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10.18065/RAG.2019v25n3.

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FENOMENOLOGIA APLICADA: PORQUE É SEGURO


IGNORAR A EPOCHÉ *
Applied phenomenology: why is it safe to ignore the epoché

Fenomenología Aplicada: ¿Por qué es seguro ignorar epoché?

DAN ZAHAVI **

Resumo: A questão de saber se uma investigação e análise propriamente fenomenológicas requerem a performance
da epoché e a redução não tem sido apenas discutida dentro da filosofia fenomenológica. É também uma questão que
tem sido intensamente debatida dentro da pesquisa qualitativa. Amedeo Giorgi, em particular, insistiu que nenhuma
pesquisa científica pode reivindicar um status fenomenológico a menos que seja apoiada por algum uso da epoché e
redução. Giorgi fundamenta parcialmente tal afirmação em idéias encontradas nos escritos de Husserl sobre psicologia
fenomenológica. No presente artigo examino as ideias de Husserl e argumento que enquanto a epoché e a redução são
cruciais para a fenomenologia transcendental, é algo muito mais questionável se elas também são relevantes para uma
aplicação não-filosófica da fenomenologia.
Palavras-chave: Fenomenologia; Pesquisa Qualitativa; Psicologia Fenomenológica; Fenomenologia Aplicada; Epo-
ché; Redução; Husserl; Giorgi

Abstract: The question of whether a proper phenomenological investigation and analysis requires one to perform the
epoché and the reduction has not only been discussed within phenomenological philosophy. It is also very much a ques-
tion that has been hotly debated within qualitative research. Amedeo Giorgi, in particular, has insisted that no scientific
research can claim phenomenological status unless it is supported by some use of the epoché and reduction. Giorgi
partially bases this claim on ideas found in Husserl’s writings on phenomenological psychology. In the present paper, I
discuss Husserl’s ideas and argue that while the epoché and the reduction are crucial for transcendental phenomenology,
it is much more questionable whether they are also relevant for a non-philosophical application of phenomenology.
Keywords: Phenomenology, Qualitative research, Phenomenological psychology, Applied phenomenology, Epoché,
Reduction, Husserl, Giorgi.

Resumen: La cuestión de si una investigación y análisis fenomenológico adecuado requiere que uno realice la época y
la reducción no solo se ha discutido dentro de la filosofía fenomenológica. También es una pregunta que se ha debatido
acaloradamente dentro de la investigación cualitativa. Amedeo Giorgi, en particular, ha insistido en que ninguna inves-
tigación científica puede reclamar un estado fenomenológico a menos que esté respaldada por algún uso de la época y
la reducción. Giorgi basa parcialmente esta afirmación en ideas encontradas en los escritos de Husserl sobre psicología
fenomenológica. En el presente artículo, discuto las ideas de Husserl y sostengo que si bien la época y la reducción son
cruciales para la fenomenología trascendental, es mucho más cuestionable si también son relevantes para una aplicación
no filosófica de la fenomenología.
Palabras-Clave: Fenomenología, Investigación Cualitativa, Psicología Fenomenológica, Fenomenología Aplicada,
Epoché, Reducción, Husserl, Giorgi.

Em seu núcleo, a Fenomenologia é um em- da resposta a essas questões. A fenomenologia tem


preendimento filosófico. Sua tarefa não é contri- por mais de um século providenciado contribui-
buir ou ampliar o escopo de nosso conhecimento ções cruciais a uma variedade de disciplinas nas
empírico, mas sim recuar e investigar a natureza e ciências sociais e humanidades, incluindo a psi-
a base desse conhecimento. Dada a distinta natu- cologia, sociologia e antropologia. Dentro das úl-
reza filosófica dessa empreitada, alguém poderia timas décadas, a fenomenologia também tem sido
com razão ponderar se a Fenomenologia pode ofe- uma importante fonte de inspiração não apenas
recer qualquer coisa de valor para a ciência positi- para debates dentro da pesquisa qualitativa, mas
va. Pode ela de todo informar o trabalho empírico? também para a pesquisa existente em ciências cog-
Entretanto, não pode haver dúvida alguma acerca nitivas.
Tradução

* Publicado originalmente na revista Continental Philosophy Review (ISSN 1573-1103), em 09 de Abril de 2019. DOI: https://doi.
org/10.1007/s11007-019-09463-y . Licensed under the CC BY 4.0 license: https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/. Agradecemos à edi-
toria, a permissão para tradução.

** Center for Subjectivity Research, University of Copenhagen, Copenhagen, Denmark.

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Fenomenologia Aplicada: Porque é seguro ignorar a epoché

