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Módulo II - Projeto de Edificações PDF
Módulo II - Projeto de Edificações PDF
E OBRAS DE ENGENHARIA
ESAF
Escola de Administração Fazendária
Ficha técnica
Coordenação de Produção
Equipe de produção DIEAD/ESAF
Sumário
2.1.2 Como um bom projeto determina o custo de uma obra ao longo de toda a
sua vida útil?...........................................................................................................7
Encerramento......................................................................................................... 70
PROJETO DE EDIFICAÇÕES
MÓDULO 2
Tome Nota
O objetivo principal de um projeto é a execução da obra idealizada
pelo arquiteto ou engenheiro. Essa obra deve adequar-se aos con-
textos naturais e culturais em que se insere e responde às necessi-
dades do cliente e dos futuros usuários do objeto construído. As
exigências do cliente e dos usuários exprimem-se por meio do pro-
grama de necessidades que define metodologicamente o produto
final.
4
Diante disso, as soluções técnicas que deverão ser empregadas para a consecução
da obra devem atender aos princípios da racionalidade, da economicidade, da
funcionalidade e do desempenho.
1
VITRÚVIO, P. Tratado de arquitetura/Vitrúvio. Tradução, introdução e notas de M. Justino Maciel. São Paulo: Martins
Fontes, 2007.
5
Importante
Por essa razão, boas escolhas na fase de projeto definirão o
custo para a Administração na conservação e na manutenção
das suas construções por longo período.
Essas escolhas recairão sobre os tipos de materiais, a forma de ordenação dos espa-
ços, a morfologia dos elementos etc. Assim, é importante que se observe a vantagem
que se terá sobre a escolha de um material em detrimento de outro, do tamanho da
edificação frente às necessidades do órgão, ou até mesmo da observância ao índice
de compacidade2 ou da forma do edifício.
2
Índice de compacidade – É a relação percentual existente entre o perímetro de um círculo de igual área do projeto e o pe-
rímetro das paredes exteriores do projeto, conforme a definição de Mascaró. (Mascaró, Juan Luís – O custo das decisões
arquitetônicas – 5. ed. Porto Alegre: Masquatro Editora, 2010)
6
Por Exemplo
Como exemplo, citamos a escolha de esquadrias de ferro para a vedação
das fachadas externas de um edifício em zona litorânea. Certamente
toma-se aqui a condição extrema e até mesmo inadmissível, visto que,
nas condições atmosféricas daqueles ambientes, jamais se optaria pela
escolha de elementos ferrosos para tal uso. A escolha correta nesse
caso seria, por exemplo, esquadrias de alumínio, com pintura por anodi-
zação ou eletrostática, com durabilidade adequada àquelas condições
ambientais. Muito embora seja senso comum no meio da arquitetura e
da engenharia, a obviedade por tal escolha (esquadrias de alumínio para
a vedação de fachadas em edificações de ambientes litorâneos), ainda
assim é possível encontrar projetos (mal) especificados trazendo aquela
condição (especificação de esquadrias de ferro naqueles ambientes).
Nos órgãos públicos, os setores que são responsáveis pelos projetos normalmente
são diversos daqueles responsáveis pela manutenção das edificações (ou outras
obras da construção civil ou de infraestrutura viária). A boa especificação, quando da
elaboração desses projetos, poderá contribuir para a desoneração do trabalho e do
custo despendidos futuramente pelos seus setores de manutenção.
2.1.2 Como um bom projeto determina o custo de uma obra ao longo de toda a sua
vida útil?
7
O custo de um projeto é sensivelmente me-
nor do que os custos envolvidos na execução
da obra. Por essa razão, perceba que é mais
lógico e sensato concentrar esforços nes-
sa importante etapa, evitando, por exemplo,
economias irresponsáveis e permitindo que
nessa ocasião possam ser avaliadas todas
as possibilidades técnicas para a consecu-
ção do objeto pretendido. Afinal, é infinitamente mais fácil alterar um desenho, ou
até mesmo descartar-se um conjunto de elementos impressos, do que demolir uma
estrutura de concreto. O projeto, portanto, é o momento para a experimentação e o
teste de possibilidades.
Para ilustrar a importância que tem um projeto na construção civil, veja a imagem a
seguir.
Utopia
Lixo Bem Não pode
Não
pago ser feito
existe
GRÁTIS Faça
você
QUALIDADE
8
Perceba, portanto, algumas verdades sobre o projeto:
01
Esqueça projetos rápidos, sem custos e ainda assim
com qualidade. Eles não existem, muito embora essa
(projetos não remunerados) não seja uma realidade
possível na Administração Pública;
01
Esqueça projetos rápidos, sem custos e ainda assim
com qualidade. Eles não existem, muito embora essa
(projetos não remunerados) não seja uma realidade
possível na Administração Pública;
01
Escolha a forma de licitação mais adequada ao objeto a
contratar;
01
Escolha a forma de licitação mais adequada ao objeto a
contratar;
03
Por meio de pesquisa de preços, estabeleça a justa
remuneração devida ao serviço de projeto e que servirá
de referência à licitação.
03
Por meio de pesquisa de preços, estabeleça a justa
remuneração devida ao serviço de projeto e que servirá
de referência à licitação.
9
Em relação à manutenção do futuro objeto construído, a questão ganha ainda mais
importância. De acordo com a Lei de Sitter,3 ou “Lei dos 5”, tomando-se novamente
como exemplo uma estrutura de concreto, o custo para uma intervenção de correção,
desde o projeto até a manutenção corretiva, aumenta em progressão geométrica, de
razão 5 (SITTER, 1984 apud HELENE, 1992)4. Assim, pode-se dizer que, arbitrando
que o custo para uma eventual correção de erro no objeto seja 1, durante a fase de
elaboração do projeto, a mesma correção na fase de execução da obra terá custo 5,
na fase de manutenção preventiva terá custo 25 e, finalmente, na fase de manutenção
corretiva alcançará o custo de 125.
Lei de Sitter
100
Custo da Intervenção
Preventiva
Durante a Execução
75
Durante o Projeto
50
25 25
1 5
0
1 2 3 4 Tempo decorrido
Esse mesmo princípio pode ser aplicado, por extensão, às outras disciplinas (instala-
ções) das obras ou edificações.
