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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

CENTRO DE ENSINO À DISTANCIA

Licenciatura em Ensino de História

Valores Culturais da Sociedade Makonde: Caso da Tatuagem do Planalto de Mueda no


Período de 2011-2015

Candidata:

Carlota Henriques

Nampula
2016
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

CENTRO DE ENSINO À DISTÂNCIA

Licenciatura em Ensino de História

Valores Culturais da Sociedade Makonde: Caso da Tatuagem do Planalto de Mueda no


Período de 2010-2014

Monografia Cientifica a ser apresentada na


Universidade Católica de Moçambique – Centro
de Ensino à Distância para obtenção do Grau de
Licenciatura em Ensino de História.

Supervisor: Américo Alberto Capena

Candidata: Carlota Henriques

Nampula
2016
Índice

LISTAS E SIGLAS DE ABREVIATURAS.............................................................................vi

LISTA DE GRÁFICOS............................................................................................................vii

DECLARAÇÃO DE HONRA................................................................................................viii

AGRADECIMENTOS..............................................................................................................ix

DEDICATÓRIA.........................................................................................................................x

Resumo......................................................................................................................................xi

CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO.............................................................................................12
1. Tema.....................................................................................................................................14

1.2. Delimitação do Tema.........................................................................................................14

1.3. Objecto de Estudo..............................................................................................................14

1.4. Justificativa........................................................................................................................14

1.5. Objectivos do Estudo.........................................................................................................15

1.5.1. Objectivo Geral...............................................................................................................15

1.5.2. Objectivos Específicos....................................................................................................15

1.6. Problematização.................................................................................................................16

1.7. Hipóteses............................................................................................................................17

1.7.1. Hipótese Primária............................................................................................................17

1.7.2. Hipóteses Secundárias....................................................................................................17

1.8. Relevância..........................................................................................................................17

CAPÍTULO II: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..............................................................19


2.1. Conceitos Básicos..............................................................................................................19

2.1.1. Valor...............................................................................................................................19

2.1.2. Cultura.............................................................................................................................19

2.1.3. Sociedade........................................................................................................................21

2.1.4. Identidade Cultural..........................................................................................................21


2.1.5. Diversidade Cultural.......................................................................................................22

2.2. Teoria Sobre a Origem dos Makondes...............................................................................23

2.2.1. Origem da Expressão Makonde......................................................................................24

2.2.2. A Fixação dos Makonde nos Planaltos...........................................................................25

2.2.3. A Entidade Cultural dos Makondes................................................................................26

2.2.4. As Marcas no Rosto dos Makondes................................................................................27

2.2.5. Semelhança entre os Makondes......................................................................................28

2.2.6. Os Makondes e a Religião..............................................................................................28

2.3. Ritos Makonde...................................................................................................................30

2.3.1. Rituais de Passagem........................................................................................................31

2.3.2. A Velhice e o Espírito dos Antepassados.......................................................................32

2.4. A Procura da Identidade Makonde....................................................................................33

2.4.1. A Decoração do Corpo....................................................................................................33

2.4.2. As Escarificações e as Tatuagens...................................................................................35

2.4.5.A Arte como Identidade do povo Makonde.....................................................................37

2.4.5.1. Estatuária Tradicional: Período Colonial.....................................................................38

2.4.5.2. Estatuária Moderna......................................................................................................39

CAPÍTULO III: METODOLOGIA DE PESQUISA..........................................................40


1. Tipo de Pesquisa...................................................................................................................40

3.1.1. Quanto aos Objectivos....................................................................................................41

3.1.2. Quanto a Abordagem......................................................................................................41

3.1.3. Quanto aos Procedimentos..............................................................................................42

3.2. Método Indutivo.................................................................................................................42

3.3. Técnica de Colecta de Dados.............................................................................................42

3.3.1. Colecta de Dados Primários............................................................................................43

3.3.2. Colecta de Dados Secundários........................................................................................44

3.4. População e Amostra.........................................................................................................44


3.4.1. População........................................................................................................................44

3.4.2. Amostra...........................................................................................................................44

CAPÍTULO IV: ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS.......................................45


4.1. Questionário Dirigido aos Residentes do Planalto de Mueda............................................45

4.2. Questionário Dirigido aos Funcionários da Casa Cultura do Planalto de Mueda..............48

4.3. Questionário Dirigido aos Régulos de Bairros..................................................................50

4.4. Confrontação das Hipóteses...............................................................................................53

CAPÍTULO V: CONCLUSÃO E SUGESTÕES.................................................................54


Bibliografia...............................................................................................................................57
LISTAS E SIGLAS DE ABREVIATURAS

CED – Centro de Ensino à Distância;

Dra – Doutora;

H – Hipótese;

RTA – Religião Tradicional Africana;

UCM – Universidade Católica de Moçambique.

LISTA DE GRÁFICO
Gráfico 1: Anos de Serviço na Instituição................................................................................45

Gráfico 2: Relação da Tatuagem com a Cultura Makonde.......................................................46

Gráfico 3: Símbolo da Tatuagem Makonde para com a Sociedade..........................................47

Gráfico 4: Motivo das Tatuagens nos Rostos...........................................................................48

Gráfico 5: Traços Característicos da Cultura Makonde............................................................49

Gráfico 6: Abandono das Cultura Maconde na Actualidade....................................................51


DECLARAÇÃO DE HONRA

Declaro por minha honra que este trabalho é o resultado da minha investigação pessoal e das
orientações do meu supervisor. O seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão
devidamente mencionadas no texto, nas referências bibliográficas.

Declaro ainda que este trabalho não foi apresentado em nenhuma instituição para obtenção de
qualquer grau académico.

_____________________________________________
Nampula, aos ____ de _____________de 2016
AGRADECIMENTOS

Endereço os meus agradecimentos ao meu supervisor drAmérico Alberto Capena, pela sua
atenção, paciência e carinho que teve para supervisionar esta monografia;

Dirigido os meus agradecimentos aos docentes da Universidade Católica de Moçambique –


Centro de Ensino à Distância que protagonizaram na edificação da minha formação;

Ainda vão também à minha família e o restante dos colegas do curso, que directas ou
indirectamente comparticiparam nesta batalha profissional, não só, mas também a minha mãe
por me ter apoiado ao longo deste percurso;

Aos meus irmãos pela coragem e dedicação e ajuda que têm me dado no quotidiano desta
nobre tarefa de cada um dos meus passos.

Meu muito obrigado!


DEDICATÓRIA

Cada página, desta monografia dedicoao meu filho.


Resumo

A pesquisa é subordinada ao tema “Valores Culturais da Sociedade Makonde: Caso da


Tatuagem do Planalto de Mueda no Período de 2010-2014”. A escolha deste tema, deveu-se
pelo facto de a pesquisadora ter-se deparado com este fenómeno durante o seu trabalho de
docência naquela comunidade onde constatou diferentes formas culturas daquele povo
sobretudo as marcas tatuadas no corpo, visto que este fenómeno traz grande relevância no
concernente a origem identitária das sociedades. A partir destas constatações formulou-se a
seguinte questão:Até que ponto a tatuagem contribui para a identidade cultural do povo
makonde?Como forma de dar resposta a questão, foram levantadas as seguintes hipóteses: A
tatuagem contribui para a identidade cultural da sociedade como um símbolo que identifica o
povo makonde; A tatuagem contribui para a identidade cultural da sociedade makonde na
aceitação dos costumes ancestrais, sendo as tatuagens as mais objectivas expressões culturais
que simbolizam o conceito de pertença; A tatuagem contribui para a identidade cultural da
sociedade, na medida em que após sujeitas as práticas identitárias, o tatuado torna-se makonde
por assimilação e automaticamente pertence ao clã.Pretende-se com esta, analisar o contributo
da tatuagem makonde como identidade da cultura de um povo. Para tal, tem como objectivos
específicos dentre vários eis: Identificar as razões do uso da tatuagem na cultura
Makonde;Saber os principais traços culturais que caracterizam a cultura Makonde;Verificar o
nível de conhecimentos das populações sobre a tatuagem Makonde como factor de identidade
cultural. A pesquisa é do tipo qualitativa, quanto aos objectivos, ela é, descritiva e quanto aos
procedimentos ela é um estudo de caso. Para a colecta de dados foram utilizadas as técnicas:
observação directa, questionários e consulta bibliográfica para a confrontação com os dados
do campo. Analisados os dados concluiu-se que o resultado deste trabalho é de carácter
sociocultural e académico. Assim, sugere-se: as escolas do Planalto de Mueda abordem a
história local de modo a dar entender aos alunos sobre a história da sua comunidade: Que as
tatuagens sejam vistas como um símbolo histórico-cultural que identificam a pertença de um
povo. O trabalho é composto por cinco capítulos dos quais, Capítulo I: Introdução; Capítulo
II: Fundamentação Teórica; Capítulo III: Metodologia do Trabalho; Capítulo IV: Análise,
Apresentação e Interpretação de Dados; e Capítulo V: Conclusão e Recomendações.

Palavras-Chave: Valor, Cultura, Sociedade, Makonde, Identidade.


CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO

Neste capítulo fez-se menção dos aspectos introdutórios que situam a pesquisa levada a cabo.
É de salientar que os símbolos e práticas culturais dos povos são elementos que os distinguem
na relação entre si, na perspectiva endógena e exógena, e constituem elementos essências de
investigação para os antropólogos culturais, quanto ao conhecimento das populações que
pretendem investigar. O estudo das práticas culturais está também ligado ao conceito de etnia.

Esta monografia, estuda as características sociais e culturais mais marcantes do grupo


Makonde. Pretendeu-se, assim, conhecer e aprofundar as razões da existência e natureza de
certas culturas, principalmente a escarificação e as tatuagens que caracterizam um símbolo
identitário. Portanto, nesta trabalho, focam-se algumas complementaridades como as origens
dos Makondes, hábitos de vida, e saber qual a importância eprevalência dos diversos rituais.

Todavia, as escarificações e as tatuagens, sinais exteriores, com tendência a desaparecer


actualmente, traduzindo com veemência, a forte personalidade e espírito de clã deste povo,
conferiram-lhe sem sombra de dúvida um lugar imperecível na etnologia dos ovos africanos.

O trabalho versa sobre um dos temas que constitui grande importância na actualidade no
concernente aos Valores Culturais da Sociedade Makonde: Caso da Tatuagem do Planalto de
Mueda no Período de 2011-2015, pretendendo concretamente analisar o contributo da
tatuagem makonde como identidade da cultura de um povotendo em conta os reais factores
que condicionam a submeter um individuo ao processo de escarificação.

Para a realização desta pesquisa foi privilegiada as técnicas de observação directa,


questionários e consulta bibliográfica, como principais instrumentos usados na recolha dos
dados para a discussão dos factos vivenciados no campo durante a pesquisa. A metodologia
qualitativa que é a base deste trabalho é caracterizada pelo facto de o pesquisador procurar
aprofundar-se na compreensão dos fenómenos que estuda acções dos indivíduos, grupos ou
organizações em seu ambiente e contexto social interpretando-os segundo a perspectiva dos
participantes da situação enfocada.

Para melhor compreensão o trabalho está organizado sequencialmente em cinco capítulos


nomeadamente: Capítulo I: introdução; capítulo II: fundamentação teórica; capítulo III:
metodologia da pesquisa; capítulo IV: análise, apresentação e interpretação dos dados e
capítulo V: conclusões e sugestões, apêndices e anexos. Cada capítulo contém vários
subtítulos com vista a situar de forma clara e lógica os conteúdos tratados.
1. Tema

A presente pesquisa tem como tema: Valores Culturais da Sociedade Makonde: Caso da
Tatuagem no Planalto de Mueda no Período de 2011-2015.Sabe-se que a identidade cultural
é um conjunto vivo de conexões sociais e patrimónios simbólicos historicamente
compartilhados que constituem a uniformidade de determinados valores entre os membros de
uma sociedade.

1.2. Delimitação do Tema

A pesquisa será realizada no Distrito de Mueda, Província de Cabo Delgado no período


compreendido entre 2011-2015.

1.3. Objecto de Estudo

O presente estudo tem como objecto: O contributo da tatuagem para a identidade da cultura
do povo makonde.

1.4. Justificativa

LAKATOS & MARCONI (2002:103), a justificativa “consiste numa exposição suscita,


porém, completa, das razões de ordem teórica e dos motivos de ordem prática que tornam
importantes a realização da pesquisa”.

