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Belo Horizonte
2008
Letícia Viecili Pereira Landi
Belo Horizonte
2008
FICHA CATALOGRÁFICA
Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
CDU: 141.32
Letícia Viecili Pereira Landi
Configuração dos sentidos subjetivos de indivíduos idosos submetidos à cirurgia de
revascularização do miocárdio no mundo pós-moderno:
um estudo de caso na perspectiva de Viktor Emil Frankl.
__________________________________________________________
Jacqueline Moreira de Oliveira (Orientadora) – PUC Minas
__________________________________________________________
Márcia Braz Rossetti – PUC Minas
__________________________________________________________
José Paulo Giovanetti – FEAD – Minas
Kelly, Fernanda, André, Carolina, Marina, Sílvia, Luciana, Douglas e Luiz Júnior,
profissionalismo.
À Marília e ao Celso, pela palavra sempre amiga e pelo trabalho em meu auxílio.
acontecimento da cirurgia.
As minhas amigas Elisa, Gracielle, Valéria, Mary, Juliana, Leila e Ângela, pelo
apoio e carinho.
Ao meu amor, Francisco, luz da minha vida, pela cumplicidade, amor e carinho
incondicionais.
E a minha querida orientadora, Jacqueline, pela imensa dedicação, paciência,
apoio, entusiasmo e carinho com que sempre me tratou, nunca deixando de acreditar
que, mesmo em meio às minhas dificuldades, o nosso trabalho seria possível. Obrigada,
Então meninos!
Vamos à lição!
Em quantas partes se divide o coração?”
Antônio Gedeão
RESUMO
This study intended to elucidate how the psychosocial processes of the post-modern
world, linked to Frankl’s theory, can contribute to the difficulty elders have on entering
Phase 3 of the Cardiac Rehabilitation’s program (CR). Its objective was to understand
the subjective senses that are developed in elderly patients after a myocardial
revascularization surgery (MRS) on Phase 2 of CR. A theoretical research, of historical
and thematic natures, and a field work were done. The theoretical-thematic study was
destinated to understand the subjects of the existencial emptiness and the life’s sense in
the contemporaneity, both based on the referential theory, the Logotherapy of Viktor
Emil Frankl. It was also talked about the Coronary Artery Disease, CAD, the CR, and
Aging. In parallel to this study, it was done a historical contextual survey about Post-
modernity, the cardiac surgery, and Physiotherapy. To the field work, it was applied
qualitative clinical research, with case study methodology. The case study applied as
data collecting semi-structured interviews, done with a 64 years old male individual,
submitted to a MRS. After that, it pointed out, through five categories (work, suffering,
the other, religion, and the body), which the principal subjective senses produced by the
individual of the survey were, in the initial and the late post-operatories of the MRS.
The results show the individual studied developed subjective senses of revolt and
tentative of maintaining dignity in face of the suffering produced by the surgery, and
that this configuration was not able to supply the existencial emptiness present in his
life. This way, this study launches the hypothesis that the post-operatory impacts of
MRS, in post-modern context, are able to produce subjective senses which denote lack
of life sense. And that, therefore, psychosocial factors as depression and social isolation,
allied to the few coping resources elders have in Brazil, can contribute to the difficulty
these individuals have of entering Phase 3 of a CR’s program.
Dr. – Doutor
ed. – Edição
Ed.– Editor(es)
f. – folha(s)
Coord. – Coordenador
Cols. – Colaboradores
n. – número
Org. – Organizador(es)
p. – página(s)
supl. – suplemento
Sr. – Senhor
v. – volume
LISTA DE SIGLAS
AO – Aórtica
CEC – Circulação extracorpórea
CRVM – Cirurgia de Revascularização do Miocárdio
CTI – Centro de Tratamento Intensivo
DAC – Doença Arterial Coronariana
EC – Estudo de Caso
EUA – Estados Unidos da América
FC – Freqüência Cardíaca
FC máx – Freqüência Cardíaca Máxima
FCT – Freqüência Cardíaca de Treinamento
FCR – Freqüência Cardíaca de Repouso
HDL – Lipoproteínas de alta densidade
IAM – Infarto Agudo do Miocárdio
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDL – Lipoproteínas de densidade intermediária
IPE – Índice de Percepção do Esforço de Borg
LDL – Lipoproteínas de baixa densidade
MET – Equivalente Metabólico
METS – Equivalentes Metabólicos
MG – Minas Gerais
MI – Mitral
OMS – Organização Mundial da Saúde
OPAS – Organização Panamericana da Saúde
PA – Pressão Arterial
PNAD – Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios
RC – Reabilitação Cardíaca
UI – Unidade de Internação
VLDL – Lipoproteínas de muito baixa densidade
VO2 – Consumo de oxigênio
VO2máx – Consumo máximo de oxigênio
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 15
2 METODOLOGIA .................................................................................................... 23
1. INTRODUÇÃO
O tema deste estudo é o indivíduo idoso e seus sentidos subjetivos, após ter sido
submetido a uma cirurgia de revascularização do miocárdio (CRVM)1, no contexto da
Pós-modernidade. Foram adotados, como principal referência teórica, os fundamentos
da Logoterapia, de Viktor Emil Frankl,sobre o qual Roehe nos fala:
1
A cirurgia de revascularização do miocárdio é conhecida popularmente como “ponte de safena”.
16
− Fase 1 (Fase Hospitalar): inicia-se com o evento coronário e vai até a alta
hospitalar. Nessa fase, o fisioterapeuta informa a intensidade, duração e
freqüência da atividade física que será realizada após a alta.
− Fase 2 (Fase de Convalescença Pós-Hospitalar): corresponde às
atividades de reabilitação desenvolvidas no período de convalescença.
Inicia-se a partir da alta hospitalar, podendo se estender por 2 a 3 meses.
Nesta fase, os exercícios físicos podem ser supervisionados ou não.
Geralmente o que se observa é que o paciente segue as orientações da
Fase 1, realizando as atividades físicas por conta própria. Nessa fase, o
paciente também retorna ao médico para uma reavaliação clínica.
− Fase 3 (Fase de Ganho Funcional Supervisionado): Nessa fase, o
principal objetivo passa a ser o incremento do condicionamento físico do
paciente. Pode durar de 3 a 6 meses.
− Fase 4 (Fase de Manutenção Não Supervisionada): A duração dessa fase
é indefinida, pois a manutenção do grau de condicionamento físico
máximo é o que irá assegurar o controle da DAC, prevenindo novos
eventos coronarianos.
(FRANKL, 1978, p.19, grifo do autor). No entanto, a própria consciência pode enganar
a pessoa, conforme nos revela Frankl:
2
“A configuração é um sistema dinâmico que expressa um sentido psicológico particular e,
simultaneamente, aparece como ampliada e articulada com outras configurações que entram em outro
sistema de sentido da personalidade. Toda configuração subjetiva responde tanto a determinantes
intrapsíquicos, que expressam a integração e desintegração pertinentes de configurações mais amplas,
mais relevantes, quanto à atividade do sujeito, interativo e pensante.” (REY apud REY, 1997, p.4).
3
Consideramos como pós-operatório inicial, o período de até 30 dias após a cirurgia e como pós-
operatório tardio, o período de 2 a 6 meses após a cirurgia.
20
5
Vazio existencial: expressão cunhada por Viktor Emil Frankl e que pode ser entendida como “uma
condição humana, aparentemente normal, onde as pessoas não conseguem encontrar um sentido para suas
vidas” (RODRIGUES, 1991, p.185).
23
2 METODOLOGIA
Nesse sentido, foi realizado um estudo temático sobre o vazio existencial e sobre
a questão do sentido, ambos fundamentados na teoria de referência escolhida, ou seja, a
teoria frankliana. Concomitantemente a esse estudo, foi realizado um levantamento
histórico sobre a pós-modernidade, a cirurgia cardíaca e a Fisioterapia. Outros assuntos
pertinentes ao tema da pesquisa também foram abordados teoricamente. Tudo isso pela
necessidade de se firmarem conexões lógicas entre a problemática da pesquisa e o
objeto do estudo. Tais assuntos incluem a Doença Arterial Coronariana, a Cirurgia de
Revascularização do Miocárdio, a Reabilitação Cardíaca e o Envelhecimento.
Para a pesquisa de campo, utilizou-se a pesquisa qualitativa. Essa modalidade de
pesquisa, quando aplicada à saúde, incorpora a concepção de significado trazida pelas
Ciências Humanas, na qual não se busca estudar um fenômeno em si, mas entender o
seu significado individual ou coletivo para a vida das pessoas (TURATO, 2000).
Turato apresenta uma definição do método clínico-qualitativo voltado
especificamente para os cenários das vivências em saúde:
Dessa forma, o instrumento utilizado para a coleta dos dados foi a entrevista
individual parcialmente estruturada, que, segundo Laville e Dione, são:
Nesse sentido, o modelo de estudo de caso utilizado foi o projeto de caso único
na forma incorporada, pelo fato de a pesquisa estar inserida num contexto com diversas
variáveis e por seguir a lógica do planejamento, que Platt citado por Yin compreende
por “uma estratégia que deve ser priorizada quando as circunstâncias e os problemas de
pesquisa são apropriados, em vez de um comprometimento ideológico que deve ser
7
O acidente vascular cerebral é conhecido popularmente por derrame cerebral. Ocorre quando há uma
isquemia em artérias que irrigam o cérebro ou quando uma artéria se rompe, havendo derramamento de
sangue no cérebro (POLLOCK; WILMORE;FOX,1993, p. 5).
28
seguido não importando quais sejam as circunstâncias” (PLATT apud YIN, 2005, p.
32).
A escolha do caso único baseou-se em dois fundamentos lógicos. O primeiro
deles é a representatividade típica, cujo objetivo “é capturar as circunstâncias e
condições de uma situação lugar-comum ou do dia-a-dia [...] parte-se do princípio de
que as lições que se aprendem desses casos fornecem muito mais informações sobre as
experiências da pessoa [...]” (YIN, 2005, p.63). Esta pesquisa iniciou-se a partir de uma
observação diária, que apesar de construir alguns conhecimentos, não foi suficiente para
esclarecer as dúvidas pertinentes ao exercício da prática fisioterapêutica. O segundo é o
caso longitudinal, em que “a teoria de interesse provavelmente especificaria como certas
condições mudam com o tempo [...]” (YIN, 2005, p.63-64). O estudo foi feito através de
duas entrevistas executadas em dois períodos de tempo distintos.
Em princípio, a primeira entrevista seria realizada quando o paciente ainda
estivesse na Unidade de Internação do Hospital Vera Cruz. No entanto, em uma
entrevista piloto, houve uma seqüência de interrupções na fala do entrevistado por
parentes, funcionários do hospital e telefonemas particulares, o que, por sua vez, definiu
como melhor opção para o local da entrevista o próprio domicílio do paciente.
Para a segunda entrevista, havia sido proposta a presença do paciente na capela
do Hospital Vera Cruz, porém, ao longo do tempo, foi observado que esse não era um
local apropriado, pois havia uma grande movimentação de pessoas entrando e saindo do
recinto e de locais próximos, o que também poderia dificultar o andamento da
entrevista. Finalmente, o local selecionado para a segunda entrevista também foi a
residência do paciente.
Ambas as entrevistas foram gravadas e transcritas de forma literal (ANEXO 3).
O paciente assinou um termo de consentimento livre e esclarecido para participar de tais
entrevistas (ANEXO 1).
Buscamos captar as reflexões sobre o sentido da vida para esse paciente. Para
Frankl, não há como responder sobre a questão do sentido da vida de forma
generalizada:
Isto porque o sentido da vida difere de pessoa para pessoa, de um dia para o
outro, de uma hora para outra. O que importa, por conseguinte, não é o
sentido da vida de um modo geral, mas antes o sentido específico da vida de
uma pessoa em dado momento. (FRANKL, 2005, p. 98)
29
− Já faz algum tempo que o Senhor foi operado, como anda sua vida?
− Como está o seu convívio social e com a família?
− Como o Senhor imagina a sua vida daqui pra frente e por quê?
− O que o senhor gostaria que acontecesse em sua vida para que tivesse
uma melhor qualidade de vida?
dados e ignorar outros [...] Ela também ajuda a organizar todo o estudo de
caso e a definir explanações alternativas a serem examinadas. (YIN, 2005, p.
140)
3.1 Modernidade
passaram a ser mais comumente utilizados. Como a alta idade média cristã se inicia no
século V d.C., o autor conclui que a modernidade é uma invenção desse período.
Uma das principais características da modernidade é a mudança no conceito de
tempo e, para entender tal mudança, Kumar enfatiza a necessidade de se compreender o
quanto a modernidade está encerrada na filosofia cristã da história. No mundo antigo, o
tempo era regular e repetitivo, já que seu cálculo baseava-se nos acontecimentos
naturais, como a mudança cíclica das estações e os ciclos reprodutivos. Nesse mundo
pagão, não havia novidade, apenas mudanças naturais. A ausência do novo, na
antigüidade, foi ainda cultivada por pensadores como Platão, que via o tempo inserido
num universo simbolizado por um Ser eterno e imutável (KUMAR, 1997).
Segundo Kumar (1997), com a vinda de Jesus Cristo à terra, não só o conceito
de tempo, mas toda a história humana foi modificada, pois, apesar de todas as criaturas
estarem sujeitas às leis divinas, Deus escolheu justamente os homens para enviar-lhes o
seu filho, imputando-os uma significância extremamente maior do que a quaisquer seres
não humanos.
Foi a partir de um evento excepcional e marcante, o aparecimento de Jesus, que
o tempo pôde ser dividido em antes e depois de Cristo. “O cristianismo conta uma
história com um começo (a criação e o pecado original), um meio (o advento de Cristo)
e um fim (o Segundo Advento)” (KUMAR, 1997, p. 81). Essa seqüência de eventos
conferiu uma ligação lógica entre o presente, o passado e o futuro, agora num tempo
humanizado, linear e irreversível. O passado passa a ser um simples ensaio para o
presente, o qual, por sua vez, se orienta sempre para o futuro, ou seja, a concretização
da promessa de redenção final da humanidade através de Cristo.
Apesar de o Cristianismo ter introduzido uma concepção linear do tempo, isso
não adquiriu um efeito prático, ou seja, toda a oposição ao antiquus que se esperava que
o modernus da idade média criasse quase não foi desenvolvida. Apenas alguns cristãos
dos primeiros séculos depois de Cristo acreditavam viver em uma época cujo sentido de
tempo havia mudado. Para eles, o Segundo Advento estava em vias de acontecer e suas
atitudes se baseavam na preparação para a consumação desse evento, o qual inauguraria
uma era milenar de Cristo na terra. No século XII, os seguidores do monge Joaquim de
Fiore, da Calábria, acreditavam na era do Espírito Santo, a iminente Terceira Era
Milenar, onde apenas as virtudes reinariam sobre a terra. Não obstante os milenaristas
terem acrescentado ao tempo um significado especial, estes valorizaram sua época não
33
pelo que ela introduziu de diferente ou novo, mas porque esta apontava para o final dos
tempos (KUMAR, 1997).
A doutrina da Igreja representada por Agostinho8 não poupou nem mesmo essas
expectativas milenaristas. Nas pregações de Agostinho, o tempo terreno nada
significava em relação ao tempo sagrado. O milênio já havia começado assim que Cristo
apareceu e, após o Segundo Advento, os tempos se findariam com o Juízo Final. Não
competia ao homem saber quanto tempo duraria sua existência na terra, somente Deus
representado pela Igreja, detinha tal autoridade. Cabia à Igreja, guardiã do tempo,
determinar a história e cabia aos cristãos viverem sob a custódia dessa história, sem
especulações sobre o final dos tempos. Esse aconteceria no momento em que Deus
achasse propício. As mudanças na vida terrena de nada significavam comparadas à
eternidade, o tempo terreno era apenas uma fagulha em relação ao tempo eterno
celestial, pois a fé era considerada imutável (KUMAR, 1997).
A valorização da eternidade sobreposta à desvalorização da vida terrena e de
tudo de novo e original que esta poderia trazer acabou por reconciliar o pensamento
cristão da idade média ao pensamento da idade antiga:
8
Aurélio Agostinho foi um bispo católico, filósofo e teólogo que viveu entre os anos 354 e 430 d.C. Os
católicos o consideravam santo e doutor da Igreja (WIKIPÉDIA, 2008b).
34
e alinear do tempo dessa era pagã. Portanto, não é na Renascença que se devem
procurar as origens da Modernidade, pois é a sua própria tendência ao pensamento
antigo que a afastou de qualquer ligação realmente nova com o futuro (KUMAR,1997).
Mesmo não reconhecendo as origens da Modernidade na Renascença, Kumar
(1997) fala a favor dessa época, no que tange à força e à firmeza da vida de seus
contemporâneos. Essas qualidades serviram para que os renascentistas desenvolvessem
uma maior confiança em suas aptidões, no que diz respeito a sua capacidade de disputa
ou até mesmo de superação dos antigos:
Embora o termo “moderno” tenha uma história bem mais antiga, o que
Habermas (1983, 9) chama de projeto da modernidade entrou em foco
durante o século XVIII. Esse projeto equivalia a um extraordinário esforço
intelectual dos pensadores iluministas “para desenvolver a ciência objetiva, a
moralidade e a lei universais e a arte autônoma nos termos da própria lógica
interna destas”. (HARVEY, 1992, p. 23, grifo do autor)
Para Kumar (1997), essa visão do progresso segundo Freud, de uma maneira
diferente, também foi a mensagem de Friedrich Nietzsche, cuja obra, em 1880 obteve
grande destaque na Europa. Esse destaque ocorreu pelo fato de a obra de Nietzsche
apontar alguns dos principais temas da filosofia moral e social do Modernismo, que
seriam: a impossibilidade da civilização e de sua história continuarem a evoluir,
havendo necessidade de uma análise nova e geral dos valores humanos; o combate
ferrenho às doutrinas cristãs; a defesa da aristocracia; a discussão inexorável sobre as
idéias herdadas do século XIX e a aversão completa pela moral conservadora. Harvey
revela que “era como se Nietzsche mergulhasse por inteiro no outro lado da formulação
de Baudelaire para mostrar que o moderno não era senão uma energia vital, a vontade
de viver e de poder, nadando num mar de desordem, anarquia, destruição, alienação
individual e desespero” (HARVEY, 1992, p. 25). Tais princípios exerceram forte
influência sobre o pensamento ocidental, ao ponto de Nietzsche ser considerado o
preconizador do Modernismo e, por conseguinte, também o do Pós-modernismo. Isso,
por sua vez, instigou um raciocínio de continuidade e até mesmo de identificação entre
esses dois movimentos (KUMAR, 1997).
Esse raciocínio identificatório entre o Modernismo e o Pós-modernismo também
é lembrado por Kumar (1997) pela emergência de correntes derivadas do Modernismo,
9
A fortiori: por conseguinte (WIKIPÉDIA, 2008a).
40
Mas essa busca mostrou ser tão confusa quanto perigosa. “A razão, chegando
a um acordo com suas origens míticas, se torna espantosamente misturada
com o mito... o mito já é iluminismo, e o iluminismo volta a ser mitologia”
(HUYSSENS apud HARVEY, 1992, p. 38). [...] Uma ala do modernismo
apelou para a imagem da racionalidade incorporada na máquina, na fábrica,
no poder da tecnologia contemporânea, ou da cidade como ‘máquina viva’.
Erza Pound já apresentara a tese de que a linguagem devia conformar-se à
eficiência da máquina, e, como Tichi (1987) observou, escritores modernos
tão diferentes quanto Dos Passos, Hemingway e Willian Carlos Williams
modelaram a sua escritura exatamente nessa proposição. Williams mantinha
especificamente, por exemplo, que um poema é mais ou menos como uma
“máquina feita de palavras”. E esse foi o tema que Diego Rivera celebrou tão
vigorosamente em seus extraordinários murais de Detroit e que se tornou o
leitmotif 10 de muitos diretores progressistas de murais dos Estados Unidos
durante a depressão. (HARVEY, 1992, p. 38,39)
10
Leitmotif: fio condutor (WIKIPÉDIA, 2008d).
42
Para Frankl (2005), o vazio existencial é causado pela dupla perda sofrida pelo
homem ao se tornar um ser verdadeiramente humano. A primeira perda se deu no início
da história, quando o ser humano perdeu gradativamente alguns dos instintos animais
44
Nenhum instinto lhe diz o que deve fazer e não há tradição que lhe diga o que
ele deveria fazer; às vezes ele não sabe sequer o que deseja fazer. Em vez
disso, ele deseja fazer o que os outros fazem (conformismo), ou ele faz o que
outras pessoas querem que ele faça (totalitarismo). (FRANKL, 2005, p. 97)
11
Ersatz: substituto ou substituição (WIKPÉDIA, 2008c).
