Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
§1. Introdujo
No clássico de 1936, Tempos Modernos, Charlie Chaplin dirige urna sátira mordaz
aos excessos do fordismo. Numa das sequéncias iniciáis do filme, o Vagabundo executa
movimentos repetitivos de aperto de porcas em placas que desfilara a sua frente num
tapete rolante. Mais tarde, ja fora da fábrica, o alienado personagem tenta apertar tudo o
que se pareca com porcas, inclusivamente dois grandes botoes de camisa no peito da
senhora que passa na rúa.
Estas cenas do genio do cinema mudo, aíém de criticarem o trabaího monótono,
repetitivo e pouco estimulante, descrevem também o resultado da organizado do tra-
baího numa cadeia de tarefas simples e rotineiras - cada operario execuía um segmento
simples do processo mais ampio, estando a sua funcao claramente articulada com as
fuñe, oes a montante e a j usante do processo em causa. Tal organizac.áo de tarefas so se
tomou possível após o desenvolvimento, por alguns notáveis pensadores da gestao, das
técnicas de estudo das funcóes, anos antes do filme de Chapíin. Frederick W. Taylor
contribuiu decisivamente para urna análise aprofundada do conteúdo do trabalho, ao
decompor processos em conjuntos de íarefas cada vez mais simples. Este tipo de gestao,
denominada científica, assenía nos pressupostos da racionalizacáo, da padroniza§áo e da
análise do trabalho
divisao de tarefas, e traduz alguns dos principios originalmente enunciados por Adam
Smith.1
Para o «pai» da economía moderna, a divisao do trabalho pode ser definida de urna
forma simples com o exemplo do fabrico de um alfinete. No Capítulo 1 do primeiro
livro de Wealth of Nations, Adam Smith explica que um trabalhador nao qualificado,
trabalhando sozinho, difícilmente consegue produzir um alfinete por dia. Todavía, é
possível decompor a producto de um alfinete em cerca de 18 tarefas distintas. Ao dis-
tribuir estas tarefas por 10 homens - cada um executando urna ou duas tarefas, conse-
gue-se produzir até 48.000 alfinetes por dia, em vez dos 200 que seriam produzidos se
cada um dos 10 homens trabalhasse de modo independente?
Este e outros principios estáo na base do forte aumento da produtividade durante a
Revolucao Industrial, e explicam aínda urna parte notável do modus operandi da
empresa moderna. Tiveram igualmente como resultado o desenvolvimento de urna área
chave na GRH, destinada a analisar o conteúdo do trabalho: a análise de funcSes (dora-
vante AF).
As actuáis tendencias da organizacáo do trabalho, tais como a necessidade de funcSes
flexíveis, a consideracáo crescefite do conceito de competencias, a rápida obsolescencia
de conhecimentos ou o trabalho em equipas abalam severamente estes principios. Poem
assim em causa a utilidade da AF como pedra basilar da GRH no quadro de urna gestao
dinámica e estratégica do capital humano numa organizacao igualmente em evolucao
continua.
A passagem do PARADIGMA FUNCIONAL (a funcao é a unidade constituinte da organi-
zagao) para o PARADIGMA DAS COMPETENCIAS (as pessoas sao a unidade constituinte da
organizagáo) ilustra a mudanca? Esta alteracao reduz a centralidade do processo de aná-
lise do trabalho em muitas organizagSes, mas nao elimina a sua utilidade para outras.
Se, em sectores como as tecnologías de informagáo, algumas organizagóes comegam a
recrutar talentos sem Ihes apresentarem qualquer descrigao funcional ou avangando
apenas descrigoes ampias (e.g., éngenheiro de I&D, desenvolvimento do negocio)? neu-
tras organizagóes o detalhe e o rigor da análise funcional continuam a ser urna fonte de
vantagem competitiva.
Em sistemas de produgao obcecados com o detalhe, como na Toyota, o rigor da aná-
r lise do trabalho pode ser capital. E, como o caso da empresa nipónica ilustra, o facto de
a fungao ter sido a unidade de análise do processo taylorista nao significa que tenha de
ser usada de urna forma taylorista. Finalmente, nao podemos deixar de referir o inte-
resse da AF para os gestores, por mais incipiente e caseira que esta seja, fornecendo-
-Ihes um instrumento para racionalizar processos de trabalho na sua equipa - e para
r
W Para um aprofundamento do tema, veja Cunha, Regó e Cabral-Cardoso (2007).
® http://www.econlib.org/library/Smith/smWN.html (acesso em 21 de Margo de 2008).
(3)
Lawler (1994).
