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BL 504 S3 2016
ÍNDICE
PREFÁCIO
Andrew Chesnut ............................................. . ........................................................ .....9
INTRODUÇÃO
[7]
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Índice
Entre meninas brancas do bairro de Ajusco, uma visão etnográfica do culto a Santa Muerte no
sul da Cidade do México
Sérgio G. de la Fuente Hernández............................................. .......................................... 167
Quinze anos de convivência com La Flaquita. Looks de um funileiro social
Afonso Hernández Hernández ............................................. ......................... 193
PENSAMENTOS FINAIS
Alberto Hernández .................................................. .................................................. ......... 257
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PREFÁCIO
Andrew Chesnut1
1
Ele é professor titular e preside a cadeira de Estudos Católicos na Virginia Commonwealth
University, Estados Unidos.
[9]
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André Chesnut
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Prefácio
bro desenvolve ainda a análise da devoção manifestada por meio das redes sociais
de comunicação tão importantes nos Estados Unidos e no México, países que
aparecem como o primeiro e o quinto países do mundo, respectivamente, em número
de usuários do Facebook. Por isso, o último capítulo deste livro enfatiza a importância
dessa rede social para criar laços e até hibridismos entre o santo argentino San La
Muerte e o mexicano Santa Muerte. Em resumo, os autores deste volume permitem
uma maior compreensão das dinâmicas que impulsionam o novo movimento religioso
mais robusto das Américas. É um texto indispensável para quem busca compreender
um dos maiores fenômenos religiosos do início deste século.
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INTRODUÇÃO
O SANTO MORTO.
ESPAÇOS, CULTOS E DEVOÇÕES
[13]
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os índios não eram consumidores passivos, assim como não ficaram de fora do processo
de difusão da imagem cristã. Ao contrário, foram eles que multiplicaram as iniciativas: a da
escolha da imagem, de sua confecção, do brilho dado à sua celebração, continuando a
projetar sua própria concepção de representação na efígie cristã (2013:184 ).
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uma tradição católica popular e uma magia popular indígena atravessada por
novos movimentos religiosos, nova era, religiosidade neo-esotérica e laica, cujos
"entrelaçamentos compõem conteúdos e significantes híbridos, mas numa
semiose popular sincrética típica da religiosidade católica mexicana"
(2012:47). Essa "semiose sincrética" estará presente nas formas de religiosidade
popular vinculadas à devoção a santos, virgens e outras figuras não aceitas pelas
instituições religiosas, mas que recuperarão elementos das tradições católicas,
indígenas e outras tradições espirituais para moldar sua devoção, tais e como
acontece com o culto de Santa Muerte.
No México, as transformações religiosas a partir da religiosidade popular
vêm sendo estudadas desde a década de 1970. O sociólogo Gilberto Giménez
(1978) dedicou alguns de seus estudos a esse tema, enfocando a religião popular
rural no México, e a definiu como "o conjunto de todas as práticas consideradas
religiosas pelos camponeses tradicionais das aldeias no conjunto das suas
práticas e das suas relações sociais" (Giménez, 1978, citado em Salles e
Valenzuela, 1997:68). Para Giménez, as expressões da religiosidade popular não
podem ser lidas como uma distorção da religião oficial, mas a partir de uma
perspectiva que revela as características e particularidades internas que a
distinguem e, ao mesmo tempo, a relacionam. Mesmo quando seus estudos se
concentram nas populações rurais da região central do México, novas pesquisas
mostram a transferência de expressões da religiosidade popular para contextos
urbanos e suas implicações na vida cotidiana das pessoas.
Por sua vez, Salles e Valenzuela (1997), em seu estudo sobre mística e
religiosidade popular na região de Xochimilco, sul da capital do país, realizado
no final da década de 1990, propõem duas leituras para compreender a
recuperação da tradições não aceitas pelas instituições religiosas católicas, como
a devoção a virgens ou santos nos próprios espaços de vida dos fiéis, referindo-
se, por um lado, aos “processos fortemente impostos de inculcação da religião
católica em seu período inicial no México” , bem como “a pressão e a força das
religiões indígenas […] e sua impressionante persistência” (1997:70), mostrando
as constantes tensões entre a visão institucional do catolicismo e as recriações
devocionais dos fiéis. A segunda leitura que propõem inscreve-se no pensamento
da religiosidade popular em seu desenvolvimento "no interior de uma cultura
viva, em processo de construção e mudança" (1997:70).
A partir dessas duas perspectivas, é possível compreender a religiosidade
popular a partir das tensões entre a visão institucional e as práticas dos próprios
crentes. Mas também, de suas transformações para fazer parte de uma "cultura
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A construção da imagem do santo no contexto mexicano não pode ser compreendida sem
o pano de fundo que a vincula ao processo de colonização após a conquista. Em meados
do século XVI, realizou-se o Primeiro Concílio Mexicano, que endossou a devoção a
santos e virgens, e que por sua vez permitiu o surgimento, não sem dificuldades, da
incipiente devoção à Virgem de Guadalupe (Gruzinski, 2013: 109 -111), que cumpriu um
papel paradigmático nos processos de evangelização ao vincular uma devoção católica
mariana a aspectos rituais e espaciais das culturas nahuas, representados no complexo
simbólico ritual Tonantzin-Guadalupe (Félix Báez-Jorge, 2011).
Da mesma forma, ao longo do século XVII, os santos que serão venerados pelos
indígenas no México surgirão de trocas simbólicas entre as cosmogonias católica e pré-
hispânica que, nas palavras de Gruzinski, serão articuladas a partir de "um imaginário
híbrido, cuja inventividade e plasticidade contribuíram para o surgimento de uma nova
identidade indígena, nascida na encruzilhada da herança antiga […] e as influências de
um cristianismo mediterrâneo (2013:185). Por isso, a figura do santo não será descrita
pelos indígenas como um objeto material, não está localizada especificamente em uma
estátua, um pano pintado ou um ser encontrado em outro lugar, mas para eles “o santo é
uma entidade que se basta a si mesmo e não se resume na dialética do significante e
significado” (Gruzinski, 2013:189).
Além disso, para os indígenas da Nova Espanha México, a figura do santo terá uma
centralidade importante em termos da relação que estabelecem com sua imagem,
destacando um dos aspectos centrais de sua cosmogonia antiga, como
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que o divino não estará associado apenas à verticalidade das devoções católicas, mas também à
proximidade do divino revelada em seu cotidiano e nas relações com seus pares. Nesse sentido, o
santo para os indígenas, segundo Gruziski: "É uma pessoa com quem o possuidor e os irmãos
mantêm relações familiares", o que explica a relação particular com eles, sendo que para este
autor:
É justamente essa qualidade viva do santo para o indígena, que dará origem a uma religiosidade
construída em disputa contra as restrições doutrinárias católicas, mas da qual emergirão as imagens
de santos dotadas de qualidades humanas, que funcionarão como pontes simbólicas entre seus
cosmogonia antiga e devoções católicas. Por isso, para este historiador francês, a devoção aos
santos pelos indígenas terá um papel crucial, pois:
É importante destacar que qualidades como a antropomorfização das imagens divinas e suas
características humanas serão dois elementos presentes nas expressões da religiosidade popular
contemporânea, como acontece com a devoção a diferentes santos populares no México.
Outro importante antecedente a destacar sobre a devoção aos santos populares no México é
relatado pela filóloga islandesa Kristín Gudrún, que relata como a tradição de venerar santos ainda
permanece em vigor, constituindo a base da religiosidade católica na América Latina (Gudrún, 2014).
Este autor refere-se à forma como os primeiros santos cristãos emergiram como mártires sob a
perseguição do Império Romano. Assim, o sofrimento do martírio foi a causa principal da elevação à
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santidade durante os primeiros quatro séculos da era cristã. A partir do século IV,
quando a Igreja entra em relação com o Estado romano, o santo mártir chega ao fim,
de modo que nos séculos posteriores surgiram novas formas e motivos de santidade,
como a vida dos eremitas, dos solitários e dos missionários. Mais tarde, na Idade
Média européia, a santidade será alcançada por fundadores de ordens religiosas e
homens da Igreja: bispos, papas e, em alguns casos, monarcas. Portanto, se antes
apenas a Igreja Católica através do Vaticano era a instituição religiosa que batizava as
virgens ou santos oficiais, as transformações no catolicismo a partir do século IV
e durante a Idade Média eles percebem que não só os fiéis religiosos podiam acessar
a santidade, mas também outras pessoas da esfera secular. Essas mudanças, que
sem dúvida passam por múltiplas configurações históricas, pouco a pouco deram
origem às dedicatórias que hoje são conhecidas como santos populares, pois não
surgem da instituição religiosa, mas da forte devoção que seus fiéis lhes concedem,
conforme estudado em o caso mexicano:
Santo é a designação usada pelo cristianismo para reconhecer indivíduos que levaram
uma vida de virtude heróica e, como resultado, habitam eternamente no céu. […] Por
outro lado, os santos populares são assuntos que o povo trouxe aos altares sem ter
recebido o reconhecimento da Igreja. […] O santo popular pode até ser um indivíduo que
não teve uma vida exemplar, e às vezes basta ter sofrido uma morte trágica (Gudrún,
2014:11)
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Santa Muerte tornou-se uma importante imagem venerada no México, mas cujos
impactos também cruzaram fronteiras. Nos Estados Unidos, tornou-se visível em
cidades como Los Angeles ou Nova York, mesmo em lugares menos conhecidos
como Richmond, Virgínia ou Mid City, Nova Orleans (Chesnut, 2012). Como
apontou Claudio Lommitz (2006), a origem dessa devoção é difusa, mas para ele
a morte continua sendo um símbolo de identidade nacional, e talvez seja uma das
razões pelas quais sua popularidade e ascensão podem estar localizadas no
México. contexto. . Por outro lado, há autores que explicam suas origens desde os
tempos pré-hispânicos, em uma relação contínua com o culto que os antigos
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a figura protetora de Santa Muerte. Logo a fama de seus grandes poderes e milagres
se espalhou, outros altares de rua surgiram nessa mesma área e também em outros
bairros próximos.
Mais tarde, surgiram outros difusores desse culto, como o bispo Daniel Romo em
seu Santuário Nacional de Santa Muerte, localizado no bairro capital central de San
Antonio Tomatlán, expandindo-se posteriormente para outras cidades do centro e
sudeste do país. Em Ecatepec, Estado do México, o chamado Comandante Pantera
ou Padrino Endoque construiu um imponente santuário cercado por pequenas capelas
e uma gigantesca escultura de 22 metros de altura, traçando uma linha imaginária
que buscava proteger tanto os infratores quanto os criminosos. Ame. Após sua trágica
morte, ocorrida em 31 de julho de 2008, sua mãe, Enriqueta Vargas Ortiz, dirigiu o
chamado Grupo Santuário Internacional de Santa Muerte, que atualmente continua
suas atividades espirituais.
A difusão deste culto estendeu-se a vários bairros, estradas e autoestradas, a
pessoas ligadas ao crime organizado, bem como a taxistas, donas de casa e jovens.
De norte a sul e de fronteira a fronteira, o fervor se espalhou por terras distantes, com
seguidores em diversos municípios da União Americana e também na Europa. Livros,
artigos científicos e jornalísticos, trabalhos de tese, filmes, documentários, vídeos e
programas de televisão tornaram esta imagem mais conhecida fora do México. Ainda
dentro do Censo da População e Habitação do ano 2000, foi incluído um classificador
onde se buscou integrar os devotos e seguidores de Santa Muerte.
Existe uma vasta gama de estudos e material informativo sobre esta devoção,
dia a dia o culto de Santa Muerte cresce e é modificado e ressignificado tanto por
seus fiéis quanto por representantes das principais instituições religiosas, que
continuam a condená-lo, e suas vozes são replicados pela mídia e, em alguns casos,
por autoridades governamentais. Assim, por se tratar de uma crença em mudança e
em ascensão, torna-se necessário lançar visões, casos e interpretações atuais que
mostram o acúmulo de transformações e novos imaginários religiosos em torno de
uma das venerações mais dinâmicas e heterogêneas do início do século XXI.
Conteúdo do capítulo
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As abrangências que o culto terá na região do golfo e no norte do país são muito
diversas, como pode ser visto na segunda seção, intitulada O culto de Santa Muerte na
região do golfo e no norte do México, contendo o estudos
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Por outro lado, o documento “Hoje você está nos braços da vida, mas amanhã
estará nos meus. O culto de Santa Muerte no norte do México” analisa as diferentes
condições dessa devoção entre as regiões nordeste e noroeste da fronteira. A
primeira mostra como seguidores em sua maioria pessoas ligadas ao crime
organizado, enquanto na região noroeste os seguidores estarão ligados a diferentes
setores sociais. A obra central localiza-se no caso da cidade de Tijuana, onde a
devoção expressa diversas origens, situações pessoais e familiares, além de grande
visibilidade através das chamadas botânicas e tatuadoras, entre outras expressões
dessa devoção.
A terceira seção deste livro é intitulada Reflexões testemunhais sobre esta
devoção, composta por documentos de Sergio Guadalupe de la Fuente Hernández e
Al fonso Hernández Hernández, cujos estudos fornecem uma visão etnográfica das
múltiplas nuances em que se desenvolve esse culto, enquadrado em uma bairro
histórico da capital e em bairro popular da zona sul da cidade, onde a devoção à
Santa passou por significativas transformações socioculturais e espaciais, articulando-
se como um laboratório heterogêneo de expressões e práticas rituais dedicadas à
Santa.
No texto de Sergio Guadalupe de la Fuente Hernández, intitulado "Entre as
meninas brancas do bairro de Ajusco, uma visão etnográfica do culto de Santa Muerte
no sul da Cidade do México", o autor aborda as diversas representações sociais
dessa devoção no moradores do bairro de Ajusco. Oferece um olhar etnográfico sobre o altar
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da Sra. Nieves e recupera a visão dos fiéis, assim como os estilos e formas das
imagens que eles adoram. Sua obra detalha diferentes formas rituais que dão
sentido grupal à sua devoção a partir de seu contexto de vida.
O estudo de Alfonso Hernández Hernández: “Quinze anos de convivência com
La Flaquita. Vistas de um Tepiteño ilustrado" aborda a origem do altar de Santa
Muerte na Calle Alfarería, um dos altares que teve um impacto importante não
apenas para os devotos do bairro Tepiteño, mas também para inúmeros
paroquianos dentro e fora do México. O olhar deste cronista do bairro descreve os
momentos de mudança que teve este emblemático altar que inspirou romances,
filmes, séries de televisão, trabalhos de tese e um grande número de reportagens
jornalísticas nacionais e internacionais.
A última seção do livro é intitulada Apropriações simbólicas e a
transnacionalização do culto. Reúne os estudos de Caroline Perrée, Antonio
Higuera Bonfil e Alejandro Frigeiro, onde se analisa o alcance que a veneração de
Santa Muerte teve ao cruzar as fronteiras mexicanas. Esses trabalhos mostram
como a imagem da morte tem uma recepção diferenciada dependendo do local
onde surge e da bagagem histórica e cultural que articula seus significados.
A seção como um todo ajuda a mostrar que essa devoção deixou de ser um
fenômeno localizado em contextos e com pessoas de condições socioeconômicas
delimitadas, para expandir sua presença e influência para outros lugares, físicos
ou virtuais, cujas práticas e expressões de fé contribuem para enriquecer e evoluir
este culto singular.
O primeiro estudo: “A iconografia de Santa Muerte: antropologia de uma
imagem aberta”, de Caroline Perrée, explora as várias representações desta
imagem que enriqueceram suas invocações e significados iconográficos, desde os
bairros tradicionais da Cidade do México até seu olhar e apropriação em cidades
europeias como Paris. Este autor destaca os significados diferenciados em termos
de estética e densidade simbólica nas representações de Santa Muerte,
configurando-se como uma "imagem aberta" de natureza polissêmica e mutável.
O texto a seguir “Religião transterrada. O culto de Santa Muerte em Nova
York”, de Antonio Higuera Bonfil, é uma primeira aproximação a tal liturgia desta
cosmopolita cidade americana, focando seu estudo etnográfico no pequeno mas
lotado altar localizado no bairro do Queens, onde o autor estuda aspectos das
identidades dos migrantes que se reúnem em torno desse altar.
O estudo final deste livro, "San La Muerte na Argentina: usos heterogêneos e
apropriações da 'mais bela das santas'", de Alejandro Frigeiro, desenvolve a
análise da crescente devoção a San La Muerte na Grande Buenos Aires, detalhando
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Bibliografia
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PERDIGÓN CASTAÑEDA, Katia J., 2008, A Santa Morte protetora dos homens
bres. México, né.
RUBIAL GARCIA, Antonio e Clara Garcia, 1991, Vida religiosa no México colonial: uma
abordagem bibliográfica, México, Universidad Iberoamericana.
SALLES, Vânia e José Manuel VALENZUELA, 1997, Virgens, santos e filhos de Deus.
Misticismo e religiosidade popular em Xochimilco, México, El Colmex.
VANDERWOOD, Paul J., 2004, Juan Soldado: Rapist, Murderer, Martyr, Saint, Esta dos
Unidos, Duke University Press.
VALENZUELA, José Manuel, 2011, "Religiosidade, mística e cultura popular", in Alberto
Hernández Hernández, coord., Novos caminhos de fé. Práticas e crenças na margem
institucional, México, El Colef/El Colmich/uanl.
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Origens e estética
de um culto em transformação
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Kali Argyriadis
1
Este artigo foi produzido no quadro de trocas muito frutíferas com colegas do Eixo 2 do LMI
MESO (http://meso.hypotheses.org/), do eixo Circulações de Objetos e Signos Culturais da
URMIS, e com Caroline Perrée e Olga Odgers. Aproveito esta oportunidade para expressar meus
mais sinceros agradecimentos a todos vocês por me ajudarem a refinar meu pensamento.
[33]
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Kali Argyriadis
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um objeto de culto desde o século XVII, como no caso de San Pascual in Chiapas
(Navarrete, 1982) ou o de San La Muerte apresentado por Alejandro Frigerio neste
volume. A partir do século XVIII, na Nova Espanha as imagens da morte foram proibidas
pela Igreja Católica e queimadas por idolatria, embora algumas sejam preservadas hoje,
por exemplo uma "Nossa Senhora Morte", no convento-museu de Yanhuitlán, ou uma
estátua chamada “Santa Muerte” localizada na igreja de San Agustín, em Tepatepec,
Hidalgo (Malvido, 2006:25).
A imagem, com o nome de Santa Muerte, impressa juntamente com uma oração ou
invocação destinada a trazer de volta o cônjuge infiel, parece ter ressurgido no século XX.
na forma de pequenos cartões ou folhas vendidas em mercados populares ou por
vendedores ambulantes. Numerosos autores citam o livro de Óscar Lewis, Los Hijos de
Sánchez (1964:638), como a primeira menção do culto por este meio. No entanto, em um
artigo etnográfico pioneiro, John Thompson levantou a hipótese de que Santa Muerte
contemporânea "começou sua vida" (1998:406-422) como especialista em magia erótico-
amorosa. Ele citou os trabalhos de pesquisadores que a mencionaram para esse uso –
junto com vários outros santos– desde meados da década de 1940, do norte ao sul do
México (F. Toor, 1947:144; Aguirre Beltrán, 1989:233; Kelly , 1965; Navarrete, 1968;
Olavarrieta, 1977:116; Bernal, 1982). Este autor, que encontrou esta imagem em forma
de cartão em Sonora em 1992, notou vários desenvolvimentos em seu uso entre seus
informantes nos anos seguintes (Thompson, 1998:425-427). Considerada capaz de
devolver o ente querido, foi solicitada ajuda para retornar aos parentes emigrados; mais
tarde, ela foi rezada para fins propiciatórios, em particular para a prosperidade dos
mercadores, e como protetora, primeiro ofensiva ("Morte contra meus inimigos"), depois
defensiva ("Menina Branca", capaz de reverter os trabalhos para os quais ela eu te pedi).
Muito rapidamente, atravessou a fronteira e se espalhou nas pegadas de migrantes em
várias cidades dos Estados Unidos. Por sua vez, Silvia Ortiz Echániz identificou uma
figura antropomórfica da morte no painel de espíritos interlocutores dos médiuns dos
centros espíritas mexicanos, pelo menos desde o final da década de 1980: Irmã', ou
morte, em cuja fala ela chama aos fiéis a blasfêmia com que a insultam por lhe tirar
parentes e afetos próximos” (1994:222-223).
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Kali Argyriadis
A história social das coisas e sua biografia cultural não são assuntos completamente
separados, pois a história social das coisas, por longos períodos e em amplos níveis sociais,
limitou a forma, o significado e a estrutura das coisas. . É também o caso, embora muitas
vezes mais difícil de documentar e prever, que muitas pequenas mudanças na biografia
cultural das coisas podem, ao longo do tempo, levar a mudanças na história social das coisas
(1991:54-55).
2
Para um estudo aprofundado sobre a realocação dessa prática no México, ver Juárez Huet
(2014). Deve-se notar que, em geral, a relação entre Santa Muerte e este oricha opera segundo uma
lógica de justaposição e correspondência, sem efetivamente formar uma nova entidade fundida e
bifacetada, como no caso de Veracruz que trataremos mais adiante.
3 Lo ilustra de forma magistral citando a uno de sus informantes: “Temos alguns produtos novos
saindo, ele disse: uma linha de orações de santeria, outra de orações 'vudu', uma linha dedicada à
figura satanista, e, ah sim , uma série de feitiços wiccanos – orações para árvores, esse tipo de coisa.
Mas Santiago, eu disse, não achava que a Wicca estivesse estabelecida no México. Não é, exclamou.
Nós vamos estabelecê-lo!” (Thompson, 1998:410).
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para seus clientes, criando, por exemplo, a famosa "Morte das sete cores", que
concentra em um único simbolismo cromático anteriormente declinado em várias
estátuas de cores diferentes. No Distrito Federal, mais recentemente, parece que
das prateleiras exotéricas4 dos mercados, conteúdos mais refinados estão sendo
tecidos a partir de um aspecto de Santa Muerte, cada vez mais relacionado à
Virgem de Guadalupe: representações do esqueleto coberto com o manto
característico de Guadalupana, em estado de gravidez com um feto de ossos no
abdómen (ver imagem 4, p. 222), ou pelo contrário, imagens da Virgem com cara
de caveira. Por sua vez, Katia Perdigón (2008) destaca que as estátuas do Niño
de las Suertes5 são vestidas por alguns devotos com tecidos recuperados de
ternos que anteriormente adornavam o esqueleto. Esta “relação simbiótica” é
travada pelo clero local, que tentou retirar o crânio dos circuitos comerciais que
recebem diretamente o seu apoio, mas foi esmagado pela produção paralela de
Niños de la Suerte “como deve ser”, em outros negócios (Perdigon, 2008:62).
No porto de Veracruz tive a oportunidade de etnografar com precisão esse tipo
de fenômeno. A figura de Santa Muerte irrompeu nesta cidade –no meio de uma
explosão populacional– desfrutando de uma dupla filiação: a do esqueleto e a de
uma imagem umbandista (mas vista como “santera” e cubana) do oricha do mar e
maternidade, Yemayá, que vários "guias" de templos e centros espíritas em contato
com correligionários do Brasil se juntaram ao seu panteão de espíritos sob o nome
de Lucero de la Mañana. Uma médium em particular, conhecida como "La Maestra",
a identificou com Santa Muerte, e em 1993 fundou o Templo Universal das Flores
Yemayá em homenagem a ela. Começou a fazer estátuas, velas, camisetas,
loções, canções gravadas em CDs e outros objetos consagrados a ela e rotulou
dois com a imagem da deusa, batizando-a de "Yemayá, a Jovem Morte Encarnada".
Rapidamente, os donos das barracas de venda de ervas medicinais e artigos
religiosos nos mercados do centro, que também começaram a se especializar em
4
No sentido proposto por C. Gutiérrez (2008:367): “O nome 'prateleiras' refere-se à sua
natureza específica e à justaposição de objetos culturais que a tornam possível, enquanto a
palavra 'exotérico' busca enfatizar o caráter de difusão de saberes e práticas espirituais que
procura, contrariamente ao esquema de saberes reservados que caracterizou as correntes
espirituais esotéricas do século XIX –como a teosofia ou o gnosticismo–, das quais se
alimenta e diante das quais se distingue”.
5 El Niño de las Suertes é venerado desde 1937 em Tacubaya (Cidade do México),
no Convento de Dulce Nombre de María y San Bernardo. Tradicionalmente, a estátua
representa um menino Jesus dormindo com as mãos cruzadas sobre uma caveira, o que
evoca o sonho premonitório de sua vitória contra a morte.
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Focar a análise a partir da etnografia dos mercados não é acidental e permite abrir
novos caminhos de reflexão. Certamente, a virada histórica mais radical, a que deu
caráter coletivo a uma devoção que por muito tempo se manteve discreta, contígua à
de outros santos e virgens na intimidade de algumas casas, consistiu em retirar grandes
estátuas do Santo Morte para a rua e converter
6 Comunicação pessoal de Nahayeilli Juárez Huet, extraída de uma conversa informal com
comerciantes deste site em 2008.
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Segundo Renée de la Torre, essa lei (produto de negociações entre a Conferência
Episcopal Mexicana, o Vaticano e o Estado) permitiu que a Igreja Católica Mexicana se
reestruturasse fortemente no território nacional, erradicando suas correntes “não ortodoxas” e
promovendo , pelo contrário, o movimento de renovação carismática. A partir de 2002, sob o governo
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do PAN, aumentou sua influência no espaço público por meio de campanhas de “evangelização”
na mídia e “cruzadas confessionais” na educação e na saúde pública (De la Torre, 2007:43-44).
Apesar disso e com grandes disparidades regionais, no mesmo período se desenvolveram outras
igrejas cristãs, como a evangélica e a pentecostal (De la Torre e Gutiérrez, 2007), bem como
práticas não cristãs que ousaram reivindicar sua legitimidade, como como o espiritismo trinitário
mariano (Garma, 2007), práticas indígenas ou buscadores espirituais que rejeitavam qualquer
filiação que implicasse exclusividade religiosa (Gutiérrez, 2007:123).
Por outro lado, a conotação da Santeria como uma "encarnação do mal" em termos
de drogas e crime, poderia ser uma forma pela qual algumas estruturas do Estado
constroem seus próprios "demônios" para justificar sua incapacidade e incompetência
em áreas onde também são parte do problema (2007:199).
11
Para mais informações, González Rodríguez, 2002; o Aridjis, 2004. Para uma análise
mais detalhada do processo de “narcosatanização” da devoção a Santa Muerte, ver Ar
gyriadis, 2014.
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12 “Se a Virgem de Guadalupe pode ser entendida como o símbolo chave da cultura
nacional mexicana […] Morfoot, 2011). Ver também Lara Mireles, 2008:287; Da Pena,
2009:182; Hernández, 2005, que a glorifica como forma de resistência comunitária, ou
ainda Mancini, 2012, que propõe uma análise em termos de ecologia urbana.
O primeiro desses aspectos importantes diz respeito à forma como essa devoção está
estruturada. À primeira vista e em nível íntimo, como todas as venerações de santos e
virgens no México, os fiéis de Santa Muerte cultivam uma relação de interdependência e
imanência com esta entidade, dirigindo-se a ela como a um dos seus. um parente próximo.
Ela não inspira medo ou aflição, pelo contrário: é uma interlocutora privilegiada que quase
sempre convive nos altares e nos corações com outros personagens dos santos católicos
mexicanos como a Virgem de Guadalupe, Jesus Cristo ou São Judas Tadeu. Pede-se-lhe
consolação, intercessão e ajuda diante dos infortúnios da vida; em troca de fervor, esperam-
se dela milagres. Seus devotos a amam profundamente, e cada um projeta em seus
sentimentos e personalidades particulares. Como prova de sua fé, tratam-na com muito
carinho: dão-lhe oferendas consideradas ao seu gosto, vestem-na como uma rainha trocando
seus vestidos e coroas a cada ritual importante, beijam seu manto, apertam sua mão, elogiam
sua beleza, eles a carregam em procissões, balançam e dançam com ela na parte festiva
das cerimônias. Às vezes, quando se sentem desesperados, também a repreendem ou a
ameaçam.
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Isso vale para os rituais católicos, justamente aqueles realizados por “agentes
paraeclesiais”,14 com uma diferença essencial que reside no fato de que o culto de
Santa Muerte está em total ruptura com a hierarquia católica e é combatido por ela.
Os grupos de oração, liderados por um líder (geralmente o dono do altar ou da
efígie principal), organizam rosários em turnos em casa ou em lojas particulares, às
vezes transbordando para o espaço da rua. Nestes rituais são recitados o Pai
Nosso, a Ave Maria e numerosas orações católicas, em particular adaptando as
orações à Virgem como orações à Santa Muerte. Da mesma forma, utiliza-se o
cancioneiro popular ("Amigo", de Roberto Carlos, transformado em "Amiga"; "Te lo
pido por favor", de Juan Gabriel; "Señora, Señora", de Denisse de Kalafe; "Yo
Quero ser seu marido”, de Vicente Fernández), realizado em grandes ocasiões por
mariachis contratados para o evento. Frequentemente, os participantes são
convidados a expressar publicamente sua gratidão à Santa na forma de
“testemunhos”, onde dão conta dos milagres atribuídos ao seu poder. Alguns
grupos conseguiram fundar templos ou capelas e celebrar missas, e até casamentos,
batizados e comunhões.
Mas, diferentemente dos rosários católicos, grande parte do ritual também é
dedicada a atos de purificação e cura (limpeza) que se nutrem de múltiplas fontes
de inspiração, que correspondem à categoria rejeitada pela Igreja Católica, como
vimos, sob o nome de "tudo o que não é de Deus" e justapostos em formas
localmente originais e significativas em lojas especializadas.
Em Veracruz, trata-se principalmente de práticas de magia e charlatanismo
intimamente ligadas à gestão da fitoterapia, associada ao mundo extraurbano das
fazendas ou Los Tuxtlas, onde os “morenos” e “feiticeiros” mais poderosos
costumam viver no imaginário. Buenos Aires Além disso, há leitura de tarô,
espiritualismo, "xamanismo", santeria cubana e uma ampla gama de ofertas neo-
esotéricas, incluindo reiki, flores de Bach, anjos, pirâmides ou meditação. No plano
íntimo, também diferentemente do uso oficial dado às imagens católicas, Santa
Muerte é requisitada para trabalhos de magia, incluindo trabalhos ofensivos
chamados de magia negra, embora nem todos os seus devotos aceitem ou reconheçam fazer esse ti
Piotr Michalik descreveu esse aspecto do culto na Cidade do México em termos
de “misturas inter-religiosas”, perguntando-se quais elementos poderiam se referir
ao fenômeno da nova era e quais mais ao catolicismo popular mexicano, tanto
14
No sentido de Suárez, que os define como "instâncias que administram bens
simbólicos sem filiação oficial legítima à instituição eclesial -ainda que sem romper
radicalmente com ela- e que reconfiguram de forma semi-autônoma os conteúdos, os
circuitos e a forma da prática religiosa" (2008 :88).
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Os documentos audiovisuais trabalhados por A. Higuera Bonfil, colaboradora deste volume,
dão conta, com grande riqueza etnográfica, de todas as etapas importantes dos rituais de Santa
Muerte, que incluem, além da própria oração, tudo o que diz respeito à sua preparação, às
expectativas que suscita, à parte que se segue e aos comentários subsequentes.
17 Aparentemente, Enriqueta Romero e seu marido fizeram o mesmo, distribuindo “prefeituras”
para vestir a estátua do seu altar em Tepito (Lagunas, 2003).
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18 Ao mesmo tempo, esse grupo conseguiu comprar um lugar que servia de capela,
em um dos bairros mais pobres –e periféricos– da cidade, La Pochota. Um dos padres
ordenados pelo padre David organizou missas e rosários lá por um ano, até que graves
acusações quebraram sua posição. Claro que os rituais continuaram a ser realizados,
organizados pelo líder do grupo.
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depois de uma longa caminhada, no humilde bairro Dos Caminos, onde morava, com faixas
que diziam: "Somos católicos, apostólicos e não satânicos".
Esta iniciativa teve um sucesso relativo.
Em 2007, o grupo Blanca Flor, a todo vapor, tentou entrar na catedral com sua comitiva
pela rua principal do centro; o padre que ordenava a missa naquele momento fechou
furiosamente as portas sobre eles. Sem perder o ímpeto, repetiram a marcha em 2008,
estendendo sua trajetória (que ostensivamente roçou a catedral) em direção ao calçadão.
Desta vez, eles obtiveram autorização e apoio da polícia para fechar brevemente as ruas,
graças à participação de um grupo de dançarinos astecas, o que lhes permitiu estabelecer-
se como um "evento cultural mexicano".
Realizaram assim um ritual híbrido, montando um altar efémero virado para o mar onde os
bailarinos executavam a "dança da donzela" perante uma plateia de turistas entusiasmados.
Nos anos seguintes, ele complementou esse complexo dispositivo ritual itinerante com uma
vigília no dia anterior no sítio arqueológico de El Zapotal, onde há um baixo-relevo
representando o deus mexica da morte, Mictlantecuhtli. Eles reproduziram sua silhueta
bordando-a em huipiles que, claro, se tornaram a bandeira do grupo.
Por sua vez, a Mestra também organizou, a partir de 2000, um ritual no dia primeiro
de novembro. Mas o fez de madrugada, nas praias da Costa de Oro, um dos bairros mais
ricos do porto. Seus seguidores – veracruzanos ou nativos da Cidade do México, Puebla,
Cancún ou Xalapa – chegaram de carro, vestidos de branco, com os braços carregados de
flores, frutas e pequenas imagens ou estátuas de Santa Muerte em sua versão esquelética. ,
ou em sua Yemayá. versão, a morte jovem encarnada. Ali foi reproduzido o modelo
inspirado do santero cubano de oferendas ao Oricha Yemayá19, cuja primeira ocorrência
em Veracruz ocorreu no âmbito do Festival Internacional Afro-Caribenho em 1996, em
homenagem à atriz cubana Ninón Sevilla, mas acrescentando-lhe mais elementos, nova
era, ou mesmo "pré-hispânica" e acrescentando um novo duplo à Morte Encarnada/
Desencarnada: uma estátua do "deus mixteca da morte", com um lado esquelético e outro
encarnado. O Mestre também empreendeu, além das viagens organizadas já mencionadas,
uma conquista espiritual da cidade através da escrita de crônicas em algumas rádios e
jornais locais.
