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ESTEFANIO LUTUMBA

E O SEGREDO DOS DEUSES MORTOS

@2020/LUANDA,ANGOLA
PREFACIO

Kwame é um livro de fantasia épica que nos guia sobre uma história de
disputa pelo poder numa era pós-colono. Entre razão e culpa, o universo
Kwame se forma de vertentes para narrar uma jornada de ambições, traições,
guerras e heroísmo em volta de uma relíquia sagrada chamada Segredo dos
Deuses. Drama, ação, misticismo e uma pitada de romance formam a
fantasia épica do Kwame e o segredo dos Deuses mortos.
23:00 minutos;

Madrugada calma de cacimbo de 1976, um mini-autocarro vulgo


machibombo se deslocava de Luanda órgão Oeste em direção a Malange
(capital central) órgão Leste. Entre os caminhos tortos e as estradas
esburacadas, razão da mais recente luta contra o colonialismo vivido em todo
país, afetava os que viajavam em suas visíveis sequelas. Completamente
lotado, o velho machibombo com uma ligeira inclinação a esquerda seguia
nas estradas escuras e vazias ao som baixo da radio em musicas tradicionais
em direção a capital central.

04:05 minutos;

Já se espreitava a cidade em suas aldeias, enquanto o dia tentava nascer em


nuvens negras. Perto da região de Wama, aldeia que se traduz como cartão
postal de quem visita aquele órgão, era inevitável não passar por ela. Para os
motoristas aquele era o caminho perfeito, pois não havia polícias fazendo
controlos de viaturas na região, era livre e ao redor havia pouquíssimas casas
e muita mata. Em um dos entroncamentos em terra batida, havia um
congestionamento, dois carros parados um atrás do outro, um machibombo e
um turismo. A névoa tentava impedir aqueles procuravam olhar para as
janelas buscando saber o que provocava aquele engarrafamento e, os que
conseguiam ver, viam apenas o mini-autocarro em frente e esperavam. Pois
ao fim de uma longa viagem que em nada ofereceu aos seus olhos, muito
pela escuridão em volta da madrugada fria, cansados e alguns sonolentos,
ansiavam pelo término da percorrida trajetória em meio de um imenso
capim. Já passavam cerca de seis minutos e os carros em frentes não se
moviam, o ambiente era de total silêncio a par do frenético som dos grilhos
da região; mesmo com a buzina não se dava nenhum sinal, as lâmpadas
ligadas ao máximo impossibilitava ver o interior daquelas viaturas.

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A demora era notável, provocava já a murmuração de quase quarenta
passageiros enquanto outros estavam descontraídos. O gerente do
machibombo sentiu-se na obrigação de sair para se informar do que
provocava o congestionamento, a distância entre os carros era mínima e ao
se aproximar do carro que se encontrava em frente do seu carro, ouve-se o
som de tiros! Eram quatro horas e vinte dois minutos, assustados e
atordoados com o que ouviram, tentavam pelas pontas da janelas de vidro
descobrir o que fora aquilo e, ao se notar que havia sangue escorrendo pela
terra húmida rapidamente concluíram que o gerente fora atingido pelos tiros
que se ouviu. Todos entraram em pânico e se deitavam sobre o chão do carro
com os corações nas mãos, outros escondiam-se por de trás dos bancos
murcho acastanhados, no ato do desespero há quem pedia insistentemente ao
motorista que desse marcha ré, quando pela surpresa mais quatro tiros
furavam três dos pneus do carro, o terror estava plantado, não tardou para
que se ouvisse gritos de agonia e choros de desespero, homens, mulheres e
algumas crianças, todos avistavam as suas vidas estagnadas no corredor da
morte; o pior, não se percebia de onde viam os tiros. Alguém gritava
atemorizado ao motorista para que tentasse dar marcha ré mas o mesmo se
encontrava bloqueado, não conseguia se mexer sob o chão do carro;
segundos depois, recuperado do bloqueio tentou se mover de forma rápida
em direção a porta onde foi pego por um dos passageiros que lhe questionava
do que estava a fazer, tentou usar a força para sair das garras daquele
passageiro, quando um outro entende que talvez tudo seja parte de uma
cilada criada pelo motorista e o gerente para lhes saltear, então o agarrou
também sobre o chão para que não saísse do carro; com os tiros o tumulto
aumentava, choros misturados com orações mais alto se ouvia, pois as balas
já destruíam os vidros.

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O motorista ainda fazia força para sair e com lagrimas nos olhos disse aos
que lhe agarravam:

_ Não posso ficar aqui parado, preciso ir pegar o gerente.

_ Estás louco, a esse momento já deve estar morto! – Disse um dos


passageiros.

_ Me larguem vocês não entendem, ele é meu filho, se está morto eu preciso
saber, só não posso ficar parado aqui - Motorista.

_ Sério? Seu filho? Está bem mas isso pode ser suicídio! – Disse um dos
passageiros.

Surpresos e sentidos o deixaram sair; Ao colocar os pés fora do carro na


tentativa de fazer a curva e seguir os rastos de sangue sobre a terra, foi
alvejado com três tiros do peito, caiu morto em frente ao seu carro. Vendo o
sucedido, os demais não viram outra saída a não ser fugir pela porta traseira
do carro e, até o dado momento não se conseguia ver os que atiravam, não se
sabia ao certo onde se escondiam os meliantes no meio da mata. Decidiram
arriscar fugindo entre os carros ao lado oposto de onde se ouvia os tiros;
apercebendo-se que a porta traseira se abria de forma vagarosa e que os
passageiros saíam em fuga entre os carros em direção a mata e outros em
direção a aldeia, os meliantes saíram dos seus esconderijos, eram um número
considerável, tapavam o rosto com panos pretos e vestiam algo como saia
feitas de paus de vassoura; alguns carregavam armas, catanas e alguns
batuques; os que carregavam batuques começaram a tocar e a gritar
constantemente “Kioku” enquanto os que levavam consigo armas e catanas
atacavam aqueles passageiros matando os homens e as crianças, as mulheres
eles as prendiam; seguia-se a carnificina, quando dois dos meliantes
revistavam os carros para retirar os pertences dos passageiros e depois
colocar fogo sobre os mesmos, enquanto revistavam o primeiro carro, no
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ultimo machimbombo, se encontrava uma mulher com uma criança recém
nascida ao colo, que se escondia por de trás dos bancos, negou fugir com os
outros a fim de ganhar tempo aos meliantes, esperava o momento certo para
escapar e, olhando pela janela vendo a matança e a consequente distração
dos meliantes, viu ali a sua oportunidade de fugir e, não pensando duas
vezes, saiu pela porta traseira e começou a correr com a criança em direção a
mata.

Corria na velocidade que podia, um dos meliantes ao perceber que alguém


corria entre a mata e avisando o outro, os dois saíram correndo atrás da
mulher; notando ela que estava a ser perseguida, corria em desespero e com
lagrimas nos olhos, os meliantes a uma distância considerável vinham
carregando apenas catanas, ela corria não pela sua mas pela vida que
carregava sobre os seus braços, quando ao fim de um tempo ela avista
algumas casas e corre em direção a elas, os meliantes cada vez mais se
aproximavam dela e ao sentir que não conseguiria despistar os mesmos a
tempo, naquele momento decidiu tomar a decisão que marcaria a sua vida
para sempre; parando perto de umas casas modestas feitas de pau a pique,
pousou a criança na porta de uma delas embrulhando-o com lençol,
colocando-lhe um dos seus acessórios ao pescoço o beijou e escreveu algo
no chão, se despedia em lagrimas do seu filho de apenas três meses, ouvindo
os meliantes se aproximando, correu em uma outra direção a fim de os
despistar da sua criança, correu o mínimo que podia até cair esgotada sobre a
terra, poucos minutos depois foi alcançada pelos meliantes que o
espancaram, lhe questionando o que levava consigo nos braços, ela
insistentemente dizia não carregar nada, já sangrando, um deles diz que
precisamos voltar para alcançar os outros, neste momento voltaram ao
encontro do grupo levando consigo a mulher. Colocaram todas as mulheres
capturadas em um canto sentadas sobre a terra, soluçando e chorando, viram

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os seus filhos, maridos e companheiros de viagens a serem mortos e os
veículos queimados, enquanto o grupo dos que carregavam batuques
continuavam a gritar “Kioku”; quando terminaram com tudo, entraram todos
nas matas levando consigo aquelas mulheres e desapareceram no meio do
imenso capim.

05:20 minutos;

Depois do grupo sumir pela mata, alguns aldeões começavam a sair de suas
casa para ver o que os meliantes haviam feitos desta vez e se surpreendiam
com o que viam pois era um massacre.

Ao tentar sair de sua casa para também estar a par do que estava acontecer,
um senhor de quarenta e poucos anos, viu a sua porta de madeira esbarar
sobre algo, ao colocar a cabeça para ver o que era, viu uma criança
embrulhada sobre lençóis dormindo tranquilamente; Saiu de forma jeitosa e
pegou a criança, correu um pouco para ver se encontrasse a pessoa que o
abandonara mas não encontrou ninguém e, vendo as pisaduras na terra e o
que havia acontecido com os passageiros daqueles carros, conclui que aquela
criança foi abandonada em sua porta para ser salva dos meliantes, logo
voltou para sua casa e trancou a porta.

Os guardas da capital central ao se aperceberem do sucedido, tentaram ir


atrás do grupo responsável mas sem sucesso; e aquele dia de cacimbo do ano
1976 ficou registrado na história do país na era pós luta armada como o dia
mais sangrento já vivido, chamou-se de massacre da aldeia de Wama.

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Templo dos Oráculos, Capital Central, Órgão Leste;

Foi convocado uma reunião de emergência do conselho dos Oráculos no


templo principal, a classe dos conselheiros já se fazia presente esperando
apenas os quatro representantes da ordem dos oráculos. Poucos minutos se
passaram quando três dos representantes dos oráculos chegaram e com os
demais membros se dirigiram para mesa das reuniões, sentados e com ar
meio atónito pela ânsia do objetivo da reunião repentina, parte da classe dos
conselheiros se questionava da ausência do Grande Oráculo que
habitualmente é o que convoca e gere as reuniões do conselho geral.
Tomando a palavra, o Segundo Oráculo Nzau deu início a reunião dizendo;

_ Para reunião de hoje, temos três pontos principais; o primeiro ponto tem a
ver com o órgão Sul, a região continua a sofrer com a fome e a seca, o mar
não tem dado resultados esperado mesmo estando no tempo propício, quais
soluções possíveis?

_ O órgão Oeste poderia apoiar, visto ser o Órgão melhor preparado para
situações do género! – Disse um dos conselheiros.

_ Nós a classe dos conselheiros do Órgão Oeste em representação ao nosso


herdeiro Victor, abstermo-nos de prestar qualquer tipo de ajuda ao órgão
Sul, e o motivo é conhecido por todos, pelos visto a maldição dos Deuses
sobre a região prevalece até aos dias de hoje, por isso o comercio marítimo
não está dar fruto mesmo estando em época propicia – Respondeu um dos
conselheiros do órgão Oeste.

A resposta dos representantes do Órgão Oeste gerou tumulto na reunião,


houve um pequeno bate bocas entre os conselheiros dos dois órgãos. O
Terceiro Oráculo de corpo atlético e barba branca Sassou tomou a palavra
meio chateado e disse:

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_ É inaceitável essa atitude de ignorância para com o órgão Sul, estamos
aqui para defender os interesses do país e o país é os quatro órgãos, todos
aqui sabem que sou do Sul por isso não vou admitir que continuemos a ser
visto como a região maldita, quem não poder não ajuda mas não nos
diminuem a malditos!

_ Com todo respeito Terceiro Oráculo, o órgão Oeste vai manter a sua
decisão, não tencionamos despertar a irá dos Deuses contra nossa região –
Representante Oeste.

_ Vamos nos acalmar por favor – Segundo Oráculo - Com o órgão Oeste se
abstendo em ajudar, só resta aos órgãos Norte e Leste se responsabilizarem
para atender o Sul com tudo o que puderem.

O tumulto havia cessado aparentemente, embora alguns ainda estavam


chateados com a abordagem do assunto por parte dos conselheiros do órgão
Oeste. O Segundo Oráculo deu segmento ao segundo ponto, alertando sobre
o desaparecimento de duas jovens mulheres na aldeia do Umbwa na região
da Lunda Norte órgão Leste perto do rio Luogi:

_ Este desaparecimento tem origem nas raízes do conselho, alguém no meio


de nós está manipular os Jacarés do rio para atacar a população, a nossa
guarda está tratar do caso e o culpado será severamente punido.

_ E o Grande Oráculo, porque não se faz presente a reunião? – Um dos


conselheiros.

_ Este na verdade é o terceiro ponto que queremos abordar e o mais


sensível, o Grande Oráculo está um pouco debilitado, pelo que nos
informou, ainda não há certeza, provavelmente sofreu uma tentativa de
envenenamento com as folhas do Arem durante o banho – Segundo Oráculo.

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A notícia da tentativa do envenenamento do Grande Oráculo foi um susto
grande para a classe dos conselheiros presente, pois as folhas do Arem eram
de espécie muito venenosa que matava lentamente, o murmúrio tomou conta
do plenário e questionavam se já haviam encontrado o responsável mas até o
momento não se sabia quem fora capaz de fazer tal atrocidade.

_ Oráculos, é sabido que as folhas do Arem crescem apenas nas regiões do


órgão Norte, o que traduz que o responsável deste acto, é do Norte –
Defendiam os conselheiros - A ser verdade, o responsável devera ser
entregue aos jacarés porque uma ação desta natureza não pode ter o perdão
da corte.

Neste instante entrava debilitado na sala o Grande Oráculo mancando sobre


apoio de uma bengala, rapidamente todos se levantaram para o saudar e
alguns se aproximaram a ele para o ajudar a se sentar a mesa; chegou de
ouvir as últimas declarações de alguns conselheiros acerca do assunto do seu
envenenamento e tomando a palavra em debilidade e soluçando disse:

_ É preciso termos calma, fui analisado pelos Kanzas e é verdade, estou com
o veneno das folhas do Arem no corpo, foi posto na minha água do banho e
me apercebi apenas mais tarde depois de sentir algumas picadas – Grande
Oráculo – A guarda já está a investiga os meus funcionários.

A confirmação do envenenamento irava e entristecia os presentes que não


queriam acreditar na tamanha atrocidade.

_ E quanto tempo os Kanzas deram ao senhor? – Segundo Oráculo Nzau que


constantemente limpava o seu velho óculo.

_ Estás preocupado com o tempo que resta Nzau, nesse momento devemos
procurar todas formas possíveis para curar o nosso Grande Oráculo e não
questionar sobre o tempo – Terceiro Oráculo Sassou.

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_ Não dá para confiar no povo do Norte – Conselheiro representante do
Oeste.

_ O que temos de evitar aqui é isso, uma guerra entre os povos, não
podemos dar asas ao tribalismo, não nós os representantes do povo –
Grande Oráculo – A justiça achará o culpado, se a sentença for execução
então entregaremos o culpado ao Rio Luogi, por agora quero me focar na
cura deste veneno.

Concordavam em punir o culpado com execução no Rio Luogi, rio


conhecido pela quantidade de jacarés que pelo povo se dizia serem animais
de estimação da corte dos órgãos, eram usados para punir quem fosse
condenado a morte, chamavam-lhe Rio do Castigo dos Deuses. Terminava
assim a reunião de emergência do conselho dos Oráculos daquele dia e
saíram todos.

O Grande Oráculo fora levado para sala de tratamento do templo onde


ficaria internado na supervisão dos Kanzas; Estando na sala chamou os seus
homólogos os três Oráculos e os fez saber que sentia estarem a sofrer uma
conspiração, alguém poderia estar a pensar em atacar a governação do país e
que devessem estar em alerta para não serem atingidos tal como ele havia
sido, o Quarto Oráculo José reiterava que talvez essa pessoa estivesse a
procurar por algo, “Se estão a vir atrás do segredo, devem saber que só irão
conseguir por cima do meu cadáver” disse o Grande Oráculo deitado sobre a
cama, voltou a lhes aconselhar para não baixarem a guarda, estar sempre em
alerta, concordaram com o seu Grande Oráculo e saírem deixando o mesmo
descansar.

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No caminho do Norte de volta para o Leste;

Os anos se passaram desde a década dos setenta e o país se recuperava


depois de ter perdido milhares de vidas dos seus cidadãos combatentes na
luta contra o sistema colonial, a economia aos passos lentos se restabelecia,
o petróleo, diamante e outros minerais eram cada vez mais explorados para
construção de um pais que iria depender agora dos seus próprios pés para
andar. Enquanto mundo estabelecia os três pilares do poder como base de
governação, o nosso país seguia os seus próprios passos criando um sistema
único, sem presidente e sem rei, mas um conselho constituído por quatro
lideres principais, baseando as suas leis na crença de um poder de domínio
conhecido como Rolo Sagrada, passado de geração em gerações pelos
primeiros homens que andaram sobre estas terras nos anos 983 a.c,
originalmente concedido pelos antigos Deuses supremos africanos muito
antes da invasão colonial. Os quatros representantes deste poder, trouxeram
uma divisão ao país que consiste em quatros órgãos principais: Norte, Sul,
Leste e Oeste; Tendo como capital central Malange, órgão Leste.

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O Liceu dos Mestres foi a fonte do meu conhecimento, e com pretensões de
alargar o saber quero me candidatar a Conselheiro da corte – Kwame
explicando - Então, o que achaste da minha carta de defesa?

_ Uau mais chata que essa carta só são cartas que envias para Shieza, serio
nada supera a história quando o assunto é aborrecer! – Disse o Luza.

_ Sinceramente, a tua capacidade de não compreender o valor das coisas


importantes me admira! – Kwame.

_ Vou te contar uma verdade, o que quero compreender agora é esse meu
cansaço e nós já estamos a viajar a 2h, não me lembrava que a capital era
tão distante e se me lembrasse a tempo deste detalhe com certeza não
regressava – Luza.

_ Inacreditável! – Kwame – Ganha juízo oh filho do Grande Oráculo.

_ Terminei o Liceu dos Mestres, esse é o juízo que me faltava e olha que
tenho tanto juízo que não estou no machimbombo a incomodar nenhum
amigo com história que ele já tem conhecimento – Luza.

Regressavam a capital central depois de quatro anos se formando no Liceu


dos Mestres situado no órgão Norte, região conhecida pelo grande poderio
místico e dotes na área de curas por meios naturais. O Liceu dos Mestres é
uma instituição de ensino voltada as escrituras dos Deuses antigos, vulgos
mortos. Ela é restrita para futuros herdeiros dos órgãos, Kanzas e
conselheiros da corte dos Oráculos.

Cerca de cinco horas se passaram para que a longa viagem chegasse ao seu
destino, Malange. Descendo do autocarro com grande fatiga, o Kwame
avistou o seu pai e a sua prometida de olhos castanhos Shieza no ponto de
chegada dos machimbombo e, os abraçou feliz; Luza por sua vez
questionava porque os seus pais não se faziam presente no ponto de chegada.

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_ A tua mãe pediu para estar aqui por ela, infelizmente o teu pai está
internado no templo dos Oráculos por envenenamento – Disse pai do
Kwame, o Segundo Oráculo Nzau.

