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CAMPUS DE BATURITÉ
CURSO DE TECNOLOGIA EM GASTRONOMIA
RAIZES DA TERRA:
Hábitos e práticas alimentares tradicionais da população baturiteense
BATURITÉ
2013
ANTONIA IZAMARA ARAÚJO DE PAULA
RAIZES DA TERRA:
Hábitos e práticas alimentares tradicionais da população baturiteense
BATURITÉ
2013
___________________________________________________________________
P324r
Paula, Antônia Izamara Araújo de.
Raízes da terra: hábitos e práticas alimentares tradicionais da
população baturiteense / Antônia Izamara Araújo de Paula. –
Baturité : [s.n.], 2013.
109f.
CDD 394
___________________________________________________________________________
ANTONIA IZAMARA ARAÚJO DE PAULA
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________
Presidente: Profª. Msc. Márcia Maria Leal de Medeiros – Orientadora – IFCE - Campus de
Baturité.
_________________________________________________
Membro: Profª. Msc. Anna Erika Ferreira Lima – IFCE - Campus de Baturité.
_________________________________________________
Membro: Profª. Msc. Rafaela Maria Temóteo Lima – IFCE - Campus de Baturité.
Dedico este trabalho a todos que me
ajudaram na construção do mesmo. Em
especial aos meus pais Ironildo Pereira de
Paula e Nazaré Araújo de Paula e meu
esposo Leo Vasconcelos Pinto Castelo
Branco, que tanto me incentivaram a
estudar e persistir em meus objetivos,
jamais desistir.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente ao meu bom Deus por tudo de bom que me foi dado durante toda a
minha vida.
Aos meus pais Nazaré Araújo de Paula e Ironildo Pereira de Paula, por todo o
carinho e amor dedicados.
Aos meus irmãos Antonio Ironilso Araujo de Paula e Maria Irisnara Araújo de
Paula, pela compreensão e companheirismo.
Ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – Campus
Baturité pelo oportunidade dada com o ensino superior, que me possibilitou crescer
intelectualmente, pessoalmente e profissionalmente.
Agradeço imensamente a minha orientadora Msc. Márcia Maria Leal de Medeiros
pela atenção, por ter me instigado a estudar esse tema desde o 1º semestre do curso (em minha
opinião tema de grande importância), por bolsa de iniciação cientifica, pela compreensão e
sabedoria dispensadas durante o período de elaboração deste trabalho.
Aos órgãos IFCE e CNPq pela bolsa de iniciação científica concedida que tanto
me ajudou a crescer e fortaleceu meu interesse na área cientifica.
Ao professor Amilton Marques que me ajudou a realizar um de meus sonhos, que
era adquirir conhecimento em língua estrangeira – francês – tão importante na atualidade.
Uma pessoa muito especial que consegue conquistar todas à sua volta, com seu carisma e
alegria.
À Marcela Coelho essa pessoa carismática, carinhosa, que chegou as poucos e
conquistou o coração de todo mundo. Obrigada por todas as lições e ensinamentos que me
foram repassados.
Aos professores Ana Cristina, Deuzenir Marques, Mirele Vasconcelos, Patrícia
Holanda, Anna Erika, Rafaela, Ana Karine, Mariane Brunnet, Lourival, Paulo Massey,
Joseilton Lima, Socorro Braun, Tatiane Aguiar, Patricia Sobreiro, Paulo Sobrinho, Profº
Francisco, que tanto contribuíram com o conhecimento adquirido durante esse curso de
Tecnologia em Gastronomia, que me guiará para o resto de minha vida.
Ao diretor Eudes Bandeira pela confiança e dedicação dada a esta instituição, por
estar sempre aberto a novidades e disposto a ajudar em tudo que for possível.
Aos meus colegas Daniele Xavier, Jonas Fernandes e Elisandra Nunes, pelo
companheirismo, amizade, parceria e paciência nos vários momentos que passamos juntos.
À Marcela Melo por toda sabedoria e amizade concedidas, além de todo apoio e
aconselhamento que me foram dados com tanto carinho.
À Carla Milena por me mostrar o valor de uma verdadeira amizade, por estar
sempre disposta a ajudar com aquele ombro amigo que só ela tem, principalmente quando se
quer chorar.
À Raiara Monte, por ser aquela amiga de todas as horas, que com o sua alegria
consegue fazer tudo ficar diferente.
À Janaina Lima, que com esse jeitinho meigo que só ela tem consegue nos cativar
sempre mais.
À Roberta Kelvia, que sempre consegue nos acalmar com sua serenidade e
sabedoria.
Ao Afonso Alves pelo companheirismo e amizade dedicados sempre e também
por estar sempre pronto a ajudar.
Ao Macedo Moraes a alegria da turma, com seu sorriso consegue ultrapassar
todas as barreiras.
A todos os funcionários do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia –
campus Baturité, por tudo que fizeram para a realização deste curso.
A todos os entrevistados que tanto me ajudaram bastante na construção deste
trabalho, através de relatos riquíssimos sobre a cultura gastronômica tradicional de Baturité.
À todas as pessoas que direta ou indiretamente contribuíram para a construção e
realização deste trabalho.
Monte-mor, Baturité
Tua fé se fez memória
O teu povo te bendiz
E é feliz, por tua história!
L‟alimentation joue un rôle très important dans la caractérisation de la culture d'un peuple.
Avec le passage du temps, le monde subissait aux transformations et avec elles les habitudes
et les pratiques alimentaires ont également été modifiées, dans le milieu urbain comme dans le
milieu rural. Ce travail se propose à rechercher et enregistrer les habitudes et les pratiques
alimentaires traditionnelles de la population baturiteense. Plusieurs facteurs ont contribué à
l'évolution et aux changements alimentaires dont on peut mettre en évidence l'urbanisation,
l'industrialisation, la mondialisation et le capitalisme. Du Dix-neuvième siècle au XXI e siècle
la technologie a joué un rôle très important dans ce domaine, où il apparaît à chaque jour de
nouveaux produits et techniques qui facilitent la préparation, la conservation et l‟appréciation
de la nourriture. Nous avons utilisé une approche qualitative dans ce travail, en appliquant un
questionnaire semi-structuré avec des questions ouvertes sur les habitudes locales
d'alimentation, l'alimentation pendant l'enfance, la principale activité économique pratiquée
par la famille, le type d'alimentation dans les dates commémoratives, entre autres questions
pertinentes à cette étude. L'interview a été réalisée avec 10 habitants de Baturité, âgés entre 48
et 73 ans. Autrefois des fruits comme le bacupari, l‟Ingaí et le raisin étaient les plus
consommés et aussi la viande de chasse, les oiseaux et les poissons qui ne sont plus très
communs aujourd'hui. La méthode de préparation des recettes, la conservation des aliments et
les ustensiles utilisés ainsi comme les amusements et les festivités étaient tout à fait différent.
En dépit de l'exode rural, de l'inovation de la technologie, les changements
environnementaux, les baturiteenses utilisent encore aujourd'hui certains aliments et les
habitudes de l'époque de leur enfance et de leur jeunesse traditionnelles, sont tendrement
gardés dans leurs mémoires.
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 14
2 HISTÓRIA DA ALIMENTAÇÃO ........................................................................ 17
2.1 Alimentação no Brasil ............................................................................................. 20
3 HÁBITOS TRADICIONAIS .................................................................................. 25
3.1 Slow Food X Confort Food: relevância na sociedade moderna .......................... 26
3.2 O saber transmitido: de pai para filhos ................................................................. 29
3.3 Mudanças nos hábitos alimentares ........................................................................ 31
4. METODOLOGIA .................................................................................................... 36
5 HÁBITOS E PRATICAS ALIMENTARES DA CIDADE DE BATURITÉ ..... 38
5.1 Composição familiar dos habitantes ...................................................................... 38
5.2 Principais atividades desenvolvidas ....................................................................... 38
5.2.1 Agricultura ................................................................................................................ 38
5.2.2 Fruticultura .............................................................................................................. 39
5.2.3 Pecuária .................................................................................................................... 40
5.2.4 Caça ........................................................................................................................... 41
5.2.5 Pesca.......................................................................................................................... 41
5.3 Conservação dos alimentos ..................................................................................... 42
5.4 Utensílios e equipamentos utilizados ..................................................................... 43
5.5 Comidas tradicionais ............................................................................................... 44
5.5.1 Alimentação do dia-a-dia ......................................................................................... 49
5.5.2 Alimentação de dias de festas e datas comemorativas ............................................ 51
5.5.3 Modo de preparo das receitas ................................................................................... 53
5.6 Repasse dos hábitos ................................................................................................. 55
5.7 Festas e datas comemorativas ................................................................................. 44
5.7.1 Semana santa ........................................................................................................... 45
5.7.2 Chegada de visitantes .............................................................................................. 45
5.7.3 Aniversário ............................................................................................................... 46
5.7.4 Natal ......................................................................................................................... 46
5.7.5 Festa junina ............................................................................................................. 46
5.7.6 Festa de São Gonçalo .............................................................................................. 47
5.7.7 Forró ........................................................................................................................ 48
5.8 Influências sofridas ................................................................................................. 55
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 56
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 58
APÊNDICE A – INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS ......................................... 61
APÊNDICE B – INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS ......................................... 62
APÊNDICE C – ENTREVISTAS COM HABITANTES DE BATURITÉ. ...................... 63
APÊNDICE D – ENTREVISTA COM REPRESENTANTE DA SUCAM .................... 106
ANEXO A – MODELO DE AUTORIZAÇÃO UTILIZADA NA PESQUISA DE
CAMPO ................................................................................................................................. 109
14
1 INTRODUÇÃO
obesidade, hipertensão, diabetes, entre várias outras. Esta situação da saúde da sociedade é
preocupante, pois estas doenças estão atingindo cada vez mais jovens, e a população em geral,
o que poderia ser evitado de houvesse um consenso entre alimentação saudável, prática de
exercícios e atividades cotidianas.
Outro fator impulsionador da pesquisa consistiu em investigar, como era a
alimentação do município de Baturité há cinquenta anos atrás, para assim caracterizar a
cultura gastronômica tradicional desse município, tendo em vista que as raízes gastronômicas
locais vêm sendo esquecidas nas últimas décadas, fazendo com que a população jovem
desconheça ou não saiba ao certo quais são as tradições gastronômicas de sua cidade
O Município de Baturité está localizado na região do Maciço de Baturité,
possuindo forte atuação econômica como centro comercial. A cidade teve seu auge comercial
com os ciclos do café, que era exportado para o exterior e transportado pela estrada de ferro
que vinha até a cidade, como também o ciclo do algodão e muitos outros. Atualmente a
economia encontra-se estacionada, sem grandes menções, já que a produção agrícola da
cidade abastece somente algumas cidades próximas e uma parte desta produção é
comercializada em Fortaleza, capital do Ceará.
Com o presente trabalho almeja-se pesquisar e registrar os hábitos e práticas
alimentares tradicionais da população baturiteense, bem como entender o que causa pouco
interesse e até mesmo a depreciação dos hábitos alimentares tradicionais, tendo em vista que a
alimentação sempre foi utilizada para suprir as necessidades físicas e biológicas do ser
humano, sendo também considerada como patrimônio histórico-gastronômico de um
determinado local e utilizada como fonte de informações necessárias para caracterizar uma
sociedade.
A alimentação desempenha função muito importante em uma sociedade pois, é
em torno da mesa que são realizadas confraternizações, acordos comerciais, transmissão de
valores, e repasse das tradições alimentares, reforçado laços afetivos e também familiares.
As práticas alimentares utilizadas no dia-a-dia estão vinculadas a valores, crenças,
religião, condição social e identidade cultural da civilização. Cada localidade ou região possui
suas particularidades.
Atualmente a gastronomia está presente em diversas áreas, destacando-se a
produção acadêmica, onde os profissionais buscam pesquisar, retratar e registrar situações,
produtos e outros recursos disponíveis, importantes para a manutenção das tradições
alimentares e/ou de uma nova gastronomia.
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2 HISTÓRIA DA ALIMENTAÇÃO
“O sal era bastante valioso, mas não se sabe bem o porquê. Além de ser um
tempero, era também um conservante. É evidente, contudo, que a comida salgada fazia parte
da dieta pré-histórica” (FREEDMAN, 2009, p.59).
Guta; Dolores em seu livro Gastronomia no Brasil e no mundo (2008) nos falam
que com o surgimento das primeiras civilizações cada um desses povos estabeleceu uma
organização hierárquica ligada ao comer e beber. Na mesopotâmia os povos desenvolveram
receitas onde havia requinte no preparo das comidas reais. Há registros de um receituário em
que constam caldos. Usavam temperos como cebola, vinagre, alho, cominho, coentro, alho-
poró, sal e ervas como a menta. Fabricavam também pães feitos com farinha proveniente do
trigo considerado à época o mais nobre entre os cereais.
A gastronomia egípcia refletia alguns traços de sua riqueza cultura, de acordo com
Tallet (2005) relata que os egípcios possuíam grande conhecimento com relação ao valor
nutricional dos alimentos. Tinham uma dieta á base de legumes, peixes, frutos, verduras,
laticínios, mel, óleo de oliva vegetal, pão, vinho e cerveja.
Já para os gregos, segundo Paul Freedman (2009) sua culinária era baseada em
três dadivas dos deuses, os grãos, o vinho e o óleo, sem os quais as pessoas civilizadas não
poderiam viver. A base da refeição grega era o pão feito do trigo e o mingau, a refeição
também poderia ser enriquecida com carnes assadas e vegetais, condimentada com ervas,
especiarias ou mel. O vinho fazia parte da dieta de todos os gregos, era tão importante que
tanto a paixão, quanto as técnicas de produção viajavam com os colonizadores. Os gregos
tinham o habito de realizar os simpósios, que tinha por objetivo alimentar o espirito e o corpo,
através de discussões intelectuais e transmissão de conhecimento, bem como consumindo os
melhores quitutes e vinho diluído.
Aproveitando a sabedoria e experiência dos gregos os romanos herdaram alguma
ideias, como por exemplo o uso de dois temperos muito apreciados por eles, o sílfio e o
infame garum. O sílfio era uma planta nativa do norte da África, parecida com o funcho.
Quase todas as partes da planta eram usadas como tempero. O outro tempero bastante usado
pelos cozinheiros romanos era o molho de peixe fermentado, assim como nos explica
Freedman (2009) em seu livro “A História do Sabor”.
“Os utensílios utilizados nas antigas cozinhas são surpreendentemente parecidos
com os usados atualmente: frigideiras de cabo comprido, panelas, caçarolas [...]”
(FREEDMAN, 2009, p. 93).
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Freedman (2009) nos relata que a cozinha medieval era marcada pela paixão por
especiarias e sabores fortes. As especiarias eram usadas não só por suas qualidades aromáticas
e digestivas, mas também pelas cores que davam à comida. Já o renascimento, para Freixa e
Chaves (2008) ficou marcado pelo refinamento italiano no mundo ocidental, fator resultante a
influência dos bizantinos. O uso do garfo, os aparelhos de jantar, as peças finas e bem
acabadas em metais preciosos, as toalhas ricamente bordadas em linho, porcelanas e as
faianças sofisticaram o comportamento à mesa.
A Itália influenciou enormemente a gastronomia francesa, “graças à florentina
Catarina de Médici, que se casou, em1533,” com quem seria o futuro rei francês, Henrique II”
(FEIXA; CHAVES, 2008, p. 81). Ao ir à França “Catarina de Médici levou com ela luxuosos
aparelhos de mesa, como porcelanas, toalhas, objetos de ouro e prata e copos de cristal”
(ECHAGÜE, 1996, p. 45).
O refinamento italiano favoreceu surgimento de novos pratos, até então
desconhecidos dos franceses, assim como nos expõe Freedman (2009, p. 220): “A invenção
da sobremesa propiciou o surgimento de novas habilidades culinárias”. No mesmo contexto,
20
Lopes (2004) nos explica que ao final das refeições da corte eram servidas as sobremesas
feitas com açúcar, desconhecidas dos franceses que tinham o habito de utilizar o mel. Da
confeitaria do palácio, surgiram receitas conhecidas ate os dias atuais como os “macarrons,
zabaiones, biscoitos de amêndoas, frutas em calda ou cristalizadas, pudins de ovos, geléias e
até sorvetes” (LOPES, 2004, p.138).
O nascimento da cozinha regional, segundo Freixa e Chaves (2008) deu-se apartir
do declínio do feudalismo, no qual o poder na Europa se centralizou nas mãos de uma
monarquia absolutista. Esse regime fortaleceu as atividades econômicas e os recém-formados
estados modernos, como Portugal, Espanha, França e Inglaterra. Ao mesmo tempo, que
valores regionais se solidificavam, surgiu uma grande necessidade de desbravar o mundo,
adquirir novos conhecimentos, conquistar riquezas e poder. Em meio aos objetos de desejo
estavam as especiarias, símbolo de luxo e poder na época. Portugal e Espanha, os países mais
desenvolvidos nas técnicas navais, estavam preparados no século XV para navegar, desbravar
mares e conquistar outras terras.
As expansões marítimas exerceram papel importantíssimo na disseminação
cultural, para Leal (1998, p. 37-38):
pedaços de carne curada, abobora, feijão preto com toucinho, mungunzá e angu. Também
saboreavam banana com melaço de cana, caldo de cana e a famosa cachaça.
De acordo com a região do Brasil os hábitos alimentares vão modificando-se.
Assim nos explica o Ministério da Saúde apud Lima Santos et al. (2009).
A região nordeste teve sua culinária influenciada por diversos povos, como nos
expõe a Cartilha do Ministério da Educação, sobre a alimentação e nutrição no Brasil I (2007,
p. 53):
[...] os pratos a base de feijões, inhame, macaxeira, leite de coco, azeite de dendê,
doces, peixes, crustáceos e frutas nativas são os mais encontrados, destacando-se na
região a culinária baiana, com uma grande influência africana, e a de Pernambuco,
com pratos como buchada de bode e alfenins, um doce de açúcar branco de cana-de-
açúcar (BRASIL, 2007, p.53).
23
A tapioca também faz parte da alimentação do cearense, segundo rocha (2003) ela
é feita com fécula de mandioca, coco ralado, água e sal, e pode-se colocar manteiga enquanto
estiver quente, para o recheio, pode ser utilizado o queijo de coalho, carne-de-sol, banana
frita, doce de goiaba com queijo, carne de caranguejo ou outros ingredientes.
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3 HÁBITOS TRADICIONAIS
[...] o ato de comer tem um sentido simbólico para o homem. Comer do mesmo pão,
por exemplo, é alimentar-se juntos, é sinal de fraternidade, solidariedade e
companheirismo. Dai a expressão com pão ter dado origem à palavra companheiro e
a expressão crias com o alimento ter dado origem a palavra aluno. [..] a tradição esta
no saber do povo, é ligada à terra e a exploração dos produtos da região e das
estações. (LEAL, 1998. p.08)
[...] sua origem foi sempre regional, embora não ficasse restrita a esses limites. Ela
acabava viajando para outras regiões, viagem essa que se tornou cada vez mais
acelerada, possibilitando que diferentes cozinhas se espalhassem pelo mundo afora.
Atualmente, os segredos da culinária correm rapidamente de uma região para outra
[...] (LEAL, 1998, p.98).
A culinária também é utilizada para expressar a relação dos seres humanos com o
ambiente em que vive, utilizando todos os componentes que estiverem disponíveis na
natureza, como nos relata Araújo et al. (2005).
Com o passar das décadas ocorreram várias transformações na sociedade, “nos
últimos cinquenta anos: um processo revolucionário originou um dualismo entre cozinha
tradicional e os métodos de produção industriais (PETRINI, 2009, p.79), desta forma,
ocorreram também diversas transformações com a alimentação de muitos lugares, porém
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essas transformações não são um fator determinante para todas as culturas. Segundo Garcia
(2003) os hábitos alimentares que estão solidificados conseguem resistir à padronização
alimentar, pois a existência ou não de tradição, esclarece a vulnerabilidade de algumas
culturas a padrões alimentares provenientes da globalização.
Já para Ortiz (1994), há alteração dos hábitos alimentares quando existe uma
redefinição do significado de refeição, para ele o momento da refeição é “[...] momento
ritualístico de reunião dos membros da família, como um dos pilares de grupo familiar, pois a
partilha da mesma mesa asseguraria uma unidade à vida doméstica” (ORTIZ, 1994, p.45).
“A mesa é o centro das relações. Simboliza organização, crítica familiar, alegrias,
dissabores, novidades. Extinguir refeições regulares desestrutura o contato assíduo,
indisciplina apetites, induz à solidão” (ARAÚJO et al., 2005, p.10).
Com a correria do dia-a-dia, “o fast food tornou-se assim uma alternativa rápida
de refeição, porém na maior parte das vezes carecendo de aporte nutritivo.” Como as pessoas
não tinham mais tempo para preparar seu alimento, as comidas de fast food “passaram a
satisfazer minimamente as exigências do paladar” (BLEIL, 1998, p.17).