A breve descrição desses diferentes rituais públicos que buscam ocupar o espaço
urbano nos remete mais uma vez às estratégias de acomodação (Frigério, 1999) por meio
das quais os grupos de oração se esforçam para conseguir uma recepção fac-símile.
Kali Argyriadis
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20
Para uma análise do fenômeno geral de ressacralização dos centros de turismo
arqueológico no México, ver De la Torre e Gutiérrez (2005:63-67).
21 Eles ecoam debates mais antigos que questionavam os processos históricos de
construção do Estado-Nação e sua relação com a “indianidade” por meio da celebração do
Dia dos Mortos (para mais informações, ver, por exemplo, Paz, 2004; Monsivais, 1987;
Malvido , 2001 ou Lomnitz, 2006).
22
Frase ouvida em um rosário do Grupo Blanca Flor, porto de Veracruz, 17 de setembro
de 2005.
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Apaixonados por esses debates, seus líderes procuram se informar sobre os lugares
mais movimentados, consultando a internet e as publicações disponíveis, e deslocam-
se sempre que possível com seus fiéis (que às vezes economizam por anos) de um
lugar para outro. Eles também tentam “convidar” grupos de outras cidades. Dessa
forma, grupos de oração de diversas origens entram em contato, unem forças, se
opõem, e também se inspiram, copiam estilos, trocam imagens e objetos sagrados
e nutrem seus respectivos repertórios. Nessa dinâmica, vão construindo
progressivamente suas modalidades rituais regionais específicas, em sua própria
lógica de reinterpretação, reapropriação e montagem de elementos católicos,
indígenas ou cubanos – no caso de Veracruz, cujo imaginário identitário está
fortemente ligado à ilha (Argyriadis, 2009). )–, ao “estilo” de diferentes zonas do país.
Assim, reforça-se a natureza mexicana do culto, que se declina nas variantes locais.
Observar a forma como todos esses estilos e variantes da devoção a Santa Muerte
são criados é emocionante para o etnógrafo, que literalmente testemunha viver o
nascimento de uma nova divindade polimorfa e multifacetada. Por fim, gostaria de
explorar esta metáfora do nascimento, que me parece fundamental para uma figura
que põe em jogo a dualidade entre encarnação e desencarnação. Em particular,
focarei a análise na maneira como os devotos dão à luz, crescem e às vezes
sobrevivem à sua Santa Muerte pessoal.
Como já foi dito, as imagens, e especialmente as estátuas de esqueleto usadas
para devoção, são humanizadas e individualizadas. Comem, bebem, fumam e atuam
como interlocutores privilegiados para seus donos, bem como para as pessoas ao
seu redor que desejam participar dessa relação. A seus crânios são atribuídas
expressões faciais como sorrisos afetuosos, caretas de nojo, rosto preocupado,
olhares severos, tristes, felizes ou ameaçadores. Muitas vezes os maiores recebem
cabelos, brincos, colares “de sua escolha” e suas órbitas são preenchidas com
pequenos espelhos, papelão iridescente, papel tornassol ou olhos de vidro. A tudo
isso somam-se os sofisticados trajes femininos, com abundância de rendas, cores,
véus, babados, penas, lantejoulas e um chapéu combinando. O corpo esquelético e,
eventualmente, seu traje franciscano original desaparecem completamente sob
esses ornamentos, deixando apenas o rosto e as mãos à vista. Como no costume
de “vestir santos”, para além da simbologia das cores ou dos materiais utilizados,
pretende-se sobretudo provocar uma forte emoção estética. Aparentemente os
códigos não são (ainda?) tão rígidos para realizar essa tarefa, e cada devoto muda
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Alterando periodicamente o traje de sua Santa Muerte ao ritmo dos rosários, seguindo sua
inspiração, seus sonhos ou os conselhos de seus guias.
Cada Santa Muerte comprada como objeto de consumo nos mercados torna-se, por
meio dessa importantíssima operação ornamental23, um ser único, sagrado, personalizado
e vivo. Para Silvia Mancini (2012:15), que se refere a Frei Bernardino de Sahagún, talvez
este seja o sentido mais "pré-hispânico", ou pelo menos claramente mexicano da prática:
são os trajes e ornamentos que sacralizam e identificam os deuses . Seguindo o conceito
de Marc Augé (1988), poderíamos então considerar que ao "vestir esqueletos" e nutri-los
ritualmente com oferendas e atenções, a prática devocional transforma cada pacote de
Santa Muerte em um "objeto-deus", ou seja, em uma materialização animada da relação
que une o devoto com seus correligionários e com o objeto de seu fervor, que constitui um
duplo de si mesmo e cuja existência como ser vivo depende totalmente dessa relação.24
De fato, cada devoto tem pelo menos uma imagem ou estátua própria e, se tiver
várias, geralmente há uma para a qual suas maiores atenções são direcionadas. Nos
altares domésticos coexistem os de todos os membros do agregado familiar, com uma
clara prevalência em tamanho e decoração no do chefe de família. Nos efêmeros altares
coletivos montados para os rosários ou os ritos mais importantes, as trouxas e imagens
pessoais trazidas, cuidadosamente vestidas, carregadas de ternura e precauções – às
vezes em xales – como bebês, são colocadas ao redor da estátua-mãe do líder, muitas
vezes maior que todos os outros, que circula de casa em casa quinzenalmente ou avança
como cabeça de fila em procissões. Através de sua estátua, o líder do grupo se coloca
simbolicamente tanto em posição de autoridade quanto à disposição de seus seguidores,
sua simples presença é o que supostamente garante benefícios e milagres para todos em
troca dos sacrifícios consentidos em oferendas, despesas diversas, tempo e fervor. É
também ela que transmitirá vida e força às demais estátuas, amuletos e ingredientes
rituais que cada devoto devolverá ao altar de sua casa. Muitas vezes nos rituais de
Veracruz pude observar como essa função foi encenada concretamente. O Diabo, por
exemplo, considerou que
Kali Argyriadis
Tocando a estátua principal em seu altar, recebeu dela inspiração e um dom de cura,
e por causa de suas boas vibrações ele também carregou as estátuas dos presentes
com energia e os sacos de sementes com moedas que costumava distribuir no final
como um amuleto da sorte. abundância para boa sorte em dinheiro. Por sua vez, a
líder do grupo Blanca Flor formou o que chamou de “cadeia energética”: partia de
sua estátua, que tocava com a mão, cruzava o corpo, tocava alternadamente por
seus assistentes,25 e assim sucessivamente. foi distribuído sucessivamente em uma
rede quebrada pelo contato físico entre todos os participantes do ritual. A esta cadeia
duplamente materializada (entre humanos e entre estátuas) acrescenta-se o sistema
de dádiva e contradádiva descrito anteriormente, e que constitui, segundo Caroline
Perrée, uma espécie de cadeia humana formada por trocas coletivas que reforça o
compromisso comunitário entre os devotos ( 2014:32). Em resumo, as estátuas,
como objetos-deuses, participam da construção dos laços espirituais entre os
membros de um mesmo grupo de oração: a estátua grande "dá luz" às menores,
alimenta-as constantemente, ajuda-as a crescer, enquanto a estátua devotos, que
agem como se fossem filhos respeitosos diante de seu líder abnegado, engrandecem,
empoderam e nutrem a referência Santa Muerte através da devoção coletiva.
Mancini propôs analisar Santa Muerte justamente como um duplo doméstico:
“essa parte desconhecida de si mesmo que não se consegue expressar ou
manifestar” (2012:7), uma forma de prótese sagrada que estenderia o corpo do
devoto e permitiria “ alcance áreas fora do alcance dos homens” (Mancini, 2012:7).
Para este autor, a ortopraxia do ritual (adornar e cuidar da estátua, abraçá-la,
apresentá-la em toda a sua magnificência diante dos outros) tem então o objetivo de
repará-la física, social e espiritualmente, devolvendo-lhe a sua capacidade agir no
mundo. Estas análises contêm pistas de reflexão muito heurísticas, que devem ser
prolongadas com a observação a longo prazo da prática, por exemplo através das
histórias de vida e da construção complementar de altares pessoais, com os seus
momentos-chave, as suas vicissitudes, e a transformação de ambos em paralelos.
textos narrativos. Devemos também ver o que acontece com uma estátua quando
seu dono morre. No caso da Santa Muerte de 23 metros de altura erguida pelo
falecido Comandante Pantera em Tultitlán (Estado do México), aparentemente a mãe
do falecido retomou a organização do culto em memória de seu filho. Mais
humildemente, tive que cruzar o caminho de um devoto que carregava
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26 Conforme observado por S. Mancini (2012), essa dinâmica lembra a noção mexica de
ixiptla, ou manifestação da divindade, conforme descrito por S. Gruzinski: “São ixiptla a estátua do deus –
diríamos, como os conquistadores, o ídolo – a divindade que aparece em uma visão, o sacerdote
que a 'representa' cobrindo-se com seus adornos, a vítima que se torna o deus destinado ao
sacrifício. As várias 'semelhanças' [...] podem ser justapostas no decorrer dos rituais”
(1990:86). Mais me parece que se a ixiptla funciona como "receptáculo de um poder, presença de
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À luz dessas breves notas etnográficas, vislumbram-se algumas pistas que nos
permitem compreender a razão pela qual a figura do esqueleto é relevante na
contemporaneidade para muitos mexicanos. As desgraças da vida, a violência, as
desigualdades sociais ou a injustiça não são típicas do nosso tempo e, como já foi
dito, são insuficientes para explicar em si a lógica da devoção à Santa Muerte. É
verdade que desde a Revolução, e especialmente desde a década de 1940, a
construção da identidade mexicana esteve ligada à personificação da Morte, servindo
como um "símbolo metonímico" de uma identidade nacional que encenaria uma
"familiaridade lúdica e próxima da Morte". ” (Lomnitz, 2006:27 e 34). No entanto, nem
as pinturas murais, nem as caricaturas de José Guadalupe Posada, nem a
popularização do dia dos mortos e a iconografia ligada a esta festa conseguiram
condensar-se massivamente numa devoção a uma figura esquelética, tal como se
desenrola no presente . O espaço deixado – não sem lutas ferozes e amplamente
mediadas – pela relativa perda de hegemonia da Igreja Católica no campo religioso
mexicano há 20 anos parece ter desempenhado um papel muito mais favorável
nesse sentido.
Michalik (2011:177-178) propôs recentemente analisar a eficiência simbólica da
representação antropomórfica da morte e sua devoção coletiva como processo de
inversão de códigos que transformaria, apenas para os devotos, essa figura repulsiva
em mãe protetora. Parece-me que a função simbólica de parteira e protetora é
cumprida por Santa Muerte não como representação, mas justamente porque é um
objeto-deus: um esqueleto sobre o qual cada devoto – livre da imposição de um
corpo sacerdotal e agrupado com seus correligionários sob o comando e com o
modelo de um líder escolhido após várias peregrinações – ele pode dar carne e vida
a um duplo de si mesmo. La Santa Muerte oferece a todos, indistintamente, a
possibilidade de estender e melhorar seu corpo: é uma prótese que substitui órgãos
falidos, que repara e transforma medo ou tristeza em ação, mas que também
transforma o feio em beleza, um objeto-reflexão, com olhos de
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“Rainha do céu, a mais bela”, conta-nos uma canção dedicada à Santa Morte
adaptada livremente de Amor Eterno de Juan Gabriel. Como vimos, a dimensão
estética da devoção é certamente um elemento fundamental do seu sucesso, aquele
que dá vida à figura esquelética e legitimidade coletiva aos seus fiéis. A Igreja Católica
pretende, de fato, combatê-lo neste mesmo terreno, como na missa (exorcista e
pública) pela cura de Puente Jula, Veracruz, em agosto de 2006, quando o padre
Casto Simón tentou incutir medo nos participantes brandindo o que ele chamou: "o
esqueleto nojento de Santa Muerte". O tratamento estético diferenciado é também o
que marca o pertencimento social (real
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Olha, Yemayá é a deusa do mar. Aqui nós a catalogamos como a Santa Morte Encarnada.
Essa mulher é linda, a Morte é uma mulher muito linda, muito linda. [...] Mais tarde, muitas
pessoas não querem venerar La Muerte de Huesito porque dizem: “Ai! parece muito feio.”
O osso os assusta, então eles colocam Yemayá. Então Yemayá é muito bonita em seu vestido,
e no mar ela não parece tão medrosa. Mas para mim os dois são iguais, para mim funcionam
da mesma forma.28
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Entrevista com Doña Lupe, porto de Veracruz, 18 de maio de 2005.
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Introdução
Nos 15 anos que se passaram desde que Santa Muerte saiu às ruas, tornando-se mais
uma oferta no mercado religioso mexicano, teve transfigurações que foram abordadas por
vários pesquisadores interessados no assunto. Alguns deles tentaram responder à origem
dessa crença, começando pelo símbolo da morte e sua transformação em nossa cultura.
Outros tentaram explicar alguns processos sociais que levaram a Santa Muerte a ter
tantos seguidores, cujo número está se expandindo em várias regiões do país.
[65]
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uma perna, antes disso o Santo o ajudou a sair dessa "dificuldade"; por isso, a forma de
agradecê-lo foi criando um altar e organizando o evento.
O Congresso contou com a presença de líderes do culto de diferentes origens:
Veracruz, Puebla, Quintana Roo, Cidade do México (ambos a congregação de altares
unidos do sul e do norte), Guerrero e o Estado do México; no último minuto, os líderes
de altar de Tamaulipas e Ciudad Juárez cancelaram.
O evento foi realizado em um salão que possuía um palco com teto sustentado por
colunas; foram feitas reservas para cada líder que confirmou sua presença. Eles
receberam cada líder com seu grupo de convidados correspondente: amigos, familiares
e devotos de cada santuário. Na chegada ao evento, cada líder foi anunciado pelo porta-
voz para aplausos; Primeiro passou a imagem do representante da Santa Muerte de
cada altar e depois entrou o líder seguido de seus convidados.
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o dinheiro não pode ser aplicado a todos, pois primeiro é preciso "catalisar" a pessoa
com uma vela com pó das Sete Virtudes. Para pedidos sentimentais, uma vela
vermelha deve ser acesa com “pós especiais para o amor”, além de rezar por nove
dias; outro líder disse que para a proteção poderosa e o ritual do dinheiro são
necessárias sementes de abundância e pó de ouro, que são colocados em cada canto
da casa junto com uma jarra cheia de sal e vinagre até a borda. Ele menciona que, à
medida que esse líquido é consumido, ele converte cargas negativas em positivas.
Então o líder de Puebla, que estava vestido com uma batina branca, foi convidado
a realizar seu ritual para fazer presente a Santa Muerte. Este líder pediu a todos nós
para ficarmos quietos, fecharmos os olhos e respirarmos. Mais tarde, ele nos instruiu a
levantar os dois braços até ficarem na horizontal (como se esperasse um abraço);
depois pediu a todos que girassem três vezes no sentido horário; depois, tocando
alguns sinos, fez uma oração pedindo a presença do espírito de Santa Muerte; Ele
disse que um campo ia ser aberto, então ele tirou uma fita preta para afastar toda a
negatividade. Pediu-se aos presentes que colocassem as mãos no peito e mantivessem
os olhos fechados, pois a Santa Muerte estava presente.
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Então ele voltou na minha frente e eu o senti soprar fumaça na minha cara; Para terminar,
ele estalou os dedos na minha testa e, finalmente, em ambas as orelhas. Abrindo meus
olhos, ele disse que através das cinzas do charuto via que eu tinha alguns problemas, e
apontou para as cinzas que ainda tinham um pouco de fogo; Ele me pediu para observá-los
com atenção e que um rosto pudesse ser visto, o que indicava que ele tinha problemas com
uma pessoa. Além disso, ele me disse que havia muitas pessoas que tinham inveja de mim,
pelo que ele sugeriu que eu lhe comprasse uma vela curada, para que ele abrisse os
caminhos para mim e removesse todas aquelas vibrações.
Houve uma pausa para o almoço. Posteriormente, um grupo de bailarinos “Chinelos”
apareceu no Congresso, usando máscaras e vestidos com trajes coloridos com diferentes
imagens, algumas religiosas, como a Virgem de Guadalupe, e outras com adornos de flores.
Com a música de uma banda de sopro que os acompanhava, começaram a dançar, girando
e pulando ao ritmo dos tambores. Então, para a próxima música, os presentes foram
convidados a dançar junto com os dançarinos; nem todos se levantaram, quem tomou a
iniciativa foram alguns dirigentes, ao passarem tiraram a imagem de Santa Muerte, que
estava vestida de chinelos como os bailarinos. Passavam a imagem entre os devotos, que a
faziam dançar nos braços, passavam para cada um ou iam ao centro da roda dançar com
Santa Muerte, como se ela estivesse ali e dançava ao ritmo do tambo carne. Assim passou
a tarde e depois houve música para todos os presentes dançarem, com o que se concluiu o
Congresso.
O interessante desse evento foi que ele mostrou que existem iniciativas para estabelecer
uma rede entre líderes de seitas, que compartilham seus rituais sem querer se impor a outros
líderes. Pode-se observar a variedade que o culto tem nas diferentes latitudes onde é
celebrado, e que também existem características que o unificam, por exemplo, personificando
as imagens com aspecto feminino, a proximidade que os devotos têm de Santa Muerte
através de suas efígies, e que a tratam como se ela estivesse realmente presente; o uso que
fazem do corpo para rituais por meio de seus braços e olhos fechados. Outro fato interessante
é que a maioria dos líderes que participaram do evento eram mulheres e o anfitrião era da
comunidade de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros (LGBT).
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usar. Essa é uma das características pelas quais o culto de Santa Muerte não é amorfo,
mas essa variedade de práticas em torno de um mesmo nume o torna homogeneamente
diverso.
Além disso, nessa variedade de práticas, algumas generalidades que compõem esse
culto podem ser registradas. Em minha primeira investigação (Yllescas, 2012), ao fazer
um estudo comparativo entre dois dos espaços devocionais mais importantes da Cidade
do México e da Zona Metropolitana – o altar de Santa Muerte, na rua Alfarería, no bairro
Morelos, e o Santuário de a Santa Muerte Internacional, em Tultitlán, Estado do México–,
destacou-se que, embora o culto fosse para o mesmo numen (a Santa Morte), não era
realizado da mesma maneira. Cada espaço devocional tinha sua própria dinâmica; no
entanto, dentro desse quadro de diferenças também encontrei certas semelhanças ou
práticas gerais que os devotos fazem no culto.
2) Há uma personificação do devoto para sua Santa Muerte; alguns fazem suas próprias
figuras com diferentes materiais como: sementes, alumínio, madeira, resina, papel,
sabão, etc. Eles os confeccionam da forma que cada devoto deseja, além disso
costumam vesti-los até assimilando seu próprio estilo de roupa. Às vezes lhes dão um
nome pessoal (Minha Lupita, Minha Juanita), tratam-na como se ela estivesse realmente
viva, tratando-a como mais uma pessoa em seu cotidiano. Outro exemplo disso: no Dia
dos Mortos, alguns devotos vestem seus filhos como Santa Muerte, vestindo-os com
mantos e pintando seus rostos de branco. Costumam também tatuar a imagem que têm em efígie.
3) Geralmente, quando o rosário ou oração em grupo é realizado, os devotos costumam
trocar objetos de todos os tipos como forma de agradecimento ou em cumprimento de
uma ordem ou promessa que fizeram à Santa Muerte. A troca de objetos geralmente é
apenas entre os fiéis que carregam uma figura do Beato, pois o objeto é dado a ela e
não ao devoto. As trocas são muitas e variadas: orações impressas em papel, velas,
balas, maçãs, saquinhos com sementes, pão, notas e moedas falsas, spray de Muerte
Santa,
pós dos venerados, rosários, estatuetas elaboradas ou compradas. , flores, escapulários
e colares, entre muitos outros; as imagens portadas, e às vezes as tatuagens do
devoto, também são fumadas e borrifadas com álcool.
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4) Não há dia específico para fazer a oração em grupo à Santa Muerte; geralmente a
dona do altar (conhecida como madrinha ou padrinho, líderes espirituais)
estabelece a temporalidade para fazer a oração em grupo. Por exemplo, no
Santuário da Santa Muerte Internacional, os devotos são convocados todos os
domingos; No caso do Santuário da Calle de Alfarería, a oração é realizada no
primeiro dia de cada mês. Não há uma única oração para Santa Muerte, mas
múltiplas versões e formas de rezar a ela, tantos quanto o número de altares que
existem. Essas orações ou súplicas são criadas pelos próprios devotos, retomando
algumas que já existem no catolicismo, como o Pai Nosso ou a Ave Maria.
Além dessas generalidades, descobri que Santa Muerte tem um caráter sagrado
e uma moral ambígua (Yllescas, 2012:75), pois é considerada santa por seu caráter
numinoso e não por uma lógica católica. É ambíguo, porque é bom e ruim ao mesmo
tempo; Existe até uma regra que os devotos comentam, eles dizem que quando você
pede algo à Moça Branca "não prometa dar a ela mais do que você pode oferecer",
porque assim como ela te ajuda, ela pode te cobrar por isso .
A última generalidade que quero destacar são as formas como os devotos se
aproximam ou iniciam no culto, podem ser: “Por legado, por identificação, por
coincidência” (Yllescas, 2012:82). Por herança, é quando alguém é iniciado na crença
no Santo, seja por seus pais ou por um parente próximo que lhe ensina a devoção.
Por identificação, é quando as pessoas se aproximam do culto por influência de
amigos ou da gangue a que pertencem; Também acontece quando os fiéis comentam
que Santa Muerte é como eles, então eles fazem parte de sua crença. Finalmente,
por coincidência, é quando uma pessoa conhece ou conhece a Santa Muerte e sua
eficácia de forma aleatória.
Estas generalidades fazem parte do corpus geral do culto de Santa Muerte,
talvez não sejam as únicas e não sejam as mesmas em todos os lugares onde esta
crença se estabeleceu, mas há muitas áreas de devoção em que são aplicáveis, pois
fazem parte dos processos de socialização específicos em que o culto é celebrado e
transmitido de forma social, que pode ser dinâmica e mutável.
Assim como há processos homogêneos nesta liturgia, há também uma série de
diversidades que se tornaram visíveis graças ao aumento do culto e sua expansão
em todo o território mexicano e em outras latitudes.
Como todo fenômeno social, esse culto passou por uma série de modificações até
então pouco discutidas. Quando se trata de levantar um possível
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Quando minha irmã Antonia me contou pela primeira vez sobre Crispín, ela me disse que
quando os maridos estão apaixonados eles rezam para Santa Muerte. É uma novena que
é rezada à meia-noite, com uma vela de sebo e seu retrato. E ele me disse que antes da
nona noite a pessoa para quem ele chamou vem” (Lewis, 1972:293).
2
Um exemplo disso foi o que aconteceu em Nuevo Laredo, Tamaulipas, onde os militares
demoliram vários altares de Santa Muerte (Loya, 2009).
3 Tradução própria: “152 altares de rua, sendo 132 no Distrito Federal e 20 no
Estado do México”.
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Desde que Santa Muerte começou a ter casa e cada vez mais seguidores, não
escapou ao interesse público de jornalistas, romancistas e pesquisadores de diversas
áreas das ciências sociais. Cada um tentou dar as primeiras explicações e narrativas
sobre esse fenômeno. Por exemplo, em 2004 Homero Aridjis publicou um romance
sobre Santa Muerte. Nas histórias que contém, costuma associar a Santa Muerte a
atos violentos, rituais sangrentos e até a apresenta como símbolo religioso do
narcotraficante:
4 Em uma análise e contagem dos seguidores que a líder Enriqueta Vargas tem na rede social
Facebook, em que foram monitorados os diversos altares em diferentes pontos do país convocados
por essa rede, foram contabilizados cerca de 150, em diferentes latitudes nacionais e internacionais .
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assustar. Ninguém sabia como seu culto havia se espalhado, mas o que se sabia é que
a morte violenta estava em voga nos últimos tempos, sua imagem era adorada por
narcotraficantes e sequestradores, por policiais corruptos e pequenos criminosos, e
tanto donas de casa quanto crianças de rua o veneravam. Quando se aproximava deste
último pela manhã, dormindo ao relento em qualquer calçada, às vezes se distinguia a
reprodução emoldurada da morte violenta encostada a um muro (Aridjis, 2004:16).
Embora a imagem desenhada pelo romance seja baseada na ficção, ela não
foi totalmente afastada da percepção social do culto quando iniciou seu
desenvolvimento. Nesse sentido, os meios de comunicação de massa –especialmente
a televisão e a imprensa– serviram de canal para a percepção de um culto associado
ao mal. No entanto, o culto de Santa Muerte também teve o olhar de cientistas
sociais, que tentaram dar uma versão diferente do fenômeno.
Una de las primeras publicaciones en la que se hizo alusión al culto fue el artí
culo de Elsa Malvido (2005) en la revista Arqueología mexicana, en el cual realizó
una iconografía de la muerte y planteó cómo fueron apareciendo las imágenes de
las calaveras desde la tempos medievais. Ele destacou sua importância em tempos
de crise como a peste bubônica, quando a figura da morte aparece tomando a todos
igualmente, bem como com as danças macabras em que a figura da morte é central.
Malvido explica que mais tarde, no México da Revolução Mexicana, o uso da caveira
foi uma forma de criticar a desigualdade social adotada por José Guadalupe Posada,
que a utilizou em suas famosas gravuras como "La Calavera Garbancera" que é
comumente conhecida como "La Catrina".
De modo geral, Elsa Malvido, em seu percurso pela iconografia da morte,
procura mostrar como “nos tempos em que o ser humano é ameaçado de morte e a
morte toma as ruas e penetra nas casas, o esqueleto e a caveira saíram do seus
esconderijos para exigir seu culto” (Malvido, 2005:27). É importante destacar esse
argumento porque desde então o culto a Santa Muerte passou a ser associado a um
momento de crise, que refletia a situação social em que se evidenciava o
enfraquecimento do Estado, bem como a chegada em 2006 de um governo cuja
legitimação foi a guerra às drogas. Dando certas nuances ao que seria visto até
então como um novo culto, que passaria a ser associado a diversas questões
criminais e malignas. A iconografia de Elsa Malvido foi importante na época e hoje
continua sendo referência para os interessados no assunto.
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A partir disso, Lomnitz equipara a função do culto a Santa Muerte com uma
dimensão da função simbólica do Estado, como pai provedor de necessidades
básicas – como segurança, alimentação, moradia e trabalho – aos seus membros.
Para Lomnitz, o enfraquecimento do Estado permitiu que outras práticas, como o
culto à Santa Muerte, funcionassem como uma espécie de certeza simbólica que
cobre as necessidades que o Estado não mais atende, o que também foi proposto
por Pilar Castells Ballarín:
O indicador de uso e valor de Santa Muerte é o conteúdo das súplicas nas orações
individuais e nas orações coletivas (trabalho, moradia, que o negócio vá adiante,
bolsas de estudo, saída da cadeia, mudança de comportamento de algum familiar ou
de seu próprio, amor, etc.). Nesse caso, a contribuição de Santa Muerte seria corrigir
a incerteza causada pela indefinição do Estado, como portador e garantidor dos
direitos humanos (2008:20).
Em 2006, foi publicado o romance O Canto dos Olhos Vermelhos, onde Santa
Muer aparece como o protetor dos indivíduos que correm risco no contexto de um
bairro violento. Nesta história, a Santa está presente na história de jovens que
enfrentam situações de violência, cheias de incertezas. Mais uma vez, a ficção
romanesca se assemelha à realidade, pois os cenários que o autor, Rafael Ramírez
Heredia, narra, fazem pensar imediatamente nos depoimentos dos devotos. Se
situações com risco latente de morte em que Santa Muerte é solicitada sua proteção,
por exemplo, a seguinte frase que aparece no romance: "Querido amado do meu
coração, não nos abandone, nunca deixe de nos abrigar com seu manto sagrado,
não nos deixe atormentar os fardados, nem as balas do fogão, nem a nitidez das
facas” (2006:61).
Como se vê, nestas primeiras publicações Santa Muerte está associada a
contextos de risco, morte, crise social, tráfico de drogas, entre outros. No entanto,
as análises e interpretações não seguiram este único caminho, houve também
algumas com teor diferente, começou-se a ver que o culto não estava apenas
associado ao criminoso, mas também tinha uma grande carga cultural e social que
lhe permitia posicionar-se como mais uma oferenda religiosa em nosso país.
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Em 2007, surgiu uma investigação que colocou a condição social dos devotos na
discussão do tema do culto. Em sua dissertação de mestrado “A morte santificada. Fé
da vulnerabilidade: devoção e culto a Santa Muerte na Cidade do México”, Perla
Fragoso apresenta-o como um fenômeno que permite correlacionar: “uma condição
social de vulnerabilidade e a religiosidade que se constrói nesse marco, bem como o
modo como a configuração cultural religiosa influencia a forma como é vivenciado tal
estado de fragilidade social” (2007:2). Este trabalho é importante porque não busca a
origem do culto, mas indaga sobre as razões de sua permanência; O trabalho de
campo foi realizado em Tepito, mas ele também visitou outros altares na Cidade do
México e alguns municípios da Zona Metropolitana.
Uma das posições sustentadas por sua pesquisa é que a expansão do culto não
revela o estado de uma sociedade violenta ou anômica, mas sim a desigualdade social
não resolvida. Além disso, sustenta que a devoção a Santa Muerte pode fortalecer os
laços familiares e sociais, assim como permite que os fiéis lidem com suas diferentes
situações de vulnerabilidade sem necessariamente resolvê-las (Fragoso Lugo, 2007).
Nesse mesmo ano, foi publicado outro texto, Death on your side (Kristensen e
Adeath, 2007), livro que mostra visualmente o culto através das práticas de fé dos
devotos. As fotografias são acompanhadas de breves textos em que são abordadas a
origem do culto, ritos, devotos e altares. Apresenta a dinâmica e o cotidiano do culto
que estava crescendo naqueles anos.5
Em 2008, Katia Perdigón Castañeda publicou La Santa Muerte: protetora dos
homens. O autor procurou dar um panorama do culto como fenômeno social visto a
partir de suas representações, modalidades rituais, historicidade, geografia e sentido
de fé. É importante notar que já estava à vista uma possível expansão e permanência
do culto:
5 É possível afirmar que estava crescendo porque nessa pesquisa se argumenta que “nos
últimos cinco anos eles colocaram mais de 300 altares nas ruas das diferentes áreas da Cidade
do México” (Kristensen e Adeath, 2007:55 ). Ou seja, de 2002, ano em que o pesquisador iniciou
seu estudo, até 2007, quando o tornou público, conseguiu contar pelo menos esse número de
altares.
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que os fiéis de Santa Muerte tenham tomado a liberdade de dizer algo diferente, algo
que podemos ver impresso na expressão de um rosto ou tatuado na pele. São imagens
eloquentes, falam de um modo de se relacionar com a morte que oscila entre o sagrado
e o profano, entre atitudes religiosas e realidades sociais, entre a angústia da culpa ou
desamparo e o sentimento de pertencimento ou equilíbrio que uma crença pode dar
com partida (Reyes, 2010:30).
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Sem dúvida, o culto de Santa Muerte gera vários imaginários e discursos. Para
algumas pessoas é uma prática religiosa de criminosos ou párias. Outros associam
Santa Muerte a atos de maldade e feitiçaria, chegando a fazer uma relação direta
com a morte no sentido de tirar a vida ou oferecer a de outrem em troca de sua
proteção. Esse tipo de suposição decorre do desconhecimento e da má imagem
que vem sendo propagada por aqueles setores sociais que não têm uma boa
percepção dessa devoção.
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captou a relação entre Santa Muerte e a população que está dentro do presídio
(Payá, 2006) ou familiares que estiveram presos (Kristensen, 2011 e 2015).
A antropóloga Kristensen registrou que na Cidade do México, de 1992 a 2005, a
população que esteve na prisão aumentou consideravelmente e como eles, os
altares de rua de Santa Muerte aumentaram especialmente em lugares como:
Nezahualcóyotl, Ecatepec, Atizapan de Zaragoza, Chimalhuacan.
“Esses altares também estavam em áreas com altos índices de violência e grande
população carcerária” (por exemplo, El Sol, em Nezahualcóyotl) (2011:551).6
Somado a esse contexto, o sistema prisional experimenta uma série de
ambiguidades como corrupção dentro do sistema de justiça. Muitos dos presos são
detidos antes de serem investigados, e durante as investigações, ou seja, no
“julgamento”, passam pelo menos seis meses na prisão. Alguns dos presos são
presos sem serem culpados ou cumprem longas penas por crimes menores; Diante
desse tipo de situação, surge Santa Muerte, figura sagrada tão ambígua quanto o
aparato da justiça, ao mesmo tempo premiar e punir. Muitos dos presos, segundo
Regnar, abordam Santa Muerte pedindo-lhe que agilize os trâmites para obter uma
sentença e deixe a incerteza do processo prisional.
Nessa relação entre o aumento da população carcerária causado pelas novas
políticas criminais –que tendem a punir a pobreza–, em comparação com o tipo de
certezas que Santa Muerte dá7 , não é possível generalizar e relacionar tal
aumento com o aumento da devoção à La Niña Blanca, talvez no caso da Cidade
do México haja uma relação muito forte entre os dois processos; Deve-se levar em
conta que a Santa Muerte aumentou sua presença em outras partes do país, onde
há um contexto diferente do da Cidade do México e de sua Região Metropolitana. Gostaria
6 Tradução própria: “Esses altares também ficavam em áreas com altos índices de violência e
grandes populações carcerárias.
