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Demarest e Almeida Advogados - Biblioteca

15/09/09

Caderno: EU&Investimentos - Pág. D-4

Panorama Externo: Estudo mostra que recomendações de corretoras de valores


trouxeram lucros maiores que escolhas sugeridas por analistas de gestoras de
recursos.

Quem acerta mais nas previsões para as ações?

Por Eric Martin, Bloomberg


15/09/2009
Rick Maiman / Bloomberg

Analistas "sell-side" ainda enfrentam conflitos e restrições, diz Eric Green,


diretor de análises da Penn Capital
As recomendações de ações feitas pelas corretoras de valores de Wall Street
produziram lucros maiores que as escolhas sugeridas pelos analistas que trabalham
para as gestoras de recursos, segundo mostra um estudo sobre as análises de
ações entre 1997 e 2004.

As ações escolhidas pelos chamados "sell-side analysts" - profissionais que fazem


as análises que são vendidas pelas corretoras - tiveram um desempenho três vezes
melhor que os papéis de companhias escolhidas pelos fundos mútuos, segundo a
pesquisa feita por professores da Harvard Business School e da Universidade da
Carolina do Norte. O estudo foi divulgado depois que as disposições do pacto de
seis anos de regulamentação das análises emitidas por Wall Street expiraram. O
pacto foi estabelecido por iniciativa de Eliot Spitzer, quando ele ainda era o
procurador-geral do Estado de Nova York.

As constatações são uma surpresa porque as gestoras de recursos - que produzem


as chamadas análises "buy-side" - não apresentaram nenhum dos conflitos de
interesses identificados por Spitzer nas instituições com unidades de bancos de
investimentos, diz Partha Mohanram, um professor de finanças da Universidade
Colúmbia em Nova York, que não esteve envolvido no estudo. Os analistas "sell-
side" podem ter se saído melhor porque seu trabalho estimula a competição, afirma
o estudo. "É o olhar examinador", diz Mohanram. "Há um custo à reputação por se
estar errado. As análises 'buy-side' não propiciam esse tipo de competição. É um
tipo diferente de cliente."
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O estudo comparou 12 mil analistas de corretoras contra as escolhas internas de


uma gestora de recursos não identificada. Comparou, também, os retornos de mais
de 340 outros fundos que "utilizavam exclusivamente" suas próprias análises,
segundo consta em um resumo do estudo.

Na gestora de recursos, 46 recomendações de compra e forte compra emitidas


pelos analistas produziram um retorno anual ajustado ao mercado de 2,3%,
comparado a uma média de 8,1% dos analistas "sell-side", segundo o estudo. Os
340 fundos mútuos que se fiavam nas recomendações de seus analistas perderam
1,9% ao ano em termos ajustados ao mercado.

Os autores usaram um modelo em que as ações eram adquiridas um dia depois que
uma recomendação de compra ou forte compra era anunciada. E os papéis eram
vendidos um dia depois que as recomendações eram rebaixadas para "hold"
(manter) ou menos. Os fundos eram avaliados usando-se os retornos mensais
compilados pela Morningstar.

"As constatações levantam dúvidas sobre por que as firmas de investimentos


continuam bancando as análises 'buy-side' em vez de simplesmente confiarem nas
análises 'sell-side'", escreveram os autores. "As evidências que conseguimos com o
desempenho das ações pelas recomendações 'buy-side' são menos surpreendentes
que o desempenho surpreendentemente vigoroso das análises 'sell-side'".

Analistas das gestoras de fundos emitiram menos avaliações de compra e as ações


que eles escolheram se mostraram menos voláteis, segundo os autores, os
professores Boris Groysberg, Paul Healy, Devin Shanthikumar e George Serafeim,
da Harvard Business School, e Yang Gui da Universidade da Carolina do Norte. A
pesquisa foi bancada pela Harvard Business School e foi apresentada na reunião
anual da Academy of Management em Chicago.