Todavia, pretendendo saber qual será o contributo das tatuagens como símbolo de identidade
da cultura Makonde.
As tatuagens no rosto das populações do distrito de Mueda são uma marca dos Makondes,
elas são feitas de uma forma um tanto quanto tradicional, e é exactamente isso que faz dessas
a autora pretende levar a cabo de modo a apurar as reais causas de existência dessas tatuagens,
e qual o significado na cultura da sociedade makonde.

O planalto de Mueda, localiza-se no distrito do mesmo nome, Província de Cabo Delgado


com a sede na vila de Mueda onde a autora desta pesquisa trabalha na mesma como
professora a muitos anos.
Nesta perspectiva, a autora da presente monografia, durante a sua actividade de docente
notabilizou neste período de 2011-2015 que os Makondessão orgulhosos de si próprio, das
suas raízes, tradições e cultura, as marcas no rosto representam um símbolo histórico da sua
etnia e, mas na actualidade alguns dos seus rituais já não tem o rigor e a força de outrora, no
entanto, continuam a ser uma oportunidade de socialização e um meio de ensinar os mais
jovens a preservar e a recriar a cultura dos seus antepassados.

Estudar e investigar a temática dos valores culturais é importante porque é uma das temáticas
que mais atenção tem merecido as análises socioculturais das próprias comunidades. Portanto,
a tatuagem como um factor de identidade da cultura de um povo constitui elementos que o
distingue na relação entre si, na perspectiva endógena e exógena, e constitui elemento
essencial de uma determinada cultura.

Os valores culturais como factor de identidade da cultura são processuais tal como a
sociedade e a unidade nacional da moçambicanidade. Por isso, devem ser alimentadas
quotidianamente por todos e cada um de nós.

1.5. Objectivos do Estudo

De acordo com LIBÂNEO (1994:114), define objectivos como:

Pontos de partida, premissas gerais do ponto pedagógico, representam as exigências


da sociedade em relação a escola, ao ensino, aos alunos e ao mesmo tempo, reflectem
as opções políticas e pedagógicas dos agentes educativos em fase das condições
sociais existente na sociedade.

Portanto, de acordo com o autor da pesquisa sustenta que objectivos são finalidades, metas a
serem alcançadas num determinado trabalho ou acção.

1.5.1. Objectivo Geral

Analisar o contributo da tatuagem makonde como identidade da cultura de um povo.

1.5.2. Objectivos Específicos

 Identificar as razões do uso da tatuagem na cultura Makonde;


 Valorizar os principais traços culturais que caracterizam a cultura Makonde;
 Verificar o nível de conhecimentos das populações sobre a tatuagem Makonde como
factor de identidade cultural.
1.6. Problematização

No período de tráfico de escravos os Makondes submetiam logo à tatuagem forçada e à


intervenção dentária, passando assim a fazer parte do clã, onde poderiam casar e viver em
comum, como todos os outros. Se o escravo do sexo masculino, se casasse com uma
Makonde, como a descendência era por via uterina, os seus filhos eram Makonde e ficavam a
pertencer ao Likola da mãe.

Se o escravo era do género feminino, os filhos não tinham likola, o que os colocava
socialmente numa posição semelhante, aos que tem um filho natural numa sociedade
europeia, nesse caso, eram as marcas que defendiam o Makonde, sendo portanto, pertença
dum grupo identificado como tal. Segundo relatos antigos havia indivíduos Makonde sem
likola própria (tinham likola por adopção), por provirem de um antepassado feito escravo,
através de linhagem de descendência uterina. Às vezes, estes filhos de escravos eram
adoptados por um chefe da povoação e vinham a suceder-lhe, sendo portanto oficializados
como Makonde de pleno direito.

Segundo BARROS (1999:28), ‘’toda a pesquisa tem origem num problema sentido, numa
perspectiva frustrada, numa dificuldade teórica ou frustrada.’’

Baseando-se neste autor, o problema desta monografia, parte logo a prior a pesquisadora notar
as marcas da tatuagem Makonde verificado nos residentes no Planalto de Mueda, distrito do
mesmo nome. Existem muitas provas arqueológicas que afirmam que tatuagens foram feitas
no Egipto entre 4000 e 2000 a.C. e também por nativos da Polinésia, Filipinas, Indonésia e
Nova Zelândia (maori), tatuavam-se em rituais ligados a religião.

A Igreja Católica na Idade Média baniu a tatuagem da Europa (Em 787, ela foi proibida pelo
Papa), sendo considerada como uma prática demoníaca, comummente caracterizando-a como
prática de vandalismo no próprio corpo, afirmando em sua doutrina como maneira de
vilipendiar o templo do Espírito Santo, o corpo, levando seus fiéis a uma forma
verdadeiramente recta de louvor a Deus.

Analisado este facto, constatou-se o seguinte problema: Até que ponto a tatuagem contribui
para a identidade cultural do povo makonde?
1.7. Hipóteses

RUDIO (1999:97), observa que, “Hipótese é uma suposição que se faz na tentativa de
explicar o que se desconhece. Esta suposição tem por características o facto de ser
provisória, devendo, portanto, ser testada para verificar sua validade.”

Segundo GIL, (1999:56) “hipótese é uma suposta resposta a ser investigada. E uma
proposição que se forma e que será aceite ou rejeitada somente depois de devidamente
testada”

Este posicionamento dá a ideia de que hipótese é um prognóstico que o pesquisador faz sobre
aquilo que vai pesquisar e que de certa forma, pode ou não ser aceite dependendo das
circunstâncias enfrentadas no terreno.

Assim, consideram-se hipóteses desta pesquisa, as seguintes:

1.7.1. Hipótese Primária

A tatuagem contribui para a identidade cultural da sociedade como um símbolo que identifica
o povo makonde;

1.7.2. Hipóteses Secundárias

H 1:A tatuagem contribui para a identidade cultural da sociedade makonde na aceitação dos
costumes ancestrais, sendo as tatuagens as mais objectivas expressões culturais que
simbolizam o conceito de pertença.

H 2:A tatuagem contribui para a identidade cultural da sociedade, na medida em que após
sujeitas as práticas identitárias, o tatuado torna-se makonde por assimilação e
automaticamente pertence ao clã.
1.8. Relevância

A presente Monografia de pesquisa científica está centrado nos valores culturais da sociedade
makonde como símbolo de identidade da cultura de um povo sendo as tatuagens as mais
expressivas. Portanto, este tema é de grande relevância no âmbito social, pois assenta-se na
falta de conhecimentos da cultura de um povo perante a sociedade. Que com este estudo,
poderá dinamizar o conhecimento sobre a tatuagem como símbolo de identidade dos valores
culturais da sociedade makonde.

Entretanto, cada sistema cultural tem a sua própria lógica, e não passa de um acto primário do
etnocentrismo tentar transferir a lógica de um sistema para outro, considerando lógico apenas
o seu, e atribuindo aos demais, um alto grau de irracionalidade. A coerência de um hábito
cultural somente pode ser analisada a partir do sistema a que pertence, pois cada cultura
ordenou a seu modo o mundo que a circunscreve.

No concernente ao mundo académico, é de salientar que esta, insere-se na decifração e


reconstrução da história da cultura moçambicana partindo do conhecimento de ver o mundo,
as apreciações de ordem moral e valorativa, os diferentes comportamentos sociais e mesmo as
posturas corporais, são exemplos que adquirimos com a herança cultural e que permite sermos
facilmente identificados.

Portanto, o estudo da tatuagem makonde traz conhecimento, prazer, e diversos bens que para
as pessoas tem grande relevância.

Na nova geração, seja nos seus vários segmentos, percebe-se que muitas vezes se faz um
julgamento precoce dos indivíduos, apenas por considerar errado alguns aspectos culturais
existentes em sua cultura, não sabendo diferenciar e nem respeitar que tais factos mesmo não
sendo considerados correctos, pertencem àquela determinada cultura e que isto não o torna
irracional, mas sim, diferente.

É neste contexto que a tatuagem makonde irá contribuir para nova geração a ter
conhecimentos de que a cultura faz parte da totalidade de uma determinada sociedade, nação
ou povo. Essa totalidade diz respeito a tudo que configura o viver colectivo. São os costumes,
os hábitos, a maneira de agir, de pensar, as técnicas que ao serem utilizadas levam ao
desenvolvimento e a interacção do homem com a própria natureza, tudo o que diz respeito a
essa sociedade.
CAPÍTULO II: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Neste capítulo a autora da presente monografia apresenta a fundamentação teórica e a


respectiva confrontação com o tema, nisto, começa apresentando os autores e os conceitos
básicos.

Para a sustentação teórica constituíram obras de referência as seguintes:

2.1. Conceitos Básicos

2.1.1. Valor

Para a autora da pesquisa entende o termo valor crenças que fazem parte da cultura de um
povo e que ajudam esse povo a viver em harmonia e interpretar melhor o mundo que lhe
rodeia.

Valor é uma relação de não-indiferença entre o homem e os elementos com que ele se
defronta. Eis porque o valor pode ser positivo ou negativo. Na relação de não-indiferença
temos a atitude de valoração. Assim, uma situação compreende uma multiplicidade de
elementos que, em si mesmos, não valem nem deixam de valer, simplesmente são, estão aí.
Mas quando se relacionam com o homem, passam a ter significado, passam a valer e isto nos
permite entender o valor como uma relação de não-indiferença. Podemos, pois, afirmar que o
homem é o lugar único da valorização, (SAVIANI, 2000:19).

2.1.2. Cultura

ROCHA (1984:187), que a cultura “é uma série de itens identificáveis, unitários, separados, mas
que formam um todo complexo. Que a mudança nas sociedades se daria pela invenção,
consequência do aperfeiçoamento do “eu” demaneira que por trás do ser “civilizado”, fôssemos
séries de homens até o seu irmão mais primitivo”..

Segundo GIDDENS (2005:87), “a cultura de uma sociedade compreende tantos aspectos


intangíveis: as crenças, as ideias e os valores que formam o conteúdo da cultura, como
também aspectos tangíveis os objectos, os símbolos ou a tecnologia que representam esse
conteúdo”.
Para FERNANDES (1988:126) apud TAYLOR (1871), define a cultura como sendo “um
conjunto que compreende os conhecimentos, as crenças, a arte, a moral, as leis, os costumes e
outras capacidades e usos adquiridos pelo homem enquanto membro de uma sociedade”.

Portanto, em antropologia e sociologia, a cultura consiste na própria sociedade, enquanto esta


oferece as pessoas e ao grupo padrões de conduta. Ela concerne assim toda a vida social na
medida em que abarca os seus sistemas de ideação, de representação e de expressão, os seus
sistemas éticos e os seus referenciais para a acção. Dá deste modo sentido ao mundo e à
história, à natureza e ao homem, ao trabalho e ao lazer, às limitações e as aspirações de
liberdade, à satisfação e à esperança à vida e a morte, ao presente e ao futuro.

Nas diversas culturas, essas dimensões podem assumir significações diferentes, de acordo
com a hierarquia de valores nelas dominante. Mediante as representações mentais cada
sociedade elabora uma imagem de si mesma. Deste modo a vida humana recebe da cultura o
seu sentido e a sua orientação.

Ainda com FERNANDES (1988:18), “é a cultura que oferece a totalidade de sentido e que
confere a autentica finalidade de existência”. Por outras, palavras, é ela que, clarificando a
quotidianidade, permite ao homem através de representações vividas, descobrir-se como ser
os outros no mundo, isto é, enquanto ser ao mesmo tempo individual e social, e unificar os
seus anseios pessoais em projectos colectivos.

As culturas tradicionais, enquanto, por um lado, aparecem profundamente unificadas, por


outro lado tende desempenhar o papel de regulação e de controlo da vida social. Elas integram
na medida em que oferecem aos indivíduos, aos grupos e as instituições sociais as
justificações de que carecem.

A cultura aparece tanto mais unificada quanto mais também os valores, que são os seus
núcleos principais da integração, se apresentam hierarquizados. Nas sociedades tradicionais
ela assenta em valores considerados como essenciais e centrais, que actuam como princípio
organizador e exercem uma função reguladora dando fundamento às normas, legitimando os
saberes e enformando a vida. Assim configurada, ela assegura a coerência toda a trama social,
tanto na sua acção material como na sua função fabuladora e de representação.

