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MODELAGEM DO CRISTALIZADOR A VÁCUO PARA

TRATAMENTO DE EFLUENTES LÍQUIDOS DE


REFINARIAS DE PETRÓLEO
Hugo Montalvão Gontijo1
Sônia Denise Ferreira Rocha2
Emily Mayer de Andrade3

Resumo: A água é um insumo fundamental em grande parte das indústrias e sua utilização
correta é importante para a minimização dos impactos ambientais. A redução dos volumes
captados pode ser obtida melhorando-se o processo de tratamento dos efluentes industriais,
possibilitando o reuso da água e de outros insumos de valor agregado para o processo. Em
uma refinaria de petróleo são gerados efluentes, sendo possível recuperar 68% da água por
tratamentos convencionais. O tratamento dos efluentes por eletrodiálise recuperará mais
14% elevando para 82% de água recuperada. Visando o total reuso da água, está em
processo de estudo a implantação de uma etapa de cristalização, objetivando recuperar os
18% restantes, possibilitando o total reuso da água. O efluente tratado pela cristalização
consiste em uma solução aquosa com 0,5% de sais inorgânicos. Uma planta piloto de
cristalização será montada para possibilitar a realização de testes. Este trabalho consiste no
desenvolvimento de um modelo dinâmico para o cristalizador por evaporação a vácuo
contínuo com recirculação forçada existente nessa planta piloto. Os efeitos nas
características dos cristais (tamanho médio, desvio padrão e volume) causados em
decorrência das variações na taxa e concentração de alimentação e na taxa de recirculação
são simulados e analisados.

Palavras–chave: cristalização, modelos dinâmicos, reuso de água

Abstract:Water is essential in most industrial process and its responsible and correct use is
fundamental to minimize the environmental impacts. A reduction in water consumption
may be achieved by improving industrial effluent treatment processes, allowing its reuse as
well as to recycle othermaterials to the process. In oil refineries a recovery up to 68% of
water by conventional methods has been possible In order to increase this value, the
electrodialysis has been evaluated, which raises this value to 82%. Aiming at 100% water
recovery, a broad project has been carried out in order to evaluate the association of the
electrodialysis unit with a crystallization stage. This association will allow the remaining
water (18%) to be recovered. The effluent from the electrodyalisis to be fed tothe
crystallization pilot plant consists of an aqueous solution with 0,5% of sodium chloride.
This work aims at the development of a dynamic model for the crystallizer by continuous
vacuum evaporation with forced recirculation, which is the crystallizer used in the plant.
The effects in crystal characteristics (average size, standard deviation, and volume) caused
by feed rate and concentration variations are simultaneously analyzed.

Keywords:crystallization, dynamic models, water recovery.

1
Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Engenharia de Minas. hugogontijo@gmail.com
2
Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Engenharia de Minas. sdrocha@demin.ufmg.br
3
Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Engenharia de Minas. emayera@yahoo.com.br

ENGEVISTA, V. 16, n. 1, p.19-27, Março 2014 19


1
Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Engenharia de Minas. hugogontijo@gmail.com
2
Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Engenharia de Minas. sdrocha@demin.ufmg.br
3
Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Engenharia de Minas. emayera@yahoo.com.br

