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Breve texto crítico sobre os textos "Considerações sobre o aprendizado da

performance musical" e "A unidade da consciência e a consciência das


unidades"

Eduardo Torres

O texto intitulado "Considerações sobre o aprendizado da performance musical", que será


aqui referido como texto 11, discute importantes assuntos que encontram-se atualmente na
vanguarda das discussões acerca da pedagogia de instrumentos musicais, sobretudo, mas por seu
comportamento, no ensino de música em geral. O que se discute é a irrelevância da criatividade nas
cartilhas de ensino tradicionais-oficiais e seu descompasso em relação as mudanças sociais
ocorridas na dinâmica do desenrolar de décadas. O texto ataca portanto, ao meu entender, a inibição
da criatividade no processo de formação musical nos conservatórios e a submissão à qual
formadores e formados se submetem, para bem ou para mal, e os resultados desse longo processo
que, ao que tudo indica, carece de atualizações. Serqueira vem trabalhando há algum tempo com a
pedagogia do piano, baseando suas reflexões sobretudo no trabalho do argentino Kaplan, "Teoria da
aprendizagem pianística", onde o autor ataca importantes pontos da pedagogia do piano sob uma
viés psicológico, dialogando com a psicologia cognitiva e conhecimentos sobre a habilidade
motoda. Destaco como uma constante no discurso de professores-músicos da área de ensino e
aprendizagem, seja da educação básica ou do ensino de instrumentos musicais é a presença da
discussão acerca da motivação, presente também nesse texto. Por fim, como resultado do estudo
proposto no texto, os autores propõe um "modelo de ensino e aprendizagem da Performance
musical", onde são atentos os pontos que são anteriormente discutidos como deficientes.
O texto 2, talvez por ser um texto do ano 2000, e estar talvez um pouco defasado já em
relação a teorias mais modernas, inicialmente destaca um dos elementos que tem dominado parte
dos estudos em motivação, como a reconhecida "Teoria do fluxo", do psicólogo Húngaro Mihaly
Csikszentmihaly, quando diz "quando o estudante entra em um estado modificado de consciência
(aqui ele está falando de emoção), parece esquecer-se de si mesmo e envolver-se totalmente com
a música, experimentando uma sensação de controle natural e espontâneo dos diversos
aspectos da performance, bem como um sentimento subsequente de realização e, até mesmo,
de transcendência". Sobre o estado de fluxo proposto por Csikszentmihaly, Araújo (2015) diz: "O
'estado de fluxo' é uma experiência vivenciada pelo indivíduo que, ao realizar uma atividade de
forma concentrada, perde a noção de tempo, sente alegria/satisfação e sensação de bem estar"
(p. 52) em conformidade, portanto, com sua intenção em discutir os "níveis da consciência",

1Para facilitar a discussão irei me referir aos textos "Considerações sobre o aprendizado da performance musical" e "A
unidade da consciência e a consciência das unidades" como respectivamente, texto 1 e texto 2.
enquanto averiguação de um suposto controle sobre os estados consciêntes – como se isso fosse
plenamente possível. O auor deixa de fora também – hoje talvez ele não deixasse – a questão da
emoção, que parece ter sido o elemento motivador para sua pesquisa, quando alega que "O interesse
pelo assunto surgiu a partir de vivências pessoais como instrumentista e professor em ocasiões nas
quais ocorriam modificações no estado mental do executante que possibilitavam a superação de
fatores limitantes da performance, como tensões, ansiedade e outros estados negativos, elevando
significamente o nível daquela performance". A frase em negrito denuncia as reais intenções do
autor, em consonância com pensamentos mais modernos sobre uma possível definição de "emoção",
conforme os pensamentos de Antônio Damásio ("O erro de Descartes") e Johnmarshall Reeve: "As
emoções são multidimensionais. Existem como fenômenos subjetivos, biológicos, sociais e com um
propósito" (2006 apud Izard, 1993)2. Para Reeve, as emoções são, entre outras coisas, motivos. Este
pensamento corrobora com a tese de que o pensamento do autor, se atualizado, seria voltado a
investigação das relações entre (o amplo universo das) emoções e o estado de fluxo, em particular,
já que de acordo com o pensamento de Reeve, a motivação para o estado de fluxo seria
proporcionado, entre outras coisas, através da dinâmica das emoções. Ao longo do texto o autor
explicita estar tratando desses assuntos quando alude à teoria do fluxo no relato de Gismonti,
mistura "desejo" com "motivação" em "Nivel de persona", e "sentimento" com "emoção". A
discussão "corpo-mente" também hoje estaria talvez superada pelo entendimento da mente
incorporada, onde não há uma cisão entre as o que o corpo "pensa" e a mente "faz". Segundo os
pensamentos mais modernos, ambos são co-atuantes. Visto que a finalidade hoje seria a aqui
reformada, o texto alude a pensamentos interessantes, sobretudo quando coloca estes pensamentos
através de porta-vozes, como Brahms e Gismonti, mostrando que estas questões estão presentes,
não de agora, mas desde muito tempo.
Ambos os textos expõe, em certo grau, a importância sobre o entendimento dos estados
psicológicos dos performers, ainda pouco discutidos, do autoconhecimento, a necessidade de
atualização nas práticas pedagógicas, etc, sob diferentes perspectivas.

Referências
ARAÚJO, R.C. Motivação para prática e aprendizagem da música. In: Estudos sobre Motivação e
Emoção em Cognição Musical. Araújo, R. C. E Ramos, D. (Orgs.) Curitiba: UFPR, 2015.
REEVE, Johnmarshall. Motivação e Emoção. Trad.: Pontes, Luís, A. F.; Machado, Stella. 4ª Ed. Rio
de Janeiro: LTC, 2006.

Obs: Como o texto tinha um formato mais "livre" optei por ser mais objetivo e afirmativo, explicando quando
necessário, mas sem me ater muito às regras formais.

2 Izard, C E. (1993). Innate and universal facial expressions: Evidence from developmental and cross-cultural
research. Psychological Bulletin, 115, 288-299.

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