Neste tópico, identificaremos quais são as principais escolhas que podem concorrer
para a racionalização do ambiente construído ao longo da sua vida útil, em conso-
nância com as boas práticas construtivas, à normativa técnica ou legislação vigente.
3
SITTER, W. R. Costs for service life optimization: the law of fives. In: CEB-RILEM. Durability of concrete structures. Procee-
dings of the International Workshop held in Copenhagen, on 18-20 May 1983. Copenhagen, 1984. (Workshop Report by
Steen Rostam).
4
HELENE, P. R. L. Manual para reparo, reforço e proteção de estruturas de concreto. 2. ed. São Paulo: Pini, 1992. 213 p.
ISBN 85-7266-010-0.
10
Conforme o art. 2º, item III, do Decreto nº 2.271, de 7 de julho de 1997 (dispõe sobre a
contratação de serviços pela Administração Pública Federal direta, autárquica e
fundacional e dá outras providências), as contratações da Administração devem
demonstrar os resultados que serão alcançados em termos de economicidade e de
melhor aproveitamento dos recursos humanos, materiais ou financeiros disponíveis.
No caso das especificações de projetos, as soluções adotadas terão íntima relação
com o comando dado nesse artigo do referido decreto.
Importante
Instruções Normativas que definem eficiência energética, otimi-
zação de recursos e critérios de sustentabilidade ambiental são
normas que atualmente devem ter observância obrigatória pela
Administração.
11
possibilita menor impacto na natureza, pela diminuição das distâncias de
transporte – atividade poluidora – para os insumos da obra, com reflexo no
seu custo;
12
Importante
É vital, no entanto, que tais exigências emanem da contratante, a
Administração Pública, quando da elaboração dos seus editais
de contratação.
Essa é uma das razões pelas quais é importante – e recomendável – que os órgãos
públicos contem nos seus quadros com profissionais habilitados, engenheiros e
arquitetos, com qualificação permanente, para a contratação de projetos e obras da
construção civil e de infraestrutura viária, tema já abordado no Módulo 1.
2.1.3 O projeto começa pela contratante. Quais objetivos desejo alcançar? Como
deverá ser o edifício que pretendo construir? Quais preceitos deve atender?
Premissas de projeto
13
Note que a definição do resultado esperado é tarefa que requer complexo estudo
e envolvimento. Certamente projetistas podem dar essa resposta. A medida dessa
resposta, no entanto, está intrinsecamente condicionada às orientações e premissas
definidas pela contratante, nesse caso o poder público. Mais uma vez, a figura do
arquiteto ou engenheiro como gestor desses contratos é fundamental.
Importante
O valor de uma obra deve ser medido por todo o período da sua
vida útil, o que inclui a sua concepção, execução, usufruto e even-
tual demolição.
5
ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 15575-1:2013 – Edificações habitacionais –
Desempenho – Parte 1: Requisitos gerais. Rio de Janeiro: ABNT, 2013. p. 31.
14
Observe
15
atuação da Administração Pública nas contratações de projeto, há vasta legislação.
Uma das normativas mais recentes é a Lei n° 13.647, de 9 de abril de 2018, que obriga
a instalação de equipamentos economizadores de água nos sanitários públicos de
todas as novas edificações públicas a partir da data da sua vigência.
6
“A forma segue a função” é um dos princípios da escola modernista de design Bauhaus, da década de 1910, que teve
grande influência na arquitetura desde então, ao defender a adoção de desenhos funcionais nos objetos, em oposição à
ornamentação. GROPIUS, W. The new archictecture and Bauhaus. New York: MIT Press, 1965.
7
Disponível em: <https://www.bcb. gov.br/pre/Historia/HistoriaBC/historia_BC.asp>. Acesso em: 10 abr. 2018.
16
Figura 3 - Centro de Ecologia em Kunshan – China
(http://engenhariae.com.br/curiosidades/foi-inaugurado-na-china-esse-edificio-que-mais-parece-um-
caranguejo-gigante/ último acesso em 10 de abril de 2018)
17
Figura 5 - Arquivo pessoal
18
Desempenho térmico e acústico,
visando à diminuição do custo do
objeto ao longo da sua vida útil;
Durabilidade e facilidade de
manutenção;
Inovação tecnológica.
19
Esses conceitos são definidos abaixo, de acordo com o TCU:8
Texto no qual
Texto se fixam
no qual se fixamtodas as regras
todas as regras e
e condições
condiçõesa serem
a serem seguidas
seguidaspelo
pelo contratado para
contratado parade
a execução a execução
cada um dos de cada um da obra,
serviços
(Caderno de) dos caracterizando
serviços da obra, caracterizandoos materiais, os
individualmente
Especificações
(Caderno de) individualmente
equipamentos, os os
materiais,
elementosos componentes, os
equipamentos, os elementos
sistemas construtivos a serem aplicados e o modo
Técnicas
Especificações componentes,
como serãoos sistemas construtivos
executados cada um dos serviços,
Técnicas a serem aplicados
apontando, e o modo
também, como
as unidades de medida que
serão
embasarão os critérios paraserviços,
executados cada um dos a sua medição e
apontando, também, as unidades de
pagamento;
medida que embasarão os critérios
para a sua medição e pagamento;
8
BRASIL. Tribunal de Contas da União. Orientações para elaboração de planilhas orçamentárias de obras públicas. Bra-
sília: TCU, 2014.
20
Outro conceito amplamente aplicado à área e que também gera dúvidas quanto ao
seu significado é o Memorial Justificativo. Alerte-se para o fato que esse documento
é tão somente, como o próprio nome diz, um texto que justifica o projeto. Nele estará
contida a exposição das razões pelas quais foram adotadas determinadas soluções
e decisões de projeto, o porquê de se ter utilizado determinados materiais, traçados,
dimensionamentos, etc., em detrimento de outras escolhas. O Memorial Justificativo
é, portanto, a peça textual que explica o projeto.
