REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE

TRIBUNAL ADMINISTRATIVO

PRIMEIRA SECÇÃO

Processo n. 0 46/2018- 1.•

ACÓRDÃO N. 0 ~~ /2018

Acordam, em sessão de julgamento, na Primeira Secção do Tribunal

Administrativo:

O Presidente do Conselho Municipal da Cidade de Maputo, com

os demais sinais de identificação nos do processo autos acima
referido, não se conformando com o "despacho do Tribunal a quo
que dá provimento á providência requerida, suspendendo a eficácia
do acto referente á actualização do valor da renda mensal do
quiosque para 65.565,00MT, vêm dele interpor recurso de agravo
(... ) nos termos das disposições conjugadas dos artigos 165, 169,
n. 0 2, 174 ambos da LPAC e 733. 0 , 734.", n." 2, al. d), ambos do
CPC'), alegando, em resumo, que:

Decisões contraditõrias do Tribunal "aquo•

Virgínia Maria Marques Marçal requereu a apreciação do Tribunal
a quo dois actos administrativos distintos, um respeitante á
actualização da renda do quiosque (Nota Ref." n." 052.342/ AE/16,
de 7 de Setembro) e outro relativo ao indeferimento do pedido de
manutenção da piscina (Nota ref.• 034/SG/03/GVAE/16) na
mesma providência, tendo esta último sido rejeitado nos termos do
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n. 0 2 do artigo 137 e alínea n) do n. 0 2 do artigo 20, ambos da Lei
n. 7/2014, de 28 de Fevereiro- Lei que regula os Procedimentos
0

atinentes ao Processo Administrativo Contencioso (LPPAC).

"Para o espanto do Presidente do CMM, o tribunal <aquo' emitiu (... )

o Acórdão n. 0 55/TACM/2017 que decidiu nos seguintes termos
pelo exposto acordam em conferência, os juízes do Tribunal
Administrativo da Cidade de Maputo em dar provimento à
providência requerida, suspendendo-se a eficácia do acto referente à
actualzação do valor mensal da renda para 65.000, OOMT, conforme o
documento com Ref N. 0 052.342/ AE/ 16, de sete de Novembro.
A requerente submeteu uma providência que correu seus termos
sobre o Processo n. 0 102/2017-CA, e do processo, o tribunal "aquo"
decidiu de duas formas diferentes, um despacho e um acórdão,
tendo, os mesmos, decisões contraditórias.

O primeiro despacho que versa sobre a decisão consistiu no

indeferimento liminar da petição e está na fase de recurso.

Aliás, á luz do n. 0 2 do artigo 474.° C.P.C, não é possível o

indeferimento liminar parcial de petição, a não ser que deles resulte
exclusão de alguns réus.
Portanto, a decisão do JUIZ ~<aquo» ao indeferir parcialmente a
petição e produzindo duas decisões contraditórias e antagónicas
sobre a mesma petição toma a decisão recorrida nula e de nenhum
efeito".

Litispendência
A petição inicial da requerente foi indeferida por falta de indicação
de contra-interessado e esta decisão foi objecto de recurso pelo ora
agravante.

"Portanto, o pedido respeitante a actualização da renda do quiosque

(Nota 052.342/AE/16, de 7 de Novembro) formulado pela
requerente não poderia ser objecto da apreciação do mérito da
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causa pelo tribunal «aquo», porquanto ocorre uma excepção de
litispendência, uma irregularidade processual cuja gravidade
inviabiliza a apreciação do fundo da causa.

Há litispendência quando se verifica a repetição de uma causa

estando a anterior em curso, nos termos da primeira parte do n° 1
do artigo 497. do C.P. C. (... ).
0

Analisando o despacho recorrido que corre seus termos no Tribunal

Administrativo, em virtude do recurso interposto pala requerente no
Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo, Processo no
102/2017-CA e o acórdão proferido no âmbito do mesmo processo
verifica-se que a causa de pedir (suspensão de eficácia dos
despachos do requerido, com referência n. 0 052.342/ AE/16 datada
de 07 de Novembro de 2016 e a Nota 034/SG/03/GVAE/16 de
06/ O1 /16), há uma flagrante contradição com o efeito da decisão
tomada naquele processo (estando em recurso) (... )

Pelos factos expostos, entende-se verificados os pressupostos para

que seja declarada a litispendência, pois, os sujeitos processuais, o
pedido e a causa de pedir são os mesmos do despacho recorrido e
do presente acórdão ambos sob o Processo n. 0 102/2017-CA".