^ Paulo Rosado, em comunicagao pessoal a Miguel Pina e Cunha, 2 de Outubro de 2007.
r
i
134 manual de gestao de pessoas e do capital humano
Este capítulo tem inicio com urna reflexáo sobre a utilidade da AF, defmindo aínda
termos e conceitos. Analisa-se depois o tipo de informagáo requerida na actividade,
assim como as fontes de recolha de dados. O capítulo prossegue com um sumario das
técnicas mais usadas em AF, avanzando depois para os métodos. Na parte final apre-
sentam-se as fases de desenvolvimento e implementacáo de um programa de AF.
(1)
Morgeson et al. (2004).
(2)
Levine e Sánchez (2007, p. 1).
(3)
Levine e Sánchez (2007, p. 1-3).
análise do trabalho 135
De forma simples, a AF consiste jno estudo de urna ou mais fun§oes de urna organi- / '
zacáo, ou seja a recolha de informacoes sobre o conteúdo e o contexto envolvente a urna
fungáo. Assim enunciada, pode afirmar-se que a AF é um procedimento de aplicacáo
habitual em todas as empresas, aindfa que com variagóes no que respeita a sua extensáo,
rigor, custos e grau de organizagáo (veja Caixa 3.2).
(1)
Rocha (2001).
136 manual de gestao de pessoas e do capital humano
dade e pouca sisíemaíizagáo das práticas (veja também Capítulo 1). Notou-se
também fraca consonancia entre os modelos expostos nos livros de GRH e os pro-
cessos e modelos realmente observados. Numa das entrevistas realizadas, foi
relatado o processo típico de realizacáo da AF e o subsequente recrutamento.
Reproduz-se aqui o seu conteúdo como urna conversa de café, mantida ao fina! do
dia, entre um encarregado numa pequeña empresa familiar e um amigo, cujo filho
adolescente está a entrar na idade de trabalho:
— Amigo: «Olha la, o meu rapaz deixou os estudos e comecou á procura de
alguma coisa para se entreter. Nao o consegues meter la na fábrica?»
— Encarregado: «Por acaso andamos á procura de alguém para o nosso arma-
zém.»
— Amigo: «Entáo e é para fazer o qué?»
— Encarregado: «Para ajudar a carregar as encomendas e a descarregar outro
material. É preciso estar la das 9 as 6 da tarde, e o rapaz tem que ter juízo e
dar-se bem com os outros. Achas que o teu da conta do recado?»
O exemplo da Caixa 3.2 comprova que a AF pode limitar-se a urna conversa rápida
(contudo razoavelmente esíruturada e organizada para se extrair a esséncia do conteúdo
e exigencias de um írabalho) entre o analista e o ocupante do cargo. Nestas condicóes, o
primeiro fica com urna ideia geral sobre o que faz o segundo, o que, amiúde, é sufi-
ciente para levar a cabo os objectivos que estiveram subjacentes á conversa ilusoria-
mente breve e desordenada. Se, além da interlocucao, o analista possuir experiencia
previa e conhecimento sobre outras funcoes, como é frequentemente o caso, entáo a
acuidade e a rapidez na recolha da informacao e consequentes produtos da AF estarao
mais garantidas.
(1)
Brannick e Levine (2002).
análise do trabalho • \y¡
1. Umglossário
FUNQÁO: conjunto de tarefas com um ou mais objectivos que identificam um posto
de trabalho.
TAREFA: conjunto de operacóes ou elementos que se desenvolver! numa determi-
nada área funcional e que visam o alcance de um objectivo específico.
OPERAQÁO/ELEMENTO: cada urna das partes mais básicas em que o trabalho pode
ser decomposto, formadas por comportamentos específicos.
POSTO DE TRABALHO: conjunto de actividades e respectivos meios de execugao cor-
respondente a um trabalhador.
138 manual de gestao de pessoas e do capital humano
(1)
Lees e Cordery (2000).
140 manual de gestáo de pessoas e do capital humano
(1)
D'Oliveira e Faia-Correia (1996).
(2)
Cunha, Cunha e Chia (2007).
(3)
HackmaneOldham(1980).
análise do trabalho 141
(1)
McCormick (1976, pp. 652-653).
(2)
AlgeraeGreuter(1998).
142 manual de gestáo de pessoas e do capital humano
Numa esfera mais pragmática, Brannick e Levine2 sugeriram quinze áreas sobre as
quais se podem recolher dados para a AF. O Quadro 3.1 inventaría e define as quinze
áreas, exemplificando a sua utilizacao com a funcao de agente da PSP.
(1)
Harvey (1991).
(2)
Brannick e Levine (2002).
(3)
Adaptado de Brannick e Levine (2002, pp. 10-15).
análise do trabalho 143
ao desempenho eficaz duma funcáo tal como se prevé que venha a existir no futuro.