7 Na minha pesquisa atual sobre este tema (Yllescas, 2016), decidi ir diretamente a uma
prisão para ver as especificidades que o culto de Santa Muerte tem em seu interior. Por exemplo,
na prisão havia um número considerável de internos devotados à Niña Blanca, mas essa devoção
também se mistura com outras como: Santería, o Diabo, San Judas Tadeo. Dentro do presídio, a
realização de práticas religiosas é complicada pelas limitações e todos os controles administrativos
e de segurança, na dinâmica de convivência entre a população, mas materialmente é possível
perceber as diferentes práticas religiosas através dos altares, das efígies e das pinturas que os
presos têm em suas celas. Outro elemento interessante é o uso do corpo, no qual os devotos
internos o utilizam como se fossem altares, pois cada marca de tinta na pele é uma lembrança,
uma homenagem, um comando. Alguns presos dizem que as tatuagens são a forma de se
comunicar com os santos, as tatuagens estão vivas. E é no corpo que os estagiários alcançam
uma conexão com o sagrado.
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interessante ver em que tipo de contexto social o culto se intensifica em outras latitudes,
se tem a ver ou não com o aumento da população carcerária nesses locais.
Concluindo, a devoção a Santa Muerte é aberta a outros setores da população
como comerciantes, policiais, crianças, donas de casa e famílias que não tiveram um
membro preso. Mesmo dentro do presídio, Santa Muerte é uma crença que se alterna
com outras, nem todos os presos têm o Papai Noel como guardião. Parece-me que esta
é apenas uma das bordas que nos permite compreender como é que hoje o culto se
consolida como oferta de religiosidade popular em todo o país e no exterior.
Por fim, pode-se perceber como o culto de Santa Muerte passa atualmente por
constantes mudanças e transformações que o moldaram com uma singularidade única,
mas sem se afastar das influências de outras práticas religiosas como o catolicismo
popular, a santeria, as práticas de magia, feitiçaria, a nova era, por exemplo. É um culto
que se caracteriza por sua heterogeneidade de práticas, que ao mesmo tempo lhe
conferem homogeneidade e o tornam atrativo para muitas pessoas.
Falar das transformações de um fato social não é tão simples. Aqui tentamos
explicar como evoluiu o culto de Santa Muerte; Talvez ainda haja muito mais a ser
respondido, mas trata-se de oferecer aos leitores diferentes cenários que expliquem o
surgimento e o desenvolvimento de um fenômeno religioso como este. A Santa Muerte
está em consolidação ou não? Do meu ponto de vista, acho que sim, mas essa
consolidação ainda está em processo.
A consolidação do culto de Santa Muerte dependerá do modo como ele transcender
nos próximos anos; Será necessário ver o tipo de redes ou acordos formados pelos
diferentes líderes do culto, bem como a posição que os diferentes setores da sociedade
continuarão tendo em relação a essa crença, ou seja, até que ponto a liberdade de culto
ser respeitado e que tipo de tolerância será implementado em relação aos praticantes
dessa crença. Além disso, será importante verificar se o culto continua sendo transmitido
direta e indiretamente.
Um culto como este tem muitas arestas a serem compreendidas, neste estudo são
mostradas algumas das muitas que existem. A tarefa de analisar mais aspectos que
sustentam o culto, como a questão de gênero, ainda está pendente, pois atualmente
duas lideranças de destaque que estão dando um impulso significativo a essa crença
são as mulheres, por isso é fundamental ver a importância e o papel que mulheres e a
comunidade lgbt têm em desenvolver e manter essa crença. Por outro lado, também é
preciso aprofundar as relações econômicas que existem em torno de Santa Muerte:
como é constituído o seu mercado? Que redes mercantis gera e de quais depende?
Resta avançar na história do culto,
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da prática de devotos mais velhos, para ter mais clareza sobre sua possível origem.
Outro tópico que será importante investigar sobre esse culto é sua chegada a outros
países, como os Estados Unidos, e fazer uma comparação com outros santos
semelhantes, como San La Muerte, na Argentina.
Em suma, o culto de Santa Muerte é tão diverso quanto suas interpretações e
análises são variadas, que talvez ao longo dos anos sejam registradas e sirvam para
explicar não apenas essas práticas religiosas, mas também esclarecer por meio delas
como ela vive. sociedade da qual fazem parte.
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ser abandonada sem medo de ser punida”, em Sistema de Informação da
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84
Machine Translated by Google
PARADOXO ESTRANHO:
O CULTO DA SANTA MORTE
NA PERSPECTIVA DA SEMIÓTICA
1
Este artigo é uma atualização e ampliação das considerações introduzidas no artigo
intitulado The Meaning of Death: Semiotic Approach to Analysis of Syncretic Processes in the
Cult of Santa Muerte apresentado no X Congresso Mundial de Semiótica, em La Coruña, e
publicado como artigo em Archives de Sciences Sociales des Religions (Michalik, 2011).
2 O trabalho de campo foi realizado na Cidade do México, nos estados de Veracruz,
Chiapas e Yucatán, no México, e também nos departamentos de Sololá e Chimaltenango,
na Guatemala. As expedições e a elaboração dos materiais disponíveis foram possíveis
graças ao apoio financeiro tanto do National Science Center (Narodowe Centrum Nauki)
para a realização do projeto de pesquisa nº. UMO-2014/13/D/HS1/01695, bem como do
Ministério das Relações Exteriores (sre). Gostaria de expressar aqui minha gratidão a ambas as instituições.
[85]
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De acordo com as explicações mais comuns, a incrível popularidade do tom sagrado suda
está relacionada à crise que afeta a vida cotidiana de cada vez mais mexicanos em escala
macro e micro. De acordo com esse raciocínio, alguns mexicanos –especialmente aqueles que
pertencem a setores desfavorecidos– sofrem de uma obsessão pelo imediato porque vivem em
estado de vulnerabilidade social, em processo de exclusão e sob a sombra de uma ameaça
permanente. O culto da morte, símbolo de transitoriedade e incerteza, tende a atrair pessoas
que enfrentam múltiplas dimensões de insegurança. Dessa forma, o interesse veemente dos
mexicanos pelas figuras esqueléticas se assemelharia às inclinações simbólicas dos habitantes
da Europa medieval ou barroca atormentada por pragas e guerras. Naquela época, o imaginário
religioso abundava em representações da morte, principalmente na forma da famosa dança
macabra e triunfos da morte (Malvido, 2005; Navarette, 1982).
Tais explicações4 não estão apenas presentes na imprensa, mas também em alguns dos
trabalhos acadêmicos mais difundidos e clássicos dedicados ao tema. É assim que Claudius
Lomnitz descreve o culto:
No entanto, se a perspectiva dos devotos for levada mais em conta, para a maioria
deles Santa Muerte é acima de tudo uma santa. Para muitos, os supostos aspectos
tanatológicos ou escatológicos do santo ossudo não são sequer uma preocupação.
Um traço muito mais importante permanece na capacidade de realizar milagres
instantâneos, a eficiência incomum que lhe é atribuída, a atenção e o cuidado que a
Abençoada dá aos seus seguidores.
Uma figura esquelética encapuzada não precisa necessariamente estar ligada ao
conceito de morte, juntamente com seu próprio campo semântico gigantesco. Assim
como no caso de outras entidades significativas –especialmente os signos em geral–
o significado atribuído a essa figura depende apenas do contexto em que está inscrita.
Dentro da semiótica existem várias definições de signo,5 por isso vale a pena
evocar aqui uma das mais básicas, cunhada por um dos pais da semiótica: Ferdinand
de Saussure (1945), bastante útil para as seguintes considerações.
Segundo essa definição, um signo é um conjunto: o total resultante da associação de
um significante a um significado. O significante refere-se à forma, ao portador, ao meio
– um som no nível verbal, uma imagem no nível visual, etc. – o significante serve para
comunicar o conteúdo do signo: o significado, conceito e representação mental de
alguns material.
A mesma forma pode referir-se a vários conteúdos e o mesmo conteúdo pode ser
expresso por várias formas. Um exemplo de significante que se refere a vários
significados pode ser o som ou a inscrição que expressa a palavra espanhola /sal sa/.
Dependendo do contexto, pode significar dança caribenha, tempero usado na comida,
um gênero botânico (Ferraria), etc. Um exemplo de significado expresso por vários
significantes pode ser o conceito de dança, manifestado em
87
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6
Esse tipo de universo é chamado de "semiosfera" por Lotman (1996).
88
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velho pra caramba. Um exemplo muito claro desse processo é a figura de Tla catecolotl-
Diabo das crenças contemporâneas dos Nahuas da Huasteca (Báez-Jorge, 2003). Este
exemplo ilustra assim o fenômeno da semiose, uma incorporação de novos elementos
externos a um determinado sistema de signos ou uma reinterpretação de elementos
existentes dentro do sistema. A semiose é um processo de produção e reprodução
contínua de signos e significados, o tempestuoso ciclo vital dos signos.
a morte virgem
89
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simbólico e iconográfico entre os Guadalupana e os Beatos foi chamado por Lom nitz
(2006:463).
No plano visual, a semelhança entre Santa Muerte e a Virgem de Guadalupe fica
clara nas representações da primeira com auréola e vestida com túnica. Um excelente
exemplo da sobreposição das duas imagens é a representação do Santo Pio, que
reproduz o clássico tema iconográfico da Pietà, onde Santa Muerte sustenta um corpo
humano assumindo a pose da Virgem Maria segurando Cristo.
Era um segundo de novembro, às seis da tarde. No templo de Guadalupe. Lá ele me deu meu dom
para trabalhar. Sim, ela mesma apareceu na casa do nosso Pai, lá em Guadalupe. Ela se
apresentou como uma senhora muito bonita. Muito linda. Eu pensei que era outra senhora indo
orar, bem. Mas não, ele me tocou aqui, nos ombros. Senti a vibração, que ela sabia como curar.
[...] E ninguém acreditou que sim, eu tinha encontrado a Santa Muerte. E a partir desse momento
estou feliz com ela. Sim, ela é muito bonita, ela é minha mãe, ela é tudo para mim. Porque ela é
muito milagrosa. [...] A mãe de Guadalupe, sim. É a mesma.
É a mesma Mãe, a Santa Morte. Para mim é a mesma coisa (Inés, entrevista, 2007).
8
A imagem de Santa Muerte como o Anjo da Luz ou Anjo da Morte é difundida
pela Igreja Católica Nacional do México e dos Estados Unidos. (Perdigon 2008:109).
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Eles atraem a atenção dos transeuntes que passam pelas bancas de revistas.
Além disso, essas publicações costumam ter um bônus: algo como um
calendário, um pôster ou uma figura de papelão da Santa Muerte que acompanha a edição.
O conteúdo incorpora fotos de altares, cartas dos leitores à editora, fórmulas
(talvez devam ser chamadas de receitas), rituais, explicações do simbolismo e
significado de determinados detalhes iconográficos e, claro, comerciais.
Estes últimos auxiliam o pesquisador a estabelecer o público-alvo da revista,
além de indicar o contexto espiritual dos aspectos comerciais do culto ao santo
ossudo. Assim, você pode encontrar anúncios de curandeiros urbanos que
oferecem serviços como limpeza energética, leitura de tarô, práticas mágicas,
proteção contra influências negativas ou ajuda com saúde, amor, dinheiro e
outros problemas pessoais.
Além desses anúncios, também há horóscopos de linha direta, salas de bate-
papo de adivinhação que oferecem leituras de tarô, runas vikings e leituras de
numerologia, bem como acessórios e tutoriais de Feng Shui. Os produtos
associados à Santa Muerte são, por exemplo, DVDs com instruções rituais e são
combinados com outras mercadorias, como velas, que compõem os pacotes
bônus. Outras revistas gráficas, como Mundo esotérico , são promovidas em
Devoción a la Santa Muerte, deixando bem claro que a imagem comercial da
Santísima está intimamente ligada ao esotérico popular eclético que pertence às
correntes da nova era em sentido amplo (Hanegraaff, 1996). A ênfase permanece
nas supostas origens antigas da tradição espiritual à venda –um dos elementos
característicos do esoterismo comercial–; Manifesta-se na revista Devoción a la
Santa Muerte com artigos cíclicos sobre o culto da morte no México pré-hispânico.
A lógica de negócios exige mudanças constantes nas embalagens dos
mesmos produtos, por isso rótulos novos e exóticos são bem-vindos. Dentro
deste aspecto do culto ao Santíssimo Sacramento, os elementos de diferentes
linguagens rituais e míticas livremente adotadas são semanticamente reduzidos,
recodificados e padronizados para se tornar um produto reconhecível, pronto e
manejável que pode ser facilmente combinado com o restante a mercadoria
disponível. O híbrido esotérico na forma de cartas de tarô de Santa Muerte pode
servir como um excelente exemplo desse processo. Outro sintoma é a enorme e
crescente variedade de acessórios produzidos em massa que exploram a
imagem de Santa Muerte: estatuetas, pingentes, colares, camisetas e até papéis
de parede para celular. Esta multiplicação impetuosa das formas e do
multilinguismo mítico e ritual impulsionado pela lógica do comércio repercute na
linguagem das representações, na gramática ritual e no sistema de crenças ligado ao culto popula
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tantos: a queda acidental de um relógio pode ser lida como um sinal claro de que
o tempo da visita acabou. As experiências traumáticas intensificam a semiose
dos eventos que se sucedem e, em última análise, a tendência de interpretar
esses eventos como sinais sobrenaturais destinados a alertar o devoto para uma
catástrofe em curso.
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A primeira vez que conheci Santísima Muerte quando era pequena. Ela estava na minha casa em uma mesa. Eu
vim da escola com meus irmãos e falei: ele é daqui? E minha mãe disse que ela é daqui. Eu disse: bem, quem é
ela? quem é ela? é bem feio! Eu disse a ele ainda.
[…] Mas agora eu digo aos meus amigos que eles sabem o que – porque às vezes eles perguntam como ele está
[Santa Muerte]? – e eu digo a eles quer saber, ela é muito bonita, mas às vezes ela assusta eles e tal (Alfonso,
entrevista, 2007).
11 Comparável ao conceito de semiosfera de Lotman (1996), a lente semântica constitui um dos filtros fundamentais
para os processos de semiose, que ocorrem na periferia da semiosfera.
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E isso é o que isso significa para mim certo? Uma entidade de luz, mais que tudo. […] Ela mesma
(Santa Muerte) me disse: eu não sou ela nem ele, porque eu não faço sexo. São as palavras que
ela me disse. (Ramon, entrevista, 2007).
12 O nome inglês para a Irlanda vem do nome Ériu, uma das deusas territoriais celtas.
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ela se tornou uma bela jovem, e o rei passou no teste recebendo a bênção da
deusa (Dexter e Goode 2002).
Por outro lado, de acordo com a tradição hindu do Shaktismo (particularmente
dentro das correntes tântricas), a vulva (yoni) é um símbolo do princípio cósmico
supremo: a deusa (devi) chamada Poder (Shakti). Yoni significa em sânscrito, entre
outros, "o seio", "a vulva", "a vagina", "o útero", "a fonte", "o começo", "o ninho", etc.
Etimologicamente, assim como a palavra yoga, vem da raiz yu, que significa "unir",
"unir" e significa "o que une". Yoni, juntamente com o símbolo fálico linga, simboliza
os dois princípios cósmicos: o princípio ativo (representado pela deusa Shakti) e o
princípio passivo (representado pelo deus Shiva). Yoni e linga expõem o processo
primordial da criação do cosmos pela dissociação da consciência do absoluto e o
retorno cíclico ao estado de não diversificação original por união de oposições.
Na geografia mítica, Yoni simboliza o lugar mais sagrado para os devotos de Shakti,
onde está localizado o principal santuário da deusa. Segundo a tradição dos Kaula
– uma das seitas tântricas – o corrimento vaginal está simbolicamente associado à
sabedoria e ao conhecimento. Para receber uma iniciação e ingressar no clã, o
adepto tinha que beber os fluidos vaginais de um dos iniciados da seita (White, 2003).
Em contraste, para alguns dos habitantes nativos da Nova Guiné, a genitália
feminina e suas secreções eram o objeto mais repugnante e temido. Havia muitos
tabus relacionados a eles por lhes atribuir propriedades sinistras e contagiosas
(Gilmore, 2001:18-35).
Outro exemplo de lente semântica seria o fenômeno dos gêmeos. Mesmo um
habitante do mundo desencantado de hoje e um membro da sociedade pós-
industrial raramente passa completamente indiferente a gêmeos. Não é de
surpreender que em vários contextos históricos e culturais, os gêmeos recebam
propriedades extraordinárias e desempenhem um papel importante em muitas
narrativas míticas. Em ambas as Américas, gêmeos míticos costumam servir como
heróis culturais. Mas mesmo nessa área há sérias diferenças em como os gêmeos
são apresentados e percebidos. Em muitos mitos ameríndios, por exemplo no
famoso Popol Vuh, os gêmeos formam um par harmonizado de aventureiros,
semelhante ao grego Dioscuri ou ao hindu Ashuin . No entanto, em outras narrativas
(como o conhecido mito cosmogônico dos iroqueses) um dos gêmeos é bom e o
outro mau. O gêmeo mau é responsável por criar os infortúnios e as coisas
desagradáveis do mundo. Nem em todos os lugares o nascimento de gêmeos é
considerado uma dupla bênção. Embora em algumas aspartes
Américas
da África
os gêmeos
e em ambas
fossem
atribuídos bons poderes, em outras o nascimento de gêmeos estava associado à
fatalidade e era costume matar um deles (Milner, 2000:461-465).
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Referências
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Entrevista
ALFONSO [entrevista], 2007, filho da curandeira urbana Inés, de Piotr Grzegorz
MICHALIK [trabalho de campo], “A bruxa e a yoginÿ. Figuras femininas dos sábios das
tradições mesoamericanas e mitologias indo-européias”, San Cristóbal de las Casas,
Chiapas, ciesas-Golfo.
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INÉS [entrevista], 2007, curandeira urbana, por Piotr Grzegorz MICHALIK [trabalho
de campo], “A bruxa e a yoginÿ. Figuras femininas dos sábios das tradições
mesoamericanas e mitologias indo-européias”, San Cristóbal de las Casas,
Chiapas, Ciesas-Golfo.
MALÚ, [entrevista], 2007, curandeiro urbano, por Piotr Grzegorz MICHALIK
[trabalho de campo], “A bruxa e a yoginÿ. Figuras femininas dos sábios das
tradições mesoamericanas e mitologias indo-européias”, San Cristóbal de las
Casas, Chiapas, Ciesa-Golfo.
RAMÓN [entrevista], 2007, curandeiro urbano, por Piotr Grzegorz MICHALIK
[trabalho de campo], “A bruxa e a yoginÿ. Figuras femininas dos sábios das
tradições mesoamericanas e mitologias indo-européias”, San Cristóbal de las
Casas, Chiapas, Ciesa-Golfo.
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Moça, minha Moça, a Moça Branca, Moça Bonita, Moça Branca, a Comadre, a
Bendita, os Ossinhos, a Patrona, a Madrinha, minha Senhora, Irmã Branca, Senhora
Santa, Senhora Poderosa. Os devotos atribuem esses e outros sinônimos afetuosos
a Santa Muerte, denotando a diversidade cultural que o culto engloba. O objetivo
do trabalho a seguir é apresentar, desde o início, uma exploração sócio-histórica da
prática religiosa que tem como centro a adoração do ícone de Santa Muerte
considerando algumas pistas processuais desde meados do século passado até
2015. A intenção é destacar a transição entre a devoção tradicional e a clandestina
–que se mostra restrita a determinados setores da população e parece ter poucos
adeptos (em relação aos atuais)–, e o surgimento do culto no quadro da pós-
modernidade e globalização. Em seguida, trato do que considero as características
pós-modernas do culto; Para concluir, apresento a construção do imaginário
cosmogônico do culto e as semelhanças e diferenças entre as regiões norte e
sudeste do México.
A estrutura do capítulo é a seguinte: no primeiro parágrafo reflito sobre as
características da devoção a Santa Muerte no século passado, seus espaços de
atuação e sua adesão. As pistas bibliográficas e iconográficas dão conta do culto e
permitem-nos aproximar de saber quais eram as esferas sociais de devoção; como
era a devoção e de que forma se realizava sua práxis; e quem eram seus crentes.
[111]
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2
Comecei a investigação sobre Santa Muerte em San Andrés Tuxtla, Veracruz, em 2009.
Parte dos resultados foram capturados no capítulo “La Santa Muerte. Práxis imaginária e
cultual em Los Tuxtlas, Ver. do livro Imaginários e ritos tanatológicos no México.
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Na Fortaleza de San Carlos e nas Ilhas Marias – comenta Dom Chico – quase
todos os internos e zeladores rezavam ao Santo e muitos, como ele, rezavam também
ao Diabo. Ele tem agora 89 anos e continua a ser um fervoroso devoto do Santo e do
Diabo, a quem ele reconhece como tendo "a liderança de grande poder". Atualmente,
Don Chico e sua esposa vivem em uma fazenda de gado; lá eles fornecem um espaço
3
Um caso separado é o culto localizado de San Pascualito Rey em Chiapas (Navarrete, 1982).
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para sua casa e em frente a ela, a 300 metros, há um montículo pré-hispânico; Ele conta
que nas noites de lua cheia, quando reza para a “Santita”, lá se ouve “o galo” (o Diabo),
“o safado está lá”.
Ele narra que naqueles anos (do século passado) “os devotos decoravam a oração
e a rezavam, não se fazia altares especiais para o santo, nem se faziam oferendas,
nada. Apenas uma vela comum estava acesa; o que era agora não foi usado, não coloco
nada disso, não é necessário” (Valenzuela, 2010).
No caso da região de Los Tuxtlas, os feiticeiros tinham a Santíssima Virgem em
seus altares para seu trabalho, mas não a granel, apenas o carimbo com a imagem; por
exemplo, Xolotl (1979), uma bruxa negra “padronizada”,4 que em suas orações invocava
tanto a Santa Muerte quanto o Diabo para lançar seus feitiços.5
Outros indícios da tradicional devoção ao Santo podem ser encontrados em diversas
fontes documentais derivadas de pesquisas antropológicas. Em 1964, a obra de Óscar
Lewis, The Children of Sánchez, foi publicada pelo Fondo de Cultura Económica (a
versão original em inglês foi publicada em 1961 nos Estados Unidos). Em um trecho dela
é feita alusão à "nona de Santa Muerte", cito: "quando os maridos estão apaixonados,
rezam a Santa Muerte. É uma novena que é rezada à meia-noite, com uma vela de sebo
e seu retrato. E ele me disse que antes da nona noite chega a pessoa para quem ligou
[...] Comprei a novena e decorei (Lewis, 1964:638-639):
Jesus Cristo o vencedor, que na cruz você foi derrotado, quero que você me traga Crispim
por sua intervenção, Pai, que é derrotado comigo em nome do Senhor. Se for um animal
feroz, manso como um cordeiro, manso como uma flor de alecrim, tem que vir. O pão comeu
dele, ele me deu; Ele bebeu água e me deu um pouco. E por todas as coisas que ele me
prometeu, quero, Senhor, que por teu infinito poder o tragas entregue e moído aos meus pés
para cumprir o que ele me prometeu. Como acredito, Senhor, que nada é impossível para ti,
peço-te sinceramente que me concedas o que te peço, prometendo até o fim de minha vida
ser teu mais fiel devoto.
4 “Guiado” é o termo que se usa, no sul de Veracruz, para indicar que uma pessoa tem um
pacto com o Diabo.
5 No documentário etnográfico "Feiticeiros e curandeiros" produzido pelo Instituto Nacional do
Índio (INI) e pelo Fundo Nacional de Atividades Sociais (Fonapas), em 1980, há uma cena em que o
feiticeiro Xolotl, em seu feitiço para causar o mal a uma pessoa , fura uma boneca de cera com
alfinetes e invoca o Diabo e a Santa Morte; no entanto, no altar não havia imagem do Santo, mas
sim muitas imagens volumosas do Diabo.
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1) San Pascualito Rey, representado por um esqueleto coroado montado em uma carroça.
A imagem encontra-se em sua igreja em Tuxtla Gutiérrez, Chiapas (Navarrete, 1982).
2) Em Noria San Pantaleón, pertencente ao município de Sombrerete, no estado de
Zacatecas, a imagem de Santa Muerte é venerada desde aproximadamente 1920.
Conta-se que um mineiro carregava a imagem, que está encarnada, branca, com olhos
e sobrancelhas pretas, não é um esqueleto, e que na mão direita carrega a foice,
símbolo de corte da vida, e está coroado. O mineiro colocou-o no poço da mina para
proteger os trabalhadores, pois afirmam que nessa altura os mineiros recebiam dois
anos de vida pela realização deste trabalho, que era perigoso e desumano; quando a
mina foi fechada, a Santa foi levada para a igreja de San Pantaleón, onde permaneceu
até, aproximadamente, na década de 1970, quando foi expulsa do templo pelo padre;
depois uma senhora a recolheu e com as esmolas recolhidas construíram-lhe uma
capela. Com o tempo, o Bem-aventurado tornou-se famoso, ocupando atualmente o
terceiro lugar entre os santuários mais importantes do país (Tapia, 2015).
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acender velas; “até recentemente era conhecido como San Bernardo [...] até
hoje, uma multidão fervorosa celebra todo dia 20 de agosto uma imagem
volumosa de Santa Muerte, vestida com uma túnica e carregando uma foice na
mão direita e o mundo no sinistro” (Reyes Ruiz, 2011:53,54). Atualmente este
santuário é o segundo mais importante do país. A primeira está localizada na
Calle de Alfarería, no Distrito Federal. Aparentemente, a importância dos
santuários dos Beatos é medida com os mesmos parâmetros dos católicos; isto
é, pelo número de peregrinos que a eles chegam e pela sua origem extralocal,
que pode ser regional, inter-regional, nacional e internacional.
6 Obtive depoimentos de homens com mais de 50 anos que, por diversos motivos,
estavam presos e confirmei que não conheciam mulheres tatuadas na prisão. Era uma
prática masculina. Não como agora, quando alguém tatua a Santa, homens, mulheres,
dentro e fora das prisões.
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O culto pós-moderno
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Por que, apesar de sua "libertação" das restrições da autoridade tradicional, o sujeito não é
"livre"? [...] hoje a oposição entre tradição e conhecimento de especialistas é cada vez mais
reflexivamente “mediada”: o próprio “retorno à Sabedoria tradicional” é cada vez mais
liderado por uma multidão de especialistas (2011:97).
A partir daqui, posso levantar a hipótese de que a tradicional devoção à Santa Muerte
está sobrecarregada em suas limitações espaciais e temporais; na fraca comunicação,
circulação e difusão da devoção; em suas limitações de prática devocional em grupos
restritos; na limitação dos especialistas reduzidos aos especialistas da tradição; na
limitação da liturgia; da parafernália quase inexistente; nas limitações iconográficas, entre
outras.
A liberação das limitações foi acolhida pelo movimento gerado pelo mercado na esfera
global e pela circulação dos bens de salvação. Os meios de comunicação de massa
difundiram o culto renovado, ainda em construção.
Surgiram novos “especialistas” que criaram ou recriaram “tradições” ontológicas e
cosmogônicas.
O início da expansão massiva do culto e sua gradual ressignificação aparentemente
começa com a exibição pública da imagem no Distrito Federal; e a história é a seguinte:
No mês de outubro de 2001, uma devota do lado de fora de sua casa exibiu a imagem de
Santa Muerte, com quase dois metros de altura.9 Ela a exibiu no altar de uma ermida
construída propositadamente no meio de uma via pública. Isso aconteceu na Cidade do
México, na rua de Alfarería número 12, no bairro Morelos, muito próximo ao bairro Tepito
(Garma, 2009; Reyes Ruiz, 2011:54; Hernández, 2008; Fragoso, 2011:11).
O evento fez com que sua divulgação chegasse aos meios de comunicação de
massa, com os quais foi possível que um grande público tivesse acesso à efígie. A mídia
marcou a notícia da capela dedicada à Menina Branca como uma "curiosidade experimentada".
9
A imagem é herança de família e não se sabe desde quando é cultuada.
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A produção de um longa-metragem comercial para a divulgação do culto, que foi exibido nas
salas de cinema do país em 2007 e pode ser encontrado no YouTube, causou preocupação na
população, principalmente entre os católicos, e foi um sucesso para os empresários/comerciantes
porque certamente atraiu muitos novos seguidores.
Destacamos o surgimento de espaços públicos sagrados como capelas e Santuário
rios, cuja criação obedece a uma narrativa geográfica e simbólica específica.
Hierarquias e especializações de culto são estabelecidas no novo culto; nas capelas e
santuários, surgem “especialistas”, como padres, sacerdotisas, curandeiros, curandeiros, feiticeiros
e bruxas, zeladores do espaço sagrado e encarregados das roupas das meninas, etc.
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religião e violência
O culto público de Santa Muerte foi aceito por muitas pessoas e rejeitado por
outras, incluindo a Igreja Católica. Devido à estreita relação entre a Igreja e o Estado,
têm sido realizadas ações de agressão aberta contra o culto e atos de exclusão
contra seus adeptos. O culto tem sido rotulado e estigmatizado como uma
transgressão social, cultural e moral.
Essa afirmação é sustentada por fatos do cotidiano dos fiéis, que sofrem exclusão
e múltiplos ataques em decorrência da intolerância religiosa; por exemplo, o colapso
maciço de capelas dedicadas a Santa Muerte em vários pontos do norte e sudeste do
país (El Universal, 2009a, 2009b; Cruz, 2009), fundamentalmente orquestrado pelo
governo que, indiscriminadamente, vincula o culto à “império de assassinos
contratados.”11
Pelo contrário, para não violar os não crentes, em San Andrés Tuxtla o culto é
discreto, com todas as intenções a capela está longe do centro da cidade.
A primeira capela de Ciudad Juárez, em 2013, foi pintada de preto e exibia uma
fotografia da Santa acompanhada de um pentagrama invertido, outros símbolos e o
anúncio “empregos garantidos”. Um ano depois mudou de fachada porque as pessoas
atravessavam a avenida para não passar: assustava.
Outra situação é a violência entre os crentes. Em Ciudad Juárez, duas das três
capelas da Santa foram incendiadas devido a rivalidades entre devotos de diferentes
cartéis. Na cerimônia masculina estadual não. 3, um grupo de presos chamados
astecas veneram e cuidam de um grande altar para Santa Muerte. Outro grupo,
contrário a eles, com o apoio dos zeladores, os atacou com armas longas, assassinou
vários e destruiu o altar. Como resultado desse evento, eles reconfiguraram a prisão,
separaram os homens e mulheres (que moravam no mesmo espaço) e o Instituto de
Cultura de Chihuahua (ichicul) participou da reconstrução do altar, como atividade
cultural.
Deve-se mencionar que um setor de fiéis, homens e mulheres que frequentam os
santuários e capelas de La Niña Blanca, com idade aproximada de 15 a 40 anos,
realizam atividades fora da lei.12
Na cerimônia das mulheres em Ciudad Juárez percebi a solidão, o abandono, a
falta de amor, a invisibilidade, a importância e a incerteza que as mulheres sofrem.
Muitos deles estão cumprindo pena por crimes graves cometidos por seus parceiros e
não param de pedir justiça. Outros, em sua maioria, são jovens que se envolveram no
tráfico de drogas. Todos com a necessidade de se sentirem abrigados, protegidos por
um ser superior no qual depositam sua esperança, seus problemas, as injustiças e
inseguranças em que vivem. Alguns deles são dedicados ao Santo mas não têm altar,
cada um guarda para si a imagem à qual reza pedindo proteção, liberdade, saúde para
11
Como foi o caso do colapso, em várias ocasiões, de uma capela na cidade de Xalapa,
Ver.; e no porto de Veracruz, as imagens que estavam nas vias públicas também foram
retiradas pela polícia.
12
A informação é dos zeladores de capelas, altares públicos e santuários de La Niña no
norte e sudeste.
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eles e para seus filhos, se os tiverem. Enriqueta Lerma, que realizou uma
investigação em uma prisão feminina no Estado do México, concorda: “De outro
ponto de vista, parece-nos importante destacar que os seguidores de Santa Muerte,
mais do que atores produzidos pelo contexto, de violência, são assim pelo contexto de incerteza
(2015:317). De fato, o problema da insegurança devido à indefesa está presente
em grandes setores da sociedade mexicana. Nas prisões, o estado de indefesa e
invisibilidade leva os reclusos a considerar que não têm a menor certeza de
acordarem vivos.
A relação entre violência e religião me leva a pensar na redenção, a entender
que assim como em outras religiões se buscava e se encontrava o perdão dos
pecados e a redenção dos pecadores, no culto ao Santo os "pecadores" ofensores
da lei buscam proteção, refúgio, abrigo e compreensão pelo que fizeram e pelo que
farão. Ao contrário do catolicismo, religião mãe dos crentes, no culto ao Santíssimo
Sacramento não há discursos sobre boas ou más consciências, não há distinção
entre “boa” e “má”.
Essas matrizes de sentido que existem em nossa mente estão inscritas na sociedade
como um sistema de interpretação do mundo [...] daí a necessidade de estudar a
produção social de sentido [...] Castoriadis afirma que a categoria de sentido é a
verdadeiro lugar natural do imaginário” (Randazzo, 2012:82).
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Vamos ver alguns casos. Antonio Guzmán, de Xalapa, Veracruz, devoto há mais de
dez anos, conta:
Eu sabia que ela era uma mulher muito bonita, o véu branco, o vestido de noiva com que
ia se casar e suas famílias não a deixaram, porque antigamente como eram, a trancavam
com água pura e pão , é por isso que às vezes no altar eles colocam sua oferta de água e
sua oferta de pão, e foi modificado, então é por isso que o vestido, agora eles colocam
muitas cores nele. O que acontece é que ela era da época da Colônia, é daí que vem,
você vê que nossos ancestrais, é que tem muita mitologia, que também dos astecas, eles
também adoravam o deus da morte , e isso é de onde eles começam a vir, mas agora, a
história dela é o que eu investiguei (Antonio Guzmán, entrevista, 2015).