Esse fato levanta questões importantes acerca atitude da redução fenomenológica, o que
da relação entre fenomenologia filosófica e fenome- significa que ele precisa resistir em postular
nologia aplicada; questões que revivem desacordos como existente qualquer objeto ou estado de
clássicos a respeito da própria natureza da pesquisa coisas que estão presentes a ele. O pesquisador
fenomenológica. ainda considera o que é dado a ele, mas ele o
De acordo com uma visão difundida, a feno- trata como algo que está presente à sua cons-
menologia deveria, em última instância, não ser ciência, e ele evita dizer que isso é na verdade
definida em termos de sua temática, mas sim em o modo pelo qual isso se apresenta a ele (Gior-
termos de seu método característico. Entretanto, gi, 2012, p. 4).
sempre foi um tema de controvérsia como esse mé-
todo deveria ser em seguida caracterizado. Husserl Ao defender a posição de que a pesquisa cien-
é bastante conhecido por ter argumentado que a tífica não pode afirmar um status fenomenológico a
epoché e a redução transcendental são essenciais à não ser que seja apoiada por algum uso da redução
fenomenologia, e insistido que aqueles que consi- (Giorgi, 2010), Giorgi reconhece a diferença entre
deram ambas como irrelevantes poderiam utilizar o filosofia e ciência. O tipo de redução fenomenológi-
termo “fenomenologia”, porém não terão uma com- ca que deveria ser utilizada por psicólogos é o que
preensão adequada do que ela realmente é. Como Giorgi chama de redução psicológica fenomenológi-
é também bastante sabido, entretanto essa não é ca (Giorgi 2012), e não a redução fenomenológico-
uma visão predominante entre fenomenólogos. É -transcendental, a qual foca na consciência como
incontestável que nem Heidegger ou Merleau-Pon- tal ao invés da consciência humana.
ty fizeram muitas referências à epoché e a redução, Meu foco a seguir será nessas afirmações, e na
embora seja contestado se isso deve-se à sua rejei- afirmação de que aqueles que procuram praticar
ção da metodologia de Husserl ou por simplesmen- fenomenologia aplicada, i.e., aqueles que buscam
te tomarem isso como garantido (Zahavi, 2017). usar ideias fenomenológicas em um contexto não-
Entretanto, é possível muito antes encontrar feno- -filosófico, tem de utilizar a epoché e a redução se
menólogos que se mostravam inequívocos em sua seu trabalho é para ser qualificado como fenome-
rejeição à virada transcendental de Husserl. Os pri- nológico1.
meiros seguidores realistas de Husserl viram o re-
torno fenomenológico às “coisas mesmas” como um
afastamento da (o foco Kantiano na) subjetividade. 1. A Redução Fenomenológico-Transcendental
Para eles, o método da fenomenologia envolvia um
interesse com as estruturas essenciais, uma tenta- A sugestão de que há algo como uma redução
tiva de obter uma “intuição pura e desobscurecida psicológico fenomenológica (ou psicológico-feno-
das essências” (Reinach, 1968), e mesmo que eles menológica) pode a princípio soar estranho2. Não
tenham consequentemente afirmado que o método teria Husserl introduzido a epoché e a redução
fenomenológico envolvia uma forma de variação e precisamente tentando destacar a natureza filosó-
redução eidética, em que se desconsidera o hic et fica distinta da fenomenologia, e para tornar claro
nunc dos objetos de modo a focar em suas estrutu- o porquê da fenomenologia não ser uma forma de
ras essenciais (Scheler, 1973), eles tiveram pouca psicologia descritiva, apesar de sua decisão logo
paciência com a insistência de Husserl na epoché e arrependida de utilizar essa etiqueta para seu pro-
na redução transcendental. jeto nas Investigações Lógicas? Para recapitular ra-
A questão de saber se uma investigação e aná- pidamente a linha argumentativa de Husserl, em
lise fenomenológicas apropriadas requerem a per- sua visão, uma série de questões epistemológicas e
formance da epoché e da redução não é, entretanto, metafísicas fundamentais não podem ser investiga-
apenas exclusiva da filosofia. É possível encontrar das de um modo suficientemente radical enquan-
uma discussão semelhante dentro da fenomenolo- to nós apenas vivemos sem problemas na atitude
gia aplicada, particularmente dentro da pesquisa natural. Na atitude natural, nós simplesmente to-
qualitativa. Enquanto a Análise Interpretativa Feno- mamos como certo que o mundo que encontramos
menológica de Jonathan Smith não recorre à epoché na experiência existe independentemente de nós.
e redução, Max van Manen tem insistido que o “mé-
1 Ao avaliar essas afirmações, terei de entrar em algum nível de detalhe
todo básico da análise fenomenológica consiste na com o trabalho de Husserl. Claramente isso não quer sugerir que Husserl é
epoché e na redução” (2017, 2018), a qual ele então, o único filósofo que pesquisadores qualitativos deveriam acessar e dedicar
de forma um tanto enigmática, continua a descrever seu tempo, embora a posição de Giorgi possa ser interpretada como acar-
como um abrir-se (epoché) e um fechar-se (redução) retando exatamente isso. Colocando de outra forma, pesquisadores que fo-
ram primariamente atraídos e inspirados pelo trabalho de Heidegger, Sartre,
(Van Manen, 2017). A referência mais persistente à Merleau-Ponty ou Levinas irão sem dúvida ter seus próprios problemas com
epoché e à redução pode, entretanto, ser encontrada as afirmações de Giorgi.
em Amedeo Giorgi, que por muitos anos tem insis- 2 Uma nota sobre terminologia é necessária. Husserl não é sempre con-
tido que uma adaptação do método fenomenológico sistente em sua escolha de termos. Embora ele ocasionalmente fale de uma
às ciências humanas requer essencialmente que o redução fenomenológico-psicológica (Husserl 1997, p.128, p.235), ele mais
frequentemente chama isso de redução psicológico-fenomenológica (Hus-
pesquisador “coloque entre parênteses ou separe-se serl 1997, p.112, p.126); porém, por vezes, simplesmente fala da redução
Tradução

de todas as teorias ou conhecimentos prévios acerca psicológica (Husserl 1977, p.179, p.128). Husserl também utiliza o termo
do fenômeno” e “retenha consentimento existencial redução fenomenológica e redução transcendental de forma intercambiável
do fenômeno” (Giorgi, 1994). Como Giorgi explica, (Husserl 2019, p.284), e frequentemente fala da redução fenomenológica-
-transcendental (Husserl 1969, p.258; 2019, p.331). Seria um grande erro
é essencial que o pesquisador assuma a sugerir – baseado no uso desses diferentes termos – que Husserl estava ope-
rando com seis diferentes reduções.

