se-á mais o equilíbrio entre a aquisição
de competências necessárias para sobrevivência no mundo moderno
(identificar problemas, achar informação, filtrar informação, tomar decisões,
comunicar com eficácia) e a compreensão profunda de certos domínios de
conhecimento estudados. O estudo será mais transdisciplinar, focado em
experiências, projetos, pesquisas on-line, interatividade, orientação
individual e grupal. Os alunos mais ativos, o professor mais orientador de
aprendizagem (2002).

E, segundo Morin, essa nova aprendizagem alicerçada nas tecnologias deve


pensar em desenvolver diversos processos de comunicação cada vez mais ricos e
profundos e abrir as escolas para o mundo e

Criar ambientes de ensino-aprendizagem mais atraentes, envolventes e


multi-sensoriais. As tecnologias, dentro de um projeto pedagógico inovador,
facilitam o processo de ensino aprendizagem; sensibilizam para novos
assuntos, trazem informações novas, diminuem a rotina, nos ligam com o
mundo, com as outras escolas, aumentam a interação (redes eletrônicas),
permitem a personalização [...] e se comunicam facilmente com o aluno,
por trazerem para a sala de aula as linguagens de comunicação do dia-a-
dia (1996, p. 21).

Percebemos que esta aprendizagem comentada pelos teóricos, através da


utilização das tecnologias e das diferentes mídias, expandiu-se em todos os países,
e, em nosso país, não é diferente, pois há um programa coordenado pelo Ministério
da Ciência e Tecnologia (MCT) 10 , do Governo Federal, chamado SocInfo 11
(Programa Sociedade da Informação), que tem como objetivo democratizar e
10
Responsável pela formulação e implementação da Política Nacional de Ciência e Tecnologia, o
Ministério da Ciência e Tecnologia tem suas ações pautadas nas disposições do Capítulo IV da
Constituição Federal de 1988 e foi criado em 15 de março de 1985, pelo Decreto nº 91.146 , como
órgão central do sistema federal de Ciência e Tecnologia.O surgimento do novo ministério, além de
expressar a importância política desse segmento, atendeu a um antigo anseio da comunidade
científica e tecnológica nacional. Sua área de competência abriga: o patrimônio científico e
tecnológico e seu desenvolvimento; a política de cooperação e intercâmbio concernente a esse
patrimônio; a definição da Política Nacional de Ciência e Tecnologia; a coordenação de políticas
setoriais; a política nacional de pesquisa, desenvolvimento, produção e aplicação de novos materiais
e serviços de alta tecnologia. (BRASIL. Ministério da Ciência e Tecnologia. Disponível em:
<http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/105.html/>. Acesso em: 10 maio 2007).
11
Programa Sociedade da Informação - SOCINFO visa o alcance de sua missão que é o de articular
e coordenar o desenvolvimento e a utilização de produtos e serviços avançados de computação,
comunicação e conteúdos e suas aplicações, também a universalização do acesso e a inclusão de
todos os brasileiros na sociedade da informação. (BRASIL. Ministério da Ciência e Tecnologia.
Programa Sociedade da Informação. Disponível em: <http://ftp.mct.gov.br/temas/
Socinfo/default.asp/>. Acesso em: 10 maio 2007).
35

viabilizar a aplicação da evolução da Internet no país, e foi um programa concebido


como política social em maio de 2000.
O MCT reuniu um grupo com mais de uma centena de especialistas dos
diferentes segmentos institucionais públicos e privados para definir as diretrizes da
Sociedade de Informação no Brasil e, em conjunto, elaboraram a proposta preliminar
do documento intitulado Sociedade da Informação no Brasil – Livro Verde, que
apresenta a seguinte definição para a sociedade de informação:

A Sociedade da Informação está baseada em tecnologias de informação e


comunicação que envolve a aquisição, o armazenamento, o processamento
e a distribuição da informação por meios eletrônicos, como radio, televisão,
telefone e computadores entre outros. Essas tecnologias não transformam a
sociedade por si só, mas são utilizadas pelas pessoas em seus contextos
sociais, econômicos e políticos, criando uma nova comunidade local e
global: a Sociedade da Informação. Em cada país, a Sociedade da
Informação está se construindo em meio a diferentes condições e projetos
de desenvolvimento social, econômico e político, segundo estratégias
adequadas a cada contexto (2000).

Borges enfatiza que, “através das tecnologias de informação e comunicação,


o mundo transformou-se em uma sociedade globalizada e globalizante, com novos
mercados, novas mídias e novos consumidores” e comenta que

[...] mas o homem, diante dessa nova realidade, continua o mesmo: íntegro
na sua individualidade, na sua personalidade, nas suas aspirações, na
defesa de seus direitos, na busca da sua felicidade e de suas realizações, e
no comando desta mudança, como o único ser dotado de vontade,
inteligência e conhecimento capaz de compreender os desafios e definir os
passos que direcionarão seu próprio futuro (2000).

Portanto, inserir-se e participar na sociedade de informação tornou-se mais


que uma necessidade: tornou-se uma obrigatoriedade, tanto para os países como
para os indivíduos; Mosquera chama atenção de que o “conhecimento atomizado,
memorístico e enciclopédico” está com seus dias contados e salienta que

O mais importante parece ser o conhecimento em totalidade atendendo os


diferentes tipos de inteligências e saberes, acreditando que o potencial
humano de conhecimento é extraordinário e que todas as pessoas têm o
poder de ampliar a sua maneira de perceber e sentir o mundo que as rodeia
[...] com a possibilidade de compreender a totalidade e o inacabamento do
conhecimento e despertando, cada vez mais, a curiosidade, a imaginação e
a fantasia (2003, p. 52).
36

Fica evidente que a inclusão digital é parte indissociável da inclusão social e,


diante disso, entendemos que temos um grande desafio, para que os brasileiros
pertençam a esta sociedade do conhecimento, informação e aprendente,
principalmente os idosos e os que estão entrando na Terceira Idade, porque os
Governos em todas as suas instâncias, juntamente com a sociedade e as
instituições de educação formal ou não, devem investir em uma educação inclusiva,
digital, permanente e contínua, melhorando os sistemas e processos de
aprendizagem, estendendo as tecnologias de informação e comunicação, treinando
e capacitando os indivíduos responsáveis por esta educação, a fim de que dominem
seus recursos, potencializem todas as possibilidades das tecnologias de informação
e comunicação. O uso dessas tem a vantagem da individualização da aprendizagem
possibilitando que cada pessoa seja a protagonista de seu próprio conhecimento e
aprenda, ao seu ritmo, em uma contínua transformação, tanto de si como da
sociedade a que ela pertence.
No próximo capítulo, Capítulo 2, Envelhecimento e a Terceira Idade,
abordaremos os processos do envelhecimento humano, as características gerais
desse envelhecimento, as teorias do envelhecimento biológico, segundo alguns
autores, e as conseqüências físicas, psicológicas, sociais e espirituais do ser
humano que está na Terceira Idade.
2 ENVELHECIMENTO E A TERCEIRA IDADE

Quanto tempo você irá viver?


Por que você tem de envelhecer?
Você gostaria de viver para sempre?
Os seres humanos têm feito essas
perguntas há milhares de anos
(PAPALIA E OLDS, 2000, p. 496).

2.1 PROCESSOS DO ENVELHECIMENTO HUMANO

Para nós, ser velho não é uma doença.


Isto deve ficar bem claro: ser velho é um estado existencial [...]
velhice em si não é anormalidade nem doença: é apenas
uma fase da vida humana enquadrada dentro da
grande dimensão da adultez [...] é uma conseqüência natural
do desenvolvimento humano
(MOSQUERA, 1993, p. 116).

O conceito sobre envelhecimento passou por várias modificações através


dos anos: a velhice era vista como uma etapa final e uma época inútil em que
apareciam somente doenças e tristezas. Apesar dos declínios físicos, mentais,
fisiológicos, etc., atualmente há diferentes visões desse processo de envelhecer; o
planeta está envelhecendo, e a possibilidade de estender a velhice com mais
qualidade e tranqüilidade faz com que a sabedoria e a experiência, desta fase,
possam ser transmitidas como uma forma de valorização e enriquecimento da vida e
da importância de seu papel na sociedade como um elemento gerador de equilíbrio
social, pois são processos naturais, inerentes a todo o ser humano que envelhece.
Mosquera afirma que

O processo de envelhecimento varia consideravelmente de indivíduo e


parece que de classe social para classe social. A pessoa de idade
avançada pode ter sentimentos confusos a respeito de suas perspectivas de
chegar a uma idade muito prolongada. Suas esperanças sobre os anos
vindouros são, geralmente, bastante modestas. Deseja viver com dignidade
e permanecer capaz de cuidar de si mesma. Espera achar a maneira de ser
útil aos outros ainda que não seja essencial sua cooperação. Não quer de
maneira nenhuma, ser uma carga para ninguém e parece que a pessoa
aposentada deseja achar divertimentos e interesse e confia em que, ao
tornar-se mais velha, será capaz de ter serenidade e estar satisfeita (1987,
p. 129).
38

O envelhecimento faz parte de inúmeras pesquisas e debates na maioria


dos países. Osorio nos informa que “um dos fatos mais significativos da sociedade
atual é o aumento da esperança de vida [...] está a aumentar em todos os países,
ainda que as diferenças sejam muito significativas entre eles” (2003, p. 261), pois
cada sociedade tem seu próprio conceito sobre envelhecimento; na maioria dos
países está relacionado com a passagem do tempo na vida das pessoas - cada
pessoa envelhece de uma forma pessoal e individual -, uns com tranqüilidade e
outros encontrando muitas dificuldades e limitações. Na verdade, o envelhecimento
não altera o caráter do ser humano, pois ele envelhece da mesma forma que viveu
durante o seu processo de desenvolvimento. Uns felizes e tranqüilos, e outros
temerosos e frustrados, diante das situações que a vida lhes proporciona.
Moraes e Souza comentam que, quando os indivíduos envelhecem com
autonomia e independência, as dificuldades são atenuadas e, dessa forma, poupam
os investimentos tanto da família como da sociedade, “portanto, na velhice, uma vida
mais saudável está intimamente ligada à manutenção ou à restauração da
autonomia (capacidade de decisão, de comando) e da independência (capacidade
de realizar algo por seus próprios meios)” (2003, p. 64).
No dia 29 de setembro de 2006, a ONU 12 (Organização das Nações Unidas)
comemorou o Dia Internacional da Terceira Idade. Esta data é comemorada pela
ONU desde 1991.

12
A Organização das Nações Unidas é uma instituição internacional formada por 192 Estados
soberanos, fundada após a 2ª Guerra Mundial para manter a paz e a segurança no mundo, fomentar
relações cordiais entre as nações, promover progresso social, melhores padrões de vida e direitos
humanos. Os membros são unidos em torno da Carta da ONU, um tratado internacional que enuncia
os direitos e deveres dos membros da comunidade internacional. As Nações Unidas são constituídas
por seis órgãos principais: a Assembléia Geral, o Conselho de Segurança, o Conselho Econômico e
Social, o Conselho de Tutela, o Tribunal Internacional de Justiça e o Secretariado. Todos eles estão
situados na sede da ONU, em Nova Iorque, com exceção do Tribunal, que fica em Haia, na Holanda.
Ligados à ONU há organismos especializados que trabalham em áreas tão diversas como saúde,
agricultura, aviação civil, meteorologia e trabalho – por exemplo: OMS (Organização Mundial da
Saúde), OIT (Organização Internacional do Trabalho), Banco Mundial e FMI (Fundo Monetário
Internacional). Estes organismos especializados, juntamente com as Nações Unidas e outros
programas e fundos (tais como o Fundo das Nações Unidas para a Infância, UNICEF), compõem o
Sistema das Nações Unidas. (NAÇÕES Unidas no Brasil. Conheça a ONU. Disponível em:
<http://www.onu-brasil.org.br/conheca_onu.php />. Acesso em: 10 maio 2007).
39

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) 13 , o número de idosos no


planeta deve triplicar até 2050, chegando a dois bilhões. No Brasil, as pensões
públicas ou aposentadorias representam atualmente 8% do PIB 14 e devem aumentar
para 20% em 2050.
Com o desenvolvimento socioeconômico agregado ao avanço científico e
tecnológico, podemos perceber que as condições e a qualidade de vida melhoraram,
e, apesar das dificuldades, há um acréscimo de anos formando uma nova identidade
e cultura para a velhice, tornando a longevidade evidente na maioria dos países
desenvolvidos ou em desenvolvimento.
Para o especialista em envelhecimento, do Departamento de Assuntos
Econômicos e Sociais da ONU, Paulo Saad, nunca houve tantos idosos no mundo.
Saad relatou em seu discurso, nesta data, à Rádio ONU, que o amadurecimento
rápido da população já está causando problemas para a previdência social e a
saúde

13
Organização Mundial da Saúde (OMS) é uma agência especializada em saúde, fundada em 7 de
abril de 1948 e subordinada à Organização das Nações Unidas. Sua sede é em Genebra, na Suíça.
O Diretor-Geral é, desde 2006, o sueco Anders Nordström. A OMS tem suas origens nas guerras do
fim do século XIX (México, Criméia). Após a Primeira Guerra Mundial, a SDN criou seu comitê de
higiene, que foi o embrião da OMS. Segundo sua constituição, a OMS tem por objetivo desenvolver
ao máximo possível o nível de saúde de todos os povos. A saúde sendo definida nesse mesmo
documento como um « estado de completo bem-estar físico, mental e social e não consistindo
somente da ausência de uma doença ou enfermidade. » O Brasil tem participação fundamental na
história da Organização Mundial da Saúde, criada pela ONU para elevar os padrões mundiais de
saúde. A proposta de criação da OMS foi de autoria dos delegados do Brasil, que propuseram o
estabelecimento de um "organismo internacional de saúde pública de alcance mundial". Desde então,
Brasil e a OMS desenvolvem intensa cooperação. (WIKIPEDIA – a enciclopédia livre. Organização
Mundial da Saúde. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Organizaçao_Mundial_da_Saude>.
Acesso em: 05 abr. 2007).
14
O PIB (Produto Interno Bruto) é um dos principais indicadores de uma economia. Ele revela o valor
de toda a riqueza gerada no país. O cálculo do PIB, no entanto, não é tão simples. Imagine que o
IBGE queira calcular a riqueza gerada por um artesão. Ele cobra, por uma escultura, de madeira, R$
30. No entanto, não é esta a contribuição dele para o PIB. Para fazer a escultura, ele usou madeira e
tinta. Não é o artesão, no entanto, que produz esses produtos --ele teve que adquiri-los da indústria.
O preço de R$ 30 traz embutido os custos para adquirir as matérias-primas para seu trabalho. Assim,
se a madeira e a tinta custaram R$ 20, a contribuição do artesão para o PIB foi de R$ 10, não de R$
30. Os R$ 10 foram a riqueza gerada por ele ao transformar um pedaço de madeira e um pouco de
tinta em uma escultura. O IBGE precisa fazer esses cálculos para toda a cadeia produtiva brasileira.
Ou seja, ele precisa excluir da produção total de cada setor as matérias-primas que ele adquiriu de
outros setores. Depois de fazer esses cálculos, o instituto soma a riqueza gerada por cada setor,
chegando à contribuição de cada um para a geração de riqueza e, portanto, para o crescimento
econômico.Hoje o IBGE divulgou apenas a variação percentual da economia brasileira, que cresceu
1,4% no primeiro trimestre. O valor em reais do PIB deve ser conhecido apenas no próximo mês.
(FOLHA Uol. Entenda o que é PIB e como é feito seu cálculo. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u108161.shtml>. Acesso em: 02 abr. 2007).
40

À medida que a população se torna mais envelhecida, o perfil de morbidade


deixa de ser composto principalmente por aquelas doenças características
de pessoas mais jovens. Pessoas que ficam doentes e, quando recebem o
tratamento, se curam e passam a ser aquelas doenças crônicas,
degenerativas que demoram muito mais tempo. Isso tem um custo muito
mais elevado, o tempo de permanência no hospital é muito maior e então o
custo na área de saúde vai aumentar muito por conta do envelhecimento da
população. Então tem de se ajustar à realidade (2006).

Ao lermos esse depoimento, do Dia Internacional da Terceira Idade 15 ,


percebemos que devem ser tomadas medidas a fim de que a velhice seja uma fase
que possua mais suporte e apoio de governos, familiares e sociedade em geral. No
Brasil, o Estatuto do Idoso - Lei nº 10.741 16 - aprovado pela Câmara e pelo Senado
Federal, sancionado pelo Presidente da República Luís Inácio Lula da Silva, em 1º
de outubro de 2003, define medidas de proteção às pessoas com idade igual ou
superior a 60 anos, amparados por leis específicas, cidadãos que estão na Terceira
Idade já têm onde se apoiar para buscar os seus direitos constitucionais. Nos seus
três primeiros artigos nos diz:

Art.1º – É instituído o Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos


assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.
Art.2º – O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa
humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei,
assegurando-se-lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e
facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu
aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de
liberdade e dignidade.
Art.3º – É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder
Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito
à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer,
ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à
convivência familiar e comunitária.

Citamos os três primeiros artigos, da Lei 10.741, porque neles podemos ter
uma base do que ela abrange, porém ela possui 118 Artigos, todos voltados aos
cuidados dos idosos. Esta Lei foi criada para que os idosos sejam amparados e
protegidos, e entendemos que é uma questão de fazer mais por pessoas que estão
nesta etapa, próximas ou não de nós, para que esta fase possa transcorrer de forma

15
Por recomendação da ONU, o ano de 1999 foi considerado o Ano Internacional do Idoso. O Dia
Internacional é comemorado dia 1º de Outubro. No Brasil, o Dia Nacional do Idoso foi estabelecido
pela Comissão de Educação do Senado Federal, também em 1999, com o objetivo de conhecer os
direitos e dificuldades dos idosos brasileiros. É comemorado no dia 27 de setembro. (PORTAL do
Voluntário. Disponível em: <http://www.portaldovoluntario.org.br>. Acesso em: 05 jun. 2007).
16
BRASIL. Planalto Central. Lei nº. 10.741, de 1º de outubro de 2003. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/2003/L10.741.htm>. Acesso em: 04 abr. 2007.
41

mais sadia, mental e fisicamente, e não ser estereotipada como uma fase de
invalidez, incapacidade e senilidade.
O perfil e o modo de viver das pessoas são caracterizados por diferenças, e
cada cultura possui sua peculiaridade, como salienta Balbinotti “os adultos maduros
de hoje são diferentes da época de nossos avós. Seu perfil é outro [...] desde um
novo visual até a luta pela manutenção da auto-estima” (2000, p. 10). Diante desse
contexto, devemos entender que há uma politização, em termos globais, para a
construção de uma nova e boa velhice, com mais autonomia e saúde, sem
preconceitos. Portanto, devemos rechaçar a idéia que Sommerhalder e Nogueira
comentam que, em nossa sociedade,

[...] paira sobre os idosos o preconceito de que são doentes improdutivos


para o trabalho e que necessitam de ajuda e apoio para tudo. Essa imagem
negativa do envelhecimento [...] pode estar sendo amparada por pesquisas
científicas equivocadas que associavam envelhecimento somente a perdas
(2000, p. 108).

Para podermos entender melhor como ocorre esse processo de envelhecer,


alguns autores comentam e explicam as características e mudanças nesta fase,
conforme Netto,

Após o nascimento, as pessoas vão desenvolvendo suas capacidades até


os 20 ou 30 anos, quando se atinge um acme. A partir daí, com o passar
dos anos, o desempenho funcional dos indivíduos vai-se deteriorando
pouco a pouco, motivado pelo processo natural e fisiológico do
envelhecimento. É um processo, mas inexorável e universal (1996, p. 314).

Para Kachar,

O organismo humano pode ser divido em diferentes fases desde a


concepção até a morte: desenvolvimento, puberdade, maturidade ou
estabilização e envelhecimento. A partir dos 30 anos, inicia-se uma perda
de 1% por ano das funções vitais biológicas, mas é aos 20 anos que
começa o processo de declínio em diversas funções dos órgãos do
indivíduo (2003, p. 29).
42

Neri afirma que

[...] o envelhecimento populacional é caracterizado pelo declínio da


mortalidade, pela diminuição de mortes de adultos por doenças infecciosas
e pelo declínio das taxas de natalidade. Nossa população de pessoas, com
mais de 65 anos, cresceu de 2,8% em 1960 para 3,1% em 1970, 4% em
1980, 4,8% em 1991 e 5,1% em 2000. Prevê-se uma taxa de 5,9% em 2010
e de 7,7% em 2020 (2004, p. 16).

E Hoffmann comenta que

O envelhecimento é causado por alterações moleculares e celulares, que


resultam em perdas funcionais progressivas dos órgãos e do organismo
como um todo. Esse declínio se torna perceptível ao final da fase
reprodutiva, muito embora as perdas funcionais do organismo comecem a
ocorrer muito antes. O sistema respiratório e o tecido muscular, por
exemplo, começam a decair funcionalmente já a partir dos 30 anos (2002).

Para Papalia e Olds (2000), o envelhecimento também pode ser dividido em


dois: o primário, sendo um processo gradual e inevitável de deterioração corporal
que começa mais cedo na vida e continua com o passar dos anos; e o secundário,
que consiste dos resultados de doenças, abuso ou desuso – fatores que muitas
vezes são evitáveis e dentro do controle das pessoas.
Conforme a gerontologia, ciência que estuda os idosos e o envelhecer, o
envelhecimento está associado a três grupos de idosos, sendo a mesma categoria
que a Organização das Nações Unidas (ONU) 17 apresenta: pré-idosos (55 a 64
anos), os idosos jovens ou “velhos jovens” (65 a 79 anos), idosos avançados ou
“velhos velhos” (70 a 80 anos) e os “velhos mais velhos” (85 anos ou mais); a partir
desses dados, as pessoas podem esperar atingir uma idade mais avançada do que
seus pais e avós, e muitos fatores podem influenciar nestas estatísticas, com hábitos
mais saudáveis (alimentação equilibrada) e estilos de vida mais ativos (prática de
exercícios físicos diários), desenvolvidos ao longo dos anos, proporcionam um maior
equilíbrio entre o físico e o mental, conforme mencionam Papalia e Olds.

Em nível mundial, a expectativa de vida subiu 41% desde 1950, de 46 anos


para 65, com maiores aumentos em países em desenvolvimento [...] a
média das expectativas de vida em países industrializados flutua entre 75 e
79. No Japão, as pessoas vivem mais do que qualquer outro lugar do
mundo: em média, 82,5 anos para mulheres e 76 para homens [...] Aos 80,

17
NAÇÕES Unidas no Brasil. Disponível em: <http://www.onu-brasil.org.br/>. Acesso em: 02 abr.
2007.
43

americanos brancos têm expectativas de vida de um ano ou dois a mais do


que pessoas de 80 anos na Suécia, França, Inglaterra e Japão –
possivelmente em função do maior nível de instrução ou maiores gastos
com assistência medica (2000, p. 496).

Kachar relata que

Nessa fase da vida, o indivíduo vive um despojamento maior [...] permitindo


ser mais o que é, em busca do que lhe confere verdadeiro sentido para sua
existência. Os muitos anos já vividos lhe delegam a sabedoria, e o tempo é
maior para maturar com uma realização interior mais profunda e significativa
(2003, p. 46).

E Berlezi e Rosa argumentam a importância de hábitos saudáveis e estilo de


vida que são fundamentais na promoção da saúde

A longevidade é o grande desejo do ser humano e sem dúvida a nutrição, o


combate ao fumo e as atividades físicas habituais são os fatores de maior
impacto no processo da longevidade e qualidade de vida dos indivíduos. A
qualidade de vida representa dignidade para a pessoa que envelhece; a
capacidade de se movimentar, assegurada por um estilo de vida ativa,
permite autonomia, isso significa a independência para suas atividades da
vida diária, o direito de ir e vir, a interação social e a participação ativa na
comunidade. Um estilo de vida saudável adotado ao longo de nossas vidas
é a maior garantia de termos uma longevidade com qualidade (2003, p. 95).

Após lermos os comentários de autores que estudam e pesquisam sobre


envelhecimento, questionamo-nos se tantas pessoas estão vivendo mais tempo,
como a qualidade de vida pode ser melhorada na Terceira Idade? E o que podemos
fazer para que, ao envelhecer, elas se mantenham ativas e independentes? São
questões que devem ser repensadas nos vários segmentos, tanto no nível de
políticas públicas, como em organizações privadas que se preocupam com o
crescente aumento desta população.
Mesmo com uma melhora na qualidade de vida, a diversidade e o
isolamento social entre os indivíduos na Terceira Idade tende a aumentar,
entretanto, através de diferentes programas, esses indivíduos, que não têm um
comprometimento maior em relação à sua saúde, podem ter uma melhor qualidade
quando lhes for assegurado o direito de continuar trabalhando, ativos, conforme
suas capacidades e seus potenciais, tendo a oportunidade de participar da
sociedade nas questões sociais, civis, espirituais, culturais e econômicas, conforme
suas necessidades e desejos.
44

O sujeito que estiver nesta fase, mas comprometido com doenças e


limitações, também pode continuar contribuindo com sua família, vizinhos, colegas e
pessoas próximas de si, através de sua própria experiência de vida, transmitindo
seus valores culturais e diminuindo, com isso, as lacunas existentes entre as
diferenças de gerações, promovendo a solidariedade nas distintas etapas da vida,
desde que lhe seja proporcionado um ambiente de apoio com opções saudáveis,
tanto físicas como mentais. Moraes e Souza nos explicam que idosos ativos são
mais engajados socialmente, e superam, com mais tranqüilidade as eventuais
perdas de papéis sociais ou ainda não chegam a perdê-los, quando afirmam

Fala-se na reinvenção da velhice, do novo velho. Este novo velho


possivelmente está usando suas experiências de vida e sua sabedoria para
buscar um equilíbrio entre ganhos e perdas. Está estabelecendo relações
interpessoais significativas, desenvolvendo atividades produtivas
remuneradas ou não, acreditando e confiando mais em si mesmo,
empenhado em sua autonomia, estabelecendo metas em sua vida (2003, p.
69).

Por isso, temos um desafio não só local, mas nacional e global com a
população que está em processo de envelhecimento e, se a sociedade como um
todo entender que devemos proporcionar aprendizagem permanente ao longo da
vida pensando em capacitação em vez de incapacidades, oportunizar o
desenvolvimento de novas aprendizagens e habilidades, principalmente em relação
às tecnologias de informação e comunicação, pois fazem parte dos hábitos da
sociedade. Com variados programas e, principalmente, voltados a esclarecimentos
sobre o que é um envelhecimento saudável, de como é se preparar para este
envelhecimento, de como planejá-lo e de como cuidar de si mesmas, com certeza
teremos um número maior de pessoas com uma melhor qualidade de vida, à medida
que estas envelhecerem. Com isso, haverá menos gastos com assistência e
tratamentos médicos, e pessoas mais engajadas ativamente em projetos sociais,
econômicos, políticos, na vida familiar ou comunitária, prolongando a independência
a e autonomia por um período mais longo possível.
45

2.2 CARACTERÍSTICAS GERAIS DO ENVELHECIMENTO HUMANO

Como é natural, embora não nos agrade,


as mudanças associadas ao envelhecimento
são praticamente inevitáveis, o que já não acontece
com as doenças que podem ser contornadas
através de sábia dimensão de saúde na vida adulta.
Justamente a doença é mais produto da ignorância
e falta de preparo educacional do que a inevitabilidade
(MOSQUERA, 1986, p. 360).

O processo de envelhecer não se reduz mais ao fator idade, apesar de ser


socialmente determinado, e, mesmo que seja um condicionante para caracterizar
esta fase, varia entre gerações e entre culturas. A maneira como a pessoa se adapta
diante das mudanças que ocorrem na sociedade e como ela mesma se vê determina
as distintas formas de envelhecer. Através de variadas pesquisas nas diversas áreas
do conhecimento, podemos afirmar que a idade funcional é a que determina se um
sujeito é velho ou não, através da qualidade de vida juntamente com as condições
de meio ambiente que ele viveu e vive. Mesmo que haja uma relação entre os anos
que a pessoa viveu e o envelhecimento, a ciência mostra que existem várias idades,
como Osório coloca

a) Idade biológica ou funcional, que corresponde à idade cronológica. Neste


processo de envelhecimento estão presentes fatores ambientais e
psicológicos que produzem grandes variações individuais. Não é, portanto,
a idade em si mesma o aspecto determinante, mas “o modo como ela é
vivida”, o que se relaciona de forma mais específica como o
envelhecimento;
b) A idade psíquica ou mental, que se refere fundamentalmente ao
envelhecimento psicológico, manifestado em alterações psicossociais e
psicoculturais, que podem ter derivações patológicas segundo a concepção
de velhice e de desenvolvimento pessoal que predomine;
c) A idade subjetiva ou fenomenológica relaciona-se com aquela que a
pessoa “sente” honestamente, do ponto de vista físico, mental e social.
Corresponde à percepção do envelhecimento pela pessoa que o
experimenta;
d) A idade social faz referencia à representação social dominante da
velhice. Tanto por parte da família e dos amigos como da sociedade,
espera-se uma série de atitudes e comportamentos que, caracterizam a
pessoa anciã, com base no contexto sociocultural do meio envolvente
(2003, p. 314).