O verdadeiro nome do Beato é Argélia porque vem de lá. O marido dela é Chango Macho,
é ele que tem o bilhete. Ela era normal, ela era como nós, só Deus a fez o que ela é agora
para nos levar. Eu entendo que ele teve duas vidas, uma como a de outra pessoa e outra
como a morte. Deus a recompensou com a mudança. Isso foi há séculos, Deus lhe deu o
nome de Argélia (Ofelia Santoyo, entrevista, 2015).
Ela é um ser muito especial, um ser que sofreu muito, uma mulher que lutou muito; porque
você sabe que eles nos julgam, porque acham que ela é má, é porque não a conhecem;
ela é um tabu, ela não é a imagem que você vê, ela é um espírito como Deus é; Ela era
um ser humano, um ser humano que sofreu muito, que viveu entre nossos ancestrais, mas
por amor a um homem ela tirou a própria vida, se suicidou e Deus não a perdoou por isso.
Mas sua tristeza era tão grande, sua dor que ela queria perdoá-lo, mas ela lhe disse: “Eu
te perdôo, mas você vai se encarregar de fazer isso, isso e aquilo”, e o trabalho que ela
faz é muito doloroso, e dói para ela, porque é tirar a vida, ou seja, vir buscar uma pessoa
que tem que ser trazida diante de Deus para que ele preste contas, essa é a sua missão.
Nossos ancestrais acreditavam em Santa Muerte de uma forma diferente, havia uma
deusa, havia um deus, não tenho o nome agora (Blanquita, entrevista, 2015).
Três ideias que tentam compreender quem é a entidade que os cuida e protege.
Como nas hagiografias populares de santos católicos, os fiéis a personificam, com
histórias de vida geralmente trágicas, mas é isso que, segundo eles,
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exacerbar sua bondade. Três Santas Mortes, uma morrendo de fome por amor proibido e
vestida de noiva; sua origem histórica está localizada na Colônia. A segunda vem do norte
da África, chama-se Argélia e é esposa do orixá Changó, do panteão iorubá e da Santería
cubana, uma versão obviamente sincretizada com a Santería. O terceiro comete suicídio
por amor a um homem. Acredito que há uma grande variedade de versões que enriquecem
o imaginário local e que se encontram paralelas à versão difundida pela internet, vinda da
capital do México, que situa a origem do culto na cultura pré-hispânica mexica.
Na práxis do culto, os adeptos acreditam ser necessário fazer uma distinção entre os
adeptos, diferenciam os crentes dos devotos do Santíssimo.
O crente é a pessoa "que de vez em quando fala com ela, reza com ela, faz um pedido,
não traz oferta, não tem altar em sua casa, não pendura nenhuma imagem" (Angélica,
entrevista, 2015 ). Ángel, de Ciudad Juárez, comenta: “A diferença é grande, o crente não
se compromete, não faz um altar para ele, mas, de vez em quando, as pessoas lhe pedem
alguma coisa, rezam para ele; se a menina responde, ela traz um presente para uma
capela ou altar” (Ángel, entrevista, 2015). José Manuel, de Perote, Veracruz, concorda:
“Eu rezo para você de vez em quando, eu desligo na sua cara, eu te trago, mas é
isso” (José Manuel, entrevista, 2015).
Em vez disso, o devoto de Santa Muerte é:
Quem vem (ao altar), adora-a, traz-lhe flores, celebra-a, pois neste momento a levaram a
Tepatepec, Hidalgo, para fazer velórios, retiros e orações; No dia 2 de novembro eles
andam com ela pelo mercado, levam ela para o calçadão e para a praia, a festa é grande:
muita comida e bebida aqui no mercado. (Angélica, entrevista, 2015).
güero, um inquilino do mercado Hidalgo, em Ciudad Juárez, que expõe um altar do Santo na
frente de seu negócio, narra:
Todos os dias, durante seis meses, um menino de cerca de 15 anos vem e me compra
um diabinho e uma vela; O menino se ajoelha diante da imagem, acende sua vela, coloca
o diabinho atrás da imagem, reza e vai embora. Isto é, para mim, devoção (A
güero, entrevista, 2014).
1) Seguidores do culto que priorizam o culto: primeiro a Deus, depois à Virgem de Guadalupe, depois
aos santos católicos junto com Santa Muerte. Encontrei essa estrutura devocional em todos os
lugares, tanto no norte quanto no sudeste.
2) Seguidores do culto que veneram o Diabo Católico e Santa Muerte. este bino
mio devocional também a localizamos em ambos os espaços.
3) Seguidores do culto que veneram Santa Muerte imitavam Yemayá, orixá
do panteão iorubá na Santería cubana. A presença da Santería e, em menor escala, dos
praticantes do Palo Mayombe, ambos de origem cubana, e do Candomblé de origem brasileira,
se manifesta no porto de Veracruz, Xalapa e Los Tuxtlas, Veracruz. Mesmo quando se trata de
religiões independentes do culto ao Santo, aqueles que produzem e distribuem, a partir do centro
do país, mercadorias religiosas de consumo de massa introduzidas nos mercados locais, há cerca
de dez anos, as figuras amalgamadas do Santo com Yemayá, nomeando-a Morte Encarnada, daí
seu consumo se multiplicou.
4) Seguidores que veneram o Santo decorado com os atributos da Virgem de Guada lupe e Jesús
Malverde13 com São Judas Tadeu. A devoção é apresentada como uma dualidade que viaja na
imaginação de muitos crentes. Outras crenças apontam para a identificação de Santa Muerte com
Santa Marta, argumentando que são a mesma "pessoa" e que é seu nome verdadeiro. Sua
presença é clara em Guadalajara, Tijuana, Ciudad Juárez, El Paso, Texas, claro em Sinaloa e em
todo o norte do país.
5) Seguidores do culto que cultuam exclusivamente Santa Muerte. Eles estão localizados em todo o
país. São os fervorosos devotos que erguem altares, capelas e conseguem estabelecer santuários.
13
Vargas, 2012.
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Música "de som" (gravada) e viva para agradecer e curtir junto com o Santo X
Fonte: Elaboração própria, com informações do trabalho de campo da investigação “La Santa Muerte
en México” (Vargas Montero, Guadalupe, 2009/2015).
Fonte: Elaboração própria, com informações do trabalho de campo da investigação “La Santa Muerte
en México” (Vargas Montero, Guadalupe, 2009/2015).
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Nos ritos de passagem, noto que no norte não encontrei evidências de batismos ou
casamentos, ao contrário do sudeste e de outras partes do México. Localizei informações
através de depoimentos orais e na imprensa local de Ciudad Juárez, sobre a realização de
ritos de iniciação ao culto de Santa Muerte, consistindo no sacrifício de pessoas. A esse
respeito, destaca-se que se trata de atos praticados por membros do assassino contratado.
batismos X
casamentos X
Fonte: Elaboração própria, com informações do trabalho de campo da investigação “La Santa
Muerte en México” (Vargas Montero, Guadalupe, 2009/2015).
1 de Janeiro X
2 de novembro X X
Fonte: Elaboração própria, com informações do trabalho de campo da investigação “La Santa
Muerte en México” (Vargas Montero, Guadalupe, 2009/2015).
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Oração do Rosário X
procissões na cidade X
acorda X
Fonte: Elaboração própria, com informações do trabalho de campo da investigação “La Santa Muerte
en México” (Vargas Montero, Guadalupe, 2009/2015).
escola esotérica X
cereja do país X X
Fonte: Elaboração própria, com informações do trabalho de campo da investigação “La Santa Muerte
en México” (Vargas Montero, Guadalupe, 2009/2015).
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Pensamentos finais
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Finalmente, o culto se "ajustou" às necessidades dos ricos e dos pobres, dos analfabetos
e médicos universitários, pistoleiros, policiais, delinquentes, soldados, famílias, crianças fora
de tudo, adolescentes que pedem para ir bem na escola, ou jovens datas que buscam
proteção para que o Santo lhes envie bom amor.
A experiência de trabalhar com o mesmo fenômeno na antiga Aridoamérica e no
território primitivo dos olmecas (o deserto e a selva) foi perceptivelmente contrastante. Mas
mais interessante foi entender a práxis do culto de Santa Muerte.
Bibliografia
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Mon tero [trabalho de campo], “A Santa Morte no México”, Ciudad Juarez,
Chi huahua, iih-s, Universidad Veracruzana.
ANGÉLICA, 2015, [Entrevista, balconista do Papai Noel], de Guadalupe Vargas
Montero [trabalho de campo], “La Santa Muerte en México”, Mercado Hidalgo,
Veracruz, Ver. iih-s, Universidad Veracruzana.
GUZMÁN, Antonio [entrevista], 2015, por Guadalupe Vargas Montero [trabalho de
campo], “La Santa Muerte en México”, Xalapa Veracruz, México, iih-s,
Universidad Veracruzana.
JOSÉ MANUEL, 2015, [Entrevista, estudante universitário, 18 anos] por Guadalu
pe Vargas Montero [trabalho de campo], “La Santa Muerte en México”, Xalapa,
Ver. iih-s, Universidad Veracruzana.
OFELIA, 2015, [Entrevista, devoto, inquilino, vende artigos do Santo], de
Guadalupe Vargas Montero [trabalho de campo], “La Santa Muerte en México”,
Mercado Unidad Veracruzana, Veracruz, Ver. iih-s, Universidade Veracruz.
RICARDO, 2015, [Entrevista, devoto, dono de lojas que vendem artigos do Santo]
por Guadalupe Vargas Montero [trabalho de campo], “La Santa Muerte en
México”, Mercado Jáuregui, Xalapa, Ver. iih-s, Universidad Veracruzana .
SILVA, Ernesto alias El Güero [entrevista], 2014, por Guadalupe Vargas Monte ro
[trabalho de campo], “La Santa Muerte en México”, Ciudad Juárez, Chi
huahua, iih-s, Universidad Veracruzana.
XOLOTL, José [entrevista, feiticeiro negro], 1979, por Guadalupe Vargas Montero
[trabalho de campo], “Magia e feitiçaria em Los Tuxtlas”, Santiago Tuxtla,
Ver., Instituto Nacional Indigenista, México.
VALENZUELA, Chico [entrevista, agricultor, ex-prisioneiro], 2010, de Guadalupe
Vargas Montero [trabalho de campo], “A Santa Morte no México”, Rancho
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[139]
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1
Em Tijuana, o universo cristão não católico é muito variado em termos de denominações,
congregações e tipos de templos. Em 1987, El Colegio de la Frontera Norte realizou um
inventário de organizações religiosas não católicas, que veio a tornar visível a diversidade de
credos e centros de culto na cidade, documentando 322 deles na cidade (Hernández, 1996).
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Hoje você está nos braços da vida, mas amanhã estará nos meus
2
Ou seja, na década de 1990, durante a implantação do Operativo Guardião.
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Outra das devoções que marca o misticismo religioso da região norte do México é
o culto de Santa Muerte. A chegada desta devoção à fronteira norte parece não ter uma
trajetória ou caminho único. Por um lado, encontramos a influência dos imigrantes, que
desde seus lugares de origem já professavam essa devoção. As rotas mais reconhecidas
são aquelas que partem do Distrito Federal, Estado do México, Puebla, Veracruz e
Michoacán. Por outro lado, há aqueles que devem sua devoção ao contexto social que
a cerca e ao que se diz sobre ela, ou seja, de boca em boca, virtudes e poderes são
atribuídos a Santa Muerte que pouquíssimos santos ou virgens tenho. O imaginário
religioso que cerca o culto de Santa Muerte poderia ser colocado em diálogo com a
perspectiva de Durkheim, que em seu livro As formas elementares da vida religiosa,
afirma que: "os seres espirituais devem ser entendidos como sujeitos conscientes,
dotados de poderes superiores aos aqueles possuídos por homens comuns” (1968:35).
Santa Muerte é um poderoso ser espiritual intimamente ligado aos altos e baixos e
problemas da vida cotidiana em contextos urbanos. Devido ao exposto, muitos
seguidores professam sua devoção a ela com base na ideia de que ela será quem os
protegerá de qualquer evento infeliz ou de situações ligadas à violência. Assim, é
interessante o fato de a maior visibilidade e expansão desse culto ter ocorrido
paralelamente a um intenso período de violência na região norte do país.
A mobilidade dos fiéis deixou vestígios nas cidades da fronteira norte através de
altares estabelecidos ao longo das estradas, rodovias e espaços públicos.
A sua imagem também esteve presente em lojas botânicas e esotéricas e outros
estabelecimentos comerciais. Além do exposto, milhares de imagens, orações,
fotografias, bem como extenso material informativo estão atualmente disponíveis para
consulta em páginas da web, fóruns de discussão, grupos de mídia social, bem como
mídia impressa, como livros, folhetos e revistas.
Devido à sua ampla gama de fiéis, Santa Muerte recebeu vários nomes como
“Minha menina”, “Niña Blanca”, “Comadre”, “Santita”, “La dulce Muer te”, entre muitos
outros. Cada forma de nomear o Santo expressa a relação de
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Hoje você está nos braços da vida, mas amanhã estará nos meus
respeito, superioridade ou familiaridade que o devoto demonstra para com ela. Uma
das influências mais importantes na propagação do culto ocorre oralmente, a partir do
qual as pessoas começaram a falar de seu grande poder, seu caráter profano, bem
como sua cumplicidade e ajuda, independentemente de se tratar de resolver ou
proteger petições de natureza ilegal ou violenta; Outra de suas qualidades de acordo
com seus devotos é sua capacidade de perturbar as consciências mais profundas
com seus poderes milagrosos. Já que de acordo com seus fiéis, nada é impossível
para ela. O catálogo de suas ajudas e rituais é tão amplo que vai desde ajudas ligadas
a cuidados de saúde, cura de doenças, questões de amor ou boa sorte, até pedir seu
apoio para vingança, morte ou proteção contra inimigos.
Pelo exposto, não surpreende que em condições de pobreza, múltiplas carências
e períodos de violência, as visões sobre essa devoção adquirissem um sentido de
difusão popular. No entanto, um ponto importante a ter em conta é que o culto de
Santa Muerte não implicava necessariamente o abandono do catolicismo. Da mesma
forma, muitos de seus devotos são atribuídos como cristãos e continuam a rezar para
figuras como a Virgem de Guadalupe ou São Judas Tadeu.
A partir desse fato concreto que flexibiliza as proibições das autoridades católicas ao
manifestarem sua devoção aos chamados santos leigos ou figuras devocionais, o
culto ao santo é revitalizado e legitimado dentro da religiosidade popular católica.
Mexicano.
Fazer o acompanhamento dos estudos sobre Santa Muerte é uma tarefa complicada
que exige um trabalho multidisciplinar, pois há trabalhos históricos, documentais,
antropológicos, etnográficos, sociológicos, entre outros.
Um dos antecedentes, para uma melhor compreensão do peso simbólico da morte
no país, é o livro A ideia de morte no México, escrito pelo antropólogo Claudio Lomnitz
(2006), onde, a partir de uma meditação que recupera contribuições histórico, cultural
e social, este autor coloca a vida como um espelho da morte e dos diferentes ritos de
passagem em nossa sociedade em torno dela. Descreve como a morte está
profundamente ligada à cultura popular mexicana e se constitui como símbolo da
identidade nacional.
Outra contribuição importante é a da historiadora Katia J. Perdigón Castañeda:
La Santa Muerte. Protectora de los hombres (2008), que se articula a partir de
documentos históricos no México e também da influência social e religiosa europeia.
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Hoje você está nos braços da vida, mas amanhã estará nos meus
O norte do México tem se caracterizado pela constante mobilidade entre seus habitantes.
Quer venham ou partam, eles também carregam suas práticas culturais, sociais e
religiosas entre seus pertences. Tijuana não é exceção nesse sentido, é uma das cidades
cujo crescimento está ligado à migração, entre as pessoas e famílias que chegaram a
esta fronteira também eram devotos de Santa Muerte.
Embora não seja possível localizar com certeza sua chegada a essa fronteira, é a
partir da primeira década do século XXI que essa devoção ganha presença com a
construção de altares nas vias de entrada e saída de Tijuana. Pequenas capelas
dedicadas a Santa Muerte eram construídas com blocos e cimento, ali lhe ofereciam
velas, flores ou lhe era confiada a memória de algum ex-voto agradecendo sua ajuda.
Entre os primeiros altares que foram erguidos nesta fronteira está o localizado na
bacia da represa “Abelardo L. Rodríguez”, logo na entrada da ponte que ligava Tijuana ao
resto do país há várias décadas.
Pintado de verde, o altar era constantemente visitado por diferentes fiéis. Junto com isso,
em alguns bairros da Cidade do México, a devoção pública à imagem já chamou a atenção
de vários meios de comunicação em escala nacional.
No entanto, em Tijuana sua expansão e recepção foi diferente.
O altar instalado na barragem de Tijuana era uma construção pequena e simples de
2x3 metros, cercada por rosas vermelhas frescas e velas coloridas. Da mesma forma, a
imagem principal do altar da Calle de Alfareros, na Cidade do México, foi protegida por
velas, além de ser decorada com bijuterias, cédulas,
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dólares falsos, fotos, cartas de ex-voto, garrafas de uísque e tequila, entre outras
oferendas, elementos que seriam recuperados em outros altares, inclusive alguns em Tijuana.
O altar da represa tinha uma imagem principal com uma altura máxima de um metro e
meio, de um lado havia um papelão fosforescente que anunciava os terços e orações
especiais. A responsável pelo local, Lorena Mendoza, ficou encarregada de zelar, vestir
a imagem e mantê-la cuidada. Desde a sua criação em 2001, não era exigida nenhuma
taxa obrigatória dos devotos, havia apenas um pequeno cofrinho para doações.
Mais tarde, após a inauguração do Corredor 2000 em Tijuana – uma via de quatro
pistas que liga as áreas periféricas da cidade e a área urbana de Rosarito – foram
construídas outras duas capelas dedicadas a Santa Muerte. Dentro deles estava a
escultura tradicional feita de cerâmica; no entanto, ambas as capelas eram menos
visíveis do que a instalada na Barragem. Não se sabe quem os construiu ou quem ficou
encarregado de cuidar deles, então em 2008 já existiam quatro altares na parte leste de
Tijuana: três deles para adorar exclusivamente Santa Muerte e mais um em memória de
Jesús Malverde.
Dada a proliferação de altares em Tijuana dedicados a santos populares, a Igreja
Católica condenou sua presença e solicitou a intervenção das autoridades para sua
destruição. Após essa denúncia, a vida dos altares foi curta, dada a crescente violência
registrada em Tijuana e Rosarito devido a ações do crime organizado, que no imaginário
católico local estavam ligadas à devoção a Santa Muerte, por ser a "protetora das drogas
traficantes e criminosos. Expressões de devoção a Santa Muerte em Tijuana foram
reprimidas através da destruição de capelas e condenação pública do culto pelo clero
católico.
Na madrugada do dia 21 de março de 2009, os altares de Santa Muerte e Jesús
Malverde foram demolidos com maquinaria pesada, tanto os localizados no Boulevard
2000 como o da Barragem (Cruz, 2009). Essas ações tiveram a proteção do exército
mexicano. Embora o altar da Barragem tenha sido demolido, os seus restos sobreviveram
graças ao facto de os escombros não terem sido removidos. Entre pedaços de bloco e
madeira, formou-se um novo espaço de devoção, no qual continuam a ser depositadas
oferendas; os devotos expressam que o Santo “não quis sair do lugar”. No entanto,
embora a partir de 2015 houvesse vestígios e vestígios de que o altar ainda estava
sendo visitado, nenhuma escultura ou imagem do Santo foi instalada novamente.
Parte da Igreja Católica em Tijuana considerou que com a destruição dos altares
de Santa Muerte e Jesús Malverde impediriam o crescimento da devoção.
No entanto, pouco tempo depois surgiram novos locais de culto, agora dentro de casas
particulares e empresas de vários tipos: mercearias, lojas de ferragens,
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Hoje você está nos braços da vida, mas amanhã estará nos meus
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Embora várias das imagens sejam feitas de gesso e pintadas em várias cores,
seu preço está longe de ser barato. Uma imagem de 30 centímetros é vendida por
850 pesos, apesar de seu custo de produção não ultrapassar 60 pesos. As velas com
a imagem de Santa Muerte também variam de preço dependendo de onde são
compradas e da cor da vela; as botanicas são as mais caras, embora também possam
ser compradas em lojas de autoatendimento como “Waldos” ou “Only a Price”, com
seu rótulo invariável que diz “Made in China”.
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Hoje você está nos braços da vida, mas amanhã estará nos meus
Como parte viva desse cenário está o culto oferecido por profissionais do sexo
e dançarinas exóticas. O local mais emblemático e luxuoso destas instalações, o
"Hong Kong", é um bar com mais de 100 trabalhadores por turno, que oferecem os
seus serviços a clientes nacionais, bem como americanos e asiáticos. Mulheres
seminuas desfilam por seus corredores e camarins, algumas delas expondo suas
tatuagens de Santa Muerte. Outros preferem manter sua imagem privada,
oferecendo flores e tabaco. Estabelecido como figura de proteção, o Santo também
desempenha o papel de estrela ou talismã para dar sorte. Há alianças de diversos
tipos com a imagem entre esses seguidores, algumas relacionadas à prática e
exercício de seu ofício, ou apenas de cunho territorial. Neste desfile de mulheres
pelos bares e discotecas, observa-se outra dinâmica de devoção, que para alguns
estudiosos poderia ser nomeada como uma “religiosidade à minha maneira” (De la Torre, 2012: 206).
Neste contexto, surgiu o altar instalado a Santa Muerte na zona norte tanto
para culto como para comércio. Localizado na Avenida Niño Héroes, entre as ruas
Coahuila e Michoacán, o espaço serviu para receber novos e antigos crentes. A
inauguração aconteceu em março de 2014. No centro do recinto havia uma imagem
do Santo, branco, com quase dois metros de altura, acompanhado de um mundo
azul, uma foice preta e uma coruja marrom. No mês seguinte à inauguração, foram
instaladas imagens menores de várias cores, acompanhadas de rosas frescas e
velas. Na frente, 20 cadeiras foram colocadas para o conforto dos devotos; o lugar
fechava antes das dez da noite.
Inicialmente não tinha nenhuma placa anunciando que era um altar, mas meses
depois foi pintada a palavra Catemaco, aludindo à cidade de Veracruz conhecida
por ser um centro relacionado à feitiçaria. Visite o Papai Noel, leve
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vela ou deixar um doce ou uma fruta era uma atividade comum para quem entrava
no local. Os cuidadores ofereciam serviços para proteger contra doenças, trazer
sorte ou sucesso no amor ou nos negócios. O local permaneceu por cerca de um
ano antes de fechar para sempre. Os motivos eram um mistério, não se sabe se foi
por proibição da prefeitura ou por falta de pagamento do aluguel do local.
O extenso território que compreende a fronteira norte é marcado por uma divisão
simbólica entre a região nordeste e a região noroeste. A primeira inclui cidades
fronteiriças nos estados de Chihuahua, Coahuila, Nuevo León e Tamaulipas; todos
eles margeando os Estados Unidos pelo Rio Grande. Tamaulipas representa uma
importante entidade, vizinha do estado do Texas, nos Estados Unidos. As cidades
de Nuevo Laredo e Matamoros estão localizadas a uma distância de 351 quilômetros,
passando por La Ribereña, uma rodovia federal que liga as cidades de Miguel
Alemán, Ciudad Mier, Camargo, Nuevo Guerrero, Gustavo Díaz Ordaz e Reynosa,
com o que comunica o que é conhecido como a pequena fronteira.
Cada uma das localidades que compõem esta pequena fronteira teve uma
história fundacional, dinâmica populacional e configuração urbana com processos
distintos. Nuevo Laredo, Reynosa e Matamoros são de grande importância econômica
para toda a região fronteiriça. A primeira dessas cidades representa um emblema
nacional por ser a cidade fronteiriça por onde passa mais de 50% do fluxo de
mercadorias entre o México e os Estados Unidos. A cidade vizinha de Nuevo Laredo
é Laredo, Texas, e está conectada ao lado dos EUA pela Rodovia 35, que liga
metade do território do país e tem conexões com as costas leste e oeste. Por sua
localização estratégica, tanto no México quanto nos Estados Unidos, Nuevo Laredo
tornou-se uma área disputada por cartéis de drogas.
Ligado por uma rede ferroviária, uma rodovia federal e uma rodovia, Nuevo
Laredo é há muito tempo o porto de conexão mais rápida com a região central e a
capital do país. A menos de três horas de distância da cidade de Monterrey por
estrada, Nuevo Laredo é um hub onde centenas de carros, ônibus de passageiros e
transporte de carga chegam todos os dias.
Anteriormente, esta cidade recebia os seus habitantes com um impressionante
monumento dedicado aos fundadores da vila, uma bela escultura em pedra vermelha,
com duas figuras esculpidas na rocha, hasteando uma bandeira nacional. Durante
quase seis décadas esta foi a referência por ter chegado a esta zona fronteiriça. Sem
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No entanto, em meados dos anos 2000 e com o início de uma intensa guerra
entre três cartéis de drogas, um conjunto de altares dedicados a Santa Muerte foi
construído a poucos quilômetros do monumento a Los Fundadores.
No quilômetro 18 da rodovia para Monterrey e no nó de ligação com as rodovias
para Reynosa e Piedras Negras, foram construídas 35 capelas dedicadas a Santa
Muerte. As características dos edifícios eram muito diversas. Entre eles estava um
com dois níveis, além de uma imagem de Santa Muerte que chegava a dois metros
de altura. Os altares de bloco, pedreira, piso de mosaico, portas de vidro, espelhos
e grades de ferro também eram evidentes e sua visibilidade a qualquer hora do dia
ou da noite era muito notável. Caminhoneiros, assim como motoristas, fizeram uma
parada técnica neste local para pedir às imagens da Santa Muerte que suas cargas,
pertences e sua integridade física cheguem com segurança ao seu destino.
Mantidas e cuidadas por membros do crime organizado, essas capelas
testemunhavam que a chamada Niña Santa os protegia de suas ações e os vigiava.
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do chão ao teto que serviria como local de culto. Dez grandes imagens de Santa Muerte
foram instaladas, uma delas elegante em dourado e usando uma peruca loira. Ao lado
deles havia um armário que protegia vestidos e tecidos coloridos para trocá-los com
frequência. No entanto, não foi exibido nenhum sinal que fizesse alusão ao nome do local.
Junto a este local, localizava-se outro altar numa encosta quase a céu aberto, reservado
a um determinado devoto ou grupo de crentes, e restrito aos restantes visitantes. Não
havia guardiões visíveis no local, mas era guardado pelos chamados "halcones", vigilantes
que trabalhavam para algum grupo do crime organizado.
Assim como na cidade de Tijuana, a figura de Santa Muerte era vista como protetora
para uns e carrasca para outros. Sua presença adquiriu implicações muito diversas
durante os confrontos entre Los Zetas e o Cartel do Golfo, que lutavam pelo controle de
áreas despovoadas e rurais que serviam de corredores para a introdução de drogas nos
Estados Unidos, bem como bairros e bairros populares nas cidades como Matamoros,
Reynosa, Nuevo Guerrero, Camargo ou Nuevo Laredo, onde esses bandos criminosos
estenderam suas práticas à extorsão e à cobrança de praças, transformando tudo isso
em uma zona sinistra de dominação e terror.
Todo o pequeno corredor fronteiriço foi povoado por pequenos altares dedicados a
Santa Muerte, muitos deles construídos para homenagear e proteger os negócios de
alguém especial. Vários deles sobreviveram por pouco tempo, pois sempre houve uma
ação das forças armadas para destruí-los.
Esses episódios na pequena fronteira mostraram que a luta entre os cartéis de
drogas também tinha expressões ou preferências por alguma figura religiosa de proteção,
fato que já existia em outros territórios do México. Por exemplo, sabia-se que membros
do Cartel de Sinaloa se refugiaram em San Judas Tadeo e Jesús Malverde; as do Cartel
do Golfo, em Santa Muerte e San Judas Tadeo; enquanto Los Zetas tinham uma visão
menos clara ou confusa sobre suas devoções ou preferências religiosas.
Duas cidades e uma luta violenta. Santa Muerte mostra sua foice
Matamoros e Reynosa são as duas cidades com maior tamanho populacional no estado
de Tamaulipas. Ambos fazem fronteira com os Estados Unidos ao norte, suas cidades
vizinhas são Brownsville e McAllen, Texas, respectivamente. A economia de ambos está
ligada ao comércio, às atividades aduaneiras, à produção agrícola e à indústria maquiladora.
A primeira dessas localidades urbanas é uma das mais antigas da fronteira norte.
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Hoje você está nos braços da vida, mas amanhã estará nos meus
chá; Reynosa, por outro lado, é uma cidade jovem. Sua decolagem urbana ocorreu
na década de 1970, como resultado da instalação de um complexo de gás pela
estatal Petróleos Mexicanos. Mais tarde, e por razões políticas e sindicais, tornou-
se um espaço ideal para a instalação de um maior número de fábricas maquiladoras.
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Hoje você está nos braços da vida, mas amanhã estará nos meus
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falar sobre sua devoção a Santa Muerte; no entanto, era visível que ele carregava
uma imagem dela em sua mochila. O jovem entrevistado é natural de Chalco,
Estado do México, pertence a uma grande família de seis irmãos. Depois de
passar três anos no exército mexicano como soldado, emigrou para Tijuana há nove anos.
Ele diz que tentou a sorte em vários empregos, incluindo segurança e jardineiro.
Ele se casou há quatro anos e tem dois filhos. Atualmente vive numa zona marginal
da cidade, onde começou a construir uma casa com bons materiais. José conheceu
Santa Muerte desde cedo devido a circunstâncias familiares: sua avó, após se
mudar com a família de José para terras mexiquenses, fundou um local de
aconselhamento e aconselhamento espiritual, ou seja, limpeza, amarrações, entre
outros tipos de ajuda. Por isso, José nos disse que:
As pessoas foram vê-la e consultá-la, ela tinha um lugar, um pouco escuro, com a imagem de
Santa Muerte e vários demônios, mas ela não nos deixava entrar lá. Ele também não gostava
de falar sobre isso ou que estávamos envolvidos nessas coisas ou cultos. Mas muitas coisas
aconteceram conosco ao nosso redor, desde a rejeição e ridicularização dos vizinhos, até as
coisas que eu tinha que ver desde criança, coisas que se moviam, incêndios nos morros e
muitas outras coisas que não me lembro bem agora. O que aprendi quando criança foi que
essa imagem poderia ser um bom protetor, especialmente de coisas perigosas e outros danos.
Meu pai aprendeu algumas coisas com minha avó, mas anos depois ele o deixou e foi com
aqueles que borrifam seu corpo com água ou loções, e que rezam ao Santíssimo Sacramento,
acho que os chamam de espíritas. Uma irmã e eu fomos os que mantivemos esse legado de
continuar com o Santo. Aprendemos o que ele gostava ou o que o incomodava, a cada lua
cheia a gente tirava e colocava de frente para o céu, acompanhado de uma vela branca, um
copo de água e uma maçã. Depois disso, vimos que ela estava feliz. Ao contrário de Deus
que aparece como um personagem passivo, ela se torna muito presente e dinâmica. Tenho
esta imagem de Santa Muerte que carrego para todo o lado, se quiserem posso vê-la como
uma figura de protecção ou um amuleto. Quando eu estava no exército eu sempre senti sua
proteção, e mais tarde, e em sonhos, ele me mandava conselhos, como medir as próprias
ambições ou as coisas que se deseja ou quer. Ela te ajuda a vê-los de forma diferente, para
não ser tão egoísta ou pretensioso. Gosto de ler coisas sobre ela, mas sinto que quando tenho
o livro nas mãos, estranhas energias se conectam ao meu corpo. Há várias histórias que aconteceram comigo.
A verdade é que não falo com ninguém sobre minha devoção a Santa Muerte, não tentei
influenciar ninguém a acreditar nela, nem mesmo minha nova família. É claro que peço que
você os proteja também, mas caberá a você fazer isso ou não.
Muitos dos meus vizinhos me convidam para frequentar uma igreja cristã, já fui a vários
cultos e eventos religiosos deles, mas não me movem a abandonar minha crença que carrego
há muitos anos. Em relação a todos que acreditam ou não, também quero que façam o mesmo
comigo (José, segurança e jardineiro, Tijuana, 2015).
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Hoje você está nos braços da vida, mas amanhã estará nos meus
Meu primo mexeu com eles, caiu no Conselho Tutelar de Menores, lá deram um ano de
reclusão. Ele meNão
disse que foto,
havia um cara
masem
elesua celafalando
estava rezava com
para ela
Santa
em Muerte
voz alta.todos
Meuos dias.
primo
confiou nela, prometeu a ela que se ela o ajudasse a sair de lá, ele dedicaria uma tatuagem
a ela. Ao sair, cumpriu a promessa, fez uma tatuagem com a imagem do Santo cobrindo suas
costas inteiras. Além disso, ele começou a compartilhar com ela todos os tipos de coisas:
seus cigarros de tabaco e maconha, sua dose de tequila, doces e maçãs vermelhas. Eu tinha
ouvido falar dela por causa daquelas histórias contadas pelo meu primo. Aos 15 anos caí no
mesmo lugar onde ele estava, foi por um simples crime de roubo, mas me acusaram de
vários outros crimes.
Meu pai já morava na Califórnia, mas foi para Toluca ver se me ajudaria a sair daquele lugar
horrível. Fiquei confinado por um mês, mas posso dizer que foi a pior experiência da minha
vida. Prometi que se deixasse aquele lugar me tornaria um devoto do Santo.
E assim o fiz, sou dedicado a ele há mais de oito anos, sempre que lhe pedi algo, ele o
cumpriu. A imagem que tenho dele não é muito grande, é feito de cerâmica, terá cerca de 15
centímetros e é branco. Por muito tempo coloquei atrás da entrada da casa, em cima de uma
mesa e ao lado dos santos que minha mãe tem. Em última análise, não vejo por que eles não
podem se dar bem. Acredito em Deus e sei que ele decidirá quando nos buscar. Claro que
alguém terá que fazer esse trabalho, então o Santo é quem nos acompanha e nos leva. Tive
vários empregos, todos eles legais.
