Você está na página 1de 8

4º TRIMESTRE 2020 ANO 13 | EDIÇÃO Nº 678

L IÇ ÃO

O Lamento de Jó
A Fragilidade Humana e a Soberania Divina
05
1º NOV 20
LIÇÕES BÍBLICAS CPAD REVISTA ADULTOS - QUARTO TRIMESTRE DE 2020

Texto Áureo
“Porque antes do meu pão vem no meu suspiro; e os meus
gemidos se derramam como água.” (Jó 3.24)

Verdade Prática
O sofrimento pode nos levar a situação de extrema angústia,
mas não devemos perder a esperança no agir de Deus

Leitura Bíblica em Classe


Jó 3.1-26

INTRODUÇÃO
Na lição anterior vimos de perto o drama vivido por Jó. Uma
série de calamidades se abateu sobre ele de forma catastrófica.
Do estado de riqueza e prosperidade, Jó passou a viver na
adversidade; seus amigos foram para consolá-lo, mas ficaram
sem palavras ao contemplarem seu debilitado estado de saúde.
Entretanto, depois de sete dias, ele rompeu o silêncio com um
lamento que veio do fundo da alma. Nesse lamento Jó mirou o
dia de seu nascimento e, através de três perguntas, desabafou
tudo o que sentia naquele momento: Por que nasci? Por que
não nasci morto? Por que ainda continuo vivendo? Nesta lição
veremos a reação humana diante do sofrimento. Perceberemos
que não há qualquer indício de que Satanás tivesse alcançado
êxito diante de Jó. Na perspectiva do patriarca, se Deus era a
causa de sua vida, deveria também ser a causa de sua morte,
pois se dEle vinha o bem, também deveria vir o mal.
- Na Bíblia, há gente de Deus colocando para fora algumas coisas bem amargas, por exemplo,
Jeremias em Jr 20.14-18. O Texto Áureo nos apresenta uma situação que destruía qualquer apetite
que Jó pudesse ter tido. O pior medo que alguém poderia sentir estava prestes a acontecer na vida
de Jó, e ele está sentindo uma grande ansiedade, o que aumentava ainda mais o medo. “Por causa
de seus supremos sofrimentos, Jó caiu no abismo de uma quase total desesperança. Ele proferiu
uma maldição, mas não contra Deus, conforme Satanás disse que ele faria (ver Jó 1.11 e 2.5). Ele
desejou jamais ter nascido (vss. 2-10 deste capitulo) ou, então, que tivesse morrido por ocasião
de seu nascimento (vss. 11-19). Visto que essas bênçãos não lhe tinham sido conferidas, ele
desejava morrer em breve (vss. 20-26). Mas ele falou com sua voz miserável sem chegar a ponto
nenhum. Ele ignorou tanto Deus como o ser humano, ao proferir o seu “ai”. Em consonância
com o costume e a prática dos semitas, Jó não pensou em suicidar-se, embora o suicídio não
fosse desconhecido entre eles” (CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora
Hagnos. pag. 1872)
. Vamos pensar maduramente a nossa fé?
I – PRIMEIRO LAMENTO DE JÓ: POR QUE
NASCI? (3.1-10)
1. “Por que nasci?”. A dor de Jó era profunda e somente a poesia
podia expressar toda a carga emocional vivida por ele. Nesse
poema, os dez primeiros versículos do capítulo três são a
respeito do primeiro questionamento de Jó: Por que nasci? Esse
questionamento sai do íntimo de Jó, assim como ocorre com a
alma do salmista (130.1). Da mesma forma, o profeta Jeremias
expôs os sentimentos diante de seus conflitos (Jr20.14-18).