_ O quê? Como assim envenenado? – Exclamou Luza assustado.

_ Quem fez isso Tata? – Kwame, com o semblante triste.

_ Estamos para descobrir – Segundo Oráculo.

No mesmo instante Luza sai correndo para o templo dos oráculos para ver o
seu pai, Kwame tenteu ir atrás do seu amigo para o apoiar neste momento
difícil mas o seu pai o informou que não o deixariam entrar, apenas os
oráculos e os familiares são permitidos a visita, mesmo assim decidiu ir atrás
do Luza acompanhado da Shieza. Ao chegarem a porta do templo, Kwame e
Shieza foram impedidos de entrar e ficaram pátio esperando notícias da parte
do Luza. Passando-se três horas de espera, veio o Luza com a sua mãe e irmã
que já se encontravam na sala onde estava o seu pai, com semblante triste;
Kwame o abraçou e ele derramou algumas lagrimas:

_ Como ele está? – Kwame.

_ Está mal, já começou a ter dificuldades na fala – Luza lagrimando – Os


Kanzas disseram que esse veneno degrada a pessoa pouco a pouco até
morrer.

_ Não há chance de recuperação? – Kwame.

_ Ainda não existe cura para esse veneno – Luza – Disseram que os Kanzas
do Norte estão a trabalhar para encontrar a cura mas que não será fácil.

_ Vamos crer nos Deuses! – Kwame espantado.

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Acompanharam o Luza e a família até em casa, que precisavam descansar
para repor as energias no corpo porque já se fazia tarde. Antes de voltarem
para casa, Luza fala ao Kwame e Shieza:

_ Preciso que me ajudem a fazer algo – Luza.

_ Sim, mas o que queres fazer? – Kwame.

_ Quero matar essas pessoas! – Luza enfurecido.

_ Não é melhor deixar o caso nas mãos da guarda da capital Luza? –


Shieza.

_ Vão me ajudar ou não? – Luza.

_ Está bem, vamos te ajudar a encontrar os responsáveis – Kwame.

Após, Kwame levou Shieza para casa e só assim regressou preocupado com
as intensões do Luza, encontrando o seu pai explicou o que acontecerá. O
Segundo Oráculo se preparava para ir ao encontro de oração da meia-noite
aos deuses juntamente com os outros dois oráculos e alguns conselheiros,
curioso, Kwame pedia ao seu pai que lhe permitisse ir ver como são feitas as
orações da meia-noite mas o seu pedido era negado pelo seu pai, dizia que
não era o momento certo para tal:

_ Qual é o momento certo tata? Terminei o Liceu dos mestres, o que mais
me resta? – Kwame – Tata sabe que quero me tornar conselheiro, acho que
seria bom presenciar já experiencias do género!

_ Tenha paciência, as orações da meia-noite são prática da projeção austral


que requerem muito tempo de adaptação depois que a pessoa ganha
conhecimentos teóricos, precisa preparar o seu corpo mesmo que for só
para ver e o teu corpo ainda não foi preparado – Segundo Oráculos.

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_ E quando começa preparação? – Kwame.

_ Quando fores aprovado para formação dos conselheiros da corte –


Segundo Oráculo – Mas eu esperava que não se metesses na corte, que
fizesses uma outra coisa, esse mundo não é tão bom assim!

_ Trabalharei duro para o deixar bom o suficiente tata – Kwame.

_ (Suspirou) Está bem! – Segundo Oráculo limpando os seus óculos.

Falando assim, saiu para o encontro de oração aos Deuses. Inconformado e


impaciente, Kwame decidiu seguir o seu pai as escondidas ao encontro.
Seguindo em passos finos e estrategicamente o seu pai pela calada da noite
em que a escuridão já cobria grande parte da capital central; Chegou até a
um dos cemitérios da cidade; viu o seu pai e outros a entrarem carregando
um animal aparentemente morto, minutos depois lhes seguiu cuidadosamente
visto que não havia guardas no local. Ao colocar os seus pés dentro do
cemitério, sentiu um choque de realidade com efeito feito flashback, em um
instante parecia estar em uma outra dimensão, o ambiente era totalmente
diferente do habitual como se fosse mais iluminado e mais glorioso, sentia
uma leveza no espirito como se o mesmo pudesse voar sobre aquelas
campas, fora do cemitério era visível ver a escuridão mas por dentro a
escuridão se misturava com a luz produzindo um contraste abstrato a sua
compreensão. Seguindo para frente, viu em volta de uma campa fogo
queimando sobre o animal porco e homens suspensos ao ar com as pernas
cruzadas, olhos fechados, com as cabeças voltadas para cima e mãos em
sinal de oração, era o grupo do seu pai, falavam simultaneamente de modo
constante a expressão “Su-ku-du”. Em questão de segundo, enquanto o fumo
subia aos céus, viu espíritos saindo sobre aquelas campas, eram grandes e
fortes e se juntavam a eles um para cada um deles. O seu espirito estava leve
mas o seu corpo cada vez mais ficava fraco e esgotado, mais um pouco

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desmaiava, então decidiu recuar e voltar para casa antes que caísse e o seu
pai fosse descobrir que o seguiu, ia em direção a porta de saída do cemitério
com dificuldades de andar por estar sem força, ao colocar os pés fora do
mesmo, sentiu um pouco de alívio no corpo e voltou para casa no meio
daquela escuridão. Não conseguia dormir naquela noite pensando no que os
seus olhos chegaram de ver, e assim aumentava o seu entusiasmo para com
os mistérios dos deuses.

Luanda, Órgão Oeste;

A classe dos conselheiros pertencentes ao órgão Oeste, enviou uma


mensagem ao corpo administrativo da região através de sonho; pela manhã,
o assistente do herdeiro se dirigiu até ao gabinete do seu senhor para o
colocar a par dos últimos acontecimentos na capital central. Ao receber a
notícia o herdeiro do Oeste Victor reagiu com desprezo sobre o que ouvira:

_ O Oeste não se importa, aquele velho é fraco e desprezível a morte seria a


sua misericórdia, espero que em vez de se contorcer de dor deve se alegrar
pelo favor dos Deuses – Herdeiro Victor.

_ De momento estão a procura dos responsáveis meu senhor – Augusto,


assistente do Herdeiro Victor, falando com o seu jeito fino e sutil sempre
com a cabeça erguida.

_ Eu espero que ele morra, pela traição ao meu pai e ainda negou a entrada
do nosso representante na ordem dos quatro oráculos, hoje todos outros
órgãos tem um representante na ordem menos nós, até o Sul tem um
representante, isso é uma clara humilhação a nossa região, seja quem o fez,
fez bem! Se ele morre ao menos se abrirá uma vaga para um novo oráculo e

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essa será a nossa oportunidade – Victor falando com um tom de maldade
sarcástica.

_ Meu senhor, não é aconselhável que fale desta jeito porque pode suscitar
desconfianças contra a tua pessoa, levando outros órgãos a pensar que foi o
senhor que encomendou o envenenamento do Grande Oráculo – Augusto.

_ E? Nenhum deles pode alguma coisa contra nós, a economia deste país
depende deste órgão, por alguma razão os Deuses escolheram está região
para abençoar com as riquezas que temos e nada irá mudar isso; então
deixe eles pensarem, o Oeste vive por si e pela sua glória! – Victor.

_ Por outra meu senhor, voltamos a constatar novos roubos da povoação do


Sul na região de Benguela, o que faremos? – Augusto.

_ Manda matar todo sulano que for encontrado a roubar no nosso órgão ou,
busque localizar a tribo Kioku e os pague para se encarregarem deste
assunto, só me faltava essa, ter que se preocupar com os malditos do Sul –
Victor.

_ Senhor, é muito difícil localizar a tribo Kioku pois ninguém conhece seu
órgão ou região até os dias de hoje – Augusto.

Ainda falavam quando a dona Lurdes, senhora de quase sessenta cinco anos
de idade mas com visual de quarenta, esbelta e de pele morena, mãe do
Victor que ao entrar no gabinete interrompeu a conversa e com uma calmaria
disse:

_ Ninguém irá matar ninguém, meu filho – Falava ela caminhando em


direção ao Victor, chegando até ele endireitava o seu traje africano - Para
quem quer dominar precisa saber que precisará ter aliados e não será bom
aos ouvido dos nossos aliados ouvir que atacamos o Sul, podem desconfiar

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da nossa lealdade, por isso ninguém matara ninguém! – Essas ultimas
palavras soaram em tom de seriedade.

_ Mas mãe preciso proteger o meu povo – Victor em tom de respeito para
com a mãe.

_ Irás proteger mas queira antes conquistar, coloca os quatro órgãos


debaixo dos teus pés, retira o poder da capital central e traga para o Oeste,
este será a melhor forma de proteger o teu povo e não batendo em bichos
mortos do Sul – Dona Lurdes.

_ Senhor, ouve a tua mãe, ela está certa no que diz, o que precisamos é
encontrar uma forma de nos estabelecermos não apenas como o órgão mais
rico mas também como o órgão que detém o poder da administração dos
quatro órgãos, retirar essa posição do Leste – Falava Augusto entusiasmado
com a ideia da dona Lurdes.

_ Que isso Augusto, eu sempre ouço os sábios conselhos da minha mãe –


Deu um beijo da testa na dona Lurdes enquanto falava – Obrigado mãe, é
isso que farei, iremos dominar este país – Victor expectante.

Dona Lurdes pede para o Augusto se ausentar do gabinete para dar


continuidade a conversa em privado com o seu filho, o mesmo antes de sair
se despede dos seus senhores fazendo uma vénia e sai do gabinete fechando
a porta. Dona Lurdes toma a palavra e diz meio inquietante:

_ Temos um outro ponto importantíssimo para se preocupar por agora e tu


sabes disto Victor, não podemos nos dar ao luxo de arriscar a perder tudo o
que o teu pai lutou e conquistou;

_ Eu sei mãe, estou a cuidar do assunto, só quero que confies em mim –


Victor relutante.

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_ Filho, estamos a ficar sem tempo, se desta vez falhar, terás de se livrar
desta pedra no nosso sapato e não vou aceitar não como resposta – Dona
Lurdes colocava firmeza nas suas palavras – Na região já se comenta Victor!
– Exclamou.

_ Não fale assim mãe, já disse para confiar, desta vez não falhará! – Victor.

_ Eu temo que isso seja um castigo dos Deuses pelo que aconteceu a vinte e
dois anos atrás – Dona Lurdes com semblante de preocupação.

_ Chega mãe, não há nenhum castigo aqui e por favor tira essas ideias da
tua cabeça, vai ficar tudo bem dona Lurdes, não se preocupe, só confie em
mim! – Victor abraça a mãe ainda falando.

Paula a bela e calma esposa do então herdeiro do órgão Oeste Victor, ao ver
o assistente do seu marido a sair do gabinete, esperou que descesse as
escadas que ficavam no final do corredor da vasta casa para se colocar por de
trás da porta do gabinete a fim de ouvir a conversa do marido com a mãe
sigilosamente para não emitir nenhum som que pudesse despertar atenção
dos dois na sala, após alguns minutos ouvindo a misteriosa conversa, saiu
correndo para o seu quarto em lagrimas. A sua assistente ao ver sua senhora
correndo pelo corredor da casa em direção ao seu quarto, seguiu-a
preocupada sem saber o que acontecera com ela, chegando ao pé do quarto,
encontrou a mesma fechada, chamou pelo nome da sua senhora perguntando
se poderia ajudar, não ouvia nenhuma resposta de dentro do quarto, apenas o
soluçar de choro, preocupa insistia em bater a porta de madeira importada de
cor castanha, essa reação chamou atenção de outros empregados da casa que
se aproximavam perguntando o que estava acontecer, sem querer levantar
mais alaridos, os apaziguava de que nada se passava, que estava
simplesmente a espera que a sua senhora abrisse a porta para lhe passar a sua
medicação pois era chegada a hora; não ouvindo o soluçar que vinha do

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quarto, os mesmos compreenderam e voltaram para os seus afazeres pela
casa. Continuava sem resposta, desta forma sugeriu mesmo por outro lado da
porta, chamar o herdeiro, seu marido Victor; Ouvindo isso, Paula retorquiu
com ordenança para que a Kiesse não fizesse tal coisa, ela concordou em não
fazer pedindo apenas que o explicasse o que estava acontecer e ela respondia
soluçando que nada. No instante chegava ao quarto o Victor, vendo ele o
rosto de preocupação da Kiesse, questionou sobre o porquê do rosto de
preocupação, ela com a cabeça ligeiramente voltada para baixo em sinal de
respeito, simplesmente apontou com a mão direta em direção a porta do
quarto, percebendo que algo não estava bem com a sua esposa, bateu a porta
chamando pelo seu nome, Paula ouvindo a voz do seu marido, decidi abrir a
porta do quarto com os olhos cheios de lagrimas, sem uma previa
compreensão do que estava acontecendo, Victor com um olhar de
preocupação, abraça a sua esposa perguntando o que estava a se passar em
tom de carinho passando a mão sobre os seus longos cabelo; ela apenas
tentava aconchega a sua cabeça no centro do seu peito alto soluçando no seu
abraço que em poucos segundos o acalmava, Kiesse se retira para os deixar a
sós e, entram no quarto. Relutante, Victor volta a perguntar a Paula pelo que
estava a chorar, ela abre o coração e questiona ao seu marido:

_ Porquê a tua mãe fala estas coisas de mim? – Voltava a lagrimar durante
as falas.

_ Do que estás a falar? – Victor meio confuso com a questão.

Paula explica que ouvira por detrás da porta os dois conversando após que o
Augusto seu assistente saiu da sala.

_ Não liga a minha mãe amor, vamos focar a nossa máxima concentração
na criança que está nessa barriga – Victor tentando apaziguar a situação
enquanto passava a mão na barriga da mulher gravida.

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_ Se nesses vinte anos de casamento eu não te dei filhos não foi por falta de
vontade, será que ela não entende isso! – Paula ainda chorando – Porquê ela
tem de achar que as três crianças que nasceram mortas foram porque eu
quis? Já não aguento isso! – Chegava ao limite de aturar humilhação
imposta pela sogra.

_ Deixa o passado se dissipar e se foca no presente, desta vez dará tudo


certo, os Deuses estão ao nosso favor – Victor esperançoso.

_ Mesmo que a criança sobreviver ao parto, se nascer menina será como se


não fizesse nada – Paula.

_ Chega Paula… Chega, porque se torturar com isso? Porquê não esperar
apenas os resultados do teste para saber o sexo da criança? – Victor.

Quando terminava de falar, ouviram o bater da porta do seu quarto,


perguntando de quem se tratava, Augusto responde que o representante de
um dos Oráculos da capital central o guardava para a reunião marcada na
sala das reuniões da casa, respondeu ao seu assistente que iria de seguida.

_ Tenho de ir a reunião, tente descansar querida – Victor beijando-a na testa


e se dirigiu para porta.

_ Espera Victor! – Paula chamou antes que saísse – Me diz, porque nunca
aceitaste casar ou me trair com uma outra mulher que conseguisse te dar o
herdeiro (filho) que o órgão te exige? – Perguntou inquieta.

Já com uma das mãos ao pé da porta do quarto e sem virar para o responder,
disse:

_ A vinte um ano atrás, decidiste sacrificar a tua vida para salvar a de um


estranho, enfrentando um raivoso Chimpanzé na floresta do alto Huambo,
faltava bem pouco para morrer até de repente apareceres e, auferir quatro

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flexas nele, ele voltou se contra ti e o atingiu com um golpe bem na direção
da bexiga, mesmo assim se esforçaste para lhe atingir com a ultima flexa no
meio da testa e cair morto, naquele dia eu estava a morrer pelos golpes mas
ao mesmo tempo me apaixonando pela mulher que sangrava por arriscar a
sua vida por mim, e eu prometi a mim mesmo que se vivesse, iria viver para
proteger, cuidar e amar apenas ela pelo resto da minha vida. E eu vou
manter essa promessa até ao último suspiro! – Respondeu Victor de forma
assertiva e saiu.

Aquelas palavras trouxeram tranquilidade ao seu coração que se dilacerava


de preocupação mas, agora parava para se deleitar na emoção das
declarações do seu marido e ao mesmo tempo sentia a pressão de não falhar
com a presente gravidez, ficou claro pela expressão do seu rosto que faria
todo o possível para que aquela criança nascesse com o sexo masculino e
com vida para salvaguardar a linhagem de governação do órgão Oeste da sua
família.

Parque do Moxico, fronteiros dos órgãos Leste e Sul

No clima frio da região do Moxico, por volta das quatro e trinta minutos
quando o grupo dos novos recruta do conselho da corte se dirigia ao parque
da mesma região para o primeiro teste prático de possessão sobre animais,
eram um grupo de cerca de cinco recruta e o seu conselheiro mestre e
vidente. O parque natural que mais se confundia com floresta por ser coberto
de árvores e possuía um pequeno rio onde poderia facilmente se praticar a
pesca. O local era um campo de caça para os habitantes da região e não só,
até para os vizinhos; o conselho aproveitava a natureza do local para ensinar
aos seus recrutas práticas de possessão aos espíritos dos animais selvagens,
sendo essa uma das práticas bases que um conselheiro deve ter em seu

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domínio (por causa dos inimigos que mandavam animais ferozes atacarem
as pessoas, era uma técnica de defesa). Após uma semana de lições teóricas,
os recrutas estavam prontos a vivenciar a prática, neste mesmo grupo
constavam o Kwame e o seu amigo Luza. Estando ao local, montaram a sua
tendo e o conselheiro mestre os explicou como deveriam proceder para terem
sucesso nesta prática, o desafio acarretava um nível considerável de perigo,
pois para o seu funcionamento precisava se estar frente a frente a um dos
animais; e os recomendou a expressão “In-ku-du” se a possessão falhar e o
animal os atacar, questionavam curiosos sobre o que aconteceria se assim o
fizessem e o mestre simplesmente os dizia para seguir as recomendações que
lhes passava, as explicações seriam dadas após a conclusão do teste; em fim
as recomendações acabavam e a espectativa e ansiedade nos olhos dos
recrutas era grande; segundos depois, cada um foi em sua direção para
encontrar o animal favorável para praticar o novo truque. Kwame em sua
direção, encontrou um pássaro Rouxinol parado sobre o tronco de uma das
árvores do parque, via ali a sua oportunidade, concentrou o seu espirito e
com um olhar fixo ao pássaro, rapidamente empunhou o seu braço direito
para frente e com o gesto com as mãos de agarrar algo ao vazio a fim de
concentrar o espirito do pássaro no fechar das suas mãos, o Rouxinol assusta
e voa, desperdiçando uma boa oportunidade de possessão a um animal
inofensivo, pensou consigo mesmo:

_ Que oportunidade perdida, usei muita força ao empunhar o meu braço,


para próxima terei de ser bem mais discreto;

Continuou caminhando em passos lentos e revirando os olhos de um lado ao


outro buscando por um novo animal que fosse indefeso, já percorrendo uma
distância considerável enquanto o nascer do sol anunciava o período das
cinco horas da manhã, sem se aperceber foi apunhalado pelas costas por
pontapé e caiu sobre a chão, ao tentar se levantar sentiu o apontar de algo

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afiado em seu pescoço por trás e com um português como de alguém que
tem a língua pesado o questionará:

_ Antes de morrer, me diz quem és e o que fazes por aqui a uma hora
dessas? – Kwame era questionado em tom misterioso que o mantinha ao
chão.