Por temporadas eu sou um motorista de táxi. O trabalho à noite é muito perigoso, por causa
das agressões e por causa dos "encapsulados" e "vidraceiros" que às vezes te tocam nos
serviços. La Santa me deu várias paralisações quando minha vida esteve em perigo. Eu tinha
feito uma promessa a ele, e um mês atrás eu a cumpri. Fiz uma tatuagem na panturrilha
direita, é uma caveira mais refinada, pendurada em alguns fios, não os tradicionais que a
mostram de corpo inteiro e com escala ou globo. Agora só falta um destaque com mais cor e
algumas rosas que o cercam. Não paguei nada por esse trabalho, vários amigos em Toluca me ajudaram
157
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Para fazê-lo. Se esse tipo de tatuagem dói muito, às vezes sai muito sangue, mas sempre
cumpro com o Papai Noel e mantenho ela em mente. Todos os dias seu copo de água, às
vezes tabaco, quando me convém suas rosas, um pouco de conhaque ou tequila e alguns doces.
Claro, suas velas. Eu sempre peço a ele que me proteja, também minha esposa e meu filho
pequeno. Não sei porque as pessoas têm medo dela, ela é generosa e sempre ajuda (Arturo,
funcionário de açougue, Tijuana, 2015).
Procurei outras opções espirituais, minha amiga atualmente é membro de uma Igreja Cristã,
à qual ela é muito apegada. Alguns dos que reunimos para cultuar o Santo ainda estão
ativos, vários deles podem ser encontrados na zona norte, jogando drogas, roubando ou
passando pessoas para o outro lado (Margarita, dona de casa, Tijuana, 2015).
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Hoje você está nos braços da vida, mas amanhã estará nos meus
Eu fiquei com um menino, embora eu o chame de marido, ele foi e me deixou. Já tínhamos dois filhos,
um deles adolescente. Em meio ao meu desespero, contei à minha mãe como me sentia triste e
desconsolado, e ela me disse: peça a La Niña que devolva o pai de seus filhos. Eu implorei muito, alguns
dias se passaram e ele me ligou no telefone.
Aí eu comecei a saber que ela era mesmo poderosa” (Eréndira, dona de casa, 2015).
Assim como Eréndira, o culto professado por seus irmãos não faz parte da
tradição familiar, mas foi uma decisão sua:
Minhas irmãs também começaram a pedir coisas para ele. Minha mãe gostava que nós a adorássemos,
mas ela se preocupava que se algum de nós ficasse mal com ela, La Niña descontaria nela. Minha mãe
teve que deixar Morelia para vir para Tijuana.
Foi triste sair de seu altar, ele tinha santos de várias cores. Ela levou muitas coisas na direção de
Tiripitío, onde há um altar de dois andares dedicado a ela. Lá eles disseram a ela que se uma imagem
fosse quebrada, ela deveria ser colocada em uma panela, então ela descansa. Minha mãe sempre dava
banho na menina uma vez por semana, ela fazia com perfume, tem que ser suave, porque nem todo
mundo gosta (Eréndira, dona de casa, 2015).
Durante a entrevista, ele nos contou que as cores de Santa Muerte vão além
das construções simbólicas, que lhes são atribuídos poderes que reafirmam a
mística do culto:
A imagem que tenho do Santo é branca, a preta é usada para fazer o mal.
Ainda não tenho altar, mas à minha imagem tenho cerveja, um copo de vinho, cigarros e a sua maçã.
Há dois anos fui com minha mãe a Morelia e fomos visitar aquele grande altar que fica na periferia da
cidade. Está praticamente em campo. A imagem do Santo está montada em uma carroça, vestindo um
vestido branco e sentado em uma pilha de centenários.
Ela parece uma rainha. Tem também uma fonte, as pessoas bebem água de lá porque aquela água é
abençoada (Eréndira, dona de casa, 2015).
159
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Como eu ia dizendo, cada um decide colocar ou não o seu altar, isso é uma decisão pessoal.
Mas também o compromisso que você faz com ela você deve cumprir. Eu ofereci minha vida em
troca da liberdade do meu marido, ele está preso. Eu sei que minha vida não pertence mais a
mim, mas a ela. Meu marido será liberado em breve, então eu também tenho que cumprir outra
promessa, que era fazer uma tatuagem. Já convenci um amigo a fazer por mim, ele só vai me
cobrar 600 pesos. A imagem que tenho em mente é a de uma meia face da morte com pequenas
caveiras ao lado, todas sombreadas de branco, vou colocá-la em uma das minhas anti-pernas.
Meu filho a encontrou no Facebook, e é assim que eu a amo (Eréndira, dona de casa, 2015).
Ela explica que os eventos que marcaram o culto dentro de sua família são
diferentes; Como exemplo, ele nos disse o seguinte:
Tenho muitas histórias de família com a Santa, a da minha irmã mais nova é inacreditável. Ela
estava prestes a dar à luz, naquele momento o bebê estava prestes a morrer, ela rezou para a
Santa e prometeu a ela que se ela a salvasse a entregaria a ela. Quero dizer, minha irmã deu a
ela. Sempre que ela quer, ela pega. Esse era o acordo. Coisas curiosas acontecem com outra
irmã que mora em Tecate, sempre que ela vem para Tijuana ela confia sua casa ao Santo, ela
cuida dela. Ela tem um altar muito bonito em casa, dizem que quando ela sai, as sombras se
olham, então a Santa também protege as coisas dela. Aconteceram coisas com meu filho de
quinze anos também. Não muito tempo atrás ele apareceu para ela no caminho de casa, era
apenas sua sombra, porque seu rosto nunca é visto. E ele lhe disse: "Você já chegou ao seu
destino, está tudo bem, não se preocupe, não vai chover." Acho que ela está sempre cuidando
dele, e isso me dá muita tranquilidade (Eréndira, dona de casa, 2015).
Em muitos casos, os devotos expressam que Santa Muerte entra em suas vidas
aleatoriamente e a aceitam; no entanto, esta última reação não ocorre em todos os
casos. Por exemplo, Juan, um homem de 24 anos, membro de uma família numerosa,
que atualmente mora na cidade de Tijuana. Após a migração de seu pai para os Estados
Unidos, ele expressou sua intenção de entrar no país vizinho, mas, ao contrário de seus
irmãos, não conseguiu obter documentos legais. Ele nosexperiência
contou sobre
com Santa
sua primeira
Muerte:
Sou artesã de profissão, trabalho com bijuterias de filigrana, mas sou conche ro há cinco anos.
Também gosto das tradições dos Wixarikas, aqueles que as pessoas chamam de Huicholes.
Faço meus temazcales, pratico jejum na lua cheia, de vez em quando jogo meus peyotitos
160
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Hoje você está nos braços da vida, mas amanhã estará nos meus
para a purificação da alma. Cheguei a Tijuana há alguns meses a convite de uma irmã. Eu
não vi dançarinos aqui, muito menos peiote, o que eu vi foram algumas velas e imagens de
Santa Muerte em algumas lojas e mercados. A verdade é que eu passei dessa devoção,
principalmente porque tive uma experiência ruim. Aconteceu comigo lá em Guadalajara, um
cara que nos viu dançar em Zapopan se aproximou e sugeriu que fizesse um temazcal e
que fôssemos. A lua cheia se aproximava, coisa importante. Essa pessoa convidou cerca
de dez pessoas, mas éramos apenas cinco: quatro homens e uma mulher. Foi em um bairro
um pouco pesado, devido aos Oblatos; trazemos nossos trajes de dança, nossas peças de
chifre de veado, faca e um maracá. Chegando, eles nos ofereceram alguns peyotes de
tamanho normal e aos poucos foram chegando mais bandas. Alguns caras do tipo cholo
apareceram e eu comecei a me preocupar. Passado algum tempo, quando perguntei a que
horas e onde estaria o temazcal, abriram uma porta que dava para uma grande sala de
cerca de três por quatro metros; Ao fundo havia uma grande imagem, com cerca de dois
metros de altura, de Santa Muerte pintada de preto. Ela estava cercada por velas, flores,
tabaco e várias outras coisas. Nisso, ouvimos falar aqueles que se reuniram no local e
disseram claramente que haveria um rito de iniciação, um deles disse que nós éramos os
escolhidos. Todos nós pegamos sangue, estávamos com muito medo. Com o peiote dentro
e semiconsciente, começamos a planejar nossa fuga. Havia cerca de 15 pessoas, duas
delas eram senhoras que faziam coisas estranhas e se colocavam em transe. Cada um de
nós pegou o que estava carregando para a cerimônia como armas. Quando tentamos que
eles abrissem a porta para nós, alguns cholos estavam na nossa frente. A briga estava
prestes a estourar, mas quem nos convidou acalmou e, querendo ou não, nos deixou sair
do local. Senti que não sairíamos de lá. Recentemente descobrimos que o lugar para onde
fomos levados era um centro de reabilitação de drogas. Talvez e também haja gente boa
envolvida nisso, mantenho muita distância disso de cultuar a Santa Muerte (Juan, dançarino, entrevista, agosto d
Para concluir
Ao longo deste capítulo, foi desdobrado como o culto de Santa Muerte encontrou
expressões devocionais e seguidores muito diferentes nos dois extremos da
fronteira norte do México. Para chegar a essa afirmação, um primeiro momento
teve como objetivo localizar a região norte do México como um espaço onde a
centralidade religiosa não girava apenas em torno do catolicismo, mas desde cedo,
no início do século XX, outros credos e confissões religiosas Eles estão aqui para
ficar, enfatizando que a natureza multiconfessional da vida religiosa é uma das
características socioculturais mais importantes na fronteira norte do México.
Por outro lado, o multiconfessionalismo neste território foi criando um ambiente
de maior tolerância para as diferentes confissões religiosas do norte, fato que
também abriu as portas para que expressões da religiosidade popular criassem
seus próprios sentidos do divino, elevando santos, virgens e outras figuras
espirituais rejeitadas pelo catolicismo oficial, mas apropriadas e significadas por
seus próprios fiéis, fenômeno que permitiu o surgimento de figuras como Juan
Soldado, Jesús Malverde, Niño Fidencio ou Santa Muerte.
Outro momento desta reflexão referiu-se à visibilidade adquirida pelo culto a
Santa Muerte nas regiões noroeste e nordeste da fronteira, destacando os casos
particulares da cidade de Tijuana, Nuevo Laredo e outras localidades da “pequena
fronteira”. Mostrou-se que, apesar das diferenças marcantes entre os fiéis, o
sentido que deram à construção dos altares, bem como os momentos de repressão
e estigmatização, não reduziu o alcance dessa devoção, mas se espalhou para
outros espaços e ressignificou suas expressões e expressões de gratidão.
Isso permitiu corroborar que as ações empreendidas pelas administrações
municipais, Polícia Federal e Exército Mexicano com a destruição de altares, bem
como as condenações por autoridades católicas e outras lideranças religiosas,
embora os imaginários negativos em torno dessa crença aumentassem. teve um
impacto significativo na população nem fez desaparecer as manifestações desta devoção.
Da mesma forma, os depoimentos recuperados das entrevistas permitem
abordar um cenário heterogêneo em termos de fiéis de diferentes idades, gênero
e condições socioeconômicas, o que ajuda a desmistificar a crença de que Santa
Muerte só é cultuada por pessoas associadas à delinquência ou ao crime
organizado . Outro aspecto digno de nota é a centralidade ocupada pelo Santo
162
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Hoje você está nos braços da vida, mas amanhã estará nos meus
A morte no cotidiano dessas pessoas, que pode ser vista refletida em diversos
pedidos associados ao amor, ao trabalho, à família e à proteção contra todo mal. A
devoção a Santa Muerte compartilhada pela família talvez seja um dos detalhes mais
interessantes recuperados desses depoimentos, pois mostra que, ao contrário de
outros períodos em que o catolicismo era a religião herdada aos novos membros, a
Santa Muerte está adquirindo hoje uma devoção racional transgênica. da própria
família, que naturalmente inclui menores. Fato que abre um panorama de múltiplas
transformações na devoção a Santa Muerte em um futuro próximo.
Referências
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Entrevistas
ARTURO, funcionário de açougue, [entrevista], 2015, de Alberto HERNÁN
DEZ [trabalho de campo], “'Hoje você está nos braços da vida, mas
amanhã estará nos meus'. O culto de Santa Muerte no norte do México”,
Tijuana, Baja California, El Colef.
ERÉNDIRA, dona de casa, [entrevista], 2015, por Alberto HERNÁNDEZ
[trabalho de campo], “´Hoje você está nos braços da vida, mas amanhã
estará nos meus´. O culto de Santa Muerte no norte do México”,
Tijuana, Baja California, El Colef.
JOSÉ, segurança e jardineiro, [entrevista], 2015, por Alberto HER NÁNDEZ
[trabalho de campo], “'Hoje você está nos braços da vida, mas amanhã
estará nos meus'. O culto de Santa Muerte no norte do México”,
Tijuana, Baja California, El Colef.
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Hoje você está nos braços da vida, mas amanhã estará nos meus
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Introdução
1
Em janeiro de 2012, números oficiais indicavam que na guerra contra o narcotráfico
liderada pelo presidente Felipe Calderón Hinojosa havia 47.000 mortes, enquanto organizações
não governamentais contabilizavam mais de 60.000 (Castillo e Camacho: 2012).
Para o mês de agosto, o Índice de Vítimas Visíveis e Invisíveis (IVVI) de crimes graves,
publicado pelo México Evalúa, estimou mais de 88 mil (Díaz, 2012).
[169]
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agradecer e pagar pelos milagres, favores ou "paradas" que seus devotos lhes asseguram
que ele cumpriu
Se no país a devoção se espalhou por vários estados, a Cidade do México não é
exceção e Santa Muerte deixou de ser exclusiva dos bairros centrais e se espalhou por
várias delegações políticas, o grande número de res de rua que se observam é prova disso.
isto. No entanto, há bairros onde nenhuma manifestação semelhante é apreciada, é o caso
do bairro Ajusco, onde o Santíssimo está presente e é percebido principalmente através de
Dona Nieves que o promove publicamente.
Considero que parte fundamental para compreender o culto de Santa Muerte são os
seus devotos, entre eles podemos distinguir os e líderes; ou seja, agentes especializados,
embora a Sra. Nieves2 se destaque por essa condição, ela também é crente, e este trabalho
se baseia principalmente em sua narrativa, parafraseando Hume, interessa-me ver a religião
pela visão de quem a pratica ( 2007:121). O objetivo é contribuir para a compreensão de
como se construiu a devoção em um bairro do sul da Cidade do México que, embora
caracterizado por seu dinamismo graças à economia informal, apresenta deficiências
econômicas, educacionais e recreativas (Zermeño , 2005: 204), por isso apresenta aspectos
de marginalidade e violência entre sua população, que promovem a busca de proteção
mágica e espiritual em uma gama de oferendas religiosas, entre as quais a Santa Muerte.
Um dos principais problemas para seus habitantes, assim como para o restante da
cidade e do país, é a insegurança, que está ligada ao tráfico de drogas envolvendo jovens
entre 15 e 25 anos, que usam drogas e cometem diversos atos ilícitos desde pequenos
furtos, assaltos a transeuntes e furtos de autopeças, até outros mais graves, como assalto à
mão armada
2
Nas seções seguintes, vou me referir à Sra. Nieves apenas como Nieves, já que é assim
que os crentes que assistem a suas cerimônias a chamam.
170
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3 Refiro-me à Santa Muerte como um símbolo porque Victor Turner indica que os
símbolos são geradores de ação, são focos de interação e mobilizam grupos sociais
ao seu redor, pois perto deles são realizados cultos e outras atividades simbólicas
(Turner , 2005:25) ; portanto, são “forças” que motivam a ação social “na medida em
que são influências determináveis que induzem pessoas e grupos à ação” (Turner, 2005:39 e 40).
Além disso, são fins em si mesmos; ou seja, eles são observados repetidamente em diferentes
rituais que enfatizam diferentes aspectos simbólicos –símbolo dominante– (Turner, 2005:35);
também são variáveis, pois têm propósitos específicos dentro de um ritual específico –símbolo
instrumental– (Turner, 2005:50).
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Depois de vários anos, Santa Muerte foi incorporada ao imaginário dos moradores
do bairro de Ajusco, que reagem a ela de diferentes maneiras. A maioria dos que
não acreditam caracteriza-se pelo desconhecimento do que é o culto, têm uma
percepção negativa, embora saibam que a devoção lhe é prestada, negam sua
presença por medo, preconceito ou intolerância, consideram-no ruim ; ele também
é tolerado, embora não se saiba onde ele é venerado; alguns sabem onde fica e
não têm medo; há até quem conviva com os devotos e saiba o que o culto implica.
Como um todo, essas representações indicam que o morador do bairro do Ajusco
já a interiorizou e a considera como parte de seu contexto, acredite ou não nela,
para uma fração de católicos não devotos5 Santa Muerte é negativa, ela é uma
entidade do mal, instrumento do mal que é usado para prejudicar, então qualquer
coisa pode ser pedida. No entanto, para outro há uma ideia mais positiva, tanto
que eles podem conviver com ela.
Por outro lado, para os devotos, a representação social de Santa Muerte é
sintetizada como protetora, terna, compreensiva, amorosa, prestativa, muito
milagrosa, ser de luz, ser espiritual, ferramenta de Deus que zela pelo mundo e
ajuda a tê-lo. em equilibrio; não concede nada, não prejudica os outros, não faz
mal, é bom; é seletivo, porque escolhe o crente, portanto, nem todos podem
acreditar nele. Dessa forma, a representação social de Santa Muerte para seus
fiéis do bairro de Ajusco é a de uma santidade positiva6.
Note-se que as diferentes percepções de Santa Muerte nos mostram como a
representação social é um sistema de interpretação da realidade que orienta as
relações dos indivíduos, pois determina um conjunto de antecipações e
expectativas (Abric, 2001: 13).
4
A representação social funciona como um sistema de interpretação da realidade que orienta
“as relações dos indivíduos com o seu meio físico e social, uma vez que determinará os seus
comportamentos ou práticas” (Abric, 2001:13); dessa forma, é um guia para a ação, orienta o
comportamento e define o que é lícito, tolerável ou inaceitável em um determinado contexto social
(Abric, 2001:17).
5 Refiro-me aos católicos não devotos, porque vários estudos mostram que a maioria dos
crentes em Santa Muerte são de filiação católica.
6 Ela é considerada uma santidade, porque para o crente a Menina Branca é mais uma
santa; ou seja, ele a percebe como parte dos santos católicos, por isso lhe atribui características
milagrosas, proteção, ternura e bondade.
172
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Nieves, que tem mais de 40 anos e estudou a carreira comercial de secretária executiva
em espanhol. Ela é católica, acredita na Virgem de Guadalupe, em São Judas e nos
demais santos. Ter devoção a Santa Muerte não o impede de acreditar em Deus, que
criou a vida e não pune porque é amor. Ele não encontra nenhum tipo de contradição
entre a Virgem de Guadalupe ou os santos e sua crença em Santa Muerte. Para Nieves,
as pessoas os fazem lutar porque eles não lutam. Quando precisa, vai a qualquer igreja,
ao templo de São Judas Tadeu ou à Basílica para rezar. Ele aprendeu sobre o culto de
Santa Muerte de sua família, desde os 15 anos ele o venera, a princípio clandestinamente,
mas chegou um momento em que ele se perguntou por que o escondia "se cada um pode
acreditar no que quer" ( Nieves, entrevista, 2008), por esta e várias experiências de fé
tornou pública a sua devoção.
Olha, nós da minha família nascemos, nascer significa que já nascemos com aquele
dom ou defeito. Quando eu tinha oito anos, minha mãe sempre me fazia rezar para ela,
a oração ou uma novena por algum problema familiar e tudo mais. E bem, estamos
falando, agora estou com quarenta e cinco anos, imagine, quantos anos eu tenho nisso?
(Nieves, entrevista, 2011).
Ela gosta de aprender, ela mesma diz que não tem limites e acredita que as pessoas
não devem ser limitadas, isso explica sua incursão em crenças muito diferentes como
Santería, Palo Mayombe8 e Wicca,9 entre outras, sem ter nenhum conflito.
7 Além das entrevistas em profundidade, mantive várias conversas informais com Nieves
durante os anos de 2013, 2014 e 2015. O trabalho de campo foi realizado no âmbito da
Sociologia dos grupos religiosos do bairro El Ajusco e do Seminário de Pesquisa sobre Religião
e Sociedade no México e na América Latina, bem como minha dissertação de mestrado A
construção social do culto de Santa Muerte. Estudo etnográfico no bairro Ajusco, atividades
dirigidas pelo Dr. Hugo José Suárez.
8 Tem origem nas tribos bantu da África central, oriental e meridional, suas práticas
caracterizavam-se pelo culto ao nganga –vaso onde se guardam as forças sobrenaturais–, o
animismo das plantas, da terra, da água, do ar e a presença dos ancestrais . Quando os bantos
foram trazidos para a América como escravos, interagiram com outras tribos, também de origem
africana, das quais assimilaram a comunicação direta com os espíritos. Na América incorporaram
o uso de cruzes, a adoração do Espírito Santo e orações como o Pai Nosso e a Ave Maria
(Mundo, 2008:69).
9 A Wicca é uma religião neopagã fundada em meados do século XX que vem da tradição
xamânica europeia, dentro de sua visão de mundo os quatro elementos são fundamentais:
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Ela é divorciada, sua crença em Santa Muerte foi um dos motivos de sua separação
porque seu ex-marido não acreditava nela e toda vez que bebia atacava suas imagens
volumosas. Sua família é composta por seu filho de 26 anos, Roberto Alán, sua filha de
16 anos, Ayram Sinaí, seu neto Kevin; sua nora, Blanca e sua esposa.
A sua actividade principal deriva das suas crenças, pois limpa, lê cartas, Tarot,
Chamalongos10 e caracóis, estes dois últimos relacionados com a Santería e o Palo
Mayombe; ele prepara amuletos, proteções para a casa e os negócios, amarrações,
desamarrações e alinhamento de chacras, atividades que realiza em seu departamento-
altar-santuário. Como já foi referido, todos os domingos vende artigos relacionados com
a devoção a Santa Muerte na feira da ladra que se encontra à volta da feira da Bola.
Ele vende neste lugar há mais de vinte e cinco anos, embora no início não tenha sido
muito bem recebido porque as pessoas tinham medo de ver sua barraca, e a Igreja
Pentecostal Eben-Ezer está bem próxima.
Ele realiza duas celebrações em homenagem à Santa Morte, uma em 2 de novembro,
dia em que comemora mais um aniversário da Santa Morte, ele o fez em uma sala, mas
por questões financeiras e problemas de aluguel devido ao medo de que suas imagens
gerado aos proprietários, agora celebra a festa na rua; contrata um mariachi, um grupo
musical, um de chinelos, além de uma equipe de luz e som; Ele também reza um rosário
para eles. A segunda no dia 8 de cada mês, quando ele lhe oferece um terço em seu
apartamento-altar-santuário.11
Além disso, ela vai a outros altares para consagrá-los, razão pela qual foi madrinha
em várias ocasiões; como ele também “batizou” várias crianças com sua Senhora, as
pessoas o chamam de comadre; Chegou mesmo a “oficializar” casamentos em que pede
aos noivos que pensem seriamente no compromisso que vão assumir em nome da
Santísima Muerte porque “não se brinca com ela” (Nieves, entrevista, 2012).
Terra, Ar, Fogo e Água, portanto, estão ligados à natureza e à fertilidade. Alguns aspectos que o
caracterizam são a dupla polaridade da Divindade, a crença na Reencarnação, o respeito pela Mãe
Terra, a mudança das estações que marca as festas ou Sabbats, é livremente aceito ou rejeitado, não
há proselitismo; todos os iniciados são Sacerdotes ou Sacerdotisas, portanto há igualdade de sexos e
raças; e o uso do Círculo Mágico como forma de celebração e oração (Clover-Jones, 2000: 11-12).
10
Os Chamalongos são quatro pedaços de coco que são usados para encontrar respostas
afirmativas ou negativas às perguntas que são feitas.
11
Anteriormente, ele também fez um em 25 de julho, data em que algumas de suas imagens em
massa chegaram, embora nos últimos anos, devido a custos econômicos e outros compromissos, tenha
deixado de fazê-lo.
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Seu objetivo é difundir o culto com base em uma promessa que fez a ela depois
de livrá-la de três graves problemas de saúde, o principal deles há 20 anos.
Fiquei muito doente, o médico já tinha desistido de mim, minha gente estava me esperando
na sala ao lado e eu disse à senhora, falei com São Judas, desci a todos os santos naquele
momento e me lembro dela, Eu digo a ela: “Olha, Santa Muerte, eu sei que você existiu na
minha família, eu sei que você tem um contato divino com Deus, não seja má, me dê sua
mão para me salvar disso e eu te prometo que vou espalhar sua devoção onde e com quem
me refiro, vou falar de você, de tudo que você me deu e vai me dar” (Nieves, entrevista, 2011).
As “meninas” de Nieves
Em relação às suas “Niñas” é importante destacar que todas elas têm essencialmente
as características da imagem de Santa Muerte; isto é, um esqueleto humano, de pé
ou sentado em um trono, vestido com um hábito semelhante ao dos frades, cujas
cores variam, pode levar uma balança e/ou uma foice na mão direita; à esquerda,
um globo ou uma ampulheta; também pode ter uma auréola, o que lhe confere sua
qualidade de "santo"; ou asas como um anjo. São feitos de resina, papel machê,
gesso, entre outros materiais. Mas eles têm qualidades que os distinguem de
qualquer outra representação, porque Nieves os personalizou, pois, como mencionei
anteriormente, eles fazem parte de sua família, por isso os nomeou com base nas
experiências que surgiram ao redor deles. à medida que se integram no seu dia-a-
dia.
Doce
É o mais importante para a vida cotidiana do departamento-altar-santuário, está com
Nieves há mais de 16 anos, que o levou ao tianguis como muitas outras das imagens
que vende, mas ninguém o comprou, então ele decidiu mantê-lo. Dulce se destaca
não só por ser a mais longa, mas também por ajudar as pessoas com dificuldades
para engravidar.
Quando as pessoas têm algum problema com seus bebês ou que não podem
ter filhos, eles vêm e perguntam a ela e ela dá a graça de engravidar e tudo mais
(Nieves, entrevista, 2011).
O nome também recebeu porque é muito doce. Sua doçura se manifestou em
um dos rosários, onde alguns devotos a viram chorar.
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Justiça
Quando Nieves se sente triste com um problema, a Justiça se encarrega de dar “fica quieta”
ao responsável. No entanto, ela afirma que não é vingativa porque "ela é justa na
hora" (Nieves, entrevista, 2011). Chegou há mais de doze anos.
milagres
Ela tem aproximadamente sete anos, recebe esse nome porque fez um milagre para um
casal de lésbicas que queria ter um filho e foi consultar Nieves que propôs:
O que você acha que, se Deus quiser e minha senhora, sua parceira engravida, nós
compramos um Papai Noel dourado, porque me falta um dourado?” Bem, para encurtar
a história, a garota engravidou e todo o show. É claro! Foi com um homem, você não vai
me dizer que foi uma mulher com uma mulher. Ela engravidou na primeira vez e quando
o bebê nasceu eu comprei a imagem, porque no final eles recuaram (Nieves, entrevista, 2011).
Caridade e Mia
Caridad e Mia chegaram quase juntas. Nieves queria uma imagem de um fardo grande
porque toda vez que via Yara, que ainda não lhe pertencia, dizia que era dela.
Quando eu vim ver essa imagem, Yara, eu vim: “Ai' minha menina preciosa”. E as
pessoas boas me disseram, me disseram: "Se não é seu." "Não, mas ela é meu Papai Noel."
"Não, não é seu." Então a partir daí eu peguei que quando esse chegou eu disse: "Vou te
chamar de Meu, para que quando as pessoas te vejam digam "Ah, você é meu,
meu!" (Nieves, entrevista, 2011).
Procurou-o em muitos lugares, mesmo nas prisões, sem encontrá-lo até que conheceu
uma pessoa que os vendeu, mas aos pares. Caridad chegou três meses depois de Mía.
Apesar de terem sido comprados juntos, foi levado para uma casa em Xochimilco, mas não
chegou porque “não quis”: quebrou no caminho. Este era o sinal de que haveria um
problema, e foi, porque o dono da casa cometeu uma fraude. O nome foi colocado pela
oração que diz: "Bendita seja a tua caridade". Ambos têm mais de oito anos.
Crianças
Yara inicialmente pertencia a um vizinho que Nieves acompanhou para inaugurar seu altar,
em um apartamento próximo ao dele. Ele chegou no dia 10 de maio, Dia das Mães, há mais
de oito anos, durante um terço para o qual foi convidado. Na ocasião o proprietário
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perguntaram por que ele acreditava em Santa Muerte se era Testemunha de Jeová [sic], ao que
ele respondeu: "Não, porque me faz ganhar um bom dinheiro, não para mais nada" (Nieves, em
entrevista, 2011). Pouco tempo depois ela se mudou e deixou Yara, então Nieves pediu a vários
fiéis que a ajudassem a trazê-la até seu apartamento e ela ficou desde aquela data.
março
Ele a comprou há mais de cinco anos porque queria uma imagem volumosa da Santa Muerte de
papel machê sentada em seu trono. Ele a chamou assim porque ela tem mãos e rosto de mulher,
embora pés de homem, e para Nieves o mar e a morte não têm gênero.
Então, o mar, eu gosto muito do mar, gosto de ir para Acapulco e tudo que tem mar .
Então eu disse, mar é quando o mar está calmo, e mar é quando está maré vermelha e
tudo mais, concorda? E a partir daí eu coloquei assim (Nieves, entrevista, 2011).
Seveín
Foi dado a ele por Martín George anos atrás, porque ele queria uma imagem com asas porque
considera que Santa Muerte é um anjo. No início foi nomeado como Se veín Nitram, porque escrito
da direita para a esquerda é Nieves e Martín. Teve alguns desentendimentos com ele, pelo que
decidiu chamá-la apenas de Seveín e ela é a imagem volumosa que conduz as peregrinações.
Antes era azul, mas resolveu mudar de cor para ficar mais bonito e pintou de dourado, tom que
gosta muito; embora não estivesse satisfeita e voltasse a pintá-lo, agora em sete cores, como a
dos sete poderes.12
China
Chegou há mais de seis anos. Ela foi nomeada China porque ela é muito travessa e joga coisas,
e é por isso que Nieves diz que ela se parece muito com sua filha que é apelidada assim.
12
É uma imagem em massa pintada com as sete cores que os devotos consideram
representativas de Santa Muerte, que podem ser dourado ou amarelo, vermelho, prata, roxo,
azul, verde, cinza e também laranja (segundo os fabricantes). necessidades de cada devoto).
Cada uma dessas cores tem uma função especial, por exemplo, o ouro é usado para prosperidade
econômica e o vermelho para amor; Por isso, a Santa Muerte que a todos possui é considerada
uma das mais poderosas.
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Danny
Ele recebeu o nome de seu ex-proprietário: Danny. Foi abandonado há pouco mais de
quatro anos na porta da frente do pequeno prédio onde Nieves mora.
Felicidade
Foi-lhe dado de aniversário, isto há mais de sete anos. Chama-se assim porque está
sempre feliz. Embora o rosto de Santa Muerte seja o de um crânio humano, portanto,
sem expressão, o de Alegría parece sorrir.
As "Meninas" estão organizadas no espaço do departamento sem hierarquias, não
importa qual chegue primeiro, Nieves as coloca de forma diferente apenas por prazer,
para quebrar a monotonia de vê-las sempre no mesmo lugar. Embora tenha humanizado
suas imagens em massa, ele sabe que Santa Muerte tem várias representações, mas é
apenas uma, assim como há a Virgem Maria, Guadalupe ou Carmen.
Agora ele é como Cristo, Cristo que […] na Santeria é Olofi, certo? Ou Ocumare em Palo
Mayombe, mas, ele é Deus, ele é um Deus [...] você concorda que não existe Cristo negro ou
Cristo branco ou algo assim? Ou seja, as pessoas já adicionam cor e sabor a ele como querem
colocar porque já é a questão da safra. […] No final do dia vou dizer-vos como diz uma pessoa:
“Todo mundo é igual”. Sim, mas o que você acha, é como seus filhos, cada criança sai de forma
diferente. Eu entendo assim (Nieves, entrevista, 2011).
Nieves está interessado em saber o que realmente é o culto e não pensar que é apenas
para traficantes, prostitutas e criminosos; também que as pessoas não estão divididas
por suas crenças, porque a religião não divide e ninguém deveria brigar por isso "porque
somos todos iguais, somos todos filhos de Deus, somos filhos da natureza" (Nieves,
entrevista, 2008) . Ele acredita que as pessoas ignoram esse aspecto e, portanto,
pensam que um católico não deve acreditar em Santa Muerte.
Olha, eu conheço muita gente de São Judas Tadeu, que são prostitutas, que são lésbicas, que
são ladrões, que são de tudo. Eu conheço-os. Conheço a Virgem de Guadalupe.
Conheço o Sr. Malverde, acredito no Malverde também, gosto de rezar para ele. De todos os
santos. Chame de religiões e tudo mais, porque existem religiões muito fortes, aparentemente é
legal aqui, mas abaixo você está sendo roubado. Há pessoas que são iguais, hum, Papas, como
chamam aqueles que governam? pastores? Eles violam seu próprio povo. quero dizer, todo mundo
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os santos para mim são bons, os maus somos nós. E não há santos para os ricos ou
santos para os pobres, essa palavra está errada (Nieves, entrevista, 2011).
Ela respeita muito a Virgem de Guadalupe, e por isso ela repreende os católicos
que não a atendem diariamente, apenas em 12 de dezembro que varrem e limpam
seus altares. Da devoção a São Judas admira a atitude de seus fiéis que o veneram
todo dia 28 do mês. Ele também critica aqueles que usam os altares para tirar
vantagem econômica porque com a fé do povo não há lucro.
Ele não concorda com o autonomeado Arcebispo da Igreja Católica Apostólica Tradicional
México-EUA, David Romo, atualmente na prisão, pois considera que estava apenas tendo
um dia de campo e, portanto, não o considera um verdadeiro devoto ou pai.
