Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Presidente:
Editoração
Classe Desembargador
Coordenação Administrativa Luiz Carlos de Barros Figueiredo
Danielle Freire Bernhoeft Vice-Presidente:
Hugo Lustosa Belfort do Nascimento Classe Desembargador
Agenor Ferreira de Lima Filho
Revisão
Desembargador Eleitoral:
Joelma Barbosa dos Santos
Classe Juiz de Direito
Gabriel de Oliveira Cavalcanti Filho
Unidade responsável pela organização Corregedor Regional Eleitoral:
Escola Judiciária Eleitoral Des. Virgínio Marques Carneiro Classe Juiz de Direito
Leão - EJE/PE
Alexandre Freire Pimentel
Composição
ESCOLA JUDICIÁRIA ELEITORAL
Diretor:
Delmiro Dantas Campos Neto
Vice-Diretor:
José Raimundo dos Santos Costa
Coordenador:
Eduardo Sérgio Japiassú Correia Lima
Servidores:
Amanda Cristina Martins de Lima
Ana Claudia de Andrade Lima Duarte
Danielle Freire Bernhoeft
Gilvan Ribeiro de Medonça Conselho Editorial
Giovanna de Aguiar Dalla-Riva
Hugo Lustosa Belfort do Nascimento Instituído pelo Edital 02/18, publicado no Diário
Joelma Barbosa dos Santos de Justiça Eletrônico em 02 de agosto de 2018.
José Jeovane Vieira Ramos
Liziane Oliveira Maggi Dr. Gustavo Ramiro Costa Neto
(Presidente do Conselho Editorial)
DE PARTICIPAÇÃO POPULAR DA
CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA1
Renan Apolônio2
Artigos
POPULAR DA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA dedicam a escolher entre opções políticas.
A Constituição de 1988 é a mais
democrática da história brasileira. Os membros
Renan Apolônio da Assembleia Constitucional que fizeram
essa Carta Magna estavam evidentemente
preocupados com a democratização do país,
RESUMO: já que no momento se vivia um período de
transição e abertura política após anos de
Este artigo analisa a participação da população governo militar, onde a participação do povo
brasileira na formação da política estatal, do como eleitor era bastante restrita - e às vezes
ponto de vista jurídico-constitucional, através totalmente ignorado pelos autocratas.
de uma pesquisa doutrinária, sem esquecer Um dos exemplos dessa intenção dos
de observar dados da prática política real. constituintes brasileiros por democratizar as
Tem-se como ponto de partida o artigo 14 da instituições políticas é a inclusão no parágrafo
Constituição Federal, o qual aparentemente único do artigo 1º da expressão “Todo poder
indica como formas de exercício direto do poder emana do povo”, que também estava presente
por parte do povo os institutos do Referendo, em todas as Constituições a partir de 1934, mas
do Plebiscito e da Iniciativa Popular. Estes três raramente foi observado. O mesmo parágrafo
institutos jurídicos são analisados e, a respeito continua a dizer que o poder, que emana do
deles, se procura responder a questões como povo, é exercido pelo povo, seja por meio de
as seguintes: em que medida a referência a seus representantes ou diretamente.
referendo, plebiscito e iniciativa popular de Outro exemplo é o artigo 14 da Constituição
leis na Constituição os torna, de fato, o nosso da República Brasileira, o qual inclui em seus três
sistema político um sistema democrático? incisos o Plebiscito, o Referendo e a Iniciativa
Pode-se dizer que a só menção no texto legal faz Popular como meios de exercício da soberania
com que esses institutos sejam efetivamente a popular, aparentemente numa tentativa de dar
expressão da vontade popular? Ou que, através efetividade à previsão do artigo 1º do exercício
deles, as pessoas decidem de forma direta e direto do poder por parte do povo.
soberana sobre os negócios públicos? Como Assim, está determinado, a partir das
conclusões, apontamos a insuficiência desses primeiras regras constitucionais - que, por
direitos constitucionais como consequência das sua vez, são as primeiras normas legais da
próprias normas jurídicas, que dificultam seu Sociedade - que existe, por um lado, o poder
exercício, e do atraso tecnológico em que as popular de eleger os governantes, e, da
instituições políticas brasileiras se encontram, mesma forma, persiste o poder popular de agir
entrando em descompasso com a população diretamente, sem a necessidade da autuação
nacional. de representantes eleitos.