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Dan Zahavi

Para Husserl, esse realismo básico e natural não ciais para uma aplicação não-filosófica da fenome-
pode simplesmente ser pressuposto se queremos nologia?
tomar seriamente a filosofia. Mais propriamente, Giorgi, ao argumentar do modo que o faz, en-
ele deve ser criticamente examinado. Mas, para tretanto, está explicitamente recorrendo ao próprio
realizar isso, nós precisamos primeiramente nos trabalho de Husserl. Seu ponto de referência é, de
afastar de nossa imersão ingênua e não-examina- forma não surpreendente, principalmente os escri-
da no mundo e suspender nossa crença automática tos de Husserl sobre psicologia fenomenológica
na existência independente-de- mente do mundo3.
Mais especificamente, Husserl fala de como a epo-
ché foca e suspende a tese geral (Generalthesis) que 2. A Psicologia Fenomenológica de Husserl
pertence essencialmente à atitude natural (Husserl,
1982, p.61). Ao performar a epoché, ao primeira- Em conferências e textos como a Psicologia
mente colocar entre parênteses ou suspender nos- Fenomenológica de 1925, o artigo da Encyclopae-
sa crença tácita na existência absoluta do mundo, dia Britannica de 1927, as Conferências de Amster-
ao não mais tomar simplesmente a realidade como dam de 1928, e A Crise das Ciências Européias e
ponto de partida inquestionado, nós começamos a a Fenomenologia Transcendental de 1936, Husserl
prestar atenção em como e de que forma quaisquer insistiu que suas análises fenomenológicas pode-
objetos mundanos são dados para nós. Mas ao fa- riam prover um sólido fundamento eidético para a
zê-lo, ao analisar como e de que forma quaisquer Psicologia. Esse é particularmente o caso quando a
objetos se apresentam a nós, nós também acabamos psicologia enfrenta o fato de que é uma ciência da
por descobrir os atos intencionais e as estruturas consciência, e não simplesmente – tal behavioristas
experienciais em relação aos quais qualquer objeto como Watson, afirmariam – “uma ramificação ex-
que apareça precisa necessariamente ser entendido. perimental puramente objetiva da ciência natural”,
Nós acabamos por nos dar conta de que a realida- cujo “objetivo teórico é a predição e controle do
de é sempre revelada e examinada a partir de uma comportamento” (Watson, 1913, p.158). De modo a
ou outra perspectiva, e a partir disso acabamos por desenvolver-se de forma rigorosamente científica, a
apreciar nossas próprias realizações, contribuições psicologia necessita de uma compreensão adequa-
e a intencionalidade que está em jogo para que ob- da da vida experiencial. Mas isso é exatamente o
jetos apareçam do modo como o fazem e com a vali- que a fenomenologia pode oferecer. A fenomeno-
dade e o sentido que possuem. Quando Husserl fala logia nos faz retornar aos fenômenos experienciais
da redução transcendental, o que tem em mente é eles mesmos, ao invés de contentar-se com meras
precisamente a análise sistemática dessa correlação especulações e teorias acerca de sua natureza. Ain-
entre subjetividade e mundo. Essa é uma análise da, a fenomenologia pode fornecer à psicologia
que direciona da esfera natural de volta (re-ducere) esclarecimentos fundamentais de seus conceitos
ao seu fundamento transcendental (Husserl, 1960, básicos (atenção, intenção, percepção, conteúdo,
p.21). Ambas a epoché e a redução podem conse- etc.). Mais especificamente, Husserl argumenta que
quentemente serem vistas como elementos em uma o primeiro passo de uma psicologia cientificamente
reflexão filosófica, na qual o propósito é de nos rigorosa é o de obter descrições detalhadas de sua
liberar de nosso dogmatismo natural e nos tornar própria temática principal. Mas se cabe à psicologia
conscientes de nossas próprias realizações consti- descrever as estruturas intencionais da consciên-
tutivas, nos fazer perceber até que ponto consciên- cia, ela tem, como Husserl argumenta na Crise, que
cia, verdade e ser estão essencialmente interligados utilizar um método específico; ela precisa aplicar
(Husserl, 1982). Desse modo, de acordo com Hus- uma epoché universal de validade (Geltungsepo-
serl, iremos eventualmente ser capazes de alcançar ché) e efetuar o que ele chama de redução psico-
a nossa principal, se não a única, questão enquanto lógico-fenomenológica (Husserl, 1970, p.239). Em
fenomenólogos, a saber a de transformar “a obvie- suma, para que a psicologia tematize a consciência
dade universal do ser no mundo – para ele [o feno- intencional em sua pureza essencial, ela precisa
menólogo] o maior de todos os enigmas – em algo empregar a epoché psicológica e a redução (Hus-
inteligível” (Husserl, 1970, p.180). serl, 1970, p.244). Afirmações como essa também
Mas se essa é uma interpretação correta da são repetidas por Husserl em conferências anterio-
epoché e da redução, se ambas estão intimamente res. No artigo da Encyclopaedia Britannica, Husserl
conectadas ao empreendimento transcendental de fala de como uma psicologia pura, uma psicologia
Husserl, e se ambas são introduzidas de modo a efe- que busca capturar o essencial do mental, precisa
tuar uma suspensão geral de nossa atitude natural, necessariamente aplicar alguma versão da redução
que permitirá um questionamento filosófico radical e da epoché (Husserl, 1997, p.91). Por vezes, Hus-
e uma apreciação da extensão pela qual a objetivi- serl fala até mesmo da epoché e redução em questão
dade é uma realização constitutiva, não é então um envolvendo uma colocação de parênteses em pos-
grande erro sugerir que elas são igualmente essen- tulações transcendentais, e argumenta que como
3 (Nota do Tradutor). O termo mind-independent é de difí- resultado da aplicação desses parênteses, se estaria
cil tradução para o português. Bastante utilizado na literatura em posição de descobrir a intencionalidade intrín-
fenomenológica contemporânea em língua inglesa, refere-se
Tradução

àquela consideração – realista – de que há um mundo que seca do ato mental, uma intencionalidade que está
existe mesmo sem ter uma consciência que o pense. Tal pro- precisamente preservada mesmo que o objeto não
posta é, para a fenomenologia, errônea, uma vez que existe exista (Husserl, 1997, p.91, p.246). Husserl também
uma necessária constituição do mundo a partir da intenciona-
lidade da consciência.

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Fenomenologia Aplicada: Porque é seguro ignorar a epoché