Na sua expressão mais acabada, essas culturas encontram a sua forma apropriada nas
sociedades sacrais. Em tal situação histórica, os valores religiosos, que cimentam os
sistemasde relação e apontam o destino aos homens aparecem no mesmo tempo como
fundadores, legitimadores e unificadores.

2.1.3. Sociedade

BERGER & LUCKMAN (2004:32), “a sociedade é um produto humano, a sociedade é uma


realidade objectiva e o homem é um produto social”.

Para MARTINS (2012:229), “a sociedade é identificada como um espaço no qual ocorrem


relações de forças políticas e económicas e múltiplas formas de dominação e exploração
humana. O conceito de sociedade expressa uma das categorias universais que causam
profundo desgosto intelectual aos pós-modernistas”.

Portanto, a sociedade pode ser vista como um grupo de pessoas com semelhanças étnicas,
culturais, políticas e/ou religiosas ou mesmo pessoas com um objectivo comum. As
sociedades humanas são formadas por entidades populacionais cujos habitantes e o seu
entorno se inter-relacionam num projecto comum que lhes outorga uma identidade de
pertença. O conceito também implica que o grupo partilhe laços ideológicos, económicos e
políticos.

2.1.4. Identidade Cultural

O exterior exerce um importante papel na formação de nossa identidade, que está presente no
nosso imaginário e é transmitida, fundamentalmente, por meio da cultura. A identidade é o
que nos diferencia dos outros, o que nos caracteriza como pessoa ou como grupo social. Ela é
definida pelo conjunto de papéis que desempenhamos e é determinada pelas condições sociais
decorrentes da produção da vida material.

Portanto, falar da identidade cultural refere-se ao sentimento de pertencimento a uma cultura


nacional, ou seja, aquela cultura em que nascemos e que absorvemos ao longo de nossas
vidas. Ressaltamos aqui, que esta identidade não é uma identidade natural, geneticamente
herdada, ela é construída. Segundo HALL (1999: 50), “uma cultura nacional é um discurso,
um modo de construir sentidos que influencia e organiza tanto nossas acções, quanto a
concepção que temos de nós mesmos”.

Ainda com o autor em alusão, a identidade muda de acordo com a forma como o sujeito é
interpelado ou representado, ela não é automática. Ele apresenta-nos três concepções de
sujeito e suas respectivas identidades: o sujeito do Iluminismo, o sujeito sociológico e o
sujeito pós-moderno.

Para CANCLINI (2005:25), “a identidade cultural é um conjunto vivo de relações sociais e


patrimónios simbólicos historicamente compartilhados que estabelecem a comunhão de
determinados valores entre os membros de uma sociedade”.

As identidades são construídas reflexiva e auto-reflexivamente, portanto, produtos contextuais


que são definidos pelas diferentes categorias que esse mesmo indivíduo os tenta. As
identidades, por conseguinte, são processos de exclusão, inclusão, integração diferenciação,
com e contra.

2.1.5. Diversidade Cultural

A diversidade cultural são diferenças culturais que existem entre o ser humano. Há vários
tipos, tais como: a linguagem, danças, vestuário, religião e outras tradições como a
organização da sociedade. A diversidade cultural é algo associada à dinâmica do processo de
aceitação da sociedade. Pessoas que por algumas razões decidem pautar suas vidas por
normas pré-estabelecidas tendem a esquecer suas próprias idiossincrasias (Mistura De
Culturas). Por outras palavras, o todo vigente impõe-se às necessidades individuais. O
denominado "status quo" deflagra natural e espontaneamente, e como diria Hegel, num
processo dialéctico, a adequação significativa do ser ao meio. A cultura insere o indivíduo
num meio social.

O termo diversidade diz respeito à variedade e convivência de ideias, características ou


elementos diferentes entre si, em determinado assunto, situação ou ambiente. Cultura (do
latim cultura, que significa cultivar o solo, cuidar) é um termo com várias acepções, em
diferentes níveis de profundidade e diferente capacidade de agir. São práticas e acções sociais
que seguem um padrão determinado no espaço/tempo. Referindo-se a crenças,
comportamentos, valores, instituições, regras morais que permeiam e "preenchem" a
sociedade. Explica e dá sentido a cosmologia social, é a identidade própria de um grupo
humano em um território e num determinado período, (FURTADO, 2014:6-7).
2.2. Teoria Sobre a Origem dosMakondes

Existem duas teorias básicas sobre a origem dos Bantu, dos quais descende ogrupo étnico
posteriormente designado Makonde. A primeira teoria, indicava que um grupo/linguístico do
Sueste da Nigéria era o mais próximodas restantes línguas Bantu. Este autor supunha que uma
dessas línguas se teriaespalhado para Sul e Leste, ao longo de centenas de anos. Outra teoria
diz que várias línguas Bantu eramas da Zâmbia e Sul da actual República Democrática do
Congo, propondo, como teoriaalternativa, dever ser esta região a originária dos Bantu. Esta
teoria é apoiada por fontesNorte-Africanas e do Médio Oriente que, porém, não falam da
existência de Bantu aNorte de Moçambique, antes do ano 1000 (GUTHRIE, 1948:87)..

Hoje em dia, é priorizada uma síntese daquelas duas teorias: assim os Bantuteriam tido
origem na região dos rios Benue-Cross, no Sueste da Nigéria e, terãoemigrado, primeiro, para
a região actualmente designada Zâmbia.

Por volta do segundo milénio a.C., provavelmente impelidos pela desertificaçãodo Sahara,
foram forçados a espalhar-se, numa primeira fase pelas florestas tropicais daÁfrica Central.
Cerca de 1000 anos mais tarde, iniciaram uma segunda fase deexpansão, mais rápida, para as
savanas da África Austral e Oriental.

Na terceira fase estes povos tinham alcançado o actual Zimbabwe e a África doSul, onde se
estabeleceu o primeiro grande império do hemisfério Sul e que teve comocapital o Grande
Zimbabwe e que controlou as rotas de comércio desde a África do Sulaté ao Zambeze e o
ouro, cobre, pedras preciosas, marfim e instrumentos de metal queeram trocados com os
comerciantes árabes da zona litoral (VANSINA, 1995:108).

Persiste a incerteza quanto às origens da população do planalto de Mueda, estaimprecisão tem


sido motivo de muitas teorias e de várias explicações. Segundo algunsestudiosos trata-se de
gente que emigrou dos Grandes Lagos, vindo a fixar-se na regiãodo planalto devido às
condições propícias para a agricultura, também a existência dechuvas regulares, temperaturas
amenas e ausência de mosquitos, são razões que podemser convincentes.

De acordo com o historiador moçambicano Yussuf Adam, os Makonderepresentam apenas


um grupo de escravos Ajauas fugitivos. Num aspecto todosconcordam, reconhecem os
Makonde sem qualquer dúvida, como descendentes dosBantu.
Para FERREIRA (1975:259) “os makondes afirmam que quando chegaram aos planaltos,
estes estavam desabitados, mas ignoram se as baixas estavam ou não povoadas”

Alguns Makonde, ainda hoje,mencionam que seus avós falavam na existência de homens
anões. Mas ignoravam ondee como viviam, apenas garantindo que habitavam fora do
planalto. Julga-se que estepovo apresenta traços culturais com os povos do Sul do Zaire, e
com os Chewa, quehabitam as margens do lago Niassa. Refere a tradição oral que a origem
deste povoentronca no citado lago, pelo que se pode ligar ao grupo Marave que em
dataindeterminada migraram ao longo do rio Lugenda até à confluência com o rio Rovuma.

Este povo acabou por se fixar na área de Negomano e os indivíduos que posteriormente se
alojaram nos planaltos passaram a designar-se Makonde, em consequência das características
do lugar.

2.2.1. Origem da Expressão, Etimologia da PalavraMakonde

Os Makonde da Tanzânia chamam Mavia (Maviha) aos de Cabo Delgado, nãolhes


reconhecendo o direito à designação de Makonde. Estes explicam que o nomeMavia lhes foi
posto por reagirem brutalmente, usando logo a catana, quando alguém osofendia. É evidente
que estas distinções são meras expressões de etnocentrismo, que emnada contrariam a origem
cultural básica deste povo. Contudo, o nome Mavia (ouMawia, Mabiha, Maviha) foi usado
pela grande maioria de autores estrangeiros que sereferem aos Makonde de Moçambique.
Makonde designa os habitantes do planaltodeste nome, ao Norte e ao Sul do Rovuma, e os
povos da mesma cultura, que seestendem pelas terras baixas cortadas pelo Messalo (Mwalu) e
pelo Rovuma, ou por aquelas que se estendem para o litoral ou para ocidente. Por sua vex os
makonde do sul chamam Wamakonde aos do norte do Rovuma.

Contudo, os habitantes do planalto Makonde estabelecem uma distinção entre os Makonde


das terras altas, e os das terras baixas. Para eles, os Makonde que habitam os vales e planícies,
são conhecidos pela designação de Vandonde.

Os Makonde do planalto de Mueda reclamam para si o exclusivo da identidade Makonde, pois


de acordo com a identificação de lugar, vivem numa região fértil mas sem água. Habitam
Kumakonde, sendo portanto Vamakonde. Kumwalo, Kumakonde, Kundonde, Kumanga,
Kuluma são proposições de lugar, pelo que os Makonde do planalto identificam os elementos
do seu grupo étnico de acordo com o lugar onde estão. Aos habitantes do planalto da
Macomia e regiões até ao rio Messalo chamam Vamwalo porque vivem Kumwalo, visto que
no idioma Shimakonde, Messalo chama-se Mwalo e a região sofre a influência geográfica do
rio.

Os membros da mesma etnia, mas que vivem nas zonas baixas do planalto (terras baixas), são
designados por Vandonde porque habitam Kudonde, “Terra onde há pedras”. Os que vivem
nas zonas baixas do Rovuma são designados por Valuma porque habitam Kuluma, isto é, o rio
em Shimakonde é Luma. Os que habitam no litoral marítimo são conhecidos por Vamanga,
visto que vivem Kumanga, porque às zonas baixas do litoral Índico, os Makondes chamam-
lhes Manga, (ROSEIRO, 2013:44-45).

Ainda com o mesmo autor, diz que a designação Makonde só pode ter começado a ser
usadadepois de um grupo de indivíduos se ter fixado no planalto de Mueda, seja qual for asua
origem. Sabemos, pois, que Makonde refere-se a um certo tipo de paisagem efecundidade da
terra, tornando-se a identificação do indivíduo que a habita. Makondeescrito com K significa
terra fértil, (KumakondeKukondaVinu) portanto: terra dosMakondeKukundaVinu.Postas estas
diferenças, independentemente das particularidades atrás expostasrelacionadas com o lugar de
habitação, neste trabalho usaremos a designação deMakonde para nos referirmos a todos os
membros desta etnia.

2.2.2. A Fixação dos Makonde nos Planaltos

A permanência nas planícies não foi fácil nem pacífica, talvez por dois motivos, o primeiro,
terá sido devido às frequentes guerras travadas com os Maviti e os Angóni, também eles de
origem etnolinguísticabantu, em segundo, devido a prováveis alterações climáticas por altura
das migrações, em que a seca foi intensa e perdurou por vários anos, a ponto dos rios secarem,
da terra não produzir os recursos que necessitavam e da caça abandonar o território. É
provável que isso tivesse acontecido, não é todavia argumento que convença, pois deve ter-se
em linha de conta, que outros povos teriam também subido em massa às terras altas e aqui
fala-se dos Macua, Mantanbwé, Yao, Agoni, entre outros, que, se assim não fosse, teriam
sucumbido a essas alterações climatéricas. Não se sabe se os Makonde exploraram primeiro o
planalto, ou como obtiveram a certeza, de que este era habitável e possuidor de condições
climatéricas favoráveis e haver terras férteis. (ROSEIRO, 2013:48).
No refúgio dos planaltos, rodeados de inimigos, os Makonde imprimiam extrema violência na
defesa do seu espaço, não dando qualquer hipótese a que alguém ali penetrasse, fazendo assim
jus à lenda - invencíveis e temerários, no seu território e fora dele.

2.2.3. A Identidade Cultural dos Makondes

Para ROSEIRO (2013:44), “A grande identidade dos traços culturais dos Makonde com
alguns dos gruposoriundos da antiga Rodésia, Congo, Lunda e Libéria parece ser prova
suficiente de umpassado remoto comum, numa época em que, ainda unidos, iam dirigindo os
seuspassos para leste”.