ENGEVISTA, V. 16, n. 1, p.19-27, Março 2014 19


1 - INTRODUÇÃO avaliação através da realização de testes e
estudos. A planta piloto possui
Os impactos ambientais equipamentos e instrumentos projetados
provenientes de processos industriais para o tratamento dos efluentes
sempre devem ser minimizados. A água é provenientes da unidade de eletrodiálise.
um insumo fundamental em grande parte Para verificar o comportamento da
das indústrias e sua utilização correta é planta durante a partida, foi desenvolvido
importante para a minimização dos um modelo dinâmico,que possibilita
impactos e consequentemente para a simular o comportamento ao longo do
preservação da qualidade dos recursos tempo de diversas variáveis da planta
hídricos. A redução dos volumes de água piloto, podendo ser utilizado como soft-
captados pode ser obtida melhorando-se o sensor em sistemas de controle, em
processo de tratamento dos efluentes treinamentos de operadores, em
industriais, possibilitando o reuso da água desenvolvimento de controladores,
e de outros insumos de valor agregado estudos de processos e outros. Devido à
para o processo. A legislação brasileira importância, optou-se por desenvolver
determina a qualidade mínima dos este modelo dinâmico para o cristalizador
efluentes para serem lançados aos cursos existente na planta piloto.
d’água através da Resolução CONAMA Neste trabalho serão simulados e
430 de 13/05/2011. Entretanto, é possível analisados os efeitos nas características
desenvolver processos focando em um dos cristais (tamanho médio, desvio
tratamento dos efluentes com máximo padrão e volume) causados em
reaproveitamento da água, diminuindo-se decorrência das variações nas taxa e
a captação de água nova e os volumes de concentração de alimentação e na taxa de
efluentes lançados ao meio ambiente. A recirculação.
viabilidade econômica desse tipo de
tratamento depende de cada processo e 2 - MATERIAL E MÉTODOS
dos insumos que podem ser recuperados.
Entretanto, com a elevada demanda dos 2.1 - O Processo de Cristalização
recursos hídricos, de leis ambientais cada
vez mais restritivas associados aos O processo de cristalização
avanços das tecnologias, processos possibilita a obtenção de cristais
anteriormente não viáveis podem se formados a partir de solutos presentes em
tornar extremamente importantes e ter a uma solução. Este processo é dependente
situação de inviabilidade alterada. da concentração do(s) solutos na solução.
O tratamento convencional de A concentração de saturação é a maior
efluentes gerados por uma refinaria de concentração de soluto que pode ser
petróleo possibilita recuperar 68% da totalmente dissolvido em um
água. Em busca de ampliar esta determinado solvente, sendo esta a
recuperação,a utilização de uma etapa de condição de equilíbrio. De acordo com a
eletrodiálise pode elevar a reuso de água concentração dos solutos as soluções são
a aproximadamente 82%. Visando o denominadas subsaturadas (concentração
reuso total, está em processo de estudo a inferior a concentração de saturação),
implantação de uma etapa de saturada (concentração semelhante a
cristalização, objetivando atingir o saturação ou a solubilidade) e
lançamento zero de efluentes, supersaturada (concentração superior à
significando um reuso máximo da água. saturação). A concentração de saturação é
O efluente tratado pela cristalização uma função da temperatura conforme
consiste em uma solução aquosa com ilustrado na figura 1 (Silva, 2012).
0,5% de sais inorgânicos.
Uma planta piloto de cristalização
por evaporação a vácuo contínua está em

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concentração da solução e a concentração
de saturação (Mersmann et al, 2001).
A cristalização pode ser realizada
de diversas maneiras modificando-se uma
ou mais de uma variável do sistema, tais
como a concentração da solução, a
temperatura da solução, a solubilidade do
soluto por alguma reação química ou a
solubilidade em um novo solvente
formado a partir da adição no sistema de
um anti-solvente.
Figura 1 - Curva de solubilidade Na cristalização por evaporação o
solvente é evaporado pelo fornecimento
Entretanto é possível obter uma de energia de uma fonte externa e a
solução supersaturada sem a formação de concentração da solução é elevada até a
sólido. Uma maneira seria reduzir concentração de supersaturação.
lentamente a temperatura de uma solução
saturada. Nesse exemplo a solução 2.2 - Cristalizadores Contínuos
supersaturada obtida seria instável e uma
simples agitação poderia ocasionar o Os cristalizadores contínuos
aparecimento da fase sólida. Essa região possibilitam estabilizar o processo de
da supersaturação na qual ainda é formação e crescimento dos cristais,
possível obter uma solução sem a gerando cristais mais uniformes que os
formação de sólido, mesmo que instável, cristalizadores em batelada. Na figura 2 é
é denominada região metaestável. Nas apresentado um esquema de um
soluções cuja concentração atinge o cristalizador contínuo evaporativo. Nesse
limite da região metaestável pode ocorrer tipo de cristalizador a solução é
a formação da fase sólida. recirculada e aquecida por uma fonte
A formação espontânea de novos externa de calor. Parte da corrente
cristais é denominada nucleação primária recirculada (água mãe e cristais) é
e normalmente ocorre apenas quando a desviada para saída. A alimentação é
concentração da solução ultrapassa a misturada na recirculação. A evaporação
região de metaestabilidade. A formação do solvente mantém a solução
de novos cristais a partir de fragmentos supersaturada na condição necessária
dos próprios cristais existentes é para a formação e o crescimento dos
denominada nucleação secundária. A cristais. O solvente evaporado passa por
nucleação primária homogênearequer um filtro eliminador de névoa na saída do
maior energia para ocorrer do que a cristalizador e é condensado
nucleação secundária. Dessa maneira, em posteriormente.
cristalizadores contínuos, normalmente é Nos cristalizadores contínuos a
mantida a concentração da solução vácuo, a pressão interna do cristalizador é
supersaturada dentro da região mantida inferior à pressão atmosférica
metaestável, predominando-se a por uma bomba de vácuo ou outro
nucleação secundária. A taxa de equipamento. Dessa formaquando a
nucleação é proporcional à diferença solução entra no cristalizador, parte do
entre a concentração da solução e a solvente evapora e ocorre a
concentração de saturação (solubilidade). supersaturação da solução, formação e
Os cristais presentes na solução crescimento dos cristais.
supersaturada também aumentam de
tamanho, sendo a taxa de crescimento
também proporcional à diferença entre a

