Você está na página 1de 2

“Caro Professor Doutor Ernest Madison,

Faz muito tempo desde a última vez que escrevi para você, na verdade é que a minha vida
tem estado um tanto quanto conturbada destas últimas semanas para cá, mas não gosto de
perder este costume. Estou aqui, às 01:52 da madrugada desta fria madrugada de
quarta-feira. O meu café está gelando do outro lado da mesa enquanto o gotejar da chuva
em minha janela me tira a atenção. Sinto que estou aos poucos negando minha própria
essência com essas pequenas coisas irritantes. Me sinto estressado além do comum nessa
última semana em especial e não sei o motivo exato, creio que seja tudo o que têm
acontecido, ao mesmo tempo acho que talvez não seja nada disso.

Você sempre me ouviu e me ajudou com o que eu precisei. Era para eu estar, assim como
o senhor, Professor, ajudando as pessoas com problemas em sua própria mente, mas sinto
que eu é quem está precisando de ajuda neste momento. E é por este motivo que não
aguentei mais e estou aqui escrevendo esta singela carta.

Eu não desejo me estender muito com minhas palavras para não tomar muito do seu
tempo, que eu sei que é curto, mas preciso com que me ajude ao menos esta última vez.

Semana passada, o Hospital Municipal de Boston, aceitou o meu certificado de psiquiatria,


desde então tenho trabalhado no manicômio da cidade. É um show de horrores ver todos
aqueles lunáticos se debatendo, sujos com as próprias fezes enquanto rasgam as paredes
com os próprios dedos, manchando todo o local de sangue. Eles não parecem que dormem
ou descansam. As vozes em suas cabeças não os deixam dormir - parece que não estão
nem me deixando dormir. Aquilo não está saindo da minha cabeça mais.

Da última sexta para sábado, me reuni com os antigos alunos da minha faculdade - aqueles
que eu havia dito ao senhor algumas cartas atrás, que gostam do paranormal - em mais um
encontro com o místico na casa do Derek, nas colinas. Lá é um local onde eu consigo me
sentir diferente. Eu sinto que lá os mundos se alinham de alguma forma estranha. E com
isso, Derek clamou por Papa Legba, logo antes de todos começarem a tossir com o cheiro
forte do cachimbo do poderoso Loa.

Eu sei que o senhor, professor, não acredita no mundo espiritual, eu também não
acreditava, até começar a sentir - em locais como este que estou descrevendo ao sr. nesta
carta - a presença deles entre nós. E na noite daquela sexta para sábado eu senti algo
muito maior do que apenas a presença dele. Eu senti a sua mensagem.

Ele disse para mim que eu estava mudando. Que as coisas ao meu redor estaria mudando
e que eu teria de ver o que os olhos não enxergam. Escutar o que os ouvidos não
conseguem ouvir. Que para eu perceber, teria de negar meus sentidos e ir numa jornada
sem voltas. Ninguém acreditou em mim, é claro. Dizem eles que o meu trabalho está me
afetando. Realmente, pode ser isto. Por isso, não acho que estou pronto para uma outra
sessão com o mundo espiritual por enquanto.
Às vezes me sinto completamente sozinho nesta cidade fria. Sinto falta dos meus pais para
me puxar a orelha quando eu fizer besteira. Mas por mais que minha família seja poderosa
nos ramos ferroviários da Louisiana, estou há quase duas mil milhas de distância no norte
do país, afastado deles em todos os sentidos em que eu consigo imaginar no momento,
menos nas minhas próprias memórias.

Mas por último e não menos importante, um último acontecimento recente em minha vida foi
conhecer uma garota linda e educada que sempre vejo aos arredores do hospital. Ela disse
que mora ali perto e apesar de eu não conhecer muito ela, ela me instiga. Estamos nos
dando bem até agora, mas já estou me sentindo atraído por ela. O sentimento de estar
atraído por alguém me estressa um pouco, já que apesar de eu já ter meus trinta anos,
nunca soube muito bem como me envolver com alguém de verdade. Mas creio que aos
poucos irei desvendar seu olhar misterioso e místico.

Todas essas informações que eu passei para o Sr. são como um turbilhão em minha ínfima
mente mundana. Eu penso que nunca escaparei de minha própria confinação mental.
Espero que eu consiga fugir logo, e esta carta é um pedido de ajuda sincero de um amigo e
antigo aluno seu.

Atenciosamente,
Arnold Delos Kavinsky.”

Informações pessoais:
- Arnold possui 32 anos de idade, veio de Nova Orleans quando tinha apenas 20
anos. Em Boston cursou medicina psiquiatra.
- Teve algumas dificuldades em terminar o curso pois seus pais achavam que ele
gastava o seu dinheiro com coisas além da faculdade. Então por alguns anos ele
teve de parar de estudar.
- Ele era viciado em cocaína até o ano passado, quando conseguiu superar o seu
vício - ou ao menos controlá-lo por algum tempo.
- Arnold conseguiu recentemente um emprego no Hospital Municipal de Boston
depois de alguns anos tentando entrar em sua profissão, antes disso ele atuava
como psiquiatra freelancer - o que era muito ruim para ele, já que quase nunca
conseguia um paciente.
- Ele vive no centro de Boston e possui uma quantidade de dinheiro o suficiente para
viver bem lá.
- Ele é viciado em cocaína, apesar de estar sem usar há alguns meses.
- Ele é extremamente carnal, gosta de todos os prazeres da vida.
- Sua personalidade é de certa forma megalomaníaca, sempre querendo mais de
tudo.

Você também pode gostar