45
existência e o seu respectivo sentido acabam sendo também exauridos. Nesse aspecto,
Kumar nos revela:
estágios na vida no tempo certo e na hora certa. (LASCH, 1983, p. 74, grifo
do autor)
Essa resposta narcisista ao culto da imagem traz conseqüências sobre uma antiga
questão do ser humano: o medo da morte. Os homens sempre temeram a morte, mas
esse medo vem assumindo uma dimensão maior em uma sociedade que se privou da
religião e da transmissão dos costumes pelos mais velhos. Conforme nos diz Lasch:
Para Lasch (1983), esse horror à velhice, que se disseminou sobre a sociedade
contemporânea, não deve ser somente um reflexo das mudanças na situação social dos
mais velhos, como também deve se originar em alguma predisposição interior. As
mudanças sociais traduzem percepções, hábitos mentais e conexões inconscientes em
48
O sinal mais óbvio deste pânico é que ele surge na vida das pessoas muito
prematuramente. Homens e mulheres começam a temer a velhice antes
mesmo de chegar à meia-idade. A chamada crise da meia-idade apresenta-se
como uma compreensão de que a velhice assoma à nossa porta. Os
americanos experimentam o quadragésimo aniversário como o início do fim.
Até mesmo o apogeu da vida, assim, vem a ser obscurecido pelo medo do
que virá. Este terror irracional da velhice e da morte está intimamente
associado à emergência da personalidade narcisista como o tipo dominante de
estrutura da personalidade na sociedade contemporânea. Por ter o narcisista
tão poucos recursos interiores, ele olha para os outros para validar seu senso
do eu. Precisa ser admirado por sua beleza, encanto, celebridade, ou poder –
atributos que geralmente declinam com o tempo (LASCH, 1983, p. 254).
De acordo com Lash (1983), uma mudança no sentido de tempo também emerge
como conseqüência do surgimento da personalidade narcisista na sociedade pós-
moderna. Essa questão pode ser observada pela falta de empenho com que o tema da
paternidade tem sido abordado por casais, sociólogos e até por psiquiatras, que
recomendam aos pais não viverem através de seus descendentes. Há um profundo
sentimento de desassossego sobre se realmente a nossa sociedade deveria reproduzir-se.
O que esse sentimento acaba por revelar é a perda do interesse pelo futuro. Em uma
sociedade que não pensa em futuro, as idéias de morte e substituição tornam-se
insuportáveis, originando as tentativas de suprimir a velhice e estender a vida sem
definição de seus limites. Nas palavras do autor:
sociedade pós-moderna acaba por traduzir é uma verdadeira corrida contra o tempo
(LASCH, 1983).
Lasch revela que:
Essa superfluidade ou o “negro interesse pela vida” desvelam a cada vez maior
descrença nos valores que “faz[em] o mundo e a atividade dos homens parecerem
insensatos e estéreis” (PFANDER apud FRANKL, 1978). Sem os valores, o homem cai
no vazio existencial, e, quando ele mergulha nesse vazio, tornando-se consciente do
mesmo, ele se frustra e sofre. Conforme explica Rodrigues:
12
The idea that emotions, feelings and social contexts may contribute to the cause of heart disease is not a
new one. For centuries, there has been popular, if not scientific, association between the heart and
emotions. Of all the parts of the body, the heart holds a place of special distinction in common thinking as
the seat of emotion, effort and even of life itself. Our everyday language makes this clear. We speak of
heartbreak and heavyheartedness, of love coming straight from the heart, of putting our heart into our
work, of outstanding individuals who are "heart and soul" of their organizations. Metaphorically, as well
as physiologically, the heart is crucial to one's identity and social function. Therefore, normal emotional
reactions to the development of heart disease often include aspects of shock, fear, anger, guilt, sadness
and grief.
52
4.1 Definição
Segundo Cassady:
4.2 Epidemiologia
4.3 Fisiopatologia
13
Ictus cerebral é o mesmo que Acidente Vascular Cerebral.
14
A fibronectina é uma glicoproteína que ajuda as células a se aderirem à matriz extracelular (GUYTON;
HALL, 1997).
15
As plaquetas ou trombócitos são fragmentos de células e encontram-se presentes no sangue. Sua
principal função é a formação de coágulos, participando, portanto, do processo de coagulação sangüínea
(GUYTON; HALL, 1997).
16
Leucócitos ou glóbulos brancos são células produzidas na medula óssea e presentes no sangue, linfa,
órgãos linfóides e vários tecidos conjuntivos. Têm a função de combater antígenos por meio de sua
captura ou da produção de anticorpos. Dividem-se em monócitos, macrófagos, neutrófilos, eosinófilos,
basófilos e linfócitos, que, por sua vez, possuem funções específicas no processo de defesa (GUYTON;
HALL, 1997).
56
17
Homeostase ou homeostasia é um termo empregado pelos fisiologistas para designar a manutenção de
condições estáticas ou constantes do meio interno. Essencialmente, todos os órgãos e tecidos do corpo
humano desempenham funções que ajudam a manter as condições do meio interno em equilíbrio
(GUYTON; HALL, 1997).
18
Os fatores de crescimento correspondem a um conjunto de substâncias, grande parte de natureza
protéica, que, ao lado dos hormônios e neurotransmissores, cumprem um importante papel na
comunicação entre as células (GUYTON; HALL, 1997).
19
Citocinas: grupo de moléculas responsáveis pela emissão de sinais entre as células quando ocorre o
desencadeamento de respostas imunológicas (GUYTON; HALL, 1997).
20
O Fibroblasto é uma célula do tecido conjuntivo, cuja função é produzir fibras estruturais (GUYTON;
HALL, 1997).
21
Macrófagos são leucócitos presentes no tecido conjuntivo, ricos em lisossomos (organelas
citoplasmáticas), que fagocitam (englobam e digerem) elementos estranhos ao corpo. Os macrófagos
derivam dos monócitos do sangue e de células conjuntivas ou endoteliais. Intervêm na defesa do
organismo contra infecções (GUYTON; HALL, 1997).
22
O mastócito é uma célula do tecido conjuntivo que possui uma grande quantidade de histamina
(substância envolvida em reações alérgicas) e heparina (uma substância anticoagulante) (GUYTON;
HALL, 1997).
57
angiotensina II23 e citocinas, por essas células, na região perivascular, pode gerar um
incremento na produção endógena de radicais livres de oxigênio, capazes de promover
disfunção endotelial. Além disso, demonstrou-se que doses subpressóricas de
angiotensina II promoviam a formação de placa e de aneurisma em modelos animais de
aterosclerose (CASSADY, 2007; ROCHA; LIBBY, 2005; SERRANO Jr. et al, 2003;
CHAGAS; YUGAR; NETO, 2002).
Para Cassady, “o metabolismo anormal dos lipídeos e/ou a quantidade excessiva
de colesterol e de gorduras saturadas, em especial nas predisposições genéticas, iniciam
o processo aterosclerótico e o desenvolvimento de placa aterosclerótica.” (CASSADY,
2007, p.140)
O mecanismo exato para a aterogênese permanece em estudo, entretanto, há
duas explicações mais convincentes envolvidas nesse processo que merecem uma
pequena descrição: a Teoria da Infiltração de Lipídeos e a Teoria da Lesão Endotelial
Crônica (CASSADY, 2007; BLESSEY, 1994).
A Teoria da Infiltração de Lipídeos entende que a elevação do nível de LDL
colesterol24 favorece sua penetração na parede da artéria, levando à acumulação de
lipídeo nas células musculares lisas e nos macrófagos. Os macrófagos repletos de
gordura (LDL) são denominados células espumosas. O LDL aumenta o número das
células musculares lisas e a migração destas para a camada íntima, como uma resposta a
fatores de crescimento. A proliferação de células musculares lisas também acumula
lipídeos, formando a placa fibrosa. Nesse meio, o LDL reage com radicais livres e é
oxidado (modificado). Isso eleva o seu potencial aterogênico, pois suas moléculas são
atraídas por monócitos25 para a camada íntima e transformadas em células espumosas na
camada subíntima, facilitando o surgimento da camada gordurosa. O LDL modificado é
tóxico para as células endoteliais e pode ser o causador de suas disfunções ou lesões
mais avançadas. Ao mesmo tempo em que a camada gordurosa e a placa fibrosa
crescem, formando uma proeminência na luz da artéria, o subendotélio fica exposto
(próximo aos locais de retração do endotélio) e plaquetas se agregam formando um
trombo. A organização e o agrupamento do trombo na placa aterosclerótica pode
23
A angiotensina II é um peptídeo derivado da angiotensina I. Sua principal função é o controle da
pressão arterial, atuando como poderoso agente vasoconstritor (GUYTON; HALL, 1997).
24
O LDL colesterol é uma lipoproteína de baixa densidade, conhecida popularmente como “colesterol
ruim”.
25
Os monócitos são leucócitos que, depois de serem produzidos na medula óssea, circulam cerca de 24
horas no sangue. Posteriormente, deslocam-se para os tecidos, onde passam a ser denominados
macrófagos (GUYTON; HALL, 1997).
58
26
O linfócito T auxiliar é um leucócito que tem o papel de coordenar a função de defesa imunológica,
principalmente através da produção e liberação de substâncias chamadas citocinas (GUYTON; HALL,
1997).
59
27
Na menopausa, ocorre a queda dos níveis de estrogênio, um hormônio feminino que exerce importante
papel na proteção das artérias (HERSHMAN, 1985).
61
O “Estudo dos Sete Países” – The seven Country Study –, que envolveu cerca
de 12.700 homens de 16 diferentes regiões em sete países, demonstrou
relação entre o nível sérico de colesterol e a ingestão de gorduras na
62
Hipertensão Arterial
Diabete Melito
Obesidade
Tabagismo
Alcoolismo ou etilismo
28
Fibrinogênio é uma proteína essencial que participa do processo de coagulação do sangue (GUYTON;
HALL, 1997).
29
Para maiores detalhes, consultar LUZ; COIMBRA, 2000.
64
Jeor e Aslhey citados por Deturk e Cahalin (2007) revelaram que a mais baixa taxa de
mortalidade entre homens e mulheres de meia idade ocorre em indivíduos que
consomem um ou dois drinques por dia. No entanto, concluíram que a mortalidade
aumenta significativamente quando são ingeridas mais que três doses ao dia.
agudo do miocárdio (IAM), pois são essas manifestações que estão relacionadas ao caso
em estudo.
O suprimento de sangue para o coração e, conseqüentemente, de oxigênio e
nutrientes é feito através de duas artérias coronárias de superfície ou epicárdicas
denominadas artéria coronária direita e artéria coronária esquerda. Elas se originam
diretamente da raiz da artéria aorta. A artéria coronária esquerda possui um tronco
comum de aproximadamente 2 a 4 centímetros de comprimento que, posteriormente, se
divide em dois ramos epicárdicos: a artéria descendente anterior esquerda e a artéria
circunflexa. Resumidamente, essas artérias e suas respectivas ramificaçoes suprem de
60% a 70% da massa muscular do ventrículo esquerdo e a massa muscular atrial
esquerda. A artéria coronária direita se origina no seio de valsalva direito ou anterior.
Essa artéria e seus ramos suprem a maior parte da massa muscular ventricular direita e a
superfície inferior e parte da parede posterior do ventrículo esquerdo, a face póstero-
inferior do septo interventricular e a massa muscular do átrio direito. Esses padrões de
distribuição de perfusão das artérias coronárias podem variar entre os indivíduos
(BLESSEY, 1994).
Um desequilíbrio entre a oferta e o consumo de oxigênio pelo músculo cardíaco
propicia a isquemia. A aterosclerose e o vasoespasmo coronarianos diminuem a oferta
de oxigênio ao miocárdio. A presença de uma placa de ateroma em uma ou mais artérias
coronárias constitui uma barreira à passagem do sangue, reduzindo o seu fluxo e,
conseqüentemente, o suprimento de oxigênio. Nesses casos, a liberação do óxido nítrico
produzido pelo endotélio é prejudicada e um mecanismo vasoconstritor torna-se
predominante, prejudicando ainda mais o aporte de oxigênio ao miocárdio (CASSADY,
2007; CHAGAS; YUGAR; NETO, 2002).
Em situações como estresse emocional, esforço ou exercício físico, variações da
freqüência cardíaca e/ou da pressão arterial, frio ou refeições exageradas há aumento da
contratilidade do miocárdio e assim do consumo de oxigênio. Quando a aterosclerose
coronária já se encontra em estágio de progressão mais avançado, qualquer uma dessas
situações pode agravar o quadro, causando um evento isquêmico (CASSADY, 2007;
CHAGAS; YUGAR; NETO, 2002).
Cassady revela:
A história da medicina no Brasil conta com três fases, sendo que a primeira é a
fase da medicina colonial ou ibérica, que se estende de 1500 a 1800 (COSTA, 1998).
Nessa fase, apenas cirurgias simples eram realizadas. O “cirurgião-barbeiro”,
geralmente leigo, realizava pequenos procedimentos, como sangrias, escarificações,
30
O stent é uma pequena prótese metálica que garante uma maior dilatação e a permanente sustentação da
mesma na área da lesão aterosclerótica da artéria coronária (MOURA et al, 2003).
69
O que Costa (1998) ainda ressalta é que no caminho para o domínio da cirurgia
cardíaca pelo cirurgião cardiovascular, essa passou pelas mãos do cirurgião geral, em
seguida pelo cirurgião torácico, o qual trabalhando no interior do tórax se viu “frente ao
último órgão indene à ação operatória: o coração”, o que, por sua vez, causou
31
Ramo da medicina no qual as cirurgias somente são praticadas por profissionais de formação superior.
32
Havey William Cushing (1868-1939) é considerado o maior neurocirurgião do século XX
(SABBATINI, 1997).
70
33
Cineangiocoronariografia ou cateterismo cardíaco é um exame considerado padrão ouro para avaliação
da função cardíaca e do grau de obstrução das artérias coronárias. Permite a visualização da anatomia
cardíaca e das artérias coronarianas, através da injeção de substância contrastante ao raio X por meio de
catéteres introduzidos em artérias periféricas dos membros superiores ou da região da virilha (CAHALIN,
2007).
72
34
Atual chefe da equipe de cirurgia cardiovascular do Hospital Vera Cruz S/A.
35
Membro fundador do Hospital Vera Cruz S/A.
74
36
Dados obtidos em uma conversa por telefone com o Dr. Homero Geraldo de Oliveira, em 02/09/2008.
75
37
O esterno é uma placa óssea longa e estreita localizada na porção anterior e mediana da caixa torácica
(DANGELO; FATTINI, 1995).
76
oxigenador. Uma tubulação plástica faz um circuito dos vários componentes desse
sistema entre si e entre o paciente, formando a parte extracorpórea da circulação.
Portanto, o bombeamento, a oxigenação e a circulação do sangue são feitos através
desse sistema externo ao organismo do paciente. Os materiais da CEC que entram em
contato com o sangue do paciente são biocompatíveis, porém, todos eles estimulam a
coagulação. Sendo assim, é necessário que haja uma inibição da coagulação, feita pela
droga heparina, que é mantida durante todo o tempo de utilização da CEC. A CEC
causa efeitos prejudiciais ao organismo, por meio de alterações químicas e
hemodinâmicas. Má perfusão tecidual, alteração da função plaquetária e resposta
inflamatória sistêmica são efeitos freqüentes após uso da CEC. A resposta inflamatória
sistêmica é uma das maiores preocupações médicas, pois pode causar dano miocárdico,
lesão pulmonar e aumento da permeabilidade dos capilares sangüíneos, com
extravasamento de seu conteúdo (ZOCRATO; MACHADO, 2008).
Uma solução de proteção miocárdica (cardioplégica) é usada e garante um
coração imóvel e vazio, além de protegê-lo contra lesões produzidas pela interrupção do
fluxo sangüíneo ao coração. A seguir, uma veia ou artéria de outra parte do corpo (veia
safena, e/ou artéria mamária, e/ou artéria radial) é utilizada para criar uma ponte
(FIGURA 1), ou seja, um novo caminho para a passagem do sangue no coração,
transpondo o bloqueio arterial. Essa veia ou artéria escolhida é anastomosada nas
artérias coronárias (ZOCRATO; MACHADO, 2008).
38
Hemostasia é a permanência do fluxo sangüíneo em estado líquido nos vasos (FILHO, Cyrillo;
RACHED; CHAMONE, 2004).
78
39
Período compreendido entre 4000 a.C. e 395 d.C.(REBELLATO; BOTOMÉ, 1999).
79
clero e a nobreza, que objetivavam o controle da população, de seus bens e a guerra, era
interessante o alcance da força física ideal para isso. Para os trabalhadores, o pouco que
lhes restava era o lazer acessível da atividade física praticada como uma forma de
compensação para as precárias condições em que viviam (REBELLATO; BOTOMÉ,
1999).
No Renascimento (séculos XV e XVI), o crescimento científico, literário,
artístico e político introduziu novos valores, como autonomia, independência e beleza,
permitindo o retorno aos cuidados com o corpo. O desenvolvimento humanista
engatilhou os estudos da saúde corporal, os quais, além de ocorrerem no plano curativo,
também passaram a visualizar a manutenção das condições orgânicas normais
(REBELLATO; BOTOMÉ, 1999). Nesse sentido, esses autores citam Wheller:
Cheren citado por Petri (2006) ilustra que, no início do século XVIII, Jallabart
foi considerado um dos precursores da eletricidade médica, Henry Ling desenvolveu a
cinesioterapia e Vicent Prisswirz a hidroterapia. No século XIX, paralelamente ao uso
da iluminação pela eletricidade, surgiram várias clínicas especializadas na eletroterapia,
tanto na área psíquica quanto na orgânica.
No final do século XIX e início do século XX, a Fisioterapia teve seu
conhecimento ampliado pela criação dos primeiros cursos de formação profissional na
Inglaterra (1895) e Alemanha (1902). Outras escolas surgiram na Europa, nos Estados
Unidos, na Austrália e no Canadá. Na América do Sul, um dos primeiros países a criar
cursos para formação de fisioterapeutas foi a Argentina (BARROS, 2008).
No século XX, a eclosão das guerras mundiais e o enorme contingente de
pessoas feridas e mutiladas que necessitavam de reabilitação também impulsionou o
rápido desenvolvimento tecnológico e científico da Fisioterapia. As chamadas áreas da
saúde a incluíram e o seu propósito terapêutico se evidenciou na denominação
terminológica de suas formas de atuação: através do movimento (cinesioterapia),
através da eletricidade (eletroterapia), através do calor (termoterapia), do frio
(crioterapia), da massagem (massoterapia) (BARROS, 2008).
A Segunda Grande Guerra (1939-1945) foi marcada pelo uso de equipamentos
bélicos cada vez mais avançados e, conseqüentemente, foi o conflito mundial
responsável pela produção do maior número de feridos e lesados corporais. Estes
contribuíram para a criação de novas especialidades, por exemplo, a cirurgia plástica,
bem como para a implementação de tratamentos multidisciplinares. Na época, tais
tratamentos englobavam a Ortopedia, a Fisioterapia, a Terapia Ocupacional, o Serviço
Social, dentre outras especialidades que pudessem fornecer ajuda em reabilitação
(OLIVEIRA, Valéria, 2005). Nesse aspecto, Fonseca desvela que:
82
De acordo com Barros (2008, p. 942, 943), outro fator que influenciou
fortemente o desenvolvimento da Fisioterapia em diversas partes do mundo foram as
epidemias de poliomielite40: “Diversos artigos internacionais comparam a importância
da pólio como equivalente ou superior à das duas grandes guerras mundiais, no que se
refere a sua contribuição para o desenvolvimento das técnicas de fisioterapia e da
profissão de fisioterapeuta no mundo.” O primeiro grande surto de Poliomielite ocorreu
em 1916, nos Estados Unidos, e se estendeu até aproximadamente 1955. Foram
infectadas cerca de 38.000 pessoas por ano, e, em 1952, a taxa de infecção chegou a 35
para cada 100.000 habitantes (BARROS, 2008).
