Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Este pequeno texto, a título de introdução, carrega a intenção sincera de contribuir com a visão de
‘Corpo e Consciência para a Fenomenologia’ solicitada pelo professor Alejandro que juntamente com a
professora Laura, coordenam esta mesa redonda dos estudantes de psicologia do Uniceub cujo tema é
Introdução
O encontro com nossa corporeidade, com o corpo como o sinto, e não apenas como o vejo com meus
olhos físicos, surpreende, pois o corpo que comparece sob meu olhar pode se apresentar como um corpo
é uma linguagem. Os sentidos e as faculdades são dotados de razão e, em geral, expressam em sua
consciente.
Aprender a escutar a sensação do corpo-que revela, pela linguagem dos sentidos, o coração
da relação ser-no-mundo - faz da corporeidade o fator central da Fenomenologia.. A sensação,
A apercepção se dá, se a buscarmos intencionalmente e nos aproximarmos dela com certos modais de
presença e atenção.
Se algo não toca nossa corporeidade, nossa vida perde a espessura. Informação não gera conhecimento..
significa: eu percebo que percebo o que percebo. E a Fenomenologia como método científico, exige esse
modo qualificado de presença, e nos ensina o como, o modal, para essa qualidade de presença.
Aprender a aprender esse modo de ser no mundo, enraizado nos dados da situação, sem sobrevoá-lo
com nossos conceitos e juízos prévios, permite a qualidade “presente vivo” que se mostra e aparece. Nesse
modal de presença temos conhecimento direto. O óbvio que quer dizer - o que não necessita via de acesso - já é
Consciência, então, é sempre consciência de algo. Algo suscita minha atenção e, dependendo do modo
como me debruço sobre esse algo, um revelar, um desvelar autóctone – isto é, que nasce da própria terra – sem
estrangeirismos - se mostra e aparece. Essa relação circular é dependente, para seu desvelar-se, de um interesse
Mas, frequentemente, em situações de terapia onde deveria ter uma pessoa para
acompanhar outra, não há ninguém; apenas um profissional com olhar lógico, ocupado em
inteligir e colocar tudo em suas respectivas gavetas conforme aprendeu a conhecer. Ele
está cheio de projetos de ajuda... Porém, ao encontrar uma pessoa, não podemos ter
projetos sobre ela, pois isso a faz ficar com medo e comprometida com nossos projetos.
Assim, a manifestação autóctone da revelação fica, desde já, comprometida pelas nossas
expectativas.
Jung, que compreendeu a importância desse método, se referia a esse olhar, a essa presença
fenomenológica dizendo: - quando você estiver frente ao paciente coloque tudo o que sabe na gaveta, pois o
Podemos então dizer que o corpo em sua unidade inter-sensorial, é a casa dos sentidos - tanto externos
como internos, e “a sensação é um sentido especial, uma vez que permeia todos os outros” Abbagnano (1970).
Segundo Merleau-Ponty (l999) - o mundo é carne, e a carne maciça não subsiste sem a carne sutil. Elas
se sustentam mutuamente enquanto viventes. A sensação, sentido extraordinário, se enforma, isto é, toma
forma na carne e traduz a significação vital de cada momento. E mais ainda, o sensível em sua camada
originária, manifesta a ante-predicação do mundo sem que precisemos anteriormente acessar qualquer
Diz ainda: “ O que geralmente chamamos de sentir está baseado em nossos pré-juizos.” Fenomenologia
da Percepção (1999). Aperceber-se então, desse sentir originário, precisa do movimento intencional da
Há trinta anos trabalho com o corpo. Com RPG e Osteopatia Articular, que são práticas que contemplam
a complexidade e a globalidade. Mas a carne sutil, do meu corpo-próprio-fenomenal, acessei pela primeira vez,
sem querer, justo naquele momento de desligamento anterior ao sono. Desde então, turbada e perplexa com o
que percebi, debrucei-me intencionalmente sobre o corpo como o sinto, e acabei levando essa experiência para
o Mestrado em Psicologia, em uma dissertação que intitulei “A linguagem Silenciosa dos Sentidos”. Na
fenomenologia de Merleau-Ponty, encontrei o rigor dos modais exigidos pelo método fenomenológico,