É importante que desse documento conste com clareza a explicação para os seguin-
tes itens:
1. Localização
2. Programa de necessidades
4. Volumetria
21
5. Tecnologia
Importante
O Memorial Justificativo não é item obrigatório na elaboração
dos projetos (conforme ABNT NBR 16636-2:2017 – Elaboração e
desenvolvimento de serviços técnicos especializados de projetos
arquitetônicos e urbanísticos – Parte 2: Projeto arquitetônico), e
não é comumente adotado ou exigido nas contratações da
Administração Pública. É imprescindível, no entanto, quando for
adotada a modalidade de licitação “concurso”, que será aborda-
da no próximo tópico.
22
Conforme a Lei n° 8.666/1993, há quatro As três primeiras podem ser
modalidades de licitação possíveis para a combinadas com os seguintes
contratação de um projeto na Administração tipos de licitação:
Pública:
Concurso
Como já mencionado neste curso, a Administração Pública deve sempre ter o seu
preço referencial para contratações. Isso é válido para projetos, obras e também
para serviços continuados. Aplicam-se aos projetos e aos serviços continuados
as determinações constantes da IN nº 5, de 27 de junho de 2014 (dispõe sobre os
procedimentos administrativos básicos para a realização de pesquisa de preços para
a aquisição de bens e contratação de serviços em geral) da SLTI/MP.
23
II. Pesquisa publicada em mídia especializada, sítios eletrônicos especializados
ou de domínio amplo, desde que contenha a data e a hora de acesso;
Outras formas de pesquisa também são possíveis, desde que devidamente justifica-
das pela autoridade competente, conforme disposto no parágrafo 3º do art. 2º:
Essa possibilidade deve-se ao fato de que, pelo serviço de projeto ter a sua mensu-
ração de forma subjetiva, por vezes é difícil encontrar referenciais criteriosos para a
formação do seu preço. Deve-se considerar que, para um mesmo objeto, pode haver
sensíveis diferenças de preços em função da escala, da área de edificação conside-
rada etc.
O item IV apontado pela IN SLTI/MP n° 5/2014 poderia, nesses casos, trazer maior
segurança na formação do preço. Sua confiabilidade seria dada pela tomada de
ao menos três orçamentos, de onde se deve tirar o preço médio. Ainda assim, nem
sempre tal expediente traz resposta indiscutível à questão. Nesses casos, pode-se
tomar como referência os preços das bases de dados dos órgãos de classe (CAU/BR,
Confea/Crea, Sindicato dos Engenheiros, Sindicato dos Arquitetos etc.).
9
BRASIL. Instrução Normativa nº 5, de 27 de junho de 2014. Dispõe sobre os procedimentos administrativos básicos para
a realização de pesquisa de preços para a aquisição de bens e contratação de serviços em geral. Brasília: SLTI/MP, 2014.
24
Atualmente, está em fase de elaboração dentro da ABNT a NBR 16633 (Elaboração de
orçamentos e formação de preços de empreendimentos de infraestrutura), dividida
em quatro partes, por meio de projeto sob o mesmo nome. Com previsão de edição
para o ano de 2018, esse conjunto de normas trará grande auxílio na análise e na
formação dos preços referenciais para os serviços de projeto.10
Como resultado dessa busca pela racionalidade e otimização dos custos, muitas
licitações para contratação de projeto vêm sendo contratadas na modalidade pregão.
10
Disponível em: <http://sinaenco.com.br/noticias/norma-sobre-formacao-de- precos-de-projetos-e-gerenciamento-
-esta-em-consulta-na-abnt/?utm_campaign =Newsletter&utm_content= Norma+sobre+forma%C3%A7%C3%A3o+
de+pre%C3 %A7os+de+projetos+e+gerenciamento+est%C3 %A1+em+consulta+na+ABNT+-+Sinaenco+%281%29&
utm_medium=email&utm _source= EmailMarketing&utm_term=newsletter +edi%C3%A7%C3%A3o+35+-+11+de+ou-
tubro>. Acesso em: 14 abr. 2018. Disponível em: <http://www.abntcatalogo.com.br/projetgrid.aspx>. Acesso em: 14 abr.
2018.
11
Brasil (1993, art. 23, § 4º).
25
Art. 1º Para aquisição de bens e serviços comuns, poderá ser adotada a
licitação na modalidade de pregão, que será regida por esta lei.
12
13
A dúvida recai sobre o fato de um projeto poder ser considerado ou não como serviço
comum de engenharia.
12
BRASIL. Lei nº 10.520, de 17 de julho de 2002. Institui, no âmbito da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, nos ter-
mos do art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, modalidade de licitação denominada pregão, para aquisição de bens e
serviços comuns, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 2002.
13
BRASIL. Advocacia-Geral da União. Orientação Normativa n° 54/2014. Brasília: AGU, 2014.
26
O auditor do TCU, André Mendes (2013, p. 149-152)14, argumenta, exemplificando
a aplicação do conceito de serviços comuns de engenharia. Na opinião do autor,
considerando como orientação a Lei nº 8.666/1993, para que as contratações de
serviços de engenharia sejam exclusivamente com licitação dos tipos “melhor
técnica” ou “técnica e preço”, seria inapropriado o uso da licitação do tipo “menor
preço” para tais serviços, o que impediria também o uso da modalidade pregão, visto
essa ter como critério de julgamento exclusivamente o menor preço.
(...) se o projeto ou estudo a ser obtido pela realização do serviço por uma
empresa ou profissional for similar ao projeto desenvolvido por outra empre-
sa, dotada com as mesmas informações da primeira, esse objeto, no caso
“estudos e projetos”, pode ser caracterizado como “comuns”. Caso contrário,
se a similaridade dos produtos a serem entregues não puder ser assegurada,
o objeto é incomum (BRASIL, 2011).15
15
14
MENDES, André. Aspectos polêmicos de licitações e contratos de obra públicas. São Paulo: Pini, 2013.
15
BRASIL. Tribunal de Contas da União. Acórdão n° 601/2011 – TCU – Plenário. Brasília: TCU, 2011.
27
Perceba a controvérsia que envolve a questão e que, diante da incerteza do caminho
a seguir, muitos gestores acabam optando pela adoção dessa modalidade (pregão)
para a contratação dos serviços de projeto, quando de pequeno vulto. Opta-se, dessa
forma, pelo caminho mais seguro, se considerarmos a segurança jurídica. Perde-
se, no entanto, pela qualidade do objeto ofertado, visto que o custo e a qualidade
do projeto tendem a ser grandezas opostas, conforme demonstrado no tópico 2.1.2
deste módulo, por meio da figura 1, abaixo relembrada.