O tratamento dos doentes no Brasil colonial era realizado por jesuítas, feiticeiros
africanos, pajés, físicos e cirurgiões portugueses, hispânicos e holandeses. Não era de
interesse de Portugal a criação de escolas de ensino superior, devido ao perigo de se
alimentarem as idéias de independência. Porém, em 1808, ao invadir Portugal e obrigar
a Família Real Portuguesa a fugir para o Brasil, Napoleão Bonaparte contribuiu
indiretamente para o surgimento dos primeiros serviços organizados de Fisioterapia no
país. Para servir à elite portuguesa, os recursos humanos de várias áreas e,
especialmente, os recursos financeiros, também aqui desembarcaram. Dessa maneira,
fundaram-se as duas primeiras escolas de Medicina brasileiras, na Bahia e no Rio de
Janeiro (BARROS, 2003; NOVAES, 2008).
Entre os anos de 1879 e 1883, com a participação dos recursos fisioterápicos na
terapêutica médica, são criados o serviço de eletricidade médica e o serviço de
hidroterapia, no Rio de Janeiro. Em 1884, o médico Arthur Silva criou o primeiro
serviço de Fisioterapia da América do Sul, no Hospital de Misericórdia, no Rio de
40
Poliomielite ou Paralisia Infantil é uma infecção viral contagiosa que acomete a medula espinhal,
podendo causar fraqueza muscular permanente, paralisia e, por vezes, a morte. Acomete principalmente
crianças de zero a quatro anos (BARROS, 2008).
83
Sendo assim, em 1951, foi criado, em São Paulo, o primeiro curso para a
formação de técnicos em Fisioterapia. A Associação Brasileira Beneficente de
Reabilitação (ABBR), no Rio de Janeiro, é fundada em 1954. Também nesse ano, um
grupo de médicos orientados pelo Dr. Waldemar Bianchi funda a Sociedade Brasileira
de Reabilitação. Em 1956, a ABBR cria a Escola de Reabilitação para formação de
técnicos nessa área (LEITÃO apud FONSECA, 2002).
84
41
Para maiores detalhes consultar: COIMBRA et al, 2004, p. 176-180; ZOCRATO;MACHADO, 2008, p.
357-361; TANIGUCHI; PINHEIRO, 2000, p. 131-132; ARAÚJO, Solange; MACHADO, 2008, p. 66-76.
42
Para maiores detalhes consultar ZOCRATO; MACHADO, 2008, p. 352-356.
87
graduais, incluindo natação, caminhadas e golfe. Os efeitos de tal programa foram tão
positivos para o presidente, que, em 1956, ele criou o President’s Youth Fitness Council
(Conselho Presidencial para Aptidão Física da Juventude). Na década de 1960, com o
objetivo de divulgar e ampliar a atividade física para os indivíduos de todas as idades, o
presidente John F. Kennedy renomeou o conselho como President’s Fitness Council
(Conselho Presidencial para Aptidão Física) (CERTO; DETURK; CAHALIN, 2007,
tradução nossa).
O período marcado pelo avanço rápido no cuidado a pacientes com doença
arterial coronariana se deu nas décadas de 1960 e 1970. Nesse período, ocorreram
melhorias no atendimento pré-hospitalar, como unidades móveis de emergência, e no
esclarecimento da população sobre doenças do miocárdio e suporte básico de vida. As
unidades de terapia intensiva foram surgindo, se multiplicando e se especializando no
atendimento intensivo de pacientes na fase inicial do IAM (CERTO; DETURK;
CAHALIN, 2007).
Segundo Certo, Deturk e Cahalim (2007), na metade da década de 1960, Saltin e
cols. descreveram que pessoas sadias, restritas ao leito por três semanas, tinham 33% da
sua capacidade funcional reduzida. Nesse mesmo período, Saltin e cols. revelaram outra
importante descoberta: ao aplicarem programas de exercícios rigorosos, durante meses e
duas vezes ao dia, constataram que todos os indivíduos apresentaram melhora em
relação ao seu estado de controle.
Wenger, Zohman, Hellerstein e colaboradores desenvolveram o conceito de
exercício progressivo supervisionado em indivíduos estáveis clinicamente devido ao uso
de medicamentos. Esse conceito se expandiu e passou a incluir pacientes com IAM
complicado, assim como aqueles submetidos à CRVM. Ao final da década de 1970, o
programa de RC foi dividido em quatro fases, cada uma com seus objetivos e atividades
específicas em relação ao cuidado com os pacientes (CERTO; DETURK; CAHALIN,
2007).
Segundo Regenga, Perondini e Mafra: “Em 1987, durante seminário da
Organização Mundial de Saúde (OMS), em Breisgan, Alemanha, concluiu-se que a
reabilitação cardíaca é parte integrante da terapêutica cardiológica.” (REGENGA;
PERONDINI; MAFRA, 2000, p. 247, grifo dos autores)
TABELA 1
Índice de Percepção do Esforço (IPE) de Borg
43
Para maiores detalhes sobre a estratificação do risco, consultar REGENGA; PERONDINI; MAFRA,
2000, p. 251.
44
O VO2 é o reflexo da quantidade de energia mecânica necessária para realizar determinada atividade
física aeróbica. Pelo teste ergoespirométrico, pode ser determinado com exatidão qual o consumo máximo
de oxigênio em um minuto, ou seja, o VO2 máx. Ele é expresso: ml de oxigênio cosumido/kg/min. Também
existem fórmulas para calcular o VO2 máx pelo teste de esforço. Afora os testes, as outras fórmulas apenas
dão uma estimativa de seu valor. Sendo assim, quando o VO2 máx é determinado, têm-se uma referência da
demanda metabólica necessária para a atividade física aeróbica a ser realizada (FREITAS, Raimundo;
COSTA, 1992; REGENGA; PERONDINI; MAFRA, 2000).
45
MET = equivalente metabólico (1 MET = 3,5ml de oxigênio consumido/kg/min). Relaciona-se com a
demanda de oxigênio pelo miocárdio. Essa relação varia de acordo com o tipo e a intensidade da
atividade executada (REGENGA; PERONDINI; MAFRA, 2000).
46
Obtém-se a FC máxima pela fórmula: FCmáx = 220 – idade. Em seguida, calcula-se o percentual da FC
máxima desejada para treinamento (FCT), pela fórmula: FCT = FCR + x% (FC máx - FCR). Onde FCR
significa FC de repouso. A diferença entre a FCmáx e a FCR é a FC máxima de reserva (REGENGA;
PERONDINI; MAFRA, 2000).
93
47
Para mais detalhes, consultar: DANTAS; AGUILLAR; BARBEIRA, 2001 e ROMANO, 1994a, p. 62-
63.
94
STEP 1 = 2 MET
Paciente deitado
Exercícios respiratórios diafragmáticos
Exercícios ativos de extremidades
Exercícios ativo-assistidos de cintura, cotovelos e joelhos
STEP 2 = 2 MET
Paciente sentado
Exercícios respiratórios diafragmáticos, associados aos exercícios de MMSS (movimentos diagonais)
Exercícios de cintura escapular
Exercícios ativos de extremidades
Paciente deitado
Exercícios ativos de joelhos e coxofemoral
Dissociação de tronco/ coxofemoral
STEP 3 = 3 a 4 MET
Paciente em pé
Exercícios ativos de MMSS (movimentos diagonais e circundução)
Alongamento ativo de MMII (quadríceps, adutores, tríceps crural)
Deambulação: 35m
STEP 4 = 3 a 4 MET
Paciente em pé
Alongamento ativo de MMSS e MMII
Exercícios ativos de MMSS (movimentos diagonais e circundução)
Exercícios ativos de MMII (flexo-extensão e abdução/adução)
Deambulação: 50m – 25m lentos/ 25m rápidos
Ensinar contagem de FC (pulso)
STEP 5 = 3 a 4 MET
Paciente em pé
Alongamento ativo de MMSS e MMII
Exercícios ativos de MMSS (dissociados)
Exercícios ativos de MMII (flexo-extensão e abdução/adução)
Rotação de tronco e pescoço
Marcar passo com elevação de joelhos
Deambulação: 100m (verificar FC inicial e final)
STEP 6 = 3 a 4 MET
Paciente em pé
Alongamento ativo de MMSS e MMII
Exercícios ativos de MMSS e MMII (dissociados) associados à caminhada
Descer escada lentamente e retornar de elevador (um andar)
Deambulação: 165m (verificar FC inicial e final)
Instruções para continuidade dos exercícios em casa
STEP 7 = 3 a 4 MET
Continuação do STEP 6
Descer e subir escada lentamente (um andar)
Quadro 1: Programa de STEPS na Fase 1
Fonte: PATRALI; REGENGA, 2008
48
Para mais detalhes, consultar AULER Jr.; OLIVEIRA, 2004.
98
Muito leves Banhar-se, barbear-se, Orador (sentado), Jogar cartas Caminhar (3 km/h)
3 METS escrever, lavar louças, vendedor, garçom (de Ferrar cavalo Bicicleta estacionária
4 kcal dirigir carro. pé), porteiro Cevar (resistência muito
Jogar bilhar baixa)
Costurar, fazer tricô Calistênicos muito
Golfe (carreta) leves
Leves Limpar vidraças Colocar objetos leves Dançar Caminhar (5-6 km/h)
3-5 METS Varrer folhas em prateleira Golfe (caminhar) Andar de bicicleta (10-
4-5 kcal Capinar Soldar Velejar 13 Km/h)
Cortar grama com Carpintaria leve Passeio a cavalo Calistênicos leves
máquina Montagem de “volleyball” (6
Encerar soalho máquinas leves homens)
(lentamente) Reparo de automóvel Tênis (duplas)
Pintar parede Colocar papel de
Carregar objetos (7-14 parede
kg)
Moderados Cavar terra em jardim Carpintaria Carregar pacotes leves Caminhar (7-8 km/h)
5-7 METS Cortar grama (construção civil) Tênis (simples) Andar de bicicleta (14-
6-8 kcal manualmente Remover lixo Patinagem em gelo ou 16 Km/h)
Subir escadas Trabalho com pneus com rodas Nadar (peito)
lentamente Andar a cavalo
Carregar objetos (14- (galope)
27 kg)
Rachar lenha
Muito pesados Carregar pesos subindo Cortar lenha “Handball” Correr (10 km/h)
9 METS escadas Trabalho braçal “Squash” Andar de bicicleta (20
10 kcal Carregar objetos (40 Alpinismo km/h) ou subir ladeira
kg) Pular Corda
Subir escadas
rapidamente
Remover neve pesada
Quadro 3: Necessidades calóricas aproximadas para atividades selecionadas
Fonte: FREITAS, Raimundo; COSTA, 1992
49
Para maiores detalhes, consultar: SILVA, Ester; CATAI, 2000, p. 267-269.
101
Segundo Silva e Catai (2000), as sessões de RC na Fase 3 têm uma duração total
de aproximadamente uma hora e deverão ser realizadas no mínimo três vezes por
semana e em dias alternados.
Os princípios da sessão na Fase 3 seguem os mesmos da Fase 2, ou seja, a sessão
é dividida em fases de aquecimento, aeróbica e desaquecimento. A fase de aquecimento
dura de 5 a 10 minutos, sendo realizados exercícios de alongamento, dinâmicos
aeróbicos e de coordenação, associados a exercícios respiratórios. Tem por objetivo
49
Exemplo: Capacidade funcional útil obtida = 9 METS → 60 + 9 = 69% → MET de treinamento será:
0,69 x 9 = 6,21.
102
um ano. Após cada reavaliação, principalmente quando são realizados testes de esforço,
os pacientes devem ser reorientados na prática, quanto à intensidade, duração e tipo de
exercício. Sendo assim, algumas sessões supervisionadas podem ser feitas dentro das
possibilidades de cada paciente. Uma alternativa para pacientes já submetidos à CRVM
é o programa de prescrição externa, ou seja, uma programação e orientação de
treinamento físico feita pela equipe multiprofissional, com reavaliações semestrais para
a atualização da prescrição do treino (ALVES et al, 2005; CARVALHO et al, 2006).
Avezum et al nos revelam que:
Modificações Musculoesqueléticas
após a menopausa pode chegar a até 5%. A acentuada redução da massa óssea
(osteopenia) pode provocar a osteoporose. A osteoporose é uma doença que se
caracteriza pela deterioração da microarquitetura do tecido ósseo, com conseqüente
aumento de sua fragilidade e maior predisposição a fraturas (AZEVEDO, Luciene;
ALONSO; OKUMA, 2005).
Alterações na flexibilidade também ocorrem com o envelhecimento. As
estruturas envolvidas no sistema articular (tendões, ligamentos) se tornam menos
flexíveis. Acredita-se que essas alterações ocorrem devido à diminuição da água
corporal total, aumento da calcificação e substituição das fibras elásticas por colágeno.
A mobilidade articular é fundamental para a prevenção de lesões musculares e dores na
coluna. Está também envolvida nas atividades de vida diária do idoso, como, por
exemplo, vestir-se, calçar-se, alcançar objetos, girar tronco e pescoço para dirigir
veículos, etc. (AZEVEDO, Luciene; ALONSO; OKUMA, 2005).
Modificações hormonais
Modificações Respiratórias
Modificações Cardiovasculares
51
A complacência, em fisiologia, é uma medida da tendência de um órgão para resistir ao recuo às suas
dimensões originais, com a remoção de uma força compressiva ou distensiva (GUYTON; HALL, 1997).
52
A capacidade funcional “é a capacidade de realizar atividades físicas cotidianas, ocupacionais,
esportivas e de lazer. Está relacionada à capacidade de suportar uma atividade dinâmica, que envolva
grandes grupos musculares, por um longo período. Por isso é também chamada de capacidade aeróbia
expressa pelo VO2máx” (SAMORA; VERSIANI, 2008, p. 407).
109
53
As arteríolas “são os menores ramos das artérias e oferecem maior resistência ao fluxo
sangüíneosangüíneosangüíneo, contribuindo assim para reduzir a tensão do sangue antes de sua passagem
pelos capilares” (DANGELO; FATTINI, 1995, p. 98).
110
um impacto negativo sobre a qualidade de vida dos idosos, podendo precipitar eventos
cardíacos, contribuindo para o aumento da morbimortalidade dessa população.
Considerando os recursos físicos como uma estratégia de enfrentamento para a
velhice, descreveremos, a seguir, os benefícios da atividade física nessa etapa da vida.
Benefícios Cardiovasculares
Benefícios Respiratórios
Benefícios Musculoesqueléticos
Benefícios Psicológicos
esses efeitos. No entanto, o mecanismo pelo qual eles ocorrem nos idosos ainda não está
bem esclarecido, sugerindo pesquisas nesse campo (SALVIOLI NETO et al, 1996).
Até aqui, entendemos que o envelhecimento é um processo complexo e que, por
isso, determina modificações profundas na estrutura biopsicossocial do indivíduo.
Certamente o avanço da idade também traz consigo uma reformulação da escala de
valores do indivíduo e das suas atitudes frente à vida. Somados a esses fatores
“normais” do envelhecimento, qual seria o impacto de uma CRVM sobre o idoso? As
especulações sobre essa pergunta foram responsáveis pelo nosso próximo assunto.
uma mera banalidade, assumindo uma posição de descaso com o próprio tratamento. Há
ainda aqueles pacientes que se vêem diante da oportunidade de repensarem suas vidas e
são capazes de propor e empreender mudanças nas mesmas (CÔRTE, 1998; ROMANO,
1998).
Portanto, as atitudes assumidas pelos idosos diante da CRVM irão depender
também do sistema de valores no qual estão inseridos. Conforme já mencionamos, é a
partir desse sistema de valores que o indivíduo faz suas reflexões subjetivas e consegue
ou não identificar as possibilidades para encontrar sentido para a vida.
Com o intuito de contornarmos o horizonte do nosso estudo junto à teoria
referencial frankliana, dedicaremos o próximo capítulo à questão do sentido da vida.
Faremos, inicialmente, um breve apanhado geral sobre o sentido e, em seguida, uma
revisão dos seus conceitos, em Viktor Emil Frankl.
119
Desde épocas mais remotas até a mais atual, a humanidade vem percorrendo um
longo caminho à procura de uma revelação para o sentido da vida.
Uma das tentativas do ser humano para tal revelação ocorre através da criação
do mito58. Pelo mito, o homem tenta descobrir a origem dos seres, planetas, fenômenos
naturais, sentimentos, emoções e da sua própria gênese (BRANDÃO, 1992).
O mito de Asclépio fornece uma ilustração da busca incessante do homem por
um sentido para sua existência. Asclépio é uma palavra de etimologia desconhecida,
porém, foi designada para o filho gerado pelo Deus Apolo e a mortal Corônis. Temendo
ser abandonada na velhice por Apolo e ainda estando grávida de um filho dele, Corônis
uniu-se a Ísquis. Sentindo-se ultrajado pela traição, Apolo matou Ísquis e pediu a seu
irmão Ártemis que liquidasse Corônis, a qual foi morta a flechadas (BRANDÃO, 1992).
Asclépio era um herói e um Deus que, provavelmente, viveu no século XIII a.C.,
em Epidauro, uma cidade onde a Medicina era mágica. O desenvolvimento dessa
Medicina serviu como berço para outra bem mais científica, nas mãos dos descendentes
de Asclépio, um deles, Hipócrates59 (BRANDÃO, 1992).
Asclépio, um herói que virou Deus, participa da natureza humana e divina.
Simboliza a união coesa e a intersecção entre ambas. Enquanto Deus, Asclépio era
cultuado no Templo e recebia oferendas. Enquanto herói, o seu culto era secreto e
ocorria em um edifício de Epidauro chamado Thólos60, onde Brandão nos revela que:
58
Mito: “Narrativa de eventos ocorridos em um passado fabuloso e primordial, relacionada a seres
dotados de poderes mágicos, superiores aos dos homens, como os deuses, os heróis ou os antepassados, a
qual recria simbolicamente a realidade vivida pelos homens e intervém como mediadora normativa e
explicativa desta mesma realidade [...].” (NASCENTES, 1976, v. 4, p. 1100)
59
Hipócrates: “Famoso médico grego nascido na ilha de Cós. Segundo a tradição estudou Medicina no
Asclepieion de Cós e ainda em Cnido, Tessália, Egito e Cítia. [...] Aristóteles chamou-o de ‘Hipócrates, O
Grande’. Para Galeno foi o ‘legislador da Medicina, o médico ideal, que com pureza e santidade viveu
sua vida e praticou sua arte’.” (BENTON, v. 7, p. 312, 1972, grifo do autor)
60
Thólos: “edifício abobadado, rotunda” (BRANDÃO, p. 92, 1992).
120
Asclépio era o Deus da nooterapia, ou seja, da cura pela mente. À entrada de seu
majestoso Templo, havia uma mensagem gravada que sintetizava suas incríveis curas:
“Puro deve ser aquele que entra no Templo perfumado. E pureza significa ter
pensamentos sadios” (BRANDÃO, p. 91, 1992, grifo do autor).
Em Epidauro, a cura pela mente precedia a cura total do corpo. Para que
houvesse cura, deveria haver a metanóia, ou seja, a transformação dos sentimentos,
segundo Brandão:
Por isso os sonhos eram importantes. Estes eram manifestações do divino, onde
Asclépio visitava os doentes que adormeciam no Santuário de Epidauro e tocava suas
partes enfermas. Os sonhos eram então interpretados pelos sacerdotes, os quais
decifravam a receita para a cura (BRANDÃO, 1992).
Outras formas de cura surgiram com o tempo e fizeram seus milagres, dentre
elas a cura por meio de ervas e cirurgias. No entanto, a cura total somente acontecia por
meio da transformação dos sentimentos (BRANDÃO, 1992).
121
de uma atitude face aos condicionamentos do mundo. Assim, para Frankl, a dimensão
espiritual ou noética é a mais autêntica qualidade do homem, é o verdadeiro conteúdo
do “ser” e a verdadeira qualidade que o diferencia dos outros seres vivos (MOREIRA et
al, 2004).
No final dos anos 1920, Frankl fundou a escola do sentido da vida, que, no
início, (devido às suas origens na Escola Existencial de Psiquiatria) passou a chamar-se
de Análise Existencial. Na década de 1930, com sua ampla, casuística clínica, Frankl
desenvolveu a sua Análise Existencial, fundando, então, a Logoterapia. Até o ano de
1941, Frankl já tinha completado, praticamente, todos os postulados de sua Escola de
Análise Existencial/Logoterapia. No entanto, foi após essa época, ao ser prisioneiro por
cerca de três anos consecutivos, em vários campos de concentração nazistas (inclusive
Auschwitz) espalhados pela Europa (durante a Segunda Guerra Mundial), que Frankl
complementou e enriqueceu a sua obra. Foi após a sua libertação que Frankl escreveu a
maioria dos seus inúmeros livros e artigos sobre Logoterapia. Sua Escola introduziu na
Psiquiatria e na Psicoterapia uma nova atitude terapêutica, onde também a dimensão
espiritual do homem é considerada e não somente as dimensões psíquicas, biológicas e
sociais (MOREIRA et al, 2004).