Durante longos séculos, no continente africano, a região subsariana permaneceu na sombra da


história e os povos desconhecidos numa constante deambulação. Por certo uma consequência
da eterna luta pela sobrevivência (tantas vezes esquecida), principalmente pela falta de
registos irrefutáveis e memórias inquestionáveis. Estes povos durante as longas marchas pelo
continente, foram obrigados a adaptar-se a circunstâncias novas, inclusivamente a adquirir
novas técnicas alimentares, para sobreviverem em ambientes naturais diferentes, assim, estes
grupos com um ponto de origem comum, foram-se fragmentando e diferenciando.

Durante os confrontos com os Ajaua, os Makonde levaram sempre a melhor, não só pela sua
agressividade frente ao inimigo, mas sobretudo, pela magnífica posição geográfica defensiva
em que se encontravam, protegidos por escarpas a Norte, Sul eOeste, e por matagal espesso,
espinhoso e impenetrável a Este. Tirando partido das condições naturais, escondiam as suas
aldeias nos locais mais densos da floresta, criando os carreiros de acesso estreitos, sinuosos,
labirintos, onde os intrusos se perdiam neste emaranhado espinhoso das veredas. O mato
cerradíssimo servia de protecção, mas para maior segurança, todas as aldeias eram lugares
fortificados, cercados por paliçadas com uma ou duas entradas que à noite eram trancadas.
Além disso, por entre o mato que os cercavam, abriam fossos, dentro dos quais colocavam
estacas pontiagudas e disfarçadas, com ramagens. Estas eram armadilhas extremamente
perigosas e também uma das técnicas muito usadas na caça grossa.

É muito provável que nessa altura os Makonde tivessem, pela sua intervenção, contribuído
para a dispersão dos Ajaua. É até possível admitir que os ataques atribuídos aos Macua se
devessem de facto aos Makonde. Não sendo o objectivo deste trabalho a investigação da
ocupação deste território de Cabo Delgado por outros povos que não os Makonde, apenas se
referem alguns, por entendermos ser importante a sua referência, para melhor se avaliar o
carácter deste povo. Foram os Gwangara e os Maviti (e Angóni) que mais influenciaram as
populações do vale do Rovuma, com as suas constantes investidas, aniquilando e
desorganizando as populações que aí se fixaram.

Assim, alguns grupos foram mesmo exterminados ou dispersos. Os Matambwé que


constituíam em 1866, um grupo numeroso, estendendo-se as suas aldeias por uma vasta área,
estavam praticamente dizimados em 1882, quando Chauncy Maples passou com a sua
expedição através desta região (MAPLES, 1897:57).

Portanto, a unidade dos Makonde é simplesmente de natureza cultural e isso verifica-se na


facilidade com que antigamente aceitavam os estranhos que viessem por bem, e que se
quisessem fixar, assumindo a identidade Makonde. Estes distintivos identitários eram também
aplicados aos escravos capturados de ambos os sexos, mesmo às crianças, excepto aos que
eram vendidos no comércio esclavagista.

2.2.4. As Marcas no Rosto dos Makondes

Segundo ROSEIRO (2013:53), “A identidade cultural dos Makonde reflecte-se na aceitação


dos costumesancestrais, sendo as tatuagens, a escarificação, a mutilação dentária e a ndona, as
maisobjectivas expressões culturais. Estes sinais, além de identitários, simbolizam também
oconceito de pertença”.

Antigamente, os Makondes davam muita importância à sua aparência e às marcas exteriores


dasua cultura. Era raríssimo ver um adulto com mais de 30 anos que não fosse tatuado,hoje
constatamos que os vestígios dessas práticas, apenas se encontram em pessoasidosas, a partir
dos 60 anos.

O indivíduo Makonde é dotado de uma consciência perfeita de comunidade, decultura e das


suas relações com outras culturas aparentadas, porque quando usam apalavra likola para
designarem povo, que em sentido restrito, quer dizer matrilinhagemou linhagem materna.

Assim, para identificarem um indivíduo que não conhecem,perguntam “Wakolikolanchani?”


ou “Wakolikabilanchani” que quer dizer: “ você, deque Likola é? Ou de que tribo és?
Makonde? Macua?”. E embora não tenhamreminiscências claras de uma origem comum, em
relação a outras culturas étnicassemelhantes aceitam que num passado remoto pudessem ter
estado ligados e que teriampertencido à mesma likola, não revelando, todavia, qualquer
preocupação emaprofundar o conhecimento sobre essa provável descendência comum.
A pele dos makondes, transpiram orgulho, os sinais marcados emsi próprios são elementos
diferenciadores dos outros grupos, identificam e significamque têm um grupo de pertença e
que esta não se faz apenas pela linha sanguínea.

De facto, as mulherese crianças, depois de sujeitos às práticas identitárias, tornavam-se


Makonde porassimilação. Assim, após marcadas pelos sinais da cultura tradicional, passavam
apertencer ao clã.

2.2.5. Semelhança entre os Makondes

Os Makonde das zonas baixas tiveram um maior contacto com os outros povos, contacto esse
que deu lugar a uma maior miscigenação. Muitos dos que emigraram e se radicaram no
Tanganica e mesmo os que não conhecem as tradições relativas às origens do seu povo,
entendem que os Makonde dos dois lados do Rovuma e os Andonde são seus parentes.

No entanto, a língua (Shimakonde) é praticamente a mesma e embora existam algumas


diferenças, no entanto percebem-se perfeitamente e muitos dos seus costumes são
semelhantes aos Andonde (Vandonde) que habitam as margens do Rovuma e as regiões de
Mocimboa da Praia, Nangade e Mocimboa do Rovuma. Para lá do idioma, há certos hábitos
deste povo, situado de um lado e do outro do Rovuma, que são semelhantes. Exemplo disso
são o uso do botoque (ndona) do lábio superior, embora a ndona dos Andonde seja diferente
da dos Makonde do sul do Rovuma, porque é maior e de cor branca, semelhante às que usam
algumas mulheres Makonde do Tanganica, (ROSEIRO, 2013:54-55).

2.2.6. Os Makondes e a Religião

A religião, tal como a magia, decorrem de situações que originam tensão emocional tais como
“crises da vida, lacunas emobjectivos, morte e iniciação nos mistérios tribais, infelicidade no
amor e ódio nãomitigado. Tanto a magia como a religião permitem escapes para tais situações
eimpasses, e só proporcionam uma saída empírica, passando pelo ritual e pela crençapara o
domínio do sobrenatural, (MALINOWSKY, 1990:88).

Embora religião e magia possam ter a mesma origem, elas diferenciam-se na prática.
Enquanto a técnica da magia é muito própria, limitada e circunscrita ao feitiço, rito e estado
do praticante, a religião é algo muito mais complexo, tanto nas técnicas como nos objectivos.
Enquanto na magia o poder reside no homem (mágico ou feiticeiro que a exerce) para que se
obtenha os efeitos desejados, na religião o poder encontra-se na fé no sobrenatural,
envolvendo dogmas e crenças inquestionáveis para quem a prática.

No colóquio internacional de Abdijam em 1961 e em seu lugar propuseram a designaçãpo de


Religião Tradicional Africana (RTA) os motivos foram:Negativamente: o termo animismo
implica um juízo pejorativo; é impreciso, não tem nenhum significado para qualificar
devidamente as religiões africanas;Positivamente: as RTA são autênticas religiões naturais e
tradicionais dos povos da África Subsariana; encontramos nelas um corpo de verdade (fé num
ser supremo e criador), os antepassados são intermediários e intercessores; rituais e
cerimónias para as quais diversas circunstâncias; os responsáveis pelos rituais ea comunidade
que celebra e reza, (MARTINEZ, 2007:22).

Nesta perspectiva dá a entender que os Makonde são tendencialmente animistas e ou adeptos


da RTA embora uma grande parte significativa da população, tenha aderido ao cristianismo.
Os conceitos animistas convivem com alguma harmonia, com os ensinamentos cristãos, sendo
portanto uma relação profícua, tendo resistido, em larga escala, à penetração do islamismo,
sendo, todavia, sensível ao cristianismo abordado por novas seitas religiosas.

Eles acreditam num criador único ou divindade suprema - é uma divindade longínqua, que
criou o mundo e se distanciou dele, deixando a administração a seus filhos, divinizados, que
são ancestrais fundadores de linhagens. Por isso, essa divindade ou deus único só raramente é
objecto de culto colectivo, geralmente reservado às divindades secundárias, espíritos
ancestrais. São estes que fazem o elo entre os homens e o deus único, criador de tudo o que
existe no mundo Bantu, (ROSEIRO, 2013:61).

Costuma-se reduzir e simplificar as religiões dos povos Bantu pelo culto dos ancestrais. Essa
energia ou força vital, cuja fonte é o próprio deus criador, é distribuída, em ordem
decrescente, aos ancestrais e defuntos que fazem parte do mundo divino; em seguida ao
mundo dos vivos, numa relação hierárquica, começando pelos chefes de aldeias, de linhagens,
pais e filhos e finalmente, ao mundo animal, vegetal e mineral.

Trata-se de uma visão antropocêntrica, na qual o homem constitui o centro e o interesse maior
de toda a obra de Deus. A força vital explica a existência da vida, da doença e da morte, do
sofrimento, da depressão ou fadiga, de qualquer injustiça ou fracasso, da felicidade, da
riqueza, da pobreza, da miséria, entre outros (ERIKSON, 1990:87).
Contudo, os Makonde não fogem à pressão dos novos interesses económicos que se espalham
por todo o território de Moçambique, bem como dos novos cultos religiosos emergentes e
também ali procuram a sua difusão.

2.3. Ritos Makonde

Os rituais nos Makonde acontecem durante as mudanças mais significativas pelas quais
passam em suas vidas: nascimento, entrada na vida adulta, casamento e morte.Em muitas
outras sociedades, não africanas, aparentemente sem tradição iniciática, estes quatro
acontecimentos, são marcados por rituais seculares ou religiosos, sendo entendidos como a
concepção circular da vida.

Os rituais da puberdade e outros rituais de passagem simbolizam, por parte do indivíduo, a


aceitação das crenças, costumes e normas da comunidade. Ao submeter-se às provas, o
indivíduo dá o seu assentimento à tradição.

Até mesmo entre os Makonde, não se fala abertamente dos aspectos mais privados dos rituais
de iniciação. Circuncisão, escarificações, exposição prolongada ao frio ou ao calor, resistência
a provas físicas, cicatrizes de combates ou tatuagens resultantes dos ritos de iniciação,
possuem um carácter bastante emblemático, da transição entre o jovem e o adulto nas
sociedades tradicionais. Estes rituais parecem encerrar em si um quê de tortura cruel, gratuita,
desnecessária, a quem não pertence ao grupo.

No entanto, simbolizam também o reconhecimento social do indivíduo e a sua integração no


grupo – dos homens, das mulheres. É como se lhe dissessem: “agora és um de nós”, “agora
podes viver (caçar, pescar, comer, conversar de igual para igual, casar, etc.) connosco”,
(ROSEIRO, 2013:63).

Para GENNEP (1978:26), “as sociedades menos evoluídas são aquelas em que o mundo
sagrado se sobrepõe ao profano, dada a natureza essencial dos ritos, a religiosa e o facto de o
indivíduo pertencer a uma sociedade configura a obrigatoriedade das passagens de uma
sociedade a outra, ou de uma situação social a outra”.
2.3.1. Rituais de Passagem

São funções dos rituais manter a cultura integrada e estabelecer ligações com o passado dos
indivíduos envolvidos, para que eles possam reviver determinadas experiências já vividas por
seus antepassados.

Os rituais são, compostos por dois mecanismos estruturais básicos de funcionamento: a


fragmentação e a repetição. Os rituais, executados repetidamente, conhecidos ou
identificáveis pelas pessoas, concedem uma certa segurança. Pela familiaridade com as
sequências nos rituais, sabemos o que vai acontecer, celebramos nossa solidariedade,
partilhamos sentimentos, enfim, temos uma sensação de coesão social. Sem a repetição dessas
experiências, muitos significados poderiam ser esquecidos com o decorrer do tempo. Ao se
repetirem, mantêm e estabelecem uma coerência dentro da cultura e ao mesmo tempo ajudam-
na a funcionar harmonicamente (LÉVI-STRAUSS, 1971:91).