Nesse sentido, o patriarca não está sozinho em lamentar diante
da dor
- Toda a seção de Jó 3.1 a 42.6 é poética — um poema dramático com discursos que tentam
compreender o sofrimento de Jó. Ele inicia seu primeiro discurso amaldiçoando o dia em que
havia nascido, que deveria ter sido um dia de grande alegria, e enaltecendo o dia em que
finalmente chegaria a morte. Poeticamente Jó mostra o seu desejo naquele momento de dor de
jamais ter nascido. Entenda que Jó estava em profunda dor e desespero, assim mesmo como
registrado no texto áureo. O que Deus estava permitindo que passasse era desesperador, mas
ele não amaldiçoou o Senhor, antes, amaldiçoou seu nascimento! Em sua mente, as alegrias
que havia tido na vida não compensavam toda aquela dor. Ele achava que seria melhor jamais
ter vivido do que estar sofrendo daquela maneira: melhor nunca ter tido riquezas para depois
perdê-las; melhor nunca ter tido filhos do que vê-los mortos. Queria que seu dia de
nascimento jamais fosse lembrado e que fosse apagado do calendário. Sobre esse
questionamento de Jó, O Pr Antônio Neves de Mesquita escreve: “Para que ter de enfrentar a
luta contra o destino que o aguarda? A sua tragédia é infinita, o seu sofrimento físico e moral
não tem limites. Portanto, para que viver? Nem mesmo a vida de outrora, cheia de cuidados
com a religião dos filhos, por quem oferecia sacrifícios, na suposição de terem pecado contra
Deus, em seus excessos de comida e bebida, seria a coisa mais desejável; muito menos a de
agora, quando sem filhos, sem a mulher, que o repudiara, sem amigos, sozinho com as suas
chagas, os seus pesadelos são um espectro para o mundo que o conhecia.” (Mesquita. Antônio Neves
de,. Jó Uma interpretação do sofrimento humano. Editora JUERP)
.
2. Que em lugar da memória viesse o esquecimento Neste
momento de dor, Jó não amaldiçoou a Deus, como Satanás
previra; em vez disso, amaldiçoou o dia de seu nascimento. No
lugar de ser ocasião de grande celebração pelo dia do
nascimento de criança, Jó amaldiçoou esse dia por ocasião do
grande sofrimento e decepção. Para o homem de Uz, esse dia
teria de ser apagado da memória. Não é assim que muitas vezes
nos sentimos? Um dia em que tudo foi mal e temos desejo de
nunca mais lembrá-lo
- O Pr Claudionor de Andrade escreve em sua obra ‘Jó O Problema do Sofrimento do Justo e o
seu Proposito’ (CPAD): “Na noite em que Jó nasceu, houve não somente luz, como música: “Ah!
Que solitária seja aquela noite e suave música não entre nela!” (Jó 3.7). Entretanto, almeja
agora não somente apagar aquela luz que lhe iluminou o nascedouro, como sufocar a melodia
que lhe embalou os primeiros instantes na terra. Sofocleto chegou a considerar o seu aniversário
como aquele pesado tributo a que era obrigado a pagar para continuar existindo. Em
contrapartida, Moisés, diante da brevidade da vida humana; ante os sofrimentos que nos cercam;
defronte de todos os enfados e canseiras que nos rodeiam; e já em frente ao inexorável da
existência, uma só coisa pediu ao Senhor: “Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira
que alcancemos coração sábio” (SI 90.12). Que estou eu sugerindo? Não era sábio o coração de
Jó? Então, por que amaldiçoa o dia de seu natalício? Seria razoável todo aquele amargor?
Responderia ele que sim, como Jonas o fez diante da aboboreira ressequida (Jn 4.9). N o auge do
crisol, todas as coisas nos parecem razoáveis e lógicas. Mas, passada a tormenta, percebemos
quão ilógicos nos portamos (Jó 42.3). E em nossa ilogicidade que mostra Deus toda a beleza de
sua razão” (ANDRADE. Claudionor Corrêa de. Jó O Problema do Sofrimento do Justo e o seu Proposito. Serie Comentário Bíblico. Editora
CPAD. pag. 124-126)
.
3. Que em vez da ordem viesse o caos. Mencionamos o desejo de
Jó para que o dia de seu nascimento não tivesse entrado no
calendário e, que dessa forma, tanto esse dia como essa noite
jamais tivessem existido. No lugar da luz que raiou por ocasião
do nascimento dele, e que revelou todo seu sofrimento, o
patriarca desejou que as trevas dominassem (vv. 4-7). E por que?