A grande questão, no entanto, é: em que
Palavras-chave: Participação política. medida a referência a referendo, plebiscito e
Referendo. Plebiscito. Iniciativa popular. iniciativa popular de leis na Constituição os
Direitos políticos. torna, de fato, o nosso sistema político um
sistema democrático? Pode-se dizer que a
1 INTRODUÇÃO só menção no texto legal faz com que esses
institutos sejam efetivamente a expressão da
O presente trabalho é dedicado a explicar vontade popular? Ou que, através deles, as
a questão da participação da população pessoas decidem de forma direta e soberana
brasileira no processo de decisões políticas do sobre os negócios públicos?
Estado, do ponto de vista jurídico-constitucional Sobre isso de dedicará este trabalho.
e com base na doutrina jurídica brasileira, em
relação ao que pode ser chamado de sufrágio
consultivo, isto é, a participação dos eleitores
por meio de votações que não se destinam
sobre os assuntos políticos, em nome do povo. XX, o Estado Liberal foi perdendo sua força
Artigos
Ambas as possibilidades são aceitas pela nossa ideológica, sendo por fim superado pelo Estado
Constituição. Social. Nesse novo contexto democrático do
O termo sufrágio, por vezes, é usado na Estado Constitucional, os direitos políticos
Constituição para expressar a participação foram consideravelmente ampliados, não se
dos cidadãos nas decisões políticas do país. limitando apenas ao sufrágio eletivo.
Como se verá mais detidamente em seguida, o Foram incluídos novos mecanismos ou
sufrágio é mais que o direito de votar. É o direito instrumentos de manifestação da soberania
de participar das eleições votando, e, quando popular, como o sufrágio consultivo (p. ex.
desejar, sendo candidato. Esse é o sufrágio plebiscito e referendo); a possibilidade de
eletivo, quando se escolhem os representantes os cidadãos criarem propostas de inovação
políticos para os cargos eletivos. legislativa (iniciativa popular); a possibilidade
Além disso, A Constituição também possibilita de os cidadãos apresentarem denúncias de
a realização de plebiscitos e referendos, como atos administrativos ou normativos lesivos a
forma de consulta popular. É o chamado certos princípios da democracia constitucional
sufrágio consultivo – sobre estes instrumentos (p. ex. ação popular), entre outros.
de participação direta do eleitorado tratar-se-á Desta forma, o sufrágio eletivo e os sistemas
de modo específico, mais adiante. representativos perderam a condição de únicos
fatores legitimadores do Estado Democrático.
4 O SURGIMENTO HISTÓRICO DO SUFRÁGIO No entanto, esse processo histórico não
significou uma desvalorização do sufrágio
Foi este princípio que presidiu a superação representativo. Antes, porém, o que se verificou
do Estado Absolutista pelo Estado Liberal: a foi justamente um considerável avanço político
crença de que a soberania nacional residia na e jurídico no instituto do sufrágio.
soberania popular, manifestada por meio de De fato, esse instituto foi enriquecido com uma
representantes eleitos pelos cidadãos políticos série de princípios jurídicos, fruto de intensas
em sufrágio. lutas políticas, que reforçaram seu caráter
Os ideais que emergiram nas Revoluções democrático, como a instituição do sufrágio
Liberais do século XVIII – sobretudo na universal, direto, secreto, igual e periódico.
Americana e na Francesa – inauguraram nova
era na compreensão a respeito dos direitos 5 REPRESENTAÇÃO E PARTICIPAÇÃO NA
políticos. Ainda que desde a antiguidade CONSTITUIÇÃO DE 1988
sempre se nutriu o conhecimento acerca
desse tema, somente com os postulados A Constituição federal, além de normatizar
Liberais receberam os direitos políticos o sufrágio eletivo, também possibilita a
maior consideração. Desenvolveram-se os realização de plebiscitos e referendos, como
conceitos de soberanos nacional e popular, forma de consulta popular. É o chamado
de representação, sufrágio, e de direitos sufrágio consultivo.
fundamentais, positivados, principalmente, Esses dois instrumentos de consulta à
nas normas jurídicas tidas como superiores população cumprem importante papel no
hierarquicamente – as Constituições liberais. nosso sistema político, para afirmar o caráter
O postulado principiológico que informou, democrático e representativo e, sobretudo,
então, a superação do Estado Absolutista participativo de nosso sistema político.