Franco (2001) retrata em seu livro De Caçador a Gourmet o poder que a indústria
de fast food “exerce sobre crianças e adolescentes [...] a indústria de fast food tornará muitos
deles, adultos afeito pela vida inteira, à dietas com excesso de sal, gordura e açúcar”.
“A tendência em comer demais é típica das sociedades industriais” (BLEIL, 1998
apud PINHEIRO, 2005).
Esse amplo consumo traz vários problemas, dentre eles Franco (2001) cita:
À medida que o fast food se expande, cresce o numero de menores obesos e com
outros problemas de saúde decorrentes de desequilíbrio dietético. Aumentarão,
portanto, os riscos de carências, e pode-se prever que será ainda mais comum a
venda de vitaminas e outros suplementos alimentares nos supermercados e
estabelecimentos afins (FRANCO, 2001, p.250).
Bleil (1998) deixa claro que com a implantação da indústria dos fast foods
“começam a desaparecer os rituais que acompanham o ato de alimentar-se. A relação de afeto
que, antes, permeava a refeição nas trocas familiares e entre amigos, hoje, cede lugar à
alimentação cujo parceiro é o aparelho de televisão” (BLEIL, 1998 apud PINHEIRO, 2005).
Desta forma, surgiram movimentos de resistência ao fast food. Dentre eles
podemos destacar o Slow Food, “[...] movimento de defesa da cozinha regional e da tradição à
mesa, [...]. “[...] se valoriza uma alimentação mais saudável e natural, menos industrializada,
como a orgânica e a biodinâmica” (FREIXA; CHAVES, 2008, p.255).
“Liderado pelo gastrônomo e sociólogo italiano Carlo Petrini em 1986, o
movimento queria resgatar nada mais que a essência do convívio à mesa, do comer e beber
devagar, e preservar as tradições de receitas e ingredientes regionais que se perderam com a
globalização” (FREIXA; CHAVES, 2008, p.256).
Para Freedman (2009) “a crítica politica dos anos 1970 às transformações na
indústria alimentícia levou diretamente ao estabelecimento do movimento Slow Food na
Itália, em 1986” apesar do movimento ter iniciado suas atividades na década de 90, só
aumentou sua popularidade e:
conta de nosso dia-a-dia” (FREIXA; CHAVES, 2008, p.255). “Como reação ao ato cotidiano
de comer rapidamente, que traz consequências como estresse e desequilíbrio à saúde [...]”
(FREIXA; CHAVES, 2008, p.256).
“O excesso de novidades, na prática e nos discursos, parece ter contribuído para
sentimentos de insegurança nos anos 1980 e 1990, que por sua vez despertaram novo interesse
por hábitos alimentares tradicionais” (FREEDMAN, 2009, p.357). Freedman (2009) nos diz
ainda, que um dos maiores interesses do slow food é pela autenticidade do terrois¹.
“Mas ao mesmo tempo em que há uma preocupação com a tradição no preparo
dos vários pratos, também se observa um movimento de grande inovação na culinária”
(LEAL, 1998, p.99). “Muitos pratos têm sido recriados, de acordo com as possibilidades
locais, dando origem a novas interpretações” (LEAL, 1998, p.100).
O slow food desempenha um papel importantíssimo na manutenção dos traços de
nossa cultura gastronômica. Paralelamente a este movimento surgem tendências
gastronômicas, que pode se manifestar através de diversas temáticas, podendo-se citar dentre
estas o confort food, que para Marinho et al. (2012), valoriza os diversos rituais associados à
alimentação, onde “os pratos típicos são servidos e tem seus sabores impregnados na memória
gustativa e, sobretudo nas lembranças afetivas [...]”, trazendo à nossa mente uma idéia de
“comida feita em casa” ou mesmo comida que conforta como o nome da tendência já deixa
explicito (MARINHO et al., 2012, p. 4).
O slow food apenas abriu as portas a movimentos como confort e a
ecogastronomia, segundo Petrini (2009) nos relata sobre mais uma tendência:
Para Oliveira et al. (2012), as pessoas que praticam os saberes alimentares não
consultam livros ou cadernos de receitas para fazer a elaboração dos pratos. Durante muito
tempo cozinhando e repetindo por vezes o mesmo prato e “o aprendizado que se deu pela
observação da figura materna ou fraterna preparando os alimentos, a memória visual e
gustativa, associado à necessidade de preparo rápido pode justificar a não utilização dos
livros” (OLIVEIRA et al. .2012, p.3).
“As técnicas culinárias desapareceram aos poucos das casas, da bagagem de
conhecimentos compartilhada. Em muitos casos, os cozinheiros profissionais são os únicos
depositários desse know-how formado em séculos de prática” (PETRINI, 2009, p.79). Petrini
(2009), ainda nos relata a consequência da industrialização na transmissão dos saberes
gastronômicos:
Desde a metade do século passado, o mundo sofre uma série de transformações entre
as quais, as mais perceptíveis foram os fenômenos de urbanização e globalização.
As expectativas de consumo, orientando as escolhas para alimentos mais
condizentes com o novo estilo de vida, são menos satisfatórios ao paladar a ao
aporte nutritivo do que no padrão anterior a estes „tempos modernos‟ (BLEIL, 1998
apud LIMA SANTOS, 2009, p. 186).
favorecera o processo de transferência para fora de casa, das atividades relacionadas com a
alimentação” (FRANCO, 2001, p.249).
Canesqui; Garcia (2005, p.196) nos afirma a participação na alteração de hábitos
que a urbanização e industrialização causaram.
Franco (2001, p.223), também nos relata outro fator que “[...] constitui barreira
psicológica para a aceitação mais ampla dos produtos industrializados”, sendo este fator
(p.222):
São os meios de transporte cada vez mais aperfeiçoados que deslocam grandes
quantidades de mercadorias de um local para outro, em pouquíssimo tempo. Um
ingrediente de um país, ainda que raro, pode chegar rapidamente a um outro extremo
do mundo, possibilitando a preparação das mais variadas receitas. São os meios de
comunicação interligando as diversas partes do planeta, quase que instantaneamente,
permitindo a divulgação rápida de usos e costumes, inclusive daqueles relacionados
à culinária. São as viagens e as migrações dos povos que levam hábitos culinários,
receitas e ingredientes de um lugar para outro, permitindo que pratos típicos de uma
região sejam elaborados em outra região, mesmo que elas tenham diferenças
significativas (LEAL, 1998, p.99).
Bleil (1998, p.9), chama nossa atenção para outra consequência do novo estilo de vida:
Outra questão pouco discutida é a dissolução crescente dos rituais que acompanham
o ato alimentar. A vida nas cidades grandes minimizou a importância do ato
alimentar. Parece não importar muito o que se come, com que se come e como se
come. O típico habitante da cidade grande come no intervalo de almoço um
sanduíche, ou um pedaço de pizza, e bebe um refrigerante, sozinho e de pé, no
balcão de alguma lanchonete (BLEIL, 1998, p9.).
4. METODOLOGIA
5.2.1 Agricultura
“Eu só sei que cana tinha bastante, a mesa da sala do jantar era lotada de rapadura.
Rapadura doce, doce bom, que é o doce labirinto. E era maravilhoso, meu pai
vendia... [...] Isaías Soares Taveira. E ele trabalhava muito, ele era banqueiro, ele
que fazia a rapadura, fazia batida” (Moradora do Sitio Brejo, entrevista realizada em
março de 2013).
Há cinquenta anos atrás Baturité alcançou o auge de sua produção agrícola, tendo
declinado bastante até os dias atuais, o que é observado na fala de D. Regina, “Tudo que você
plantava dava com fartura, até as chuva era com fartura. Mais hoje minha fia a gente trabaia...
tem um roçadim nosso ali, que tá cum... Já interou duas pranta... culpa do homem”
(Moradora do Bairro Beira Rio, entrevista realizada em fevereiro de 2013). E ela ainda nos
fala que o homem foi o culpado por isto estar acontecendo,
“É dos homem, que derruba as mata, naquele tempo ninguém derrubava as mata, só
quando dava um dirritido e descias aqueles eito de mato. Mais os home mermo e
quem faiz. Pois é minha filha eu só tenho coisa boa pra lhe conta, coisa que você
num passou” (Moradora do Bairro Beira Rio, entrevista realizada em fevereiro de
2013).
5.2.2 Fruticultura
pitomba, jaca, azeitona roxa, entre outras. O maior destaque era dado à banana por ser
considerada a base da economia do município e de cidades circo vizinhas.
A cidade de Baturité é caracterizada até hoje como o centro de comércio do
Maciço, e nessa época os produtores das cidades circunvizinhas traziam sua safra de banana
para ser comercializada na cidade. Esses produtores traziam as frutas em comboios de
animais. Assim como nos relata a D. Glícia, natural de Aratuba, mas que desde muito jovem
passou a morar na cidade de Baturité para estudar: “A atividade principal era a produção de
banana e café no sitio, e ele fazia a venda da produção da banana em lombo de animal. [...]
Vinha... Ele era comboieiro, junto com meus irmãos e vendiam a banana verde na feira de
Baturité” (Moradora do Centro de Baturité, entrevista realizada em março de 2013).
Em Baturité também encontrava-se algumas frutas silvestres. Segundo o Sr. Artur
Camurça,
E frutos também, silvestres, que a gente tinha muito lá no sitio, era o Bacupari. [...]
Era uma frutinha pequena, amargava um pouco, tinha uma casquinha e o amargo era
na casca. Ela é um pouco maior que a pitomba. Outra fruta que também tinha muito
ali naquela região da Flores quando a gente ia pescar era o ingaí [...]. Ela é parecida
com o ingá, mas ela é bem maior que o ingá e é uma vagenzinha que vem no
máximo, dois ou três. Ele é um pouquinho maior e a vagem parecida com a do
tamarindo, mas só que é bem macia, diferente do ingá (Morador do Centro de
Baturité, entrevista realizada em março de 2013).
Outra fruta também que era bastante encontrada em sua maioria nas casas da sede
(centro) de Baturité, era uma variedade de uva nativa e que ainda é possível encontrar em
casas do município. Segundo D. Glicia, ela conheceu esta variedade de uva quando veio da
cidade de Aratuba para morar em Baturité,
[...] quando a gente chegou a Baturité, a casa que foi comprada ela tinha um
parreiral, que até hoje tem. Então a gente passou a consumir essa uva da região. É,
nas da minha rua todas as casas elas tinham um parreiral. [...] A gente consumia essa
uva da região, que é uma uva pequenininha, que ela não tem agrotóxico. É agoada e
podada, e de três em três meses renova a produção dela (Moradora do Centro de
Baturité, entrevista realizada em março de 2013).
5.2.3 Pecuária
Nas entrevistas foi enfática a informação de que a carne tinha um lugar especial
na mesa das famílias, não sendo consumido diariamente, ficando restrito aos finais de semana
e durante festejos. Como pode ser observado neste trecho da entrevista da D. Luzia, “[...]
nessa época a renda era pouca, então a gente criava galinha. Mamãe cansou de matar uns
franguinhos, porque a carne mesmo era só final de semana, a gente só comia carne de gado,
final de semana [...]” (Moradora do Sitio Brejo, entrevista realizada em março de 2013).
5.2.4 Caça
5.2.5 Pesca
extinção destas espécies de peixes pode ter sido causada pelo uso de vermicida, e o uso de
agrotóxicos, que também podem ter contribuído para a extinção das espécies de peixe.
“Populares, pessoas começam a utilizar dessa expressão que foi a Sucam que
acabou... Contribuiu... É..., para o desaparecimento desse... Dessa fauna aquática,
né? Fluvial [...]. Agora eu acho que contribuiu, pode, eu não vou garantir que não
contribuiu também para a extinção dessa fauna. Qualquer forma era um inseticida
que se jogava na água. Mais eu acho que contribuiu... A contribuição maior para o
desfalecimento dessa fauna foi o uso indiscriminado de agrotóxicos, que se usava,
principalmente na nascente desse rio aqui, a maioria das nascentes, são todas entre
os municípios de Aratuba, Guaramiranga e Mulungu” (Morador do Centre de
Baturité, entrevista realizada em março de 2013).
Felizmente hoje em dia, ainda é possível encontrar nos rios do município peixes
como as traíras, piabas, bodós, curimatãs, piais, muçuns, cangatis, carás pretos entre outros,
apesar de serem encontrados em pequenas quantidades, por famílias que utilizam os peixes na
sua alimentação do dia a dia.
“A carne salgava. Todo horário se fazia comida. Fazia a janta e fazia o almoço,
porque num tinha como guarda. E o restim que fosse assim um bicho que ele
matasse a gente salgava, istindia numa vara veia trepada na teia... [...]” (Moradora
do Beira Rio, entrevista realizada em fevereiro de 2013).
43
Tinha outras famílias que só utilizavam o método de salga, de acordo com a fala
da D. Nazaré, “Só salgava” (Moradora do Beira Rio, entrevista realizada em março de 2013).
Segundo D. Lucinha em outras casas era utilizado o método de salga seguido de secagem ao
sol, “Salgava. Se fosse carne botava no sol, botava no sol pra secar e toicim a gente salgava
era a mesma coisa” (Moradora do Beira Rio, entrevista realizada em fevereiro de 2013).
Com relação às refeições principais – almoço e jantar, tinha-se o cuidado de só
preparar quantidades suficientes para aquela refeição, não ficando sobras que precisassem ser
guardadas.
Os costumes deles lá na semana santa, desde quarta feira eles não trabalhavam. Eles
tiravam a rama dos animais e colocava logo no curral, não se selava mais um burro
para se andar não se andava a cavalo, da quarta a sexta-feira santa. Na quarta feira,
minha avó materna nem tomava banho, porque ela dizia que era a quarta feira de
trevas e devia ficar em casa só em jejum e oração. O jejum começava na quarta feira
e nós crianças éramos obrigado a jejuar só na sexta. Mais a abstinência já se fazia na
semana toda e minha mãe já tinha o costume de, da quarta em diante, até hoje, ela
não come carne. Naquela época a gente já tinha esse costume de na semana santa só
se consumia peixe (Morador do Centro, entrevista realizada em março de 2013).
O Sr. Artur Camurça também nos falou como agora este ritual está diferente, e o
porquê dessa mudança, pois ele fala que “naquela época tinha mais o sentido religioso, hoje
eu acho que o capital mudou tudo. O capitalismo introduziu vários outros costumes, a semana
santa de hoje é mais capitalista do que religiosa” (Morador do Centro, entrevista realizada em
março de 2013).
Na semana santa as famílias faziam troca de alimentos, de acordo com o relaro de
D. Luzia, “e antes na semana santa era muito legal. A gente trocava as coisas, os alimentos.
Ou se tivesse o milho verde, ai levava o milho e trazia a macaxeira, ou vice-versa, ou peixe
também, a gente trocava muito peixe, peixe maior, ou então a historia do pitú também”
(Moradora do sitio Brejo, entrevista realizada em março de 2013).
5.5.3 Aniversário
5.5.4 Natal
obrigatório um juramento ao lado da fogueira recitando a seguinte fala, “São João disse, São
Pedro confirmou, você vai ser minha comadre que Santo Antônio mandou” (Moradora do
Sitio Brejo, entrevista realizada em março de 2013). Às vezes faziam-se festejos, onde eram
encontradas várias comidas típicas, como pé de moleque, bolo de batata, bolo de macaxeira,
bolo de milho, pamonha, aluá e canjica.
Nessas festas também haviam varias brincadeiras que as crianças utilizavam para
se divertir. D. Luzia fala quais eram essas brincadeiras,
D. Luzia também nos falou sobre as outras coisas que eram possíveis ser
encontradas nas festas juninas de sua comunidade,
Era muito bom, tinha as danças, a quadrilha, na festa junina. Tinha as comidas
também, tinha os bolos, como eu falei o aluá, os pé de moleque, a galinha caipira
que tinha também. A escola era aqui pertinho e lá a gente fazia tudo isso. Hoje em
dia ainda tem a escola e lá ainda tem as festas, onde tentamos relembrar como o bolo
de carimã, pé de moleque, macaxeira, bolo de batata, bolo de milho que também era
muito gostoso. Canjica e aluá. (Moradora do Sitio Brejo, entrevista realizada em
março de 2013).
Era comum a realização das novenas em homenagem aos santos, dentre eles esta
São Gonçalo, que de acordo com D. Izinha era a realização destas novenas em homenagem a
este santo,
Eu lembro daquele santo que, acho que é o São Gonçalo, que era o da água, né?
Tinha... Sempre eles botavam num canto que formava uma cacimba, aí a gente ia pra
rezar aquelas novenas. Pra melhor dizer quase toda noite nóis ia pras novenas nas
casas dos vizim, né? Aí tinha o dia de ir lá pra casa (Moradora do Sitio Tijuca,
entrevista realizada em março de 2013).
De acordo com o relato do Sr. Artur Camurça a festa de São Gonçalo contempla
também uma dança, e explica quem foi São Gonçalo, “diziam que era um santo que procurava
a conversão nas festas, nas casa de meretrizes [...] (Morador do Centro, entrevista realizada
em março de 2013). Fala também sobre como e porque esta festa acontece:
48
[...] então, hoje em dia o objetivo dessas promessas é por causa desse período de
seca, pedindo chuva ou pedindo para encontrar nascentes. E quando alcanças essa
promessa eles levam esse grupo e eles dançam o dia todo e a pessoa oferece
alimentação para as pessoas que estão dançando e para as pessoas que vão assistir. É
uma tradição, a pessoas que faz a promessa recebe toda aquela multidão. Não me
lembro direito, mais era uns dançando e os outros vão só tocando, geralmente, eu
conheci no meu período de criança, era o rabequeiro, as vezes era só o rabequeiro
que puxava a festa, as vezes tinha um zabumba, as vezes um pandeiro, mais na
maioria das vezes era só o rabequeiro” (Morador do Centro, entrevista realizada em
março de 2013).
5.5.7 Forró
Era a alimentação dos meus filhos. Passava uma tarde fazendo ou então era uma
broa. Fazia a broa de goma com rapadura, fazia aquele grude, depois botava numa
forma com mel, depois você botava a massa na forma e assava. Enchia um monte de
vasilha. Meus filhos não passavam fome, mas dinheiro não tinha não, pra comprar
outras coisas (Moradora do sitio Brejo, entrevista realizada em março de 2013).
Já na refeição do almoço era bem comum a utilização da banana verde com feijão
e pirão feito com a banana cozida e misturado com os camarões que antes eram encontrados
no rio. Os baturiteenses também utilizavam em sua alimentação a farinha de babaçu e a
farinha de pipoca, mais conhecida como fubá.
Normalmente não se tinha o hábito de consumir carne no decorrer da semana,
sendo consumidas somente nos finais de semana. Dentre as principais carnes utilizadas estão
à carne de porco, toucinho e o mais especial era a galinha caipira (criada no terreiro de casa, e
presa no galinheiro alguns dias antes de matar) com uma farofa feita dos miúdos (fígado,
coração, moela).
Segundo D. Luzia todos que estavam na casa ajudavam no preparo das refeições e
tinha até um ditado popular para quem não queria ajudar,
E o que a gente fazia, a gente cortava, [...]o milho e os sobrinhos, primos da gente
iam moer. A mamãe dizia assim: “Aqui é casa de homem quem não trabalhar não
come”. Então eles iam moer o milho todinho, a mamãe ia peneirar, fazia aquele pão
50
Comi sim, mais tem gente que come cru. Eu não, eu comia torrado, nós quebrava.
Achava bom quando encontrava, era bom demais. Hoje eu acho que não teria
coragem de comer não. Naquele tempo eu comia, juro que comia. Juntava nos
coqueiros aquela ruma de coco, ai nós trazia, e ia quebrando. Os que tinham miolo
bem, já tinha outros que tinha aqueles bichim, nós ia juntando. Quando acabava,
levava para uma frigideira, torrava, colocava um pouquinho de sal, fazia a farofa.
Nós chamava de moçorongo (Moradora do Sitio Tijuca, entrevista realizada em
março de 2013).
Outra alimentação diferenciada que era consumido em Baturité era o bofe, lingua
e o ubre, como relatado pela filha de D. Izinha, Fabiana,
Outras coisa também que a gente comia quando eu era pequena e morava com a
mamãe (vó). Bofe. Hoje em dia vai ver se a gente come! [...] Bofe. A minha mãe
comprava bofe, comprava língua, comprava ubre... É o peito da vaca. Aquela
parte...Aquele... Tem sim, tem quem venda. O que a mamãe (Vó) comprava era
diferente do que a mãe comprou. O que a mãe comprou só tinha gordura. O que a
mamãe comprava ele... Quando você assava ou torrava ele ficava como se fosse
queijo. Ele era meio arroxeadozim, já essa parte que a mãe compra era mais como se
fosse gordura mesmo. Ai era bom demais. Quando a gente morava na casa da
mamãe, a gente só comia carne no final de semana. Eu ficava rezando, pedindo a
Deus pra chagar o sábado e o domingo. Porque era quando ela ia na rua, ela
comprava o bofe, ou então, era... Qual era a outra coisa? Língua, ou então ela
matava uma galinha do terreiro. Era só os dia que a gente comia. Na semana era só o
feijão com gordura. Também era muito bom (Moradora do Sitio Tijuca, entrevista
realizada em março de 2013).
