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Argumentação

No nosso dia-a-dia, sentimos imensa necessidade de utilizar a argumentação, para


justificar as nossas acções, quando queremos defendermos de alguma acusação, dar a nossa
opinião, ou até mesmo quando precisamos de discordar do ponto de vista de outra pessoa. E,
neste momento, argumentar é algo natural e espontâneo, que não exige qualquer esforço, e
portanto, argumentar agora, é meramente uma habilidade. Na verdade, sentimos
necessidade porque a realidade, não é evidente, ou seja, tem vários pontos de vista, e por isso,
nós queremos sempre convencer o outro de que o nosso ponto de vista é o melhor (objectivo
da argumentação).
Todavia, a argumentação pode ser ensinada, e aí, deixa de ser uma habilidade
inconsciente e passa a ser uma técnica rigorosa.
Um discurso argumentativo tem de ter obrigatoriamente:
 Orador/emissor – aquele que fala/argumenta e que tem de fazer passar a sua ideia;
 Auditório/receptor – aquele a quem nos dirigimos e que tem de ser convencido;
 Mensagem – tese fundamentada através das premissas
 Contexto do auditório – para uma tese ser bem-sucedida (ter muita adesão), o orador
tem de conhecer algumas características do auditório (como por exemplo, sonhos,
valores, crenças, etc.).
A argumentação utiliza uma linguagem com vários significados, ou seja, uma
linguagem natural, e isso provoca ideias erradas e pode ser contestada. É composto por
premissas discutíveis, o que torna o seu conteúdo igualmente discutível e como as premissas
são prováveis, a conclusão não será necessariamente verdadeira, portanto, a conclusão é
provável também.

Demonstração
Ao contrário da argumentação, a demonstração não pretende convencer o auditório
mas sim mostrar a relação necessária entre as premissas e a conclusão, e nem uma, nem
outra, podem ser discutidas uma vez que as premissas são necessariamente verdadeiras, e
como fundamentam a conclusão, esta também é necessariamente verdadeira.
Utiliza linguagem objectiva e rigorosa, portanto apenas tem um só significado. Como
é objectiva, não necessita da adesão do auditório nem necessita da opinião deste mesmo.
Contudo, pode ser contestada de uma maneira: através da sua forma, ou seja, ao analisarmos
o conteúdo, não há duvidas nem podemos discutir nada sobre isso, mas, ao analisarmos a
forma do discurso, podem (ou não) existir falhas a nível da forma, isto quer dizer que pode (ou
não) estar contra as regras da lógica.

A procura de adesão do auditório


Um argumento é considerado um conjunto de ferramentas que apoiam a tese. A
argumentação tem como fim provocar a adesão do auditório sobre determinada tese, porém,
só é bem-sucedida se o orador tiver um conhecimento prévio das características do auditório
que vai tentar convencer. Se o orador conhecer, por exemplo, as motivações, aspirações,
valores, e crenças do auditório, pode estar a garantir que a sua tese tenha uma grande adesão.

O discurso argumentativo apresenta as seguintes características:


 Auditório especifico;
 Tenta responder a necessidades, contudo, também as cria;
 Seduz uma vez que dirige um apelo específico à emoção/sensibilidade;
 Promessas veladas, ou seja, faz uma promessa feita inconscientemente, porque na
verdade não foi feita nenhuma promessa;
 Mensagens curtas e com pouca informação.

A argumentação e retórica têm alguns objectivos:


 Persuadir e convencer;
 Agradar, seduzir ou manipular;
 Fazer passar o verosímil;
 Sugerir o implícito pelo explícito.

Persuadir é o objectivo de um discurso quando se dirige a um auditório particular.


Convencer é o objectivo de um discurso quando se dirige a um auditório universal.
No caso do discurso argumentativo, ele utiliza ambas as técnicas (persuasão e
convencer), porém, o discurso demonstrativo, utiliza apenas a técnica de convencer.

Tipos de argumentação
Ethos (eu, individuo) - tipo de prova centrado no caracter do orador. Deve ser credível para
conseguir a confiança do seu auditório.

Pathos (emoções, sentimentos) – tipo de prova centrado no auditório. Deve ser


emocionalmente impressionado e seduzido.

Logos (razão) – tipo de prova centrado nos argumentos e no discurso. O discurso tem de
estar bem estruturado do ponto de vista lógica-argumentativo, de modo a que a tese se
imponha como verdadeira. As premissas não são discutíveis, logo, fundamentam
necessariamente a conclusão. Este é o tipo de argumentação que se utiliza quando o orador
não conhece nada a respeito do auditório, porque apesar de não saber nada sobre este, tem a
certeza de uma coisa: que todos os membros do auditório têm uma coisa em comum, a sua
racionalidade.