Traía-se da chamada AF estratégica, defendida por Schneider e Konz.1 Pode ser crucial,
por exemplo, nos processos de seíeccáo, ja que um candidato capacitado para urna fun- i
cao actual pode estar desprovido de condÍ5Óes que Ihe permitam executá-la devida- |
mente no futuro. Outro exemplo: um candidato que denota competencias modestas para
o exercício de urna funcáo actual pode revelar elevado potencial para funcoes relevantes _.
futuramente. I
ín
Schneider e Konz (1989).
(2)
Morgeson et al. (2004).
análise do trabalho 145
• SUPERVISORES
Os supervisores encontram-se em boa posigao para fornecer os dados necessários
para a construcao da imagem de urna fungáo. Duas razóes explicam que sejam usados
como fonte de informagáo. Primeira: conhecem (em principio) o que os seus subordina-
dos fazem, bem como os objectivos da fungáo. Segundo: podem ja ter executado essa
fungáo. Os problemas e dificuldades sao, todavía, semelhantes a utilizagáo dos ocupan-
tes dos postes de trabalho. Particularmente enviesada poderá ser a inforrnagáo fornecida
sobre comportamentos e exigencias humanas, pois o supervisor poderá ser afectado pelo
tipo de subordinados que gere e nao apenas pelas exigencias do posto de trabalho. Ou
seja: mais do que um informador sobre a fungáo, o supervisor pode actuar como «ava-
liador» de quem a executa.
• ANALISTAS DE FUNCÓES
OUTRAS FONTES
As modalidades anteriores sao as mais usadas. Contudo, outras fontes sao passíveis
de utilizagao, seja em conjugagao com as anteriores, seja em casos específicos (quando,
por exemplo, nao é possível aplicar nenhuma das tres fontes antes referidas). Assim,
podem mencionar-se:
í
146 manual de gestao de pessoas e do capital humano )¿|
m FIABILiDADE DA ¡NFORMACÁO EM AF
• OBSERVACAO |
A observacao é urna das técnicas mais utilizadas. Requer que o analista observe o
trabalho a ser realizado e anote aponíamentos. Permite recolher informacao sobre ~Tj
aspectos táo diversos corno: (1) duracao, frequéncia e complexidade das tarefas; (2) flu- *
xos de trabalho; (3) eficiencia da producao; (4) condicoes de trabalho; (5) malcriáis e
instrumentos utilizados; (6) tarefas físicas que compóem a funcao. O grau de estrutura- ¡
cao da observacao pode variar bastante, desde a observa§áo livre até á utilizagáo de
greíhas de observacao ou de dispositivos de gravacáo áudio e vídeo dos trabalhadores -*
em acgáo. Outras decisoes a tomar na preparado da observacao incluem: i
— Deve-se observar um ou mais írabalhadores que execuíam a funcao?
— Quais os trabalhadores a observar - os que desempenham melhor a funfáo ou os
~TI
que a desempenham pior?
— Deve proceder-se á mera observa§áo dos executantes ou realizar observagáo "1
participante (o analista executa o trabalho em conjunto ou nao com o trabalha-
dor, a fim de experieneiar o seu trabalho)?
T
— Quando deve cornegar-se a efectuar o registo das observacoes? (note-se que nos
momentos iniciáis da observagáo os executantes podem distorcer as suas acgSes
pelo facto de saberem que estáo sob vigilancia). "7
(í)
Informagáo mais detalhada sobre estas fontes de variáncia poderá ser consultada em Morgeson e Campion
(1997) e Liet al. (2007).
1
análise do trabalho ¡47
• CUESTIONARIO
O questionário consiste numa serie estruturada de perguntas relativas ao posto de tra-
balho (veja exemplo nos Complementos deste capítulo). De aplicagao rápida e econó-
mica, permite obter informagáo padronizada e específica sobre a fungáo, mas aprésenla
a desvantagem de ser vulnerável as distorgoes de informagao. Por exemplo, o incum-
bente, quando questionado, pode «enriquecer» a sua fungáo no que respeita á responsa-
bilidade ou as dificuldades. Tal como a observagáo, a utilizacáo de questionários deve
ser precedida de urna serie de decisoes e reflexóes:
— Deve-se aplicar o questionário a todos os trabalhadores que executam a fungáo
ou apenas a urna amostra?
— No caso de se optar por urna amostra, quais os incumbentes que devem ser nela
incluidos?
— O questionário deve ser auto-administrado (Le., respondido pelo próprio execu-
tante) ou usado como guiáo pelo analista?
— Devem-se utilizar questionários padronizados (permitem comparagoes entre fun-
góes e sao mais económicos) ou desenvolver um inventario para o efeito (sao
mais adaptados a empresa e as fungoes a estudar)?