Com as frutas que existiam próximo as casas faziam também receitas como o
doce de goiaba, doce da entrecasca da laranja da terra e o lambique, que de acordo com a D.
Lucinha, “suco de cajá. É, a gente apanhava as frutinhas amarelinhas e fazia um suco, ai
51
botava farinha no suco e fazia a Lambique, ai comia” (Moradora do Beira Rio, entrevista
realizada em fevereiro de 2013).
Dentre os alimentos relatados, poucos permaneceram na alimentação dos
baturiteenses, levando-se a um questionamento do por que desses hábitos terem desaparecido.
Os entrevistados nos relataram que foi por uma infinidade de fatores. Dentre eles o fato de ter
saído da zona rural e ter ido para a urbana, a falta de tempo para preparar os alimentos de
forma tradicional, dificuldade em encontrar a matéria-prima necessária à elaboração desses
pratos, entre outros.
Era mais o ritual da semana santa, tinha os peixes, o pirarucu que não faltava, às
vezes o bacalhau, ai era outro sabor legal. Minha mãe fazia o bacalhau só com o
coco e o leite de coco. Outra coisa que me lembro de que a gente fazia era o pão de
milho, o café era pilado de pilão, tinha outro sabor. Tinha a coalhada, geralmente se
criava uma vaca e acreditava-se que o leite de vaca era que alimentava mesmo de
verdade. Nós somos muito do leite tirado do peito da vaca e bebido na hora. O
queijo, lá na minha casa não fazia, mais lá no sertão os meus tios faziam. Era
acostumada a ver uma dispensa lotada de queijo, sem ser pra vender era pro
consumo.
52
Os festejos juninos eram outra data muito festejada pelos habitantes da cidade.
Nesses festejos consumiam-se bastante alimentos a base de milho com uma diversidade de
sabores, desde os bolos às bebidas, como por exemplo o aluá. Segundo D. Luzia esses festejos
“eram muito bons, [...] tinha os bolos, como eu falei o aluá, os pé de moleque, a galinha
caipira que tinha também. [...] macaxeira, bolo de batata, bolo de milho que também era muito
gostoso” (Moradora do Sitio Brejo, entrevista realizada em março de 2013). Cada família
tinha sua particularidade. Na casa de D. Glicia as festas juninas “eram bem comemoradas com
milho assado, bolos de macaxeira, de batata, com o pé de moleque na palha da bananeira com
a carimã, e assava carne na fogueira” (Moradora do Centro, entrevista realizada em março de
2013). Já na casa de D. Amélia, ela relata que “tem um monte de comida que a gente fazia na
festa junina, mucunza, canjica, pão de milho [...]” (Moradora do Sitio Brejo, entrevista
realizada em março de 2013).
Outra data que era bastante festejada pelos familiares era a chegada de visitantes
em suas casas. Segundo D. Glicia buscavam oferecer o que se tinha de melhor.
[...] se queria oferecer pra visita o que tinha de melhor. Ai eram as melhores carnes,
era tudo, era tudo, eram as galinhas que iam pra o fogo. Se não tinha porco pra matar
procurava na vizinhança pra comprar e assim a carne de porco. A banha do porco
era usada como tempero não era óleo não (Moradora do Centro, entrevista realizada
em março de 2013).
Lá casa como criava muito, tinha muita criação de caprinos, a gente matava bode, ou
então porco, ou uma galinha dependendo do numero de pessoas dessa visita. Se
fosse uma visita de pouca gente, matava uma galinha. Já quando era mais gente,
matava um porco, mata um bode (Morador do Centro, entrevista realizada em março
de 2013).
Consumia-se também, como relatado pela D. Nenem Maia, “[...] cuscuz, bolo de
carimã, bolo de milho, broa, bolinho, [...]” (Moradora do Sitio Brejo, entrevista realizada em
março de 2013).
A alimentação oferecida nos aniversários também era bem características. De
acordo com o relatado pela D. Nenem Maia, nos aniversários eram servidos “[...] pé de
moleque, que era o bolo e o pan-de-ló que é de goma” (Moradora do Sitio Brejo, entrevista
realizada em março de 2013). Como bebida era utilizado o aluá.
53
Algumas receitas como o arroz e o beiju no caco, o café torrado, pão de milho
(cuscuz), pé de moleque, baião de fava e mugunzá fazem parte da cultura gastronômica do
município de Baturité. Alguns entrevistados explicaram como é que faziam esses pratos.
Segundo a D. Nazaré, se fazia o beijú no caco desta forma: “O beijú, rala a macaxeira ou
mandioca, espremia no pano, depois desmancha os bolão, bota coco e faz o beijú” (Moradora
do Beira Rio, entrevista realizada em março de 2013).
O arroz era torrado no caco e pilado no pilão era feito como nos explica a D.
Regina. “[...] arroz torrado no pilão, agente torrava no caco e pilava no pilão. A coisa delicia.
Aquelas pipoquinha, era a gente cumeno e pilano o arroz no pilão” (Moradora do Beira Rio,
entrevista realizada em fevereiro de 2013). Ainda falando do arroz no caco, D. Nazaré
também explicou como era feito em sua casa, “torrava no caco, pilava no pilão e sacodia, ai
pisava de novo, sacodia, lavava e colocava na panela. Botava sal, pimenta e alho e às vezes
leite de coco e só” (Moradora do Beira Rio, entrevista realizada em março de 2013).
O café no caco demandava bastante tempo na sua elaboração, como pode ser
visualizado neste trecho da entrevista de D. Regina:
[...] Deu í apanha café maduro, discopa, cuzinhava ele maduro, pizava no pilão
depois de cuzido, ai quando acabava, secava no caco... [...] cuzinhava ele maduro, ai
quando acabava levava pro pilão, pilava e tirava só a casca primeira, ai a do café
mermo, a gente secava no fogo, quando acabava, pizava de novo, ai laigava aquela
pelinha, [...] ai quando acabava sacudia pra depois torra de novo e piza de novo, pa
pode beber minha fia (Moradora do Beira Rio, entrevista realizada em fevereiro de
2013).
“[...] aqueles baião de dois pra gente comer. [...] um baião com fava, aquele baião
com fava que temperava as vezes só com um torresmozim que ela comprava [...], eu
lembro, que ela ía pra Baturité (sede) e comprava aqueles quilos de torresmo ao Sr.
Aderaldo Rabelo, aí levava pra temperá. Era o tempero que ela butava no baião [...].
Era somente aqueles torresmo, e era o torresmo não era o toucim não, era o torresmo
(Moradora do Sitio Tijuca, entrevista realizada em março de 2013).
54
Mucunzá minha fia, que nois pizava o mie no pilão ou cum... eu num fazia assim
não mais eu via os vizim piza cum paia de bananeira seca. É pra uni o mie e ele num
fica pulando pra fora do pilão. Ai você coloca as palhas de bananeira pra quando
você bater a mãe de pilão ele não sair pra fora, fica ali mesmo. Butava o mie no
pilão, quando acabava moiava, ai prantava a mãe de pilão pra cima. Ele vai soltando
aquele pêlozim, quando acaba você sacode até fica só caroço (Moradora do Beira
Rio, entrevista realizada em fevereiro de 2013).
Outra receita típica é o pão de milho, onde o milho poderia ser ralado ou moído.
Segundo D. Regina ela colocava “o mie de molho, colocava o mie de molho de noite, quando
era de manhã tirava daquela água muia, penerava, quando acaba fazia o pão, pra merenda ou
pra mistura de meie dia” (Moradora do Beira Rio, entrevista realizada em fevereiro de 2013).
Esse pão de milho passava pelo processo de cocção em cuscuzeira de barro, como relatado
pela D. Izinha sobre o que sua mãe fazia, “o pão de milho que ela fazia naquelas cuscuzeira
55
de barro. Moía o milho no moinho ou então no ralo, fazia aqueles pão de milho (Moradora do
Sitio Tijuca, entrevista realizada em março de 2013). Tinha pessoas que não utilizavam a
cuscuzeira de barro, mas sim outra técnica, que segundo D. Luzia a técnica que sua mãe
utilizava constava em pegar um “pano de prato aberto, com a farinha de milho molhada e
salgada, por cima, depois amarrava e colocava na boca da cuscuzeira com água em baixo e
saia aquele cheiro do cuscuz natural” (Moradora do Sitio Brejo, entrevista realizada em março
de 2013).
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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Editora Senac São Paulo. 2009.
FREIXA, Dolores; CHAVES, Guta. Gastronomia no Brasil e no mundo. Rio de Janeiro:
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FONSECA, A.B.; SOUZA, T. S. N. de.; FROZI, D. S.; PEREIRA, R. A. Modernidade
alimentar e consumo de alimentos: contribuições sócio-antropológicas para a pesquisa em
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59
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PACHECO, A. de O. Iniciação à enologia. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 1996.
PETRINI, Carlo. Slow Food: princípios da nova gastronomia / tradução Renata Lucia
Botini. – São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2009.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho cientifico. 23. ed. rev. e atual. São
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TALLET, Pierre. Historia da cozinha faraônica: a alimentação no Egito antigo. Tradução
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TOZONI-REIS, Marilia Freitas de Campos. Metodologia da pesquisa cientifica. 2.ed.
Curitiba: IESDE BRASIL S.A., 2007. p.100.
VEDANA, V. "Fazer Feira" estudo etnográfico das "artes de fazer" de feirantes e
fregueses da Feira Livre da Epatur no contexto das paisagem urbana de Porto Alegre.
2004. 251f. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) - Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre-RS, 2004.
61
1. NOME?
2. IDADE?
3. ONDE NASCEU (ZONA RURAL/URBANA DE BATURITÉ)?
4. SUA FAMÍLIA ERA COMPOSTA POR QUANTAS PESSOAS?
5. SEUS FAMILIARES TRABALHAVAM COM AGRICULTURA?
6. O QUE ERA PLANTADO?
7. ERA COMUM CONSUMIR ANIMAIS DE CAÇA? QUAIS?
8. E DE PESCA? QUAIS?
9. COMO VOCÊS FAZIAM PARA CONSERVAR OS ALIMENTOS?
10. QUAIS ERAM OS ALIMENTOS, QUE ERA COMUM CONSUMIR NA
INFÂNCIA?
11. QUAIS DESSES ALIMENTOS VOCÊ TEM O HABITO DE CONSUMIR
ATUALMENTE?
12. PORQUE NÃO CONSOME MAIS OS OUTROS?
13. SEUS FILHOS/ NETOS/ BISNETOS CONSOMEM ALGUNS DESSES
ALIMENTOS?
14. SE A RESPOSTA FOR NÃO, POR QUÊ?
15. TEM ALGUMA RECEITA QUE MARCOU A SUA INFÂNCIA?
16. VOCÊ SABE A RECEITA DE ALGUNS DESSES PRATOS?
17. COMO ESSAS RECEITAS ERAM FEITAS?
18. COMO ERA EM SUA CASA QUANDO CHEGAVA ALGUM VISITANTE? A
ALIMENTAÇÃO MUDAVA? O AMBIENTE DA CASA?
19. COMO ERAM AS FESTAS DE FAMÍLIA (ANIVERSÁRIO, NATAL, FESTAS
JUNINAS, PASCOA E ETC.)?
20. COMO ERA O DIVERTIMENTO OU O QUE TINHAM COMO
DIVERTIMENTO?
62
DOCE, PITÚ, ENTRE OUTROS, DOS RIOS DAS CIDADES DO MACIÇO, APÓS
- D. Lucinha: Vinha na rua comprar, açúcar, o café, porque às vezes não tinha em casa,
tempero, mas as outras coisas de comida a gente plantava.
- Izamara: Naquela época o que vocês usavam para conservar os alimentos, já que não tinha
geladeira?
- D. Lucinha: Salgava.
- Izamara: Mas era só salgando mesmo ou botava no sol?
- D. Lucinha: Salgava. Se fosse carne botava no sol, botava no sol pra secar e toicim a gente
salgava era a mesma coisa. Geladeira de onde naquele tempo.
- Izamara: E almoço fazia e comia ali no horário?
- D. Lucinha: Era, fazia o almoço, almoçava. Fazia a janta e jantava. A gente não guardava
comida não.
- Izamara: Das coisas que a senhora comia na sua infância, o que era mais comum, fora essas
coisas que eram plantadas?
- D. Lucinha: Suco de cajá.
- Izamara: Era as frutas, né?
- D. Lucinha: É, a gente apanhava as frutinhas amarelinhas e fazia um suco, ai botava farinha
no suco e fazia a Lambique, ai comia.
- Izamara: Mais tinha outras coisas?
- D. Lucinha: De fruta?
- Izamara: Não, qualquer coisa que tinha, porque antes não tinha recheados...
- D. Lucinha: Antes não tinha essas coisas não.
- Izamara: Tinha que comer o que tinha próximo da casa, né.
- D. Lucinha: É, não tinha esses negócios de recheados, biscoitos, até tinha mais era muito
difícil de comprar. Não tinha dinheiro e também era difícil vir pra rua.
- Izamara: Era difícil?
- D. Lucinha: Naquele tempo o dinheiro só dava pra comprar o necessário, não dava pra
comprar tudo.
- Izamara: Essas coisas que a senhora comia, ainda tem o habito de comer?
- D. Lucinha: Nem pensar, que o pessoal não quer comer essas coisas, tá tudo mais fácil. Ai
quando aparece, que embora seja difícil, a gente inventa de fazer, ninguém quer. O pessoal
não quer mais essas coisas.
- Izamara: Mais assim, os filhos da senhora já comeram essas coisas quando moravam na
serra?
- D. Lucinha: Comeram sim, quando moravam na serra. Hoje, agora não querem mais.
- Izamara: Mas a senhora acha que por qual motivo eles não querem mais?
- D. Lucinha: Não querem mais porque tem tudo mais fácil, outras coisas, né. Ai então, come
o que tem, e as coisas de antigamente não querem mais. Querem as coisas diferentes.
- Izamara: Mais fácil?
- D. Lucinha: É...
- Izamara: E os netos da senhora, alguns deles chegaram a comer essas comidas, ou não?
- D. Lucinha: Sim, naquele tempo que eu morava na serra, a filha da Gui, a Brena morava
comigo. Naquele tempo a gente ainda fazia. Tinha um pé de cajá, mesmo naquela ladeira pra
cima da casa da tua mãe. Eu apanhava ali e fazia. Ai nesse tempo a Gui morava lá em casa e
os meninos comiam. Agora depois esses outros...
- Izamara: Depois que veio para a rua ficou mais difícil.
- D. Lucinha: Tem pra vender, mas o pessoal não liga mais em comprar, é difícil mais tem.
- Izamara: Como era o baião naquele tempo, como era que a senhora fazia?
- D. Lucinha: Há... O baião era o feijão, arroz com toicinho torrado ou cozido.
- Izamara: Mais fazia com fava também?
- D. Lucinha: Era mais com fava, mais quando não tinha fazia com feijão. E era bom.
65
uma banana, nem tem. Você vai pra feira é umas bananas desse tamanho vei e cara. E lá era
uma bichonas e os passarinho comia, até estragava. Hoje tá tão difícil.
- Izamara: Muito obrigada, a senhora me ajudou bastante.
- D. Lucinha: Por nada.
- D. Regina: Tudo, tudo de comida. Da macaxeira, feijão mulatinho, o arroz, a fava, o feijão,
o mie. Plantava o arroz pra gente cumê, pro gasto. Tudo, e ainda era pra cumê torrado no
pilão. Quando ia amaduriceno. Torrado no caco.
- Izamara: Tudo que vocês comiam era só essa parte que era plantado ou vinham na rua (sede
da cidade) comprara alguma coisa?
- D. Regina: As coisa que a gente num planatava, nera?
- Izamara: Como o que?
- D. Regina: Assim bulacha, macarrão, carne.
- Izamara: Vocês criavam animais para o consumo?
- D. Regina: Nois criava, mais era coisinha poca, naquelas época Izamara. Ai num dava para
a gente dizer, vou matar esses bicho pra cumê, né. Na nossa infância, agora depois que nois
fiquemo grande, ai nois tudo nois criava. Criava criação, porco...ai aqui e acola o papai
matava um pra gente comer, vendia pra gente se arremedia. Porque era muita gente, minha
irmã. 16 pessa entre nois tudim.
- Izamara: Naquele tempo não tinha geladeira, como vocês faziam pra conservar a comida?
Assim carne, comida ou faziam comida suficiente para cada refeição?
- D. Regina: A carne salgava. Todo horário se fazia comida. Fazia a janta e fazia o almoço,
porque num tinha como guarda. E o restim que fosse assim um bicho que ele matasse a gente
salgava, istindia numa vara veia trepada na teia... Era sufoco Izamara naquela época.
- Izamara: Mas era colocado no sol?
- D. Regina: Não ninguem butava no sol não, era só dento de casa nas vara, umas varinha que
a gente fazia.
- Izamara: E na infância, qual era a comida que a senhora comia e que não vê mais hoje em
dia?
- D. Regina: Minha fia é tanta da coisa. Tanta da coisa que eu não vejo hoje em dia. Essas
coisa que a gente comia mesmo, arroz torrado no pilão, agente torrava no caco e pilava no
pilão. A coisa delicia. Aquelas pipoquinha era a gente cumeno e pilano o arroz no pilão.
Primeiro os inverno num dá, mais se desse a gente ainda prantava pro gasto da gente. Ai tem
tanta coisa, assim milho, feijão, fava, essas coisa assim, macaxeira, batata tudo agente ainda
come e é plantado no roçado da gente.
- Izamara: Mais é da mesma forma que a senhora comia antes ou é diferente?
- D. Regina: Do mermo jeito, que eu num me acustumo com essas coisa de hoje. Nem meu
intestino se dá, tu acredita Izamara.
- Izamara: É mesmo, quando já se esta acostumado.
- D. Regina: Arroz, esses arroz de hoje eu num como. Como não minha fia. Que me faiz é
mau. Se eu num encontra arroz da terra pra mim cume, faze uma cumida pra mim, pode ter
fica sabeno que num existe arroz. No ano trasado nois ainda plantemo uma pontinha de arroz,
mar ai a gente colheu bem poquim. Num deu nem pra manda pila, pizei foi no pilão mermo.
- Izamara: Vocês pescavam? Quais eram os peixes?
- D. Regina: Papareia, camarão, pitu,... Hoje nada disso tem.
- Izamara: Mas a senhora sabe o porque que ele sumiram?
- D. Regina: Os rio se acabaram cum tudo isso se acabou as coisa.
- Izamara: Eu estava falando com a D. Lucinha e ela disse que estava tendo um surto de
esquistossomose, e que o pessoal da sucan colocou veneno pra matar esse parasitoide e
morreram os peixes também.
- D. Regina: Foi mermo. Veneno no rie e os peixe se acabou, ai perdeu a semente do peixe,
tanto do camarãozinho, tanto do pitu morto, minha irmã, nas berada do rie. Camarão,
papareia, fazia era pena, ninguém comia porque a gente tinha medo, por causa do veneno. Nas
flores, na Veneza, ave maria fazia era pena. Ai pronto se acabose.
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- Izamara: Pois é eu não tenho lembrança de nenhum desses, porque quando isso aconteceu
eu era muito criança.
- D. Regina: É de criança num se lembra mais, eu ainda me lembro das minhas coisas, ainda
do Pau Amarelo.
- Izamara: Mais assim são umas coisas vagas...
- D. Regina: Minha fia eu me lembro de tanta coisa de lá, que parece uma mintira. Porque eu
nasci lá nesse Mulungu, em..., eu dô até minhas conta bem certinha, em 52, pode fazer as
conta, em setembro, dia 28 de setembro, oia como eu me lembro. Nasci lá, quando foi em 60
nois viemo mora ali. 60, deixa que eu tinha uns oito ano mermo, nera?
- Izamara: Era...
- D. Regina: E eu ainda me lembro dessas coisas que eu passei lá tudim. Deu í apanha café
maduro, discopa, cuzinhava ele maduro, pizava no pilão depois de cuzido, ai quando acabava,
secava no caco...
- Izamara: Era assim que fazia o café?