Porque em vez da paz veio a dor; em vez da ordem, o caos.
Desse dor; em vez da ordem, o caos. Desse raciocínio, Jó
menciona a imagem do Leviatã. Este famoso e assombroso
animal marinho simboliza o caos. O homem de Uz recorre a essa
imagem para ilustrar o momento tenebroso que estava vivendo.
A lógica é simples: Se Deus não tivesse feito aquele dia, ele não
teria sido concebido e, portanto, não passaria por tudo isso.
Nesse sentido, o Novo Testamento revela como nosso Senhor é
misericordioso e nos trata com amor e ternura nos momentos de
tribulação e angústia, pois aos pés da cruz é o melhor lugar para
derramar a nossa alma (cf. Jo 11.32,33)
- Russell Norman Champlin em seu ‘Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo’
(Hagnos), escreve: “Ainda personificando a Noite, Jó esperava que, de alguma maneira, a noite
de sua concepção ficasse estéril (literalmente, no hebraico, ficasse “pedregosa’). A concepção de
um filho costuma levar a um nascimento jubiloso. Jó preferiria a esterilidade, para que não
houvesse um dia que seria de profunda tristeza, em vez de alegria. “Jó imprecou males sobre o
dia em que ele nasceu, e agora (vs. 7) sobre a noite em que ele fora concebido” (John Gill, in
loc.). Ele queria que a noite em que fora concebido se tomasse tão estéril como a pederneira. Cf.
Isa. 49.21. “Os orientais, emocionais como são, gritavam quando um menino nascia. Mas Jó
disse: ‘dela sejam banidos os sons de júbilo’, ou seja, naquela noite na qual uma concepção
prometeu que nasceria um filho”. Viver é sofrer, e há grande futilidade em toda a vida. A
bondade é quando não há fagulha de vida para começar uma existência humana. O pessimismo
era a teologia de Jó, no momento” (CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora
Hagnos. pag. 1874)
.
- O livro de Jó nos ajuda a corrigir algumas noções erradas, que às vezes assumimos como
certas. A primeira delas, contestada desde o primeiro capítulo de Jó é: o crente não sofre. Parte
substancial do livro de Jó trata exatamente do sofrimento de um crente.
II – SEGUNDO LAMENTO DE JÓ: POR QUE NÃO
NASCIMORTO? (3.11-19)
1. Descansando em paz. Os intérpretes observam que o discurso
de Jó a partir do versículo onze muda de amaldiçoar para
reclamar. A partir desse versículo, Jó passa reclamar por não ter
nascido morto. Para ele nascer morto teria sido melhor do que
existir naquelas condições (v.11-13). Era a melhor maneira de
não passar por toda aquela tribulação. Essas palavras de Jó
revelam uma coisa: Ele queria descanso de todo o seu
sofrimento. O que Jó pedia era uma possibilidade real, pois
muitos fetos nascem mortos (vv. 16). Para ele a morte era uma
forma de descansar em paz (vv. 13-15)
- Jó abandona o tema de jamais ter nascido e começa a falar do desejo de ter sido um
natimorto; a seguir, passa para o desejo de que a "luz" na vida fosse extinta pela morte. É
importante frisar aqui que, não há nenhum indício de que ele desejasse cometer suicídio, pois não
havia nada para detê-lo. Jó ainda confiava na soberana mão de Deus para a questão de sua morte,
mas considerou muitas maneiras pelas quais a morte seria uma melhora considerável para aquela
situação por causa da dor que sentia. É interessante notar o estado da alma de Jó. Ele este
abatidíssimo! A morte parece ser melhor do que a vida (v. 13-19).
- Mais uma vez vejamos o que escreve o Pr Anônio Neves de Mesquita em sua obra ‘Jó Uma
interpretação do sofrimento humano’ (JUERP): “Por que não morri na madre ou ao nascer? (v.