Utopia
Lixo Bem Não pode
Não
pago ser feito
existe
GRÁTIS Faça
você
QUALIDADE
16
CAMAROTTO, M. Decreto vai atualizar valores de licitação, congelados há 20 anos. Valor Econômico, Brasília, 9 abr. 2018.
Disponível em: https://www.valor.com.br/brasil/5438381/decreto-vai-atualizar-valores-de-licitacao-congelados-ha-
-20-anos. Acesso em: 10 abr. 2018.
28
Para que se jogue mais luz sobre o debate, tome-se o posicionamento do Conselho de
Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR) e suas recentes ações quanto à adoção
do pregão para a contratação de projetos pela Administração Pública.
A unidade do CAU do estado do Rio Grande do Sul posicionou-se sobre o tema e tem
alcançado repetidos êxitos nas ações judiciais ou ações de impugnação impetradas
contra a modalidade pregão nesse tipo de contratação.17
Deve ser considerado que, ainda que o serviço de projeto a ser contratado seja de
pequeno vulto, o tipo de licitação a ser escolhido deve ser o de “técnica e preço” nas
modalidades “concorrência” ou “tomada de preços”, no caso da RFB, por definição da
Portaria RFB/Sucor/Copol n° 566/2011, no seu art. 11:
29
Para projetos de maior vulto, no entanto, a modalidade ideal é o concurso. Esse é
o entendimento da academia e dos órgãos de classe da engenharia e arquitetura.
Notadamente, os grandes projetos em nível mundial, aqui definidos grandiosos pela
sua qualidade, destaque e importância, aliados à quintessência da manifestação
artística e tecnológica, foram desenvolvidos por meio de concurso.
Exemplos desses projetos são a Ópera de Sidney, Austrália (figura 6); o Plano Piloto
da cidade de Brasília, Brasil (figuras 7 e 8); o Museu Guggenheim, Bilbao/Espanha
(figura 9); o Estádio “Ninho de Pássaro”, Pequim/China (figura 10); e a remodelação
da Estação Central de Trens, Berlim/Alemanha (figura 11).
Figura 6 - https://www.archdaily.com.br/br/784303/classicos-da-arquitetura-pera-de-sydney-jorn-utzon
(último acesso em 04/04/2018)
30
Figura 7 - https://www.archdaily.com.br/br/762897/em-foco-lucio-costa/54ecb228e58ece263300000a-the-original-pilot-p
(último acesso em 04/04/2018)
31
Figura 9 - http://verybilbao.com/en/comercios/museo-guggenheim-bilbao/ (último acesso em 04/04/2018)
Figura 10 - http://www.psam.uk.com/beijing-to-reuse-olympic-stadia-for-2022-winter-games
(último acesso em 04/04/2018)
32
Figura 11 - http://www.tremeuropa.com.br/trens-em-berlim/ (último acesso em 04/04/2018)
18
Disponível em: http://www.caubr.gov.br/auditor-do-tcu-defende-concurso-para-contratacao-de-projetos/. Acesso em:
4 abr. 2018.
33
O projeto é entregue no prazo, sem aditivos ou aumento de custos.
34
A proteção para os direitos do autor surgiria somente mais tarde, nos ares da Revolu-
ção Francesa, em oposição à condição protetiva inglesa, o que se chamou droit d’au-
teur. Essa condição trazia outra inovação: a divisão dos direitos em direitos patrimo-
niais e direitos morais, concedendo ao autor não só a proteção sobre a sua autoria,
como também à propriedade da sua obra.19
No Brasil, a legislação sobre direitos autorais teve início ainda no período imperial, por
meio da edição de normas vinculadas à proteção de obras jurídicas, com a criação dos
primeiros cursos de direito, com alguma evolução ao longo do período republicano e
sua consolidação, por meio da Lei nº 5.988, de 14 de dezembro de 1973, que reunia a
legislação sobre o tema.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviola-
bilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à proprieda-
de, nos termos seguintes: (...)
20
Dez anos depois é editada a Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que revoga a lei
de 1973 sobre o tema e que está em vigor atualmente, com recente alteração pela Lei
nº 12.853, de 14 de agosto de 2013, incluindo a gestão coletiva dos direitos autorais,
as duas regulamentadas pelo Decreto nº 8.469, de 22 de junho de 2015.
19
DUARTE, E. C. V. G.; PEREIRA, E. C. Direito autoral: perguntas e respostas. Curitiba: UFPR, 2009. (Série FAQS em PI, v. 1).
20
BRASIL. Constituição da República Federativa de 1988. Brasília: Senado Federal, 1988
35
No âmbito da Administração Pública e sua relação com os autores, aqui enfatiza-
dos os autores de obras intelectuais de projetos, um dos temas no nosso curso, é
limitada a possibilidade de transferência daqueles direitos. Como contratante, a Ad-
ministração tem a possibilidade de transferência para si apenas da parte relativa aos
direitos patrimoniais do autor.
O direito moral, inalienável e irrenunciável, por tratar-se de direito que protege a cria-
ção de espírito, não pode ser transferido, e confere, ao autor, as seguintes prerrogati-
vas, dadas no art. 24 da Lei n° 9.610/1998:
21
21
BRASIL. Lei n° 9.610, de 19 de fevereiro de 1998. Altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais e dá
outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 1998.
37
Importante
Esse comando limita, portanto, a discricionariedade do contra-
tante quanto à alteração da obra intelectual, e deve ser muito
bem observado pela Administração Pública, aqui enfatizados os
projetos contratados pelo poder público, sob pena de gerar ao
autor, em eventuais alterações do objeto, o direito a indeniza-
ções.
Art. 28. Cabe ao autor o direito exclusivo de utilizar, fruir e dispor da obra lite-
rária, artística ou científica.
38
A leitura dos artigos acima indica a necessidade de transferência daqueles direitos
patrimoniais pelo autor ao adquirente, para que esse possa fazer a utilização e o
usufruto da obra.