fala em como o psicólogo fenomenológico4 deveria qualquer coisa de sua consideração. Na verdade,
suspender seus preconceitos teóricos originados de ao suspender ou neutralizar uma certa atitude dog-
outras disciplinas científicas de modo a focar no mática em direção à realidade, nós deveríamos pre-
que é dado, e também que seu objetivo é o de obter cisamente entender melhor essa mesma atitude e
insights sobre a correlação essencial entre ato e ob- vir a apreciar os processos que em primeiro lugar
jeto (Husserl, 1997, p.218-219, p.223, p.230). a possibilitaram. Não é coincidência que Husserl
Passagens como essas parecem corroborar a ocasionalmente compara a performance da epoché
posição de Giorgi. Deixe-nos porém examinar mais com a transição de uma vida bidimensional a uma
de perto os argumentos de Husserl. Como veremos, tridimensional (Husserl, 1970, p.118). Como ele es-
Husserl persegue em seus textos duas linhas de ra- creve na Crise:
ciocínio bastante diferentes. De um lado, quando
Husserl fala de como a psicologia precisa empre- O que deve ser mostrado em particular e acima
gar a epoché e a redução para atingir a sua temática de tudo é que através da epoché é aberto ao fi-
principal, ele também surpreendentemente com- lósofo um novo modo de experienciar, pensar
para isso com o modo pelo qual um físico também e teorizar; aqui, situado acima de seu ser na-
necessita empregar a epoché para alcançar a sua tural e acima do mundo natural, ele não perde
temática principal. Toda ciência precisa colocar en- nada de seu ser e de suas verdades objetivas
tre parênteses temas alheios se busca focar em seu (Husserl, 1970, p.152).
tópico específico; toda ciência precisa colocar fora
de circuito aqueles fenômenos que são irrelevantes Por conseguinte, não deveria ser surpresa que
para o tópico em questão. Assim como os físicos Husserl argumente que a redução psicológico-feno-
precisam empregar uma epoché universal para es- menológica e a epoché são inautênticas e não-ge-
tudar o corpóreo abstraído de todo o resto, também nuínas (Husserl 1997, 128). Agora, há razões adicio-
o psicólogo precisa, comparavelmente, adotar uma nais óbvias bastante razoáveis para Husserl chegar
“atitude abstrativa” para poder focar na dimensão a esse veredito. A psicologia pura, ou psicologia
psíquica (Husserl, 1970, p.230-231, p.239). puramente descritiva, ou psicologia fenomenológi-
É possível encontrar um tipo de considera- ca (diferentes noções convergentes) são todas ciên-
ção similar no artigo da Encyclopaedia Britannica, cias positivas mundanas diretamente habitando
onde Husserl observa que o tema da psicologia é dentro da atitude natural. Mesmo que o psicólogo
o ser psíquico da realidade animal. As realidades fenomenológico efetue algum tipo de epoché vis-à-
animais são compostas de dois níveis, o primeiro -vis com o mundo e que se abstenha de postulações
nível sendo aquele da realidade física espaço-tem- existenciais, tanto a vida intencional que ele está
poral, o segundo aquele da realidade mental. Con- investigando quanto os fenômenos psíquicos que
sequentemente, as realidades animais admitem di- ele está descrevendo permanecem fatos mundanos
ferentes tipos de investigação. Elas admitem uma no que pertencem a animais e seres humanos que
atitude “sistematicamente abstrativa” (abstraktive habitam um mundo pré-existente, tido como certo
Erfahrungseinstellung) que apenas foca aquilo que (Husserl, 1997, p.128). Nessa medida, o psicólogo
nelas é puramente res extensa. Husserl fala desse fenomenológico precisamente não é um filósofo,
foco como “redução ao puramente físico”. Entretan- mas um cientista positivo que deixa algumas ques-
to, em adição, elas também permitem uma “atitude tões fundamentais não-questionadas. Claramente,
abstrativa diferentemente focada” que nos permi- essa é precisamente a razão porque a epoché e a
te focar no “psíquico em sua essencialidade pura redução psicológico-fenomenológicas precisam ser
e apropriada” (Husserl, 1997, p.87). Colocando de nitidamente distintas de suas contrapartes fenome-
outra forma, apenas uma somatologia física irá ex- nológico-transcendentais.
plorar animais e seres humanos com um foco me- Mas é aí onde emerge a segunda entrelaçante
todicamente sistemático em apenas um aspecto de linha de raciocínio de Husserl. Em algumas oca-
seu ser, o aspecto organísmico animado, e então a siões, ele fala de como a redução psicológica é o
psicologia pura irá explorá-los com um foco igual- primeiro passo preliminar, e como a redução trans-
mente sistemático em seu outro aspecto, o aspecto cendental pode então ser considerada um segundo
puramente psíquico (Husserl, 1997, p.127). Para o passo purificador (Husserl, 1997, p.172), cuja efe-
psicólogo, “a redução sistemática psicológico-feno- tuação radical do projeto de psicologia descritiva
menológica, com sua epoché concernente ao mun- irá por necessidade motivar. Como ele coloca, é
do existente, é meramente um meio para reduzir a possível começar sem nenhum interesse em filoso-
psique humana e animal à sua essência pura e apro- fia transcendental e estar meramente preocupado
priada” (Husserl, 1997, p.128). em estabelecer uma psicologia estritamente cientí-
Se esses comentários são tomados de forma li- fica. Se tal tarefa é buscada de forma radical, e se
teral, a epoché e a redução psicológicas possuem as estruturas da consciência são investigadas com
quase nada em comum com o modo como a epo- suficiente precisão e cuidado, será eventualmente
ché e a redução fenomenológicas são normalmen- necessário, de modo a dar o passo completo, efe-
te compreendidas na teorização fenomenológica. tuar a virada transcendental, e dessa forma atingir a
Tradução

O propósito da última não é de ignorar ou excluir fenomenologia transcendental. Em alguns momen-


4 (Nota do Tradutor): Buscamos a partir daqui, e em dian- tos, Husserl explicitamente enfatiza as vantagens
te, traduzir o termo do original “phenomenological psycho- propedêuticas de abordar a fenomenologia trans-
logist” por “psicólogo fenomenológico”. cendental dessa forma, i.e. através da psicologia

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Dan Zahavi

fenomenológica (Husserl, 1997, p.174, p.251). Eu diferente de ambas a psicologia naturalista e a feno-
logo retornarei a essa motivação; mas, por enquan- menologia transcendental, deve efetuar passos que,
to, é apenas importante entender que realmente se executados corretamente, irão levá-la a ser absor-
podem haver razões para considerar a epoché e a vida pela fenomenologia transcendental.
redução psicológico-fenomenológicas como sendo
mais alinhadas à epoché e à redução fenomenológi-
ca genuínas do que, digamos, a epoché e a redução 3 A purificação transcendental
supostamente performadas pelo físico ou o mate-
mático. Há, porém, um alto custo por esta próxima Entretanto, Husserl mesmo em algumas pou-
afinidade. Aqui está o que Husserl escreve na Crise: cas ocasiões sugere uma saída desse impasse. Ao
final da Crise, por exemplo, Husserl escreve que o
Assim nós entendemos que na verdade uma psicólogo fenomenológico poderia retornar à atitu-
aliança interna indissolúvel é obtida entre a de natural após ter performado a virada transcen-
psicologia e a filosofia transcendental. Mas dental, e que ele posteriormente poderia praticar
dessa perspectiva nós também podemos an- uma psicologia transcendentalmente informada ou
tever que deve haver um caminho através do uma psicologia positiva enriquecida (Husserl 1970,
qual uma psicologia concretamente executada 258). Uma ideia similar pode ser encontrada nas
poderia levar a uma filosofia transcendental Conferências de Amsterdam, onde Husserl argu-
(Husserl, 1970, p.206). menta que, após ter sido primeiramente estabele-
*** cida uma firme fundação transcendental, é possível
Portanto, vemos com surpresa, penso, que no deslocar-se de volta à atitude natural e então rein-
desenvolvimento puro da ideia de psicologia des- terpretar tudo que havia sido estabelecido trans-
critiva, que busca trazer à expressão o que é essen- cendentalmente enquanto estruturas psicológicas
cialmente próprio às almas, ocorre necessariamente (Husserl 1997, 248).
uma transformação da epoché e redução fenome- Em um perspicaz artigo de 1991, David e
nológico-psicológica em transcendental (Husserl Cosgrove sublinharam essas sugestões de Husserl
1970, 256). e buscaram desenvolvê-las ainda mais. Como eles
Em última análise, a epoché e redução psico- observam, se seguirmos Husserl, deveríamos reco-
lógico-fenomenológicas não constituem um meio nhecer que a psicologia fenomenológica deve em
termo estável entre a ciência naturalística e a fe- última análise ser situada dentro do framework da
nomenologia transcendental. Esse é o motivo pelo filosofia transcendental. Ela tem de ser estabelecida
qual Husserl eventualmente argumenta que não há sobre a base de um esclarecimento transcendental
algo como uma psicologia pura não-transcenden- fundamental, enquanto disciplina radicalmente
tal, e que não há sentido em tratar fenomenologia reformada e fundamentalmente remodelada que
e psicologia transcendental de forma separada. Nas deixou de lado sua ingenuidade transcendental
Meditações Cartesianas, ele escreve que a psicolo- (Davidson e Cosgrove 1991, 88). A principal dife-
gia enquanto estudo da consciência contém uma rença entre ela mesma e a própria fenomenologia
dimensão transcendental e portanto é no fim parte transcendental é simplesmente que a primeira não
da filosofia transcendental (Husserl 1960, 147). Na permanece no solo transcendental, mas retorna à
Crise, Husserl escreve que “a psicologia pura em si esfera mundana constituída (Davidson e Cosgrove
é idêntica à filosofia transcendental enquanto ciên- 1991, 88). Mas como uma psicologia que vem após
cia da subjetividade transcendental” (1970, 258), e a redução transcendental difere de uma executada
que “psicologia pura é e pode ser nada além do que antes dela? A que tipo de psicologia isso equiva-
foi buscado anteriormente pela ponto de vista filo- le? Ao esmiuçar mais detalhadamente como essa
sófico enquanto uma filosofia absolutamente fun- psicologia transcendentalmente purificada aborda
damentada, que pode realizar a si mesma apenas seu tema principal, Davidson & Cosgrove argumen-
enquanto filosofia fenomenológica transcendental” tam que ela está interessada na relação intencional/
(1970, 259). motivacional entre pessoa e mundo, e que ela co-
Até agora, ambas as estratégias argumentativas meça com uma consideração em primeira-pessoa e
buscadas por Husserl deixam um tanto questioná- subjetiva das experiências relevantes. Em contraste
vel se a epoché e a redução são realmente essen- com outras abordagens que podem compartilhar tal
ciais à psicologia fenomenológica. Em uma primei- interesse, porém apenas de forma a obter uma me-
ra leitura, a epoché e redução psicológicas possuem lhor compreensão acerca do explanandum que será
pouco em comum com a redução e epoché feno- causalmente explicado pelo apelo a diferentes me-
menológicas exceto parte do nome. Em uma segun- canismos subjacentes, a psicologia fenomenológica
da leitura, elas possuem muito em comum, porém procede de forma diferente. Ela rejeita o framework
esse fato em última análise debilita a própria inde- naturalístico de acordo com o qual experiências são
pendência da psicologia fenomenológica, a qual se objetos naturais ocasionados por causas físicas, e
buscada e desenvolvida de forma consistente será em vez disso mantém um foco exclusivo no sujeito
necessariamente transformada em fenomenologia psicológico e em suas experiências no mundo-da-
Tradução