A maioria das teorias biológicas de envelhecimento encaixa-se em duas


categorias: teorias de programação genética e teorias de taxas variáveis. Papalia e
46

Olds (2000) nos informam as diferenças entre elas, que estão resumidas na tabela
abaixo.

2.2.1 Quadro 1: Teorias do Envelhecimento Biológico

Teorias de Programação Genética Teorias de Taxas


Variáveis
Teoria de senescência Teoria do desgaste: as células e os tecidos têm
programada: o envelhecimento é o partes especiais que se desgastam.
resultado da ativação e desativação
seqüencial de certos genes, com a Teoria dos radicais livres: os danos
senescência sendo definida como o acumulados dos radicais de oxigênio fazem com
momento quando déficits associados que células e, eventualmente órgãos, parem de
com a idade se manifestam. funcionar.

Teoria endocrinológica: relógios Teoria da taxa de metabolismo: quanto maior a


biológicos atuam através de taxa de metabolismo de um organismo, mais
hormônios para controlar a taxa de curto é o ciclo de vida.
envelhecimento.
Teoria do erro-catástrofe: proteínas defeituosas
Teoria imunológica: um declínio se acumulam a ponto de causar danos
programado nas funções do sistema catastróficos às células, tecidos e órgãos.
imunológico leva à maior
vulnerabilidade à doença infecciosa Teoria da mutação somática: mutações
e, assim, ao envelhecimento e à genéticas ocorrem e se acumulam com o avanço
morte. da idade, fazendo as células se deteriorarem e
funcionarem mal.

Teoria auto-imune: o sistema imunológico se


confunde e ataca as próprias células do
organismo.
Fonte: Papalia e Olds, 2000

O envelhecimento é um estágio inerente ao curso natural da vida, e algumas


características físicas são afetadas, como Papalia e Olds (2000) relatam:
- A memória, esta é dividida em memória de curto prazo (memória
primária e memória de operação) e memória de longo prazo (memória
episódica e memória semântica);
- A visão, os adultos mais velhos não têm visão melhor do que 20/70 e
têm problemas na percepção - profundidade ou cor para fazer coisas
como ler, costurar, fazer compras e cozinhar;
47

- A audição, cerca de cada três pessoas de 65 a 74 anos e cerca da


metade daquelas com 85 anos ou mais têm perda auditiva que interfere
na vida diária;
- O olfato e gustação, perdas nesses sentidos são parte normal do
envelhecimento; é possível que tenham menos papilas gustativas na
língua e também porque o bulbo olfativo – órgão cerebral que é
responsável pelo sentido olfativo – definhou;
- O funcionamento psicomotor, os movimentos e a agilidade começam
a falhar, gradativamente, as pessoas mais velhas têm menos força da
que tinham antes e são limitadas em atividades que requerem
resistência ou capacidade de carregar cargas pesadas;
- O funcionamento sexual, pessoas mais velhas tendem a sentir menos
tensão sexual, geralmente têm relações sexuais com menos freqüência
e sentem menos intensidade física;
- A demência, cerca de 80% dos casos de demência entre idosos é
causada por problemas cardiovasculares, Mal de Parkinson ou pelo Mal
de Alzheimer; e
- A depressão, os sintomas da depressão são mais comuns entre adultos
mais velhos do que adultos mais jovens, estima-se que, de 10 a 15%
dos idosos que vivem na comunidade, e uma porcentagem muito maior
dos que vivem em hospitais e clínicas de repouso, mostrem sinais de
depressão.

Conforme o Dr. Yukio Moriguchi 18 e o Dr. Emilio A. Jeckel Filho 19 , em seu


livro Biologia Geriátrica, por volta dos 60 anos de idade, dependendo da pessoa,
temos de ter um cuidado com nosso organismo, porque as condições físicas
começam a se modificar gradativamente; para tanto, eles apresentam algumas
características referentes ao envelhecimento humano que são:

18
Médico pela Keio University (Japão), Ph.D em Medicina pela Keio University (Japão), Professor
Titular do Instituto de Geriatria e Gerontologia da PUCRS, Professor do Programa de Pós-Graduação
em Gerontologia Biomédica da PUCRS, Professor da área de concentração em Geriatria do
Programa de Pós-Graduação em Medicina e Ciências da Saúde PUCRS.
19
Biólogo pela UFRGS, Mestre em Educação pela PUCRS, PHD em Medicina pelo Insitute for
Medical Science of Aging, Aichi Mecial University (Japão), Professor dos Programas de Pós-
Graduação em Gerontologia Biomédica, em Medicina e Ciências da Saúde e em Biologia Celular e
Molecular da PUCRS.
48

2.2.2 Quadro 2: Características do Envelhecimento

Pele • Modificações da pele e seus anexos (pêlos, cabelos e unhas),


• Alterações na composição do tecido conjuntivo que compõe
camada derme,
• Mudanças qualitativas e quantitativas na síntese de fibras
colágenas e de fibras elásticas,
• Redistribuição dos vasos sanguíneos da derme,
• Modificação do tecido adiposo adjacente.

Sistema • Diminuição gradual na espessura dos ossos,


Músculo-
• E na resistência e na arquitetura do tecido ósseo,
Esquelético
• Mudanças nos níveis hormonais (mulheres antes e depois do
climatério).

Sistema • É uma atividade vital para o organismo,


Respiratório
• Diminui à medida que o indivíduo envelhece,
• Deve haver uma prevenção para que não apareça situação
aguda de doenças,
• Deve-se evitar o fumo e resguardar-se em climas frios.

Sistema • Modificações gradativas dos órgãos que compõem o sistema,


Digestório
• Diminuição da capacidade do processamento dos alimentos
durante a digestão,
• Movimentos peristálticos da musculatura das paredes do tubo
digestivo ficam mais lentos,
• Diminuição no volume total do fígado e o número de células do
parênquima hepático,
• Diminuição na produção da bile.

Sistema Urinário • Mudanças na capacidade funcional e metabólica dos rins,


• Rins, diminuição em número do néfron (unidade funcional).

Sistema • O sistema cardiovascular apresenta diferentes características


Cardiovascular em diferentes fases da vida, algumas patologias não estão
associadas ao envelhecimento, mas ao estilo de vida; por isso,
é importante que os cuidados de prevenção de suas doenças
sejam exercidos por toda a vida das pessoas.

Sangue • Declínio na capacidade hematopoiética da medula vermelha,


• Menor quantidade de eritrócitos,
• Leves alterações nos tipos e quantidade de leucócitos
circulantes.
49

Sistema Imune • Involução do timo, em grande parte devido à atrofia do córtex


adrenal,
• Redução do potencial hematopoiético,
• Redução da celularidade da medula óssea,
• Disfunção das células B,
• Perda da capacidade fagocitária,
• Redução no tráfego de células dendríticas,
• Taxas de interferon – alfa, IL-2 e TGF-beta, encontram-se
reduzidas,
• Apoptose das células T CD4 e CD8.

Sistema • Mulheres, após a menopausa, perdem a capacidade


Reprodutor reprodutiva,
• Homens: há um declínio muito lento na capacidade
reprodutiva.

Sistema • Alterações nos níveis de produção e secreção hormonal,


Endócrino
• Redução da liberação de esteróides sexuais pelas gônadas,
da secreção de DHEA e DHEAS pelas adrenais,
• Elevação do cortisol e de ACTH séricos,
• Diminuição da liberação do hormônio de crescimento pela
hipófise,
• Maior suscetibilidade em desenvolver resistência à insulina.

Sistema Nervoso • Diminuição da velocidade de condução e de resposta (reação


a um estimulo é mais lenta),
• Mudanças nos órgãos dos sentido,
• Diminuição da percepção da quantidade de sal e açúcar e
condimentos em geral,
• Diminuição da sensibilidade cutânea.

Órgãos do • Modificação da audição (idades próximas a senescência,


Sentido ocorre perda gradativa da função total, tendendo para quadros
crescentes de surdez),
• Estrutura celular dos olhos se modifica fazendo com que haja
menos percepção de luz, alteração gradual da capacidade de
percepção visual,
• Diminuição de percepção olfativa (perda do paladar),
• Sensação do tato também diminui com a idade (às vezes não
percebem o contato com uma superfície quente, causando
lesões).
Fonte: Livro Biologia Geriátrica, 2003
50

2.3 TERCEIRA IDADE: SUAS DIMENSÕES FÍSICAS, PSICOLÓGICAS, SOCIAIS


E ESPIRITUAIS.

Espiritualidade está relacionada


ao profundo sentimento de pertença ao universo e,
portanto, à compreensão dessa experiência
que se manifesta em princípios de
vida que definem ações sociais cotidianas
(PORTAL, 2003, p. 17).

O ser humano não nasce pronto; ao nascer, ele é um projeto que, ao longo
do seu desenvolvimento humano, vai-se moldando e se adaptando conforme suas
experiências de vida, escolhas e relações com outros seres humanos; assim, vai-se
construindo a partir da interação com o mundo externo através de uma rede de
relações. Em sua busca, o ser humano vai evoluindo nos aspectos pessoal, cultural
e social podendo realizar-se ou não, pois muitas de suas atitudes no passado
podem determinar seu presente, tornando-o uma pessoa realizada ou não com sua
vida.
Ao longo da existência do ser humano, o físico vai-se alterando e, como
conseqüência, ocorrem também mudanças psicológicas alterando sua visão e
relação com o mundo espiritual; Portal “a espiritualidade é um sentimento de
conexão com uma ordem superior, sendo percebida de forma diferente para cada
pessoa [...] é uma jornada pessoal e íntima” (2003, p. 17).
Com o avanço da ciência, o homem foi influenciado e estimulado para ter
uma visão de mundo em que tudo que existe é de forma fortuita, mecânica e
mensurável tornando a sociedade individualista, em que não há mais espaço nem
consideração com as pessoas que envelhecem, conseqüentemente muitas delas
são ‘descartadas’ por não serem mais produtivas e adaptadas a esta realidade. O
descaso com o ser humano existe, pois “nascemos todos egocêntricos” Suhr (2004),
e, mesmo com tantos avanços científicos - foi descoberta na seqüência do genoma
humano a similaridade entre os seres humanos -, portanto a humanidade vive um
destino comum.
51

Morin comenta que

[...] temos todos uma identidade genética, cerebral, afetiva comum em


nossas diversidades individuais, culturais e sociais. Somos produto do
desenvolvimento da vida da qual a Terra foi matriz e nutriz. Enfim, todos os
humanos, desde o século XX, vivem os mesmos problemas fundamentais
de vida e de morte e estão unidos na mesma comunidade de destino
planetário (2001, p. 76).

E Suhr nos afirma

Os rápidos progressos da ciência e da tecnologia fizeram de nós membros


de uma comunidade mundial, habitantes de uma única e mesma “aldeia
global”. Ora, a maior parte das pessoas não tem consciência disso e as que
têm preferem, muitas vezes, dedicar-se aos ínfimos pormenores dos seus
afazeres quotidianos e, em especial, à aquisição ou à preservação do
prestígio pessoal (2004, p. 253).

Neste contexto, em que tudo está conectado, tanto as pessoas, como o


conhecimento, os problemas e as soluções, e não há mais fronteiras; se nos
reportamos à história da humanidade, podemos salientar que no primeiro livro da
Bíblia Cristã – Gênesis –, que significa “origem”, no hebraico, está escrito que o
“homem foi criado a imagem e semelhança de Deus” e que o “homem viveria 120
anos”, hoje já pode ser uma realidade, pois com o avanço da medicina e da ciência,
através de uma melhor qualidade de vida, podemos viver mais, cuidando do físico,
do emocional e do espiritual, aumentando as estatísticas do prolongamento da vida,
que é uma das maiores conquistas do século passado.
Também é mencionado que o homem deve viver em harmonia e paz,
consigo e com seu próximo, entretanto, apesar de todo o avanço científico em que já
foi analisado o Genoma Humano, (LEWIS, 2004), o ser humano está ‘involuindo’,
pois o egoísmo e o egocentrismo são evidenciados em todas as sociedades, e isso
faz com que o homem rejeite seu semelhante, sem ao menos tentar compreender
suas angústias, incertezas, aflições e misérias humanas, ocasionando um
desequilíbro e uma incompreensão nas relações humanas; por conseguinte,
perdem-se sentimentos como solidariedade e amizade; Mosquera enfatiza que “o
homem contemporâneo é esquelético, desprovido de espiritualidade, fortemente
aferrado ao material e carente de toda e qualquer situação de plena consciência”
(2004,p. 38).
52

Ao observarmos a banalização dos movimentos sociais, que trabalham com


a questão da solidariedade e dos direitos humanos, temos a sensação de que
muitas destas ONGs 20 são falsas ilusões criadas e promovidas pela mídia e de que
suas idéias adquirem consistência para atender a demanda de uma sociedade
hipócrita, alienada e desregrada, em que o mais importante é estar na mídia, e de
pessoas físicas que ajudam para aliviar suas consciências e que, na sua visão de
mundo, estão fazendo algo por alguém sem precisar se expor e se envolver.
Mosquera coloca que

Uma reflexão se faz importante nestes momentos. De que modo uma


sociedade como a nossa, montada na indiferença, na insensibilidade, pode
ser sadia? Acrescentamos: poderemos sobreviver a esta patologia social? A
substituição dos objetos pelos sentimentos e união entre as pessoas têm
gerado seres ávidos de um consumo cada vez mais feroz que não encontra
satisfação nem descanso (1979, p. 76).

Vivemos um antagonismo entre os povos e raças no qual não existem mais


fronteiras entre religiões e etnias, porém o que mais vale é o ter e não o ser,e os
interesses estão voltados apenas para o lucro econômico desordenado das grandes
potências, paradoxalmente o mundo cada vez se torna mais uno, caminhando na
mesma direção, com os mesmos objetivos, porém ao mesmo tempo dividido e
fragmentado

Os antagonismos entre nações, religiões, entre laicização e religião,


modernidade e tradição, democracia e ditadura, ricos e pobres, Oriente e
Ocidente, Norte e Sul nutrem-se uns aos outros, e a eles mesclam-se
interesses estratégicos e econômicos antagônicos das grandes potencias e
das multinacionais voltadas para o lucro (MORIN, 2001, p. 69).

A retomada da espiritualidade em nossas vidas e uma educação espiritual


holística, Singh “a dimensão espiritual deve estar no centro da nossa reflexão sobre

20
As Organizações não governamentais (ou também chamadas de organizações não
governamentais sem fins lucrativos), também conhecidas pelo acrônimo ONG, são associações do
terceiro setor, da sociedade civil, que se declaram com finalidades públicas e sem fins lucrativos, que
desenvolvem ações em diferentes áreas e que, geralmente, mobilizam a opinião pública e o apoio da
população para melhorar determinados aspectos da sociedade. Estas organizações podem ainda
complementar o trabalho do Estado, realizando ações onde ele não consegue chegar, podendo
receber financiamentos e doações do mesmo, e também de entidades privadas, para tal fim.
Atualmente, estudiosos têm defendido o uso da terminologia organizações da sociedade civil para
designar as mesmas instituições. É importante ressaltar que ONG não tem valor jurídico. No Brasil,
três figuras jurídicas correspondentes no novo Código Civil compõem o Terceiro Setor: associações,
fundações e organizações religiosas (que foram recentemente consideradas como uma terceira
categoria). (WIKIPEDIA – a enciclopédia livre. ONG. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/
wiki/ONG>. Acesso em: 10 abr. 2007).
53

educação” (2004, p. 244), que contemplem, equilibrem e harmonizem todas as


outras dimensões, por que exteriorizamos o que internamente temos tanto de bom
como de mal, torna-nos seres humanos melhores e mais capazes para nos
dedicarmos ao próximo, conforme salienta Portal “a espiritualidade faz parte da
humanidade, sendo necessária uma tomada de consciência da conexão do espírito
com a vida [...] para criar uma pessoa melhor” (2004, p. 17), e Yus afirma que “a
espiritualidade se refere à nossa verdadeira natureza, o eu, que está profundamente
conectada com uma realidade espiritual maior” (2002, p. 111).
Desenvolvendo a capacidade de refletir através da consciência, poderemos
nos conhecer e nos compreender melhor, buscando nossa identidade através do
autoconhecimento, como enfatiza Morin “a consciência espiritual da condição
humana [...] nos permite, ao mesmo tempo, criticar-nos mutuamente e autocriticar-
nos e compreender-nos mutuamente” (2001, p. 77). Por isso, quando o ser humano
se conhece a si mesmo, tem um maior discernimento para poder ajudar a
transformar-se a si e ao mundo que o rodeia manifestando o que de bom ele possui,
sua unidade com o espiritual (divino).
Marques nos explica que

De todas as áreas da vida humana, o espiritual (religioso ou não) parece ser


aquele que permeia as outras esferas, sendo sua origem e o seu final. A
partir dele desenvolve-se uma maior consciência de se estar vivo e um
estímulo para integração interna (corpo-mente-espírito) e externa (pessoas-
ambientes-seres-vivos-universo), proporcionando sentimentos de unidade.
O espiritual alimenta, dá sentido, vitaliza e significa a vida como um todo,
não mais dividida em áreas. (2003, p. 459)

O homem vive uma fragmentação e uma estagnação de seus sentimentos,


os problemas se tornam imperceptíveis e invisíveis diante de tantas injustiças,
misérias e infortúnios e, neste contexto cruel em que vivemos, o ser humano sente
um vazio, não compreende a si mesmo, não reflete em sua vida e não se analisa,
afetando, dessa forma, sua dimensão física, psicológica, social e espiritual;
entretanto, neste século que adentramos, novos paradigmas apontam para uma
educação holística e integral do ser humano.
54

Mosquera corrobora com esta idéia afirmando que

A falta de valor pela existência, massacre contínuo das convicções,


apodrecer dos verdadeiros direitos humanos, sofrimento e dor de inúmeros
seres neste momento histórico bem evidenciam a imperfeição do
crescimento ou malícia e estultice dos falsos criadores de mitos e ilusões.
(2004, p. 39).

A espiritualidade sempre foi assunto para as religiões, contudo muitas


pesquisas comprovam que, quando nos aproximamos de uma divindade, um ser
superior, um ser maior, ou podemos chamar simplesmente de Deus, e somos
espiritualizados através desse contato, por certo tornamo-nos seres mais
harmônicos, homogêneos.
Ao olharmos o significado da palavra ‘homem’, notamos que vem do latim
homo de humus (terra); no hebraico adam, nome dado ao primeiro homem, Adão, é
traduzida por ‘aquele que tirou sua vida adamah’, da terra. Segundo a Teologia,
ciência que estuda Deus, o homem compõe-se de três partes, ou elementos
essenciais, as quais vêm a ser corpo, alma e espírito. O corpo é a matéria da sua
constituição; a alma, em hebraico nephesh e em grego psyche, é o princípio da vida
animal que o homem possui em comum com os animais. A ele pertencem o
entendimento, a emoção e a sensibilidade, que terminam com a morte. O espírito,
em hebraico ruah e em grego pneuma, é o princípio do homem e da vida imortal.
Possui razão, vontade e consciência e se estende à eternidade após a morte do
corpo. O corpo é o órgão dos sentidos e o laço que une o espírito ao universo
material, as impressões vêm do exterior, pelo corpo, porém elas só têm significados
quando reconhecidas e atendidas pelo espírito. A consciência - o poder de pensar,
querer e amar - pertence exclusivamente ao espírito, Portal “o espírito nos traz a
vitalidade e a energia [...] é o significado da vida constituída de seres humanos
comprometidos na prática de criar mais compaixão em relacionamentos
significativos” ( 2004, p. 18).
Como diz Capra, “a idéia comum a todas essas palavras é a de que a alma
ou o espírito são os sopros da vida” (2005, p. 53), portanto percebemos que,
havendo uma sintonia entre a tricotomia humana, seremos pessoas as quais,
parafraseando Delors, (2004), aprenderemos a conhecer, descobrir melhor a nós
mesmos e aos outros, compreendo melhor o mundo e percebendo as mudanças que
tão rapidamente ocorrem a nossa volta; aprenderemos a fazer, a decidir e a
55

investigar diferentes formas de acesso à informação e a tomar consciência de que o


fazer toma uma conotação de parceria e equipe; aprenderemos a viver junto, a partir
de experiências em vários setores da sociedade, com trabalhos voluntários,
interagindo e participando ativamente com os problemas de nossas comunidades,
vivendo dessa forma uma vida mais comunitária e solidária; aprenderemos a ser
melhores e mais humanos, se desenvolvermos um espírito cristão e misericordioso e
comprometido para com nosso semelhante, desenvolvendo a sensibilidade, os
sentidos ético e estético da vida, responsabilidade social, criatividade bem como
desenvolvendo a imaginação, o pensamento autônomo e crítico, através da
interação como construirmos com o mundo para que saibamos agir em diferentes
circunstâncias ao longo de nossas vidas.
Também referente à espiritualidade, Capra assim se refere

A espiritualidade, ou a vida espiritual, é geralmente compreendida, como um


modo de ser que decorre de uma profunda experiência da realidade,
chamada de experiência mística, religiosa ou espiritual [...] se trata de uma
experiência direta e não-intelectual da realidade, dotada de algumas
características fundamentais que independem totalmente dos contextos
históricos e culturais (2005, p. 81).

A partir dessa retomada ao espiritual, devemos pensar em uma educação


que promova as múltiplas potencialidades humanas, porque esta reflete a sociedade
em que está inserida, e este modelo é deficiente e agonizante, não responde mais
aos aspectos culturais e muitos menos socais a que se propõe, preocupada em
educar a partir das tecnologias confronta-se com as conseqüências destas que são,
entre muitas: a exclusão social e, conseqüentemente, a digital, pessoas sem acesso
à informação e conhecimento que estão a cada dia vivendo à margem deste
sistema.
Singh nos afirma que

A educação holística deve ter em conta as múltiplas facetas – físicas,


intelectuais, estéticas, emocionais e espirituais – da personalidade humana
e tender, assim, para a realização deste sonho eterno: um ser humano
perfeitamente realizado vivendo num mundo em harmonia (2004, p. 245).

Muitos teóricos estão propondo uma forma de educação holística, ou seja,


uma nova abordagem em relação ao nosso planeta, ao ser humano e às suas
relações com a natureza e o espiritual.
56

Yus afirma que

A educação holística está essencialmente interessada em estabelecer


conexões entre aquelas áreas da vida que chegaram a estar fragmentadas
e polarizadas, tais como a mente e o corpo, o conhecimento racional e o
intuitivo, a própria pessoa e a comunidade, a sociedade humana e a Terra e
o ego pessoal e a “verdadeira natureza” ou essência espiritual, sobre a qual
os sábios do mundo sempre falaram (2002, p. 114).

Estamos vivendo no limite, “vivemos um destes raros momentos em que, a


partir de uma nova configuração técnica, quer dizer, de uma nova relação com o
cosmos, um novo estilo de humanidade é inventado” (LÉVY, 1998, p. 17); e as
mudanças sociais, culturais, espirituais são emergentes se quisermos ter uma nova
humanidade mais solidária, afetiva voltada para o seu semelhante. Entretanto,
acreditamos que a educação do século XXI, educação holística, deva promover uma
nova visão de homem integrando-o ao que foi fragmentado, ou seja, unificar razão,
emoção, cognição, intuição, corpo, mente e espírito (sub e intersubjetividade), Morin
“cabe à educação do futuro cuidar para que a idéia de unidade da espécie humana
não apague a idéia de diversidade e que a da sua diversidade não apague a da
unidade” (2001, p. 55).
A educação, a partir de uma retomada de valores, pode ser a mediadora
deste encontro entre homem, sociedade, natureza e o divino, através do resgate de
si próprio de forma mais humana, encaminhando de maneira fraterna e solidária,
resgatando suas potencialidades e o equilíbrio pessoal, buscando novas formas de
pensar e interagir com o mundo através de princípios mais éticos nas inter-relações
humanas, e, sobretudo um crescimento interior e transcendente através do
reconhecimento pelo outro, da autoconsciência e autoconhecimento,
experimentando emoções profundas em nossos envolvimentos íntimos com o
semelhante e o mundo, Suhr “nosso tesouro comum de sabedoria e de experiência
pode levar-nos – e levará com certeza – a encontrar os meios de aumentar o nosso
bem-estar espiritual e material e de vivermos juntos em harmonia” (2004, p. 256).
Portanto, ao chegar à Terceira Idade, quando a vida já perdeu seu
encantamento, os sonhos perderam-se e o vazio é inevitável, se o idoso tomar
consciência de que, através do espiritual, deste desenvolver e praticar o lado
espiritual, pode mudar o mundo físico e as circunstâncias que o cercam, ele se
tornará mais grato, sensível a um ser superior (que prefiro chamar de Deus), pois
57

“Ele” supre o vazio existencial: o vazio de nossas almas que peleja um eterno
conflito entre a razão e a emoção, o bem e o mal, de uma maneira egoísta e nociva
para nossas vidas. Essa batalha é vencida quando acreditamos que podemos mudar
as situações, reconstruir nossas vidas, reinventar nossa existência e ajudar de forma
incondicional, estendendo a mão àqueles que mais necessitam. Assim, não teremos
dúvida de que isso faz muito bem: o nosso físico será mais saudável, o psicológico
mais ajustado, o social mais interativo e abundante, e o praticar do espiritual com
todo ímpeto nos motivará e nos estimulará a enfrentar as adversidades com mais
tranqüilidade, proporcionando-nos uma melhor qualidade de vida.
No capítulo 3, Terceira Idade e a Aprendizagem ao Longo da Vida,
finalizando o referencial teórico, abordaremos a definição de autores sobre
aprendizagem ao longo da vida; como se processa; quais motivações as pessoas
precisam ter para continuar aprendendo; como a aprendizagem pode ser
reencantada, através do virtual.
3 TERCEIRA IDADE E A APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA

Estar vivo é estar aprendendo.


A aprendizagem não é algo que fazemos às vezes,
em locais especiais ou em alguns períodos da nossa vida.
É parte da nossa natureza. Nós nascemos aprendizes.
Na verdade,essa é discutivelmente
nossa característica humana mais distinta
(CLAXTON, 2005, p. 16).

3.1 APRENDER AO LONGO DA VIDA

Durante a vida toda, em cada aspecto dela,


as pessoas são aprendizes.
A aprendizagem ao longo da vida abrange
a paternidade / a maternidade, a separação e a perda;
enfrentar a doença e o infortúnio,
tanto de si mesmo quanto dos outros;
viver em novas culturas; aprender novas habilidades;
praticar hobbies e atividades de lazer;
dominar nova tecnologia; desenvolver uma
posição com relação às questões atuais
(CLAXTON, 2005, p. 221).

Desde que nascemos, buscamos compreender o mundo a partir dos


instrumentos sensoriais e mentais de que dispomos, conforme nossos valores e
crenças da cultura a qual pertencemos. Nesse infinito processo de conhecimento,
deparamo-nos com objetos, cores, formas, pessoas, ambientes, situações, dados
novos que a todo o momento nos impulsionam as descobertas, desenvolvendo em
nós novas estruturas de pensamento e construção de novos saberes. Dessa forma,
somos capazes de ampliar nossos conhecimentos, construindo-os através das
diversas possibilidades de interação com o nosso meio; Claxton (2005) afirma que a
aprendizagem modifica nosso conhecimento, agir e também ser. Somos sujeitos
ativos nesse processo, analisando, desenvolvendo tentativas, hipóteses destes
dados e informações, agindo sobre eles e novamente aprendendo a aprender
através dessa constante ação. Isso significa que não apenas introjetamos ou
acumulamos informações, mas que também atribuímos nosso próprio significado a
elas, de acordo com nossa atual capacidade de compreensão, fazendo desse
processo um contínuo aprendizado que levamos ao longo de nossa vida.
59

Claxton corrobora enfatizando que

A aprendizagem ao longo da vida exige, por exemplo, a capacidade de


pensar estrategicamente sobre o nosso próprio caminho de aprendizagem,
e isso requer a autoconsciência para conhecer nossos próprios objetivos, os
recursos necessários para buscar atingi-los e suas atuais potencialidades e
fragilidades nesse aspecto (2005, p. 20).