Os rituais de iniciação, mais do que uma cerimónia, são o marco mais importante da vida do
Makonde. Constituem um período de provação e promoção, em que o iniciado passa a ser um
elemento válido na comunidade. Só depois de integrado, será mais uma peça pertencente ao
corpo e espírito da aldeia. Trata-se de uma lei imutável, que ninguém discute e todos
respeitam, não devendo ser profanada, nem sequer pela inconfidência, para com os estranhos
aos clãs.

A iniciação parece-se em muitos aspectos com um 'sacramento' que põe em contacto como
transcendente, quer porque lhe revela parte do sagrado (o iniciado conhece os mistérios), quer
porque sacraliza o homem.A iniciação é, portanto, a “forma sintética dos ritos de passagem,
por meio dos quais ela opera”. Mas a iniciação é mais do que simplesmente um rito de
transição, ela é um rito de formação. Esta formação vai diferenciar os participantes ou o
círculo dos neófitos dos “de fora”, daqueles exactamente não-iniciados. Numerosas iniciações
contam com ritos de inscrição nos corpos de marcas, signos visíveis da formação e
transformação de nova identidade (escarificações, circuncisões, modificação do formato dos
dentes, perfurações no nariz ou lábios etc.) (BOURDIEU, 1986:115).

Contudo, os Makonde, assim como muitos outros povos, dãomuita importância aos rituais de
passagem, sendo os mais importantes os de iniciaçãomasculina e feminina. Intimamente
ligado aos rituais de iniciação masculina está oMapiko, tal como o Lingundunbwe está para o
feminino.
2.3.2. A Velhice e o Espírito dos Antepassados

A velhice apresenta-se como um assunto não contornável. Para a maior parte das culturas pré-
industriais o último capítulo da vida está associado à resignação diante do inevitável: perda de
poder, impotência sexual, queda da saúde e vitalidade e perda do status familiar e social. O
termo terceira idade (do original francês, troisième age) foi criado no século XX, em França.
O termo generalizou-se um pouco por todo o mundo e serve para designar pessoas que
chegaram à velhice. No entanto, a percepção do “papel dos velhos” nas dinâmicas familiares e
sociais, não é homogénea, (ROSEIRO, 2013:120).

Portanto, entre os Makonde, a velhice é considerada como biblioteca. O nangolo é sempre a


pessoa mais respeitada, sabe tudo, tem mais experiência, tem mais poder.Apesar de o
Makonde trabalhar até muito tarde, chega logicamente um tempo, em que a velhice acaba por
vencer e o homem idoso deixa de poder trabalhar. É de assinalar que entre esta gente, os
velhos não são considerados um fardo, longe disso, as suas opiniões são sempre pedidas e
respeitadas.

Os velhos Makonde são venerados pelos mais novos, para além do que eles possam
representar na sociedade, respeitam-nos, principalmente, porque são “os mais velhos.”

À medida que aumenta a expectativa de vida e cresce o percentual de pessoas idosas, elas
deixam de ser os depositários da “Memória” da experiência ou conhecimento, deixam de ser a
“biblioteca” porque passaram a ser muitos, ao mesmo tempo que cresce a sabedoria entre os
mais novos. Tem sido observado uma mudança radical no significado do envelhecimento e na
maneira de ver os idosos (SILVA, 2008:24).

Todavia, os Makonde consideram os idosos como garante dos costumes e do saber, sendo
figuras de referência na sociedade étnica e as conversas com eles, curiosamente calmos e
tranquilos, confrontam-se com a agressividade de outrora e a “esperteza” de muitos jovens,
agora em luta pela sobrevivência.

As sociedades criam mitos e estabelecem ritualidades, sejam em clãs, tribos ou estados e que
desempenham papéis úteis, fundamentais, na compreensão dessas sociedades: “talvez os
mitos sirvam como uma espécie de “ciência”, que explica por que o mundo é como é, por que
há homens e mulheres, como foi criado o fogo, os fenómenos da natureza e assim por diante”.
São os velhos que melhor mantêm, reproduzem e constroem os mitos e eles sabem da função
do mito na conservação das tradições e identidade cultural. Os velhos são os reprodutores da
história, são eles que os jovens escutam e com eles aprendem os segredos da vida.

2.4. A Procura da Identidade Makonde

Durante o trabalho de campo, foi possível notar que os dentes afilados e as tatuagensdefinem
o Makonde, em oposição aos não Makonde, sobretudo em relação àspopulações Macua
espalhadas nas regiões. Estas marcas conferiam aos Makonde adiferença e davam-lhes
também a imagem de aguerridos, fortes, e pouco dispostos a brincadeiras, que não convinha,
de forma alguma, hostilizar.

Os Makondes tiveram contacto, uns comos outros, essas evidências estão presentes nos
objectos de adorno pessoal, costumes de escarificação, tatuagem e mutilação dentária. Ora
sabe-se que o contacto é factor importante no caldeamento e na mistura de culturas, transfere
destas elementos, tradições e novos olhares sobre outras realidades, porém a origem
longínqua da linhagem Bantu mantém presentes memórias comuns. O uso generalizado da
escarificação, das argolas no nariz, e pratos labiais, bem como exemplos de solução de
continuidade dos dentes foram, e alguns ainda são, sinais étnicos que se verificam por quase
toda a África negra subsariana (WEULE, 2000:201).

Do ponto de vista social, os Makonde há muito que partiram para a corrida do futuro e não
tarda que do seu passado restem apenas registos dos estudiosos, histórias ou rituais simulados,
tradições perdidas ou reinventadas, durante as festas tradicionais mais ou menos folclóricas,
que servem para o encontro de famílias e vizinhos e são momentos que os distanciam da
realidade do presente, encarados quase sempre como actividade lúdica e social.

2.4.1. A Decoração do Corpo

O corpo é um mistério para o próprio homem e este, aspirando à eternidade, inventa a alma
para além do corpo e, como não a pode decorar por etérea, grava os seus símbolos da entidade
física biológica, em que se revê. O corpo, em particular para os povos de culturas africanas,
representa a possibilidade em si da permanência dos seus ancestrais. No corpo, a história dos
seus antepassados permanece viva (ROSEIRO, 2013:126).

As tatuagens são as suas insígnias e que determinam o seu lugar na sociedade, a sua posição
terra. A configuração esquemática das tatuagens varia, em geral, segundo o sexo e a parte do
corpo onde incide. A escarificação, é feita por meio, do “silambelodinembo” uma espécie de
faca afiada, empregando-se na sua elaboração substâncias cáusticas e matérias corantes, à
mistura com cinza, que serve, simultaneamente, para obter altos e baixos-relevos, dar cor e
desinfectar. O fogo é o agente geral que facilita e purifica a operação.

As tatuagens podem ser feitas em fases sucessivas, nomeadamente quando constituem


revelação de identidade dos graus da escala social. Os desenhos representando figuras
geométricas de rectângulos, losangos ou quadrados, curvas, rectas, círculos, cruzes, espinhas
de peixe, etc. Quando comparados com escarificações de outras etnias permitem concluir, sem
a Menor dúvida que as figurações naturalistas esquematizadas e estilizadas das tatuagens são
exclusivas do povo Makonde.

O Lagarto, o Crocodilo e o Leopardo figuram entre os animais estilizados.Motivos mágicos


como o do sardão combinam-se, em valores decorativos, com os traçados geométricos já
mencionados. Durante a nossa investigação apenas encontramos um homem tatuado com
desenhos que representavam lagartos. A par de ornamentos de fantasia há símbolos de
fertilidade ou de procriação. Palmeiras estilizadas ganham aspecto de valor artístico em
numerosas tatuagens. Por indisponibilidade, não foi possível fotografar mais homens idosos,
sendo nossa preocupação fixar mais os rostos femininos ornamentados com tatuagens.

Segundo OLIVEIRA (2007:101) “a história dos ancestrais africanos permanece inscrita nos
corpos porque é através dele que se tem acesso à ancestralidade. Na análise feita em assuntos
como tatuagens, escarificações,mutilações e deformações corporais, observamos que
aparentemente a maioria dasmarcas corporais tem incidência nas sociedades primitivas, onde
há um maiorenraizamento da cultura na natureza, as quais mantêm tradicionalmente essas
formas dealterar as cores e/ou contornos da pele”

Portanto, as marcas na pele tem um poder simbólico para o indivíduo como pertença da tribo,
uma vez que esses códigos incrustados na pele determinam semelhanças entre as pessoas
marcadas e, por meio disso, o sentimento de pertença a essa mesma cultura, à mesma “Tribo”,
á mesma ordem politica ou religiosa (COSTA, 2003:57).

Além das sociedades imprimirem uma identidade cultural colectiva nos corpos dos
indivíduos, elas determinam um período para que a aplicação das marcas seja realizada. Esse
tempo específico acontece em rituais de transição, sendo o desenvolvimento da sexualidade
especialmente marcado dessa forma.
A cultura de uma sociedade está impressa no corpo do sujeito na forma de vestimenta,
comportamento e/ou marcas corporais. Por isso, este conjunto singular de expressão corporal,
fora do seu contexto, expressa a cultura a que pertence, visto que é o corpo a primeira forma
de visibilidade do homem. O corpo também é divulgador, dir-se-ia mesmo a montra, do que
se passa na mente humana, sendo os sentimentos do indivíduo impregnados nas marcas
corporais que possui. A relação entre o corpo e a cultura reflecte-se mutuamente, pois estes
mudam juntamente com os interesses da sociedade a que pertencem. Assim, a construção
social dos corpos dá-se pela imitação, uma vez que as características prestigiosas são
transmitidas, de geração para geração, mediante uma imagem montada pela cultura, para ser
copiada por todos os seus membros, (ROSEIRO, 2013:127).

Dessa forma, a estética corporal é artificial, já que o corpo é moldado para se adaptar à visão
moral de uma esfera sócio cultural em que está inserido. Este corpo padronizado
esteticamente para atender um estatuto social é submetido a inúmeras práticas corporais,
como: tatuagens, escarificação, circuncisão e deformações pelo uso do botoque ou outros
objectos em qualquer parte do corpo (MAUSS, 1979:85).

É notório que a mulher Makonde de Moçambique não tem o costume de perfurar as orelhas,
como as de Tanganica que no início do século vinte, usavam rodelas de madeira no lóbulo
auricular, sendo comum entre elas o uso da ndona, apenas com algumas diferenças em relação
às mulheres Makonde - a espessura do prato e a cor da madeira utilizada.Outro elemento
diferenciador era a Dona yaNkalinga, usual nas Makonde deMoçambique. O uso da ndona,
obrigava à perfuração do lábio superior das raparigas porvolta dos dez ou onze anos e a
intervenção, era feita com um arame bem afiado ou umaagulha, próximo do septo nasal.

O mesmo procedimento era aplicado às mulheres Macua capturadas, porqueassim, por


imposição adquiriam a identidade Makonde, resolvendo-se por esta via oproblema de falta do
género na comunidade ou no likola que as assimilavam (ADAM, 1986:49).

2.4.2. As Escarificações e as Tatuagens

Segundo ROSEIRO (2013:130), “A escarificação assim como a tatuagem é um processo que


altera de forma permanente a aparência da pele, a primeira pela cicatrização desejada em
saliência queloidal e a segunda com a colocação do prateado ou azulado à custa
normalmente de cinza”.
Assim, o corpo é o receptáculo e propagador do que se passa na alma e na mente do indivíduo
que sofreu a escarificação. Na tatuagem recorre-se também ao uso de pigmentos vegetais para
marcar a pele. Estas marcações podem ser feitas através de cortes incisivos, como através de
instrumentos perfurantes. Na ferida da escarificação por meio de fricção com carvão vegetal
na área intervencionada, ou inserindo o ácido de certos frutos na pele com um pequeno
instrumento em forma de gancho. A ferida ao sofrer esta agressão, por reacção química,
provoca inflamação que forma uma cicatriz.

O processo tem que ser repetido até que a cicatriz fique proeminente e distinta, de acordo com
o desejado. Depois de concluído o processo, resulta uma marca cicatricial,perceptível à vista e
ao tacto.O aspecto tridimensional da escarificação transmite a sensação de alto e baixo-relevo.