transcendental. Colocando em outras palavras, há -vida (Davidson e Cosgrove 1991, 92). Como eles
algo intrinsecamente auto-debilitador na propos- escrevem: “Ao invés de tentar explicar sua expe-
ta de que a psicologia fenomenológica, entendida riência com base em causas subjacentes, nós ten-
como um distinto método de pesquisa qualitativa tamos analisar seu sentido e estrutura a partir da

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Fenomenologia Aplicada: Porque é seguro ignorar a epoché

perspectiva do sujeito enquanto foi vivido por ele” retornar ao paradigma naturalista mainstream, com
(Davidson e Cosgrove 1991, 93). Para Davidson e seu foco em explicações causais e medições quanti-
Cosgrove, psicologia fenomenológica transcenden- tativas (Morley 2010, 223-224).
talmente purificada é consequentemente uma psi- Se essa avaliação fosse correta, iria obviamen-
cologia que considera os significados e estruturas te corroborar com a posição e abordagem funda-
das experiências do sujeito enquanto surgindo de mentais de Giorgi. Entretanto, é mesmo verdadeiro
sua própria contínua atividade constitutiva, ao in- que você não pode conduzir pesquisa qualitativa a
vés de serem meros efeitos de causas naturais. Eles não ser que você tenha primeiramente passado por
também argumentam que, como resultado de ter uma purificação transcendental e a não ser que sua
primeiro passado pela redução transcendental, o pesquisa seja continuamente apoiada por um fra-
psicólogo fenomenológico está apto a deixar para mework filosófico-transcendental? Suspeito que a
trás a “atitude natural” das experiências cotidia- maioria dos pesquisadores qualitativos iriam dis-
nas no mundo-da-vida em favor de uma “atitude cordar e simplesmente continuar com suas próprias
pessoal” da ciência humana (Davidson e Cosgrove pesquisas sem sentirem compulsão alguma em co-
1991, 93). meçar a ler Husserl. E o que dizer sobre aqueles
Esta última observação deveria, entretanto, que desejam conduzir uma pesquisa fenomenoló-
nos fazer refletir. Nós realmente precisamos per- gica? É razoável insistir que qualquer um que de-
formar a redução transcendental de modo a sermos seje conduzir pesquisa em fenomenologia aplicada,
capazes de ganhar acesso à essa atitude pessoal? qualquer um que deseje utilizar a fenomenologia
E a última realmente envolve um afastamento da em pesquisa educacional, psicologia experimen-
atitude natural? Ambas as afirmações revelam uma tal, pesquisa em enfermagem, ciências do esporte,
confusão fundamental. A atitude pessoal (ou perso- antropologia, sociologia, estudos literários, etc. te-
nalista) não é oposta à atitude natural, mas à atitude nham que primeiramente aprender a suspender a
naturalista. Para Husserl, a segunda atitude é uma tese geral e várias outras pressuposições metafísi-
transformação teorética da atitude personalista, cas arraigadas sobre um status de um mundo in-
que é a atitude em que nós normalmente vivemos, dependente da mente e “resistir de supor enquanto
a atitude de nossa vida cotidiana (Husserl 1989, existente qualquer objeto ou estado de coisas que
240, 252). Em resumo, a atitude pessoal não ape- se façam presentes” (Giorgi 2012, 4)? Se profissio-
nas está situada dentro da atitude natural, mas ela nais de saúde desejam utilizar ideias fenomenológi-
também é a atitude que é nosso ponto de partida, cas em sua prática clínica, estariam eles proibidos
ao invés de algo que precisamos alcançar através de empregar tais noções como mundo-da-vida, in-
de um procedimento filosófico complicado. Mas se tencionalidade, empatia, experiência pré-reflexiva
a psicologia fenomenológica não precisa ser trans- e corpo vivido de modo a entender como diferen-
cendentalmente purificada para permanecer na ati- tes dimensões da existência humana são afetadas
tude natural, requer ela então de todo a epoché e na patologia, doença ou circunstâncias difíceis da
a redução fenomenológicas? Como havíamos visto, vida, a não ser que primeiro dominem os meandros
Davidson & Cosgrove argumentam que o psicólogo teóricos da epoché e da redução? Não apenas penso
fenomenológico precisa manter um foco exclusivo que tais afirmações não possuem justificativa teóri-
nas experiências dos sujeitos, bem como buscar ca, como também tem se mostrado contra-produti-
analisar seu sentido a partir dessa perspectiva pes- vas. Ao invés de deixar pesquisadores qualitativos
soal, mas novamente, não é isso o que pesquisa- engajarem com os fenômenos eles-mesmos, têm os
dores qualitativos tipicamente buscam fazer? Não desorientado por fazê-los preocuparem-se acerca de
estão eles de forma geral considerando a experiên- meta-reflexões metodológicas e gerado uma grande
cia humana um tópico digno de vasta exploração? quantidade de publicações, nas quais protagonistas
Não buscam eles tipicamente tomar de forma séria e antagonistas igualmente debatem-se com esses
afirmações e preocupações experienciais de seus conceitos complexos, e tipicamente, no fim, aca-
sujeitos participantes? E não conseguem fazer isso bam interpretando ambos de forma errônea.
tranquilamente sem ter de preocuparem-se com a Para alguns exemplos, considere inicialmente
epoché e a redução fenomenológicas? as interpretações de Langdridge e Paley. Enquanto
Isso é precisamente o que Morley nega em um Langdridge afirma que Husserl, através do processo
artigo de 2010. Morley basicamente concorda com de colocar entre parênteses, buscou “transcender
a análise de Davidson & Cosgrove e argumenta que [...] a correlação noética-noemática e tomar uma
o psicólogo fenomenológico deve primeiramente “visão de Deus” sobre a experiência” (Langdridge
efetuar a redução transcendental e alcançar uma 2008, 1129), Paley escreve que Husserl, através da
atitude transcendental hiper-reflexiva antes que ele redução fenomenológica tentou “escapar da ex-
ou ela possa retornar à dimensão psicológica e apli- periência (em direção à dimensão da consciência
car a redução psicológica (Morley 2010, 228-229). pura)” (Paley 2013, 148). Qualquer um familiariza-
Porém, Morley também defende que, a não ser que do com o trabalho de Husserl saberá que ambas in-
o pesquisador qualitativo perceba que objetividade terpretações são interpretações errôneas. Para uma
é algo que é mantido por nós, e a não ser que ele li- leitura mais solidária, considere van Deursen, que
Tradução

