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Considerações gerais
Ao contrário da maior parte dos instrumentos musicais, o órgão é um instrumento complexo
que oferece possibilidades sonoras por vezes ilimitadas e que dependem em grande parte da
criatividade do organista. A forma como se misturam os registos do órgão é só por si uma arte com
tradições muito antigas e que representam uma parte da cultura musical dos países e sociedades
em que estavam inseridos. Por essa razão, existem tantos nomes e tantas nomenclaturas para os
diversos sons disponíveis neste instrumento.
Assim, ser organista pressupõe ser também um registador e conhecer os “segredos” que
estão por base de uma boa escolha de registos, o que é essencial para se atingir um bom resultado
sonoro. Isto significa logo à partida que há que evitar ligar todos os registos indiscriminadamente.
Por outro lado, e uma vez que estamos em contexto litúrgico, a uma boa prática de registação está
quase sempre associada uma boa técnica de harmonização. Ou seja, mesmo que o órgão esteja
correctamente registado, se não houver uma boa técnica de harmonização, será mais difícil atingir
o resultado sonoro correto e desejado.
Exemplo: usando na mão esquerda acordes de sons muitos juntos, o resultado será sempre uma
amálgama de som muito indefinida em termos harmónicos. Quanto mais grave estes acordes forem
feitos, tanto mais a indefinição. Se, por seu turno, o acorde estiver na mão direita (e na mão
esquerda estiver apenas um baixo), o resultado sonoro será muito mais rico e satisfatório do ponto
de vista harmónico.
Unidades de medida
Os números associados aos registos correspondem ao tamanho dos tubos em “pés” (unidade de
medida normalizada para as dimensões dos tubos dos órgãos). De forma sucinta, podemos ter o
seguinte esquema:
Sons correspondentes aos tubos maiores do órgão. Utilizados na maior parte das vezes na
pedaleira. Usar esta medida sozinha faz com que a música que está escrita na pauta musical
16’ soe uma oitava abaixo. Registo incompatível no contexto de uma harmonização sem pedaleira
baseada em acordes na mão esquerda.
Esta medida deverá ser usada em conjunto com o 8’ com o intuito de acrescentar um patamar
4’ de volume sonoro. Usar esta medida sozinha faz com que a música escrita na pauta soe uma
oitava acima.
Esta medida deverá ser usada em conjunto com o 8’ e com o 4’ com o intuito de acrescentar
2’ mais um patamar de volume sonoro. Usar esta medida sozinha faz com que a música escrita na
pauta soe duas oitavas acima.
2 2/3’
porque os sons que emitem não correspondem à tecla que está a ser primida. Exemplos: ao ligar
1 3/5’ um registo de 2 2/3’, tocando o Dó1, o resultado vai ser um Sol2; ao ligar um registo de 1 3/5,
tocando o Dó1, o resultado vai ser um Mi3. Nunca deverão ser usados sozinhos e a sua junção
com outros registos tem regras mais avançadas.
Registos compostos por mais do que um tubo, isto é, cada tecla ativa várias filas de tubos
Misturas agudos. Isto faz com as misturas sejam usadas para acrescentar ainda mais um pagar de volume
sonoro. Nunca deverão ser usadas sozinhas.
Registos de sonoridade mais característica (geralmente escritos a vermelho) que deverão ser
Palhetas usados com moderação. Tanto podem ser usados de forma solístca, como último patamar de
volume sonoro.
Famílias de registos
Além da especificação acima descrita, há ainda a ter em conta as diferentes famílias de registos:
Fundos (Principais, Flautas e Cordas) e Palhetas. Apresenta-se abaixo uma tabela com os nomes
mais comuns de registos e sua distribuição em famílias.
Principais Prinzipal 16’, Prinzipal 8’, Oktave 4’, Oktave 2’, Mixtur 4f
Subbass 16, Rohrflote 8’, Bourdon 8’, Gedackt 8’, Rohrflote 4’, Waldflote 2’,
FUNDOS Flautas
Quintflote 2 2/3’, Terz 1 3/5’
Sugestões de registação
A Liturgia é um rito e uma festa. Dentro de cada celebração litúrgica, o órgão tem também um papel
importante na delimitação das partes diferentes e dar-lhes a importância respectiva. Por exemplo,
a forma como se acompanha um Salmo Responsorial é diferente da forma como se acompanha um
Aleluia ou um Sanctus. Será de evitar, por isso, que o órgão tenha sempre o mesmo tipo de som,
seja em cada momento ritual, seja na alternância de texturas dentro do mesmo canto (refrão vs
estrofes). Os organistas são assim exortados a ter várias registações preparadas para serem
usadas nos diferentes momentos das celebrações, bem como a alternarem de teclados conforme
acompanham a assembleia ou o solista/coro, respectivamente. Apresenta-se abaixo uma tabela de
sugestões de registação e sua aplicação nos diversos momentos dentro da celebração eucarística.