pelo Estado Liberal foi o sufrágio. Essa Retomando o que foi tratado a pouco, no
noção, contudo, se mostrou insuficiente para capítulo sobre os Princípios Político-Eleitorais,
satisfazer tanto a necessidade de definir os nossa Constituição, no caput do Artigo 1º
direitos políticos quanto a necessidade de afirma ser o Brasil um “Estado Democrático de
conferir a esses direitos maior efetividade, Direito”, e, no parágrafo único desse mesmo
uma vez que se fundamentava unicamente no artigo, afirma que “Todo o poder emana do
sufrágio eletivo como fator legitimador de todo povo, que o exerce por meio de representantes
o sistema político constitucional. eleitos ou diretamente, nos termos desta
Ao longo do século XIX, e no início do século Constituição”.
plebiscito”. Entende-se, contudo, que não tributo, esse deveria ser o caminho a seguir,
Artigos
há diferença prática entre “convocar” e tendo o Congresso o dever de elaborar a lei
“autorizar”. Plebiscito e Referendo somente que instituiria o tributo.
ocorrem quando convier ao Congresso Nacional, A desvantagem da consulta popular via
não importando se se fala em “convocar” ou Plebiscito é que, apesar de que a decisão do
“autorizar”. eleitorado deve ser seguida pelos órgãos
A palavra “autorizar” poderia levar à ideia representativos, estes é que decidirão de fato
de que o Congresso recebe uma solicitação como a medida de efetivará, como se realizará
para se realize um referendo, enquanto que a de fato aquilo que foi aprovado.
palavra “convocar” poderia levar a entender Já o Referendo é realizado depois de ser
que os plebiscitos somente podem ocorrer por elaborada a lei, mas antes de ela entrar em
iniciativa do próprio Congresso. vigor (antes de começar a viger, pois ainda
No entanto, ambos são possíveis - na prática é um projeto de lei), podendo a população
constitucional, o plebiscito e o referendo aprovar o projeto aprovado pelo Congresso ou
devem ser “autorizados” e “convocados” rejeitá-lo.
pelo Congresso Nacional - mesmo porque o Usando o mesmo exemplo dado acima, caso
comparecimento formal para aqueles com o tema em questão fosse a criação de um
mais de dezoito e menos de setenta anos é tributo, então o projeto de tributação já estaria
obrigatório, conforme previsto no artigo 14, §1, pronto, dependendo apenas da aprovação
I e II. popular para valer, devendo a população votar
objetivamente a favor ou contra esse projeto.
7 CARACTERÍSTICAS DO PLEBISCITO E DO A desvantagem do Referendo é que as pessoas
REFERENDO com opiniões intermediárias (que, por exemplo,
fossem a favor da tributação, mas não da forma
Nessas ocasiões, os cidadãos são convocados como estava sendo proposta), acabam tendo
para opinar objetivamente a favor ou contra suas opções reduzidas a um binômio – sim ou
determinada proposta específica (a favor ou não.
contra o desarmamento, por exemplo), ou para
optar entre duas ou mais propostas (exemplo, 8 A INEFICÁCIA DA CONSULTA POPULAR
monarquia ou república, presidencialismo ou
parlamentarismo). Nada impede, inclusive, que, havendo rejeição
A diferença entre o Plebiscito e o Referendo está popular em plebiscito ou em referendo,
no momento do processo de decisão em que se posteriormente, um novo projeto de lei tramite
consulta a população, e, por conseguinte, no e seja aprovado no Congresso Nacional sem
efeito que a expressão da opinião popular tem nova consulta popular, em contrariedade
nesse processo decisório. a o que foi manifestado pelo eleitorado em
O Plebiscito é essencialmente uma consulta Plebiscito ou Referendo.
prévia, realizada antes de se elaborar a norma, Nada, também, impede a mora de legislador.