Contudo, vivemos no século XXI, e o mundo possui outra linguagem, outra


formatação, outra estrutura familiar. Os cidadãos que estão na Terceira Idade são
pessoas que acompanharam as mudanças mais radicais que aconteceram na
história durante o século passado, e hoje estão com 60 anos ou mais, pois nasceram
na década de 40, 30 ou 20. Essas gerações que ouviram, participaram, assistiram a
todas as mudanças das sociedades, em nosso país e no mundo, e que estão na
Terceira Idade ou entrando nela, e aprenderam, talvez, não nos bancos de escolas
ou universidades, mas com as experiências da vida, vivem muitos conflitos e
desafios, pois são estereotipadas e discriminadas por não ‘compreenderem’ a lógica
da sociedade da informação e do conhecimento, na qual tudo está conectado, tanto
as pessoas como os sistemas.
Entretanto, alguns teóricos têm postulado a idéia do conhecimento que se
desenvolve em rede, que podemos entender como uma metáfora, significando uma
teia onde tudo está interligado. Nessa interconexação, os fenômenos são
observados e descritos por conceitos, modelos e teorias, e não há nada que seja
indispensável e fundamental, que esteja em primeiro ou segundo plano, pois as
bases do conhecimento não são mais fixas e imutáveis. O entendimento do
conhecimento em rede colabora para a visão de transformação do potencial do
próprio conhecimento.
As teias que se ampliam num processo de interação de saberes geram uma
estrutura sempre maior e mais qualificada de compreensão, refutando a forma
desarticulada e fragmentada como vem ocorrendo o conhecimento. Nessa interação,
o indivíduo participa da construção e reconstrução do conhecimento não apenas
com o uso predominante do raciocínio e da percepção do mundo exterior pelos
sentidos, mas também usando as sensações, os sentimentos e a intuição para
aprender; portanto, precisamos reinventar a forma de ensinar e aprender a aprender
de forma flexível, adaptável, cooperativa, participativa e interativa e não mais
60

separada e fragmentada mediante tantas mudanças tecnológicas na sociedade e no


mundo que nos rodeia.
Osorio afirma que

[...] o conhecimento vai ser o principal recurso produtor de riqueza, o que


supõe que os membros da sociedade não só devem ter uma formação
básica, mas também incorporar conhecimentos de informática, de
tecnologia, aspectos que não eram imprescindíveis até a uma década. Por
isso, a educação contínua e permanente será uma atividade florescente,
apesar de a escola e a universidade a olharem, na sua opinião, com certa
desconfiança (2003, p. 32).

Os modelos tradicionais são cada vez mais inadequados, pois continuam


estáveis, sem acompanhar as variadas mudanças e educar sem as tecnologias,
porquanto é um desafio que até agora não foi enfrentado com profundidade. A
sociedade e as políticas públicas, em geral, estão despreparadas para
acompanharem o ritmo das mudanças e atenderem expectativas profissionais
concretas, quanto mais para anteciparem mudanças. Uma parte das organizações
educacionais prepara-se para esta mudança, outra parte permanece dentro de
paradigmas antigos; por conseguinte, o educar ao longo da vida deve ser uma
prática que seja inserida desde a educação infantil para que na velhice permita um
equilíbrio entre as necessidades e as habilidades individuais e as do grupo em que
se está inserido.
A educação deveria perpassar por uma educação social, na qual
pudéssemos implementar uma educação ao longo de toda a vida e possibilitar
melhores condições e mais adequadas para aprendizagem, não sendo uma simples
transmissão de conhecimento, mas superando o que já se atingiu, possibilitando
assim, autonomia para as pessoas que estão na Terceira Idade, a fim de termos um
futuro melhor. Mosquera comenta que

Importante seria colocar a pessoa idosa ante as mudanças rápidas dos


conhecimentos e costumes, ao mesmo tempo incentivá-la de que não é
ignorante, nem tola. Cremos que são pessoas que podem adquirir algo que
se chama educação informal, estando a par do que se passa pelo mundo,
pois são também parte deste mundo (1993, p. 128).

Portanto, a aprendizagem pode ocorrer ao longo de toda a vida e, mesmo na


velhice, ela pode ser desenvolvida como na infância, Papalia e Olds “as pessoas
mais velhas podem e efetivamente continuam a adquirir novas informações e
61

habilidades e são capazes de lembrar e usar aquelas que já conhecem” (2000, p.


511).
A ONU 21 divide os idosos em três categorias: pré-idosos, os idosos jovens e
idosos avançados. O crescimento dessa população é um fenômeno mundial e, em
vinte anos, o Brasil será o sexto país com o maior número de idosos no mundo
(FURTADO, 2005); conforme os Relatórios Populares do Conselho Estadual do
Idoso, do Rio Grande do Sul, de 1997, há 9% da população com 60 anos ou mais. A
partir desses dados, devemos pensar e refletir no significado de educação ao longo
da vida e em diversificadas atividades para este grupo que, após sua aposentadoria,
ou não, precisa interagir na sociedade da informação via inclusão digital bem como
participar dela.
Delors ressalta que,

A educação ao longo da vida é uma construção contínua da pessoa


humana, do seu saber e das suas aptidões, mas também da sua
capacidade de discernir e agir. Deve levá-la a tomar consciência de si
própria e do meio que a envolve e a desempenhar o papel social que lhe
cabe no mundo do trabalho e na comunidade (2004, p. 106).

Para Claxton

Aprender ao longo da vida deve significar mais do que adultos indo para a
escola a fim de aprender a usar a Internet [...]; significa ter a capacidade de
lidar de modo inteligente com a incerteza e a persistir diante da dificuldade
[...] significa fazer escolhas sobre quais convites de aprendizagem aceitar e
quais declinar (2005, p.24).

Existe uma preocupação em ensinar a criança e o jovem, porém as


sociedades esquecem que o aprender acontece ao longo de toda a vida, é preciso
desmistificar e desconstruir a visão de que na Terceira Idade somente há doenças,
baixa auto-estima e a espera da morte; para isso, devemos investir na
conscientização de que se pode envelhecer com qualidade de vida e que aprender é
sempre prazeroso, porque uma das características desse grupo é que eles possuem
saberes que são validados pelas suas experiências de vida.
Segundo Claxton, “durante a idade adulta, podem ser desenvolvidas tanto a
reflexão e a autopercepção, como também a aptidão para assumir uma visão geral,

21
NAÇÕES Unidas no Brasil. Disponível em: <http://www.onu-brasil.org.br/>. Acesso em: 02 abr.
2007.
62

estratégica e responsável do próprio caminho da aprendizagem” (2005, p. 238), e


Knechtel define a educação ao longo da vida como essencial para a “[...] busca da
cidadania, da liberdade e do respeito mútuo entre a população adulta de uma
sociedade moderna, podendo levar o homem a situar-se melhor na sociedade atual,
especialmente no contexto em que vive e convive [...]” (1994, p. 24).
Embora estejamos numa nova etapa de desenvolvimento tecnológico,
cultural, político e humano, o que presenciamos é que continuam oferecendo uma
educação dissociada, descontextualizada e desconectada da realidade do indivíduo
e da vida. Infelizmente o que percebemos é que a educação, em vez de promover o
diálogo a que se propõe, cumprindo o papel de provedora de acesso à informação e
o conhecimento, do homem consigo e com sua própria realidade, não proporciona
este encontro e dificulta esta interação; lamentavelmente continuam ofertando uma
educação fechada, estanque, centralizadora, estável, com um tratamento igual para
todos, descuidando das diferenças e das necessidades individuais, não dando valor
nem tolerando a diversidade, sem entender que é nela que há crescimentos, nem
promovendo o acesso à informação através do conhecimento como um elemento
emancipador.
As tecnologias de informação e comunicação alavancam mudanças em
todas as sociedades em que se instalam, provocando inúmeras e velozes
transformações em todas as esferas sociais, apontando novas tendências de valores
e concepções de vida. Por conseqüência, nossa sociedade e, principalmente, os
idosos, precisam atender às novas necessidades, adaptar-se às imprevisíveis
demandas geradas por essas mudanças, pois estas acontecem de uma forma
elitista e desigual contribuindo para as diferenças entre países, raças, gêneros e
etnias.
Contudo, essas mesmas tecnologias abrem novas possibilidades e trazem
novas exigências para desenhar a aprendizagem e o viver no século XXI e, diante
de tal cenário, nos questionamos: como poderemos repensar a educação ao longo
da vida e a inclusão de cidadãos que estão na Terceira Idade ou entrando nela, que
vivem muitos desafios de um mundo pautado nas tecnologias e que muda tão
rapidamente?. A partir de uma reflexão sobre os processos de mudanças sociais
registrados nos últimos anos, devemos pensar em um debate profundo sobre as
transformações sofridas nestes anos, tanto na esfera pessoal como na social, e os
desafios mais importantes do século XXI, que exigirá a integração dos idosos, neste
63

contexto, através de uma aprendizagem com as tecnologias, para que possam se


incluir digitalmente.
Portanto, aprender com alterações fisiológicas e mesmo com limites,
impostos pelo tempo que se viveu, exige uma pré-disposição e um estilo de vida que
a pessoa viveu e vive, significando a tentativa de ir mais além, ultrapassar-se,
superar-se, entrar em sintonia com a sociedade em que vive, compreender-se como
parte integrante dela, em que há uma nova relação como se processa o
conhecimento e com os outros. Como um indivíduo interdependente e autônomo de
um todo, e compreender que esta é uma caminhada individual na construção do
saber, e ao mesmo tempo coletiva, no entanto ainda pode realizar sonhos, alcançar
objetivos e realizar projetos que ficaram para trás ao longo de seu percurso podendo
ser conquistados ainda na velhice. O idoso que estiver motivado e viver uma relação
vibrante e intensa no meio em que estiver inserido poderá desconstruir essa imagem
imposta, que apenas acentua os aspectos pejorativos e que é associada aos
problemas e à inutilidade.

3.2 MOTIVAÇÃO PARA APRENDER E REAPRENDER AO LONGO DA VIDA

La motivación se entiende como un proceso psicológico


(no meramente cognitivo, la energía que proporciona la
motivación tiene um alto componente afectivo,emocional)
que determina la planificación y la actuación del sujeto
(HUERTAS, 2006, p. 48).

Novos significados criam-se e recriam-se, através das tecnologias de


informação e comunicação na sociedade do conhecimento, pois a informação
transforma-se em conhecimento, como um processo de transformação social,
cultural e pessoal, quando o indivíduo, fazendo parte desse processo, faz parte do
todo, e o conhecimento adquirido nesse contexto caracteriza-se como algo
inacabável e incompleto, em constante transformação.
Nessa perspectiva, entendemos que o ensino tende a se tornar cada vez
mais inovador, desafiador, motivador e criativo a fim de que possa fortalecer os
saberes e as condições de aprendizagem ao longo da vida, porquanto o conceito de
ensinar e aprender modifica-se e expande-se como redes, não havendo mais uma
64

linearidade nesse processo. Pozo explica que, se não estivermos motivados, não há
mudanças na aprendizagem, pois aprender implica mudar; assim

A maior parte das mudanças em nossa memória precisa de uma certa


quantidade de prática; aprender, principalmente de modo explícito ou
deliberado, supõe um esforço que requer altas doses de motivação, no
sentido mais literal ou etimológico, de “mover-se para” a aprendizagem [...] o
motivo da aprendizagem não é o que se aprende, mas as conseqüências de
tê-lo aprendido (2002, p.138-139).

Essa nova cultura educativa é formatada tanto em espaços escolares como


extra-escolares, e muitos teóricos têm vinculado esta idéia de educação formal,
informal e não-formal como uma educação ao longo da vida ou educação
permanente. Se conseguirmos tornar esta cultura educativa, juntamente com a
sociedade do conhecimento, uma realidade, atingindo diferentes camadas sociais,
estaremos contribuindo para esta idéia bem como a construindo, começando na
infância e continuando na fase adulta, desenvolvendo e melhorando aptidões e
competências em qualquer estágio de vida no qual o indivíduo se encontre.
Para que a educação seja estimulante e motivadora, ao longo da vida,
entendemos que deva ocorrer a democratização do conhecimento e a
democratização das tecnologias; para tanto, Mosquera salienta que “antes de partir
para a educação de pessoa idosa é necessário, em primeiro lugar, analisar
cuidadosamente as necessidades econômicas e os desafios da sociedade em
envelhecimento” (1993, p.129); não adianta programas se não tivermos o todo, pois
a sociedade do conhecimento e as tecnologias estão imbricadas, interligadas e
encontram-se em forma de rede; por conseguinte, aqueles que não tiverem acesso a
esta cultura informatizada estarão vivenciando um conhecimento incerto no qual o
fluxo da informação não é motivador nem relevante no processo de aprendizagem.
Assmann observa que

Só a aprendizagem em aumento permite o crescimento e a expansão


evolutiva. Isso coloca a exigência de combinações complexas entre
motivação intrínseca individualizada e motivações extrínsecas, consensuais
ou não. Os graus e variedades dessas combinações sempre influenciaram
de maneira evolutiva ou regressiva as aprendizagens possíveis (1998, p.
87).

Nesse contexto, entendemos que a motivação exerce um fundamental papel


como elemento de necessidade, para que o indivíduo que esteja envelhecendo
65

aprenda a aprender continuamente, desenvolvendo suas capacidades. Huertas nos


coloca que o ser humano está em constante desenvolvimento dialético entre:

[...] seu acontecimento como espécie (desenvolvimento dialético); seu


caminho na humanidade (desenvolvimento histórico-cultural);
transformações de sua vida (desenvolvimento ontogênico) e experiência e
aprendizagem do dia-a-dia (desenvolvimento microgênico) (2006, p. 72).

O mesmo autor salienta que se inicia um marco de socialização partindo de


características específicas a cada ser humano, e este está em constante mudança e
desenvolvimento que vai mudando seus motivos e metas ao longo de sua vida.
Geralmente somos motivados, interessados e curiosos para aprender e
compreender aquilo que não conhecemos totalmente ou desconhecemos, e,
provavelmente, esteja em nosso entorno. Como esse processo é muito rápido,
dinâmico e instantâneo, o conhecimento adquirido ao longo da vida hoje deve ser
alterado e reinventado, pois são as tecnologias que estão ampliando e alterando
toda a nossa maneira de viver, e também nos proporcionando novos estilos de
raciocínio e conhecimentos nas diferentes esferas da sociedade, porque, através
delas e a cada dia, são construídos novos modelos de conhecimentos, mudando e
alterando nossas funções cognitivas, como a memória, a percepção e o raciocínio.
Huertas (2006) comenta sobre vários autores e as múltiplas classificações
que se realizaram sobre as necessidades, sendo uma das mais conhecidas a de
Abraham Maslow. O autor procurava explicar por que certas necessidades
impulsionam o ser humano num momento determinado. Este fato levou-o a
estabelecer uma hierarquia entre elas; as necessidades aparecem de forma
sucessiva, começando pelas mais elementares ou inferiores, como a natureza
fisiológica. À medida que se vão satisfazendo em determinado grau, vão aparecendo
outras de nível superior, de natureza mais psicológica, e o acesso dos indivíduos às
necessidades de nível superior depende do seu nível de bem-estar. Para o autor,
todas as pessoas têm necessidades básicas, no entanto não significa que cheguem
a ter necessidades de auto-realização.
A Pirâmide de Maslow (PAPALIA e OLDS, 2000) hierarquiza as
necessidades humanas numa escala ascendente com o objetivo de compreender as
motivações das pessoas. O autor define um conjunto de cinco necessidades:
necessidades fisiológicas (básicas), tais como a fome, a sede, o sexo; necessidades
66

de segurança, que vão da simples necessidade de estar seguro dentro de uma casa
a formas mais elaboradas de segurança, como um emprego, uma religião, a ciência,
entre outras; necessidades de amor, afeição e sentimentos de pertença tais como o
afeto e o carinho dos outros; necessidades de estima, que passam por duas
vertentes: o reconhecimento das nossas capacidades pessoais e o reconhecimento
dos outros face à nossa capacidade de adequação às funções que
desempenhamos; necessidades de auto-realização, em que o indivíduo procura
tornar-se aquilo que ele pode ser.
Podemos traçar um paralelo entre a informação e as necessidades que
Maslow propõe, pois na nossa sociedade, atualmente, aparece como uma das
necessidades básicas, sendo utilizada para suprir as mesmas necessidades tanto
individuais como em grupos, e muito mais para os grupos de Terceira Idade que
precisam dela, para estarem inseridos nos contextos dos quais participam.
Mosquera, ao comentar sobre as necessidades, nos coloca que as crises
biopsicossociais da velhice podem ameaçar seus níveis mais inferiores.

A gratificação orgânica básica é ameaçada pela deterioração física. A


segurança é ameaçada pelo medo. O status e a aceitação são prejudicados
pelas atitudes sociais negativas relativas à velhice [...] a necessidade de
auto-estima é desgastada pelo sentimento de inferioridade, devido a essas
numerosas ameaças dos níveis mais inferiores pareceria extremamente
difícil para os idosos alcançar, ou manter, o funcionamento de auto-
realização. Surpreendentemente Maslow nos coloca que provavelmente as
pessoas mais auto-realizadoras são as pessoas idosas (1993, p. 129).

Porém, quando observamos grupos de Terceira Idade motivados a aprender


e reaprender na sociedade do conhecimento, buscando a satisfação de suas
necessidades e inserindo-se nessa sociedade, via inclusão digital, observamos que,
na maioria dos casos, eles estão buscando suprir essas necessidades. As que ficam
mais evidentes são as de auto-realização, que, na maioria das vezes, se perderam
ao longo da vida, e, as de pertença, pois depois de uma vida de experiências, muitos
deles se tornam excluídos, tanto pela família como pela sociedade, por não
interagirem da mesma forma, causando-lhes sentimentos de inutilidade e
incompetência. Entretanto, são estas as necessidades que os motivam para
aprender a lidar com as tecnologias de uma maneira desafiadora, interativa e
autônoma, proporcionando para os indivíduos que estão neste estágio da vida novas
motivações para aprender. Pozo, “à medida que a aprendizagem requer mais
67

esforço, de mais motivação se necessita para compensar o desgaste” (2002, p. 141),


estilos de raciocínio e conhecimentos nas diferentes esferas da sociedade, sendo
eles próprios os gestores de sua própria aprendizagem.
Com efeito, aprender nessa fase da vida requer muito mais que interesses e
necessidades, pois o indivíduo nesse estágio precisa estar motivado a querer
aprender para que a aprendizagem seja significativa, e ela pode ser desenvolvida,
como em fases anteriores, sem precisar sentir medo do novo e do desconhecido.
Pozo, “a motivação não depende só dos motivos que temos, mas do sucesso que
esperamos se tentamos alcançá-lo”, (2002, p. 142), sendo que o ambiente em que
está inserido pode estimulá-lo ou não para este processo. Diante disso, o idoso
motivado a aprender ou reaprender e que se apropriar das tecnologias de
informação, através da inclusão digital, sabendo usá-las, intensificará seu processo
de aprendizagem – experiência de vida ele já possui –, interagindo com diferentes
informações, pessoas e grupos, a partir de seus interesses e motivações,
socializando seus conhecimentos conforme suas próprias histórias de vida.

3.3 INCLUSÃO DIGITAL NA TERCEIRA IDADE E O REENCANTAMENTO DA


APRENDIZAGEM

Porque inclusão digital? Vivemos a cultura digital.


[...] A informática transforma as nossas vidas por alterar
profundamente nossa forma de conhecer, de nos
relacionarmos com a natureza e com as pessoas.
Ela influi, decisivamente, na forma como conhecermos
e como nos construímos como subjetividades.
Ao produzir um texto no suporte computador,
por exemplo, já não pensamos linearmente e
podemos, de forma circular,acompanhar as recorrências
de nosso processo de pensamento.
Da mesma forma, ao nos relacionarmos com
as pessoas numa rede digital, ficamos mais conscientes das
reconfigurações que acontecem em nós e na própria rede.
Isso tudo estende as nossas potencialidades humanas
(PELLANDA, 2005, p. 43)

Com o crescente aumento da população idosa no Brasil, devemos começar


a ter novos olhares para os idosos e a pensar como melhorar essa fase da vida,
mesmo diante de tantos limites que o envelhecimento proporciona para os
68

indivíduos, porém isso não significa que o idoso tenha que se abster de tudo, como
continuar a aprender, trabalhar, ter vida sexual e social ativa e lazer.
A idéia imposta pela sociedade de que, a partir de determinada idade, certas
atividades não devem mais ser ‘desfrutadas’ é uma concepção que vem sendo
superada em relação às constantes transformações sociais, uma vez que a
expectativa de vida vem aumentando muito e, com isso, surge a necessidade de
repensar como envolver esses indivíduos em seus tempos livres. Uma educação ao
longo da vida, utilizando as tecnologias de informação e comunicação, pode ser uma
alternativa viável para que eles continuem a aprender e usufruir esse tempo,
estimulando-os a aprender a usar o computador em rede, abre novas possibilidades
e oportunidades, porque todos nós somos obrigados a utilizá-lo no dia-a-dia; tornou-
se um pré-requisito para a inserção em nossa sociedade e é imprescindível para
todas as atividades, indiferente de idade.
Todos deveriam ter o direito ao acesso e ao uso das tecnologias não sendo
limitados por questões sociais, geográficas e financeiras; devemos combater todos
os elementos que fazem com que a inclusão digital inexista. Contudo, apesar do
dualismo e seletividade que há em nosso país, com o advento das tecnologias,
houve uma melhora de igualdades, pois existe a possibilidade de contemplar todas
as camadas sociais que estão em diferentes fases da vida, e muitos ainda não têm
acesso a esses recursos tecnológicos, que podem democratizar o acesso à
informação, infelizmente ainda existe uma lacuna entre a população e o uso de
tecnologia. É certo que existem muitas pessoas sem acesso a computadores e à
Internet, mas não podemos ficar restritos a essa constatação. Na verdade, a
exclusão que existe não é somente digital, mas é social, de conhecimento,
informação e cidadania.
O professor da Universidade de Brasília e coordenador do programa
Inclusão Digital ‘Escola Digital Integrada’, Suaiden, afirmou em uma entrevista para o
Correio Brasiliense o seguinte:

[...] somos uma nação de analfabetos digitais. Do total de pessoas que têm
acesso ao computador, somente 18% estão incluídas na sociedade da
informação. Inclusão digital não é só ter acesso ao computador, mas saber
trabalhar com a informação. Pessoas desinformadas são manipuladas
facilmente, tornando-se reféns da opinião alheia, já que não têm meios de
formar a própria (2003).
69

Nesse sentido, o poder público deveria incentivar e custear a utilização das


tecnologias na educação, mas também pode ser papel de empresas privadas, que
têm como ajudar a reduzir as taxas de exclusão a fim de contemplar a todos os que
têm interesse por esta ferramenta, facilitando o acesso à tecnologia e aos seus
benefícios com custos mais reduzidos, contextualizados e adequados à realidade do
grupo, isso evitará o aumento das desigualdades sociais já existentes e também
para que a brecha digital não aumente geometricamente. No entanto isso não
acontece, pois as instituições que têm recursos padronizam o método e o conceito
de educar via tecnologias, visando somente a um nicho de mercado que tem
condições financeiras para esse tipo de educação.
Dowbor, com muita propriedade, comenta que

Longe de tentar ignorar as transformações, ou de atuar de forma defensiva


frente às novas tecnologias, precisamos penetrar as dinâmicas para
entender sob que forma os seus efeitos podem ser invertidos, buscando
uma sociedade mais equilibrada, quando hoje tendem a se reforçar as
polarizações e as desigualdades. Trata-se, em outros termos, de trabalhar
de maneira séria e sem ilusões o fato de as novas tecnologias terem dois
gumes, pois tanto podem servir para a elitização e o aprofundamento das
contradições sociais, como para gerar, através da democratização do
conhecimento, uma sociedade mais justa e mais equilibrada (2001, p. 34).

As tecnologias de informação e comunicação favorecem novas formas de


acesso à informação e a novos estilos de raciocínio e conhecimento, podendo ser
partilhadas em uma rede por diversas pessoas de diferentes lugares, modificando a
forma de educar e aprender, desenvolvendo novas competências que devem ser
adaptadas ao mundo, pois, através dessas ferramentas, os espaços de
conhecimentos são construídos de forma pessoal e significativa.
Esse espaço é denominado virtual ou ciberespaço e se dá por meio de
operações mediadas por redes de informáticas, sendo criada uma nova cultura de
comunicação interativa que é denominada cibercultura, como explica Lèvy (1996),
a palavra "virtual" vem do latim medieval virtuale ou virtualis, mantendo o seu radical
virtus, que significa algo que existe em força, em potência; e o mesmo autor define
ciberespaço e cibercultura como,
70

O ciberespaço (que também chamarei de “rede”) é o novo meio de


comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. O
termo especifica não apenas a infra-estrutura material da comunicação
digital, mas também o universo oceânico de informações que ela abriga,
assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo.
Quanto ao neologismo “cibercultura”, especifica aqui o conjunto de técnicas
(materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento
e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do
ciberespaço ( 2003, p. 17).

Lèvy também explica que “o ciberespaço oferece objetos que rolam entres
grupos, memórias compartilhadas e hipertextos comunitários para a constituição de
coletivos inteligentes” (1996, p. 129), e afirma que

[...] a capacidade mínima para navegar no ‘ciberespaço’ adquirir-se-á,


provavelmente, em tempo menor que o necessário para aprender a ler e,
como a alfabetização, será associado a muitos outros benefícios sociais,
econômicos e culturais, além de acesso à cidadania (1999, p. 63).

É nesse espaço e cultura em que vivemos, denominados ciberespaço e


cibercultura, que está ocorrendo a exclusão digital, podendo ser entendida como a
situação na qual um indivíduo ou grupo de pessoas estejam impossibilitados de
utilizar as mais recentes tecnologias digitais, o que por sua vez os impede de utilizar
essas tecnologias para se integrarem à sociedade da informação, pois o acesso a
esse recurso não é distribuído por igual para a sociedade, acontecendo uma divisão
digital: os que participam da inclusão digital e os que estão à margem desse
processo, segregados de participarem mais ativamente da sociedade de informação.
Nesse contexto, Eizirik explica como acontece a exclusão:

Historicamente, os processos de exclusão acompanham a vida social,


institucional, pessoal e até mesmo íntima. Muitas e diferenciadas são as
formas de exclusão, seja como apartheid social, racial, religioso, de gênero,
de estado mental, civil seja econômico, para citar algumas. A sociedade e
as instituições desenvolvem mecanismos de separação, rotulação,
localização de pessoas, grupos, idéias. Esses mecanismos são poderosos
produtores de verdades e de ações que regulam a vida das pessoas. [...]
hoje vivemos uma revolução: o da inclusão. Inclusão como contraface da
exclusão (2005, p. 46).

A expressão “inclusão digital” ou digital divide (divisão digital), como o termo


se popularizou em inglês, comentada no cotidiano dos mais variados grupos
governamentais, empresariais, instituições sociais e religiosas, tem a idéia de incluir,
pois, na visão deles, há a concepção de que existam grupos que são dos excluídos,
71

ou seja, uns têm a possibilidade de acessar a informação e se comunicar com


velocidade, e outros não sabem sequer ligar um computador. Mas o que significa
estar incluído digitalmente? Para que aconteça a inclusão digital não basta equipar
instituições de aprendizagem, formais ou não, com tecnologias de comunicação e
informação conectadas à Internet, pois, dessa forma, não capacita o indivíduo que
necessita dessa aprendizagem; terá de haver uma aprendizagem com profissionais
especializados e capacitados, para que os grupos se familiarizem e se apropriem
das linguagens e aprendizagens digitais, porque alfabetização digital está
intimamente ligada ao uso correto das tecnologias proporcionando uma melhora na
qualidade de vida, estimulando a cidadania, adquirindo novos conhecimentos,
capacitando e oportunizando profissionalmente.
E Claxton afirma que

Muitas ferramentas estão prontas para o uso, mas temos de aprender como
usá-las. Para fazer bom uso de um processador de palavras, de uma
calculadora gráfica ou da Internet, é necessário um investimento de tempo
de aprendizagem. É preciso estudar os manuais, elaborar aulas, explorar as
competências. Todavia, uma vez feito esse investimento, o objeto da
aprendizagem torna-se uma ferramenta que possibilita tipos de exploração e
aprendizagem diferentes, os quais podem conduzir a um melhor
desempenho (2005, p. 161).