- D. Regina: Era assim que nois fazia, na precisão, que a precisão era grande e num esperava
que secasse no sol nera? Ai, cuzinhava ele maduro, ai quando acabava levava pro pilão, pilava
e tirava só a casca primeira, ai a do café mermo, a gente secava no fogo, quando acabava,
pizava de novo, ai laigava aquela pelinha, assim como arroz, ai quando acabava sacudia pra
depois torra de novo e piza de novo, pa pode beber minha fia. Isso tudo que eu fazia nessa
época minha. Por isso que eu digo que ainda me lembro de muita coisa, ainda da minha
infâça. Meu juízo era muito bom nera Izamara? Porque tem gente com 5 anos num se lembra,
mais eu me lebro do beu sofrimento do que passou para trás. Da mamãe colocando uma
moquequinha de feijão no fogo, pra nois tudim cumê, quando acabava pegava as banana
verde, picava, inchia a panela de banana verde, ô cumida boa. Verdura esse negocio de cheiro
verde ninguém comprava, os cantero nois plantava im casa, né. As verdurinha, cebola, coento,
coisa mais delicia, cheiroso... Esses de hoje botaram tanto adubo nun sei o que é Izamara, que
num tem esse cheiro do estrume que a gente pranta em casa não, né Izamara?
- Izamara: É, porque eles colocam muito veneno (agrotóxico). Esse que você planta em casa
é diferente, mas também, o gosto faz toda diferença.
- D. Regina: Ai, você tira a mira pelas galinha que nois cria. Hoje nois cria a galinha, cum 6
meis do dia que ela cria pra ela pô, é 6 meis pra ela pô, e é se cume mie, se num cume ela
ainda rai mais pra frente. E hoje a galinha da granja, tira hoje, com 40 dia rá tá uns bichão
daquele.
- Izamara: Com quarenta dias os pintinhos criados em casa (caipira) são muito pequenos...
- D. Regina: Aqui tem pinto com mais de 60 dia e agora que tá impenando, num dá nem pra
ninguém cume ainda.
- Izamara: É hormônio demais... A galinha das granjas já comem a ração com hormônio, o
ovo já esta com hormônio, ai quando nasce o pinto, eles dão mais hormônio, na comida do
pinto tem hormônio também...
- D. Regina: Ai quando vai servi de sustância pra nois, no que resulta? Duença.
- Izamara: É...
- D. Regina: Nosso coração num resiste, nosso figo num resiste, nosso rim num resiste, a
sustança daquelas cumida, claro que vai fazer mal a nois por dento,né?
- Izamara: É...
- D. Regina: Negocio de pressão alta todo mundo tem, povo novo cum pressão alta, tudo é
isso Izamara. Sangue agita, é. Colesterol alto, que foi que viu naquele tempo, minha vô, a mãe
do papai, só pra tu vê como eu me lembro. A mãe do papai morreu cum 110 ano, cum 105
ano a vovó ia da barra da paia, que e mais longe que daqui pra Veneza, ela sai de
madrugadinha para o Mulungu e quando era umas 11 hora ela vinha chegano em casa bem
divagazim, cum uma bolsa de palha desse tamae (grande), cum as trairona salgada dento da
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bolsa, fazia era muito. E hoje o povo tudo novo, duente, num pode subi uma ladera, num
pode subi nada, e uma veia que nem a minha vó...
- Izamara: Hoje em dia consome-se muitas coisas industrializadas, como a mortadela,
salsicha...
- D. Regina: Eu num como, essas coisinha ai né pra Maria cume não.
- Izamara: As pessoas foram se acostumando a comer esse tipo decomida? E das coisas que a
senhora comia, seus filhos e netos já comeram?
- D. Regina: Tudim, se eu fize um beijú no caco, hoje ainda, tudim chega, cadê num tem mais
não?, tudim. Porque era a merenda deles quando eles eram pequenos, nera. Eu relava
amandioca, e agora o sacrifício, ia arranca, descascava, lavava, relava, e depois de ralar,
espremia, isfarelava, penerava, pra fazer aqueles beijuzim pra eles cume. Oia o Beto (filho
mais velho) ave maria, diz: mão cadê aquelas coisa gostosa que a mãe fazia?. Quando tem
macaxeira plantada ai, eu ainda faço, e todo mundo é doido pelo meu beijú no caco.
- Izamara: Mais essa receita foi a senhora que inventou, ou a senhora já aprendeu com outra
pessoa?
- D. Regina: Com a minha mãe. Ela fazia pra cria nois. E ela dizia que tinha aprendido com a
mãe dela, e a mãe dela tinha aprendido com a vó dela.
- Izamara: A mãe da senhora era do Mulungu?
- D. Regina: Tudim, minha famia todinha era do Mulungu, eu já conheci eles tudo agricultor.
Nunca ninguém tinha emprego naquela época. O emprego era o roçado mermo.
- Izamara: Dos netos da senhora algum deles rejeitam essas comidas de antigamente que a
senhora faz?
- D. Regina: Nenhum, nenhum rejeita. Tudim gosta, só se for esses que vão nascer agora que
não vão gostar, mas os que já tem, tudo gosta. Tudo chama coisas boas.
- Izamara: Além do beijú no caco que a senhora fala, do café, tem mais alguma coisa que
senhora fazia?
- D. Regina: O mie de molho, colocava o mie de molho de noite, quando era de manhã tirava
daquela água muia, penerava, quando acaba fazia o pão, pra merenda ou pra mistura de meie
dia.
- Izamara: O cuscuz?
- D. Regina: Que chama hoje, mas antigamente chamava pão de mie. Farinha de pipoca,
agente fazia com aquele miezim catado, eu tinha muito cuidado com as coisa pra mim e pra
todo mundo cume. Catava porque pudia ter alguma coisa, ai gurdava dento da lata, porque
naquele tempo não tinha tambô, pra guardar aquele mie pra fazer pipoca.
- Izamara: Com cera?
- D. Regina: Sim colocava uma cerinha ao redor da tampa pra num fura. E quando acaba,
destampava ela e tirava pra torar no fogo, no caco, quando acaba pisava, penerava, e fazia a
farinha que hoje chamam de fubá.
- Izamara: É.
- D. Regina: Que fubá, minha fia, hoje come é terra, que isso num tem gosto de fubá não.
- Izamara: É realmente, é muito diferente. Você comparar o comprado no supermercado com
caseiro é bem diferente mesmo.
- D. Regina: Minha fia eu ainda faço, mas esses dia nem mie tem nessas budega aqui, num
presta só tem furado chei de gurgui, né. Eu já disse ao Antoi (Marido), que quando for pra rua
procura um miezim novo que não seja furado pramim fazer fubanga, eu chamo é FUBANGA,
que eu chamava era fubanga.
- Izamara: Fubanga?
- D. Regina: É só sei chamar Fubanga. Uns chamam farinha de mie, outros fubá, mas eu só
sei chama fubanga mermo. Minha mãe chamava fubanga, eu vou morrer chamando fubanga.
- Izamara: Tem mais alguma dessas receitas que a senhora saiba fazer?
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- D. Regina: Mucunzá minha fia, que nois pizava o mie no pilão ou cum... eu num fazia
assim não mais eu via os vizim piza cum paia de bananeira seca. Butava o mie no pilão,
quando acabava moiava, ai prantava a mãe de pilão pra cima.
- Izamara: As folhas junto do milho?
- D. Regina: É pra uni o mie e ele num fica pulando pra fora do pilão. Ai você coloca as
palhas de bananeira pra quando você bater a mãe de pilão ele não sair pra fora, fica ali
mesmo. Ele vai soltando aquele pêlozim, quando acaba você sacode até fica só caroço. Tudo
isso eu fiz minha fia, pertenceu a essas coisa que te nas indrusta, eu já fiz nas minha mão. Eu
relava mandioca pra faze beiju pros minino cume e eu cume também, quando acaba eu relava
mais mandioca pra fazer farinha no caco, fazia um horror de farinha no caco que dava pra
semana...
- Izamara: Uma coisa D. Regina, oque é esse caco que a senhora fala?
- D. Regina: É... caco... caco...
- Izamara: É como se fosse um tacho?
- D. Regina: É um tacho, mas eu só sei chama caco.
- Izamara: É aquele tacho de ferro.
- D. Regina: Naquele tempo não existia de ferro, num sei nem que é que tinha, naquele tempo
era de barro.
- Izamara: Mas é a mesma coisa do tacho de ferro só que barro.
- D. Regina: A merma coisa, as azeinha. A mamãe merma que fazia e butava as azeinhas. O
alguidá, que a gente lavava as vazia, hoje existe pia, bacia, naquele tempo num existia nada
disso. Era alguidá... alguidá, pra lavar as vazia.
- Izamara: Como era o alguidá que a senhora fala?
- D. Regina: Era como se fosse essas bacia de plasco de hoje, ai ela fazia aquela bacia de
barro, sem azea. A diferença do caco pro alguidá é que o caco tem as azeinha e é mais raso, já
o alguidá é como se fosse uma bacia sem azeia e bem fundo. Hoje é tudo diferente, é pote pra
butar água, é filtro, é tudo no mundo... naquele tempo era potin de barro , tudo nosso era de
barro.
- Izamara: Lá na casa de minha mãe ainda tem pote, a senhora ainda tem?
- D. Regina: Num tem porque furou e eu já coloquei cimento um monte de veiz e não deu
certo. Mas eu vou comprar um pote novo pra mim. Água de geladeira num presta não, eu já
sou magra, ai se eu for beber me seca, porque você coloca uma garrafa dessa de coca-cola
dentro de uma geladeira hoje, quando é no final da semana tá assim uma coisa ressecada. Né?
- Izamara: É.
- D. Regina: Nã minha fia, eu só dos antigo e vou morrer antigo. Sem dá valo, a essas coisa
de hoje.
- Izamara: Como ficava a casa da senhora quando chegava visita ali nas Flores, mudava a
alimentação, o jeito da casa?
- D. Regina: Nada minha fia, muda cuma, sem te o que muda, ficava tudo do mesmo jeito.
- Izamara: A alimentação...
- D. Regina: Do jeito que nois cumia, que quisesse cume, cumia, quem num quisesse só ia na
casa da gente uma veiz. É num tinha mudificação, não. E hoje eu ainda tô do mesmo jeito,
quem quiser cume o meu feijãozinho, meu almoço lá dento, nossa janta, é tanto que a minha
casa hoje tá mais prissiguida hoje, do que antigamente. Porque esse povo de hoje, só quer
essas coisa de hoje, e a minha é a merma coisa. Um dia desses vei um home ali, que mora
perto da CEASA, no tempo da politica, e tava conversando sobre isso. Ele disse que
antigamente o povo gostava de uma bananinha no feijão e hoje o povo era com os tempero
tudo diferente, ai eu escutei a fala dele todinha, depois eu fui lá dentro e peguei uma bacia e
coloquei o feijão e as banana que tava partida só no mei, ai eu leve pra ele. Ele tampou foi os
zoi, Izamara, tampou foi os zoi, porque disse que tinha visto uma coisa das antiguidade na
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minha casa, cumeu e gostou. Por isso que eu digo, na minha casa ninguém vem pra cume
creme, isso e aquilo outro, não, se quiser minha cumidinha come, se não traga de casa.
- Izamara: Comemorava-se aniversário? Tinha comemoração de festa junina, mesmo que não
fosse na casa da senhora, fosse na comunidade que a senhora morava, se reunia e fazia
alguma coisa, ou não?
- D. Regina: Minha fia eu num sei nem o que é essas ninas que você fala ai, eu pesava que era
nim de passarim.
- Izamara: Mas faziam quadrilha...
- D. Regina: Nas Flore num existia isso não.
- Izamara: Vocês tinham algum divertimento?
- D. Regina: Só terço no mês de maio, que o povo rezava. O povo rezava no mês de maio, ai
a gente ia praqueles terço de noite, era de noite. Naquele tempo num existia essas coisa que
tem hoje não Izamara. Existia assim pra quem gostava de forró, de dança, e eu num era disso.
- Izamara: Mais tinha as festas de forró?
- D. Izinha: É, terço... Geralmente tinha, né? Tinha as novena, lá tinha as novena de São
Gonçalo, tinha a novena... Nem sei de quê. Menina tinha tanto santo. Eu lembro daquele santo
que, acho que é o São Gonçalo, que era o da água, né? Tinha... Sempre eles botavam num
canto que formava uma cacimba, aí a gente ia pra rezar aquelas novenas. Pra melhor dizer
quase toda noite nóis ia pras novenas nas casas dos vizim, né? Aí tinha o dia de ir lá pra casa.
- Izamara: Tinha reisado lá, naquele tempo?
- D. Regina: Tinha, mas agente num participava de nada disso não. Porque era longe de onde
a gente morava, onde a gente morava só era nois mermo, e era só gente que gosta de coisa de
religião, o povo da mãezinha, o povo da Diana (nora), que era os Braz, que era a D. Raimunda
que era tia dela, o Manoel Pereira. Lá era um povo que gostava muito de religião e nois num
ia pra essas coisas não. E aniversário de fie meu, eu nunca fiz até hoje, nem dum neto meu até
hoje. Sabe por quê? Porque meus fie, são 12 fie que eu tem, porque seu eu for fazer de um,
vai da queixa naquele outro, e naquele outro, e cadê as condições minha filha, para faze de
tudim. Me mostrar naquele aniversário, pra depois no outro dia num ter o dicume dos meus
fie, o almoço e a janta deles. Agora tem uma coisa Izamara, eu tive esse monte de fie, e deus
mesmo sabe, que eu tinha uma fia que morreu cum 5 meis, e ela e tistimunha de lá onde ela
tiver junto de deus, ela é tistimunha minha que meus fie nunca souberam o que é fome. Mas é
porque eu trabaiava, adquiria aquilo pra dentro de casa. Nunca que esse bracinho aqui pegou
no que é alei, nem meus fie pegaram no que era alei, nunca até hoje, e eles trabaiava mais eu
no roçado pra nois sobrevive, mas pra tá invadindo o que era dos outros, não senhora. De tudo
eu tinha na minha casa, porque os inverno era muito bom. Nera, Izamara?
- Izamara: Era.
- D. Regina: Tudo que você plantava dava com fartura, até as chuva era com fartura. Mais
hoje minha fia a gente trabaia... tem um roçadim nosso ali, que tá cum... Já interou duas
pranta... Hoje as coisa tão mais fácil mais não pra coisa de deus, as deus tão mais difícil né
Izamara, que é a chuva.
- Izamara: E o pior é que isso que esta acontecendo é culpa do homem.
- D. Regina: É dos homem, que derruba as mata, naquele tempo ninguém derrubava as mata,
só quando dava um dirritido e descias aqueles eito de mato. Mais os home mermo e quem
faiz. Pois é minha filha eu só tenho coisa boa pra lhe conta, coisa que você num passou.
- Izamara: Eu quis trabalhar esse tema porque, apesar de ter nascido no interior e meus pais
trabalharem com agricultura, eu não vi muitas dessas coisas, que dirá quem nasceu e vive até
hoje na sede da cidade.
- D. Regina: É num sabe conta nada. Pois é, nois vive aqui (cidade), eu e outros qualquer,
mas se dê inverno a gente pranta. Eu assim mesmo aposentada eu ainda trabaio pra minha
agriculturazinha, por quê? Se eu compra um kilo de arroz serve pros meu fie, mas pra mim
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não me serve pro meu alimento, eu num gosto porque eu fui criada só com essas coisa da
terra, dada pelos roçado, dada pela gente pranta e dá. Aime acostumei com aquele sabor, ai
nem meu organismo se dá com essas coisa de hoje. Ate um pão de mie que você fazer é
diferente do mie de molho, que você bota de molho, ai vai meu naquele muim, mói três veiz,
que é pra ficar mais fininha pra passa na peneira, pra fazer seu pão pra cume. E o chero vai
longe. Esses de hoje é fervendo e fedendo a cru. Abra um pacote de massa desse fubá de
vocês e deixe eu piza minha farinha no pilão, que que passa na estrada pergunta: Minino que
cheiro estranho é esse? Que nem chegou uma mulher na budega do cumpade zeca, da
fortaleza ela, quem vende essas coisa, de cereais num sabe, ai disse: Minino que chero
gostoso e diferente é esse que eu num tô sabendo o que é? ai o cumpade zeca disse: Você que
ver o que é? pois ele num trouxe a muie, e a muie pediu licença pra ver o que era. Ela ficou
morrendo de feliz, pediu até um poquim pra cume. Porque do chero do mie que eu tava
pizando, o chero foi no nariz da muie. E abra um pacote daquele ali, pra ver se sente cheiro de
alguma coisa, sente nada! E se você leva um poquim desse de casa pra algum lugar dentro de
uma lata, onde você passa vai ficando o cheiro.
- Izamara: Os produtos de hoje em dia tem muitas substâncias químicas.
- D. Regina: Mais também a geração aumentou demais, né Izamara.
- Izamara: É.
- D. Regina: O povo aumentaram demais, ai tem que ser com indrusta, porque não é todo
mundo que tem a nossa corage não, nois vamos morrer com a nossa corage, mas esse povo de
hoje minha fia...
- Izamara: É mesmo!
- D. Regina: Izamara eu apanhava café, tu sabe como apanha café?
- Izamara: Minha mãe me disse que também apanhou café.
- D. Regina: Pois é, agente colocava o balai na cintura e vai com o balai amarrado com
aquela tira. Vai pros mato, puxa aquela carroçada com folha com tudo pro balai, depois tira as
foias e rebola no mato e fica só os carocim no balai. Quando eu chegava em casa 3 hora eu ia
busca o frango no chiqueiro, matava, fazia a janta, coisa mais deliciosa medonha do mundo,
ainda pro roçado que era bem pertim, apanha o arroz maduro, trazia, colocava no caco,
torrava, pizava e fazia pra cume com aquele frango. Ave maria eu ainda me lembro daquelas
cumida minha fia de deus.
- Izamara: Você pegar o arroz maduro, torrar, pila e ele virar aquela pipoquinha, é muito
bom.
- D. Regina: É mesmo e o cheiro vai longe. E agora gostoso, que só com uma pimentinha de
cheiro, cheiro verde e alho, você come um prato de arroz. E esse de hoje num...
- Izamara: É... pode colocar até um kilo de mistura e a comida...
- D. Regina: Izamara, o seu Mauro tem uns trabaiadô e o almoço vinha da rua, quem fazia lá
eu num sei nem quem era, num sei se era as empregada dele, devia ser as empregada dele,
fazia baião. Quando foi um dia o Antoi disse assim, dá pros trabaiado vir cume aqui?, eu disse
dá minino. Ele pegou a mesa lá de dentro. Izamara o arroz minha irmão tinham tanto do óleo,
era fora do arroz, fora assim, num entra...
- Izamara: Eu sei, eu sei...
- D. Regina: num entra no caroço do arroz não, fica por fora, minha irmã era tanto do óleo
que eu disse: Que coisa lisa é essa meu deus? Quando eu fui butar, oi, tava soltim no fundo da
panela Izamara.
- Izamara: Nossa...
- D. Regina: Pra você ver, que nem as coisas de hoje num é mais...porque antigamente nois
usava o óleo pajeú, você chegou a conhecer o óleo pajeú?
- Izamara: Sim, já.
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- D. Regina: ai agente comprava uma latinha de oelo pajeú, quem podia comprar, que as
vezes a gente endia até uma galinha, vendia ovo, pra comprar aquela latinha der tamanhia
veia, aquilo ali, olha o tamae do buraquinho pra economiza. Minina era só um poquim que
você colocava naquele arroz que eu tava te falano, com uma pimentinha, alho e cheiro verde,
você come uma pratada de arroz. Agora nem o óleo presta mais. Nem o óleo faz e mau ao
povo
- Izamara: É... Também.
- D. Regina: porque coloca de mais, bota o tanto pra ver se dá gosto mais num dá. Faz é mal
as coisa de hoje. Por isso que eu num me dou com as cumida de hoje. Eu vou bater o
hospital, p´ra quem tem medo de dotô, que nem eu.
- Izamara: Obrigada D. Regina...
- D. Regina: Pois é minha fia, quando você precisa pode vim...
- D. Glicia: É, o meu pai era dono de uma pequena... Dono assim, porque era dois pais dele,
uma pequena propriedade rural, no município de Aratuba. E ele assim não era um agricultor
de ir para o campo trabalhar com a enxada, mas ele administrava essa propriedade.
- Izamara: Mas quando vocês vieram para Baturité continuou assim, ou não?
- D. Glicia: Continuou assim porque, ele era agricultor, é... A atividade principal era a
produção de banana e café no sitio, e ele fazia a venda da produção da banana em lombo de
animal.
- Izamara: Mas esse sitio é onde?
- D. Glicia: É no município de Aratuba, há...
- Izamara: Não esse agora quando vocês vieram pra Baturité?
- D. Glicia: Não, em Baturité a gente ficou com a casa. Aqui em Baturité ele comprou uma
casa para os filhos estudarem, mas ele continuou morando lá. E a gente veio morar aqui com a
tia.
