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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO - UNEMAT

MT ESCOLA DE TEATRO
CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIAS EM TEATRO

DÉBORA FERREIRA COMETTI

A MUDANÇA DO OLHAR DE COSTUREIRA PARA FIGURINISTA E CENÓGRAFA

CUIABÁ,MT
2020
DÉBORA FERREIRA COMETTI

A MUDANÇA DO OLHAR DE COSTUREIRA PARA FIGURINISTA E CENÓFRAFA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à MT


Escola de Teatro da Universidade do Estado de
Mato Grosso como requisito parcial para obtenção
do Certificado de Tecnólogo em Artes Cênicas.

Orientação: Everton Brito

CUIABÁ, MT
2020
SUMÁRIO

RESUMO.......................................................................................................................5
PRÓLOGO....................................................................................................................5
O princípio de mim.............................................................................................................................5
INTRODUÇÃO..............................................................................................................7
OBJETIVO GERAL.......................................................................................................8
OBJETIVO ESPECÍFICO..............................................................................................8
JUSTIFICATIVA............................................................................................................9
METODOLOGIA............................................................................................................9
Referências.................................................................................................................11
“Ensinar exige consciência do inacabamento. ” (Paulo Freire)
(Livro Pedagogia da autonomia pág 21, cap2)

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RESUMO

Este projeto tem como objetivo investigar a minha experiência no curso de


tecnologias em teatro na área de cenário e figurino, onde eu pude observar a
utilização das habilidades profissionais dos alunos na construção dos cenários e
figurinos durante o curso, e que ampliou a nossa percepção do processo
colaborativo (Araújo,1988).

Palavras-chave: trajetória; cartografia; cenografia e figurino; habilidades


profissionais; teatro colaborativo.

PRÓLOGO

O princípio de mim

Nasci na cidade de Cuiabá, no Estado de Mato Grosso, no dia 12 de junho de


1977, caçula de cinco filhos, sendo quadro meninas e um menino. Fui criada em um
lar cristão e todos os sábados nos arrumávamos com nossas melhores roupas para
irmos à igreja e foi lá que desenvolvi a arte do canto. Filha de mãe negra, capixaba,
e pai branco, mineiro. Daí nasci parda, de cabelos crespos, apelidada de sarará.
Pais de origem humilde, sempre estudei em escola pública. Meu sonho era
ser mecânica como o meu pai. Com ele eu passava as noites, em sua oficina,
deitada em cima de um saco de estopa, arranjado com carinho em um cantinho e ali
ficava até que ele desligasse as máquinas e fosse descansar. Depois de um dia de
trabalho meu pai ainda tinha forças para me levar dormindo para a cama.
Eu tinha uma rotina já traçada por mim mesma, acordava as 6:30, mamãe
cacheava meus cabelos, vestia o uniforme da escola, uma saia azul com duas
pregas macho na frente e duas atrás, uma camisa branca de botões contendo um
bolso do lado esquerdo, meias que iam até os joelhos e sapato modelo boneca da
marca Vulcabrás, ia para a escola, voltava, almoçava correndo para ir para oficina
de papai, essa foi a minha rotina dos seis aos dez anos. Com doze anos de idade