Nos campos de concentração, Frankl observou que os prisioneiros mais aptos a
sobreviver eram os que estavam voltados para o futuro, para uma tarefa, um objetivo a
ser realizado ou para uma pessoa que os esperava. Foi também a partir de sua própria
experimentação pessoal enquanto prisioneiro que Frankl pôde defrontar-se com o
sofrimento humano e, conseqüentemente, com o homem que emerge a partir de (que
transcende) tal sofrimento. Assim, Frankl, no intuito de poder ajudar as pessoas a
alcançar essa capacidade de transcendência exclusiva dos humanos, desenvolveu a
Logoterapia, que tem como tema básico o sentido da vida (ALLPORT, 1984). A esse
respeito, Frankl nos diz:
anseio pelo poder são modalidades secundárias e deficientes dessa inclinação primária
do homem:
Para Frankl, o sentido da vida é algo que deve ser encontrado, ele não pode ser
dado ou criado. E, basicamente, existem três formas onde se pode encontrar o sentido:
no trabalho, no amor e na dor: “De acordo com a Logoterapia, podemos descobrir este
sentido da vida de três diferentes formas: 1. criando um trabalho ou praticando um ato;
2. experimentando algo ou encontrando alguém; 3. pela atitude que tomamos em relação
ao sofrimento inevitável.” (FRANKL, 2005, p. 100)
A auto-realização ou a satisfação de si mesmo acontece somente na medida em
que o homem realizar o sentido e efetivar o valor, que é uma maneira de se realizar e de
se afirmar como ser humano. Nas palavras de Frankl:
Frankl (1989), portanto, denomina três categorias de valores que podem conferir
significado à existência. A primeira são os valores criadores, ou seja, aqueles que se
realizam mediante um ato criador, pela ação do homem sobre o mundo, sobre a
realidade. A segunda categoria se refere àqueles valores chamados por ele de vivenciais,
que se realizam mediante a acolhida do mundo, na entrega à beleza da natureza ou da
arte ou na entrega ao outro. E a terceira categoria de valores são os de atitude, ou seja, a
postura que se toma diante de um destino imutável, a posição assumida diante do
sofrimento. Atitude essa que se refere à manutenção da dignidade frente à ruína e o
malogro.
Quem nos orienta na busca pelo sentido, ou seja, na realização de valores é a
consciência. A consciência é definida por Frankl como a capacidade de despertar o
sentido único que se origina de cada situação vivenciada, “Em síntese, a consciência é
um órgão de sentido” (FRANKL, 1990a, p. 18-19). É a consciência que nos revela o
124
Vale relembrar o que Frankl (1978) ainda nos alerta sobre a consciência, ou seja,
que a mesma pode nos induzir a tomar caminhos errados, e que, portanto, devemos
considerar a consciência do outro. No entanto, respeitar a consciência do outro não é
identificar-se como ela (conformismo) e nem obedecer a ela (totalitarismo). Se isso
ocorre, o vazio existencial se instala. O remédio é desenvolver uma sensibilidade mais
atenta às diferentes situações da vida, procurando os sentidos singulares que cada uma
dessas situações desvela.
A fim de aproximarmos a teoria de Frankl ao tema do nosso estudo, faremos
uma pequena analogia entre consciência e coração.
Para designar o paciente e as outras pessoas envolvidas nos discursos das duas
entrevistas foram utilizados nomes fictícios. Assim, para o paciente em questão usamos
o nome Geraldo. Para seu filho mais velho o nome Bernardo. Para sua esposa usamos
Leda e para sua filha o nome Júlia. Por fim, para os médicos aos quais o paciente se
refere usamos as letras X e Y.
O Senhor Geraldo tem 64 anos e é casado. Tem dois filhos, uma filha e uma
neta. Reside no município de Sete Lagoas-MG, mas, nos finais de semana, vem para
Belo Horizonte, onde também possui uma casa. Tem uma renda mensal que varia de 8 a
10 salários mínimos. Foi analista químico da USIMINAS, representante comercial e, há
16 anos, trabalha como empresário, ou seja, é dono de uma loja de calçados na cidade
de Sete Lagoas. Está aposentado pelo INSS há 10 anos. Possui a esposa como
dependente e a filha, que ele define como parcialmente dependente. Aponta sua
orientação religiosa como Católica e, quanto à escolaridade, informa ter segundo grau
completo e curso técnico de torneiro mecânico. A filha do Sr. Geraldo, por
coincidência, também é fisioterapeuta, no entanto, não exerce a profissão. Ela trabalha
na loja de calçados com o pai.
Ele conta que a história da sua doença cardíaca começou há 8 anos, quando teve
um infarto do miocárdio. Na época, o Senhor Geraldo fez uma angioplastia com
colocação de um stent, no Hospital Luxemburgo. No dia 26 de fevereiro deste ano de
2008, na cidade de Sete Lagoas-MG, ele sentiu uma forte dor no braço e foi para o
Hospital Belo Horizonte. Nesse hospital, que fica em Belo Horizonte-MG, o Sr. Geraldo
permaneceu 4 dias no CTI, com a suspeita de ter tido um novo infarto agudo do
miocárdio. Após a alta do CTI do Hospital Belo Horizonte, já no segundo dia em que
estava no leito de internação, o Senhor Geraldo foi submetido a um cateterismo, que
confirmou o infarto e revelou importantes obstruções coronarianas. No dia 06 de março
de 2008, o Senhor Geraldo foi transferido para o Hospital Vera Cruz, seu caso foi
estudado e foi indicada a cirurgia de revascularização do miocárdio. No dia 10 de março
de 2008, o Senhor Geraldo foi submetido a uma CRVM. Foram feitas quatro pontes de
veia safena e uma ponte de artéria mamária. Ele permaneceu no CTI por 2 dias e na
Unidade de Internação por mais 8 dias. Não teve complicações pós-operatórias.
127
Recebeu alta hospitalar em 20 de março de 2008 e preferiu ficar em Belo Horizonte por
mais 40 dias. Sendo assim, no dia 24 de março de 2008, 14 dias após a cirurgia, foi
realizada, em Belo Horizonte, a primeira entrevista com o Senhor Geraldo. A segunda
entrevista foi realizada também em Belo Horizonte, no dia 12 de julho de 2008, ou seja,
3 meses e 18 dias após a primeira entrevista e cerca de 4 meses após a cirurgia.
Foram necessárias ainda mais duas conversas por telefone com o paciente, para
o esclarecimento de alguns dados da entrevista. Numa dessas conversas, a Júlia atendeu
ao telefone. Quando me identifiquei, ela mencionou que já havia orientado o pai quanto
à importância de ingressar num programa de Reabilitação Cardíaca. No entanto, disse
que o Sr. Geraldo não havia dado importância para a recomendação.
Analisamos as entrevistas conforme as categorias formadoras de sentido da
teoria frankliana, ou seja, o trabalho, o outro (amor/religião), o sofrimento. A categoria
corpo, em Frankl (1978), surge como uma dimensão psicofísica aliada ao espírito. Cabe
ressaltar que o corpo não é um foco de estudo na teoria de Frankl, mas abre-nos espaços
para construções.
Procuramos vincular essas categorias aos aspectos da Pós-modernidade
circunscritos em Frankl e que foram descritos no Capítulo 3. Deixamos claro que a
divisão por categorias é apenas uma forma didática facilitadora da análise, pois o ser
humano em Frankl é uma síntese de todas as suas dimensões: física/biológica, psíquica,
social e espiritual.
O Trabalho
Ao perguntar para o Sr. Geraldo qual o motivo que ele atribui ao seu
adoecimento, ele responde:
Agora eu a... acredito que pode ser a situa... a situação, né? De, de, de, de...
excesso de trabalho, excesso de preocupação porque o comércio é muito
estressante, né? E veja bem, eu fiquei 23 anos como representante... é
estressante.... e 16 anos dentro de uma loja é estressante e meio, então eu
acredito que isso tudo foi acumulando, né? Até formar um poblema sério lá
na frente.
128
ANSIEDADE! ... porque se eu for falar muito aqui eu acho que essa fita vai
ser pouca. Nós... Nós vamos partir pra política. Que segurança que eu tenho
no país? Depois de trabalhar, trabalho desde 8 anos de idade, eu tenho 64,
trabalho há 57 anos e não vejo a possibilidade de ficar dentro de casa vendo
uma televisão... e nem agora! Tô só esperando melhorar é LÓGICO meu
pique de trabalho vai ter que diferen...ser diferenciado, mas falar PAROU eu
não vejo essa possibilidade... tenho que continuar de uma forma ou de outra...
administrando meus negócio.
de sentido não chega a ser percebida pelo Sr. Geraldo como um dos fatores envolvidos
com o trabalho em excesso.
O Sofrimento
Quando questionado sobre como está se sentido após a CRVM e se tinha algum
temor, o Sr. Geraldo diz:
Fisicamente muito bem. Agora a parte emocional funciona muito, né?A gente
fica na...naquela expectativa, né? Será que vai dar certo? Até quando? Porque
como eu disse há pouco, eu ainda não tenho condição de... de esperar a banda
passar, eu tenho que tá no meio da banda... infelizmente... Não, medo eu
sempre tive.... de ficar.... preso numa cama, né? Sem poder... ajudar nada,
precisando de ajuda de outro. Enquanto tem gente que fala: Ah! eu tenho
medo de morrer! Jamais passou isso pela minha cabeça! Então eu acho que a
morte é o fim de alguma coisa aqui na terra, né? Agora quanto a.... a outra
questão... a gente tem esperança que...essa operação vai... ela parece que foi
bem sucedida....que ela ainda vai me dar um pedaço de tempo para poder
concluir uma parte do sonho, né? Porque 64 anos você ainda tá sonhando.
Frankl nos revela que também podemos encontrar sentido na vida quando nos
deparamos com uma fatalidade que não pode ser mudada ou evitada. Segundo o autor,
diante do sofrimento, o que importa é:
Frente ao acontecimento da cirurgia, o Sr. Geraldo revela que não teme a morte,
mas teme a invalidez (impossibilidade de ser útil e a dependência de terceiros). Seu
sofrimento encontra-se na dúvida do tempo de vida que ainda lhe resta, de que maneira
vai viver esse tempo (inválido ou não) e se o tempo que ainda lhe resta é suficiente para
concretizar os sonhos que ainda possui.
Também pela sua fala: “a gente tem esperança que...essa operação vai... ela
parece que foi bem sucedida....que ela ainda vai me dar um pedaço de tempo para poder
concluir uma parte do sonho, né?”, ele pode estar atribuindo à CRVM o sentido de
renovação, de prolongamento da vida, aliviando em parte o seu sofrimento. Esse achado
nos remete para a assertiva de Romano já exposta neste estudo. Relembrando:
dos defeitos anteriores, uma outra chance, com novos valores e propósitos de
vida. (ROMANO, 1998, p. 257)
O Outro
De acordo com Frankl (2005, p. 100), uma outra forma de “encontrar um sentido
na vida é experimentando algo – como a bondade; a verdade e a beleza –
experimentando a natureza e a cultura, e ainda, experimentando outro ser humano em
sua originalidade única – amando-o”. Ao se dirigir ao outro, o ser humano realiza uma
experiência de autotranscendência, de saída de si mesmo para a busca de um significado
de alteridade, que pode lhe conferir um sentido.
Na conversa com o Sr. Geraldo, ao perguntar sobre suas expectativas pós-
cirúrgicas em relação ao convívio familiar e social, ele fala:
A.... a gente passa a dar mais valor a muita coisa que passava despercebida,
né?. O telefonema de um amigo, o cumprimento de um amigo... fica
diferenciado... de um vizinho... uma ajuda ao próximo... né? Porque
infelizmente... a mídia tem ensinado todo mundo: dá não que esse aí é
vagabundo! Ajuda não porque não faz nada! Então a gente tem que usar um
pouco daquilo: ‘dar e não olhar a quem’.
O Sr. Geraldo demonstra se importar com outros valores, deixando claro que um
deles é a presença do outro. Ele critica o posicionamento negativo que a mídia pós-
moderna difunde sobre esse outro. E, ainda, sai de sua condição de quem necessita de
ajuda, ou seja, de pós-operado do coração, indo ao encontro do outro, quando revela o
desejo de ajudar ao próximo.
Parece que o fato de ele estar experimentando o sentimento de finitude da vida, o
comove e o faz produzir sentidos subjetivos, os quais revelam um interesse pelo futuro,
o cuidado com o outro, a vontade de se ver realizado. Tais sentidos podem ser
capturados na fala do paciente, quando a respeito dos seus sonhos ele pronuncia: “Ver
mais netos, ver meus filhos bem encaminhados na vida, ver minha esposa bem
encaminhada...”
Nesse sentido, podemos sugerir que, ao contrário da desvalorização do futuro
como uma forma de negar a velhice (aspectos narcísicos pós-modernos), o Sr. Geraldo
ainda deseja ver seus descendentes. Ele não teme o avanço da idade como uma ferida
narcisista, mas como uma ameaça de incapacidade física.
Esses sentidos podem ter sido produzidos por ocasião da cirurgia, mas também
podem estar associados ao fato de o paciente já ter vivido mais. De acordo com Lima e
Seibt (2002), é provável que os mais velhos tenham mais sabedoria acumulada. A
131
A Religião
O Corpo
Perguntamos ao Sr. Geraldo o que ele faria para evitar a CRVM, se pudesse
voltar no tempo. Ele respondeu:
NADA! Fazia a merma coisa. Sempre fui atleta, joguei bola até 54 anos de
idade, disputei campeonato pelo Cruzeiro de natação durante 6 anos, nunca
fui sedentário, de bebida... durmi tarde, sempre tive uma vida mais ou menos
regrada...
Tive um período sim! Que eu fumava... eu fumei mais ou menos até trinta... e
dois anos de idade... Dos 16 até os 32 anos de idade, então tem 31 anos que
eu não fumo. Foi a única coisa que eu poderia falar assim que... se eu voltasse
o tempo que eu não faria novamente. O resto eu acho que a minha vida seria
a mesma. Quanto à questão assim de comportamento... relacionamento... é
132
muito difícil, né? Você falar eu... seria diferente, né?Acho que cada um tem
um modo de pensar, modo de viver, senão, não havia evolução... se todo
mundo fosse igual a gente morava numa caverna saía de manhã cedo ia lá e
caçava, voltava, comia e dormia. Eu acho que tudo é necessário na vida... até
os trancos....
O Trabalho
Então antes eu tinha mais jogo de cintura pra... é... digamos assim pra... tole,
a tole, tole... tolerar, a... aquela insistência de querer vender a mercadoria, de
querer contar caso, então não é todo caso, não é todas pessoas que eu... eu
aceito assim com facilidade mais não, sabe?
Ao mesmo tempo em que nega, o Sr. Geraldo confirma o estresse, bem como a
preocupação e a auto-cobrança constantes:
133
É, pessoal fala muito de estresse, estresse... eu...eu não sei bem o quê que é
estresse não, sabe? Estressado quem não é estressado?
Pois é, mas eles falam que... a pessoa... tem receio das coisas... afasta das
pessoas, acha que nada vai dar certo... eu pelo menos eu mudei de profissão
mais de cinco vezes e todas que eu mudei foi com sucesso! Encarei e deu
certo! Eu acho que se eu tivesse aquele estresse que eles falam que existe por
aí, da forma que falam não teria sucesso em nada, né? Nem teria mudado, né?
Não. Preocupando menos com as coisas eu não preocupo não, preocupo cada
vez mais! Sempre preocupei muito, né? Cada vez mais! Sempre preocupei
muito! Com tudo que eu faço, com tudo que eu tenho. Igual eu te falei, eu
nunca fui linha de frente, mas sempre procurei não ser aquele que tá lá atrás,
né?
Não, não, conheço uma pessoa que não se cobre não! E a satisfação que cê
tem que dá de tudo, né? A você mesmo, né? Eu fiz isso certo, não! Eu fiz
errado, não posso fazer mais assim... eu tenho que fazer isso, tenho que fazer
aquilo, sempre cobrando, né? Acho que cê paga um alto preço, né? Por ser
RESPONSÁVEL pelas coisas, né? Que o irresponsável... ele é totalmente
feliz!
É.... cê falou cobrança aí. Acho que quem é honesto e procura adquirir seu
espaço é o maior cobrador de si próprio....
Confirma que sempre trabalhou muito: “Sempre lutei pra ser o primeiro! Nunca
consegui ser o primeiro! Mas graças a Deus eu nunca fiquei do meio pá trás não.”
O trabalho continua parecendo uma forma de escape para o vazio, e, como está
trabalhando menos, o Sr. Geraldo dá sinais que de algo o incomoda: nervosismo,
impaciência, hostilidade, intolerância, auto-cobrança, preocupação. Segundo Frankl, o
“homem do trabalho” apresenta uma neurose dominical:
[...] aquela espécie de depressão que acomete as pessoas que se dão conta da
falta de conteúdo de suas vidas quando passa o corre-corre da semana
atarefada e o vazio dentro delas se torna manifesto [...] fenômenos tão
difundidos como depressão, agressão e vício não podem ser entendidos se
não reconhecemos o vazio existencial subjacente a eles. O mesmo é válido
também para a crise de aposentados e idosos. Existem ainda diversas
máscaras e disfarces sob os quais transparece o vazio existencial. (FRANKL,
2005, p. 97, grifo nosso)
Esses sinais de incômodo não estariam, então, mascarando uma suposta falta de
sentido em sua vida, antes preenchida pelo trabalho em excesso?
O Sofrimento
Nesse segundo encontro, o Sr. Geraldo não atribui nenhuma modificação em sua
vida decorrente da cirurgia, nem perdas, nem ganhos: “Não sinto diferença de nada... de
nada. Mesma coisa.”
134
Ele nega até mesmo a dor sentida quando teve o infarto: “Não. Nem no dia eu
posso falar que eu senti dor. Eu sinto que o peito ainda tá anestesiado, né? Ó! Pra mim
tá normal... como é... antes... Na mesma forma de antes da, da operação...”
E parece se orgulhar ao dizer que já voltou ao trabalho: “Eu peguei o mesmo
ritmo novamente, né?”
O paciente pode estar negando seu estado delicado, mesmo sabendo dele (“peito
anestesiado” “Com as artérias do jeito que elas tão, né?”), como uma forma de não
encarar o seu sofrimento, o qual identificamos como uma dúvida diante do tempo de
vida que ainda lhe resta.
Ele continua a negar o medo da morte: “Mas emocionalmente cê não ficou com
medo de morrer, não? NÃO! MOMENTO NENHUM! Isso aí comigo não aconteceu
não!”
Mas confirma o medo da invalidez, da dependência de terceiros:
Ah, a gente tá vendo hoje ninguém tem condição de, de.... há pouco tempo
um filho podia parar pra cuidar de um pai, até mesmo a esposa cuidar do
marido... o tempo hoje...obriga todo mundo a não ter tempo, né?
O sofrimento do Sr. Geraldo em não saber quanto tempo a vida ainda lhe
reserva, em pensar que pode ficar dependente, parece ser tão grande, que ele adota uma
posição de negação. Nega prováveis mudanças físicas, nega o medo da morte, nega até
mesmo os sonhos que afirmou ainda possuir na primeira entrevista:
O meu sonho ERA: Em primeiro lugar: ter uma casa. Eu consegui mais do
que isso. Segundo, a partir do momento que eu tive filhos é... colocar eles
numa faculdade e eu consegui... todos três, formar...então eu me sinto um
camarada realizado, feliz... então o resto pra mim é troco.
O Sr. Geraldo ainda procura uma explicação para sua cirurgia, pede confirmação
sobre o respaldo do cirurgião, como um pedido de súplica de quem deseja prolongar a
vida:
O Outro
Nesse quarto mês após a cirurgia, o Sr. Geraldo comenta que está mais nervoso,
impaciente e às vezes agressivo com amigos e família:
É eu já era nervoso, né? Digamos nervoso e meio. Agora eu interei pra duas...
dois nervoso, né? Era uma vez e meio agora é duas.