_ Antes de morrer, me deixa pelo menos me levantar e te olhar nos olhos –


Respondeu Kwame apreensivo.

_ Bem, te darei esse prazer, levante-se para cair – Retirava a sua pontaria ao
pescoço do Kwame.

Levantando, virou para estar de frente de quem o apunhalou e como


suspeitava, era uma linda jovem de cabelos cacheados guerreira da tribo dos
Kioku, famosa tribo de meliantes, em seu traje tapava apenas as mamas e
usava saia feita de palitos; tentou se conter para não transparecer o pouco de
medo que nascia em seu interior e disse:

_ Sou recruta da corte e… – Falava de forma a se impor pela sua posição


mas foi interrompido pela jovem caçadora que retorquiu.

_ Então você é um herege, parte do bando daqueles que minimizam os


deuses em seu favor, malditos hereges! – Falava tomando a posição de uma
guerreira pronta a lutar - Até a pouco tinha apenas um mero desejo mas
agora sei que é uma obrigação minha te matar - Falou de forma assertiva.

Ela se aprontava para atacar, Kwame estava com os seus olhos fixo em seu
pescoço vendo o fio que ela usava e aquilo mexeu com ele e lhe questionou
sem se importar com a atitude dela de querer o atacar:

_ Onde tiraste esse fio que esta em seu pescoço? Onde encontraste esse
pingente? – Questionava Kwame espantado e apontando no pingente dela.

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Ao ver que apontava o dedo sobre o seu fio, admirada com aquela atitude,
deu-lhe uma chapada na mão para impedir que apontasse o mesmo sobre o
seu fio.

_ O que você pensa que esta a fazer, agora vais morrer – Ergue a sua catana
para o ferir, quando ouve uma voz atrás dela e para.

Luza aparecia naquele momento crucial em que a caçadora estava para


golpear o seu amigo e com uma adaga de caça ele diz:

_ Na na ni na não, você não irá matar ninguém aqui, não pense que nós
somos iguais aqueles povos que vocês estão acostumados a fazer “Nkusi”
(sacrifício humano aos Deuses) – Falava de forma assertiva – Agora coloca
essa catana no chão – Ordenou com a cara trancada, chamou o Kwame para
o seu lado e ele foi apanhou a catana da guerreira.

_ Vocês não sabem com quem estão a lidar – Falou de forma sarcástica com
um pequeno sorriso repleto de maldade – Vejam o que acontece! – Gritou
“Kioku” certa de três vezes.

_ Cala a boca sua selvagem, se não morrerás agora – Luza irritado.

_ Não faz isso, esse não é tipo de comportamento que nos caracteriza –
Kwame tentando impedir o Luza de atacar a caçadora.

_ Não me interessa qual seja o comportamento que nos caracteriza, eles já


fizeram jorrar muito sangue sobre está terra, nos acham de hereges, se eu
lhe matar ninguém irá se importar – Luza com seu porte forte olhava fixo
para os olhos da caçadora.

_ Isso só atrairia mais guerra contra nosso órgão, se acalma! – Kwame.

Um grupo de três membros da tribo Kioku chegava ao local depois do sinal


de socorro que ouviram por parte da guerreira, vendo o que estava acontecer

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se colocaram a frente dela e erguendo as suas armas de caça que envolviam
catanas e adagas de caça;

_ Ilume, não me diga que esses insetos tentaram colocar as mãos em ti? –
Falava o líder daquele grupo que chegará olhando fixo para os dois amigos
que deram um passo para trás.

_ O que está com a minha catana até tentou mas como sabes, respondi a
altura – Ilume.

_ Ouh! Então ela se chama Ilume, deixa vos dizer algo, nós somos recrutas
do conselho, pelos truques que soubemos podemos vos matar em um estalar
de dedos e não pensem que estamos sozinhos não – Luza falando e olhava
para o líder deles que tinha uma deficiente da perta direita.

_ Vamos acabar com eles de uma vez Ikuke – Disse um dos guerreiros ao
líder do seu grupo.

_ Gostei desse aí (apontando para o Luza) é engraçado, bom para ele pelo
menos agora poderá contar essa piada aos deuses mortos quando se tornar
num Nkusi, ele me olha pensando que a minha perna é obstáculo para mim,
gosto disto! – Ikuke.

Ouviu-se som de um animal selvagem entre as árvores, apreensivos olharam


todos de um lado ao outro buscando a direção do som, logo saiu saltando um
cervo sobre as árvores e foi em direção a Ilume golpeando ela com os seus
chifres, Kwame rapidamente lança o seu braço direito em concentração do
seu espirito e com o gesto de fechar as suas mãos prende ação do animal
através do truque de possessão, surpreso pelo funcionamento repentino do
seu truque mas, não era o único que entrará em transe momentânea pelo que
havia se manifestado; o animal estava paralisado, Ikuke lança um golpe com
a sua catana na cabeça do animal que de seguida cai e volta a golpear pelo

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pescoço cortando-o e morre. A Ilume estava caída ao chão ferida na parte
esquerda da costas pelo cifres do cervo, outro membro foi ver como ela
estava;

_ Viram o que provocaram? Vão pagar com as vossas vidas – Ikuke irado.

_ Não há tempo Ikuke, a Ilume está perder muito sangue, temos que ir
agora! – Outro dos guerreiros.

_ Vocês são sortudos - Falava Ikuke para os dois amigos – Vamos, você leva
a Ilume e tu Iky trás esse cervo, vamos voltar para casa – Carregando as
suas coisas foram se embora desaparecendo entre as árvores.

Os dois amigos revistavam a área após o sucedido para se ter a certeza de


que haviam mesmo ido embora;

_ Parece que foram mesmo embora – Kwame falando aliviado – Viste como
usei o truque? – Com sentimento de entusiasmo.

_ Não entendi o porque que usaste o truque justamente naquele momento,


porque não deixaste ela ser atacada e morrer, eles queriam nos matar,
sinceramente Kwame – Luza chateado.

_ Não sei explicar o que aconteceu comigo, apenas sei que foi uma ação
repentina, ela me pareceu estranha – Kwame

_ Eu odeio esse povo, se a aldeia deles fosse conhecida, eu iria lá para


matar um bom número do pessoal deles tal como eles matam os outros –
Luza.

Chegavam os outros recrutas ao encontro deles, juntamento com o seu


conselheiro mestre, lhes informaram que conseguiram os encontrar pela
visão espiritual do seu mestre que viu o perigo se aproximando, os dois

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amigos os colocaram a par de tudo o que aconteceu, tendo cada um realizado
a sua experiencia voltaram para tenda.

_ Então conselheiro mestre, pode nos explicar da expressão “Su-ku-du”, o


que é? – Luza.

_ É uma expressão de alerta de ajuda que aprenderão a usar com o tempo,


“Su-ku-du” é uma entidade espiritual intermediário entre deuses e os
homens espiritualistas, se usassem a expressão eu saberia que usaram e iria
invocar o “Su-ku-du” para os defender – Conselheiro mestre.

_ Porque não podemos invocar nós mesmos? – Kwame.

_ Passo por passo, vosso espiritual ainda não está preparado para tamanha
divindade, isso vos deixaria fracos e alguns poderiam morrer por seus
corpos não suportarem a presença da entidade – Mestre.

_ E porque não se usa os poderes da entidade para descobrir quem


envenenou o meu pai? – Luza.

_ Foi uma decisão da corte não usar a entidade para esses fins, alguém
poderia querer tirar proveito para fins pessoais – Mestre – Até porque não
somos nós que usamos as entidades, são elas que nos usam!

_ Será que essa entidade tem a ver com a profecia secreta do segredo dos
deuses? Será que esse segredo existe mesmo ou é só mito mestre? – Landu
outro recruta, os outros se apegaram a essa questão por ser a dúvida da
maioria.

_ Não é para se preocupar com esses detalhes agora, só foquem no vosso


treinamento – Mestre – Este conhecimento não é para vocês!

Terminado a explicação, desmontavam a tenda desejando entre si conhecer


experimentar mais atividades espirituais, uma pulga por trás da orelha havia

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restado por conta do mistério em torno do rolo sagrado dos deuses a respeito
do seu segredo e, aguardavam ansiosamente para atingir o nível necessário
para invocar o poder da entidade “Su-ku-du”. Kwame por sua vez, guardava
a sua experiencia do cemitério sem partilhar com ninguém e mais que
qualquer outro no grupo era o que chegará perto de ver uma pequena parte
desse poder em ação. E assim regressaram para a capital central.

Templo dos Oráculos;

O grande oráculo continuava com o seu estado grave de saúde, e uma outra
reunião com número limitado de conselheiro fora convocado para se decidir
algumas diretrizes dos órgãos principalmente a do órgão Leste, capital dos
órgãos. Com a ausência do primeiro oráculo, o Grande Oráculo; o Segundo
Oráculo se tornará líder do conselho da corte, seguido pelo Terceiro e o
Quarto Oráculo. A ordem dos oráculos era composta de integrantes de várias
regiões, sendo o Grande Oráculo de origem Leste, Segundo Oráculo de
origem Norte, Terceiro Oráculo de origem Sul e o Quarto que pertencia
também ao Leste. O órgão Oeste era o único sem representante na ordem dos
oráculos. Chegando a sala das reuniões, os oráculos e uma classe limitada
dos conselheiros se assentaram e o Segundo Oráculo tomou a palavra para
dar o início a reunião, o primeiro ponto abordado fora sobre o
envenenamento do seu líder e o responsável pelo envenenamento até a dada
altura continuava um mistério em torno do conselho, investigadores do
conselho trabalhavam para que o responsável fosse encontrado o mais cedo
possível antes que o assunto se tornasse viral pelas regiões do país e levasse
o conselho a ser chamado de incompetente por não conseguir resolver o
caso.

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_ Se não encontrarmos o responsável nos próximos dias, a situação poderá
piorar para o conselho pela pressão do povo, alguns falaram da tribo Kioku
mas nós soubemos que essa não é a prática deles – Segundo Oráculo Nzau.

_ Eu reitero que o responsável deste acto deve pertencer a corte, tem de se


investigar também os membros da corte – Terceiro Oráculo Sassou.

_ Acho justo a afirmação do Terceiro Oráculo – Classe dos conselheiros.

_ Levaremos esse ponto em consideração, investigaremos – Conselheiro


chefe dos investigadores – Nas próximas semanas poderemos apresentar já
o ou os responsáveis.

_ Esperamos que assim seja – Terceiro Oráculo.

_ Segundo oráculo, se especula por aí na corte que o Grande Oráculo foi


envenenado por pessoas que tem influências internacional, potências
mundiais querem colocar as mãos sobre os recursos do país e o nosso líder
tem se constituído como impedimento, verdade? – Classe dos conselheiros.

_ Não pelo que soubemos, então é apenas mito – Segundo Oráculo.

_ Há quem diz que por ser o único guardião do Rolo dos segredos dos
Deuses por isso tentam o eliminar – Classe dos conselheiros.

_ A hora é para focarmos em encontrar formas para curar o nosso Oráculo


e não de ouvir qualquer coisa por aí, vamos manter o nosso foco no
importante – Segundo oráculo.

_ Mas esses detalhes são importantes, daí podemos basear as nossas


investigações – Terceiro oráculo – Porque se o Grande Oráculo morre, tu
serás o nosso Grande Oráculo, tens de passar a dar ouvidos a esses
detalhes.

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_ Lá isso é verdade Oráculo Nzau – Classe dos conselheiros.

_ Que os deuses não te ouçam Sassou, a nossa prioridade por agora é na


recuperação do nosso líder mas passarei a dar ouvidos aos detalhes –
Segundo oráculo.

Continuava o debate a cerca do estado de saúde do Grande Oráculo, os


pensamentos giravam em torno da cura que até agora ainda não havia sido
encontrado e, pela perigosidade das folhas do Arem da região Norte,
começava-se a pensar no pior. Pela lei de sucessão, se morre o primeiro
oráculo automaticamente a liderança dos órgãos passa para o segundo
oráculo e o terceiro oráculo passa a se tornar no segundo e o quarto o
terceiro, para eleição de um novo quarto oráculo, a ordem dos oráculos vai a
votação pelo qual membro da classe dos conselheiros tornar em seu quarto
oráculo, sendo o voto do Grande Oráculo valendo por dois.

A reunião terminava, Sassou convidou o seu homólogo Nzau para almoçar e


fazer os acertos do alambamento visto que a sua filha Shieza era prometida
do seu filho Kwame.

Aldeia Desconhecida;

A aldeia dos Kioku ganhou o nome popular de desconhecida por ser uma
aldeia fantasma (somente os membros sabiam da sua localização).
Acordavam após a continuação da festa de nascimento do terceiro filho do
seu líder, foi uma festa para não esquecer por anos. Depois de cerca de vinte
anos mais um filho do rei nascia; dois dias de festa se passaram, era altura de
voltar a caça e a militância, um grupo fora enviado nas regiões da fronteira
da Zâmbia e para uma pequena caça, cerca de cinco membros foram
enviados para o parque do Moxico.

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O grupo enviado a fronteira da Zâmbia trouxe as relíquias capturadas durante
o assalto aos Zambianos, a seu ritmo de batalha ao som de batuques
realizando o Nkusi com aqueles que atravessavam o seu caminho; o grupo
que foi liderado pela Ikwana, segunda esposa do rei Igwe apresentou o que
trouxeram na tenda do testemunho. O rei parabénizou a sua amada esposa
pela valentia que sempre demostra em suas missões; estavam na tenda, o rei
e o seu grupo de braços direitos, a sua primeira mulher Ilela (que deu a luz
ao terceiro filho do rei) e a Ikwana e o seu grupo que acabara de chegar da
fronteira. O rei se assentava na sua enorme cadeira em volta da sua guarda
segurando o seu cajado, ao lado direito estava sentada a sua primeira esposa
e com a cadeira vazia na esquerda que é o lugar da segunda esposa que de
momento se encontrava a sua frente em linha reta com outros do grupo
apresentando o que acabavam de trazer. Enquanto ainda estavam pela tenda,
veio a correr um dos guerreiros da guarda pedindo licença para poder falar,
tendo a licença disse ao rei que o segundo grupo havia chegado mas a sua
filha Ilume estava ferida e fora levada a tenda de tratamentos, espantado, o
rei sai de sua cadeira e vai em direção a tenda do tratamento juntamente das
suas esposas e alguns guerreiros da guarda, ao chegar, encontrou outro do
seu filho Ikuke ao pé da cama onde a Ilume se encontrava inconsciente. A
mãe da Ilume a Ikwana, ficou grudada a sua filha questionando ao Ikuke
sobre o que acontecera com ela, o rei Igwe apenas mexia a cabeça olhando
para Ikuke em sinal de desapontamento, a Kanza da tribo os informou que
ela ficaria bem, que se encontrava inconsciente por perder muito sangue mas
que recuperaria em pouco tempo, por causa das planta dos deuses.

Depois de cerca de vinte minutos naquela tenda, saíram deixando ela


descansar e voltaram para a tenda do testemunho com o restante do grupo
liderado pelo Ikuke. Colocando eles em uma linha reta em sua frente, o rei os
repreendia pelo acidente que provocou os ferimentos a Ilume;

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_ Ikuke, porquê permitiu que a Ilume fosse atacada? – Rei Igwe
desapontado.

_ Eu fiz o que pude tata, ela foi cercada por um bando de recrutas do
conselho dos hereges, cheguei lá a tempo de poder lhe tirar do cerco foi aí
que o animal nos atacou mas eu o matei a tempo – Ikuke.

_ Foste lento, não lhe mataste a tempo, se matasses a tempo a tua irmã não
estaria agora inconsciente naquela cama – Rei Igwe furioso.

_ Ela é minha irmã por mais que não é da mesma mãe mas é minha irmã e,
eu daria a minha vida para a defender, eu fiz o que pude tata – Ikuke
começava a sentir indignado com a reação do pai.

_ Dá para ver que fizeste o que podias! – Falava olhando para a sua
deficiência na perna direita – Não sei o que será deste povo quando fores o
rei deles com esse discurso – Rei Igwe.

Ikuke percebe que o seu pai o julgava pela sua deficiência que o dificultava
de ser muito mais ágil nas lutas, encheu-se o seu coração de odio pela
naquela atitude que se manifestava apenas com olhar fixo e cara trancada em
sinal de nervos enquanto ouvia a repreensão do pai.

_ Meu rei, ele é teu filho! – Ilela mãe do Ikuke.

_ Ele precisa estar preparado pela verdade se quer ser um rei – Respondia a
sua esposa Ilela – Estão dispensados, podem sair – Rei Igwe.

O grupo saiu da tenda de testemunho e o Ikuke se dirigiu para sua tenda de


repouso.

_ Meu rei ele deu o seu melhor para proteger a irmã – Ikwana

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_ Isso já não importa agora – Rei Igwe – Quero é saber como esses hereges
tiveram a coragem de colocar as mãos na minha filha, aquelas mãos sujas
pela sua prepotência aos Deuses, vão se arrepender! – Rei Igwe.

_ Já está mais que na hora de voltar a mostrar o nosso poder de fogo ao


Leste meu rei – Braço direito do rei.

_ Parece que estão a se esquecer do que fizemos em 1976, mas eu garanto,


desta vez quando atacarmos será muito pior, eles se lembrarão para sempre
o quanto custa colocar as mãos em um dos filhos do rei – Rei Igwe
determinado.

_ Traçaremos um plano de ataque meu rei, faremos esse país voltar a falar
de nós por mais anos! – Braço direito do rei.

O rei estava determinado a voltar atacar a capital central, o sentimento que


pairava ao ar era de um rancor incubado que encontrou um buraco pelo
ferimento da Ilume para se manifestar; por anos a tribo dos Kioku
estabeleceu uma rivalidade a corte dos oráculos pela forma como
doutrinaram os deuses para o seu próprio benefício, limitando a essência dos
mesmos a seus caprichos, são conhecidos como hereges nesta região e como
hereges, deviam morrer pelos Kioku. Com a estatura amedrontador por
possuir 1,95 metros de altura era o suficiente para intimidar adversários e
realmente o rei era temido pelos órgãos. Após ao encontro na tenda do
testemunho, a Ilela foi ao encontro do seu filho na sua tenda de repouso,
encontrando ele sentado ao pé de sua cama de madeira com semblante
cabisbaixo;

_ Como estás filhos? – Ilela.

_ Porquê ele me odeia mãe? – Ikuke.

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_ Não querido, ele apenas tem uma forma diferente de mostrar os seus
sentimentos – Ilela.

_ Eu me esforço ao máximo, faço tudo para lhe agradar mas nunca é


suficiente, sempre tem uma crítica na ponta da língua para mim – Ikuke.

_ Espero que isso te torne mais forte a fim de provar o seu real valor, se
tornando no líder que ele quer, impunha o teu valor! – Ilela.

_ Nunca foi problema de imposição, ele me despreza por essa deficiência –


Com lagrimas - Mas sabe mãe, essa foi a ultima vez que o tata me humilha,
eu nunca mais vou me submeter a isso, nunca mais mãe – Falava raivoso
enquanto limpava as lagrimas.

