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Eduardo Torres
1Para facilitar a discussão irei me referir aos textos "Considerações sobre o aprendizado da performance musical" e "A
unidade da consciência e a consciência das unidades" como respectivamente, texto 1 e texto 2.
enquanto averiguação de um suposto controle sobre os estados consciêntes – como se isso fosse
plenamente possível. O auor deixa de fora também – hoje talvez ele não deixasse – a questão da
emoção, que parece ter sido o elemento motivador para sua pesquisa, quando alega que "O interesse
pelo assunto surgiu a partir de vivências pessoais como instrumentista e professor em ocasiões nas
quais ocorriam modificações no estado mental do executante que possibilitavam a superação de
fatores limitantes da performance, como tensões, ansiedade e outros estados negativos, elevando
significamente o nível daquela performance". A frase em negrito denuncia as reais intenções do
autor, em consonância com pensamentos mais modernos sobre uma possível definição de "emoção",
conforme os pensamentos de Antônio Damásio ("O erro de Descartes") e Johnmarshall Reeve: "As
emoções são multidimensionais. Existem como fenômenos subjetivos, biológicos, sociais e com um
propósito" (2006 apud Izard, 1993)2. Para Reeve, as emoções são, entre outras coisas, motivos. Este
pensamento corrobora com a tese de que o pensamento do autor, se atualizado, seria voltado a
investigação das relações entre (o amplo universo das) emoções e o estado de fluxo, em particular,
já que de acordo com o pensamento de Reeve, a motivação para o estado de fluxo seria
proporcionado, entre outras coisas, através da dinâmica das emoções. Ao longo do texto o autor
explicita estar tratando desses assuntos quando alude à teoria do fluxo no relato de Gismonti,
mistura "desejo" com "motivação" em "Nivel de persona", e "sentimento" com "emoção". A
discussão "corpo-mente" também hoje estaria talvez superada pelo entendimento da mente
incorporada, onde não há uma cisão entre as o que o corpo "pensa" e a mente "faz". Segundo os
pensamentos mais modernos, ambos são co-atuantes. Visto que a finalidade hoje seria a aqui
reformada, o texto alude a pensamentos interessantes, sobretudo quando coloca estes pensamentos
através de porta-vozes, como Brahms e Gismonti, mostrando que estas questões estão presentes,
não de agora, mas desde muito tempo.
Ambos os textos expõe, em certo grau, a importância sobre o entendimento dos estados
psicológicos dos performers, ainda pouco discutidos, do autoconhecimento, a necessidade de
atualização nas práticas pedagógicas, etc, sob diferentes perspectivas.
Referências
ARAÚJO, R.C. Motivação para prática e aprendizagem da música. In: Estudos sobre Motivação e
Emoção em Cognição Musical. Araújo, R. C. E Ramos, D. (Orgs.) Curitiba: UFPR, 2015.
REEVE, Johnmarshall. Motivação e Emoção. Trad.: Pontes, Luís, A. F.; Machado, Stella. 4ª Ed. Rio
de Janeiro: LTC, 2006.
Obs: Como o texto tinha um formato mais "livre" optei por ser mais objetivo e afirmativo, explicando quando
necessário, mas sem me ater muito às regras formais.
2 Izard, C E. (1993). Innate and universal facial expressions: Evidence from developmental and cross-cultural
research. Psychological Bulletin, 115, 288-299.