Insuficiência de fundamento para a providência

A suspensão de eficácia é decretada quando se verifiquem os
requisitos constantes das alíneas a), b) e c) do n. 0 1 do artigo 132
da Lei n. 0 7/2014, de 28 de Fevereiro.

"Relativamente ao primeiro requisito da alínea a) execução do acto

seja susceptível de causar prejuízo irreparãvel ou de dificil reparação
não se encontra preenchido, visto que a requerente pode avaliar e
quantificar os prejuízos que eventualmente podem ser causados
pelo agravamento da renda.

Ademais, a requerente alega que os prejuízos sao de dificil

reparação, porem, a existirem, nunca serão de di~~~~ ~ã~.'-
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pois que a reparação dos mesmos consiste numa simples
indemnização pecuniãria ou cãlculo aritmético.

Por outro lado, a jurisprudência tem entendido que cabe ao

requerente o ónus de alegar e provar os factos integradores do
conceito de prejuízo de difícil reparação, fazendo-o por forma
concreta e especificada, não bastando alegar a existência de
prejuízos.

Tendo em conta que o vínculo jurídico entre a requerente e o

requerido foi posteriormente ratificado por via de um Contrato de
Cessão de Exploração (... ) é justo que o recorrido f concedente ao ter
constatado que a renda ora paga pela concessionãria/recorrente jã
se encontrava desajustada da realidade económica actual,
procedesse ao seu reajuste, nos termos do n. o 4 da cláusula terceira
do respectivo contrato, comunicado por via do despacho ora
atacado.

O valor de 5.000, OOMT (cinco mil meticais) não era pago

anualmente mas, sim, mensalmente, conforme se mostra na
cláusula terceira do contrato, e nessa mesma cláusula, no seu
número 4, apresenta-se a seguinte redacção "a renda será revista
em caso de flutuação da moeda e sempre que necessãrio".

O requisito da alínea b), a suspensão não represente grave lesão do

interesse público, não se encontra preenchido, tendo em conta que
o vínculo jurídico entre a requerente e o requerido remonta ao ano
de 1993, (... ) altura em que estava vigente a Lei n. 0 6/79, de 3 de
Julho (Lei de Terras), requer-se que sobre a presente matéria o
douto Tribunal também consulte o n. 0 2 do artigo 3 conjugado com
o n. 0 4 do artigo 10 e com os artigos 26, 27 e 28 todos da referida
Lei n. 0 6/79.

O Conelho Municipal da Cidade de Maputo (CMM), devido a decisão

do presente acórdão, poderã incorrer numa situação de perda de
recursos financeiros pelo facto de outros exploradores de alguns

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jardins mumcrprus se basearem no acórdão e estarem numa
situação de querer rever os seus contratos.

Relativamente ao requisito da alínea c), do processo não resulte

fortes indícios de ilegalidade do recurso, este requisito encontra-se
violado pela requerente pois, a mesma veio ao tribunal «aquo»
requerer a suspensão do despacho que incide directamente sobre
uma cláusula contratual e para espanto esse pedido foi deferido".

Termina, requerendo a reparação do agravo, mediante a revogação

do despacho do tribunal a quo que suspende a eficácia do acto
referente á actualização do valor da renda mensal do quiosque para
65.505,00MT, em virtude:
a) Da decisão do juiz a quo, ao indeferir parcialmente a petição e
produzindo duas decisões contraditórias e antagónicas sobre a
mesma petição, tornou a decisão recorrida nula e de nenhum
efeito, nos termos do n. 0 2 do artigo 474. 0 do C.P. C.;
b) Ocorrer a excepção dilatória da litispendência, nos termos da
alínea g) do n. 0 1 do artigo 494. 0 do C. P. C, conjugado com o
n. o 2 do artigo 493. o do C. P. C. As excepções dilatórias
obstam a que o tribunal conheça o mêrito da causa e dão
absolvição da instância;
c) Não estarem preenchidos os requisitos da providência cautelar
de suspensão do acto administrativo.

(Vide fls. 125 a 133, fundamentadas com os documentos de folhas

134 a 163).

Devidamente notificada do teor das alegações para contra-alegar, a

parte agravada não se pronunciou (fls. 173, 173-verso e 174).