Ao ser escarificado por fases, a pele reage surgindo uma irritação cicatricial.Quando a pele é
ferida, as células multiplicam-se para preencher o espaço que ficou vazio devido à morte
celular. Quando as células se reproduzem, mesmo após o preenchimento deste espaço, o
resultado é uma cicatriz hipertrófica, designada na literatura médica como um quelóide.

Em África as escarificações não têm o mesmo significado nos povos que praticam, mas
concluímos que os Makonde usam a escarificação como uma marca distintiva da etnia a que
pertencem e também como um ornamento de beleza. Assim a escarificação, insere-se
inicialmente na necessidade que o sujeito tem de se diferenciar dos demais e ser reconhecido
por alguma característica pessoal particular e intransferível e refere-se, ainda, ao desejo de se
sentir inserido num grupo social e em contexto semelhantes (PIRES, 2005:80).

Relativamente aos desenhos corporais, os próprios Makonde referem que devido ao uso de
instrumentos de corte mais afiados, tem sido possível evoluir para padrões mais elaborados,
do que os que se faziam antigamente. Observou-se que as marcas ainda visíveis no rosto de
algumas mulheres e homens, estão atenuadas devido à passagem do tempo e ao
envelhecimento natural da pele.

Também se sabe que as escarificações podem ser efectuadas ao longo da vida, em momentos
considerados importantes ao ponto de deverem ser assinalados, como por exemplo, a
passagem à puberdade, à fase adulta, ao casamento, aos feitos de caça ou guerreiros, o que
uma vez mais confirma que o importante, são os sinais que registamos.
Estes mostram de forma visível e informativa a sua passagem pelos acontecimentos marcantes
da sua vida, quer a nível pessoal, quer a nível colectivo. Assim, a função mais importante dos
estigmas corporais é ajudar a construir uma identidade social para o indivíduo, bem como a
cultura em que esse indivíduo se insere.

Os padrões e diversificação das linhas e formas, ajudam a criar uma linguagem visual através
da qual, as pessoas podem comunicar, ler e fazerem os padrões em uso na aldeia, cuja
simbologia é passada de pais para filhos. Os Makonde acreditam que esse tipo de
comunicação visual, ajuda a criar ordem e forma na sociedade e acreditam também que a
escarificação tem uma função mágica e sobrenatural.

Os Makonde não usam os padrões de escarificação para fazer distinções entre as classes
sociais, portanto qualquer um é livre de escolher e optar por um destes desenhos ornamentais
(DIAS &DIAS, 1964:197).

As tatuagens processam-se no corpo por meio de cortes, nos quais esfregam um pó de carvão
vegetal. Quando a operação é feita de uma só vez, a pele fica lisa e as cicatrizes formam
ligeiras depressões, onde sobressai o desenho num tom escuro, esta técnica dá mais carácter à
tatuagem.

2.4.5.A Arte como Identidade do povo Makonde

Quando se fala na etnia Makonde não devemos deixar de falar de arte. Esta surge sempre
como símbolo distintivo deste povo, nascido de mistérios desconhecidos e inventados, fruto
da lenda das coisas simples ou absurdas, tão ao jeito dos criadores de histórias e identidades
adjectivadas, quantas vezes divulgadas e contadas em qualquer esquina por romanceiros
cantadores. A verdade é que dos artistas muitas vezes desconhecidos, nascem primorosas
obras de arte conservadas em museus e residências privilegiadas, enquanto os criadores na
maioria dos casos, para sobreviver, regressam às origens, tratando da machamba, conservando
apenas a memória nos catálogos e, de vez em quando, para deleite de algum político, esses
artistas são celebrados e dados como parte da história e da glória efémera, que dura apenas o
tempo do discurso (ROSEIRO, 2013:141).

Ao estudarmos as referências da identidade do povo Makonde, entre as várias marcas a arte é


talvez a que, como identidade cultural, mais se distingue e se revê na sua admirável expressão
contemporânea.
Para LÉVI-STRAUS (1992:72), “nas artes primitivas, existe sempre, em razão datecnologia
bastante rudimentar das sociedades em questão – uma disparidade entre osmeios técnicos que
o artista dispõe e a resistência dos materiais que tem de vencer, oque o impede de fazer da
obra de arte um simples fac-símile”.

Os Makonde elevam a arte ao nível dos afectos e das representações reais da natureza.
Executam obras perfeitas e complexas, de razoável porte, que representam tantas vezes o seu
cosmos e que falam das suas raízes imaginárias ou reais. Falam dos seres vivos e dos espíritos
dos mortos. A arte Makonde não pode nem deve ser tida como expressão da arte Menor.
Como em todo o mundo existem bons e maus artistas, e nesta região de África existe uma arte
típica e exclusiva deste povo hábil e curiosamente sensível. A inspiração artística Makonde é
mais expressiva na escultura, onde não existem padrões escolásticos e académicos, o que lhes
dá uma liberdade total.

A arte nasce naturalmente das mãos dos artistas ao sabor da espontaneidade. Pode-se
classificar os estilos da estatuária Makonde do seguinte modo: a tradicional, durante o período
colonial e a moderna que vai até aos dias de hoje.

2.4.5.1. Estatuária Tradicional: Período Colonial

Durante o período colonial a produção deste tipo de artesanato foi encorajada pelos
administradores e missionários que queriam lembranças do seu tempo em

Moçambique para exposições coloniais na Europa. O gosto dos Makonde pela escultura em
madeira foi facilitado, porque a madeira é um recurso local. Tal facto, possibilitou o
desenvolvimento deste tipo de artesanato, muito comum mas valioso na economia local.

Na década de 40 os missionários e as autoridades portuguesas, impressionadas pelo talento e


técnica dos artistas Makonde, usaram esses dons para satisfazer os seus interesses,
encomendando ou sugerindo esculturas religiosas e de personagens como Camões, Salazar,
Alexandre Herculano e outras individualidades da história portuguesa.

Também surgiram esculturas tipificadas, sistematicamente decalcadas, mas mesmo nestas


condições, os Makonde revelavam uma habilidade notável na representação realista, com
grande poder de observação. As figuras humanas e animais mantinham a sua forma natural,
mas com expressões e poses surpreendentes. No entanto, a escultura Makonde passou, como
naturalmente bem se compreenderá, por diversas fases, antes de encontrar o seu estado de
identidade própria, (ROSEIRO, 2013:145).

2.4.5.2. Estatuária Moderna

A partir dos anos 60 é significativo o desenvolvimento da arte entre osMakonde. Estas


mudanças ficam a dever-se ao facto de um grande número de escultoresirem viver para a
Tanzânia e aí tomarem contacto com novas ideias políticas e sociais, oque ajudou a alterar as
suas consciências, (SHORE-BOS, 1969:61).

Estas mudanças vieramimpor um estilo diferente, que viria a ser conhecido como estilo
Shetani. O autor quelhe deu início foi Samaki, natural do planalto de Mueda. Shetani, é
também umapalavra, usada para traduzir os espíritos Nandenga do universo Makonde, que
tambémsão representados no Mapiko. (espíritos benignos e malignos) representados por
figuras com um só dedo e uma só perna, um só olho, um só cabelo (SUGLER, 2003:17).

A palavra Shetani, pode ainda ser usada, para descrever qualquer figura ou espírito não
identificado, como animais de diferentes tamanhos, principalmente nocturnos e misteriosos.
Cada Shetani têm o seu próprio nome e ambiente geográfico. Os Shetanis não explicam o
mundo, mas com todas as suas fábulas ajudam a passar as dificuldades que podem ocorrer no
dia-a-dia.

Actualmente a escultura Makonde encontrou o seu caminho, convivem os vários estilos que
reflectem as origens e o percurso deste povo. Como exemplo dessa geração, conhecemos
NtalumaArrone nascido em Nanhagaia, um escultor que desenvolveu um estilo muito próprio,
com obras expostas por todo o mundo desde 1992. Para ele, uma imagem não é só um
simulacro provido de qualidades vivas, é também uma forma de o homem manifestar o seu
imaginário.
CAPÍTULO III: METODOLOGIA DE PESQUISA

Neste capítulo fez-se referência aos métodos que foram usados para a realização desta
pesquisa e tornaram possível a obtenção de dados para se fazer esta monografia. Nisto versa a
metodologia e os procedimentos a serem usados para a descrição do tema do presente estudo.

Com finalidade de obtenção de dados capazes de sustentar as argumentações, a recolha de


dados é um processo organizado de procura de informações em fontes adequadas, sendo
assim, a metodologia visa fornecer a orientação necessária à realização da pesquisa, sobretudo
no referente à obtenção, processamento e validação dos dados pertinentes à problemática que
está sendo investigada.

Na perspectiva de HONORATO (1998) apud IVALA 2007:26):

A metodologia de estudo num planeamento deve ser entendida como o


conjunto detalhado e sequencial de métodos e técnicas científicas a serem
executados ao longo da pesquisa, de tal modo que se consiga alcançar os
objectivos inicialmente propostos, e ao mesmo tempo atender os critérios de
menor custo, maior rapidez e mais confiabilidade de informação.

Para tais efeitos, na obtenção de dados necessários e que deram vida a monografia científica,
optou-se pelos métodos de observação directa, pois permitea facilitação rápidaao acesso a
dados sobre situações habituais em que o povo makonde faz as escarificações e tatuagens no
corpo, todavia, procurando-se saber qual será o contributodas tais tatuagens para a identidade
da cultura nas sociedades makonde.

1. Tipo de Pesquisa Qualitativa

No concernente ao tipo de pesquisa usada nesta monografia, importa referir que tratou-se de
uma pesquisa qualitativa porque permitiu a pesquisadora fazer uma análise compreensiva e
crítica dos dados ou informações obtidas no terreno. O uso de uma pesquisa qualitativa se
deve ao tipo de instrumentos que foram empregues: observação e questionário.

Segundo CHIZZOTTI, (1998:79) “Pesquisa qualitativa permite uma relação entre o mundo
real e o sujeito uma interdependência viva entre o mundo, o sujeito e o objecto e a
subjectividade do sujeito integrante”. É a modalidade que foi usada na recolha de dados para
obtenção das informações que foram úteis na elaboração do trabalho final.
Portanto, este tipo de pesquisa permitiu a investigadora mergulhar no desenrolar de factos de
vários intervenientes em determinado período sem, contudo interferir directamente nos
princípios, valores do grupo alvo.

3.1.1. Quanto aos Objectivos

Quanto aos objectivos, ela, é descritiva, pois, a autoraobservou, registou, analisou e


correlacionou factos ou fenómenos sem manipular variáveis no Planalto de Mueda. Procura
descobrir a frequência com que o fenómeno ocorre, sua relação e conexão com outros
fenómenos, sua natureza e características.

3.1.2. Quanto a Abordagem

A pesquisa realizada foi qualitativa. Na visão de SILVA & MENEZES (2001:33), “não se
requer uso de métodos e técnicas estatísticas. O ambiente natural é a fonte directa para a
colecta de dados e o pesquisador é o instrumento chave. Os pesquisadores tendem a analisar
os seus dados indutivamente”.

Na visão da autora desta monografia, sustenta que a pesquisa realizada foi do tipo qualitativa,
visto que esta insere-se interacção dinâmica entre o pesquisador e o objecto de estudo, onde o
pesquisador colhe os dados com a sua originalidade, a partir das fontes primárias e credíveis.

Na opinião RICHARDSON (1999:80), As investigações que envolvem uma análise


qualitativa poderão “contribuir no processo de mudança de um determinado grupo e
possibilitar, em maior nível de profundidade, entendimento das particularidades do
comportamento dos indivíduos”.

Uma pesquisa qualitativa envolve a obtenção de dados descritivos obtidos no contacto directo
com a situação estudada. Qualquer espécie de pesquisa, em qualquer área, supõe e exige uma
pesquisa de género de forma prévia, quer para o levantamento da situação da questão, quer
para a fundamentação teórica ou ainda para justificar os limites e contribuições da própria
pesquisa, para além de que procura explicar um problema a partir de referências teóricas
publicadas em documentos.
3.1.3. Quanto aos Procedimentos

Quanto aos procedimentos, a pesquisa é um estudo de caso a ser efectuado na Província de


Cabo Delgado, Distrito de Mueda, através das técnicas deobservação, questionários bem
como a consulta de obras de vários autores que se destacaram no conteúdo desta abordagem.