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Figura 3 - Fluxograma simplificado da
planta piloto de cristalização.
Fonte: Seckler, 2011

Tabela 1 - Descrição dos fluxos.


Fluxo Descritivo
w1 Alimentação da unidade (efluente
salino)
Figura 2 - Cristalizador contínuo w2 Alimentação da recirculação
evaporativo. w3 Recirculação com alimentação
Fonte: GEA, 2012 sem aquecimento
w4 Recirculação com alimentação
2.3 - Planta Piloto com aquecimento
w5 Recirculação sem alimentação
O fluxograma simplificado da w6 Vapor
planta piloto é apresentado na figura 3 e o w7 Saída do cristalizador (solução
descritivo dos fluxos na tabela 1. A planta saturada + cristais)
piloto é composta por cristalizador, filtro, w8 Cristais
trocadores de calor e bombas. O efluente w9 Solução saturada sem cristais
salino resultante do processo de w10 Purga (opcional para remoção de
eletrodiálise é desviado para alimentar a substâncias não cristalizadas)
unidade (fluxo w1). O aquecimento do w11 Solução saturada sem cristais
cristalizador é realizado pela recirculação w12 Condensado (água)
da suspensão (fluxo w3) após passar por
um trocador de calor aquecido por vapor. 2.4 - Modelo do Cristalizador
No cristalizador, o vapor formado é
retirado (fluxo w6) e condensado em A escolha do tipo de modelagem
outro trocador de calor resfriado com depende do objetivo do modelo, o qual
água, obtendo água líquida (fluxo w12). pode ser utilizado para simulação de
A solução saturada (fluxo w7) é retirada processos auxiliando no
do cristalizador com os cristais formados, dimensionamento de equipamentos,
a qual é filtrada, obtendo-se os cristais definição de rotas de processo,
(fluxo w8) e a solução saturada (fluxo verificação dos critérios de projetos,
w9). A solução saturada pode ser treinamento de operadores, simulação das
parcialmente retirada para remoção de estratégias de controle e sintonia de
substâncias não cristalizáveis- purga malhas, dentre outros.
(fluxo w10) e o restante retornada ao O cristalizador a vácuo do tipo
cristalizador (fluxo w11). CMSMPR (continuousmixedsuspension,
mixedproductremoval) é mostrado na
figura 4. A alimentação nova é
adicionada na recirculação, a qual passa
por um trocador de calor e entra aquecida
no cristalizador. Devido à baixa pressão,
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o solvente evapora a uma temperatura   =  
 ,  ,  = 0,1,2,3 (1)
mais baixa que a pressão atmosférica. 

Dentro do cristalizador a solução


permanece supersaturada e ocorre a Em que, nL, t é o número de cristais e L
formação de cristais. o tamanho dos cristais.

