Você está na página 1de 3

1

Três possíveis explicações da razão pela qual Deus


permitiu o pecado
Postado por Ruy Marinho - no dia 28.4.12 - 1 comentário

Por Samuel Falcão

 
De acordo com tudo quanto foi dito acima, vemos que o mal moral, tanto em sua origem como em
seu prosseguimento, foi incluído nos decretos de Deus como permitido, mas permitido com algum
sábio objetivo.
Que Deus decretou permitir o pecado, desde toda a eternidade, vê-se no fato que, também desde toda
a eternidade, Ele decretou salvar pessoas mediante a morte de Cristo, como se declara na seguinte
passagem das Escrituras: “Não foi mediante coisas, corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes
resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como
de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo, conhecido, com efeito, antes da fundação
do mundo, porém manifestado no fim dos tempos, por amor de vós” (1Ped.1:18-20; veja-se também
o v. 2 e Rom.8:29; 2Tim.1:9; Tito1:2; Apoc.13:8).
Há outra pergunta a fazer em conexão com este magno assunto, a saber: Por que permitiu Deus que o
mal entrasse no mundo? Se Ele odeia o mal e tem todo o poder, de modo que podia tê-lo impedido,
por que o permitiu com suas conseqüências indescritivelmente dolorosas? Esta é a pergunta que mais
nos deixa perplexos. Jamais seremos capazes de responder a ela nesta vida.
“A permissão e a presença do pecado no universo, onde Deus infinitamente santo, exerce domínio,
ocasionam um entrechoque de idéias, as quais, por tudo quanto envolvem, nenhum espírito humano
pode harmonizar completamente. Tendo-se em vista as duas realidades inconciliáveis, Deus e o
pecado, é certo que a solução da dificuldade não será descoberta nem na suposição de que Deus era
incapaz de impedir o aparecimento do pecado no universo, nem de que Ele não pode fazê-lo cessar a
qualquer momento. Na procura dessa solução, é certo que o dilema não será vencido ou atenuado,
supondo-se que o pecado não é excessivamente mau à vista de Deus — pois Ele tem-lhe aversão
absoluta. O fato permanece sem modificação, que Deus, ativa e infinitamente santo e absolutamente
livre em seus empreendimentos, sendo capaz de criar ou não criar, e de excluir o mal daquilo por Ele
criado, permitiu não obstante que o mal aparecesse e operasse na esfera dos anjos e do homem. Esta
perplexidade sobe de ponto, atingindo um grau imensurável, se considera o fato de que Deus sabia,
quando permitiu a manifestação do pecado, que este lhe custaria o maior sacrifício que lhe seria
possível fazer — a morte de seu Filho. As Escrituras atestam, com bastante ênfase que (a) Deus é
todo-poderoso e, por conseguinte, não recebe imposição do pecado contra sua vontade permissiva;
(b) que Deus é perfeitamente santo e odeia o pecado incondicionalmente; e (c) que o pecado está
2

presente no universo, ocasionando toda sorte de malefícios aos seres criados e que esse dano, em
vista da incapacidade de alguns de entrarem na graça da redenção, pesará sobre eles por toda a
eternidade”. [1]