11). Tudo que há de mais carinhoso, como um regaço que recebe um novo ser, está para sempre
amaldiçoado; por que houve um regaço que me acolhesse? (v. 12). Tudo que há na vida de mais
contentamento, que é a chegada de um novo ser para alegrar um lar e aumentar uma família,
está agora denegrido. Para Jó, tal coisa é um símbolo de dor, de aflição, pois a morte é o seu
maior desejo, porquanto assim estaria tranqüilo e sossegado. Sim, isso é o mais desejável para
este sofredor; todavia, quanto mais a quer, mais ela foge dele. E por que os seios, para que eu
mamasse (v. 12). Não há quadro mais expressivo do que o de uma boa mãe acalentando ao seio o
seu rebento. É a coisa mais linda e mais sugestiva, porque dá a idéia de uma nova vida em flor.
Para Jó, porém, tudo isso é abominável, é símbolo de desgraça. O seu sofrimento engolfa tudo
que há de mais lindo e de mais especioso na vida. Se houvesse morrido ao nascer estaria em paz,
descansaria com os grandes da terra, que dormem no pó, conselheiros que edificaram para si
mausoléus, príncipes que nadavam em ouro (vv. 14,15). (Mesquita. Antônio Neves de,. Jó Uma interpretação do
sofrimento humano. Editora JUERP)
.
2. Livre de tribulações. O dilema de Jó aumenta à medida que o
seu sofrimento ganha intensidade. Ele continua com seu
argumento da “não-existência” (vv. 16-19). Ele está convencido
de que se não tivesse se tornado um “ser”, nada disso estaria
acontecendo. Ele desejava ter sido como um “natimorto”, um
feto que nunca viu a luz (v.16). A palavra hebraica nephel, usada
no versículo 16 como “natimorto”, possui o sentido de “um
aborto espontâneo” e é traduzido dessa forma em Eclesiastes
6.3 e Salmo 58.8. Aqui em nenhum momento Jó faz uma
apologia ao aborto, mas usa-o no sentido metafórico de
“descanso do sofrimento”. No lugar de ter sido abortado, ele
nasceu e foi lançado no mundo da tribulação. O raciocínio é
claro: Para os que morreram cessara, mas angústias e tribulações
da vida presente.
- “Jó, em seu primeiro discurso no capítulo três, mostra que não é mais o homem benigno e
paciente da prosa. Ele é um ser mortal de quem a existência terrestre é tão dolorosa que a morte
não lhe causa temor.” (TERRIEN, Samuel. Coleção grande comentário bíblico: Jó. Trad. Benôni Lemos. São Paulo: Paulus, 1994, p. 80).
A morte é comparada a um “repouso” e a uma “libertação” (versículos 13, 17, 19), um evento que
alinha ricos e pobres, feitores e escravos (versículos 14-15, 18). Jó não sabia a razão de seu
sofrimento, muito menos do que se passara nas regiões celestiais, sobre a acusação de Satanás e
assim não compreendeu que Deus estava provando que seu amor era verdadeiro. Tanto Jó quantos
seus amigos, apenas sabiam que Deus é Justo, e por essa razão lhes era incompreensível como
uma pessoa inocente poderia sofrer. Eles pensavam que o sofrimento era sempre um castigo pelos
pecados (Jó 4.7-9).