_ Olhe para mim – Falava se aproximando do Ikuke - O jeito como você se


vê se refletirá na visão dos outros, então pare de se ver como um deficiente e
passe a refletir a imagem de um futuro rei em que todos se dobrarão, faça
algo que impacte a todos! – Ilela pragmática.

_ Fazer algo que impacte a todos! – Ikuke – Obrigado mãe, já sei o que
fazer.

A noite chegava para a aldeia desconhecida, as orações da noite eram


realizadas como de costume com todos da tribo em volta de uma fogueira
feita para os deuses em forma de agradecimento pela caça e pelas relíquias
conquistada nas mãos daqueles que são vistos como impuros, com canções
em ritmo de batuques e dança retribuíam as bênçãos em forma de adoração,
a celebração duravam até a meia-noite quando cada um recaia sobre a sua
tenda de repouso. Pela manha a aldeia despertava sobre a boa noticia de que
a filha da rei havia recuperado a consciência e já falava, a segunda esposa do
rei e mãe da Ilume, que passou a noite ao pé da cama de sua filha
inconsciente, estava visualmente feliz pelos deuses cuidarem da saúde da sua

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única filha, nas primeiras impressões tentavam o alimentar para fortalecer o
seu corpo, quando o rei entrou na tenda, adorou os deuses pela recuperação
da mesma e prometeu um banquete no final do dia para comemorar a
recuperação da Ilume. Membros importante da tribo iam visitar a princesa da
aldeia, o seu meio irmão Ikuke também foi, quando Ilume o viu lhe
agradeceu por ter a protegido apesar de sair ferida da situação, Ikuke
agradeceu aos deuses e também saiu da tenda. Restando apenas com a sua
mãe, lembrou de um dos episódios que aconteceu no parque do Moxico e
comentou com a mãe:

_ Mama, um dos homens dos que encontramos no parque me questionava


insistentemente sobre o meu fio, parecia muito interessado em saber onde
arranjei o mesmo – Ilume falava pegando no fio.

_ Porquê? Logo na região Leste! – Ikwana.

_ Foi meio estranho, parecia alguém que estava a revindicar algo que o
pertencia mama, sendo que esse fio é algo único – Ilume.

_ Como era ele? – Questionou Ikwana.

_ Jovem e alto, parece ser da mesma faixa etária do Ikuke e o que estava
com ele lhe chamou pelo nome se não me engano começa com K mas
esqueci! – Ilume.

_ Alguém com inicial K! – Ikwana pensando.

_ Sim, porque estas assim, conheces? – Ilume.

_ Eu? Não, não vou a capital central faz muitos anos como conhecer? –
Ikwana.

_ Por alguns instantes pensei que mais alguém carregasse o fio do meu avô -
Ilume.

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_ Esse fio só existe um que é esse que carregas no pescoço, relíquia pura
filha – Ikwana.

_ Cheguei de me sentir a mais especial do mundo mama! (risos) – Ilume.

O pequeno incidente do parque gerou a retenção nas reflecções da Ikwana,


questionando-se da possibilidade dos seus pensamentos serem real, e assim
foi durante o dia todo.

As horas passavam rápido, não tardou veio a noite; o banquete estava


servido em comemoração da recuperação da filha do rei, a maneira de
celebração da tribo Kioku com música, danças, batuques e uma fogueira
gigantesca no meio da aldeia iluminando toda ela, mesas de carne grelhado e
outros pratos original da tribo. O rei dançava com o seu povo, a Ilume
acompanhava em passos lentos o ritmo rápido dos batuques no meio da roda
com o seu pai; com semblante distante da festa estava a Ikwana, que ainda se
perdia pensando no que a filha lhe contara mais cedo sobre o parque, na
outra extremidade da mesa estava o Ikuke, que com o semblante serio não
aceitava as investidas das lindas moças da sua tribo para uma dança, apenas
fixava o seu olhar nos passos alegres do seu pai naquela noite; Ilela por sua
vez estava com o seu recém-nascido ao colo mas preocupada com o
semblante do seu primogénito que nem ao menos comia na celebração do
banquete em alusivo a recuperação da meia-irmã. A noite acompanhava a
festa para o seu término mas antes que findasse, ainda havia muito para se
celebrar, cansado de estar na roda de dança, o rei decidi sair por minutos e se
dirige ao quarto de banho, já com o estímulo da famosa bebida Maruvu
caminhava liberando pequenas gargalhadas nos passos curvilíneos;
Terminando a necessidade menor ao se virar se depara com o Ikuke, com a
sua voz influenciada pelo estimulo da bebida, o rei questionava ao seu filho
do porque não se fazia presente na roda de dança em um dia como aquele
mas o mesmo apenas o fixava um olhar raivoso contra o seu rei, ao tentar
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passar, Ikuke barrava o caminho para o seu pai, ao questionar o que estava a
fazer, Ikuke responde:

_ Hoje mostrarei ao senhor do que sou capaz de fazer – Falava raivoso.

_ Do que estas a falar? – Rei Igwe estimulado.

_ Porque que nunca gostaste de mim, eu sou teu filho, porque me desprezar?
É por causa da minha deficiência? O tata acha que eu escolhi nascer assim
ham? – Ikuke.

_ Não tenho tempo de falar sobre isso agora, vamos terminar a festa – Rei
Igwe.

_ Nunca tens tempo para mim, nunca houve festas para mim, eu me pergunto
se és realmente alguma coisa para mim! – Ikuke.

_ Baixa essa sua voz enquanto estiveres a falar com o seu rei e sai da minha
frente agora! Ainda te falta muito para aprender. – Rei Igwe.

_ Hoje será a ultima vez que o senhor falará assim comigo, a ultima vez –
Ikuke falava enquanto tirava da sua cintura uma adaga de caça aproveitando
os cânticos altos da festa.

_ Perdeste o medo seu imprudente? – Rei Igwe

_ Sim, finalmente perdi – Ikuke golpeia o seu pai com adaga de caça no meio
do peito, com o estimulo o rei não conseguia responder o golpe a altura e cai
ao chão, naquele momento de tenção, o rei tentando se defender da adaga
para não perfurar mais fundo, o Ikuke retira da sua cintura uma outra adaga
de caça e executa um novo golpe na barriga do seu pai, já sem força por
conta das duas facadas, tentava falar enquanto o seu filho ainda fazia pressão
com as adagas, com sangue se espalhando o Ikuke coloca-se de pé em frente
do seu pai e o rei diz:

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_ O que fizeste seu tolo, achas que assim se tornaras rei em meu lugar? –
Falava de forma fumegante.

_ E quem disse que quero ser rei? Eu sairei da aldeia mas todos saberão que
fui eu quem matou o grande Igwe – Ikuke pragmático.

_ Você nunca será grande! – Rei Igwe em suas últimas palavras.

_ Como não? Se serei lembrado por esse ato grandioso – Ikuke – Agora se
preocupe apenas em morrer tata.

Ikuke lavou as mãos por causa do sangue grudado, logo depois saiu do
quarto de banho de forma discreta, se dirigiu até a sua mãe que estava
sentada na mesa central do banquete e o beija na testa dizendo que iria ir
dormir e em seguida vai até a sua irmã que se encontrava no meio na roda de
dança e também o beijou na testa dizendo que iria se deitar, saiu do local
enquanto a festa continuava, foi a sua tenda de repouso e pegando as suas
coisas fugiu da aldeia sem que alguém se apercebesse. A guarda guerreira ao
notar a demora do seu rei no quarto de banho, vão averiguar e, ao chegar,
chamavam pelo seu rei e não respondia, arrombando a porta o encontraram
deitado sangrando, rapidamente chamaram os Kanza da aldeia e os membros
braços direitos do rei, o que parecia um dia normal de celebração se tornara
em um dia triste para os Kioku, parou a festa, as danças e os batuques, todos
queriam ver o rei caído pelo chão, as esposas e a filha choravam de
desespero pelo que viam, alguns se questionavam quem poderia ter feito tal
atrocidade, um dos braços direitos do rei ao verificar as adagas, notou que as
mesmas pertenciam ao seu filho Ikuke, buscando por ele na sua tenda não o
encontraram, o procuraram em toda parte da aldeia e sem sucesso,
concluíram que Ikuke era o responsável deste ato contra o rei. Naquela
mesma noite, o conselho da tribo formou um grupo de emergência para caçar

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Ikuke e traze-lo de volta a aldeia. O rei era socorrido com urgência pelos
Kanzas

Órgão Oeste;

O palácio principal do órgão Oeste, se abalava ao descobrir o resultado sobre


o sexo da criança ainda na barriga, tudo apontava para uma menina, para o
desespero do conselho do herdeiro Victor. Paula era consolada pelo seu
marido que de coração partido se esforçava para assumir o papel de parceiro
protetor, dona Lurdes, pressionava o seu filho para que rapidamente
encontrasse uma outra mulher no órgão que conseguisse gerar para ele um
filho que salvaguardasse a linhagem de governação da região Oeste, pois nas
leis daquela região, a linhagem de governação dura enquanto a família do
herdeiro governador ter um herdeiro com quem pode deixar a governação do
órgão se o titular do poder vier a morrer ou estar impossibilitado de
governar, caso não tenha um herdeiro, a governação do órgão passa para
uma outra família. Convocando o filho para uma reunião no gabinete, ela
disse:

_ Tenho sido muito paciente com a tua mulher mas já chega, a vinte anos
que ela não consegue te dar um filho, essa mulher nunca serviu para ti, é
hora de procurar outra Victor! – Dona Lurdes impaciente.

_ Eu não quero outra, mãe, eu escolhi ela e será ela sempre! – Victor.

_ Não acredito que estas a me dizer isto, querer arriscar tudo o que o teu
pai construiu por causa dela? Que tipo de filho é você? – Dona Lurdes
alterada com atitude do Victor – Teu pai não construiu este órgão para que
uma outra família desfrutasse de sua governação, não vou permitir que o
nosso sacrifício seja diminuído a zero, não vou!

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_ Eu nunca permitirei que a governação do nosso órgão passe para uma
outra família – Victor assertivo.

_ Então faça alguma coisa Victor! – Dona Lurdes.

_ Estou a fazer! – Dizia Victor pragmático – Pedi ao Augusto que voltasse a


investigar o paradeiro da Nora, se ainda estiver viva irei recuperar o meu
filho.

_ Nora? – Dona Lurdes espantada – Não se ouve falar dela a mais de vinte
anos, achas que lhe encontraras agora? Nem sabes se está viva ou não!

_ Semanas atrás sonhei com ela, vi ela segurando o nosso filho e isso era lá
no Leste, e eu recebi este sonho como mensagem dos deuses e eu irei atrás
dela – Victor.

_ Isso é muita alucinação Victor – Dona Lurdes.

_ Não é mãe, eu sinto que não. E a mãe melhor que ninguém sabe como os
meus sonhos são muito realistas – Victor.

_ Sei sim, então só foi bom falharmos em matar ela e o filho no passado,
hoje parece ser a nossa solução; mas o que faremos se o conselho local
descobrir que tiveste um filho com uma mulher que não pertence ao Oeste?
– Dona Lurdes.

_ O conselho não precisa saber e, apenas a criança me importa, ela


podemos matar – Victor.

_ Ele não é mais uma criança, se estiver vivo hoje deverá estar com vinte e
dois anos, que torna a situação complicada – Dona Lurdes.

_ Não mãe, ele com certeza ficará feliz em saber que o seu pai é o herdeiro
do Oeste e virá a nós sem pensar duas vezes – Victor.

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_ O que diras para tua mulher? – Dona Lurdes.

_ A verdade, não há outra coisa a dizer! – Victor.

Dona Lurdes fica um pouco indignada pela entrega do seu filho a sua
mulher, temendo ela que esse sentimento que ele nutre por ela possa um dia
vir a lhe levar a cometer erros que possam destruir não apenas a sua vida mas
como o reinado que eles construíram ao longo dos anos. Estando eles ainda
no gabinete do Victor, chegava o Augusto o assistente do herdeiro, trazendo
as ultima informações sobre sua pesquisa pelo filho desaparecido do herdeiro
Victor, que ao entrar na sala com a permissão do seu senhor, informou
dizendo:

_ Meu senhor e minha senhora, o nosso aliado do órgão Leste o Oráculo,


informou através do sonho que tem informações precisas sobre o seu filho,
que no momento certo o dirá! – Augusto.

_ Muito bom saber disto, temos meio caminho andado – Victor.

_ Uau vejo que tens tudo sobre o controlo meu filho – Dona Lurdes.

_ Eu te disse mãe, deixa comigo! – Victor pragmático – Estabelecer a


parceria com o Oráculo é o meu grande triunfo para alcançar a governação
dos quatros órgãos e quando isso acontecer, colocarei as mãos no Segredo
secreto dos Deuses, para honrar a memória do meu pai – Com um olhar
ambicioso – Augustos enquanto aguardamos pelo sinal, vai preparando o
exército, está chegar a hora da glória do Oeste, somente o Oeste (esse
ultima parte foi respondida pelos três)!

Traçavam estratégias para conquista da governação dos quatro órgãos, com a


mais recente parceria firmada com um dos quatro líderes da corte, os seus
ideais começavam a ganhar forma e estrutura.

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Paula se encontrava acompanhada sentada sobre um dos assentos do parque
do palácio pela sua serva Kiesse, ela o tinha como uma amiga e, abria o seu
coração a ela contando sobre a sua frustração por mais uma vez falhar em
dar um filho ao seu marido para salvaguardar a linhagem da governação.
Kiesse vendo sua senhora sofrendo e colocando a sua saúde em perigo, lhe
sugere visitar um mestre Kanza oculto especialista em gestação, natural do
órgão Norte mas vivendo na região do Bengo órgão Oeste, o mestre era
famoso na classe de mulheres com múltiplos problemas voltadas a gestação,
por outra temido por usar o poder oculto nos seus tratamentos, algumas
mulheres consideravam muito perigosos os seus métodos. Kiesse explicava
as condições que conhecia que as clientes eram submetidas pois acreditava
que o mestre Kanza poderia mudar o sexo da criança mesmo com oito meses
de gestação usando os métodos e poderes ocultos. Ouvindo a informação,
Paula não poderia acreditar mas ao mesmo tempo no seu coração e no seu
rosto era possível notar alegria e entusiasmo de ouvir uma notícia destas que
muito esperou, estava disposta a tudo que o levasse a troca do sexo da
criança, questionada sobre o que diria ao seu marido, respondeu:

_ Lhe direi que irei contigo para Benguela ficar uma semana fora para
esfriar a cabeça depois dos últimos acontecimentos que envolveram a
gravidez, ele vai compreender e me deixar ir – Paula.

Combinaram assim partir em dois dias para o Bengo a fim de consultar o


Kanza e saber sobre o tratamento da troca de sexo da criança. Quando fora
ter com o seu marido, explicou estar muito deprimida e que precisaria de
ficar alguns dias fora para esfriar a cabeça e se preparar psicologicamente
para o parto, Victor insistia em ir acompanhar mas ela negava, dizendo que
como herdeiro não deveria se ausentar deste jeito. Depois de muitas
explicações, Victor cede deixando ela ir com a sua serva para uma semana
para esfriar a cabeça. Por outra via, Victor achou melhor esperar a sua esposa

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dar a luz para poder lhe colocar a par de toda história em volta do seu
desaparecido filho, para assim remover o fardo psicológico que ela carrega
por não conseguir dar um filho como o órgão exige.

Capital central, Órgão Leste;

Em casa estava Kwame e seu pai, o segundo Oráculo. Kwame aproveitou a


oportunidade para questionar sobre o fio que carregava deste criança que
segundo seu pai fora deixado pela sua mãe antes da mesma morrer. A
questão surgia da inquietação por se depara com alguém que possuía um fio
idêntico ao seu, espantado, o Oráculo que aparentemente não sabia como
explicar, mais ao saber que o fio pertencia a uma Kioku. Na sua mente,
pairava a possibilidade que o mesmo não queria dar asas de maneira
nenhuma por achar estar fora da cogitação. Então, lhe restava apenas negar a
possibilidade dos fios serem idêntico mas Kwame insistia na semelhança dos
objetos, seu pai lhe apresentava a probabilidade de ter-se deixado levar pela
emoção de deparar com um objeto que lembra a mãe, defendia dizendo que o
que ele carregava era o único existente. Estas palavras chegaram de baralhar
um pouco a mente de Kwame, que agora parava para pensar se estava
enganado ou não, “o Luza também viu e achou a mesma coisa” retorquia
Kwame ao seu pai, dizendo que ela poderia ser uma prima. O pai continuava
a dizer para esquecer a história;

_ A tua mãe não tinha irmãos, depois que ela morreu, isso dois meses após o
teu nascimento esperei que algum familiar dela viesse e ninguém veio, foi
por essa razão que te trouxe comigo para o Leste por não existir mais nada
que me prendesse ao Norte – Segundo Oráculo Nzau.

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_ Eu sei tata mas não deu para ficar alheio a esse detalhe, é mais forte que
eu, contudo entendo! – Kwame falava não estando convencido da explicação
do pai.

Depois desse ponto, o seu pai lhe relembrou o dia da oração dos ancestrais
em que o Kwame o seguiu até ao cemitério, lhe perguntou sobre o que achou
da experiência, surpreso por ter sido descoberto disse que a experiencia foi
muito boa apesar de passar mau depois mas que espera voltar a viver aquela
sensação de poder absoluto e quando terminou de falar o pai lhe disse;

_ Ouve Kwame, existem segredos, poderes e conhecimentos que melhor é


não conhecer pois assim salvaguardarás a tua vida de maneira tranquila,
ambição pelo poder tem destruído e separado cada vez mais esse país, essa
ambição é que está prestes a matar o Grande Oráculo, por isso nunca te
incentivei a seguir os meus passos, porque sei que é uma vida muito
complicada – Segundo Oráculo.

_ Sei tata! – Kwame – Mas não me deixarei dominar, disso tenho certeza.

_ É o que todos achamos no princípio, mas o poder transforma homens bons


em maus e homens maus na própria essência da maldade – Segundo
Oráculo – Podes simplesmente se contentar com o que és ou não saberás
mais o quanto isso é bom filho!

_ Me contento tata, apenas quis ir mais além! – Kwame cabisbaixo – Mas se


o senhor não aconselha, está bem!

_ Amanhã irás me compreender Kwame! – Segundo Oráculo.

Continuavam a falar naquele fim do dia quando começam a ouvir barrulho


como de discussão, ao sair para ver o que se passava, viram o segurança que
fora posto a disposição do Segundo Oráculo a trocar palavras com seis
guardas da corte que estavam acompanhados pelo chefe de investigações do

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conselho. Questionados sobre o que estava acontecer, o chefe da
investigação do conselho diz;

_ Viemos escolta-lo, o senhor está preso por traição a corte na tentativa de


assassinato do Grande Oráculo e crimes de abuso de poder como Segundo
Oráculo – Chefe da investigação.

_ Que brincadeira é essa? – Segundo Oráculo.

_ O quê? –Kwame.

_ Não é brincadeira, temos um mandato do tribunal supremo para prender o


senhor agora! – Chefe da investigação.