- Izamara: Era comum vocês comerem animais de caça?
- D. Glicia: É assim, o que a gente comia mesmo era a carne seria a produção, por exemplo o
frango, a minha mãe criava os animais domésticos, criava galinha, criava também porco, e ai
comia-se também esses animais.
- Izamara: Mais de caça mesmo, não?
- D. Glicia: Caça, não lembro. Só talvez algum passarinho, né, que os meninos matavam.
- Izamara: E pesca, tinha algum peixe?
- D. Glicia: Tinha, tinha, é, pescava camarão, pitú, ai tinha aquelas... Eu acho que era só
camarão e pitú mesmo. Ai tinha os peixes que os meninos brincavam no rio, que eram os
bodós, piabas e ai era assim uma brincadeira das crianças no rio.
- Izamara: Nessa época não tinja geladeira, como vocês faziam para conservar os alimentos?
- D. Glicia: No período que a gente morava na serra, que não tinha energia, que agora eu não
lembro o ano que chegou a eletricidade lá, mais a gente ainda... não sei se foi na década de 70,
acho que no final da década de 70, já pra chegar na década de 80, talvez em 78, eu não e
lembro, mas não se comia carne todos os dias não, hoje é que a gente tem a cultura de comer
carne todos os dia. Se comia arroz, o feijão, a verdura... Geralmente tinha uma horta
domestica né. Houve uma época em que o meu pai produzia mesmo a cenoura, tudo pro
consumo e cheiro verde essas coisas sempre tinha lá no sitio. E carne, era só nos finais de
semana, no sábado, e ai era em abundância, ou quando se matava uma galinha, assim n meio
da semana, mas não era uma coisa continua não, como é hoje não. Ai a alimentação era mais
baseada no arroz, no feijão, na verdura que era produzida lá mesmo, e a carne era assim, se
matar na semana, se matasse esse animal lá, esse animal seria a galinha, porque se fosse
porco, seria no final de semana.
- Izamara: Dessas comidas diferentes que eram comuns você consumir, quais eram? Tinha
alguma comida diferente que você consumia e que não consome mais?
- D. Glicia: Sim, a galinha cheia, que era a galinha criada em casa, a melhor galinha do
mundo que eu acho hoje, e assim quando eu lembro dos sabores da infância me vem essa
galinha, que é uma farofa muito especial, feita com miúdos de galinha, chega assim... Ai meu
deus é uma delicia. Porque ela fazia o pré-cozimento, dessa galinha pra depois ir pro forno,
ela fazia um pré-cozimento pra poder encher a galinha com uma farofa deliciosa com miúdos
de galinha. Ai colocava essa farofa dentro da galinha, costurava, ai ela ia ao forno, ela ficava
assim douradinha. Porque devido a galinha ser uma carne mais dura, por ser uma galinha
criada em casa lá tem a carne mais dura, então teria que fazer esse cozimento com ela inteira
pra poder... Quer dizer um sabor da infância... Hoje eu não sei fazer, mais a minha irmã mais
velha sabe fazer, ainda hoje ela cria galinha lá no quintal dela. Ela ainda faz essa galinha nos
moldes de antigamente, e assim pato, uma delicia também a galinha na cabidela, que é
diferenciada. Na minha casa a gente usava a cabidela separada, porque nem todos gostavam.
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Se preparava a cabidela e depois se quisesse unia. Já a cabidela eu sei fazer. Além desses
também tinha uma coisa deliciosa que minha mãe fazia que é o coxão de porco no forno.
Naquele tempo quando se ia comer carne, se temperava com antecedência, minha mãe dizia
que era pra pegar o gosto do tempero na carne. Então a carne de porco, ela era perfurava pra
se colocar os temperos, e ela dizia que isso que fazia a carne ser gostosa. E realmente era.
- Izamara: O que vocês consumiam era mais o que era plantado no sitio, ou vinha muito na
rua comprar alguma coisa também?
- D. Glicia: Vinha... Ele era comboieiro, junto com meus irmãos e vinham vender banana
verde na feira de Baturité, e eles levavam tudo, arroz, macarrão, essa parte de cereais, era todo
comprado, agora o que não era comprado, era a banana, que a alimentação lá de casa era
baseada na banana. Tudo era com banana, era banana verde no feijão, era, tinha que se comer
muita banana, porque as condições da família eram precárias e como tinha bastante banana,
vamos comer banana. Banana, laranja, manga, as frutas de época, né. Goiaba, jaca e também
as das plantas da mata, como o ingá, a pitomba, tudo isso ai se consumia com gosto.
- Izamara: Lá era só essa parte do café e da banana mesmo, não plantava arroz, feijão?
- D. Glicia: Feijão plantava, mais não dava assim para o consumo, plantava assim na época
do inverno, mas não dava pra muito tempo não.
- Izamara: Não dava pra guardar não?
- D. Glicia: O milho às vezes dava. E a gente fazia muita comida de milho, a pamonha, a
canjica principalmente porque a gente é louco por canjica. Assim uma coisa maravilhosa que
a minha mãe fazia, chega dá vontade de chorar, é o doce do entre casca da laranja da terra. E a
laranja da terra geralmente não era plantada pra produção não. A minha mãe assim tinha um
prazer tão grande de fazer doce, mas a precariedade do açúcar. Assim, ela tinha o gosto de
quando o papai chega com o açúcar para ela fazer os doces dela, porque ela gostava muito de
fazer. Principalmente pra presentear as freiras Salesianas que acolhiam as minhas irmãs, eram
internas no colégio salesianas, então era pra presentear as freiras, ela sempre gostava, as
freiras, os amigos, presentear com esses doces. O processo de fazer o doce da laranja era
muito engraçado, porque nesse processo meu pai participava. Eles descascavam a laranja om
cuidado para ficar o mesocarpo bem grosso, eles eram muito criteriosos nessa parte de
descascar a laranja, desde tirar do pé, que não podia bater, devido o doce ficar amargando.
Então eles iam com maior cuidado tirar essas laranjas e descascavam e colocavam nos balaios
grandes, balaios só para isso e colocavam no rio, porque a gente morava assim a uns 50
metros do rio. Primeiro davam uma fervura, botava no rio para a água passar e lavar a entre
casca. Nesse tempo o rio não era contaminado, tinha poucas casas. Depois ela tirava aquelas
fibrazinhas que ficam no mesocarpo, uma a uma, em seguida ia pra panela com açúcar. Eu
tenho duas irmãs que sabem fazer muito bem. Era muito lindo, pois ficava aquela calda
transparente com o mesocarpo da laranja, geralmente era em vidros que ela colocava, e assim
é um sabor inigualável. Era comum a mamãe fazer doce de banana de corte, mamão com
coco.
- Izamara: Esse sitio ele é em Aratuba, mas ele é próximo a Baturité?
- D. Glicia: Não é a 18 Km do centro de Baturité, ele é município de Aratuba e ele é próximo
a município de Mulungu, assim as extremas de Mulungu e Capistrano.
- Izamara: Porque assim, todo esse território era de Baturité, depois que foi se
desmembrando.
- D. Glicia: Todas essas cidades elas pertenciam a Baturité, hoje essas que compõem os 13
municípios que compões o maciço de Baturité, desde Redenção, Barreira, Itapiúna,
Capistrano e ate Palmácia, Aratuba, Mulungu, todos eles eram de Baturité. Inclusive diz que
Redenção é a capital que libertou os escravos, não era redenção era Baturité.
- Izamara: Mais assim, dessas comidas que a senhora falou, quis a senhora ainda tem o
habito de consumir?
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- D. Glicia: Hoje em dia é a galinha na cabidela, só que a galinha ainda hoje eu trago isso
comigo, eu não como em lugares que eu não sei a procedência, porque a galinha eles eram
cevados pra poder ser consumido, porque elas eram criadas soltas. Ai eles diziam assim:
Vamos limpar a galinha. Então tinha que passar pelo menos 15 dias presa. Eu não confio em
comer em qualquer lugar, porque a galinha come todo que encontra, e principalmente no meu
tempo que não tinha banheiro nas casas e as necessidades fisiológicas eram feitas no campo,
ai é que... A galinha anda por todos os espaços, né. Outra coisa que eu não falei, eram os
camarões que a gente pescava nos rios, eu não mais os meus irmão, há noite era costume eles
saírem de lanterna à noite para pescar esses camarões, e até em 1987, quando eu já casada eu
ia a serra e eles saiam à noite os meus irmãos, os meus cunhados, pra pescar nesse rio. Todo
dia eles saiam e pescavam uma quantidade de camarão e ia colocando no congelador, quando
chegava no final da semana eles faziam uma grande torrada de camarão, com farofa e ia
comemorar essa pesca. Os pitús nessa época de 1987, já era raro, mais ainda tinha. Não era
em grande quantidade como quando a gente era criança.
- Izamara: Esses que senhora não consome mais, o que levou a não consumir mais esses
alimentos?
- D. Glicia: O camarão foi porque não se encontra mais no rio, porque o camarão de água
doce, ele tem um sabor diferente do camarão da água do mar. E principalmente esses sabores
da infância, eles... o que você consome na infância parece que você fica querendo consumir
quando você é adulto, querendo achar esses gostos, esses mesmos gostos. Eu lembro que a
comida da minha não tinha muito condimento e era muito saborosa.
- Izamara: Os filhos da senhora consumiram alguns desses alimentos?
- D. Glicia: Sim, galinha a cabidela até hoje, quando a gente consegue. Eu não sei matar, mas
eu sempre acho alguém que mate e eu faço essa cabidela. Eu seguro a vasilha para a pessoa
sangrar a galinha, ai eu vou mexendo, com um pouquinho de vinagre, mais quando não tem
vinagre pode colocar o limão.
- Izamara: E esses outros alimentos foi por quê?
- D. Glicia: Eles ainda comeram esses camarões, e também a gente ainda faz o coxão de
porco. E os doces eu acho muito trabalhosos e as vezes que eu comi foi que a minha irmã fez.
Já depois que a minha mãe faleceu. Têm também as bananas assadas na chapa do fogão,
banana curuda cozinhada, é aberta ao meio, ai bota uma pitadinha de açúcar com canela. Chás
de cidreira, de capim santo, naquele tempo a gente não ia pro medico por qualquer coisa.
- Izamara: Como a família era grande, como ficava a casa de vocês quando chegava visita?
Modificava a alimentação, a arrumação da casa ou não?
- D. Glicia: Com certeza, se queria oferecer pra visita o que tinha de melhor. Ai eram as
melhores carnes, era tudo, era tudo, eram as galinhas que iam pra o fogo. Se não tinha porco
pra matar procurava na vizinhança pra comprar e assim a carne de porco. A banha do porco
era usada como tempero não era óleo não.
- Izamara: E a arrumação da casa mudava também?
- D. Glicia: mais arrumada né, mais se organizava, passava o pano no cimento queimado, e se
passava também o querosene pra brilhar mais. Os moveis eram mais limpos, passava-se o
óleo de peroba, nos moveis pra ficar tudo brilhando.
- Izamara: E as festas de família, como aniversário, natal, festa junina... Como era?
- D. Glicia: Eu não lembro na infância de festa de aniversário, eu acho que não... Na minha
mente não ficou gravado. Mais assim eu lembro bem do aniversario da primeira neta, que foi
assim com muita comida, com sanfoneiro e tudo, festa dançante, porque eles gostavam muito
de dançar. Na minha época eu acho que as coisas eram mais difíceis. E assim natal era assim,
comidas gostosas, né. Essas galinhas recheadas, bolo de banana, e bolos fofos.
- Izamara: E festa junina, tinha alguma lá ou nas redondezas?
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- D. Glicia: Das festas juninas o que a gente lembra é das fogueiras que não faltavam nas
nossas casas. Todos os três santos, Santo Antônio, São João e São Pedro. E eram bem
comemoradas com Milho assado, bolos de macaxeira, de batata, com o pé de moleque na
palha da bananeira com a carimã, e assava carne na fogueira. A minha mãe às vezes era
madrinha de fogueira, esses rituais de amadrinhamento das fogueiras. Tinha muito respeito
era como se fosse a madrinha mesmo de batismo.
- Izamara: E se comemorava pascoa, ou era mais o ritual da semana santa?
- D. Glicia: Era mais o ritual da semana santa, tinha os peixes, o pirarucu que não faltava, às
vezes o bacalhau, ai era outro sabor legal. Minha mãe fazia o bacalhau só com o coco e o leite
de coco. Outra coisa que me lembro de que a gente fazia era o pão de milho, o café era pilado
de pilão, tinha outro sabor. Tinha a coalhada, geralmente se criava uma vaca e acreditava-se
que o leite de vaca era que alimentava mesmo de verdade. Nós somos muito do leite tirado do
peito da vaca e bebido na hora. O queijo, lá na minha casa não fazia, mais lá no sertão os
meus tios faziam. Era acostumada a ver uma dispensa lotada de queijo, sem ser pra vender era
pro consumo.
- Izamara: O que vocês tinham como divertimento?
- D. Glicia: Não, porque eu só vivi lá ate os meus sete anos, mais os divertimentos era assim,
as brincadeiras, correr nos terreiros, tomar banho nos rios, tomar banho de cachoeira,
divertimento de criança era esse. Era passear no sitio vizinho na Pindoba, que tinha os amigos
dos meus pais. E ir pros engenhos, comi os alfenins da hora, sentir o cheiro da rapadura...
- Izamara: De todas essas coisas que a senhora me falou, essa alimentação era encontrada
aqui em Baturité? Ou era só lá em Aratuba?
- D. Glicia: Em Baturité, quando a gente veio morra aqui em 1973, essas frutas vinham para
ser consumidas em casa. Era comum se sentar na Francisco Mesquita Pinheiro, se sentar no
parapeito alto da janela pra ficar olhando o movimento da rua e uma penca de banana do lado.
Assistia televisão, com uma bacia cheia de laranja, chupando. Esses alimentos vinham de lá,
essas frutas... Quando a gente chegou a Baturité, a casa que foi comprada ela tinha um
parreiral, que até hoje tem. Então a gente passou a consumir essa uva da região.
- Izamara: Era comum aqui nas casas ter um parreiral?
- D. Glicia: É, nas da minha rua todas as casas elas tinham um parreiral. Agora só tem o da
minha casa, eu não moro lá, mas ela ainda existe. A gente consumia essa uva da região, que é
uma uva pequenininha, que ela não tem agrotóxico, é agoada, é podada, e de três em três
meses renova a produção dela.
- Izamara: Mais hoje vocês ainda consomem de ela?
- D. Glicia: Ano passado ainda... Não esse ano eu já peguei umas uvas de lá. Porque se podar
e depois da podação aguar bastante, ela produz aqui na região. Quando a gente chegou ainda
tinha o trem aqui em Baturité, que fazia a linha para Quixadá, as pessoas vendiam frutas na
estação. A minha casa era procurada para comprar tanto as uvas quanto as bananas, pra
vender na estação. E a gente tinha muita raiva porque o papai venda a produção da uva e a
gente não podia comer do tanto que a gente queria. Ai a gente pegava os cachinhos de uva e ia
furando, porque ele dizia: Furou os cachos de uva, agora eu não vou poder vender.
- Izamara: E esses hábitos todos eram de lá, né? Mais alguns você encontrava aqui em
Baturité, sem ser os que vocês trouxeram? Porque era tudo essa parte agrícola.
- D. Glicia: O que se passou a consumir foi os refrigerantes, que era muito difícil lá, aqui
também não era muito fácil. Refrigerante era nos dias de festa ou quando se estava doente,
que tinha medo que os alimentos fizessem mal...
- Izamara: Olha ai...
- D. Glicia: geralmente usava tipo o guaraná, o guaraná Antarctica, por exemplo, eles
achavam que não fazia mal, problemas intestinais... Ai veio esses outros alimentos, a carne de
gado já era consumida lá, aqui passou a ser mais consumida, porque era mais fácil o acesso.
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- D. Izinha: Beijú, deixa eu ver qual era a outra coisa... que eu lembre bem mesmo que hoje
em dia a gente não vê mais, porque outros de tudo aqui eu vejo... era realmente, era o beijú.
- Izamara: Beijú... E animais de caça?
- D. Izinha: Há caça assim, preá, né, nambu, que lá tinha muito. Caça do mato é... o preá que
hoje em dia não se vê. Nambu, aqui também existe. Agora assim as outras caças tudo tem por
aqui.
- Izamara: Mais a senhora inda consome esses animais de caça?
- D. Izinha: Ainda, se meus filhos conseguirem trazer para casa, eu como sim.
- Izamara: E peixe?
- D. Izinha: Mulher... papareia, pitú, camarão, é... é... Aquelas bichinha que tem é... curuca,
uns peixe que parece com camarão, só que ele é o contrario do camarão ele tem assim a pata
assim para a frente e ele pega a gente assim com aquelas tesourinha. O camarão e o pitú. E a
curuca tem umas patinha assim pra trás. A papareia, eu amava pegar papareia. As bicha lisa, a
gente tinha que pegar uma macheia de areia para poder conseguir pega ela dentro d‟agua. Era
muito bom.
- Izamara: Nas conversas com a minha mãe, ela falava que tinha muito no rio.
- D. Izinha: Pois é até a sucam colocar veneno para matar o schistosoma. Olha mulher acabou
com os camarão, com os peixes de lá... Os peixe de lá está diferente agora.
- Izamara: Vocês comiam aquelas larvas de coco, principalmente do catolé? A senhora
chegou a comer?
- D. Izinha: Comi sim, mais tem gente que come cru.
- Izamara: Eu já comi cru, assado e torrado.
- D. Izinha: Eu não, eu comia torrado, nós quebrava. Achava bom quando encontrava, era
bom demais. Hoje eu acho que não teria coragem de comer não. Naquele tempo eu comia,
juro que comia. Juntava nos coqueiros aquela ruma de coco, ai nós trazia, e ia quebrando. Os
que tinham miolo bem, já tinha outros que tinha aqueles bichim, nós ia juntando. Quando
acabava, levava para uma frigideira, torrava, colocava um pouquinho de sal, fazia a farofa.
Fabiana, filha tu num sabem como era gostoso.
- Izamara: É muito bom.
- D. Izinha: Nós chamava de moçorongo.
- Izamara: Moçorongo?
- D. Izinha: É, moçorongo.
- Izamara: Já a gente chama de bilongo.
- D. Izinha: Agora eu acho que não tenho coragem de comer mais não.
- Fabiana (Filha de Izinha): É saboroso, eu sei. Porque dentro dele é só leite de coco.
Quando agente era pequeno aqui, a mamãe criava um monte de neto, a gente ia comer os
cocos e ficava brincando: - Duvido que tu coma, duvido se tu coma... E a gente pra mostrar
que não tinha nojo ou medo, comia, botava na boca e mastigava. Mais comer por comer, não.
- D. Izinha: Já a gente comia porque queria comer. Olha na época em que eu erra menina, as
vezes eu conto aqui pra eles, eu penso que ele acham que isso não existiu. Nesse tempo a
mamãe criava galinha, ela matava uma galinha. Aquele fato da galinha ninguém botava no
mato não, nós levava para a água, lavava e virava aquelas tripinhas. Assava, às vezes
torrava... Meninas dava uma farofa. Hoje em dia a gente cota pros filhos da gente, eu acho,
que eles pensam que dá um trabalho enorme. A minha filha mais nova da um trabalho enorme
para comer, porque ela gosta de comer é bobagem. Imagina se fosse para comer uma coisa
dessas. Era muito diferente antigamente de hoje em dia. Quando eu era menina pra hoje, né.
- Izamara: É mesmo.
- D. Izinha: Mulher aqui em casa pão, eu nem me iludo em comprar não, só se alguém
trouxer. Mais aqui eu compro massa de milho, eu compro farinha de trigo. Ai é um dia
tapioca, outro cuscuz, outro dia é... Faz buruaca. É assim a merenda.
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assim, chega chiava no dente, né? Era muito bom! Hoje em dia nada disso a gente encontra
mais.
- Fabiana filha de D. Izinha: Tinha outra coisa que a mamãe fazia que eu amava, que hoje se
alguém fizer eu num gosto. Ela cozinhava uma galinha com muito caldo e ela ficava gostosa.
- D. Izinha: Era... ela fazia a galinha caipira, essa galinha... galinha de casa. Ela fazia numa
panela d‟água, que ela fazia pirão pra gente e a gente terminava de comer e bebia o caldo. E
ainda tinha caldo pra todo mundo. E era gostosa. Hoje em dia se você for fazer a galinha fica
com gosto de água.
- Izamara: É.
- Fabiana filha de D. Izinha: E não tinha esses tempero que tem hoje, era só o alho, a
pimenta do reino e o cheiro verde.
- D. Izinha: Era... E hoje em dia a gente bota tempero e mais tempero e não tem jeito, é muito
diferente.
- Fabiana filha de D. Izinha: São coisas assim que você... as vezes eu fico... as vezes a gente
comenta é muito, né mãe? As comidas que se lambia, como se diz, né?