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fomos morar em Vitoria no Estado do Espirito Santo, lá minhas tias por parte de pai
me deram de presente um curso de corte e costura no SESI.
Naquela época aceitei o presente por educação pois o que eu queria mesmo
era me sujar com graxa, mas este presente veio a ser útil anos depois.
Com 17 anos ainda morando em Vitória do ES, conheci um mineiro tocador
de violão, com quem me casei e tive dois filhos, um menino e uma menina. De volta
a minha terra natal, agora precisava trabalhar para ajudar nas despesas de casa e
na criação dos filhos. Foi aí que aquele presente ao qual não dei valor, vez ou outra
me rendia algum dinheiro, fazendo concertos de roupas e devagar fui aprendendo a
confeccionar algumas peças, desde o traçado até a montagem. Trabalhei em
algumas fábricas de roupa, mas sempre com aquele sentimento de que não era bem
isso que me preenchia.
Pois bem, minha filha se casou e aí sim, o vazio dentro de casa me
incomodou muito. Agora, com 42 anos, pensei, acho que vou fazer uma faculdade
para preencher meu tempo. Só tinha um problema, não gosto de ler, não gosto de
escrever, odeio matemática, sempre quis ser peão de obra, andar com as unhas
cheias de graxa.
Tá. Vamos lá! Vamos fazer uma faculdade. Do nada meu mineiro chega em
casa e me apresenta um curso de teatro. TEATRO?!! O que eu vou fazer em um
teatro? E ele me fala que nesse curso tinha uma ênfase que poderia me interessar.
Figurinista, o que é isso? Ele me explicou que eu faria as roupas que os atores iriam
vestir nas apresentações. É ISSO!!!!, eu sou costureira!!!
Pronto! Está decidido. Vamos nos inscrever, porque só vou se você for. E lá
fomos nós, eu uma costureira que sabia cantar, e ele um contabilista (profissão
extinta) que sabia tocar violão. Nos inscrevemos, eu para Cenário e Figurino, e ele,
Atuação.
Logo que me matriculei no curso assisti a minha primeira peça de teatro, “No
Mundo de Hundertwasser”, inspirado na obra do artista austríaco Friedensreich
Hundertwasser. A peça de Raul Barretto e Helena Cerello, com direção de Álvaro
Assad, conta a história de Branca, uma menina que nunca teve contato com cores
de verdade e só se relacionava com as telas e as janelas por meio de seu
computador, tem um encontro com o artista, que apresenta a ela um mundo vivo,
cheio de cor e alegria, proporcionado pela natureza e a arte que dele brota.

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Foi nessa peça que nasceu meu encanto pelo teatro.

INTRODUÇÃO

Em 2019 me matriculei no curso Superior de Tecnologias em Teatro da MT


Escola de Teatro da Universidade Estadual de Mato Grosso/UNEMAT, que é
estruturado em quatro módulos, Verde, Amarelo, Azul e Vermelho. Cada módulo é
um semestre. O primeiro módulo, Verde, de fevereiro a junho de 2019, estudamos o
eixo pedagógico Personagem e Conflito com Operador Ingrid Dourmien Koudela 1, o
material “Faz de Conta na Infância”, O Imaginário nos Jogos Teatrais. O segundo
módulo, Amarelo, eixo Narratividade, Operador Achille Mbembe 2, no âmbito da
Necropolítica, de agosto a novembro de 2019, o material disparador foram notícias
de jornais a partir de junho de 2013. O terceiro módulo, Azul, eixo Performatividade,
Operador o livro “Elogio ao Amor”, de Alain Badiou 3 e Nicolas Truong4, fevereiro e
março de 2020, e depois na quarentena da COVID-19, de março a setembro de
2020, “A Casa Subjetiva” de Ludmila Brandão 5. Na grade curricular ao longo do
1
Ingrid Dormien Koudela. Escritora, tradutora, encenadora e professora universitária brasileira, uma
das figuras centrais no estudo da pedagogia e didática do teatro. Principal desenvolvedora do sistema
de jogos teatrais e do pensamento de Viola Spolin em seu país, tendo traduzido toda sua obra ao
português. Wikipédia
2
Joseph-Achille Mbembe, conhecido como Achille Mbembe, é um filósofo, teórico político, historiador,
intelectual e professor universitário camaronês. Wikipédia
3
Alain Badiou é um filósofo, dramaturgo e novelista francês nascido em Marrocos. É conhecido por
sua militância maoísta, por sua defesa do comunismo e dos trabalhadores estrangeiros em situação
irregular na França. Wikipédia
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Nicolas Truong é um jornalista francês que dirige a seção “Ideias - Debates” do Mundo do jornal
francês Le Monde. Responsável pelo “Teatro de ideias” do festival de Avignon entre 2004 e 2013, em
2012 dirigiu o “Projeto Luciole”, uma adaptação teatral de textos do pensamento crítico, então em
2016 ” Entrevista". Wikipedia
5
Graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal Fluminense (1982), graduação
em História pela Universidade Federal de Mato Grosso (1995), mestrado em Educação pela
Universidade Federal de Mato Grosso (1993) e doutorado em Comunicação e Semiótica pela
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1999). Pós-doutorado (2004-2005) na Université
d'Ottawa (Canada), com bolsa CAPES, na área de Crítica da Cultura. Professora Titular da
Universidade Federal de Mato Grosso. Foi Coordenadora da Pró-Reitoria de Ensino de Pós-
Graduação da UFMT (2013-2016). Fundadora e primeira Coordenadora do Programa de Pós-
Graduação em Estudos de Cultura Contemporânea - Área Interdisciplinar / Mestrado e Doutorado
nota 4 - da UFMT (2008-2011). É líder do Núcleo de Estudos do Contemporâneo (UFMT/CNPq). É
membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte - ABCA e foi Curadora do Museu de Arte e
Cultura Popular da UFMT (MACP/UFMT). Coordena o site Visual Virtual MT resultado de projeto
financiado pela CAPES. Atua no campo da Análise e da Crítica Cultural, da Crítica de Arte, no debate
sobre a colonialidade do saber e da arte. Principal publicação: A Casa Subjetiva: matérias, afectos e
7
curso as disciplinas são: literatura, território, TCC, Experimento e especificas nas
áreas de Atuação, Iluminação, Direção, Produção, Sonoplastia, Dramaturgia e
Cenário e Figurino.
Iniciei o curso com ênfase em Cenário e Figurino. Iniciava ali uma caminhada
com muitas expectativas e sonhos, porém logo me deparei com uma sensação de
peixe fora d’água. Na minha cabeça uma pergunta insistente: O que uma costureira
quer com teatro? O simples fato de saber que atores usam figurino não me
convencia.
No primeiro dia de aula esse questionamento acentuou quando começamos a
nos apresentar. Arquitetos, designers e decoradores. Faltou-me ver o lado positivo:
eu era a única costureira entre os aprendizes, mais para frente eu viria descobrir que
esse não era o único ponto positivo.
Meu anseio é que minha experiência sirva para motivar e estimular outras
pessoas que, como eu, possam se sentir deslocada ou desmotivada ao iniciarem
uma jornada em qualquer área da vida.