O Chefe da investigação dava sinal com os dedos aos guardas para


prenderem o Segundo Oráculo, surpreso com o que estava acontecer, o
Oráculo pede para ver o mandato, era certo, o documento era verdadeiro,
estava realmente a ser acusado de assassinato pelo conselho. Kwame põe se
a frente do pai para impedir com que o mesmo fosse levado mas foi
golpeado por um dos guardas e caiu, pegaram o Oráculo que falava para o
filho não tentar fazer nada que tudo iria se resolver e o colocaram no carro.
Sem poder fazer nada e ainda tentando se recuperar do golpe, Kwame se
enervava até ao ponto de derramava lagrimas por não poder ajudar o seu pai
em um momento como esse, e os homens arrancaram o carro e levaram o
Oráculo para o Templo. Houve tumulto a volta da casa do Segundo Oráculo
por parte da vizinhança, os olhares de admiração e de espanto, incentivavam
o falatório entre os moradores daquela região e rapidamente a noticia se
espalhou pela capital central, em poucos horas a cidade já se encontrava
dividida de opiniões acerca do caracter do seu Oráculo. Os seus fiéis
admiradores, defendiam o caracter digno do seu representante e os fiéis ao
Grande Oráculo, indignavam-se pela tamanha traição e abominação aos
deuses, diziam uns aos outros que um Oráculo com princípios do género não
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pode ser merecedor de entrar no Seio dos deuses (lugar de descanso dos fieis
seguidores das leis dos Deuses). Uma parte da população seguia a caravana
que levava o Oráculo até o templo para detenção.

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Órgão Leste;

Já se passavam três dias desde que o Segundo Oráculo fora preso, a tenção
era grande em todo país, alguns da classe alta do país se movimentava para
capital central a fim de acompanhar o julgamento. Havia um fluxo enorme
de pessoas chegando a capital central, Luza era uma dessas pessoas que
chegava a cidade depois de ter estado fora por aqueles dias, com o sangue
fervendo pelas veias corria em direção ao templo, sua cabeça estava para
explodir pela soma elevadas de pensamentos adversos, em parte raivoso e
em outra pasmo e triste por descobrir que o pai do seu melhor amigo foi
quem envenenara o seu pai, não imaginava uma reação para a situação,
corria na esperança de que aquela noticia fosse falsa e que o culpado fosse
achado outro e não quem ele tinha como tio em consideração a amizade que
o mesmo tinha com o seu pai. Chegando ao templo, entrou e foi direto as
salas das detenções, poucas pessoas eram permitidas de entrar mas como o
filho do Grande Oráculo, foi dado a permissão para ver o pai de seu amigo,
vulgo o traidor do corte. Entrava acompanhado de um dos guardas do templo
e ao chegar perto da sela do Segundo Oráculo começou a lagrimar de
nervoso, lá estava o seu amigo perto da sela do pai, com um olhar de
decepção Luza olhava fixamente para o Oráculo, Kwame atentando ao olhar
do seu amigo naquele silêncio de suspense diz ao Luza que tudo não passava
de uma armação que o seu pai era inocente, sentando e cabisbaixo estava o
Oráculo ouvindo sem saber o que dizer ao Luza que o olhava com uma
expressão de ódio;

_ Inocente? Seu pai condenou o meu a morte e tu vens me dizer que ele é
inocente? Você é louco Kwame? – Luza exaltado – Mas sabe tio, se é que
posso lhe chamar de tio, eu quero apenas saber o por quê? Por quê o meu
pai? Eu sempre imaginei que eu e o Kwame seguiríamos os passos da vossa
excelente amizade, então me diz por quê?

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_ Tenha calma Luza – Kwame.

_ Não me pede para ter calma – Luza apontando o dedo para o Kwame.

_ Filho, tudo isso não passa de uma armação, eu admiro e respeito muito o
teu pai, nunca seria capaz de fazer mal a ele – Oráculo falando abatido para
o Luza.

_ (Pequeno riso sarcástico) Como a ânsia pelo poder torna as pessoas tão
desprezíveis! Nunca mais volta a me chamar de filho seu traidor, eu quero
que morras, você não merece o Seio dos deuses, traidor eu vou te matar –
Luza se exaltava tentando pegar as grades da sela quando foi impedido pelo
guarda do templo.

_ Chega Luza, eu não vou permitir que continues a falar desta forma com o
meu pai, não vou! – Kwame pegando o Luza pelos braços.

_ Porque você defende esse traidor como se fosse o teu pai, ele nem teu pai é
Kwame! – Luza.

_ O que é que estas a falar? Cala essa boca Luza! – Kwame.

_ Se nem coragem teve para contar que te apanhou, como terá para
confessar os seus crimes! – Luza.

_ Já disse para calares a boca! – Kwame se altera e parte para cima do


Luza, os dois começam a lutar sobre o chão, o guarda grita pedindo ajuda
para poder separar os dois, o Oráculo tentava desesperadamente por detrás
das grades da selas encontrar formas de os fazer parar de lutar, mais dois
guardas chegaram e conseguiram separar os dois colocando-os em cantos
diferentes;

_ Já faz uns anos desde que descobri que esse traidor não é teu pai, ouvi
uma conversa dele com o meu pai, onde ele dizia que havias sido

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abandonado perto da casa onde vivia no dia do massacre da Aldeia de
Wama – Luza.

_ Já chega Luza! – Dizia o Oráculo interrompendo as falas do Luza.

_ Isso não pode ser verdade, você está inventar tudo isso! – Kwame
incrédulo com o que ouvia – Diz que essa brincadeira não é verdade tata!

_ Se ele foi capaz de fazer isso contigo, imagina o que pode fazer aos outros!
– Luza – Provavelmente o meu pai irá morrer, ficarei sem pai mas quero
que tenhas a consciência de que tu nunca tiveste um pai Kwame, a dor que o
teu pai está causar a minha família eu apenas estou a retribuir a ti!

_ Como você pode! Que tipo de pessoa é você Luza? – Kwame – Se afasta
de mim!

_ Filho me escuta! – Oráculo.

_ E eu digo o mesmo, como você pode defender um traidor da corte como


ele Kwame, logo você! – Luza – Melhor mesmo me afastar.

_ Está tudo bem tata – Kwame terminava de falar e saiu para processar essa
bomba que acabara de ouvir.

Luza foi levado para fora das selas de detenções do templo, após, se dirigiu
para sala especial onde o seu pai está ser tratado, estando dentro da sala,
lagrimou novamente ao ver o estado de saúde do seu pai, que apresentava
sinais de últimos suspiros de vida, na sala estava a sua mãe e ficou ali com
eles.

O Segundo Oráculo ficou em sua sela desesperadamente preocupado com o


Kwame, sobre o que poderia estar a passar em sua cabeça, o que fora fazer
saindo daquele jeito, buscava formular varias razões para tentar explicar o
porquê nunca ter contado a verdade, mas a sua razão o alertava que era a

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hora de contar apenas a verdade. Então chamou um dos guardas e pediu para
ir ver se o seu filho estava bem. Kwame se encontrava sentado no jardim do
templo, em meio as várias árvores daquele lugar, sentia a sua cabeça doer de
tanto que refletia sobre o que acabava de descobrir e, ao mesmo tempo
pensava em se conter apesar de ser uma revelação pelo momento que o
homem que ele tem como pai passava. Após cerca de duas horas, ele decide
levantar de onde estava sentado e voltar para sala das detenções onde estava
o Segundo Oráculo. Ao ver o Kwame a entrar na sala, suspirou de alívio o
Oráculo, chamou-lhe para sentar ao lado de suas grades para lhe contar toda
história, sentado perto de sua cela, Kwame atento ouvia a história que estava
ser contada sobre como foi parar nas mãos do Oráculo.

_ No dia do massacre da aldeia de Wama, uma mulher que não cheguei de


ver deixou um recém-nascido na porta da minha casa, não sei o que
aconteceu com ela depois mas sei que sem saber ela confio a vida daquela
criança aos meus cuidados, ela me deu você Kwame! – Oráculo falando
emocionado – Ninguém jamais voltou para procurar você, não sei onde
andam os teus reais progenitores, esse fio que usas é a única coisa que a tua
mãe deixou além de escrever o nome que hoje tens no chão perto da minha
porta, planeava contar toda verdade mas esperava o momento certo, me
perdoa filho!

_ O senhor me salvou tata, não tens porque pedir desculpa – Kwame sentido
– Se o tata não me acolhesse, não sei o que seria de mim, por isso não
precisa pedir desculpas porque tu és o meu pai!

_ Como se conta na história do massacre do Wama, o maximbombo que vós


trouxe saía da capital Oeste mas o pingente que se encontra nesse fio
deixado pela tua mãe, tem um selo que na época era apenas usado no Sul do
país, nunca soube ao certo de onde era a vossa proveniência – Oráculo.

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_ Isso não importa agora tata, a minha real preocupação aqui é como te
tirar dessa situação! – Kwame.

_ Eu sei quem armou para mim – Oráculo.

_ O que? Quem? – Kwame.

_ Sassou, só pode ser ele, é o mais obcecado por poder, colocou as folhas do
arém que pertencem ao Norte para a culpa recair sobre mim que tenho
proveniência do Norte – Oráculo – Talvez para ti não será fácil digerir essa
informação mas eu sei do que digo filho.

_ O quê? Não é possível tata, ele é teu amigo não seria capaz de fazer uma
coisa dessas com o senhor, ainda mais sendo o Segundo Oráculo – Kwame.

_ Sei do que falo, presta bem atenção, se ele descobrir que tu sabes, pode ir
atrás de ti, por isso seja sigiloso com essa informação filho, neste momento
ele é o homem mais poderoso do país – Oráculo.

_ Eu vou lhe desmascarar tata, ele irá pagar por esses crimes e não o
senhor, eu prometo – Kwame.

_ Fala baixo, você não tem como fazer frente a ele, parece que ele já
comprou todo o conselho dos conselheiros, ele quer ser o Grande Oráculo –
Oráculo – Caso alguma coisa aconteça comigo e tu precises de ajuda, vá
para o Norte na região do Nzombo e procuro por um vidente chamado
Ekuikui, ele irá te ajudar.

_ O que estás a falar tata, nada vai acontecer contigo, eu não deixarei! –
Kwame falava determinado.

Conversavam, enquanto o Oráculo insistentemente lhe alertava sobre os


perigos que o seu filho poderia correr se agisse de cabeça quente. O
julgamento estava marca para a tarde do dia seguinte e a tenção na capital

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central só aumentava enquanto a saúde do grande Oráculo cada vez mais se
degradava, já não conseguia falar, perdia as movimentações das partes do
seu corpo, com muito esforço conseguia escrever alguma coisa só para poder
se comunicar com os demais mas as escritas nunca eram legível pela
fragilidade do seu corpo, estava morrendo.

Nos outros Órgãos e regiões, a classe alta restante já se preparava para


embarcar para capital central para acompanhar o julgamento, parecia ser o
evento do ano, muito pela popularidade do Segundo Oráculo, que poucos
acreditavam ser capaz de cometer tal atrocidade e queriam constatar quais as
provas que o tribunal supremo da capital reuniu para acusar um dos maiores
mandatários do país.

Ao sair do templo para ir para casa, Kwame se depara com a sua noiva
Sheiza que o trazia comida em uma cesta enquanto fazia companhia ao seu
pai detido, ao ver ela Kwame não aguantou esconder o que ouvira do seu pai
sobre o seu sobro, levou a Shieza para o pátio a fim de explicar a situação e,
explicando, Shieza reagiu com espanto e rebateu;

_ Como ousas fazer essas acusações falsas contra o meu pai Kwame? Sabes
que como teu pai tu também podes ir preso por essas acusações a um
Oráculo! – Shieza se chateava.

_ Eu sei que ele é teu pai e é bem normal reagires assim e respeito mas não
estou a acusar – Kwame – Quero apenas ir para tua casa constatar algumas
coisas que tem haver com a investigação para ter a certeza que o teu pai é
inocente.

_ Esperar, você tem noção do que estas a dizer, estás louco Kwame? –
Shieza – Queres constatar? Nesses anos não constataste, hoje queres
constatar? Espera vais constatar o meu porque o teu pai é o mais santo!

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_ Não quero que me entendas mal, queria tirar apenas uma dúvida mas está
bem – Kwame.

_ Queres livrar a pele do teu pai condenando o meu, como se o teu fosse o
único justo Oráculo, já o meu e do Luza que se lixem não é! – Shieza –
Nunca mais quero te ver Kwame, tal como acreditas no teu pai eu acredito
no meu, então nunca mais quero te ver e espero que o teu pai pague pelo seu
crime!

_ Shieza não precisamos chegar até aí, eu não acusei o teu pai! – Kwame
tentando pegar Shieza.

_ Não me pega, acabou, não me importa mais se acusaste ou não porque sei
que cogitaste essa possibilidade e eu não vou conviver com uma conspiração
dessas – Shieza.

Shieza levantava atirando a cesta no Kwame que insistia em se desculpar,


sem querer o ouvir rompia com o noivado naquele dia, Kwame a seguiu até a
sua casa mas foi barrado pela segurança, não havia margem de volta, estava
tudo acabado entre os dois. As emoções do dia eram muitas que não sabia
mais o que sentir e como expressar a dor no momento. Decidindo deixar as
emoções de lado, Kwame começava a investigar os passos do seu ex-sogro já
que agora não havia mais um compromisso entre as duas famílias.

Aldeia desconhecida;

Os Deuses foram bons para com o líder da tribo dos Kioku, após o ataque, os
Kanzas da tribo conseguiram impedir a hemorragia, salvando assim a vida
do seu líder. Ainda estava muito debilitado por conta das feridas geradas
pelas duas facadas que havia levado do seu filho Ikuke que continuava
foragido. O Rei Igwe conseguia apenas falar, acamado, reuniu o seu

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conselho restrito na sua tenda de repouso para discutir sobre os planos para o
seu povo, lá estavam o seu braço direito Ieda, Ikwana, Ilela e dois dos mais
valentes guerreiros seu. Com algumas dificuldades na fala, lhes contava que
já algumas semanas que mantinha conversas com um dos membros
principais da corte suprema do país;

_ Semanas atrás, um dos Oráculos me contactou por meio do sonho, dizendo


ter uma proposta que me interessaria – As falas do Rei Igwe gerou um certo
espanto nos presentes.

_ Como esse herege teve coragem de entrar em contacto com o nosso Rei? –
Um dos valentes.

_ Acalme-se! – Falava o Rei – Ele provavelmente será o Grande Oráculo e


quer nos como seus aliados, quer nos declarar como um povo livre pela lei
dos Oráculos.

_ O que o Rei lhe respondeu? – Ieda curioso.

_ Aceito! – Rei Igwe falou para o espanto de todos presentes que não
compreendiam do porque desta aceitação.

_ O quê? Como assim? Isso é sério meu Rei? – Indagavam entre si.

O Rei Igwe os fez saber do seu plano por de trás desta cooperação, pois o
povo Kioku tinha como blasfêmia todo tipo de união com os povos que não
demonstram respeito os princípio dos deuses antigos, neste caso, todos os
outros povos do país.

_ Apenas aceitei essa cooperação porque tenho um plano por de trás de


tudo, iremos tomar o país deles, enquanto os olhos dele me veem como um
amigo, os meus lhe verão como sempre o viram, um inimigo, iremos destruir
aqueles templos feito a base de heresias, matar todos eles, recuperar o Rolo

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Sagrado e tomar o controlo do país depois que ele se tornar no Grande
Oráculo – Rei Igwe.

_ Agora sim meu Rei – Ieda entusiasmado.

_ Provavelmente ele se torna já no Grande Oráculo e, pelo meu estado de


saúde não poderei liderar a operação de golpe de estado, quem pode liderar
o grupo na operação por mim? – Rei Igwe.

_ Estou ao seu dispor meu grande Rei – Ieda.

_ Muito bom – Rei Igwe ainda falava quando a Ikwana o interrompeu


dizendo.

_ Eu peço ao meu Rei que me permita liderar essa operação e assim vingar
o que o Norte fez contra a nossa filha! – Ikwana falava com a cabeça
inclinada para baixo em sinal de respeito ao seu Rei e marido.

_ Operação desta importância não pode ser liderada por uma mulher – Ilela
reportava a Ikwana.

_ Deixa ela Ilela, ela irá liderar a operação – Essa decisão trouxe um pouco
de espanto aos presentes – Ele já tem demostrado em varias ocasiões que é
valente, já liderou vários Nkusi sobre esse país e não só, acredito que seja
capaz de liderar essa operação e mais, ela tem a motivação mais sensata,
faremos isso também pela Ilume, então se preparem para serem lideradas
pela Rainha Tuli!

_ Muito obrigado meu Rei, não irei lhe decepcionar – Ikwana feliz pela
oportunidade de liderar uma operação desta importância.

Ilela não ficou satisfeita com a decisão do Rei mas não quis rebater em frente
dos demais. Após esses assuntos ainda debateram sobre os próximos passos
a dar na realização das suas atividades de saques por todo país. Quando se

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deu o término da reunião com o pequeno conselho do Rei, Ilela abandonou a
sala visivelmente insatisfeita, apenas Ikwana ficou com o Rei na sala. Logo
depois que o Rei dormiu, ela saiu de lá e foi a casa de uma das mais velhas
Kanzas e videntes da aldeia, ela morava em uma tenda pequena e humilde,
pois não tinha filhos e nem marido, ao chegar a tenda perto de bater as
palmas como sinal de licença, ouviu uma voz leve e suave vinda de dentro da
tenda que disse “entra Ikwana”, essa frase causou um pequeno espanto, pois
ela vinha as escondidas e havia tomado todo cuidado para não ser vista a
entrar na casa da velha Ima, ao entrar na pequena e humilde tenda, sentiu
como se houvesse uma mudança no ambiente da tenda, ficou muito admirada
com o que via dentro, porque ela era maior por dentro, aquela pequena tenda
por fora, dentro parecia ser a junção de cinco tendas e era tudo muito bem
organizado, um ambiente leve e relaxante, ficou por minutos girando e
admirando até ouvir a velha Ima dizer “pode se assentar Rainha Tuli
Ikwana” (apelido dado a segunda mulher do Rei) despertando do seu
momento, agradeceu e se assentou sobre a cadeira, ela estava apreensiva, não
sabia qual seria a reação da velha Ima quando soubesse o que ela veio
perguntar, foi quando a velha lhe disse;

_ Tenha calma, não fique nervosa rainha, eu sei o que a senhora veio
questionar, na verdade sempre soube que esse dia chegaria por isso soube
que os passos que vinha para minha tenda eram os seus – Velha Ima.

_ Como assim sempre soube Kanza? – Ikwana.

_ Esqueceste que além de Kanza também sou vidente Nora? – Velha Ima.

_ Nora? Porque me chamou por esse nome? – Ikwana questionava


espantada.

_ Esquece isso por agora filha, diz o que te trouxe cá! – Velha Ima.

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_ Bem Kanza, o que me trouxe cá é um pouco difícil e proibido de perguntar
mas não sai da minha cabeça – Ikwana - Desde o nascimento da Ilume sinto
que aquele não foi o meu primeiro parto, não sei explicar o porque mas
sempre senti isso e, no dia que a Ilume foi atacada quando foram a caça, ela
se deparou com alguém que lhe questionava insistentemente sobre o fio que
ela usa como se ele tivesse também, a questão é que aquele fio é único!