Não sei se é a idade que a gente vai ficando chato, né? Então parece que sem
querer por dentro ocê começa a... a... Escolher tipo de assunto, tipo de
convívio com pessoas que mais te agradam, né? Que eu acho que todo
mundo, nem todo mundo consegue agradar todo mundo, né?
É mesmo uma pessoa estranha... que você convive naquele momento com ela
ali cê tem um pouco mais de paciência... e conforme a pessoa, hoje eu já... já
demonstro que já... tiver uma roda de amigos assim eu já, tô dando até logo e
tô saindo e vô embora por que já não tem... é a falta de paciência, de
tolerância.
Não, não é grito... [com a família] é... ser mal educado mesmo, né? A
verdade é essa aí é mal educado. As má resposta, né? Mas o pessoal passa por
cima e....
Ah! Ninguém tem nada com minha vida! Que bobagem! Tem sim! Pode
fazer besteira não! Tem um vizinho do lado esquerdo, lado direito... tem seu
parente. Todo mundo tá te olhando... e ai de você, cê convive cinqüenta anos
na LINHA RETA, o dia que ocê fizer uma bobagem todo mundo esquece os
136
Eu acho que o apoio da família foi muito essen... foi essencial, né? Pra minha
recuperação. E psicologicamente... também! Então o apoio que eu acho nessa
parte aí é essencial, sabe?
Porque eu acho que a vida e a faculdade não deu pra eles o que me deu. É...
de güentar a guerra, a batalha que existe fora da...depois que cê abre aquela
porta da, da sua sala e sai pra rua... exige uma experiência... um aprendizado
tão grande! Que faculdade não te dá aquilo não! Então eu preocupo, eu tenho
um filho no Rio de Janeiro, tem um outro que tá aqui, tem essa moça que tá...
hoje ela tá comigo lá na loja, né? É... foi minha sorte que... por mais um dia
ela já teria... talvez empregada, né? Mas ela teve que ir pra loja e tá lá comigo
até hoje, sabe? Embora eu quero que ela vá pra área dela. Eu tenho certeza
que ela vai conseguir a área dela. Mas, a, a preocupação ela é constante. Isso
aí... como que ocê vai deixar de preocupar com um filho que tá morando lá
no Rio de Janeiro?
Eu fico preocupado com a experiência, né? Como eu disse, né? Isso aí conta
muito! Conta muito!
Tá, mas se tiver minha turma... pudesse eu morar numa fazenda, igual era
antigamente e construir uma casa pra cada um, eu faria isso! Seria uma
galinha com os pintinho tudo do lado.
Não seria essa uma tentativa de se manter digno mesmo sendo um ser falível?
Diante do sentimento de finitude e falência que a cirurgia lhe trouxe e por não estar
munido de apoio especializado, o paciente pode estar deprimido. A depressão pode estar
levando o Sr. Geraldo a se isolar socialmente e não lhe permite reflexões sobre a
presença do outro. Ele acaba negando também o outro.
A Religião
137
você tem uma força tão grande por dentro que não existe situação
NENHUMA! Que você não consegue resolver não... ou ultrapassar!
acho que a vida é lá... a vida é muito relativa viu? E no fundo eu acho que nós
temos uma força, um poder... que a natureza nos concede que eu acredito que
Deus é isso aí. É o todo.
É... eu, eu... tá na Bíblia, né? Não cai uma folha sem que Deus não queira,
né? Então eu tô aqui não é por acaso não!... Agora eu tô aqui por quê? Isso aí
eu não sei te responder! Procuro fazer a minha parte aqui. Fazer tudo aquilo
que não, não, não me traga pobrema de consciência... e... as minhas
responsabilidades... eu procuro arcá-las o melhor possível... e vamo passando
o tempo, né? Vamo tocando a vida, né? Bola pra frente!
O Corpo
138
Com relação ao corpo, o Sr. Geraldo também assume uma postura de revolta, ao
dizer:
Igual quando eu chego no espelho, né? Não sei se já aconteceu alguém falar
alguma coisa dessa forma... aí cê vê assim... cê ta todo remendado, né? Se
sente alguma coisa? Mágoa? Ou um, ou um ressentimento? AAAH!!! Eu não
aceito cem por cento isso não, sabe? Porque eu tive uma qualidade de vida,
eu FIZ uma qualidade de vida, que se dependesse de mim... eu ia viver mais
de 90 anos de idade!
“Ah! Só tem uma coisa que isso aí é difícil a gente não tomar... tiver um
churrasquinho...é lógico eu, hoje eu não! Eu só comia carne com gordura em
churrasco... a carne...churrasco sem gordura é chupar bala sem, sem tirar o
papel.... e uma guia? [aguardente]. Ah! Guia boa não tem comparação!
Mostra outros motivos que não as suas falhas para justificar sua doença. Motivos
que estão inseridos no contexto pós-moderno como, por exemplo, a crítica médica:
Engraçado! Esse médico meu... eu não sei... às vezes tem hora que eu fico
pensando... ele é muito bom pra receitar remédio... e só.
139
Achei estranho... nós... nós não fizemos nem o... como é que fala aquele
exame cheio de de... Eletro. Ei falei: Ô Doutor ocê não vai fazer nem um
eletro pra ver a diferença que deu? Porque todo eletro meu sempre acusou
uma coisa antiga, porque eu já tinha tido um infarto, né? Ele falou: “Ah! Da
próxima vez que o Sr. vier aqui a gente vai fazer”. “Ah! Eu não vou escutar
esse paciente!”
Percebemos também aqui uma identificação com o que Lasch (1983) revelou
como uma resposta narcisista da sociedade pós-moderna ao culto da imagem. Como
vimos, essa resposta sustenta uma ideologia terapêutica ligada à norma, e qualquer
desvio da norma é tido como patológico. O paciente só se sente seguro diante de uma
imagem limpa de sua saúde. Notamos isso, quando o Sr. Geraldo sente a necessidade de
confirmar seu estado de saúde (a eficácia da cirurgia), ao solicitar ao médico pelo
menos um registro eletrocardiográfico.
Não satisfeito com a falta da imagem, ele procura soluções em outras fontes:
Eu tô esperando um viajante passar na loja lá, porque ele vai trazer pra mim,
não sei se ele vai lembrar... o pai dele fez essa operação anos atrás, tinha
facilidade também de acumular gordura nas artérias... diz ele que o pai dele
toma um remédio específico pra inibir a gordura... não é que ele retira a
gordura não!
Uma das fontes, ele encontra na sabedoria dos antigos: “Eu... chá de alecrim! Eu
to até esperando meu pé lá em Sete Lagoas ele crescer um pouco mais! Os antigos
sempre tomaram, né?”
O Sr. Geraldo também revela uma consciência de sua incapacidade física, ao
dizer:
Medo Medo
Angústia Angústia
Dúvida Dúvida
Sofrimento Finitude Finitude
Negação
Dignidade
Valorização Indiferença
Comoção Rejeição
Aproximação Negação
Outro
Falibilidade
Dignidade
Aceitação Aceitação
Conformação Conformação
Apoio
Religião
Superação
Revolta
Valorização Cuidado
Superação Limitação
Negação Negação
Corpo
Incapacidade
Revolta
61
Pós-operatório inicial: 14 dias após a CRVM.
Pós-operatório tardio: quatro meses e dois dias após a CRVM.
141
8 CONCLUSÃO
mais dinheiro. O outro é negado, rejeitado e em alguns casos chega a ser vítima de
violência moral e física.
Na Pós-modernidade, tanto o sofrimento físico como o psíquico são tidos por
inaceitáveis. Tais sofrimentos desmascaram a ideologia do sucesso, da força e do vigor
físicos e intelectuais, da beleza, da saúde e revelam o avanço da idade e a proximidade
com a morte. Dentre os milagres que a cultura pós-moderna nos oferece, estão as
fórmulas de vida eterna prometidas pela indústria farmacêutica. O ditado “há remédio
para tudo, menos para a morte” soa como uma ofensa nos dias de hoje, como se fosse
possível ao ser humano evitar a prova da morte. Sendo assim, Deus não aparece mais
como uma forma de sentido para os enlouquecidos com o corpo. As respostas para o
sofrimento somente são aceitas quando são possíveis de serem comprovadas
cientificamente.
Para o idoso, o contato familiar e social, a autonomia e a capacidade para
executar um trabalho proporcionam sentimento de valor pessoal, auto-estima e bem-
estar. Na velhice, há um processo de busca interior e de investimento na espiritualidade
e no autoconhecimento, resultando em desenvolvimento pessoal. Provavelmente,
porque a pessoa idosa já possui uma sabedoria acumulada, que a ajuda a vislumbrar
elementos essenciais formadores de sentido para a existência. Assim, aqueles que já
viveram mais, podem encontrar sentido no amor, por exemplo, através dos netos, para
os quais desejam passar suas vivências. Ou através dos amigos, companheiros de toda
uma vida, pelos quais se sentem valorizados, ao prestarem ajuda. O trabalho também
pode ser forma de encontro com o sentido na velhice, principalmente porque a maioria
dos idosos é aposentada e vive sem uma ocupação para preencher o tempo que lhe
sobrou. Assim, muitos idosos se dedicam à prática da caridade, onde, além de
encontrarem uma ocupação, têm a oportunidade de se aproximarem do outro e se
sentirem úteis. O idoso pode encontrar sentido no sofrimento pela perda de um ente
querido (o cônjuge, por exemplo). Ao lembrar que ele é quem poderia ter morrido e que
o seu parceiro (ou parceira) poderia estar sofrendo em seu lugar, o idoso poupa a dor
alheia e consegue reconhecer uma posição de dignidade formadora de sentido. Outro
exemplo é o sofrimento trazido por uma doença. A doença, além de consumir a saúde
física, traz a sensação de proximidade com a morte, causando também um sofrimento
psíquico. Muitos idosos encontram na religiosidade as respostas para as inquietudes
geradas por tal sofrimento, conseguindo dessa forma atribuir sentido à existência,
mesmo nessa condição.
144
o paciente deixa claro que não gosta da atividade e sugere estar praticando apenas por
obrigação ou recomendação médica. Isso acaba por nos deixar duvidosos quanto ao
tempo de permanência em tal empreendimento.
Sendo assim, o que apresentamos por conclusão deste estudo é a hipótese de que
os impactos pós-operatórios da CRVM no contexto pós-moderno são capazes de
produzir sentidos subjetivos que denotam carência de significado para a vida, mesmo
entre os indivíduos idosos. A importância de se identificar tais sentidos para a dinâmica
psíquica desses indivíduos reside no fato de que suas manifestações, como a depressão,
a hostilidade e o isolamento social, aliadas aos poucos recursos de enfrentamento que o
idoso no Brasil dispõe, podem ser os fatores psicossociais que estão dificultando o
ingresso dos idosos na Fase 3 de um programa de Reabilitação Cardíaca.
Sugerimos como estratégia para amenizar esse problema, a elaboração de um
modelo explicativo em forma de cartilha, destacando a importância da participação do
idoso num programa completo de Reabilitação Cardíaca. Essa cartilha deve possuir
linguagem de fácil acessibilidade a todos, ou seja, profissionais da área e leigos
envolvidos. A necessidade de atenção psicológica ao idoso revascularizado deve ser
destacada em todas as fases da RC, podendo incluir os princípios da Logoterapia como
uma forma de proporcionar uma participação mais efetiva desses indivíduos nos
cuidados pós-operatórios. Dessa maneira, poderemos contribuir para uma melhora na
qualidade de vida, bem como para a redução da morbimortalidade dessa população.
146
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sobre Envelhecimento. Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, p.1-11, 1998. Disponível em:
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<http://whqlibdoc.who.int/hq/2001/WHO_NHM_NPH_01.2.pdf.> Acesso em: 15 jul.
2006.
O gasto que a Instituição terá com o estudo se concentra apenas em ceder o espaço
físico da Capela onde será realizado o segundo momento da pesquisa. Ficando os
horários para realização das entrevistas, a serem combinados entre o pesquisador e o
responsável pelo referido local.
A Instituição não receberá pagamento para a realização deste estudo.
Efeitos indesejáveis são possíveis de ocorrer em qualquer estudo de pesquisa, apesar
de todos os cuidados possíveis, e podem acontecer sem que a culpa seja da Instituição
ou do pesquisador. Se a Instituição sofrer efeitos jurídicos indesejáveis, como resultado
direto da sua participação neste estudo, a necessária assistência profissional privada será
providenciada pelo Doutor Henrique de Abreu Costa OAB/MG 87.047, cel. (31) 9903
7445. Rua Teixeira de Freitas, 478/202. Bairro: Santo Antônio. Belo Horizonte MG.
Declaração de Consentimento
______________________________________________________________________
Nome da Instituição (em letra de forma)
______________________________________________________ ____________
Assinatura do representante legal da Instituição Data
________________________________________________________ ___________
Nome (em letra de forma) e Assinatura do pesquisador Data
162
Título do Projeto:
“CONFIGURAÇÃO DOS SENTIDOS SUBJETIVOS DE INDIVÍDUOS IDOSOS
SUBMETIDOS À CIRURGIA CARDÍACA:
uma análise na perspectiva de Viktor Emil Frankl”
Declaração de Consentimento
Li ou alguém leu para mim as informações contidas neste documento, antes de
assinar este termo. Declaro que toda a linguagem técnica utilizada na descrição deste
estudo de pesquisa foi satisfatoriamente explicada e que recebi respostas para todas as
minhas dúvidas. Confirmo também, que recebi uma cópia deste Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido. Compreendo que sou livre para me retirar do estudo
em qualquer momento, sem perda de benefícios ou qualquer outra penalidade.
______________________________________________________________________
Nome do participante (em letra de forma)
______________________________________________________ ____________
Assinatura do participante ou do seu representante legal Data
______________________________________________________ _____________
Nome (em letra de forma) e Assinatura do pesquisador Data
165
Título do Projeto:
Prezado Senhor,
Este Termo de Consentimento pode conter palavras que você não entenda. Peça
ao pesquisador que explique as palavras ou informações não compreendidas
completamente.
Você está sendo convidado (a) a participar de uma pesquisa que estudará os
sentidos subjetivos, que podem ser despertados em um paciente idoso, após uma
cirurgia cardíaca. Os sentidos subjetivos podem ser entendidos como as manifestações
de sensações, sentimentos e reflexões produzidas por indivíduos a respeito de suas
vidas, quando estas são influenciadas e/ou atingidas por acontecimentos pessoais,
sociais e históricos. Estes sentidos podem ser identificados, por exemplo, na fala destes
indivíduos.
Esta pesquisa faz parte do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em
Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
Você foi selecionado por que possui idade entre 60 e 75 anos é do sexo
masculino e foi submetido a uma cirurgia cardíaca. Tal seleção baseou-se nos seguintes
argumentos:
1. A Organização Mundial de Saúde, nos países em desenvolvimento como o
Brasil, utiliza a seguinte categoria como parâmetro para a idade cronológica
do idoso: aqueles com 60 anos ou mais são denominados idosos e aqueles
com 80 anos ou mais são denominados grande velhos.
2. Segundo um estudo publicado na IV Conferência da Associação Americana
do Coração sobre Prevenção e Reabilitação do Infarto, a freqüência da
incidência de infarto nos homens é 1,25 vezes maior que nas mulheres e,
após os 55 anos, a incidência de infarto mais que duplica a cada década de
vida que se segue.
3. Estudos recentes vêm demonstrando que com o atual crescimento da
população idosa haverá tanto um aumento da incidência de doença das
artérias do coração, bem como do número de pacientes idosos que se
apresentarão aos serviços de cirurgia cardiovascular.
O objetivo do Projeto é compreender os sentidos subjetivos que seriam
despertados em um paciente idoso, após uma cirurgia cardíaca, tendo como pressuposto
teórico principal, os fundamentos da Logoterapia de Viktor Emil Frankl. A Logoterapia
é também chamada de terapia do sentido da vida, pois, basicamente preconiza a idéia de
166
que o ser humano vive motivado pela vontade de realizar sentido na vida e, para isso
deve centrar-se na realização de valores através de suas vivências, atitudes e criações.
A sua participação não é obrigatória.
Para participar deste estudo solicito a sua especial colaboração para responder a
duas entrevistas. A primeira entrevista será feita logo após a sua alta hospitalar. A
segunda será feita entre três a seis meses seguintes, contados a partir da data da primeira
entrevista. Ambas as entrevistas serão realizadas em seu domicílio e serão gravadas com
um gravador portátil, a fim de facilitar sua posterior transcrição e estudo.
Espera-se que, como resultado deste estudo, não somente você, mas pessoas em
situação semelhante à sua possam atuar de forma mais efetiva no processo de
Reabilitação Cardíaca. A Reabilitação Cardíaca consiste no desenvolvimento e
manutenção de um nível adequado de atividade física, psicológica e social. E para que o
processo de reabilitação cardíaca seja mais bem aproveitado, além da atuação de uma
equipe multiprofissional, a sua participação efetiva é de fundamental importância.
Uma vez que a sua participação no processo de Reabilitação Cardíaca se dê de
forma mais efetiva, você estará prevenindo a ocorrência de novos problemas no
coração, bem como adquirindo uma melhoria na sua qualidade de vida.
Você não terá nenhum gasto com a sua participação no estudo e também não
receberá pagamento pelo mesmo.
Efeitos indesejáveis são possíveis de ocorrer em qualquer estudo de pesquisa,
apesar de todos os cuidados possíveis, e podem acontecer sem que a culpa seja sua ou
dos pesquisadores.
Se você sofrer efeitos jurídicos indesejáveis como resultado direto da sua
participação neste estudo, a necessária assistência profissional privada será
providenciada pelo Doutor Henrique de Abreu Costa OAB/MG 87.047, cel. (31) 9903
7445. Avenida Brasil, 1053, 9º andar. Bairro: Funcionários. Belo Horizonte MG.
Caso sofrer efeitos indesejáveis com relação a sua saúde, como resultado direto
da sua participação neste estudo, a necessária assistência profissional privada será
providenciada pelo Hospital Vera Cruz S/A, nas seguintes condições:
1. Apresentação do documento que comprove sua identificação
2. Apresentação do documento ou documentos, que comprovem seu plano de
saúde quitado até o último vencimento.
A sua identidade será mantida em sigilo. Os resultados do estudo serão sempre
apresentados como o retrato de um grupo e não de uma pessoa. Dessa forma, você não
será identificado, quando o material de seu registro for utilizado, seja para propósitos de
publicação científica ou educativa.
A identificação do material coletado nas duas entrevistas gravadas será feito
apenas com as iniciais do seu nome completo e todo esse material será armazenado em
arquivos pertencentes ao pesquisador, cujo acesso é restrito somente ao mesmo.
Sua participação neste estudo é muito importante e voluntária. Você tem o
direito de não querer participar ou de sair deste estudo a qualquer momento, sem
penalidades ou perda de qualquer benefício ou cuidados a que tenha direito nesta
Instituição.
Você também pode ser desligado do estudo, a qualquer momento, sem o seu
consentimento, nas seguintes situações:
(a) você sofra efeitos indesejáveis não esperados.
167
Declaração de Consentimento
______________________________________________________________________
Nome do participante (em letra de forma)
__________________________________________________________ ________
Assinatura do participante ou do seu representante legal Data
__________________________________________________________ _________
Nome (em letra de forma) e Assinatura do pesquisador Data
168
ANEXO 2 – QUESTIONÁRIO
1. Data: ____/____/____
2. Iniciais do nome: ______________________________________________________
3. Convênio: ____________________________________________________________
4. Reside em: ___________________________________________________________
5. Tem facilidade para vir ao Hospital Vera Cruz S/A?
(1) sim (2) não
6. Possui telefone para contato?
(1) sim (2) não
7. Outra forma de contato:
(1) e-mail (2) correspondência simples (3) telegrama (4) fax (5) outro: ______________
8. Idade:
(1) 60 a 65 (2) 65 a 70 (3) 70 a 75 (4) 75 a 79
9. Sexo: (1) Masculino (2) Feminino
10. Tipo de cirurgia:
(1) CRVM (2) Troca Ao (3) Troca Mi (4) Dupla troca (5) Outra:_______________
11. É a primeira cirurgia que faz?