berte a si mesmo da convicção firme e arraigada de em um artigo de 2015 argumenta que Husserl em-
que o mundo existe independentemente de nossa pregou três reduções separadas (van Deursen 2015,
consciência dele, ele não poderá manter seu com- 60): a redução fenomenológica, a redução eidética,
prometimento com a pesquisa qualitativa, mas irá e a redução transcendental. Enquanto a primeira,

337 Phenomenological Studies - Revista da Abordagem Gestáltica - XXV (3) - 332-341, 2019
Dan Zahavi

segundo van Deursen, foca nas noeses e nos proces- plo, é apenas ao performar a epoché que nossa pró-
sos de consciência e a segunda foca nos noemata e pria vida consciente pode tornar-se um tema ade-
objetos de consciência, o foco da redução transcen- quado de investigação. Nossa preocupação natural
dental é no sujeito da consciência e na natureza do e habitual é com o mundo não-psíquico. Quando
ego (van Deursen 2015, 60-65). A preocupação de vivemos na atitude natural, somos inevitavelmente
van Deursen refere-se bastante ao uso da fenome- absorvidos por e preocupados com objetos e even-
nologia na prática terapêutica, e é possível que esse tos mundanos, com o o quê da experiência. Ao per-
modo de discutir o procedimento fenomenológico formar a epoché, ao colocar entre parênteses nossa
pode ser valioso em um contexto terapêutico. O crença implícita na existência de um mundo inde-
que é bastante seguro, entretanto, é que a descrição pendente-da-mente, podemos finalmente reorientar
de van Deurzen não possui fundamento algum nos nossa atenção em direção ao como da experiência,
escritos de Husserl. Não apenas Husserl não dis- deste modo revelando aspectos e dimensões das
tingue a redução fenomenológica e transcendental nossas vidas subjetivas que nós normalmente negli-
(vide nota 1 abaixo), porém, ainda mais importante, genciamos e ignoramos (Petitmengin et al. 2018, 2).
sugerir que a redução fenomenológica foca apenas De acordo com uma interpretação diferente, o
nas noeses e não no noemata; afirmar que a redução objetivo da epoché é suspender nossas várias pres-
transcendental foca apenas no sujeito e no ego, e suposições teóricas. O que temos que colocar entre
não nas noeses e noemata; e insistir que a redução parênteses são nossas ideias preconcebidas, nossos
eidética busca apenas descobrir as características hábitos de pensamentos, nossos preconceitos e su-
essenciais e invariantes dos objetos da consciência posições teóricas. Ao fazer isso, ao abandonar nossa
e não os atos de consciência, são todas afirmações bagagem teórica, podemos realizar uma virada sem
que fundamentalmente falham em respeitar e re- preconceitos em direção ao objeto e chegar à cena
conhecer o correlacionismo de Husserl, o fato de com uma mente aberta, de modo a deixar os obje-
que o objetivo de sua análise fenomenológica não tos revelarem a si mesmos assim como são (Finlay
é investigar ou o objeto ou o sujeito, ou o mundo 2008, 1-2). Finlay também fala em como a atitude
ou a mente, mas investigar sua própria intersecção, fenomenológica (envolvendo a epoché e a redução)
inter-relação ou correlação (Zahavi, 2017). contribuem para uma abertura empática ao mundo
A referência à redução eidética apenas com- que nos permite entrar em contato com os fenôme-
plica mais as questões. Finlay, por exemplo, não nos eles-mesmos (Finlay 2008, 29).
apenas têm argumentado que precisamos colocar Ambas as interpretações são bastante difundi-
entre parênteses o mundo natural se desejamos das, e ambas podem ser tomadas para corroborar a
compreender as estruturas essenciais do fenômeno ideia de que qualquer um interessado em fenome-
(Finlay 2008, 2, 4), mas também tem apresentado nologia aplicada deve utilizar a epoché e a redu-
a redução eidética como o passo final do método ção. Porém, ambas as interpretações estão erradas.
fenomenológico, um passo que pressupõe a perfor- A afirmação de que precisamos da epoché de modo
mance prévia da redução transcendental (Finlay a observar nossa experiência interna é incorreta
2008, 5, 7). É, entretanto, difícil ver porque isso não apenas por sugerir que a atitude fenomenoló-
seria verdadeiro. A tentativa de distinguir carac- gica deveria envolver tal reorientação em direção
terísticas essenciais daquelas que são particula- à experiência interna, mas também por propor que
res, acidentais ou incidentais, é fundamental para algo como a epoché deveria ser necessária para tal
muitos dos empreendimentos científicos. O físico, reorientação. A afirmação de que nós precisamos
o químico, o biólogo e o economista estão todos, da epoché para colocar entre parênteses quaisquer
de diferentes modos, tentando obter insights fun- crenças, opiniões ou noções preconcebidas sobre o
damentais, insights que capturem o essencial ao fenômeno que está sendo pesquisado é igualmente
invés daquelas características acidentais do tópico incorreta, no que ela combina a contribuição espe-
sob investigação. Assumir que eles podem fazê-lo cífica da epoché (suspender a tese geral da atitude
apenas após terem performado a epoché e a redução natural) com uma rejeição mais geral da especula-
transcendental faz pouco sentido. ção e da explicação, em favor da descrição. Porém,
é errôneo ver essa preocupação com a descrição
(mesmo as descrições cuidadosas de estados psico-
4 O foco descritivo lógicos) como algo que especificamente demanda a
introdução e o uso da redução e epoché fenomeno-
A este ponto, pode ser tentador simplesmente lógicas. Não apenas Brentano já em sua Psicologia
mudar de estratégia argumentativa. Talvez o melhor de um Ponto de Vista Empírico defendeu a neces-
argumento de porquê deveriam psicólogos fenome- sidade de uma psicologia descritiva e de um estu-
nológicos, ou qualquer outra pessoa interessada em do cuidadoso da experiência interna, mas quando
uma aplicação não-filosófica da fenomenologia em- Husserl nas Investigações Lógicas escreveu “Nós ab-
pregar a epoché e a redução, não deve ser encon- solutamente não podemos nos contentar com ‘me-
trado no trabalho específico de Husserl em psico- ras palavras’ [...]. Significados inspirados apenas
logia fenomenológica e em suas afirmações tardias por intuições remotas, confusas e inautênticas -ou
Tradução