_ Entendo filha – Velha Ima.

_ Eu sei que a nossa tribo quando rapta crianças, mulheres e homens lhes
são dado a água dos Deuses que os leva a perderem a memória do que eram
antes e assim criar uma nova personalidade Kioku e, eu descobri que
quando eu cheguei na tribo a Kanza é que fazia a recepção dos novos
membros, quero apenas saber, antes de tomar a água dos Deuses, não falei
nada sobre ter filhos ou algo que indicasse a isso? – Ikwana.

_ Como já havia te dito, sabia que este dia iria chegar por isso me preparei
para tal, não se preocupa, vou te contar como tudo aconteceu! – Velha Ima
– Quando te trouxeram para cá, eras uma moça um pouco assustada mas
também corajosa, até porque foi essa tua coragem que conquistou o coração
do nosso Rei Igwe (risos!); choraste muito no seu primeiro dia, quer dizer
todas choravam mas como eras a mais jovem do grupo prestei muita
atenção em ti, teu choro demostrava perda e quando choravas repetias em
suas palavras “meu filho, meu pequeno menino, meu Kwame” e assim foi
até tomares a água dos Deuses.

_ Então eu tenho mesmo um filho – Ikwana se emociona e começa a lagrimar


de alegria – E sobre o pai, não mencionei?

_ Não, parecias querer esconder sobre o pai quando a questionei – Velha


Ima – Apenas me disseste que se chamas Nora e que pertencias ao Sul mas
vivias no Oeste, ias para o Norte visitar alguém mas a mim me pareceu que
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fugias de algo ou de alguém, presumo que talvez seja do pai da criança que
fugias!

Ikwana se emocionava e se surpreendia cada vez mais das revelações que


ouvia da velha Kanza.

_ A água dos deuses não apaga completamente a memória de alguém, na


maioria das vezes as pessoas perdem 95% da sua memória (ainda lembram
dos seus gostos, talentos e trabalhos) mas há alguns poucos que podem
perder apenas 93% tal como aconteceu contigo, por isso lembras que o fio
que a tua filha usa era do seu pai e que ele te deu! – Velha Ima.

_ Das lembranças importantes apenas disto eu lembro – Ikwana – Gostaria


de lembrar muito mais Kanza!

_ Vou te ajudar, sinto que é isso que os Deuses querem que eu faça – Velha
Ima – Vou te dar uma água para tomares e ela servirá para te ajudar a
recuperar algumas lembranças, não lembraras de tudo mas com o que te
contei pode ser que lembras de muitas coisas.

_ Muito obrigada Kanza, não sei como lhe agradecer, só peço que não
contes isso a ninguém por favor! – Ikwana.

_ Não se preocupa filha – Velha Ima lhe entregou o frasco com a misteriosa
água que o ajudaria a recuperar a memória – Nunca dei está água a ninguém
mas a ti darei, também espero que não contes a ninguém sobre essas
revelações Nora!

_ (com um pequeno sorriso) Não contarei Kanza pode ficar descansada –


Ikwana.

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_ O que farás agora filha? – Velha Ima – Sinto que a tua intenção é ir atrás
deste menino mas quero que saibas que não será fácil para o Rei te deixar
ir!

_ Já tenho tudo planeado Kanza, pode deixar, com o favor dos Deuses tudo
correrá bem! – Ikwana – Só não me habituei ainda com esse nome Nora mas
estou muito feliz por descobrir sobre o meu menino Kwame, que eu tenho
quase a certeza que foi o que interpelou a Ilume e a defendeu, meu menino!

Conversaram um pouco mais sobre o primeiro dia da Ikwana na aldeia


desconhecida até ela despedir a Kanza e sair da sua tenda. Guardou tudo em
seu coração sem falar a ninguém apesar de que a sua mente estava a rodar a
mil com pensamentos em volta do seu filho perdido mas tentava reunir o seu
foco no plano de golpe que estava em andamento, sabia ela que era uma
oportunidade de ouro tanto para sua tribo como para os seus ideais.

Órgão Oeste;

O órgão Oeste também aguardava expectante o julgamento do Segundo


Oráculo e, alguns mandatários da região começavam a se deslocar a capital
central para poder acompanhar o desenrolar dos factos. O herdeiro do Oeste
Victor se preparava para o que viria depois, por essa esteve a traçar os
últimos pormenores antes de partir para o Leste, aproveitando a ausência da
sua mulher que se encontrava na região do Bengo para uma consulta com
dos mais famoso Kanza curandeiro da região, Victor estava certo que havia
chegado a hora da glória do Oeste;

_ Chegou a hora da glória, o nosso aliado Terceiro Oráculo, nos convidou a


sermos seus nobre aliados depois que assumir o posto de Grande Oráculo –
Herdeiro Victor falando com o seu conselho – Aceitei o convite porque será

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a nossa oportunidade de passar a perna e tomar o poder do Leste e trazer
para Oeste, onde é o seu lugar!

_ Muito bom meu senhor, estava mais que na hora de trazer o poder político
administrativo ao lado do poder económico, para glória do Oeste! –
Joaquim membro do conselho.

_ Agora que o Grande Oráculo irá a vida e o Segundo será condenado a


morte, não haverá nada que nos empesa – Victor – Eu e o Augusto iremos
adiante para capital central, o resto dos soldados estarão acampados na
região do Kwanza Sul esperando o nosso sinal para invadir a cidade, não
podemos falhar neste dia.

_ Sim senhor! – Respondeu o General do exército do Oeste – Faremos tal


como planeado meu senhor.

_ Muito bom, nos partiremos amanhã – Victor levanta de sua cadeira e ergue
o braço direito para cima e diz o slogan do Oeste para fechar a reunião –
Para glória do Oeste!

_ Para glória do Oeste! – Responderam todos presentes erguendo o braço


direito para cima.

O plano traçado pelo Victor caminhavam como planeado, a ânsia pelo poder
fervia nas veias do Victor e naquela noite não conseguia dormir, os seus
pensamentos estavam presos no plano de ataque da capital central.

Órgão Leste;

Era noite, mas o Leste não conseguia dormir, as ruas estavam ligeiramente
movimentadas, faltava apenas uma madrugada. O conselho dos Oráculo era
liderado pelo Terceiro Oráculo Sassou, pela lei do país, a posição do Grande

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Oráculo é tomado automaticamente quando o titular da posição morre, o
Segundo Oráculo toma a posição e, caso este morrer, a posição é tomada
pelo Terceiro Oráculo isso até o Quarto Oráculo. Era bem certo na capital
central que se o Segundo Oráculo for condenado, o Terceiro Oráculo se
tornaria no seu Grande Oráculo, a maioria do conselho estava expectante
sobre a sua nomeação, colocavam a sua fé nas suas filosofias de um novo
país, filosofia que sempre foi condenado pelo Grande Oráculo e o Segundo
Oráculo mas, Sassou sempre teve outros planos por detrás dos planos que
apresentou ao conselho dos Oráculos para governação, apenas o seu grupo
restrito tinha o conhecimento destes planos e do seu lado estava tudo prestes
para receber a caravana do Oeste, Norte, Sul e da tribo Kiaku.

A noite passava sobre aquele dia e chegava a madrugada, apesar do seu


estado de saúde muito debilitado, o Grande Oráculo se agitava sobre a cama,
a sua mulher foi pedir ajuda aos Kanzas do templo e chegando a sua sala,
perceberam que queira dizer algo, o sol nascia tímido sobre aquele dia, após
alguns minutos puderam entender que queria ver o Segundo Oráculo antes
que o mesmo fosse levado para o julgamento, era demais para ele crer que o
seu mais confiado amigo fosse capaz de o matar, quis olhar para os seus
olhos e atestar a verdade sobre o que ouvia do conselho, pois, sempre
acreditou que o Segundo Oráculo era o seu substituto ideal para guiar o país
em um caminho de paz e igualdade, lutando contra o tribalismo entre os
povos dos quatro órgãos. Como o pedido do Grande Oráculo é uma ordem, a
guarda do templo acompanhados com alguns membros do corpo dos jurados
e membros do conselho, trouxeram o Segundo Oráculo para sala onde estava
internado o Grande Oráculo, a mulher do Grande Oráculo ao ver o Segundo
Oráculo, caiu em lagrimas, o olhar tremulo do Grande Oráculo se
esforçavam para estar fixa aos olhos do seu homologo e, depois de quase um

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minuto, dava um suspiro como de alivio, logo sinalizou com a cabeça que
era o suficiente que poderiam o levar de volta e assim o fizeram.

Faltava poucas horas para ser levado ao tribunal central e, pedia


insistentemente para que se encontrasse com o Terceiro Oráculo antes que
fosse levado, quando o Terceiro Oráculo Sassou chegou pediu para estarem a
sós, o Segundo Oráculo questionou;

_ Por quê? Qual é a tua intenção traindo os seus amigos e traindo a corte
do teu país Sassou, por quê? – Segundo Oráculo Nzau.

_ Não sei o que estas a dizer meu amigo, o que é isso? – Sassou.

_ Não se faz de desentendido, eu sei que queres usar o Rolo Sagrado por
causa do segredo dos Deuses, sabes que isso é proibido Sassou, não faça
isso! – Segundo Oráculo.

_ Estas a perturbar a tua mente com coisas sem sentido, melhor será
descansares porque eu não espero que sejas condenado hoje meu amigo,
descansa – Sassou – Falaste ao teu filho que sou culpado, isso é sério? Que
traição tua, por isso a minha filha acabou com o noivado infelizmente.

_ Não vais se livrar disto Sassou, não vencerás! – Segundo Oráculo.

Sassou saia deixando o Segundo Oráculo gritando que ele não venceria,
Kwame seu filho teve o seu pedido de visita negado no naquele dia. O tempo
passava em passos largos, não tardou para chegar o momento de ser
transportado para o tribunal, fora do templo dos Oráculo, havia uma
multidão, onde os que gritavam “Traidor” estavam em número maior em
relação aos que acreditavam na inocência do seu Oráculo e o apoiavam; Ao
sair do Templo, grande tumulto se gerou, partes da multidão entraram em
confronto, o Oráculo era levado ao tribunal.

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A sala de audiência com estrutura oval, estava cheia, os mandatários do país
e os herdeiros dos três órgãos se faziam presente na sala. A classe dos
investigadores do conselho, trouxeram dois empregados responsáveis pelo
envenenamento do Grande Oráculo, os mesmos que acusavam o Segundo
Oráculo como o mandante da operação, a acusação apresentava os resto das
folhas do Arém encontradas com os dois meliantes e uma outra porção
encontrada em casa do Oráculo, também a metade da soma em dinheiro que
foi dado como adiantamento do serviço e outras provas mais. Como se não
bastasse, trouxeram duas jovens moças que acusavam o Oráculo de abuso de
poder, obrigando elas ao envolvimento sexual, caso ao contrário, as
entregarias aos Jacarés tal como aconteceu com as suas amigas que negaram
a sua proposta. A audiência estava agitada, com o Segundo Oráculo posto
sentado no centro da sala enquanto era julgado, a sua contra defesa não fazia
jus ao apresentado pela acusação. Já se passavam quatro horas desde o início
da audiência, a cada minuto que passava, os presentes se convenciam mais
da culpa do Oráculo para o desespero do Kwame que assistia o seu pai a ser
condenado aos poucos pelo que ele considerava ser uma armação. Depois de
mais duas horas e sem contra provas plausíveis que favorecessem o Oráculo,
foi condenado a morte de Jacaré por traição a corte na tentativa de
assassinato ao Grande Oráculo, abuso de poder e assassinatos. Houve uma
agitação na sala após ser declarado culpado, Luza procurava o Kwame em
seu olhar para ver a sua reação de felicidade; Inconformado, Kwame levanta
da sua cadeira e corre em direção a mesa do Juiz do conselho, os guardas se
movimentam para o impedir e o agarram a tempo mas o mesmo começa a
gritar “Meu pai é inocente, isso é armação do Terceiro Oráculo, ele é o
culpado” o seu pai lhe advertia para parar, Shieza que estava presente apenas
mexia a cabeça em sinal de decepção, os guardas por sua vez, taparam-lhe a
boca e o levaram para uma sala isolada do tribunal e foi espancado por
ordem do Terceiro Oráculo. Logo depois da sentença, estava para ser levado

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ao Rio do Castigo dos Deuses, também conhecido como Rio Lougi, famoso
rio dos Jacarés que servia como punição aos que fossem condenados a morte,
eram atirados abaixo para serem devorados pelos Jacarés e o crime de traição
a corte tinha como punição o Rio do Castigo dos Deuses. A tradição da corte
dos Oráculo, dizia que a morte de um Oráculo por causas naturais era
sinonimo de festa entre os habitantes do país, pois o mesmo se juntava com
os Deuses na governação do mundo em um paraíso chamado Seio dos
Deuses e quando essa morte fosse causada por motivos que não fossem
natural (assassinato e suicídio), não haveria festa entre as povoações apesar
do seu Oráculo estar a se juntar com os Deuses. E ao Oráculo ou qualquer
outra pessoa que fosse dada como traidor da corte e dos preceitos dos
Deuses, perdia o direito de entrar no Seio dos Deuses e a crença era que os
Deuses eliminavam a alma destes tanto no mundo físico como no espiritual,
perdia-se a sua existência.

Acompanharam até ao Rio Lougi apenas o número permitido pelo tribunal


central, um número reduzido de pessoas para presenciar a execução do agora
traidor da corte. Era um rio enorme, que atravessava o país e banhava no
Oceano Atlântico e, ela possuía o um dos pontos mais altos do país que se
traduzia em um alto precipício e por volta, algumas árvores. Algemado, foi
colocado ao pé do precipício, os que o acompanharam, fizeram uma linha
curva em volta dele, enteou-se canções de invocação e adoração aos Deuses
e acendendo uma brasa de fogo que tinha como simbolismo a alma
consumida pela ira dos Deuses. O Terceiro Oráculo fez as orações
juntamente com os membros do conselho dos conselheiros, aproveitou o
momento da oração para se aproximar do então Traidor e lhe falou no ouvido
“Desculpa meu amigo, apenas estavas no lugar errado, nunca foi minha
intenção, foram as circunstâncias que me obrigaram a te tirar do caminho”
e deu-lhe um beijo da bochecha e, antes que se retirasse de perto dele, o

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Traidor lhe disse “Não irás vencer, tão logo serás derrotado seu traidor” e
o Terceiro Oráculo sussurra ao pé do seu ouvido e depois disse “Não será eu
a vencer mais o país, porque agora sem você e o Grande Oráculo poderá
experimentar o gosto da evolução, vai em paz amigo!” se afastou dele e
terminou a oração. Ao fim da oração, o juiz deu o sinal para que fosse jogado
do precipício e assim foi, caiu e antes que chegasse ao chão fora devorado
por muitos dos Jacarés que lutavam por uma parte do seu corpo, a brasa
acesa também foi jogado no precipício. Afim de toda cerimónia voltaram
para capital central.

Já na capital, Sassou foi visitar o Grande Oráculo para contar que a execução
estava feita. Ao chegar, pediu que estivesse a sós com o Grande Oráculo e
assim o fizeram. Estando sentado ao pé de sua cama, o Grande Oráculo
olhava para ele com desgosto mas já não conseguia falar e mal respirava,
então disse-lhe o Sassou;

_ Esse olhar me diz que já sabes da verdade, mas sim meu mestre, eu que
arquitetei todo plano e te envenenei – Sassou, Terceiro Oráculo – Me olhe
do jeito que quiser, me habituei a esse olhar justamente por ser Sulano,
sabes, eu o admirava muito por isso lutei ao seu lado contra o regime
colonial, mas após a guerra as coisas mudaram tudo porque se tornaste
fraco, tentando manter uma paz fictícia que só serviu para afastar mais os
povos, nós os do Sul, os mais afetados, os desprezados fruto da extrema
pobreza e tudo graças a tua teimosia, falta de ambição e visão do futuro, o
que está acontecer hoje é apenas consequência do desequilíbrio que criaste
no país a 23 anos atrás, mas não precisas se preocupar, porque quando os
teus olhos se fecharem, esse povo vera o renascimento de uma nova Angola,
por isso é hora de voltares a fazer algo útil por este país, morre rápido!

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Terminando de falar com o Grande Oráculo, despediu a sua mulher
simulando tristeza e foi ao encontro dos herdeiros dos órgãos. Era o homem
mais célebre na cidade, já o respeitavam como se fosse o Grande Oráculo.

Com o poder de decisão maior, ordenou que prendessem o Kwame por


injúrias contra um Oráculo, os guardas foram para lhe tirar da sala isolada do
tribunal para levar para prisão mas Kwame consegue escapar dos guardas
apesar de estar feridos e fugiu para região do Nzombo, Uige, órgão Norte
como o seu pai lhe ordenara, após ser perseguido e não ser achado, ficou
registrado como fugitivo da capital central. Corria sem parar, dia e noite, fez
isso durante dois dias seguidos, durante esses dois dias se alimentava apenas
de frutos que conseguia apanhar ao longo do caminho, evitava as estradas e
as aldeias principais para não levantar suspeitas pois o crime de injúrias
contra um Oráculo era considerado como uma afronta ao representante dos
Deuses, era grave; fugia pelas matas caminhos complicados e com inúmeros
perigos de animais selvagens e não só. Ao fim do segundo dia de fuga,
esgotado e fraco não conseguia mais caminhar e muito menos correr,
desmaio sobre o por do sol que anunciava a chegada da noite ao lado de um
riacho que ficava nas redondezas da zona desértica da região do Nzombo, ali
apagou.

Região do Nzombo, Órgão Norte;

Quando tentava abrir os seus olhos viu uma forte clareza, ao abrir
completamento os olhos assustou com o que via, se encontrava em uma
cabana e dormia sobre uma esteira, levantou para ver onde estava, percebeu
que já era um outro dia, tentava entender como havia chegado ali quando a
cortina da cabana se abria, ele assustado se posicionava para atacar, quando a
cortina abriu-se por inteiro ele pode ver uma jovem moça com uma bandeja

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que continha aquilo que seria o seu pequeno-almoço, ela era bonita e tinha os
olhos meio grossos, Kwame ficou estático olhando para ela em posição de
combate, ela por sua vez assustou com o que se deparou e deixou cair a
bandeja do pequeno-almoço ao chão, uma voz de fora da cabana perguntava
“Zambezi o que foi?” E em poucos segundos estavam dentro da cabana
alguns dos aldeões.

Depois de se perceber que fora um mal-entendido e Kwame ter se


desculpado diante da bela Zambezi, foi levado para se encontrar com o líder
da tribo Chinaka. Diante do líder, foi questionado sobre o seu nome,
temeroso decidiu de a princípio dar um nome falso pois não conhecia aquele
povo e não sabia se lhe entregariam as autoridades da corte mas o líder
descobriu que ele dera um nome falso e voltou a lhe perguntar o nome, deu o
seu nome verdadeiro e explicou o porque estava nessas áreas e de quem
procurava, então o líder o revelou que ele era quem procurava;

_ Procuras por Vidente Ekuikui? – O líder da tribo – Eu sou o Ekuikui, quem


te mandou até a mim?