3.2. Método Indutivo

Segundo MARCONI & LAKATOS (1991:47), “o método indutivo consiste num processo
mental que, partindo-se de dados particulares, suficientemente constatados, infere-se uma
verdade geral ou universal, não contida nas partes examinadas”.

Esse método prevê que pela indução experimental o pesquisador pode chegar a uma lei geral
por meio da observação de certos casos particulares sobre o objecto (fenómeno/facto)
observado. Nesse sentido, o pesquisador sai das constatações particulares sobre os fenómenos
observados até as leis e teorias gerais. Pode-se concluir que a trajectória do pensamento vai de
casos particulares a leis gerais sobre os fenómenos investigados.

Nessa perspectiva, o exercício metódico do conhecer afirma uma posição indutiva do sujeito
em relação ao objecto, na qual a investigação científica é uma questão de generalização
provável, a partir dos resultados obtidos por meio das observações e das experiências.

A escolha deste método surge no sentido de que logo à prior, a perceber-se duma lacuna, no
que tange ao contributo da tatuagem para a identidade cultural do povo Makonde no Planalto
de Mueda. Nisto, formularam-se hipóteses que possibilitarão a confirmação ou rejeição do
problema já detectado.

3.3. Técnica de Colecta de Dados

Para a materialização do presente trabalho, diversas técnicas e métodos foram utilizadas com
intuito de colectar informações, desde dos dados primários que permitiram o estudo, contacto
com a amostra e análise de documentos já existentes acerca do tema em causa, é o caso das
obras e teses; os dados primários que ainda não sofreram nenhum estudo e análise, é o caso da
observação e entrevista como técnicas de colecta de dados.
3.3.1. Colecta de Dados Primários

A observação constitui um elemento crucial para a pesquisa e é sempre usada em conjugação


com outras técnicas, na medida em que ninguém e nada são despertados atenção para tais
efeitos.

De acordo com LUDKE & ANDRÉ (1986:26), apud ARTUR (2010:90):

A observação é um dos instrumentos da pesquisa qualitativa e ela permite que


o pesquisador chegue mais perto da perspectiva dos sujeitos e acompanhar as
experiências diárias dos sujeitos, pode aprender a sua visão do mundo, isto é,
o significado que eles atribuem à realidade que os cerca e as próprias acções.

Segundo GIL (1999:100) “a observação não é nada mais que o uso de sentidos com vista a
adquirir os conhecimentos necessários para o quotidiano.”.

Quanto ao questionário, sabe-se que trata-se de um método mais usado em pesquisa


qualitativa, principalmente em pesquisas de grande escala, como as que se propõem levantar a
opinião política da população ou a preferência do consumidor.

Para MARCONI & LAKATOS, (1999:100)“ O questionário é um instrumento de colecta de


dados constituído por uma série ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por
escrito e sem a presença do entrevistador”

Como toda técnica, os questionários, tem suas vantagens e suas limitações, atingirem um
grande número de indivíduos mesmo que em regiões afastadas uma das outras, gasto zero
com pessoal qualificado para aplicar o questionário porque não é necessário o treinamento dos
pesquisadores, permitirem que as pessoas respondam ao questionário na hora que
determinarem oportuna, garantir o anonimato das respostas, são algumas das vantagens de se
fazer um questionário para a obtenção de dados.

De salientar que as técnicas supracitadas anteriormente para a colecta de dados, como são o
caso da observação e questionários procedeu-se de acordo com a disponibilidade dos
pesquisados (residentes, funcionários da casa cultural e régulos de bairros) do Planalto de
Mueda, para além da observação que dispensa a qualquer contributo da população alvo.
3.3.2. Colecta de Dados Secundários

A consulta bibliográfica, consiste em apresentar as diversas teorias relacionadas com o


objecto da pesquisa. Neste âmbito, é imprescindível na recolha bibliográfica utilizar uma
ficha que possibilite um fácil acesso dos dados fundamentais para a conclusão do trabalho.

Neste trabalho, a consulta bibliográfica serviu para a confrontação das informações escritas e
os dados recolhidos no local da pesquisa, isto é, os dados apurados nas entrevistas a serem
realizadas pelos residentes, funcionários e régulos de bairros.

3.4. População e Amostra

3.4.1. População

Segundo MARCONI & LAKATOS (2002:41) definem universo ou população como


“conjunto de seres animados ou inanimados que apresentam pelo menos uma característica
comum”. Portanto, o universo desta pesquisa foi de toda a população do Planalto de Mueda.

3.4.2. Amostra

Segundo DEKETELE (1993:57) considera que“a mostra é a menor representação de um


todo maior (o universo) ”.

Amostra abaixo, foi definida com base nesse ideal. Reconhecendo que esta pesquisa é de
grande amplitude, a pesquisadora optou em definir a amostra de 15 (quinze) pessoas, sendo
10 (dez)residentes; 3 (três) funcionários da Casa Cultura; e 2(dois)régulos de bairros do
Planalto de Mueda.

Esta amostra é não probabilística, pois os elementos da pesquisa tem a mesma oportunidade
de serem escolhidos, isto é, existem possibilidades iguais para todos elementos. Todavia, a
escolha aleatória teve como objectivo garantir a representatividade da amostra, tendo
permitido que ela tivesse todas as características do universo em alusão.
CAPÍTULO IV: ANÁLISE, APRESENTAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DE DADOS

O tema desta monografia diz respeito aosValores Culturais da Sociedade Makonde: Caso da
Tatuagem do Planalto de Mueda no Período de 2010-2014.

Esta pesquisa, foi possível com a participação dos residentes, funcionários da casa cultura e
régulos dos bairros que constituíram um total de 15 elementos, cuja escolha foi de forma
aleatória. Os questionários oferecem as respostas dadas pelos inqueridos sobre o tema em
estudo.

4.1. Questionário Dirigido aos Residentes do Planalto de Mueda

Num universo de toda população, participaram 10 (dez) residentes do Planalto de Mueda e o


questionário foi respondido na presença da pesquisadora.

Na primeira questão pretendia-se saber: Há quantos anos trabalha nesta instituição? Em


forma de resposta 4 funcionários equivalentes a 40% responderam que trabalhavam naquela
instituição a 7 anos, 3 (30%) responderam que estavam a 4 anos, e 3 (30%) responderam que
estavam naquela instituição a 2 anos. Todavia, esses dados revelam que alguns funcionários
conhecem a realidade da sociedade makonde.

Gráfico 1: Anos de Serviço na Instituição

30%
40%

7 Anos
4 Anos
2 Anos
30%

Fonte: a autora da pesquisa, 2016.

No que refere a segunda questão procurava-se saber o seguinte: O que representam os


objectos (escultura) que estão nesta instituição? Nesta questão, todos inquiridos foram
unânimes e responder que os objectos representam a identidade cultura da sociedade
maconde.
Para a pesquisadora da presente monografia, os objectos expostos na instituição representam a
tradução dos antigos usos, costumes, tradições e superstições, são de grande interesse
etnográfico e revelam a identidade do povo maconde.

Todavia, diante a resposta dada pelos inquiridos e da opinião da pesquisadora, revela a


hipótese secundária primeira na qual diz: a tatuagem contribui para a identidade cultural da
sociedade makonde na aceitação dos costumes ancestrais, sendo as tatuagens as mais
objectivas expressões culturais que simbolizam o conceito de pertença.

No concernente, a terceira pergunta na qual queria-se saber: Que relação tem a cultura
makonde com as marcas de tatuagem? Nesta pergunta, 7 inqueridos equivalentes a 70%
responderam que a tatuagem é um símbolo que identifica a cultura makonde visto que a
cultura é uma série de itens identitários que formam um complexo, e 3 (30%) disseram que a
relação assenta-se no reconhecimento de pertença de um indivíduo.

Para a autora desta monografia sublinha que a relação da tatuagem com a cultura maconde
está na identidade do povo makondenas crenças, as ideias e os valores que formam o
conteúdo da cultura.

Gráfico 2: Relação da Tatuagem com a Cultura Makonde

30%

Simbologia Cultural e
Identitaria que Formam
um Complexo
Reconhecimento de
Pertenca de um
Individuo
70%

Fonte: a autora da pesquisa, 2016.

Para a quarta questão queria se saber o seguinte:O que simboliza a tatuagem makonde para
com a sociedade? Portanto, nesta questão 50% dos inqueridos responderam que a tatuagem
makonde para a sociedade simboliza a hereditariedade e personalidade de base makonde, e
50% disseram que simbolizam a pertença de um grupo, ou seja, pertença de uma tribo ou
clã.Portanto, das respostas auferidas validam a hipótese secundária segunda que diz: a
tatuagem contribui para a identidade cultural da sociedade, na medida em que após sujeitas
as práticas identitárias, o tatuado torna-se makonde por assimilação e automaticamente
pertence ao clã.

Gráfico 3: Símbolo da Tatuagem Makonde para com a Sociedade

Simboliza pertença de uma tribo ou clã

Simboliza a hereditariedade e personalidade de base makonde

0% 20% 40% 60%

Fonte: a autora da pesquisa, 2016.

Na quinta pergunta pretendia-se saber o seguinte: Como são distinguidos actualmente os


makondes? No entanto, 80% dos inquiridos responderam que na actualidade os macondes são
distinguidos pelasdançasMapikoe escultura, e 20% optaram em responder que os macondes
são distinguidos por algumas práticas culturais como os rituais de iniciação, de morte e de
caça.
Portanto, para a autora da pesquisa, entende que com a nova geração moderna, algumas
práticas identitárias estão sendo excluídas pelo maior isolamento cultural e social entre
culturas de outros povos.

20%

Danças Mapiko e
escultura

Rituais de iniciação, de
morte e de caça.

80%

Fonte: a autora da pesquisa, 2016.


No que tange a sexta questão, queria se saber o seguinte:Qual relação tem a tatuagem com os
espíritos?Como forma de dar resposta, todos foram unânimes em responder que a relação da
tatuagem com os espíritos está assente nos costumes dos antepassados,com os espíritos bons e
maus, com a luta entre o bem e o mal.Trata-se de uma leiimutável, que ninguém discute e
todos respeitam, não devendo ser desrespeitada, nemsequer pela inconfidência.

Portanto, a resposta valida a hipótese secundária primeira que diz: a tatuagem contribui para
a identidade cultural da sociedade makonde na aceitação dos costumes ancestrais, sendo as
tatuagens as mais objectivas expressões culturais que simbolizam o conceito de pertença.

4.2. Questionário Dirigido aos Funcionários da Casa Cultura do Planalto de Mueda

Num universo de toda população, participaram 3 (três) funcionários da casa cultura do


Planalto de Mueda e o questionário foi respondido na presença da pesquisadora.

Para a primeira questão procurava-se saber: Porque o povo makonde faz a tatuagem nos
rostos? Como resposta 1 funcionário equivalente a 33,3% disse que os makondes fazendo as
tatuagens nos rostos como forma de exibir a sua beleza, 2 inquiridos equivalentes a 66,7%
responderam que fazem a tatuagem com o propósito de ser um indivíduo que passou aos
rituais de passagem e automaticamente pertencente ao clã ou a uma tribo.

Entretanto, esta resposta valida a hipótese secundária segunda na qual diz: a tatuagem
contribui para a identidade cultural da sociedade, na medida em que após sujeitas as
práticas identitárias, o tatuado torna-se makonde por assimilação e automaticamente
pertence ao clã.

Gráfico 4: Motivo das Tatuagens nos Rostos

34%

Exibição da Beleza

Indivíduo Rituado e
pertencente ao clã ou a
uma tribo.
66%

Fonte: a autora da pesquisa, 2016.


No que refere a segunda questão que diz:Qual é a importância da tatuagem para a sociedade
makonde? Nesta questão, os inquiridos foram unânimes em responder que a tatuagem para a
sociedade representa uma grande importante na medida em que torna-se um símbolo
inequívoco que identifica a cultura do povo makonde.

Da resposta acima, dá a entender que a tatuagem makonde não só identifica o símbolo de


pertença duma tribo, mas também simboliza os costumes e crenças culturais-religiosas da
sociedade makonde. Todavia, a resposta valida a hipótese primária na qual diz: A tatuagem
contribui para a identidade cultural da sociedade como um símbolo que identifica o povo
makonde.