- Izamara: Hummm...
- Fabiana filha de D. Izinha: Hoje em dia, você tenta fazer mais num fica igual, não fica de
jeito nenhum! Outras coisa também que a gente comia quando eu era pequena e morava com
a mamãe (vó). Bofe. Hoje em dia vai ver se a gente come!
- Izamara: O quê?
- Fabiana filha de D. Izinha: Bofe. A minha mãe comprava bofe, comprava língua,
comprava ubre... Tudo isso eles comiam. Mulher, mulher eu compro... eu cheguei a comprar
uma vez aqui. Só não foi para o mato porque, se não me engano, eu dei pro meu irmão ele
levou e comeu. Eu fazia torrado, não prestava, eu fazia assado, não prestava, botava cozido...
- Izamara: Na verdade, o que é o ubre?
- Fabiana filha de D. Izinha: É o peito da vaca. Aquela parte...Aquele...
- Izamara: Mas hoje em dia tem quem venda?
- Fabiana filha de D. Izinha: Tem sim, tem quem venda. O que a mamãe (Vó) comprava era
diferente do que a mãe comprou. O que a mãe comprou só tinha gordura. O que a mamãe
comprava ele... quando você assava ou torrava ele ficava como se fosse queijo.
- D. Izinha: Ficava com gosto de queijo.
- Fabiana filha de D. Izinha: Ele era meio arroxeadozim, já essa parte que a mãe compra era
mais como se fosse gordura mesmo. Ai era bom demais. Quando a gente morava na casa da
mamãe, a gente só comia carne no final de semana. Eu ficava rezando, pedindo a Deus pra
chagar o sábado e o domingo. Porque era quando ela ia na rua, ela comprava o bofe, ou então,
era... Qual era a outra coisa? Língua, ou então ela matava uma galinha do terreiro. Era só os
dia que a gente comia. Na semana era só o feijão com gordura. Também era muito bom.
- Izamara: Chichola?
- Fabiana filha de D. Izinha: É. Hoje dificilmente a gente consegue comer.
- D. Izinha: Aqui a dificuldade pra comprar tempero.
- Fabiana filha de D. Izinha: A dificuldade é por causa desse filho aqui dela o ?????????. Ele
não come frango, nem peixe, nem...
- Izamara: E ele come o quê?
- D. Izinha: Ele come linguiça, salsicha, mortadela, toucinho. Ovo ele não gosta, come no
último recurso.
- Izamara: Mas quando ele era pequeno ele não comia essas coisas?
- D. Izinha: Comia, ele comia tudo, tudo, tudo. Aí ele dizia assim: Eu comia porque não tinha
outra coisa pra comer, porque se eu pudesse eu não comprava carne, eu não comprava peixe,
só comprava cará. O único peixe que ele gosta é aquele cará de rio. Eu comia porque não
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tinha outra coisa pra comer, porque se eu pudesse eu não comprava carne, eu não comprava
peixe, só comprava cará. O único peixe que ele gosta é aquele cará de rio.
- Izamara: Aqueles pequenininhos?
- D. Izinha: Sim, porque se comprar peixe grande, qualquer tipo de peixe, ele come, mas ele
não come achando bom. Ele come desse tantim. Se você compra... pode fazer um bife melhor
que tiver, da carne melhor que tiver, se você botar dois pedaços, ele come a metade de um, o
resto volta no prato. Agora bote toucinho minha filha, que ele come todim. Eu já não gosto de
mortadela, toucinho, eu gostava, mas hoje em dia não consigo nem assado.
- Izamara: Toucinho assado com baião...
- D. Izinha: Eu já tentei de todo jeito, num sou chegada. Vou pra Baturité compro mortadela,
mas eu compro mais é frango, né? Porque frango eu faço torrado, no outro dia eu faço no
molho. Aí como agora ele só faz jantar em casa, aí no almoço dele vai qualquer coisa, pra
mim tanto faz, ele comer ou não, porque eu não estou vendo. Eu sei que a comida ele come,
agora tempero... Eu fico chateada quando eu boto uma comida, um tempero no prato dele, que
ele come a outra comida e deixa o tempero dele pra trás. Acho que ele faz pensa é assim: que
eu sei que ela sabe que eu não gosto, mais ainda compra. Ele é de dizer assim: a mãe compra
sabendo que... Aí por isso...
- Izamara: Mas ele mora com a senhora?
- D. Izinha: É... a única que mora na casa dela é ela (Fabiana). Os outros todos moram aqui.
- Izamara: Na casa da senhora comemorava-se aniversário? Natal?
- D. Izinha: Não.
- Izamara: Nem festa junina?
- D. Izinha: Nada, nunca ninguém comemorou nada, pra melhor dizer, eu lembro, parece que
a gente nem fazia aniversário, no tempo que a gente era pequeno.
- Izamara: Nem terço?
- D. Izinha: É, terço... Geralmente tinha, né? Tinha as novena, lá tinha as novena de São
Gonçalo, tinha a novena... Nem sei de quê. Menina tinha tanto santo. Eu lembro daquele santo
que, acho que é o São Gonçalo, que era o da água, né? Tinha... Sempre eles botavam num
canto que formava uma cacimba, aí a gente ia pra rezar aquelas novenas. Pra melhor dizer
quase toda noite nóis ia pras novenas nas casas dos vizim, né? Aí tinha o dia de ir lá pra casa.
- Izamara: Hummm.
- D. Izinha: Agora sim, festa de aniversário acho que vim descobrir que a gente aniversariava
depois de eu já... não era de pequena não. Ai tem outra comida que eu morro de saudade, não
era uma comida era uma bebida.
- Izamara: O quê?
- D. Izinha: O aluá. Um aluá feito... que eles fazia de milho. Meu Deus do céu, chega me deu
água na boca e vontade de tomar.
- Izamara: O pessoal faz muito o de abacaxi, não é?
- D. Izinha: Também, mas o de milho era muito mais gostoso.
- Izamara: Eu nunca cheguei a ...
- Fabiana filha de D. Izinha: A mãe fez o aniversário de um ano desse aqui, a mãe fez aluá
de abacaxi.
- D. Izinha: Ai foi, num foi?
- Fabiana filha de D. Izinha: Foi.
- D. Izinha: Eu sei que ... mulher eu lembro bem desse aluá. Era o aluá e o pé de moleque.
- Izamara: E qual era a diversão de vocês?
- D. Izinha: Tinha reisado, mas eu nunca cheguei a ir.
- Izamara: E forró?
- D. Izinha: Não. Pronto, tinha uma diversão de quando a gente era menino, criança. Então o
que a gente gostava de assistir era uns bonecos, umas empanadas com os bonecos e a pessoa
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por trás falava e apresentava aqueles bonecos correndo pra lá e prá cá. Mulher a diversão que
eu lembro que tinha pra gente era essa.
- Izamara: Meus pais falavam do reisado que tinha os papangus.
- D. Izinha: Ah, os papangus. Eu ouvi falar, mas eu fui conhecer esse reisado quando eu já
era mãe desse aqui; no tempo que eu fui pra Morada Nova, e lá eu vi. Foi a primeira vez que
eu vi. Na minha época de pequena eu ouvia falar, mas a gente nunca ia não. Também, minha
mãe era uma mulher separada, era só com os filhos dentro de casa, ela não levava a gente pra
esses cantos não. Ela nem ia também. Minha mãe não ia não, ela passava o dia todo
trabalhando e quando ela chegava em casa pra pra ajeitar alguma coisa. A minha mãe era a
Maria José Mota. A mamãe tinha eu que era a Izinha, a Netinha, o Zé Maria e o Pedro. Na
época era só nóis quatro.
- Izamara: Muito obrigada pela sua participação e contribuição com a minha pesquisa.
- D. Izinha: De nada.
- D. Netinha: Meu pai, minha mãe, meu irmão e eu, que éramos os dois mais velhos, a Izinha
e o Pedro.
- Izamara: Vocês trabalhavam com agricultura?
- D. Netinha: Sempre com a agricultura.
- Izamara: E plantavam oque?
- D. Netinha: Era milho, fava, arroz, feijão, mandioca...
- Izamara: Vocês criavam animais também?
- D. Netinha: a mamãe criava galinha, ela sempre criou galinha, ai depois passou a criar
porco, criação, né, cabra.
- Izamara: E quando vocês moravam no interior, vocês vinham na cidade comprar alguma
coisa, ou vocês só comiam o que vocês plantavam?
- D. Netinha: Não, vinha na cidade comprar, porque na época não tinha energia, né, a onde a
gente morava ainda tinha que comprar o querosene. Comprar o sal, é... Outras coisas que não
dava no roçado.
- Izamara: Hurum...
- D. Netinha: Arroz e farinha ele não comprava.
- Izamara: Vocês faziam a farinha? Tinha casa de farinha?
- D. Netinha: Era... tinha. Eu plantava a mandioca e arrancava pra fazer a farinha, né. Ai
comprava alguma coisa assim como uma carne, carne a gente comia assim de 8 em 8 dias.
- Izamara: Só no final de semana era?
- D. Netinha: Isso, só no final de semana.
- Izamara: E o querosene que vocês compravam era pra lamparina?
- D. Netinha: Era pra lamparina.
- Izamara: Naquele tempo como não tinha energia, nem geladeira. Como vocês faziam para
conservar os alimentos?
- D. Netinha: Salgava.
- Izamara: Só salgava?
- D. Netinha: Só.
- Izamara: Não colocava no sol?
- D. Netinha: Não.
- Izamara: E comida do almoço, fazia só para aquele horário do almoço, do jantar para a hora
do jantar?
- D. Netinha: Era, fazia pro almoço. As vezes só tinha o que desse para o almoço. A noite só
tomava um cafezinho com farinha e pronto. Era a nossa alimentação. Dificilmente tinha uma
carne pra salgar, mais ai tinha peixe, porque naquela época tinha muito peixe no rio, ai a
mamãe pescava pra gente comer na semana.
- Izamara: Quais eram esses peixes? Hoje em dia você ainda os encontra?
- D. Netinha: Lembro, camarão, o pitú, é... Lá no Rio do Meio... como era um peixe que tinha
lá?
- Izamara: Papareia?
- D. Netinha: É Papareia, menina tinha muita no Rio do meio... Pitú, curuca, era..., tudo isso
ai era a nossa comida. Naquela época, ai meu deus era bom demais, da minha adolescência,
13 anos à baixo eu desejava que voltasse, agora dos meus 14 anos à cima eu não queria que
voltasse mais não, ficasse aqui mesmo.
- Izamara: A senhora lembra de alguma comida que a senhora não come mais? Perdeu o
habito de comer? Ou fazia de uma forma diferente de hoje?
- D. Netinha: Eu lembro, é o... Aliás, eu sempre faço, o que eu planto eu sempre faço. E o...
Como é que chamava? Muita gente ainda chama de pão de milho novo, né.
- Izamara: Hurum...
- D. Netinha: Quando eu planto às vezes eu ainda faço. É uma coisa que a gente hoje...
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contava, que saia daquele canto, quando dava fé, ele já chegava dizendo: Arranjei um canto,
em tal lugar. E era assim.
- Izamara: Vocês faziam festa de aniversário, natal, festa junina?
- D. Netinha: a única coisa que lembro, assim, que lá em casa era sagrado à semana santa.
Comemorava até... De 10 anos acima a mamãe botava pra jejuar. Era uma data que eu não
esqueço. Mais natal eu não tenho lembrança dessa época. Aniversario não fazia, não sabia
nem quando era dia de aniversário. Depois dos meus 15 anos, 14 anos, não era 12 anos, que
eu comecei a estudar com 12 anos, foi que eu vim ter noção de dia que aniversariava. Ate os
12 anos eu não sabia, porque não sabia nem ler nem escrever.
- Izamara: Mais nem terço faziam nos aniversários?
- D. Netinha: Não, os terços que a gente ia, era normal mesmo. A novena que tem nas casas,
mais em casa mesmo, não tinha não.
- Izamara: E qual era o divertimento? Vocês tinham algum divertimento? Alguma festa?
- D. Netinha: Não, só assim depois dos meus 15 anos que eu já morava aqui na Tijuca, ai em
São João sempre tinha uma vizinha que fazia uma festinha. Com tocador de violão, quem
tocava era o senhor Luiz Martins, que já é falecido. Nessa festa as vezes eu ia porque eu
gostava muito de dançar, depois de muito peleijar, quando a mamãe estava de veneta boa ela
deixava. As vezes quando ela estava numa veia boa, ela deixava eu ir e dizia – Olha, as 10
horas é para estar em casa. Se passasse 2 minutos, da próxima vez você não vai mais. Era bem
pertinho.
- Izamara: Era perto da casa?
- D. Netinha: Era...
- Izamara: E quando chegava visita na casa da senhora, mudava alguma coisa? A
alimentação?
- D. Netinha: Não porque naquela época não tinha esse negocio de visita não. E outra a
mamãe vivia mais trabalhando do que em casa. Só ficávamos nós, eu e meus irmãos. Os mais
velhos iam para a roça com ela.
- Izamara: Mais era difícil ir gente de fora?
- D. Netinha: Era às vezes, ate da família era difícil ir lá em casa.
- Izamara: Hoje é muito comum receber visitas em casa nas férias, no natal, ano novo...
- D. Netinha: É, mais lá em casa não tinha isso não.
- Izamara: ate mesmo porque não se tinha conhecimento das datas né?
- D. Netinha: É a única visita que ainda lá em casa era a vovó. Sempre uma vez ou outra a
vovó aparecia lá por casa. Passava um dia, dois e depois ia embora.
- Izamara: Você fazia beijú?
- D. Netinha: Fazia na época de farinhada, fazia beijú, beijú de coco.
- Izamara: tinha alguma casa de farinha perto de onde vocês moravam.
- D. Netinha: Tinha, lá no Rio do meio, nós morávamos em um quarto que era emendado
com a casa de farinha, nós morávamos lá no sitio do Senhor Dedé Tavares, pertinho do
povoado do Rio do Meio. Lá tinha uma casa de farinha e um engenho. Que era puxado à boi.
Ainda me lembro. Ai depois, descemos e depois fomos morar com o senhor Gonzaga, no sitio
do senhor Gonzaga. Lá foi onde nós moramos nesse quarto emendado com a casa de farinha.
Nessa época o papai já não vivia com a gente, só era nós quatro: Zé Maria, eu, a Izinha e o
Pedro e a mamãe, só éramos 5 pessoas. Nós morava nesse quartinho na casa de farinha, lá não
tinha muitas coisas, era só uma veredinha, como essa que você vai voltar agora.
- Izamara: Eu estava falando com a Izinha e ela disse que conheceu umas pessoas lá no Bom
Jardim, onde o meu pai nasceu. A D. Judite e a Carmelha, que faziam panelas de barro.
- D. Netinha: É, essa dai eu lembro da panela de barro, só que eu não tenho muito
conhecimento. A Izinha é porque ela andava muito. A Izinha pegou a adolescência dela, ela
teve mais sorte, porque a mamãe era liberal com ela, ela ia pra onde ela queria. Se eu fizesse
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uma coisinha assim... a mamãe chegava e a Izinha dizia: A netinha fez isso assim, assim... Ai
pronto! Aquilo dali... me lembro que com 14 anos, a mamãe me proibiu de ir para a escola
num dia de prova porque eu chamei a Izinha de “Bicha veia”
- Izamara: Minha nossa...
- D. Netinha: Ai quando a mamãe chegava a Izinha ia logo contar, e eu ficava de castigo.
- Izamara: Ela disse que continuou indo para o Rio do Meio e pro Jordão.
- D. Netinha: Eu fui voltar para aquelas bandas em 2010, porque teve uma reunião na casa do
Assis Arruda. A Rosane me convidou para essa reunião, nessa época eu fazia parte da
diretoria da associação. No caso era reunião politica e eu fui, quando começou a andar eu me
lembrei e disse, Rosane eu já andei por aqui, eu já morei aqui, só não sei onde. Ela perguntou
onde foi e eu disse que foi no sitio do senhor Chico Airton. Ai ela disse que era mais para lá,
mais para frente. A Izinha tem mais lembrança disso porque ela continuou a ir para lá. Ela
passacva de semana lá e tudo. Eu tinha vontade mais a mamãe me prendia.
- Izamara: Pois obrigada pela atenção e por ter contribuído bastante com a minha pesquisa.
- D. Netinha: Por nada, precisando é só vir.
- D. Luzia: Era cana, café também nos tínhamos. Eu só sei que cana tinha bastante, a mesa da
sala do jantar era lotada de rapadura. Rapadura doce, doce bom, que é o doce labirinto. E era
maravilhoso, meu pai vendia...
- Izamara: Como era o nome do seu pai?
- D. Luzia: Izaias Soares Taveira. E ele trabalhava muito, ele era banqueiro, ele que fazia a
rapadura, fazia batida.
- Izamara: Chama de banqueiro quem faz?
- D. Luzia: É... O nome de quem trabalha no engenho, moendo a cana e fazendo rapadura, a
profissão dele é banqueiro.
- Izamara: E vocês plantavam legumes?
- D. Luzia: Plantávamos, mas era pouca coisa, assim na beira do rio, pertinho do rio, plantava
feijão e milho também, mas tudo pouco, porque a... Papai plantava macaxeira mais não em
grande quantidade, porque o foco maior era a cana.
- Izamara: Cana...
- D. Luzia: Cana para a rapadura e o café, que ele apanhava, laranja e tangerina, sempre teve
muita coisa, principalmente lá em cima onde você fez a visita, na casa da Ruth. A gente tinha
um terreno lá.
- Izamara: Mas é um terreno que a gente passa? Porque tem um canto lá que tem uma
plantação de café, com vários pés.
- D. Luzia: Pois é, são vários terrenos e ai tem os dos meus tios também, né. Que tinha muito
lá, sempre dava muita tangerina. É grande as tangerinas, maravilhoso.
- Izamara: O que vocês mais comiam? Alguma comida diferente que vocês não consomem
mais?
- D. Luzia: Gostaria de falar para a minha querida colega Izamara, colega de faculdade que
eu não participo mais, infelizmente, quem sabe mais na frente eu retornarei. Mas eu lembrei
agora com a sua pergunta que nós tínhamos quando a gente era criança. A mamãe... o meu
pai ia pescar, né. E tinha era muito pitú e camarão.
- Izamara: Tinha aqui também?
- D. Luzia: Esse rio aqui tinha demais. E hoje nos não vemos mais é difícil, se encontra, não
sei nem se, se encontra camarão, né. E pitú. Mas no nosso tempo, quando a gente era criança a
mamãe acordava a gente, né. Quando a gente vinha olhar, as panelas cheias de pitú, gente era
desse tamanho.
- Izamara: Como era ele?
- D. Luzia: Era como se fosse tipo o caranguejo, porque ele tinha aquelas patas e a gente
quebrava e dentro tinha aquela carne, eu não sei como a gente diz... a pata do pitú tinha uma
carne. E olha a minha mãe... Era duas panelas grandes cheias. Uma do pitú que era grande
Izamara, era assim desse tamanho, era mesmo. E separava a do camarão porque o camarão era
menor. E a gente... A mamãe cozinhava e temperava. A gente acordava duas horas da
madrugada, a hora que fosse, duas e meia, três horas, e a mamãe acordava a gente, pra gente
comer pirão escaldado de camarão. A gente amanhecia o dia tudo bem farto. Não queria nem
tomar café da manhã. E assim, a gente sente muita falta, muita falta, até hoje muita gente se
pergunta, muitas famílias aqui: porque se acabou o pitu e camarão no rio. E nos temos até
uma resposta que foi na época que também teve o foco de esquistossomose.
- Izamara: Shistosoma, é... Pois é varias pessoas nas entrevistas também falaram que foi por
isso, lá nas flores, jordão...
- D. Luzia: Porque a sucam fazia o tratamento, ai jogou o veneno no rio e a gente só acha que
foi por conta disso. Mas a gente sente muita falta, a gente sente muita falta da... De hoje ter...
Como a gente sente falta. Ate os pescadores, viu Izamara, até os pescadores sentem a falta de
pescar, né, de pescar o pitú, camarão que não existe mais, né. Quem sabe até a gente consiga
voltar, porque tudo possível. Existe camarão, existe pitú, né? Pegar como se diz o filhote, a
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sementinha, né, e lançar no rio, jogar no rio. Deus que deu pra gente, deus criou e botou ai no
rio, depois veio as doenças e o homem teve, como se diz, matar.
- Izamara: Além do pitú, oque lembra mais, que gostava de comer quando era criança, que
vocês comiam muito?