Retórica e Filosofia
A retórica e a filosofia nem sempre se entenderam. A retórica, sendo a arte de
convencer e persuadir, teve origem na Antiguidade, devendo-se aos sofistas a sua expansão.
Os sofistas eram professores que se dedicavam ao ensino dos jovens, dominavam a arte de
persuadir pela palavra. O seu ensino proporcionava aos cidadãos da Grécia antiga as técnicas
necessárias à participação na vida politica.
Se uma pessoa falasse bem, conseguia convencer as pessoas. Se soubermos usar bem
a palavra, levamos os outros a fazer o que quisermos.
Nesta altura, passou a existir a democracia, uma vez que era mais justa. Dizia-se que a
Democracia era o governo de todos para todos, ou seja, todos faziam as leis ( que tornava
logo este tipo de governo mais justo).
Os sofistas ensinavam retórica aos futuros políticos. Para eles, era mais importante
saber falar bem do que dizer a verdade, ser justo, porque quem soubesse falar bem, convencia
alguém sempre que quisesse. Os sofistas eram associados ao falso saber; aquele que detém a
sabedoria aparente, que faz uso de um raciocínio falacioso.
Para os filósofos o bem da cidade é universal e objectivo; e acusavam os sofistas de
ensinarem falsidades, erros, mentiras… o filósofo diz que o mais importante é saber e o seu
objectivo para agirmos melhor e sermos mais justos.
Os sofistas tinham imensos adeptos porque ensinavam o que a maior parte das
pessoas queria: poder. Eles ensinavam tudo, sem saber nada, porque apesar de parecer que os
sofistas eram muitos cultos (e eles próprios diziam que sabiam tudo), não o eram, na realidade
tinham muito poucos conhecimentos, tudo o que sabiam sobre algo era superficial. Para os
sofistas tudo era relativo, tudo podia ser defendido. A verdade válida era aquela que
conseguia mais adeptos.
Desde muito cedo que os sofistas entendem que o uso da palavra é mais eficaz do que
o conteúdo do próprio discurso. Acreditar e defender a verdade dos discursos é a verdade que
serve ao homem; e a verdade relativa feita à medida das necessidades e circunstâncias de
cada um.
A retorica era a arte de bem falar ou a técnica de persuadir para ganhar a adesão de
um certo auditório, para os filósofos a argumentação só pode servir a busca da verdade. Uma
boa argumentação é aquela que serve o filósofo da busca da verdade. Não interessa o
conteúdo, interessa apenas que seja aceite, que convença e persuada.
A busca da verdade é a tarefa do filósofo. A filosofia mão aceita o relativismo e
pretende inviabilizar a prática de uma retórica de meras aparências.
Com Aristóteles, a retorica torna-se um saber como todos os outros, uma disciplina que se
ocupa do verosímil. Pode fazer-se uso do bom ou do mau uso da retorica; a retorica não é
moral ou imoral, mas quem a utiliza.
No século XX a nova retórica encontra na argumentação o fundamento de uma nova
racionalidade, isto é, passa a considerar-se a sua importância no pensamento para o
conhecimento.
A filosofia demonstra que não quer a adesão do público, contudo, a retorica já
necessita da adesão do auditório.

Retórica e Democracia
Na Democracia é onde a retorica se evidencia. A igualdade perante a lei e o livre uso
da palavra fomentam a cidadania.
Tal como na Grécia antiga, hoje, nos países democráticos, a palavra continua a ser o
primeiro instrumento de defesa da liberdade e da igualdade dos direitos fundamentais do
individuo e do cidadão. A palavra substitui a violência física mas fomenta outro tipo de
violência (manipulação do conhecimento e das emoções). A democracia parece ser também
um terreno propício ao aumento da sedução, da manipulação da demagogia.

Persuasão e manipulação
Persuadir: levar alguém a aceitar ou optar por determinada posição. Todo o discurso
argumentativo tem por objectivo persuadir determinado auditório a adoptar as teses de dado
orador.
Não podemos confundir argumentação com manipulação.
Manipular: paralisar o juízo e em tudo fazer para que o receptor aceite uma ideia que
conscientemente não aceitaria.
A argumentação, ao contrário da manipulação, pressupõe a existência de actos de
comunicação livres entre o emissor e o receptor. A persuasão não nega a possibilidade de o
receptor poder aceitar ou recusar a mensagem. Pelo contrário, a argumentação persuasiva
deve permitir a posição e não a imposição.
Manipulação é uma prática abusiva do discurso, em que obriga o receptor a aderir a
dada mensagem. A persuasão pratica o discurso que tem como finalidade a livre adesão do
auditório à tese.

Devemos considerar a distinção entre a retorica branca e a retorica negra.

Critica, lucida e consciente das


diferentes formas e dos vários Uso ilegítimo do discurso porque
problemas que envolvem a visa enganar, iludir, manipular.
comunicação.

Deixamo-nos manipular porque não sabemos o que decidir, ou porque não queremos
assumir as responsabilidades da nossa opção e assim deixamos outros decidir por nós.

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