Alfabetizado era o indivíduo que sabia ler e escrever; no momento atual, o


conceito mudou: temos de ser alfabetizados digitais, ou seja, capazes de ter
autonomia diante das variadas tecnologias que nos apresentam, utilizando-as de
forma crítica e criativa em prol de si e do grupo a que pertençamos, pois o domínio
dessas tecnologias é visto como eficiência e competência nos vários segmentos da
sociedade; diante disso, observamos que há pessoas e grupos da Terceira Idade
que, apesar de estarem em uma posição social privilegiada, ou não, estão vivendo à
parte da sociedade da informação e, conseqüentemente, excluídas digitalmente,
como diz Xiberras: “existem, pois, formas de exclusão que não se vêem, mas que se
sentem, outras que se vêem, mas que ninguém fala e, por fim, formas de exclusão
completamente invisibilizadas” (1993, p. 20), causando um desconforto, muitas
vezes invisível, e uma ansiedade, muitas vezes visível, diante das variadas
tecnologias que as cercam, o que Eiziriki corrobora afirmando: “[...] sistemas de
exclusão são acumulados e constituem princípios estruturais e fundantes inseridos
72

na própria cultura, impondo limites, demarcando fronteiras, determinando lugares,


definindo visibilidades (e invisibilidades), possibilidades e proibições” (2005, p. 51).
Segundo King (1997 apud KACHAR),

O advento da tecnologia provê a pessoa da Terceira Idade com


oportunidades para se tornar um aprendiz virtual, fornecendo educação
continuada, educação à distância, estimulação mental e bem-estar. Ela
possibilita ao indivíduo de ele estar mais integrado em uma comunidade
eletrônica ampla;coloca-o em contato com parentes e amigos, num
ambiente de troca de idéias e informações, aprendendo junto e reduzindo o
isolamento por meio da experiência comunitária (2003, p. 60).

Ainda que o acesso a computadores e à Internet seja privilégio de poucos


em nosso país, conforme Lèvy “não são os pobres que se opõem à Internet – são
aqueles cujas posições de poder, os privilégios (sobretudo os culturais) e os
monopólios se encontram ameaçados pela emergência dessa nova configuração de
comunicação” (2003, p.13), consideramos que todas as iniciativas que favoreçam a
inclusão digital, na Terceira Idade, devam ser valorizadas, para que em tal fase da
vida não acorra o que Mosquera afirma “os adultos, nas suas vidas, na dureza e
agressão do dia-a-dia, vão perdendo sua sensibilidade e sentido de solidariedade
[...]” (1985, p. 23), pois as pessoas interagem com outras, por meio de trocas
coletivas de saberes de forma significativa e afetiva, participando, assim, cada vez
mais da sociedade da informação e conhecimento, enriquecendo-se de saberes
novos, via tecnologias, e dessa maneira reencantando a sua própria aprendizagem.
Assmann coloca que

Uma sociedade onde caibam todos só será possível num mundo no qual
caibam muitos mundos. A educação se confronta com essa apaixonante
tarefa: formar seres humanos para os quais a criatividade e a ternura sejam
necessidade vivenciais e elementos definidores dos sonhos de felicidade
individual e social (1998, p. 29).

A criatividade e o gosto pela vida persistem em idosos que, mesmo


experimentando degenerações orgânicas, vivem em contextos que os motivem,
prosseguindo capazes de aprender e reaprender novas aprendizagens, estimulando
que tenham perspectivas para o futuro. Isso neutraliza estereótipos e preconceitos
associados à velhice, que acabam sendo um fator de exclusão social e hoje,
principalmente, digital.
73

Já contamos com muitas pesquisas, em nosso país, que revelam o perfil dos
novos idosos, mesmo sendo estigmatizados e que, com todos os limites impostos
pela idade, estão reinventando a Terceira Idade, pois estão buscando novos
conhecimentos e novas aprendizagens através de vários cursos e, principalmente,
cursos de informática. Uma vez informados, eles têm mais visibilidade e
credibilidade que é representada através de uma imagem mais ativa, fazendo com
que o prolongamento da educação, mesmo que seja digital, para os idosos, assuma
um papel fundamental em suas vidas. Knechtel nos afirma que a educação
permanente pode ser vista

Como busca da cidadania, da liberdade e do respeito mútuo entre


população adulta de uma sociedade moderna podendo levar o homem a
situar-se melhor na sociedade atual, especialmente no contexto que vive e
convive e assim alcançar o exercício de sua perfeita cidadania (1994, p. 24).

Com o advento das tecnologias, que foram incorporadas no nosso dia-a-dia,


mudaram nossas rotinas tanto no trabalho como na família, alterando nosso papel
social. Entretanto, os mais beneficiados foram os jovens pela facilidade com que
interagem e aprendem a manusear essas ferramentas. Diante disso, os idosos
começaram a perder seus espaços como detentores do conhecimento no núcleo
familiar, gerando um desconforto e desvantagens por não assimilarem tão
rapidamente as aprendizagens calcadas nas tecnologias. Peixoto e Clavairolle nos
informam que

As “novas tecnologias” sempre estiveram associadas à modernidade e,


portanto, ao novo / recente / juventude, contrastando com o velho / antigo /
velhice. No imaginário social, tudo acontece como se existisse uma
incompatibilidade entre novidade e velhice (2005, p. 57).

Diante dessas circunstâncias, a linguagem da informática não é bem vista


pelos idosos, pois eles têm a sensação de que é muito difícil aprender todos os
comandos – desde ligar o computador, até acessar e navegar na Internet –, porém,
é através da informática e dos diferentes meios tecnológicos que eles poderão ser
reinseridos na sociedade, rompendo com as resistências prévias. Peixoto e
Clavairolle também comentam que
74

[...] vários estudos sobre o desenvolvimento das situações de interação


entre pessoas de mais idade e objetos tecnológicos – em termos de
necessidade e adaptações – têm analisado o lugar simbólico que ocupa a
idade no discurso sobre o uso das novas tecnologias (2005, p. 57).

Porque aprender independe de idade, somente através da interação com a


informática é possível saber como o idoso irá agir diante de situações desafiadoras.
Conforme suas experiências vividas, apresentará diferentes condições e maneiras
para aprender, como comentam Papalia e Olds “as pessoas mais velhas podem e
efetivamente continuam a adquirir novas informações e habilidades e são capazes
de lembrar e de usar bem aquelas que já conhecem” (2000, p. 511).
Para Kachar:

Na interação com o computador, os alunos criam e produzem ativamente e,


nesse fazer, apropriam-se de conhecimentos, descortinam suas
potencialidades e revelam seus talentos. O processo vivido e o resultado
deste, a criação, são elementos de elevação da auto-estima e descoberta
da autoria; vivem um processo de autoconhecimento ao refletir sobre as
produções, fruto do investimento na superação de dificuldades externas e
resistências internas. A produção pelo grupo gera a reconstrução da sua
auto-imagem como indivíduo: revela-se outra pessoa. (2003, p. 93)

Esse processo de aprendizagem via inclusão digital não pode ser visto como
um amontoado sucessivo de coisas que vão se reunindo, Assmann, “ao longo desse
percurso devemos dar significados para que as construções do conhecimento sejam
significativas”; o mesmo autor também comenta que “quando alguém aprende algo
novo, não é apenas esse elemento novo – motórico, lingüístico, conceitual – que se
acrescenta ao que supostamente já foi adquirido, mas ocorre uma reconfiguração do
seu cérebro/mente” (1998, p.41).
As mudanças sociais aceleradas juntamente com as rupturas trazidas por
elas, fazem a aprendizagem adquirir outra conotação na vida dos indivíduos, como
uma nova função do saber, em que a informação e a comunicação têm diferentes
funções do que as formas de saberes do passado, como constatamos com os
usuários da Internet que fazem constantes trocas de saberes e definem as
estruturas da sociedade. Neste início de século, a aprendizagem ganha um novo
significado: é vista como uma necessidade social e econômica tanto para os
indivíduos como para os países, e ela acontece no presente, e juntamente com
nossos planejamentos e caminhos que percorremos, é que vão determinar o nosso
futuro.
75

O desenvolvimento de uma educação contínua deve ser o objetivo e o maior


desafio da educação para o século XXI. Isso significa que não apenas introjetamos
ou acumulamos informações, mas que atribuímos nosso próprio significado a elas,
de acordo com nossa atual capacidade de compreensão. Ou seja, compreendemos
o mundo a partir da experiência adquirida. Para que ocorra aprendizagem, então é
fundamental aprender a aprender. É necessário que haja uma reorganização das
estruturas da mente. Para tanto, é preciso criar situações-problema que levem o
idoso a fazer um esforço de auto-organização, incorporando as tecnologias em suas
estruturas e reorganizando-se novamente e, neste caso, nos reportamos aos idosos,
pois é imprescindível que esta educação faça parte de suas vidas.
A educação formal e não-formal deve transmitir de forma maciça e eficaz,
cada vez mais, os saberes, coibindo a exclusão digital, contestando os métodos de
ensino e as próprias instituições, generalizando, assim, a educação ao longo da
vida. Através dessa nova aprendizagem digital, precisamos tornar o idoso capaz de
compreender o seu papel social e o significado desta aprendizagem, para usá-la no
seu dia-a-dia, de forma a atender as exigências da própria sociedade, promovendo
sua inclusão.
Devemos pensar em uma educação digital para a cidadania global, a fim de
formar os seres humanos capazes de conviver e dialogar. Preparar os cidadãos para
serem contemporâneos de si mesmos, menos egoístas, resgatando como um todo,
visando assim a humanizar as relações intergeracionais, desenvolvendo uma
consciência de solidariedade e compreensão de que evoluímos individual e
coletivamente, possibilitando o surgimento de uma geração mais capaz de sonhar,
ser feliz e realizada consigo mesma, refletindo e encontrando soluções mais
adequadas e duradouras, a fim de aplacar os problemas da humanidade.
Diante disso, a sociedade não deve delegar a responsabilidade de uma
educação ao longo da vida, somente as instituições escolares ou dos governos, e
que estes devem promover os valores de convivência, respeito pelos demais,
enquanto a família, principalmente, se omite na transmissão desses valores, ou pior
ainda: fomenta valores opostos, permitindo que seus próprios membros formem-se
na cultura da violência e do abandono, do não-respeito aos idosos e à vida.
Os idosos que adquirirem novas competências, compreenderem e
acompanharem as mudanças tecnológicas e suas efetivas atuações na sociedade,
estarão inseridos com mais facilidade nesse novo formato de sociedade alicerçado
76

nas tecnologias que, segundo Lèvy, é “uma capacidade continuamente alimentada e


melhorada de aprender e inovar, que pode se atualizar de maneira imprevisível em
contextos variáveis” (1996, p.60). E nesse contexto, o idoso que se apropriar das
tecnologias de informação, e souber usá-las, intensificará seu processo de
aprendizagem – experiência de vida ele já possui –, interagindo com diferentes
informações, pessoas e grupos, a partir de seus interesses e motivações,
socializando seus conhecimentos conforme suas próprias histórias de vida,
aumentando sua auto-estima e auto-realização. Mas para isso acontecer deve existir
uma educação permanente, em que o indivíduo seja visto como um ser inconcluso,
em crescimento constante, que necessita estar inserido em um contexto que seja
privilegiado a educação ao longo da vida ou educação permanente, revelando suas
dificuldades de entender essa nova linguagem, apesar de seus medos e anseios,
procurando cursos para não continuar sendo alienado e marginalizado, reduzindo o
tédio, isolamento, melhorando a auto-estima, a atividade mental e sobretudo
fortalecendo seus vínculos sociais.
No quadro abaixo, Quadro 3.4, apresentaremos os principais conceitos do
Referencial Teórico.
77

3.4 Quadro 3: CONCEITOS DO REFERENCIAL TEÓRICO

TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO


São tecnologias utilizadas pelas pessoas em seus contextos sociais, econômicos e
políticos, criando uma nova comunidade local e global, que envolve a aquisição, o
armazenamento, o processamento e a distribuição da informação por meios eletrônicos,
como rádio, televisão, telefone e computadores, entre outros.
Internet Sociedade do Conhecimento
Transformou a sociedade em rede Sociedade da Informação
e configura o núcleo de nossa sociedade, A sociedade está conectada em redes
em que ocorrem as interações sociais e digitais e tecnologias eficientes para a
afetivas. construção de novos conhecimentos.

ENVELHECIMENTO
Processo inerente e contínuo a todo ser humano.
Processos do Envelhecimento Características Gerais do Envelhecimento
Pode ser dividido em dois: A idade funcional é a que determina
Primário, sendo um processo se um sujeito é velho ou não, através da
gradual e inevitável de deterioração qualidade de vida juntamente com as
corporal que começa mais cedo na vida e condições de meio ambiente em que ele
continua com o passar dos anos; viveu e vive.
Secundário, consiste dos O envelhecimento é um estágio
resultados de doenças, abuso ou desuso inerente ao curso natural da vida, e algumas
– fatores que muitas vezes são evitáveis e características físicas são afetadas.
dentro do controle das pessoas.
Teorias do Envelhecimento Dimensões Físicas, Psicológicas, Sociais
Teorias de Programação Genética e Espirituais na Terceira Idade
e O ser humano vai se construindo a
Teorias de Taxas Variáveis. partir da interação com o mundo externo,
através de uma rede de relações. Como
conseqüência, ocorrem mudanças físicas e
psicológicas alterando sua visão e relação
com o mundo espiritual.
APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA
Aprender ao Longo da Vida Motivação Para Aprender
Não significa apenas introjetar ou A motivação exerce um fundamental
acumular informações, mas atribuir nosso papel como elemento de necessidade, para
próprio significado a elas, fazendo desse que o indivíduo que está envelhecendo
processo um contínuo aprendizado que aprenda a aprender, continuamente,
levamos ao longo de nossa vida. desenvolvendo suas capacidades.
Inclusão Digital na Terceira Idade
A aprendizagem ganha um novo significado, pois é vista como uma necessidade
social e econômica; os idosos que adquirirem novas competências, compreenderem e
acompanharem as mudanças tecnológicas e suas efetivas atuações na sociedade, estarão
inseridos com mais facilidade nesse novo formato de sociedade alicerçado nas tecnologias.
Fonte: O autor, 2007
4 METODOLOGIA

Só se encontra o que já se sabe poder encontrar


(KUHN, 1978, p. 58).

4.1 INVESTIGAÇÃO

Neste capítulo, abordaremos a Metodologia, os Objetivos, a Área Temática,


Questões da Pesquisa, os Sujeitos, os Procedimentos Metodológicos para a coleta e
Análise dos Dados e os Instrumentos para a coleta de dados.
A metodologia da presente pesquisa foi orientada por um paradigma que,
segundo Engers, “é um esquema teórico, uma percepção, uma forma de
compreensão do mundo” (1994, p.65), assim, o caminho da investigação foi
planejado a partir de uma modalidade de pesquisa que veio possibilitar meu
envolvimento com os grupos de Terceira Idade que participaram dos cursos de
Inclusão Digital no Santander Cultural, a fim de buscar informações suficientes para
responder ao problema proposto, portanto a pesquisa feita esteve apoiada no
paradigma construtivista / naturalista, pois conforme
Moraes salienta

Um paradigma construtivista compreende o conhecimento como algo que


está sempre em processo de construção, transformando-se, mediante ação
do indivíduo no mundo [...] construtivista porque possui características
multidimensionais, entre elas o caráter aberto que lhe permite estar sempre
em construção, traduzindo a plasticidade e a flexibilidade dos processos de
auto-renovação nele envolvidos. (2004, p.25)

E Castro

A pesquisa, no paradigma naturalístico, começa com um foco inicial que vai


se definindo no próprio processo. [...] o foco do estudo determina seus
limites, definindo o que vai ser pesquisado, servindo como critério para
inclusão-exclusão de novas informações (1994, p. 62).

A pesquisa constituiu-se em Estudo de Caso, pois aponta para um estudo


investigativo e, conforme Castro, “o estudo de caso é considerado a forma ideal de
relatório de pesquisa para o paradigma naturalista” (1994, p. 61); e para Yin, conta
79

com muitas técnicas utilizadas por pesquisas históricas, porém acrescenta duas
fontes de evidência que não são incluídas no repertório do historiador: ”observação
direta dos acontecimentos que estão sendo estudados e entrevistas das pessoas
nele envolvidas” (2000, p. 26). E Gil também comenta que os propósitos do estudo
de caso “não são os de proporcionar o conhecimento preciso das características de
uma população, mas sim o de proporcionar uma visão global do problema ou de
identificar possíveis fatores que o influenciam ou são por ele influenciados” (2002, p.
54).
Bogdan e Biklen caracterizam a investigação qualitativa como “fonte direta
de dados no ambiente natural, constituindo-se o pesquisador no instrumento
principal, interessando-se mais pelo processo do que pelos dados” (1994, p. 47).
A pesquisa qualitativa também apresenta o aspecto descritivo que Gil define
como,

As pesquisas descritivas têm como objetivo primordial a descrição das


características de determinada população ou fenômeno [...] São inúmeros
os estudos que podem ser classificados sobe este título e uma de suas
características mais significativas está na utilização de técnicas
padronizadas de coleta de dados, tais como o questionário e a observação
sistemática. Entre as pesquisas descritivas, salientam-se aquelas que têm
por objetivo estudar as características de um grupo (2002, p. 42).

Portanto, a metodologia empregada nesta pesquisa foi de caráter qualitativo-


quantitativo, sendo explicativo e interpretativo com levantamento bibliográfico e
pesquisa de campo (através de entrevistas e questionários), que permite um maior
envolvimento com o objeto de estudo e flexibilidade, entre a teoria e a prática,
através das compreensões e interpretações individuais do pesquisador. A utilização
de entrevistas, questionários e a observação descritiva caracterizaram
qualitativamente a pesquisa. E a caracterização quantitativa ocorreu pelos
questionários finais, nos quais os sujeitos responderam a dez (10) questões
fechadas, servindo para complementação dos dados da investigação. Enfim, tendo
como referência o método de análise dos dados descrito por Bardin (1977), Análise
de Conteúdo.
80

4.1.1 Problema

A inserção das tecnologias de informação e comunicação nas sociedades


não é mais uma opção, mas uma realidade que está formando culturas do
conhecimento com coletivos pensantes, que possibilita a criação de grupos de
discussões, nos quais comunidades virtuais vêm reestruturando modos de pensar.
Entretanto, muitos ainda estão e vivem às margens desta realidade e precisam ser
incluídos digitalmente para poderem participar e interagirem neste novo formato de
sociedade. Sobretudo, pessoas que entraram na Terceira Idade e que manifestam
muitas dificuldades em entender a lógica das tecnologias. Diante deste contexto
sócio-cultural em que os que não acompanham mudanças tão rápidas são
excluídos, devemos refutar os conceitos preestabelecidos, pois acreditamos que
somos capazes de mudar a realidade social se mudarmos as idéias, não como
verdades, mas como ferramentas de construção e reconstrução, tornando as
pessoas mais responsáveis pela sua própria construção de conhecimento, através
da autonomia e da cooperação mútua entre todos que participam deste processo.
Para Gil, “[...] um problema é de natureza científica quando envolve variáveis
que podem ser tidas como testáveis” (2002, p. 24), assim definimos o problema de
pesquisa desta investigação que se trata de compreender: Como acontece a
inclusão digital de sujeitos que estão na Terceira Idade?

4.1.2 Abordagem Metodológica

Para a realização de nossa investigação teórica desta dissertação de


mestrado utilizamos:
- pesquisas bibliográficas: em obras mais recentes de autores atuais, para
contextualização da sociedade de informação e suas transformações;
envelhecimento e aprendizagem ao longo da vida, que nos deram um
suporte para o entendimento das relações com o advento das novas
tecnologias e outras publicações que relacionamos ao longo de nossa
pesquisa;
81

- pesquisas em sites: onde navegamos em websites de governos e órgãos


públicos nacionais, agências de pesquisas e publicações que somaram
as nossas pesquisas;
- coleta de informações: referente ao Projeto Inclusão Digital para Terceira
Idade – PMPA, PROCEMPA e Santander Cultural, para descrevê-lo e
acrescentá-lo na pesquisa.

4.1.3 Objetivos da pesquisa

A presente pesquisa pretendeu:

Objetivo Geral
- Compreender o que motiva grupos da Terceira Idade a procurar
programas de inclusão digital.

Objetivos Específicos
- Investigar quais são seus interesses, necessidades e dificuldades na
aprendizagem digital de grupos de Terceira Idade; e
- Documentar o significado da inclusão digital nos grupos de Terceira
Idade.

4.1.4 Questões norteadoras da pesquisa

As questões norteadoras da pesquisa foram as seguintes:


- O que motiva sujeitos que estão na Terceira Idade a procurarem cursos
de inclusão digital?
- Quais os interesses, necessidades e dificuldades dos sujeitos na
aprendizagem e inclusão digital?
- Qual o significado da inclusão digital, para os grupos de Terceira Idade,
ao término do curso?
82

4.2 PARTICIPANTES DA PESQUISA

A pesquisa foi realizada com uma amostra composta por 95 (noventa e


cinco) participantes, do curso de Inclusão Digital para Terceira Idade, no Santander
Cultural, residentes na cidade de Porto Alegre, RS. O Santander Cultural não utiliza
o termo Telecentro, mas é caracterizado como se fosse um, por ter as mesmas
características e funções.
Foram realizados questionários simples, no início do curso e no final, com 95
(noventa e cinco) participantes, porém 77 (setenta e sete) sujeitos entregaram os
questionários devidamente preenchidos, isto é, o questionário do início e o do
término do curso, que foram aplicados nos sujeitos que participaram do Curso de
Inclusão Digital para Terceira Idade do Santander Cultural (Banco Santander),
durantes os meses de março e abril de 2007; após a entrega dos questionários,
foram selecionados 6 (seis) participantes para fazer a entrevista com as mesmas 7
(sete) perguntas dos questionários.
Os 77 (setenta e sete) sujeitos têm o seguinte perfil:

4.2.1 Perfil dos participantes

Os 77 (setenta e sete) sujeitos que participaram da pesquisa têm idades


variando entre 55 a 80 anos.
- 42 sujeitos com idades entre (55 a 64 anos);
- 34 sujeitos com idades entre (65 a 79 anos) e
- 1 sujeito com 80 anos.
83

Gráfico 01: Faixa Etária

Faixa Etária
(77 Sujeitos)

80
70 55 a 64 anos
60
42 65 a 79 anos
34
50 80 anos
40
30
20 1
10
0

Fonte: O autor, 2007

4.2.2 Gênero

- 19 sujeitos são do gênero masculino e


- 58 sujeitos do gênero feminino.

Gráfico 02: Gênero

Gênero

80 58
70
60
50 Feminino
40 19 Masculino
30
20
10
0
1

Fonte: O autor, 2007


84

4.2.3 Estado Civil

- 40 sujeitos são casados;


- 14 sujeitos são viúvos;
- 9 sujeitos são separados;
- 7 sujeitos são divorciados e
- 7 sujeitos são solteiros.

Gráfico 03: Estado Civil

Estado Civil

80
70
60 Casados
50 40 Viúvos
40 Separados
30 Divorciados
14
20 9 7 7 Solteiros
10
0
1

Fonte: O autor, 2007

- Entre 55 a 64 anos:
o 22 sujeitos são casados;
o 9 sujeitos são viúvos;
o 3 sujeitos são solteiros;
o 5 sujeitos são separados e
o 3 sujeitos são divorciados.
85

Gráfico 04: 55 a 64 anos

55 a 64 anos

80
70
60 Casados
50 Viúvos
40 Separados
30 22 Divorciados
20 9 Solteiros
3 5 3
10
0
1

Fonte: O autor, 2007

- Entre 65 a 79 anos:
o 18 sujeitos são casados;
o 3 sujeitos são solteiros;
o 5 sujeitos são viúvos;
o 4 sujeitos são separados e
o 4 sujeitos são divorciados.

Gráfico 05: 65 a 79 anos

65 a 79 anos

80
70 Casados
60
50 Viúvos
40 Separados
30 18
20 Divorciados
3 5 4 4
10 Solteiros
0
1

Fonte: O autor, 2007


86

- Com 80 anos, único e casado.

Gráfico 06: 80 anos

80 anos

80
70
60
50 casado
40 1
30
20
10
0
1

Fonte: O autor, 2007

4.2.4 Escolaridade

- 3 sujeitos com curso superior e pós-graduação;


- 22 sujeitos com graduação;
- 3 sujeitos com curso superior incompleto;
- 32 sujeitos com ensino médio e
- 20 sujeitos com ensino fundamental.
87

Gráfico 07: Escolaridade

Escolaridade

80
70
60 Pós-Graduação
50 Graduação
40 32 Superior Incompleto
30 22 20 Ensino Médio
20
3 3 Ensino Fundamental
10
0
1

Fonte: O autor, 2007

- Entre 55 a 64 anos:
o 9 sujeitos com ensino fundamental;
o 19 sujeitos com ensino médio;
o 2 sujeitos com superior incompleto;
o 11 sujeitos com superior completo e
o 1 sujeito com pós-graduação.

Gráfico 08: 55 a 64 anos

55 a 64 anos

80
70
60 Pós-Graduação
50 Graduação
40 Superior Incompleto
30 19 Ensino Médio
20 11 9
10 1 2 Ensino Fundamental
0
1

Fonte: O autor, 2007.


88

- Entre 65 a 79 anos:
o 11 sujeitos com ensino fundamental;
o 12 sujeitos com ensino médio;
o 1 sujeito com superior incompleto;
o 8 sujeitos com superior completo e
o 2 sujeitos com pós-graduação.

Gráfico 09: 65 a 79 anos

65 a 79 anos

80
70
60 Pós-Graduação
50 Graduação
40 Superior Incompleto
30 Ensino Médio
20 12 11
8 Ensino Fundamental
10 2 1
0
1

Fonte: O autor, 2007

- Com 80 anos, único e com ensino médio.

Gráfico 10: 80 anos

80 anos

71
61
51 Ensino Médio
41
31 1
21
11
1
1

Fonte: O autor, 2007


89

4.2.5 Tempo que trabalharam fora de casa

- 11 sujeitos nunca trabalharam;


- 7 sujeitos até 10 anos;
- 9 sujeitos de 11 a 20 anos;
- 19 sujeitos de 21 a 30 anos;
- 17 sujeitos de 31 a 40 anos e
- 14 sujeitos mais de 40 anos.

Gráfico 11: Tempo que trabalham fora de casa

Tempo de Serviço

50

40 Nunca trabalharam
até 10 anos
30
11 a 20 anos
19
20 17 21 a 30 anos
14
11 9 31 a 40 anos
10 7
Mais de 40 anos

0
1

Fonte: O autor, 2007

- Entre 55 a 64 anos:
o 6 sujeitos nunca trabalharam;
o 5 sujeitos até 10 anos;
o 3 sujeitos até 20 anos;
o 10 sujeitos de 21 a 30 anos;
o 2 sujeitos de 31 a 40 anos e
o 9 sujeitos com mais de 40 anos trabalhados.
90

Gráfico 12: 55 a 64 anos

55 a 64 anos

50

40 Nunca trabalharam
até 10 anos
30
até 20 anos
20 21 a 30 anos
10 9 31 a 40 anos
10 6 5 3 2 Mais de 40 anos
0
1

Fonte: O autor, 2007

- De 65 a 79 anos:
o 2 sujeitos nunca trabalharam;
o 2 sujeitos até 10 anos;
o 6 sujeitos de 11 a 20 anos;
o 10 sujeitos de 21 a 30 anos;
o 12 sujeitos de 31 a 40 anos e
o 7 sujeitos com mais de 40 anos trabalhados.

Gráfico 13: 65 a 79 anos

65 a 79 anos

50

40 Nunca trabalharam
até 10 anos
30
11 a 20 anos
20 21 a 30 anos
10 12
7 31 a 40 anos
10 6
2 2 Mais de 40 anos
0
1

Fonte: O autor, 2007


91

- Com 80 anos, único e trabalhou 30 anos.