39
Importante
Veja que, diante do que estabelece aquela lei, é importante
também o cuidado da Administração Pública quanto à eventual
alteração do objeto contratado. Na execução de obras, a partir da
contratação de um Projeto Básico, conforme permitido pela Lei
n° 8.666/1993, deve ser observado com elevado critério a elabo-
ração do Projeto Executivo concomitante à obra, também autori-
zado pela referida lei. O Projeto Executivo em questão – com o
significado que tem – já discutido no tópico 1.1.2, do Módulo 1
deste curso, deve configurar-se em mero detalhamento comple-
mentar, jamais podendo alterar a concepção original dada no
Projeto Básico.
40
Essa é uma das razões pelas quais se deve tomar cuidado quando da revisão dos
projetos contratados pela Administração Pública por meio da elaboração do Projeto
Executivo concomitante à obra. Essa também é uma das razões para a contrariedade
dos conselhos de classe (CAU/BR e sistema Confea/Crea) quanto a essa prática.
Permitida pela Lei nº 8.666/1993, no seu art. 7º, essa condição prevê a possibilidade
de complementação do Projeto Básico por meio do chamado Projeto Executivo, que
pode vir a transfigurar o objeto original, o que se caracterizaria uma clara afronta ao
direito autoral.
Observe
41
2.2 Como receber um projeto de edificações?
a) Levantamento topográfico;
b) Sondagens;
42
c) Projeto arquitetônico;
d) Projeto de terraplanagem;
e) Projeto de fundações;
f) Projeto estrutural;
No Caderno de Encargos, deve estar descrita a lista das pranchas de desenho inte-
grantes do projeto, com a sua revisão e data. No
cronograma físico-financeiro e no orçamento de-
talhado deve ser mostrado o título do projeto para
a sua fácil identificação. As pranchas de desenho
devem ser apresentadas dentro das normas da
ABNT, condição que deve estar expressa no edital.
Essa condição vale também para o Caderno de En-
cargos. Esse documento, conforme o tamanho do
objeto, atinge o volume de 400 páginas ou mais,
razão pela qual deva ser apresentado com sumá-
rio. Recomenda-se que o sumário siga a mesma sequência numérica que será apre-
43
sentada na planilha orçamentária, o orçamento detalhado. Essa forma de ordenação
não somente torna mais coesa a informação apresentada pelo autor do projeto, como
possibilita a facilitação do trabalho futuro do executor da obra e, principalmente, do
seu fiscal.
44
Art. 25. (...)
22
Perceba que as ações dos agentes públicos devem, portanto, estar sempre ampara-
das em normativas legais que as legitimem. Essa condição estende-se às ações de
contratação e recebimento de um objeto, aqui especificamente tratado o projeto. A
mesma observação aos critérios legais que deve ter o gestor de contrato quando da
elaboração dos editais de contratação deve ser aplicada quando do recebimento do
projeto e da sua consequente revisão e aceitação.
(...) Ressaltou o relator não ser “essa a conduta que se esperava dos parece-
ristas do DEG, que poderiam ao menos ter questionado a empresa projetista
acerca dos parâmetros utilizados para elaboração do projeto, efetuando
45
1. A aprovação de Projeto Básico inadequado, com grandes implicações nos
custos e prazos de execução do empreendimento, reveste-se de gravidade
suficiente para justificar a apenação pecuniária do gestor responsável e a sua
inabilitação para o exercício de cargo em comissão ou função de confiança
no âmbito da Administração Pública Federal (BRASIL, 2015).23
(...) Ressaltou o relator não ser “essa a conduta que se esperava dos parece-
ristas do DEG, que poderiam ao menos ter questionado a empresa projetista
acerca dos parâmetros utilizados para elaboração do projeto, efetuando
estudos comparativos com outras obras semelhantes e de mesmo porte” e,
no tocante ao volume de concreto das estruturas, “a conferência da memória
de cálculo da empresa projetista ou dos levantamentos realizados pela
licitante poderia atestar com precisão a necessidade de eventuais ajustes no
projeto”, mas, ainda que formalmente avisados das supostas falhas no proje-
to, os pareceristas não tomaram as medidas adequadas para sanar as pen-
dências. Enfatizou ainda o relator que, além dos expressivos acréscimos veri-
ficados no custo da obra, “a deficiência do Projeto Básico trouxe um atraso
de quase um ano no andamento do empreendimento em vista das negocia-
ções que pautaram a celebração do primeiro termo aditivo”. Por isso, no voto
que veio a ser aprovado pelo Colegiado, propôs aplicação da multa prevista
no art. 58, inciso II, da Lei 8.443/1992, individualmente a cada um dos pare-
ceristas, e o acolhimento das razões do diretor de engenharia, que assinara o
contrato amparado no parecer técnico (BRASIL, 2016).24
24
46
Por todas as razões citadas, ainda que a
Administração Pública contrate o projeto
ou a obra com profissional ou empresa
qualificados e habilitados, ou que tenha
igualmente o assessoramento técnico
de empresa ou profissional habilitados
e qualificados, é também de sua respon-
sabilidade qualquer erro formal, impe-
rícia ou negligência, por meio dos seus
agentes públicos. Essa condição confirma a ideia de que é altamente recomendável
que os órgãos públicos que tenham no seu organograma setores responsáveis pela
contratação de projetos, obras ou quaisquer serviços de engenharia, contem com
profissionais legalmente habilitados e com constante processo de qualificação.
47
2.2.3 A importância da observação da representação gráfica na apresentação de
projetos
25
Semiótica – É o estudo e caracterização dos signos, ou significado e significante, abrangendo linguagem verbal e não
verbal, conforme síntese das definições dadas nos estudos de Peirce, Santaella e Morin. [SANTAELLA, Lúcia. O que é
semiótica. São Paulo: Brasiliense, 1983.
MORIN, Edgar. Introdução ao pensamento complexo. Trad. Maria Gabriela de Bragança. 2. ed. Lisboa: Instituto Piaget,
1995.
PEIRCE, Charles Sanders. Textes fondamentaux de sémiotique. Paris: MéridiensKlincksieck, 1987 (tradução: B. Fouchier-
-Axelsen e C. Foz)]
26
Borges, M. M. Formas de representação de projeto. In: NAVEIRO, R. M.; OLIVEIRA, V. F. (Orgs.), O projeto de engenharia,
arquitetura e desenho industrial: conceitos, reflexões, aplicações e formação profissional. Juiz de Fora: Ed. UFJF, 2001.
