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CRIMINAL DE PARANAGUÁ
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COLENDA CÂMARA CRIMINAL DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO
ESTADO DO PARANÁ
RAZÕES RECURSAIS
EMINENTES DESEMBARGADORES
1. RELATÓRIO
No dia 31 de outubro de 2013, o apelado Wenderson
Poleti Moreira, já qualificado nos autos, foi regularmente denunciado, pela prática do
crime capitulado no artigo 54, caput, c/c o artigo 2º, ambos da Lei nº. 9.605/1998,
tendo em vista que causou poluição potencialmente danosa à saúde humana,
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através da emissão de índices sonoros acima dos limites permitidos em
estabelecimento comercial de sua propriedade denominado ‘Escritório Pub Bar’.
O DD. Juízo a quo proferiu a r. decisão ora recorrida que
declinou a competência ao Juizado Especial Criminal para análise dos presentes
autos, tendo em vista o entendimento de que a conduta descrita na denúncia não se
amolda ao tipo penal previsto no artigo 54, caput, da Lei nº 9.605/1998, mas sim à
contravenção penal prevista no artigo 42, inciso III, do Decreto-lei nº 3.688/1941 (fls.
60-61).
Vieram os autos ao Ministério Público para o oferecimento
das razões recursais.
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Assim, em vista de preencher todas as condições de
admissibilidade do recurso interposto e também os pressupostos recursais, o
Ministério Público pugna pelo seu conhecimento, e, desde já, pelo seu provimento.
1
MACHADO, Paulo Affonso. Direito Ambiental Brasileiro. 11ªed. São Paulo: Malheiros, 2003, p. 680-
682.
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O artigo 3º, inciso III, alínea "a", da Lei Federal n.º
6.938/1981, conceitua POLUIÇÃO como sendo:
"a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que
direta ou indiretamente: prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-
estar da população; e como POLUIDOR, toda pessoa física ou
jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou
indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental".
2
Manual de Direito Ambiental, Saraiva, 2013, p.775.
3
AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR POLUIÇÃO SONORA, CABIMENTO E LEGITIMIDADE DO
MINISTÉRIO PÚBLICO, Rev. Jurídica nº 239 - SET/1997, p. 21.
4
Direito Ambiental Brasileiro, Editora Malheiros, 1996, p. 482/83.
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"Estudo publicado pela Organização Mundial de Saúde assinala como
efeitos do ruído: perda da audição, interferência com a comunicação,
dor, interferência no sono, efeitos clínicos sobre a saúde, efeitos sobre
a execução de tarefas, incômodo, efeitos não específicos. Como
efeitos do ruído sobre a saúde em geral registram-se sintomas de
grande fadiga, lassidão, fraqueza. O ritmo cardíaco acelera-se e a
pressão arterial aumenta. Quanto ao sistema respiratório, pode-se
registrar dispnéia e impressão de asfixia. No concernente ao aparelho
digestivo, as glândulas encarregadas de fabricar ou de regular os
elementos químicos fundamentais para o equilíbrio humano são
atingidas (como supra-renais, hipófise, etc.). O incômodo ou
perturbação é geralmente relacionado aos efeitos diretamente
exercidos pelo ruído sobre certas atividades, por exemplo:
perturbação da conversação, da concentração mental, do repouso e
dos lazeres." (grifos nossos)
5
Manual de Direito Ambiental, Saraiva, 2013, p.776.
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pela via de habeas corpus é medida de exceção, que só é admissível
quando emerge dos autos, sem a necessidade de exame valorativo
do conjunto fático ou probatório, que há imputação de fato
penalmente atípico, a inexistência de qualquer elemento indiciário
demonstrativo de autoria do delito ou, ainda, a extinção da
punibilidade. 2. O Impetrante alega falta de justa causa para a ação
penal porque a poluição sonora não foi abrangida pela Lei n.º
9.605/98, que trata dos crimes contra o meio ambiente. Entretanto, os
fatos imputados ao Paciente, em tese, encontram adequação típica,
tendo em vista que o réu é acusado causar poluição em níveis tais
que poderiam resultar em danos à saúde humana, nos exatos termos
do dispositivo legal apontado na denúncia. 3. Uma vez que a
poluição sonora não é expressamente excluída do tipo legal,
acolher a tese de atipicidade da conduta, nesses moldes,
ultrapassa os próprios limites do habeas corpus, pois depende,
inexoravelmente, de amplo procedimento probatório e reflexivo,
mormente porque a denúncia, fundamentada em laudo pericial,
deixa claro que a emissão de sons e ruídos acima do nível
permitido trouxe risco de lesões auditivas à várias pessoas. 4.