concernentes à convergência final da psicologia e por qualquer intuição que seja- não são suficientes:
filosofia transcendental, mas sim em alguns de seus nós precisamos retornar às ‘coisas elas-mesmas’”
escritos iniciais. (Husserl 2001, I/168), ele não havia introduzido as
De acordo com uma interpretação, por exem- noções de epoché e redução. Ainda, como já apon-

Phenomenological Studies - Revista da Abordagem Gestáltica - XXV (3) - 332-341, 2019 338
Fenomenologia Aplicada: Porque é seguro ignorar a epoché

tado, muitos dos seguidores iniciais de Husserl que buscar inspiração na filosofia fenomenológica. A
inspiraram-se em sua insistência na importância fenomenologia tem ao longo dos anos provido con-
de direcionar-se às coisas enquanto encontradas na tribuições cruciais para uma vasta gama de dis-
experiência, não viram motivos para seguir Husserl ciplinas empíricas e auxiliado a desafiar teorias
em sua subsequente insistência no uso da epoché e dominantes como o psicologismo, behaviorismo,
da redução. Em 1914, Reinach, um dos seguidores positivismo e outras formas de reducionismo. O
iniciais mais talentosos de Husserl proferiu uma in- motivo pelo qual ela tem conseguido fazê-lo com
fluente fala introdutória “O que é fenomenologia?” sucesso é parcialmente porque a fenomenologia
Ao longo de sua conferência, Reinach explicou a está longe de ser mera atividade descritiva. A feno-
natureza da atitude fenomenológica, enfatizou a menologia também oferece considerações teóricas
importância de aproximar-se da coisa ela-mesma, próprias que podem desafiar modelos existentes e
explicou como alguém poderia vir a aprender acer- suposições subjacentes. O fato de que a fenomeno-
ca de experiências que nem havia percebido que logia também possui essa relevância não-filosófi-
possuía, entretanto, sem mencionar nem ao menos ca, o fato de que ela serviu como poderosa fonte
uma vez a epoché e a redução em sua conferência. de inspiração para tantas disciplinas é parte de seu
É bastante conhecido que Husserl frequente- valor duradouro. Minha preocupação por enquanto
mente se queixava que aqueles seguidores iniciais tem sido apenas com a questão de saber se aqueles
que haviam falhado em segui-lo em sua virada que buscam aplicar ideias fenomenológicas em um
transcendental tinham, em última análise, falha- contexto não-filosófico precisam utilizar a epoché
do em realmente entender seu projeto filosófico, e a redução. Estaria Giorgi correto em insistir que
haviam falhado em completamente compreender a pesquisa científica não pode clamar um status fe-
o que é a fenomenologia. Estou inclinado a pensar nomenológico a não ser que seja apoiada por algum
que Husserl estava certo (Zahavi 2017). Eu penso tipo de redução (Giorgi 2010, 18)? Estaria Morley
que a epoché e a redução são essenciais para filoso- correto quando ele em uma discussão sobre meto-
fia fenomenológica, e que Reinach nessa medida es- dologia de pesquisa fenomenológica qualitativa es-
tava carecendo de algo crucial. Eu apenas não pen- creve, “É sempre sobre a epoché”? (Morley 2010).
so que isso seja igualmente verdadeiro para cada Eu obviamente discordo. Existem outras caracte-
aplicação não-filosófica da fenomenologia. rísticas da filosofia fenomenológica que são muito
A esse ponto, o psicólogo fenomenólogico mais relevantes para um pesquisador qualitativo
pode estar tentado a simplesmente apelar à autori- (cf. Gallagher e Zahavi 2012; Zahavi 2018; Zahavi e
dade de Husserl. Husserl argumentou que a psico- Martiny 2019).
logia fenomenológica requer a execução da epoché Permita-me como conclusão fazer um apon-
e da redução. Por que simplesmente não aderir às tamento histórico. Se se considera como a feno-
suas instruções? Em adição às razões já fornecidas menologia tem com sucesso sido aplicada em dis-
de porque isso seria uma má ideia, também deve ser ciplinas como psicologia, psiquiatria, sociologia,
indagado porque Husserl começou a mostrar esse antropologia etc., ao longo dos últimos 100 anos,
interesse em psicologia fenomenológica. A partir é notório como raramente é encontrada referência
do contexto, deveria ser óbvio que ele nunca con- e utilização da epoché e da redução, muito menos
siderou isso um fim em si mesmo, mas na verdade algum compromisso com o projeto transcendental
sempre um meio para alguma outra coisa, isto é, a de Husserl.
filosofia fenomenológica. Ao longo dos anos, Hus- Algumas das primeiras influentes aplicações
serl perseguiu diferentes estratégias quando referia- da fenomenologia foram nos campos da psicopa-
-se à atitude “não natural” do filosofar fenomeno- tologia e da psicologia experimental. Já em 1912,
lógico (cf. Kern 1962). Uma dessas estratégias foi o Jaspers publicou um curto artigo delineando como
caminho sobre a psicologia fenomenológica. Quan- a psiquiatria poderia beneficiar-se da fenomenolo-
do avaliado o trabalho de Husserl acerca do tópi- gia Husserliana (Jaspers 1912). Alguns anos depois,
co, é consequentemente importante ter em mente Minkowski refletiu sobre como a filosofia fenome-
que Husserl estava primordialmente interessado na nológica poderia ser relevante para a prática clínica
questão de como facilitar a entrada no pensamento e argumentou que o uso de um framework e uma
filosófico apropriado, e não em prover instruções abordagem fenomenológicos poderiam auxiliar o
concretas de como coletar e analisar dados ou como psiquiatra a compreender melhor o mundo do
conduzir entrevistas ou experimentos. Consequen- paciente. Ao mesmo tempo, entretanto, ele também
temente, parece ser um engano fundamentar pri- enfatizou como a filosofia fenomenológica poderia
mordialmente um framework metodológico nos aprender a partir de seu envolvimento com a psi-
apontamentos superficiais de Husserl sobre como quiatria e psicopatologia. Investigações psicopa-
desenvolver uma fenomenologia não-filosófica. tológicas, por exemplo, poderiam direcionar a um
refinamento das análises fenomenológicas, na me-
dida em que eles possam apontar para aspectos e di-
5 Conclusão mensões específicos da experiência que os filósofos
haviam negligenciado (Minkowski 1970, xxxix, 6,
Tradução