- “Jó está pensando no Sheol, onde grandes e pequenos, bons e maus dormem o sono eterno da
vida. Supõe que lá haja descanso. É uma espécie de Nirvana budista, onde não há consciência
nem sensação alguma. Uma aniquilação de tudo que foi e que poderia ser. Jó conjetura o que
seja a morte, para onde vão grandes e pequenos, ricos e pobres, juntando-se todos num mesmo
lugar. Lá, pensava ele, haveria paz. Entretanto, quanto mais pensa na morte, tanto mais ela foge
dele. Parece que se sente até relativamente feliz, em estar junto com os grandes da terra, mas em
paz, onde as paixões da vida não existem, as competições acabaram e os ruídos cessaram. Tudo é
silêncio e sossego. O feitor lá não existe, nem o verdugo; o escravo está livre do seu senhor, e a
tarefa da senzala já terminou. O Sheol é um mundo negativo, mesmo na teologia judaica, onde
todos aguardam o dia da sua recompensa. É um mundo parado. O silêncio é eterno, a monotonia
é completa. É a negação da vida ativa, da luta pelo melhor. Para Jó, no entanto, era isso que
convinha, que o convidava, que o seduzia. Fugir da vida, desta vida de dores, de sofrimentos, de
injustiças, eis a sua suprema aspiração. Entretanto a morte estava muito longe; agarrados a ele
estavam só as suas feridas, os seus tumores, os pesadelos e sobressaltos. Este era o seu viver
presente e era-lhe abominável. A morte, sim, era doce, suave, embora longe; isso o devorava,
pois não cândida e acalentadora, e tinha ideia do fim da sua situação, se demoraria ou se seria
em breve; e, uma vida assim é, sem dúvida, mil vezes mais insuportável do que a pior das mortes.
Ai estaria toda a solução da vida de Jó. Não havia outra alternativa” (Mesquita. Antônio Neves de. Jó Uma
interpretação do sofrimento humano. Editora JUERP)
.
3. Uma realidade para o cristão. O Novo Testamento nos ensina
que enquanto estivermos neste mundo estaremos sujeitos à dor,
ao luto, ao sofrimento (Fp 4 .11,12). Mas, ao mesmo tempo,
temos uma promessa consoladora de Jesus (Jo 16.33, cf. Fp
4.13).
- As passagens de Fp 4.11,12 citadas, refletem um Paulo maduro, experimentado e treinado a
enfrentar as situações que a vida lhe oferecesse, quer em abundância e alegria, quer em pobreza.
Ele emprega no versículo 11 para alegria, o termo grego que significa "ser autossuficiente" ou
"estar satisfeito". É a mesma palavra traduzida por "suficiência" em 2Co 9.8, e nos indica
independência de qualquer necessidade de ajuda, e isto “em toda e qualquer situação”, sua alegria
e contentamento em Deus não dependia de circunstâncias. Paulo sabia como passar com recursos
modestos, bem como viver em prosperidade, de fartura como de fome. Ele sabia como estar
contente tanto quando tinha muito para comer quanto quando era privado do suficiente para
comer. Não podemos esperar esse grau de maturidade de todos os crentes, mas certamente, este é
o nosso alvo! O dia no qual poderemos bradar: “Tudo posso!”. O dia no qual compreenderemos
que nossa força para suportar "todas as coisas" (vs. 11-12), incluindo a dificuldade e a
prosperidade no mundo material, está “naquele que me fortalece”. Esta é a oportunidade para
entendermos que, porque os cristãos estão em Cristo (Gl 2.20), ele instila neles a sua força, a fim
de sustentá-los até que recebam alguma provisão (Ef 3.16-20; 2Co 12.10).
- “Em uma nota final de encorajamento, Jesus prometeu aos discípulos paz por meio da união
com Ele – pois Ele venceu o mundo ao ressuscitar dos mortos. O mundo, o sistema de Satanás
que é contrário a Deus, irá causar aos crentes muitas aflições. Mas Jesus derrotou o sistema de
Satanás, obteve a vitória e venceu o mundo. Antes da sua própria aflição, Jesus já podia falar de
uma missão cumprida. Isto acrescenta impacto à sua vitória sobre Satanás, uma vez que Ele não
só a obteve, mas também a predisse! Os discípulos poderiam alegrar-se continuamente com a
vitória porque estavam no time vencedor. Jesus resumiu tudo o que lhes tinha dito esta noite,
unindo temas de 14.27-29,16.1-4e 16.9-11. Com estas palavras Ele disse aos discípulos que
tivessem coragem. Apesar das lutas inevitáveis que teriam, eles não estariam sós. Assim como o
Pai de Jesus não o deixou sozinho, Jesus também não nos abandona nas nossas lutas. Se nos
lembrarmos de que a vitória definitiva já foi obtida, podemos reivindicar a paz de Cristo nos
tempos mais conturbados. Jesus quer que tenhamos paz” (Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora
CPAD. Vol. 1. pag. 585)
.