Lucro puro, pois a imagem tem uma placa que diz: "Não me dê um cigarro porque eu
vou queimar, melhor me dar pelo meu vestido". Pessoalmente, eu sou o dono deste altar e
quando eles precisam de suas roupas, eu compro […] Eu não montei um altar para ver
quanto eu tenho, se eu quero ter dinheiro eu trabalho, e se a Senhora ajuda mim e feito à
mão é outra coisa (Nieves, entrevista, 2008).
É por isso que ele pensa que aqueles que afirmam ser líderes ou guias espirituais
não são. O único que reconhece é seu padrinho, Manuel Valadez, que há algum
tempo trabalha o culto de Santa Muerte no mercado de Sonora e é um dos primeiros
a trazê-lo à tona, além de conhecê-lo há mais de nove anos . . Ele também ressalta
que, como Romo está preso, qualquer oportunidade é boa para ser líder. Para ela, um
verdadeiro líder deve ser alguém preparado, com estudos, que não seja arrogante e
seja humilde. Além disso, ele afirma que o importante é Santa Muerte, pois ela já tem
muitos anos, e não quem veio primeiro, Romo ou Dona Queta Romero.
No início de seus rosários, ele convidou Martín George Quijano para orientá-los,
ele havia trabalhado anteriormente com David Romo com o cargo de "Diretor Geral de
Mordomos e Eventos Gerais de Santa Muerte", ele era seu braço direito, mas tendo
divergências com quanto à gestão do culto, separou-se dele; tornando-se primeiro um
operador ritual e depois, ao lado de Manuel Valdez, um líder espiritual13 e "ministro
do culto".
Em junho de 2011, Nieves e Martín George se separaram por motivos
econômicos, já que ele dirige a oração não apenas por convicção, mas cobra por seus serviços e
13 O antropólogo Roberto García define o líder espiritual e o operador ritual como aqueles
que operam com o símbolo de Santa Muerte, produzem e reproduzem rituais no espaço onde
oferecem seus serviços, mas o líder se diferencia por ser um inovador simbólico e exercer uma
liderança carismática concedida pelo próprio fiel (García Zavala, 2007:184).
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custo pode variar. Como a conhecia há vários anos e por causa de sua “amizade”,
não a cobrou, mas decidiu pedir-lhe 1.500 pesos, com os quais ela não concordou e
decidiu dispensar seus serviços. É claro que entre os dois há um zelo profissional e
principalmente econômico, George Quijano a percebe como uma líder de grande
carisma que pode ofuscar suas ambições de ser um dos líderes mais reconhecidos
dentro do culto. Em junho de 2015 eles acertaram as coisas e Martín George participou
da cerimônia de apresentação do neto de Nieves diante de Santa Muerte e em um
casamento.
rede social da qual Nieves participa e cuja intenção é reunir os altares que não
estão vinculados a nenhum líder ou "Igreja" de Santa Muerte, já que um de seus
objetivos é que não lucrem com devoção e não cobram para rezar o rosário
Embora ela não goste de aceitar que é líder e é apenas a dona de seu altar, que
o representa, cuida dele e está ali para resolver as dúvidas dos devotos para quem
ela mantém a porta aberta, ela acaba aceitando que de alguma forma ela é para as
pessoas que a acompanham ao seu tabernáculo, que ela qualifica como seu tesouro
porque lhe dá grande satisfação.
14
Foi formado em 1999, em Tepatepec, Hidalgo, com a intenção de mostrar o que é culto
e promovê-lo. Segundo Ernesto López, que coordena este grupo, reúnem mais de 30 donos
de altares e suas respectivas congregações que estão localizadas em Chimalhuacán e
Tultitlán, Estado do México; Coyoacán e Tepito, assim como nos estados de Puebla, Veracruz
e Guerrero. Este grupo não tem líderes, apenas guardiões de altares e devotos. Consideram
que o culto de Santa Muerte não é apenas individual, a devoção é construída e faz sentido por
seus fiéis (López, entrevista, 2011).
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Por pertencer a um grupo de devotos que se juntou à organização sem fins lucrativos
Altares Unidos, eles propuseram que ele os coordenasse, mas ele não está interessado
porque não acredita em líderes, como mencionado em linhas anteriores, e prefere celebrar
a Santa Muerte em ocasiões especiais para promover sua adoração.
Por exemplo, no dia 10 de maio, deixe ela fazer uma festa porque para mim ela é minha
mãe, ela me ajudou muito, ela está comigo nos bons e maus. Eu faria aquela festa para
ela e para outras pessoas verem que não só os altares de Santa Muerte são ruins, que a
gente mora junto como qualquer outra pessoa, a gente comemora, a gente come em paz.
Não porque dizem: "Olha, foi ela que deu a festa". De qualquer forma, quem eu quero
ficar bem são aqueles que me alimentam (Nieves, entrevista, 2011).
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15 Atualmente eles não têm uma pessoa fixa para conduzir a oração, pode ser
uma das pessoas mais próximas ou um voluntário.
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Ah, que pai, fui louco e estúpido, pensando que eu era a mulher que tinha o maior e mais bonito
altar do mundo, quando vejo que tem gente que também tem muitas imagens (Nieves,
entrevista, 2011).
16
O nganga, também chamado de nkiso, é um recipiente onde se guardam as forças naturais,
representadas com ossos, troncos, terra e plantas, onde mora o espírito dos mortos com quem se
trabalha. Para isso, o vivo faz um pacto com o morto que se torna seu escravo e faz tudo o que lhe é
pedido. Como o falecido tem um grande apego aos seus restos mortais, o palero toma posse dele
principalmente com seus ossos, assim como seus cabelos ou roupas. Os ossos mais utilizados são o
crânio, pois é onde estão armazenadas a essência espiritual e a inteligência, e as falanges (Mundo López, 2008:70).
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17 Martin George, sendo um profissional do rosário, não precisou de nenhum apoio escrito,
rezou sua própria versão na qual poderia improvisar. Embora possa parecer que há uma
homogeneidade no rosário que é rezado nos diferentes altares, não é o caso, na Internet você pode
encontrar várias versões. Nieves reconhece que pegou a partir daí e fez algumas modificações para
torná-lo mais dinâmico. Por ser aquele que está sendo orado atualmente, é aquele que descrevo brevemente.
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Elvira: Primeiro mistério. A Foice é entregue à nossa Santa Morte. Há uma pausa.
Que pela majestosa entrega em sua mão direita da Justa Foice e por meio de nosso
Senhor Pai, ela salve os pecadores do mundo inteiro e converta muitas almas. Todos
respondem: Amém. Elvira: Ah! mais preciosa e divina Santa Muerte. Todos respondem:
Cure os rancores e a inveja de todos os seus fiéis seguidores Santísima Muerte. Reza-
se um Pai Nosso e uma Ave Maria. A seguir, começa uma ladainha que se repete
doze vezes: Elvira: Ah! mais preciosa e divina Santa Muerte. Resposta: Salve-nos e
ao mundo inteiro. Para encerrar este primeiro mistério, Elvira diz: Glória ao Pai, ao
Filho e ao Espírito Santo, como era no princípio, agora e sempre e pelos séculos dos
séculos. Resposta:
Um homem. Todos de cabeça baixa: Que a mais preciosa Santa Morte que surge do
teu reino, templo da sabedoria divina, tabernáculo do conhecimento divino e luz do
Céu e da Terra nos cubra agora e sempre. Um homem.
Ao final do quinto mistério, as ladainhas continuam e, ao final delas, Elvira pede a
quem quiser que agradeça em voz alta os favores recebidos. Entre eles, destacam-se
os de saúde e de trabalho, especialmente o de um jovem que deixou a prisão após
três anos de permanência ali, agradecendo não só a Santa Muerte, mas também a
sua mãe que o convidou a participar do rosário como agradecimento. Em seguida,
pede-se aos fiéis que façam seus pedidos da mesma forma. Não são muito diferentes
de agradecimentos, alguns têm a ver com problemas familiares, seja com o pai, seja
com o marido ou a esposa; Entre estes, destaca-se a devoção com que uma jovem
pede a libertação do irmão do Tribunal de Menores.
Antes de terminar, como em outros altares, Elvira pede que seja feita a corrente
de força, para a qual todos os fiéis são convidados a dar as mãos e fechar os olhos
para agradecer a Santa Morte. Elvira e os fiéis: Doce Mãe, não vá embora, não desvie
os olhos de nós. Já que tanto nos proteges, como verdadeira Mãe, faz com que o Pai
nos abençoe.
Termina com um Pai Nosso, vivas, vivas e aplausos para Santa Muerte.
O início do rosário corrobora o que expressei nas linhas anteriores, a igreja
adscrita da maioria dos crentes de Santa Muerte é católica; isto é, seu universo
sagrado é católico; por isso, em muitas de suas cerimônias religiosas é comum
começar pedindo permissão ao Pai, Filho e Espírito Santo para invocar a Santa Morte;
recordemos também que é considerado instrumento de Deus, o primeiro mistério
mostra isso ao indicar que Deus Pai entregou a foice a Santa Muerte para que ela
salve os pecadores do mundo inteiro e converta muitas almas.
Os cinco mistérios repetem o mito fundador do culto de Santa Muerte, em cada
um deles é recriada uma passagem onde é concedida uma missão divina; tal como
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Como observa Roger Caillois, às vezes são recitados mitos, “contos secretos e poderosos
que descrevem a […] fundação de uma instituição. Eles funcionam como palavras-chave.
Basta recitá-los para provocar a repetição do ato comemorado” (Caillois, 1984:124).
Ao final, as cópias fotostáticas do terço são recolhidas e café ou atole e pão doce são
distribuídos entre os participantes, às vezes um devoto compartilha doces como
agradecimento pelos favores recebidos.
Nieves não pede nenhum tipo de esmola em seus eventos, “não coloco cestas como
em outros altares” (Nieves, entrevista, 2012). As pessoas vão a ela pela confiança que
ela lhes dá, pelos seus conselhos, porque ela não tira proveito de suas necessidades e
dá seriedade à devoção. Por isso tem muitos "compadres", "afilhados" e fiéis não só do
bairro de Ajusco, mas de várias partes da cidade como Santo Domingo, los Reyes, Santa
Úrsula, da delegação de Coyoacán; de outras demarcações políticas próximas, como
Tlalpan, Magdalena Contreras, e distantes, como Iztacalco e Venustiano Carranza. Alguns
dos devotos frequentam este apartamento-altar-santuário porque em seus locais de
residência não há altares públicos onde são feitos rosários; souberam por parentes do
bairro de Ajusco que os informaram do tianguis de la Bola "onde uma senhora a convida
para o seu altar".
É importante notar que as atividades do terço não são divididas por sexo ou idade,
todos participam da mesma forma, embora Nieves seja a dona do altar e quem abre sua
porta para os devotos, ela não é responsável por todos. deles e nem sempre os coordena,
pois alguns dos fiéis mais próximos cooperam igualmente, seja distribuindo doces, cópias
estáticas do rosário, pão ou café. Nesse sentido, o que outros trabalhos destacaram
(García Zavala, 2007:184 e Fragoso, 2007:95), o rosário não apenas reproduz o ritual
central do culto de Santa Muerte, mas também se torna um espaço de convivência e
socialização onde laços sociais são criados e consolidados. Pode até gerar tensões e
divisões que trazem consigo não apenas violência simbólica, mas também uma luta frontal
e direta pelo controle dos bens de salvação implícitos nessa crença, como aconteceu
entre Nieves e Martín George.
Antes de partir, como último ato de fé, os crentes se aproximam de Nieves para que
ela possa purificar suas imagens em massa com um spray que ela preparou para esse fim.
Os últimos a sair são os mais próximos de Nieves, pois ajudam-na a definir as tarefas
para o próximo terço ou para alguma atividade relacionada com o culto, como a festa de
2 de novembro, para a qual são nomeados os responsáveis pela confecção das t-shirts. à
data, contratar os mariachis, o grupo musical ou a equipa de som; preparar a comida, seja
o arroz, a toupeira, o frango; aluguel de lonas, mesas e cadeiras, entre outros suprimentos.
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Pensamentos finais
Pelo que foi expresso por Nieves, considero que Santa Muerte tem um caráter dual, é
um objeto de devoção ao qual são atribuídas múltiplas características sem perder sua
essência, isso pode ser entendido a partir da proposta de representações sociais de
Jean-Claude Abric, que argumenta que existem representações autônomas e não
autônomas; e da definição de símbolo de Victor Turner, pois Santa Muerte se caracteriza
por ter um princípio organizador que lhe dá sentido e se situa ao nível do próprio objeto
–representação autônoma– (Abric, 2001:23), ou seja, é um símbolo dominante por ser
um fim em si mesmo (Turner, 2005: 35). Isso se explica porque os devotos consideram
que, embora existam várias imagens, há apenas uma Santa Muerte que veneram, como
afirma a própria Nieves.
Além disso, é uma representação social não autônoma, pois seu significado também
está fora do próprio objeto, possui elementos externos que o consolidam como objeto
de representação (Abric, 2001: 23) e lhe conferem o caráter de símbolo instrumental.
pois está de acordo com propósitos específicos dentro de um ritual específico (Turner,
2005:50), razão pela qual os crentes lhe atribuem várias características de acordo com
suas necessidades, sejam as cores ou as diferentes práticas que realizam em torno
dele, como como vesti-lo, humanizá-lo, dar nomes; celebrar terços, missas, casamentos
ou batizados com o objetivo de resolver problemas de amor, saúde, proteção, emprego,
estudo, etc. Da mesma forma, essas atividades fazem parte de uma dinâmica do
catolicismo popular18 que molda sua representação social.
No que diz respeito à organização sem fins lucrativos Altares Unidos e La
Congregación del Sur, ambos os grupos são produto de tensões geradas pela competição
entre diferentes líderes que procuram se definir como os legítimos donos dos bens de
salvação desse culto. Além disso, podem ser vistos como parte dos novos movimentos
religiosos que, parafraseando Gilles Kepel, censuram a sociedade por seu
desmembramento, sua anomia, na ausência de um projeto comum ao qual possam
aderir (Kepel, 1995:12), em Nesse sentido, considero que Santa Muerte é também uma
resposta à dita anomia e à construção de um espaço comunitário onde os fiéis possam
resolver suas diferentes necessidades materiais e/ou religiosas.
Por outro lado, o apartamento-altar-santuário de Nieves, como diria Mircea
Eliade, é a fronteira entre dois mundos, o sagrado e o profano, e onde, paradoxalmente,
Referências
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Ajusco”, México, unam-Programa de Pós-Graduação em Ciências Políticas e
Sociais.
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ces chamou de “cultura da pobreza”. A Casa Branca foi reconstruída após o terremoto
de 1985, convertida em um condomínio de bairro que abrigava as mesmas famílias,
empresas e oficinas.
No canto do altar de Santa Muerte, há uma imagem da Virgem de Guadalupe,
protegida por uma estrutura de metal e cimento, que lembra a basílica. A menos de
300 metros fica o famoso "mural dos ausentes" com um estilo de pintura da época
Cristero. A peça é um memorial a todos aqueles que caíram devido à crescente
violência nas ruas e ao tráfico de drogas no bairro; uma grande cruz de madeira, um
Cristo negro, a Virgem de Guadalupe, o Santo Niño de Atocha, o Papa João Paulo II, o
santuário de Chalma e o Cristo del Cubilete, emolduram o mural.
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livrarias começaram a desfocar a capa do livro. Para completar essa crítica avançada
ao culto, Eva Aridjis fez um documentário de pouco impacto e pouco conteúdo
cinematográfico, que não teve outra menção senão a de estar no programa impresso
de um concurso de cinema em Guadalajara.
Fomentava-se um imaginário para estigmatizar o perfil daqueles que eram
devotos de Santa Muerte, argumentando que eram criminosos, traficantes e
sequestradores como os “orelhas de mocha”, que tinham uma imagem do Papai Noel em sua casa.
Esses eventos, que tendiam a estigmatizar o santo, serviram para dar maior
visibilidade a outras práticas como a dos santeros e a dos jovens seguidores de São
Judas Tadeu.
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Depois de dez anos de ter estabelecido este altar público, sua importância cresceu
como espuma. À medida que novos devotos continuavam a chegar, estudantes,
professores, jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas continuavam presentes. Várias
coisas mudaram, o horário do Santo Rosário foi modificado para fazer mais cedo, pois
de madrugada o clima ficou tenso no meio das quadrilhas e membros da quadrilha que
não faziam distinção entre visitantes e moradores para cometer um assalto.
Além disso, os dançarinos de conchas deixaram de ser visíveis, mas uma alta
porcentagem de pessoas ligadas à Santeria se reuniu, contribuindo com novos rituais,
selos e oferendas. Todas essas práticas espirituais e religiosas são realizadas em
coexistência e sem conflito com as tradições da religiosidade popular católica.
Embora se tenha tentado estabelecer uma aliança de guardiães dos altares e
nichos de Santa Muerte, Dona Enriqueta Romero "Quetita" reiterou sua recusa,
argumentando que cumpre o mandato da Menina Branca, de ser exemplo de fé, por
mais do que querem acusá-la e apontá-la como satânica, "porque quem fala", diz ela,
"o faz com o peso do cu, se preocupa e se assusta com a fé que os devotos de Santa
Muerte transbordam ."
A atitude de Dona Queta, de recusar fazer parte de uma aliança de altares com
seguidores de Santa Muerte, permite aos devotos testemunhar que “Quetita não se
presta a nada além de cuidar e promover a fé nesta devoção que eles confiaram”.
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Morte do bairro
Uma bússola sem direção, um relógio sem ponteiros, uma bíblia sem Jesus
Antes, a Igreja Católica era a única instituição que podia organizar certos ritos
religiosos tradicionais. E hoje, são as ruas do bairro que mostram o novo mosaico
de usos e significados profanos. O que aconteceu no bairro de Tepito, onde a
devoção a Santa Muerte ressurgiu publicamente, tem preocupado católicos e
evangélicos, cujos critérios estreitos condenam e estigmatizam essa imagem que
ficou fora de seu controle religioso.
A morte santificada pelo bairro é uma resposta popular à morte domesticada
na tradicional "oferta dos mortos" que até o governo exibe no Zócalo. Açúcar, barro,
barro, vidro, pano, papel, resina, ou apenas um humilde grão de bico, não há
material que não seja bom para fazer uma imagem da morte sempre gentil e
tolerante.
As antigas procissões populares de mortos-mortos, tinham caveiras de
garbanzo, que vistas de perfil, dão à morte uma aparência atroz com uma ganância
macabra.
Ainda são poucos os que percebem e ousam calibrar o avanço evangélico
pentecostal, que já superou as históricas igrejas protestantes em todo o país.
Portanto, ainda está pendente escrutinar publicamente como Kabbalah, Santeria e
Tarot interpretam a Morte e recriam essa devoção a partir de seu imaginário.
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nós, em nossa cama tão perto da Mãe Terra. É por isso que no México, onde tudo o
que somos é uma pergunta à espera de respostas, a morte constitui um núcleo cultural
que liga o tradicional popular ao imaginário histórico, cujo sincretismo foi domesticando
o culto da morte, até que sua representação oficial foi significativa na família oferenda
aos falecidos e na divulgação dos crânios de José Guadalupe Posada.
Antes de tudo o que foi mencionado, a visão e a iconografia da morte eram um ritual
festivo, cuja teatralidade vive na consciência individual e no inconsciente coletivo. A
morte nutre essa grande festa igualitária, dadas as diferenças marcantes de
nascimento, riqueza e poder. Os avós costumavam dizer que a vida e a morte são
boas, muito boas comadres.
Sendo este culto uma concepção aberta e colectiva, a tradicional festa aos mortos
foi convertida numa oferenda oficial com espectáculos no Zócalo onde se expõem
caveiras, zompantlis e se distribuem pedaços de pão morto.
É notável que os devotos de Santa Muerte margeiam seu imaginário com base na
realidade, sem aceitar uma tese teológica relacionada às igrejas que pregam que a
passagem para a eternidade corresponde às alças existenciais da religião.
A sociabilidade dos devotos de Santa Muerte baseia-se no sentimento ancestral
de uma festa primitiva que nunca foi transgressora, pois a morte se mostra como a
face do espelho. E com ela, esta devoção é um rito de infinita troca de dons dentro da
ordem cíclica que lembra o encontro da vida com a morte. Como recurso de sublimação
que irriga a cultura popular com espontaneidade e autonomia ilimitada.
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Nós planejamos conscientemente. Embora também sintamos falta dos maus hábitos e
daqueles velhos hábitos que fizemos parte de nós.
Mesmo à beira da morte, não queremos perder nada que sentimos que nos
pertence, especialmente tudo o que é instintivo em nossos corpos naturais. As partes
desgastadas de nossa psique também doem ao abandoná-las. Os alquimistas já
sabiam disso, pois para eles o esqueleto também simbolizava a necessidade de perder
a identificação de si mesmo com seu corpo.
A letra em é a décima terceira do alfabeto, pois 13 se intromete nas doze horas do
nosso dia e nos doze meses do nosso ano, quebrando o ritmo tedioso de nosso giro
diário. Em nosso calendário solar, o número 13 não ocorre, pois as doze horas
(masculinas) do relógio devem ser expandidas para incluir novas dimensões de tempo
em um calendário lunar (feminino). Para os gregos, 13 era sinônimo de força e
vitalidade.
Até que possamos nos comprometer totalmente com a morte, nunca nos sentiremos
verdadeiramente comprometidos com nossas vidas. Continuaremos escravos ligados
ao corpo, presos a um cotidiano egocêntrico, porque não querer morrer é não querer
viver. Pois nosso medo da morte muitas vezes nos preserva, impedindo-nos de
contemplá-la.
A melhor maneira de se preparar para uma longa jornada de duração infinita e
rumo ao desconhecido provavelmente seria se livrar de toda bagagem desnecessária.
A vida tem um limite e a morte é para sempre. O esquecimento, o sono e a morte são
três manifestações da mesma coisa, daquilo que faz desaparecer.
Costuma-se dizer que o sono é o irmão mais novo da morte e que o esquecimento
está associado ao sono. E que dormir todas as noites é o ensaio de um sonho maior.
Esquecer é dormir o que dormir é morrer. Da mesma forma, o esquecimento é para a
memória o que o sono é para a consciência, e o sono é para a consciência o que a
morte é para a vida. Ele esquece, adormece e morre. Você se lembra, você acorda e
nasce.
A memória ancestral é o vínculo que nos torna autenticamente religiosos,
simplesmente devotos, sábios ou resistentes aos ataques do ceticismo, do materialismo
ou do determinismo.
Dona Enriqueta Romero, "Quetita", é a guardiã mais entrevistada a informar sobre
a devoção a Santa Muerte, recomendando que peçam aos que praticam e mantêm
essa fé com que rezam e oferecem o que vem do coração, não o que os outros dizem
e recomendo. Quetita faz prevalecer sua autoridade devocional sobre aqueles que já a
perderam por causa das “transas”.
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Neste ano de 2015, estão expostas num museu de Copenhaga obras artísticas que
dão conta de uma viagem à megalópole mexicana, entre as quais se encontra também a
imagem de Santa Muerte de Tepito, pelo que não é duvidoso esperar que cheguem a o
bairro em breve. Estudantes e visitantes dinamarqueses, procurando conhecer a “Garota”.
Quanto a mim, continuarei narrando minhas descobertas sobre a fé dos devotos e a
polêmica com alguns acadêmicos incrédulos ou de mente quadrada, que nem vão à
missa por não dar esmolas.
Para concluir
Surgida do sigilo, a devoção a Santa Muerte se expande como uma onda sísmica do
centro para a periferia, multiplicando-se em altares de rua, pingentes, carimbos e
tatuagens.
Associado à ilegalidade e à violência, há quem defenda que se trata de uma herança
ancestral e outros o relacionam com a Santeria afro-caribenha ou feitiçaria. No entanto,
suas orações refletem um mal-estar social que vai além da criminalidade. Há quem afirme
que representa a morte do Estado, pois está associada às funções que o Estado deixou
de assumir, de conferir justiça e segurança social. É uma devoção oposta à resignação
que o catolicismo promove, continua a ser assumida como parte da oração católica,
apesar do escândalo de alguns dos seus ministros.
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Bibliografia
LLANES, Juan Bautista, 2016, O dia dos mortos, raiz de nossa nação,
Edición de autor.
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Apropriações simbólicas
e transnacionalização do culto
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Introdução
1 Umberto Eco define a obra de arte como uma “obra aberta”; isto é, “uma mensagem
fundamentalmente ambígua, uma pluralidade de significados que coexistem em um único significante”
(1962). A imagem de Santa Muerte é definida como uma imagem aberta porque
contém uma pluralidade de significados e sua iconografia é fruto de uma interpretação
pessoal do crente, que é ator na criação de suas manifestações visuais.
[209]
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Como Destruidor, o Tempo, tendo se apropriado dos atributos de Saturno fúnebre, canibal
e portador de foice, tornou-se cada vez mais intimamente relacionado à Morte; e é
tomando emprestado as representações do Tempo que nos últimos anos do século XV
as da Morte começaram a conter a mesma ampulheta característica, às vezes as asas,
como é o caso do túmulo de Alexandre VII, de Bernini.
Em vez disso, o Tempo poderia aparecer como um provedor da Morte, encarregado de
prover suas vítimas, ou como um demônio com dentes de ferro, de pé no meio das ruínas.
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Essa capacidade de absorver vários elementos externos integrados em uma única imagem
é surpreendente no México, pois a Conquista deu origem a um
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dos cemitérios, deusa das tempestades que reina sobre os mortos (Thompson,
1998:427). Percebida em um sistema dual, ela pode ser apresentada como “'a
Jovem Morte Encarnada' de Yemajá”, assim como uma médium de Veracruz que
erigiu um templo para ela (Argyriadis, 2014:201). Alguns a veem como a mãe do
Niño de las Suertes (Perdigón, 2008b), segundo um processo de personificação
recorrente no culto que lhe é consagrado. A integração de divindades externas em
sistemas religiosos já estabelecidos não é surpreendente no México por razões
históricas e pragmáticas. A chegada dos conquistadores espanhóis no século XVI
favoreceu um fenômeno de assimilação dos deuses de outras religiões, processo
que sem dúvida já existia, pois os grupos pré-hispânicos costumavam recuperar as
imagens dos povos derrotados (Gruzinski, 1990:265 ). O fato de acumular crenças
religiosas para serem favorecidas é amplamente difundido no México; Por exemplo,
não é raro ver uma figura de São Martinho Cavaleiro ao lado de uma Estrela de Davi
na entrada de uma empresa, para proteção. Esta estética derivada de uma mistura
faz parte de um contexto mais amplo, que existe desde a Conquista, uma vez que a
imagem e/ou o objeto são alimentados por contribuições externas que fundem
indistintamente o antigo e o contemporâneo, o culto e o popular, , geram uma
dinâmica de absorção que cria uma fonte de imagens inéditas e perpetuamente
renovadas (Gruzinski, 1999:265 passim).
A lista dessas fusões de Santa Muerte seria muito longa para enumerar e é
interminável devido aos múltiplos nomes dados a ela. A Santa declina as identidades
visuais de sua imagem, pois elas variam de acordo com as adaptações retiradas do
contexto religioso local. Assim, muitas vezes ela aparece com feições da Virgem de
Guadalupe, também coroada pelo halo que a caracteriza. Polimorfa e adaptável, ela
tem qualquer aparência que se atribua a ela, inscrita em um fenômeno de
personificação e humanização que lhe permite ser vestida de noiva ou representada
como grávida [Imagem 2]. Lembremos que no México a personalização dos santos
não é surpreendente, pois as efígies do Menino Jesus também são vestidas de
acordo com sua “especialidade” e seu nome (Perrée, 2014:34). Mas este vestido faz
parte de um código católico, enquanto no caso da Santa Muerte a customização
varia de acordo com cada proprietário. Assim, como um camaleão, Santa Muerte
toma a forma de seu entorno. É nesse sentido que Michalik fala de uma “voracidade
semiótica” e sublinha o caráter excepcional dessa voracidade (Michalik, 2011:165).
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A razão pela qual se evitou neste artigo evocar os rituais da morte nos rituais astecas
deve-se à disfunção das origens pré-colombianas de Santa Muerte, ao aludir ao seu
culto; pois enquanto sua iconografia vem da Idade Média, as fontes do culto emanam
do catolicismo. Portanto, a presença pré-colombiana da morte foi perpetuada pela
cultura ocidental dos conquistadores no século XVI. Na época da Conquista foram
encontradas representações comuns, mas com significados diferentes; porém, por
falta de uma linguagem comum, a imagem prevaleceu. Assim, no México, as
representações da morte se multiplicaram ao longo de sua história: no século XVI, o
carrinho de mão Triunfo da Morte, usado nas procissões da Páscoa, sucedeu ao
tzompantli asteca em um contexto de pandemias , enquanto a Igreja recomenda a
Boa Morte ( Malvido, 2006:20) e, por sua vez, a época barroca semeia as suas
representações da alegoria da Morte e das suas Vaidades ao longo da época colonial
e até ao século XIX. Este imaginário de morte estava muito presente, razão pela
qual os artistas revolucionários do século XX (em busca da definição de uma
identidade) o integram como um exemplo perfeito da mistura cultural que funda a
nacionalidade mexicana (Lomnitz, 2006:44) . Devido a essa construção do
nacionalismo mestiço mexicano, a obra de Posada tornou-se muito valiosa (Lomnitz,
2006:47). É a mesma patrimonialização que preside o sucesso do Dia dos Mortos,
que foi muito promovido na década de 1980 para contrabalançar o sucesso da festa
de Halloween, multiplicando caveiras de açúcar e manifestações culturais (Lomnitz,
2006 :429). A atitude em relação à morte no México, segundo Lomnitz, gera
"exemplos prodigiosos de hibridização e miscigenação cultural" (Lomnitz, 2006:39).
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Essa fusão também pode ser perpetuada pelos crentes. Em Tepito, o aniversário
de Santa Muerte é comemorado no Dia dos Mortos (1º de novembro), enquanto em
Tepatepec, no estado de Hidalgo, é comemorado em 15 de agosto; ou seja, no dia
da Virgem Maria (Perdigón, 2008 a:126). Santa Muerte funde e renova
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sua iconografia com o contato de outras representações da morte, até criar formas
cada vez mais híbridas. Essa fusão também é influenciada pelo fato de o culto ser
proibido pela Igreja e muitas vezes concebido como satânico pela população. Desde
então, buscar a semelhança com os festivais aceitos e cultos reconhecidos faz parte
de uma estratégia de integração para estimular sua aceitação e até mesmo divulgá-
la para conquistar novos adeptos. É por isso que Santa Muerte também aparece
com certos traços da Virgem de Guadalupe, como o halo reconhecível da dita
virgem; a figura esquelética de Santa Muerte rezando em um véu azul, imagem
captada em escapulários e tatuagens que simultaneamente criam uma imagem
sincrética [Imagem 4].
Santa Muerte também está representada em La Piedad recebendo o Cristo
morto. Esta figuração cria assim uma lógica entre a Virgem que dá a vida e a Santa
Muerte, integrando a Santa na iconografia católica tradicional [Imagem 5]. Deste
modo, a imagem continua a ser o meio privilegiado desde a Conquista para assegurar
a difusão de um culto que procura estabelecer-se (Gruzinski, 1990:265 passim).
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A pin-up é uma representação visual de uma garota sensual e sexy.
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“Estava na moda há dez anos entre os motociclistas, mas é cada vez menos
requisitado nas lojas deste bairro jovem e badalado ” (Rollin Sébastien, tatuador
da loja American Body Art, entrevista, 2015). Por outro lado, este design ainda é
popular entre os tatuadores com uma população mais seleta, como a loja Mystery
Tattoo Club na rua La Granges-aux-Belles no bairro 10. Este bairro também está
na moda, mas a população é mais velha. (de 30 a 40 anos) e diversificada. Dois
tatuadores entrevistados nesta loja declaram que também solicitam uma
representação da morte com traços da Virgem de Guadalupe, fato que coincide
com o que se encontra no México no culto de Santa Muerte.
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Assim, a Santa Muerte que está na moda em Paris não é a Santa Muerte
mexicana. Há mais uma vez uma confusão semiótica, que dá origem a outra
iconografia que mistura outras referências mexicanas derivadas de figuras populares
como La Llorona ou La Catrina. A passagem da cultura mexicana para os Estados
Unidos e a forma como ela é interpretada pelos chicanos enriquecem a imagem de
contribuições fantasiosas à cultura de "origem" de referências ao grafite urbano e/ou
a uma iconografia muitas vezes retirada do universo das prisões. A mulher tatuada
em Paris leva o nome que caracteriza o Reaper no México, mas não se parece com
ela. Assim, em seus deslocamentos, a imagem se transforma com o contato de
outras imagens “irmãs”. Particularmente interessante é o status atribuído à imagem
do Cortador na França: é posta de lado e levada a sério como uma representação
da morte. O tom não é solene, mas difere consideravelmente do tom claro adotado
para evocar a última moda parisiense. Se em Paris a morte não é santificada ou
objeto de culto, evocar a alegoria da Morte obviamente provoca uma mudança de
registro e inspira a ideia de uma imagem séria que não é usada levianamente.
conclusão
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representação da morte. Esta imagem aberta, desde a sua criação por um sistema
de hibridização, desloca-se no tempo e no espaço tomando elementos do contexto
local onde está instalada, para dar origem a uma formidável série de criações visuais
ao mesmo tempo antigas e inéditas, identificáveis e inovadoras.
Fora do estudo de seu culto, Santa Muerte deve ser considerada como um
exemplo iconográfico dos fenômenos de hibridização, através dos quais se constrói
uma cultura, neste caso a mexicana. Mas também se refere à cultura europeia,
embora muitas vezes seja percebida como a matriz das imagens difundidas na
América Latina, enquanto a análise da tatuagem parisiense realizada neste trabalho
destaca os jogos de vai e vem que são tecidos entre continentes e culturas. graças
a imagens itinerantes que absorvem o contexto em que estão instaladas. Assim, a
imagem camaleônica da morte seduz a Europa sob um novo nome e outro aspecto,
e quando encontra sua imagem “original” (a do Ceifador) não é óbvio que as
diferenças sejam vastas, pois também mostra sua metamorfose .