por exemplo, no início do processo legislativo. Como afirmado acima, o Plebiscito e o
No Plebiscito, a população deverá opinar sobre Referendo são parte importante do nosso
ideias ainda preliminares, ainda em aberto, sistema democrático, embora desde que
cabendo ao Congresso elaborar a legislação nossa Constituição entrou em vigor apenas
que lhe aprouver, ficando vinculado, limitado, uma vez se realizou um Plebiscito (em 1993,
contudo, à resposta dada pelo eleitorado. em que se optou entre Monarquia, República,
Por exemplo, se fosse convocado um Plebiscito Presidencialismo ou Parlamentarismo5) e um
sobre um projeto de lei que crie um novo Referendo (no ano de 2005, sobre o comércio
tributo, e a população fosse contra tal projeto, de armas de fogo e munições)6. Ainda assim,
então o Congresso estaria condicionado a tal 5 Mais informações sobre o Plebiscito de 1993
resultado, impedido de aprovar a proposta, podem ser consultadas no site do TSE: http://www.tse.jus.
uma vez que já foi rejeitada pelo povo, de br/eleicoes/plebiscitos-e-referendos/plebiscito-de-1993
6 A esse respeito, também sugerimos a consulta ao
quem emana o poder. Caso contrário, caso a site do TSE: http://www.tse.jus.br/eleicoes/plebiscitos-e-
população se mostrasse a favor da criação do referendos/referendo-2005
sistema político está aberto à expressão Tais considerações nos levam a concluir que,
popular além das eleições periódicas. embora a Constituição mencione a possibilidade
No entanto, não é apenas a simples presença de o povo exercer poder político diretamente,
dessas duas palavras no Texto Constitucional a mesma Constituição não previu nenhuma
que garante que vivemos numa democracia. maneira real pela qual isso possa acontecer.
O historiador Marco Antonio Villa, no livro A Plebiscitos, Referendos, Iniciativa Popular, etc.,
História das Constituições Brasileiras, lembra como constantes em nossa Constituição, são
que apesar de que a Constituição brasileira de somente meios de participação, de colaboração
1937 usar nove vezes a expressão “plebiscito”, dos representados com seus representantes.
não foi realizado nenhum plebiscito enquanto A previsão da possibilidade de realização de
aquela foi a Constituição do Brasil. Aliás, foi Plebiscitos e Referendos não exclui o caráter
durante o período da Constituição de 1937 eminentemente representativo do sistema
que o Brasil viveu um dos momentos menos democrático de nossa Constituição. O que nossa
democráticos da sua história. Lei Fundamental de fato criou foi um sistema
Marco Antonio também nos diz o seguinte, representativo, e não semi-representativo, ou
como alerta para o uso dos plebiscitos e semi-direto, como facilmente pode ser lido na
referendos: corriqueira doutrina.
O uso do plebiscito foi uma das Vê-se, com isso, que o Plebiscito e o Referendo
características das ditaduras fascista não são propriamente “instrumentos de
e nazista nas décadas de 1920 e 1930, democracia direta”, como por vezes são
sempre com o intuito de buscar apoio chamados, mas, no caso do sistema político
popular a uma medida já em curso. Ao brasileiro, são instrumentos de democracia
criar a polarização (contra ou a favor), representativa, que também é participativa
permita às ditaduras estabelecer um (mas prevalece a representação), pois há uma
clima de alta tensão política, facilitando a interação com a população, uma interação
repressão da oposição7. entre Representantes e Eleitores.
Pois acontece que, apesar de haver uma
Contudo, apesar do devido cuidado que consulta ao eleitorado, esta só é realizada por
deve haver para garantir que não ocorram convocação do Congresso Nacional – não há
manipulações da população por parte dos possibilidade de ser convocada por iniciativa
ocupantes do poder, não podemos considerar popular. E, mesmo realizada a consulta, sempre
o plebiscito ou o referendo, em si mesmos, terá como objeto uma deliberação congressual.
ruins para a democracia. Em suma, não são, nem o Plebiscito nem
Se usados com sabedoria e respeito à o Referendo, maneiras de exercer o poder
Constituição e aos princípios do sistema diretamente, mas sim são modalidades de
democrático, poderão ser extremamente participação, consulta do Congresso Nacional
benéficos para a legitimação de decisões ao eleitorado, estando claro o caráter de ambos
importantes na vida de nosso país. Isso, no os institutos como instrumentos de Sufrágio
entanto, faria necessário operar algumas Consultivo.
reformas no regime jurídico da consulta
popular. 9 A INICIATIVA POPULAR
Algumas alterações possíveis seriam, por
exemplo, a obrigatoriedade de se realizar Como visto quando abordado o tema do
Plebiscito e/ou Referendo para alterar lei que sufrágio, inclui-se entre os direitos do sufrágio,
trate de certos assuntos, ou para se emendar o direito à iniciativa popular. Em geral, pouca
a Constituição por exemplo; a vedação à atenção se dá a este tópico, inclusive – mas
tramitação de projeto de Lei ou de Emenda não unicamente – porque tem sido pouquíssimo
que esteja em discordância com o decidido em utilizado – ou mesmo subutilizado, como se
Consulta popular pelo prazo de alguns anos; verá.