AlgeraeGreuter(1998).
148 manual de gestao de pessoas e do capital humano
M ENTREVISTA
A entrevista é urna técnica muito popular que consiste numa conversa mais ou menos r
orientada por um guiáo previamente preparado, durante a qual o analista recolhe a
informacáo necessária directamente dos executaníes. Faz-se o mesmo género de per-
guntas que num questionário, mas as vantagens principáis sao a verificacao e clarifica-
§áo de respostas: por existir um diálogo, ha a possibilidade de trocar e testar informa-
cáo. Outras vaníagens incluem (á) a possibilidade de realizar AF mais complexas e/ou
com urna carga mental importante e (b) a recolha de urna grande quantidade de infor-
macáo (em termos quantitativos e qualitativos).
A maior desvantagem é o consumo de tempo e consequentes custos, tanto em relacáo
ao analista como ao ocupante. Outro problema reside na desconfianza que alguns
empregados podem sentir relativamente ao objectivo da entrevista, levando-os a res-
ponder de forma incorrecta ou distorcida. Por fim, a comparacio da informagáo reco-
Ihida em varias entrevistas pode ser difícil de fazer. A Caixa 3.6 apresenta algumas
sugestóes para minimizar estes problemas.
T
análise do trabalho 149
• DOCUMENTADO
Específicos á funcao
í~
1
• Análise dos elementos Estudos de tempos
do trabalho. movimeníos.
1
• Análise do trabalho cogniíivo. Incidentes críticos.
o
"O
03
.c ce
J3
cts
£> a
£ o
o 2
aca • . os
o.
a. co
w o
o T3
T3 ro
•*-.
ro
cu
0 1
"l_ Job element inventory. • Classificacóes genéricas
O
de funcoes (classificagáo
> Occupational analysis nacional de profissóes;
inventory. guia de caracterizacáo
profissional).
1
General work inventory.
1
Functional job analysis.
• Position analysis
questionnaire. < Inventarios de tarefas.
Padronizados
^ ' O leitor interessado numa pesquisa mais exaustiva, pode consultar a obra de Gael et al. (1988), bem como
as fontes fornecidás para cada caso.
análise do trabalho
Injectora aberta 78
(1)
Harvey (1991).
(2)
Veja Cuntía, Regó e Cabral-Cardoso (2007).
(3) Ponte: documento interno de empresa.
152 manual de gestao de pessoas e do capital humano
Tempo
Operagoes - Operador A
(seg.)
./, Porqué
Tempo
Operagoes - Operador B */V Porqué
(seg.)
Injectora aberta 59
T
análise do trabalho 153
1. Por um período considerável de tempo, os músicos com oboe nao tinham nada
para fazer. O seu número deveria ser reduzido e o seu trabalho redistribuido
pelos restantes membros da Orquestra, evitando-se assim estes picos de inac-
tividade.
2. Todos os violinos da primeira secgáo, doze ao todo, tocavam notas idénticas.
Isso parece ser urna duplicacao desnecessária de esforgos, e o número de vio-
linos nessa seccáo deveria ser drásticamente reduzido. Se for necessário um
volume de som alto, isso poderia ser obíido através do uso de um amplificador.
3. Muito esforco foi dispendido ao tocarem semitons. Parece tratar-se de um
preciosismo desnecessário, sendo recomendável que as notas fossem execu-
tadas no tom mais próximo. Caso assim fosse, poder-se-iam utilizar estagiários
em vez de profissionais.
4. Nao ha utilidade prática em repetir com os metáis a mesma passagem ja
tocada pelas cordas. Se toda esta redundancia fosse eliminada, o concertó
poderia ser reduzido de duas horas para apenas vinte minutos.
5. Enfim, resumindo as observagóes dos pontos anteriores, podemos concluir que
se Schubert tivesse dado um pouco de atengáo a estes pontos, talvez tivesse
íido tempo para terminar a sua sinfonía inacabada.
(1)
Veja em http://www.occupationalinfo.org/ (acesso em 21 de Margo de 2008).
(2)
http://portal.iefp. pí/pls/gov_portalJefp/docs/PAGE/PORTAL_ffiFP_Il>nreRNET/CPROnSSIONAL/CNP/
/CAP1_INTRO.PDF (acesso em 21 de Margo de 2008).
(3)
Ponte: http://portal.iefp.pt/pls/gov_portaU^
/CNP/CAP1JNTRO.PDF (acesso em 21 de Marco de 2008).
análise do trabalho 155
(1)
Ponte: http://www.sbsi.pt/sbsi/sbsi.asp?temaId=61eroot=SBSI (acesso em 21 de Marco de 2008).
(2)
Fine e Cronshaw (1999).