A equação 2 define a taxa de


crescimento dos cristais que depende do
;C , 2,C , C , @,C ,
tamanho e da diferença entre a
?,C , A,C , 3,C , concentração da solução no cristalizador
BC , $C E2 ↑ e a concentração de saturação:
;<=>,? , 2 , ,
@ , ? , A , 3 , B, $  =   −   ,  ≥  , ≥  (2)

2 , , @ , ? , A , 3 , B, D Em que,  > 0 e ! > 0 são parâmetros


cinéticos;  a concentração de soluto no
;<=>,A , 2 , , cristalizador e  a concentração de
∆B @ , ? , A , 3 , B, $ saturação.
;C,? , 2,C,? ,
C,? , BC,? A equação 3 define a taxa de
Figura 4 - Cristalizador a vácuo com nucleação primária ( "# ) descrita pelo
recirculação. modelo de Volmer (Volmer, 1939).
Fonte: Adaptado de Moldoványi, 2008 '(
& .
"# = # $% )* +/+-  ,  ≥  (3)
O modelo matemático para
cristalizadores é obtido a partir do Em que, # > 0 e / > 0 são parâmetros
balanço populacional dos cristais, cinéticos e 0 < $ ≤ 1 é a fração do
balanço de massas do solvente, balanço volume ocupada pelo fluido (solvente e
de massas do soluto e balanço energético. soluto dissolvido, sem cristais).
Para o modelo do cristalizador da figura
4, foram assumidas as seguintes A equação 4 define a fração de
premissas: volume ($) ocupada pelo fluido.
• Fluxo de alimentação nova isento de
cristais; $ = 1 − 2 3 

• Os cristais podem ser definidos = 1 − 2  3
 ,  (4)

apenas em função do tamanho linear
Em que, 2 é o fator de forma do volume
(L_n≈0,L_n>0);
• O tamanho dos novos cristais
das partículas.
formados é próximo a zero;
• Não existe quebra ou aglomeração de A equação 5 define a taxa de
cristais. nucleação secundária ("4 ).
Modelos realizados por balanço
populacional necessitam de trabalhar com 5
"4 = 4  −  4 3 ,  ≥  (5)
diversas faixas de tamanho. Uma maneira
Em que, k 7 > 0 , b > 0 e j ≥ 0 são
alternativa para modelagem é a
parâmetros cinéticos e μ3 o terceiro
simplificação por 4 momentos, sendo o
momento 0 relacionado ao número de
momento da função de densidade
partículas, momento 1 ao comprimento,
populacional n.
momento 2 a área e momento 3 ao
volume (Lakatos et al, 2007).
O balanço populacional pode ser
A equação 1 define os momentos.
simplificado em um número finito

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equações recursivas dos momentos Em que, k é o coeficiente de transferência
utilizando a taxa de crescimento, balanço de massa; pS a pressão do cristalizador
de soluto e solvente. As equações ajustada pela bomba de vácuo e p a
diferenciais dos momentos, concentração pressão de vapor da fase líquida dentro
de soluto, concentração do solvente, do cristalizador.
temperatura e volume da fase líquida do
cristalizador são mostradas nas equações A equação 15 calculada a pressão
6 a 13 (Moldoványi, 2008; Lakatos et al, de vapor da fase líquida (p) dentro do
2007; Ulbert; Lakatos, 1999). cristalizador pela equação de Antoine
(Luyben, 1996).
@ ;C E2
= "2 + I − @ J +  , L = M, N (6)
 D @,C DK2 @ "
log M = f − (15)
B+W
? ;C E2
= @ + I − ? J +  (7)
 D ?,C DK2 ?
Em que, A , B e C são constantes da
A ;C E2 equação de Antoine e T a temperatura da
= 2? + IA,C − A J +  (8)
 D DK2 A solução no cristalizador.