Gráfico 14: 80 anos

80 anos

50
40
30 30 anos

20 1
10
0
1

Fonte: O autor, 2007

4.2.6 Atividades de lazer

Podemos elencar as seguintes atividades que os 77 (setenta e sete) sujeitos


definiram como lazer:
- Leitura (15 sujeitos)
- Cinema (25 sujeitos)
- Teatro (13 sujeitos)
- Viagens (30 sujeitos)
- Esportes (40 sujeitos)
- Artesanato (41 sujeitos)
- Dança (35 sujeitos)
- Música (17 sujeitos)
- Culinária (39 sujeitos)
- jogos de carta (11 sujeitos)
- escrita (6 sujeitos)
- cursos de línguas (5 sujeitos) e
- televisão (61 sujeitos).
92

Gráfico 15: Atividades de Lazer

Lazer

Leitura
80
Cinema
70 Teatro
61 Viagens
60
Esportes
50
Artesanato
40 41 39
40 35 Dança
30 Música
30 25
Culinária
20 15 17
13 Jogos de Cartas
11
10 6 5 Escrever
Cursos de Línguas
0
Assistir Televisão

Fonte: O autor, 2007

4.3 PROCEDIMENTOS DA PESQUISA

A pesquisa iniciou-se pelo contato com a Coordenadora Geral de Política de


Atenção ao Idoso, vinculada a PMPA, juntamente com a Diretoria do Santander
Cultural, para consentimento e realização da pesquisa proposta, junto aos grupos de
Terceira Idade, após a autorização, houve uma reunião com os monitores do curso e
iniciou-se a pesquisa proposta.
O instrumento de coleta de dados escolhido foi à entrevista semi-estruturada
e os questionários (APÊNDICE A), com questões abertas e fechadas. Foram feitas 5
(cinco) perguntas abertas no início do curso e 2 (duas) no final; e no final do curso,
foram respondidas 10 (dez) perguntas com respostas fechadas.
A entrevista semi-estruturada foi escolhida, pois há uma relação de interação
entre o entrevistador e o entrevistado; também, através do diálogo, foi estabelecida
uma relação de interação, e este tipo de entrevista, conforme Lüdke e André,
“desenrola a partir de um esquema básico, porém não aplicado rigidamente,
permitindo que o entrevistador faça as necessárias adaptações” (1986, p. 34).
A escolha pelo questionário foi relacionada pelo tempo que os sujeitos
dispunham para responder, que foi na primeira aula, antes de iniciar o curso; e o
93

segundo questionário, na última aula, antes do encerramento do curso. Entendemos


que essa foi a melhor escolha, pois se relaciona diretamente com o problema e para
uma melhor análise dos dados coletados.
Foram respeitadas e incluídas as respostas na íntegra da entrevista e dos
questionários, também foi preservado o anonimato de cada sujeito. Os termos de
consentimento (APÊNDICE B) foram assinados por todos os que participaram das
entrevistas e dos questionários, bem como foram informados de que o conteúdo
seria para a análise de dissertação de mestrado, assim como o seu anonimato.
Os sujeitos foram caracterizados pela letra S e o número que aparecer do
lado representará o sujeito que respondeu aos questionários, por exemplo: SUJEITO
1, S1; SUJEITO 2, S2 e assim consecutivamente; quando aparecerem respostas e
comentários do S1 (sujeito 1), a fala corresponderá a este sujeito e assim por diante.
Nas entrevistas semi-estruturadas, os 6 (seis) ENTREVISTADOS foram
caracterizados pela letra E, e por números consecutivos, E1, E2, E3, E4, E5 e E6.
As pessoas que responderam às entrevistas e aos questionários foram as
mesmas que se inscreveram para participar do Curso de Inclusão digital para
Terceira Idade no Santander Cultural. A seleção é feita pela administração do
Santander Cultural e ocorre da seguinte maneira: quando a pessoa liga para o
número de telefone, que o espaço disponibilizou, cadastra-se e entra em uma fila de
espera; à medida que se iniciam novos cursos, elas são chamadas. Assim, os
participantes dos cursos que foram chamados por ordem de inscrição, foram os
mesmos que responderam aos questionários e às entrevistas semi-estruturadas.

4.3.1 Instrumentos de Pesquisa

O instrumento para a execução de pesquisa constituiu-se de entrevista semi-


estruturada e de dois questionários, junto aos grupos de Terceira Idade; nesses
constaram questões abertas e fechadas, de acordo com a intencionalidade de
obtenção das informações (APÊNDICE A), que abordam os pontos relevantes deste
trabalho com o objetivo de obter informações acerca de seus interesses, dificuldades
e motivações no manuseio das tecnologias digitais.
94

O primeiro questionário foi aplicado no início do curso sendo a primeira parte


composta dos dados de identificação: nome, idade, estado civil, escolaridade,
graduação, pós-graduação, tempo que trabalhou fora de casa e atividade de lazer
contendo 5 (cinco) perguntas.
O segundo questionário foi aplicado no término do curso, e foram feitas 10
(dez) perguntas, com respostas fechadas; e 2 (duas), com respostas abertas. Em
relação às questões fechadas, estas receberam tratamento estatístico através da
análise quantitativa dos dados, que foram apresentados em forma de percentagens.
A entrevista semi-estruturada foi aplicada no final do curso e, juntamente
com as questões abertas, recebeu tratamento através de uma análise qualitativa dos
dados, colhidos na pesquisa e no contexto atual, o que significa dizer que estamos
interpretando estes dados de modo a identificar as necessidades, expectativas e
motivações relativas à inclusão digital e à Terceira Idade.

4.3.2 Campo de Pesquisa

A investigação foi realizada em um ambiente educacional informal, destinado


à aprendizagem e à inclusão digital: Santander Cultural, localizado no centro de
Porto Alegre. A sala onde ocorrem os cursos está localizada no 1º andar do prédio e
tem 10 (dez computadores). Os cursos ocorrem pela manhã e à tarde, de segunda a
sexta-feira, e, nos horários intermediários, o espaço fica aberto para a população em
geral utilizar os computadores e a estrutura, a fim de acessarem a Internet e de
digitarem trabalhos escolares e documentos.
95

4.3.3 Quadro 4: Metodologia de Pesquisa

PESQUISA QUALITATIVA-QUANTITATIVA
ESTUDO DE CASO
Problema de pesquisa:
• Como acontece a inclusão digital de sujeitos que estão na Terceira
Idade?
Objetivo Geral:
• Compreender o que motiva grupos da Terceira Idade a procurarem
programas de inclusão digital.
Objetivos Específicos:
• Investigar quais são seus interesses, necessidades e dificuldades na
aprendizagem digital de grupos de Terceira Idade; e
• Documentar o significado da inclusão digital nos grupos de Terceira
Idade.
Questões Norteadoras:
• O que motiva sujeitos que estão na Terceira Idade a procurarem cursos
de inclusão digital?
• Quais os interesses, necessidades e dificuldades dos sujeitos na
aprendizagem e inclusão digital?
• Qual o significado da inclusão digital, para os grupos de Terceira Idade,
no término do curso?
Sujeitos:
• Grupos da Terceira Idade
Instrumentos:
• Questionários
• Entrevistas semi-estruturadas

Analise Textual – Bardin (1977); Moraes (1999)


Fonte: O autor, 2007.
96

4.4 PROJETO INCLUSÃO DIGITAL PARA TERCEIRA IDADE – PMPA,


PROCEMPA E SANTANDER CULTURAL

O ingresso na sociedade da informação e a rede mundial de computadores


estão interditados para a maioria dos brasileiros. São quase 150 milhões de pessoas
no país sem acesso a computadores, contra 26 milhões de incluídos digitais. A
PMPA 22 (Prefeitura Municipal de Porto Alegre) assumiu o combate à exclusão como
política pública e desenvolveu o Programa Telecentros 23 , que está levando de forma
gratuita conexão à Internet e conhecimento de informática às famílias de todas as
regiões da cidade.
O projeto de Inclusão Digital para Terceira Idade, que acontece no
Santander Cultural 24 , foi uma iniciativa da Coordenadoria Geral de Política de
Atenção ao Idoso, vinculada à PMPA, a fim de viabilizar para a comunidade cursos
de inclusão digital para o público da Terceira Idade, com participação da

22
Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Praça Montevidéo, n.º 10 - Porto Alegre / RS – Brasil CEP
90010-170 (PREFEITURA Municipal de Porto Alegre. Disponível em: <http://www.portoalegre.
rs.gov.br>. Acesso em: 02 mar. 2007).
23
O termo “telecentro” tem sido utilizado genericamente para denominar as instalações que prestam
serviços de comunicações eletrônicas para camadas menos favorecidas, especialmente nas
periferias dos grandes centros urbanos ou mesmo em áreas mais distantes. Essa experiência tem
sido utilizada em iniciativas que vão desde a prestação de serviços de telefonia e fax em escritórios
espalhados no Senegal até centros associados a projetos de telecomutação e teletrabalho na Europa
e Austrália. Outros termos usados como sinônimos ou como designações em outros idiomas têm
sido: telecottage, centro comunitário de tecnologia, teletienda , oficina comunitária de comunicação,
centro de aprendizagem em rede, telecentro comunitário de uso múltiplo, clube digital, cabine pública,
infocentro, espace numérisé, Telestuben, centros de acesso comunitário etc. Aqui se adota
“telecentro” como denominação genérica para abarcar toda essa gama de experiências. Do ponto de
vista do público atingido diretamente por iniciativas como as dos telecentros, parece ser inegável que
eles têm tido um papel de destaque no processo de universalização do acesso à Internet. E, mais
ainda, se forem analisados os perfis dos diferentes públicos que deles se utilizam, não parece haver
dúvida de que suas experiências têm agregado segmentos sociais que dificilmente teriam acesso à
rede sem telecentros. Fonte: SocInfo – Livro Verde, 2000.p.34.
24
O Santander Cultural está localizado no centro de Porto Alegre, na Praça da Alfândega, em um
edifício histórico totalmente restaurado para abrigar o melhor da produção artística brasileira e
mundial. O Santander Banespa tem como principal missão criar valor para todos aqueles com que se
relaciona. E nada simboliza melhor a capacidade humana para criar valor do que a cultura. O
Santander Cultural é a retribuição do Santander Banespa à calorosa acolhida e a confiança que
recebeu dos brasileiros, em geral, e dos gaúchos, em particular.Seu principal objetivo é projetar a
cultura do Rio Grande do Sul e ampliar o acesso dos diversos segmentos do público à produção
cultural contemporânea nacional e internacional. Um pólo de geração e distribuição de produção
própria que, em intercâmbio com outras instituições, promove a integração da região ao circuito global
das artes.
Espaço sem fronteiras entre o local, o nacional e o global, o artístico e o lúdico, o popular e o erudito,
o tradicional e o contemporâneo, o Santander Cultural irá gerar, pensar e exibir fatos culturais que
rompam limites. Rua Sete de Setembro, 1028 - Centro - Porto Alegre – CEP 90016-900.
(SANTANDER Cultural. Disponível em: <http://www.santandercultural.com.br>. Acesso em: 02 mar.
2007).
97

PROCEMPA (Companhia de Processamento de Dados do Município de Porto


Alegre) 25 e em parceria com o Santander Cultural.
O projeto na fase de execução contou com o apoio do Grupo de Trabalho da
PROCEMPA, composto por colaboradores da companhia responsáveis por
atribuições do projeto relativas às suas áreas de atuação, suporte e montagem do
plano de curso. O contato com as partes envolvidas contou com a realização de
reuniões com o corpo técnico do Santander Cultural, Grupo de Trabalho da
PROCEMPA e Coordenadoria Geral de Política de Atenção ao Idoso, a fim de
definirem as disponibilidades de cada parte para o referido projeto, tais como:
espaço físico, equipamentos, softwares, manutenção, infra-estrutura, segurança,
monitores, inscrições, datas e plano de curso.
A PROCEMPA, juntamente com a supervisão do Grupo de Trabalho, treinou
e cedeu 2 (dois) monitores para a montagem do plano de curso, juntamente com a
coordenadora responsável pela Coordenadoria Geral de Política de Atenção ao
Idoso. Com as definições das partes envolvidas, fez-se necessária a elaboração de
um instrumento jurídico, entre a Instituição Santander Cultural e a PMPA, tendo
como interveniente a PROCEMPA; o convênio rege as responsabilidades das partes
envolvidas.
Através da experiência com projetos de inclusão digital, a PROCEMPA
disponibilizou seu corpo técnico para o suporte, montagem e viabilização da
iniciativa da Coordenadoria Geral de Política de Atenção ao Idoso, a fim de ministrar
cursos de inclusão digital para pessoas da Terceira Idade, propiciando a integração
no núcleo familiar através de uma nova linguagem, integrando-as em um mundo
cada vez mais globalizado através do uso da Internet, retornando-as ao núcleo de
aprendizado e integrando-as a um ambiente com novas perspectivas.
De acordo com a Coordenadoria Geral de Política de Atenção ao Idoso e a
Coordenação Educacional do Santander Cultural, as aulas tiveram início dia 20 de

25
Companhia de Processamento de Dados do Município de Porto Alegre – PROCEMPA, disponibiliza
para a Prefeitura Municipal de Porto Alegre, demais clientes e para os cidadãos, as tecnologias da
informação e comunicação, garantindo a contínua modernização de seus produtos e serviços. A
Procempa, fundada no dia 9 de setembro de 1977 como órgão de processamento de dados,
transformou-se numa moderna empresa de tecnologia da informação e comunicação. Ao longo de
29 anos, a companhia desenvolveu sistemas para a administração pública municipal nas áreas da
saúde, tributos e finanças, educação, trânsito e transporte, saneamento, limpeza urbana,
planejamento, obras e gerenciamento administrativo. Avenida Ipiranga, 1200 - Porto Alegre / RS –
Brasil – CEP 90.160-091 (PROCEMPA. Disponível em: <http://www.procempa.com.br/>. Acesso em:
02 mar. 2007).
98

março de 2006 (iniciando o primeiro Curso de Inclusão Digital para Terceira Idade,
no estabelecimento citado).

4.4.1 O Curso de Inclusão Digital no Santander Cultural

Uma semana antes de iniciar o Curso de Inclusão Digital para Terceira


Idade, no Santander Cultural, é agendada uma reunião, na qual todos os sujeitos
que farão o curso devem comparecer e assim serem apresentados ao grupo a
proposta da entidade, os monitores que aplicarão o curso, os dias, horários e sala
onde ele funciona e como se desenvolverá didaticamente. No fechamento deste
primeiro encontro, é feita uma palestra motivacional com a Coordenadora da Política
de Atenção ao Idoso, na qual são pontuados tópicos importantes como auto-estima,
preconceito, inserção no ambiente virtual. Após serem sanadas dúvidas e
questionamentos, os sujeitos conferem suas inscrições e corrigem possíveis erros,
em seus dados pessoais pois estes são feitos por telefone.

4.4.2 Palestra Motivacional

A palestra intitulada – "Caminhos da Vida – Aprendendo a Ser um Bom


Envelhecente" –, proferida pela coordenadora da Política de Atenção do Idoso da
PMPA, psicóloga e gerontóloga, começa enfocando mudanças que ocorrem no
corpo e na mente do ser humano, através de vários questionamentos ao grupo de
50 alunos presentes. Entre essas questões, num contexto da chegada aos 50 anos,
há percepções pontuais a respeito da fugacidade do tempo, mudanças do corpo,
perda de afetos, com perguntas como: Quanto tempo ainda me resta...?; Minha
segurança afetiva está em perigo, terei chance de felicidade, ainda...?; Como
responderá o meu corpo a todas essas mudanças...?. A partir das respostas, ela
discorre sobre a trajetória do ser humano até chegar à Terceira Idade, com suas
angústias, incertezas, inseguranças e todas as mudanças que acontecem ao chegar
a esta fase da vida. Os participantes intervêm, expressando suas preocupações e
99

confirmando, com gestos ou verbalizando, que algumas daquelas perguntas


estavam lhes atingindo diretamente. O objetivo fundamental da interlocução é que
eles se sintam protagonistas e a emoção os sensibilize. Dessa forma, a motivação
deixa o grupo em prontidão, mobilizando a passividade e incentivando a mudança
de atitude. Nesse momento, a palestrante, com muita veemência, modulando sua
voz para um tom de elevado entusiasmo, parabeniza a platéia pelo desafio que
representa romper com todas as barreiras, preconceitos e dificuldades do “aprender
informática”, entrar num mundo virtual desconhecido e enfrentar a vida com
disposição, ânimo e audácia como uma grande provocação para quem quer
continuar a produzir, aprender e encontrar novos objetivos existenciais através do
”sentido diferenciado” de vida. Ela termina trazendo o pensamento de Victor Franckl
que expressa em sua filosofia logoterápica “apesar de tudo, de todos os
condicionamentos, dizer sempre SIM a vida”.

4.4.3 Início do Curso

1. Primeira aula, os monitores iniciam com uma introdução à informática, e


os grupos começam a digitar para conhecer o teclado;
2. segunda aula, explicam como funciona a parte técnica do computador;
uma CPU é aberta, para que eles conheçam as peças que a compõem.
Nesta aula, também aprendem a mexer com o mouse;
3. terceira aula, ensinam como funciona o Sistema Operacional (menu,
atalhos e jogos);
4. quarta aula, ensinam a criar pastas;
5. quinta aula, ensinam a navegar na Internet e a fazer pesquisas.
6. sexta aula, é criada uma conta de e-mail, para cada um, e eles trocam
mensagens entre si;
7. sétima aula, ensinam como funciona um Editor de Texto, no qual eles
digitam um texto; e
8. oitava e última aula, são feitas as apresentações dos trabalhos que os
idosos produziram para o grupo, e são sanadas as dúvidas referentes à
informática.
100

4.4.4 Monitoria

A monitoria do Curso de Inclusão Digital para Terceira Idade é formada por


dois monitores, um com graduação em rede de computadores pela ULBRA 26
(Universidade Luterana do Brasil) e o outro está no sexto semestre do curso de
análise de sistemas e administração da FARGS 27 (Faculdades Rio-Grandenses).
Eles são cedidos pela PROCEMPA, por apresentarem características e formação
profissional para atuar e interagir com a Terceira Idade; eles fazem a monitoria
desde o primeiro curso, que se iniciou em março 2006, ajudando a implementá-lo.
Os conteúdos foram desenvolvidos pelos próprios monitores e são
distribuídos em apostilas, usadas em aula e dadas no último dia de aula para os
idosos levarem para casa. Ao final de cada curso, é feita uma avaliação referente às
dificuldades e às necessidades que os grupos apresentaram, assim a apostila vai
sendo alterada para se adaptar ao perfil dos sujeitos que participam dos cursos. Os
monitores utilizam linguagem acessível com um enfoque mais didático para melhor
compreensão, sendo motivo de elogios da maioria dos idosos que terminam o curso.

4.4.5 Apostila e Certificado

A apostila do Curso de Introdução à Informática (ANEXO A) e o Certificado


(ANEXO B) do Curso de Inclusão Digital na Terceira Idade, foram desenvolvidos
pelos monitores que ministravam o curso, em parceira com a PROCEMPA e o
Santander Cultural, e são entregues no último dia do curso para os participantes. As
fotos (ANEXO C), de alguns participantes do curso estão nos anexos.
A apostila foi dividida em 4 (quatro) tópicos e glossário, que são os
seguintes:
- Introdução à Informática; Introdução; O computador; Ligando,
desligando e reiniciando o computador; A evolução da informática; Tipos
de computador; Apresentação do teclado; Hardware, software e

26
UNIVERSIDADE Luterana do Brasil. Disponível em: <http://www.ulbra.br/>. Acesso em: 13 abr.
2007.
27
FACULDADES Rio-Grandenses. Disponível em: <http://www.fargs.br/>. Acesso em: 14 maio 2007.
101

peopleware; Sistema Operacional; Arquivos; Extensão de arquivos;


Pastas / Diretórios; Mouse.
- Sistema Operacional: Introdução; Área de trabalho; Menus e Atalhos;
Minimizando, maximizando e fechando; Iniciando uma aplicação; Pastas;
Como funciona a lixeira; Acessando o disquete; Desligando o
computador.
- Internet – e-mail: Introdução; World Wide Web; Aprenda a utilizar o
navegador; Os principais serviços da Internet; Chat; Navegando na
Internet; E-mails; Criando uma conta de e-mail; Enviando mensagem.
- Editor de Texto: Introdução; Descrição da área de trabalho; Barra de
títulos; Barra de menus; Barra de ferramentas; Barra de objetos; Barra
de status; Régua; Barra de rolagem; Fechar.
- Glossário: é o ultimo tópico com a definição das palavras utilizadas no
curso de informática.
5 INTERPRETAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

Com a análise de conteúdo, podemos decodificar as opiniões contidas e as


expressões nas entrevistas semi-estruturadas e nos questionários e, principalmente,
tudo ou quase tudo o que se encontra subentendido a partir de um texto ou do
conjunto de textos de cada resposta. Para Krippendorff (1980) (apud Freitas &
Janissek 2000), a análise de conteúdo é uma técnica de pesquisa para validar
inferências dos dados de um contexto que envolve procedimentos especializados,
para processamento de dados de forma científica, com propósito de prover
conhecimento e novos insights a partir dos dados coletados. As entrevistas e os
questionários foram submetidos à análise de conteúdo que, segundo Bardin,
significa

Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por


procedimentos, sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das
mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de
conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis
inferidas) destas mensagens (1977, p. 42).

A análise de material selecionado fundamentou-se nos princípios


norteadores da técnica de análise de conteúdo que, de acordo com Bardin (1977),
possui as seguintes etapas: a pré-análise, a exploração do material e o tratamento
dos resultados e sua interpretação. Moraes (1999) sugere cinco etapas para
proceder à análise de conteúdos:
a) preparação das informações;
b) unitarização (desmontagem dos textos, fragmentando-os no sentido de
atingir unidades constituintes);
c) categorização (implica construir relações entre as unidades de base);
d) descrição (constitui-se em exposição de idéias de uma perspectiva
próxima de uma leitura imediata); e
e) interpretação (construir novos sentidos e compreensões afastando-se do
imediato, expressando uma compreensão mais aprofundada).
103

5.1 PRIMEIRA ETAPA: PREPARAÇÃO DAS INFORMAÇÕES

5.1.1 Leitura dos questionários

Para podermos obter os indicadores da análise de conteúdo, foi feita uma


pré-análise; ao lermos os questionários devidamente preenchidos, nos quais
selecionamos e organizamos os dados, estes foram organizados a fim de que
fossem utilizados de maneira qualitativa e quantitativa. As respostas utilizadas foram
aquelas que tinham uma lógica mais coerente, pois obtivemos repostas em que os
sujeitos utilizaram expressões como: muito necessário, bom, importantíssimo, boas,
diversos, muito boas, ótimo, maravilhoso, importante, excelente, tudo de bom, etc.;
não desmerecendo estas respostas, mas tivemos de excluí-las, pois não se
relacionavam com o propósito da pesquisa.

5.2 SEGUNDA ETAPA: UNITARIZAÇÃO

5.2.1 Transformação dos conteúdos em unidades

A partir da leitura dos questionários e da desconstrução dos textos,


agrupamos os dados em unidades; esse processo constituiu-se em leituras e
interpretações aprofundadas mediante focalização e recorte dos elementos textuais,
proporcionando a elaboração de textos descritivos e interpretativos da pesquisa
investigada.
104

5.3 TERCEIRA ETAPA: CATEGORIZAÇÃO

5.3.1 Classificação das unidades em categorias

A partir das unidades, chegamos às categorias e às subcategorias que


visam a determinar as dimensões da análise através do destaque de algumas
palavras e prevalência de alguns aspectos, trazendo novas compreensões da
pesquisa analisada, num encaminhamento qualitativo e construtivo, pois, através da
interpretação, podemos ressaltar variados aspectos significativos desta pesquisa.

5.4 QUARTA ETAPA: DESCRIÇÃO

5.4.1 Descrição dos Dados:

Em seguida fizemos a descrição dos conteúdos, que representam para


Moraes “momento de se expressarem os significados captados e intuídos nas
mensagens analisadas” (1999, p. 24).

5.5 QUINTA ETAPA: INTERPRETAÇÃO

5.5.1 Interpretação dos Dados

Tentamos compreender os dados encontrados nos questionários, através de


um paralelo com a Revisão da Literatura, que, para Moraes, a interpretação dos
dados é “uma boa análise de conteúdo não deve limitar-se à descrição. É importante
que procure ir além, atingir compreensão mais aprofundada do conteúdo das
mensagens mediante inferência e interpretação” (1999, p. 24).
6 CATEGORIAS

6.1 Quadro 05: Tabela Categorias

Categorias Prévias Categorias Finais

• Aprendizagem • Autonomia
• Inclusão • Exclusão
• Desafio
Fonte: O autor, 2007.

Dos dados coletados, emergiram 3 (três) categorias prévias, ou a priori, e 2


(duas) categorias finais, ou a posteriori; estas categorias são referentes às respostas
das entrevistas semi-estruturadas e dos questionários do início e do final do curso;
conforme a relevância dada pelos sujeitos da pesquisa, pela pesquisadora e de
acordo com o referencial teórico e as questões norteadoras. Entendemos que no
final poderia haver alguma alteração, mas para nossa surpresa as respostas foram
muito semelhantes, portanto não alteraram as categorias que emergiram.
Podemos perceber que as categorias 1. Aprendizagem, 2. Inclusão,
3. Desafio, 4. Autonomia e 5. Exclusão estão diretamente relacionadas à educação,
pois a inclusão, sendo um grande desafio à nossa sociedade, a partir de uma
aprendizagem autônoma, gera sujeitos livres de exclusões, sejam elas de origem
social, sejam pedagógica.
Podemos explicar as categorias prévias e finais através do Mapa Conceitual
abaixo e percebemos que as categorias se interligam, pois a aprendizagem digital
promove a inclusão sendo o maior desafio para os idosos, e, a partir da inclusão,
eles poderão participar mais ativamente da sociedade de informação e
comunicação, com mais oportunidades, atualização e novos conhecimentos,
possibilitando-lhes mais autonomia , independência e menos exclusões.
106

6.2 MAPA CONCEITUAL DAS CATEGORIAS

Figura 01: Mapa conceitual das Categorias


107

6.2.1 Mapa Conceitual: conceito

O mapa conceitual teve sua origem nos anos 70; Joseph Novak desenvolveu
a teoria a respeito dos Mapas Conceituais 28 . Foi um dos principais pesquisadores
sobre mapas conceituais - para ele, os mapas podem ser usados como ferramentas
para organizar e representar o conhecimento. Os mapas conceituais foram
baseados na Teoria da Aprendizagem Significativa de David Ausubel, isto é: a
aprendizagem precisa fazer algum sentido e acontece quando a nova informação
ancora-se nos conceitos relevantes já existentes na estrutura cognitiva de quem está
aprendendo. Nesse processo, a nova informação interage com a estrutura de
conhecimento específica, que Ausubel chama de conceito “subsunçor”. Quando a
nova informação não consegue fazer sentido a algo já conhecido, ocorre o que
Ausubel chamou de aprendizagem mecânica, ou seja, ocorre quando as novas
informações são aprendidas sem interagirem com conceitos relevantes existentes na
estrutura cognitiva. Assim, podemos utilizar o seguinte exemplo: uma pessoa pode
decorar fórmulas e leis para fazer uma prova, mas, assim que termina, esquece
logo.
Para haver aprendizagem significativa, é preciso haver duas condições: o
sujeito precisa ter uma disposição para aprender (se quiser memorizar
arbitrariamente, então a aprendizagem será mecânica); o material a ser aprendido
tem de ser potencialmente significativo, ele tem de ser lógico e psicologicamente
significativo.
Mapas conceituais são representações gráficas de conceitos construídos de
tal forma que as relações entre eles sejam significativas. Os conceitos-chave ou
principais aparecem dentro de retângulos ou círculos, sendo importante sempre
manter a mesma forma, para não haver confusões. As relações entre os conceitos

28
Mapas Conceituais são representações gráficas semelhantes a diagramas, que indicam relações
entre conceitos ligados por palavras. Representam uma estrutura que vai desde os conceitos mais
abrangentes até os menos inclusivos. São utilizados para auxiliar a ordenação e a seqüenciação
hierarquizada dos conteúdos de ensino, de forma a oferecer estímulos adequados ao aluno. Esta
abordagem dos mapas conceituais está embasada em uma teoria construtivista, entendendo que o
indivíduo constrói seu conhecimento e significados a partir da sua predisposição para realizar esta
construção. Servem como instrumentos para facilitar o aprendizado do conteúdo sistematizado em
conteúdo significativo para o aprendiz. Novak é considerado o criador dos mapas conceituais e refere
ter usado este em várias pesquisas, contemplando as diversas áreas do conhecimento. MAPAS
(Conceituais. Disponível em: <http://penta2.ufrgs.br/edutools/
mapasconceituais/defmapasconceituais.html>. Acesso em: ago. 2007).
108

são especificadas através de frases de ligação que os une. Após outros conceitos,
vão sendo incorporados, que são palavras ou frases relacionadas ao conceito
principal. Os conceitos vão sendo ligados por setas, ou frases de ligação, que
podem ter uma única direção ou várias, surgindo a relação entre os dois conceitos.
As setas podem ligar todos os conceitos relevantes. Quando os conceitos são
conectados por uma frase de ligação, chamamos de proposição, que são uma
característica particular dos mapas conceituais. Os mapas conceituais podem ser
utilizados para a introdução de novos conceitos, e reforçar a compreensão e a
aprendizagem, mantendo a importância do conceito principal e suas ligações,
sintetizando e resumindo conceitos e suas inter-relações.
7 ANÁLISE DOS DADOS QUALITATIVOS CATEGORIZADOS

A partir dos dados levantados na pesquisa, os quais emergiram das


respostas das entrevistas semi-estruturadas, com 6 (seis) sujeitos entrevistados, e
dos questionários, dos 77 (setenta e sete) sujeitos que responderam devidamente às
7 (sete) perguntas do Curso de Inclusão Digital no Santander Cultural, houve uma
diferenciação em 3 (três) unidades de análise, que foram as categorias prévias,
referindo-se ao grau de importância de cada uma associada à inclusão digital, aos
objetivos da pesquisa e mais 2 (duas) unidades de análise, que emergiram como
categorias finais. Com esses dados, foi possível compor um cenário dos interesses,
das necessidades e das expectativas das relações pertinentes à inclusão digital na
Terceira Idade. A partir da descrição das categorias, prévias e finais, destacamos as
falas, tanto dos sujeitos que responderam ao questionário, quanto os que
responderam à entrevista.