- D. Luzia: É... Bom, galinha, né. A mamãe criava galinha. Nos tínhamos também uma vaca e
a gente era criança mesmo. Era até aqui do lado, essa vaca e eu até acordava cedinho pra
tomar o leite que chama mugido, morninho Izamara, hoje eu não tomo assim. Hoje eu tomo
fervido. O lete fervido, mas a gente tomava o leite puro e quentinho do peito da vaca, e era
todo dia. Ai depois o papai teve que vender a vaca por conta da cana, porque ele tinha que se
dedicar mesmo, assim... Uma semana de moagem, né. Ele acordava uma hora da madrugada e
ficava até seis horas da noite. Eles iam de uma hora da madrugada até o dia todo, né, fazendo
rapadura, e ele trabalhava, não só... porque nos nunca tivemos engenho, ele trabalhava
engenho dos outros. Do pessoal que tem engenho mesmo. Hoje nos temos aquele engenho
que você até conhece.
- Izamara: É, eu lembro.
- D. Luzia: Do tio João, irmão do papai e eles ainda hoje fazem rapadura, ainda fazem batida.
Mas assim, o meu pai já se aposentou, tem 93 anos, lucido ainda. Mas não quer mais saber. E
por sinal a nossa cana, ele acabou. Porque o papai foi embora e a mamãe faleceu. Ele foi
embora com o meu irmão e eu morava em outro lugar e ai foi se acabando. Agora até
rapadura a gente tem que comprar para poder comer, mas o doce daqui continua maravilhoso.
Eu tava até com uma rapadura ali, com o miolo bem amarelinho. O doce labirinto todo mundo
conhece.
- Izamara: Pois é. Naquele tempo não tinha energia, o que vocês faziam para conservar os
alimentos?
- D. Luzia: Era maravilhoso sem energia. Sem, o que a gente fazia? A gente colocava sal.
- Izamara: Só salgava ou salgava e colocava no sol?
- D. Luzia: Só salgava. E assim naquela época só a minha mãe que trabalhava, ela tinha cinco
filhos, e nessa época a renda era pouca, então a gente criava galinha. Mamãe cansou de matar
uns franguinhos, porque a carne mesmo era só final de semana, a gente só comia carne de
gado, final de semana enquanto a gente ia... O papai ia pra Baturité (sede), essa estrada era
carroçal, não tinha calçamento, não tinha pista. Macarrão a gente só comia dia de sábado,
porque era como se fosse... O macarrão era como se fosse mais caro. A gente comia aquela
comida diária, feijão e arroz.
- Izamara: E nesse caso de ir para a rua (sede da cidade), era só o seu pai que ia pra rua?
- D. Luzia: Era o papai.
- Izamara: Na rua vocês compravam muita coisa ou comia maior parte do que vocês
plantavam?
- D. Luzia: Não, arroz a gente comprava, feijão era só por época e quando dava, acho que
assim pertinho do inverno. Ate porque ninguém podia fazer irrigação ou aguar o terreno.
Tinha o cacimbão, na época a mamãe fez, mais assim, não tinha bomba, a gente puxava a
balde. Então era só um pouquinho que a gente comprava. Agora nos tínhamos o que? Carne
era de galinha, tinha o ovo, o ovo caipira. E assim, graças a deus, apesar de termos momentos
difíceis, também tinha macaxeira e batata. Quando tinha o peixe a gente saia pra pescar e
traziam uma imbiricica de peixe. E ai era muito bom, tomava aquele peixe, que por sinal eu
descobri, não sei se foi na faculdade ou até no convívio com as pessoas, que o peixe, esse
peixe do rio é muito bom para os ossos, é cálcio para os ossos. E toda vida... Hoje ainda tem
pessoas de nível... Da classe média, que comem e que gostam desse peixe do rio, até o peixe
tá pouquíssimo.
- Izamara: E às vezes não tem.
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- D. Luzia: É... E assim Izamara, eu sempre achei aqui muito rico, que eu digo, a natureza, a
gente tinha laranja, rapadura, caldo de cana, tangerina e a banana. Sim esqueci de dizer que lá
nos Machados, o papai cansou de plantar feijão, que tinha a levada que vinha água da fonte.
E ele plantava milho, feijão, mas não sei se ele plantava arroz. E assim era muito bom, a gente
não era rico, mas a natureza ajudava no sustento.
- Izamara: O que era mais comum vocês comerem no café da manhã, no almoço e no jantar?
- D. Luzia: Café da manhã... Há essa historia é linda demais. Na época nos não tínhamos
padeiro na nossa porta, então a gente comprava bolacha, quando não comprava em Baturité
(sede) comprava aqui na mercearia. E quando não tinha a bolacha nem o pão que era mais
difícil, a gente tomava o café com farinha e açúcar. Se tivesse leite tudo bem, porque a gente
não tinha dinheiro pra comprar o leite em pó e a vaca tinha ido embora. No almoço era o
feijão com arroz, um cheirim verde e as vezes ovo de galinha caipira, ou então um peixinho
do rio, ou um franguinho do terreiro. E era assim, tudo muito simples, mais era tudo
maravilhoso. E a gente não sentia falta dessas coisas, macarrão, de verdura, porque hoje a
gente sente falta de tudo, de alface, tem que ter essas coisas hoje. Mais naquele tempo, não,
era só o feijão com arroz e tava ótimo. Era muito feliz e juntava com o amor da família, que é
mais importante.
- Izamara: Vocês faziam o pão de milho?
- D. Luzia: Fazia... Tu tá puxando tanta coisa bonita. Então a mamãe tinha e até hoje temos
esse moinho que o papai... A mamãe botava os sobrinho tudinho pra moer o milho que era
plantado aqui, o milho que a gente comia. E o que a gente fazia, a gente cortava, até num
alpendre que tinha aqui, a gente cortava o milho e os sobrinhos, primos da gente iam moer. A
mamãe dizia assim: Aqui é casa de homem quem não trabalhar não come. Então eles iam
moer o milho todinho, a mamãe ia peneirar, fazia aquele pão de milho gostoso, com o pano de
prato, amarrava e colocava na boca da cuscuzeira com água em baixo e saia aquele cheiro do
cuscuz natural. Amarelinho, porque esses que a gente compra é esbraquecento, acho que eles
tiram todas as proteínas, mas naquele tempo era tudo muito natural, era leite natural. Hoje em
dia as coisas são bem diferentes. Aqui também tem casa de farinha, no Brejo do senhor
Ermínio, hoje ele já faleceu, mais a casa continua. Era piladeira de café e a casa de farinha,
então a gente tinha tudo isso. Como a goma fresquinha, beijú, né. Eu ainda cheguei a ver ele
mexendo a farinha, o cheiro da farinha fresquinha. O que sempre me atraiu assim, era a
macaxeira. Tem a mandioca e tem a macaxeira. Ainda hoje Izamara eu compro, assim não é
toda semana, mas um dia sedes minha prima trouxe goma fresca, meu deus como era
maravilhoso. Ai a gente colocou coco ralado, fica muito gostoso. Por sinal eu vou até lembrar
de comprar de novo, porque eu só tenho goma comum.
- Izamara: Mais você sabia que com a goma comum dá pra fazer goma fresca? Que é só
deixar de molho de um dia para o outro.
- D. Luzia: Sim eu sei, eu faço e deixo de molho na geladeira, mais só que as vezes fica muito
molhada ou molhada de menos.
- Izamara: E dessas coisas que você comia, seus filhos chegaram a comer?
- D. Luzia: Cuscuz com o milho natural, nunca fiz pros meus filhos, porque hoje tudo light,
tudo rápido, tudo prático e assim eu não uso mais.
- Izamara: Por quê?
- D. Luzia: Porque eu acho que é questão de falta de coragem ou então colocar o moinho
naquele cantinho, mas o meu esposo, ele pega o milho verde que ele compra, peneira esse
milho e com a massa faz a canjica. A canjica do meu esposo fica uma delicia. E ele sempre
fez.
- Izamara: Tem alguma receita que marcou a sua infância, assim algum prato que você
gosta?
- D. Luzia: Essas coisas que eu te falei, principalmente o almoço da minha mãe.
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essas coisas de criança, mais festa a gente nunca fez. Hoje a gente tem o maior prazer de fazer
pra um filho. Com sacrifício também, mais assim no meu tempo não.
- Izamara: Nas festas juninas vocês comiam o quê? Quais eram as brincadeiras?
- D. Luzia: A gente brincava de esconde, esconde, do anel e nos sentávamos na calçada e
brincávamos de anel. De comadre e compadre, brincava na fogueira e dizia – São João disse,
São Pedro confirmou, pra você ser minha comadre que santo Antônio mandou.- e assim a
gente era compadre e levava muito a serio, devido o santo. Santo Antônio o santo
casamenteiro, São João... Cada um tinha uma historia, mas como a gente era muito criança, a
gente ficava só observando. Era muito bom, tinha as danças, a quadrilha, na festa junina.
Tinha as comidas também, tinha os bolos, como eu falei o aluá, os pé de moleque, a galinha
caipira que tinha também. A escola era aqui pertinho e lá a gente fazia tudo isso. Hoje em dia
ainda tem a escola e lá ainda tem as festas, onde tentamos relembrar como o bolo de carimã,
pé de moleque, macaxeira, bolo de batata, bolo de milho que também era muito gostoso.
Canjica e aluá. A canjica hoje elas fazem diferente, antes era nas panelas, hoje elas fizeram
nos copinhos. Fica arrumado bem diferente.
- Izamara: Além das festas juninas, qual era o outro divertimento que tinha na época?
- D. Izinha: É, terço... Geralmente tinha, né? Tinha as novena, lá tinha as novena de São
Gonçalo, tinha a novena... Nem sei de quê. Menina tinha tanto santo. Eu lembro daquele santo
que, acho que é o São Gonçalo, que era o da água, né? Tinha... Sempre eles botavam num
canto que formava uma cacimba, aí a gente ia pra rezar aquelas novenas. Pra melhor dizer
quase toda noite nóis ia pras novenas nas casas dos vizim, né? Aí tinha o dia de ir lá pra casa.
- Izamara: Obrigada Luzia, suas informações vão me ajudar muito no meu trabalho.
- D. Luzia: Por nada, boa sorte.
- D. Amélia: É...
- Izamara: Quando iam pra rua (sede da cidade) o que vocês compravam? Era o avó da
senhora ou era o seu pai que fazia as compras?
- D. Amélia: meu pai. Ele lidava cum fruta, comprava para revender num sabe. Ai ele trazia o
feijão o arroz, só assim essas coisa mais necessária. Farinha, feijão, arroz e as vez um quilo de
carne. Muito diferente de agora.
- Izamara: É! Hoje em dias as coisas estão mais acessíveis. Nesse período tinha alguma coisa
que a senhora comia que não tem mais hoje em dia? Que se tem é muito difícil de encontrar.
- D. Amélia: Num sei, porque tudo hoje em dia tem.
- Izamara: Porque a Luzia falou do pitú.
- D. Amélia: Há, peixe né?
- Izamara: Qualquer coisa que a senhor... Que tinha antes que não tem mais? Animais de
caça também...
- D. Amélia: Não tem mais pitú, não tem mais paca...
- Izamara: Tinha aqui paca?
- D. Amélia: Tinha. Tinha muito viado. Hoje em dia pode até ter mais num pode mais caça,
por causa do ibama. Mais de primeiro tinha muito viado, meus tie matava, quase todo dia
matava um viado. Ai a fartura de carne era isso. A minha tia cozinhava naquele Alguidá de
barro.
- Izamara: O que é o Alguidá?
- D. Amélia: Num tem panela de barro, ai tem o alguidá que é assim, é...é... como a panela de
barro, mais é todo esparradim. Ai ela pegava botava o feijão, o arroz e butava chei de carne.
Por causa que era uma fartura de carne, por causa do viado, ai ela botava e a gente comia tudo
junto.
- Izamara: E como se fosse um tacho esse alguida?
- D. Amélia: Isso um tacho.
- Izamara: Tem outra senhora que eu estava fazendo a entrevista com ela, na qual ela falou
do “Caco” e eu fiquei sem entender o que era o caco... Quando perguntei a ela, ela disse que
eram como se fosse um tacho que usava para torrar café... Ai tinha um maior que era para
lavar a louça...
- D. Amélia: Era isso mesmo... E a água era carregada do rio, gostava de lavar roupa dentro
da vazia... Num é como agora que é com água encanada.
- Izamara: E dessas comidas mais diferentes, como a senhora disse que tinha viado, o pitú...
Os filhos da senhora comeram essas coisas?
- D. Amélia: Viado, essas coisa... acho que chegaram a comer.
- Izamara: A senhora tem alguma receita que marcou a sua infância, que a senhora gostava
de comer, alguma coisa diferente?
- D. Amélia: A galinha caipira.
- Izamara: A galinha caipira... A D. Luzia também disse que o prato preferido dela também
era um do domingo, onde a mãe dela fazia uma galinha caipira, com cheiro verde, fazia o
pirão escaldado...
- D. Amélia: Era cheiro verde, o chuchu, num faltava o chuchu, né. Minha plantava o canteiro
que tinha cheiro verde.
- Izamara: Quando chegava visita na casa de vocês, mudava a forma de arrumação da casa,
as comidas, ou continuava da mesma forma?
- D. Amélia: Mudava, varria, sempre a casa mais limpa que vai chegar fulano. Mais era
difícil, era muito difícil aparecer gente. Mais era gente amiga ai a gente num ligava muito,
não...
- Izamara: Mais e a alimentação mudava também?
- D. Amélia: Não, sempre tinha que frita uns ovos, né... Umas coisas assim.
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você coloca pra assar. Eu tenho um forno à lenha. E as comidas eram assim. Fora a carne que
a gente criava galinha, era baião de dois...
- Izamara: Era com fava ou era com feijão o baião que a senhora fazia?
- D. Nenem Maia: Usava só feijão, eu nunca fiz baião de dois com fava, só com feijão. Só se
foi algum dia que eu fiz pra alguma visita. Era cuscuz com milho, eu miua o milho, botava de
noite o milho de molho. Moía, peneirava e sacodia aquelas palha pra fora. Agora hoje esses
cuscuz que você compra parece que é só aquela palha que a gente jogava fora, não sei
também. Fazia aquele cuscuz e sabe como é que você comia? Pirão da carne, com o molho da
carne, botava cuscuz na panela, despejava o caldo pra fazer pirão escaldado. Menina é tão
gostoso pirão de cuscuz escaldado. Hoje é aquela farofa seca.
- Izamara: É...
- D. Nenem Maia: Era essas coisas. Era mancunzá, com coco e leite de coco e sabe o café da
manhã, eu fazia pé de moleque, eu botava a amandioca de molho, tirava e peneirava e fazia
aquele pé de moleque com rapadura, colocava leite, nata e coco. E sabe como eram as
formas? Você sabe como era as formas?
- Izamara: Como se fossem uns tabuleiros?
- D. Nenem Maia: Não, era não. A gente abria uma lata de querosene, cortava no meio e
usava. Virando o lado do querosene pra baizo, era a outra parte. Forrava com palha de
bananeira, se tinha era só as manteiga da terra nas latas, pega leite de coco bem forte e
molhava aquela forma, fazia aquele pirão de carimã no fogo, botava leite de coco, castanha,
gergelim e fazia com cravo e erva-doce. Fazia aquele angu bem gostoso. Ai você espalhava
na forma, botava leite de coco por cima e colocava castanha. Era a alimentação dos meus
filhos. Passava uma tarde fazendo ou então era uma broa. Fazia a broa de goma com rapadura,
fazia aquele grude, depois botava numa forma com mel, depois você botava a massa na forma
e assava. Enchia um monte de vasilha. Meus filhos não passavam fome, mas dinheiro não
tinha não, pra comprar outras coisas.
- Izamara: A riqueza dessa época era isso!
- D. Nenem Maia: Olha e os filhos se criaram sadios, sem precisar ir para médico, só as vezes
quando tava nascendo dente. Quando tava com febre eu dava leite de cabra, trazia a cabra do
sertão pra cá, tirava o leite e fervia duas vezes que era pra tirar bem a nata. Tomava leite de
cabra, fazia papa de carimã com leite. A própria carimã eu também eu também usava leite de
gado. As comidas eram essas, eu matava galinha, sangrava e fazia cabidela. Né bom? Tu já
comeu?
- Izamara: Já.
- D. Nenem Maia: Agora a cabidela mais sadia, eu tinha medo de colocar aquele caldo da
carne, porque tinha gordura. Eu colocava 2 ou 3 ovos, batia a gema, colocava dois copos de
leite nas gemas dos ovos e colocava o molho do caldo, só que tirando a gordura. Ai botava pra
fazer a cabidela, que meus filhos comiam e não ofendia igual a essa cabidela gorda que tem
por ai.
- Izamara: A senhora botava o sangue pra cozinhar junto com a carne?
- D. Nenem Maia: Ele cozinhava com um pouco do caldo sem gordura, depois eu vinha com
aquelas gemas do ovo dentro de dois copos de leite, mexia e botava a li dentro. Porque
enfraquecia, ficava galinha cremosa. Não como aquelas que só joga um monte de sangue
dentro e pronto, ficava aquela cabidela preta. A saudável e com ovo e leite.
- Izamara: Eu nunca tinha ouvido falar dessa.
- D. Nenem Maia: Eu inventei isso sem saber.
- Izamara: Há, foi a senhora que inventou.
- D. Nenem Maia: A casa aqui é muito grande, tem 14 camas.
- Izamara: A senhora recebe muita visita?
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- D. Nenem Maia: Só mais a família, pois a alimentação do meu tempo é essa: cuscuz, bolo
de carimã, bolo de milho, broa, bolinho, essas coisas.
- Izamara: Mas essas receitas a senhora aprendeu aqui?
- D. Nenem Maia: Não, foi da casa do meu pai.
- Izamara: Mais tem alguma receita que a senhora aprendeu aqui?
- D. Nenem Maia: Só as que inventei.
- Izamara: A senhora passou essas receitas para alguma filha da senhora?
- D. Nenem Maia: Sim a Maria Tereza.
- Izamara: E os filhos da senhora todos eles comiam essas comidas?
- D. Nenem Maia: Comiam todos eles. Só o meu caçula que mamou mais de cinco anos, só
ele que era banqueiro pra comer. Mais comia, sempre comia um pouquinho. O que ele mais
gostava era banana batida com leite. E as comida era essa.
- Izamara: Quando chegava visita na casa de vocês mudava a rotina da casa?
- D. Nenem Maia: Da comida?
- Izamara: Sim da comida, arrumação da casa, se ficava diferente?
- D. Nenem Maia: E diferente que tinha é que tinha canto pra todo mundo, todo mundo
dormia, quando não era em colchão era em rede. A gente dava um jeito e se agasalhava todo
mundo.
- Izamara: E a comida ficava diferente?
- D. Nenem Maia: A comida era assim, eu fazia comida de todo jeito. Se eu fazia uma
cabidela, eu fazia uma carne de carneiro, com aquele pirão mexido. Fazia aquelas tapiocas
bem grossa, botava uma camada de coco, depois colocava leite pra molhar aquelas tapiocas.
- Izamara: Naquela época vocês comemoravam aniversário?
- D. Nenem Maia: Olha só comemorava aniversário dos meus filhos, nem se ganhava
presente, mais eu tinha o gosto de fazer. Pé de moleque, que era o bolo e o pan-de-ló que é de
goma.
- Izamara: Como é esse pan-de-ló?
- D. Nenem Maia: É só de ovos e goma, você bate os ovos. Você num sabe aquelas buruaca.
- Izamara: Sim.
- D. Nenem Maia: a gente fazia só que era no forno. Eu tinha meu fogo a lenha pra fazer
brasa e eu podia assar, muito bolinho, broa e pé de moleque. Pé de moleque demorava muito
pra assar. Melhor é de milho. Ai chamava o pessoal, mas não ganhava nada só se fosse uma
florzinha. Mais era feliz. Há tinha também o aluá.
- Izamara: Mas o aluá que a senhora fazia era o de abacaxi ou era o de milho?
- D. Nenem Maia: Eu fazia o de milho e o pão de pão da padaria. Colocava os pães de milho,
piza o cravo erva-doce. Quebra a rapadura e coloca no pode de barro.
- Izamara: Comemorava-se festa junina, natal, semana santa?
- D. Nenem Maia: A festa junina essa ali na escola com pamonha, canjica, bolo... a semana
santa é sagrada onde jejuávamos e só comíamos peixe, nada de carne vermelha.
- Izamara: Obrigada D.Nenem Maia pela sua contribuição.
- D. Nenem Maia: Por nada minha filha.
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- Sr. Artur Camurça: Era uma das coisas que eu gostava mais. Também tinha outra coisa
que eu gostava muito, era uma compota de goiaba, tinha muitas goiabeiras lá no sitio, então
no período da safra estragava muita goiaba, a gente apanhava as goiaba e colocava para os
porcos, porque era muita goiaba, e para não estragar mais a minha mãe aproveitava e fazia a
compota de goiaba.
- Izamara: Lá no sitio vocês trabalhavam com agricultura ou era só essa parte de fruticultura
e criação de animal?