É necessário sublinhar a riqueza deste tecido histórico e geográfico, que para
além das diferenças de cada cultura permite a construção de um imaginário comum
em constante expansão e renovação. A iconografia da alegoria da Morte na Idade
Média deu origem a criações de imagens ao longo do tempo e do espaço, que hoje
perpetuam o culto de Santa Muerte, porque a sua imagem lábil se funde por razões
estratégicas, mas também estéticas, com referências visuais próximas. Não há
dúvida de que esse fenômeno não deixará de se intensificar à medida que o culto se
expande, nem será revelado, razão pela qual é necessário que o pesquisador
construa bancos de dados de imagens como arquivos visuais para acompanhar e
compreender as transformações de um antigo iconografia, que desde a sua criação
se desenvolveu sob o signo do múltiplo e do plural.
Bibliografia
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Caroline Perree
DIMIER, Louis, 1908, Danses macabres e a ideia de morte na arte cristã, 3a. ed.,
Paris, Bloud & Cie.
ECO, Umberto, 1962, L'Oeuvre ouverte, Paris, Seuil
GARCÍA CANCLINI, Néstor, 2009, Culturas híbridas, estratégias para entrar e
saia da modernidade, México, rhm.
GRUZINSKI, Serge, 1990, The War of Images from Christopher Columbus to Blade
Runner (1492-2019), Paris , Fayard.
GRUZINSKi, Serge, 1999, Métis Thought, Paris, Fayard.
LOMNITZ, Claudio, 2006, Idea of death in Mexico, Mexico, Economic Culture Fund.
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Entrevistas
ROLLIN, Sebastien [entrevista], 2015, por Caroline Perrée [trabalho de
campo], “A iconografia de Santa Muerte: antropologia de uma imagem
aberta”, Paris, cemca.
ZLOBODAN [entrevista], 2015, por Caroline Perrée [trabalho de campo], “A
iconografia de Santa Muerte: antropologia de uma imagem aberta”, Paris,
cemca.
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A RELIGIÃO TRANSTERRATADA.
O CULTO DE SANTA MUERTE EM NOVA YORK
Introdução
Este trabalho apresenta uma primeira abordagem ao culto de Santa Muerte em Nova
York. É produto da relação dialógica com diversos atores sociais, onde o líder do
altar doméstico estudado ocupa um papel de protagonismo. Por se tratar de um
texto inicial, as seções que o compõem possuem traços característicos de diversos
temas inter-relacionados, cuja conjunção proporciona uma visão panorâmica que
deve ser aprofundada por meio de pesquisas etnográficas de longo prazo.
Embora não haja apenas um centro de culto à Santa Muerte naquela cidade
americana, a investigação concentrou sua atenção em um altar doméstico localizado
no Queens, área de Nova York onde predomina a presença de migrantes mexicanos.
Outros elementos para selecionar este cenário foram a disposição pessoal de seu
líder e a idade de funcionamento de seu altar doméstico.
A pesquisa está interessada no estudo da identidade desses migrantes, mas
não no processo migratório. Há um grande número de estudos sobre o êxodo de
mexicanos para os Estados Unidos, suas causas e perfis, seus componentes e
efeitos; a literatura especializada oferece cada vez mais elementos para compreender
as consequências da migração, além de fornecer explicações mais profundas sobre
a vida de quem muda de residência por motivos de trabalho e o meio em que está
inserido. Para os propósitos deste trabalho, são essenciais estudos que relacionem
migração e práticas religiosas, área em que a literatura é extensa (ver, entre outros,
Odgers, 2003 e 2006; Rivera, 2004 e 2007; Smith, 2006; Ramírez, 2015 ). ;) e onde
os textos de Rivera e Smith são indispensáveis para o caso de Nova York.
[231]
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oleodutos mexicanos, entre os quais os religiosos. Também mostra que a decisão de ir para o
norte é tomada pela falta de emprego no México e pela possibilidade de construir um patrimônio
se se trabalha consistentemente, mas também produz importantes transformações socioculturais
(2004: 70-73).
Por outro lado, Smith (2006) atenta para a participação política e as práticas religiosas
dos migrantes, considerando tanto o cenário de origem quanto o de destino. Senso de lugar e
formas concretas de pertencimento estão no centro de seu interesse.
Neste trabalho, por outro lado, explora-se a forma como a religiosidade pode ser uma
peça de preservação de elementos culturais típicos do local de origem dos migrantes e que os
remete para uma filiação cultural específica.
Analise como essa identidade tem um papel específico em um cenário diferente, em um país
diferente. Busca compreender os traços e práticas socioculturais do indivíduo como membro
de várias comunidades: trabalhador migrante, latino-americano, indocumentado, católico,
monolíngue ou bilíngue. A obra oferece uma caracterização etnográfica de uma cena de
veneração de Santa Muerte em Nova York; assume que é um dos locais de culto local e
procura estabelecer as bases sobre as quais o conhecimento desta religiosidade pode continuar
a ser construído.
A principal hipótese desta pesquisa é que a devoção à Santa Muerte entre os migrantes
mexicanos em Nova York é um elemento que contribui para reforçar a identidade daqueles que
se encontram em um ambiente sociocultural diferente de sua origem, o que lhes permite
fortalecer os laços comunitários e que não entre em conflito com a filiação religiosa tradicional
de alguém que viajou para o norte.
Em sua obra Morte. Uma reflexão filosófica, e (2009) aborda com singular acuidade a maneira
como o ser humano costuma conceber sua finitude biológica. A partir da disciplina que analisa
cuidadosamente a condição humana, a natureza da vida e suas implicações, o autor desvenda
como a morte não é apenas a contrapartida da vida, mas uma de suas mais importantes
certezas. Defende que, como espécie única, a humanidade está ciente de que a vida cessará
e isso a distingue de outros animais, que costumam responder instintivamente a ameaças que
ameaçam
sua existência.
Mas que o ser humano, com sua capacidade superior de memória e reflexão, e de
se projetar no futuro, está sempre ligado ao fato de que
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nossa morte, é algo que não pode ser negado. Podemos tentar evitá-la, mas ela ainda
está conosco. Como animais conscientes de onde nossas vidas estão indo e que
podemos não chegar lá, nossa morte está sempre conosco.
Nós humanos, [...] somos criaturas que nos caracterizam, antes de tudo, pelo fato
de termos que morrer. Já foi dito que este é o fato mais importante de nossas vidas.
Mas haverá quem queira negar e dizer que estamos falando em um nível
excessivamente abstrato. Com a palavra abstrato não quero dizer aqui algo difícil ou
complicado, mas longe dos detalhes concretos da vida das pessoas. No nível de
generalidade em que estamos aqui, pode-se facilmente argumentar que a morte é o
evento mais importante em nossas vidas (maio, 2009:20).
Essa condição mortal foi abordada a partir de uma das melhores bordas da
criatividade humana, que coloca essa sorte em uma esfera mais elevada. Por isso,
ao longo da história, foram criadas expressões díspares em torno da morte. Estes
não apenas se materializam em atos funerários específicos e lendas sobre o destino
do falecido; liturgias religiosas e imposição de obrigações; ou padrões de
comportamento específicos, para citar alguns. Muitas mitologias evidenciam o peso
que o fim da vida teve em diferentes momentos.
Se forem analisadas várias mitologias, fica evidente o papel que a morte
desempenhou em diferentes épocas e latitudes. A memória traz nomes que são de
conhecimento comum, mas raramente significam mais do que uma referência
cultural de outros tempos. O tratamento dado a essas figuras por diferentes
disciplinas acadêmicas na educação escolar contemporânea leva o indivíduo a
pensar que são crenças dos ancestrais, e isso as coloca em um patamar quase
atemporal e sem significado específico no tempo e no cotidiano.
Se nos lembrarmos de algumas figuras divinas relacionadas à morte, algumas
vêm rapidamente à mente: Anúbis e Osíris (Egito), Hades, Perséfone e Tânatos
(Grécia), Hela (nórdica), Morrighan e Epona (celtas), Kali (Índia); outras podem ser
novas: Hécate (deusa helênica), Ereskhigal (Babilônia), Janas (Fenícia), Februus
(etrusca), Dama Branca de Brigid (Bulgária), Tuoni (Finlândia) e Izanami (Japão).
No contexto americano há figuras conhecidas como Ah Puch (na cultura maia),
Coatlicue, Mictlantecuhtli e Mictecacihuatl (no asteca), Luisón (no guarani),
Nun'Yunu'Wi e Kalona Ayeliski (no Cherokee) . , San Pascualito Rey (para o culto
cristão), San La Muerte (na Argentina) e Santa Muerte (no México).
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Felipe Vázquez (2012a e 2012b) argumenta que a visão do ser humano sobre a
eternidade, a vida após a morte, é moldada pelo seu estilo de vida.
Ele estuda a construção da eternidade porque considera que:
é uma das principais fontes, por meio das quais os seres humanos orientam seu
comportamento, legitimam ou censuram suas ações, valorizam e qualificam os
acontecimentos, integrando-os de forma que gerem explicações não apenas para o
seu aqui e agora, mas também para seu passado e seu futuro. Em suma, dão sentido
à vida interpretando a própria realidade de tal forma que encontram consistências que
podem durar (Vázquez, 2012b:25).
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sua obra questionando se a humanidade poderia viver sem a eternidade e quão vital é o
anseio pela eternidade como sociedade e como indivíduos, o que o conecta ao centro da
argumentação de May (2012), referida no início deste texto.
Por outro lado, Edgar Morin concorda essencialmente com os autores citados acima,
quando afirma que os primeiros humanos expressavam essa condição, entre outras práticas
importantes, por meio de práticas mortuárias:
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O autor mostra não apenas que alguns migrantes tinham imagens de Santa
Muerte em seu ambiente doméstico, mas também que vários elementos dessa
devoção podiam ser obtidos em lojas locais em Tucson, Arizona. Sua obra
segue vários eixos temáticos: Santa Muerte no México e nos Estados Unidos;
origens de Santa Muerte; orações a Santa Muerte; mudanças recentes nas
funções da Santa Muerte; e vínculos com a Santeria e a Igreja Católica, entre outros.
Ele também afirma que há duas décadas o sistema de cores foi introduzido
nas figuras de Santa Muerte; Como se sabe, a cor está relacionada com os
pedidos feitos a esta imagem. A existência de sete cores, as sete potências da
santeria caribenha, ainda é significativa:
Em 1995, quando fui pela primeira vez ao Mercado Sonora na Cidade do México, Santisima Muerte
estava por toda parte. Fileiras de plástico moldado com status de sua imagem, de duas a dezesseis
polegadas de altura, forravam as mesas dos mercadores. Pôsteres e pingentes dela estavam
pendurados em exposição. Eu facilmente comprei várias versões diferentes de sua Oración impressa.
Também encontrei sua imagem à venda na Basílica de la Virgen de Guadalupe, o principal centro
de peregrinação do México e um dos maiores do mundo. Todos os vendedores ilegais que lotavam
a praça tinham poucos pingentes e medalhas de Santísima Muerte penduradas entre os Guadalupes.
Agora, a cada visita sucessiva ao México, observei Santisima Muerte tornar-se mais visível, mais
proeminente, evoluindo de uma promotora da magia do amor para uma figura universal de proteção e poder.
Então ela é boa ou má? Depende de com quem você fala. Em 1997, os vendedores do
Mercado Sonora estavam me aconselhando que se Muerte é boa ou má depende da cor do manto
que ela usa, novas linhas de produtos de Muertes vestidas com mantos de várias cores.
Santiago Bastida, vendedor e impressor de oraciones, explicou que no novo sistema de cores cada
cor de Santisima Muerte tem uma finalidade diferente. Uma Muerte negra continua sendo uma
imagem assustadora, usada para obras malignas, como matar os inimigos. Uma Muerte vermelha
cumpre o antigo papel de atrair um amante. As Muertes verdes e douradas trazem dinheiro, e uma
Muerte azul, explicou, é para “tranquilizar as pessoas”. “Como quem”, perguntei, perplexo.
Mas é a Muerte branca cuja influência mais cresceu. Longe de ser uma figura do mal, a
Hermana Blanca ou Niña Blanca, ou simplesmente La Blanca, é um espírito benevolente que oferece
proteção aos seus devotos (Thompson, 1998:423-424).
Santa Muerte, uma vez praticada por uma pequena minoria de mesoamericanos, agora ganhou
popularidade significativa entre os despossuídos e narcoculturas do México. Os criminosos ad
herentes essencialmente tomaram as práticas não ortodoxas da religião e as distorceram ainda mais
para obter instabilidade e ganho pessoal. Antropólogos afirmam que o que as pessoas são
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testemunhar é uma transformação de uma religião antiga que se ramifica em uma sociedade
secular de desajustados malévolos enquanto profana o sistema de crenças no processo. No
entanto, a violência que Santa Muerte promove tornou-se tão desenfreada que ameaçou a
segurança nacional do México e representa uma ameaça também para os EUA. As práticas
esotéricas que esses adeptos criminosos de Santa Muerte seguem são destrutivas e
desumanizadoras. Depois, os devotos buscam redenção por seus atos de derramamento de
sangue rezando para Santa Muerte por exoneração. Cidadãos dos EUA ao longo da fronteira
mexicana estão se recusando a ignorar o problema e estão tomando medidas corretivas para
frustrar quaisquer indícios de atividade criminosa. O “culto da morte dos traficantes” preocupa as
autoridades dos EUA em nível local; entretanto, os servidores públicos estaduais e federais têm
demonstrado pouco interesse em prender esses criminosos aderentes (Cervantes, 2011:iii).
Num outro teor, que se destaca pelo contraste com a obra anterior, pela sua
natureza e significado social, foi a celebração de um festival musical e artístico cuja
apresentação icónica é a imagem que nos preocupa. Em Tucson, Arizona, foi
realizado o evento cultural Santa Muerte Music & Arts Festival, que aconteceu em
2010, nos dias 10 e 11 de setembro. As atividades decorreram em espaços formais,
como o Teatro Histórico de Rialito e o Museu da Máquina Sagrada, onde se assistiram
a concertos musicais e exposições artísticas, respetivamente.
Uma pesquisa detalhada na internet confirmou que não há notícias pós-2010
sobre este festival, mas seu caráter parece único (na rede há notícias sobre o
próximo evento e ainda há um negócio dedicado à venda de ingressos que incluía a
opção para comprar ingressos com antecedência para o festival). Embora o programa
do evento não faça referência direta a rituais ou liturgias ligadas à Santa Muerte, o
espírito expresso no convite para a festa mostra uma abertura para as questões
espirituais. É interessante, devido ao escopo migratório que caracteriza o Arizona e
a forte presença mexicana, o fato de estar vinculado, é mesmo, talvez? à Virgem de
Guadalupe com a Santa Morte, como mostra a imagem 1 (ver página 240).
É nesse contexto que este trabalho aborda o caso de uma mulher de origem
mexicana cujo altar à Santa Muerte está localizado em Queens, Nova York. Are ly
Vázquez nasceu em Tlapa, Guerrero, há apenas 36 anos. Ele mora naquela cidade
há duas décadas e nos últimos dez anos tem uma imagem de Santa Muerte em sua
casa. Ao longo da última década organizou celebrações anuais para celebrar o seu
Santo, atualmente é um evento que reúne mais de trezentos migrantes mexicanos
que vivem em vários estados daquele país.
O desenho que norteia a pesquisa tem caráter narrativo, o trabalho de campo
incluiu a possibilidade de duas interações com os devotos em Nova York (junho e
agosto de 2015), foram gravados áudio e vídeo, o que permite ter uma das possibilidades
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belas visões desta celebração. Também foi utilizada a tecnologia disponível para comunicação,
o que permitiu a continuação de entrevistas presenciais com o líder deste altar. O diálogo
continua e essa primeira abordagem busca mostrar as principais características do culto à
Santa Muerte em Nova York.
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Outro espaço que mostra a expansão dessa prática religiosa nos Estados
Unidos é a Internet. Qualquer consulta com um motor de busca deixa clara a sua
importância, abrangência geográfica e temática, não só se encontram documentos,
mas também meios audiovisuais e interativos estão à disposição de quem se
interessar por esta veneração. Um exemplo é expresso na seguinte nota
jornalística, publicada em março de 2013:
Com sua batina preta e uma foice na mão, Santa Muerte atrai pessoas que buscam
ajuda na vida após a morte: de pessoas que querem não ser vítimas de crimes ou buscar
vingança a pessoas que tentam impedir que seus amantes sejam infiéis ou que anseiam por
conseguir melhores empregos [...].
A santa é particularmente popular entre os católicos mexicanos, que lhe pedem milagres
quase tanto quanto São Judas e a Virgem de Guadalupe, apesar de a Igreja Católica do
México dizer que Santa Muerte é um culto satânico, segundo especialistas […] .
Há pequenas estátuas de Santa Muerte em negócios religiosos tão distantes quanto
Minneapolis. Uma feira de arte em Tucson, Arizona, tem imagens de Santa Muerte […].
Gregory Beasley Jr., 35, acredita que conseguiu papéis em "Breaking Bad" e no filme
"Linewatch", de 2008, graças a Santa Muerte, a quem ele se aproximou por meio de um
curandeiro. "Devo todo o meu sucesso a ele", disse. “Ele me limpou e me mostrou o
caminho” […].
“Ela é minha rainha”, disse Arely Vázquez González, uma imigrante mexicana transgênero
que tem um grande altar de Santa Muerte em seu apartamento no Queens, em Nova York.
Contra a parede da sala onde está o altar está uma estátua de Santa Muerte em um vestido
preto, cercada por copos de tequila que foram oferecidos a ela.
Vázquez González, que tem uma tatuagem preta de Santa Muerte nas costas, organiza
uma festa anual em agosto em homenagem à santa, completa com mariachis e comida.
"A única coisa que tenho que fazer é pedir a ela que me guie e ela me dá o que preciso",
disse o ex-prisioneiro. A origem de Santa Muerte não é clara. Alguns crentes dizem que ela
é a encarnação de uma deusa asteca da morte […].
Kiko Torres, proprietário do negócio Masks y Más de Albuquerque, disse que as vendas
de estátuas, incensos e óleos de Santa Muerte aumentaram tremendamente nos últimos
meses. "A maioria das pessoas que compram essas coisas são pessoas normais que
acabaram de descobrir", disse ele.
Recentemente, um homem de Nova Orleans construiu uma capela pública em sua
homenagem e realiza cerimônias de rosário que atraem dezenas de pessoas.
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Ele também formou uma organização sem fins lucrativos para apoiar o que ele chama
de Capela da Santa Morte de Nova Orleans. "Decidi fazer isso por causa de tudo que
Santa Muerte me deu", explicou Bragg. “Nunca me falhou” (El Universal, 2013).
Arely Vázquez teve uma vida de luta. Caracteriza-se por seguir seus ideais e, se necessário, ir
contra a corrente para atingir seus objetivos; ela é uma mulher determinada que não poupa
esforços e geralmente atinge seus objetivos. Hoje ela trabalha como voluntária na Makethe
Road, NY, organização civil que defende os direitos humanos dos transexuais; atua como líder
do comitê pryde; Ele passa uma parte significativa de seu tempo estudando cosmetologia.
Escusado será dizer que este perfil de atividade está diretamente ligado à sua experiência
pessoal, que tem vindo a definir na sua vida privada.
Com um relacionamento que já dura 16 anos, o casamento com Jorge foi celebrado em
2013. Ambos têm fé no papel que Santa Muerte tem na vida dos seres humanos, como
intercessora diante de Deus. Por esta razão, o casal organiza há uma década várias celebrações
em homenagem à sua Santa Muerte e ele é o elemento de apoio para que ela dirija as atividades
litúrgicas e rituais.
Hoje, o altar doméstico de Arely Vázquez é um espaço de convergência de devotos no
qual uma série de atividades foram construídas ao longo dos anos. Uma oração-oração é
realizada lá todos os meses e duas celebrações anuais são realizadas para comemorar datas
importantes para o culto. Indivíduos e grupos familiares são bem-vindos a qualquer momento
para fazer solicitações específicas.
Duas características caracterizam a atividade do altar de Arely, uma é a forte presença de
transexuais e homossexuais, que têm uma ligação especial com a Santa Muerte; o outro é o
ambiente mexicano que se respira na convivência entre os crentes: origem, idioma, comida,
cultura regional ou nacional, situação de emprego nos Estados Unidos, entre outros.
Um elemento recente que contribuiu para a consolidação desse altar é o vínculo estabelecido
com Enriqueta Vargas, líder da Santa Muerte Internacional. Participou das comemorações de
Nova York em agosto de 2014 e 2015. É essa personagem que define alguns marcos para a
configuração atual desse altar e para a consolidação de Arely como líder.
Um exemplo dessa contribuição é o texto usado nas orações mensais. Originalmente, por
volta de 1996, Arely encontrou um rosário na internet e o usava regularmente.
Então, conhecendo o papel que o México desempenha neste culto, procurou estabelecer contato
242
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243
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Por outro lado, seu equipamento biológico, sua constituição física, sempre se referia
à figura masculina, mas logo se conscientizaria da incompatibilidade que isso tinha com
sua orientação sexual. Embora não tenha sido um problema agudo, Arely lembra que
teve algumas situações desagradáveis por esse motivo, dado o machismo tradicional
predominante no México. Sua vida de adolescente continuou em Guerrero, mas mudou
de residência para a cidade de Puebla, para continuar seus estudos; este seria o
preâmbulo de uma mudança qualitativa.
Em 1995, enquanto cursava o ensino médio e sem motivo aparente, Arely decidiu
emigrar para os Estados Unidos, optando por ir para Nova York porque tinha parentes
lá. Essa resolução não significava apenas deixar sua educação escolar truncada, mas
desde o primeiro momento ele teve que procurar trabalho para garantir seu sustento. Fez
a viagem sem nenhum conhecido ou parente, chegou na casa de um parente, que lhe
deu hospedagem e o orientou para conseguir um emprego temporário.
Aos poucos, com esforço e trabalho, conseguiu pagar o custo de sua migração e
pensar em se tornar independente. De um emprego a outro no setor de serviços, com
longas jornadas e pouco salário, integrou-se à vida de outro país; De um emprego atrás
de um balcão, passou a dedicar-se a cozinhar em um restaurante, pois foi nesse espaço
que iniciou um intenso processo de construção de sua pessoa de acordo com sua
preferência sexual.
Bom foi, em poucas palavras, quando saí do armário e um dia fui embora [...] era aniversário do
dono do restaurante onde eu trabalhava, conheci algumas pessoas transexuais; depois eles me
convidaram para a discoteca e mais gente veio de lá, e a verdade simples é que você fica
impressionado quando vê os shows que eles fazem […] alguém me disse: “você não gostaria de se vestir?”
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Eu disse a ele “claro!”, e assim o fiz; a partir daquele momento, a resposta foi que calcei os
sapatos e nunca mais os despi.
Acredito que quem quer fazer uma mudança em sua vida, dependendo da situação, mais
dependendo do que você decidir [...] já tinha cinco [...] anos desde que cheguei do México. Bem,
eu estava lá, não tinha saído do armário ainda, então quando saí, bem, comecei a descobrir a
que eu pertencia; algo que por muito tempo para viver a minha vida como deveria ser […] Posso
dizer-vos que quando […] tive a certeza absoluta do que queria, comecei a fazê-lo sem olhar
para trás […] é um processo , nem tudo na correria, é um processo lento, porque tudo também é
muito caro, e a partir desse momento eu nunca mais saí do meu sapato, mas é todo um processo
de mudanças, de linha em linha e bem eu acho que ainda tem um longo caminho a percorrer;
quando uma pessoa se sente realizada, quando tem uma boa economia, acredito que tudo na
vida lhe será dado e você tem que continuar o tempo todo, não treinando com o que já tem (Arely
Vázquez, fundadora do altar, Queens, NY, 2015).
aí veio aquela fase, em que eu estava errado e aí veio essa menina e me deu, e foi aí que tudo
começou. Mais tarde encontrei-me numa situação de saúde muito grave e foi aí que lhe pedi:
"Ajude-me". […]
Sim […] a menina vem e me dá e eu respeitosamente digo a ela: “você sabe que eu te
recebo com todo o meu coração aqui, porque você vai ter uma casa, porque eu estou te dando
isso, é isso Eu posso te dar para fazer um brinde". Peguei e coloquei em cima da geladeira,
coloquei uma toalha de mesa limpa, coloquei ela, [...] um copo d'água e as duas velas que essa
menina me trouxe e eu falei para ela: “bom olha, aqui você vai ser, se você não gosta de ficar
comigo, me avise, só não me assuste, ok? E assim... foram vários testes, porque me assustou,
me assustou muito, talvez muita gente pense: ele está exagerando, é ridículo, está mentindo.
Mas não, na verdade foi assim e muita gente que viveu sabe que é verdade; puxavam meu
cabelo, sopravam nas minhas orelhas ou eu sentia que alguém estava me agarrando, as portas
estavam fechadas, a luz estava apagada e muitas coisas, [...] então teve um dia que eu conversei
com ela e contei ela: "Olha, o que está acontecendo? Eu tenho você aqui em minha casa, eu te
recebi com muito prazer, mas se você não quiser ficar aqui eu te devolvo para a pessoa que te
trouxe, e eu voltarei com prazer você se você não quer estar aqui comigo
E assim foi, eu tive um sonho em que eu vi minha Santa Muerte que estava no meio e os
santos nas laterais, então eu disse: “você quer estar no meio e você quer que os santos estejam
nas laterais , bem que vou fazer com meu marido”; Eu disse a ele: “Olha, vamos fazer um canto
em uma tábua e vamos construir o altar dela em cima, porque foi assim que eu vi e foi assim que ela
245
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quer"; ele diz “e como você sabe que ela quer assim?, “porque ela quer assim e ela quer
que os santos estejam do lado dela”, e desde então ela nunca mais me assustou, e eu acho
que ela era o que Eu queria: ter um altar com os outros santos. […]
Eu pedi para ele me ajudar a sair daquela situação, era uma situação tremendamente
forte, e eu disse a ele: “me ajude a seguir em frente, me tire dessa situação em que me
encontro, eu prometo que vou te dar a conhecer ; Eu vou te dar uma festa. Eu prometo a
você que se você me tirar daqui, eu vou te dar uma festa; Não sei como, mas vou fazer” […]
E foi na minha casa (em 2006), só com amigos próximos, que eu sabia que eles
acreditavam, que respeitavam; As duas primeiras comemorações que fiz para ele foram só
em casa, que foi pelo Dia dos Mortos […]
Em 2008 […] foi realizada a primeira festa (pública) e foi até algo simples, foi em um
local que não tinha paredes, nem piso, mas com a ajuda de algumas pessoas tentamos
decorá-lo lindamente e não foi vi que o lugar estava feio, e quando percebi a reação das
pessoas, pois nunca imaginei que chegaria tanta gente, me pareceu muito bom, fiquei muito
feliz pelo que estava fazendo (Arely Váz quez, fundadora do altar, Queens, ny, 2015a).
Aos poucos, com o passar do tempo e a difusão da atividade do altar, a festa de agosto
começou a crescer. Chegou uma época em que se alugava um lugar em uma área
adjacente ao Queens, chamada Jamaica. Nos últimos anos a comemoração tem se
verificado por lá e a festa está cada vez maior. Em 2015, foram alugadas cadeiras e mesas
para 350 pessoas, comprados dois mil dólares em flores e feitos enfeites florais; as paredes
e janelas do local — cerca de 450 metros quadrados — foram forradas com tecido e foram
pendurados enfeites. Foi construído um palco onde foi colocada a imagem da Santa Muerte
de Arely, foi contratado um som para a dança, foi obtida uma banda de música popular
mexicana e foi contratado o serviço de segurança que a lei estipula nos Estados Unidos
para a realização de eventos desta modelo.
A assistência ultrapassou trezentas pessoas, que receberam jantar gratuito. Os 16
devotos que colaboraram na organização e financiamento desta celebração receberam a
quantidade de cerveja que quiseram durante a festa (Arely Vázquez, fundadora do altar,
Queens, ny, 2015b).
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Santa Muerte, peça de oratório em que esta figura fala aos seus devotos
como mãe. Desde que o altar de Arely foi incorporado à Santa Muerte
International, a organização liderada por Enriqueta, ela rezou como de
costume em seu templo em Tultitlán, Estado do México. Sendo Nova York
um espaço com devotos que não estão acostumados com o serviço
religioso de Vargas, houve certa falta de sincronia entre líder e devotos,
mas no final deu certo. A intervenção de Arely era familiar aos presentes
e não exigia maior participação.
A ligação entre Nova York e Tultitlán é recente e a primeira
peças para maior rapport:
Um evento dessa magnitude não é organizado em pouco tempo, por isso Arely
começa a trabalhar em abril de cada ano, define o tema do palco, faz contato com
colaboradores para saber com quais recursos externos ela poderia contar, adquire
material para prepare as decorações na sala de estar, certifique-se de que seu Papai
Noel terá um vestido novo, pois ele o usará por um ano. Em 2015, a celebração foi
realizada publicamente pelo oitavo ano, os participantes participaram ativamente e Arely
assume que a atividade do altar continuará a aumentar:
a gente vê que foi uma coisa que cresceu demais, que se tornou uma coisa importante
[...] que está tomando forma como uma tradição, já podemos dizer, porque eles sabem
que todo ano no Queens o aniversário de Nossa Santa A morte é comemorada em Nova
York, e muitas pessoas até ligam de outros estados, muitas pessoas vêm de fora. […] E
também a mídia que vai estar lá, vai ter muitos […] e aí a gravação que está sendo feita,
você que está aqui do México, o outro homem que vem da Holanda, esses caras
Brasileiros, […] muita gente que nós vamos ter é de Michigan, Carolina do Norte, Carolina
do Sul, eles vêm da Filadélfia, Chicago, nós vamos ter de muitos lugares que já estão
confirmados, eles vão vir , então é uma emoção, sentimentos encontrados [...]
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[...] eu acho que isso vai crescer muito, se isso já é tremendo, já cresceu muito,
então eu acredito que daqui a um ou dois anos isso vai crescer muito mais, porque vai
ser de grande importância dentro da mídia; talvez em algum momento até tenhamos
alguns artistas, talvez um político, talvez alguma pessoa importante, sei lá, acho que o
passado são coisas que já carregamos, o presente deve ser vivido como é e o futuro
é incerto. […] Estou deixando seguir seu curso e ver como as coisas vão, deixo o vento
me levar (Arely Vázquez, fundadora do altar, Queens, NY, 2015a)”.
Considerações finais
Como pode ser visto neste texto, o culto de Santa Muerte faz parte de uma longa
tradição de veneração da Morte. Sociedades de todos os tempos e de diferentes
latitudes incluíram em seu panteão cultural deuses e deusas diretamente relacionados
à finitude biológica do ser humano.
Nessa linha de pensamento, o culto de Santa Muerte em Nova York não pode ser
considerado uma inovação religiosa. De fato, sua existência está ligada a uma tradição
específica, que surgiu no México e foi levada por migrantes para os Estados Unidos,
o que lhes permite associar-se com seus conterrâneos. Será necessário continuar o
trabalho de pesquisa para documentar que posição esta religiosidade tem na
identidade nacional dos migrantes.
Pelo que se afirma neste texto, fica evidente que o funcionamento do altar Arely
Vázquez não é um assunto recente, mas está em desenvolvimento e parece estar
se consolidando. O altar de Arely funciona há uma década, mas não é o primeiro elo
da cadeia, mas, aparentemente, o mais bem-sucedido localmente.
Sem dúvida, um elemento que veio para dar legitimidade e força ao altar que nos
interessa é a sua “vinculação” a uma organização religiosa cuja cobertura é
indiscutível: a Santa Muerte Internacional, que parece ter redimensionado as
atividades de culto neste centro de culto nova-iorquino . Isso não seria possível sem
um entendimento e harmonia nos pontos básicos entre as visões de Arely Vázquez
em Nova York e Enriqueta Vargas no México.
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Referências
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Entrevistas
VÁZQUEZ, Arely [entrevista], 2015a, de Antonio Higuera [trabalho de campo],
Rainhas, o.
VÁZQUEZ, Arely [entrevista], 2015b, de Antonio Higuera [trabalho de campo],
Rainhas, o.
VÁZQUEZ, Arely [entrevista], 2015c, de Antonio Higuera [trabalho de campo],
“Skype”, Chetumal-Queens, ny.
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Alexandre Frigério
Farei aqui uma revisão dos principais aspectos da devoção a San La Muerte
Na Argentina. Menos preocupado com suas “origens”, ou com a continuidade ou não,
de uma certa “tradição” (religiosa ou cultural), descreverei algumas das principais
características dessa devoção tal como é praticada atualmente na Grande Buenos
Aires,1 com um foco nas perspectivas dos atores religiosos (“de baixo”) e, ao mesmo
tempo, em certos processos que, do ponto de vista sociológico, parecem
particularmente relevantes, como a crescente institucionalização da prática, a
multiplicação de seus imagens, e os crescentes cruzamentos com outras devoções e
religiões. O pressuposto subjacente a esta análise – apesar de fazer inevitáveis
referências à “devoção de San La Muerte” ou a “outras devoções” – é que não há
uma única forma de devoção, mas múltiplas, tanto quanto seus devotos, sejam eles cometidos prometed
1 Grande Buenos Aires engloba a Cidade Autônoma de Buenos Aires e os subúrbios de Buenos Aires
(24 municípios que a circundam, já dentro da Província de Buenos Aires). Juntos, eles representam
aproximadamente 33% da população do país (quase três milhões de habitantes, os primeiros, e quase dez,
os segundos). A expressão "Área Metropolitana de Buenos Aires" (amba) –que também aparecerá mais
adiante– é um pouco mais ampla, pois indica a cidade e 34 municípios circunvizinhos.
