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diz Stengers – atuando num campo marcado com diferentes etiquetas: antropologia das
ciências, estudos sociais das ciências (sociologia das ciências). A partir deste tipo de
análise, a ciência pode ser identificada como uma atividade para nada alheia as
condições sociais que a circundam, assim como as disputas internas que a determinam.
Numa forma de atenuar as pretensões de “uma revolução” – pelo menos
individual, Stengers assume a herança de suas pretensões argumentativas nos trabalhos
de duas referências que, se bem não foram tão longe com seus estudos para
escandalizar, abriram sim uma dimensão de análise que permitia questionar o lugar sem
lugar da ciência. Num primeiro momento, o trabalho de Thomas Kuhn permitiu
entender os cientistas não apenas como indivíduos “racionais e lúcidos”, mas fazendo
parte de uma comunidade que, por sua vez, se reproduzia historicamente a partir da
hegemonia de certos paradigmas. No entanto, contra essa tese, Stengers sublinha a
preservação da autonomia científica como única condição de possibilidade da
autoridade social do discurso científico. Num segundo momento, Michael Polanyi, com
a ênfase numa observação fenomenológica dos cientistas, possibilitou um estudo
voltado mais para as práticas que para os discursos “paradigmáticos” de reprodução das
comunidades científicas.
Partindo desse estado da arte, e de seus próprios limites no que diz respeito a
uma análise política da ciência, a filósofa belga propõe uma visão a partir de outra
perspectiva, não tão nova no campo de “uma antropologia da ciência”, representada por
Bruno Latour. Nesse primeiro capítulo, essa influência está representada a partir da
reivindicação de uma perspectiva simétrica e uma análise embasada no “princípio de
irredutibilidade” pelo qual a ciência e o político jogam em um mesmo campo e não em
dimensões onde uma e outra se excluem mutuamente.