(1) Sim (2) Não
12. Ano da primeira cirurgia:
(1)1980 a 1985 (2)1985 a 1990 (3)1990 a 1995 (4)2000 a 2005
13. Tipo da primeira cirurgia:
(1) CRVM (2) Troca Ao (3) Troca Mi (4) Dupla troca (5) Outra:______________
14. Estado civil:
(1) solteiro (2) casado (3) divorciado (4) viúvo
15. Possui filhos?
(1) Sim (2) Não
16. Possui netos?
(1) Sim (2) Não
17. Profissão: ___________________________________________________________
18. Em exercício profissional?
(1) Sim (2) Não
19. Aposentado?
(1) Sim (2) Não
20. Exerce outro trabalho?
(1) Sim (2) Não
21. Renda Mensal:
(1) 1 à 5 salários (2) 5 à 10 salários (3) 10 à 15 salários (4) 15 à 20 salários
(5) Mais de 20 salários
22. Possui dependentes?
(1) 1 à 2 (2) 2 à 4 (3) 4 à 6 (4) Mais de 6
23. Orientação religiosa: __________________________________________________
24. Escolaridade: ________________________________________________________
169
ANEXO 3 – ENTREVISTAS
_ Nós vamos conversar a respeito daqueles fatores, né? Que o Senhor acredita, né? Qual
que seria o caminho que o Senhor percorreu que levou o Senhor a percorrer até chegar
a... a questão de ter sofrido o infarto, de precisar fazer uma cirurgia? O Senhor falou que
teve...
_ (Interrupção da fala de Letícia por Geraldo): É... segundo médicos...
_ Hum...
_ A única resposta que eles me dão pode ser hereditário...
_ Hum hum...
_ Agora sendo que a minha saúde de um modo geral há mais de 30 anos eu faço
exames geral, nunca tive pobrema nenhum!
_ Hum, hum...
_ Colesterol, glicose e etc, etc, etc, sempre foi excelente!
_ Hum, hum...
_ Agora eu a... acredito que pode ser a situa... a situação, né ? De, de, de, de... excesso
de trabalho, excesso de preocupação porque o comércio é muito estressante, né? E veja
bem eu fiquei 23 anos como representante... é estressante.... e 16 anos dentro de uma
loja é estressante e meio, então eu acredito que isso tudo foi acumulando, né? Até
formar um poblema sério lá na frente.
_ Então o Senhor acredita que isso tem a ver com estresse...?
_ (Interrupção de Geraldo falando ao mesmo tempo em que Letícia disse a palavra
estresse e em tom mais alto): ANSIEDADE!
_ (Letícia continuando repete com calma): Ansiedade...
_ (Geraldo interrompe novamente): É... porque se eu for falar muito aqui eu acho que
essa fita vai ser pouca.
_ (Letícia interrompe e fala): Não! Pode falar a vontade!
_ (Geraldo continua falando ao mesmo tempo em que Letícia e diz com certa tensão):
Nós... Nós vamos partir pra política.
170
_ (Letícia solta uma risada procurando descontrair a tensão, mas Geraldo continua): Que
segurança que eu tenho no país?
_ (Letícia concorda): É...
_ Depois de trabalhar, trabalho desde 8 anos de idade, eu tenho 64 trabalho há 57 anos
(Geraldo diz 57 anos com um tom de sobrecarga) e não vejo a possibilidade de ficar
dentro de casa vendo uma televisão... e nem agora! Tô só esperando melhorar é
LÓGICO (Geraldo diz lógico em tom alto) meu pique de trabalho vai ter que
diferen...ser diferenciado, mas falar PAROU (Geraldo diz parou em tom alto) eu não
vejo essa possibilidade... tenho que continuar de uma forma ou de outra...
administrando meus negócio.
_ E... em termos dess... da sua expectativa com relação a essa cirurgia cardíaca recente,
como é que o Senhor está se sentindo após ter realizado essa cirurgia? Sentindo que eu
digo assim é...
_ (Geraldo interrompe Letícia afirmando): Fisicamente muito bem.
_Hum, hum...
_ Agora a parte emocional funciona muito, né?A gente fica na...naquela expectativa,
né? Será que vai dar certo? Até quando? Porque como eu disse há pouco, eu ainda não
tenho condição de... de esperar a banda passar, eu tenho que tá no meio da banda...
infelizmente... ( Geraldo diz infelizmente com certo pesar).
_ E...com relação a essa questão emocional...é... o quê que o Senhor? Assim... o que quê
o Senhor? O Senhor tem algum temor, o Senhor tem alguma restrição, algum medo?
Fala um pouquinho mais pra mim sobre isso...
_ (Geraldo inicia a resposta negando): Não, medo eu sempre tive.... de ficar.... preso
numa cama, né? Sem poder... ajudar nada precisando de ajuda de outro. Enquanto tem
gente que fala: Ah! eu tenho medo de morrer! (Geraldo diz essa frase imitando uma
terceira pessoa e conclui afirmando com conviccão): Jamais passou isso pela minha
cabeça! Então eu acho que a morte é o fim de alguma coisa aqui na terra, né?Agora
quanto a.... a outra questão... a gente tem esperança que...essa operação vai... ela
parece que foi bem sucedida....que ela ainda vai me dar um pedaço de tempo para
poder concluir uma parte do sonho, né? Porque 64 anos você ainda tá sonhando.
_ Com o que quê o Senhor sonha ainda?
_ Ah... é objetivos, né?
_ (Letícia pergunta): Quais?
171
_ (E, Geraldo parece nem ouvir a pergunta e fala ao mesmo tempo em que Letícia e
continua): Ver mais netos, ver meus filhos bem encaminhados na vida, ver minha
esposa bem encaminhada...
_ Então a morte não é uma coisa que o Senhor teme, o Senhor teme é morrer e não ver?
_ Não, Não!
_ Não ter a realização daquilo que o Senhor sempre quis... ?
_ Não, não!
_ Seria isso?
_ Morreu mesmo se não realizou infelizmente vai ficar pra quem, quem estiver aí é que
vai ter que se virar, né?
_ Hum, hum...
_ Não vai ter mais ajuda, né? Agora eu tenho medo sim... de ficar numa cama, né?
_ Ficar depe...
_ Ficar plégico ou tetraplégico não sei como é que seria, né?
_ Hum, hum...
_ Isso aí eu receio, eu tenho receio.
_ Hum, hum...
_ E... como é que o senhor imagina agora, depois que o Senhor operou que vai ficar a
sua convivência familiar, sua convivência com os amigos... o Senhor acredita que vai
ficar como está ou o Senhor quer....?
_ (Geraldo interrompe Letícia e responde): A.... a gente passa a dar mais valor a muita
coisa que passava despercebida, né?
_ Hum...
_O telefonema de um amigo, o cumprimento de um amigo... fica diferenciado... de um
vizinho... uma ajuda ao próximo... né? Porque infelizmente... a mídia tem ensinado todo
mundo: dá não que esse aí e vagabundo! Ajuda não porque não faz nada! Então a
gente tem que usar um pouco daquilo: “dar e não olhar a quem”.
_ E.... se o Senhor pudesse voltar há um tempo atrás, o quê que o Senhor faria, poderia
ter feito, o quê que o Senhor gostaria de ter feito que o Senhor acredita que pudesse ter
evitado o Senhor ter dois infartos, ter feito uma cirurgia cardíaca... tem alguma coisa
assim?
_ NADA! Fazia a merma coisa. Sempre fui atleta, joguei bola até 54 anos de idade,
disputei campeonato pelo Cruzeiro de natação durante 6 anos, nunca fui sedentário, de
bebida...
172
_ Hum, hum...
_... durmi tarde, sempre tive uma vida mais ou menos regrada...
_ Hum,hum...
_ Tive um período sim! Que eu fumava... eu fumei mais ou menos até trinta... e dois
anos de idade...
_ Hum, hum...
_ Dos 16 até os 32 anos de idade, então tem 31 anos que eu não fumo. Foi a única
coisa que eu poderia falar assim que... se eu voltasse o tempo que eu não faria
novamente. O resto eu acho que a minha vida seria a mesma. Quanto à questão assim
de comportamento... relacionamento... é muito difícil, né? Você falar eu... seria
diferente,né?Acho que cada um tem um modo de pensar, modo de viver, senão, não
havia evolução... se todo mundo fosse igual a gente morava numa caverna ( Letícia dá
uma risada curta e baixa) saía de manhã cedo ia lá e caçava, voltava, comia e dormia.
Eu acho que tudo é necessário na vida... até os trancos....
_ Pra gente ir aprendendo, né?
_ Com certeza...
_ E, como é que o Senhor acredita, imagina aliás, que vai ser sua vida daqui, nos
próximos dias? Que eu sei que pode...
_ (Geraldo interrompe Letícia e segue dizendo): Eu imagino que ela vai ser um pouco
mais regrada, né? Com relação a trabalho.
_ A trabalho, né?...
_ Com relação a preparo físico.... tem que tomar mais cuidado, né? Com determinadas
coisa.
_ O Senhor fala a respeito de alguma atividade física mais regular essas coisas?
_ Aah.... com certeza...viagens longas de automóvel... não acredito que, não sei só o
tempo vai dizer, né? Eu adoro pegar uma estrada...e ... saí, né? Agora não sei... não
seria idiota de fazer força física pra poder provar que eu estou dirigindo, né? Se tiver
condição eu vou, se não tiver, que hoje tem muita facilidade pra você passear de ônibus
né?
_ É isso é verdade, hoje a facilidade é muito grande, mas existem certos...
_ (Geraldo interrompe Letícia e diz): O meu roteiro eu quero colocar!
_ (Letícia continua sua fala): Existem certos prazeres na vida da gente que... a gente não
precisa se privar tanto deles não, porque dependendo da sua situação, né? Da avaliação
médica que você vai receber daqui uns dias eu não acredito que viajar.... viagens
173
longas... não seja permitido não, sabe? Acho vai depender muito da sua resistência e da
sua capacidade realmente, né? Mas... não vamos perder as esperanças né, Senhor
Geraldo?
_ Com certeza...
_ Já é pouca coisa que o Senhor gosta de fazer, né? (Risos descontraídos de ambos).
Não pode deixar! Papai também gosta muito de viajar. Ele, viaja bastante e, depois que
ele operou ele continuou viajando bastante também, viajando muito!
_ Ah! É muito bom...
_ Ele gosta de pegar o carro e viajar mesmo....
_Conhecer pessoas...
_ É....
_ (Nesse momento a esposa Leda entra na sala e pergunta para Letícia): Ele também
teve isso Letícia?
_ (Letícia responde): Ele já operou.
_ (Leda pergunta): Foi cedo?
_ (Letícia responde): Ah... já tem uns dez anos...
_ (Leda se impressiona): Dez anos! Nossa!
_ (Letícia diz): Ainda era novo... ele tinha cinquenta e poucos anos.
_ (Leda diz): É mesmo? Aí tá vendo! Bom, né?
_ (O diálogo agora volta para Geraldo e Letícia pergunta): Mas... com relação a sua
parte espiritual Senhor Geraldo, o senhor acha que te tocou de alguma forma essa
cirurgia? O Senhor acha que o senhor teve alguma....
_ (Geraldo interrompe Letícia e diz): Olha é, no início aí você colocou no questionário
o termo religião, tem alguma? E eu falei Católica.
_ Hum hum...
_ Então ra,ra... (Geraldo ri discretamente e diz): O brasileiro é muito cheio de mistura,
né?
_ É, a gente é...
_Eu sou mais Espírita do que Católico...
_ Hum, hum...
_ Então eu aceito as coisas com muito boa vontade, com naturalidade...
_Hum, hum...
_ Eu tenho certeza que não tem nada por acaso.
_ Hum, hum...
174
_ Então partindo desse princípio... ainda tenho aquele receio igual eu te falei... de... de
cair numa cama e ficar sem poder ter atividade nenhuma, né? Mas fora disso, eu não
tenho receio de mais nada. E a minha parte principal na minha casa aqui, eu acho que
eu já cumpri... é lógico... tenho outros sonhos, mais desejos, TENHO! (Geraldo diz
tenho com convicção, mas conclui): A prioridade passou.
_ Prioridade era?
_ Formar meus filhos.
_ Formar seus filhos....
_ E aí cê pergunta: mas será que eles vão ficar bem ou não? Pobrema deles. É... eu
quero aprender a estender minha mão e ajudar alguém até onde meu braço vai. A hora
que não der pra ir mais, eu não faço força não que eu vou cair junto.
175
_ O Sr. achou que depois da cirurgia o Sr sentiu melhor? Ou a mesma coisa? O Sr. não
tinha sintoma?
_ Não sinto diferença de nada... de nada.
_ Mesma coisa.
_ Mesma coisa.
_ Dor, nada?
_ Não. Nem no dia eu posso falar que eu senti dor. Eu sinto que o peito ainda tá
anestesiado, né? E umas bobagem que andei fazendo, uns pesozinho a mais aí. Eu senti
que pode prejudicar alguma coisa, né?
_ O Sr. carregou peso?
_ Ah... carreguei...
_ É que não...assim ...
_ (Geraldo interrompe Letícia): Apertar parafuso, por exemplo... cê faz muita força com
o antebraço, né?
_ É....
_ E parece que...
_ (Letícia fala ao mesmo tempo que Geraldo): Força, né?
_ Força o peito, né? As costas, né? Não... não me senti bem não, mas logo no dia
seguinte já... já tinha voltado ao normal. Fiquei indisposto no primeiro dia de ter feito
um esforço a mais. No segundo dia... eu... tava normal...
_ É porque na verdade, o esterno, né? Depois que ele é cerrado ele só é preso com, com
clipe né, com grampo, ele não consolida mais não. Ele é um osso que depois que cê
corta ele não volta mais.
_ (Geraldo interrompe Letícia com tom de brindadeira): É perigoso...
_ (Letícia continua): MAS.....a própria....
_ (Geraldo interrompe rindo): Cê mexe com energia elétrica....
_ (Letícia entra na conversa descontraída de Geraldo): Tomar choque por dentro né, Sr
Geraldo?
_ Com certeza....
_ ( E Letícia continua): Não é a mesma coisa, a musculatura também mexeu muito, né?
Porque abre aqui o peito... (Nesse momento, Letícia retoma o assunto da entrevista): E
como é que tá o convívio com a família... convívio com os amigos?
_ Eu acho que eu fiquei um pouco mais nervoso.
_ É mesmo?
178
_ É eu já era nervoso, né? Digamos nervoso e meio. Agora eu interei pra duas... dois
nervoso, né? Era uma vez e meio agora é duas.
_ Nervoso o Sr. fala impaciente, como é que é este nervoso?
_ Menas paciência pra muita coisa, sabe? Principalmente pra atendimento a viajante...
tem uns que é meio aborrecido...
_ Hum, hum....
_ Então antes eu tinha mais jogo de cintura pra... é... digamos assim pra... tole, a tole,
tole... tolerar, a... aquela insistência de querer vender a mercadoria, de querer contar
caso, então não é todo caso, não é todas pessoas que eu... eu aceito assim com
facilidade mais não, sabe? Não sei se é a idade que a gente vai ficando chato, né?
Então parece que sem querer por dentro ocê começa a... a...(Geraldo faz uma pausa
longa e reflete): Escolher tipo de assunto, tipo de convívio com pessoas que mais te
agradam, né? Que eu acho que todo mundo, nem todo mundo consegue agradar todo
mundo, né?
_ Às vezes algum amigo que já é mais íntimo, né? A gente tem um pouco mais de
paciência....
_ É mesmo uma pessoa estranha... que você convive naquele momento com ela ali cê
tem um pouco mais de paciência... e conforme a pessoa hoje eu já... já demonstro que
já... tiver uma roda de amigos assim eu já, tô dando até logo e tô saindo e vô embora
por que já não tem... é a falta de paciência, de tolerância.
_ E quanto a família assim, sua esposa, seus filhos, o Sr. acha que mudou alguma coisa?
_ Não! Eu acho que o apoio da família foi muito essen... foi essencial, né? Pra minha
recuperação. E psicologicamente... também! Embora... de vez em quando eu dou uns
tranco, sabe?
_ (Letícia então pergunta em tom de brincadeira): Dá uns gritos Sr. Geraldo?
_ Não, não é grito... é... ser mal educado mesmo, né? A verdade é essa aí é mal
educado. As má resposta, né? Mas o pessoal passa por cima e....
_ Família é assim mesmo... (nesse momento, Letícia ri para descontrair a conversa).
_ (Geraldo continua): E vai levando...
_ Todo mundo é assim né, Sr. Geraldo?
_ Então o apoio que eu acho nessa parte aí é essencial, sabe?
_ E assim, quando o Sr. olha assim pros seus, seus filhos, pra sua esposa hoje em dia, o
Sr.sente alguma, algum sentimento diferente? O Sr. sente asssim... não vou especificar
qual sentimento não... mas alguma emoção....?
179
_ É o Sr. me relatou na outra entrevista que o medo maior do Sr. era ficar dependente,
né?
_ (Geraldo responde alto): AAAAAAH!
_ Ficar numa cama.... Ficar dependente de terceiros...
_ Isso aí sim! Isso falo mesmo! Falo mesmo!
_ Isso a gente fica meio ressabiado mesmo, né?
_ Ah, a gente tá vendo hoje ninguém tem condição de, de.... há pouco tempo um filho
podia para cuidar de um pai, até mesmo a esposa cuidar do marido... o tempo
hoje...obriga todo mundo a não ter tempo, né?
_ É isso é verdade, o tempo hoje é muito corrido, né?
_ Demais!
_ Tudo adquiriu um... internet... é comunicação da televisão hoje por satélite, né? Tudo
muito rápido, né? Isso faz, reflete na vida da gente, né?
_ Com certeza!
_ E aí acaba que... hoje se resolve tudo por celular, você acha a pessoa no celular, né?
Não tem nem telefone em casa mais você já consegue falar com a pessoa em qualquer
lugar....
_ É...
_ Às vezes uma coisa que antes você dependia de um telefonema que cê ia receber, e o
telefonema às vezes cê não tava em casa, recebia depois, dava pra resolver mais tarde,
agora tem que resolver na hora....
_ É, eu ainda sou do tempo da carta, né? Ter o telefone era pra poucos, né?
_ Telefone em casa era privilégio, né?
_ Namorava... meu namoro foi por carta... trabalhava lá na USIMINAS em Ipatinga,
né? Minha mulher em Sete Lagoas... às vezes era uma semana pra uma carta chegar na
mão da gente... (Geraldo faz uma pausa longa e conclui): A minha vida é uma epopéia,
sabe?
_ (Letícia solta risos descontraídos).
_ (Geraldo conclui em tom de orgulho): Eu acho que ela foi excelente!
_ (Letícia comenta): Que bom...
_ Eu gostaria de passar... tentar... (Geraldo dirige perguntas para si mesmo e responde
logo em seguida): “Passaria tudo novamente assim na?” “Cê gostaria?” Eu Gostaria...
gostaria sim... (Geraldo faz uma pausa e diz): Fui criado numa situação muito difícil,
eu perdi meu pai com... PERDI NÃO! Meu pai deu TCHAU, ADEUS! Eu fui com ele até
181
no ponto do lotação. NUNCA mais eu vi! Eu tinha sete anos de idade! (Quando faz esse
relato, Geraldo pronuncia as palavras que estão em maiúsculo, num tom alto
manifestando certa revolta. E, em seguida reflete e conclui): Não se se isso aí poderia
refletir futuramente é... psicologicamente, né? Porque eu não tenho condição de fazer
uma análise da minha pessoa, né? O quê que seria COM ELE AQUI ou... e... o que É
sem ele aqui, né? (Geraldo faz outra pausa e fala): Eu me considero normal. Acho que
pra mim foi uma dádiva porque, acho que nada acontece por acaso... isso aí a gente
tem um.... o ser humano ele tem um poder de força tão grande que ele nos momentos
mais difíceis, né? Como o Católico diz: se Deus fecha uma janela ele abre uma porta,
né? E a vida é assim mesmo... você tem uma força tão grande por dentro que não existe
situação NENHUMA! (Geraldo diz nenhuma com bastante ênfase) Que você não
consegue resolver não... ou ultrapassar!
_ Você acha que....
_ (Geraldo interrompe Letícia e diz alto e com convicção): A MINHA VIDA TODA FOI
ASSIM!
_ A, a, força que o Sr. acha que o Sr. tem por dentro...que a gente tem por dentro...
_ (Geraldo interrompe Letícia novamente corrigindo-a): Eu não! NÓS TEMOS!
_ (Letícia acata a correção e continua): Nós temos, né?
_ (Geraldo concorda e acata): Nós temos...
_ O Sr. acha que ela vem daonde Sr. Geraldo?