1
análise do trabalho 157
(1)
Fine e Cronshaw (1999).
158 manual de gestao de pessoas e do capital humano
• INVENTARIOS DE TAREFAS
~
mite a comparacáo entre fungoes e consequeníe aplicagáo, por exemplo, na construgáo
de grelhas salariáis, bem como a possibilidade de tratamento esíatístico. Corno desván- -y
tagens, podem referir-se o facto de forcar os respondentes quer na análise dos itens
apresentados quer ñas respostas possíveis, o que pode conduzir a urna descricáo menos
rica da funcáo ou funcóes. T
m INCIDENTES CRÍTICOS _
1 !
O método dos incidentes críticos foi desenvolvido por John Flanagan para identifi-
car os aspectos mais importantes ou notáveis do comportamento no trabalho. Original-
mente, foi concebido como um procedimento de listagem de escalas para avaliacáo de T
desempenho, mas as vantagens que revelou acabaram por o catapultar para outros terre-
nos, como a AF. Neste ámbito, é um auxilio importante para investigar os aspectos crí- __
ticos de urna funcáo, i. e. cruciais para o seu bom desempenho. ;
Os principios subjacentes ao método tém permanecido inalíeráveis ao longo dos
anos. De forma simplificada, o seu uso resume-se ao seguiníe:2 (1) escolhem-se pessoas T
(1)
Flanagan (1954).
(2)
Algera e Greuíer (1998).
1
f.
análise do trabalho
que conhecam bem as funcoes, ou entao pessoas que as exergam; (2) é-lhes solicitada a
apresentacao de exemplos de desempenho excelente e/ou inadequado.
Depois de coleccionaren! varios incidentes (poderao ascender a duas ou tres centenas
por fungao), os analistas reduzem-nos e classificam-nos num número menor de catego-
rías (10 a 20). Eventualmente pode tornar-se necessário falar novamente com os execu-
tantes, para refinarem e clarificaren! as categorías. O processo repete-se até que as cate-
gorías resultantes sejam suficientes para descrever a funcáo em causa. As categorías
fináis designam-se dimensoes comportamentais.
(1)
Harvey (1991).
(2)
McCormick (1976).
(3)
In Lees e Cordery (2000).
(4)
Primoff e Eyde (1988), in Lees e Cordery (2000).
160 manual de gestáo de pessoas e do capital humano
A análise dos elementos do trabalho tem sofrido duras críticas, sobretudo por parte
da academia. Além de ser parca a base teórica do trabalho de Primoff e colegas, é ainda
alvo de crítica o facto de o método depender das opinióes dos trabalhadores. Contudo, o
seu pioneirismo, a sistematizado do trabalho e os termos que inaugurou em AF (tais
como «conhecimentos», «aptidóes» e «capacidades»), fazem dele urna referencia mar-
cante na área.
• QUESTIONÁRIOS
(1)
Harveyefa/. (1988).
(2)
Cunningham <?? tz/. (1983).
(3)
Cunningham e Ballentine (1982).
<4)
, McCormick et al. (1972). Métodos referidos por Harvey. Veja também http://www.hr-guide.com/data/
\ /GO 12.htm (acesso em 21 de Marco de 2008).
^ McCormick (1976; www.paq.com).
análise do trabalho 161
De acordó com informacáo no site oficial, em 2004 o PAQ foi modificado para aco-
modar mais itens e duas novas dimensoes: gestáo e ambiente de trabalho. No
total, sao 300 itens agregados em diferentes versóes, o que permite que o inventa-
rio possa ser utilizado em varios contextos e locáis. Existem urna versáo alema
(Fragebogen zur Arbeitsanalyse, de Frieling, 1975, in Algera e Greuter, 1998) e
outra inglesa (Job Structure Profile, de Patrick e Moore, 1985).
clusáo incorrecta de que estas duas posicóes requerem idénticas capacidades de nego-
ciacáo.
O trabalho dos gestores tem sido objecto de tratamenío ao longo das últimas cinco
décadas, sendo urna referencia o trabalho de Henry Mintzberg.1 A sua análise é urna
tarefa difícil. Urna das razóes prende-se com a dificuldade de observado. Se a análise
se resumir a observacáo dos comportamentos observáveis, entao as sátiras de Scott
Adams seráo suficientes para compreender o que faz um gestor. Em O Futuro Segundo
Dilbertf- um gestor é alguém que executa tarefas com menor complexidade do que as de
(1)
Mintzberg (1973).
(2)
Adams (1999).
T
análise do trabalho 163
(1)
Brannick e Levine (2002).
(2)
Page (1988), in Gael etal. (1988).
(3)
Mintzberg (1970, 1973).