Qual é então o resultado dessas reflexões? 171). No campo da psicologia experimental, figuras
Como se espera que seja evidente, não estou pro- como Katz não apenas argumentaram que a fenome-
pondo que a fenomenologia não deve ser aplicada nologia de Husserl era indispensável à psicologia
ou que pesquisadores qualitativos não deveriam (Katz 1950, 18, 1999, 5), como também mostraram

339 Phenomenological Studies - Revista da Abordagem Gestáltica - XXV (3) - 332-341, 2019
Dan Zahavi

como insights e idéias da fenomenologia poderiam Gallagher, Shaun, and Dan Zahavi. 2012. The pheno-
direcionar a melhores experimentos e teorizações, menological mind, 2nd ed. London: Routledge.
assim como técnicas experimentais poderiam ser
usadas para refinar as observações e explorações fe- Giorgi, Amedeo. 1994. A phenomenological perspec-
nomenológicas, e assim tornar as descobertas mais tive on certain qualitative research methods.
confiáveis e acessíveis intersubjetivamente5. Journal of Phenomenological Psychology 25(2):
O que primariamente exerceu uma influência 190–220.
nestas e outras figuras contemporâneas como Schil-
der, Straus e Buytendijk frequentemente foram, Giorgi, Amedeo. 2010. Phenomenology and the prac-
entretanto, ideias já articuladas nas Investigações tice of science. Existential Analysis 21(1): 3–22.
Lógicas. Essas ideias incluíam a insistência na im- Giorgi, Amadeo. 2012. The descriptive phenomeno-
portância em tratar o fenômeno em sua completa logical psychological method. Journal of Pheno-
concretude, a importância de descrições sem pre- menological Psychology 43: 3–12.
conceitos, e a ambição de evitar o que Spiegelberg
chama de “o constrangimento do fenômeno pelas Husserl, Edmund. 1960. Cartesian meditations: An
teorias preconcebidas” (Spiegelberg 1972, 308)6. introduction to phenomenology, trans. D. Cair-
Em contraste, a insistência de Husserl na epoché ns. The Hague: Martinus Nijhoff.
e na redução, sua explícita defesa do idealismo
transcendental, sem mencionar suas conferências Husserl, Edmund. 1969. Formal and transcendental
sobre psicologia fenomenológica não parecem ter logic, trans. D. Cairns. The Hague: Martinus Ni-
tido tanto impacto -Buytendijk é conhecido por ter jhoff.
dito que as Conferências de Amsterdam de Husserl
fracassaram em impressioná-lo (Spiegelberg 1972, Husserl, Edmund. 1970. The crisis of European scien-
282). Spiegelberg finaliza sua impressionante pes- ces and transcendental phenomenology: An in-
quisa Phenomenology in Psychology and Psychiatry troduction to phenomenological philosophy,
argumentando que é urgente libertar-se de algumas trans. D. Carr. Evanston, IL: Northwestern Uni-
das tecnicalidades da filosofia de Husserl se é para versity Press.
ser possível um verdadeiro intercâmbio em ambas Husserl, Edmund. 1977. Phenomenological psycho-
as direções entre a psicologia e fenomenologia, e ele logy: Lectures, Summer Semester, 1925, trans. J.
explicitamente alerta contra um “retorno ortodoxo Scanlon. The Hague: Martinus Nijhoff.
à Husserl” (Spiegelberg 1972, 366). Nós deveríamos
nos perguntar qual abordagem produziu os resulta- Husserl, Edmund. 1982. Ideas pertaining to a pure
dos mais impressionantes, inovativos e influentes: phenomenology and to a phenomenological
a abordagem heterodoxa dos psiquiatras e psicólo- philosophy. First Book. General introduction to
gos fenomenológicos clássicos ou a recente e mais a pure phenomenology, transl. F. Kersten. The
ortodoxa abordagem de Giorgi e colegas. Hague: Martinus Nijhoff.
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berhaus. Dordrecht: Springer.
5 O que já encontramos naquela época é consequentemente um vívi-
do exemplo do que posteriormente tornou-se conhecido como uma relação
de mútua iluminação (Varela et al. 1991, 15) ou de esclarecimento mútuo Jaspers, Karl. 1912. Die phänomenologische Fors-
(Gallagher 1997). Não era uma questão de simplesmente importar e aplicar chungsrichtung in der Psychopathologie. Zeits-
idéias prontas de um lado para o outro; não era uma rua de via única da chrift für die gesamte Neurologie und Psychia-
filosofia para psicologia, mas um intercâmbio de mão dupla, onde ambos os trie 9: 391–408.
lados poderiam se beneficiar da interação.
Tradução

6 Nota do Tradutor: A citação que Zahavi faz de Spiegel- Katz, David. 1950. Gestalt psychology, trans. R. Ty-
berg é de difícil tradução literal, uma vez que refere-se à apli-
cação de “camisa de força” pelas teorias sobre os fenômenos. son. New York: Ronald Press.
No original: “premature strait-jacketing of the phenomena by
preconceived theories”.

Phenomenological Studies - Revista da Abordagem Gestáltica - XXV (3) - 332-341, 2019 340
Fenomenologia Aplicada: Porque é seguro ignorar a epoché

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