- Sr. Artur Camurça: Não, lá a gente trabalhava com agricultura, principalmente com
meeiros. La no sitio tinha muito meeiros. A gente tinha um caixão de farinha grande e só com
a renda dos meeiros a gente fazia mais de 100 sacos de farinha. A gente tinha muito beiju,
tapioca... Tapioca ainda hoje eu gosto muito de tapioca. Mas naquela época eu já comia muita
tapioca, agora beiju não, beiju agora é mais difícil. Outra coisa que a gente não encontra mais
hoje, a tapioca feita debaixo da massa, o pessoal fazia a tapioca no forno da farinha debaixo
da massa. Ficava bem diferente. Deixa eu me lembrar de mais... E frutos também, silvestres,
que a gente tinha muito lá no sitio, era o Bacupari.
- Izamara: Como é o nome?
- Sr. Artur Camurça: Bacupari.
- Izamara: Era como oque?
- Sr. Artur Camurça: Não dá pra mim te dizer assim uma coisa que se assemelhe, não. Era
uma frutinha pequena, amargava um pouco, tinha uma casquinha e o amargo era na casca. Ela
é um pouco maior que a pitomba. Foi no período da minha infância e eu não tenho assim
muita lembrança, mais eu sei que era uma coisa muito saborosa. Eu lembro que a gente
ganhava as matas, e eu lembro que perto lá de casa tinha dois pés. Mais a gente ia procurar
dentro das matas.
- Izamara: Ainda encontra lá no sitio?
- Sr. Artur Camurça: Lá eu não sei não, mais no sitio do meu sogro lá em Aratuba, não faz
muito tempo não, uma vez entrando na mata eu encontrei. Outra fruta que também tinha
muito ali naquela região da Flores quando a gente ia pescar era o ingaí, não sei se você
conhece. Também era uma fruta...
- Izamara: Ela é parecida com o Ingá?
- Sr. Artur Camurça: Ela é parecida com o ingá, mas ela é bem maior que o ingá e é uma
vagemzinha que vem no máximo, dois ou três. Ele é um pouquinho maior e a vagem parecida
com a do tamarindo, mas só que é bem macia, diferente do ingá. Tinha ali principalmente
nesse rio da Santa Maria que passa ali nas flores. Tinha muito ingaí e azeitona. A gente via
quando passava pescando camarão e pitú. Tem também o jatobá, hoje é uma raridade você
encontrar um pé de jatobá, e o jatobá às vezes eu ainda encontro lá no mercado São Sebastião.
Mais aqui em Baturité a gente não encontra mais.
- Izamara: Dessas coisas diferentes que o senhor falou, seus filhos chegaram a consumir ou
não?
- Sr. Artur Camurça: Não... O bacupari o meu filho uma vez ele comeu quando eu encontrei
esse lá no meu sogro.
- Izamara: O senhor lembra como eram as festas que tinha?
- Sr. Artur Camurça: Há, lembro. Principalmente a festa de São Gonçalo, eram as cantorias,
os dramas, os reisados, os bumba meu boi, aquela época tinha muita festa. Tinha também as
festas dos bonecos. E tinha aquelas pessoas mais abastadas, os comerciantes para aumentar o
movimento no comercio deles, eles levavam ou um grupo de reisado. E tinham as pessoas que
faziam promessas e fazia a festa de São Gonçalo. Que para a minha surpresa não faz muito
tempo eu descobri que ainda tem essa festa lá na Serra do Evaristo. Já tive a oportunidade de
acompanha festas em no Jordão, na Oiticica e na própria Serra do Evaristo. Isso foi uma
surpresa para mim, porque a ultima vez que eu tinha visto isso já faz mais de 30 a 40 anos e
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nunca mais eu havia ouvido falar de festa de São Gonçalo. Depois eu descobri essa no
Evaristo.
- Izamara: E como é essa festa de São Gonçalo? São danças?
- Sr. Artur Camurça: É uma dança. São Gonçalo diziam que era um santo que procurava a
conversão nas festas, nas casa de meretrizes, então, hoje em dia o objetivo dessas promessas é
por causa desse período de seca, pedindo chuva ou pedindo para encontrar nascentes. E
quando alcanças essa promessa eles levam esse grupo e eles dançam o dia todo e a pessoa
oferece alimentação para as pessoas que estão dançando e para as pessoas que vão assistir. É
uma tradição, a pessoas que faz a promessa recebe toda aquela multidão. Não me lembro
direito, mais era uns dançando e os outros vão só tocando, geralmente, eu conheci no meu
período de criança, era o rabequeiro, as vezes era só o rabequeiro que puxava a festa, as vezes
tinha um zabumba, as vezes um pandeiro, mais na maioria das vezes era só o rabequeiro. Mais
sempre tinha a rabeca. E hoje nessa que eu vi lá no Evaristo, não tinha o rabequeiro, porque
ele havia morrido e hoje quem puxa é uma pessoa com o violão.
- Izamara: O que é a rabeca?
- Sr. Artur Camurça: A rabeca é... Parece com o violino, mais é só... As festas populares
aqui no nordeste se utilizava muito a rabeca, se utilizava as rabecas até nos forrós. Era as
festas, os sambas, né. E depois o samba, aqui mesmo em Baturité, por causa de um
engenheiro americano que trabalhava na construção dessa estrada de ferro do Baturité, ele
usou o termo Forró, mas não é forró é “For all”, para festa, né, para o samba que era o samba
aquela festa. Que todo mundo chamava de samba, aquela festa de xaxado, de gafieira, seja
qual fosse o ritmo, mas se chamava de samba. Samba era a denominação que se dava a festa.
E esse engenheiro inglês, não era americano, que veio trabalhar na estrada de ferro de Baturté,
no final do século IX, a principio, a data esta de fugindo da memoria, mas nas festas no
período do inverno, ele usou esse termo “For all” para festa, ai os peões não sabiam
pronunciar “For all”, eles pronunciavam forró, e o forró saiu daí. E hoje Pernambuco se diz o
dono do termo forró, mas essa expressão forró saiu daqui, do maciço de Baturité.
- Izamara: Nossa... Eu não sabia. O senhor disse que ia para a casa dos seus pais no período
de final de semana.
- Sr. Artur Camurça: Não, era mais férias, assim às vezes tinha um feriadão, a gente ia
também para o sitio. Era próximo era uns 12km, mas o acesso tinha que ser a cavalo ou então
em jipe, porque as estradas eram bem mais precárias que hoje.
- Izamara: Como é que ficava a casa de vocês quando chegava visita, mudava a alimentação?
- Sr. Artur Camurça: É geralmente quando chegava uma visita, se caprichava mais na
alimentação.
- Izamara: o Senhor lembra algumas coisas que fazia quando chegava visita?
- Sr. Artur Camurça: Lá em casa como criava muito, tinha muita criação de caprinos, a
gente matava bode, ou então porco, ou uma galinha dependendo do numero de pessoas dessa
visita. Se fosse uma visita de pouca gente, matava uma galinha. Já quando era mais gente,
matava um porco, mata um bode.
- Izamara: Vocês comemoravam aniversário?
- Sr. Artur Camurça: Aniversário se comemorava. Se comemorava aniversário e as festas
juninas. Aliás no período de safra a gente utilizava muito... Hoje a gente usa mais a pamonha,
a canjica, essas coisas é. Mais a gente usava a pamonha e a canjica todo período de safra,
quando começava, na semana santa já se fazia, porque já tinha milho verde. E se plantava
milho em varias etapas para ter sempre milho verde, pra ter sempre a canjica e pamonha. E
principalmente o cuscuz, comia muito cuscuz e o café também. O café que a gente usava era
pilado no pilão, embora a gente tivesse o café da piladeira, mais no inicio da safra, quando
não tinha o café. A gente torrava aquele café e ele era pilado no pilão.
- Izamara: E o aniversário, como era?
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- Sr. Artur Camurça: Naquela época, aniversário era bem simples, se fazia um bolo, tinha
aquela coisa de cantar parabéns, bem simples, não é como hoje. As festas são com muita
ostentação, no passado era uma coisa bem mais simples, era a confraternização, mas sem essa
coisa do capitalismo.
- Izamara: Sim...
- Sr. Artur Camurça: Essa coisa que o capitalismo jogou nas pessoas de que tem que ter o
presente, esse monte de coisa. Naquela época não, se comemorava aniversário mais era mais
no sentido daquela coisa de demonstrar o afeto o carinho pela pessoa, se fazia um bolo, se
dava um parabéns, um abraço, um beijo, às vezes tinha uma lembrancinha, as vezes não tinha.
Mais tinha sempre a lembrança.
- Izamara: E a semana santa?
- Sr. Artur Camurça: Semana santa era, a minha família era muito religiosa, então
principalmente a família da minha mãe, que era um pessoal mais modesto, apesar de ser do
mesmo ramo de família, mas a família do meu pai era mais abastada, a família da minha era
um pessoal mais modesto tinha uns pedaços de terra menor, era um pessoal mais simples.
Mais na questão religiosa ele eram muito apegados, a minha avó materna era muito radical na
semana santa. Os costumes deles lá na semana santa, desde quarta feira eles não trabalhavam.
Eles tiravam a rama dos animais e colocava logo no curral, não se selava mais um burro para
se andar não se andava a cavalo, da quarta a sexta-feira santa. Na quarta feira, minha avó
materna nem tomava banho, porque ela dizia que era a quarta feira de trevas e devia ficar em
casa só em jejum e oração. O jejum começava na quarta feira e nós crianças éramos obrigado
a jejuar só na sexta. Mais a abstinência já se fazia na semana toda e minha mãe já tinha o
costume de, da quarta em diante, até hoje, ela não come carne. Naquela época a gente já tinha
esse costume de na semana santa só se consumia peixe. Na minha avó materna era aquele
jejum mesmo para valer, de manhã tomava um café simples, comia no almoço e depois só no
jantar. Hoje a gente vê que na semana santa é o período que se come mais do que nos outros
períodos, a mesa tem uma variedade enorme de comida, é bacalhau, são vários tipos de peixe,
peixada, peixe frito, e queijo e muita coisa, panetone, que naquela época a gente não comia.
Naquela época tinha mais o sentido religioso, hoje eu acho que o capital mudou tudo. O
capitalismo introduziu vários outros costumes, a semana santa de hoje é mais capitalista do
que religiosa.
- Izamara: Obrigada Senhor Artur.
- Sr. Artur Camurça: Há olha o que eu lembrei, do pé de moleque. A gente colocava a
mandioca de molho dentro de um pode e se fazia a carimã. Fazia diferente desse pé de
moleque de hoje. É totalmente diferente no sabor, é totalmente diferente na textura. Ele era
feito em cima no fogão, onde se colocava uma pedra em cima do fogão a lenha e colocava-se
a massa em cima de uma folha de bananeira.
- Izamara: O sehor sabe o que leva na receita? Se leva Rapadura?
- Sr. Artur Camurça: Leva. Eles botavam a mandioca de molho e faziam a carimã, ai usa a
rapadura, usa gengibre, eu acho que cravo... Eu não sei bem todos os ingredientes não. Eu
acho que principalmente devia utilizar o gengibre, o cravo, a rapadura e a carimã. Ai faz
aquela massa, e a rapadura que coloca é aquela rapadura preta, que é para dar uma cor mais
escura ao pé de moleque e ai espalha aquela massa em cima da palha da bananeira.
- Izamara: Fecha a folha ou deixa aberta?
- Sr. Artur Camurça: Fecha a folha e depois eu acho que vira de lado. Primeiro um lado
depois o outro. Ai fica como se fosse uma tapioca, aquela coisa circular, assim na espessura
de mais de 1cmm. Uma textura bem diferente desse de hoje. Eu lembrei também que quando
tinha semente guardada eles não assavam as castanhas. Eles diziam que se assasse a castanha
ia entrar dentro daquelas garrafas insetos para roer aquelas sementes. Eu não sei se era só
superstição ou se tinha alguma fundamentação cientifica, outro costume que eles tinham que
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era de tirar madeira de acordo com as fases da lua. Porque se não dá aqueles besourinho que
rói a madeira. Mais depois eu tenho um parreiral aqui no meu quintal e eu tinha duas vizinhas.
Uma vizinha podava o parreiral aleatoriamente e a outra só podava na fase da lua nova para a
crescente, porque ela dizia se plantasse na outra fase da lua não ia dar uma boa produção. Eu
via aquilo ali, e eu sou muito curioso e eu passei a observar. Quando eu podava
acompanhando essa vizinha de baixo que era de acordo com a lua certa, a safra era bem
maior, maior do que quando eu podava acompanhando a vizinha de cima. Ela podava a
qualquer momento, ela não queria saber de lua, não queria saber de nada. Ai eu via a
diferença de quando eu podava pela de baixo.
- Izamara: Sabedoria popular.
- Sr. Artur Camurça: Exato. Mais influência das fases da lua. O povo Maia a muito tempo
tinha esse conhecimento de astrologia, a influencia da lua na agricultura, no clima, elas já
tinham esse conhecimento. Então o nosso povo do interior que muitas vezes não sabia nem
assinar o nome, detinha assim um conhecimento.
- Izamara: Pois obrigada novamente Senhor Artur Camurça.
- Sr. Artur Camurça: Por nada.
- D. Nazaré: Sim.
- Izamara: E o que vocês plantavam?
- D. Nazaré: Milho, fava, arroz, feijão, mandioca, macaxeira, jerimum e coentro.
- Izamara: Nessa época era comum vocês consumirem animais de caça?
- D. Nazaré: Sim.
- Izamara: O que vocês comiam?
- D. Nazaré: Preá, mocó, peba.
- Izamara: O que é mocó?
- D. Nazaré: É um ratinho, um rato do mato que tem nas locas de pedra.
- Izamara: Como se fosse um preá, só que maior? E o que mais?
- D. Nazaré: Peba, tatu e os pássaros.
- Izamara: Quais pássaros?
- D. Nazaré: Juriti, nambu, rolinha, jacú, sericoia e outros.
- Izamara: E de pesca?
- D. Nazaré: Camarão, pitú, cará, papareia, traira e curuca.
- Izamara: Qual dos alimentos que a senhora comia e que não come mais.
- D. Nazaré: Papareia que não tem mais, pitú que também não tem mais, os camarões que
agente comia dos rios não tem mais, curuca, não tem mais...
- Izamara: Mas por quê?
- D. Nazaré: Porque a sucam colocou veneno pra schistosoma no rio lá em cima e matou
tudim.
- Izamara: Nessa época não tinha energia. Como é que vocês faziam para conservar, assim
carne? E a comida?
- D. Nazaré: Só salgava.
- Izamara: Só salgava?
- D. Nazaré: Só.
- Izamara: E comida, fazia de acordo com o horário?
- D. Nazaré: Era.
- Izamara: Os filhos da senhora e os netos ainda chegaram a comer essas comidas?
- D. Nazaré: Não.
- Izamara: Nenhum de seus filhos?
- D. Nazaré: Nenhum.
- Izamara: E assim, tem outra coisa que a senhora comia que fazia sem ser esses de caça e
pesca?
- D. Nazaré: Tinha... Banana cozinhada, fazia um pirão junto com os camarões, o macunzá,
beijú de caco, farinha torrada no caco também.
- Izamara: O caco é como se fosse um tacho, né?
- D. Nazaré: É, um tacho de barro. Tinha também o arroz, feijão com banana verde, baião de
fava, e também tinha um que a minha irmã fazia, que era a papa areia com pimenta.
- Izamara: A senhora acha que os seus filhos não chegaram a comer essas coisas?
- D. Nazaré: A maioria é porque não tinha, e os outros, é porque já estou velha, já estou
cansada e o tempo para fazer é curto. Outras coisas como o macunzá ainda tem ainda, e as
vezes, beijú eu ainda faço. Banana, hoje a gente não passa necessidade como a gente passava
antes, pra comer, fazer pirão de banana.
- Izamara: Tem alguma receita que marcou a infância da senhora? Alguma coisa que a
senhora gostava de comer?
- D. Nazaré: Tem, beijú, macaxeira...
- Izamara: E dessas receitas que a senhora falou, a senhora saber como fazer alguma? Assim
pra dizer a receita como faz?
- D. Nazaré: Sei.
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aparelho digestivo dela é pelo corpo todo, enquanto o camarão é só na cabeça, ela tem essa
linha que vai pelo corpo todo, que difere a curuca do camarão. A papareia também era um
peixe pequeno, ficava sempre no leito dos rios. Quem pescava nesse rio aqui, encontrava isso
aí por toda a década de oitenta, início de noventa. Agora eu acho que contribuiu, pode, eu não
vou garantir que não contribuiu também para a extinção dessa fauna. Qualquer forma era um
inseticida que se jogava na água. Mas, eu acho que contribuir... A contribuição maior para o
desfalecimento dessa fauna aquática foi o uso indiscriminado de agrotóxicos que se usava,
principalmente na nascente desse rio aqui. A maioria dos municípios são todos entre os
municípios de Aratuba, Mulungu e Guaramiranga. Não só do rio Putiú, como o rio de
Aracoiaba, como o rio Pacoti, todas essas nascentes são em áreas onde se pratica muito o uso
de agrotóxicos, porque é uma área onde se cultiva muita horta. E na horta, nas hortaliças é
onde mais se joga, indiscriminadamente, sem nenhum controle, nenhum controle. Primeiro o
estado não dá uma assistência técnica a esse produtor, e ele também não encontra um
profissional porque acha que vai encarecer a sua cultura. Ele não tem nenhum suporte técnico
pra fazer esse trabalho e eles compram nessas farmácias agropecuárias, compram
indiscriminadamente esses produtos e usam aleatoriamente. Muitas vezes até sem muita
segurança. Como a gente... eu trabalhei muito no campo, e no trabalho a gente vê como é
utilizado por esses agricultores, principalmente aqueles que trabalham com horta. Ainda hoje
não tem o cuidado também de lavar aquelas bombas que eles utilizam, com esses agrotóxicos
ou inseticidas, e também pessoas que utilizam esses inseticidas pra controle de carrapato, de
pulga. Pessoas que criam ovinos e caprinos. Até pessoas que criam animais de grande porte.
Porque se você não usar verbicida no seu rebanho, bovino ou equino, vai ter um certo
prejuízo, porque o seu animal vai ficar abatido, principalmente no período do inverno. As
pessoas usam. O uso do agrotóxico é feito indiscriminadamente, não só pelos produtores, mas
também pelos criadores. Eu acho que enquanto não tiver politicas de controle e também de
educação, mostrando os riscos que se tem. Por isso que a gente vê hoje um numero muito
grande de pessoas doentes de câncer, porque as pessoas estão consumindo agrotóxico.
Naquela fruta, na hortaliça... Hoje a nossa alimentação... Tem que ter muito cuidado, porque
não tem, não se tem um controle. Eu acho que isso foi o mal que causou a extinção dessas
espécies. Eu acho que não foi, até porque foi utilizado por muito pouco tempo, tempo muito
pequeno.
- Izamara: Nesse período que foi utilizado o senhor já trabalhava lá, ou não?
- Sr. Artur Camurça: Quando eu iniciei em 82, foi no período que já tava encerrado, quer
dizer, ainda tinha em deposito. Algumas pessoas utilizavam para pescar. Porque tinha
deposito e não tinha um controle rigoroso sobre os estoques. Depois todo esse inseticida foi
recolhido.
- Izamara: Mais como assim, eles utilizavam pra...?
- Sr. Artur Camurça: Pessoas utilizavam para pescar. Porque jogavam... Como ele tirava o
oxigênio da água, o peixe subia, ai jogavam nos rios para pescar.
- Izamara: Pois é... Uma entrevista, uma senhora que morava na Veneza. Ela falou que teve
um tempo que encontrava com os peixes todos mortos na beira do rio, mais que eles tinham
medo de comer porque poderia ser envenenado.
- Sr. Artur Camurça: Pois é... Quando se usava. Quando se estava se usando o BARICID os
peixes todos subiam, porque tirava o oxigênio da água. Os peixes todos subiam.
- Izamara: Como é o nome?
- Sr. Artur Camurça: BARICID.
- Izamara: BARICID?
- Sr. Artur Camurça: É, BARICID, era um inseticida importado.
- Izamara: Há sim...
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- Sr. Artur Camurça: É, eu não sei o principio ativo, pois quando eu entre ele já não estava
sendo usado. Existia na repartição estoques dele, mais ele já não era mais usado. Ele também
foi usado pra também, é... em 78 ate 82.
- Izamara: Obrigada senhor Artur por esclarecer a minha duvida.
- Sr. Artur Camurça: De nada.
- Izamara: O senhor contribuiu bastante para a realização desta pesquisa.
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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO CEARÁ
CAMPUS BATURITÉ
COORDENADORIA DE ENSINO
DECLARAÇÃO
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Assinatura do entrevistado
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Nome do entrevistado