[253]
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Alexandre Frigério
pago e santo
2
A perspectiva teórica mais ampla subjacente ao trabalho é a da "religião vivida" (religião vivida ).
religião), proposta por Robert Orsi, que aponta que “a religião é comumente pensada como um meio
de explicar, compreender e modelar a realidade, mas defendo que a religião é uma rede de relações
entre o céu e a terra, que envolve os seres humanos com uma série de de diferentes figuras
sagradas” (2006:2). Para este autor, a religião “não é uma rede de significados, mas de relações [...]
O que importa não são tanto as crenças [...], mas as práticas, os objetos, as presenças [...] Os deuses,
santos, demônios, ancestrais e o que quer que seja real na experiência e na prática, nas relações
entre o céu e a terra, nas circunstâncias da vida e nas trajetórias (histórias) das pessoas, nas histórias
(histórias) que as pessoas contam sobre elas” (2006). : 18). Além disso, valendo-se da perspectiva
das “economias religiosas”, outro pressuposto teórico importante é o da importância dos processos de
regulação e desregulamentação (social e governamental) na expansão de certas crenças e práticas
religiosas (Frigério e Wynarczyk, 2008). . .
254
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ignorado, mas que deve ser levado em conta, é o das crenças e práticas dos
africanos escravizados.
Em sua revisão das menções à devoção a San La Muerte nos registros
folclóricos, a antropóloga argentina Margarita Gentile (2008) aponta que a
notícia publicada mais antiga é provavelmente a de Juan Bautista Ambrosetti,
que em 1917, após uma viagem pela província de Misiones, “relatou que entre
os payé ou amu letos havia um chamado santo embora não aparecesse nos
santos católicos: era a Santa Morte feita de chumbo, com aparência de
esqueleto, boa contra a bala e a faca. ”3 O antropólogo não encontrou referência
ao culto na Encuesta al Magisterio de 1921, importante pesquisa realizada entre
os professores das províncias questionando-os sobre as tradições locais, e
aponta que “uma compilação de crenças e superstições de Corrientes publicada
em 1949 não incluiu a Santa Morte; nem na edição de 1950 do Dicionário de
Folclore de Coluccio , onde só apareceu nas edições de 1970” (Gentile, 2008).
A primeira descrição detalhada dessa devoção, enquadrada como manifestação
da "religiosidade popular" é a de Miranda Borelli (1963 e 1977).4 Essas obras
de Miranda dão conta da devoção em seu contexto de origem nas províncias do
nordeste argentino. naquela época e podem ser tomados como descrições
indicativas das modalidades que adotou antes de sua expansão pelo território
nacional –mesmo considerando a grande variabilidade intracultural e
interindividual que sempre caracteriza esse tipo de culto–.
Os principais nomes pelos quais ele era conhecido (e ainda são) são San
La Muerte, Señor La Muerte, Señor de la Buena Muerte ou Señor de la Muerte
e San Justo. De uma forma mais coloquial, hoje em dia também se usam o
Santito, o San ou o meu Magro. Antes da atual explosão de imagens que
descreveremos a seguir, San La Muerte era representado, principalmente, como
um esqueleto em pé com uma foice na mão direita, ou sentado ou agachado segurando sua
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Alexandre Frigério
cabeça com as mãos e os cotovelos apoiados nos joelhos (imagem também conhecida
como Senhor da Paciência).
Segundo informações de Miranda Borelli (1977), as imagens utilizadas como payé
(amuleto) eram muito pequenas; 1 ou 2 centímetros para serem introduzidos com uma
incisão dentro do corpo do devoto (ou "incrustados" como se diz e feito até hoje) ou 3 ou
4 para serem levados dentro de uma bolsa no bolso.
Mesmo que fossem para altares, as imagens costumavam ser relativamente pequenas,
cerca de dez centímetros – bem menores que as atuais – para não chamar muito a
feitas de osso, ou para poder escondê-las. dentro de um altar-mor.
atenção,
humanos,
podendo
madeiras
ser
nobres da região ou ouro. Os usados como payé eram de preferência feitos de osso
humano, chumbo ou esculpidos em bala, se foi usado e matou alguém, melhor. Nem
todas as pessoas ou famílias que tinham uma imagem em sua casa o reconheceram,
exceto aquelas (poucas) que realizaram festas públicas em sua homenagem nos dias
15 ou 20 de agosto.
Segundo o mesmo autor: "San La Muerte está localizado no lugar mais escuro da
casa, onde nem todas as pessoas chegam, o lugar secreto, o lugar sagrado, o lugar com
carga" (Miranda, 1977:69). Essa prática quase secreta deveu-se tanto à crença de que
os poderes do santo eram inversamente proporcionais à sua visibilidade quanto à
estigmatização social que quase sempre o acompanha.
Os ensaios de Kartun (1975) e Coluccio (1986), já apontam a presença dessa
devoção em Buenos Aires que acompanha a significativa migração da população
litorânea para os subúrbios de Buenos Aires. Sua presença passou praticamente
despercebida nas duas últimas décadas do século XX (Carozzi e Miguez, 2005) e
começou a ser notada nos primeiros anos deste século, de mãos dadas com a
progressiva visibilidade da devoção a Gauchito Gil e a crescente interesse da mídia em
santos populares. Torna-se bastante evidente na mídia na última década, após
acusações de assassinatos em rituais realizados por seus devotos (Fidanza, 2014 e
Fidanza e Galera, 2014).5
Como frisaram Frigerio e Rivero (2010), nas últimas duas décadas houve uma
crescente eclesificação ou institucionalização dessa devoção, na medida em que
começam a surgir vários santuários que reivindicam publicamente a devoção a San La
Muerte, organizam festas cada vez mais visíveis para dia do santo, no mês de agosto e
também têm dias de "consultas" (durante a semana) para resolver
5 Como seu colega mexicano, ele é acusado de ser "o santo dos criminosos". Dado que
a presença do narcotráfico é menor na Argentina, a associação entre este e o Santito é
menos frequente, mas às vezes também se faz –frequentemente apelando a referências
comparativas ou assimilativas à devoção mexicana–.
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6
O mais comum é que alguma imagem dele seja colocada de lado, em um altar para o
Gau chito Gil. No entanto, na própria cidade de Buenos Aires, existem alguns altares exclusivos
do Santito, visíveis nas ruas de bairros bastante centrais – embora um pouco deteriorados –
como Abasto ou La Boca.
7 A ideia de payé permanece, embora agora em sua concepção mais indígena, em uma
lenda cada vez mais difundida para explicar a origem do Santo. Este teria sido um piedoso
jesuíta ou monge franciscano que, quando os jesuítas foram expulsos da região pelo rei da
Espanha, permaneceu curando doentes e/ou cuidando de leprosos (por isso algumas versões
mencionam que ele era um payé, significando xamã) ou que tinha poderes de cura). quando outros
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Alexandre Frigério
um lavrador que, por problemas femininos, brigou com um policial, pelo qual teve que se exilar, e
participar da guerra do Paraguai. De volta à sua terra, alistaram-no para as lutas civis que abalavam
a província nessa altura, mas ele, para não matar os seus semelhantes, desertou. Ele liderou uma
gangue de ladrões de gado que roubavam dos ricos e distribuíam entre os pobres. Ele foi finalmente
capturado e transferido para a cidade de Goya para seu julgamento, uma jornada que poucos
completaram porque a polícia geralmente assassinava prisioneiros ao longo do caminho. Para matar
Antonio Gil, eles tiveram que enforcá-lo em uma árvore e cortar sua garganta – a explicação mais
comumente oferecida hoje é que ele não morreu facilmente porque sendo devoto de San La Muerte,
ele estava embutido ou tinha um medalhão com sua imagem que o protegia–. Outra explicação
oferecida por Chumbita –que já não se ouve tanto– é que tiveram que matá-lo assim para evitar o
“olhar cabureí” que o gaúcho tinha e com o qual paralisava seus inimigos (o cabureí é uma coruja
local, cujo penas são payé e concedem o poder de influenciar as pessoas). Antes de morrer, teria
assegurado a um dos soldados que o mataria que quando chegasse em casa encontraria seu filho
doente, mas se o invocasse, ele (já morto) o curaria. Deste primeiro prodígio, a cruz que os soldados
deixaram para marcar o local onde enterraram seu corpo logo foi considerada milagrosa e batizada
de La Cruz Gil. Mais tarde, ali, ou ali perto, foi o santuário que hoje é o epicentro do culto e que
reúne milhares de devotos todos os dias no dia 8 de janeiro.
9 Por exemplo, Galera destaca que no altar localizado em frente ao cemitério de Chacarita: “a
imagem de San La Muerte está 'escondida' em uma árvore, fora da vista e ignorada por aqueles que
não a frequentam regularmente. Aqueles que controlam aquele altar revelaram-me a sua presença,
dizendo-me 'que o Santito não podia estar junto com o Gaúcho', embora manifestassem as suas
dúvidas sobre se era conveniente 'torná-lo visível' porque 'as pessoas falam, pensam coisas ruins,
tem medo dele porque não sabe do que se trata', além disso, isso interferiria no processo de
reaproximação com o pároco de uma paróquia próxima que prometeu realizar uma missa no local
quando terminarem as reformas, e cujo reconhecimento é considerado uma vitória para o Santo” (2010 :eleven).
10
Os “promissores” de um santo são aqueles que o reconhecem como foco de sua principal
relação religiosa. Independentemente de sua identificação social (que pode ser "católica"), sua principal
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Alexandre Frigério
a identificação pessoal será isso (ver Frigerio, 2007 para uma discussão sobre o valor heurístico
da diferenciação entre identificações pessoais, sociais e coletivas).
11
Veja descrições e fotos desses santuários em Frigerio, 2015a; Galera, 2015 e La Vega,
2015.
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Gauchito Gil, no entanto, permite que sua devoção se expanda quase tanto quanto a
dele (provavelmente um pouco menos, mas com um grau de difusão que certamente
não teria alcançado por conta própria).
Atualmente (e com maior força a partir da última década) as devoções tornaram-se
tão inter-relacionadas que ambos os santos parecem ser quase duas faces da mesma
moeda. O rosto mais público e agradável é o do Gauchito e o mais privado e ameaçador,
San La Muerte. O Gauchito, o santo “melhor amigo”, é implorado por socorro e o Santito,
“o mais belo dos santos”, é exibido como garantia -e ameaça- de proteção. Ambos
gerenciam ou atendem a pedidos semelhantes, mas em orações e postagens em grupos
do Facebook, por exemplo, quase sempre aparecem referências à proteção contra
inimigos no caso de San La Muerte e não de Gauchito. Imagens intimidadoras da morte
acompanhadas de frases como "quem me protege não brinca" (às vezes vindas da
devoção à Santa Muerte mexicana, como veremos) que não têm equivalente no caso do
Gauchito estão se tornando cada vez mais mais frequente. Se o "poncho" do Gauchito é
frequentemente invocado como manto protetor, é a "foice" de San La Muerte que parece
ter o poder mais ofensivo (as boleadoras do Gauchito, que também poderiam ser
enfatizadas como uma arma agressiva, não são praticamente mencionadas) .12
Se a relação entre Santito e Gauchito Gil já vem do nordeste da Argentina, região original
de devoção de ambos os santos (embora sem dúvida tenha se tornado mais íntima na
última década na Grande Buenos Aires), uma ligação mais nova e inesperada do que se
estabeleceu recentemente está entre o santo da foice e alguns seres
12
Essa capacidade de proteger contra os adversários e puni-los por suas más intenções para com o
devoto tem uma longa história e é muito evidente na oração “tradicional” e mais conhecida do santo: “San
La Muerte, espírito esquelético / muito poderoso e extremamente forte.” /como um Sanson em sua
Majestade/indispensável no momento de perigo/eu te invoco certo de sua bondade/
Roga ao nosso Deus Todo-Poderoso/que me conceda tudo o que te peço./Que ele se arrependa por toda
a sua vida/aquele que me prejudicou ou me deu o mau-olhado/e se volte contra ele imediatamente/Por
aquele que me engana em amor/peço que você o faça voltar para mim/e se ele desconsiderar sua estranha
ordem/bom espírito da morte/faça-o sentir o poder de sua foice/No jogo e nos negócios/meu advogado
nomeou você como o melhor/e para todos que vão contra mim está vindo/para sempre e sempre torná-lo perdedor/
Oh! Santa Morte, meu anjo protetor. Um homem". Atualmente, as postagens no Facebook dizem coisas
como: "Só peço justiça e que você o faça sentir o poder da sua foice"; “enfie sua foice em meus inimigos”;
"Que com sua enorme foice corte todo mal que possa nos atingir", ou "que sua foice devolva o mal a quem
me fez".
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Alexandre Frigério
da entrada do templo porque sua esposa (de Corrientes) é sua devota há muitos
anos. Pelo contrário, pode ser destacado, como em um templo na cidade de
Corrientes, no nordeste da Argentina, cujo pai justifica seu importante altar de San
La Muerte argumentando que é porque em sua família foi herdado, há várias
gerações , uma imagem da Santa Morte. Morando em uma cidade que é o tradicional
epicentro da devoção, ele afirma que antes de sua prática religiosa afro já era o
zelador de uma imagem de Santito devido a esse compromisso familiar.15 Outra
alternativa, que reconhece a importância de San La Muerte, mas admite seu caráter
fora da Umbanda, é o desenvolvido na zona sul da Grande Buenos Aires por um pai de santo
que era famosa por suas cerimônias de quimbanda. Este pai instalou um altar de
San La Muerte ao lado do salão de cerimônias afro, e agora é dedicado apenas ao
culto do santo. Para separar completamente as duas práticas, agora é sua esposa, a
mãe, que dirige os altares e cerimônias afro. Quando realiza a festa anual do Santo
em agosto, desmonta todos os altares de quimbanda e umbanda que tem no templo,
e no espaço que então só aparece como uma grande sala vazia, os devotos – muitos
vestidos de gaúchos – dançam chamamé, eles bebem e comem, sem nenhum sinal
ou imagem à vista que indique que há também um templo de uma banda, vários
talvez até o ignorem.16 Antes, depois ou durante a ingestão de comida, bebida e
dança, eles vão para o grande altar de San La Muerte (que ocupa toda a parte de
trás do templo, unido apenas por uma porta para o salão) e lá eles rezam a ele.
Alguns, em determinado momento, vão dançar algumas peças diante de sua imagem.
Nada neste dia de celebração do Santo indica a presença paralela de religiões afro,
exceto que alguns devotos ainda se dirigem ao agora zelador do santo chamando-o de pai.
Vendo-o agora não mais do lado dos umbandistas, mas do lado dos devotos de
San La Muerte, nos altares principais do Santito na Grande Buenos Aires geralmente
não há casos de identificação, embora haja de coabitação, através do incorporação
de algumas imagens de elenco de seres espirituais de origem africana. Um dos
santuários mais conhecidos de San La Muerte na zona norte da Grande Buenos Aires tem,
15 Seus inimigos, porém, acusam-no de que, ao entrar em transe com seu Exú –que,
significativamente, é João Caveira– , ele diz ser a Santa Morte, sugerindo, assim, que realiza
um sincretismo indevido e incorreto entre as duas figuras.
16 O chamamé é a música típica do nordeste da Argentina. Tanto nas festividades de Gau
chito Gil como de San La Muerte – nas províncias de origem, mas também na Grande Buenos
Aires – essa música e sua dança costumam ter uma presença preponderante. Ao contrário do
que tenho presenciado no México, onde o “rosário de Santa Muerte” é um momento privilegiado
de participação coletiva, nas festividades da Grande Buenos Aires, a principal integração
comunitária se dá por meio da dança chamamé.
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Alexandre Frigério
em seu jardim – utilizado para cerimônias relacionadas à devoção à Santa – uma minigruta/
altar com a imagem de Iemanjá. Na festa de Santito em agosto de 2014, os participantes,
depois de rezar e deixar oferendas diante do altar de San La Muerte, puderam ser limpos por
três praticantes: um que passava ramos sobre seu corpo -relacionados às práticas xamânicas
indígenas-, outro que dava os passes de reiki, e um terceiro que, vestido inteiramente de
preto, com chapéu daquela cor e colares preto e branco que imitavam os dos exús de
calunga, passava as mãos em forma de chifres pequenos pelo corpo, falando em português ,
numa imitação de incorporação de exú. Apesar dessa copresença de imagens e práticas de
diferentes origens, a incorporação de elementos da visão de mundo afro-brasileira não é
apreciada no discurso público do zelador do santuário.
Outro santuário famoso, mas agora na zona sul, também tem um altar para Iemanjá em
um segundo espaço, atrás do principal onde fica o altar de San La Muerte. Há também outra
com imagens de pretos velhos da Umbanda e uma terceira com São Jorge (cuja identificação
afro com o orixá Ogum não é necessariamente destacada, mas é evocada pelas cores das
velas brancas, vermelhas e verdes que são o usado nas religiões afro-brasileiras). Mais do
que reivindicar algum conhecimento especializado em religiões afro, ou defender um lugar
desse orixá
e entidades umbandistas em sua visão de mundo, os zeladores do templo dificilmente dizem
que são imagens “que as pessoas trazem” e com isso consideram justificada sua inclusão.17
Outro exemplo da influência das religiões afro-brasileiras na devoção a San La Muerte
são os colares de contas pretas e brancas que frequentemente adornam as imagens de
gesso do Santito nos altares – os mesmos que os umbanos usam como representantes do
exús de calunga, ou seja, de cemitério. Essa associação geralmente não é mencionada
(talvez também não seja lembrada); no entanto, certamente tem a mesma origem que a
hipertrofia de oferendas materiais agora vista nos altares de San La Muerte. À frente das
imagens de gesso, ou entre elas, podem-se ver garrafas de uísque, maços de cigarros, às
vezes chocolates, alfajores, maçãs, pipocas (todos elementos que não eram tradicionalmente
usados na religiosidade popular argentina, que preferia apenas velas, flores e
17
De acordo com uma entrevista realizada por Cecilia Galera e Juan Fidanza (comunicação
pessoal). Recebi a mesma resposta do dono de outro santuário na Grande Buenos Aires quando
participei de um festival de San La Muerte e notei a presença de um altar com várias imagens de
umbanda em um canto. Neste caso havia também uma grande sala com imagens de umbanda
pintadas nas paredes que poderiam mostrar que o local havia sido ou ainda era um templo de
umbanda, mas o responsável pelo local preferiu responder de forma evasiva (mais tarde soube
que sua filha pertencia a essa religião).
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Uma terceira influência que vem ganhando espaço nos últimos anos, mas não mais
por qualquer tipo de contiguidade física, é a devoção mexicana a La Santa Muerte. Isso
parece acontecer, inicialmente pela internet (quando os crentes começam a descobrir
ou entrar em contato com a devoção mexicana) e se espalha.
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Alexandre Frigério
18
Os dados que uso aqui vêm principalmente de três grupos fechados do Facebook
(mas sem restrições de adesão): “Devotos del Señor San La Muerte” (7.700 membros); “Devotos
de mi santito” (3.500 membros) e “O amor ao santo e ao santo nos une” (1.100 membros) (o número
de membros é aproximado, pois muda diariamente).
19 Se uma determinada imagem não leva o nome de “La Santa Muerte”, pode-se
discutir se essa representação é de fato a do santo mexicano ou se trata apenas de
quadrinhos, jogos de computador ou imagens góticas. De qualquer forma, esse tipo de
imagem já foi incorporado à devoção mexicana, que sempre – ou pelo menos nas últimas
duas décadas – foi muito mais aberta à inovação do que sua contraparte argentina.
20
Enquanto escrevo estas páginas, muitos devotos estão postando em grupos do Facebook
uma quinzena em homenagem ao santo colocando, a cada dia, uma imagem da morte com uma
oração sobreposta que claramente pertence à devoção mexicana (começa “Ante ti vengo, mi San
tísima Muerte...”). As dedicatórias que a antecedem, no entanto, continuam sendo expressas no
masculino: “Dia 14, minha santinha, meu anjo protetor”, por exemplo.
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Prefiro não falar de hibridização entre as duas devoções, como sugere Flores
Martos (2008) para Madrid, mas talvez de uma influência que multiplicou as formas
de representação, fazendo com que a figura do santo pareça cada vez mais uma
pessoa, passando de sendo originalmente um esqueleto pequeno e estático para
agora ter movimento, expressões faciais e frases expressas que auguram proteção
para seus devotos e punição para aqueles que os incomodam. Essa crescente
personalização da figura da morte, que atualmente comove, fala e até ameaça
aqueles que são contra seus devotos, pode ser lida como uma influência de
características de uma devoção sobre outra, mas também como um processo (essa
devoção mexicana transitou antes ) de extensão de referências possibilitada pela
internet e pela crescente destradicionalização que caracteriza as sociedades
modernas, o que leva a uma maior individualização e reflexividade em relação às
práticas, crenças e, como neste caso, a uma maior liberdade por parte dos devotos
para escolher imagens de morte que eles querem representar seu santo.
Essa apropriação de imagens, porém, não se faz sem discussão ou debate.
Em seu Facebook, um devoto conhecido por sua dupla condição de curandeiro e
cantor de chamamés em homenagem ao santo, adverte:
Señor La Muerte não é o santo do México ou Tata Caveira que é de outra religião, embora as
imagens sejam parecidas, cuidado! Com todo o respeito, você deve prestar muita atenção ao
tatuar uma imagem, ou ao comprar na santeria. Os comerciantes vendem qualquer coisa, nem
todas as imagens são do Senhor da Morte. Embora apareçam pessoas que vão confundi-lo
dizendo desajeitadamente que cada um escolhe o que quer. E isso não é assim. Para empanar
o pão, e para fazer vinho o vinho.
(Usuário "Santa Muerte del Final" diz): Desculpe amigos da Face, informo que você realmente
precisa saber muito sobre minha padroeira, a rainha da morte e se rituais e oferendas de pessoas
são usados antes da santa morte porque magia é magia e pelo que vejo eles precisam saber
muito sobre o santo
(Usuário "Santito Argentina" diz): Olá irmãos e bênçãos a todos. Santa Muer te com todo o
respeito digo-vos que estamos a falar do nosso Senhor da Boa Morte também conhecido como
San La Muerte ou San Severo de la Buena Muerte ou "o pequeno santo".
Não estamos falando da Santa Muerte que é cultuada no México, estamos falando do culto de
San La Muerte na Argentina. Este culto em alguns aspectos é semelhante ao da morte sagrada
e muito diferente ao mesmo tempo e não se trata de afirmar quais rituais podem ser feitos.
Esta é a imprensa impiedosa com um culto.
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Alexandre Frigério
21
Por enquanto, pelo menos, a variedade de imagens de gesso ou resina de Santa Muerte
que podem ser vistas no Mercado Sonora na Cidade do México, ou no primeiro andar do Mercado
Corona em Guadalajara, é absolutamente impensável na Argentina (a cavalo, em uma motocicleta,
com asas abertas como um anjo, com o manto de cores das sete potências africanas, com Jesus
no colo, para citar apenas alguns que podem ser vistos nos mercados mexicanos)
(Frigério, 2015b). As imagens argentinas não são apenas menos diversas, mas também um pouco
menores: não atingem o tamanho natural que caracteriza muitas imagens de Santa Muerte no
México, nem são construídas a partir de um "esqueleto real" ou material que se pareça com um.
Somente em um santuário no interior de Corrientes aparecem estátuas do tamanho de uma pessoa
e são claramente feitas de gesso ou madeira.
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"Não me ofenda, não me critique, não aponte para mim, não me julgue, não me desrespeite porque
quem sempre me acompanha tem um fio afiado em sua foice. "
“Eu sou seu amigo , você sabe […] com o poder de destruir seus inimigos, mas se você me
trair, lembre-se: eu sei como destruir um inimigo.”
"Não sou vingativa , sou apenas... não cumpro caprichos, cumpro necessidades... vou te
proteger."
“Esta pessoa está protegida por ela hoje e sempre! A morte mais milagrosa e santa” (itálico
meu).
Existem também equivalentes locais (em todos os casos, as frases passam por cima de imagens
ameaça de morte):
"Cuidado com o que você deseja para mim, porque quem me protege não dorme nem brinca."
“Você que julga e critica, cuide-se. Porque um dia eu vou me lembrar de te ensinar uma lição.
Porque eu não esqueço. E eu cuido dele."
“Respeite meu povo e minha família. Continue fodendo minha foice vai te destruir.”
"Eu protejo meus filhos com todas as minhas forças e quem é contra eles
eles jogarão fora a ponta da minha foice”.
Alexandre Frigério
"Sou San La Muerte respeito a fé de meus filhos porque os protejo com minha foice e
os cubro com minha capa."
Em contraste, também há tentativas, por parte de pessoas envolvidas em santuários
que se esforçam para normalizar e normalizar a devoção, de suavizar essa imagem
ameaçadora da foice de San La Muerte: “A foice do meu santo é feita de amor. . O material
com o qual Deus fez tudo na terra.”
Conclusões
Nestas páginas forneci uma visão geral dos desenvolvimentos recentes na devoção
a San La Muerte, particularmente a forma que eles assumem em sua expansão na
Grande Buenos Aires. Procurei construir o objeto de estudo evitando cair tanto na
fabricação, afirmação e reificação de uma “tradição” devocional unívoca, rígida e
exclusiva, quanto na confusão de milhares de atos devotos sem condicionamento
social subjacente. Aponto, então, algumas tendências que me parecem
sociologicamente relevantes, bem como os diálogos e intersecções que os devotos
estabelecem com outras devoções/religiões.
Enfatizei a crescente identificação que os fiéis –e sanguinários– de San La Muerte
estabelecem com Gauchito Gil, especialmente no contexto da grande Buenos Aires,
sugerindo que ela ajudou na expansão de ambas as devoções, mas principalmente
da pequena santo: que aparece quase como um alter ego oculto e perturbador por
trás da fachada mais socialmente aceitável do Gauchito.
Como condições mais gerais que permitem e favorecem essas travessias
(também com a quimbanda e a devoção à Santa Muerte) há, sem dúvida, a presença
ou prevalência nos setores populares de uma lógica cultural cosmológica, holística e
relacional, como sugere Semán (2001). . De fato, as travessias parecem ocorrer com
mais frequência nos segmentos mais populares de crentes, enquanto os mais
próximos da classe média reclamam dos desvios que se fazem das ortodoxias de
"suas tradições devocionais e religiosas". Outras variáveis contextuais a ter em conta
são a crescente destradicionalização , que leva a uma maior reflexividade e
cruzamentos conscientes entre diversos símbolos religiosos, conceitos e práticas que,
num contexto de maior desregulamentação social, espacial e governamental da
religião, são mais acessíveis do que religiões tradicionais em épocas anteriores.
Para alguns dos atores sociais, especialmente aqueles mais envolvidos na
expansão dessas devoções (proprietários dos santuários de San La Muerte e
Gauchito, líderes de templos de umbanda) pode haver também uma dimensão mais
estratégica, mais ou menos consciente, tanto de acomodação social –ligando uma
devoção mais estigmatizada a uma mais socialmente aceitável– como, no caso de algum país de santo,
270
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criar pontes cognitivas (Frigério 1999) com a religiosidade popular que pensam, será
atraente para seus vizinhos ou seu público -alvo na Grande Buenos Aires.
A enorme expansão nos últimos anos do acesso à Internet e, mais recentemente,
a popularização das redes sociais na vida dos argentinos: seja por computador ou, cada
vez mais, via smartphones, leva à circulação de material que antes era de difícil ou
restrito acesso, como notícias sobre a devoção de Santa Muerte e as imagens que a
representam.
Apesar de boa parte dos devotos de San La Muerte não serem muito diferentes dos
de outros santos populares (mais ou menos católicos) para o setor mais jovem (e,
principalmente, para aqueles que estão em condições de vida mais marginais) , é
possível que, como sugerem Carozzi e Miguez, esteja relacionado a:
Referências
BATTLE, Juan e Daniel BARRETO, 2005, San la Muerte: Uma voz estranha, Buenos
Aires, Editorial Arte Argentina.
CAROZZI, María e Daniel MÍGUEZ, 2005, “Múltiplas versões da mais bela das santas”,
em Juan Batalla e Daniel Barreto, coords., San la Muerte: Uma voz estranha,
Buenos Aires, Editorial Arte Argentina, pp. 8-10.
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Alexandre Frigério
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Alexandre Frigério
Entrevista
VIOTTI, Nicolás [entrevista], 2014, de Alejandro FRIGERIO, “A cidade selvagem.
Sobre religiosidade, raça e cidade”, Bifurcaciones, Revista de Estudos
Culturais Urbanos, Chile, Faculdade de Ciências Sociais e Econômicas-
Universidade Católica de Maule, em <http://www.bifurcaciones.
cl/2014/05/la-ciudad-salvaje/>, consultado em 11 de outubro de 2015.
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PENSAMENTOS FINAIS
As conclusões dos estudos que compõem este livro são múltiplas, assim como
as perspectivas disciplinares dos autores que o compõem. Deles derivam análises
de historiadores, sociólogos, antropólogos, artistas plásticos e um cronista, onde
cada um desdobrou as origens do culto de Santa Muerte, enfatizando as práticas,
expressões de fé e imaginários simbólicos que recentemente se tornaram visíveis
neste devoção de diferentes regiões do México, América Central e Estados Unidos.
As obras aqui apresentadas apresentam algumas convergências, mas também
contrastes que derivam das múltiplas possibilidades de vincular esse culto a
expressões da religiosidade popular, entre elas a prática da Santeria. O surgimento
de novos santos populares no México fora da instituição católica, como Jesús
Malverde, Juan Soldado, Niño Fidencio, também conhecido como Niña Blanca,
oferecem diferentes perspectivas de análise de acordo com cada região geográfica,
condições socioeconômicas, tradições e práticas culturais de cada país . crentes.
[275]
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Alberto Hernández
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Pensamentos finais
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Alberto Hernández
pelo contato mútuo tanto no México quanto em outras partes do mundo, como acontece
em alguns bairros parisienses onde a autora realizou seu trabalho de campo.
Além disso, conclui que Santa Muerte é um exemplo iconográfico dos fenômenos de
hibridização que vão construir uma cultura.
Já no capítulo de Antonio Higuera Bonfil, ajudou a aprofundar o vínculo entre a
tradição de culto surgida no México e seus efeitos após a migração de seus devotos,
que a continuam no contexto de chegada. Este autor confirma que após seu trabalho de
campo, verificou um processo de transformação onde os fiéis promoveram a criação de
altares domésticos para celebrar sua devoção, como o instalado em uma pequena casa
no bairro do Brooklyn, cujo tutor é um imigrante e transexual de origem mexicana que
buscava para outros imigrantes e pessoas de diversidade sexual uma nova figura de
proteção para suas vidas.
Finalmente, no último capítulo do antropólogo argentino Alejandro Frigeiro, ele
concentrou sua reflexão no desenvolvimento da devoção a San La Muerte na Grande
Buenos Aires. Detalhando as ligações existentes entre San La Muerte e Gauchito Gil no
contexto argentino, e como em um período recente a influência da Santa Muerte
mexicana contribuiu para um processo de trocas e apropriações simbólicas entre os
devotos de San La Muerte e sua contraparte mexicana .
O autor torna visíveis as implicações dessas interseções nas classes populares e médias
de cada contexto, por meio das páginas e debates em redes sociais como Facebook ou
páginas da web, cujo papel tem sido crucial na transformação de significados e práticas
rituais. cada culto, bem como na transnacionalização de Santa Muerte do México para a
região sul-americana.
As obras aqui apresentadas não se referem apenas a uma exaltação do culto à
Santa Muerte em várias regiões do país e em diferentes cidades dos Estados Unidos,
mas também expressam aquelas tênues fronteiras entre legalidade e ilegalidade, que
tornam essa prática religiosa um fenômeno muito popular. . rico em análise. A
desregulamentação do campo religioso no México oferece insights sobre essas novas
formas de religiosidade, onde crianças, jovens, homens adultos, mulheres e pessoas de
diversas sexualidades constroem esperanças, desejos e uma identidade popular
multirreligiosa muitas vezes difícil de descrever .
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SOBRE OS AUTORES
Kali Argyriadis
Doutor em Antropologia Social pela École des Hautes Études en Sciences
Sociales de Paris, França. Entre suas publicações mais recentes estão
“Católicos, apostólicos e não satânicos: representações contemporâneas no
México e construções locais (Veracruz) do culto de Santa Muerte” (2014); e é
co-autor do livro coordenado Roots in Motion: Traditional Religious Practices in
Translocal Contexts (Centro de Estudos Mexicanos e Centro-Americanos, 2008).
E-mail: kali@argyriadis.net
Alexandre Frigério
Ph.D. em Antropologia pela Universidade da Califórnia, Los Angeles (1989).
Atualmente trabalha como Pesquisador Independente no Conselho Nacional de
Pesquisas Científicas e Técnicas (conicet) da Argentina. É professor do
Mestrado em Antropologia Social da flacso (Argentina) e do Mestrado em
Sociologia da Universidad Católica Argentina. Juntamente com Juan Renold,
publicou este ano o livro: "Papa Francisco: visões das ciências sociais", editado
pela Universidade Nacional de Rosário. Coordena a rede acadêmica Diversa:
Rede de Estudos da Diversidade Religiosa na Argentina. E-mail: alejandrofrigerio@gmail.com
[279]
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Sobre os autores
Caroline Perree
Doutor em História da Arte pela Sorbonne (Paris), mestre em Estilística e pesquisador
do cemca (Centro de Estudos Mexicanos e Centro-Americanos). Desde 2003 trabalha
no estudo das práticas mágicas e religiosas populares e suas interações com as
criações artísticas contemporâneas na Europa e no México a partir da perspectiva e
abordagem da antropologia da imagem. É especialista no estudo do objeto votivo e
tem participado regularmente em seminários internacionais sobre o tema das ofertas
votivas. Publica regularmente artigos sobre objetos votivos: “L'Ex-voto peint: la société
mexicaine en mots et en couleurs”, cemca, México co, 2013; “L'évolution de l'ex-voto
peint”, Artension, n. 30, 2006, Paris. Ultimamente, estuda o culto e a iconografia de
Santa Muerte: “México, de San Judas a Santa Muerte. Logiques votives et rituels
transversaux en milieu urbain”, in L'Homme”, nº. 211, 2014. Na arte contemporânea
publicou diversos catálogos e artigos
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Sobre os autores
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