III – TERCEIRO LAMENTO DE JÓ: POR QUE
CONTINUO VIVO? (3.20-26)
1. Vale a pena viver? Nessa terceira seção do capítulo três Jó faz
uma quarta pergunta (3.20): “Por que se dá luz ao miserável, e
vida aos amargurados de ânimo?”. As outras perguntas estão
em 3.1; 3.12; 3.16. A palavra hebraica amel, traduzida aqui
como “miserável”, é usada no sentido de alguém cuja vida é
atribulada pela miséria e que, por isso, torna-se incapaz de
exercer suas funções. Em outras palavras, para Jó a vida havia se
tornado intolerável.
- Mais uma vez, é importante lembrar que não há nenhum indício de que ele desejasse tirar a
própria vida, pois não havia nada para detê-lo: Jó estava em profunda dor e desespero, quisesse
cometer suicídio, o que o impediria? Muito menos há aqui uma defesa a esse procedimento como
solução final à dor e sofrimento. Jó ainda confiava na soberana mão de Deus para a questão de sua
morte, mas considerou muitas maneiras pelas quais a morte seria uma melhora considerável para
aquela situação por causa da dor que sentia. O Pr Antônio Neves de Mesquita escreve: “A morte,
para o cristão, é um fato natural e até a mensageira de Deus, que bem-vindo, quando encarada
como vem buscar o servo cansado das agruras desta vida. Foi assim para São Francisco de
Assis, que a chamava de “morte, doce, morte”. Para Jó seria a fuga do desespero; a luz, que a
morte era para ele o fim tenebroso de tudo. lega aos servos de Deus, Então a sua queixa: Por que
se concede luz ao Miserável e vida aos amargurados de coração (vv. 20,21). A luz, bênção mui
desejável aqui e além, era para Jó o sofredor, o contrário. As trevas lhe eram supremo desejo. Os
que esperam a morte, e ela não vem, são infelizes, pois a vida não interessa aos desesperados.
Esta linguagem não implicava numa acusação a Deus porquanto, Jó manteve integralmente a sua
devoção ao Criador; está, fala no vazio. Cremos que, no íntimo de sua alma, restava a esperança
em Deus, e isso mostrou noutros discursos, se bem que aqui coloque frente a frente a sua situação
de indescritível desespero. É assim que se deve entender a linguagem um tanto arrogante de Jó.
Uma queixa, quando muito, pois Deus foi quem lhe mandou esta prova. Um homem como Jó cava
pela morte mais do que por tesouros escondidos. Seu sonho predileto: morrer, descansar. Um
túmulo era a coisa mais desejável; isso que horroriza a tantos era mina para ele (v. 21)” (Mesquita.
Antônio Neves de,. Jó Uma interpretação do sofrimento humano. Editora JUERP)
.
2. Sem o favor de Deus? Jó novamente volta a indagar: “Por
que se dá luz ao homem, cujo caminho é oculto, e a quem Deus
o encobriu?” (Jó 3.23). A pergunta busca o significado do
sentido de todo aquele processo. Ela busca compreender o
porquê de Deus permitir o sofrimento. Aqui há um paralelo com
Provérbios 4.18, onde é dito que “o caminho do justo é como a
luz da aurora que brilha mais e mais até ser dia perfeito”. Na
literatura sapiencial, a palavra hebraica traduzida como
“caminho” é derek e se refere ao caminho da sabedoria de
Deus, que conduz a vida. Para o patriarca esse fato havia se
tornado um paradoxo, pois ele não sabia por que Deus escolheu
para ele o caminho do sofrimento
- No capítulo 1.10, Satanás falou de uma cerca de proteção e bênçãos, enquanto Jó em 3.23,
falou dessa cerca como a prisão de um morto-vivo! Isso porque em vez de pão, lhe sobrevinha
“gemidos... lamentos”, uma situação que destruía qualquer apetite que ele pudesse ter tido. O
sofrimento faz perder a noção das coisas e leva o sofredor a inverter os valores da vida! Então,
caso enfrentemos desfortúnios, e nos sobrevenha tamanha dor como esta de Jó, a ponto de
questionarmos ao Senhor assim mesmo como Jó, não se desespere, é perfeitamente
compreensível... Deus vai ao cabo dos dias determinados para a aflição esclarecer os seus
propósitos.