3 ;C E2 O número, desvio padrão e volume


= 3A + I3,C − 3 J +  (9)
 D DK2 3 dos cristais produzidos no cristalizador
podem ser calculados pelos momentos
 ;C $C
$ = C −  − 32 A KO −  conforme definido nas equações 16 a 18
 D
E2 (10) (Moldoványi, 2008).
+ c
DK2
?
Bkk
ℎm é om =
2 ;C $C @
(16)
$ = I2,C − 2 J + 32 A 2
 D
E2 cRS (11)
A ? A
+ Q − 1U p%qLom Mk rãm = −Q U
D ρRS @ @
(17)

B

Dmtu% = 3 2 (18)
= V;C I1 − $C KO W#,O + $C C W#,O
+ $C 2,C W#,2 JBC − B + KO D32 A −∆XO  (12)
1
− E2 ∆X2 Y Z [ 3 - RESULTADOS E DISCUSSÃO
DV1 − $KO W#,O + $W#O + $2 W#,2 Y

D E2 3.1 - Simulação do cristalizador


= ;C − ;<=> + (13)
 ρRS
A determinação de vários
Em que, q ]^ é a vazão total de entrada parâmetros do modelo depende do tipo de
(vazão de recirculação q _`a,A + material que será cristalizado. Dessa
alimentação nova q ]^,?  ; q _`a a vazão forma foram coletadas amostras do
total de saída (vazão de produto q _`a,? + efluente e realizados em laboratório
recirculação q _`a,A);  a concentração de ensaios de cristalização semicontínua
saturação (dependente da temperatura); (adição constante de alimentação, mas
K2 a densidade do solvente e E2 a vazão com retirada de cristal apenas no final do
mássica de solvente evaporada. experimento). Os cristais produzidos
foram caracterizados. Dentre as várias
A equação 14 define a vazão substâncias presentes, os estudos
mássica de solvente evaporada revelaram que o maior sólido presente
(E2 )(Luyben, 1996). será o NaCl (cerca de 50% em massa).
Dessa forma optou-se realizar simulações
E2 = M − M2  (14) preliminares utilizando uma solução
apenas com NaCl dissolvido em
concentrações próximas a do efluente. Os
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parâmetros cinéticos foram retirados da tempo para 3 diferentes alterações: vazão
literatura e as condições iniciais mássica de recirculação aumentada em
estimadas próximas às condições 10%, vazão de entrada reduzida em 10%
esperadas para planta piloto. A simulação e concentração de entrada aumentada em
do cristalizador foi desenvolvida no 100%. Para o nível não diminuir é
software Matlab com a solução necessário que a vazão de entrada seja
simultânea das equações 6 a 13. maior que a vazão de evaporação, pois a
Todas as simulações foram saída de produto é o transbordo do
iniciadas com as mesmas condições cristalizador. Dessa forma na simulação a
iniciais e com o cristalizador em regime. entrada foi mantida sempre maior ou
A figura 5 mostra os gráficos de diversas igual à taxa de evaporação.
variáveis do cristalizador ao longo do

Figura 5 - Simulação do cristalizador. Variação em t=50hs. Linha: 1 – aumento de 10% na


recirculação; 2 – diminuição de 10% na vazão de entrada; 3 – aumento de 100% na
concentração de entrada. A – Momento 0; B – Momento 1; C – Momento 2; D – Momento
3; E – Concentração de soluto; F – Concentração de solvente; G – Taxa de nascimento dos
cristais; H – Taxa de crescimento dos cristais; I – Temperatura da solução; J – Vazão
Mássica de evaporação do solvente; L – Vazão volumétrica de saída; M – Vazão
volumétrica de entrada; N – Tamanho médio dos cristais; O – Desvio padrão do tamanho
dos cristais; P – Volume dos cristais; Q – Supersaturação relativa dos cristais.