7.1 APRENDIZAGEM

A aprendizagem deve envolver o enriquecimento


e o aprofundamento das relações consigo mesmo,
com a família e com os membros da comunidade,
com o planeta e com o cosmos
(YUS, 2002, p. 256).

Quando falamos em aprendizagem, automaticamente nos reportamos para a


educação; e esta que vivenciamos neste início do século XXI pertence a um mundo
complexo, constantemente agitado e que vive muitas mudanças freqüentes, no qual
muitas medidas devem ser tomadas e mudadas a fim de que a aprendizagem seja
significativa fazendo diferença na vida de quem aprende e de quem espera entender
o novo modelo pautado na utilização de diferentes tecnologias. Assmann afirma que
“é certamente inegável que o acesso à informação e ao conhecimento, ou seja, a
transformação de todos em aprendentes, passou a ser uma condição para participar
dos frutos do progresso tecnológico” (1998, p. 72).
110

Evidenciamos um novo modelo de educação e, conseqüentemente, de


aprendizagem. No relatório para a UNESCO 29 , Educação: um tesouro a descobrir,
de Jacques Delors, são abordados, com muita propriedade, os quatro pilares da
educação para o século XXI, que deve organizar-se em torno de quatro
aprendizagens fundamentais que, ao longo de toda a vida, serão de algum modo,
para cada pessoa, os pilares do conhecimento: aprender a conhecer, aprender a
fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser. Este novo conceito de aprendizagem
instiga-nos a comprometermo-nos e buscarmos mais qualidade ao longo de nossa
vida, pois contempla o todo e suas diferenças, para podermos desenvolver a
competência de vivermos juntos, sem fronteiras, diferenças e desigualdades.
Esse modelo de aprendizagem mencionada no relatório faz parte da
aprendizagem que queremos e de que necessitamos, e com os novos idosos do
século XXI não deve ser diferente: eles, como cidadãos atuantes na sociedade,
querem desenvolver todos seus potenciais em relação à aprendizagem digital e seus
contextos como constatamos no relato do E01

Tenho necessidade em me atualizar, falar a linguagem dos jovens, poder


conversar, pois às vezes estou falando com meus netos, tenho netos de 25,
26 anos e pequeno com 6 anos,e certos assuntos que eles sabem, mas eu
estou por fora [...] leio jornal e escuto notícia, tudo, mas não alcanço às
vezes, isto, porque eles estão falando sobre informática e computador e eu
não sei o que estão dizendo, por isso que eu quero aprender.

29
UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura foi fundada
em 16 de novembro de 1945. Para esta agência especializada das Nações Unidas, não é suficiente
construir salas de aula em países desfavorecidos ou publicar descobertas científicas. Educação,
Ciências Sociais e Naturais, Cultura e Comunicação são os meios para se conseguir atingir um
objetivo bem mais ambicioso: construir paz nas mentes dos homens.A UNESCO funciona como um
laboratório de idéias e como uma agência de padronização para formar acordos universais nos
assuntos éticos emergentes. A Organização também serve como uma agência do conhecimento –
para disseminar e compartilhar informação e conhecimento – enquanto colabora com os Estados
Membros na construção de suas capacidades humanas e institucionais em diversos campos. Em
suma, a UNESCO promove a cooperação internacional entre seus 192 Estados Membros e seis
Membros Associados nas áreas de educação, ciências, cultura e comunicação. A UNESCO está
trabalhando para criar condições para um genuíno diálogo baseado no respeito a valores
compartilhados e na dignidade de cada civilização e cultura. Este papel é crítico, particularmente face
ao terrorismo, o qual constitui um ataque contra a humanidade. O mundo requer urgentemente de
visões globais de desenvolvimento sustentável baseado na observância dos direitos humanos,
respeito mútuo e na erradicação da pobreza. Visões estas que estão todas no cerne da missão da
UNESCO e em suas atividades. Através de suas estratégias e atividades, a UNESCO está
ativamente dedicando-se a atingir o Objetivos de Desenvolvimento do Milênio das Nações Unidas.
(UNESCO no Brasil. UNESCO: o que é e o que faz. Disponível em:
<http://www.unesco.org.br/unesco/sobreaUNESCO/index_html/mostra_documento/>. Acesso em: 20
maio 2007).
111

A necessidade de aprender também aparece na fala do S54 “tenho muita


vontade de aprender algo mais, nesta fase da nossa vida sem pressa, apesar das
mudanças tão rápidas que vemos no nosso dia-a-dia”, e na visão de Mosquera em
1987, ou seja há 20 anos, como um visionário, já nos afirmava que ”uma das
melhores garantias para a conservação de uma boa saúde na velhice é estar
ocupado em coisas que despertam verdadeiro interesse” (p.136), e no caso destes
sujeitos, o interesse por novas aprendizagens lhes proporcionará uma saúde mental
e física mais equilibrada, sendo que, para eles, “o mundo digital é um conhecimento
novo, do qual não podemos ficar alienados”, afirma o S28.
Para Papalia e Olds

A atividade mental continuada ajuda a manter o desempenho em nível


elevado, quer essa atividade envolva leitura, conversação, palavras
cruzadas, jogo de cartas ou xadrez, ou voltar para a escola, como cada vez
mais adultos estão fazendo (2000, p. 519).

O termo ‘aprendizagem’, segundo o Dicionário de Pedagogia, “designa o


período durante o qual uma pessoa aprende um novo saber para si e o processo
pelo qual o novo saber se adquire” e apresenta-se como a primeira categoria, pois
foi evidenciada na maioria das respostas dos sujeitos que participaram da pesquisa,
na qual o enfoque foi a aprendizagem digital. Esses sujeitos estão buscando novas
aprendizagens por perceberem a demanda de mudanças tão rápidas que a
sociedade impõe dia a dia, em que competências, habilidades e novos saberes têm
de ser atualizados rapidamente com novas maneiras de aprender, e também pelo
fato de que as necessidades e interesses dos idosos mudaram, como o S01 nos
afirma que ele quer “participar do mundo digital, pois tenho interesse em ampliar
minha aprendizagem, visar a um melhor conhecimento e participar mais ativamente
de nossa comunidade, superando dificuldades”.
Moraes e Souza nos afirmam que “o envelhecimento da população é um
fenômeno global e relativamente recente no mundo. A população anciã é a que mais
cresce mundialmente. As tendências demográficas atuais evidenciam que a
população está envelhecendo” (2003, p. 57).
Diante dessa afirmação e com a expectativa de vida que vem aumentando
gradativamente, pela melhora da qualidade de vida, os idosos sentem-se
interessados em aprender mais para estarem atualizados e não se sentirem
112

ultrapassados e excluídos, e nesse processo que presenciamos diariamente, através


do qual novas tecnologias são incorporadas em nossas vidas, Papalia e Olds nos
questionam:

Por que tantos idosos querem aprender a usar o computador? Alguns estão
simplesmente curiosos, ou precisam adquirir novas habilidades de trabalho
ou se atualizar. Outros querem acompanhar as tecnologias mais recentes:
comunicar-se com crianças e netos que usam computadores ou com
amigos que estão na Internet (2000, p. 519).

A aprendizagem, formal ou não, mesmo que esteja ao alcance da maioria


dos indivíduos, cada vez mais está fazendo parte deste novo perfil social, revelando
a importância de aprender informática, através da inclusão digital, como
confirmamos na fala do S71 “aprender informática é aprender algo a mais”, para
que, dessa forma, continuem inseridos de maneira mais significativa e atuante na
sociedade, como afirma o E02 qual a importância desta aprendizagem em sua vida

Para mim é muito importante; eu sinto que estou progredindo, pois a gente
na Terceira Idade se aposenta, parece que fica em casa parado sem saber
nada, eu acho muito importante. Minha vida vai mudar bastante, talvez eu
me interesse por outras coisas, através disso aí; seria uma porta de entrada
para o meu desenvolvimento cultural, porque a gente tem de aprender
sempre, senão compromete o meu desenvolvimento pessoal, porque se a
gente pára, até a mente fica parada e a gente não desenvolve; por isso que
eu acho muito importante.

Portanto, para esses idosos, aprender faz parte de suas necessidades e


motivações, resignificando suas vidas, rompendo com estereótipos e preconceitos
“nunca é tarde para aprender”, como acredita o S20. Quanto à aprendizagem,
Assmann define como

Aprender significa, sem dúvida, entrar em mundos simbólicos pré-


configurados, ou seja, em mundos do sentido que já são falados e
sustentados por outras pessoas que nos cercam (amigos / as, pais, irmãos /
as, professor / a, etc.). Mas aprender significa também, e num sentido muito
forte esquecer linhas demarcatórios dos significados já estabelecidos e criar
outros significados novos. Desaprender “coisas por demais sabidas”, e re-
sabê-las – re-saboreá-las – de um modo inteiramente novo e diferente, faz
parte do aprender (1998, p. 68).

Novas aprendizagens fazem com que tenham novas perspectivas e outros


olhares sobre suas próprias vidas, como comenta o S07: “um novo mundo, novo
aprendizado, tudo novo”, pois, para estes sujeitos, este aprendizado cria novas
113

expectativas, através de novas oportunidades, gerando e atualizando novos


conhecimentos, e foi o que notamos nos cursos de informática: eles se sentem
seduzidos e encantados ao lidar com as tecnologias, pois, através delas, se inserem
como cidadãos virtuais no mundo digital, como confirmamos na fala da E6:

Agora eu estou muito entusiasmada, porque eu comecei a ver as coisas de


outra maneira, eu me liguei, agora que eu posso fazer e fui vendo que a
gente tem um mundo dentro de casa, tudo eu posso ver, [...] eu vejo
pesquisas que eu quero saber. Até comprei um creme, e falava na
composição, eu fui olhar, então achei aquilo tudo muito interessante. Tudo a
gente pode procurar, uma receita de comida, enfim, localizar residência ali
no ícone de busca, então eu achei tudo muito bom e estou achando que eu
entrei em um mundo novo.

Papalia e Olds nos relatam que

Programas educacionais especificamente criados para adultos maduros


estão florescendo em muitas partes do mundo; muitos desses estudantes
são aposentados e têm mais tempo para se dedicar à aprendizagem do que
em qualquer período anterior da vida desde a juventude. Numa categoria
estão as aulas gratuitas ou de baixo custo, ministradas por profissionais ou
voluntários [...] estas aulas geralmente têm um enfoque prático e social
(2000, p. 519).

Para os sujeitos que participaram da pesquisa e que estão na Terceira


Idade, ter uma oportunidade para aprender informática na fase em que se
encontram, sendo que muitos não têm condições de pagar cursos particulares, isso
vem acrescentar muito às suas aprendizagens. A oportunidade de uma educação ao
longo da vida efetiva, os direitos dos cidadãos de continuarem participando da
sociedade, mesmo que já estejam fora do mercado de trabalho, e esta oportunidade
somente é contemplada quando surgem políticas públicas em parcerias com
entidades governamentais ou não, como presenciamos na resposta do sujeito S20
“o meu interesse pela informática já era bastante antigo, e a oportunidade surgiu
agora com os cursos gratuitos para a Terceira Idade”. E como comenta o E02, “eu
sempre tive vontade, mas não tinha condições para pagar um curso, mas um amigo
me comunicou que havia este curso e eu me senti bastante motivada a fazer, porque
é um curso voltado para Terceira Idade e é gratuito; as duas coisas”.
Proporcionar oportunidades para que os sujeitos continuem aprendendo é
propiciar condições de um futuro melhor, tanto para os idosos como para as futuras
gerações, e proporcionar um significado de vida para quem já está na Terceira
114

Idade, como afirma o S52 “tive a oportunidade de ver que não é tão difícil aprender,
mesmo não tendo nenhuma noção de conhecimento do mundo digital”, eles podem
enriquecer seus conhecimentos e continuar desenvolvendo suas habilidades.
Mantendo a mente ativa, estes idosos terão mais facilidades para lidar com as
transformações que envolvem a sociedade em todos seus segmentos.
Cursos oferecidos para incluir digitalmente o público da Terceira Idade,
como a iniciativa do Santander Cultural em parceria com a PMPA, incentivam, não
somente os idosos, mas as pessoas de sua convivência, pois, por ser gratuito,
contempla tanto os que têm recursos como os que não têm, como confirmamos na
fala do S30 “muito positivo dar oportunidade gratuitamente às pessoas idosas a fim
de se apropriarem das informações no contexto atual” e do S41 “representa a
oportunidade de ampliar meus conhecimentos nas atividades do meu lazer sem
gastos”.
A oportunidade de inserir-se no mundo digital também pode ajudar os idosos
que ainda estão trabalhando, pois a nossa legislação permite que aposentados
voltem ao mercado de trabalho, desde que não seja aposentadoria por invalidez,
atualizando-os e capacitando-os nas tecnologias, proporcionando que continuem
sonhando com o futuro, em vez de ficarem presos ao passado, como comenta o S54
”uma necessidade importante para desenvolver diferentes atividades das quais faço
parte”; e como complementa o S68 “a minha inclusão é me sentir atualizada dentro
do contexto, porque perdi várias oportunidades de serviço em função de não ter
conhecimento de informática e agora já posso participar do mercado de trabalho
novamente”.
Dependendo das oportunidades e dos obstáculos que os sujeitos
enfrentaram para desenvolver suas potencialidades de aprendizagem, ao longo de
suas vidas, são fatores que podem influenciar e motivar a procura ou não por novos
cursos. Mosquera salienta que “a capacidade de olhar para o futuro, desenvolvido
adequadamente, contribui para diminuir a apatia e manter a inteligência acordada”
(1987, p. 143); concordamos com a idéia do autor, porque, se houver mais
“telecentros” e políticas públicas engajadas e conscientes que disponibilizem cursos
gratuitos para os idosos, eles não estarão atrelados a pensamentos do passado nem
às manias de doenças como muitos costumam gastar seu tempo, como o mesmo
autor enfatiza “a saúde se converte em um dos temas de conversas preferidos e a
sensação de que não se dispensa atenção suficiente pode conduzir ao momento de
115

queixas sobre a má saúde” (p. 143); seus alvos com certeza serão de um presente e
um futuro propício para novas conquistas, rico em atividades produtivas e satisfação
pessoal.
Muitos grupos de Terceira Idade manifestam suas preocupações e
interesses em adquirir mais conhecimentos, não como aprenderam em suas épocas
de ensino, nos livros e enciclopédias, mas um conhecimento diferente, porque para
eles são conhecimentos mais rápidos, simultâneos e atualizados, e, no seu ponto de
vista, é do que precisam para inserir-se e participar do mundo digital, como o S05
coloca “meu interesse é adquirir conhecimentos para poder participar mais desta
sociedade moderna de forma interativa, através do mundo digital”.
O E06 define o que é para ele aprender informática:

O que me motivou aprender informática foi eu ter achado que vai abrir um
mundo novo para mim; estes conhecimentos, acho, vão servir para tudo o
que eu quero, falar com meus parentes; tenho muitos parentes que moram
fora do Rio Grande do Sul, e vou me comunicar por e-mail com colegas;
enfim, principalmente para mim que sou aposentada.

De acordo com Mosquera (2003) “o conhecimento, portanto, é o fator mais


significativo para o mundo do futuro e este conhecimento terá de ser cada vez mais
democratizado e valorizado, como forma de convivência na qualidade de vida das
pessoas” (p. 52). E é esta preocupação que observamos nas respostas do sujeitos,
porque o conhecimento está ligado com algo concreto no mundo real, através do
virtual; ele nos proporciona novas e inovadoras experiências motivando novas
aprendizagens, senão acaba sendo mera informação e é puramente subjetivo, pois
cada indivíduo o vivencia de forma diferente conforme suas próprias trajetórias, para
que não fiquem com a sensação do S69 que declara: “pretendo ampliar meus
conhecimentos, enquanto tenho tempo e saúde”, e o S77 menciona que quer
“conhecer como funciona a nova maneira de pensar dos mais jovens, pois os
conhecimentos são diferentes do meu tempo de jovem, hoje é mais rápido e
estimulante aprender”; porém, o que muitos idosos não compreendem é que este
conhecimento não acontece de forma linear, como foram suas aprendizagens, a
aprendizagem pautada nas tecnologias nos possibilita ter acesso a muitas
informações e transformá-las em conhecimento, a partir de nosso interesse e
compreensão, mas muitos deles ainda não têm esta percepção, como constatamos
na fala do E02
116

Representa para mim mais um meio de conhecimento, mas eu sempre tive


vontade de aprender e agora se apresentou esta oportunidade, que é
gratuita, porque acho uma coisa muito importante, hoje em dia, todo mundo
tem de ter conhecimentos digitais, porque senão fica travada. Eu mesmo me
sinto uma pessoa para trás porque não sei. Mas tem um manual como um
livro, e eu vou seguir o que ele diz, acho que é mais fácil.

Adquirir conhecimentos pode significar, para os idosos, recuperar o tempo


perdido, a fim de continuarem a se comunicar e a interagir como e com as pessoas
que adquirem conhecimento desta forma no mundo digital, como destacamos a
percepção do S54 “aprender informática é fundamental para a renovação intelectual
do ser humano, independente da idade que se inicie temos de nos atualizar de
tudo”; conforme esta fala, percebemos que os idosos têm a preocupação em se
atualizar, porque seus mundos mudaram radicalmente com o advento das
tecnologias, e, se há alguns anos alguém falasse para as pessoas que estão na
Terceira Idade hoje que eles iriam retirar dinheiro, ver o saldo na conta bancária,
fazer compras e conhecer outras culturas e outros países sem precisar sair de casa,
provavelmente eles não acreditariam. Mas como tudo se renova nas nossas vidas
através de construções e reconstruções, com o conhecimento não seria diferente, e
isso é possível. Esta renovação é benéfica para a vida de todos quantos queiram
participar ativamente da vida, como comenta o S28 o que é participar da sociedade
digital para ele “é uma renovação para qualquer tipo de profissão, desde a dona de
casa até o mais alto executivo”.
Nas diferentes fases de nossa vida, passamos por diversas transições e,
portanto, temos de nos atualizar como um processo contínuo que está sempre em
movimento, porém não necessariamente pré-estabelecido pelos moldes da
educação formal. Na Terceira Idade, esta atualização pode acontecer informalmente,
partindo dos interesses e das motivações mais emergentes, como comenta Kachar
“aprender, nesse período de tempo, é caracterizado pela necessidade de abertura,
‘respiro’, sem os limites rígidos impostos pela formalização do ensino” (2003, p. 114),
e como constatamos na fala do S47 seu interesse é o entretenimento “estar
atualizada com o que ocorre no mundo. E continuar em conhecimentos, cultura,
lazer, viagens virtuais, etc.”; porque, para diversos tipos de lazer e entretenimento, a
Internet nos oferece muitas opções.
117

[...] eu não quero trabalhar com isto, não é esta minha intenção, é para
lazer, para poder conhecer, tem tanta coisa. E a minha expectativa é poder
me comunicar com eles, com a família. Este aprendizado, a inclusão digital,
vai ser excelente, eu não quero aprender a fazer uma planilha, toda cheia
de quadradinhos, este é o meu maior interesse: poder conversar com quem
eu quiser, interagir, navegar, conhecer, viajar longe, sair dentro da minha
casa e ir lá para o outro lado (E05).

Kachar enfatiza que “aprender é viver continuamente em estado de


mudança e transformação, o que está reservado não a uma determinada idade, mas
a todas” (2003, p.115), portanto aprender, como muitos pensam, não é exclusividade
somente dos jovens, mas é o grande propósito de uma autêntica educação de
adultos, pois ajuda as pessoas a entenderem; Mosquera (1985) afirma que são “as
artífices mais genuínas de seu desenvolvimento”.

7.2 INCLUSÃO

A inclusão e o envolvimento dos idosos na vida


sociais podem ser efetivados através do incentivo de
várias ações e programas que os estimulem
à participação. Os cidadãos idosos podem ser motivados
a participar de programas sociais comunitários
diversos, não só os específicos para a Terceira Idade
(BULLA,SANTOS e PADILHA, 2003, p. 181).

Entendemos que a inclusão digital não deve ser vista separadamente, mas
como uma das prioridades das políticas públicas dos governos, pois é um direito do
cidadão assegurado por Lei 30 , e o fato de haver outras exclusões não justifica, no
contexto atual, abandoná-la, promovendo-a a um segundo plano; portanto, a
sociedade deve preocupar-se e engajar-se em promover diferentes e diversos tipos
de inclusão, conforme definiu Suaiden:

30
DECRETO Nº 6.023, DE 22 DE JANEIRO DE 2007, Altera o art. 2o do Decreto no 5.602, de 6 de
dezembro de 2005, que regulamenta o Programa de Inclusão Digital instituído pela Lei no 11.196, de
21 de novembro de 2005.O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o
art. 84, inciso IV, da Constituição, e tendo em vista o disposto no § 1o do art. 28 da Lei no 11.196, de
21 de novembro de 2005. (BRASIL. Planalto Central. Decreto nº 6.023, de 22 de janeiro de 2007.
Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/decreto/d6023. htm/>.
Acesso em: 22 maio 2007)
118

Quando você fala sociedade da informação, você pressupõe que está toda
humanidade, não é. No Brasil, atualmente, apenas 20% da população estão
incluídos nesta sociedade da informação. Uma sociedade que prega a
democratização do acesso à informação, porém que exige um
comportamento e uma infra-estrutura. E o Brasil é um país que tem
analfabetos e desnutridos, pessoas que jamais terão condições de participar
desta sociedade, na qual a exclusão e a inclusão passam a ser parâmetros
(2003).

Podemos conceituar inclusão digital como o acesso à informação através


das redes digitais, em que a informação, após ser reelaborada, torna-se
conhecimento e, como conseqüência, teremos uma melhor qualidade de vida, das
pessoas que dela se apropriam e na vida dos idosos é entendida como uma
participação mais efetiva na sociedade, promovendo a cidadania digital, resgatando
desta forma a inclusão social através da integração com diferentes e diversos
grupos. Entretanto, a inclusão digital, através do potencial que a Internet
proporciona, faz emergir o problema de acesso a todos, ou seja, ela não exclui,
porém se constitui como um fator de exclusão de grupos e pessoas, e isso é muito
mais acirrado em um país marcado por desigualdades de todo tipo, regionais e
sociais. Para Batista

O analfabetismo digital vai-se tornando, possivelmente, o pior de todos.


Enquanto outras alfabetizações são já mero pressuposto, a alfabetização
digital significa habilidade imprescindível para ler a realidade e dela dar
minimamente conta para ganhar a vida e, acima de tudo, ser alguma coisa
na vida. Em especial, é fundamental que o incluído controle sua inclusão
(2007, p. 196).

Contudo, apesar desse contexto, em que muitos estão à margem deste


processo constatamos que a vontade dos idosos de incluir-se supera qualquer tipo
de preconceito e estereótipos, como destacamos nas falas do S23 “foi a vontade de
não me sentir excluída digitalmente, pois estava me sentindo ‘jurássica’ diante de
meus alunos e colegas”, e do S25 “a inclusão digital vai me possibilitar entrar para a
socialização com o mundo todo. Pagar minhas contas, conhecer outros lugares,
pessoas, me colocar dentro da sociedade do século XXI, até então desconhecido
para mim”.
Silveira define inclusão digital como “a universalização do acesso ao
computador conectado com a Internet, bem como o domínio da linguagem básica
para manuseá-lo com autonomia” (2003), e o E04 comenta que inclusão digital para
ele é
119

Atualizar-se no mundo atual na era da informática, para não ficar por fora,
porque todo mundo fala esta linguagem e a gente não sabe nada, por
exemplo tudo o que a gente faz agora, vai se inscrever num concurso, tudo
é através da informática, tudo pela Internet. Antigamente a gente chegava
ali e se inscrevia, dava os dados, os documentos, agora é tudo através da
Internet. Uma devolução de imposto de renda tem que ir à Internet, colocar
o número do CPF para ver se já está à disposição. A inclusão digital é uma
necessidade.

Quando se chega à velhice, muitos sujeitos não querem perder os laços


sociais que ao longo da vida cultivaram, entretanto nesta fase, quando há
comprometimentos físicos e de saúde, o uso das tecnologias, ainda que seja em
casa, proporciona a diversificação das redes sociais através da interação e
integração com diferentes pessoas e lugares, tornando-se um meio eficiente de
comunicação.
A compreensão também é um modo de incluir, Morin enfatiza que
“compreender significa intelectualmente apreender em conjunto, comprehendere,
abraçar junto (o texto e seu contexto, as partes e o todo, o múltiplo e o uno)” (2001,
p. 94), portanto, para que os idosos se sintam incluídos neste formato de sociedade,
eles primeiramente têm de ser acolhidos, compreendidos para, então, poderem
manifestar suas dificuldades, necessidades, motivações e ansiedades, “a
compreensão é, ao mesmo tempo, meio e fim da comunicação humana” (p. 104).
No entendimento das pessoas que estão na Terceira Idade, o tempo é mais
escasso e as perdas são aceleradas pelo envelhecimento restando menos tempo e
chances para poderem realizar novas aprendizagens e projetos mais longos, como
refere o S17 “é um sonho eu poder lidar com esta máquina que é o computador, me
sinto muito insegura, por causa da minha idade; achei que não aprenderia mais, mas
espero conseguir um bom aprendizado”, e o comentário do S28 “as minhas
expectativas são as melhores possíveis. Com a didática dos professores, está sendo
fácil de entender; a linguagem da computação tornou-se mais clara, ainda tem a
ajuda dos novos colegas”.
Estes comentários confirmam o que Kachar afirma:

Os sujeitos aprendizes, sintonizados com as atividades em sala de aula,


entusiasmados com o aprender, cheios de vontade de conhecer estavam
distantes da imagem do velho inativo ou incapaz. O desejo de aprender leva
à renovação do mundo interior, gerando mudanças contínuas na
subjetividade, no espírito e no intelecto do indivíduo (2003, p. 27).
120

Os motivos que levam os idosos a participarem de cursos, a fim de se


incluírem digitalmente, são variados, mas acreditamos que são mais intrínsecos,
pois elevam sua auto-estima e sua qualidade de vida, como comenta o S45: a
inclusão digital para ele foi uma “mudança de vida” e, o fato de participar dos cursos,
alterou seu modo de viver e o motivou a aprender mais; como refere o S23 “minhas
expectativas são as melhores possíveis. Pretendo não parar mais de aprender
informática. Fui picada pela ‘abelha’ da inclusão digital e estou realizada”. A inclusão
digital na vida das pessoas que estão na Terceira Idade, perpassa pela motivação e
é uma realização, como podemos observar o comentário que o E06 faz:

A inclusão digital, hoje depois que eu comecei a me ligar um pouquinho,


vejo que ninguém pode ficar longe disto, isto veio para ficar mesmo, e é
importante para o jovem, para quem estuda, para quem trabalha - não tem
idade. Acho que ela veio e que é necessária, e ninguém vai poder ficar
longe; eu digo e afirmo assim, com bastante convicção; eu vejo e digo,
porque eu não tinha interesse de ficar sentada na frente do computador.
Mas hoje, pelo pouquinho que eu sei, que eu vejo, acho que ninguém vai
poder ficar sem ele; ele veio para ficar.