164 manual de gestao de pessoas e do capital humano 1
especialmente desenhadas para a comunica?ao entre todos os membros, para a resolucao
conjunta de problemas ou para a geracáo de ideias criativas, entre outras. Estas tarefas
deverao encontrar um paralelo em termos das capacidades e conhecimentos exigidos
aos membros da equipa.
Em termos práticos, a AF do trabalho de equipas faz uso dos métodos, técnicas e
fontes de informacao anteriormente descritos, mas requer um outro elemento impor-
tante: a recolha, armazenamento e disseminacáo da informacao relativa ao funciona-
mento do grupo.1 Entre outras técnicas, os autores apontam os gráficos de fluxos, em
r
que sao claramente apresentadas as interdependencias entre os membros ou a utilizacao
das intranets, com espacos próprios para as equipas e com a especificac.áo dos objecti-
vos e outros elementos fundamentáis para o trabalho comum.
Urna descricáo de funcoes é urna afirmacao escrita sobre aquilo que o ocupante da
funcáo faz, como o faz e sob que condicoes. Nao existe um formato universa! para a
descricáo de funcoes, mas é normal surgirem um ou mais dos elementos seguintes (veja
dois exemplos na Caixa 3.12):
— Identificacáo da funcáo: designacáo ou título, posicáo na esírutura formal (nivel
hierárquico, subordinacáo, supervisáo, etc.), nivel salarial, outros elementos.
— Objecíivos globais da fungáo: comeca geralmente com um verbo, como supervi-
sionar, coordenar, gerir.
— Deveres e responsabilidades: descreve a funcáo em termos dos seus de veres e
responsabilidades. As frases devem cornecar por um verbo. O objectivo é dar
urna ideia precisa e concisa daquilo que deve ser feiío na funcáo ern causa.
(I)
Brannick e Levine (2002).
T
T
análise do trabalho 165
1. Secretario de Direccáo
Título da fungáo: Secretario de Direccáo
Departamento: Administracáo
Posicáo do supervisor ¡mediato: Gestor
2. Responsabilidades específicas
• Dactilógrafa a correspondencia diaria assim como as ordens de vendas para
nove grandes clientes utilizando meios informáticos (40%).
• Redige documentos especializados para o departamento de marketing (20%).
• Verifica e prepara as copias fináis para distribuicáo (10%).
• Recebe relatórios e mantém actualizado o ficheiro de correspondencias (5%).
• Transmite documentos por via informática utilizando equipamento de ieleco-
municacoes(10%).
• Recebe e distribuí prioridades ;a clientes especiáis ou projectos especiáis (5%).
• Ajuda ao trabalho de recepcionista (5%).
• Actualiza e mantém um registe completo sobre o pessoal e sobre os clientes
3. Especificacóes da funcáo
• Licenciatura na área de secretariado e comunicacáo.
• Experiencia em dactilografía via computador.
• Capacidade para classificar 10 documentos por minuto sem erro.
• Capacidade para produzir documentos e relatórios de elevada qualidade.
• Competencia para trabalhar com pessoas.
166 manual de gestao de pessoas e do capital humano
(1)
Diario da República - III Serie, de 25 de Julho de 2005.
análise do trabalho 165
1. Secretario de Direccáo
Título da funcáo: Secretario de Direcgáo
Departamento: Administracáo
Posigáo do supervisor ¡mediato: Gestor
2. Responsabilidades específicas
• Dactilógrafa a correspondencia diaria assim como as ordens de vendas para
nove grandes clientes utilizando meios informáticos (40%).
• Redige documentos especializados para o departamento de marketing (20%).
• Verifica e prepara as copias fináis para distribuigáo (10%).
• Recebe relatórios e mantém actualizado o ficheiro de correspondencias (5%).
• Transmite documentos por via informática utilizando equipamento de teleco-
municacóes (10%).
• Recebe e distribuí prioridades;a clientes especiáis ou projectos especiáis (5%).
• Ajuda ao trabalho de recepcionista (5%).
• Actualiza e mantém um registo completo sobre o pessoal e sobre os clientes
3. Especificacóes da funcáo
• Licenciatura na área de secretariado e comunicagao.
• Experiencia em dactilografía via computador.
• Capacidade para classificar 10 documentos por minuto sem erro.
• Capacidade para produzir documentos e relatórios de elevada qualidade.
• Competencia para trabalhar com pessoas.
166 manual de gestad de pessoas e do capital humano
(1)
Diario da República - III Serie, de 25 de Julho de 2005.
análise do trabalho 167
5.3. CATEGORÍAS
As categorías de funcóes consistem na agregagao das fun§óes em familias, com base
ñas suas semelhangas quanto, por exemplo, á formacao académica, experiencia, ou
conhecimento exigido. O Quadro 3.6 apresenta algumas das designacoes, responsabili-
dades e exigencias de formacao para as principáis categorías de fungoes que podem ser
encontradas em muitas empresas. Estas categorías nao existem em todas as organiza-
?oes e poderá haver func,5es difíceis de catalogar nos grupos expostos. Outros sistemas
de classificac.ao sao possíveis.