OBJETIVO GERAL

Produzir um artigo que relate o meu processo artístico como aprendiz na área
de cenário e figurino na MT Escola de Teatro da Universidade do Estado de Mato
Grosso/UNEMAT, percorrendo os Módulos; verde, eixo Personagem e Conflito;
amarelo, eixo Narratividade; azul, eixo Performatividade e por fim o módulo
vermelho onde temos a oportunidade de escolher o eixo.

OBJETIVO ESPECÍFICO

Utilizar minha própria experiência de dificuldades em me sentir figurinista e


cenógrafa e não apenas costureira;

Colher relatos de colegas através de questionário correspondente (Observar e


aprender com meus colegas);
espaços domésticos (São Paulo: Perspectiva, 2008, 1 reimpressão). Lattes iD
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Proposta de investigação com a minha cartografia. Traçar o meu trajeto;

Pesquisar relatos semelhantes à minha dificuldade de me sentir inserida no


ambiente artístico;

Evitar que pessoas desistam do curso nesta ênfase.

JUSTIFICATIVA

Com esse trabalho espero minimizar a angustia e sensação de intrusão que


qualquer pessoa pode sentir ao iniciar uma jornada coletiva, seja ela qual for e
diminuir a evasão ou desistência de prosseguir, que foi um fato recorrente no
período de 2019 e 2020, especificamente na minha área.

Na minha experiência ao entrar no curso de teatro, na MT Escola de Teatro da


Universidade do Estado de Mato Grosso/UNEMAT, ênfase Cenário e Figurino, a
maior dificuldade foi me convencer que eu era capaz de seguir o curso até o fim.

METODOLOGIA

A metodologia deste trabalho será desenvolvida através das observações dos


processos de criação ao longo do curso e algumas pesquisas bibliográficas,
destacando principalmente O Processo Colaborativo no Teatro. Este percurso será
formado através da utilização dos conceitos da cartografia.

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Segundo Kleber Prado Filho6 e Marcela Montalvão Teti 7, o termo "cartografia"
utiliza especificidades da geografia para criar relações de diferença entre "territórios"
e dar conta de um "espaço". Assim, "Cartografia" é um termo que faz referência à
ideia de "mapa", contrapondo à topologia quantitativa, que caracteriza o terreno de
forma estática e extensa, uma outra de cunho dinâmico, que procura capturar
intensidades, ou seja, disponível ao registro do acompanhamento das
transformações decorrias no terreno percorrido e à implicação do sujeito percebedor
no mundo cartografado. (FONSECA e KIRST, 2003, p.92).