48
A segunda função remete à comunicação, como o próprio nome demonstra, à
correta representação da intenção do seu autor. Melhor comunicação haverá entre
o comunicante do projeto (o seu autor) e o seu leitor, quanto maior for a precisão e a
correção da representação.
Bertin (1986)27 esclarece essa condição por meio da relação da ação inventiva das
ideias, com a sua representação:
Durante muito tempo a representação gráfica teve por objetivo apenas o registro dos
objetos. A partir do século XV, iniciou-se a transformação da forma comunicativa, in-
corporando ações criteriosas de análise qualitativa do objeto representado por meio
da riqueza de elementos dos instrumentos da sua representação. Essa mudança
deu-se por intermédio de Filippo Brunelleschi, arquiteto italiano da Renascença, e a
potencialidade comunicativa dos seus desenhos e esboços. Ao vencer o concurso
para o projeto da cúpula da Catedral Santa Maria Del Fiore, em Florença, Brunelleschi
utilizou instrumentos de representação gráfica que mostravam notável compreensão
do funcionamento estrutural da cúpula e a criteriosa análise do sistema construtivo,
por meio da representação figurada.28
27
BERTIN, J. A neográfica e o tratamento gráfico da informação. Tradução de Célia Maria Westphalen. Curitiba: UFPR,
1986.
28
CARVALHO JR., J. M. N. Prática de arquitetura e conhecimento técnico. 1994. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urba-
nismo) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 1994.
49
Figura 12 - http://plassen-buchverlage.e-bookshelf.de/products/reading-epub/product-id/2288474/title/
Brunelleschi%2527s%2BDome.html?autr=%22Ross+King%22 (último acesso em 12/04/2018)
50
A ABNT apresenta a NBR 6294/1994, atualmente em revisão, como normativa para a
representação gráfica em projetos de arquitetura. Muito embora específica para essa
disciplina, por analogia pode-se adotá-la como orientação para a representação grá-
fica de todas as demais disciplinas que concorrem para o projeto de uma edificação
(estrutural, elétrico, ar condicionado, hidrossanitário, etc.). Essa norma determina a
correta forma de apresentação do projeto de arquitetura, por meio da escolha das
linhas de representação, dos elementos mínimos necessários, do formato das pran-
chas de desenho, das técnicas de representação, etc.
Importante
A incorreção e a imprecisão na representação gráfica dos proje-
tos contratados podem possibilitar erros de interpretação dos
desenhos por parte das licitantes, e, com isso, permitir conclu-
sões equivocadas quanto à técnica construtiva ou em relação
aos quantitativos do projeto, refletindo diretamente na formação
do preço da obra.
51
Os principais erros de representação gráfica encontrados nos projetos
são:
52
A figura demonstra a falta de informação quanto ao diâmetro da
tubulação da instalação de chuveiros automáticos para prevenção de
incêndio no seu trecho terminal, o que gera a dúvida sobre qual é o
diâmetro correto que deve ser adotado.
Perceba, portanto, caro aluno, que muito mais do que uma forma simplificada de
registro das intenções de projeto, a representação gráfica tem importante função,
por ser a ação responsável principalmente pela comunicação e pelo consequente
entendimento da ideia a ser transmitida. Projetos, muitas vezes simplificada e
depreciativamente chamados de meros “desenhos”, especialmente por leigos, são,
na verdade, complexas ações de desenvolvimento e manifestação das intenções e
ideias do seu autor, podendo condicionar o sucesso ou o fracasso do seu objeto.
53
2.3 Coordenando um projeto de edificações
Por outro lado, nos projetos de edificações, normalmente desenvolvidos por arquite-
tos, a responsabilidade recai sobre tais profissionais.
29
Ver Resolução Confea nº 1010/2005, Resolução CAU/BR nº 51/2013, Resolução Confea/Crea nº 1048/2013 e Notas
Explicativas sobre a Especificação e Fundamentos das Atividades Privativas de Arquitetos e Urbanistas – CAU/BR.
54
Tome Nota
Este curso não tem por objetivo acalorar a polêmica sobre as com-
petências privativas ou compartilhadas de tais profissionais, mas é
importante esclarecer a necessária atuação do responsável pelo
projeto, seja ele arquiteto, seja engenheiro, na sua coordenação.
Afinal, a coordenação do projeto garantirá a sua qualidade e somente
o seu criador, que o concebe, tem condições plenas de tomada de
decisões sobre a sua forma de elaboração. Ainda que essa atividade
possa ser desenvolvida por outro profissional, dos quadros do órgão
público, ou contratado para tal, na forma de atividade de revisão do
projeto, é incomparável o domínio do processo pelo seu projetista.
Para responder a essa questão, deve ser inicialmente entendido como um projeto é
concebido. Especialmente em projetos de arquitetura, a soma das variáveis envol-
vidas apresenta questões de ordem formal (formas arquitetônicas), teórica (teorias
de arquitetura), estética, análise de estruturas (sustentação do edifício, no caso de
edificações), análise de instalações (subdisciplinas como instalações elétricas, hi-
drossanitárias, de climatização e ventilação mecânica etc., no caso de edificações) e
completa normativa técnica e legal aplicada ao campo de atuação. Para consolidar
todas essas variáveis há várias formas de abordagens, o que requer a atuação do
coordenador, em um processo de grande complexidade.30 A coordenação é então o
30
DÜLGEROGLU, Y. Design methods theory and its implications for architectural studies. Design methods: theories, resear-
ch, education and practice. California, v. 33, n. 3, p. 2870-2879, 1999. JUTLA, R. An inquiry into design methods. Design
methods: theories, research, education and practice, California: Design Methods Institute, v. 30, n. 1, p. 2304-2308, 1996.
55
teste contínuo e sistemático de integração, interdependência e consolidação de in-
fluências dessas variáveis, de forma a buscar o melhor resultado possível na concep-
ção final do objeto.