exatamente do modo como tinha me observado, ao buscar aperceber-me daquele corpo diferente, depois da
primeira experiência. Esse acontecimento me surpreendeu, pois eu jamais tinha lido sobre fenomenologia como
determinadas situações... O mundo é misterioso e inabarcável, mas na presença qualificada nos modais da
Fenomenologia, a carne do mundo se revela. Desse lugar, meu corpo é um campo de presença. Não canso de
me surpreender com o que encontro em mim e nos relatos dos pacientes. As respostas são sempre
surpreendentes para ambos e se inscrevem no aumento de vitalidade, na melhora do tônus postural, do tônus
emocional, e claro, no modo como me relaciono com a carne do mundo. Por isso, parece que, a cada vez, mais
“Ora, essa carne que se vê e se toca não é toda a carne, nem essa corporeidade
maciça todo o corpo. A reversibilidade que define a carne existe em outros campos,
Para fenomenologia de Merleau-Ponty o que se move é o corpo fenomenal, e isto é muito fácil de
constatar. Quando o corpo anímico ou sutil, pela morte, se desliga do corpo físico, o corpo físico não mais se
nos deixou. Mas vocês o encontrarão em trabalhos acadêmicos, livros, e no Youtube. Um neurofenomenólogo
como ele mesmo se intitula. Seu trabalho e o trabalho de Merleau Ponty se encontram plenamente. Em seus
estudos iniciais junto com Maturana sobre autopoiesis - que é a capacidade da matéria viva de se auto-produzir,
e, sobre sua base reversível, buscar seu vetor para auto-ordenação, encontrei uma linguagem ainda mais clara,
para os resultados que se obtém e que são sempre surpreendentes: - o fenômeno, quando acompanhado de
modo concordante, se reverte para uma harmonização. Acompanhar já quer dizer – ir junto, na mesma direção.
A memorável frase de Lao Tsé: “No perfeito não fazer, o mundo se endireita”, é perfeitamente constatável,
Então... Experimentem.
Nossos corpos fenomenais são depositários de nosso vivido, de nossas experiências. E o conhecimento é como
o mundo, já estava aí antes de nós. Só precisamos acessá-lo e, para fenomenologia de Merleau-Ponty, e também
para Francisco Varela a enformação do corpo é o quê permite a apercepção. Isto por si só, como diz Merleau-
Ponty, já deveria ter mudado as bases de algumas escolas psicológicas e a prática da fisioterapia. E para
Varela, isso deveria ter mudado o nosso modo mesmo, de construir ciência. Segundo Varela em suas pesquisas
sobre percepção das cores, o corpo se enforma antes mesmo, que elas, (as cores), sejam apresentadas.
Segundo Varela, essa é uma das descobertas científicas mais importantes do século XX. Merleau-Ponty, em
seu livro Fenomenologia da Percepção já havia chegado ao mesmo resultado. E ainda mais. A cor enforma,
modela o meu campo-corpo do mesmo modo que enforma outros corpos. Isto mostra que temos universais
Esse modo de ser no mundo, no entanto, precisa que superemos muitos dos modos estabelecidos para
ultrapassar nossa herança civilizatória, que privilegiou de modo exagerado o pensar sobre o sentir, e nos
objetivo e toda a lista dual que conhecemos. Para Merleau-Ponty o espírito está presente quando o sujeito da
Se tivéssemos que consultar a biblioteca mental, onde guardamos nossas informações adquiridas e
classificadas, numa situação não habitual, já estaríamos mortos. O homem de Neanderthal não levava mais
Merleau-Ponty e Francisco Varela nos falam então, de uma consciência, de um saber pré-reflexivo
encarnado na experiência que, por um excesso ou uma falta, abrem caminho nos tecidos pelo direito e avesso,
por dentro e por fora, não como dois, mas como um tecido onde... regidos pelo silêncio, pelo indizível, pelo
impensável, pelo invisível, se, nos debruçarmos sobre o fenômeno em corpo presente, em um não-fazer-ativo,
poderão, talvez, manifestar-se como sonoro, como dizível, como visível, como pensável. Aprender a aprender
esse olhar, é nosso desafio. E isso definirá em grande escala qual será o nosso futuro.
Elenco abaixo mais algumas imagens de momentos pontuais da enformação de corpos fenomenais ou sutis.
Bibliografia.
https://bdtd.ucb.br:8443/jspui/bitstream/123456789/1873/1/Texto%20Completo.pdf