A participação faz com que o sujeito se integre e possa ser entendido com o
reconhecimento do papel das pessoas na sociedade, tendo a mesma conotação
para os idosos. Quando eles falam em participar da sociedade de informação, isso
nos reporta a uma minoria que precisa estar agregada a um contexto maior - no
caso, grupos de Terceira Idade - que procuram a aprendizagem digital para
agregarem-se a uma sociedade digital.
Nas respostas dos sujeitos que participaram da pesquisa, percebemos que a
disposição que os idosos têm em participar do mundo tecnológico é muito intensa,
pois, para eles, participar da sociedade confere uma nova construção de identidade,
uma nova maneira de pensar e interagir, como comenta o S20 que quer “sair do
ostracismo, participar e interagir mais com o mundo”. Essa participação muitas
vezes é motivada, porque em um grupo uns incentivam os outros a superar suas
dificuldades, ansiedades e necessidades, muitas vezes dispensando a ajuda técnica
dos monitores, apoiando com palavras e estimulando a pensar que, mesmo sendo
idosos, é possível aprender, como salienta o S01 “a inclusão nos torna capazes de
enfrentar e participar dessa nova tecnologia que abrange a todos, em todo o mundo,
nos deixando em condições de sonhar e viver o mundo digital”.
121

Para Bulla, Santos e Padilha:

A participação em atividades coletivas pode contribuir para mudar


significativamente a vida dos idosos no que diz respeito a aspectos ligados
ao fortalecimento da auto-estima, da identidade, do desenvolvimento das
potencialidades, da autonomia e da superação de problemas físicos,
emocionais e sociais (2003, p. 182).

Neste contexto, a participação tem a conotação de ser e continuar ativo no


seio familiar e social, significando para os sujeitos que estão na Terceira Idade, o
aumento de sua auto-estima e sua auto-imagem, pois, muitas vezes, socialmente,
são vistos à margem do processo por serem menos capazes e improdutivos, como
refere o E03:

Acho que é uma necessidade, acho que é imprescindível; quem está por
fora é o analfabeto dos dias de hoje. É o analfabeto, eu penso nisso, meu
Deus; os netos dirão, minha vó era analfabeta, ela não sabia lidar com o
computador, é esse o motivo principal.

Para que os idosos não sejam vistos como Kachar (2003) constata que o
sistema capitalista não os valoriza, porque os vê fora do sistema de produção e com
importância social diminuída; nesse contexto, as ofertas de cursos para a Terceira
Idade deveriam ter outros olhares, pois com o contingente de pessoas idosas e que
estão envelhecendo, em nosso país, é melhor para todos os segmentos que a
população permaneça ativa física e mentalmente, porque eles precisam de apoio e
integração como em qualquer outra faixa etária e, se assim for, não fiquem atrelados
às conversas sobre o tempo passado e aos males do corpo. O E01 comenta qual
sua expectativa quando estiver incluído:

Eu espero poder me dedicar a isso e ficar atualizado em tudo, porque eu


estou me sentindo meio excluído hoje em dia; a gente fica pra trás, acho
que assim vou ficar mais atualizado em tudo. Vou poder saber muito mais
coisas em geral, pelo que meus netos dizem, quando eu vou à casa deles,
mas não me interesso muito porque não sei, não quero dar palpite, mas
acho que isto é muito bom. Assim vou poder conversar com eles.

Assim, temos de criar oportunidades e suportes para a grande maioria de


idosos excluídos digitalmente, para que não permaneçam socialmente, promovendo
o acesso a variados cursos com qualidade, atendendo a todos sem nenhum tipo de
discriminação, valorizando as diferenças, as histórias de vida como fator de
122

enriquecimento do processo de aprendizagem, transpondo barreiras, desafios e


participação com igualdade de oportunidades, superando a imagem imposta
culturalmente de que o velho é um indivíduo fraco e decrépito, incapaz de se
autodeterminar e produzir. Podemos finalizar com a fala do E06 que define o que é a
aprendizagem e a inclusão digital na vida dele e das pessoas que estão na Terceira
Idade e que querem se incluir:

[...] eu acho que o computador, se a pessoa não se policia, ela é capaz de


passar o dia ali, de tão bom que é, de tanta coisa que tem, pois a gente vê o
mundo na nossa frente, a gente vê o que quiser. Assim, é até meio mágico,
o computador para mim é meio mágico, porque ele abre um panorama, os
horizontes, uma vida muito boa; eu acho isso, que eu ainda não sei, quando
eu souber, então! Ele encanta. Quem não sabe lidar com ele é como uma
pessoa que não sabe ler, um adulto que não sabe ler é um analfabeto; é um
analfabeto digital, principalmente para quem já está na Terceira Idade.
Agora, com o que eu vou aprender, vou deslanchar. Acho que todos os
idosos deveriam aprender esta magia.

7.3 DESAFIO

O idoso confronta-se com novos desafios,


outras exigências, devendo renunciar a uma certa
forma de continuidade, sobretudo biológica,
e desenvolver atitudes psicológicas que o levem
a superar dificuldades e conflitos,
integrando limites e dificuldades
(NOVAES, 1997, p. 24).

Em todas as idades enfrentamos desafios, isso é característica do ser


humano que quer mais para si. O desafio pode ser visto como uma forma de
combater estereótipos, preconceitos e superação dos próprios limites. A atitude de
começar um curso de informática na Terceira Idade caracteriza-se como um desafio,
em que novos conceitos devem ser incorporados e memorizados. E a memória
nesta fase pode ser um agravante para novas aprendizagens em que estes sujeitos
devem saber lidar com ferramentas e informação muito diferentes das quais eles
estão habituados, como afirma o S69 “a informática representa um grande desafio
para as pessoas de idade avançada, pois o mundo é muito competitivo e nós
também precisamos fazer parte deste contexto”.
123

Kachar nos explica que

O desafio está presente na interação com o computador,[...] quando o


sujeito está envolvido com uma tarefa que está além das suas
possibilidades, sente-se ansioso e frustrado por não conseguir realizar o
feito; isso pode diminuir sua auto-estima [...] ao transpor os limites do
desafio, sente-se capaz com a realização das suas aptidões e descobre
novas capacidades (2003, p. 94).

Os grupos de Terceira Idade que manifestam interesse em aprender


informática geralmente necessitam mais tempo que os jovens; no entanto, quando
os idosos começam a dominar o computador, sentem satisfação em ultrapassar
mais uma etapa, através das experiências positivas no domínio do computador e no
de suas ferramentas, como salienta o S02 “interesse de aprender mais, e nesta fase
é um desafio que quero enfrentar, para uso familiar, na troca de correspondências
com familiares e com amigos que tenho em várias cidades”.
Eles conseguem provar primeiro para si que têm capacidade para novas
descobertas, através de situações novas, e o desafio nesta fase é transformar a
aprendizagem, baseada em informação, em construção e reconstrução do
conhecimento, como afirma o S15 “é um desafio que achava que não conseguiria
ultrapassar, estou conseguindo aprender e vencer esta barreira, pois pensava que
jamais eu seria capaz de lidar com o computador”; isso gera uma mudança de
atitude em relação ao computador e tudo o que ele pode oferecer, em decorrência
de sentirem-se mais familiarizados com a linguagem da informática.
Franco nos esclarece como reagimos diante da Internet:

Com a rede encontrar-se-á um grande potencial para novas experiências


de construção do conhecimento. É essa mutação que observamos nas
telas quando estamos conectados à Internet. De alcance ainda
desconhecido, essas novas formas de comunicação estão trazendo
radicais transformações cognitivas e culturais, como ocorreu com a
invenção da escrita e da imprensa (1997, p. 97).

Para os idosos, o simples acesso à rede é um grande desafio, pois uma


grande parcela dos usuários de Internet, diante dos sites de busca, não sabe o que
fazer diante de tantas respostas e chega a sentir pânico no momento seguinte ao
clique no botão ‘pesquisar’, como relata o S22 “meu sonho é poder conhecer o
124

mundo através da Internet, é um aprendizado novo e acho que é isso a minha maior
dificuldade”.
E, ao selecionar informações, ainda há dificuldade em analisar e produzir
seu próprio saber e transformar a pesquisa num momento de aprendizagem e de
produção criativa, como comenta o S21 “às vezes me sinto com baixa auto-estima
por não saber lidar com o computador; agora, fazendo o curso, quero aprender a
mexer na Internet, entendo que este é o meu maior desafio”.
Sendo o desafio maior compreender a lógica da Internet a qual eles
entendem como uma rede complexa e descentralizada, e navegar em sites, que
aguça a curiosidade de conhecer o desconhecido, como salienta o S58 “entender a
Internet é o fator mais importante, atualmente é um desafio que tem de ser
enfrentado e vencido”. O E05 define a importância e a dificuldade que enfrenta com
a Internet :

Minha maior dificuldade é a navegação na Internet; domingo passei a tarde


inteira na Internet, no Google. Então eu queria ir lá para a cidade onde eles
moram, moram na Califórnia (USA), mas é uma cidadezinha ‘pequeninha’.
Eu achei tudo que queria encontrar menos a cidade deles, então eu fiquei
meio triste, e eles me cobram muito, mãe tu tens tudo, tudo em casa. Aí, eu
disse, vou começar o curso de informática, e ele me disse: quero te ver
entrar dentro da nossa casa.

Apesar de as informações e os conhecimentos estarem estritamente


interligados, podemos distingui-los a partir do nível de compreensão e apreensão
desses. Encontramos muitas informações lendo jornais, assistindo a programas de
televisão, navegando na Internet, o que nos leva a perceber que dados e
informações são variáveis e mutáveis. Porém, informações somente virão a se
transformar em conhecimento, se tiverem significado e passarem a fazer parte do
referencial da pessoa. Entretanto, a pesquisa, na Internet, deve nascer de uma
curiosidade pessoal acerca de alguma realidade, de uma referência, para que tenha
valor e propicie a aprendizagem e a produção de novos conhecimentos. Ser
referencial aqui significa ser incorporado às associações e abstrações da pessoa,
bem como ser aplicado na sua vivência: na formulação de hipóteses, na resolução
de problemas, no aprimoramento de conceitos pré-formulados.
Contudo, não basta terem acesso à Internet em cursos, se não tiverem em
casa condições de pagar uma banda larga para acessá-la, pois a discada dificulta
muito para quem está começando a aprender e não tem muita habilidade, porém se
125

o idoso tem condições de ter Internet em casa, nada adiantará se não souber como
e por que utilizar a lógica desta tecnologia, como afirma o E05

[...] a Internet é muito importante, porque, como sou uma pessoa sozinha,
eu poderia fazer muita coisa dentro de casa, se eu tenho de fazer um
pagamento no banco, eu tenho de sair; para mim é importante por estar em
casa sozinha, de repente não tem o que fazer, não quero televisão, vou à
Internet conhecer o mundo, vou aqui, vou lá, para conhecer; não tem coisa
melhor. Tem de acessar direito, clicar no link certo; é isso que eu quero.

Ferreira nos explica que

A Internet, como meio de comunicação, possibilita intercâmbio de


informações múltiplas e variadas e, com o seu auxilio, podemos, não
somente conhecer o nosso meio, mas também o de diferentes povos,
interagindo com diversas maneiras de pensar, de agir e de sentir.
Disponibiliza, ainda, uma gama de sites, contendo páginas de conteúdos
bibliográficos que possibilitam a aquisição do conhecimento, numa
gigantesca biblioteca de materiais de estudos. Nesta perspectiva, também o
interesse do idoso pela busca de conhecimentos, de certa forma, exige a
informação do “porquê” e dos “ganhos” em relação a esta busca (2003, p.
63).

As dificuldades que os idosos encontram quando precisam das muitas


ferramentas para poder usar o computador e acessar a Internet fazem com que se
sintam inseguros e acreditem que a aprendizagem torna-se difícil, pois têm de
memorizar e compreender as diferentes funções das ferramentas simultaneamente.
Ferreira também comenta

As informações de que o idoso dispõe sobre o assunto “informática” revelam


um ambiente de dificuldade e de extrema complexidade em relação ao seu
uso. [...] outro fator relevante é que muitos acham o aparelho (computador)
tão repleto de botões e teclas, que acabam sentindo a inibição pelo medo
de danificá-lo (2003, p. 63).

Porém, a utilização das diferentes ferramentas de forma correta potencializa


a aprendizagem digital e agiliza o processo da descoberta de novos conhecimentos,
justamente pelo seu caráter flexível, e não-linear. Evidenciamos a preocupação que
os idosos têm em querer aprender as diferentes ferramentas tecnológicas, para
serem autônomos em suas aprendizagens, como constatamos na fala do S19 “são
as de conseguir aprender a usar todas as ferramentas e enfrentar sozinha esta
máquina a fim de tirar dela tudo de bom que ela pode oferecer”.
126

Claxton afirma que

Quando se está diante do desconhecido, a aprendizagem é uma entre


várias opções. E a maneira como tomamos a decisão intuitiva de escolher
entre essas opções; influencia o nosso desenvolvimento a longo prazo, a
nossa “qualidade de vida” e, finalmente, a nossa sobrevivência (2005, p.
39).

A convicção de que eles têm o potencial para aprender deve ser passada
nas primeiras aulas, como também as dúvidas devem ser sanadas, para que se
sintam confiantes em si mesmos, como salienta Claxton “a crença em nossa própria
competência para fazer diferença no curso dos acontecimentos é fundamental para
a aprendizagem ao longo da vida” (2005, p. 47), e como refere o S56 “tenho
confiança em que aprenderei a lidar com as várias tecnologias diferentes e suas
diferentes ferramentas”, para ter uma melhor aprendizagem, Claxton também afirma
que

Muitas ferramentas estão prontas para o uso, mas temos de aprender como
usá-las.Para fazer bom uso de um processador de palavras, de uma
calculadora gráfica ou da Internet, é necessário um investimento de tempo
de aprendizagem. É preciso estudar os manuais, elaborar as aulas, explorar
as competências. Todavia feito este investimento, o objeto da aprendizagem
torna-se uma ferramenta que possibilita tipos de exploração e aprendizagem
diferentes, os quais podem conduzir a um melhor desempenho (p.161).

Acreditamos que a informação pode ser transmitida, armazenada ou


memorizada; o conhecimento, diferentemente, é intransferível, pois é um processo
de construção individual que se dá com as relações com o meio, com o outro e
consigo próprio. Para o S30, quando aprendem informática eles devem ter “mais
treinamento, para dominarmos qualquer aprendizado, necessitamos de treinos com
as ferramentas. Quanto mais exercemos, mais hábeis ficaremos”, talvez porque eles
tenham sido acostumados com outro tipo de aprendizagem, quando, para aprender,
deveria ser decorado, assim não-esquecido, mas Claxton nos diz que se aprende de
diferentes maneiras, e a aprendizagem é variada:

O aprender a aprender, ou o desenvolvimento do potencial de


aprendizagem, é melhorado quando sabemos quando, como e o que fazer
quando não sabemos o que fazer. Ficar à vontade em novos ambientes é
aprendizagem. Resolver um problema técnico é aprendizagem. Ponderar
sobre uma situação pessoal difícil é aprendizagem (2005, p. 19).
127

Assim, o que nos disse o S08 é um exemplo a ser seguido pelos outros
idosos que enfrentam dificuldades com as ferramentas; para ele, incluir-se no mundo
digital é “interagir com o mundo e aprender mais, as dificuldades maiores são de
memorizar os comandos do computador para navegar na Internet, mas enfrentamos
tantos obstáculos, este é só mais um”. Com certeza, elas serão sanadas, mesmo
que seja em um ritmo mais lento, como comenta Kachar “a aprendizagem neste
contexto etário depende de uma percepção e compreensão dos recursos e da
estimulação da memória. A memória ativa o lembrar, no exercício do refazer,
reconstruir, repensar, repetir” (2003, p. 118).
Mesmo assim, muitos idosos resistem em procurar cursos para aprender
novos conhecimentos e vinculam isso à sua memória que começa a falhar, como
evidenciamos na resposta do S63 “tenho dificuldade de gravar o que aprendo, pois
logo me dá um branco, mas tenho de entrar na era da informática para me atualizar”,
porém Papalia e Olds nos informam que “o treinamento da memória pode beneficiar
os idosos” (2000, p. 521).
Entretanto, já foi constatado através de muitos estudos que, ao envelhecer,
a memória realmente tende a ficar deficitária, mas o que é memória? Izquierdo nos
explica:

Memória é a aquisição, conservação e evocação de informações. A


aquisição se denomina também aprendizado. A evocação também se
denomina recordação ou lembrança. Só pode se avaliar a memória por meio
da evocação. A falta de evocação denomina-se esquecimento ou olvido
(2004a, p. 15).

E por que esquecemos? Izquierdo também nos explica:

Esquecemos talvez, em parte porque os mecanismos que formam e evocam


memórias são saturáveis. Não podemos fazê-los funcionar constantemente
de maneira simultânea para todas as memórias possíveis, as existentes e
as que adquirimos a cada minuto. Isso obriga naturalmente a perder
memórias preexistentes, por falta de uso, para dar lugar a outras novas
(2004b, p. 21).

Sabemos que a memorização dos comandos e das ferramentas podem


ajudar os idosos nas diferentes tarefas que eles têm de fazer no seu dia-a-dia, e
Mosquera confirma esta idéia quando diz que “[...] voltamos a insistir que as pessoas
que continuam com alguma classe de atividade produtiva permanecem, por mais
tempo, com sua capacidade intelectual aberta e ativa” (1987, p. 137); contudo,
128

diante de todos os aspectos ‘negativos’ que o envelhecimento acarreta, como


alterações estruturais e funcionais dos órgãos e sistemas, é fundamental que o
envelhecer traga outros ganhos, possibilidades e seja bem-sucedido, “aprender
informática já idosa é uma escapatória da solidão, quero fazer amizades pela
Internet e também adquirir maior conhecimento do mundo, me atualizar, continuar
vivendo bem”, conforme a fala do S05, para ser vista como mais uma etapa da vida,
como todas as outras que já passaram, umas mais tranqüilas, outras mais
turbulentas.
Entretanto, como muitos desafios que acontecem ao longo da vida, este
deve ser encarado, como fala o S08 “amigas minhas, na minha idade, ou melhor na
Terceira Idade, mexendo sem problema no computador, pensei, também sou capaz,
faço coisas mais difíceis”, assim fazemos uso das palavras de Delors “as
informações mais rigorosas e mais atualizadas podem ser postas ao dispor de quem
quer que seja, em qualquer parte do mundo, muitas vezes, em tempo real, e atingem
as regiões mais recônditas” (2004, p. 39); e a partir das respostas dos sujeitos,
podemos entender que os desafios para inserir esta população em processo de
envelhecimento na sociedade da informação nos faz refletir que devemos ajudar a
superar os diversos obstáculos, quer pessoais, quer sociais, sendo mediadores,
facilitadores na construção de propostas e situações desafiadoras no processo
de ensino e de aprendizagens, juntamente com políticas públicas mais
abrangentes e que contemplem esta população em todas as suas necessidades,
principalmente com ambientes informatizados capacitados para atender a estes
sujeitos, ajudando-os a prevenir e a reduzir as deficiências da velhice.

7.4 AUTONOMIA

Autonomia e conhecimento são conceitos


que se reclamam reciprocamente
(ASSMANN, 1998, p.133).

Somos seres em constante transformação em uma sociedade que


transforma seu formato a cada dia, influenciando-nos interna e externamente com o
aumento da expectativa de vida. As pessoas que estão envelhecendo vivem uma
129

situação ambígua, porque elas querem viver e participar mais, porém, ao mesmo
tempo, as limitações da idade lhes causam muitos temores e desafios, pois a
maioria não quer perder sua identidade por dependência tanto da família como de
possíveis cuidadores.
A importância de continuar mantendo suas relações sociais e constituir
novas relações é imprescindível para os idosos, porque na Terceira Idade seus
papéis sociais são alterados, e uma estratégia de continuar se socializando é a
inserção desses indivíduos no mundo digital, porque, através de diferentes
aprendizagens, não transferindo conhecimentos mas sim instigando, desafiando e
questionando e, assim sendo, possibilitando que continuem sendo autônomos e
gestores de suas próprias vidas.
Delors enfatiza que esta

[...] “alfabetização informática” é cada vez mais necessária para se chegar a


uma verdadeira compreensão do real. Ela constitui, assim, uma via
privilegiada de acesso à autonomia, levando cada um a comportar-se em
sociedade como um indivíduo livre e esclarecido (2004, p. 192).

Mas o que é autonomia?. Podemos entender autonomia como a capacidade


que o indivíduo tem de gerir seus próprios atos e de comandar sua vida, segundo o
Dicionário Aurélio, tem origem no grego ‘autonomía’ e significa “a faculdade de se
governar por si mesmo, liberdade ou independência moral ou intelectual”. E manter a
autonomia e a independência durante o processo de envelhecimento é uma
preocupação tanto para os governantes como para os indivíduos que estão ou vão
passar por esta fase, mesmo porque o envelhecimento é um processo que envolve
muitas pessoas como familiares, amigos, colegas de trabalho, vizinhos e entidades
sociais que o indivíduo freqüenta, como igrejas, associações, clubes, etc.
De acordo com Moraes e Souza

[...] a autonomia e a independência são dois indicadores de qualidade de


vida para a população idosa. Todos os indivíduos, querem ser donos de sua
própria vida, ter a capacidade de decidir e escolher caminhos, mesmo para
ações cotidianas, como a escolha da marca do produto a ser adquirido.
(2003, p. 63-64).

É essencial para a evolução de qualquer ser humano a aquisição de cultura,


capacitação pessoal e profissional, autonomia diante das situações da vida e
sabemos que as tecnologias de informação e comunicação potencializam esses
130

fatores em nossas vidas. E a Internet, entre as tantas tecnologias, pode ser definida
como a ferramenta que proporciona maior autonomia, pois, diante de tantas
escolhas que podemos fazer e de informações que acessamos, podemos adquirir
variados conhecimentos: acadêmicos, profissionais, assuntos referentes à saúde,
informações sobre doenças de amigos e parentes ou simplesmente fazer pesquisas
sobre produtos que queiramos adquirir.
Visto o avanço da tecnologia ser atualmente um instrumento de trabalho,
diversão e variados tipos de relacionamentos usados por grande parte da
população, devemos proporcionar acesso a todos, promovendo a autonomia diante
dessas tecnologias, por conseguinte os menos favorecidos, como os idosos, terão a
chance de participar do mundo digital através da aprendizagem virtual.
Souza corrobora com esta idéia quando afirma:

Programas educativos poderão se dedicar à reestruturação de atividades


educativas para idosos com o suporte de novas tecnologias, convocando,
para uma interação pedagógica motivacional diferente, recursos como os da
informática, o vídeo e a telecomunicação, pois são instrumentos que podem
transformar a natureza dos processos educativos realizados com idosos
pelas suas funções inovadora e motivadora, colaborando para a diversidade
e a criatividade na educação de idosos (2003, p. 39).

Os sujeitos que estão na Terceira Idade querem continuar tendo autonomia,


e para eles a aprendizagem digital é sinônimo de independência e necessidade, pois
trabalha instigando o sujeito ao uso do computador com interesses e prazeres e
sendo autônomos. Nesse processo, eles continuam tomando decisões em relação a
si próprios, como enfatiza o S54 “a liberdade de pesquisar, buscar novos horizontes,
sem depender de outras pessoas”. Ter autonomia no processo de aprendizagem faz
com que os sujeitos que estão na Terceira Idade tenham maior auto-estima e prazer
em aprender a aprender diferentes tipos de tecnologias como é enfatizado na fala do
E04:

A informática representa ter maior autonomia e ficar mais atualizada; sem


informática, as pessoas não conseguem nada, tudo agora é informatizado; a
pessoa tem de se atualizar; eu, por exemplo, não sei nem ligar o
computador, não quero ficar dependendo dos outros. Agora vindo aqui
neste curso, eu vou aprender pelo menos a ligar o computador e continuar
aprendendo. A gente vai aprender.
131

No mundo digital, o significado de ter autonomia diante das tecnologias é


poder utilizar tais recursos, tanto para beneficio próprio como para a comunidade a
que pertence; conseqüentemente aprender a lidar com as diferentes tecnologias
gera uma necessidade nesta fase, como enfatiza o S30 o que significa aprender
informática “veio me dar mais ‘vida’, vontade de continuar crescendo porque tinha
necessidade de ser útil ao maior número de pessoas possível”; e o S33
“necessidade de aprender a me comunicar com diferentes pessoas em diferentes
lugares, conhecer todos esses lugares através do meu computador”. E deve ser
incentivada tanto pela família como por cuidadores, acrescendo, se possível, as
atividades externas, para que os idosos ocupem o tempo livre tornando os anos
tardios de suas vidas satisfatórios e produtivos, como comenta o S23 “vejo como a
abertura de ‘muitas portas’ para o mundo. Portas estas impossíveis de vivermos
sem, porque nos proporcionam a independência”. E o E05 “Para mim, atualmente é
uma das coisas mais importantes que existem, porque tu não fazes mais nada sem
informática. Tudo tu podes fazer: banco, supermercado, compra, vende tudo através
da Internet. Em casa também. Não precisa de ninguém”.
Souza, Massaia e Marques corroboram afirmando que

O mundo da informação, hoje, também está acessível ao idoso. Portanto, o


idoso precisa não apenas “assistir” televisão, ler jornais, revistas e materiais
à disposição na Internet, precisa refletir e falar sobre o que está vendo,
lendo e ouvindo, surpreendendo seus familiares com novas aprendizagens,
novas atitudes e novos hábitos, alterando rotinas desinteressantes (2003, p.
117).

O envelhecer com autonomia depende de vários fatores determinantes que


envolvem os indivíduos e a sociedade como um todo, portanto entendemos que
principalmente a sociedade, juntamente com políticas públicas, através de seus
governantes engajados e comprometidos, deva incentivar programas para a Terceira
Idade, como uma necessidade que os idosos têm em se manterem ativos e
autônomos por mais tempo possível, com cuidados de si, preparando-se e
planejando uma boa velhice através de ambientes acolhedores, motivadores e de
apoios para que as aprendizagens ao longo de suas vidas se tornem mais fáceis,
pois é uma questão de economia para o próprio país, com menos pessoas
dependentes do sistema público de saúde.
132

7.5 EXCLUSÃO

Estamos ingressando na era das redes, da


telemática, da Internet e da sociedade da informação,
entendida, cada vez mais, como sociedade aprendente
e sociedade do conhecimento. Esta contextualização
precisa atingir o aspecto social: a sociedade da informação
contém novas ameaças de exclusão. Documentos
da União européia já criaram o
neologismo expressivo: info-exclusão
(ASSMANN, 1998, p. 72).

Exclusão é um fenômeno cultural em que estão implícitos alguns valores


discriminatórios. Geremek “as exclusões não são uma invenção do final do século
XX. Acompanham toda a história da humanidade” (2004, p. 230). E, quando falamos
em exclusão digital, devemos pensar primeiramente em exclusão social, e isso não é
novo, pois sempre existiu na história dos povos, e ela pode ser percebida pela
própria sociedade no contexto em que vivemos, como comenta o porquê de querer
estar incluído digitalmente S17 “quero sair de uma vida depressiva, em que somos
condenados à solidão e à exclusão, pela nossa idade”.
Grossi e Santos nos afirmam que

[...] uma pessoa idosa sofre discriminação não somente pelo que ela é,
como um indivíduo, mas pelo que ela se torna enquanto pertencente a um
grupo que foi estereotipado de forma negativa. Em resumo, todas essas
características atribuídas às pessoas consideradas “velhas” (e.g.
passividade, cumplicidade, fraqueza, submissão, impotência) influenciam
como os outros vão perceber e interagir com ela, tanto no nível individual
quanto institucional (2003, p. 29).

Na sociedade de informação, a exclusão social antecede a exclusão digital,


e conforme o Livro Verde “inclusão social pressupõe formação para a cidadania, o
que significa que as tecnologias de informação e de comunicação devam ser
utilizadas também para a democratização dos processos sociais” (2003, p.45), e, no
caso dos idosos, não está limitada somente ao poder aquisitivo, mas em muitos
casos ao comportamento preconceituoso da sociedade e da família com a qual
convivem, deixando-os de lado, não dando valor às suas histórias e trajetórias de
vida, vendo-os como sujeitos acabados, que não têm condições de aprender mais,
excluindo-os, dessa maneira, do meio social.
133

E como explica Ferreira

O pensamento de que o homem se torna um produto acaba se prolongando


por sinônimos, criando verdadeiras teias de incompatibilidades. Vejamos: o
idoso passou a ser visto como sinônimo de aposentado, o aposentado como
sinônimo de improdutível, improdutível como sinônimo de não-comercial,
não-comercial como sinônimo de descartável (2003, p. 61).

E a outra forma de exclusão que percebemos é a do próprio idoso de não


querer continuar aprendendo ao longo de sua vida e não querer participar dessa
sociedade de informação resistindo o uso das TICs em suas vidas diárias, porém
não são todos, muitos ainda querem participar, como evidenciamos na fala do S64
“uma coisa que precisamos aprender hoje são as coisas novas que estão vindo por
aí. Atualização em informática para não sermos velhos marginalizados. Para mim,
significa despertar, crescer em conhecimento”.
Geremek nos afirma que

Se a educação tem um papel determinante na luta contra a exclusão dos


que, por razões sócioeconômicas ou culturais, se encontram marginalizados
nas sociedades contemporâneas, parece ter um papel ainda maior na
inserção das minorias na sociedade (2004, p. 232).