O efluente proveniente da refinaria é necessário manter a solução saturada


que alimentará a planta piloto de dentro do cristalizador. Na simulação foi
cristalização possui uma concentração de considerado um aquecimento de 4ºC na
sais muito baixa (em torno de 4 kg/m3). recirculação. Foi considerada apenas a
Para o processo de cristalização acontecer existência da nucleação secundária, pois a
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nucleação primária ocorre apenas na 4 - CONCLUSÕES
existência de uma alta supersaturação
sendo evitada durante a operação. A A modelagem e simulação do
operação normal do cristalizador deve cristalizador da planta piloto possibilita
operar com uma taxa de supersaturação prever o comportamento de diversas
baixa para evitar incrustações e variáveis em função de variações no
proporcionar o crescimento dos cristais. processo. O efluente da refinaria a qual
A saturação da solução pode ser será instalada a planta piloto possui como
visualizada no gráfico Q da figura 5, na característica uma baixa concentração de
qual valores positivos indicam sais, dificultando o controle do processo
supersaturação. Como a solução de de cristalização.
entrada é muito diluída, um pequeno A comparação dos resultados
aumento na vazão de entrada pode simulados com dados práticos será
diminuir a concentração do cristalizador e realizada posteriormente para avaliar os
interromper o processo de cristalização. desvios existentes na simulação.
Entretanto a vazão de entrada deve ser
sempre superior à taxa de evaporação 5 - AGRADECIMENTO
para o nível do cristalizador não diminuir
conforme mostrado no gráfico M da Os autores deste trabalho gostariam
figura 5. Como na planta piloto a vazão de agradecer a CAPES, CNPq e
de entrada será alterada manualmente FAPEMIG pelo apoio.
pelo operador, ele deverá manter essa
vazão sempre superior a taxa de 6 - REFERÊNCIAS
evaporação e reduzi-la gradualmente até
a solução atingir a supersaturação e SILVA, A. L. N. Dinâmica e controle de
iniciar o processo de supersaturação. Na um sistema de cristalização por
planta piloto a concentração de entrada evaporação múltiplo-efeito. São Paulo:
do efluente pode sofrer variações. Caso a Escola Politécnica da Universidade de
concentração diminua, pode ser São Paulo, 2012. 124p. (Dissertação,
necessário reduzir a vazão de entrada Mestrado em Engenharia Química).
para manter a supersaturação dentro do
cristalizador. MERSMANN, A., HEYER C., EBLE A.
As alterações simuladas causam um Activated Nucleation In: MERSMANN,
aumento rápido na supersaturação A. Crystallization Technology Handbook.
conforme mostrada no gráfico Q da 2ª Edição. New York: Marcel Dekker,
figura 5 e consequentemente a taxa de 2001. Capítulo 2.
nascimento mostrada no gráfico G da
figura 5 também aumenta, dessa forma GEA, Equipment & Solutions -
ocorre um aumento do número de cristais Technologies – Crystallization - Type of
no cristalizador mostrado no gráfico A da crystallizers, Disponívelem:
figura 5. Em seguida a supersaturação http://www.geape.fr/nfruk/cmsdoc.nsf/W
relativa diminui e os cristais iniciam o ebDoc/webb822gyf. Acesso em: 16 maio
processo de crescimento. A taxa de 2012.
crescimento é mostrada no gráfico H e o
tamanho médio no gráfico N da figura 5. SECKLER M. M. Balanços de Massa e
É importante destacar que mesmo no Energia. In: APRESENTAÇÃO DOS
processo de cristalização visando reuso ESTUDOS PRELIMINARES, 2011,
de água, o tamanho dos cristais é uma Belo Horizonte. Apresentação digital.
variável importante, pois está relacionado Belo Horizonte: 2011, 7p.
com problemas de filtragem e
incrustações. MOLDOVÁNYI N., Model Predictive
Control of Crystallisers, Veszprém:

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School of Chemical Engineering Sciences ULBERT, Z., LAKATOS, B. G.
- University of Pannonia, 2008, 103p. Simulation of CMSMPR vacuum
(Phd Thesis). crystallizers, Computers and Chemical
Engineering Supplement, Veszprém,
LAKATOS, B. G., SAPUNDZHIEV, T. ps435-s438, 1999.
J., GARSIDE J. Stability and dynamics
of isothermal CMSMPR crystallizers, LUYBEN, W. L. Mathematical Models
Chemical Engineering Science, of Chemical Engineering Systems In:
Veszprém, n.62, p4348-4364, maio 2007. LUYBEN, W. L. Process modeling
simulation and control for chemical
VOLMER, M., Kinetic der engineers. 2ª Edição. Bethlehem:
Phasenbildung.Steinkopff, Leipzig, 1939. McGRAW-HILL, 1996. Parte 1, p.15-85.

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