(1
> Fine e Cronshaw (1999, pp. 36-37).
168 manual de gestao de pessoas e do capital humano
Conhecimenío
Designacao Responsabilidades
e formacáo exigidos
1
Trabalhadores Realiza trabalho de naíureza Período de formacáo muito curto,
nao quaiificados simples, requerendo que pode ir de algumas horas a
habiíualmente um esforgo físico duas semanas.
que pode ser intenso.
T
análise do trabalho 159
(1)
Mitrará et al. (1993).
O manual de gestáo de pessoas e do capital humano
.2. FASEl-PLANEAMENTO
Estrutura-se o processo de análise do trabalho, desde a definicáo de quem levará a
cabo a tarefa até á escolha de quem ou o qué, na organizacáo, se vai utilizar para reco-
Iher informacáo sobre as funcóes:
— Definicáo dos objectivos (se nao tiver sido ja decidido superiormente), ou seja,
que utilizacoes vai ter o produto final da AF (e.g., selecgao?; qualifica§áo?).
— Determinacao das funcóes a estudar. Pode, por exemplo, decidir-se analisar
todas as fungoes de urna empresa ou apenas as mais representativas.
— Elaboracáo do cronograma de trabalho, especificando por onde se comegará a
fazer a AF: de cima para baixo ou o inverso, ou em que departamento.
— Escolha das técnicas e dos métodos. Poderá decidir-se pela utilizacao de urna
única técnica ou método, ou varios métodos.
— Enquadramento legal do processo. A AF está enquadrada por determinantes
legáis que regulamentam muitos dos seus aspectos, procedimentos e, sobretudo,
consequéncias no ámbito da qualificacao, nomeadamente quanto á definido de
categorías e carreira ja previstas em acordes colectivos e novas estruturas sala-
riáis.
6.4. FASE3-ExEcugÁo
Procede-se á recolha dos dados e elaboram-se as describes e especifieacoes de fun-
coes. Incluí:
— Recolha dos dados sobre as fuñe, oes utilizando os métodos escolhidos.
— Triagem dos dados obtidos.
— Redacgáo provisoria das descricoes e especificac,ao de fungoes.
— Revisáo da informacao com os empregados, com o grupo de trabalho e/ou com o
supervisor.
— Redacgáo definitiva dos produtos da AF (descricao e especifica§oes de func,óes).
nal como visando nao apenas reduzir ineficiéncias mas também «mudar as descrigoes
de funcSes», de modo a alterar o comportamento das pessoas.1
Como produtos intermedios, foram revistos a descrigao de fungoes, as especificagoes,
a criacáo de categorías, a avaliacao e qualificagáo e ainda os mapas de competencias.
Existem varios métodos padronizados de AF, variando ñas vantagens e objectivos, custo
e tempo. Para empresas pequeñas pode bastar a Classificagáo Nacional de ProfissSes.
Para organizacoes mais maduras, justifica-se o uso de urna combinagao de métodos e
técnicas mais analíticos. Os métodos foram classificados em tres grupos: os orientados
para o trabalho, focalizados no trabalhador e procedimentos para analisar o trabalho dos
gestores e das equipas. De resto, é de esperar que as técnicas vocacionadas para o tra-
balho cognitivo e para o trabalho em equipas venham a revelar maior desenvolvimento
nos próximos anos.
(!)
Ball e Patrick (2007, p. 31).
(2)
Levine e Sánchez (2007).
^3^ Sobre a natureza mulantes das funcóes e das suas implicacoes para a selecgao de RH, pode ver também
Anderson et al. (2004).
análise do trabalho 173
§8. Complementos
(1)
Veja Organ (1997); Podsakofff et al. (2000); Regó (2002).
(2)
Organ (1997, p. 88).
(3)
Veja, por exemplo, Paquet et al. (2006).
4
( ) Ponte: http://www.job-analysis.net/G908.htm (acesso em 21 de Margo de 2008).
174 manual de gestao de pessoas e do capital humano
• PREPARAfAO E REALIZADO
Antes da entrevista
— Preparar a «ficha de análise».
— Documentar-se sobre a funcao - objectivos, natureza e vocabulario técnico.
— Estabelecer, a partida, um plano de questóes a introduzir, relativamente a funcao
e respectivas exigencias.
Apresentagáo do titular do posto de trabalho e do entrevistador
— Expor o objectivo do estudo a realizar, suas vaníagens e inconvenientes.