Na terceira pergunta procurava-se saber: Quais os traços que caracterizam a cultura


makonde? Nesta pergunta 66,7% dos inqueridos responderam que os principais traços são o
modo de vida da comunidade e os hábitos culturais, 33,3% optaram em responder que a
semelhança entre os makondes são os principais traços que os caracteriza.

Para a autora desta monografia, as formas de marcar o corpo, como as escarificações, do


grupo étnico representam os hábitos, os costumes e as tradições que caracterizam a sua
cultura.

Todavia, as respostas validam a hipótese secundária segunda na qual diz: a tatuagem


contribui para a identidade cultural da sociedade makonde na aceitação dos costumes
ancestrais, sendo as tatuagens as mais objectivas expressões culturais que simbolizam o
conceito de pertença.

Gráfico 5: Traços Característicos da Cultura Makonde

33%

Modo de vida da comunidade e


os hábitos culturais

Semelhança entre os makondes


67%

Fonte: a autora da pesquisa, 2016


A quarta questão procurava saber o seguinte:Até que ponto a tatuagem contribui para a
identidade cultural do povo makonde?Nesta pergunta, todos optaram em deixar a resposta em
branco. Mas, para a atura, da pesquisa, sustenta que o contributo que a tatuagem para a
identidade da cultura makondese configura no viver colectivo dos costumes, os hábitos,
crenças a maneira de agir, de pensar, as técnicas que ao serem utilizadas levam ao
desenvolvimento e a interacção do homem com a própria natureza, tudo o que diz respeito a
essa sociedade.

Todavia, valida a hipótese secundária primária na qual sustenta: a tatuagem contribui para a
identidade cultural da sociedade makonde na aceitação dos costumes ancestrais, sendo as
tatuagens as mais objectivas expressões culturais que simbolizam o conceito de pertença.

No que refere a quinta estão na qual diz: Actualmente, um indivíduo não submetido à
tatuagem pode considerar-se makonde? Porque?Em resposta, todos foram unânimes em dizer
que “sim” visto que nos tempos actuais a tatuagem já não é obrigatória e com a diversidade
cultural, ou seja, ao contacto com outras culturas, as marcas nos rostos foram abandonadas
por vários makondes.

A sexta questão procurava saber o seguinte:Que relação tem a tatuagem com a religião da
sociedade makonde? Nesta pergunta, todos os inqueridos optaram em deixar a resposta em
branco dizendo que faziam menir ideia. De acordo com a autora desta monografia, a relação
assenta-se na espécie de protecção, de amuleto na medida em que lhes dá um sentido religioso
e também determinam uma identidade colectiva. Isto significa que partilham um único sentido
cultural.

4.3.Questionário Dirigido aos Régulos de Bairros

Num universo de toda população, participaram 2 (dois) régulos de bairros do Planalto de


Mueda e o questionário foi respondido na presença da pesquisadora.

No concernente a primeira questão procurava se saber: Antigamente, qual era a cultura


predominante da sociedade makonde? Nesta pergunta os dois régulos responderam que os
indivíduos eram submetidos a afiar os dentes, rodilha no lábio, nariz aguçado, dança Mapiko e
as tatuagens como forma ser um individuo legitimamente makonde.

Na perspectiva da autora desta monografia, adianta que a tatuagem, as escarificações e a


mutilaçãodentária caracterizavam-se como uma marca ou símbolo que identificava o
significado de pertença a um grupo ou tribo. Nesta vertente, a resposta dos inquiridos valida a
hipótese secundária segunda na qual sustenta: A tatuagem contribui para a identidade
cultural da sociedade, na medida em que após sujeitas as práticas identitárias, o tatuado
torna-se makonde por assimilação e automaticamente pertence ao clã.

Na segunda questão pretendia-se saber o seguinte: Como surgiram as tatuagens makondes?


Como forma de dar resposta, os inqueridos disseram que as tatuagens surgiram no período de
escravatura em que os makondes eram forçado a tatuagem passando assim a fazer parte do clã
onde poderiam casar e ter filhos como todos outros.

Na terceira questão procurava-se saber: Actualmente, vê-se que algumas culturas da


sociedade makonde estão sendo abandonadas. Quais são as razões da degradação dessas
culturas? Nesta questão 1 inquirido equivalente a 50% respondeu que a degradação deve-se
pelo facto da nova geração actual ignorar os valores e crenças culturais da sociedade, e 1
(50%) afirmou dizendo o facto deve-se pelo avanço tecnológico como a televisão que as
pessoas abandonam a cultura makonde passando a imitar outras culturas.

Para a autora, nos tempos actuais, a cultura makonde vem sofrendo alterações ou mudanças
devido a diversidade cultural caracterizada por existência de uma multiplicidade de culturas
ou de identidades culturais onde as pessoas tendem esquecer da sua própria cultura.

Gráfico 6: Abandono das Cultura Maconde na Actualidade

Avanço tecnológico como a televisão 50%

Ignorância dos valores e crenças culturais da sociedade 50%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60%

Fonte: a autora da pesquisa, 2016

No que refere a quarta questão na qual pretendia saber: No período colonial, como era
caracterizada a cultura do povo makonde? Nesta questão todos foram unânimes em
responder que o governo colonial havia contrariado os rituais de iniciação e foram presos
vários mestres Vanalombwa, visto que não tinham essência, moral ofendiam os princípios
religiosos.

Todavia, nos anos 50 a administração colonial e os missionários deram uma tentativa de


recuperação de alguns dos aspectos dos rituais trazendo valores morais adicionais.

Na quinta questão, procurou-se saber: No período colonial, que impacto representava um


indivíduo makonde não submetido às tatuagens? Nesta questão, os régulos disseram que nas
sociedades antigas um indivíduo não tatuado não pertencia a nenhum tribo sendo excluído da
sociedade, sem direito de matrimónio e nem habitat.
4.4. Confrontação das Hipóteses

Neste passo, vai-se revelar a sorte final das hipóteses com o objectivo de evidenciar a resposta
do problema “Até que ponto a tatuagem contribui para a identidade cultural do povo
makonde?”

Das respostas dadas pelos residentes, funcionários da casa cultura e os régulos de bairros do
Planalto de Mueda, prende-se no facto de que a tatuagem contribui para a identidade cultural
da sociedade makonde na aceitação dos costumes ancestrais e crenças culturais que
simbolizam o conceito de pertença.

No que respeita ao questionário dirigido aos residentes do Planalto de Muedasobre os valores


culturais da sociedade makonde, caso da tatuagem, revelam a tatuagem contribui no
reconhecimento da cultura do povo makondena aceitação dos costumes ancestrais, crenças
culturais, na medida em que após sujeitas as práticas identitárias, o tatuado torna-se makonde
por assimilação e automaticamente pertence ao clã. Validando assim a hipótese secundária
primeira e segunda, refutando a primeira na qual diz: A tatuagem contribui para a identidade
cultural da sociedade como um símbolo que identifica o povo makonde.

No questionário submetido aos funcionários da casa cultura, das respostas dadas revelam que
a tatuagem contribui no reconhecimento da cultura do povo makonde na aceitação dos
costumes ancestrais e crenças culturais, sendo as tatuagens as mais objectivas expressões
culturais que simbolizam o conceito de pertença. Validando a hipótese secundária primeira, e
refutando a hipótese primária e secundária segunda.

No concernente ao questionário dirigido aos régulos de bairros, os dados revelam que o


contributo da tatuagem no reconhecimento do povo makonde assenta-se na medida em que
após sujeitas as práticas identitárias, o tatuado torna-se makonde por assimilação e
automaticamente pertence ao clã. Validando assim a hipótese secundária secunda, e
refutando as hipóteses primária e secundária primeira.

Em jeito de conclusão, o contributo da tatuagem para o reconhecimento da cultura do povo


makonde baseia-se na aceitação de costumes ancestrais, crenças religiosas sendo as tatuagens
as mais objectivas expressões culturais em que após sujeitas as práticas identitárias, o tatuado
torna-se makonde por assimilação e automaticamente pertence ao clã.Validando as hipóteses
secundárias, e refutando a hipótese primária.
CAPÍTULO V: CONCLUSÃO E SUGESTÕES

Conclusão

Este trabalho teve como principal objectivoanalisar o conhecimento daspráticas culturais do


povo Makonde, principalmente no que diz respeito as tatuagens e as escarificações do corpo,
como forma deexpressão da sua identidade cultural. Ao longo da investigação realizada esteve
sempre subjacente aprocura do saber porquê e como os seres humanos se comportam de modo
diferentesegundo as sociedades em que vivem. As pesquisas bibliográficas e o seu estudo,
assimcomo o trabalho de campo realizado durante várias deslocações ao Planalto de Mueda,
permitiu fortalecer o conhecimento sobre o povo Makonde.

Todavia, é de realçar que cada povo tem a sua maneira “de ser” e “estar” e estas são
ancoradas nastradições, nos princípios, nos costumes e no modo de vida da sua comunidade.
Nestesentido, cada povo tem características específicas, que são o reflexo das suas qualidades,
neste casoo povo Makonde não foge a este princípio.

Os rituais da puberdade, e outros rituais de passagem, simbolizam a aceitaçãopor parte do


indivíduo das crenças, costumes e normas comunitárias: a submissão àsprovas representa o
assentimento à tradição. Circuncisão, escarificação, exposiçãoprolongada ao frio ou ao calor,
resistência a provas físicas, cicatrizes de combates outatuagens resultantes dos ritos de
iniciação possuem um carácter bastante emblemáticona transição de jovem para adulto, nestas
sociedades tão arreigadas às tradições.

Esses rituais simbolizam também o reconhecimento social do indivíduo e a suaintegração no


grupo dos homens e das mulheres.

Na actualidade as práticas culturais mais expressivas, que persistem, são os ritosde iniciação.
Estes, embora decorram num espaço de tempo mais reduzido de queacontecia há décadas
atrás, por imposição da vida actual, continuam a manter umcarácter sagrado e secreto,
envolvendo variadíssimas cerimónias.

Quanto às tatuagens, as mesmas continuam a ser visíveis, com maiorrelevância nas mulheres
também de mais idade. Esta forma de arte decorativa do corpo,com padrões próprios
representativo de uma cultura, encontra-se também em fase deextinção.
O estudo dos resultados dos dados recolhidos no campo de estudo leva-nos aconcluir que o
povo Makonde, não podendo ficar imune às mutações impostas pelaaldeia global em que
todos vivemos, persistirá em preservar a sua identidade,principalmente através das crenças,
das manifestações de grupo e da arte plástica. Esta,por ser uma manifestação que, em algumas
formas, permite a criação individual, cadavez mais sairá do seu reduto. A necessidade, a
vontade ou o simples direito de ir pelomundo à procura de novos espaços são características
do ser humano, nos nossos dias,ao que o Makonde não é indiferente. Actualmente existem
obras de arte Makonde, feitasem diferentes materiais, espalhadas por diferentes partes do
mundo.

De acordo com o problema levantado nesta pesquisa, conclui-se que a tatuagem tal como as
escarificações contribuem para a identidade da cultura do povo Makonde na aceitação dos
costumes ancestrais, um indivíduo tatuado que simbolizam o conceito de pertença ao um clã
ou tribo.

A conclusão dada nesta monografia foi possível com uso das técnicas de observação directa,
questionário que consistiriam numa interacção directa entre a pesquisadora, objecto de estudo
e a população alvo. E ainda, usou-se como técnica de sustentabilidade a revisão bibliográfica
que serviu para a confrontação das informações escritas e os dados recolhidos no local da
pesquisa. Assim sendo, os objectivos propostos para a realização desta pesquisa foram
devidamente alcançados. Os resultados obtidos através dos instrumentos da metodologia
usada são testemunho do alcance dos objectivos.
Sugestões

No concernente a questão colocada nesta pesquisa “Até que ponto a tatuagem contribui para a
identidade cultural do povo makonde?No que refere o principal motivo da aplicação das
tatuagens por meio de escarificações no corpo deste povo. Recomendam-se as seguintes
sugestões:

 Que as escolas do Planalto de Mueda abordem a história local de modo a dar entender
os alunos sobre a história da sua comunidade;

 Que a nova geração valorize as crenças, costumes e hábitos de forma a preservar a sua
cultura;

 Que as tatuagens e escarificações sejam vistas como um símbolo histórico e cultural


que caracterizam e identificam pertença de tribos ou clãs.

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