Os analistas "buy-side" trabalham com mais disciplina porque suas escolhas


influenciam diretamente as decisões de investimento, diz Robert Schaeffer, que
ajuda a supervisionar US$ 1,6 bilhão na Becker Capital Management, de Portland,
Oregon. "No nosso negócio, eles (os analistas) acompanham muito de perto o
desempenho dos investimentos", declara ele. "Você participa de um tipo de corrida
armamentista e precisa que seus analistas estejam certos."

As recomendações foram analizadas durante um período em que as análises de


corretagem estavam melhorando, diz Mohanram , da Universidade Colúmbia. Ele
menciona a Regulation Fair Disclosure, uma regulamentação de transparência
emitida pela Securities and Exchange Commission (SEC) em 2000. A norma passou
a exigir que as companhias reportem as informações capazes de mexer com o
mercado para todo mundo ao mesmo tempo. Também na mesma época o então
procurador-geral de Nova York Eliot Spitzer apertava o cerco sobre as instituições
financeiras.

Em abril de 2003, Citigroup, Crédit Suisse First Boston e oito outras instituições
financeiras concordaram em pagar US$ 1,4 bilhão pela redação de relatórios
positivos em troca de negócios na área de banco de investimento. A Thomas Weisel
Partners e o Deutsche Bank concluíram seus acordos posteriormente. No acerto, os
bancos contribuíam com US$ 450 milhões para análises de investimentos
independentes e acertaram a distribuição de relatórios de firmas independentes
junto com os seus.

O mandato para a elaboração de relatório para outras firmas expirou para todos os
bancos em 26 de julho, exceto a Thomas Weisel e o Deutsche Bank, cujos
mandatos terminam em março do ano que vem, segundo o porta-voz da SEC John
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Nester. "A coisa mais importante que fizemos foi revelar as tensões e os conflitos
que existiam, baseados em um modelo de negócios que transformou as análises
em parte da função de banco de investimento", disse Spitzer em uma entrevista
por telefone de Nova York. "Se a qualidade das análises melhorou ou não, é algo
que as pessoas terão de perguntar a si mesmas e poderá levar mais tempo para
ser determinado."

O acordo global tornou as análises "sell-side" mais competitivas, diz Scott Cooley,
diretor financeiro da Morningstar. A companhia independente de análises de
Chicago estava entre as contratadas para distribuir relatórios via bancos no acordo,
disse ele. As receitas que resultaram disso permitiram à Morningstar triplicar o
número de analistas de ações que ela emprega para 100. "Estamos vendo uma
demanda maior por nossas análises de ações por causa das mudanças", diz ele. "É
preciso dizer que tem sido positivo."

Os analistas "sell-side" ainda enfrentam conflitos e restrições aos seus


comunicados, segundo Eric Green, diretor de análises da Penn Capital, da Filadélfia.
O desempenho do analistas "buy-side" também é mais difícil de ser quantificado,
porque suas recomendações são menos formais que as avaliações de compra e de
venda emitidas pelos bancos de investimento, alega ele.

"Eles atendem a propósitos completamente diferentes", afirma Green. "A maioria


dos analistas 'buy-side' não escreve relatórios de 20 páginas, como os analistas
'sell-side' estão escrevendo. Quando um analista 'sell-side' faz uma grande
recomendação, o preço da ação geralmente sobe."

As avaliações de compra de ações de companhias americanas caíram para 32% das


recomendações das corretoras, ante 62% há sete anos, segundo dados compilados
pela Bloomberg. Os fundos de ações tiveram retiradas recordes de US$ 205,5
bilhões no ano passado, com os investidores fugindo do pior mercado de ações em
sete décadas, segundo a Morningstar. Os fundos de ações voltados para os EUA
perderam em média 39% em 2008, um ponto porcentual a mais que o índice
Standard % Poor´s que teve seu pior ano desde 1937.

"Às vezes, os analistas 'sell-side' conhecem as companhias individualmente melhor


que os analistas 'buy-side' ou os administradores de recursos, mas os gestores
tomam decisões de investimentos melhores", afirma Jerome Dodson, que
supervisiona US$ 2,2 bilhões para a Parnassus Investments, de São Francisco. Com
os analistas "sell-side", "quando converso com eles, consigo informações úteis".
(Tradução Mário Zamarian)

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