Dada a ideia acima, conclui-se que o profissional legítimo para a ação de coorde-
nação do projeto deve efetivamente ser o seu criador. Comumente confundida com
gerenciamento de projetos, a coordenação representa atividade inerente ao processo
criativo e não pode ser delegada. Enquanto o gerenciamento atua no controle de pra-
zos e processos, promovendo a intermediação entre os profissionais ou as atividades
envolvidas na elaboração de um projeto, a coordenação promove a integração do
projeto, é inata do seu processo e exclusiva do seu agente.
56
Ao arquiteto, desenvolvedor do projeto de arquitetura de uma
edificação, cabe a tomada de decisão, assessorado pela sua
equipe de projetistas complementares, sobre o sistema ideal
de condicionamento do ar, alimentação de água fria ou quente,
esgoto pluvial e sanitário, elementos estruturais ou qualquer outra
infraestrutura que integre o objeto.
57
A compatibilização de projetos, seguindo-se tal linha de raciocínio, pode ser entendida
como um nível mais específico de atuação do projetista na elaboração do seu projeto.
Os termos “coordenação” e “compatibilização” de projetos têm conceitos similares,
muitas vezes se confundindo. O primeiro, no entanto, é mais abrangente, conforme
apresentado no tópico anterior. A compatibilização de projetos dedica-se a um nível
mais imediato da sua análise e está refletida principalmente na sua representação
gráfica e nas suas interferências.
58
mesmo item do projeto deve ter idêntica especificação nas pranchas de desenho, no
Caderno de Encargos e na planilha orçamentária, e essa consolidação é obrigação do
projetista, o autor e criador do projeto.
Observe
59
de CAD (Computer Aided Design – ou Projeto Assistido por Computador). A necessi-
dade de geração dos seus diversos elementos em momentos distintos muitas vezes
possibilita esse desencontro de informações. As novas tecnologias, especialmente o
conceito BIM, trazem alto grau de precisão na produção integrada dos diversos dese-
nhos de um projeto, assunto que será tratado no tópico 2.3.4.
60
§§ Projeto de controle de acesso;
§§ Projeto de instalações de climatização e ventilação mecânica;
§§ Projeto de prevenção e proteção contra incêndios (sistemas passivos e ativos
– saídas de emergência, iluminação de emergência, hidrantes, chuveiros
automáticos etc.);
§§ Projeto de elevadores;
§§ Projeto de GMG (grupo motogerador);
§§ Projeto de urbanização e paisagismo.
§§ Projeto de esquadrias;
§§ Projeto de revestimento de fachadas;
§§ Projeto de cogeração de energia;
§§ Projeto de tratamento de efluentes.
Observe
61
Para que se consolide o entendimento, vejamos o que determinava a ABNT NBR
13531:1995 – Elaboração de projetos de edificações – Atividades técnicas:
Essa norma técnica foi cancelada em 2017, estando em processo de revisão, tendo
sido substituída pelo conjunto de normas ABNT NBR 16636:2017 – Elaboração e
desenvolvimento de serviços técnicos especializados de projetos arquitetônicos e
urbanísticos.31
31
Ver informação no sítio da ABNT: <http://www.abntcatalogo.com.br/norma.aspx?ID=5011>. Acesso em: 14 abr. 2018.
62
Naturalmente, a interação dos projetos faz com que tal lógica seja contrariada em
casos específicos. Pode-se citar como exemplo a necessidade de dimensionamento,
no projeto elétrico, dos pontos de força que alimentarão as máquinas climatizadoras
ou ventiladoras, informação advinda do projeto de climatização e ventilação mecâ-
nica. Certamente, nesse caso específico, a melhor fonte de informação é realmente
aquele projeto de instalações de climatização, visto que o projeto de arquitetura não
apresenta tal informação, tampouco se propondo a apresentá-la.
Importante
Excetuando-se essas condições específicas, que deverão ser
coordenadas pelo autor do projeto, todas as disciplinas devem
remeter-se às orientações dadas no projeto de arquitetura, sob
pena de a representação gráfica da disciplina em questão não
ser clara, sendo por vezes confusa e ilegível, conforme for a base
de desenho equivocadamente escolhida para a sua elaboração.
63
Figura 15
Figura 16
64
A partir da evolução da forma de representação gráfica iniciada no Renascimento,
com Brunelleschi e Alberti,32 intensificou-se o uso das perspectivas cônicas com-
postas de um ou dois pontos de fuga e, como você já pôde ver em tópicos anteriores,
seguiu-se a invenção do sistema de representação através de diedros33, por Gaspard
Monge.34 Naquele sistema, um dado objeto é projetado simultaneamente em dois
planos de projeção ortogonais – o diedro –, trazendo para o desenho conceitos ma-
temáticos, criando a geometria descritiva e fundando a base para o desenho técnico
moderno. Essa técnica permitiu o início da representação de um objeto tridimensio-
nal em planos bidimensionais, conforme identificado na figura abaixo:
Fonte: http://www.ebah.com.br/content/ABAAAglgcAB/apostila-geometria-descritiva -
Acesso em: 16 maio 2018.
32
Filippo Brunelleschi foi um arquiteto, engenheiro e pintor italiano do período da Renascença (Florença, 1377 – Florença,
1446) que resgatou a utilização das perspectivas, muito adotada na cultura greco-romana da Antiguidade, para a repre-
sentação de desenhos na forma tridimensional. Brunelleschi é o responsável pela criação da perspectiva cônica com um
ponto de fuga, representando os desenhos em três dimensões, da forma como efetivamente as imagens são vistas pelo
olho humano. Leon Battista Alberti foi um arquiteto, pintor e escultor italiano do período da Renascença (Gênova, 1404
– Roma, 1472) que, a exemplo de Brunelleschi, utilizou o desenho em perspectiva como forma de representação gráfica.
Continuando o trabalho por ele iniciado, Alberti foi o autor da primeira análise científica da perspectiva, por meio do estu-
do das proporções do edifício e da geometrização do espaço.
33
Diedros – É a união de dois semiplanos perpendiculares entre si. Por analogia pode-se comparar o diedro como se fosse
um livro aberto, com suas páginas formando um ângulo de 90°.
34
Gaspard Monge (Beaune, 1746 – Paris, 1818) foi um matemático francês criador da geometria descritiva, a base mate-
mática do desenho técnico.