- A morte, para uns, é o fim de tudo; para Jó era o começo, era o descanso. Como escreve o Pr
Antônio Neves de Mesquita: “Só os loucos preferem morrer, a viver. É o último ato que um pobre
mortal pode praticar a morte. Acredita-se que os suicidas são criaturas que perderam a
esperança da vida. A morte para os tais é uma felicidade, porque termina tudo, pensam. Esta era
a situação de Jó. Por que se concede luz àquele cujo caminho é escuro, oculto, àquele a quem
Deus (Elohim) cercou por todos os lados? (v. 23). Para os tais, parece, não havendo salda para a
vida, a morte é mesmo o melhor. Neste ponto Jó estaria com a razão. Essa filosofia é discutível
numa pessoa que ainda conserva o senso das coisas, ainda não enlouqueceu; todavia, a dor
também enlouquece. Só o amor a Deus e a segurança da Sua presença podem dar, ao aflito, o
consolo e a coragem para desejar viver. Temos visto pessoas sofrendo fisicamente as maiores
agonias, mas lucidamente louvando a Deus; no entanto, há sofrimento moral que perturba tanto
os sentidos, que oblitera a razão, e tudo se altera em tal pessoa (compare o verso 23 com o Sal.
118:5). Por que, em vez do meu pão, me vêm gemidos (v. 24)” (Mesquita. Antônio Neves de. Jó Uma interpretação
do sofrimento humano. Editora JUERP)
.
3. Um caminho de sabedoria e maturidade. Muitas vezes
sentimo-nos iguais a Jó, desorientados, passando por uma via
dolorosa do sofrimento. E como ele, não imaginamos nem
compreendemos que Deus está agindo. É preciso, porém, olhar
para o alto onde Cristo vive (Cl 3.1-4). Nele, podemos manter o
equilíbrio e confiança durante a tormenta e, assim, trilhar um
caminho de sabedoria e maturidade no sofrimento
- Para encerrar este comentário, gostaria de sugerir um caminho diferente do que vem sendo
proposto ao longo dos tópicos e subtópicos desta lição, um caminho exposto de maneira sutil. O
caminho a seguir não é o de apenas olhar para o alto, mas sim, o de compreendermos quem nós
somos em Cristo, e qual é a nossa posição em NEle! Esta é a maneira concreta que nos é
disponibilizada pelo Evangelho, veja: uma vez que fomos ressuscitados (ou correussuscitados)
com Cristo, e por causa da nossa união com Ele, nós participamos, espiritualmente, da sua morte e
ressurreição no momento em que nascemos de novo; fomos vivificados, e agora estamos vivos
nele de modo a podermos compreender as verdades espirituais, a realidade, as bênçãos e a
vontade de Deus para o nosso viver “...vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que
agora vivo na carne, vivo-a pela fé do Filho de Deus...” (Gl 2.20). As bênçãos gloriosas são os
privilégios e as riquezas do reino celestial, todas as quais estão à nossa disposição. São elas que
Paulo chamou de "coisas lá do alto". A posição de honra e majestade desfrutada por Cristo como
o Filho exaltado de Deus, torna-o a fonte de bênçãos para o seu povo. Assim, a ordem paulina
para nós é cristalina: Pensai (Cl 3.2), isto é, disponha a sua mente na direção das coisas do céu,
com a compreensão de que, se Cristo ressuscitou e foi entronizado na glória, nós com Ele também
ressuscitamos e já estamos entronizados com Ele! Os pensamentos celestiais podem vir somente
pelo entendimento das realidades celestiais que se encontram na Escritura (consulte agora mesmo
e reflita Rm 8.5; 12.2; Fp 1.23; 4.8; 1Jo 2.15-17). A cruz marcou nossa morte com Cristo, quando
os cristãos foram unidos com ele, o castigo pelo pecado deles foi pago e eles ressuscitaram com
ele para uma nova vida oculta juntamente com Cristo, em Deus. Essa significativa expressão tem
um sentido triplo:
a) os cristãos têm uma vida espiritual comum com o Pai e com o Filho! (1Co 6.17; 2Pe 1.4);
b) o mundo não pode compreender a grande importância da nova vida do cristão (1Co 2.14;
1Jo.3.2); e
c) os cristãos estão eternamente seguros e protegidos de todos os inimigos espirituais, bem
como têm acesso a todas as bênçãos de Deus (Jo 10.28; Rm 8.31-39; Hb 7.25; 1Pe 1.4).