Embora as perguntas acerca deste problema sejam de fato desconcertantes, algumas respostas têm
sido sugeridas. Vou referir algumas.
1. “Sendo o propósito final de Deus trazer os homens à sua semelhança, estes, para alcançar esse
fim, devem chegar a saber em certo grau o que Deus sabe. Devem reconhecer o caráter maligno
do pecado. Este, intuitivamente, Deus conhece; mas tal conhecimento pode ser adquirido, pelas
criaturas, apenas por meio de observação e experiência. Obviamente, se o propósito divino tem
de ser realizado, ao mal deve-se permitir que se manifeste. O que a demonstração do pecado e
sua experiência podem significar para os anjos não está revelado”.[2]
2. Uma segunda explicação é que a existência de agentes livres no universo seria uma
possibilidade virtual de revolta contra Deus, em qualquer tempo. Noutras palavras, a existência
de vontades livres, capazes de se opor à vontade de Deus, seria, por toda a eternidade, um
principio potencial de pecado, e tal princípio de pecado tinha de ser trazido “a juízo completo e
final”. Deus desejou tornar impossível, no fim, não somente a realidade do pecado, mas até sua
possibilidade. Como não é possível condenar uma abstração, Deus permitiu que o pecado ou o
mal se concretizasse, de modo a poder ser condenado na cruz, onde seu caráter foi plenamente
revelado nos sofrimentos do Filho de Deus. Por essa forma todas as criaturas de Deus
aprenderiam que coisa insana, penosa indescritivelmente ingrata e desastrosa é desobedecer a
Deus, e depois da experiência dolorosa do pecado todas elas se conformariam natural e
alegremente com a sua perfeita vontade e trilhariam seus caminhos sapientíssimos. Foi esta a
experiência do Filho Pródigo.
3. Uma terceira explicação é que Deus permitiu o pecado a fim de ter oportunidade de dar a
conhecer sua justiça e sua graça, que jamais poderiam ser reveladas se no mundo não houvesse
pecadores, para serem condenados, ou serem salvos. Paulo sugere isso nas seguintes passagens:
“Que diremos, pois, se Deus querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou
com muita longanimidade os vasos de ira, preparados para a perdição, a fim de que também
desse a conhecer as riquezas da sua glória em vasos de misericórdia, que para glória preparou
de antemão?” (Rom.9:22,23). “Assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo...
para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado... a fim de
sermos para louvor da sua glória” (Ef.1:4-6, 9-12).
É interessante, porém, notar que a Bíblia jamais procura responder nossas perguntas sobre o
problema do mal e do sofrimento.
No caso clássico de Jó, a única resposta que Deus lhe deu foi que, se ele não podia entender os fatos
mais simples da natureza, como podia compreender os mistérios divinos? Todavia, deve ter sido um
gozo e glória indizíveis para ele saber que seus sofrimentos contribuíram para a glória de Deus e
confusão de Satanás. E note-se também que no fim tudo para Jó veio a ser melhor do que no
princípio. E o mesmo acontecerá a todos quantos pertencem a Deus.
No caso do cego de nascença, temos o que podemos chamar “o problema do mal num caso
concreto”. Cristo, no entanto, não procurou responder a pergunta acerca desse problema, porém fez
melhor, isto é, primeiro declarou que os sofrimentos daquele homem foram permitidos para a glória
de Deus, e depois o curou. E assim aprendemos que Cristo não veio para responder nossas perguntas
quanto ao problema do mal, mas, muito melhor do que isso, veio para destruir o mal. Como Ele disse
naquela ocasião: “É necessário que façamos as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; a noite
3

vem, quando ninguém pode trabalhar. Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo” (Jo.9:4,5). E
havendo dito isso, deu luz ao cego.

Cristo veio para destruír o mal, “para destruir as obras do diabo” (1Jo.3:8). Foi Ele que se tornou
semente da mulher para esmagar a cabeça da serpente. E Ele fez isso mediante sua vida, morte e
ressurreição (Heb.2:14). Agora Ele está à direita do Pai, aguardando o tempo fixado por Deus, em
seus decretos, quando todos os seus inimigos serão postos por estrado de seus pés (Heb.1:13). No
livro do Apocalipse, onde se nos descrevem as últimas coisas, vemos o Cristo vitorioso destruindo
todo o mal e toda oposição a Deus, e lançando a antiga serpente, que é o diabo e Satanás, no lago de
fogo e enxofre. Será isso o fim da grande luta anunciada em Gen.3:15, fim glorioso com a vitória
completa da luz sobre as trevas, da verdade sobre a mentira, da vida sobre a morte, do bem sobre o
mal, de Deus sobre Satanás.
É verdade que não podemos explicar o problema intrincado do mal, mas isso não é o que mais
importa: o mais importante é sabermos que o mal será destruído e no final tudo redundará na glória
de Deus e no gozo e felicidade de todos quantos lhe pertencem.

Talvez a melhor coisa que possamos dizer é que Deus permitiu que o pecado entrasse no
mundo por razões além da nossa capacidade de compreensão
 Para que o pecado seja pecado, é necessário que haja uma culpa ligada a ele. E mais: que seja um ato
voluntário, criador de um risco juridicamente proibido, ou seja, algo que possa optar por certo e
errado, fazer ou não fazer. 

Você também pode gostar