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Título Expedientes do gancho: o clímax e a interrupção
Autor Luís Enrique Cazani Júnior
Esta  comunicação,  financiada  pela  Fundação  de  Amparo  à  Pesquisa  do  Estado  de  São  Paulo
(FAPESP), apresenta um estudo acerca dos expedientes empregados por João Emanuel Carneiro
na confecção dos ganchos da primeira fase de Avenida Brasil (2012), composta de 7 capítulos,
telenovela  dirigida  por  Amora  Mautner  e  José  Luiz  Villamarim,  com  núcleo  de  produção  de
Ricardo Waddington. Neste trabalho de investigação acerca do clímax e da interrupção do fluxo
televisivo  são  consideradas  as  matrizes  fundamentais  da  telenovela:  dramatúrgicas  com  a
peripécia,  reconhecimento  e  catástrofe  da  tragédia  grega  e  golpe  de  teatro  do  melodrama
francês; e literárias com o romance­folhetim e seu corte sistemático. Define­se catástrofe como
ação  perniciosa  no  desfecho.  Moisés  (1974,  p.395)  conceitua  peripécia  como  “passagem
repentina de um estado a outro”. Já Aristóteles (1966, p.80) considera a “mutação dos sucessos,
no contrário”. Por fim, Pavis (2011) indica o reconhecimento como revelação. A constatação de
laços  familiares  é  apontada  por  Aristóteles  (1966,  p.80)  que  postula  sobre  a  “passagem  do
ignorar ao conhecer, que se faz para amizade ou inimizade das personagens que estão destinadas
para a dita para a desdita”. Ao vislumbrar a peripécia e a catástrofe no corpus indica­se como
forma  de  apresentação  dos  conceitos  o  falecimento  de  Genésio  no  gancho  final  do  primeiro
capítulo e seu anúncio no capítulo seguinte. Rita e Carminha esperavam a prisão da vilã com a
chegada dos policiais, o que não acontece. No gancho do final do segundo capítulo, ao analisar a
aproximação  de  Tufão  logo  após  o  enterro  de  Genésio,  Carminha  conclui  que  o  jogador  foi  o
responsável pelo seu atropelamento, um reconhecimento. Um dos momentos mais emblemáticos
de Avenida Brasil (2012) ocorre seguindo esse conceito. No centésimo capítulo, após encontrar
uma foto da moçoila no quarto de Nilo, Carminha descobre que sua cozinheira Nina é Rita. 

Somado  a  isso,  é  possível  ainda  notar  o  que  se  chama  de  golpe  de  teatro,  associado  ao
melodrama  francês.  Pavis  (2011,  p.287)  o  conceitua  como  “ação  totalmente  imprevista  que
Resumo muda subitamente a situação, o desenrolar ou saída da ação” e “especula sobre o efeito surpresa
Expandido e  possibilita,  na  oportunidade,  resolver  um  conflito  graças  a  uma  intervenção  externa”.
Fundados  em  transformações,  a  peripécia,  o  reconhecimento  e  a  catástrofe  podem  ser
classificados como golpes de teatro. 

Conforme  Brandão  (1980),  das  encenações  contínuas  da  tragédia  e  comédia  grega,  com
apresentações  do  coro  delimitando  os  episódios,  chegou­se  as  encenações  em  atos  no
melodrama.  Considera­se  atos  como  módulos  de  sentido  originados  da  interrupção  do
espetáculo  teatral,  elemento  organizativo  que  delimita  os  macroestágios  do  drama.  A
necessidade  de  afrontar  o  tempo  no  melodrama  é  ínfima,  uma  espera  pelo  próximo  ato  a  ser
encenado logo a seguir. 

  Em um segundo momento foram folheadas as páginas dos jornais franceses do final do século
XIX,  considerando  a  sistematização  do  corte  do  romance­folhetim.  Ao  analisar  este  modo  de
publicação  de  histórias  seriadas  em  impressos,  adentra­se  a  um  espaço  que  suscita  discussões
quanto  a  sua  monetização;  cada  linha  desenvolvida  é  convertida  em  cifrões;  literatura
denominada industrial pelo uso do modo de produção racionalizado; um modelo de negócio para
atingir  um  potencial  público  consumidor.  Da  serialidade  que  pressupõe  o  fragmento,  a
interrupção  e  a  repetição,  provém  o  corte  sistemático;  da  recepção  inserida  na  dinâmica  de
mercado  emerge  a  necessidade  de  extrair  efeitos  de  sentido  que  garantam  a  continuidade  da
fruição. Continuar significa alimentar, protelar, cumprir e quebrar as expectativas do leitor. Ao
comparar  a  estrutura  das  histórias  do  romance­folhetim  com  a  dramática  constata­se  que  a
primeira é fundada na promoção contínua da tensão seguida da distensão, denominada por Eco
(1993)  de  sinusoidal;  já  a  segunda  estabelece­se  na  dilatação  do  conflito  que  leva  a  explosão
climática e desfecho.

ARISTÓTELES. Poética. Porto Alegre: Editora Globo. 1966. 
BRANDÃO, Junito de Souza. O teatro grego: origem e evolução. Tarifa Aduaneira do Brasil:
Rio de Janeiro, 1980. 

BROOKS, Peter. The melodramatic Imagination: Balzac, Henry James, Melodrama and the
Mode of Excess. Yale University Press and New Haven and London. 1995. 

COSTA, Maria Cristina Castilho. A milésima segunda noite. São Paulo: Annablume, 2000. 

ECO, Umberto. Apocalípticos e integrados. São Paulo: Perspectiva, 1993. 
Bibliografia
HUPPES, Ivete. Melodrama: o gênero e sua permanência. São Paulo: Ateliê Editorial,2000. 

MEYER, Marlyse. Folhetim: uma história. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. 

MOISES, Massaud. Dicionário de termos literários. São Paulo: Cultriz, 1974. 

PAVIS, Patrice. Dicionário de teatro. São Paulo: Perspectiva, 2011. 

RIBEIRO, José Alcides. Imprensa e ficção no século XIX: Edgar Allan Poe e a narrativa de
Arthur Gordon Pym. São Paula. Ed da UNESP, 1996. 

THOMASSEAU, Jean­Marie. O melodrama. São Paulo: Perspectiva, 2005.

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