Momento “pré-celebração”.
Deve acolher e congregar os -Refrão: Principais 8’, 4’, 2’, Misturas
Entrada
fiéis e predispo-los para a -Estrofes: registos de 8’ e 4’ (teclado II)
celebração.
Momento de meditação e
-1º refrão com solista: registos de 8’ e 4’ (telcado II)
ressonância. Essencial a
Salmo -Refrão com assembleia: Principais de 8’ e 4’ (teclado I)
alternância de texturas entre
-Estrofes: Flautas de 8’ e 4’ (teclado II)
solista e assembleia.
Por muitos considerado o -Palavras “Santo, Santo, Santo”: Registos de 8’, 4’, 2’,
canto principal da celebração Oboe 8’ (Teclado II)
Litúrgica. Pode ser usado um -“… Senhor Deus do Universo..”: Principais 8’, 4’, 2’,
Sanctus
registo de 16’, se Mistura, Palheta 8’, (teclado I)
harmonizado com acordes na -Opcionalemnte pode voltar ao teclado II no “Bendito o
mão direita. que vem”, regressando ao teclado I no “Hossana”.
Notas:
1. Exorta-se, quando possível, ao uso de pedaleira principalmente nas partes com assembleia,
onde se podem usar os Principais 16 e 8’ acoplados aos teclados (I/P+II/P). Nos momentos
exultativos, o uso de uma palheta 16’ na pedaleria imprime um caráter festivo e dá um contorno
importante à parte do baixo. Com solista ou coro, o uso de pedaleira é opcional, sendo que o
Subbass 16’ acoplado ao teclado II (II/P) é suficiente. Em alguns instrumentos eletrónicos existe
o botão AP (Automatic Pedal) que pode ser útil em casos onde não exista experiência de uso
da pedaleira. Este botão faz com que os registos da pedaleira sejam transferidos para a nota
mais grave tocada nos manuais. Com esta transferência, a pedalaria fica desactivada. Mais uma
vez, este recurso é otimizado numa técnica de harmonização em que se use acordes na mão
direita.
2. Opcionalmente, pode usar-se o acoplamento dos teclados (II/I), sendo que por vezes, em
instrumentos eletrónicos, este recurso apresenta um resultado sonoro pouco satisfatório, pelo
que se deve usar com sentido crítico. Este resultado insatisfatório costuma estar associado ao
uso de registos da família dos Principais em conjunto com os das Flautas.
3. O uso do pedal de expressão (vulgarmente denominado de pedal de volume) pode ser de
grande utilidade para maior controlo de volume sonoro de um instrumento eletrónico. Sendo
este parâmetro dos volumes a questão mais difícil de replicar quando se tenta sintetizar um
órgão de tubos, pode utilizar-se o botão ENC que faz com que o pedal mais à direita actue em
todos os teclados ao mesmo tempo.
4. A Vox Celeste 8’ é um registo ondulante que deve ser usado apenas com a Gamba 8’. O
Tremulant deve evitar-se na harmonização comum do canto. O uso de ambos é reservado a um
nível mais avançado de registação e harmonização.
5. As sugestões apresentadas têm como base um principio standard festivo. Na verdade, todas as
celebrações bem como todas as comunidades celebrativas são realidades vivas e em constante
mutação, pelo que, no ideal, a registação deverá ser sempre adaptada em função das variáveis
mais comuns: tempo litúrgico, caráter da celebração (festiva, exequias, crianças, etc), nível de
participação da assembleia, tamanho da assembleia, etc. Com uma assembleia menor, a
registação deve ser suficiente para sustentar e motivar a assembleia a cantar, mas não a
subjugar. Se nos debruçarmos nos tempos litúrgicos, a registação deve exprimir, principalmente
nos tempos fortes, algumas das diferentes características de cada tempo. Por exemplo, a
Páscoa é o tempo mais festivo do ano litúrgico, mas o tempo que a precede e prepara é a
*Este documento foi elaborado tendo como base a registação do modelo básico da Viscount, o Vivace 20.
REGISTAÇÃO DO VIVACE 20
Clairon 4′
João Santos
Organista titular da Catedral de Leiria
Concertos – Direcção Coral – Composição – Formação
joaomus@gmail.com
https://www.facebook.com/joao.santos.75436531