65
A técnica criada por Monge exige que se represente o objeto em vários planos bi-
dimensionais, para que sejam mostradas todas as suas faces. Assim, quanto mais
complexo for o objeto a ser representado, maior será o número de planos necessários.
Nesse método, a representação gráfica de um triedro35 exige três planos, enquanto a
representação de um octaedro36 exigirá oito. Dessa forma, quando da necessidade de
modificação do objeto tridimensional, a alteração deve considerar todos os planos de
representação, identificando quais os planos cujas modificações serão representa-
das. Essa condição traz ao desenho técnico a necessidade de extremo cuidado, para
que não sejam esquecidas as modificações do objeto em todos os planos em que
essa ocorrerá. Falhas na execução dessa técnica trazem infidelidade ao desenho, e,
na atividade de projeto, podem causar grandes prejuízos à interpretação do desenho,
distorcendo o entendimento do objeto representado.
Tome Nota
Com o advento da tecnologia BIM, situações como essas desapare-
ceram. Isso porque, na estratégia da plataforma BIM, a forma de
representação do objeto não se dá em planos, e sim no espaço,
como um objeto tridimensional, por meio de um modelo digital,
representando o objeto como este ocorre na realidade. Nos softwa-
res que adotam a tecnologia BIM, qualquer vista do objeto será a
partir do modelo tridimensional, o que promove a sua interdependên-
cia com as outras vistas. Assim, ao serem feitas alterações em uma
vista extraída do modelo – um corte do modelo, por exemplo –,
35
Triedro – Elemento da geometria espacial composto de três lados, ou três planos.
36 essasda geometria
Octaedro – Elemento alterações automaticamente
espacial serão
composto de oito lados, ou refletidas
oito planos. nas demais
vistas. Para o projetista, elimina-se a preocupação com a alteração
manual das modificações sofridas pelo objeto nas tantas vistas que
o representarem. Somente por essa condição, a tecnologia BIM já
trouxe grande ganho à atividade de projeto, o que elimina a possibili- 66
Com o advento da tecnologia BIM, situações como essas desapare-
ceram. Isso porque, na estratégia da plataforma BIM, a forma de
representação do objeto não se dá em planos, e sim no espaço,
como um objeto tridimensional, por meio de um modelo digital,
representando o objeto como este ocorre na realidade. Nos softwa-
res que adotam a tecnologia BIM, qualquer vista do objeto será a
partir do modelo tridimensional, o que promove a sua interdependên-
cia com as outras vistas. Assim, ao serem feitas alterações em uma
vista extraída do modelo – um corte do modelo, por exemplo –,
essas alterações automaticamente serão refletidas nas demais
vistas. Para o projetista, elimina-se a preocupação com a alteração
manual das modificações sofridas pelo objeto nas tantas vistas que
o representarem. Somente por essa condição, a tecnologia BIM já
trouxe grande ganho à atividade de projeto, o que elimina a possibili-
dade da ocorrência dos erros descritos no tópico 2.2.3 deste módulo,
quando utilizados os sistemas CAD.
67
Importante
Uma falha desse sistema, no entanto, é a impossibilidade de atu-
alização automática dos preços dos insumos ou serviços
quando da alteração do seu valor. Softwares de orçamento atual-
mente existentes possibilitam a comunicação direta com bases
de dados de preços de serviços e insumos, o que torna automáti-
ca a atualização de uma planilha orçamentária de um projeto,
facilidade não encontrada nos atuais softwares BIM.
Ainda assim, a tecnologia BIM deverá, muito em breve, ser dominante no processo
de projeto, dadas as enormes vantagens por ela oferecidas. Um projeto elaborado
dentro dessa plataforma apresenta grande fidelidade e coordenação entre os seus
elementos, o que reduz os custos finais do objeto a ser construído, em função da
previsão antecipada do seu resultado e da possibilidade de tomada de decisões,
preventivamente, na eventualidade da ocorrência de alguma incompatibilidade. Essa
condição diminui a necessidade de aditamentos ao contrato quando da execução
da obra por eventuais erros de projeto. Para a indústria da construção civil e para
a Administração Pública essa é uma grande vantagem, ao otimizar os custos de
produção e eliminar os retrabalhos na execução do objeto.
Nos últimos anos a tecnologia BIM vem se tornando obrigatória nos projetos das
edificações públicas de alguns países. Você sabia que entre esses estão França, In-
glaterra, Alemanha, Suécia, Noruega, Estados Unidos e recentemente Espanha, com
previsão até o final de 2018? Pois saiba que no Brasil essa obrigatoriedade poderá vir
a ser adotada em breve. Na edição de 5 de junho de 2017 do Diário Oficial da União, a
Presidência da República (PR) editou decreto que instituiu a criação do Comitê Estra-
tégico de Implementação do BIM.37 Nesse decreto, uma das atribuições do comitê era
37
BRASIL. Decreto de 5 de junho de 2017. Institui o Comitê Estratégico de Implementação do Building Information Mo-
delling. Diário Oficial da União, Brasília, 2017. Disponível em: <http://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.
jsp?data=06/06/2017&jornal=1&pagina=19&totalArquivos=216>. Acesso em: 15 abr. 2018.
68
a de “propor, no âmbito do Governo Federal, a Estratégia Nacional de Disseminação
do BIM, as suas diretrizes e a estratégia de atuação” (BRASIL, 2017, art. 3º, item I).
Recentemente, em 17 de maio de 2018, foi editado o Decreto nº 9.377, que institui a
Estratégia Nacional de Disseminação do BIM e que revogou o decreto de 5 de junho
de 2017.
69
Encerramento
Neste Módulo 2 foi abordado o projeto de edificações com seus temas vinculados.
Ainda que muitos conceitos sejam específicos da área, nos quais engenheiros e
arquitetos têm pleno domínio, a abordagem buscou esclarecer, de forma didática
para os leigos, os conhecimentos inseridos nesses conceitos. Uma das ênfases
deste módulo foi o peso e a importância que tem um projeto bem desenvolvido para a
execução da obra, sendo diretamente responsável pela otimização do seu custo, sua
durabilidade, seu desempenho e o regime de manutenção durante a sua vida útil.
70