_ Sou filho do Segundo Oráculo Nzau – Kwame ficava aliviado por saber
que chegara em um lugar seguro – Meu pai foi morto e o responsável da sua
morte também tenta me matar mas, o meu pai havia me dito se alguma coisa
acontecesse de grave poderia recorrer a região do Nzombo e procurar por ti
que poderias me ajudar.

_ Teu pai foi morto ou condenado por traição a corte? – Ekuikui

_ Meu pai é inocente, foi vitima de uma armação do Terceiro Oráculo que
quer se tornar no Grande Oráculo – Kwame.

_ Entendo – Ekuikui – Meus pêsames filhos, conheci muito bem o seu pai e
sei que ele não seria capaz da tamanha barbaridade mas seja bem-vindo na

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nossa tribo, não temos o luxo da capital para te oferecer mas te daremos
algo essencial, segurança!

Kwame agradeceu a hospitalidade e foi abraçado pela tribo, conheceu a


maioria dos aldeões que ali estavam, ficou a saber também que aquela bela
jovem Zambenzi era filha do líder Ekuikui que tinha vinte mulheres e
quarenta e três filhos fora os netos e bisnetos. Zambenzi e Nsimba foram
delegados apresentar aldeia no novo integrante, os olhos do Kwame não se
desviavam da Zambenzi embora tentando se concentrar para ouvir a
explicação que lhe passavam sobre aldeia, após o tour, foi convidado para o
almoço. Aquela tribo tinha como costume comerem todos a volta de uma
enorme mesa feita de madeira. Tudo aquilo era novo para o Kwame, não
estava acostumado com aquela convivência mas lhe era muito prazeroso
poder fazer parte dessa família.

Ao anoitecer, o líder Ekuikui chama Kwame para conversar e lhe colocar a


par dos últimos acontecimentos da capital central e lhe diz;

_ Os meus filhos te mostraram o suficiente da nossa aldeia Kwame? –


Ekuikui.

_ Mostraram sim senhor – Kwame.

_ Muito bom! – Ekuikui – Te chamei aqui para te informar que o Grande


Oráculo morreu ontem de noite e, daqui a alguns dias será o seu enterro.

A notícia entristeceu o Kwame profundamente pois o tinha como um pai,


pensava de como estaria o seu amigo Luza e a sua família, apesar de
romperem os laços de amizade ainda restava um pouco de consideração pelo
seu ex melhor amigo, em contra partida se enfurecia porque os planos do
Sassou estavam a se concretizar, tão logo seria nomeado como o Grande

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Oráculo do país, além de ser uma ideia que o enfurecesse também o
assustava;

_ Sassou venceu, isso é tão injusto! – Kwame revoltado.

_ Eu não diria que venceu mas que está vencer – Ekuikui.

_ Como assim senhor? Existe uma forma de revertemos a situação? –


Kwame.

_ Conhecendo Sassou como eu conheço, acredito que o maior objetivo dele


além de se tornar no Grande Oráculo é possuir o poder contido no Rolo
Sagrado – Ekuikui – O poder dos Deuses, o maior poder existente, pelo
menos no nosso país, e só existe um guardião para ele que é o Grande
Oráculo, esse foi o encantamento feito pelo Grande Oráculo para que os
homens na época não ambicionassem tomar ela segundo as suas ambições,
manter ela longe do alcance dos homens sempre foi a prioridade daquele
homem.

_ Mas aquele traidor vai possuir esse poder sem dúvida! – Kwame.

_ Que irá desvendar o segredo tenho a plena certeza mas se na hora do


encantamento uma outra pessoa atravessar e possuir o poder? – Ekuikui.

_ É possível senhor? Resultaria? – Kwame.

_ Se é possível não sei, nunca antes aconteceu mas sei que teríamos de
arriscar porque parece ser a única solução para o bem deste país – Ekuikui.

_ E se o matássemos? – Kwame.

_ (risos) Agora que é Grande Oráculo? Podes crer que essa opção é bem
mais complicada que a outra! – Ekuikui.

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_ Porque as coisas chegaram até esse nível? É inacreditável como uma
pessoa pode ser tão maldosa! – Kwame.

_ A verdade é que ele nem sempre foi assim, bem, melhor dizer, ninguém da
“Força A” foi assim, o tempo nos mudou e moldou, cada um a sua maneira!
– Ekuikui.

_ Força A? O que é isso? – Kwame.

_ Teu pai não contou pelos visto mas não faz mal, vou contar eu, vocês
apenas conhecem como Antigos Combatentes aqueles que na verdade eram
a Força A – Ekuikui – Em Março de 1961 na cadeia de Ultramar na Huila,
estávamos todos, eu, o seu pai, o Grande Oráculo, o Victor I (pai do
herdeiro do Oeste), Igwe (Lider dos Kioku), Jacob (Pai do herdeiro do Sul) e
Zola (Pai do herdeiro do Norte), já o Sassou e o José (Quarto Oráculo)
eram os mais jovens na altura mas muito corajosos, ficamos conhecido na
época como Rebeldes de Ultramar pelo colono, cada um de nós vinha de
uma parte do país mas todos tínhamos um único objetivo, ver o nosso país
livre do regime do colono, por essa que no dia 15 do mesmo mês criamos um
movimento de luta contra o colonialismo chamado “Força A” e em pouco
tempo nos tornamos no maior movimento existente no país, o Grande
Oráculo era o líder, ele nos conduziu a vitória contra o colono e a expulsão
dos mesmo do nosso território manifestando o poder dos Deuses a um nível
que era desconhecido por todos nós, naquele dia as tropas inimigas todas
foram eliminadas e vencemos o colono; As complicações começaram depois
da expulsão do colono, a luta pelo poder, quem ficaria com o quê ou quem
governaria o país! O Grande Oráculo como líder na época, entendeu que a
ambição de outros membros era maléficas contra o país, a maioria queria
por a mão sobre aquele poder que tinham visto, por essa proclamou a
independência sem o consentimento de todos da linha da frente isso gerou
um problema que se faz sentir até hoje, houve repartição, sendo o Grande
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Oraculo do Leste, estabeleceu o Leste, Malange como a capital central,
retirando esse titulo a Luanda, Victor I ficou como herdeiro do Oeste, Jacob
ficou com o Sul e o Zola com o Norte, eu neguei qualquer titulo possível, a
revolta maior veio do Igwe, quis que criassem o órgão centro mas o Grande
Oráculo não aceitou, a par a isso, também achava que nos desviamos dos
objetivos e da verdadeira crença ao nossos Deuses antigos, era o mais
crente do grupo, razão pelo qual sai e decidiu criar a sua própria tribo
conhecida como Kioku, o teu pai, Sassou e José seguiram o Grande Oráculo
para o Leste, ele criou as leis que hoje usamos, com o receio de vivermos
uma outra invasão igual do colono, o Grande Oráculo criou leis que
impedissem que o ocidente entrasse ao nosso país, tudo no país seria gerida
por nós mesmo, a nossas leis são diferente a nossa cultura é mais presente
sem influencia grande do ocidente, ele quis que fosse assim para sempre
para que o nosso povo não voltasse a ser escravizado mas uma decisão
como essa cria vários inimigos tanto dentro como fora, proibiu armas de
fogo em todo território nacional, acredito que houve conspiração de fora
porque o nosso país é muito rico em recursos naturais e há países que talvez
queiram aproveitar e como o seu pai era apoiante das ideias do Grande
Oráculo, seria um obstáculo para esse plano!

_ Mas porque o Sassou mudou assim de repente? Não entendo! – Kwame.

_ Sassou sempre foi um inconformado pela atual situação do Sul, a pobreza,


o desprezo de outros órgãos, tudo porque na época o colono havia se
concentrado no Sul, e a guerra aconteceu na região, afetando totalmente as
indústrias, os portos e muitas outras áreas potenciais para economia do
órgão, como nunca conseguiram se restabelecer são chamados de “A região
amaldiçoada pelos Deuses” por ser a base do colono na época – Ekuikui –
E com certeza ele quer trazer de volta a glória do Sul e tirar essa expressão
da boca de outros órgãos.

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_ O Sul se restabelecera mas não será do jeito dele, eu me prontifico a
usurpar o poder dos Deuses – Kwame assertivo.

_ Tens a certeza filho? O Leste te procura! – Ekuikui.

_ Tenho sim – Kwame – A força A se sacrificou para que essa geração


tivesse paz, eu posso fazer o mesmo para geração do amanhã!

_ Esperava que dissesses isso – Ekuikui – Nas tuas veias correm o sangue
dos quatro órgãos, sei que sabes da verdade, mas deixa te contar algo que
desconheces, nasceste no Oeste, teu pai é de lá e a tua mãe é do Sul, quem te
criou é do Norte e foste criado no Leste, tu tens os quatro órgãos no sangue,
ninguém irá defender a unanimidade e a paz deste país como tu filho, vai em
frente!

Aquelas palavras foram como dose de adrenalina para o Kwame, estava


decidido a voltar a capital central e tomar o poder dos Deuses. De noite,
houve uma pequena festa de boas vindas ao novo integrante, na festa pode
conhecer melhor os aldeões, além de passar a noite conversando com a
Zambenzi;

_ Teu pai é muito sábio! – Kwame.

_ São as experiencias e as aventuras vividas – Zambenzi.

_ Espero um dia viver dessa mesma forma – Kwame.

_ Bom! Acho que todos nós devíamos viver pelo menos uma aventura antes
de morrer – Zambenzi – Já que o amanhã é incerto e a vida é curta!

_ Curta e escassa! – Kwame - Já viveste a tua aventura?

_ Ainda! Mas espero viver mais de uma né! – Zambenzi, sorriram e


continuaram a conversa durante a noite.

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Fazia três dias desde a morte do Grande Oráculo, as intenções e pensamentos
do Kwame estavam voltadas na capital central, queria voltar o mais rápido
possível, falou com o líder Ekuikui, que lhe disse estar inquieto por não
saber do impacto que o poder dos Deuses pode causar ao seu corpo não
sendo ele um conselheiro formado, a insistência do Kwame o fez permitir a
sua partida de volta ao Leste. Enquanto falavam naquela manhã, chegava a
caravana dos homens da tribo que haviam saído para a caça, o líder foi
receber o grupo e lhes agradecer pelo esforço e, aproveitou a oportunidade
para apresentar o líder dos caçadores da tribo ao Kwame, quando se
depararam logo o líder dos caçador lembrou da cara do Kwame, tal como o
Kwame lembrou do líder dos caçadores, o lider Ekuikui os apresentou
dizendo “Kwame esse é o Ikuke mas nós lhe tratamos por Capitão, Capitão
esse é o novo integrante da nossa tribo o Kwame” para a surpresa do líder
Ekuikui, os dois disseram já se conhecerem, mas Ikuke acrescentou que foi
por causa do Kwame que ele se tornou no que é, um homem destemido e o
agradeceu para o espanto do mesmo; Ele por sua vez, perguntou sobre a
jovem que foi ferida pelo Cervo no parque, Ikuke responde que estava
melhor e, explicou que aquele ferimento foi uma das causas que o levou a
sair da tribo Kioku. Ekuikui explica ao Kwame que Ikuke chegou a tribo
Chinaka tal igual ele chegou e foi recebido com toda alegria, frisou também
que a sua tribo não tinha homens de luta e o Ikuke tem lhes ensinado a lutar e
a ser guerreiros por essa razão o chamavam de Capitão. Quando Ikuke ficou
a saber do motivo que levava o Kwame para capital central, se predispôs a
lhe acompanhar nesta missão e assim os dois tiveram a permissão do líder
Ekuikui para partirem no dia seguinte pela manhã e, na noite daquele dia, o
líder os consagrou aos Deuses e os banhou sobre as águas do Rio Nzombo.

No dia seguinte, a aldeia se despediu dos dois membros que partiam para
uma missão que poderia ser suicida, Kwame se despedia da Zambenzi com a

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promessa de voltar e casar com ela, o líder e os anciãos da tribo os
abençoaram e logo partiram. Na estrada, Ikuke mostrava-lhe um caminho
mais curto e segura para se seguir até a capital central e por lá seguiram.

Capital Central, Órgão Leste;

A capital central estava no clima de agitação, dois dias depois do enterro do


Grande Oráculo se anunciava a tomada de posso do novo Grande Oráculo no
país, decisão que abalou alguns principalmente a família do antigo Grande
Oráculo que decidiu abandonar o país mas Sassou queria tomar o poder
quanto mais rápido possível, a tomada de posse estava marcada para o dia
seguinte pela manhã, toda questão burocrática estava resolvida, os convite
foram endereçados a todos mandatários do país e aos mandatários de outros
países também. Não esqueceu a liderança da tribo Kioku representada pela
Ikwana, que preparavam-se para ir a capital central de forma legal 23 anos
depois. O pátio do Templo dos Oráculos foi o local escolhido para realizar a
cerimónia da posse.

O Herdeiro do Oeste Victor, estava na capital central para a cerimónia,


encontrava-se preocupado com sua esposa Paula que de regresso a Luanda
sentia constantes dores nos seus últimos dias de gestação, por outra,
inquietava-se pelo facto de até o momento Sassou não lhe mostrar o seu
perdido filho, seguia perguntando constantemente sobre o mesmo e tinha
como resposta “no momento certo te mostrarei o teu filho” este mistério o
enfurecia.

Sassou estava expectante sobre a tomada de posse, sabia que alguma coisa de
extraordinário aconteceria e dizia estar preparado para tudo, era questionado
novamente pelos seus aliados se tinha a certeza do convite feito aos Kioku,
sendo que são um povo traiçoeiro que poderiam se voltar contra eles, o
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mesmo pensavam sobre o Herdeiro Victor mas Sassou repetia para aos seus
que tudo estava sobre o controlo, defendia que estes dois grupos lhe
ajudariam a revolucionar o país, embora suas intenções ocultas fossem
voltadas principalmente ao segredo dos Deuses.

Chegava o dia da cerimónia, estava tudo organizado no pátio do templo dos


Oráculos, os convidados estavam apostos em seus lugares, o evento prometia
ser inesquecível por conta do requinte em volta da organização. O país
presenciava pela segunda vez o empossamento de um Grande Oráculo, na
sessão, o juiz magistral da corte colocou a Amatra no Sassou, uma túnica de
cor purpura feita apenas para ser usada por um Grande Oráculo, todos se
rendiam ao novo Oráculo que em seu discurso prometia um país que se
abriria a evolução, a cerimónia que teve a duração de quatro horas. Após o
término da mesma, uma festa a nível nacional foi preparada para mais tarde,
convidados de outras nações voltavam em seus países e alguns nacionais
regressavam em suas regiões. Agitação era grande na capital central, poucas
horas antes da grande festa de empossamento, a cidade começava ser
invadida com gritos representativos da tribo Kioku, era a sua tropa guerreira
que entrava na cidade em quase todas extremidade geográfica com armas,
flechas e catanas, matando e destruindo tudo que encontrassem em frente, se
gerava um grande tumulto na capital, pessoas corriam desesperadas de um
lado ao outro procurando abrigo seguro, os guardas na tentativa de proteger o
seu Grande Oráculo tiraram-lhe do local da festa para o templo dos Oráculos,
estava acompanhado de herdeiros do Oeste e Sul, Juízes e membros do
conselho dos Oráculos; Ikwana ao ver a invasão rasgou o seu vestido social,
restando com o traje da sua tribo, tirou da cintura uma das suas arma de
batalha uma adaga de tripla laminas e, seguia os passos da caravana que
levava os membros da elite para o templo com mais alguns dos seus
guerreiros deixando a Ilume no comando dos guerreiros que se encontravam

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no pátio. Os soldados do Oeste recebiam a autorização para invasão e o
fizeram, ao entrar na capital se deparavam com a tropa guerreira dos Kioku
queimando e destruindo a cidade, entraram em confronto com os mesmos
enquanto a guarda da capital tentava agir a favor da capital central mas as
suas bases estavam invadidas pelas duas frentes, era grande a matança.
Kwame e o Ikuke chegavam a cidade nesta altura depois do longo percurso,
vendo todo caos, seguiram em rotas adjacentes das principais sendo que o
Kwame conhecia bem a cidade, no caminho se deparavam com soldados e
guerreiros das duas frentes, Ikuke enfrentava os mesmos enquanto Kwame
ajudava o povo a se abrigar em lugares mais seguros, guerreiros da tribo
Kioku reconheciam o Ikuke, sendo ele dado como um fugitivo tal como o
Kwame, cobriram os rostos com panos, ao questionar um dos conhecidos da
capital que haviam salvado das mãos de uma das frentes, foram informados
que o Grande Oráculo fora levado para o templo, seguiram para lá lutando e
se escondendo.

Estando no templo apenas com alguns dos guardas, herdeiro Victor e o seu
servo Augusto aproveitaram a fraca segurança para tirarem as suas adagas e
auferir golpes mortíferos (do pescoço) a dois dos guardas que estavam com
eles dentro da sala de reuniões do templo, após, Victor colocou por refém o
Grande Oráculo Sassou, apontando-lhe com a sua adaga ao pescoço
ameaçando o matar, a tenção subiu na sala, Augusto mandava os demais
permanecerem calados na ordem de que o primeiro que gritasse teria a
mesma sentença dos guardas que com eles estavam e os amarrou. Victor
pressionava Sassou o agora guardião legitimo do segredo dos Deuses para
lhe levar até as escrituras sagradas escondidas dos Deuses antigos, vulgo
mortos. Sassou apresentava resistência a sua ordem e o questionava “porquê
disto agora?” e o respondeu “porque agora é o momento ideal meu velho”
logo deu-lhe um golpe no ombro e caiu, sem voltar a resistir, os levou saindo

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pela porta de emergência do templo até ao Vale dos Oráculos, nome dado ao
enorme cemitério dos Oráculos e altas individualidades do país, Ikwana
continuava lhes perseguindo sem ser notada, por outra extremidade, Kwame
e Ikuke os viram saindo pela alá de emergência do templo e seguiram sem
ser notados também.

No Vale dos Oráculo, se dirigiram até a uma tumba feita de mármore branco
que se encontrava no centro do cemitério, Sassou estava de frente a tumba
quando Kwame e o Ikuke aparecem, Ikuke coloca Augusto de refém com a
sua adaga pelo pescoço de forma sigilosa, Kwame surpreende Victor
apontando com adaga em sua costas e o disse “Esse homem é nosso!”
Sassou olha para trás e diz admirado “Kwame!”, “Surpreso traidor”
respondeu Kwame, “Então és o pirralho histérico do tribunal e como se não
bastasse me apontas com uma adaga, deixa te dizer meu jovem, és corajoso
” disse o Victor, Kwame ordenava que Victor retirasse a sua adaga sobre o
pescoço do Sassou mas antes que o fizesse, foram cercados pela Ikwana e
três dos guerreiros Kioku, e disse ela;

_ Coloquem as vossas armas no chão e larguem o Oráculo, ele virá


connosco – Ikwana.

_ Rainha Tuli! – Ikuke surpreso.

_ Ikuke, porque está aqui? – Ikwana fala surpresa, os três guerreiros ao


identificarem o Ikuke dado como fugitivo tentam o atacar mas são impedidos
pela Ikwana.

O apelido Rainha Tuli fez o Kwame lembrar sobre o que Ikuke lhe contara
durante o caminho para capital central e desconfiava que a mesma poderia
ser sua mãe.