Entendemos que a forma mais eficaz para que os idosos não sejam
excluídos é inseri-los em cursos em que a aprendizagem seja o foco, criando
oportunidades em diferentes áreas do saber conforme seus interesses, Geremek
(2004) “a educação ao longo da vida opõe-se à mais dolorosa das exclusões, a
exclusão devido à ignorância, de não participar ou de não querer participar da
sociedade da informação através das TICs”.
E como enfatiza Franco:

Também é imprescindível habilitar as pessoas com a capacidade de


estabelecer comunicação com os computadores. Sem este acesso, a
cidadania está ameaçada, pois aqueles que não tiverem o domínio das
novas tecnologias terão dificuldades para viver na sociedade da informação
(1997, p. 72).

Ao nos reportamos à exclusão digital, podemos defini-la com o termo “info-


excluídos” (ou os que não têm acesso à Web) e às tecnologias de informação e
comunicação, na qual a Internet é a principal delas, e, se não têm acesso às
tecnologias, conseqüentemente está excluído da sociedade:
134

O maior acesso à informação poderá conduzir a sociedades e relações


sociais mais democráticas, mas também poderá gerar uma nova lógica de
exclusão, acentuando as desigualdades e exclusões já existentes, tanto
entre sociedades, como, no interior de cada uma, entre setores e regiões de
maior e menor renda. No novo paradigma, a universalização dos serviços
de informação e comunicação é condição necessária, ainda que não
suficiente, para a inserção dos indivíduos como cidadãos (LIVRO VERDE,
2003, p. 07).

Uma das soluções para os sujeitos idosos que não têm acesso às TICs são
os telecentros, como o Santander Cultural, um espaço direcionado ao público da
Terceira Idade, onde há a possibilidade de aprender informática, promovendo a
participação de um maior número de excluídos digitais na sociedade da informação
e do conhecimento, como constatamos na fala do S22 “finalmente estou
participando do século XXI, sem ser excluído”.

É a educação o elemento-chave para a construção de uma sociedade da


informação e condição essencial para que pessoas e organizações estejam
aptas a lidar com o novo, a criar e, assim, a garantir seu espaço de
liberdade e autonomia. A dinâmica da sociedade da informação requer
educação continuada ao longo da vida, que permita ao indivíduo não
apenas acompanhar as mudanças tecnológicas, mas sobretudo inovar
(LIVRO VERDE, 2003, p. 07).

Já comentamos que a exclusão, muitas vezes, começa dentro da própria


família; porém, entre tantas mudanças que vivenciamos, a família continua sendo
um espaço de apoio importante para os diferentes segmentos vulneráveis e no caso
os idosos, pois estes geralmente não vivem isolados e seu bem-estar está ligado à
relação com sua família e com a sociedade como um todo. Aprender informática,
para muitos sujeitos que estão na Terceira Idade, é uma saída para a solidão, pois,
mesmo com familiares distantes, eles continuam mantendo um contato diário através
da comunicação on-line, como comentam os entrevistados.
O E03 comenta por que quer se incluir na sociedade digital: “minha
expectativa é me integrar, entrar dentro do contexto atual. Existe este lado da
comunicação, pois todos estão longe: um na França, um em Londres, um em
Salvador, dois em Aracaju. Vou ter mais facilidade de comunicação”.
135

E o E05, o que o motivou estar incluído:

Incluir-me digitalmente me motivou muito porque eu tenho dois filhos, eles


moram no exterior; então eu tenho computador completo em casa, tudo, e
de repente não sei manuseá-lo, eu quero muito para isso, tenho webcam,
tenho tudo, eles mandam e-mail, sei ler e sei responder é o que eu sei fazer,
né? Internet, por exemplo, eu sei muito pouco dependendo do que eu quero
achar na Internet, não acho, eu entro no Google; vejo lá tanta coisa que me
vejo perdida. Então eu quero aprimorar o pouquinho que eu sei e me
atualizar para poder fazer mais, o pouco que eu sei para poder fazer muito
mais.

Podemos confirmar nas falas a preocupação de poder entender estas


tecnologias para não se sentirem excluídos e para Motta:

O reencontro e a solidariedade geracionais são grandes e bons momentos


iniciais na trajetória do idoso em busca da redefinição de um lugar social,
mas deverão ser também base e fortalecimento para a busca – que deveria
ser da sociedade inteira – da convivência, privada e publica, com as outras
gerações (2004, p.118).

Com o aumento da qualidade de vida, grande parte das pessoas que chega
à Terceira Idade está em condições de cuidar de si e até mesmo de pessoas com as
quais convivem, como pais, cônjuges e netos. Os grupos que necessitam de
assistência diária é menor. Essas pessoas idosas são tanto provedores de atenção
quanto receptoras, porém observamos que muitos sentem faltam de um contato
maior com a família, amigos, de continuarem aprendendo e participando de um
círculo social que possam interagir mais efetivamente, como fala o S38 “representa
uma maior aproximação daquelas pessoas com as quais me relaciono, pois me
sentirei inserida em um ‘novo tipo de linguagem’, favorecendo o meu pessoal e meu
convívio”.
Muitas pessoas que estão na Terceira Idade participam de várias atividades
de lazer como dança de salão, esportes, trabalhos voluntários, porém estes não são
mais seus únicos interesses para passar o tempo, eles estão procurando aprender
informática para atuarem e participarem do mundo digital, ajudando netos e filhos
em diversas atividades diárias, como menciona o E02:
136

A expectativa é o melhor, o relacionamento com as pessoas, alguma coisa


que eu queira ver, até um endereço, tudo a gente vê como se comunicar
pela Internet, tudo isto é muito bom, agente vê o mundo dentro de casa,
muitas vezes eu estou vendo um anúncio e diz: ‘entra no nosso site’ e eu
não sei, me sinto uma pessoa totalmente ignorante e desatualizada. Meu
interesse, necessidade eu quero aprender, pretendo estender mais os meus
conhecimentos, agora eu quero iniciar, este é o início, se Deus quiser.

Com tantas mudanças que acontecem freqüentemente, uma alternativa que


muitos idosos acharam foi incluir-se digitalmente, para continuar suas aprendizagens
ao longo da vida, como enfatiza o S42 “não quero estar excluído do mundo digital,
quero ampliar meus conhecimentos, progredir no aprendizado, tendo uma
participação mais ativa, superando dificuldades e progredindo”, e, através desse
recurso, eles podem falar a linguagem que se fala, ou seja, a digital do mundo virtual
para poderem contatar com os familiares e amigos distantes, reduzir o isolamento e
também sair do tédio e alienação em que se encontram. E com tantas possibilidades
provocadas pela revolução digital e, principalmente, pela Internet, fazem de qualquer
cidadão, mesmo os que estão na Terceira Idade, participantes ativos da sociedade
de informação.
Portanto, numa sociedade na qual a pluralidade pode ser um caminho para a
resolução das exclusões, preconceitos, estereótipos e das dificuldades de
reconhecimento das diferenças, sejam individuais ou coletivas, sejam visíveis ou
invisíveis, abrindo espaço para uma transformação social, caminhando a passos
largos para uma sociedade mais justa, solidária e inclusiva. Entendemos que a
inclusão digital pode afetar a todos os que dela se aproximam, acarretando uma
radical mudança de mentalidade e de paradigmas.
8 DADOS QUANTITATIVOS

As respostas das 10 (dez) perguntas fechadas a que os sujeitos


responderam no término do curso foram transformadas em dados quantitativos, que
serviram como complementação aos dados qualitativos, na análise dos dados
conforme as tabelas abaixo:

8.1 Quadro 6: Questionário no Término do Curso

PERGUNTAS SIM NÃO


1) Sabes ligar o computador? 76 1
2) Sabes manusear o mouse, conduzindo até um ícone na tela e acionar? 77 0
3) Consegues abrir o editor de texto com o mouse? 75 2
4) Consegues digitar números, palavras e frases no editor de texto? 76 1
5) Consegues apagar ou deletar o que escreveste no editor de texto? 76 1
6) Consegues utilizar a tecla de espaço? 75 2
7) Consegues utilizar a tecla de maiúscula e minúscula no editor de 76 1
texto?
8) Consegues acessar a Internet? 63 14
9) Consegues acessar um site na Internet e navegar nele? 59 18
10) Consegues acessar e-mail, abrir arquivos anexos e enviar outro e- 52 25
mail?
Fonte: O Autor, 2007
138

8.2 Gráfico 16: Resultados do questionário no término do curso

Questionário final

80

60

Sujeitos 40

20 NÃO
SIM
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
NÃO 1 0 2 1 1 2 1 14 18 25
SIM 76 77 75 76 76 75 76 63 59 52
Perguntas

Fonte: O Autor, 2007


9 CONSIDERAÇÕES FINAIS

[...] a Educação no Terceiro Milênio deve ter a força


para possibilitar o desenvolvimento do talento
e do gênio humano, ao mesmo tempo que
acredita nos sentimentos e nos corações de
homens e mulheres que desejam
o melhor para a humanidade, no futuro.
(MOSQUERA, 2003, p. 57)

Ao chegar no término deste estudo gostaria de enfatizar a diferença que fez


em minha vida poder conhecer e participar um pouco mais deste universo e o modo
de viver de pessoas que estão na Terceira Idade, através do Curso de Inclusão
Digital para Terceira Idade no Santander Cultural. Pude presenciar o regozijo que
sentem quando recebem o certificado ao concluírem o curso, causando-me grande
satisfação, pois muitos neste momento relatam que não tiveram a oportunidade para
aprender quando eram mais novos, por acreditarem que não faria falta saber
informática ou por não terem condições financeiras para pagar um curso.
Considero que as entrevistas e os questionários forneceram todos os dados
para responder à questão-problema formulada na contextualização da pesquisa,
assim como os objetivos propostos foram alcançados no decorrer da investigação. A
partir do problema de pesquisa, a Como acontece a inclusão digital de sujeitos
que estão na Terceira Idade?
O presente estudo objetivou compreender o que motiva grupos da Terceira
Idade a procurarem programas de inclusão digital; a investigarem quais são os
interesses, necessidades e dificuldades na aprendizagem digital e a documentarem
o significado da inclusão digital nos grupos de Terceira Idade. A partir dos objetivos
da pesquisa, vieram à tona diversos aspectos referentes à inclusão digital na
Terceira Idade, que foram desvelados a partir da análise do material como: suas
motivações, necessidades, dificuldades, interesses e o significado da aprendizagem
e inclusão digital em suas vidas. Entretanto, as considerações que são descritas
tomaram por base as questões que nortearam a investigação, que são as seguintes:
140

1ª Questão: O que motiva sujeitos que estão na Terceira Idade a procurarem


cursos de inclusão digital?

Para responder a esta questão verificou-se que, a partir das entrevistas e


dos questionários feitos na pesquisa, pode-se observar que a motivação é algo
muito presente na vida dos idosos que procuram cursos para aprenderem
informática e, desta maneira, se incluírem digitalmente.
Constatou-se que são várias as motivações como: o desejo de aprender
mais ou continuar aprendendo para não serem excluídos, tanto da sociedade como
do núcleo familiar por não falarem e entenderem a linguagem das tecnologias;
superar as dificuldades e dominar o computador, que para eles é saber ligar, enviar
e-mails ou navegar na Internet; melhorar, assim, a relação familiar, intergeracional e
realizar-se pessoalmente aumentando a auto-estima.
Motivar os idosos para que continuem aprendendo mesmo diante de suas
limitações e preconceitos deve ser uma preocupação tanto da família como da
sociedade; portanto, iniciativas como o Projeto de Inclusão Digital do Santander
Cultural, vinculado à PMPA e PROCEMPA devem ser exemplos a serem seguidos
por outros órgãos públicos ou empresas privadas, para que os nossos idosos
continuem ativos por mais tempo possível, pois não eles, mas todos nós somos
bombardeados de informações a todo o momento através de diversas fontes, e
estas, se não forem compreendidas corretamente, podem transformar-se em meras
informações sem significados.
Mesmo com tantas perdas físicas, psicológicas e sociais, constatou-se que
muitos idosos estão motivados a incorporar as tecnologias de informação e de
comunicação em suas vidas através de cursos de informática. Contudo, constatou-
se também que para os que fizeram o curso o desafio está, portanto, na
incorporação dessas tecnologias a novos processos de aprendizagem que
oportunizem diversas atividades, que exijam mais investimentos intelectuais,
emocionais e físicos, tentando não simplesmente desenvolver habilidades, mas o
indivíduo em sua totalidade em um processo contínuo, como uma aprendizagem ao
longo da vida visando a uma melhor qualidade de vida para os idosos, atingindo
beneficamente a família e a sociedade como um todo.
141

2ª Questão: Quais os interesses, necessidades e dificuldades dos sujeitos


na aprendizagem e inclusão digital?

Pode-se perceber que a maioria dos idosos possui interesses, necessidades


e dificuldades comuns em relação à aprendizagem digital. Através de suas
respostas, tanto nas entrevistas como nos questionários, observou-se que os
interesses e as necessidades são: continuar participando da sociedade e romper as
muitas barreiras que eles encontram no caminho, sendo o maior desafio continuar
gestores e protagonistas de suas vidas, sem precisar de auxílio ou ficar na
dependência de terceiros, pois eles não querem se acomodar.
Constatou-se, também, que para os idosos, a importância de saber
informática e navegar na Internet tem a conotação de ir além das fronteiras, sair do
local e conhecer e participar do global, incluindo-se, assim, em uma nova formatação
que a sociedade possui e exige. Dificuldades existem muitas, eles chegam ao curso
pensando que o computador é um ‘bicho-papão’, e se transforma em um enigma
manuseá-lo, porém, a cada aula, vai sendo desmistificada e desconstruída essa
visão que eles têm.
Uma das principais dificuldades que se constatou foi em relação à memória,
porém, ao longo do curso, eles são orientados a fazerem a repetição dos exercícios
aprendidos em aula quando chegam em casa, ajudando a memorizar os comandos
para acessar o computador. Outras dificuldades foram: ícones muito pequenos; falta
de coordenação motora para utilizar o mouse; pressionar o teclado com força; as
janelas que são abertas simultaneamente; porém a monitoria ensina como configurar
os ícones para ficar do tamanho desejado; como manusear o mouse de forma
correta; como voltar à janela que se quer sem se perder.
Os idosos que fizeram o curso sabem que um único curso não vai atender a
demanda de que eles necessitam para aprender a lidar com o computador e a
navegar na Internet; assim, pode-se perceber que muitos não param neste curso,
antes mesmo de acabar, procuravam informações junto à monitoria e à coordenação
para saberem onde acontecem outros cursos com o mesmo enfoque, voltados para
a Terceira Idade.
142

O desafio de enfrentar o computador e dominá-lo é uma prova da própria


capacidade de lidar com situações novas, coragem de aventurar-se no
desconhecido e descobrir que pode apostar em si mesma para abrir novas
portas e desconstruir os muros internos (KACHAR, 2003, p. 155).

Entende-se que, para os grupos de Terceira Idade, que fazem o curso de


Inclusão Digital, saber informática é desmistificar o estereótipo de que os idosos
vivem do e no passado, apesar de todas as barreiras, diferenças e incertezas que os
cercam, sendo que o maior desafio é superar seus próprios limites e preconceitos e
poder provar que, mesmo estando nesta fase, aprende-se, pois eles possuem uma
referência central que é o da ‘vida’ - continuar vivendo de maneira prazerosa,
reinventando a velhice.

3ª Questão: Qual o significado da inclusão digital, para os grupos de


Terceira Idade, no término do curso?

Observou-se que muitos idosos que chegam para fazer o curso têm uma
visão negativa em relação a si e ao envelhecimento, como algo que os marginaliza,
portanto muitos têm a preocupação que podem ser descartados por serem
considerados inúteis ou pesos mortos, entretanto desde a palestra motivacional que
é ministrada no decorrer do curso, que se pode passar por esta fase de maneira
muita tranqüila, com auto-estima elevada e produtiva, pois, como todas as outras
fases da vida, esta é mais uma. Mosquera destaca que “a vida adulta é um enorme
desafio, pois de sua compreensão e equilíbrio depende, em grande parte, a
dinâmica das outras gerações” (1986, p. 357). Nesse contexto, aprender informática
passa a ser uma realização pessoal, porque muitos trazem uma bagagem carregada
de preconceitos e descréditos, impostos tanto pela família como pelo meio com o
qual convivem, mas com novas motivações conseguem entender que ainda podem
aprender e continuar aprendendo.
Entende-se que, quando não se preparam os idosos para ter acesso às
tecnologias, corre-se o risco de eles se tornarem alienados, dependentes e doentes,
desperdiçando uma excelente oportunidade para que continuem tendo experiências
de aprendizagens enriquecedoras e formadoras. Deve-se introduzir uma educação
ao longo da vida, juntamente com as tecnologias de informação e comunicação,
suas dimensões e tudo o que elas comportam, pois as interações fazem com que os
143

idosos constituam melhores conhecimentos dentro de um contexto de


desenvolvimento. Entende-se que cursos de inclusão digital, voltados para o público
de Terceira Idade, com estratégias criativas e atrativas, proporcionam possibilidades
para que construa seu próprio aprendizado, desenvolvendo o poder de iniciativa,
autonomia e aprendendo de forma mais construtiva.
Pode-se dizer que, através desta pesquisa, confirmou-se que mais do que
quaisquer outros indivíduos, neste início de século, deve-se ter a preocupação de
investir na educação dos nossos idosos, dentro das diversas instituições de ensino,
formais ou não, com variadas tecnologias e aprendizagens significativas, com
valores éticos e concretos para suas vidas, pois são eles que precisam de maior
apoio, nesta fase, fazendo com que a velhice seja vista de forma positiva, da
convivência e da valorização da pessoa idosa por sua história, sabedoria e
contribuição às famílias e à sociedade.
Encerrando esta pesquisa, constatou-se que estar incluído digitalmente é
muito significativo e é uma necessidade urgente para as pessoas que estão na
Terceira Idade, pois eles não querem perder mais tempo: querem entrar no mundo
virtual e compreender todas as suas possibilidades. Entretanto, incluir-se
digitalmente não se trata de uma tarefa simples, uma vez que a sociedade não é um
bloco homogêneo, mas composto de grupos plurais com interesses, necessidades,
motivações, crenças e valores diferenciados.

[...] a transição de um século para outro, de um milênio para outro. Se


intensifica a idéia de uma nova cultura, uma nova sociedade e um novo
sujeito para a Educação. Já estamos a caminho, porém a estrada é árdua e
precisamos aprender a caminhar caminhando. Este caminhar não é apenas
uma tentativa, mas uma intenção de elaborar novas vias que levem a uma
humanidade renovada (MOSQUERA, 2003, p. 54).

Diante disso, não podemos ser neutros, uma vez que, em um mundo tão
conturbado, desafiador e competitivo, temos a obrigação de cuidar, motivar nossos
idosos para que, no alvorecer de suas vidas, suas aprendizagens possam ser
reencantadas e suas vidas sejam mais florescentes e, assim, continuem dando
frutos em todos os aspectos.
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_________. Home Page. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Home_page/>.


Acesso em: 10 abr. 2007

_________. ONG. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/ONG>. Acesso em: 10


abr. 2007.

_________. ARPANET. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/ARPANET/>.


Acesso em: 10 abr. 2007.

_________. Site. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Site>. Acesso em: 10


abr. 2007.

WWW. Disponível em: <http://penta.ufrgs.br/pesquisa/joice/cap3.html>. Acesso em:


05 maio 2007.
APÊNDICES

APÊNDICE A – Questionário / Entrevista Semi-Estruturada

APÊNDICE B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

APÊNDICE C – Exemplo do Questionário e Entrevista Realizada


________________________________________________APÊNDICE A

QUESTIONÁRIO / ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA ∗

INÍCIO DO CURSO

Data:_____/______/_______
Nome:__________________________________________________________
Idade:__________________________________________________________
Estado civil:______________________________________________________
Escolaridade:____________________________________________________
Graduação:______________________________________________________
Tempo que trabalhou fora de casa:___________________________________
Atividade de lazer:________________________________________________

1) O que a informática representa para você?

2) O que o motivou a se interessar pelo curso de informática?

3) Quais suas maiores dificuldades, em relação à informática?

4) Como vê a inclusão digital, no contexto atual?

5) Quais as suas expectativas em relação a este (novo) aprendizado?


Foram utilizadas as mesmas perguntas no questionário e na entrevista semi-estruturada
(perguntas 1 a 5, Início do Curso e perguntas 1 e 2 no Término do Curso)
156

TÉRMINO DO CURSO

Data: ____/____/____

1) Sabes ligar o computador?


( ) sim ( ) não
2) Sabes manusear o mouse, conduzindo até um ícone na tela e acionar?
( ) sim ( ) não
3) Consegues abrir o editor de texto com o mouse?
( ) sim ( ) não
4) Consegues digitar números, palavras e frases no editor de texto?
( ) sim ( ) não
5) Consegues apagar ou deletar o que escreveste no editor de texto?
( )sim ( ) não
6) Consegues utilizar a tecla de espaçamento?
( ) sim ( ) não
7) Consegues utilizar a tecla de maiúscula e minúscula no editor de texto?
( ) sim ( ) não
8) Consegues acessar a Internet?
( ) sim ( ) não
9) Consegues acessar site na Internet e navegar nele?
( ) sim ( ) não
10) Consegues acessar e-mail, abrir arquivos anexos e enviar outro e-mail ?
( ) sim ( ) não

1) Quais são teusinteresses, necessidades e dificuldades na aprendizagem digital?

2) Qual o significado da inclusão digital em tua vida?


________________________________________________APÊNDICE B

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Porto Alegre, ______de ________________ de 2007.

Eu, Denise Goulart , estou realizando pesquisa intitulada: Inclusão Digital


na Terceira Idade: a virtualidade como objeto e reencantamento da
aprendizagem, como pesquisadora-aluna do Programa de Pós-Graduação em
Educação da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, tendo por
orientador o Dr. Juan José Mouriño Mosquera, coordenador e professor titular no
referido programa. Esta pesquisa tem por finalidade compreender e analisar o que
motiva grupos da Terceira Idade a procurarem programas de inclusão digital.
Sua participação neste estudo é voluntária. Para que eu possa atingir o
objetivo proposto, solicito o seu consentimento, para realizar entrevista gravada, cuja
fita cassete será transcrita na íntegra e logo após totalmente apagada.
Enfatizo que o Sr.(a) tem liberdade para desistir de participar do estudo em
qualquer momento da entrevista, e que a sua decisão não implicará prejuízo ou
desconforto pessoal. Todas as informações serão tratadas de modo confidencial e
anônimo. Os dados serão divulgados apenas para fins científicos, mantendo-se o
cuidado de assegurar seu anonimato como participante.
Por meio deste termo de Consentimento Livre e Esclarecido, declaro que
recebi explicações sobre os objetivos do presente estudo, bem como de seus
procedimentos, benefícios e possíveis riscos.
Afirmo, também, que fui esclarecido sobre a garantia de privacidade e do
anonimato das informações que forneci; que receberei uma via deste termo, e que
haverá a destruição da fita utilizada, para registrar minha entrevista; bem como os
dados recolhidos servirão apenas área estudo e divulgação com fins científicos.
Eu,_______________________________________________, abaixo
assinado(a), autorizo a utilização de meus dados para a elaboração e a divulgação
do estudo proposto.
158

Assinatura do participante____________________________________

Assinatura da pesquisadora__________________________________
________________________________________________APÊNDICE C

EXEMPLO DO QUESTIONÁRIO E ENTREVISTA REALIZADA ∗

INÍCIO DO CURSO
QUESTIONÁRIO Nº 75
Nome: ENTREVISTADO Nº 04
Data: ____/____/ 2007
Idade: 77 ANOS
Estado civil: SOLTEIRO
Escolaridade: 1º GRAU
Graduação: XXXXXXXXXXXX
Tempo que trabalhou fora de casa: 30 ANOS
Atividade de lazer: ESPORTE

1) O que a informática representa para você?


Atualizar os conhecimentos em informática.
2) O que o motivou a se interessar pelo curso de informática?
Atualização.
3) Quais suas maiores dificuldades, em relação à informática?
Nunca pratiquei.
4) Como vê a inclusão digital, no contexto atual?
XXXXXXXXXXXXX
5) Quais as suas expectativas em relação a este (novo) aprendizado?
XXXXXXXXXXXXX


Para não identificar o entrevistado, foi retirado o nome, o dia e o mês, que foram feito o
questionário e a entrevista semi-estruturada.
160

TÉRMINO DO CURSO

Data:____/____/ 2007

1) Sabes ligar o computador?


(x )SIM ( )NÃO
2) Sabes manusear o mouse, conduzindo até um ícone na tela e acionar?
(x )SIM ( )NÃO
3) Consegues abrir o editor de texto com o mouse?
(x )SIM ( )NÃO
4) Consegues digitar números, palavras e frase no editor de texto?
(x )SIM ( )NÃO
5) Consegues apagar ou deletar o que escreveste no editor de texto?
(x )SIM ( )NÃO
6) Consegues utilizar a tecla de espaço?
(x )SIM ( )NÃO
7) Consegues utilizar a tecla de maiúscula e minúscula no editor de texto?
(x )SIM ( )NÃO
8) Consegues acessar a Internet?
( )SIM ( x)NÃO
9) Consegues acessar site na Internet e navegar nele?
( )SIM ( x)NÃO
10) Consegues acessar e-mail, abrir arquivos anexos e enviar outro e-mail?
( )SIM ( x)NÃO

1) Quais são teus interesses, necessidades e dificuldades na aprendizagem


digital?
Aprender porque não sei nem ligar.

2) Qual o significado da inclusão digital em tua vida?


Atualizar-me na área da informática.
161

ENTREVISTA 04

Pesquisadora: O que a informática representa para você?


Entrevistado: A informática para mim representa ter maior autonomia e ficar mais
atualizado, sem informática as pessoas não conseguem nada, tudo agora é
informatizado, a pessoa tem que se atualizar, eu por exemplo não sei nem ligar o
computador, não quero ficar dependendo dos outros, agora vindo aqui neste curso
eu vou aprender pelo menos a ligar o computador e continuar aprendendo, a gente
vai aprender.

Pesquisadora: O que o motivou a se interessar pelo curso de informática?


Entrevistado: O que me motivou é aprender e é uma necessidade de gente
aprender. Eu tenho uma amiga minha que passou em todos os testes, ia trabalhar
na (Universidade XXXXX), e como o computador que ela aprendeu já não estava
mais atualizado, ela não conseguiu, tirou o segundo lugar, não consegui nem ligar
porque o equipamento era diferente. Um dia pode ser que apareça uma
oportunidade não fica sem saber o que fazer.

Pesquisadora: Quais suas maiores dificuldades, em relação à informática?


Entrevistado: A maior dificuldade é aprender tudo, não é a idade, é aprender, tem
que aprender pelo menos ter o início já é uma grande coisa.

Pesquisadora: Como vê a inclusão digital, no contexto atual?


Entrevistado: É a gente aprender, eu por exemplo vou aprender o que é este
mundo digital.

Pesquisadora: Quais as suas expectativas em relação a este (novo)


aprendizado?
Entrevistado: Espero aprender.

Pesquisadora: Quais são seus interesses, necessidades e dificuldades na


aprendizagem digital?
162

Entrevistado: Aprender mais para não precisar dos outros na informática.

Pesquisadora: Qual o significado da inclusão digital em sua vida?


Entrevistado: Atualizar no mundo atual na área da informática, para não ficar por
fora, porque todo mundo fala esta linguagem e a gente não sabe nada, por exemplo
tudo o que a gente faz agora, vai se inscrever num concurso, tudo é através da
informática, tudo pela Internet. Antigamente a gente chegava ali e se inscrevia, dava
os dados, os documentos, agora é tudo através da Internet. Por exemplo tem uma
devolução de imposto de renda tem que ir à Internet, coloca o CPF para ver se já
esta há disposição. A inclusão digital é uma necessidade, pelo menos o início.
ANEXOS

ANEXO A – Apostila do Curso de Introdução à Informática

ANEXO B – Certificado do Curso de Introdução à Informática

ANEXO C – Fotos de alguns participantes dos Grupos de Terceira Idade (Santander


Cultural)
ANEXO A
165
166
167
168
169
170
171
172
173
174
175
176
177
178
179
180
181
182
183
184
185
186
187
188
189
190
191
192
193
194
195
196
197
198
199
200
201
202
203
204
205
206
207

ANEXO B
209
210

ANEXO C
211
212
213
214
215
216
217

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