Ordem denegada. (HC 159.329/MA, Rel. Ministra LAURITA VAZ,
QUINTA TURMA, julgado em 27/09/2011, DJe 10/10/2011)” (grifos
nossos).
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econômicas, dentre outras, nos termos do art. 3º, incs. III, da Lei nº 6.938/1981 (Lei
de Política Nacional do Meio Ambiente).
Conclui-se, assim, que a poluição sonora detém
inequívoca aptidão e, portanto, potencialidade para causar danos à saúde
humana, ao contrário do que se sustenta na decisão recorrida.
Dessa forma, não deve restar impune a conduta lesiva
ao sossego e saúde física e mental às inúmeras famílias vizinhas ao
empreendimento da apelada, as quais não possuem interesse ou vontade de
participar dos eventos por ela promovidos, ao contrário, necessitam do devido
descanso e sono ininterrupto para o enfrentamento de mais um dia de trabalho.
Isto sem dizer nas pessoas vizinhas que são idosas ou acometidas de doenças
e outras debilidades de saúde e que necessitam de repouso tranquilo para o
seu próprio tratamento.
Importante esclarecer que, para a caracterização da
materialidade do crime de poluição em sua modalidade sonora, faz-se necessária a
existência de prova objetiva de que a emissão de determinado ruído possa (crime de
perigo) causar danos à saúde humana. Ora, a aludida prova objetiva é justamente
consubstanciada pela prova pericial de medição dos decibéis, já que a Resolução do
CONAMA nº 01/90 estabelece quais são os limites tolerados para a saúde humana, a
qual, por sua vez, adota os padrões estabelecidos pela Associação Brasileira de
Normas Técnicas – ABNT e pela norma NBR nº 10.152, que diz respeito à avaliação
do ruído em áreas habitadas.
Vejam que os Laudos Técnicos de Poluição Sonora (fls.
16-17 e 3738) atestam que houve prejuízo à saúde, segurança e o bem-estar da
população, pois foram constatadas variações de 82 a 85 e 62,3 a 64,8 decibéis,
ambas medições realizadas no período noturno.
Ora, as provas documentais que instruíram a denúncia
contra o apelado Wenderson Poleti Moreira demonstraram que a produção de som
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eletrônico e “ao vivo” desrespeitou a Resolução do CONAMA nº 001/90 e a NBR
10.151 que tratam dos limites de avaliação em zona urbana mista.
Por fim, deve-se asseverar de modo subsidiário,
meramente a título de argumentação, de que, se há dúvida ou não a respeito da
existência de crime no caso em comento, esta dúvida deve ser dirimida por meio do
regular desenvolvimento da instrução processual penal, que foi obstada a partir da
sentença que absolveu o acusado sumariamente. Nesse particular, apresenta-se
equivocada a aplicação do artigo 397, inciso III, do Código de Processo Penal, já que
este dispositivo é reservado tão somente aos fatos que evidentemente não
constituem crime, o que não é o caso dos presentes autos, em que a inicial
acusatória demonstra cabalmente os requisitos do artigo 41 do Código de Processo
Penal.
4. DO PEDIDO FINAL
Diante do exposto, consubstanciado nos argumentos
supra, e com sustentáculo no art. 581, inciso II, do Código de Processo Penal, o
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ pugna pelo conhecimento do
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presente RECURSO EM SENTIDO ESTRITO e, no mérito, requer lhe seja dado
provimento, para o fim de reformar o r. decisum de fls. 60-61 e de permitir o
prosseguimento do trâmite da ação penal e a realização de audiência de instrução e
julgamento.
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