Sabendo o que é metodologia cartográfica, vou traçar uma trajetória dos


acontecimentos e atravessamentos que tive no decorrer do curso e também algumas
experiências dos meus colegas da área Cenário e Figurino.

Um exemplo de acontecimentos que me marcaram positivamente foi quando


um núcleo, que não era o meu, ficou sem nenhum aprendiz de Cenário e Figurino e
os aprendizes de todas as ênfases, que faço questão de citar, as áreas de
Iluminação, Sonoplastia, Produção, Atuação, Direção e Dramaturgia. Todo mundo se
uniu para construir o cenário e os figurinos. Até onze horas da noite e um pouco mais
estávamos todos lá na escola, abrindo sacola, separando, costurando, fazendo de
tudo. E foi neste acontecimento que tive a oportunidade de compartilhar um pouco da

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Graduado em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (1977) com mestrado
em Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina (1989) e doutorado em Sociologia pela
Universidade de São Paulo (1998), além de pós-doutorado em História pela Unicamp (2005). Professor
aposentado do departamento de Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina, onde atuou até
28/02/2015 na graduação e pós-graduação. Autor de livros e vários artigos relativos a temas como
ética, subjetividade, poder, metodologia, epistemologia e história da psicologia, desenvolvidos a partir
da perspectiva teórica de Michel Foucault Atualmente professor efetivo da Fundação Universitária Alto
Vale do Rio do Peixe - UNIARP - em Caçador, Santa Catarina, nos cursos de Pós Graduação em
Desenvolvimento e Sociedade e do Mestrado Profissional em Educação Básica, desenvolvendo
atividades de ensino, pesquisa e extensão. Membro Integrante do Grupo de pesquisa Interdisciplinar de
Estudos em Saúde (GIES) da UNIARP. Escavador.com
7
Possui graduação em Psicologia pela Universidade Federal de Sergipe (2007), graduação em
Psicologia Licenciatura pela Universidade Federal de Sergipe (2006), mestrado em Psicologia pela
Universidade Federal de Santa Catarina (2010) e doutorado em Psicologia pela Universidade Federal
do Rio de Janeiro (2015). Atualmente, é pesquisadora docente na Universidade Federal de Santa
Catarina e da Universidade Federal de Sergipe, pesquisadora do Conselho Regional de Psicologia 19a
Região (SE), pesquisadora e militante em psicologia social, como coordenadora do Núcleo Sergipe da
ABRAPSO e vice-presidente da Regional Nordeste (2018-2019), professora nas Faculdades Integradas
de Sergipe, níveis de graduação, e da Faculdade São Luís de França - Grupo Tiradentes, níveis de
Graduação e de Pós-graduação. É pesquisadora docente, recém doutora, do GT da ANPPEP,
vinculado à Universidade de Brasília. Tem experiência na área de Psicologia Clínica, Psicologia Social e
Psicologia Urbana, com ênfase em Transformações Urbanas, Processos urbanos de Turistificação,
Metodologia de Pesquisa em Psicologia, em Educação, Gênero e Direitos Humanos, atuando
principalmente nas áreas de Relações Interpessoais e Processos Organizacionais.
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minha experiência como costureira. E foi neste dia que a sensação de peixe fora
d’água começou a se dissipar, pois ali recebi e compartilhei.

Referências:

Kleber Prado Filho. A Cartografia com método para as ciências humanas e


sociais. Barbarói, Santa Cruz do Sul, n.38, p., jan./jun. 2013 Universidade Federal
de Santa Catarina. Santa Catarina

Marcela Montalvão Teti. A Cartografia com método para as ciências humanas e


sociais. Barbarói, Santa Cruz do Sul, n.38, p., jan./jun. 2013 Universidade Federal
de Santa Catarina. Santa Catarina

Araújo, A. (2006). O processo colaborativo no Teatro da Vertigem. Sala Preta, 6,


127-133. https://doi.org/10.11606/issn.2238-3867.v6i0p127-133

Silva, Amabilis de Jesus da. Figurino – penetrante: um estudo sobre a


desestabilização das hierarquias em cena / Amabilis de Jesus da Silva. - 2010.
182 f.: il.

SILVA, Antônio Apolinário da. Para além do figurino: “peles em processo” como
dispositivo criativo para atores e atrizes na sala de ensaio. 2017. 143 f.
Dissertação (Mestrado em Artes Cênicas) – Instituto de Filosofia, Artes e Cultura,
Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 2017

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