— Esclarecer o entrevistado acerca do seu papel como colaborador na prestacáo de
informa§áo e esclarecimentos sobre as características da funcao, e nao como
«objecto» de análise.
Durante a entrevista
— Procurar conhecer o enquadramento do posto de trabalho da unidade
organizacionaí.
— Solicitar ao titular da funcao todas as informac5es relativas ao seu posto de
trabalho, segundo a fórmula «o que faz?», «como faz?», «porque faz?», o «que
se Ihe exige?».
— Pedir ao titular da fungao toda a documeníacao que possa melhor esclarecer as
informac.óes por ele fornecidas.
~\
(1)
Videira e Rodrigues (2002).
análise do trabalho 175
Depois da entrevista
— Agradecer a colabora?ao prestada e sublinhar mais urna vez os objectivos da
entrevista.
— Solicitar colaborado para a reformulagáo final dos dados.
• LOCAL/AMBIENTE DA ENTREVISTA
— Procurar realizar a entrevista no próprio posto de trabalho, desde que o ambiente
seja calmo.
— Quando impossível no posto de trabalho, realizar a entrevista em sala pequeña,
com boa iluminac.áo e em tomo de urna mesa.
• DURA£ÁO
• ATITUDES DO ENTREVISTADOR
•^j
O entrevistador deverá assumir urna atitude de respeito e geradora de empatia. Mais
específicamente, cabe-lhe:
— Proporcionar todos os esclarecimentos sobre os objectivos da análise de fungoes
e tipo de participagáo do titular.
— Encorajar e apoiar o incumbente a descrever o seu posto de trabalho.
— Ser metódico na recolha e sistematizacao das informac5es.
— Nao influenciar o entrevistado e conceder-lhe tempo para reflectir.
— Evitar confidencias, discussoes ou comentarios pessoais.
— Evitar todo o tipo de críticas pessoais e a organizacao.
— Manter a serenidade e controlar a emotividade.
— Proporcionar um clima de confianga.
176 manual de gestáo de pessoas e do capital humano
— Confiarla.
— Sinceridade.
— Abertura. T
— Participa5áo.
— Medo ou receio.
— Desconfianca.
— Hostilidade.
• TIPOS DE PERGUNTAS
— Abertas: permitem resposta ampla/livre.
— Hipotéticas: encorajara o entrevistado a usar a imaginacao.
— Fechadas: as respostas sao predeterminadas (e.g., tipo sim/nao), e o inquirido
escome a que se compagina com a sua opiniao. 1
• INTERPRETACÁO DA ENTREVISTA
1. Identifícalo
Nome do ocupante do posto:.
Título da fun§ao:
Nome da chefia directa:.
Funcáo:
Departamento:
Data d e preenchimento: I I
2. Supervisáo
Liste os nomes e os títulos das fungóes das pessoas que chefia, e a percentagem de
tempo que despende na sua supervisao.
3. Experiencia e formac,áo
Qual o nivel mínimo de escolaridade que deve ter urna pessoa em inicio de activi-
dade na funcao que ocupa?
Que aptidoes e experiencia deve ter urna pessoa antes de comecar a desempenhar a
funcao que actualmente ocupa?
manual de gestáo de pessoas e do capital humano
Que formagáo teve no decorrer da fune.áo que actualmente ocupa, e quanto tempo 1
(em media) demorará até alguém conseguir desempenhar a sua func.ao de urna forma
satisfatória, sem ter um acompanhamento directo?
Equipamento Período
5. DecisSes
Que tipo de decisSes considera serem as mais importantes que toma no decorrer do
seu trabalho e qual a percentagem de tempo dedicada a cada urna?
6. Responsabilidad^
Qual o grau de responsabilidade que tem sobre: dinheiro, seguranza, materiais, ou
outros valores?
análise do trabalho 179
Qual o grau de responsabilidade que tem na relacáo com clientes ou outras pessoas
fora da empresa?
7. Condicoes de trabalho
Que aspectos menos habituáis sobre o seu trabalho e sobre o ambiente que o rodeia
considera que devem ser incluidos na descric, ao da sua fungao? (exemplos: condicoes de
trabalho, horarios, viagens, exigencias físicas, etc.)
8. Actividades irregulares
Que actividades realiza em períodos irregulares ou em momentos muito específicos
(semanalrnente ou mensalmente)?
9. Tarefas
Liste as tarefas específicas que realiza diariamente e a percentagem de tempo dedi-
cada a cada urna (procure utilizar verbos concretos como dactilografar, ordenar, etc.).
Pode acrescentar mais linhas.
180 manual de gestáo de pessoas e do capital humano
T1
T2
T3
T4
T5