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_ Parece que estamos em um encontro de antigos conhecidos – Grande
Oráculo Sassou.

_ Cala a boca! – Falava Victor ao Sassou – Ele é meu e eu não deixarei


ainda mais para uma Kioku, eu sou o Herdeiro do Oeste, rendem-se!

_ Deixe ele agora e terás uma morte menos dolorosa, e não volte a me
ameaçar ou perderas a boca, eu sou a Ikwana, Rainha Tuli dos Kioku –
Ikwana falava de forma assertiva ao mesmo tempo que se aproximava para
estar olho a olho com o Victor.

Ao concentrar o seu olhar para Ikwana, Victor tem um flashback e reconhece


por momento aquele olhar e a pequena pinta perto do olho esquerdo, apesar
da incerteza diz “Nora!” a expressão de espanto da Rainha foi notório, parte
de sua memória retornava naquele instante, lembrava da tentativa de morte
que sofreu no passado por ordem da mãe do Victor, Dona Lurdes em
concordância com o filho que impulsionou a sua fuga de Luanda, capital
Oeste para Malange, capital central Leste onde perdeu o seu filho; “Eu vou
te matar” respondeu-lhe.

_ Eu preciso mais dele que vocês os dois! – Kwame.

_ Não se mete aí Kwame! – Alertava Ikuke.

_ O quê? Kwame? – Ikwana se espantava pois estava finalmente diante do


seu filho perdido.

_ Ham, já me esquecia Victor, Kwame é o teu filho desaparecido! – Sassou.

_ Quê? Meu filho! – Victor.

_ Quê? – Kwame, essa revelação surpreendia todos que lá estavam.

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_ Só não terão tempo para abraços porque chegou a hora! – Sassou falava
com pequeno sorriso sarcástico como quisesse dar um sinal.

Enquanto os demais estavam atónitos com as revelações que ouviam,


apareciam por cima do morro do cemitério alguns guardas do templo com
armas de fogo após o sinal do Sassou e começaram atirar contra as três
frentes que perseguiam ele, na agitação dos demais em procurar abrigo para
não ser atingido pelas balas, Sassou aproveita para fugir das suas garras para
o lado sudeste do cemitério. Ikwana foi atingida no ombro por uma das balas
e, um dos seus guerreiros ao socorrer a sua Rainha, foi atingido mortalmente
e caiu, outros dois tentavam com funda atingir os guardas que atiravam
contra eles, Ikuke lançava facas que acertavam mortalmente os guardas,
Victor era atingido no perna esquerda, Augusto o puxou para atrás de uma
das tumbas para estancar o sangue do seu senhor. Uma das balas passou de
raspão ligeiramente sobre o braço esquerdo do Kwame que saia de forma
sigilosa dentre as tumbas para seguir Sassou que já dava uma certa distância
deles. Chegando em uma das tumbas escondidas do cemitério feita de
mármore preto, Sassou colocou a chave para abrir a tampa da tumba que
estava repleto de ossos secos com os seus crânios, colocando a mão dentro
da tumba puxou um manuscrito muito antigo de rolos empoeirado, não
vendo ninguém a sua volta fechou a tumba e pousou o rolo sobre a tampa,
começou a ler o encantamento (que dizia após a leitura das frase do
encantamento, deve se colocar as mãos sobre o rolo até a conclusão do
processo de possessão com a frase Yame nzambi) “buka-i-kaba, vante-mena-
oka, vante-mena-kuba, buka-i-kaba, vante-mena-oka, nzambi-pungo-yoroba,
possuem oh Deuses o vosso servo” uma ventania tomava conta do local, o
céu escurecia repentinamente sobre forte ventania como de redemoinho, sons
de relâmpagos circulavam nas nuvens pretas. Outros olhando para o céu
concluíam que Sassou começava o encantamento do Rolo Sagrada dos

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Deuses, Kwame apesar da forte ventania que soprava sobre o local se
apressava para alcançar Sassou, ao chegar a tumba encontrou o Oráculo com
as mãos sobre o rolo repetindo a frase “Yame nzambi”, olhando para ele o
disse “tarde de mais, eu venci!”, no céu a forte ventania com mistura de
relâmpagos formava um buraco negro com muito estrondo, vendo que o
processo corria para sua conclusão a fim de impedir corre em direção ao
Sassou e se joga a ele com o ombro e o derruba, no chão, Sassou golpeai
Kwame no lugar do ferimento da bala e prendendo ele com as pernas começa
a lhe sufocar pelo pescoço, Kwame faz esforço para movimentar o outro
braço que com o cotovelo golpeava o Sassou no estomago até esse parar de
lhe sufocar e quando parou, Kwame consegue virar e ficar por cima dele
golpeando sucessivamente na cara e dizendo “isso é pelo ao meu pai”.
Sangrando e meio inconsciente, o deixa e levanta para colocar as suas mãos
sobre o rolo sagrado repetindo a mesma frase que o Sassou repetia “Yame
nzambi”, quase sem forças Sassou move-se devagar retirando uma adaga na
sua cintura, auferi um golpe no Kwame perfurando-lhe na perna, grita e
quase caindo retira uma das mãos sobre o rolo para golpear novamente o
Oráculo na cara e o mesmo volta a cair sobre o chão, apesar da adaga em sua
perna permanecia com as mãos no rolo sangrando muito que começava
apresentar sinais de inconsciência, repetia a frase do encantamento mesmo
sem sair o som da sua voz, por outra Sassou mais uma vez fazia esforços
para ficar de pé e golpear Kwame com outra adaga retirada da sua cintura,
conseguindo levantar meio zonzo ergue a adaga para golpear o Kwame no
pescoço, no instante acontece um apagão, mesmo sendo apenas dezassete
horas, a uma escuridão total mas em poucos segundo a luz do sol se
restabelece e de dentro do buraco negro no céu sai um raio que cai sobre
quem estava com as mão no Rolo, Kwame. A descida do raio foi tão forte
que o seu impacto sobre o corpo causou uma espécie de explosão de onde
magnética, lançou Kwame a metros de distância para o lado norte enquanto

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Sassou era lançado para o sul embatendo sobre uma das tumbas, a onde
magnética criada destruiu as tumbas que estavam ao redor; Soldados e
guerreiros que lutavam em toda cidade paravam para perceber o que havia
acontecido; Cerca de dez minutos depois um dos soldados que se encontrava
no vale dos Oráculos, moveu-se para socorrer Sassou, encontrando ele sobre
uma das tumbas muito ferido mas consciente o levantou para lhe tirar do
local, o Oráculo negava sair do vale sem ir atrás do Kwame, o soldado
insistiu dizendo que não havia restado ninguém do seu grupo e se fossem
atrás do Kwame poderiam ser mortos, convencido pediu que o seu servo
pegasse o rolo sagrado e, fazendo isso saíram do Vale dos Oráculos
mancando.

Ikwana estava desmaiada por conta de uma pedra que o bateu na cabeça
durante a explosão magnética, dois dos seus guerreiros Kioku sobreviventes
tiravam as pedras sobre o corpo da sua Rainha, Ikuke os encontrou e lhes
aconselhou a levar a Rainho Tuli de volta a aldeia para ser tratada com
urgência pelos Kanzas Kioku por estar muito ferida, ouvindo o conselho,
saíram com a Rainha Tuli e os poucos guerreiros que restaram do assalto a
capital central. Ikuke se aproximou de onde estava deitado o Kwame, viu o
seu corpo pálido, ferido e a sua pele ligeiramente escura, reparando para o
pulso não havia pulsação, tenteu o reanimar sem sucesso, Kwame estava
morto, ajoelhou em tom de lamento sobre o corpo. Chegavam para perto dele
Victor e Augusto que apontando com adaga desejavam levar o corpo do
Kwame, “Primeiro terão de me matar e só assim poderão levar o corpo”
respondeu Ikuke, Victor rebatia “Ele é meu filho, mataria qualquer um para
lhe levar comigo”, Ikuke se posicionava para enfrentar os dois e, no
momento Victor e Augusto viram um grupo a vir em sua direção e um deles
dizia “Terão de nos matar primeiro também”, Ikuke olha para trás, eram
alguns dos homens da sua tribo Chinaca treinados por ele, chegavam para

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ajudar. Vendo que não poderiam fazer frente com o grupo, Victor e Augusto
se retiraram do local. Ikuke e os demais membros Chinacas levaram o corpo
do Kwame de volta para aldeia no clima de profunda tristeza apesar de
conseguir que o Sassou não tomasse o poder dos Deuses mortos.

A cidade estava assolada pelo caos, muitos corpos pelo chão, casas e
estabelecimentos estavam destruídos, o dia de empossamento do Grande
Oráculo se tornara no maior massacre após a luta armada superando da
aldeia de Wama, horas depois ao tumulto, alguns citadinos da capital central
saiam em seus esconderijo, casas para ver os seus mortos, para compreender
o que aconteceu; Muito dos soldados do Oeste, guerreiros Kioku e da guarda
da capital estavam mortos. Malange estava em luto além do olhar
diferenciado que ganhava de outros órgãos pelos sucessivos acontecimentos
de caracter bizarro, aldeões de outras regiões começavam a desenvolver uma
crença de maldição para cidade depois da execução do Segundo Oráculo, a
morte do Grande Oráculo e o massacre do dia de empossamento do novo
Grande Oráculo fora a escuridão que houve neste mesmo dia, já começava a
ser falado que Malange não representava mais qualidade e nem estatuto para
ser a capital central do país. Os olhares internacionais focavam a sua atenção
no novo país prometido pelo Sassou, enquanto os olhares nacionais
condenavam o órgão Oeste e a tribo Kioku pela traição da corte nacional e
muitos exigiam a execução do herdeiro Victor e do Rei Igwe pelos seus atos
insanos contra o país.

Templo dos Oráculos, Capital Central;

Passaram-se dois dias após ao empossamento, ligeiramente recuperado mas


ainda acamado, Sassou chamou pelo José, atual Segundo Oráculo e seu
aliado que o colocou a par dos últimos acontecimentos e, chamou-lhe

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atenção sobre a sua insistência de aliar-se ao Oeste e os Kiuko, acusando-os
de trazer caos e divisão no país e exigia que executassem os seus líderes,
pois estava claro para a sociedade que eram traidores, Sassou fez o esforço
de se assentar na cama e explicou-lhe o seguinte;

_ Fora o fato de não conseguir o poder dos Deuses, tudo que aconteceu
fazia parte dos meus planos mas isso não quis lhe contar antes, convidei o
Victor e o Igwe justamente por saber da ambição deles por este país, se não
o fizesse nunca iriamos governar em paz porque os dois grupos seriam uma
pedra no nosso sapato, então lhes atrai para o mesmo lugar sem saberem
mas eu sabia que eles me trairiam, o que fiz foi matar dois coelhos com uma
cajadada só, em vez de sermos nós a lhes eliminar, deixei eles e lhes dei um
palco para se eliminarem, assim foi, os seus planos falharam, agora a
sociedade os tem como traidores, faremos a execução e nunca mais teremos
oposição a nossa governação – Sassou.

_ Retiro a minha chamada de atenção, bom saber que tinhas tudo sobre o
controlo – José – Olha tenho uma surpresa para ti, capturamos a filha do
Igwe durante a confusão daquele dia!

_ Perfeito, perfeito, onde está ela? – Sassou.

No instante José ordenava que trouxessem a filha do Rei Igwe Ilume que se
encontrava acorrentada numa das selas e tinha a boca tapada, quando chegou
a sala onde estava Sassou, fazia força para tentar alcançar ele e o ferir mas os
guardas o batiam para se acalmar, minutos depois José ordenou que a
levassem de volta a sela.

_ Muito bom! – Sassou – Ela será o nosso triunfo para acabarmos com
aquela tribo insignificante de uma vez por todas.

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_ E quanto ao Rolo Sagrado, o que fazer já que não conseguimos o poder
dos Deuses e, parece que aquele rapaz não resistiu – José.

_ Não se preocupe, iremos recuperar – Sassou – Quanto ao Rolo Sagrado,


ela é um oceano onde podemos extrair muitos outros poderes além do
principal dos Deuses, esse manuscrito nos tornará na maior potência
mundial e teremos o maior e mais forte exército de todos os tempos.

_ Excelente, tal como esperava! – José.

_ E outra coisa, não serei mais o Grande Oráculo e nem tu o Segundo


Oráculo – Sassou.

_ Como assim? O que seremos então? – José.

_ Serei Rei e tu serás o meu primeiro-ministro, governaremos para sempre!


– Sassou – Começa hoje um novo país, um novo reino para o mundo!

A ideia pareceu promissor para o José que brindou com o seu Grande
Oráculo e agora Rei a vitória que abria um novo capitula para o país.

Aldeia desconhecida;

A preocupação era grande na aldeia desconhecida, o plano de invasão dera


errado e como se não bastasse, a princesa da tribo Kiuko fora capturada pela
guarda da capital central, o que enfureceu de tamanha forma o Rei Igwe que
ainda recuperava dos seus ferimentos, sem poder ir atrás por conta da baixa
de guerreiros que tiveram na última fronte, de ser surpreendidos com o
exército do Oeste. O Rei ordenou que começasse o treinamento do novo
grupo de guerreiros para poder recuperar a sua filha. Ikwana recuperava a
consciência depois de dias inconsciente e, ao saber que não conseguiu trazer
o seu filho de volta e a sua filha foi capturada, tentei o suicídio, se sacrificar

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pelos Deuses por falhar na missão mas foi impedida e passou a ser
supervisionada por conta da depressão.

Apesar da aldeia ser desconhecida, o Rei reforçava a segurança, porque


ouvia que o país exigia a sua cabeça por traição a corte, os seus conselheiros
o recomendavam sair do país com a tribo durante um bom tempo, se
fortalecer e voltar para recuperar a Ilume, isso por desconfiar que usariam ela
para chegarem até eles mas negava, não queria pensar em abandonar a sua
filha nas mãos dos hereges da capital, dizendo estar disposto a assumir
qualquer risco mas que não aceitaria deixar um ou uma Kioku para atrás.
Sem poder fazer saque nas regiões do país e fora dela, a aldeia desconhecida
passou a viver na insegurança de invasão da guarda da capital central
enquanto começava os esforços para se reerguer.

Luanda, Órgão Oeste;

Depois de falhar o assalto a capital central, perder grande parte do seu


exército, não conseguir trazer o corpo do Kwame para o Oeste e ter a nação
exigindo a sua cabeça, Victor ainda tinha motivos para sorrir pois a sua
esposa Paula acabava de dar a luz a um menino para o espanto e surpresa de
todos do órgão que esperavam por uma menina de acordo ao testes
apresentado a corte do Oeste e admiravam entre si dizendo que o menino era
um enviado dos Deuses para trazer a glória de volta ao Oeste. Houve
comemoração no palácio da capital Oeste, um dia após ao nascimento do
menino que foi chamado Abner, Paula começava a sentir muita dor na
bexiga, a cada minuto a dor aumentava parecendo insuportável, não demorou
começava a sangrar, Victor movimentou todos Kanzas da região para
tratarem da sua esposa mas não houve margem de melhoria, “Não se esforce
muito querido, estou feliz, disse que te daria um herdeiro, cumpri a minha

92
promessa, cuida dele por mim, e nunca esqueça que te amo, obrigada por
tudo” dizia Paula se contorcendo de dor, Victor pedia para parar de dizer tais
palavras porque ele não a deixaria morrer e, justamente neste instante que a
Paula acabava por morrer com um sorriso nos lábios, inconformado Victor
tentava a reanimar com lagrimas nos olhos mas, não havia mais nada a se
fazer e chorou amargamente pousando a cabeça sobre a sua barriga enquanto
segurava as mãos já pálidas da sua esposa.

A notícia se espalhou sobre o órgão Oeste e outros, que conheciam Paula e a


respeitavam muito por ser muito solidaria com os menos favorecidos. O
herdeiro do Oeste realizou o funeral mais célebre possível para prestar a
ultima homenagem a sua amada.

Victor se encontrava muito deprimido embora sendo consolado pela mãe,


ouviu um pequeno barrulho se aproximando deles, era o Augusto trazendo a
serva da Paula Kiesse que chorava, ao chegar até ao Victor, Augusto diz que
essa serva tem uma confissão a fazer e ela explicou;

_ Não fiz por mal meu senhor, a minha senhora Paula estava sofrer muito
pelo facto de não poder dar a luz a um menino e eu apenas quis ajudar, não
sabia que resultaria na morte dela – Kiesse chorando – Lhe disse que
conhecia um Kanza que ajuda as mulheres a conceber mas paga-se um
preço, eu achava que esse preço era dinheiro, a minha senhora concordou
em irmos no Kanza porque ela queria mudar o sexo da criança em sua
barriga, o Kanza disse que era possível mas que o preço era alto, eu pensei
que era dinheiro meu senhor!

_ O que ele pediu? – Victor.

_ A minha senhora não quis me contar mas depois descobri já tarde que ele
disse que para trocar o sexo da criança exigiria sangue de alguém, e ela deu

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a própria vida para dar a luz ao menino Abner, disse que fez para dar
continuidade a tua governação meu senhor! – Kiesse ainda chorando.

Quando terminou a confissão, Augusto perguntou ao Victor qual a punição


que a Kiesse merecia, de forma surpreendente Victor disse apenas “Deixa
ela ir” mas ordenou que matassem o Kanza responsável pelo tratamento por
acreditar que tratamento do género não pode ser permitido e, chorou
novamente pela sua esposa.

A sua mãe o ajudava na criação do seu filho Abner, Victor foi obrigado a se
ausentar do país por um tempo por causa da população que exigia a sua
cabeça por traição a corte.

Tribo Chinaca, Região do Nzombo, Órgão Norte;

Na aldeia dos Chinaca, ainda se chorava pela morte do Kwame, fez-se um


monumento a base de paus em volta do seu túmulo de areia, onde dia pós dia
os aldeões ião depositar flores, pois passaram a lhe considerar um herói
apesar de ser apenas eles que sabiam do grande sacrifício que fora feito pelo
rapaz que a bem pouco tempo eles haviam encontrado desmaiado ao pé do
rio. A coragem do Kwame rendia a ele mesmo morto o respeito e admiração
dos Chinacas e do seu líder Ekuikui.

Ikuke foi posto como líder e capitão do exército que se formava na tribo, o
seu amor pela aldeia aumentava a cada dia, viu ali o seu esforço a ser
recompensado e admirado pelos aldeões sem o descriminarem pela sua
deficiência que para eles não parecia existir.

Inconsolada, Zambenzi ficava horas e horas de frente ao túmulo do Kwame


lembrando do pouco tempo que estiveram juntos, chorava noite e dia por
aquele que ela já havia dado o coração. Outra vez, passou todo dia frente ao

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túmulo, chorando e escrevendo alguma coisa em um velho papel, quando
findava o dia, ela se levantou, despedindo colocou o papel por cima do seu
túmulo de areia e voltou para casa. Naquele dia houve uma forte chuva que
molhou e despedaçou o papel deixado por ela onde estava escrito;

A vida é curta, é escassa,


Com pressas ela nos leva na partida,
E eu esperando, minha aventura,
Enquanto subias com asas ao sol,
Espero que um dia voltes, nem que for como brisa,
Para clarear o sorriso que seguiu os seus passos,
Se der, ouve, volta!

FIM.

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