_ Da força de vontade.
_ Da pessoa MESMO? (Letícia pergunta dando destaque a palavra: mesmo).
_ Da crença de você acreditar em você: EU POSSO, EU QUERO! EU VOU FAZER,
EU VOU SER! Eu acredito que... você pode não acredi... não, não obter aquilo de
imediato, mas a, aquela, aquela coisa vai materializando até você adquirir.
_ (Letícia reflete): É mais a força do pensamento mesmo, né?
_ Com certeza!
_ Se você parar pra pensar é assim mesmo, né?
_ Eu acho.
_ A gente pára na vida e começa a pensar muito e num... num...põe pra frente e não vai,
parece que a vida não anda também....
_ Com certeza!
_ Você começa a pensar demais....
182
_ Porque a vida de muita gente que tem facilidade nas coisas... cê vê puxa vida! O
camarada aí é inteligente poderia ser um grande médico ou um grande engenheiro... e
no entanto não é, né? Porque teve facilidade em tudo, não precisou de desenvolver
nada, né? Como também tem o rico também que consegue superar o pai, né? Na parte
financeira é... na parte social... superar no bom sentido, né? Se o pai chegou a subir
uma escada de oito degraus, ele subiu dez! O neto dele pode subri doze! O Bisneto pode
não subir nenhum... acho que a vida é lá... a vida é muito relativa viu?E no fundo eu
acho que nós temos uma força, um poder... que a natureza nos concede que eu acredito
que Deus é isso aí. É o todo.
_ E...e... hoje em dia na sua vida tema algum aspecto, algum detalhe que o Sr. gostaria
que acontecesse pra que a sua qualidade de vida fosse melhor? Ou então pra que a sua
qualidade de vida mudasse pra outra coisa?
_ (Geraldo faz uma pausa antes de responder e diz): Não... eu tô satisfeito com a
qualidade de vida que eu tenho, sabe? Eu só não quero que ela... diminua... mas, não
tenho ambição que seja mais do que isso também não. Agora se pudesse voltar o tempo,
LÖGICO (Geraldo diz lógico com ênfase) que eu gostaria de ter uma coisa que me FAZ
FALTA! (Geraldo diz faz falta convicto). Eu tenho inveja de quem consegue ainda
correr atrás duma bola e jogar um futebol...
_ Jogar futebol, né?
_ É.... joguei até os cinqüenta e quatro anos de idade... ou pelo menos achei que joguei,
né?
_ (Letícia dá uma risada de descontração e diz): Mas é bom, né? É bom praticar um
esporte que a gente gosta, né?
_ Muito bom! Muito bom!
_ Eu nadei muito tempo também! Dei uma parada agora, mas ano que vem vou voltar
de novo... natação é bom, mas não é igual assim a um esporte coletivo, né? Esporte
coletivo acho que gente fica assim mais animado, né?
_ AH!!! Com certeza!
_ Um vôlei, alguma coisa assim, igual futebol também que é um time, né?
_ Equipe, né?
_ É...
_ Equipe... Aí cê tem aquela turma pra trocar idéia depois....
_ Tem que arrumar um grupo de veteranos lá em Sete Lagoas pro Sr. bater uma bolinha
de vez em quando...
183
que eu faço, com tudo que eu tenho. Igual eu te falei, eu nunca fui linha de frente, mas
sempre procurei não ser aquele que tá lá atrás, né?
_ Mas, se o Sr. se preocupa tanto... o Sr. já falou comigo assim na outra entrevista: que
a sua prioridade era formar seus filhos, né?
_ Isso!
_ Ver seus filhos bem encaminhados, ver sua esposa bem encaminhada... pra que tanta
preocupação Sr. Geraldo? (Letícia faz essa pergunta procurando descontrair Geraldo).
_ Porque eu acho que a vida e a faculdade não deu pra eles o que me deu. É... de
guentar a guerra, a batalha que existe fora da...depois que cê abre aquela porta da, da
sua sala e sai pra rua... exige uma experiência... um aprendizado tão grande! (Geraldo
fala tão grande com tom de sobrecarga e conclui): Que faculdade não te dá aquilo não!
Então eu preocupo, eu tenho um filho no Rio de Janeiro, tem um outro que tá aqui, tem
essa moça que tá... hoje ela tá comigo lá na loja, né? É... foi minha sorte que... por
mais um dia ela já teria... talvez empregada, né? Mas ela teve que ir pra loja e tá lá
comigo até hoje, sabe? Embora eu quero que ela vá pra área dela. Eu tenho certeza
que ela vai conseguir a área dela. Mas, a, a preocupação ela é constante. Isso aí...
como que ocê vai deixar de preocupar com um filho que tá morando lá no Rio de
Janeiro?
_ A preocupação sua é muito com os filhos, né?
_ (Geraldo interrompe Letícia e continua perguntando e respondendo pra si mesmo):
“Ah, mas o Rio de Janeiro é perigoso?” É. Belo Horizonte também é. “Contagem?” A
estatística diz que é pior que Rio de Janeiro. Tá, mas se tiver minha turma... pudesse
eu morar numa fazenda, igual era antigamente e construir uma casa pra cada um, eu
faria isso! Seria uma galinha com os pintinho tudo do lado.
_ Então também existe o fato preocupação de cuidado, né? Porque o Sr. é pai, a gente
preocupa com as pessoas que a gente gosta, com as pessoas que a gente ama, e tem
também o lado da preocupação financeira?
_ Ah sim! Claro!
_ O Sr. acha que é por isso que o Sr. às vezes se estressa muito no seu trabalho porque
de repente o Sr.quer deixar alguma coisa a mais pra eles, ou então quer dar uma
condição pra eles melhor?
_ A parte financeira eu preocupo mais com a minha esposa. Com meus filhos não,
porque eu acho que o caminho tá aberto pra eles... se não forem... é... independe de
185
mim... aí... acho que já é pobrema deles. Tem determinadas coisas que eu acho que a
pessoa tem que separar, não é? Isso eu consigo separar.
_ Hum, hum...
_ Se eu puder dar, puder ajudar, eu vou dar e vou ajudar. Se eu não puder, eu não vou
ter re... ressentimento por isso também não. Vou preocupar com isso não. (Geraldo faz
uma pausa e reflete): Eu espero que dentro na minha casa sempre haja uma cama e um
prato de comida pra comer! Se eles querem mais do que isso? Vão ter que sair à luta!
_ Aí o Sr. já deu a...
_ (Geraldo interrompe Letícia): Já tô preparado pra isso!
_ Formou, né? Aquela sua preocupação maior de deixar tudo encaminhado... ter uma
profissão, né?
_ Eu fico preocupado com a experiência, né? Como eu disse, né? Isso aí conta muito!
Conta muito!
_ Mas experiência eles tem que pegar com a vida né, Sr. Geraldo? Ir trabalhando na,
naquilo, né?
_ É, mas a faculdade toma muito tempo da pessoa, né? Então... às vezes você sai dali
com aquela cabeça de... com a teoria toda... e na esquina cê cai num conto do vigário,
um troço bobo! Depois cê vai ver... (Geraldo em seguida fala como se fosse uma
terceira pessoa): Gente, mas eu sou formado, um cara idiota daquele me passou pra
trás! (Então conclui): É falta de experiência, falta de maldade... eu acho que tem tudo
isso aí viu?
_ É, sua preocupação, eu acho é uma preocupação normal de pai que tem que orientar,
né?
_ É.
_ Os filhos e...
_ É.
_ E... assim como eu acho que os filhos também tem que buscar essa orientação, porque
a experiência dos pais conta muito e o privilégio de quem ainda tem pais é muito grande
né, Sr. Geraldo? Pra poder tá orientando a gente....
_ Igual quando eu chego no espelho, né? Não sei se já aconteceu alguém falar alguma
coisa dessa forma... aí cê vê assim... cê ta todo remendado, né? (Geraldo volta a se
perguntar): “Se sente alguma coisa? Mágoa? Ou um, ou um ressentimento?” (Geraldo
faz uma longa pausa e diz EU com uma voz espremida e entonada): Eu! (Depois
Geraldo solta um AH tipo de alívio): AAAH!!! Eu não aceito cem por cento isso não,
186
sabe? Porque eu tive uma qualidade de vida, eu FIZ (Geraldo fala fiz com orgulho)
uma qualidade de vida, que se dependesse de mim... eu ia viver mais de 90 anos de
idade! (Novamente, Geraldo volta perguntas e respostas para si próprio): “Já bebi?” Já.
Moderadamente. “Esporte?” Sempre pratiquei. “Dormir?” Eu sempre gostei de dormir
no mínimo de oito horas por noite. Trabalhava muito, mas dormia bem! E comer
também, sempre procurei comer comidas mais sadias. Agora aconteceu, porque Deus
quis, né?
_ Tem o fator também hereditário, né? Que o Sr. mencionou, que os médicos também
falaram....
_ Hereditário eu acredito que... não sei se eu expliquei bem na época...são poucos
casos na família... de pobrema de coração. Até meu último exame eu tava preocupado
com... que o médico pediu que eu fizesse um exame três meses após a cirurgia, né? Os
meus resultados foram os MESMOS que eu fiz um mês antes da cirurgia. Tudo cem por
cento! (Geraldo fala mesmos com ênfase).
_ Normal, né?
_ Normal.
_ Agora como ele fala, né? Meu organismo tem facilidade de, de... absorver a gordura
nas artérias, né?
_ O Sr. tem uma certa tendência, né?
_ Uma tendência.
_ Varia muito de pessoa para pessoa também...
_ É com certeza, talvez se eu tivesse pobrema de colesterol alta ou uma glicose alta...
não tivesse chance de nem ser operado, né? Com as artérias do jeito que elas tão, né?
_ E o Sr. fez seis pontes, né Sr. Geraldo?
_ Foi.... acho que foi quatro safena e uma mamária, né?
_ Então foram cinco, né? Cinco pontes.... É... mas, o Sr. tá bem....tô gostando de ver....
corado....
_ É... eu sinto normal, tanto quanto antes, sabe?
_ Dormindo bem....?
_ Tem dia que não! Tem dia que eu acordo três horas da manhã assim, eu.... vejo o dia
até amanhecer. Mas, no outro dia eu já posso deitar onze horas da noite que eu vou
direto até sete horas da manhã.
_ O Sr. acha que o Sr. é um pouco ansioso Sr. Geraldo?
_ Ah sou!
187
_ Às vezes é... pode ser isso, né? Que o Sr. não dorme....
_ Até um encontro que eu marco com uma pessoa sempre foi assim (Geraldo então fala
na terceira pessoa): “Ah! Nós vamos encontrar em tal lugar tal” (e responde) Cê diz:
tudo bem. Eu nunca precisei de despertador pra sair! Nem período de viajar... às vezes
eu ia pra ver o estado do Rio virava pra mulher falava: amanhã QUATRO horas eu vou
levantar! Tanto pra trabalhar, quanto quando a gente ia passear, quando a turma era
menor, né? Viajava pro Espírito Santo, pra praia. Nunca precisei de despertador! Eu
acordo na hora certa! Eu acho que isso preocupação, né?
_ (Geraldo fala eu acho que isso é preocupação, né ao mesmo tempo em que Letícia
fala): Tem um reloginho biológico, né?
_ (Geraldo então completa a frase eu acho que isso é preocupação, né?) :Que se
transforma num do relógio biológico, né?
_ Preocupação que virou um relógio biológico?
_ Eu acho que sim!
_ Tem a ver com ansiedade, né? A gente já fica preocupado com a hora a ansiedade vai
gerando, então já fica com aquilo na cabeça já acorda na hora. Às vezes nem dorme
direito!
_ É, pessoal fala muito de estresse, estresse... eu...eu não sei bem o quê que é estresse
não, sabe? (Geraldo faz uma pausa longa pensa e diz): Estressado quem não é
estressado?
_ Estresse é uma sobrecarga de estímulo.
_ Pois é, mas eles falam que... a pessoa... tem receio das coisas... afasta das pessoas,
acha que nada vai dar certo... eu pelo menos eu mudei de profissão mais de cinco vezes
e todas que eu mudei foi com sucesso! (Geraldo faz uma pausa e diz com orgulho):
Encarei e deu certo! Eu acho que se eu tivesse aquele estresse que eles falam que existe
por aí, da forma que falam não teria sucesso em nada, né? Nem teria mudado, né?
_ É porque o estresse ele é... o que que ele é? Ele é um excesso de estímulo, a pessoa ela
vai sendo estimulada de todas as formas, em todos os campos, né? Normalmente tem
muito a ver com a questão do trabalho... ele começou com essa questão do trabalho da
pessoa trabalhar muitas horas, descansar poucas horas e ser muito cobrada, então é
sempre um estímulo que deixa a pessoa sob pressão.Então ela começa a adotar certas,
certos escapes: um,um estressa e vai beber demais, outro fuma demais, o outro se isola,
né? Do convívio social. O outro não, ele tem um comportamento mais eufórico. Mas,
normalmente essas pessoas elas não tem é... geralmente elas são mal
188
humoradas....é...tão sempre com aquele semblante pesado, sabe? Ou tem algum outro
sintoma físico mesmo, começa a ter dor... então são manifestações que depende de cada
pessoa como que ela vai reagir ao excesso de estímulo. Então, tem pessoas que não tem
manifestação externa nenhuma e interiorizam o estresse e acabam desenvolvendo algum
tipo de doença, né? Ou desenvolvem uma, eles falam muito da LER, uma lesão por
esforço repetitivo tem muito a ver com estresse... as próprias doenças cardiovasculares
tem a ver com o excesso de estímulo... porque o organismo começa a reagir de uma
outra forma, então aí acaba desenvolvendo certos mecanismos de adaptação que não são
normais e levam a certas doenças, né? Então hoje em dia está sendo muito estudado por
isso, por que... existem doenças que não tem causa aparente e quando eles vão
investigar a fundo, tem um certo, um certo fundo emocional muito ligado a causa da
doença. Muitas doenças que pacientes já fizeram “ene” tratamentos com “ene”
medicações não melhoraram, quando foram pra fazer análise com psicólogo, ou mesmo
terapia de grupo: SOLTAR AQUILO PRA FORA! (Letícia diz essa frase com ênfase e
continua): Começaram a ter melhora... da doença... então, tem muito a ver... por isso
todo mundo fala muito em estresse, né? Também virou um certo modismo, né? Todo
mundo fala que tudo é estresse! Né?
_ É.... cê falou cobrança aí. Acho que quem é honesto e procura adquirir seu espaço é o
maior cobrador de si próprio....
_ A auto-cobrança...
_ Auto-cobrança... Eu... (Geraldo pára, pensa e faz uma auto-reflexão): não, não,
conheço uma pessoa que não se cobre não! E a satisfação que cê tem que dá de tudo,
né? A você mesmo, né? Eu fiz isso certo, não! Eu fiz errado, não posso fazer mais
assim...eu tenho que fazer isso, tenho que fazer aquilo, sempre cobrando, né? Acho que
cê paga um alto preço, né? Por ser RESPONSÁVEL pelas coisas, né? (Geraldo diz
responsável com ênfase e conclui:) Que o irresponsável....ele é totalmente feliz!
_ É porque a gente não é uma ilha né, Sr. Geraldo? Se a gente fosse uma ilha talvez a
gente não se cobrasse tanto, mas existe a sociedade também, né? Que a gente convive
com, com uma sociedade...
_ Infelizmente! (Geraldo diz infelizmente com pesar e segue refletindo): Ah! Ninguém
tem nada com minha vida! Que bobagem! Tem sim! Pode fazer besteira não! Tem um
vizinho do lado esquerdo, lado direito... tem seu parente. Todo mundo tá te olhando... e
ai de você, cê convive cinqüenta anos na LINHA RETA, o dia que ocê fizer uma
189
bobagem todo mundo esquece os cinqüenta anos que cê foi um camarada CORRETO!
(Geraldo diz correto com ênfase). Só vão lembrar do dia que ocê errou! É duro, né?
_ (Letícia concorda tentando amenizar o clima de tensão): É a vida cobra muito da
gente, né?
_ Eu comecei a ler um livro agora que... eu já fui e voltei na décima quinta página é...
JUNG! (Geraldo fala JUNGUE).
_ Carlos Jung, Yung, né? Que eles falam?
_ É... Carlos é...Jorge...Jungue, né?
_ É... JUNG: Jota, u, ene, gê. Né? ( Letícia soletra e pede confirmação).
_ É. Eu considero ele o pai da Psicologia, né? É meio complexo o livro isso aí falando
EXATAMENTE o que cê ta falando aí! (Geraldo fala exatamente convicto) Que cê
acabou de falar aí! Que tudo é... são efeitos e causas, né? Você mesmo provoca...
(Geraldo faz uma longa pausa e completa): seus deslizes, suas doenças, seus pobrema...
_ Mas ele...a...ele volta uma reflexão pra dentro...
_ (Geraldo não espera Letícia completar e diz): Reflexão pra dentro de si próprio.
_ De si mesmo... a partir de sua auto-reflexão ele estaria analisando a sua vida? A vida
que eu falo assim a própria vida, aquilo que você tem... simboliza... aquilo que você cria
pra você mesmo?
_ Exatamente. Com certeza... tô entendendo mais ou menos o livro por aí também!
_ Como é que chama o livro o Sr. sabe?
_ Não sei... ta lá em Sete Lagoas! Esse livro eu tenho que ler ele uma série de vezes!
_ É difícil, né?
_ EU ACHO! (Geraldo diz eu acho com convicção).
_ Mas é bom que...
_ (Geraldo interrompe Letícia e diz): Porque não adianta ocê passar página por página
sem...
_ (Letícia tenta completar pra Geraldo): Sem parar pra refletir.
_ (Mas, Geraldo completa de outra forma): Sem entender na íntegra, né? (Após uma
breve pausa de silêncio, Geraldo começa a pensar em voz alta tentando lembrar o nome
do livro): A.. .O pensamento de JUNG... é... não lembro o nome do livro não....
_ Ele fala basicamente sobre a essência do ser?
_ É, ele começa a contar uma história que ele... conheceu....que ele conheceu.... em mil
quatrocentos....quer dizer é recente....em mil quatrocentos e sessenta? Vai dar pouco
mais de cem anos, né?
190
aquela coisa toda, mas ele foi separando por grupo a habilidade que alguns tinham
pra... digamos assim, pra pintura, pra escrever... então, tá,tá, meio confuso ainda não
tá...
_ (Letícia interrompe Geraldo e completa): Ainda não, não chegou no...
_ (Geraldo continua): Eu vou ter que voltar pra ler ele novamente senão...
_ É, pra poder refletir, né? É mas esses livros são bons por que... põe a gente pra pensar,
né Sr. Geraldo?
_ Com certeza.
_ Essa, essa força que... o Sr. fala que o Sr. teve, né? Que o Sr. sempre menciona que foi
o...vamos dizer assim... que te impulsionou pra conseguir ter o que hoje em dia o Sr.
tem, né? Essa força que a gente pode até dizer que... existe no ser humano, né? Que o
Sr. até falou mais cedo... é....faz a gente buscar, né? Algum sentido pra nossa vida, né?
_ É faz a gente buscar FORÇA, né? Aquela força que nós temos e não sabemos que
temos...
_ Porque...
_ Acreditar, né?
_ Eu não sei se o Sr. já se fez essa pergunta, mas... o Sr. já se perguntou assim: por que
e pra que que eu existo? O Sr. já se fez essa pergunta?
_ Olha, aí eu poderia responder na parte espiritual. Material eu não conseguiria
responder não. Por que... material eu acredito que eu seria apenas um esterco, né? Um
adubo a mais! Agora espiritual eu acredito que tem um por que... é o caso aonde... eu
poderia ficar nervoso a hora que eu vejo: dei tanto azar, falei gente! Por quê? Se eu me
preparei pra não acontecer isso aqui. E tô dessa forma aqui! Eu acho que o porquê não
é agora. Isso é uma dívida! Que eu tenho. E eu peço a Deus é força pra poder passar...
por esse momento, né? Que tão acontecendo, né? E até onde vai eu não sei, né? Então
na hora do meu desencarne é... eu... jamais resmunguei, jamais é... joguei praga,
jamais reclamei... porque... eu acho que não existe, não existe dívida.... PAGAMENTO
NENHUM SEM DÍVIDA! (Geraldo diz pagamento nenhum sem dívida em tom de voz
bem alto). (Após uma pausa Geraldo reflete e diz): Então aí é muito complexo, né?