7 VILLA, Marco Antonio. A História das Constituições
Apesar de ser um instituto democrático, não
Brasileiras. São Paulo: Leya, 2011. p. 76. temos razões para acreditar que, na prática
Artigos
contribuído efetivamente para a consolidação
da democracia, preconizada na Constituição Em síntese, para se criar um partido, é
federal. E há basicamente duas razões para necessário apenas que se obtenha o apoio
isso. de uma quantidade de eleitores pelo menos
A primeira razão é a ausência de tratamento igual a meio por cento da quantidade de
especial para o trâmite do projeto de iniciativa votos válidos contados na última eleição para
popular no Congresso Nacional. A Constituição deputado federal. E – frise-se – os eleitores que
é totalmente omissa a esse respeito. A norma “apoiem” a criação desse partido não precisam
infraconstitucional é igualmente omissa, filiar-se a eles.
negando à iniciativa popular qualquer Enquanto que, para se propor à Câmara um
tratamento privilegiado8. projeto de lei de iniciativa popular, é necessário
A segunda razão para a ineficácia da iniciativa um por cento, não dos votos válidos na última
popular de projetos de lei é que há uma eleição à Câmara Federal, mas de todo o
enorme dificuldade prática para se obter e eleitorado nacional.
apurar a quantidade de subscrições constantes Aplicando estatisticamente esses percentuais
no projeto popular, somente após o que seria nas quatro primeiras eleições à Câmara dos
possível o início de sua tramitação. Deputados ocorridas no Século XXI, obtêm-se
A Constituição, ao tratar do processo os seguintes dados10:
legislativo, determina, em seu art. 61, §2º, que
a iniciativa popular deverá ser apresentada Dados para apresentação de Iniciativa Popular e criação
à Câmara dos Deputados, o que não poderia de Partido Político
ser diferente, já que esta é a casa composta Ano 2002 2006 2010 2014
pelos representantes do povo, como preceitua
o caput do art. 45. Eleitorado Nacional11 115.253.834 125.764.981 135.539.919 142.825.280
O mesmo artigo segue determinando que o Subscrições para 1.152.539 1.257.650 1.355.400 1.428.253
por, no mínimo, um por cento do eleitorado Votos válidos para 87.532.48512 93.696.12613 98.389.86114 97.356.64915
Artigos
o qual nos informa que: politica/noticia/em-quase-30-anos-congresso-
aprovou-4-projetos-de-iniciativa-popular.
Para além do impacto que a Lava- ghtml>. Acesso em:
Jato tem no poder público, ele atribui parte
do desgaste pelo qual passa a política ao KELSEN, Hans. Teoria geral do direito e do
avanço das tecnologias de comunicação. estado. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
Haveria um descasamento entre a
sociedade, digital, e a representação MENDES, Gilmar; BRANCO, Paulo Gustavo
política, analógica. As pessoas não querem Gonet; COELHO, Inocêncio Mártires. Curso de
só votar e apenas ver a TV passivamente, direito constitucional. São Paulo: Saraiva,
avalia. “Elas querem participar de forma 2008.
mais ativa. Esse é o desgaste que eu acho
que temos. Como fazer essa interação.”22 MORAES, Alexandre. Direito constitucional.
São Paulo: Atlas, 2013.
Por fim, tem-se que, mesmo subsistindo
as deficiências técnicas da legislação VILLA, Marco Antonio. A História das
(constitucional e infraconstitucional) pátrias, constituições brasileiras. São Paulo: Leya,
há outros meios de tornar real e efetiva a 2011.
participação popular almejada pela primeira
norma constitucional, a qual reclama que todo
poder emana do povo.
REFERÊNCIAS