-É por causa destas três expressões, e somente por causa delas, que “podemos manter o equilíbrio
e confiança durante a tormenta e, assim, trilhar um caminho de sabedoria e maturidade no sofrimento”. Com
os olhos fitos naquele que, de fato, nos justifica!

CONCLUSÃO
Nesta lição vimos o dilema de Jó. Desconhecendo a razão das
adversidades que se abateram sobre ele, o patriarca não negou
a Deus nem o amaldiçoou. Todavia, ele expôs toda a sua
humanidade, de forma que o leitor que apenas o contempla
sem, contudo, participar de seu drama, tem dificuldade de
entender seu lamento, principalmente, quando ele se dirige a
Deus. E o lamento de um corpo ferido e de uma alma, que
mesmo amando a Deus, se derrama angustiada
- De fato, é difícil apontar qual razão do sofrimento e drama enfrentado por Jó. Por que o justo
sofre? Para responder essa questão, precisamos tomar a palavra “justo” e entendê-la a partir de
dois pontos de vista: humano e divino. Do ponto de vista humano, a pessoa de Jó é da maior
integridade. Como pode, então, alguém tão íntegro sofrer? Do ponto de vista divino, não há justo,
nem um sequer. Jó é reconhecido por Deus como reto e íntegro. Mas será que por alguém ser reto
e íntegro significa que esse alguém é justo? Pela Escritura, não. O propósito de Deus no livro
parece ter sido, então, o de desnudar a Jó de sua auto-justificação e conduzi-lo a uma completa
confiança naquele que, de fato, justifica. Assim pode-se aprender que Deus é digno de todo louvor
mesmo que ele não derrame bênçãos e ainda que ele pode usar o sofrimento como um meio de
fortalecer ou enfraquecer alguém. De qualquer forma, Deus sabe o que é melhor para nós, para a
sua própria glória.
- A grande conclusão a que chegamos é que “mesmo caminhando com Deus, o sofrimento
pode nos fazer lamentar”.

PARA REFLETIR
A Respeito de “O Lamento de Jó”, responda:
• Os dez primeiros versículos do capítulo três dizem a respeito
de que?
R: Os dez primeiros versículos do capítulo três são a respeito do
primeiro questionamento de Jó: Por que nasci?
• O que Jó amaldiçoou? E por quê?
R: No lugar de ser ocasião de grande celebração pelo dia do
nascimento de criança, Jó amaldiçoou esse dia por ocasião do
grande sofrimento e decepção.
• Qual foi a observação dos intérpretes sobre o discurso de Jó a
partir do versículo onze?
R: Os intérpretes observam que o discurso de Jó a partir do
versículo onze muda de amaldiçoar para reclamar.
• Em que sentido a palavra “miserável” é usada?
R: É usada no sentido de alguém cuja vida é atribulada pela
miséria e que, por isso, torna-se incapaz de exercer suas
funções.
• Qual é o significado da palavra “caminho”?
R: Refere-se ao caminho da sabedoria de Deus que conduz a
vida.

4 Tri 20 | Lição 3: Jó e a realidade de Satanás | Pb Francisco Barbosa

Você também pode gostar