Porque às vezes eu tô falando uma coisa que eu creio e, e... você é totalmente
descrente, né?
_ Não, mas aí.... por exemplo...
_ Não é religião não! Porque eu não gosto de discutir religião não!
192
_ Não! É... é muito simples! Né? A gente, por exemplo, pergunta... essa pergunta que a
gente se faz,né? Porque que eu existo? Que eu estou aqui na Terra? Tem algum sentido?
A religião surgiu pra responder isso, né? Se a gente for pensar bem... porque se você for
analisar...igual o Sr. falou em termos materiais.... a gente é um pedaço de carne...né?
_ Com certeza...
_ Cê existe...Existir por existir...não,não sei se moveria uma pessoa a realizar uma vida
inteira... né? Existir por existir... Ah! Eu existo porque eu existo. Eu sou feito porque
igual um animal é feito eu sou feito. Eu não sei se a pessoa daria conta de ter uma vida
inteira só com esse pensamento, né? Sem, sem um....
_ Ah! Seria um animal irracional, né?
_ Cê acha que alguém tem condição de viver assim?
_ Uma pessoa normal, não! Acho que não.
_ É... pergunta, né? Perguntas que a gente faz, então, cada um segue... por exemplo: tem
gente que acredita que foram os alienígenas que trouxeram a gente pra cá... (quando
Letícia fala sobre os alienígenas, Geraldo solta uma risada discreta): Mas tem uma
crença, né?
_ (Então, Geraldo concorda mais sério): É, é não deixa de ser...
_ No fundo... a resposta pra isso é o quê? Eu existo porque eu tenho uma crença.
Independe qual! Mas é uma crença. Assim como... eu não sei... o Sr. não chegou a me
responder a pergunta em si “porque que eu êxito?”, mas só de o Sr. falar dessa dívida, a
gente sabe que o Sr. tem uma crença...né? Seja o Catolicismo, seja o Espiritismo, seja o
Budismo, mas, é uma crença... é uma coisa que te MOVE (Letícia fala move devagar e
com ênfase).Né?
_ É... eu, eu... tá na Bíblia, né? Não cai uma folha sem que Deus não queira, né? Então
eu tô aqui não é por acaso não!... Agora eu tô aqui por quê? Isso aí eu não sei te
responder! Procuro fazer a minha parte aqui. Fazer tudo aquilo que não, não, não, me
traga pobrema de consciência... e... as minhas responsabilidades... eu procuro arcá-las
o melhor possível... e vamo passando o tempo, né? Vamo tocando a vida, né? Bola pra
frente!
_ Daqui... agora que o Sr... já tem um tempo que o Sr. fez a cirurgia... daqui pra frente
como é que o Sr.imagina como a sua vida vai ficar? Daqui um tempo...
_ Olha! Deus é muito bom pra mim... eu tô bem preparado agora pra...se... bem mais
malandrinho, sabe? Na parte de trabalho: diminuir mais ainda! E, passear mais!
_ Viajar?
193
_ Exatamente.
_ Curtir um pouco né, Sr. Geraldo?
_ É.
_ Vamos dizer assim... tentar aproveitar um pouco da vida, né?
_ É. Pelo menos uma parte, né? Tem muito lugar aí que eu gosto de... eu gosto muito de
Minas Gerais, sabe? Sul do Brasil eu não tenho vontade nenhuma de conhecer! Quer
dizer, tenho vontade nenhuma não! Eu prefiro ir aqui pra Poços de Caldas, São
Lourenço é... um Ouro Preto... pra quê que eu vou lá do outro lado? Eu não vejo
sentido! Então tem muito lugar gostoso aí que eu conheço aí que dá pra gente passear.
E graças a Deus eu posso dirigir também... eu gosto muito de dirigir na estrada!
_ (Letícia então, fala em tom de contentamento): Falei com o Sr.? Que o Sr.ia poder
dirigir! O Sr. tava todo preocupado, né Sr. Geraldo?
_ Adoro dirigir!
_ O Sr. falou mesmo que gosta muito. É bom porque... é uma coisa que o Sr. gosta de
fazer e que não te limitou, né?
_ Ah! Você que acerta os lugares... cê pára aonde cê quer...vai na cidade que ocê
quer...embora a gente tem viajado também de excursão, né? Esse ano me parece que é
três que a mulher programou aí... até o final do ano...de ônibus... e duas de carro...
_ É foi bom que não te poupou né? O Sr. poder viajar... pelo menos de vez em quando,
né Sr.Geraldo?
_ Ah! Não fosse esse pobrema que aconteceu em março, final de fevereiro, né? Já teria
viajado mais....
_ E... Sr. Geraldo, quando é que o Sr. começou a fazer um acompanhamento com o
cardiologista?
_ Ah! Eu.... comecei a me sentir mal... quer dizer, jogando bola eu vi que eu não tava
dando conta mais de correr do mesmo jeito... meu plano é Golden Cross, né? Então
atende lá no Hospital Belo Horizonte... aí eu liguei lá querendo marcar com Dr. X da
Cardiologia...e não tinha consulta... só pra bem depois... daí tinha um rapaz conhecido
meu que falou: Eu tenho uma consulta marcada pra ele pra semana que vem, quem
sabe ela transfere pra você? Aí a moça transferiu, né? “Não, não tem pobrema não
então eu transfiro”. O rapaz desistiu da consulta dele e passou pra mim. Eu tive no
consultório dele e ele marcou... no consultório particular dele. Do consultório do
Hospital Belo Horizonte, ele me mandou pra consultar no consultório particular dele...
tudo pelo meu plano de saúde. Lá no exame ergométrico eu fui MAL! (Geraldo fala mal
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convicto e enfaticamente. Faz uma pausa e reforça): MUITO MAL! Ele olhou assim e
falou: “ a... aparentemente tá... pela sua idade, tá normal”. Eu falei: Doutor não tá! Eu
jogo bola desde criança eu sei que meu preparo físico tá péssimo, eu tô ficando
amarelo, isso é fal... o sangue não ta circulando! Ele falou: “Mas cê é médico?”
Doutor, a gente questiona coisas que a gente lê, que a gente vê na televisão, mas o Sr.
tá falando que tá tudo bem, então tá tudo bem ué! Só isso? Só isso. Aí eu...teve um dia
que...a hora que eu levan... meu quarto é lá em cima...acordei de manhã cedo meus
olhos tava cheio de...parecendo... (Geraldo faz um gesto com as mãos simulando
brilhos).
_ Formigando?
_ É... aí eu perguntei a mulher e falei: Ô bem, o Bernardo taí? (Geraldo esclarece):
Meu filho mais velho. Tá. Vamo pro Hospital AGORA! (Geraldo fala um agora
imperativo e segue): Tenho certeza que eu tô com pobrema de pressão. E a nuca tá
doendo também. Cheguei lá tava dezesseis por dez!
_ Nossa...
_ Ainda falei com o homem dezesseis por dez dá pra fazer isso? Ele falou: “Dá graças
a Deus que tem gente que vai a vinte e não tem nada!”. Foi aonde começou o
acompanhamen, acompanhamento MÉDICO! (Geraldo fala médico com ênfase).
_ Do seu problema.
_ Né? Do meu pobrema... ainda fui nesse Doutor X, não deveria ter ido mais nele.
Pegou e receitou um comprimido para pressão e mais nada! Se fosse o médico que eu
estou com ele hoje, que por MUITO MENAS COISA (Geraldo fala muito menas coisa
alto e com tom de revolta) ele mandou minha mulher fazer um catéter. Teria acusado
na época! Eu poderia NÃO TER TIDO pobrema nenhum pra frente! (Geraldo diz não
ter tido convicto) Agora, tem também aquele outro lado: eu teria, tenho que passar,
tinha que passar por isso, né? Eu prefiro pensar por aí...
_ É porque se for pensar que é fatalidade por erro, né? É ruim né, Sr. Geraldo?
_ Não, acho que isso não...
_ Fica remoendo aquilo, né?
_ Remoendo aquilo e... não é bom não, sabe?
_ Sabe o que que eu acho bom? O Sr. fazer um novo teste agora, mesmo se o Sr. operou
não tem problema não!
_ Fazer o quê?
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_ Um outro teste ergométrico. É bom o Sr. fazer! Sabe por quê? Essa dúvida que o Sr.
tem de estar se expondo a um esforço demais, de estar expondo a um esforço menor,
com o teste ergométrico em mãos, o Sr. já sabe qual que é o seu limite. O seu limite
assim... por exemplo: se o Sr. quiser aumentar...
_ (Geraldo interrompe Letícia e pergunta): Será que... eu já poderia fazer um teste?
_ PODE! O teste ergométrico ele já é indicado, antes do paciente ter alta do hospital,
quando ele faz a cirurgia.
_ Engraçado! Esse médico meu... eu não sei... às vezes tem hora que eu fico
pensando...ele é muito bom pra receitar remédio... e só.
_ É só o Sr. falar com ele que quer fazer um teste ergométrico, entendeu? É importante
fazer!
_ Achei estranho... nós... nós não fizemos nem o...como é que fala aquele exame cheio
de de... (Geraldo coloca a mão no peito e faz uma mímica dos eletrodos do exame).
_ Eletro?
_ Eletro. Ei falei: Ô Doutor ocê não vai fazer nem um eletro pra ver a diferença que
deu? Porque todo eletro meu sempre acusou uma coisa antiga, porque eu já tinha tido
um infarto, né? Ele falou: “Ah! Da próxima vez que o Sr. vier aqui a gente vai
fazer”.(Geraldo então imagina o pensamento do médico e diz): “Ah! Eu não vou escutar
esse paciente!”(então diz como tom de desânimo): Aí a gente vai ficando assim...
meio...sabe?
_ É bom o Sr. olhar direito, porque olha só: pelo menos uma vez por ano é bom o Sr. tá
refazendo o teste ergométrico, porque é ao esforço que acusa alguma provável isquemia.
Vamos supor que o Sr. tenha alguma oclusão de alguma ponte, no seu esforço habitual,
submáximo, na sua caminhadinha, o Sr. pode não sentir nada. Mas, na hora que o Sr.
fizer um esforço maior, lá na hora do exame acusa. Mesmo que o Sr. não esteja sentindo
nada, só cansaço. E, se for o caso de ter que colocar algum stent na ponte, então já tem
um parâmetro para estar olhando...
_ (Geraldo diz assustado): Mas, eu acho que agora aqui não tem mais jeito mais não!
_ Não! Agora não! Mas, pode ser, por exemplo, daqui há alguns anos...igual meu pai ele
fez a cirurgia já tem uns dez anos, ele começou a sentir um incomodozinho, sabe? Uma
coisa assim... percebeu que a pressão tava mais alta. Aí eu falei: Ó! Pode ser que
alguma ponte esteja querendo fechar, aliás, pode ocorrer a oclusão da ponte. Então aí
ele fez um ECO de esforço, fez um outro teste... graças a Deus não deu nada! Era só a
pressão mesmo que tinha subido um pouco mais, que ele andava mais nervoso uns
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dias... mas, é bom olhar, porque no caso poderia colocar aquela molinha, igual o Sr.
colocou o stent pode colocar dentro da ponte também. Aí vive mais um bom tempo
ainda! Sem dor, né? Sem aquele medo. Por isso que eu acho importante essa revisão,
esse check up, logo agora que o Sr. fez a cirurgia....é importante porque? O Sr. vai ver
como é que o Sr. está de capacidade funcional agora, né? Como é que o seu coração
está. Aí no ano que vem, o Sr. tendo esse teste de agora, lá pela mesma época o Sr.
refaz, pra ver se houve melhora, se tá mantendo a mesma coisa, o quê que tá
acontecendo....esse tipo de acompanhamento, além do medicamentoso e o exame de
laboratório, ele é importante, porque se o Sr. quer, por exemplo, fazer uma corrida
breve de uns cinco, seis minutos, o Sr. pode fazer, não é contra-indicado não! Só que
tem que ter o teste de esforço pra saber até quanto a sua freqüência cardíaca pode chegar
sem o senhor ter algum comprometimento. É isso mais ou menos o que o Fisioterapeuta
faz com o paciente de Reabilitação Cardíaca. Ele dá um acompanhamento desde o
início, até a pessoa melhorar seu condicionamento conhecendo seus limites, depois que
a pessoa aprende, ele já deixa a pessoa mais a vontade... Na verdade... é bom ter um
profissional do lado? É ótimo! Mas nem todo mundo tem esse privilégio, por exemplo:
meu pai não teve, que ele morava na roça na época que ele infartou, mas pelo
ergométrico eu orientei. Eu falei: olha papai quando o Sr. perceber que o seu coração tá
acelerando demais, né? Que o Sr. tá cansando muito, o Sr. conta a sua freqüência
cardíaca e vê se não tá ultrapassando seu limite. Se não tiver, às vezes é só mesmo uma
sensação subjetiva... por tudo isso que eu acho interessante o Sr. fazer o teste
ergométrico, sabe?
_ É... na próxima vez que eu tiver lá eu vou... é... trocar uma idéia com ele a respeito
disso...
_ Vê porque eu acho que não vai te fazer mal nenhum. Eu não sei se convênio do Sr.
paga o ergométrico? Mas eu acho que paga!
_ Ah! Cobre tudo!
_ Cobre, então o Sr. não vai ter despesa nenhuma pra fazer o teste, sabe? É um teste
tranqüilo que o Sr. separa aí umas duas, três horas numa manhã e faz...
_ Quando eu fiquei internado lá... eu acredito que eles cobriram lá, pelo menos quase
uns oitenta por cento.
_ É... pra quem tem... um plano e opera vê...o quanto que é importante, né? Hoje em dia,
porque no Brasil depender da saúde pública hoje, tá muito complicado...
_ Lá no Vera Cruz cê trabalha lá, não?
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_ Trabalho.
_ Dr. Y é cobra no negócio, né?
_ É, ele é um ótimo profissional.
_ Conversando com ele eu disse: Ah! Só tem uma coisa que isso aí é difícil a gente não
tomar... tiver um churrasquinho...é lógico eu, hoje eu não! Eu só comia carne com
gordura em churrasco... a carne...churrasco sem gordura é chupar bala sem, sem tirar
o papel.... e uma guia? (Guia para o Sr. Geraldo significa aguardente). Ele falou: “Guia
boa, né?” Eu falei: Ah! Guia boa não tem comparação! Daí ele disse: “Ah! Então
arruma uma aí pra gente!”. Eu sei que ele é fera! (Geraldo segue mudando de assunto
curioso pela cirurgia): Afinal de contas, essa safena colocada aqui... eu entendo o
seguinte: digamos que isso aqui é uma artéria, aqui deu um entupimento, a safena ela
vai ser colocada daqui-aqui, como uma ponte.... como que ela é colocada aqui?
(Geraldo faz gestos com as mãos para descrever a ponte safena).
_ Eles fazem...
_ É cola?
_ Costurinhas.
_ Costurinha?
_ Ponto. Com ponto.
_ Mas era pra sair ao menos uma gotinha de sangue gente!
- Mas é muito bem suturado, o ponto é muito bem feito. Um pouco sangra, por isso que
depois que o Sr. opera ficam aqueles drenos, sabe?
_ Ah tá!
_ Porque ainda “baba” um pouquinho ainda, sabe? Alguma coisa ainda que ficou ali, aí
vai saindo conforme o tempo vai passando. Mas, aí o quê que acontece: suturou tá
suturado! Não vai arrebentar mais nada! Então assim, na hora ainda sangra porque na
verdade houve um corte, né?
_ Uai! No meu caso houve dez cortes! Puxa vida!
_ É uma coisa tão pequenininha Sr. Geraldo que eu não sei como é que eles enxergam!
Uma vez eu assisti uma cirurgia cardíaca. Eles têm um óculos, né? Que eles enxergam
melhor...
_ É, pois é, uma lente.
_ É... uma lente, tipo uma lente, mas tem que ter uma mão, uma precisão pra aquilo
ali....tem que ter muita precisão, porque se você erra um pouquinho, se você passa o
corte, o bisturi um pouquinho a mais você perde a...a artéria. Você perde a veia. É muito
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delicado, é muito delicado! Por isso que tem que ser um senhor cirurgião mesmo pra
fazer....
_ Agora eu entendo que depois disso aqui a facilidade de, de, de... acumular gordura é
maior,né?
_ Depende.
_ Porque um tubo reto... a água corre mais rápido, agora ele cheio de emenda... a
facilidade da gordura acumular é maior...
_ Não. A questão não é só essa de gordura, não. Porque o quê que acontece é que eles
estudam o fluxo de sangue, a velocidade que o sangue passa pela ponte, que me parece
que se a velocidade for mais baixa aí há a propensão da ponte ocluir por espasmo...
_ Eu tô esperando um viajante passar na loja lá, porque ele vai trazer pra mim, não sei
se ele vai lembrar... o pai dele fez essa operação anos atrás, tinha facilidade também de
acumular gordura nas artérias... diz ele que o pai dele toma um remédio específico pra
inibir a gordura... não é que ele retira a gordura não!
_ O Sr. acha que é pra reduzir a taxa de gordura no sangue?
_ É reduzir a taxa de gordura.
_ É. Tem, tem as estatinas, elas combatem o mal colesterol. Agora tem que ter indicação
médica, né? Porque tem contra-indicação. Toda medicação...
_ (Geraldo interrompe Letícia): Nem gosto de ler bula!
_ Pois é, mas vamos supor. Qualquer medicação que falem pro Sr. tomar, NÃO TOMA
SEM ORIENTAÇAO SR. GERALDO (Letícia fala não toma sem orientação advertindo
Geraldo e continua): Porque às vezes vai fazer bem pra uma coisa, mas vai piorar outra,
sabe?
_ Com certeza.
_ Então, não é bom a gente tomar não! Mesmo porque determinados medicamentos....
_ (Geraldo interrompe Letícia e diz): Indicado já... já dá pobrema!
_ Determinados medicamentos podem causar reações em uma pessoa que não causam
em outra, então esse que é o problema da auto-medicação, né? Teve um rapaz que
tomou novalgina pra dor outro dia que teve uma reação horrível! Às vezes o próprio
médico prescrevendo não pode prever uma reação. Então já é complicado cê tomar
remédio, ainda mais tomando por conta própria! É mais complicado ainda! Tem que
tomar muito cuidado... Se você, por exemplo, já tem alguma alergia, ou então, não é
nem alérgico nem nada, mas, se você for ao médico ele vai olhar pra você e falar: “Ó,
você é uma pessoa que não podia estar tomando isso!” Porque ele conhece, né?
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_ Eu... chá de alecrim! Eu to até esperando meu pé lá em Sete Lagoas ele crecer um
pouco mais! Os antigos sempre tomaram, né?
_ Tomaram... mas, chá é natural. Normalmente o princípio ativo, ele está em
concentração muito baixa, então, geralmente, não chega a fazer mal, não chega a ser
tóxico não. A não ser que a pessoa tenha uma sensibilidade muito aumentada pra
determinada substância. Porque é muito difícil você escutar dizer que uma pessoa
morreu de chá, né Sr. Geraldo? (Letícia faz essa pergunta em tom de descontração).
_ É. Agora, eu tenho um pé lá em Sete Lagoas que é de insulina....
_ Insulina natural, né?
_ É. Aí uma pessoa lá ficou sabendo e me pediu. Eu falei: Olha eu posso até te dar...
umas folhas aí pra fazer o chá. NÃO SEI COMO FAZ E COMO TOMA, NUNCA USEI!
Ganhei essa muda, plantei, ela cresceu nessa árvore aí e aí está. Ele levou. A mulher
dele tava com... glicose... de trezentos mais ou menos... ela tomou um chá mais forte,
ela baixou pra menos de cem! E a pressão dela também quase parou... acho que ela
ficou com nove por seis!
_ Abaixou demais, né? Aí ta vendo o perigo!
_ Se abaixasse e ficasse pro resto da vida baixa!
_ Pois é aí sobe de uma vez, abaixa de uma vez, esse que é o problema!
_ E olha que não é medicamento, hein?
_ É por isso que tem tomar cuidado!
_ (Letícia então vai finalizando a conversa): Então é isso aí Sr. Geraldo, gostei de ver o
senhor... o senhor está bem, mais corado, fazendo suas caminhadas...
_ Tô. Meio na marra, mas tenho que ir...
_ É, mas é bom...depois a gente acostuma e vira uma rotina até boa....
_ É a gente vai acostumando, faz falta... já sinto falta...
_ O dia que não vai, né?
_ É... quando eu venho pra cá....aqui é muito morro...