Os autos foram continuados à vista do Digníssimo Magistrado do

Ministério Público nesta instância, o qual proferiu a promoção de
folhas 175 a 176, assim resumida:

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A requerente, ora agravada, impugnou dois despachos do
Presidente do Conselho Municipal da Cidade de Maputo, um que
comunica o esbulho da piscina pertencente ao Café Bar Centenário
(fls.40) e outro referente ao aumento da renda mensal (fls.41).

Quanto ao despacho atinente ao esbulho do direito sobre a piscina,

o tribunal rejeitou-o liminarmente, por falta de indicação de contra-
interessado, nos termos da alínea g) do n. 0 2 do artigo 58 da LPPAC.

O Tribunal deferiu o pedido de suspensão de eficácia, por

considerar reunidos os requisitos referidos no n. o 1 do artigo 132 da
LPPAC.
Está-se perante uma acumulação de pedidos e não repetição da
causa, não colhendo, assim, a alegada litispendência, termos em
que promove a improcedência do recurso.

Tudo visto.
Compulsando os autos, verifica-se que, efectivamente, a requerente
apresentou um pedido de suspensão de eficácia de dois actos
administrativos do Presidente do Conselho Municipal da Cidade de
Maputo, nomeadamente, do despacho que lhe retirou a piscina da
Esplanada no Jardim Centenário e do Despacho que fixou novo
valor da renda mensal da mesma.

O pedido referente á piscina foi liminarmente indeferido por falta de

indicação de contra-interessado a quem o provimento poderia
directamente prejudicar. A requerente reclamou perante a
conferência, tendo esta rejeitado o recurso e mantido o despacho do
relator, conforme consta do Acórdão n. 0 68/TACM/2017, de 20 de
Dezembro, que o agravante junta de folhas 156 a 163.
Não há indício de que este acórdão tenha sido recorrido.

Mesmo que tivesse sido recorido, tal não significaria litispendência,

pois, tal como refere o Digníssimo Representante do Ministério
Público, nesta instância, tal nao significaria a verificação de
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litispendência, na medida em que embora os sujeitos sejam os
mesmos, o objecto não é o mesmo - num trata-se de esbulho da
piscina e noutro o acréscimo da renda a pagar pela esplanada.

O pedido de suspensão de eficácia de despacho de actualização das

rendas mensais da Esplanada do Jardim Centenário foi deferido
pelo Acórdão n. 0 55/TACM/2017, notificado ao agravante no dia 6
de Novembro de 2017 (fls. 165), por o Tribunal ter considerado
reunidos os requisitos detenninados no n. 0 1 do artigo 132 da Lei
n. 0 7/2014, de 28 de Fevereiro.

Apesar de o recorrente dizer que agrava o despacho, o teor da sua

petição indicia a vontade de apelar contra o Acórdão que deferiu o
pedido de suspensão de eficácia do despacho que eleva o valor da
renda a pagar pela cessão do espaço do Jardim Público Municipal
na Av. Marginal.

Na sua petição de recurso reitera as alegações apresentadas na

contestação, as quais foram devida e atempadamente reportados e
analizadas no acórdão ora em análise, não se vislumbrando a
necessidade de repetir tal apreciação, em virtude de o Tribunal a
quo ter feito a correcta interpretação dos factos e sua subsunção á
lei.

A petição de recurso não traz factos ou argumentos de direito que

abalem o teor e sentido do acórdão, no qual se aplicou a lei de
forma imaculada.

Termos em que, em segunda instância, acolhendo a douta

promoção do Digníssimo Magistrado do Ministério Público, acordam
os Juizes Conselheiros da Secção do Contencioso Administrativo,
em negar provimento ao recurso interposto pelo Presidente do
Conselho Municipal da Cidade de Maputo, por falta de fundamento
legal.

Sem custas, por delas estar isento o apelante.

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Registe-se e notifique-se.
Pode o recorrente interpor recurso ao Plenário do Triunal
Administrativo, no prazo de 10 (dez) dias, em matéria de direito, nos
termos conjugados do disposto no n. o 1 do artigo 174 da Lei n. o
7/2014, de 28 de Abril, com o n. 0 2 do artigo 40 da Lei n. 0
24/2013, de 1 de Novembro, alterada e repubicada pela Lei no
7/2015, de 6 de Outubro.

Ma uto, 3 de Ou,;ttbro d~ 2018.

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Dav d Ze ias Sibambo - Relator
I /

José Luís ereira Cardoso

5~t-::::-S,
Paulo Daniel Comoane
Pelo Ministério Público,

Fui presente